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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA MESTRADO ACADÊMICO EM GEOGRAFIA LUCIANA SILVEIRA LACERDA A PRODUÇÃO DO ESPAÇO TURÍSTICO NO CARIRI CEARENSE: SOCIEDADE – CULTURA – NATUREZA FORTALEZA – 2009 MESTRADO ACADÊMICO EM GEOGRAFIA Luciana Silveira Lacerda Dr. Edson Vicente da Silva (Orientador) A PRODUÇÃO DO ESPAÇO TURÍSTICO NO CARIRI CEARENSE: SOCIEDADE – CULTURA – NATUREZA Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Geografia, Mestrado Acadêmico da Universidade Federal do Ceará, para obtenção do Título de Mestre. Área de concentração: Dinâmica Ambiental e Territorial do Nordeste Semi-Árido Linha de Pesquisa: Natureza, Campo e Cidade no Semi-Árido FORTALEZA – CEARÁ 2009 LUCIANA SILVEIRA LACERDA Esta dissertação foi submetida à Coordenação do Curso de Mestrado em Geografia como parte dos requisitos necessários à obtenção do Título de Mestre em Geografia, outorgado pela Universidade Federal do Ceará. A citação de qualquer trecho desta dissertação é permitida, desde que seja feita de conformidade com as normas da ética científica. Dissertação Aprovada em 24 de Agosto de 2009. _______________________________________ Prof. Dr. Edson Vicente da Silva (Orientador) _______________________________________ Prof. Dr. Giovanni de Farias Seabra ________________________________________ Prof. Dr. João César de Abreu A todos que fazem ou já fizeram parte do Fórum de Turismo e Cultura do Cariri que á anos vem trabalhando incansavelmente de forma descentralizada, acreditando sempre no potencial turístico regional e no povo deste lugar; a todas as pessoas que acreditam na transformação, através da palavra e da ação. Aos meus pais, João e Socorro, pela minha educação moral, e dedicação sem fim. Ao meu companheiro de todas as horas, Rogério, por me dar força e confiança. Aos meus irmãos, Fabiano e Paulinha, por sempre estarem ao meu lado. Aos amigos de todas ás horas. Ao meu filho Emicles (Mimi), por tudo que representa na minha vida, e por ter me transformado na mulher que hoje sou. DEDICO AGRADECIMENTOS Ao meu mestre Jesus, por ter me mostrado a lei do amor e da caridade, e assim, um caminho bom de se trilhar, onde foi possível encontrar doutrina espírita que me deu base lógica para a fé que tenho, e suporte espiritual nos momentos de incertezas. Aos meus pais, João e Socorro, aos meus irmãos Fabiano e Anna Paula e ao meu filho Emicles (Mimi), por me mostrarem o que é o amor, e a importância da família, que foi meu grande e único suporte pra concretização deste sonho. Ao Rogério, que chegou em minha vida, um mês antes da concretização deste sonho, porém de forma enriquecedora e surpreendente. A ele, agradeço a força, o carinho e o amor compartilhado, e por me fazer ser uma mulher feliz. Ao Amigo Édio Callou, pelo apoio incondicional aos trabalhos do turismo regional no Cariri, e pelo belo exemplo de atuação, mostrando ser alguém preocupado com região e com seu povo, independente da instituição que representa (SEBRAE - Cariri). Ao professor, pai, irmão e amigo Dr. Edson Vicente da Silva, ou simplesmente Cacau, pelos ensinamentos durante toda convivência, pela orientação deste momento, e principalmente pela simplicidade, amizade e apoio ao longo de vários anos. Ao Professor Dr. Giovanni Seabra, UFPB, por sua dedicação, apoio e amizade; pela inspiração de seus escritos e conversas, durante bons momentos e encontros acadêmicos ou não; pelo excelente trabalho em busca de soluções cooperativistas e solidárias para o turismo no interior nordestino. Ao Professor Dr. João César de Abreu, URCA, por ter me acompanhado desde a graduação, e ter me iniciado nos caminhos da investigação científica, pela confiança, e pela aceitação ao convite de participar da Banca Examinadora. A amiga e professora Lireida Albuquerque, URCA, por ter sempre acreditado em mim, apoiado a minha vida acadêmica em vários momentos, e pelo pronto atendimento sempre que solicitado. Aos demais professores do Curso de Mestrado em Geografia, em especial ao Professor José Borzachiello da Silva, pelos valiosos ensinamentos e experiências. Aos colegas do Curso de Mestrado, Tiago e Sinhá pelos bons momentos que vivemos, pela amizade, companheirismo e aprendizado. Em especial, a minha a amiga e irmã espiritual Suéllem, pelas horas de estudos, de orações, de conversas e de inúmeras vivências, e em especial por sua amizade sincera. A CAPES – através da demanda social, pela concessão do apoio parcial para realização desse estudo. A Universidade Regional do Cariri – URCA, que esteve presente na minha vida durante praticamente toda execução desta pesquisa, me dando apoio através do Departamento de Geociências, pela colaboração e solidariedade dos colegas de trabalho nos momentos necessários. RESUMO O presente trabalho, teve como objetivo analisar as questões pertinentes ao turismo no Cariri Cearense, assim como, em realizar um levantamento da potencialidade e tendência turística regional e local, com vista a contribuir para uma melhoria ambiental e nortear a prática social do turismo. Onde, a produção do espaço para o turismo, nada mais é que, a “reorganização” dos espaços, tanto material quanto imaterial, para que estes não se percam de sua identidade regional e cultural, apontando suas vocações e potencialidades, que permeia entre a cultura, história, lazer, saúde, educação, eventos, comércio e natureza, apontado alternativas de desenvolvimento sustentável da região no âmbito do turismo. Para a materialização da pesquisa, o procedimento metodológico consistiu-se em revisão da literatura, análise teórica conceitual do turismo, pesquisa empírica, pesquisa em jornais, revistas e internet; estudo empírico dos espaços urbanos e dos ambientes na região do cariri como um todo, através de visita em campo e levantamento do potencial turístico regional. Essa compreensão do turismo regional, é portanto, de imensurável importância, já que é um fenômeno que possui repercussões globais, passando pelo âmbito ambiental, econômico, político, social e cultural. Na mesma proporção, é urgente a análise do seu território de atuação, tão importante para um desenvolvimento local e integrado da região. Assim como, é necessário um novo direcionamento para que o turismo realmente se faça voltado à melhoria da qualidade de vida regional. Palavras-chave: Turismo, Região, Cariri. ABSTRACT This understanding of regional tourism, is therefore of immeasurable importance, since it is a phenomenon that has global repercussions, through the framework environmental, economic, political, social and cultural. The same proportion, there is an urgent analysis of its territory of activity, so important for local development and integration of the region. Just like you need a new direction for tourism to really take back to improve the quality of regional life. Empirical study of urban spaces and environments in the region of cariri as a whole, through field visits and survey of the potential regional tourism. For the materialization of the research, the methodological procedure consisted in the literature review, theoretical analysis of tourism conceptual, empirical research, research in newspapers, magazines and internet; where, for the production of space tourism, is nothing more than the "reorganization"of spaces, both material and immaterial, for they are not lost its regional identity and culture, pointing out their vocations and potential that permeates between the culture, history, leisure, health, education,events, commerce and nature, targeted alternatives for sustainable development of tourism within the region. The present study, aimed to examine the issues relevant to tourism in Ceará Cariri, as well as to conduct a survey of tourism trends and potential regional and local, levels to contribute to environmental improvement and guide the social practice of tourism. Word-key: Tourism, Region, Cariri LISTA DE QUADROS Quadro 01 Primeiro Censo Populacional do Cariri (1984)........................ 62 Quadro 02 Censo Eclesiástico da Freguesia do Cariri (1792).................. 63 Quadro 03 Censo Populacional do Cariri (1858)...................................... 63 Quadro 04 Censo Populacional do Cariri (1872)...................................... 64 Quadro 05 Censo populacional do Cariri (1920 – 1996)........................... 65 LISTA DE FIGURAS Figura 01: Mirante do Preá - Floresta Nacional do Araripe, Crato - CE.... 39 Figura 02: Pólos de Ecoturismo do Estado do Ceará............................... 42 Figura 03: Agrofloresta do Sr. José Artur, em Nova Olinda - CE.............. 43 Figura 04: Banda Cabaçal nas ruas de Barbalha - CE............................. 46 Figura 05: Geopark Araripe – Mina de Calcário, em Nova Olinda............ 49 Figura 06: Preceitos Ecológico do Padre Cícero: Horto, Juazeiro do Norte - CE................................................................................ 50 Figura 07: Procissão de Nossa Senhora da Candeias, Juazeiro do Norte - CE................................................................................ 52 Figura 08: Casa sertaneja no distrito do Caldas, Barbalha - CE............... 56 Figura 09: Imagem de um violeiro ........................................................... 68 Figura 10: Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto......................................... 69 Figura 11: Folia de Reis nas ruas do Crato – CE...................................... 70 Figura 12: Burrinha do Reisado Cariri....................................................... 71 Figura 13: Lapinha do Cariri...................................................................... 