Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DEPARTAMENTO DE FITOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA/ FITOTECNIA GEÓRGIA CARVALHO ANSELMO EFEITOS DE EXTRATOS DE PLANTAS E DE REAGENTES QUÍMICOS SOBRE Papaya lethal yellowing virus E SUA MOVIMENTAÇÃO EM MAMOEIRO. FORTALEZA-CEARÁ 2013 GEÓRGIA CARVALHO ANSELMO EFEITOS DE EXTRATOS DE PLANTAS E DE REAGENTES QUÍMICOS SOBRE Papaya lethal yellowing virus E SUA MOVIMENTAÇÃO EM MAMOEIRO. Dissertação submetida à Coordenação do Curso de Pós-Graduação em Agronomia/ Fitotecnia da Universidade Federal do Ceará como requisito parcial da obtenção do título de Mestre em Fitotecnia. Orientador: Prof º. Drº. José Albersio Araújo Lima FORTALEZA-CEARÁ 2013 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará Biblioteca de Ciências e Tecnologia A627e Anselmo, Geórgia Carvalho. Efeitos de extratos de plantas e reagentes químicos sobre Papaya lethal yellow virus e sua movimentação em mamoeiro. / Geórgia Carvalho Anselmo. – 2013. 53 f. : il. color., enc. ; 30 cm. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Centro de Ciências Agrárias, Departamento de Fitotecnia, Programa de Pós-Graduação em Agronomia/Fitotecnia, 2013. Área de Concentração: Fitopatologia. Orientação: Prof. PhD. José Albersio Araújo Lima. 1. Mamão. 2. Plantas medicinais. 3. Produtos químicos. 4. Virus de plantas. I. Título. CDD 631 GEÓRGIA CARVALHO ANSELMO EFEITOS DE EXTRATOS DE PLANTAS E DE REAGENTES QUÍMICOS SOBRE Papaya lethal yellowing virus E SUA MOVIMENTAÇÃO EM MAMOEIRO. Dissertação submetida à Coordenação do Curso de Pós-Graduação em Agronomia/ Fitotecnia da Universidade Federal do Ceará como requisito parcial da obtenção do título de Mestre em Fitotecnia. Aprovada em ____/____/____ BANCA EXAMINADORA ________________________________________________ Profº. Drº. José Albersio Araújo Lima Universidade Federal do Ceará (UFC) __________________________________________________ Profa. Dra. Carmem Dolores Gonzaga Santos Universidade Federal do Ceará (UFC) _____________________________________________________ Dra. Paula Radaelli Pesquisadora da Syngenta DEDICO A DEUS E A MINHA FAMÍLIA. AGRADECIMENTOS A Deus, por ter me dado inteligência, por me ajudar nos momentos difíceis, iluminando os meus caminhos. À minha família, a minha mãe Francisca Carvalho, ao meu pai Manoel Anselmo, pela educação que me proporcionaram desde criança e aos meus irmãos Gizele Carvalho e Daniel Carvalho pelo apoio e carinho. À Universidade Federal do Ceará pela oportunidade da realização do curso de Pós- graduação em Agronomia (Fitotecnia). A Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP), pelo apoio financeiro. Ao Laboratório de Virologia Vegetal pelo o espaço cedido para a realização do experimento. Ao Prof. PhD José Albersio de Araújo Lima pela orientação e dedicação oferecida durante a construção do trabalho e pelos seus ensinamentos em virologia vegetal. À Msc. Aline Kelly Queiroz do Nascimento, pelos ensinamentos, companheirismo, incentivo, confiança, colaboração e amizade. As minhas amigas e amigos de trabalho do laboratório de virologia/ UFC: Graziela Barbosa, Ana Kelly, Nádia Rutielly, Layanne, Maria do Livramento (Princesa), Vicente, Fátima Gonçalves, Verônica Cavalcante, Paula Radaelli, Márcio Costa, Marilena Lopes, pela amizade, apoio, pelos bons momentos e pelo conhecimento adquirido nesse período. Aos meus amigos e amigas do curso de mestrado, pela amizade e companheirismo durante o curso. RESUMO O mamoeiro (Carica papaya) é uma importante fruteira tropical e sua produção está aumentando no Nordeste Brasileiro. O Papaya lethal yellowing virus (PLYV) é encontrado infetando o mamoeiro somente no Nordeste brasileiro, aonde vem constituindo sério problema para os produtores. O PLYV é bastante estável e pode ser transmitido por inoculação mecânica, solo, água de irrigação, mãos e instrumentos de corte contaminados. A presente atividade de pesquisa teve por objetivo avaliar os efeitos de produtos químicos e de extratos de plantas de uso medicinal sobre a infectividade do PLYV; acompanhar a distribuição do vírus em plantas inoculadas e avaliar sua interação com o Papaya ringspot virus (PRSV). Extratos de plantas infetadas com PLYV foram misturados com igual volume de um dos seguintes produtos químicos: álcool, n-butanol, sabão líquido comercial, Triton X- 100, sódio dodecilsulfato (SDS), hipoclorito de sódio e carbonato de sódio e com extratos de 23 espécies vegetais de uso medicinal. As misturas foram incubadas por 30 min em condições de laboratório e mecanicamente inoculadas em plantas de mamoeiro. Amostras iguais de tecidos de plantas inoculadas com PLYV foram avaliadas por ELISA indireto para determinar o tempo necessário para sua infecção sistêmica. De acordo com os resultados, somente SDS, hipoclorito de sódio e carbonato de sódio inativaram o vírus, mas o SDS ocasionou danos nas plantas e o carbonato ocasionou pequenas pontuações esbranquiçadas. De outra parte, nenhum dos extratos de plantas inativou completamente o PLYV, mas o extrato de Schinus terebinthifolius retardou os sintomas do vírus. Tais resultados demonstram a importância do uso de soluções de hipoclorito de sódio para a inativação do PLYV na superfície de ferramentas agrícolas. Estudos da movimentação do vírus em plantas inoculadas indicaram que a presença do PLYV pode ser detectada por sorologia nas folhas inoculadas três a quatro dias após a inoculação, seis dias no caule, 10 dias nas raízes, 15 dias nas folhas mais jovens e a planta inteira foi infetada sistemicamente somente após 25 a 30 dias. Estudos de gama de hospedeiros confirmaram que o PLYV não infeta espécies das famílias: Amaranthaceae, Brassicaceae, Fabaceae, Pedaliaceae e Solanaceae, nem ocasiona lesões locais nas indicadoras Chenopodium amaranticolor; C. murale e C. quinoa. Os estudos sobre a interação entre PLYV e PRSV demonstraram a existência de sinergismo entre os dois vírus em mamoeiro. A técnica de imunoprecipitação de RT-PCR (IP-RT-PCR) demonstrou ser um método prático e específico para amplificação do RNA do vírus, reduzindo problemas de contaminação com o RNA de plantas. Palavras-chave: Carica papaya. Plantas medicinais. Produtos químicos. Distribuição viral. ABSTRACT Papaya (Carica papaya) is an important tropical fruit crop and its production is increasing every year in Northeastern Brazil. Papaya lethal yellowing virus (PLYV) is found infecting papaya only in Northeastern Brazil where it has become a serious problem for the papaya producers. PLYV is very stable and it can be readily transmitted by human actions including contaminated hands, agricultural tools, soil and irrigation water. The present study had the objective to evaluate the effects of chemical products and the extracts from 23 medicinal plants on the infectivity of PLYV in greenhouse experiments; to determine the distribution and movement of PLYV in mechanically inoculatedplants and evaluate its interaction with Papaya ringspot virus (PRSV). Extracts from PLYV infected plants were mixed with equal amount of either one of the following chemical products: alcohol, n-butanol, commercial liquid soap, Triton X-100, sodium dodecilsulfate (SDS), sodium hypochlorite and sodium carbonate, and with equal amount of extracts from 23 medicinal plant species. The mixtures were incubated for 30 min at room temperature and mechanically inoculated in healthy papaya. Equal amounts of tissue from each part of papaya plants inoculated with PLYV were serologically evaluated to demonstrate how long the virus takes to infect systemically inoculated plants. According to the results only SDS, sodium hypochlorite and sodium carbonate inactivated the virus, but SDS caused damage in the plants and carbonate caused small whitish points on the treated leaves. On the other hand, neither one of the used medicinal plant extracts inactivated completely the PLYV infectivity, but extracts from Schinus terebinthifolius inhibited the symptoms induced by the virus. Those results demonstrated the importance of sodium hypochlorite to inactivate PLYV in contaminated agriculture tools. The presence of PLYV in inoculated plants was serologically detected three to four days after inoculation in the inoculated leaves, only after six days in the stem, ten days in the roots, 15 days in the younger leaves and the plants were systemically infected only 25 to 30 days after inoculation. Host range studies confirmed that PLYV does not infect plant species from the families: Amaranthaceae, Brassicaceae, Fabaceae, Pedaliaceae and Solanaceae, neither cause local lesions in Chenopodium amaranticolor; C. murale and C. quinoa. Interaction studies indicated a synergistic effect between PLYV and PRSV in papaya. The technique of RT-PCR immunoprecipitation (IP-RT-PCR) has proven to be practical and specific for amplification of PLYV RNA, reducing problems of contamination with plant RNAs. Keywords: Carica papaya. Medicinal plants. Chemicals. Virus distribution. