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1 
 
RAFAELA PACHECO NUNES 
 
 
 
 
 
 
 
 
DOS EFEITOS JURÍDICOS DA SENTENÇA DECLARATÓRIA DA F ALÊNCIA: 
UM PARALELO ENTRE O DECRETO-LEI 7.661 DE 1945 E A LEI 11.101 DE 2005 
 
 
 
 
Monografia de Conclusão do Curso de Direito da 
Universidade Federal do Ceará. 
Orientador: Luiz Eduardo dos Santos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fortaleza, 2009 
2 
 
RAFAELA PACHECO NUNES 
 
 
 
DOS EFEITOS JURÍDICOS DA SENTENÇA DECLARATÓRIA DA F ALÊNCIA: 
UM PARALELO ENTRE O DECRETO-LEI 7.661 DE 1945 E A LEI 11.101 DE 2005 
 
 
 
 
Monografia apresentada à Coordenação do Curso 
de Direito da Universidade Federal do Ceará 
como um dos requisitos necessários à obtenção 
do grau de bacharel em Direito. 
 
 
Data da aprovação: 04/06/2009 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
Professor Luiz Eduardo dos Santos 
(orientador) 
 
Mestrando Bruno Cunha Weyne 
(convidado) 
 
Mestrando Gustavo César Machado Cabral 
(convidado) 
 
 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Para Deus. 
Para meus pais. 
Para Filipe. 
 
4 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 A Deus, pela imensa generosidade que sempre demonstra para com esta 
humilde serva. 
 A meus pais, Anísio e Nívea, companheiros fiéis, apoiadores infalíveis e 
amigos incomparáveis de onde eu tiro forças para vencer todos os desafios. Orgulhá-los é 
minha maior felicidade. 
 A Filipe, meu futuro esposo, homem de intelecto privilegiadíssimo e de 
coração dotado de rara bondade, por trazer para minha vida toda a paz, todo o equilíbrio e 
todo o amor com que sempre sonhei. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
RESUMO 
 
Demonstrou-se que, sob a égide do Decreto-Lei 7.661 de 1945, o tema dos efeitos jurídicos da 
sentença declaratória da Falência obteve análise especial no arcabouço do próprio Diploma 
Legal. Tratava-se de seu Título II. Tal cuidado não foi repetido com a Legislação Falimentar 
em vigor, sendo a importante questão dos principais efeitos vindos imediatamente da sentença 
declaratória de Falência tratada de modo esparso, ao longo de toda a Lei 11.101 de 2005, em 
prejuízo da sistematicidade do tema. Comprovou-se isto ao aglutinar os artigos pertinentes ao 
tema, comentando-os e dividindo-os por assunto, de modo semelhante ao que ocorria no 
Decreto-Lei 7.661 de 1945, com recurso à análise comparativa do atual Diploma com o 
revogado. 
 
Palavras-chave: Decreto-Lei 7.661 de 1945; Lei 11.101 de 2005; paralelo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
RÉSUMÉ 
Il a été démontré que, dans le cadre du Décret-Loi 7.661 de 1945, le thème des effets 
juridiques du jugement déclaratif de Faillite a reçu un examen spécial dans la Loi. Il a été son 
Titre II. Cette attention n'a pas été répétée avec la législation à propos de l'insolvabilité en 
vigueur, et l'importante question des principaux effets de la sentence déclarative de Faillite 
ont été traités éparpillement, dans l'ensemble de la Loi 11.101 de 2005, en perte systématique 
de la question. Il a été vérifié ça par l'union des articles pertinents pour le sujet, par les 
commentaires et par la division par l'objet, de façon similaire à ce qui s'est produit dans le 
Décret-Loi 7.661 de 1945, en utilisant l'analyse comparative de l'actuel Diplôme avec 
l'abrogé. 
Mots-clés: Décret-Loi 7.661 de 1945; Loi 11.101 de 2005; parallèle. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
SUMÁRIO 
 
 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................9 
1. DOS EFEITOS DA SENTENÇA DECLARATÓRIA DE FALÊNCIA QU ANTO 
AOS DIREITOS DOS CREDORES..........................................................................14 
1.1. Vencimento antecipado das dívidas do falido...........................................................15 
1.1.1. Casos especiais.........................................................................................................18 
1.2. Suspensão das ações ou execuções individuais dos credores, sobre direitos e 
interesses relativos à massa falida............................................................................20 
1.3. Suspensão da fluência dos juros.................................................................................22 
1.4. Créditos inexigíveis na Falência.................................................................................23 
1.5. Multa fiscal ...................................................................................................................23 
1.6. Suspensão das ações ou execuções movidas contra o falido....................................24 
1.7. Suspensão da prescrição favorável ao devedor....................................................... 25 
2. DOS EFEITOS DA SENTENÇA DECLARATÓRIA DE FALÊNCIA QU ANTO 
À PESSOA DO FALIDO.........................................................................................26 
2.1. Restrições à capacidade processual do falido e à sua liberdade de locomoção....28 
2.2. Obrigações que lhe são impostas..............................................................................30 
2.3. Proibição para o exercício da atividade empresarial ..............................................32 
2.4. Continuação do negócio.............................................................................................33 
2.5. Sujeição à prisão.........................................................................................................34 
3. DOS EFEITOS DA SENTENÇA DECLARATÓRIA DE FALÊNCIA QUANTO 
AOS BENS DO FALIDO.................................................................................................37 
3.1. Perda da administração e disposição dos seus bens................................................37 
3.2. Bens que não se compreendem na Falência.............................................................39 
3.3. Situação do cônjuge do falido empresário individual ou do sócio ilimitadamente 
responsável........................................................................................................................41 
3.4. Nulidade dos atos praticados pelo falido quanto aos bens.....................................43 
4. DOS EFEITOS DA SENTENÇA DECLARATÓRIA DE FALÊNCIA QUANTO 
AOS CONTRATOS DO FALIDO .................................................................................43 
4.1. Contratos unilaterais.................................................................................................44 
4.2. Contratos bilaterais....................................................................................................45 
8 
 
4.3. Regras especiais para determinados contratos.......................................................45 
4.4. Alienação fiduciária...................................................................................................47 
4.5. Contrato de trabalho.................................................................................................48 
4.6. Compensação das dívidas do falido..........................................................................48 
4.7. Circunstância de ser o falido sócio comanditário ou cotista de alguma (outra) 
sociedade............................................................................................................................49 
5. DA REVOGAÇÃO DE ATOS PRATICADOS PELO DEVEDOR ANT ES DA 
FALÊNCIA .......................................................................................................................49 
5.1. Atos praticados dentro do termo legal.....................................................................49 
5.2. Atos praticados nos dois anos anteriores à Falência...............................................51 
5.3. Outros atos revogáveis...............................................................................................51 
5.4. Da ação revocatória por ineficáciae por fraude.....................................................53 
CONCLUSÃO...................................................................................................................57 
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA .................................................................................59 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
INTRODUÇÃO 
 
 O senso comum – isto é, a visão coletiva tradicional – conduz a generalidade 
das pessoas a entender a Falência, simplesmente e em todos os casos, como uma condição 
aviltante, oriunda da decadência moral e financeira do negociante, capaz de imprimir-lhe, 
muitas vezes de modo indelével, o estigma do fracasso e do conseqüente não merecimento da 
confiança de seus pares. 
 Entretanto, tendo como norte a teoria adotada pelo ordenamento jurídico 
pátrio, Falência, do ponto de vista jurídico-subjetivo, consiste em uma execução coletiva 
judicial diferenciada, atualmente regulamentada pela Lei 11.101 de 2005, cabível contra 
insolvente empresário, sociedade empresária ou a estes equiparado. Não deixa a Falência, por 
conseguinte, de ser, também, um direito que a estes assiste – direito este conquistado à custa 
de muita luta e aprimorado ao longo de muitos séculos. 
 A partir do que dissemos, exsurgem as seguintes conclusões lógicas: 1) falido, 
no Direito brasileiro, como se aduz da definição de Falência ora oferecida, só pode ser o 
insolvente que se encaixe na descrição de um dos itens do rol aqui exposto, isto é, do rol dos 
passíveis de falir (contra devedor insolvente civil, o que tem vez é a execução coletiva, 
regulamentada pelo Código de Processo Civil em seus arts. 748 a 786-A, não a Falência); e 2) 
empresa, na sua melhor acepção, é uma atividade e, destarte, não se sujeita à Falência. Esta 
atividade pode ser desenvolvida pelo empresário unipessoal ou pela sociedade empresária, 
sendo estes – e não a empresa – os sujeitos de direitos e obrigações e os passíveis de falir. 
 Desde logo se vê, portanto, a condição especialíssima e multifacetária que é a 
Falência e se pode imaginar os resultados nada singelos dela provenientes para todos os 
envolvidos em tal processo: de um lado o falido, humilhado, odiado ou ambos, de outro os 
credores, temerosos de não chegarem a ver satisfeitas as obrigações contraídas consigo pelo 
devedor. Isto sem falar no que realmente interessa ao nosso estudo: as variadas situações que 
constituem os fios que compõem a trama de cada Falência – situações que se submeterão aos 
efeitos que, conforme a Lei, surgirão a partir desta. 
 Ocorre, porém que, inobstante o terror que a Falência causa, uma vez 
confirmado o que os credores mais temem – a insolvência do devedor –, a declaração judicial 
desta circunstância vem a ser, para muitos, o começo da solução de um grande problema. É 
que mesmo sendo o devedor empresário, sociedade empresária ou a estes equiparado, não 
10 
 