71 Figura 14: Quadrinha Junina da Festa de Santo Antônio – Barbalha....... 72 Figura 15: Imagem de um pau de fitas, dança junina............................... 73 Figura 16: Exemplo do Pau de Sebo, na Vila do Caldas.......................... 73 Figura 17: Maneiro Pau nas ruas de Barbalha.......................................... 74 Figura 18: Mestre da Cultura, Seu Joaquim Mulato.................................. 75 Figura 19: Cantadoras de Incelências....................................................... 77 Figura 20: Banda de Música de Santana do Cariri.................................... 78 Figura 21: Municípios Turísticos do Cariri................................................. 80 Figura 22: Tipos Climáticos.............................................................................. 81 Figura 23: Precipitação Média Anual........................................................ 82 Figura 24: Temperatura Média Anual........................................................ 83 Figura 25: Regiões Hidrográficas.............................................................. 84 Figura 26: Fisiografia do Cariri (Relatório APA 1999) .............................. 85 Figura 27: Exemplo de mata úmida na Floresta Nacional do Araripe ...... 87 Figura 28: Exemplo de mata seca. Chapada do Araripe - Lado Exu........ 87 Figura 29: Vegetação do Cerradão, no topo da Chapada......................... 87 Figura 30: Aspecto Vegetacional de Caatinga.......................................... 88 Figura 31: Floresta ribeirinha da fonte do Éden........................................ 88 Figura 32: Fisionomia do Carrasco em área da Chapada do Araripe....... 88 Figura 33: Cerrado da Chapada do Araripe.............................................. 89 Figura 34: Localização da Chapada Nacional do Araripe dentro da Bacia do Araripe....................................................................... 89 Figura 35: Floresta Nacional do Araripe.................................................... 90 Figura 36: Exemplo da Flora - Floresta Nacional do Araripe.................... 91 Figura 37: Iguana, exemplo da fauna na Chapada do Araripe.................. 91 Figura 38: Imagem de uma trilha para treking na encosta da Chapada do Araripe, área da FLONA...................................................... 97 Figura 39: Imagem do Pesque Pague no Clube Recreativo Grangeiro em Crato – CE.......................................................................... 98 Figura 40: Bica do Solzinho, no Sitio Melo - Barbalha-CE........................ 99 Figura 41 Geotopes do Geopark Araripe................................................. 103 Figura 42: Escavação na Formação Santana, no Geo top Santana na Piterolândia, Santana do Cariri – CE ...................................... 104 Figura 43: Ponte de Pedra em Nova Olinda – CE..................................... 104 Figura 44: Gruta do Brejinho em Araripe – CE.......................................... 105 Figura 45: Museu de Paleontologia da Universidade Regional do Cariri.. 106 Figura 46: Museu de Fósseis – Crato....................................................... 106 Figura 47: Jardim – Fundação .................................................................. 106 Figura 48: Casa do Patativa na Expô-Crato ............................................. 107 Figura 49: Peça de teatro na VII Mostra Sesc Cariri de Cultura............... 108 Figura 50: Rua do SESC Crato na OVERDOZE....................................... 108 Figura 51: Folia de Reis............................................................................ 109 Figura 52: Semana do Folclore. Praça da Sé Crato.................................. 109 Figura 53: Caretas de Jardim.................................................................... 110 Figura 54: Festa da Baixa Rasa ............................................................... 110 Figura 55: Feira de Ovinos e Caprinos ..................................................... 111 Figura 56: Estande do Instituto Agropolos ............................................... 111 Figura 57: Silvana Scarinci, em Araripe.................................................... 112 Figura 58: Casa de Farinha – Araripe ...................................................... 115 Figura 59: Estátua de Frei Damião ........................................................... 116 Figura 60: Memorial Patativa do Assaré .................................................. 116 Figura 61: Universidade Patativa do Assaré ............................................ 117 Figura 62: Açude Canoas ......................................................................... 117 Figura 63: Barbalha Canaviais.................................................................. 118 Figura 64: Fachada de um casarão em Barbalha ................................... 118 Figura 65: Mosaicos ................................................................................. 119 Figura 66: Meninada do Infor_arte ........................................................... 119 Figura 67: Arajara Park ............................................................................ 120 Figura 68: Parque Riacho do Meio ........................................................... 120 Figura 69: Festa de Santo Antonio, Carregadores do Pau ...................... 121 Figura 70: Igreja Coração de Jesus - Brejo Santo................................... 122 Figura 71: Cariri Rural .............................................................................. 122 Figura 72: Restos Mortais da Heroína Bárbara de Alencar ...................... 123 Figura73: Doces Caseiro ......................................................................... 123 Figura 74: Boqueirão de Campos Sales ................................................... 124 Figura 75: Igreja Matriz de Caririaçú e praça............................................ 124 Figura 76: Serra se São Pedro ................................................................. 125 Figura 77: Imagem parcial da Cidade do Crato ........................................ 125 Figura 78: Museu Histórico e de Arte, o Hstórico no térreo do prédio e o de Artes na parte superior........................................................ 126 Figura 79: Ambiente interno do Museu Histórico do Crato........................ 126 Figura 80: Imagem interna do Museu de Arte Vicente Leite..................... 127 Figura 81: Museu de Fósseis do Crato..................................................... 127 Figura 82: Praça da Sé Crato ................................................................... 128 Figura 83: Fotografia antiga da Praça Siqueira Campos ......................... 129 Figura 84: Praça São Vicente ................................................................... 129 Figura 85: Praça Cristo Reis, o Cristo fica de Braços abertos para a “REFESA”................................................................................ 130 Figura 86: Imagem do Prédio Central do Centro Cultural do Araripe........ 131 Figura 87: Imagem antiga da cidade do Crato.......................................... 131 Figura 88: Cruz do Século e Marco Pinto Madeira.................................... 132 Figura 89 Seminário São José ................................................................ 133 Figura 90 Palácio do Bispo ...................................................................... 133 Figura 91 Congregação Filhas de Santa Teresa ..................................... 134 Figura 92 Romaria do Caldeirão ............................................................. 135 Figura 93 Casa de Força da Nascente..................................................... 135 Figura 94 Fachada do Teatro Rachel de Queiroz.................................... 136 Figura 95 Orquestra do Sociedade Lírica do Belmonte........................... 136 Figura 96 Fotografia antiga da Feira do Crato......................................... 137 Figura 97 As cores da Feira .................................................................... 137 Figura 98 Flora ........................................................................................ 138 Figura 99 Fósseis da Fundação .............................................................. 138 Figura 100 Paredão da Chapada em Jardim............................................. 139 Figura 101 Caretas de Jardim ................................................................... 139 Figura 102 Memorial Pe. Cícero................................................................. 140 Figura 103 Estátua do Pe. Cícero no Horto .............................................. 141 Figura 104 Estatuas de Cera do Museu Vivo ............................................ 141 Figura 105 Santo Sepulcro ........................................................................ 141 Figura 106 Casa dos Milagres.................................................................... 142 Figura 107 Santeiro mostrando um imagem do Pe. Cícero....................... 142 Figura 108 Igreja do Socorro...................................................................... 143 Figura 109 Igreja Franciscana ................................................................... 143 Figura 110 Vitrais da Basílica dos Salesianos........................................... 143 Figura 111 Igreja Matriz Nossa Senhora das Dores ................................. 144 Figura 112 Cordéis produzidos pela tipografia da Lira Nordestina............... 144 Figura 113 Romeiros.................................................................................. 