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Folhas de plantas de mamoeiro (Carica papaya) inoculadas com Papaya lethal yellowing virus (PLYV) submetido ao tratamento com extratos das seguintes espécies vegetais: A) Alecrim pimenta (Lippia sidoides); B) Alfavaca cravo (Ocimum gratissimum); C) Alfavaca roxa (Ocimun pupuraceus); D) Alho (Allium sativum); E) Aroeira (Schinus terebinthifolius) e F) Boldo gigante (Plectranthus barbatus). .................................................................................................................... Figura 2 - Folhas de plantas de mamoeiro (Carica papaya) inoculadas com Papaya lethal yellowing virus (PLYV), todas exibindo sintomas da infecção do vírus, submetido ao tratamento com extratos das seguintes espécies vegetais: A) Primavera (Bougainvillea spectabilis); B) Cajueiro (Anacardium occidentale); C) Cidreira (Melissa officinalis); D) Corama (Bryophyllum calycinum); E) Dedo do diabo (Euphorbia tirucalli) e F) Espirradeira (Nerium oleander). ....................................... Figura 3 - Folhas de plantas de mamoeiro (Carica papaya) inoculadas com Papaya lethal yellowing virus (PLYV) submetido ao tratamento com extratos das seguintes espécies vegetais, todas exibindo sintomas da infecção do vírus: A) Goiabeira (Psidium guajava); B) Hortência (Calotropis procera); C) Malva santa (Plectranthus barbatus); D) Manjericão (Ocimum basilicum); E) Mastruz (Chenopodium ambrosioides) e F) Mirra (Commiphora myrrha). ............................. Figura 4 - Folhas de plantas de mamoeiro (Carica papaya) inoculadas com Papaya lethal yellowing virus (PLYV) submetido ao tratamento com extratos das seguintes espécies vegetais, todas exibindo sintomas da infecção do vírus: A) Nim (Azadirachta indica); B) Pimenta (Piper nigrum); C) Pinhão (Jatropha curcas) e D) Xambá (Justicia pectoralis). ................................................................................. Figura 5 - Plantas de mamoeiro (Carica papaya) inoculadas com Papaya lethal yellowing vírus (PLYV) submetido ao tratamento com os seguintes produtos químicos: A) SDS; B) Carbonato de sódio; C) Triton e D) Sabão. .................................................. Figura 6 - Plantas de mamoeiro (Carica papaya) inoculadas com Papaya lethal yellowing vírus (PLYV) submetido ao tratamento com os seguintes produtos químicos: A) Hipoclorito de sódio; B) n- butanol e C) Álcool. ........................................................ Figura 7 - Plantas de mamoeiro (Carica papaya) inoculadas com diferentes combinações, simples e mista de vírus: A) Plantas inoculadas com Papaya lethal yellowing virus (PLYV); B) Plantas inoculadas com Papaya ringspot virus (PRSV); C) Plantas 31 32 33 34 37 38 inoculadas com PLYV+ PRSV; D) Plantas inoculadas com PLYV e após 10 dias com PRSV; E) Plantas inoculadas com PRSV e após 10 dias com PLYV e F) Plantas sadias mantidas como testemunhas. ............................................................... Figura 8 - Representação esquemática da movimentação do Papaya lethal yellowing virus (PLYV) em mamoeiro (Carica papaya) após a inoculação mecânica em folhas de plantas sadias. Seta indica a folha que foi mecanicamente inoculada...................................................................................................................... Figura 9 - Resultados da eletroforese em gel de agarose de produtos da PCR com isolados de Papaya lethal yellowing virus (PLYV): M- marcador ladder 1 kb; 1- Planta sadia ; 2- Produto da amplificação do isolado PLYV-Horizonte; 3- Produto da amplificação do isolado de PLYV-Marco e 4- Produto da amplificação o isolado de PLYV-CEASA. ........................................................................................................... Figura 10 - Resultados da eletroforese em gel de agarose de Papaya lethal yellowing virus (PLYV) isolado de Marco: M- marcador ladder 1 kb; 1- Produto da amplificação da IP-RT-PCR de planta sadia; 2- Produto da amplificação da RT-PCR de planta sadia; 3- Produto da amplificação do isolado de PLYV de Marco por IP-RT-PCR; 4- Produto da amplificação do isolado de PLYV de Marco por RT-PCR. ................ 40 42 43 44 LISTA DE TABELAS Tabela 1- Efeitos de extratos de espécies de plantas de uso medicinal sobre a infectividade do Papaya lethal yellowing virus (PLYV) em mamoeiro (Carica papaya), confirmado por ELISA. .......................................................................................... Tabela 2 - Efeitos de produtos químicos na infectividade de Papaya lethal yellowing virus (PLYV) em plantas de mamoeiro (Carica papaya) avaliadas por porcentagem de plantas infetadas e presença do vírus avaliada por ELISA. ..................................... Tabela 3- Sintomatologia em plantas de mamoeiro inoculadas com Papaya lethal yellowing virus (PLYV) e Papaya ringspot virus (PRSV) isoladamente e em combinação. .................................................................................................................................. 30 36 39 SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS.................................................................................................... LISTA DE TABELAS................................................................................................... 1- INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 2- REVISÃO DE LITERATURA..................................................................................... 2.1- Família Caricaceae........................................................................................................2.2- A Cultura do Mamoeiro................................................................................................ 2.3- Vírus que Infetam o Mamoeiro..................................................................................... 2.4- Papaya lethal yellowing virus (PLYV)………………...…………………………….. 2.5- Efeitos de Extratos de Plantas e de Produtos Químicos sobre Vírus de Planta............ 3- MATERIAL E MÉTODOS.......................................................................................... 3.1- Efeitos de Extratos Plantas de uso Medicinal sobre o PLYV em Mamoeiro............... 3.2- Técnica de ELISA Indireto Usada nas Avaliações....................................................... 3.3- Efeitos de Produtos Químicos sobre o PLYV............................................................ 3.4- Estudos da Gama de Hospedeiros do Isolado de PLYV............................................... 3.5- Interação Entre PLYV e PRSV em Plantas de Mamoeiro............................................ 3.6- Movimentação do PLYV em Plantas de Mamoeiro .................................................... 3.7- Detecção Molecular do PLYV...................................................................................... 3.7.1- Extração de RNA Total e PCR de Isolados do PLYV............................................... 3.7.2- Detecção do PLYV por Imunoprecipitação Seguido de RT-PCR (IP- RT- PCR)..................................................................................................................................... 4- RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................................... 4.1- Efeitos de Extratos Plantas de uso Medicinal sobre o PLYV em Mamoeiro .............. 4.2- Efeitos dos Produtos Químicos sobre a infectividade do PLYV.................................. 4.3- Gama de Hospedeiros de Papaya lethal yellowing virus.............................................. 4.4- Interação do PLYV com PRSV-P em Plantas de Mamoeiro........................................ 4.5- Movimentação do PLYV em Plantas de Mamoeiro .................................................... 4.6- Análise Molecular do PLYV......................................................................................... 5- CONCLUSÕES.............................................................................................................. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................. 10 12 14 16 16 16 18 19 21 22 22 22 23 24 24 25 25 25 26 28 28 35 38 39 41 43 45 46 14 1- INDRODUÇÃO O mamoeiro (Carica papaya L.) é uma fruteira tropical de grande importância econômica para o Brasil, sobretudo para o Nordeste. Seu cultivo encontra-se distribuído em países tropicais e subtropicais, sendo conhecido em todo mundo, em virtude de seu valor alimentício e medicinal (FAO, 2011). É uma dicotiledônea pertencente à família Caricaceae, sendo uma cultura de grande expressão agrícola (MANICA, 1982). O mamão é uma fruta rica em vitamina A, B, C e D, possuindo diversas utilidades, como na fabricação de doces, saladas, purês e geléias. Segundo Patro (2011), as folhas, raízes, flores e frutos do mamoeiro possuem propriedades medicinais. O mamão caracteriza-se por possuir uma vida útil curta, podendo variar em torno de quatro semanas, tornando-se importante os cuidados no transporte e armazenamento. Doenças causadas por fungos, bactérias, nematóides, fitoplasmas e vírus podem ocasionar sérios danos à cultura. De acordo com Lima et al. (2001), as viroses constituem o principal grupo de doenças que podem trazer perdas à cultura do mamoeiro, podendo ocasionar perda total da plantação. As principais viroses no Brasil são ocasionadas por Papaya ringspot virus (PRSV), família Potyviridae, gênero Potyvirus (LIMA; LIMA, 2002); Papaya meleira virus (PMeV), ainda não taxonomicamente classificado pelo Comitê Internacional de Taxonomia de Virus (ICTV) (MARCIEL-ZAMBOLIM et al., 2003.); e pelo Papaya lethal yellowing virus (PLYV), gênero Sobemovirus (SILVA, 1996; NASCIMENTO et al., 2010 ; PEREIRA, et al., 2012) objeto da presente atividade de pesquisa. O PLYV foi detectado primeiramente no Estado de Pernambuco e segundo Lima et al. (2001), sua dispersão tem se manifestado no sentido leste a oeste, podendo ocasionar sérios problemas nas regiões de produção de mamão. Os sintomas têm início nas folhas mais jovens da copa que se apresentam amareladas, ligeiramente retorcidas e que posteriormente murcham e caem, levando a planta à morte. A doença tem se constituído em sério problema, não só pela crescente disseminação do vírus, mas também pela severidade dos sintomas nas plantas (LIMA et al., 2001; LIMA; LIMA, 2002; NASCIMENTO, et al., 2010; LIMA et al., 2013). Para evitar a disseminação do PLYV têm sido recomendadas medidas de controle preventivas incluindo a produção de mudas livres de vírus, a prática do “roguing” das plantas doentes, erradicação das plantas de áreas abandonadas e desinfestação de ferramentas utilizadas na colheita (LIMA; LIMA, 2002). 