havendo reconhecimento judicial de insolvência, por meio da competente sentença 
declaratória, terão os credores de seguir, se for o caso, a regra geral das execuções 
individuais, segundo os artigos 591 e 646 do Código de Processo Civil. O que poderia deixar 
grande parte destes com seus créditos insatisfeitos. 
 Reluz, como se vê, a importância da declaração judicial de insolvência na 
caracterização Falência, sendo certo dizer que esta seria como que uma insolvência 
qualificada pela particular condição do devedor. O próprio Legislador tratou de definir as 
hipóteses legais ensejadoras de justificada suspeita de insolvência. São comportamentos 
adotados pelo devedor os quais são tidos por censuráveis, quer pela impontualidade que 
traduzam (Lei Falimentar, art. 94, incs. I e II), quer pela reprovabilidade social e jurídica que 
mereçam (Lei Falimentar, inc. III). Tais condutas vêm elencadas pelo Legislador como 
indícios de que o devedor está – ou em breve estará – inapto a adimplir suas obrigações – 
indícios estes considerados fortes o bastante para justificar o pedido de decretação de sua 
Falência por quem seja legitimado para tanto. 
 A Falência, como se pode facilmente aduzir destas considerações preliminares, 
é situação especialíssima: a Lei define quem pode pedir a Falência (própria ou de outrem) e 
em que situações, quem pode falir e como deve dar-se tal processo. São muitos os detalhes e é 
verdadeiramente importante que as situações que compõem, ou que podem vir a compor, tal 
quadro sejam dissecadas pelo Legislador, uma vez que as implicações de uma Falência são 
inúmeras, desenrolam-se em diversos planos e atingem, por vezes, incontáveis pessoas. Tanto 
é assim que, ao abordar a Falência enquanto instituto jurídico, logo se sobressai sua natureza 
suis generis, dado o fato de que dentro e ao redor da Falência há interesses dos mais variados 
(interesses coletivos – dos credores, dos trabalhadores – e difusos – do Estado, da sociedade –
, por exemplo), institutos de Direito Público e de Direito Privado e cabimento de medidas 
diversificadas (ação cautelar, execução concursal, afastamento do empresário). 
 Se a natureza jurídica da Falência é sem igual, diferente não poderia ser a da 
sentença que a declara, a qual tem um pouco de natureza jurídica declaratória, um pouco de 
natureza jurídica constitutiva, um pouco de natureza jurídica mandamental, um pouco de 
natureza jurídica executiva e um pouco de ato administrativo vinculado. Como tem um pouco 
de cada uma, a doutrina e a jurisprudência vêm reconhecendo que é sentença de natureza 
jurídica diferente das de todas – suis generis. E os impactos gerados por ela são, igualmente, 
11 
 
múltiplos e diferenciados, merecendo maior atenção por parte dos estudiosos do que, 
notadamente a partir da entrada em vigor da Lei 11.101 de 2005 e até aqui, temos observado. 
 Verdade é que o novo panorama político-social-empresarial requeria 
mudanças. Então, como no Brasil uma análise histórica, ainda que superficial, resulta na 
conclusão inquestionável de que, em termos de Leis, o desejo pelo novo tende a prevalecer 
diante do apego ao antigo, revogou-se o Decreto-Lei 7.661 de 1945 com a Lei 11.101 de 
2005. Igualmente verdade é que o Novo Diploma, sim, está adequado à visão – nova, atual – 
da Falência, que hoje se volta não só a à satisfação dos créditos, guiada pelo princípio da par 
conditio creditorum, respeitados privilégios e preferências, mas, também, ao interesse social 
na continuidade da atividade empresária. O olhar do Legislador para a questão da função 
social da empresa é sentido não só com a instituição da Recuperação Judicial – que veio para 
substituir a antiga Concordata –, mas, também, em inovações no campo da Falência. A nova 
legislação reconhece e consagra que mais interessante que simplesmente eliminar a empresa 
que esteja gerando instabilidade no mercado é vê-la continuar, a bem dos empregos dos 
trabalhadores e da economia nacional, se não pelas mãos do falido, pelas mãos de um novo 
proprietário. 
 Ocorre, porém, que, inobstante as louváveis mudanças, que vieram para 
atender à necessidade de adequação aos novos tempos, a Nova Lei também apresenta falhas e, 
em alguns pontos, chega mesmo a apresentar-se pior, mais negligente, omissa ou falha do que 
o Diploma que substituiu. É o que ocorre com o tema específico dos efeitos jurídicos da 
sentença declaratória da Falência, que, sob a égide do Decreto-Lei 7.661 de 1945, obteve 
análise distinta, no arcabouço do próprio Diploma Legal. Trata-se do Título II da alcunhada 
Antiga Lei de Falência. Tal cuidado não foi repetido pelo Legislador na Legislação 
Falimentar em vigor, sendo a importante questão dos principais efeitos advindos a partir da 
sentença declaratória de Falência tratada de modo esparso, ao longo de toda a Lei 11.101 de 
2005. A exemplo do Legislador, considerável fatia da melhor doutrina passou a abandonar o 
trato concentrado da matéria, discorrendo de modo fragmentado acerca de tais efeitose, 
talvez por isso, simplesmente silenciando a respeito de alguns deles, como se os houvessem 
esquecido. 
 De tais constatações, surgem, para nós, alguns questionamentos, entre os quais 
os seguintes: 
1) Quais regramentos acerca do tema constam da Nova Lei e são inteiramente 
inovadores? 
12 
 
2) Quais são repetições puras das regras antigas? 
3) A atual assistematicidade no trato do assunto complicou ou facilitou a 
compreensão e a aplicação das regras pertinentes? Em que medida? 
4) É importante que a doutrina continue a tratar o assunto em bloco? Por quê? 
 Neste estudo, como dito, buscaremos primordialmente, aglutinar os artigos 
relacionados ao tema escolhido, dividindo-os em subtemas, de modo semelhante ao que 
ocorria no Decreto-Lei 7.661 de 1945, refletindo a respeito de cada qual, consultando estudos 
pertinentes e comentando-os, a fim de tentar aclarar, entre outros, os recém-referidos pontos 
obscuros, bem assim de despertar a reflexão de outros que, como nós, tenham interesse em 
estudar, de modo sistemático, o impacto jurídico sentido pelos envolvidos no processo de 
Falimentar a partir da sentença declaratória da Falência. 
 Como nos propomos exatamente a traçar um paralelo, o recurso à análise 
comparativa dos artigos constantes do atual Diploma com seus eventuais correlatos no ora 
revogado servirá de esteio e dará a tônica do trabalho, uma vez que seria extremamente 
laborioso, para não dizer quase impossível, pretender abordar todos os efeitos da Falência, 
incluindo os não-jurídicos, os jurídicos explícitos e os implícitos, situados tanto dentro quanto 
fora do Diploma falimentar. Mourejaremos, portanto, em área bem definida, fazendo assim, 
um vôo cativo pela imensidão do assunto que escolhemos: assim não corremos o risco de nos 
perder nem de fugir às pretensões de nosso trabalho. A nosso ver, os esforços se justificam 
pela grande relevância dos efeitos jurídicos da sentença declaratória de Falência os quais, sem 
dúvida, merecem maior atenção dos estudiosos do que tem recebido até aqui. 
 Inobstante defendermos, como ficou claro de início, uma visão ampla da 
Falência, que inclua enxergá-la, também, como um direito – ou um conjunto de direitos – do 
devedor, não se pode olvidar que esta é, antes de tudo, um processo de execução coletiva, 
sendo seu objetivo nucleal o pagamento aos credores, no limite das forças do ativo, 
respeitados os privilégios e as preferências. 
 Quer-se dizer, com isso, que, apesar da evolução histórica pela qual passou o 
instituto, bem assim do atual e evidente interesse em que, não se podendo salvar ao devedor, 
salve-se ao menos à atividade empresarial, evitando os gravames sociais resultantes de sua 
extinção, a Lei 11.101 de 2005 traz, como não poderia deixar de ser, a previsão de diversos 
13 
 
efeitos jurídicos oriundos da sentença, os quais ora se voltam à proteção pura e simples dos 
direitos dos credores, ora impõem, para tanto, restrições ao falido e à validade de seus atos. 
 No Decreto-Lei 7.661 de 1945, o tema obteve análise especial, o mais 
detalhada e concentrada possível, no corpo do Diploma Legal. Tratava-se de seu Título II – o 
qual, aliás, dá título a esta Monografia –, DOS EFEITOS JURÍDICOS DA SENTENÇA 
DECLARATÓRIA DA FALÊNCIA, que se dividia em cinco seções, a saber: 
a) Seção Primeira – DOS EFEITOS QUANTO AOS DIREITOS DOS CREDORES; 
b) Seção Segunda – DOS EFEITOS QUANTO À PESSOA DO FALIDO; 
c) Seção Terceira – DOS EFEITOS QUANTO AOS BENS DO FALIDO; 
d) Seção Quarta – DOS EFEITOS QUANTO AOS CONTRATOS DO FALIDO; 
e) Seção Quinta – DA REVOGAÇÃO DE ATOS PRATICADOS PELO DEVEDOR 
ANTES DA FALÊNCIA. 
 De outra parte, com o advento da Legislação Falimentar em vigor – não 
ignorando que a anterior não se encontra totalmente revogada – os artigos referentes aos 
principais efeitos vindos imediatamente da sentença declaratória de Falência foram 
pulverizados ao longo de toda a Lei 11.101 de 2005. 
 Conforme já aludido, exatamente desta constatação surgiu a idéia base deste 
estudo, no qual buscamos, primordialmente, identificar e trazer a lume os artigos da 
cognominada Nova Lei de Falência pertinentes ao tema, dividindo-os por assunto – de modo 
semelhante ao que ocorria no Decreto-Lei 7.661 de 1945 – e comentando-os, um a um, a fim 
de propiciar uma análise comparativa com artigos correlatos existentes no Diploma revogado. 
Pretendemos com isso, demonstrar que o tema persiste vivo, atual e relevantíssimo, 
continuando a merecer ser estudado em bloco, como outrora, isto é, continuando a merecer 
um capítulo específico nas principais obras de doutrina acerca do Direito Falimentar, onde 
poderão ser apontados erros e acertos encontráveis na Nova Lei, a partir de um paralelo entre 
esta e a antiga, contribuindo para a evolução da matéria. A partir daí, esperamos, surgirá a 
oportunidade para uma análise pessoal, crítica e criativa das diversas implicações da sentença 
que declara a Falência, bem assim do que de proteção ou eventual gravame ela traz para a 
realidade de um falido e de seus credores das diversas classes existentes. 
 