145 Figura 114 Esculturas de Artistas da Fundação Mestre Noza .................. 145 Figura 115 Artesã trabalhando na Associação Mãe das Dores................. 146 Figura 116 Comerciante de sandálias de couro no Mercado Central de Juazeiro.................................................................................... 146 Figura 117 Feira de Negócios do Cariri ..................................................... 147 Figura 118 Igreja Matriz de Missão Velha.................................................. 147 Figura 119 Artesã trabalhando em seus potes no Sítio Passagem de Pedra........................................................................................ 148 Figura 120 A Igreja mais antiga da região em Missão Nova...................... 148 Figura 121 Cachoeira de Missão Velha..................................................... 149 Figura 122 Guia Cultural e Professora municipal ...................................... 149 Figura 123 Fachada do Memorial Homem Kariri ....................................... 150 Figura 124 A meninada da Casa Grande, no interior da Fundação .......... 151 Figura 125 Teatro Violeta Arraes da Fundação Casa Grande................... 151 Figura 126 Loja de Móveis feito no Calcário Laminado............................. 152 Figura 127 Mestre Expedito, ao lado de sua arte ...................................... 152 Figura 128 Sandália de Couro de Mestre Expedito ................................... 153 Figura 129 Agrofloresta.............................................................................. 153 Figura 130 Lenda da Ponte de Pedra ....................................................... 154 Figura 131 Lenda do Castelo Encantado .................................................. 154 Figura 132 Torres do Castelo Encantado .................................................. 155 Figura 133 Símbolo do Museu de Paleontologia ....................................... 155 Figura 134 Condutor Cultural do Casarão do Cel. Felício ......................... 156 Figura 135 Euroville.................................................................................... 156 Figura 136 Caverna descoberta da Serra de Inhumas.............................. 157 Figura 137 Pontal da Santa Cruz............................................................... 157 Figura 138 Restaurante do Pontal da Santa Cruz ..................................... 158 Figura 139 Mirante do Pontal .................................................................... 158 LISTA DE MAPAS 01 – Mapa Turístico do Cariri – CE......................................................... 100 02 – Mapa Turístico – Natureza e Lazer do Cariri – CE.......................... 112 03 – Mapa Turístico – Histórico e Cultural do Cariri – CE....................... 113 04 – Mapa Turístico Religioso do Cariri – CE......................................... 114 SUMÁRIO RESUMO................................................................................................... 05 ABSTRACT............................................................................................... 06 LISTA DE QUADROS............................................................................... 07 LISTA DE FIGURAS................................................................................. 08 LISTA DE MAPAS..................................................................................... 13 INTRODUÇÃO.......................................................................................... 16 CAPITULO I – MÉTODO E METODOLOGIA........................................... 19 1. A UTILIZAÇÃO DA DIALÉTICA COMO ANÁLISE DE PESQUISA SOBRE A PRODUÇÃO DO ESPAÇO TURÍSTICO.................................. 20 1.1 Epistemologia e história dos “métodos” napesquisa científica................ 20 1.2 A construção do saber dialético................................................................ 24 1.3 A dialética e o estudo do espaço turístico no cariri................................... 26 CAPÍTULO II – REFLEXÕES SOBRE O TURISMO................................. 29 2. HISTÓRIA DO TURISMO E SUA SEGMENTAÇÃO E DESEGMENTAÇÃO................................................................................. 30 2.1. Turismo de Natureza e seus caminhos..................................................... 38 2.2. 2.3. 2.4. Turismo Rural............................................................................................ Turismo Cultural e a agregação de valor.................................................. O Geoturismo............................................................................................ 42 45 48 2.5 2.6 Turismo Pedagógico: Porque Educar é preciso!....................................... Turismo Religioso...................................................................................... 50 51 2.7. Turismo de Negócios e de Eventos – Potencialidades e Realidades...... 54 2.8. Turismo Sertanejo e a descentralização e desegmentação do turismo... 55 CAPITULO III - PAISAGEM NATURAL E MANIFESTAÇÕES CULTURAIS DA REGIÃO CARIRI: Organização do Espaço Regional.................................................................................................... 58 3.1. Um Recorte Histórico – Povoamento do Cariri......................................... 59 3.2. Identidade Regional e suas Manifestações Culturais............................... 66 3.3. Feições Paisagísticas Naturais ................................................................ 79 3.3.1. Localização regional da área.................................................................... 79 3.3.2 Aspectos fisiográficos................................................................................ 80 3.3.3 Unidades fitoecológicas e biodiversidade................................................. 86 3.3.4. Principal feição paisagística dominante.................................................... 89 3.3.4.1 Floresta Nacional do Araripe..................................................................... 89 CAPITULO IV - O CARIRI........................................................................ 94 4. Tendências e oportunidades turísticas na região do cariri........................ 95 4.1 Atrativos naturais e de lazer...................................................................... 97 4.1.1. O potencial Geoturístico do cariri.............................................................. 101 4.1.2. Museus...................................................................................................... 105 4.1.3 Eventos culturais e de negócios................................................................ 107 4.2. Atrativos de Potencialidades Turísticas Culturais e Naturais por Município.................................................................................................. 115 CAPITULO V – O CARIRI COMO UM LUGAR TURÍSTICO: SUGESTÕES PARA UM TURISMO SUSTENTÁVEL.............................. 159 5.1. O Cariri como um lugar turístico................................................................ 160 5.2. As políticas públicas para turismo no cariri............................................... 163 5.3. Sugestões para um turismo sustentável na região do Cariri..................... 167 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................... 173 INTRODUÇÃO É consenso que a atividade turística é enriquecedora e economicamente necessária. No entanto, há de ser praticada com consciência e discernimento, tanto pelos agentes do desenvolvimento turístico, quanto pelos turistas e populações visitadas. Somente assim, poderemos vislumbrar a possibilidade de que as gerações futuras venham a desfrutar de todas as belezas naturais e artificiais hoje disponíveis, da cultura e da história do mundo, garantindo a manutenção de nossos recursos naturais esgotáveis, bem como a existência das identidades múltiplas e de uma atividade turística no futuro. Esse estudo, está pautado na perspectiva de apontar as vocações e potencialidades do Cariri, que permeia entre a cultura, história, lazer, saúde, educação, eventos, comércio e natureza. Sem esquecer-se da consciência ambiental que precisa integrar sempre esse potencial. Nesse sentido, tem como objetivo conhecer e analisar o turismo na Região do Cariri, dialogando com seus municípios que tem vocações, atrativos e ou possibilidades diversas no turismo. Assim como, ressalta o antropólogo Antônio Arantes (1994, p. 91), os espaços não possuem fronteiras plenamente definidas ou definitivas, não formam simplesmente um “mosaico”. Desta forma, no Cariri, os movimentos sobre as várias tendências e possibilidades existentes no turismo e para o turismo constitui em espaços sobrepostos e de limites transitórios. A escolha dos municípios aqui tratados, veio de um diagnóstico pautado na nossa visão de mundo como geógrafos pesquisadores, e como cidadãos que vivenciam e dialogam com este espaço. O cariri é plural em possibilidades, perspectivas turísticas, é cultural, é histórico, é natural, é científico. Desta forma, temos que pensar regionalmente, pois nenhum município teria possibilidade e diversidade tamanha como a região integrada. Os 12 municípios aqui tratados, vieram de um estudo preliminar dentro do Fórum de Turismo do Cariri, existente há 12 anos, onde estes municípios iniciaram a discussão sobre um turismo regional. Porém, no desenvolvimento deste trabalho, tentou-se trazer um diagnóstico atual, colocando a realidade regional e suas contradições. Para isto, tornou-se necessário, estabelecer o método de análise e olhar metodológico por onde caminharia a pesquisa. O método aqui escolhido, tem como pressuposto fundante a indissociabilidade