15 A possibilidade da utilização de produtos naturais extraídos de vegetais poderá, eventualmente, constituir-se em alternativa para o controle de patógenos, inclusive vírus, com a vantagem da redução de gastos e redução do impacto ambiental. Em razão da grande importância da cultura e sua crescente dispersão no Nordeste, o presente trabalho teve como objetivos: avaliar os efeitos de extratos de plantas de uso medicinal e de produtos químicos de uso em laboratório na infectividade do PLYV, para a possibilidade de uso como alternativas no controle do vírus; verificar a distribuição do PLYV em plantas infetadas de mamoeiro; investigar a interação do PLYV com o PRSV-P, outro vírus de grande importância que causa sérios danos na cultura do mamoeiro a nível mundial; efetuar estudos complementares de gama de hospedeiro como também avaliar o uso de técnicas moleculares na detecção do vírus. 16 2- REVISÃO DE LITERATURA 2.1- Família Caricaceae O mamoeiro pertence à família Caricaceae, que inclui cinco gêneros com aproximadamente 34 espécies, já identificadas. Segundo Badillo (1993), os números de espécies nos cinco gêneros estão assim distribuídos: Cylicomorpha (duas espécies), Jacaratia (sete espécies), Horovitzia (uma espécie), Jarilla (três espécies) e Carica (21 espécies). No Brasil ocorrem 10 espécies pertencentes aos gêneros: Carica e Jacaratia (LORENZI; SOUZA, 2008). As plantas de mamoeiro são herbáceas, com folhas alternas, que podem ser simples ou compostas, podendo apresentar estípulas ou não. Apresentam inflorescência cimosa, às vezes reduzida a uma única flor, sendo que as flores são vistosas, bissexuadas, actinomorfas, diclamídeas, com cálice pentâmero, gamopétala ou dialipétala, prefloração valvar. Possui de cinco a dez estames, que podem estar livres ou unidos entre si. O ovário é súpero, pentacarpelar, podendo ser unilocular ou pentalocular, e o fruto é classificado como baga (LORENZI; SOUZA, 2008). 2.2- A Cultura do Mamoeiro O mamoeiro pertence à classe Dicotyledoneae, subclasse Archichlamydeae, ordem Violales, família Caricaceae e gênero Carica (MANICA, 1982). Seu centro de origem está localizado na Bacia Amazônica Superior, aonde a diversidade genética é elevada, caracterizando-se como uma planta tipicamente tropical (FARIAS et al., 1998). De acordo com Alves (2003), o mamoeiro encontra-se distribuído em vários países entre as latitudes de 32º Norte e Sul, sendo que seu cultivo está localizado entre os trópicos de Câncer e Capricórnio. O cultivo do mamoeiro encontra-se distribuído tanto nos países tropicais como nos subtropicais, em locais de clima quente, pluviosidade alta e em solo rico em matéria orgânica, com um pH entre 5,5 a 6,5.Nessas condições, o mamoeiro possui ciclo semi- perene, com produção durante três a cinco anos (COSTA; PACOVA, 2003; NASCIMENTO, 2010). A espécie Carica papaya L. apresenta uma raiz pivotante com ramificações radiais. Seu caule é normalmente indiviso e ereto. Suas folhas são alternas, com limbos e pecíolos foliares grandes e apresenta flores dióicas, monóicas ou hermafroditas. Segundo Badillo (1993), seu fruto pode ter forma ovóide, esférica, ou piriforme desde pequeno (2 a 10 17 cm de comprimento por 1,5 a 6 cm de largura) até muito grande (em cultivo), polpa amarela, alaranjada, ou avermelhada, geralmente oco. O fruto possui em sua casca a papaína, uma pepsina vegetal que tem ação no intestino, sendo rico em vitamina A, B, C, e D, podendo ser utilizado na fabricação de doces ou ser consumido maduro (MANICA, 1982; GOMES; 1986). Segundo Manica (1982), o mamão ainda pode ser utilizado na fabricação de purê em calda, mamão cristalizado, em salada de frutas tropicais, geléia, confeitos, coquetéis e aperitivos. Na indústria as sementes são usadas para a extração de um óleo e as folhas utilizadas como forrageiras e também no preparo de expectorante. Segundo Patro (2011), o mamoeiro possui valor medicinal, sendo indicado para problemas renais e respiratórios, obesidade, prisão-de- ventre, verminoses, possuindo propriedades antiinflamatória, calmante, cicatrizante, laxativa, através da utilização das folhas, raízes, flores e frutos. Suas sementes são pequenas com aproximadamente de 5 a 7 mm, apresentando várias protuberâncias em forma de cristas (BADILLO, 1993). De acordo com Costa (2003), a germinação das sementes do mamoeiro é rápida de três a quatro semanas, aproximadamente, com um pico de produção entre três a cinco anos, sendo considerada uma cultura de grande expressão agrícola (MARIN; SILVA, 1996). Dados recentes da FAO (2011) mostram que os maiores produtores mundiais de mamão são o Brasil, México, Nigéria, Índia e Indonésia, enquanto os maiores exportadores são o México e a Malásia. A produção mundial de mamão representa 10% da produção mundial de frutas tropicais, em torno de 8 milhões de toneladas. Em 2009, o Brasil produziu 1,8 milhões de toneladas em 34,2 mil hectares, sendo que as regiões que mais produziram foram o Nordeste e Sudeste (IBGE, 2011). Os principais estados produtores foram Bahia (891 mil toneladas), Espírito Santo (550 mil toneladas), Ceará e Rio Grande do Norte com (104 mil toneladas). A cultura do mamoeiro possui uma estreita base genética, sendo limitado o número de cultivares plantadas. As cultivares de mamoeiro mais utilizadas no Brasil são classificadas em dois grupos: o grupo Solo, abrangendo as cultivares („Sunrise Solo‟ e „Improved Sunrise Solo cv.72/12‟) e grupo Formosa („Tainung nº1‟ e „ Tainung nº2‟). As cultivares do grupo Formosa são adequadas à comercialização no mercado interno e as do grupo Solo são comercializadas nos mercados interno e externo, possuindo material geneticamente uniforme (LIMA et al., 2001; DANTAS; LIMA, 2001). Mesmo com condições propícias ao cultivo de mamoeiro no Brasil, existem alguns problemas que podem reduzir o sucesso da cultura, incluindo as doenças causadas por 18 fungos, bactérias, nematóides, fitoplasmas e vírus (LIMA et al., 2001; MARCIEL- ZAMBOLIM et al., 2003). Entre as doenças causadas por fungos, destacam-se a Mancha de Alternaria causada por Alternaria alternata (Keissl.); Mancha de Cercóspora causada por Pseudocercospora papayae (Hansf.); Antracnose causada por Colletotrichum gloeosporioides Penz.; Podridão mole de Rhizopus causada por Rhizopus stolonifer Vuill. (SANTOS; BARBOSA; NICKEL, 2003). O amarelecimento interno do fruto é causado pela bactéria Enterobacter cloacer (Jordan) Hormaeche & Edwards. Os nematóides também causam sérios problemas na cultura, destacando-se Rotylenchus reniforme Linford & Oliveira, Melodogyne incognita (Kofoid & White) Chitwood e o M. hapla Chitwood (SILVA, 1996). Os vírus são os principais causadores de doenças no mamoeiro, ocasionando perdas na produção, reduzindo ou até podendo chegar à destruição total da plantação infetada (LIMA; SANTOS, 1991; LIMA; LIMA; MARQUES, 1994; REZENDE; FANCELLI, 1997; LIMA et al., 2001; LIMA; LIMA, 2002; NASCIMENTO, 2010; NASCIMENTO, et al., 2010.) 2.3- Vírus que Infetam o Mamoeiro Segundo Lima e Lima (2002), as viroses constituem os principais problemas do mamoeiro, causando sérios prejuízos na sua produção, podendo atingir toda uma plantação, reduzindo sua produção para o mercado consumidor. A multiplicação dos vírus em plantas suscetíveis se dá por replicação do seu material genético e pela síntese de suas proteínas nas células das plantas hospedeiras (MATTHEWS, 1992). A entrada do vírus nas células de uma planta hospedeira ocorre por um processo passivo, através de leves ferimentos da superfície do tecido vegetal ou por ação de vetores biológicos (MATTHEWS, 1992; HULL, 2004; ZERBINI; CARVALHO; ZAMBOLIM, 2006). Os principais vírus que infetam a cultura do mamoeiro em diversas partes do mundo pertencem às seguintes famílias e/ou gêneros: Família Potyviridae, gênero Potyvirus: Papaya leaf distortion mosaic virus (PLDMV) (CONOVER, 1976; KAWANO; YONAHA, 1992); Papaya ringspot virus (PRSV) (PURCIFULL et al., 1984; GONSALVES ; TRIPATHI; SUZUKI, 2010); Gênero Sobemovirus: Papaya lethal yellowing virus (PLYV) (LORETO; VITAL; RESENDE, 1983; LIMA et al., 2001; LIMA; LIMA, 2002; 19 NASCIMENTO, 2010; NASCIMENTO, et al., 2010; PEREIRA, et al., 2012; LIMA et al., 2013); Família Rhabdoviridae: Papaya apical necrosis virus (PANV) (LASTRA; QUINTERO, 1981); Gênero Potexvirus: Papaya mosaic virus (PMV) (COOK; ZETTLER, 1970) e Papaya mild yellow leaf virus (PMYLV) (MARYS; CARBALLO; IZAGNIRRE- MAYARAL, 