 
14 
 
1. DOS EFEITOS DA SENTENÇA DECLARATÓRIA DE FALÊNCIA QUANTO AOS 
DIREITOS DOS CREDORES 
 
 Inegável a preocupação do Legislador, no tocante à Nova lei de Falência, no 
sentido de buscar a preservação da empresa. Tal preocupação fica mais evidente ao 
analisarmos a substituição da antiga Concordata pelo instituto da Recuperação Judicial – 
maior inovação trazida pela Lei 11.101 de 2005 em relação ao Decreto-Lei 7.661 de 1945 –, 
mas é sensível ao longo de todo o Diploma. Significa dizer que, mesmo em situações de crise 
econômico-financeira-patrimonial já instalada, percebe-se a intenção de que continue a 
atividade empresarial, ainda que pelas mãos de terceiros, mantendo-se a função social da 
empresa, com a conseqüente manutenção dos empregos e produção de riquezas a reforçar a 
economia do país. 
 Não se pode olvidar, igualmente, o avanço histórico do instituto falimentar, que 
hoje limita a execução concursal contra devedor empresário, sociedade empresária ou a estes 
equiparado aos ditames da Lei, que por sua vez, limita-a às forças do ativo, observados os 
princípios da universalidade e da par conditio creditorum: a Lei 11.101 de 2005 determina 
que a decretação da Falência sujeita todos os credores, que somente poderão exercer os seus 
direitos sobre os bens do falido e do sócio ilimitadamente responsável na forma que esta Lei 
prescrever (art. 115), sendo que nas relações patrimoniais não reguladas expressamente, o juiz 
deverá decidir o caso atendendo à unidade, à universalidade do concurso e à igualdade de 
tratamento dos credores, observado o disposto no art. 75 (art. 126). São avanços quiçá 
sonhados por devedores que vivenciaram a experiência de falir ao tempo das antigas 
civilizações, quando a Falência em lugar de sua atual feição preventiva, no que tange à 
satisfação das dívidas, apresentava caráter eminentemente punitivo, havendo Leis como o 
Código de Manu, na Índia, que autorizavam que, na insuficiência do ativo, as execuções se 
revertessem em penas como escravização do devedor. 
 Entretanto, ao lado dos objetivos e garantias acima expostos, os quais não se 
pode perder de vista no processo falimentar atual, está o objetivo precípuo da Falência, que 
continua a ser a satisfação dos créditos dos credores, em igualdade de condições, respeitados 
os privilégios e as preferências. Esta matéria, que no Digesto revogado era dissecada na seção 
primeira do Título II, no novel Diploma é tratada em alguns artigos (misturados a outros 
referentes, por exemplo, aos contratos do falido) constantes do Capítulo V, na seção 
denominada “Dos Efeitos da Decretação da Falência sobre as Obrigações do Devedor”, bem 
15 
 
como em outros artigos, ao longo do texto legal. Trata-se de um dos pontos mais relevantes 
no que concerne aos efeitos da sentença declaratóriade Falência. Inobstante, Amador Paes de 
Almeida é dos poucos estudiosos do instituto da Falência a continuar dedicando um capítulo 
específico ao assunto – e com o mesmo título: “Dos Efeitos da Sentença Declaratória de 
Falência quanto aos Direitos dos Credores” –, fazendo breves comentários acerca dos 
principais direitos dos credores, de acordo com o novel Diploma Falimentar. 
 Parece-nos que o descuido do novel Legislador vem sendo repetido pelos 
doutrinadores, o que configura retrocesso no tratamento da matéria e dificuldade para os 
estudiosos e operadores do Direito, que, diante de tamanha assistematicidade tem, no mínimo, 
menos facilidade do que outrora em identificar os principais direitos dos credores. 
 Por comodidade, seguiremos neste capítulo – com pequenas adaptações – a 
ordem em que os tópicos aparecem na obra “Curso de Falência e Recuperação de Empresa” 
(2008), de autoria do doutrinador supramencionado, ressaltando, porém, neste âmbito, 
semelhanças e diferenças entre a Lei 11.101 de 2005 e o Decreto-Lei 7.661 de 1945, e não 
descartando, no afã de alcançar maior profundidade no tema, o recurso a outros autores. 
 
1.1. Vencimento antecipado das dívidas do falido 
 O vencimento antecipado das dívidas do falido é corolário do princípio da par 
conditio creditorum: decorre da necessidade de possibilitar a todos os credores a habilitação 
de seus respectivos créditos no processo de execução coletiva que é a Falência, a qual socorre 
os exeqüentes, evitando que, com a satisfação individual dos créditos, diante da insuficiência 
do ativo, crie-se um desequilíbrio entre a universalidade de credores. 
 É a decretação da Falência que dá azo ao vencimento antecipado das dívidas do 
falido, inteligência do artigo 77 da Nova Lei de Falência e Recuperações: 
Art. 77. A decretação da Falência determina o vencimento antecipado das dívidas do 
devedor e dos sócios ilimitada e solidariamente responsáveis, com o abatimento 
proporcinal dos juros, e converte todos os créditos em moeda estrangeira para a 
moeda do País, pelo câmbio do dia da decisão judicial, para todos os efeitos desta 
lei. 
 Significa dizer que, mesmo as dívidas que sequer seriam cobráveis em face do 
devedor, já que ainda não vencidas, passam a sê-lo, isto é, passam a ser exigíveis, razão pela 
qual o credor passa a ter direito à habilitação do seu crédito. A única vantagem que com isto 
16 
 
nasce para o devedor é o abatimento proporcional dos juros. E assim era desde quando vigia 
plenamente o Decreto-Lei Falimentar: 
Art. 25. A Falência produz o vencimento antecipado de todas as dívidas do falido e 
do sócio solidário da sociedade falida, com o abatimento dos juros legais, se outra 
taxa não tiver sido estipulada. 
 Conforme se depreende da leitura do supra transcrito artigo art. 77, em sendo 
sociedade comercial a falir, a regra é extensiva às dívidas dos sócios ilimitada e 
solidariamente responsáveis. 
 Outro não é o entendimento que se extrai do artigo 81 da mesma Lei: 
Art. 81. A decisão que decreta a Falência da sociedade com sócios ilimitadamente 
responsáveis também acarreta a Falência destes, que ficam sujeitos aos mesmos 
efeitos jurídicos produzidos em relação à sociedade falida e, por isso, deverão ser 
citados para apresentar contestação se assim o desejarem. 
 Neste passo, convém rememorar, rapidamente, a questão atinente à 
responsabilidade dos sócios nas diferentes espécies de sociedade, ressalvada, em todos os 
casos, as hipóteses de desconsideração da personalidade jurídica. 
1) Sociedades Anônimas e Sociedades Limitadas: a responsabilidade pessoal dos sócios 
está limitada à integralização de suas quotas ou ações. 
2) Sociedades em Comandita Simples e Sociedades em Comandita por Ações: somente 
os sócios comanditários e os diretores, respectivamente, respondem com seu 
patrimônio pessoal (responsabilidade ilimitada) pelas obrigações sociais. 
3) Socidades em Nome Coletivo e sociedades comuns (irregulares ou de fato): não 
comportam limitações à responsabilidade dos sócios, que são solidariamente 
responsáveis entre si (e subsidiariamente em relação a empresa) pelo adimplemento 
das dívidas sociais. É o mesmo que ocorre com o empresário individual ou, como 
preferem alguns doutrinadores, empresário unipessoal. 
 A atual legislação, como se vê, estende a Falência, com todos os efeitos dela 
oriundos, aos sócios ilimitada e solidariamente responsáveis, diferentemente do que ocorria 
sob a égide do Decreto-Lei 7.661/45: 
Art. 5°. Os sócios solidária e ilimitadamente responsáveis pelas obrigações sociais 
não são atingidos pela Falência da sociedade, mas ficam sujeitos aos demais efeitos 
jurídicos que a sentença declaratória produza em relação à sociedade falida. Aos 
mesmos sócios, na falta de disposição especial desta lei, são extensivos todos os 
direitos e, sob as mesmas penas, tôdas as obrigações que cabem ao devedor ou 
falido. 
17 
 