entre teoria e prática, que se configura na práxis do ponto de vista da dialética em Marx (1818-1883). Podemos afirmar que o conhecimento se produz a partir da afirmação–negação-afirmação em permanente contradição, de forma que, o método serviu com um instrumento de observação para compreensão da realidade objetiva, contextualizando a Região do Cariri (objeto), nesse movimento das relações entre sociedade-cultura-natureza, no processo de produção e reprodução do espaço turístico e o delineamento de sugestões e proposições, para desenvolver uma cultura turística na região que contemporize a sustentabilidade. Assim, a pesquisa se permeia em duas fases que hora se dão separadamente, e hora simultaneamente, de forma que, se imbricam, visto que, a dialética pressupõe uma reflexão permanente entre teoria e prática. Em uma construção combinada e distinta, de cooperação e contradição. A primeira etapa, trata-se de uma fase analítica, onde utilizando de uma revisão bibliográfica com estudos/diagnósticos em revistas, arquivos, fontes de censos (IBGE, IPLANCE/IPGCE, SETUR, MTUR e etc.), catalogamos informações e registros cartográficos com intuito de desenvolver uma fundamentação teórica que se detivesse em leituras e análises que procurassem integrar a paisagem ambiental, fundamentada na ecologia da paisagem e paisagem cultural, em uma perspectiva dialética, desenvolvendo uma pesquisa participativa e dialógica. Desenvolvemos para isso, análises setoriais, estudando os componentes geo-ambientais, culturais e socioeconômicos, assim como análise integrada/síntese, com estudos das paisagens naturais e culturais, unidades e feições paisagísticas, interpretação dos planos de Gestão turística – PRODETUR’s, Planos Diretores, PAT’s, Planos de Requalificação urbana. Para chegar ao resultadoanalítico desta fase inicial, as leituras literárias foram essenciais, pois a bibliografia permitiu uma análise teórica conceitual do turismo no Brasil e no mundo, onde se definiu a linha de pensamento de acordo com a realidade regional. Em seguida, foi feita uma pequena analise histórica, a fim de, conhecer a região e identificar sua identidade histórica cultural. Neste mesmo sentido, foram surgindo às vocações para o turismo regional e suas diferenças locais, e com isso, tornou-se imprescindível a visita aos municípios que, segundo analise tivessem vocações e/ou possibilidades para turismo regional. Esses municípios foram: Araripe, Assaré, Crato, Barbalha, Brejo Santo, Campos Sales, Caririaçú, Jardim, Juazeiro do Norte, Missão Velha, Nova Olinda, Santana do Cariri. Totalizando doze municípios, que estão integrados no Fórum de Turismo do Cariri. Mediante isto, foi necessário um levantamento de dados turísticos e imagens, a fim de ilustrar melhor o potencial da região e suas vocações, e discutir algumas irrealidades. O final desta primeira etapa, resultou em uma leitura da realidade turística atual, com a construção de um diagnóstico do turismo no Cariri (potencialidades e atrativos turísticos), seus problemas (degradação, falta de políticas públicas) e limitações (legais, técnicas, financeiras, institucionais). A segunda etapa, trata-se de uma fase propositiva, onde se procurou apontar alternativas técnicas, institucionais, sugestões de políticas públicas, para o setor público e publico, assim como, alternativas comunitárias (mapa de propostas), onde resultou em um Plano de Gestão Turística Regional, com a formulação de propostas para um melhor desenvolvimento turístico regional, baseado no desenvolvimento local, sustentável e integrado, pautado na educação ambiental, que representa hoje um instrumento essencial para superar os atuais impasses da nossa sociedade. Pois, a relação entre meio ambiente e a sociedade têm sido uma temática preocupante para todas as comunidades mundiais. Com isso, essas preocupações vêem fortalecer a importância de garantir padrões ambientais adequados e estimular a cidadania e respeito, centrada no exercício e na reformulação de valores éticos e morais, individuais e coletivos, numa perspectiva orientada para o desenvolvimento sustentável, que torne ambientalmente viável a prática do turismo com responsabilidade social. CAPÍTULO I METÓDO E METODOLOGIA 1. A UTILIZAÇÃO DA DIALÉTICA COMO ÁNALISE DE PESQUISA SOBRE A PRODUÇÃO DO ESPAÇO TURÍSTICO 1.1 EPISTEMOLOGIA E HISTÓRIA DOS “MÉTODOS” NA PESQUISA CIENTÍFICA Conhecer diferentes métodos é de suma importância para a formação do pensamento geográfico, assim como para compreensão moderna do mundo em que vivemos. O método, que segundo Chauí (2005, p.424), é um instrumento racional para adquirir ou verificar conhecimentos, e que para George (1972, p.18) cada método usado nas pesquisas geográficas está dotado de ideologias e posições epistemológicas, onde cada objeto estudado merece um método adequado pelo pesquisador. A negação ou aversão de correntes teórico- metodológicas envolve diversos fatores, que estão ligados pelas ideologias que cercam os pesquisadores. Desta forma, uma análise das visões de mundo que guiaram os estudos científicos na humanidade, nos ajudará na compreensão dos métodos¹ empregados nas pesquisas científicas em geral e especificamente na geografia, enriquecendo o debate epistemológico e os rumos teórico- metodológicos do pensamento geográfico. A análise histórica dos métodos, que podem ser utilizados no estudo da Geografia e da produção do espaço geográfico, é importante para o contexto atual, em face, da preocupação das pesquisas geográficas com relação às questões sociais decorrentes ao mau planejamento dos espaços. As bases epistemológicas da cultura moderna, foram colocadas em pauta por Bacon (1561-1626), a partir do século XVII, e com Renê Descartes (1596-1950), na sua obra clássica “Discours de La Méthode”. 1 Bacon, sugeriu com o método indutivo sobre ótica do empirismo, e Descartes, com o racionalismo. Ambos, buscavam uma nova fundamentação do conhecimento, só que por caminhos distintos. Descartes na Obra “Discurso do Método”, nos coloca as principais regras do método que pesquisou: a primeira, é de que, nunca deve-se aceitar coisa alguma como verdadeira que não se conheça. A segunda, dividir cada uma das dificuldades que se analise, em tantas parcelas quantas forem necessárias, para melhor resolvê-las. A terceira, conduzir os pensamentos, começando pelos objetivos mais simples e mais fácies de conhecer, para elevar-se pouco à pouco, como por degraus, até o conhecimento dos mais compostos. E uma quarta, elaborar em toda parte enumerações tão completas e revisões tão gerais, para se ter certeza de que nada se omitiu. Assim para Descartes, para conhecê-las, teria necessidade algumas vezes de considerá- las cada uma delas em particular e, outras vezes, somente de reter ou de compreender várias em conjunto. Com o método criado, Descartes relata que, este possui uma rega moral para que possa atingir seu objetivo total, onde divide essa regra em quatro máximas, onde fala de leis, religião, caminho reto e fidelidade ao pensamento, desta forma, nos coloca que não se deve aceitar as coisas logo de principio como verdadeiras, e assim, ele começa com a negação de tudo que existe. enquanto eu queria pensar assim que tudo era falso, convinha necessariamente que eu, que pensava, fosse alguma coisa. Ao notar que esta verdade, penso, logo existo, era tão sólida e tão correta que, todas as mais extravagantes suposições dos céticos não seriam capazes de abalá-la, julguei que podia acatá-la sem escrúpulo, como o primeiro princípio da filosofia que eu procurava. (DESCARTES, 1983, p.57). Segundo Falcão (2008, p.19,21), foi com Descartes que a concepção de mundo orgânico foi substituída pela perspectiva disjuntiva, havendo uma separação conceitual entre natureza e sociedade, em que a 1. A palavra “método” vem do grego methodos, formada por meta: “através de, por meio de”, e por hodos: “via caminho”, duas partículas que, combinadas significam caminho que se segue. E todo caminho que se segue é pra alcançar algum objetivo. (CHAUI, 2005. p.424) natureza passou a ser objeto e o homem sujeito. Assim, “o grande movimento do século XVII substituiu o dogma e a tradição pelo humanismo e o progresso social”. A partir do Renascimento, a evolução do conhecimento científico caracterizou-se por um empirismo crescente, na forma de um conhecimento como base não dogmática, fundado da compreensão da natureza. Assim, Descartes seguiu com o empirismo, diferentemente de Bacon, mas com o mesmo objetivo e com a mesma insatisfação em relação ao autoritarismo e ao dogmatismo que o projeto científico assumiu, e que existia uma verdade no mundo da natureza. Porém, essa verdade absoluta de mundo não existiu, assim como o não-dogmatismo de Descartes, pois nas suas máximas morais deixa bem claro sua religiosidade e compromisso com ela. Segundo Capra (2006), inclui a crença que o método científico é a única abordagem válida do conhecimento, e para as décadas mais recentes, conclui-se que todas essas idéias e esses valores, estão seriamente limitados e necessitam de uma visão radical. A visão mecanicista própria da época, fundamentada na física newtoniana, talvez tenha sido o grande percalço do método de Descarte e Bacon, pois o todo se perde nessa fragmentação de mundo, e as partes na fragmentação, perdem a essência do todo. Ainda Capra (2006), nos coloca que no mecanicismo, “a matéria era a base de toda a existência, e o mundo materialera visto como uma profusão de objetos separados, montados numa gigantesca máquina.” Essa visão de mundo, também conhecida como reducionismo, ficou tão marcada em nossa cultura, que é ainda, comparada com