1995) e Papaya meleira virus (PMeV), ainda não taxonomicamente classificado pelo Comitê Internacional de Taxonomia de Vírus (ICTV); No Brasil os principais vírus que infetam a cultura do mamoeiro são PRSV-P, (COSTA; CARVALHO; KAMADA, 1969; LIMA; GOMES, 1975; LIMA; BEZERRA, 1988; LIMA et al., 2001); PMeV (LIMA et al., 2001; RAMOS et al., 2008; KUNG et al., 2009; NASCIMENTO et al., 2010) e PLYV (LORETO; VITAL; RESENDE, 1983; LIMA et al., 2001; LIMA; LIMA, 2002; NASCIMENTO, 2010; NASCIMENTO, et al., 2010; LIMA et al., 2013). Uma planta infetada com PRSV-P apresenta folhas com sintomas de mosaico, bolhosidade e deformações foliares, e os frutos apresentam anéis oleosos concêntricos. No caule e no pecíolo das folhas podem surgir manchas anelares ou irregulares, sendo que a infecção do vírus pode causar a morte prematura da planta. Como forma de controle no Brasil, tem sido recomendada a eliminação das plantas infetadas para evitar a dispersão do vírus (LIMA; LIMA, 2002; VENTURA; COSTA; TATAGIBA, 2004). O PMeV pode induzir a exsudação de látex nos frutos, que ao oxidar, apresentam manchas borradas. O látex das plantas infetadas tem como característica um aspecto aquoso translúcido, escorrendo com maior facilidade. O látex ocorre também nas folhas mais jovens, causando oxidação e manchas necróticas. No fruto, também se observa áreas amarelo e verde, confundindo o produtor com sintomas de deficiência de micronutrientes. Assim, como para o PRSV, as plantas que apresentam meleira devem ser erradicadas (LIMA; LIMA, 2002; VENTURA et al., 2003). 2.4- Papaya lethal yellowing virus (PLYV) O PLYV agente causal do amarelo letal no mamoeiro foi primeiramente identificado no Brasil, no estado de Pernambuco (LORETO; VIDAL; RESENDE, 1983). Em seguida, Vega, Bezerra e Resende (1988) constataram o vírus na Bahia; Lima e Santos (1991) identificaram o PLYV no estado do Ceará; Kitajima et al. (1992) constataram o vírus no Rio Grande do Norte e Camarço et al. (1996) na Paraíba. 20 O PLYV possui origem desconhecida, podendo ser resultado de uma possível mutação de outrosvírus (LORETO; VIDAL; RESENDE, 1983). Conforme Lima et al. (2001), sua dispersão na região Nordeste tem sido manifestada no sentido de leste-oeste. O vírus pertence ao gênero Sobemovirus (SILVA, 1996; NASCIMENTO et al., 2010; PEREIRA et al., 2012) sendo seu capsídeo formado por uma única proteína capsidial de ca. 34.7 kDa , contendo um genoma constituído por um segmento de RNA de hélice simples (SILVA, 1996; CAMARÇO, 1997; NASCIMENTO et al., 2010; LIMA et al., 2013). Conforme Kitajima (1992), as partículas poliédricas do PLYV podem ser visualizadas no interior dos vacúolos das plantas infetadas através de microscópio eletrônico. A doença ocasionada pelo PLYV vem causando sérios problemas nas regiões produtoras de mamão do estado do Ceará. As plantas infetadas com PLYV apresentam as folhas jovens amareladas, cloróticas e retorcidas. O amarelecimento das folhas tem início no terço superior da copa e nos frutos surgem manchas circulares, que no início são verdes, mas depois se tornam amareladas, e ocasiona geralmente a morte da planta (LORETO; VIDAL; RESENDE, 1983; LIMA; LIMA, 2002; VENTURA; MARTINS, 2007). Alguns estudos em casa de vegetação com mais de 30 espécies vegetais mostraram que a gama de plantas hospedeiras do PLYV está limitada à família Caricaceae, infetando Jacaratia heterophyla L., J. spinosa (Aubli) A. DC., Vasconcella cauliflora (Jacq.) Badillo, V. quercifolia A.St.-Hil. e V. monoica A. DC. (NASCIMENTO et al., 2010; LIMA et al., 2013). O PLYV pode ser transmitido por enxertia, de forma mecânica, por ferramentas usadas no corte de plantas infetadas, por solo contaminado, por água de rega e por mãos contaminadas, mesmo depois de lavadas com sabão (LIMA; SANTOS, 1991; CAMARÇO, 1997; CAMARÇO; LIMA; PIO-RIBEIRO, 1998; SARAIVA, et al., 2006; NASCIMENTO et al., 2010; LIMA et al., 2013). Embora o vírus não seja transmitido por sementes de frutos infetados, o mesmo foi sorologicamente detectado na superfície das sementes de frutos com o vírus (CAMARÇO; LIMA; PIO-RIBEIRO, 1998; NASCIMENTO et al., 2010). Portanto, o PLYV pode estar presente nas sementes de frutos doentes, sendo importante não utilizar sementes sem conhecer sua origem, por conta do risco da introdução do vírus em áreas produtoras (CAMARÇO, 1997; LIMA; LIMA, 2002). O PLYV é um vírus relativamente estável, apresentando ponto de inativação térmica (PIT) de 80 ºC, longevidade in vitro (LIV) de 60 dias e ponto máximo de diluição (PMD) de 10 -6 . A elevada estabilidade das partículas do vírus facilita sua disseminação pelas 21 ações do homem, o que pode explicar sua crescente dispersão sem um vetor biológico (CAMARÇO et al., 1996; LIMA et al., 2001; LIMA ; LIMA, 2002; SARAIVA et al., 2006; NASCIMENTO et al., 2010; LIMA et al., 2013). Como forma de controle para o PLYV é importante evitar o transporte de mudas, frutos e sementes infetadas com o vírus; realizar a erradicação de mamoeiros infetados com sintomas típicos da doença e promover a eliminação total de pomares velhos abandonados, mesmo que não estejam com o vírus, para que não sejam fontes de inóculo; realizar roguing de plantas que apresentem os sintomas iniciais da doença; e por conta da elevada estabilidade do vírus, realizar a desinfestação das ferramentas agrícolas a fim de evitar sua transmissão dentro de uma mesma área (LIMA; LIMA, 2002; VENTURA; MARTINS, 2007; LIMA et al., 2013). 2.5- Efeitos de Extratos de Plantas e de Produtos Químicos sobre Vírus de Planta O Brasil é um país rico em biodiversidade de plantas, possuindo uma das mais ricas floras do mundo, sendo que existem milhões de espécies vegetais que podem ser estudadas e utilizadas em benefício ao homem (GUERRA; NODARI, 2001). De acordo com Ilha et al. (2008), com o tempo o homem observou que as frutas e as plantas além das propriedades nutritivas possuem também atributos medicinais. Existem na literatura vários trabalhos relacionados ao efeito de extrato de plantas e de produtos químicos sobre bactérias, fungos e nematóides, tanto em animais como nas plantas, mas são poucos os relacionados a vírus em plantas. Segundo Noronha et al. (1983), os efeitos dos extratos sobre vírus mais estudados são os que infetam a cultura do tomateiro (Solanum lycopersicum L.) e do feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.). Além das plantas medicinais, existem produtos químicos que podem inibir a ação de determinados patógenos como Sodium Dodecyl Sulphate (SDS), Triton X-100, carbonato de sódio e álcool, produtos comuns e rotineiros de laboratório utilizados no combate a determinados patógenos, inclusive vírus (DONINI et al., 2005; CASTILHO et al, 2008; ZACHÉ et al., 2010) . 22 3- MATERIAL E MÉTODOS 3.1- Efeitos de Extratos de Plantas de uso Medicinal sobre o PLYV em Mamoeiro Foram avaliados os efeitos de extratos de várias espécies vegetais de uso medicinal, sobre a infectividade do PLYV em mamoeiro. Os extratos foram preparados a partir de folhas das seguintes espécies botânicas: Alecrim pimenta (Lippia sidoides Cham.), Alfavaca cravo (Ocimum gratissimum L.), Alfavaca roxa (Ocimum pupuraceus L.), Alho (Allium sativum L.), Aroeira (Schinus terebinthifolius Raddi), Boldo gigante (Plectranthus barbatus Andr.), Cajueiro (Anacardium occidentale L.), Cidreira (Melissa officinalis L.), Comigo ninguém pode (Dieffenbachia pictada L.), Corama (Bryophyllum calycinum Salisb.), Dedo do diabo (Euphorbia tirucalli L.), Espirradeira (Nerium oleander L.), Goiabeira (Psidium guajava L.), Hortência (Calotropis procera Aiton.), Malva santa (Plectranthus barbatus Andr.), Manjericão (Ocimum basilicum L.), Mastruz (Chenopodium ambrosioides L.), Mirra (Commiphora myrrha Engl.), Nim (Azadirachta indica A.), Pimenta (Piper nigrum L.), Pinhão (Jatropha curcas L.) Primavera (Bougainvillea spectabilis Willd.) e Xambá (Justicia pectoralis Jacq.). As folhas das espécies de plantas medicinais foram obtidas da coleção de plantas Prof. Francisco Matos da Universidade Federal do Ceará (UFC) e do Núcleo de Ensino e Pesquisa em Agricultura Urbana (NEPAU) localizado também no Campus do Pici. Os extratos das plantas de uso medicinal e o extrato de planta de mamoeiro infetada por PLYV foram preparados em água destilada, na proporção de 1:2 (p/v). Em seguida, foi feito uma mistura dos extratos foliares das espécies vegetais de uso medicinal com extrato de plantas de mamoeiro com PLYV, na proporção de 1:1 (v/v). As misturas foram incubadas em condições de laboratório (26 ºC) durante 30 min. Em seguida, cada mistura foi inoculada em plantas sadias de mamoeiro cultivadas em vasos com aproximadamente 60 dias após o plantio. Todas as plantas inoculadas foram mantidas em casa de vegetação e observadas durante, aproximadamente, 30 dias, ao final dos quais, as plantas inoculadas foram testadas por “Enzime linked immunosobent assay” (ELISA) indireto, com antissoro específico para PLYV. 3.2- Técnica de ELISA Indireto Usada nas Avaliações Para a realização do ELISA indireto nos diferentes experimentos, amostras foliares ou de outros tecidos de plantas foram maceradas em tampão de carbonato de sódio 23 (0,15 M Na2CO3, 0,035 M de NaHCO3 e 0,007 M de dietilcarbamato, pH 9,6) na diluição de 1:10 (p/v). Alíquotas de 100 µL de cada amostra foram depositadas nos poços de placas de ELISA e em seguida