 Quanto aos co-devedores solventes e aos fiadores do falido e do sócio solidário 
da sociedade falida, podem apresentar-se na Falência por tudo quanto houverem pago e 
também pelo que mais tarde devam pagar, se o credor não pedir a sua inclusão na Falência, 
observados, em qualquer caso, os preceitos legais que regem as obrigações solidárias – era a 
regra do art. 29 do Decreto-Lei Falimentar, a qual foi mantida quase sem alteração pela Nova 
Lei, em seu art. 128. 
 Quanto ao credor de coobrigados solidários cujas Falências sejam decretadas, 
este tem o direito de concorrer, em cada uma delas, pela totalidade do seu crédito, até recebê-
lo por inteiro, quando então comunicará ao juízo. É a regra do art. 127 da Lei 11.101 de 2005, 
que dispõe, ainda que: (§ 1°) o disposto no caput do artigo não se aplica ao falido cujas 
obrigações tenham sido extintas por sentença, na forma do art. 159 da Lei de Falência e 
Recuperações; (§ 2°) se o credor ficar integralmente pago por uma ou por diversas massas 
coobrigadas, as que pagaram terão direito regressivo contra as demais, em proporção à parte 
que pagaram e àquela que cada uma tinha a seu cargo; (§ 3°) se a soma dos valores pagos ao 
credor em todas as massas coobrigadas exceder o total do crédito, o valor será devolvido às 
massas na proporção estabelecida no § 2°; (§ 4º) se os coobrigados eram garantes uns dos 
outros, o excesso de que trata o § 3° deste artigo pertencerá, conforme a ordem das 
obrigações, às massas dos coobrigados que tiverem o direito de ser garantidas. 
 O art. 127 e seus § 2°, § 3° e § 4° encontram paralelo, respectivamente, nos 
arts. 27 (caput do art. 127), 28 (§ 2° do art. 127) e parágrafo único do art. 28 (§ 3° e § 4° do 
art. 127) do Decreto-Lei 7.661/1945. 
 Ainda com relação aos sócios da sociedade falida, ressalte-se que: “Art. 116. A 
decretação da Falência suspende: [...] II – o exercício do direito de retirada ou de recebimento 
do valor de suas quotas ou ações, por parte dos sócios da sociedade falida”. 
 Por fim, registre-se que a melhor doutrina tem-se posicionado no sentido de 
interpretar com cautela o art. 77 retro transcrito, in fini, quando determina que o vencimento 
antecipado das dívidas do devedor e dos sócios ilimitada e solidariamente responsáveis, em 
decorrência da decretação da Falência, converte todos os créditos em moeda estrangeira para 
a moeda do país, pelo câmbio do dia da decisão judicial, para todos os efeitos da Lei. 
 A cautela referida se dá no sentido de atentar para necessidade de se evitar que 
a interpretação literal do artigo acabe servindo de manto para injustiças – o que, infelizmente, 
18 
 
não seria de se estranhar em um país como o nosso, onde, historicamente, o absurdo, o 
despropósito e a iniqüidade são praticados todos os dias, sob o pretexto de cumprimento das 
Leis e sob o epíteto de efetivação da justiça. 
 A doutrina faz eco ao afirmar que, neste caso, o que deve sempre prevalecer é a 
mens legis, ou seja, o espírito do dispositivolegal, o fim social a que ele se dirige. 
 O desiderato do Legislador, neste caso, parece ter sido, exatamente, evitar a 
incerteza e a injustiça, mas seria exatamente incerteza e injustiça que passariam a imperar 
caso o vencimento antecipado acarretasse, doesse a quem doesse, conversão de todos os 
créditos em moeda estrangeira para a moeda do país, pelo câmbio do dia da decisão judicial, 
ainda que, justamente neste dia, a variação cambial acarretasse ocasional e excessiva variação 
no valor do crédito, para mais ou para menos, ocasionando privilégio ou preterição indevidos 
ou, no mínimo, imerecidos para determinado ou determinados credores em face dos demais. 
Ainda mais se justifica este pensamento se considerarmos que a força nas votações 
assembleares é proporcional ao montante dos créditos. 
 Portanto, não é bizarro – pelo contrário, é muito apropriado – que a doutrina 
chame a atenção para a necessidade de ponderação, pelo juiz, entre a realidade que se coloque 
e a mens legis do dispositivo, a fim de não decidir segundo um legalismo cego e exacerbado, 
que poderia vir a ser qualquer coisa, menos Direito. 
 
1.1.1. Casos especiais 
 O vencimento antecipado das dívidas do falido que, como dito, socorre aqueles 
cujos créditos, sem a declaração da Falência do devedor, ainda não seriam exigíveis, evitando 
o desequilíbrio que, diante da insuficiência do ativo, seria gerado entre a universalidade de 
credores com a satisfação individual dos créditos é regra a que fogem: 
1) as obrigações subordinadas a uma condição suspensiva; 
2) as obrigações solidárias, isto é, firmadas juntamente com terceiros coobrigados com o 
devedor; 
3) as obrigações contraídas pelo falido, garantidas por fiança de terceiro; 
4) as obrigações decorrentes de contratos bilaterais, que o administrador julgue 
conveniente manter, no interesse da massa falida. 
19 
 
 Analisemos, uma a uma, cada uma das exceções que acabamos de citar. 
 As obrigações subordinadas a uma condição suspensiva são incluídas na 
Falência, mas não experimentam vencimento antecipado, pois o pagamento, como se sabe, só 
passa a ser exigível uma vez implementada a condição – situação que não se altera com a 
Falência (art. 25, § 2°, do Decreto-Lei 7.661 de 1945). 
 Na hipótese de o falido ser devedor solidário, ao credor é dado escolher entre 
habilitar-se na Falência (sem perda do direito de acionar o coobrigado solvente) ou aguardar o 
vencimento da obrigação, quando então poderá exigir o respectivo pagamento do coobrigado 
solvente (que, pagando a dívida, pode habilitar-se na Falência). 
 Da mesma forma, não se vencem antecipadamente as obrigações do falido 
garantidas por fiança, já que esta se constitui, precisamente, uma caução ao credor contra a 
insolvência do devedor. Neste caso, o credor pode, mas não precisa, habilitar-se na Falência, 
já que pode aguardar o vencimento para haver do fiador aquilo é seu por direito. 
 Para reaver a quantia levantada, o fiador que paga pelo devedor pode habilitar-
se regularmente entre os credores na Falência. 
 Quanto aos contratos bilaterais, celebrados pelo falido, vejamos o que reza o 
artigo 117 da atual Lei Falimentar, em tudo semelhante ao artigo 43 do Decreto-Lei 7.661 de 
1945: 
Art. 117. Os contratos bilaterais não se resolvem pela Falência e podem ser 
cumpridos pelo administrador judicial se o cumprimento reduzir ou evitar o aumento 
do passivo da massa falida ou for necessário à manutenção e à preservação de seus 
ativos, mediante autorização do comitê. 
 Como se pode observar, contratos bilaterais, isto é, contratos que estabelecem 
obrigações recíprocas, não se vencem com a Falência podendo ser executados pelo 
administrador se entender conveniente para a massa. 
 Nessas condições, portanto, caberá ao administrador verificar a conveniência, 
ou não, do seu cumprimento, podendo optar, todavia, pela sua denúncia. 
 É mais uma mostra do poder e da responsabilidade que tocam ao administrador 
judicial, razão por que se justifica a sua escolha se dê, atualmente, por quem não tem qualquer 
interesse financeiro no processo: o juiz. Tal escolha, sem dúvida, deverá ter sempre por base a 
confiança deste na capacidade técnica e na integridade moral daquele. 
20 
 
1.2. Suspensão das ações ou execuções individuais dos credores sobre direitos e 
interesses relativos à massa falida 
 Assim dispunha a antiga “Lei” Falimentar: 
Art. 24. As ações ou execuções individuais dos credores, sôbre direitos e interêsses 
relativos à massa falida, inclusive as dos credores particulares de sócio solidário da 
sociedade falida, ficam suspensas, desde que seja declarada a Falência até o seu 
encerramento 
§ 1° Achando-se os bens já em praça, com dia definitivo para arrematação, fixado 
por editais, far-se-á esta, entrando o produto para a massa. Se, porem, os bens já 
tiverem sido arrematados ao tempo da declaração da Falência, sòmente entrará para 
a massa a sobra, depois de pago o exeqüente. 
 De modo muito semelhante, temos o art. 6° da Lei atual que dispõe que “A 
decretação da Falência ou o deferimento do processamento da Recuperação Judicial suspende 
o curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive aquelas 
dos credores particulares do sócio solidário”. 
 O dispositivo visa a permitir a efetiva constituição do juízo universal, 
impedindo que aqueles credores cujos feitos já se encontram em estágios adiantados acabem 
obtendo vantagem excessiva, no que tange à possibilidade de satisfação dos créditos, em 
relação aos demais credores do falido. 
 Sob a égide do novel Diploma, a exemplo do que ocorria quando do Decreto-
Lei, não será atingida pela regra da suspensão a ação que demandar quantia ilíquida. 
 Entretanto, se há semelhanças, há também sensíveis diferenças perceptíveis a 
partir da análise dos referidos artigos: 
a) com a Lei 11.101 de 2005 e o advento do instituto da Recuperação Judicial, estendeu-
se a esta a suspensão prevista, com muita razão, considerando que durante a 
Recuperação o crédito pode, inclusive, ser alterado pelo respectivo plano, assim como 
o bem eventualmente penhorado pode ser utilizado para reabilitar a atividade 
empresarial claudicante; 
b) a solução apontada pelo Decreto-Lei 7.661 de 1945, segundo a qual, caso os bens já se 
encontrassem em praça, com dia definitivo para arrematação, fixado por editais, far-
se-ia esta, entrando o produto para a massa, e, caso os bens já houvessem sido 
arrematados ao tempo da declaração da Falência, entraria para a massa a sobra, depois 
de pago o exeqüente, não encontrou eco na legislação atual. 
21 
 
 Pelo regramento atual, salvo se o contrário for deliberado no juízo universal, a 
suspensão do processo tem como conseqüência a suspensão da praça, pouco importando que 
já haja dia definitivo para arrematação, fixado por editais. É a solução mais coerente com o 
caro princípio da preservação da empresa, o qual não se afina com a alienação de seus bens de 
modo fragmentado. Trata-se, portanto, de instrumentalização legal da nova roupagem que a 
Falência ganhou, no Brasil, neste começo de século, e, portanto, neste ponto as inovações só 
merecem elogios. 
 Se, porém, os bens já tiverem sido arrematados ao tempo da declaração da 
Falência, o produto dos bens penhorados ou por outra forma apreendidos entrará para a 
massa, cumprindo ao juiz deprecar, a requerimento do administrador judicial, às autoridades 
competentes, determinando sua entrega, a não ser que já haja sido expedido alvará para o 
levantamento, pelo exeqüente, do valor que lhe cabia no produto da praça (hipótese de 
afastamento do disposto no art.108, § 3°), quando este será pago na integralidade, se possível 
(indo a sobra para a massa), se não, parcialmente, habilitando-se no que faltar. 
 Nesta mesma toada, o art. 99 dispõe que: 
Art. 99. A sentença que decretar a Falência do devedor, dentre outras determinações:........................................................................................................................................ 
V – ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o falido, 
ressalvadas as hipóteses previstas nos §§ 1° e 2° do art. 6° desta Lei; 
VI – proibirá a prática de qualquer ato de disposição ou oneração de bens do falido, 
submetendo-os preliminarmente à autorização judicial e do Comitê, se houver, 
ressalvados os bens cuja venda faça parte das atividades normais do devedor se 
autorizada a continuação provisória nos termos do inciso XI do caput deste artigo. 
 Neste passo, acrescente-se, por oportuno, que o art. 116 da Lei 11.101 de 2005 
determina que, com a decretação da Falência suspende-se o exercício do direito de retenção 
sobre os bens sujeitos à arrecadação, os quais deverão ser entregues ao administrador judicial. 
 O art. 266 do Código Civil veda, ainda, a prática de qualquer ato processual 
durante a suspensão, o que, por óbvio, não se aplica aos atos considerados urgentes, desde 
que, no caso da Falência, seja respeitada a competência do juízo universal. 
 