o método científico, e assim, “outras ciências aceitaram o ponto de vista mecanicista e reducionista da física clássica, como a redução correta da realidade, adotando-os como modelos para suas próprias teorias.” (CAPRA, 2006). No século XVIII, surge Kant, que segundo Veiga (1998), vem reunindo o racionalismo de Descartes e o empirismo de Bacon, dando início a Filosofia Transcendental, conhecida em sua obra Crítica da Razão Pura, onde define “Denomino transcendental todo o conhecimento que em geral se ocupa não tanto como objetivos, mas com o nosso modo de conhecer os objetivos na medida em que este deve ser possível a priori” (KANTE). Ele busca um conhecimento do próprio conhecimento e, conseqüentemente, uma resposta para a questão de como as coisas podem ser sabidas. Surge então, a tradição filosófica alemã, a consciência inaugurada por Kant, baseada na constituição do saber e do objeto, representado os temas principais da tradição transcendental como filosofia teórica, e também, na concepção fenomenológica que foi defendida logo depois por Edmund Hesserl (VEIGA,1998. p.123) No início do Século XX, uma nova visão de mundo surge, divergindo com o racionalismo frio do Iluminismo, que revela claramente as limitações de visão de um mundo mecanicista. Essa nova visão é conhecida como o materialismo histórico dialético, que segundo Capra (2006), veio com Marx, onde “as raízes da evolução social não se situam numa mudança de idéias ou valores, mas nos fatos econômicos e tecnológicos. A dinâmica da mudança é a de uma interação ‘dialética’ de opostos decorrentes de contradições que são intrínsecas a todas as coisas.” Essa concepção marxista, é retirada da filosofia e Hegel. Ainda que a dialética de Marx traga luz ao debate, algumas visões de mundo e métodos científicos, não concordam com Marx a respeito de que o progresso histórico e a evolução social, só se realize através e exclusivamente da luta de classe e da revolução armada, apesar de darem crédito a queda desse mundo cartesiano. 2 A visão sistêmica, nos oportuniza uma compreensão mais ampla e mais completa de um mundo globalizado, que, não consegue ser explicado por visões reducionistas e limitadas. Segundo Capra (2006), o mundo acadêmico, muitas vezes, não consegue ter uma visão ampla da realidade, e a visão que tem, são inadequadas para enfrentar os principais problemas de nosso tempo. Esses problemas, são sistêmicos, o que significa que estão intimamente interligados e não são bem compreendidos no âmbito da metodologia fragmentada. Segundo Alves e Ferreira (2007), o conhecimento geográfico é uma construção através das pesquisas e discussões, por meio de diferentes teorias e métodos, nas quais se ajustam de acordo com a situação política 1. A palavra “filosofia” é de origem grega e vem de philos, “amigo”, e Sophia, “saberodia”. vigente, interesses e visão do pesquisador, criando uma diversidade teórico- metodológica. Isso é, fundamental para o enriquecimento do pensamento geográfico e a compreensão detalhada de cada método, traz a luz assim, as contribuições e as perspectivas epistemológicas da geografia. Assim, na filosofia¹ segundo Falcão (2007, p.16), encontraremos os fundamentos epistemológicos centrados no objetivo da formação do conhecimento em geral, em que o indivíduo e a sociedade são pensados em relação dialética. A reflexão filosófica, tem por característica fundamental as perguntas originárias do que é, do como é, e do por que é, buscando o “desnivelamento” da realidade. Seu nascimento, na Grécia marcou o começo do pensamento científico. 3Filosofia e ciência, foram entendidas como uma coisa só, pois os primeiros filósofos tentaram olhar o mundo por meio de uma perspectiva mais científica e mais humana, dando origem a uma nova forma de reflexão sobre a natureza, os homens e o universo, quebrando o sentido místico-religioso, ainda muito forte na época, dando início ao distanciamento (dissociação) da natureza e do homem. “A Filosofia ensina a falar com coerência de todas as coisas e de se fazer admirar por aqueles que possuem menos erudição” (DESCARTES, 1983). 1.2. A CONSTRUÇÃO DO SABER DIALÉTICO. A primeira idéia de construção do saber, podemos perceber em Platão (429-347 a.C), por um prisma idealista, valorizando o saber abstrato e englobando a filosofia e a ciência. Para ele, o melhor caminho para o conhecimento verdadeiro era o que permitia ao pensamento libertar-se do conhecimento sensível (crenças, opiniões). Utilizava a discussão racional na forma do diálogo. Esse método era considerado por Platão¹ uma dialética, ou seja, uma discussão de teses contrárias, de conflito, ou oposição (CHAUÍ, 2005. p.425). 1. Filósofo Grego, nasceu em Atenas em Atenas em 428 ou 427 a.C, e se destacou entre os pensadores mais influentes da civilização ocidental. Para Platão, não se pode passar da escuridão à luz de uma vez só, ou seja, o conhecimento é um processo à algo que deve ser construído (OLIVEIRA, 1996. p.31) Platão, já se preocupava naquela época que esse conhecimento deveria ter um fim social e não individual. Para que serve esse saber? Qual a nossa função na sociedade? 4Neste contexto, Moraes e Costa (1984), concluem que o primeiro passo para o geógrafo envolvido em uma pesquisa, é o estudo profundo do próprio método assumido. As obras clássicas, geradoras da perspectiva em pauta, deverão ser necessariamente examinadas. Nesse sentido, procuramos ir à busca da dialética de Platão na obra clássica Padéia: A Formação do Homem Grego, onde o autor da Obra, Werner Jarger (1994), nos mostra claramente a dialética de Platão, quando afirma que para ele ser dialético não basta conhecer a disciplina. Na obra há várias citações e pensamentos do filósofo em questão, onde podemos ver a discussão e a eficácia da sua Paidéia dialética. Em um diálogo escrito poucos anos após a República, Platão produz a sensação de que essa Paidéia Dialética é uma exemplificação desenvolvida da descrição que naquela obra, se faz do que seja a educação filosófica por meio da Paidéia. No fundo, todos os diálogos platônicos, onde se investigam dialeticamente os problemas de tipo mais especial, nos oferecem exemplos, levando o leitor, para que, os siga de modo lógico consciente a compreendê-los com absoluta clareza. (JARGER, 1994.p.910) 5 Jarger (1994), nos coloca também que, nos diálogos de Platão sobre a trajetória da cultura, põe a descrição da dialética como a capacidade de prestar e de fazer com que os outros prestem contas. Indica assim, ao mesmo tempo, qual é a origem dela, que vem efetivamente da descrição tradicional do velho método socrático¹, para chegar a um entendimento com outros homens, por meio do diálogo contraditório, a teoria e a arte lógica da 1. Vem de Sócrates, Filósofo grego, amigo e mestre de Platão. ARISTÓRELES, Metaf.,M4, 1078 b 25, apud JAER. Tem consciência, sem dúvida, de que a dialética platônica deriva dos diálogos socráticos, mas estabelece uma distinção ente estas origens e a “energia dialética” altamente desenvolvida, referindo-se à fase posterior de Platão ou ao seu próprio método, que naquela época ainda não existia. dialética de Platão. Nesse sentido, “aquele que abraça a dialética como a verdadeira via do conhecimento se esforça por atingi-lo pelo pensamento, sem que neste, as percepções se misturem à essência de cada coisa; e não deve descansar até captar pelo pensamento o próprio Bem, o que ele é.” Como a luz do sol, fonte de luz que chegaá iluminar o mundo, a dialética ilumina as consciências, e a ciência. Para Platão, o caráter da dialética, só se pode determinar se for relacionado como os demais tipos do saber humano. Há varias maneiras de abordar metodicamente o problema, quando se quer chegar a compreender as coisas e a sua essência. As chamadas disciplinas empíricas, têm relação com as opiniões e anseios dos homens e servem para produzir algum objeto ou para cuidar do que provém da natureza ou é criado pelo artifício do homem. Assim, a dialética é a ciência que revoga as premissas de todos os demais tipos do saber e dirige lentamente para o alto os olhos da alma, mergulhados da barbárie. É o sentido da proporção entre as faces do Ser e do Conhecer, com as quais Platão ilustrava anteriormente este objetivo da sua Paidéia: o pensamento está para as opiniões como o Ser está para o Devir; e o verdadeiro saber, o dialético, é o homem que compreende a essência de cada coisa e sabe dar conta dela. A verdadeira força desta paídea que ensina a perguntar e a responder cientificamente, é perfeito estado de vigilância que instala na consciência. Assim, quem não a possuir não faz mais do que sonhar na vida, e antes de despertar nesta vida já entrou no sono eterno de Hades. Dentro do sistema das ciências, a dialética é a fronteira que delimita o saber humano e exclui a possibilidade de acrescentar outro saber superiora a ela. O conhecimento do sentido, é a meta final do conhecimento do Ser. (JAEGER, 1994. p.913,914). 