foram incubadas a 4 ºC por um período de 12 h. As placas foram submetidas a três lavagens consecutivas com PBS-Tween-20 (0,08% de Nacl, 0,02% de KH2PO4, 0,11% de Na2HPO4, 0,02% de KCl e 0,05% Tweem-20) e mais uma lavagem com água destilada. Em seguida, foram adicionados 100 µL de antissoro específico para PLYV previamente absorvido com extrato de planta sadia de mamoeiro, diluído na proporção 1:1000 em tampão do antissoro (PBS-Tween 20 com 0,5 M polivinilpirrolidona, 0,2% de ovoalbumina, 0,3M de azida de sódio, 0,17% de dietilcarbamato). As placas foram incubadas a 37 °C por1 h, e depois lavadas novamente com PBS-Tween-20 e água destilada. Em seguida, foi adicionado 100 µL de imunoglobulina G (IgG), diluída na proporção 1:2.000, em tampão do conjugado (0,5 M polivinil pirrolidona, 2% de ovoalbumina e 0,03 M de azida de sódio) e novamente as placas foram incubadas a 37 °C por 1 h. Após as lavagens com PBS- Tween-20 e água destilada, foi adicionado 100 µL do substrato p-nitrofenil fosfato na concentração de 0,5 mg/mL dissolvido em tampão do substrato (MgCl2 0,0005 M, pH 9,8, contendo 12% de dietanolamina), e incubadas por 20 min no escuro para permitir a reação enzimática. As leituras das placas foram feitas aos 20 e 40 min em leitor de ELISA Labsystems Multiskam MS, com comprimento de onda de 405 nm. As amostras testadas foram consideradas positivas quando os valores da absorbância em 405 nm foram superiores a duas vezes as médias dos valores das absorbâncias das plantas sadias mais três vezes o desvio padrão destes valores (ALMEIDA, 2001). 3.3- Efeitos de Produtos Químicos sobre o PLYV Extrato de plantas de mamoeiro infetadas por PLYV foi preparado em água destilada, na proporção de 1:2 (p/v) e misturado com igual volume de um dos seguintes produtos químicos: Álcool, Carbonato de sódio, Hipoclorito de Sódio, n-Butanol, Sabão líquido comercial, Dodecilsulfato de sódio (SDS) e Triton X-100. As misturas foram incubadas em condições de laboratório (26 ºC) durante 30 min e em seguida, foram inoculadas em plantas sadias de mamoeiro cultivadas em vasos com aproximadamente 60 dias. Todas as plantas inoculadas foram observadas durante, aproximadamente 30 dias, em condições de casa de vegetação, e testadas por ELISA indireto com antissoro específico para PLYV. 24 3.4- Estudos da Gama de Hospedeiros do Isolado de PLYV Os estudos da gama de hospedeiros do PLYV foram realizados em casa de vegetação com um isolado do vírus, sendo as plantas inoculadas mecanicamente na fase inicial de desenvolvimento. A inoculação mecânica foi realizada com extratos de plantas de mamoeiro infetadas sistemicamente pelo PLYV, preparados em solução tampão 0,05 M de KPO4, pH 7,5, obtidos pela maceração de tecido foliar infetado, na proporção de 1 g de tecido para 8 mL de solução. As plantas inoculadas foram observadas diariamente e aos 30 dias após a inoculação, tanto as folhas inoculadas e uma folha formada após a inoculação foram testadas por ELISA indireto. Foram avaliadas 16 espécies e variedades das seguintes famílias botânicas: Amaranthaceae: Chenopodium amaranticolor Costa e Reyn; C. murale L.; C. quinoa Wild.; Gomphrena globosa L.; Brassicaceae: couve chinesa (Brassica rapa Pekinesis); couve rábano (B. oleraceae L.); couve brocoli (B. oleraceae L.) var. Gongylodes; couve manteiga (B. oleraceae L.) var. Acephala; couve flor (B. oleraceae L.) var. Botrytis; mostarda (Brassica alba L.); Fabaceae: feijão de rola (Macroptilium lathyroides L.); família Solanaceae: fumo (Nicotiana tabacum L.) „Xanthi‟, „TNN‟, „Sansum White Burley‟; N. glutinosa L.; e da família Pedaliaceae: gergelim (Sesamum indicum L.). 3.5- Interação Entre PLYV e PRSV em Plantas de Mamoeiro Foram utilizadas 60 plantas de mamoeiro cultivadas em vasos com aproximadamente 60 dias. O estudo foi composto dos seguintes tratamentos com cinco vasos com duas plantas cada: T1- plantas inoculadas com PLYV; T2- plantas inoculadas com PRSV-P; T3- plantas inoculadas com PLYV + PRSV-P; T4- plantas inoculadas com PLYV e após 10 dias inoculadas com PRSV-P; T5- plantas inoculadas com PRSV-P e após 10 dias inoculadas com PLYV e T6- plantas sadia, mantidas como testemunhas. Os extratos contendo os vírus foram preparados através da maceração de folhas de plantas de mamoeiro infetadas com PLYV ou com PRSV-P em solução tampão 0,05 M de KPO4, pH 7,5, na proporção de 1:2 (p/v), sendo que os extratos utilizados no tratamento T3 foram preparados com tecidos de plantas de mamoeiro com PLYV misturados com tecidos de plantas de mamoeiro com PRSV-P na proporção de 1:1 (v/v). 25 Diariamente foram avaliados o aparecimento, a evolução e a severidade dos sintomas e aos 30 dias após as inoculações as presenças dos vírus foram avaliadas por ELISA indireto em todas as plantas constantes dos tratamentos com inoculação simples e dupla. 3.6- Movimentação do PLYV em Plantas de Mamoeiro O estudo da movimentação do PLYV em plantas infetadas de mamoeiro foi realizado em casa de vegetação. Foram utilizadas 30 plantas com aproximadamente 60 dias cultivadas individualmente em vasos. Folhas de plantas de mamoeiro infetadas por PLYV foram maceradas com solução tampão 0,05 M de KPO4, pH 7,5 na proporção de 1:2 (p/v) e, em seguida, o extrato foi inoculado em 24 plantas sadias de mamoeiro, sendo mantidas seis plantas sem inoculação, como testemunha. O estudo foi composto de quatro tratamentos com seis plantas cada, sendo avaliada a presença do vírus em cada parte da planta a cada dois dias, através de ELISA indireto. Após as inoculações, a presença do PLYV era avaliada por ELISA indireto nas folhas inoculadas, em folhas novas, no caule e nas raízes. Foram consideradas positivas os valores da absorbância em 405 nm superiores a duas vezes as médias dos valores das absorbâncias das plantas sadias mais três vezes o desvio padrão destes valores (ALMEIDA, 2001). 3.7- Detecção Molecular do PLYV 3.7.1 - Extração de RNA Total e PCR de Isolados do PLYV Na análise molecular do PLYV foram utilizadas amostras de folhas de plantas de mamoeiro infetadas por isolados do PLYV obtidos das regiões produtoras de mamão dos municípios de Marco e de Horizonte, e um isolado obtido de frutos comercializados na Central de Abastecimento do Ceará (CEASA). Folhas de planta sadia, mantidas em casa de vegetação, foram usadas como controle. O RNA total foi extraído de cada amostra foliar, através do uso do kit Brazol®, a partir de 50 mg de tecido vegetal, de acordo com o protocolo sugerido pelo fabricante. Para a RT-PCR com os RNAs obtidos foi utilizado o seguinte par de primers: PLYV- RA1 (5‟- GTG TAT GGC ATA CAG TTA TC- 3‟) e o PLYV-FA2 (5‟- CTG AAG CGG ATA TTT CTG G- 3‟) específicos para o PLYV (SILVA, KITAJIMA, RESENDE, 2000). 26 O processo da RT- PCR consistiu em duas etapas. Na primeira etapa foram obtidos os DNAs complementares às seqüências do RNA viral (cDNAs), e na segunda etapa, foi realizada a amplificação dos cDNAs obtidos nas reações anteriores. No preparo dos cDNAs, 3 µL das preparações dos RNAs totais foram colocados em microtubos de 200 µL, contendo o mix 1 (5 µL de água DEPC e 2 µL do primer), totalizando 10 µL. As misturas foram levadas ao termociclador programado para 10 min a 70 ºC, retirando-se posteriormente e colocando em gelo por 5 min. Logo após, foram adicionados 15 µL do mix 2 (6 µL de água DEPC; 5 µL do tampão da RT 5X; 2 µL de dTT 0,1 M; 1 µL de 10 mM dNTPs; 0,5 µL de Inibidor de RNAse 400 U/ µL e 0,5 µL de Moloney murine leukemia virus, MMLV 200 U/ µL). Em seguida, os tubos foram levados ao termociclador programado para 1 h a 37 ºC e 15 min a 70 ºC. Os cDNAs obtidos da RT foram amplificados por PCR, utilizando 2 µL das reações anteriores (cDNAs); 17,5 µL de água DEPC; 2,5 µL de tampão 10X; 1,75 µL de 25 mM cloreto de magnésio (MgCl2); 0,5 µL de 10 mM dNTPs; 0,5 µL dos primers e 0,25 µL da Taq polimerase 5 U/ µL, com um volume final de reação de 25 µL. O programa de amplificação consistiu de um ciclo inicial de 94 ºC por 4 min e 25 ciclos subseqüentes de 94 ºC de 50 s, 48 ºC de 50 s, 72 ºC de 2 min. A temperatura de anelamento para os primers PLYV-RA1 e PLYV-FA2 foi de 48 ºC, e de 72 ºC por 10 min para a extensão final. Os produtos obtidos por PCR foram analisados em gel de agarose 1% preparado em tampão de corrida TBE 1X (40 mM Tris base, 2 mM de EDTA) e a eletroforese conduzida a 90 V por aproximadamente 50 min. Logo após a corrida, o gel foi coradoem brometo de etídio (0,1 µL/ mL) e o perfil eletroforético foi visualizado em luz ultravioleta e fotodocumentado no Transiluminador 212 PRO Gel Logic. 