 
 
22 
 
1.3. Suspensão da fluência dos juros 
 Consoante o artigo 124 da Lei de Falência, contra a massa falida não são 
exigíveis juros vencidos após a decretação da Falência, previstos em lei ou em contrato, se o 
ativo apurado não bastar para o pagamento dos credores subordinados. 
 Juros, na acepção jurídica da palavra, é a denominação usualmente dada aos 
frutos do capital, mas os juros podem ser compensatórios ou moratórios. 
 Os primeiros constituem, simplesmente, os rendimentos do capital. Os 
segundos representam indenização decorrente do inadimplemento da obrigação, isto é, da 
mora. 
 A respeito dos juros no âmbito falimentar, cumpre registrar que a 
inexigibilidade só alcança os juros vencidos após a decretação da Falência e desde que o ativo 
apurado não baste para o pagamento dos credores subordinados, mas esta regra se estende até 
mesmo à Fazenda Pública, segundo vem sinalizando a jurisprudência. 
 Leia-se o artigo 26 do Decreto-Lei Falimentar, ora revogado: “Art. 26. Contra 
a massa não correm juros, ainda que estipulados forem, se o ativo não bastar para o 
pagamento do principal”. 
 Sensível, já, a preocupação do legislador pátrio em que, no decorrer do 
processo falimentar, não persistisse ilimitadamente o correr dos juros, ultrapassando 
totalmente as forças do ativo, aniquilando, em conseqüência, as esperanças de credores de 
classificações inferiores. 
 Conforme adverte Amador Paes de Almeida (2008, p. 140): “Excetuam-se 
desta regra (de não fluência dos juros) as debêntures e os créditos com garantia real, 
respondendo por ele exclusivamente o produto dos bens que constituem a garantia”. 
 A mesma advertência era cabível sob a égide do Decreto-Lei e vinha carreada 
em seu artigo 26, parágrafo único. 
 
 
 
 
23 
 
1.4. Créditos inexigíveis na Falência 
 Assim dispunha o Decreto-Lei 7.661 de 1945 a respeito da exigibilidade dos 
créditos no âmbito da Falência: 
Art. 23. Ao juízo da Falência devem concorrer todos os credores do devedor 
comum, comerciais ou civis, alegando e provando os seus direitos. 
Parágrafo único. Não podem ser reclamados na Falência: 
I - as obrigações a título gratuito e as prestações alimentícias; 
II - as despesas que os credores individualmente fizerem para tomar parte na 
Falência, salvo custas judiciais em litígio com a massa; 
III - as penas pecuniárias por infração das leis penais e administrativas. 
 Hoje, o texto legal falimentar prevê o seguinte: 
Art. 5° Não são exigíveis do devedor, na recuperação judicial ou na Falência: 
I – as obrigações a título gratuito; 
II – as despesas que os credores fizerem para tomar parte na recuperação judicial ou 
na Falência, salvo as custas judiciais decorrentes de litígio com o devedor. 
 Significa dizer que, havendo litígio contra a massa falida, esta responderá pelas 
despesas, quando vencida. 
 De se observar que, muito embora seja o Diploma atual silente em relação às 
infrações penais, em sendo decretada a Falência do devedor, não serão atendidas as cláusulas 
penais estipuladas em contratos unilaterais, se as obrigações neles estipuladas vencerem em 
razão da Falência. 
 
1.5. Multa fiscal 
 A multa fiscal é gênero do qual se destacam duas espécies: a multa moratória e 
a multa com efeito de pena administrativa. 
 A multa moratória, como é intuitivo, decorre do inadimplemento tempestivo da 
obrigação: a mora. Possuindo natureza indenizatória, esta multa é imposta ao violador das 
normas de Direito público, buscando assegurar o cumprimento das leis. 
 Nesta esteira, é assegurado à fazenda pública, enquanto credora, o direito de 
haver, na Falência, não só os tributos que lhe sejam devidos como também a multa moratória 
24 
 
– o que, aliás, é entendimento sumulado do STF (Súmula 191) que se inclui no crédito 
habilitado em Falência a multa fiscal simplesmente moratória. 
 De outra parte, com relação à multa fiscal cujo efeito seja o de pena 
administrativa, assim reza a Súmula 192 do STF: “Não se inclui no crédito habilitado em 
Falência a multa fiscal com efeito de pena administrativa”. 
 Entretanto, a atual legislação falimentar inclui a multa moratória e a multa 
administrativa entre os créditos exigíveis, situando-os abaixo dos créditos quirografários: 
“Art. 83. A classificação dos créditos na Falência obedece à seguinte ordem: 
.....................................................................................................................................................
VII – as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou 
administrativas, inclusive as multas tributárias”. 
 
1.6. Suspensão das ações ou execuções movidas contra o falido 
 No processo de Falência, execução concursal que é, há o estabelecimento de 
litisconsórcio ativo necessário entre os credores, decorrente da vis attractiva do juízo 
falimentar, regra consagrada no artigo 76 da Lei 11.101 de 2005, o qual determina ser o juízo 
da Falência indivisível e competente para conhecer todas as ações sobre bens, interesses e 
negócios do falido, ressalvadas as causas trabalhistas, fiscais e aquelas não reguladas nesta 
Lei em que o falido figurar como autor ou litisconsorte ativo. 
 Na mesma toada, o artigo 7° do Decreto-Lei 7.661 de 1945 determinava ser o 
juízo da Falência indivisível e competente para todas as ações e reclamações sobre bens, 
interesses e negócios da massa falida, as quais seriam processadas na forma determinada no 
referido Diploma. 
 A regra que ora estudamos é o alicerce da par conditio creditorum (princípio 
que determina o tratamento isonômico dos credores, mantidas as distinções referentes às 
naturezas dos respectivos créditos), uma vez que, caso a execução individual fosse a única 
rota de satisfação dos créditos, o mais provável é que o ativo não resistisse a mais que umas 
poucas incursões, legitimadas pelos créditos baseados nas obrigações já vencidas e carreadas 
por adiantados feitos, restando insatisfeitos todos os demais. 
25 
 
 Ainda por força da atração exercida pelo juízo falimentar, ficam suspensas, 
como já ocorria anteriormente à entrada em vigor do novel Diploma, as ações e execuções dos 
credores sobre direitos e interesses relativos à massa falida, inclusive as dos credores 
particulares do sócio solidário de sociedade falida, nos termos do artigo 6° da Lei Falimentar. 
 A regra atual, entretanto, comporta exceções – nem todas previstas pela norma 
anterior –, conforme se aduz da lição de Amador Paes de Almeida (2008, p. 142): 
As ações trabalhistas, por força da competência constitucional, prosseguem na 
justiça do trabalho, até a condenação em quantia líquida e posterior habilitação em 
juízo falimentar. 
As execuções fiscais, igualmente, prosseguem nas varas de fazenda pública, com 
ofício ao juízo falimentarpara o respectivo pagamento (observada a classificação 
dos créditos). 
As ações que demandam quantia ilíquida prosseguirão no juízo processante, até a 
fixação do valor da condenação e posterior habilitação no juízo falimentar. 
Aos credores mencionados (trabalhistas fiscais e por quantia ilíquida) é lícita a 
solicitação ao juízo da Falência de reserva de valores, nos termos do §3°, art. 6°. 
Também não se suspenderão as ações em que a massa falida for autora ou 
litisconsorte ativo. 
 
1.7. Suspensão da prescrição favorável ao devedor 
 Consoante o artigo 6°, uma vez decretada a Falência ou deferido o 
processamento da Recuperação Judicial, fica suspensa a contagem do prazo de prescrição de 
todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do 
sócio solidário, a qual só é reiniciada com a sentença que declara encerrada a Falência. 
 Superada, portanto, a causa suspensiva (Falência ou Recuperação Judicial em 
curso), a prescrição – que é a perda do direito de ação, ocasionada pela inércia daquele a 
quem, pelo menos em tese, assistia o direito a ela correspondente – retoma seu curso natural, 
computado o tempo anteriormente transcorrido. 
 Insta acrescentar, porém, que, obviamente, a regra da suspensão só se aplica 
aos direito e ações dos credores contra a massa e o falido, não atingindo as obrigações de 
terceiros para com a massa e o falido. 
 Neste ponto, a Lei 11.101/2005 não encontra paralelo explícito no Decreto-Lei 
7.661/1945. 
26 
 