1.3. A DIALÉTICA E O ESTUDO DO ESPAÇO TURÍSTICO NO CARIRI – MÉTODO APLICATIVO. A visão mecanicista talvez tenha sido o grande percalço para uma construção de um mundo mais integrado e interligado. A ciência cartesiana newtoniana, entrou em colapso no processo da discussão dialética, como fonte teórica e metódica, relacionada ao campo epistemológico da pesquisa no âmbito da produção do espaço turístico, assim, esta pesquisa, afim de não só justificar a amplitude da dialética, usou de uma metodologia mais integrativa que possibilitou o estudo do objeto, como expressões práticas do saber dialético. Esse saber dialético, nos coloca uma visão “tridimensional” do espaço turístico no Cariri, através da historicidade percebida nesse espaço que representa um mundo objetivo e subjetivo, quando manifesta fenômenos da realidade vivida, e se apresenta nos revelando conceitos diversos sobre a realidade do sujeito e do objeto no espaço. Segundo Moesch (2000, p.134), os conceitos pelos quais o homem reflete a realidade ambiente, devem ser igualmente, interdependentes ligados uns aos outros, móveis, e transformando- se em seus contrários, refletindo assim, a situação real das coisas. Dessa forma, entende-se a metodologia como um caminho para a elaboração de um conhecimento mais rigoroso, fundamentado na visão de mundo do pesquisador, e assim, este trabalho procurou contextualizar a Região do Cariri cearense, no movimento dialético das relações entre sociedade, cultura e natureza no processo de produção do espaço turístico. A fim de produzir esta análise, utilizou-se de uma revisão bibliográfica com estudos/diagnósticos, arquivos, fontes de censos, informações e registros cartográficos, desenvolveu-se uma fundamentação teórica no detrimento em leituras e análises que procuraram integrar a paisagem ambiental, fundamentada na ecologia da paisagem e paisagem cultural, em uma perspectiva transdisciplinar, desenvolvendo assim, uma pesquisa participativa e dialógica. A idéia da multidisciplinaridade da ecologia da paisagem, sugere uma nova perspectiva que valoriza a questão ambiental, rompendo fronteiras padronizadas, dedicando-se às características, aos estudos e aos processos dos elementos da natureza e da sociedade, além de oferecer subsídios metodológicos e procedimentos técnicos de investigação na procura de ampliar a análise sobre o meio natural, cultural e social. (Rodrigues, 2007) Analisamos assim, o processo complexo da relação do desenvolvimento urbano, do turismo e do meio ambiente, que atua na produção do espaço regional, dentro da transdisciplinaridade, enfocando principalmente as interferências das políticas desenvolvimentistas na produção do espaço, com análises setoriais e seus componentes geosocioambientais, naturais e sócioeconômicos; análises integrada/síntese e suas paisagens naturais e culturais, unidades de conservação e feições paisagísticas. No sentido de compreender o processo de formação sócio- territorial da região e a institucionalização da gestão urbana e seus reflexos até os dias atuais, bem como, entender os impasses das políticas ambientais relatando de forma sucinta o processo histórico de produção regional e seu desenvolvimento turístico, utilizamos interpretações de planos de gestão turística, como o relatório da APA ARARIPE (Área de Proteção Ambiental do Araripe) para uma análise regional, assim como, trabalho de campo, visitas constantes aos municípios da área delimitada, acompanhando também, toda dinâmica do Fórum de Turismo e Cultura do Cariri, para uma análise mais local. A fim de, produzirmos uma leitura da realidade turística atual, pautada nas paisagens naturais e culturais, que pudesse resultar em um diagnóstico do turismo no Cariri, relatando suas potencialidades (atrativos turísticos, paisagísticos, naturais, manifestações culturais e etc.), seus problemas (degradações ambientais, aculturação, falta de políticas públicas e etc.), assim como suas limitações (legais, técnicas, financeiras e institucionais). Assim feito, partimos para uma fase propositiva, onde identificando alternativas técnicas, institucionais e comunitárias, dentro de um plano de gestão turística para a tegião, com um capítulo conclusivo (V – O Cariri como um lugar turístico: sugestões para um turismo sustentável). CAPÍTULO II REFLEXÕES SOBRE O TURISMO 2. HISTÓRIA DO TURISMO E SUA SEGMENTAÇÃO E DESEGMENTAÇÃO Discutir hoje o turismo no Brasil é de imensurável importância já que este fenômeno vem tendo repercussões globais, passando pelo âmbito econômico, político, social e cultural. Os efeitos do turismo demandam urgência e seriedade nas pesquisas, particularmente nos países de economia periférica, localizados no mundo intertropical, com praias paradisíacas e reservas naturais quantitativa e qualitativamente reconhecidas como patrimônio mundial. (RODRIGUES, 1997) Na mesma proporção, é urgente estudarmos o surgimento assim como, a dimensão deste fenômeno denominado turismo, tão importante para o desenvolvimento local e integrado. É necessário um novo direcionamento para que ele realmente se faça voltado à melhoria da qualidade de vida das localidades que apresentam características peculiares, que vão desde suas reservas naturais à culturas diversas (culinária, artesanato, grupos de tradição e etc.) Porém, para falarmos sobre o surgimento da atividade turística, é necessário defini-la nos dias de hoje, mesmo que muitas vezes essas definições não condigam com a realidade local. Contudo, é a partir delas que as instituições desenvolvem suas pesquisas e seus dados estatísticos. De La Torre (1992), conceitua o turismo dizendo que ele é um fenômeno social que consiste no deslocamento voluntário e temporário de indivíduos ou grupos de pessoas que, fundamentalmente por motivos de recreação, descanso, cultura, saúde ou afins, saem do seu local de residência habitual para outro, no qual não exercem nenhuma atividade lucrativa nem remunerada, gerando múltiplas inter-relações de importância social, econômica e cultural Segundo a Organização Mundial de Turismo: O turismo inclui tanto o deslocamento e as atividades realizadas pelas pessoas durante suas viagens, bem como, as relações que surgem ente elas, em lugaresdistintos de seu ambiente natural, por um período de tempo consecutivo inferior a um ano e mínimo de 24 horas com pernoite no destino, com fins de lazer, negócios e outros. (OMT, 2003) Mas, é importante que seja esclarecido as diferenças e apropriações dos espaços, dependendo da modalidade, que segundo Rita de Cássia Cruz (2000), o turismo é em essência uma prática social, agregada ao mercado, que tem o espaço como seu principal objeto de consumo e em decorrência dessa característica intrínseca, requer a adaptação dos territórios e suas demandas materiais e imateriais. Contudo, os registros sobre o início da atividade do turismo, nos esclarece a dinâmica espacial desta atividade, assim como, sua adaptação e segregação territorial. Os primeiros registros dessa atividade apresentam datas do século XV, onde mostra que vários foram os motivos que levaram o homem a se deslocar para outras áreas, entre elas, estão os motivos vinculados a religião, caça, comércio, e educação. Mas, o que permitiu realmente o crescimento do turismo foram o desenvolvimento industrial e as inovações tecnológicas, marcados pelos períodos modernos e pós-modernos. Durante esses períodos, a atividade de turismo cresceu significativamente, tornando-se um fenômeno industrial (LICKORISH & JENKINS, 2000). Historicamente, o que existe registrado é que o turismo teve início na Roma Imperial, onde existia um padrão amplo de infra-estrutura para as viagens, propiciado por dois séculos de paz. As viagens eram percursos que envolviam desde as muralhas de Adriano até a de Eufrates e permitiam aos habitantes das cidades, cansados de uma vida pacata, e que estavam sempre à procura de algo que os iludissem e os motivassem. Do século XV até o XVII, existiram as excursões organizadas, que iam de Veneza a Terra Santa, e que eram consideradas como o fenômeno das peregrinações. Havia, para tanto, as hospedarias de viagens, mantidas por religiosos (RODRIGUES, 2001). Segundo Urry (1999), no final do século XVII e seguindo pelo século XVIII, além das viagens, iniciou-se o Gran Tour Clássico. O Grand Tour, começou no século XVI, atingindo o auge no século XVIII. Era restrito principalmente aos filhos de famílias ricas, com propósitos educacionais, sobretudo de jovens saídos de Oxford ou de Cambridge. Esses deveriam percorrer o mundo, ver como ele era governado e se preparar para ser um membro da classe dominante. Muitas vezes a rainha arcava com os gastos da viagem. (Feifer, 1986:64). Pode-se dizer então que, o Gran Tour foi uma evolução da indústria do turismo, permitido pelo capitalismo e os primeiros sinais de crescimento industrial e inovações tecnológicas, citados por Amato (2000). Da referida evolução, acarretou a transição da produção artesanal para a manufatura. Naquela época, nasceu a primeira indústria doméstica na Inglaterra e posteriormente, em função de seu crescimento e deficiências gerenciais, foram substituídas pelas primeiras fábricas. Decorrente do surgimento dessas fábricas, houve um aumento de riqueza que, por sua vez, afetou o modo de vida da população que passara a ter interesse por viagens para outros países, principalmente em busca de educação, comércio e saúde. A busca por serviços de saúde, resultou nos serviços oferecidos primeiro em balneários e, depois, em áreas litorâneas, pois as águas do mar faziam bem para a saúde, segundo pesquisas da época. No século XVIII, atendia-se aos filhos da classe média profissional, com interesses tanto em conhecer novas paisagens, quanto como vivência de valores culturais diversos. No final do século XIX, em função de novas dificuldades gerenciais, como manter os lucros por causa da concorrência, limites para intensificar o dia de trabalho, e a ameaça de salários reais para mulheres e crianças, ocorreram mudanças na forma de produção, e foram introduzidas as máquinas em substituição à mão-de-obra, dando início à era da maquinofatura e da produção em massa. Amato (2000) comenta que, no século XIX, aconteceu uma revolução técnico-científica nos campos da eletricidade, do aço, do petróleo e do motor de explosão, além da expansão econômica e a instalação da