3.7.2- Detecção do PLYV por Imunoprecipitação Seguido de RT-PCR (IP- RT-PCR) A técnica de imunoprecipitação seguido de RT-PCR (IP- RT-PCR) desenvolvida por LIMA et al. (2011) foi utilizada com o isolado de PLYV de município de Marco mantido em casa de vegetação e plantas sadias. Imunoprecipitação das partículas do PLYV foi realizada com antissoro específico para o vírus a partir de amostras de folhas de mamoeiro infetado por PLYV. As amostras foliares foram maceradas em tampão de carbonato de sódio na diluição de 1:2 (p/v) e, em seguida, foi adicionado igual volume de antissoro específico para PLYV previamente absorvido com extrato de planta sadia de mamoeiro. O antissoro foi 27 usado na diluição de 1:500 (v/v) em tampão do antissoro. As misturas de extratos de plantas macerados e antissoro na proporção de 1:1 (v/v) foram incubadas em agitação lenta por 3 h a 37 ºC, e centrifugado a 5.000 g por 10 min. O sobrenadante foi descartado e o precipitado foi ressuspenso no tampão do kit de extração de RNA - Ultra Clean Plant RNA Isolation®. Processo semelhante foi realizado com extrato de plantas sadias de mamoeiro, como controle. Os cDNAs complementares às seqüências do RNA viral foram preparados segundo metodologia acima descrita e, em seguida, os produtos da RT foram amplificados por PCR, usando o seguinte par de primers: PLYV- RA1 (5‟- GTG TAT GGC ATA CAG TTA TC- 3‟) e o PLYV-FA2 (5‟- CTG AAG CGG ATA TTT CTG G- 3‟) específico para PLYV. As sequências obtidas por PCR foram analisadas em gel de agarose 1% preparado em tampão de corrida TBE 1X (40 mM Tris base, 2 mM de EDTA) com a eletroforese conduzida a 90 V por aproximadamente 50 min. Logo após a corrida, o gel foi corado em brometo de etídio (0,1 µL/ mL) e o perfil eletroforético foi visualizado fotodocumentado em luz ultravioleta em luz ultravioleta no Transiluminador 212 PRO Gel Logic. 28 4- RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1- Efeitos de Extratos de Plantas de Uso Medicinal sobre o PLYV em Mamoeiro De acordo com os resultados obtidos, nenhum dos extratos das 23 espécies vegetais testados afetou completamente a infectividade do PLYV em plantas de mamoeiro. Exceto, o extrato de aroeira que retardou o aparecimento de sintomas nas plantas inoculadas (TABELA 1). Embora a presença do PLYV tenha sido detectada por ELISA indireto em 75% das plantas inoculadas com o vírus tratado com extrato de aroeira, nenhuma das plantas apresentou sintomas típicos do vírus, constituindo o único extrato que inibiu a apresentação dos sintomas comumente observados nos demais casos. Tais resultados indicam que as partículas virais podem ter sido afetadas comprometendo a infectividade das mesmas, reduzindo o número de partículas infectivas (TABELA 1; FIGURA 1E). A aroeira é uma espécie nativa da América do Sul, pertencente à família Anacardiaceae, utilizada no tratamento de inflamações uterinas e na cicatrização de úlceras (AMORIM; SANTOS, 2003). De acordo com Santos et al. (2010), extratos de aroeira inibiram o crescimento dos seguintes fungos fito-patogênicos: Alternaria spp., Botrytis spp., Colletotrichum spp., e Fusarium spp. Há estudos sobre o efeito antifúngico, antimicrobiano, inseticida e repelente, demonstrando que seu extrato possui também efeitos tóxicos sobre outros patógenos (AMORIM; SANTOS, 2003). Ao contrário das plantas de mamoeiro inoculadas com PLYV tratado com extrato de aroeira, todas as plantas inoculadas com o vírus tratado com extratos das demais espécies vegetais apresentaram sintomas de amarelecimento, mosaico leve, bolhosidades e a redução do número de folhas (FIGURA 1 a 4). Mesmo sem apresentar inibição total da infectividade e dos sintomas do PLYV, 66,7 % das plantas inoculadas com PLYV tratado com extrato de folhas de espirradeira não foram infetadas pelo vírus (TABELA 1), indicando a possibilidade da presença de algum componente capaz de inibir a infectividade do vírus. A espirradeira é um arbusto perene, originário do Mediterrânio e da Ásia cultivado como planta ornamental em parques e jardins. De acordo com Osweiler (1995), essa planta possui glicosídeos cianogênicos e alcalóides, substâncias oriundas do metabolismo que tem função de proteção. Apresentam princípios ativos tóxicos que causam danos ao homem e animais quando ingeridas, como distúrbios gastrintestinais intensos, caracterizados por náuseas, vômitos, cólicas abdominais, diarréia e arritmia cardíaca (OLIVEIRA; GODOY; COSTA, 2003). Estudos demonstraram a presença 29 de glicosídeos cianogênicos e alcalóides na espirradeira (BARG, 2004) que poderiam afetar a infectividade viral. Segundo Holffmann et al.(2007), o extrato preparado a partir de folhas de espirradeira possui efeito alelopático sobre outras espécies vegetais. Da mesma forma, somente 50 % das plantas inoculadas com PLYV tratado com extratos de hortência, nim, pimenta e pinhão não foram infetadas pelo PLYV (TABELA 1), indicando a possibilidade destas espécies vegetais possuírem componentes químicos capazes de inibir a infectividade do vírus. Já foi, também, confirmado que extratos destas espécies vegetais possuem atividades inseticida (MESHRAM, 1995), antibacteriana e antifúngica (KUMAR; CHANHAN, 1992). Segundo Lorenzi e Matos (2002) e Braga et al. (2007), folhas de hortência são utilizadas como estimulantes, antireumáticas, tranquilizantes e seu látex é usado pelos sertanejos como odontálgico. A pimenta também tem evidenciado propriedades antifúngicas, demonstrando seu potencial no controle de patógenos de plantas (BASTOS, 1997). O pinhão possui o princípio ativo tóxico que é a toxialbumina jatrofina (curcina), que pode causar irritação das mucosas do estômago e intestino, queimaduras e náuseas (BARG, 2004). Aproximadamente 12,5% das plantas de mamoeiro inoculadas com PLYV tratado com extrato de folhas de cajueiro não foram infetadas com o vírus (TABELA 1). O cajueiro é uma planta originária do Brasil, e muito utilizada na medicina, principalmente no Nordeste Brasileiro, sendo utilizado para dor de dente, dor de garganta, bronquites, artrites, cólicas intestinais, icterícia, no diabetes, e até asma (MORAIS et al., 2005; AGRA; FRANÇA; BARBOSA-FILHO, 2007; MOTA, 2011). Segundo Albuquerque (1989), os extratos obtidos das cascas ou folhas do cajueiro podem conter substâncias que podem atuar contra fitopatógenos. De acordo com Laurens et al. (1992), a casca do caule do cajueiro possui atividade antimicrobiana, tendo sido avaliada no controle de várias espécies de bactérias incluindo a Pseudomonas aeruginosa Schr., Staphylococcus aureus Rosenb., Escherichia coli T. Esch. e Salmonella typhi Lign. Portanto, os resultados obtidos, indicam a possibilidade de extratos de folhas de cajueiro conter inibidores virais eficientes para inibir, parcialmente, a infectividade do PLYV em plantas de mamoeiro. Embora constitua uma fruteira tropical largamente cultivada no Nordeste brasileiro, não há relatos da incidência de vírus infetando o cajueiro no Brasil (EMBRAPA, 2006). 30 Tabela 1 - Efeito de extratos de espécies de plantas de uso medicinal sobre a infectividade do Papaya lethal yellowing virus (PLYV) em mamoeiro (Carica papaya) confirmado por ELISA. Planta Medicinal Plant. Inoc./ Plant. Infet. Sintomas ELISA (%) Alecrim pimenta (Lippia sidoides) 4/4 Presente 100% Alfavaca cravo (Ocimum gratissimum) 4/4 Presente 100% Alfavaca roxa (Ocimun pupuraceus) 4/4 Presente 100% Alho (Allium sativum) 4/4 Presente 100% Aroeira (Schinus terebinthifolius) 4/3 Ausente 75% Boldo gigante (Plectranthus barbatus) 4/4 Presente 100% Cajueiro (Anacardium occidentale) 8/6 Presente 87.5% Cidreira (Melissa officinalis) 4/4 Presente 100% Comigo ninguém pode (Dieffenbachiapictada) 4/4 Presente 100% Corama (Bryophyllum calycinum) 4/4 Presente 100% Dedo do diabo (Euphorbia tirucalli) 4/4 Presente 100% Espirradeira (Nerium oleander) 6/2 Presente 33.3% Goiabeira (Psidium guajava) 8/8 Presente 100% Hortência (Calotropis procera.) 4/2 Presente 50% Malva santa (Plectranthus barbatus) 4/4 Presente 100% Manjericão (Ocimum basilicum) 4/4 Presente 100% Mastruz (Chenopodium ambrosioides) 4/4 Presente 100% Mirra (Commiphora myrrha) 4/4 Presente 100% Nim (Azadirachta indica) 6/3 Presente 50% Pimenta (Piper nigrum) 6/3 Presente 50% Pinhão (Jatropha curcas) 6/3 Presente 50% Primavera (Bougainvillea spectabilis) 4/4 Presente 100% Chambá (Justicia pectoralis) 4/4 Presente 100% Fonte: Dados obtidos e organizados pelo autor. 31 Figura 1- Folhas de plantas de mamoeiro (Carica papaya) inoculadas com Papaya lethal yellowing virus (PLYV) submetido ao tratamento com extratos das seguintes espécies vegetais: A) Alecrim pimenta (Lippia sidoides); B) Alfavaca cravo (Ocimum gratissimum); C) Alfavaca roxa (Ocimun pupuraceus); D) Alho (Allium sativum); E) Aroeira (Schinus terebinthifolius) e F) Boldo gigante (Plectranthus barbatus). As observações efetuadas 30 dias após a inoculação das misturas do PLYV com extrato das plantas, demonstraram ausência de sintomas somente quando o vírus foi tratado com extrato de aroeira (E). Fonte: Fotografias organizadas pelo autor. F E D C A B 32 Figura 2- Folhas de plantas de mamoeiro (Carica papaya) inoculadas com Papaya lethal yellowing virus (PLYV), todas exibindo sintomas da infecção do vírus, submetido ao tratamento com extratos das seguintes espécies vegetais: A) Primavera (Bougainvillea spectabilis); B) Cajueiro (Anacardium occidentale); C) Cidreira (Melissa officinalis); D) Corama (Bryophyllum calycinum); E) Dedo do diabo (Euphorbia tirucalli) e F) Espirradeira (Nerium oleander). As observações foram efetuadas 30 dias após a inoculação das misturas do PLYV com extrato das plantas. Fonte: Fotografias organizadas pelo autor. C A B D E F 33 Figura 3- Folhas de plantas de mamoeiro (Carica papaya) inoculadas com Papaya lethal yellowing virus (PLYV) submetido ao tratamento com extratos das seguintes espécies vegetais, todas exibindo sintomas da infecção do vírus: A) Goiabeira (Psidium guajava); B) Hortência (Calotropis procera); C) Malva santa (Plectranthus barbatus); D) Manjericão (Ocimum basilicum); E) Mastruz (Chenopodium ambrosioides) e F) Mirra (Commiphora myrrha). As observações foram efetuadas 