2. DOS EFEITOS DA SENTENÇA DECLARATÓRIA DE FALÊNCIA QUANTO À 
PESSOA DO FALIDO 
 Dentre os vários sistemas jurídicos de Falência existentes no mundo, os mais 
difundidos e aceitos são: 
a) o sistema latino, francês ou restritivo (originado do Código de Napoleão), onde 
somente o empresário, a sociedade empresária ou a estes equiparado pode ser 
considerado falido; e 
b) o sistema anglo-saxão ou ampliativo, onde a Falência abrange empresário, sociedade 
empresária, sociedade simples e devedor civil. Este último sistema, de acordo com o 
que vem demonstrando a experiência, deve prevalecer, inobstante trazer o revés de 
tratar, na insolvência, o comum do povo – que dificilmente procura orientação 
adequada – da mesma maneira que o empresário. 
 No Brasil, adotou-se o sistema restritivo, portanto, falido, no Direito brasileiro, 
como se aduz da definição de Falência ora oferecida, é o insolvente que se encaixe na 
descrição de um dos itens do rol aqui exposto, isto é, do rol dos passíveis de falir. Significa 
dizer que, contra devedor insolvente civil, o que tem vez é a execução coletiva, 
regulamentada pelo Código de Processo Civil em seus arts. 748 a 786-A, não a Falência. 
 Esclareça-se, portanto, já que grande a confusão vocabular entre os termos, que 
empresa, na sua melhor acepção, é uma atividade, podendo esta ser desenvolvida pelo 
empresário unipessoal ou pela sociedade empresária, estes, sim, sujeitos de direitos e 
obrigações – e estes, sim, passíveis de falir. 
 Empresa é um conceito econômico extremamente difundido e de fácil 
compreensão teórica e prática. Talvez por isso o legislador não tenha sentido a necessidade de 
oferecê-lo explicitamente no atual Código Civil. Por outro lado, ao conceituar empresário 
unipessoal, no art. 966, como sendo quem exerce profissionalmente atividade econômica 
organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços, dá, indiretamente, 
excelente definição de atividade empresarial. 
 Portanto, consoante esclarece o eminente professor Waldo Fazzio Júnior (2005, 
p. 50), “não é empresário quem desempenha profissão intelectual, de natureza científica, 
literária ou artística, mesmo que conte com o concurso de auxiliares, exceto se referido 
exercício profissional constituir elemento de empresa”. 
27 
 
 De outra parte, sociedade empresária é um ente que surge como resultado de 
um contrato, quer seja o contrato social da sociedade constituída em razão das pessoas dos 
sócios, quer seja o contrato social inserido no estatuto da sociedade por ações. Significa dizer 
que se trata sempre de sociedade contratual, cuja personalidade jurídica tem origem a partir 
do devido registro na Junta Comercial. 
 Ainda na lição de Waldo Fazzio Júnior (2005, p. 154), “identifica-se como 
sociedade empresária a pessoa jurídica de direito privado, implementada por um contrato, 
cujo objeto social é a exploração de atividade empresarial, ou que, independentemente de seu 
objeto, adota a forma societária por ações”. 
 Na sociedade empresária, existe a figura do sócio, cujo capital empregado 
corresponde à sua quota social na empresa; não há, em regra, confusão patrimonial, isto é, 
normalmente, os patrimônios pessoais dos sócios não se atam ao da empresa, salvo se restar 
configurada hipótese de desconsideração da personalidade jurídica, como ocorre na esfera de 
crimes ambientais (Lei 9.605/98 – art. 4°). 
 Inobstante o próprio Diploma Civil trace a linha da diferença, alocando em 
segmentos distintos o empresário e a sociedade empresária, com suas diversas espécies, o que 
vale destacar é que ambos, empresário unipessoal e sociedade empresária, praticam atividade 
econômica organizada para a produção, transformação ou circulação de bens e para prestação 
de serviços com o fito de lucrar: no art. 982, a sociedade empresária é apresentada como 
aquela que tem por objeto atividade própria de empresário. 
 Sem entrar em detalhes que fujam ao interesse deste trabalho, pode-se citar, 
porém, como uma das maiores diferenças e, também, segundo muitos, uma das maiores 
desvantagens do empresário individual em relação à regra dos sócios de qualquer das espécies 
de sociedade empresária o fato de aquele não ter, consoante o Direito brasileiro – o qual, por 
ora, não acompanhou, neste sentido, as interessantes inovações trazidas por alguns países 
europeus – a possibilidade de optar por responder de forma limitada frente às obrigações 
assumidas em nome de sua empresa. 
 Não é necessário possuir formação jurídica para constatar que o devedor, 
empresário individual ou sócio ilimitadamente responsável de sociedade empresária, passa a 
ser, a partir da decretação de sua Falência, um indivíduo marcado. Esta realidade salta aos 
olhos a partir da observação, ainda que superficial, de casos práticos. 
28 
 
 Independentemente de ser ou não o principal culpado pela própria quebra, o 
falido é tradicionalmente considerado e denominado como incompetente e/ou “caloteiro” – e 
as marcas disto serão sentidas em sua vida familiar e social de forma acentuada e – ousando 
um olhar mais humano sobre a questão –, quase certamente, dolorosa. 
 Além do preconceito dos demais, na maioria das vezes, o falido passa, ele 
próprio, a ter uma visão depreciada de si mesmo. A Falência não representa somente a 
derrocada social, oriunda da financeira, econômica e patrimonial; é um choque para a auto-
estima e para o equilíbrio psicoemocional do ser humano. Não é por acaso que é tão difícil 
para um falido voltar a ser um empresário bem-sucedido. 
 Tanto é assim que a literatura – esta arte que, mais que as outras, interessa-se 
pelas misérias da condição humana – explora esta situação peculiar com bastante interesse, 
fazendo menção à vergonha e à humilhação que invade o falido em obras memoráveis como: 
O Mercador de Veneza, de William Shakespeare; O Conde de Monte Cristo, de Alexandre 
Dumas; e Eugenie Grandet, de Honoré de Balzac. 
 Falir é, afinal, o maior um risco da atividade empresarial. 
 Neste passo estudaremos os efeitos legais que decorrem da sentença 
declaratória de Falência em relação ao falido. São os direitos, deveres e restrições que a 
Falência acarreta ao arruinado. 
 Aqui, ficará claro o que era já intuitivo: também no Decreto-Lei, havia efeitos 
jurídicos da sentença declaratória de Falência previstos fora do Título pertinente, como ocorre 
com a previsão da possibilidadede sujeição à prisão preventiva a ser decretada na mesma 
sentença que declara a Falência. Cumpre, entretanto, destacar, que estes são efeitos eventuais, 
e não necessários ou decorrentes dos necessários – trataremos deles por mera conveniência 
didática – e que, por isso mesmo, o fato de se situarem apartados dos demais não chegam a 
denunciar assistematicidade por parte do Decreto-Lei 7.661 de 1945. 
 
2.1. Restrições à capacidade processual do falido e à sua liberdade de locomoção 
 Além dos imensuráveis prejuízos sociais e psicológicos que advém para o 
falido a partir da decretação de sua Falência, são impostas a este diversas obrigações e sérias 
restrições oriundas da decretação daquela, no que, aliás, a Nova Lei guarda muitas 
29 
 
semelhanças com a Legislação anterior, como se pode constatar da análise do art. 104 do 
Digesto atual, quase idêntico ao art. 34 do revogado. 
Art. 104. A decretação da Falência impõe ao falido os seguintes deveres: 
I – assinar nos autos, desde que intimado da decisão, termo de comparecimento, com 
a indicação do nome, nacionalidade, estado civil, endereço completo do domicílio, 
devendo ainda declarar, para constar do dito termo: 
a) as causas determinantes da sua Falência, quando requerida pelos credores; 
b) tratando-se de sociedade, os nomes e endereços de todos os sócios, acionistas 
controladores, diretores ou administradores, apresentando o contrato ou estatuto 
social e a prova do respectivo registro, bem como suas alterações; 
c) o nome do contador encarregado da escrituração dos livros obrigatórios; 
d) os mandatos que porventura tenha outorgado, indicando seu objeto, nome e 
endereço do mandatário; 
e) seus bens imóveis e os móveis que não se encontram no estabelecimento; 
f) se faz parte de outras sociedades, exibindo respectivo contrato; 
g) suas contas bancárias, aplicações, títulos em cobrança e processos em andamento 
em que for autor ou réu; 
II – depositar em cartório, no ato de assinatura do termo de comparecimento, os seus 
livros obrigatórios, a fim de serem entregues ao administrador judicial, depois de 
encerrados por termos assinados pelo juiz; 
III – não se ausentar do lugar onde se processa a Falência sem motivo justo e 
comunicação expressa ao juiz, e sem deixar procurador bastante, sob as penas 
cominadas na lei. 
IV – comparecer a todos os atos da Falência, podendo ser representado por 
procurador, quando não for indispensável sua presença; 
V – entregar, sem demora, todos os bens, livros, papéis e documentos ao 
administrador judicial, indicando-lhe, para serem arrecadados, os bens que 
porventura tenha em poder de terceiros; 
VI – prestar as informações reclamadas pelo juiz, administrador judicial, credor ou 
Ministério Público sobre circunstâncias e fatos que interessem à Falência; 
VII – auxiliar o administrador judicial com zelo e presteza; 
VIII – examinar as habilitações de crédito apresentadas; 
IX – assistir ao levantamento, à verificação do balanço e ao exame dos livros; 
X – manifestar-se sempre que for determinado pelo juiz; 
XI – apresentar, no prazo fixado pelo juiz, a relação de seus credores; 
XII – examinar e dar parecer sobre as contas do administrador judicial. 
Parágrafo único. Faltando ao cumprimento de quaisquer dos deveres que esta Lei lhe 
impõe, após intimado pelo juiz a fazê-lo, responderá o falido por crime de 
desobediência. 
30 
 