primeira ferrovia, que resultaram em mais empregos e mais rendas, especificamente no caso das classes trabalhadoras das indústrias do norte da Inglaterra. Além desses fatores, os meios de transportes, como trens e navios a vapor, passaram a ser vistos como oportunidades de viagens, viabilizando grandes deslocamentos, dando início ao turismo de massa, marcado pelos balneários espalhados por toda Europa. Em função disso, houve uma alavancagem no turismo e, especificamente em 1841, onde foram lançados os primeiros pacotes turísticos, oferecendo novos destinos, contendo serviços de transporte e acomodação, onde, o produto turístico baseado no conceito fordista de padronização, representado pelos acampamentos que oferecia recreações educacionais, exercícios físicos, artesanato, formação musical, excursões e férias no campo, inclusive para crianças. Os industriais perceberam que, férias oferecidas aos trabalhadores, aumentavam a eficiência nas indústrias e adotaram tal procedimento como estratégia. Essa novidade, levou ao desenvolvimento de “resorts”, indústrias de viagens, infra-estrutura de acomodações e uma expansão na capacidade dos transportes e no movimento de tráfego, mesmo com certo atraso e incertezas. Esse movimento se estendeu da Europa até a América do Norte. No entanto, já no inicio do século XX, o crescimento dos serviços de transporte foi interrompido pela Primeira Guerra Mundial. Amato (2000), comenta que, é justamente nesses momentos de crises e incertezas que se criam os elementos necessários para acontecer transformações estruturais nos diversos campos da ciência, da tecnologia, do comportamento e da sociedade. Foi exatamente o que aconteceu com o turismo, que, inesperadamente, teve seus resultados positivos para a prestação de seus serviços, pois, a guerra impulsionou a expansão de rodovias, investimentos em aviação e incrementos na indústria automobilística. Surgiu, então, o turismo social, que acompanhado de novidades como férias pagas, começou a oferecer atividades de lazer, campings, albergues, transportes baratos e turismo em ônibus fretados. Novamente, ocorreu uma parada na evolução do turismo, agora marcado pela Depressão de 1930 e, finalmente, pela Segunda Guerra Mundial, de 1939 a 1945. Aquela foi a época do ápice dos balneários. Terminado este período, teve início mais uma decolagem do turismo em função da revolução tecnológica e revolução industrial, que oportunizou novamente uma aceleração na geração de renda, o que por sua vez, acarretou em mais mudanças na sociedade. As rendas extras dos países ricos, passaram a ser gastas com luxo e serviços oferecidos por hotéis, transportadoras, agências de viagem e operadoras de turismo. Aliado às novidades tecnológicas nos transportes, surgiram os meios de comunicação que, com a divulgação dos atrativos turísticos via televisão, por exemplo, fizeram com que o turismo se expandisse rapidamente, principalmente nos países ricos, cujos habitantes se interessaram e começaram a viajar mais e preferencialmente em aviões. A mídia proporcionou aos turistas, imagens que permitiram a eles selecionar e avaliar os lugares potenciais para visitas. As classes mais baixas da sociedade, passaram também a se interessar pelo turismo e demandaram outras modalidades, como o turismo desportivo e campings. Instituições especializadas, em resposta a esta demanda, se desenvolveram e passaram a prestar estes serviços. Em decorrência da percepção da divisão dessas duas classes, teve início o que se chama hoje de segmentação do mercado turístico. Segundo Womack (1992), a partir dos anos 1950, iniciou o declínio da era fordista, representado pelasgrandes empresas verticalizadas de produção em massa, por várias razões, como trabalho repetitivo que resultou na insatisfação da força de trabalho; consumidores que passaram a demandar algo mais e não apenas produtos padronizados; as fábricas, que eram enormes para serem gerenciadas; e a incapacidade de acompanhar as mudanças no ambiente externo. Naquela mesma década, iniciou-se também a queda dos balneários e do turismo em massa. A queda dos balneários, devido aos custos de congestionamento, por limites sociais e pela destruição ambiental. E assim, muitas foram as críticas sobre o turismo em massa, dentre elas, a de que o turismo em massa é ilusão que destrói os próprios lugares que são visitados (URRY, 1999). Com a queda do fordismo, surgiu portanto, a mais nova forma de produção no Japão, denominada de produção enxuta, segundo Womack (1992), que acarretou em mais inovações na indústria eletrônica e automobilística, causando um disparate em relação ao mundo. Em decorrência desses problemas, mudanças culturais ocorreram, acarretando reestruturações da atividade turística. Os turistas nesse período, passaram a demandar não só os atrativos tradicionais do turismo em massa, como o sol e a areia oferecido nos balneários, mas também uma paisagem preservada, valorizando o romântico, o lúdico, a nostalgia pelos períodos fortes do passado (COLTMAN citado por WOMACK 1992). Surgindo o turismo pós-moderno ou romântico, como diz Seabra (2001): Como alternativa às paisagens acinzentadas das fábricas, as pessoas passaram a apreciar a natureza, como as regiões montanhosas e litorâneas. O final do século XVIII e todo o século XIX estão marcados pela busca do descanso em meio natural, como resultado da redução da qualidade de vida na nova sociedade industrial. Na fase denominada pós-moderna ou pós-fordista, percebeu-se, que as pessoas têm características e gostos diferentes, pois as paisagens do campo, do meio rural, passaram a ser a atração para o relaxamento, principalmente no período do pós-guerra. As pessoas, quando visitavam esses locais, buscavam resgatar as heranças culturais e históricas, se vestindo com os trajes tradicionais, realizando dramatizações entre as maquinarias e equipamentos agrícolas usados antes na agricultura. Com a queda do modelo rígido fordista, marcado pelas grandes indústrias, muitas dessas indústrias passaram a ser atrativo turístico, também onde os turistas imaginavam as vidas dos trabalhadores heróicos nas minas de carvão ou nas siderúrgicas (URRY, 1999). Já no Brasil, o turismo surgiu com maior força a partir da década de 1970, com o turismo de massa, como uma alternativa viável de desenvolvimento, geração de emprego e renda. Naquela época, a indústria do turismo acreditava que o Brasil, por apresentar um acervo ambiental deslumbrante, bastaria para satisfazer a todas as exigências do mercado internacional (ZIMMERMANN, 1996). Porém, essa crença era pura ilusão, pois, mesmo apresentando esse vasto acervo ambiental, de hábitos, culturas e tradições, os turistas continuavam a viajar para outros lugares do mundo, buscando não apenas um dia ensolarado, mas também serviços profissionais competentes a um custo razoável. Em decorrência dessa visão, o modelo da década de 1970 fracassou, devido à falta de profissionalização e às crises econômicas, além da inexistência de três fatores essenciais para um desenvolvimento harmônico e sustentável do turismo: preservação do meio ambiente natural e cultural, consciência da importância dos programas de qualidade na prestação de serviços, e o reconhecimento da necessidade de formação de mão-de-obra qualificada em todos os níveis e nos diversos segmentos de lazer e turismo (REJOWSKI, 1996). Na tentativa de superar esses erros, vários atores do setor público, privado e também da comunidade começaram a analisar que deveriam investir mais em profissionalização, assim como, na preservação ambiental e cultural, de forma a garantir a satisfação dos turistas e do lugar, garantindo a sustentabilidade da atividade e a competitividade da indústria do turismo e a conservação do meio ambiente. Reportando a hoje, muita coisa foi feita, porém, ainda exista uma grande carência no que diz respeito a infra estrutura das regiões turísticas, e qualidade ambiental dessas regiões, onde a prática ainda é mínima por parte desses setores “responsáveis e omissos” da atividade turística. Segundo Seabra (2001), a partir da primeira metade da década de 1990, o Brasil começa a ter um verdadeiro declive em relação ao turismo, devido ao declínio da imagem do Brasil no exterior, em decorrência da falta de infra-estrutura, alta criminalidade, turismo sexual, prostituição, epidemias, elevados preços de transporte e hospedagem, em relação a outros destinos da América Latina, assim como, redução dos investimentos governamentais no marketing turístico. Somente a partir da segunda metade da década de 1990, com a criação do Programa de Ação para o Desenvolvimento Turístico do Nordeste (PRODETUR), com instalações de grandes complexos hoteleiros é que esse quadro foi mudando. Porém, não havia preocupação com a populações residentes próximas a estes megas empreendimentos, muito menos com o meio ambiente, acarretando assim, uma série de problemas ambientais até hoje sem soluções. Segundo Corner (2001), a indústria do turismo de hoje é constituída por organizações dos setores públicos, privados e ainda pela comunidade local, que normalmente estão agrupados com o objetivo de oferecer um produto turístico que satisfaça às necessidades dos turistas em regiões que apresentam potencial e vocação para o desenvolvimento do mesmo. Porém, na prática, essas “organizações” compostas por esses setores da industria turística, não têm em comum os mesmos objetivos referentes ao setor, e muitas vezes, o que se vê é apenas uma grande competição entre os pares e preocupações terceiras, onde deveria existir trabalhos e esforços em conjunto, gerando competitividade com outros destinos. Corner (2001), também nos coloca que a competitividade de uma região turística é o resultado de ações integradas entre governo, setor privado e comunidades. O governo, exerce papel importante nessa atividade, pois tem a responsabilidade por boa parte dos serviços, como saúde e segurança; infra- estrutura, como saneamento básico, rodovias, ferrovias e portos; em formular políticas públicas; estabelecer condições fiscais e financeiras; e também pelo planejamento conjunto junto ao setor privado e a comunidade. O setor privado, tem importante papel quando fornece instalações, atrações, ou seja, fornece parte da infra-estrutura turística das localidades; e a comunidade fornece outros atrativos, como os culturais, além da recepção. Para que o desenvolvimento desses destinos turísticos aconteça, é necessário que os agentes dos setores públicos, privados e a própria comunidade trabalhem de forma cooperativa e coordenada para oferecer o produto turístico de acordo com as necessidades dos visitantes. Na atualidade, o turismo está indissociavelmente ligado à cultura e ao meio-ambiente, e sem uma conjugação perfeita com estes setores, está condenado a morrer nestas localidades, com destruição das mesmas (VIEIRA, 2000). Vieira (2000), nos coloca também que, anteriormente ao turismo associava-se a exaltação do meio-ambiente, pela sua virginal beleza e procura de condições climáticas capazes de aliviarem as doenças pulmonares. Hoje, depara-se perante nós algo diferente, onde as técnicas terapêuticas evoluíram, assim como, surgiram novas necessidades, onde o turismo pode ser o meio mais seguro para as satisfaze-las, como o deleite das belezas naturais, onde às condições de bem-estar sucedeu a procura de alimento para o espírito, materializado nos diversos eventos culturais e o convívio entre povos etradições. Contudo, o turismo por si só, é uma atividade que requer mudanças e assim, é preciso analisá-las. São chamadas de produção e re- produção espacial, e que não se separam do meio ambiente. Tendo em conta que a problemática ambiental coloca em destaque a questão do espaço, do território e da paisagem, a atividade turística aparece como a que apenas “consome” paisagem/espaço/território, sem aparentemente, “destruir” esses lugares, o que justificaria apontá-la como sustentável. Contudo, esta atividade produz territórios, da mesma forma como todas as demais atividades do modo industrial, e assim, na sua essência é insustentável, já que tem que se levar em conta, que toda produção é ao mesmo tempo destruição, ou seja, trata-se da chamada produção destrutiva. (RODRIGUES, 1997) Portanto, é preciso considerar a questão da sustentabilidade na produção sócio-espacial onde se insere a atividade turística, e a partir destas questões e do conhecimento sobre esta atividade, talvez possamos discutir formas alternativas de gestão, onde os atores sociais passem a ter uma maior preocupação com os destinos do seu lugar. E assim, não deixar apenas que o lugar seja transformado em símbolo e posteriormente em mercadoria a ser vendida. É preciso que o turismo e suas atividades transformem-se efetivamente em uma pratica social, com bases culturais fortes e potencialidades pensadas em alternativas de lazer também local e não apenas em consumo para o turismo. O lugar turístico tem que ter base cultural, memória e identidade local, não havendo, corre riscos de tornar-se um lugar igual a qualquer outro no mundo. Uma sociedade que não tem memória, identidade e respeito para com sua cidade, é uma sociedade infeliz. A “alma” de uma cidade está em cada um de seus habitantes, que devem contribuir para que sua cidade consiga respirar, progredir, existir e se tornar o “lócus” da vida do cidadão. (LENER,1996, p 74). Assim sendo, é necessário que a sociedade se manifeste e procure produzir um lugar onde ela própria tenha atuação efetiva na produção de um espaço com qualidade de vida para seus habitantes. Há que resgatar, o chamado desenvolvimento à escala humana, ou seja, relativo às possibilidades do lugar, partindo-se do ideário de Milton Santos, quando afirma que o mundo é um conjunto de possibilidades, “ali onde a tribo descobre que não é isolada, nem pode estar só” (SANTOS,1994). Na nossa pesquisa, seguimos um detalhamento sobre as tendências do turismo e suas ramificações, chamada muitas vezes de segmentação do turismo ou do mercado. Esse detalhamento, segue de acordo com as tendências do turismo na Região do Cariri Cearense, onde nos próximos capítulos discutiremos esses aspectos regionalmente. Portanto, ainda neste capítulo, torna-se fundamental definir e conceituar essas ramificações, antes de adentrarmos nas questões inerentes ao Cariri e aos aspectos turísticos nele existentes. 2.1. TURISMO DE NATUREZA E SEUS CAMINHOS. É assustador o modo como o mercado de esportes de aventura vem crescendo no Brasil. A cada dia, novos destinos e modalidades surgem como novo produto de empresas especializadas nesse ramo. Porém, um detalhe aparentemente simples, marca e caracteriza tais produtos: o ambiente onde são praticados é quase sempre o meio natural. Rios, vales, montanhas, riachos, cachoeiras, picos e chapadas possuem características naturais que propiciam a prática destas atividades. Portanto, a modalidade do turismo denominada de Turismo Ecológico, ou simplesmente Ecoturismo, constitui um dos alicerces na tentativa de alcançar um modelo sustentável, e por isso, é necessária uma discussão sobre essas práticas e principalmente rever o que se entende por Ecoturismo, Turismo de Aventura e até mesmo Turismo Rural. (ver foto 01). Por Ecoturismo podemos dizer que ele é uma “viagem responsável a áreas naturais, visando preservar o meio ambiente e promover o bem-estar da população local” (WESTERN, 1999). É um fenômeno característico do final do século XX, e ao que se percebe do século XXI. O Ecoturismo é o segmento turístico que proporcionalmente mais cresce no mundo, em virtude da divulgação massiva dos lugares exóticos e da exaustão sofrida pelo turismo convencional. (SEABRA, 2001). Figura 01: Mirante do Preá: Floresta Nacional do Araripe, Crato – CE (foto: Augusto Pessoa, cedido pelo SEBRAE/Cariri) Da mesma forma William (1992), citado por Talavera (2002, p.97), nos coloca que “viajes hacia áreas naturales relativamente, poço alteradas e no contaminadas com el paisaje, la flora, la fauna, al igual que las manifestações culturales (pasadas y presentes) características de esas áreas” Por mais essa questão, é que devemos nos preocupar sobre o crescimento massivo desta prática, já que a essência do Ecoturismo está em oferecer ao turista uma experiência rica e autêntica de vivência junto ao meio onde essa prática está inserida. Freqüentemente, várias outras associações são feitas ao Turismo Ecológico em vista de uma estreita relação existente entre os princípios dessas atividades, sendo exemplos mais comuns os esportes de aventura e o turismo de cunho histórico-cultural, como acontece na Chapada Diamantina - BA, onde monumentos e antigas edificações constituem parte da oferta turística junto com o turismo de aventuras e outros. No Turismo de Aventura praticado nos ambientes naturais, a maior parte são as atividades que envolve os esportes radicais. Estes, têm sido os grandes impulsionadores da atividade no Brasil, e também no mundo. O “trekking”, o “montain-bike”, as cavalgadas, a tirolesa, o “rafting”, o “rapel” e a pesca esportiva, são algumas das diversas opções existentes. As diferentes modalidades de Turismo de Aventura e também do Ecoturismo, podem ainda ser praticadas tanto no ambiente natural, como no rural, e muitas vezes até em ambiente urbano, porém, há mais relações com o meio natural, e que apesar das afinidades, assumem significativas diferenças. O Brasil, é um país com forte vocação natural para o turismo de natureza, assim como, sua grande diversidade cultural e sua ampla extensão territorial propiciam uma oferta turística das mais variadas, fazendo com que o país seja uma atração para os próprios brasileiros, permitindo ainda, a prática da maioria das modalidades de turismo ecológico e também de esportes de aventura. Mesmo após séculos de exploração predatória, os ecossistemas brasileiros guardam inúmeros e notáveis encantos, ainda praticamente desconhecidos do ponto de vista do ecoturismo, o que certamente poderia ser instrumento para o desenvolvimento da atividade em inúmeras de regiões brasileiras, se houvesse uma maior iniciativa e estratégia dos agentes públicos e privados. Porém, é preciso perceber que há uma grande ineficiência, no que diz respeito aos agentes públicos, que são responsáveis muitas vezes por essas áreas, sem terem condições de monitorá-las. Segundo Seabra (2001), a ausência do poder público na administração de áreas naturais, muitas vezes é pela insuficiência de funcionários, assim como, pela inexistência de convênios e parcerias com a iniciativa privada e as organizações não-governamentais. O caráter sócio- desenvolvimentista do ecoturismo, permeia os projetos oficiais e os discursos políticos, sem, contudo alcançar e envolver as comunidades tradicionais que habitam as unidades de conservação, sendo “tragadas por uma política oficial massificante, travestida de auto-sustentável”. Dia a dia, novas apostas no Turismo Ecológico surgem na tentativa de dinamizar essas pequenas comunidades. Pois sabemos que, todas as cinco regiões do país têm potencial suficiente para apostar no Turismo Ecológico e todas elas possuem pólos já consagrados. Veja na figura 02, na página a seguir, os pólos de ecoturismo do estado de Ceará. O Poder Público
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