30 dias após a inoculação das misturas PLYV e extrato de planta. Fonte: Fotografias organizadas pelo autor. E D C A B F 34 Figura 4- Folhas de plantas de mamoeiro (Carica papaya) inoculadas com Papaya lethal yellowing virus (PLYV) submetido ao tratamento com extratos das seguintes espécies vegetais, todas exibindo sintomas da infecção do vírus: A) Nim (Azadirachta indica); B) Pimenta (Piper nigrum); C) Pinhão (Jatropha curcas) e D) Chambá (Justicia pectoralis). As observações foram efetuadas 30 dias após a inoculação das misturas PLYV e extrato de planta. Fonte: Fotografias organizadas pelo autor. D C B A 35 4.2- Efeitos dos Produtos Químicos sobre a Infectividade do PLYV. Dentre os sete produtos químicos testados contra o PLYV em plantas de mamoeiro, apenas três inibiram a infectividade do vírus: carbonato de sódio, hipoclorito de sódio e SDS (TABELA 2). No entanto, apenas o hipoclorito de sódio não apresentou efeitos tóxicos nas plantas de mamoeiro. O carbonato de sódio ocasionou leves pontuações esbranquiçadas nas folhas inoculadas (FIGURA 5B) e as plantas inoculadas com SDS apresentaram manchas necróticas. A ausência de infecção viral nas plantas inoculadas com PLYV tratado com carbonato de sódio, hipoclorito de sódio ou com SDS foi confirmada por ELISA indireto em todas as plantas inoculadas (FIGURAS 5 e 6). O hipoclorito de sódio é um produto muito utilizado na desinfestação de ferramentas e material biológico. Resultados de pesquisa desenvolvida recentemente na Austrália (COUTTS; KEHOE; JONES, 2013) demonstraram que hipoclorito de sódio é capaz de inibir a infectividade de Zucchini yellow mosaic virus (ZYMV), membro da família Potyviridae, gênero Potyvirus, em ferramentas agrícolas e solados de botas contaminados com extratos de plantas infetadas. A par de demonstrar a eficiência do hipoclorito de sódio na desinfecção de instrumentos agrícolas contaminados com vírus, a pesquisa evidencia a importância da transmissão de ZYMV e, conseqüentemente, dos vírus de plantas em geral, por meios mecânicos resultantes de praticas culturais. Em experimento com folhas de pepino (Cucumis sativus L.), Zaché et al. (2010) utilizaram o método de desinfestação utilizando água corrente e solução de hipoclorito de sódio a 1%, com resultados satisfatórios. Donini et al. (2005) verificaram, também, que o hipoclorito de sódio foi eficiente na desinfestação de agentes contaminantes de lâminas foliares de aráceas ornamentais, enquanto que Kalil e Costa (1994) afirmam que os hipocloritos sendo de sódio ou de cálcio possuem intensa atividade antimicrobiana, podendo agir por inibição das reações enzimáticas, como a desnaturação de proteína ou a inativação do ácido nucléico. Todas as plantas que foram inoculadas com o PLYV tratado com álcool, n- butanol e sabão líquido neutro apresentaram sintomas da infecção viral que foi confirmada por ELISA indireto, demonstrando que a infecção do vírus não foi inibida pelos referidos produtos químicos (FIGURA 5 e 6). O n-butanol tem sido usado, com sucesso na purificação do PLYV (NASCIMENTO, et al., 2010; LIMA et al., 2013). De outra parte, o Triton X-100 inibiu a infectividade do vírus em apenas 25% das plantas inoculadas (TABELA 2). 36 Castilho et al. (2008) observaram a atividade antimicrobiana de surfactantes sobre Candida albicans Berkh., constatando que o Triton-X-100 e SDS inibiram o crescimento de Candida spp. Tais resultados comprovam que esses produtos possuem a capacidade de promover a inibição de certos patógenos como fungos, bactérias e até vírus. O álcool e o sabão líquido de uso comercial que são utilizados na desinfestação de ferramentas do campo e de mãos contaminadas, não foram eficientes na eliminação do vírus, sendo o PLYV transmitido para as mudas sadias, confirmando assim sua alta estabilidade (TABELA 2). Tabela 2- Efeitos de produtos químicos na infectividade de Papaya lethal yellowing virus (PLYV) em plantas de mamoeiro (Carica papaya) avaliadas por porcentagem de plantas infetadas e presença do vírus avaliada por ELISA. Produto Químico Plant. Inoc./ Plant. Infet. Sintomas ELISA (%) ÁLCOOL 4/4 Presente 100% CARBONATO DE SÓDIO 4/0 Ausente 0% HIPOCLORITO DE SÓDIO 4/0 Ausente 0% n-BUTANOL 4/4 Presente 100% SABÃO 4/4 Presente 100% SDS 4/0 Ausente 0% TRITON X-100 4/1 Presente 25% PLYV sem Tratamento 4/4 Presente 100% Fonte: Dados obtidos e organizados pelo autor. 37 Figura 5- Plantas de mamoeiro (Carica papaya) inoculadas com Papaya lethal yellowing vírus (PLYV) submetido ao tratamento com os seguintes produtos químicos: A) SDS; B) Carbonato de sódio; C) Triton e D) Sabão. As observações foram efetuadas 30 dias após a inoculação das misturas PLYV com os produtos químicos, demonstrando ausência de sintomas quando o vírus foi tratado com SDS (A) e carbonato de sódio (B). Fonte: Fotografias organizadas pelo autor. D C A B 38 Figura 6- Plantas de mamoeiro (Carica papaya) inoculadas com Papaya lethal yellowing vírus (PLYV) submetido ao tratamento com os seguintes produtos químicos: A) Hipoclorito de sódio; B) n- butanole C) Álcool. As observações foram efetuadas 30 dias após a inoculação das misturas PLYV com os produtos químicos, demonstraram ausência de sintomas quando o vírus foi tratado com hipoclorito de sódio (E). Fonte: Fotografias organizadas pelo autor. 4.3- Gama de Hospedeiros de Papaya lethal yellowing virus. O isolado de PLYV do município de Marco não infetou sistemicamente nenhuma das espécies das famílias: Amaranthaceae, Brassicaceae, Fabaceae, Pedaliaceae e Solanaceae, nem ocasionou lesões locais nas plantas indicadoras: C. amaranticolor; C. murale e C. quinoa. Resultados semelhantes com outras espécies vegetais foram obtidos por Lima et al. (1994), Camarço et al. (1998) e Nascimento et al. (2010). Outros estudos em casa de vegetação com mais de 30 espécies vegetais mostraram que a gama de hospedeiros do PLYV está limitada à família Caricaceae, infetando Jacaratia heterophyla, J. spinosa, Vasconcella cauliflora, V. quercifolia e V. monoica, todas pertencentes a família Caricaceae. As espécies J. heterophyla e V. monoica não são encontradas no Brasil, mas J. spinosa e V. quercifolia são encontradas no Sul e no Centro Oeste do Brasil. Outros estudos com gama de hospedeiro com 58 espécies de plantas, em casa de vegetação, mostraram que o PLYV não infetou as plantas indicadoras C. amaranticolor, C. murale, C. quinoa e Nicotiana benthamiana Domin. (NASCIMENTO et al., 2010). C B A 39 4.4- Interação do PLYV com PRSV-P em Plantas de Mamoeiro As plantas inoculadas somente com PLYV (T1) apresentaram grande perda de folhas e amarelecimento; enquanto que as inoculadas somente com o PRSV-P (T2) apresentaram os sintomas típicos do vírus, como a presença de mancha oleosa do caule e a formação do cordão de sapato nas folhas, sintomas característicos do PRSV-P em mamoeiro, em condições de campo. As plantas inoculadas com PLYV+PRSV-P (T3) apresentaram sintomas severos, sem a ocorrência da morte de plantas (TABELA 3). Nas plantas inoculadas com PLYV seguido de PRSV-P (T4), a sintomatologia foi bem severa e algumas plantas morreram, enquanto que as plantas inicialmente inoculadas com PRSV-P seguida da inoculação com PLYV (T5) apresentaram os sintomas característicos, sem a ocorrência de morte de plantas (FIGURA 7). Estudos anteriores sobre a interação sinérgica entre PLYV e PRSV-P mostraram que as plantas de mamoeiro infetadas com os dois vírus ao mesmo tempo exibiam sintomas severos, com clorose sistêmica, amarelecimento, diminuição do crescimento, necrose e morte de 50% das plantas, mostrando a forte interação sinérgica entre esses dois vírus (LIMA; MARQUES; CAMARÇO, 1993; LIMA et al., 2001). Tabela 3– Sintomatologia em plantas de mamoeiro inoculadas com Papaya lethal yellowing virus (PLYV) e Papaya ringspot virus (PRSV-P) isoladamente e em combinação. Tratamentos Sintomas* T1: PLYV ML/A/B T2: PRSV-P MS/B/CS/MAC T3: PLYV+PRSV-P MS/A/B/CS/MAC T4: PLYV-P 10 dias depois PRSV MS/A/MAC/B/Mt T5: PRSV-P- 10 dias depois PLYV MS/A/B/CS/MAC T6: SADIA SS *Sintomas nas folhas: A - Amarelecimento; ML- Mosaico Leve; MS - Mosaico Severo; B- Presença de Bolhas; MAC- Mancha anelar do caule; CS: Cordão de sapato; SS- Sem sintomas; Mt: morte das plantas. Fonte: Dados obtidos e organizados pelo autor. 