 O falido fica, ainda: inabilitado para exercer qualquer atividade empresarial 
desde a decretação da Falência e até a sentença que extingue suas obrigações (art. 102 da Lei 
11.101 de 2005 e arts. 74 do Decreto-Lei 7.661 de 1945); e desapossado do direito de 
administrar os seus bens ou deles dispor, desde a decretação da Falência ou do seqüestro (art. 
103 da Lei 11.101 de 2005 e art. 40 do Decreto-Lei 7.661 de 1945). 
 De se ver que são, outrossim, pesadas as restrições à sua capacidade 
processual, não podendo figurar como autor ou réu em ações patrimoniais de interesse da 
massa e ficando impedido, inclusive, de praticar atos direta ou indiretamente relacionados aos 
bens, interesses, direitos e obrigações compreendidos na Falência, sob pena de nulidade a ser 
declarada ex officio pelo juiz competente, haja ou não prejuízo efetivo. 
 O falido poderá, contudo, fiscalizar a administração da Falência, requerendo as 
providências necessárias para a conservação de seus direitos ou dos bens arrecadados e 
intervindo nos processos em que a massa falida seja parte ou interessada, requerendo o que 
for de direito e interpondo os recursos cabíveis (parágrafo único do art. 103 da Lei 11.101 de 
2005 e art. 36 do Decreto-Lei 7.661 de 1945). 
 Dura, outrossim, é a restrição que impõe ao falido a obrigação de não se 
ausentar do lugar da Falência, salvo com a devida autorização judicial: 
Art. 104. A decretação da Falência impõe ao falido os seguintes deveres: 
........................................................................................................................................ 
III – não se ausentar do lugar onde se processa a Falência sem motivo justo e 
comunicação expressa ao juiz, e sem deixar procurador bastante, sob as penas 
cominadas na lei. 
 A restrição em apreço tem o escopo de garantir o cumprimento de outras 
regras, a começar por aquelas segundo as quais: o falido é obrigado a comparecer a todos os 
atos da Falência (podendo ser representado por procurador, quando não for indispensável sua 
presença) e a prestar as informações reclamadas pelo juiz, administrador judicial, credor ou 
Ministério Público sobre circunstâncias e fatos que interessem à Falência. 
 
2.2. Obrigações que lhe são impostas 
 Da declaração da Falência origina-se verdadeira avalanche obrigações 
que vai em direção ao falido (a maioria delas encontráveis no recém-transcrito art. 104 do 
31 
 
Digesto atual, o qual repete quase que ipisi litteris o art. 34 do revogado). A este resta o dever 
de suportá-las e de cumpri-las fielmente, sob pena de se ver no risco de perder até mesmo a 
liberdade. 
 Tanto é assim que deve, assim que intimado da decisão, dirigir-se ao juízo da 
Falência, onde assinará nos autos termo de comparecimento, com a indicação de seu nome, 
nacionalidade, estado civil e endereço completo, declarando, ainda, para constar do dito 
termo: 
a) as causas determinantes da sua Falência, quando requerida pelos credores; 
b) tratando-se de sociedade, os nomes e endereços de todos os sócios, acionistas 
controladores, diretores ou administradores, apresentando o contrato ou estatuto social 
e a prova do respectivo registro, bem como suas alterações; 
c) o nome do contador encarregado da escrituração dos livros obrigatórios; 
d) os mandatos que porventura tenha outorgado, indicando seu objeto, nome e 
endereço do mandatário; 
e) seus bens imóveis e os móveis que não se encontram no estabelecimento; 
f) se faz parte de outras sociedades, exibindo respectivo contrato; 
g) suas contas bancárias, aplicações, títulos em cobrança e processos em andamento 
em que for autor ou réu. 
 Cumpre-lhe, ainda, depositar em cartório, no ato da assinatura do termo de 
comparecimento, os seus livros obrigatórios, a fim de serem entregues ao administrador 
judicial, depois de encerrados por termos assinados pelo juiz. 
 Registre-se que, segundo o doutrinador Amador Paes de Almeida (2008, p. 
147), deve, ainda, dizer se tem firma inscrita e, se a tiver, dizer quando a inscreveu, exibindo 
a prova. 
 
 
 
32 
 
2.3. Proibição para o exercício da atividade empresarial 
 Na lição de Gladston Mamede (2008, p. 393): “A inabilitação é uma 
condenação acessória ao decreto de Falência, dele decorrendo automaticamente, como efeito 
necessário”. 
 Pode-se dizer que a perda, pelo falido, do direito de exercer atividade 
empresarial é, por conseguinte, corolário da perda da administração de seus bens. 
 De conformidade com o art. 972 do Código Civil, a atividade de empresáriopode ser exercida por quem esteja em pleno gozo da capacidade civil, e desde que não seja 
legalmente impedido. Partindo deste ponto é fácil concluir que, se capacidade cível plena 
pressupõe a livre administração dos próprios bens, não pode o falido ser considerado 
plenamente capaz e, conseqüentemente, não poderia de fato ser considerado apto ao exercício 
da atividade empresarial. 
 Ressalte-se, porém, o conteúdo do parágrafo único do mesmo artigo 103, o 
qual defere ao falido um poder fiscalizatório e requisitivo no âmbito da Falência. 
 Art. 103. Desde a decretação da Falência ou do seqüestro, o devedor perde o direito de 
 administrar os seus bens ou deles dispor. 
 Parágrafo único. O falido poderá, contudo, fiscalizar a administração da Falência, 
 requerer as providências necessárias para a conservação de seus direitos ou dos bens 
 arrecadados e intervir nos processos em que a massa falida seja parte ou interessada, 
 requerendo o que for de direito e interpondo os recursos cabíveis. 
 Em conseqüência, com a decretação da quebra, fica o falido proibido de 
exercer qualquer atividade empresarial: 
Art. 102. O falido fica inabilitado para exercer qualquer atividade empresarial a 
partir da decretação da Falência e até a sentença que extingue suas obrigações, 
respeitado o disposto no § 1° do art. 181 desta Lei. 
Parágrafo único. Findo o período de inabilitação, o falido poderá requerer ao juiz da 
Falência que proceda à respectiva anotação em seu registro. 
 Cumpre destacar que a vedação ao exercício da atividade empresária no 
Decreto-Lei 7.661 de 1945 não estava explícita na seção segunda do Título II, que tratava dos 
efeitos da sentença declaratória de Falência quanto à pessoa do falido. Em comparação com o 
Diploma anterior, houve, portanto, maior clareza do atual no que tange à inabilitação para a 
atividade empresarial, uma vez que esta estava antes apenas implícita, em razão da citada 
perda do direito de administração dos próprios bens – e conseqüente perda da plena 
33 
 
capacidade civil – (art. 40), bem como da necessidade de nomear-se um gestor, em caso de o 
juiz entender pela conveniência da continuação do negócio (art. 74). 
 Como destaca o caput do próprio artigo 102 recém-transcrito, a exemplo do 
que ocorria sob a égide do Decreto-Lei (arts. 195 e 196), diferente será o tratamento 
dispensado ao falido em caso de cometimento de crime falimentar: 
Art. 181. São efeitos da condenação por crime previsto nesta Lei: 
I – a inabilitação para o exercício de atividade empresarial; 
II – o impedimento para o exercício de cargo ou função em conselho de 
administração, diretoria ou gerência das sociedades sujeitas a esta Lei; 
III – a impossibilidade de gerir empresa por mandato ou por gestão de negócio. 
§ 1° Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo ser 
motivadamente declarados na sentença, e perdurarão até 5 (cinco) anos após a 
extinção da punibilidade, podendo, contudo, cessar antes pela reabilitação penal. 
§ 2° Transitada em julgado a sentença penal condenatória, será notificado o Registro 
Público de Empresas para que tome as medidas necessárias para impedir novo 
registro em nome dos inabilitados. 
 Em todo caso, o falido é considerado inabilitado processualmente, não podendo 
figurar como autor ou réu, nas ações patrimoniais de interesses da massa, no mínimo, da 
decretação da Falência e até a sentença que extingue suas obrigações. Todavia, conquanto 
sofra restrições em decorrência da Falência, continua plenamente capaz para os demais atos 
da vida civil. 
 
2.4. Continuação do negócio 
 A Falência, ao afastar o devedor empresário de suas atividades, visa a preservar 
e a otimizar a utilização produtiva dos bens, ativos e recursos produtivos, inclusive os 
intangíveis, da empresa (art. 75 da Nova Lei de Falência). O afastamento do devedor não 
significa, necessariamente, a interrupção imediata das atividades da empresa. Tanto é assim 
que, objetivando a preservação da empresa, a Lei de Falência, no seu art. 99, XI, faculta ao 
juiz decidir pela continuação das atividades do falido, pelas mãos do administrador 
judicial . 
Art. 99. A sentença que decretar a Falência do devedor, dentre outras determinações: 
........................................................................................................................................ 
34 
 
XI – pronunciar-se-á a respeito da continuação provisória das atividades do falido 
com o administrador judicial ou da lacração dos estabelecimentos, observado o 
disposto no art. 109 desta Lei. 
 Como já destacamos a vedação ao exercício da atividade empresária não estava 
explícita no Decreto-Lei 7.661 de 1945, mas a necessidade de nomear-se um gestor, em caso 
de o juiz entender pela conveniência da continuação do negócio não foi esquecida e consta do 
art. 74 do referido Digesto. 
 A provisoriedade sempre marca a continuação das atividades do falido, mesmo 
quando plenamente viável, uma vez que esta deve ser vista como um meio de preservar a 
empresa, oportunizando sua venda em bloco, em consonância com o ideal de manutenção da 
fonte produtora, com a, em tese, conseqüente preservação da função social da empresa. Neste 
ponto, torna-se marcante a diferença em relação ao Decreto-Lei revogado que previa, em seu 
art. 116 que a venda dos bens poderia ser feita englobada ou separadamente, embora 
denotasse preferência pela primeira das opções. 
Art. 140. A alienação dos bens será realizada de uma das seguintes formas, 
observada a seguinte ordem de preferência: 
[...] 
I – alienação da empresa, com a venda de seus estabelecimentos em bloco; 
II – alienação da empresa, com a venda de suas filiais ou unidades produtivas 
isoladamente. 
 Esclareça-se, ainda, que a decisão de não permitir a continuação provisória das 
atividades do falido, constatando que nisto haveria mais desvantagens do que vantagens, não 
significa, como a redação do art. 99 pode fazer parecer, a necessária lacração de todos os 
estabelecimentos pertinentes. O art. 109 desta Lei determina que: “o estabelecimento será 
lacrado sempre que houver risco para a execução da etapa de arrecadação ou para a 
preservação dos bens da massa falida ou dos interesses dos credores”. Significa dizer que 
inexistindo risco, não haverá a lacração, e, mais, que a lacração só ocorrerá, caso haja mais de 
um estabelecimento, naqueles onde o juiz constatar tal risco. 
 
2.5. Sujeição à prisão 
 Tal é o gravame trazido pela da Falência que, desde a sua decretação e no 
decorrer de todo o processo, fica o falido sujeito à prisão, caso constatada pelo juiz a prática 
de crime falimentar. 
35 
 
 Como dissemos anteriormente, este efeito jurídico da sentença declaratória de 
Falência foi previsto fora do Título pertinente, no Decreto-Lei 7.661 de 1945. Entretanto, 
trata-se de efeito eventual (por isso mesmo, o fato de se situar apartado dos demais não 
chegam a denunciar assistematicidade do Diploma), e não necessário ou decorrente de 
qualquer dos necessários, do qual trataremos por conveniência didática. 
Art. 99 (Lei 11.101 de 2005). A sentença que decretar a Falência do devedor, dentre 
outras determinações: 
........................................................................................................................................ 
VII – determinará as diligências necessárias para salvaguardar os interesses das 
partes envolvidas, podendo ordenar a prisão preventiva do falido ou de seus 
administradores quando requerida com fundamento em provas da prática de crime 
definido nesta Lei. 
 
Art. 14 (Decreto-Lei 7.661 de 2005). Praticadas as diligências ordenadas pela 
presente lei, o juiz, no prazo de vinte e quatro horas, proferirá a sentença, declarando 
ou não a Falência. 
Parágrafo único. A sentença que declarar a Falência: 
........................................................................................................................................VI - providenciará as diligências convenientes ao interêsse da massa, podendo 
ordenar a prisão preventiva do falido ou dos representantes da sociedade falida, 
quando requerida com fundamento em provas que demonstrem a prática de crime 
definido nesta lei. 
 O devedor também estará sujeito à prisão quando faltar ao cumprimento das 
obrigações que lhe são impostos pela Lei de Falimentar em seu art. 104, incisos, alíneas e 
parágrafos retro transcritos, situação em que responderá pelo crime de desobediência. A 
mesma previsão estava contida no art. 35 do Decreto-Lei, em caso de descumprimento dos 
deveres que aquela lei lhe impunha (artigo constante da seção própria – Dos efeitos quanto à 
pessoa do falido – exatamente porque referente ao descumprimento de deveres que 
configuravam efeitos que sempre nasciam com a declaração judicial da Falência, 
independente de atitudes anteriores do devedor falido, isto é, efeitos necessários). 
 Somente a título de comentário, as disposições penais da Lei de Falência 
prevêem, na ocorrência de crimes falimentares, desde a prestação de serviços à comunidade à 
pena de detenção e à de reclusão (Lei 11.101/2005, CAPÍTULO VII – DISPOSIÇÕES 
PENAIS – Seção I – Dos Crimes em Espécie – Fraude a Credores: arts. 168 a 178). 
 São atos criminosos, no âmbito da Falência: 
36 
 
a) praticar, antes ou depois da sentença que decretar a Falência, conceder a recuperação 
judicial ou homologar a recuperação extrajudicial, ato fraudulento de que resulte ou 
possa resultar prejuízo aos credores, com o fim de obter ou assegurar vantagem 
indevida para si ou para outrem; 
b) violar, explorar ou divulgar, sem justa causa, sigilo empresarial ou dados confidenciais 
sobre operações ou serviços, contribuindo para a condução do devedor a estado de 
inviabilidade econômica ou financeira; 
c) divulgar ou propalar, por qualquer meio, informação falsa sobre devedor em 
Recuperação Judicial, com o fim de levá-lo à Falência ou de obter vantagem; 
d) sonegar ou omitir informações ou prestar informações falsas no processo de Falência, 
de Recuperação Judicial ou de Recuperação Extrajudicial, com o fim de induzir a erro 
o juiz, o Ministério Público, os credores, a assembléia-geral de credores, o Comitê ou 
o administrador judicial; 
e) praticar, antes ou depois da sentença que decretar a Falência, conceder a Recuperação 
Judicial ou homologar plano de Recuperação Extrajudicial, ato de disposição ou 
oneração patrimonial ou gerador de obrigação, destinado a favorecer um ou mais 
credores em prejuízo dos demais; 
f) apropriar-se, desviar ou ocultar bens pertencentes ao devedor sob Recuperação 
Judicial ou à massa falida, inclusive por meio da aquisição por interposta pessoa; 
g) adquirir, receber, usar, ilicitamente, bem que sabe pertencer à massa falida ou influir 
para que terceiro, de boa-fé, o adquira, receba ou use; 
h) apresentar, em Falência, Recuperação Judicial ou Recuperação Extrajudicial, relação 
de créditos, habilitação de créditos ou reclamação falsas, ou juntar a elas título falso 
ou simulado; 
i) exercer atividade para a qual foi inabilitado ou incapacitado por decisão judicial, nos 
termos desta Lei; 
j) adquirir o juiz, o representante do Ministério Público, o administrador judicial, o 
gestor judicial, o perito, o avaliador, o escrivão, o oficial de justiça ou o leiloeiro, por 
si ou por interposta pessoa, bens de massa falida ou de devedor em Recuperação 
Judicial, ou, em relação a estes, entrar em alguma especulação de lucro, quando 
tenham atuado nos respectivos processos; 
k) deixar de elaborar, escriturar ou autenticar, antes ou depois da sentença que decretar a 
Falência, conceder a Recuperação Judicial ou homologar o plano de Recuperação 
Extrajudicial, os documentos de escrituração contábil obrigatórios: 
37 
 
3. DOS EFEITOS DA SENTENÇA DECLARATÓRIA DE FALÊNCIA QUANTO AOS 
BENS DO FALIDO 
 Como ministrado em sala de aula pelo professor Luiz Eduardo dos Santos, “A 
Falência é o estado de insolvência do empresário ou da sociedade empresária, quando este 
conceito fático se torna público e jurídico por sentença”. 
 Destarte, a evolução do instituto da Falência retirou da mira da execução 
concursal a vida e a liberdade do falido. Hoje, o empresário que vê judicialmente decretada, 
por solicitação sua ou de terceiros, sua insolvência, sabe que tem direitos e garantias, mas 
sabe, também, que seus bens terão de suportar a subtração, ainda que forçada, do ativo. 
 Não se perca de vista, portanto, que o interesse maior da Falência é a satisfação 
dos credores, no limite das forças do ativo, segundo a ordem de privilégios e preferências em 
que se enquadrem seus créditos. 
 Consoante o art. 39 do Decreto-Lei, sem eco na Lei atual, a Falência 
compreende todos os bens do devedor inclusive direitos e ações, tanto os existentes na época 
de sua declaração como os que forem adquiridos no curso do processo. 
 No que concerne às mudanças e inovações trazidas pela Nova Lei de Falência, 
neste ponto cumpre destacar que, fora a dispersão dos artigos que tratam do tema e omissões 
como a que acabamos de citar (sem muita importância, uma vez que está implícito que o que 
estava dito permanece aplicável), a Nova Lei não fugiu muito ao modelo deixado pela 
anterior. A grande exceção a isto reside na situação do cônjuge do falido empresário 
individual ou do sócio ilimitadamente responsável, uma vez que, no Diploma anterior, não 
havia a questão da responsabilidade do sócio e, por conseguinte não havia que se falar em 
responsabilidade de seu cônjuge. Ademais a Lei Falimentar teve de adequar-se a mudanças 
trazidas pelo Novo Código Civil. 
 
3.1. Perda da administração e disposição dos seus bens 
 Um dos efeitos primeiros da Falência é o de privar o falido da administração de 
seus bens e negócios – como preceitua o supra transcrito art. 103 da Lei de Falência –, 
substituindo-o, neste múnus, o administrador judicial escolhido pelo juiz. 
38 
 
 Assim já determinava o art. 40 do Decreto-Lei Falimentar: 
Art. 40. Desde o momento da abertura da Falência, ou da decretação do seqüestro, o 
devedor perde o direito de administrar os seus bens e dêles dispôr. 
§ 1° Não pode o devedor, desde aquêle momento, praticar qualquer ato que se refira 
direta ou indiretamente, aos bens, interêsses, direitos e obrigações compreendidos na 
Falência, sob pena de nulidade, que o juiz pronunciará de ofício, independentemente 
de prova de prejuízo. 
 Quando a Falência for requerida com base nas hipóteses do art. 94, inciso III e 
alíneas, da Lei Falimentar vigente (art. 2º, inc. II e segs., do Decreto-Lei anterior), esta poderá 
ser precedida do seqüestro dos bens do devedor – dito seqüestro preliminar da Falência –, 
situação em que o falido perde a administração de seus bens antes mesmo de ter sua 
insolvência tornada pública e jurídica mediante a declaração, pelo juiz, de sua Falência, 
consoante o § 5° do mencionado art. 94 (art. 12 do Decreto-Lei revogado). 
Art. 94. Será decretada a Falência do devedor que: 
........................................................................................................................................
 
III – pratica qualquer dos seguintes atos, exceto se fizer parte de plano de 
recuperação judicial: 
a) procede à liquidação precipitada de seus ativos ou lança mão de meio ruinoso ou 
fraudulento para realizar pagamentos; 
b) realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o objetivo de retardar 
pagamentos ou fraudar credores, negócio simulado ou alienação de parte ou da 
totalidade de seu ativo a terceiro, credor ou não; 
c) transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o consentimento de todos 
os credores e sem ficar com bens suficientes para solver seu passivo; 
d) simula a transferência de seu principal estabelecimento com o objetivo de burlar a 
legislação ou a fiscalização ou para prejudicar credor; 
e) dá ou reforça

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