40 Figura 7- Plantas de mamoeiro (Carica papaya) inoculadas com diferentes combinações, simples e mista de vírus: A) Plantas inoculadas com Papaya lethal yellowing virus (PLYV); B) Plantas inoculadas com Papaya ringspot virus (PRSV); C) Plantas inoculadas com PLYV+ PRSV; D) Plantas inoculadas com PLYV e após 10 dias com PRSV; E) Plantas inoculadas com PRSV e após 10 dias com PLYV e F) Plantas sadias mantidas como testemunhas. Fonte: Fotografias organizadas pelo autor. F E D C B A 41 4.5- Movimentação do PLYV em Plantas de Mamoeiro Os resultados dos testes de ELISA indireto com antissoro específico para PLYV usando a mesma quantidade de tecido das partes das plantas infetadas demonstraram que o vírus distribui-se uniformemente nas folhas inoculadas, caule, raízes e folhas novas. Nas folhas inoculadas o vírus pode ser detectado por ELISA indireto entre três a quatro dias após a inoculação, e somente após seis e 10 dias o vírus foi detectado no caule e nas raízes, respectivamente. Aos 15 dias após a inoculação, o vírus foi detectado nas folhas mais jovens e a planta foi infetada sistemicamente somente 25 a 30 dias depois da inoculação (FIGURA 8). Esses resultados estão de acordo com o que foi proposto por Agrios (1997) para distribuição dos vírus em plantas infetadas, indicando que o vírus move-se de célula a célula multiplicando-se em sua maioria. Após atingir as células do floema o vírus é rapidamente transportado à longa distância. De acordo com os resultados obtidos, o PLYV começa a se replicar dentro da célula inoculada e leva aproximadamente 25 a 30 dias para infectar sistemicamente a planta inteira. Conforme Matthews (1992) a infecção começa a partir da entrada do vírus na célula hospedeira e a concentração do vírus em tecidos da planta infetada aumenta em função do tempo. A infecção de uma planta por vírus envolve a replicação viral na célula inicialmente infetada, o movimento do vírus célula a célula e movimento sistêmico. O movimento sistêmico compreende três etapas: a entrada do vírus no elemento crivado, transporte via floema e saída do vírus do floema, voltando ao mesófilo (HULL, 2004; ZERBINI; CARVALHO; ZAMBOLIM, 2006). Esse transporte via floema permite que a planta seja totalmente infetada pelo vírus, à semelhança do que foi constatado com as plantas de mamoeiro infetadas pelo PLYV (FIGURA 8). 42 Figura 8 - Representação esquemática da movimentação do Papaya lethal yellowing virus (PLYV) em mamoeiro (Carica papaya) após a inoculação mecânica em folhas de plantas sadias. Seta indica a folha que foi mecanicamente inoculada. Fonte: Elaborada pelo autor, com base em resultados obtidos e esquema proposto por Agrios (1997). 2 dias 4 dias 6 dias 10 dias 15 dias 25 dias 43 4.6- Análise Molecular do PLYV A eletroforese em gel de agarose dos produtos da RT-PCR com amostras de folhas de mamoeiro infetadas pelos isolados do PLYV: provenientes de Marco, Horizonte e CEASA, e de folha de planta sadia usada como testemunha, mostraram que a reação da RT- PCR amplificou fragmentos de DNA de aproximadamente 932 pb a partir de plantas infetadas com os referidos isolados de PLYV mantidos em casa de vegetação, sem a amplificação de nenhum fragmento a partir de planta sadia (FIGURA 9), demonstrando a eficiência e rapidez na detecção do vírus por RT- PCR. Figura 9 - Resultados da eletroforese em gel de agarose de produtos da PCR com isolados de Papaya lethal yellowing virus (PLYV): M- marcador ladder 1 kb; 1- Planta sadia ; 2- Produto da amplificação do isolado PLYV-Horizonte; 3- Produto da amplificação do isolado de PLYV-Marco e 4- Produto da amplificação o isolado de PLYV-CEASA. Fonte: Fotografia organizadas pelo autor. As reações da IP-RT-PCR com “primers” descritos por Amaral, Resende e Souza Junior (2006) e antissoro específico para PLYV possibilitaram a amplificação de fragmentos de 932 pb das amostras de folhas de mamoeiro infetadas com PLYV isolado de Marco e ausência de amplificação de amostras de planta sadia (FIGURA 10). Os resultados obtidos confirmaram a eficiência da IP-RT-PCR na detecção do PLYV em plantas infetadas. Esta 250 pb 500 pb 932 pb M 1 2 3 4 1000 pb 44 inovação tecnológica tem contribuído para a detecção de diferentes vírus de plantas, sobretudo aqueles que possuem genoma do tipo RNA, entreos quais se inclui o PLYV (LIMA et al., 2011). A técnica de IP-RT-PCR constitui uma variação da RT-PCR que combina as vantagens da PCR com as especificidades da sorologia e foi desenvolvida para detecção de vários vírus com genoma do tipo RNA pertencentes aos gêneros: Comovirus, Cucumovirus, Potyvirus e Sobemovirus (LIMA et al., 2011). Esta nova adaptação da RT-PCR envolve uma prévia imunoprecipitação das partículas do vírus razão da sua designação: IP-RT-PCR. A técnica de IP-RT-PCR é um método prático, específico que reduz problemas de contaminação com o RNA da planta na extração de RNA total das plantas infetadas, não requer utilização de novos equipamentos ou mais reagentes utilizados em laboratório e combina as especificidades das propriedades sorológicas com as vantagens técnicas da amplificação dos RNAs dos vírus (LIMA et al., 2011; LIMA et al., 2012). Figura 10- Resultados da eletroforese em gel de agarose de Papaya lethal yellowing virus (PLYV) isolado de Marco: M- marcador ladder 1 kb; 1- Produto da amplificação da IP-RT- PCR de planta sadia; 2- Produto da amplificação da RT-PCR de planta sadia; 3- Produto da amplificação do isolado de PLYV de Marco por IP-RT-PCR; 4- Produto da amplificação do isolado de PLYV de Marco por RT-PCR. Fonte: Fotografia e organização elaboradas pelo autor. 2 3 4 M 1 500 pb 250 pb 932 pb 1000 pb 45 5- CONCLUSÕES Com base nos resultados obtidos, nas condições em que a pesquisa foi desenvolvida, conclui-se que: 1- Dos extratos das 23 espécies vegetais testadas sobre a infectividade de Papaya lethal yellowing vírus (PLYV) em plantas de mamoeiro (Carica papaya) apenas os extratos de aroeira, cajueiro, espirradeira, hortência, nim, pimenta e pinhão apresentaram algum efeito sobre o vírus, sendo que o extrato de aroeira foi o único que retardou o aparecimento dos sintomas do PLYV, confirmado por ELISA aos 30 dias após a inoculação; 2- Carbonato de sódio, hipoclorito de sódio e SDS inibiram a infectividade do PLYV, no entanto o SDS demonstrou possuir efeitos fitotoxicos no mamoeiro e o carbonato de sódio ocasionou pequenas pontuações esbranquiçadas nas folhas tratadas; 3- Os estudos de casa de vegetação confirmaram que a gama de plantas hospedeiras do PLYV está restrita a espécies da família Caricaceae; 4- Infecções mistas de entre Papaya lethal yellowing vírus (PLYV) e Papaya ringspot virus (PRSV) apresentam efeitos sinérgicos em plantas de mamoeiro; 5- Estudos sobre a movimentação do PLYV em plantas de mamoeiro indicam que a planta inteira é infetada sistemicamente somente 25 a 30 dias depois da inoculação; 6- A inovação tecnológica IP-RT-PCR mostrou-se eficiente para a detecção do PLYV, confirmando sua vantagem de combinar as especificidades das propriedades sorológicas com as vantagens técnicas da amplificação do RNA do vírus. 46 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGRA, M. F.; FRANÇA, P. F.; BARBOSA-FILHO, J. M. Synopsis of the plants known as medicinal and poisonous in Northeast of Brazil. Rev. Bra. Farmacogn, v. 17, p. 114-140, 2007. AGRIOS, G. N. Plant Patthology. 4 ed. New York : Academic Press, 1997.635 p. ALBUQUERQUE, J. M. Plantas medicinais de uso popular. Brasília: ABEAS, 1989. 96p. ALMEIDA, A.M.R. Detecção e quantificação de vírus pelo teste de Elisa. In: ALMEIDA, A.M.R.; LIMA, J.A.A. (Org.) Princípios e técnicas de diagnose aplicadas a fitovirologia. 1 ed. Fortaleza, v. 1, p. 63-94, 2001. ALVES, F. L. A cultura do mamão Carica papaya L. no mundo. In: MARTINS, D. dos S.; COSTA, A. de F. A cultura do mamoeiro: tecnologias de produção. Vitória: Incaper, p.13- 34, 2003. AMORIM, M. M. R.; SANTOS, L. C. Tratamento de vaginose bacteriana com gel vaginal de Aroeira (Schinus terebinthifolius Raddi): ensaio clínico randomizado. Bras Ginec Obstetr., v. 25, p.95-102, 2003. AMARAL, P. P.; RESENDE, R.O.; JÚNIOR, M. T. S. Papaya Lethal Yellowing Virus (PLYV) Infects Vasconcellea cauliflora. Fitopatologia. Brasileira, v. 31, n.5, 2006. BADILLO, V. M. Caricaceae: segundo esquema. Review Facultad de Agronomia, v. 43, p.1- 111, 1993. BARG, D. G. Plantas tóxicas. 24 p. Monografia. Faculdade de Ciências da Saúde- Universidade de São Paulo. 2004. BASTOS, C.N. Efeito do óleo de Piper aduncun sobre Crinipellis perniciosa e outros fungos fitopatogênicos. Fitopatologia Brasileira, v.22, p.441-443, 1997. BRAGA, F. G.; BOUZADA, M. L. M.; FABRI, R. L.; MATOS, M. O.; MOREIRA, F. O.; SCIO, E.; COIMBRA, E. S. Antileishmanial and antifungal activity of plants used intraditional medicine in Brazil. Journal of Ethnopharmacology, v. 111, p. 396-402, 2007. CAMARÇO, R. F. E. A., LIMA, J. A. A., PIO-RIBEIRO, G.; ANDRADE, G. P. Ocorrência do Papaya lethal yellowing vírus no município de Santa Rita, Estado da Paraíba. Fitopatologia Brasileira. v. 29, p. 423, 1996. 47 CAMARÇO, R. F. E. A. Transmissão e sobrevivência do vírus do amarelo letal do mamoeiro Carica papaya L. (Dissertação de Mestrado) - Universidade Federal do Pernambuco, Recife, 1997, 67f. CAMARÇO, R. F. E. A.; LIMA, J. A. A.; PIO-RIBEIRO, G. Transmissão e presença em solo do “Papaya lethal yellowing virus”. Fitopatologia Brasileira, v. 4, p. 453- 459, 1998. CASTILHO, E. R.; PASCHOALIN, F.L.; LYON, J.; MARMO, L. Avaliação da atividade antimicrobiana de surfactantes sobre Candida albicans. In: XII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, VIII Encontro Latino Americano de Pós-Graduação e II Encontro Latino Americano de Iniciação Científica Júnior. Anais...Universidade do Vale do Paraíba, 2008. CONOVER, R. A. A program for development of papaya tolerant to the distortion ringspot virus. Proceeding of the Florida State Horticultural Society, v.89, p. 223-229, 1976. COOK, A. A.; ZETTLER, F.W. Susceptibility of Papaya cultivars to papaya ringspot and papaya mosaic viruses. Plant Diseases Reporter, v. 54, p. 893-895, 1970. COSTA, A.S.; CARVALHO, A.M.; KAMADA, S. Constatado o mosaico do mamoeiro em São Paulo. O Agronômico, v. 21, p. 38-43. 1969. COSTA, A. F. S. Aspectos gerais do melhoramento do mamoeiro. Papaya Brasil, 2003. COSTA, A. F. S.; PACOVA, B. E. V. Caracterização de cultivares, estratégias e perspectivas do melhoramento genético do mamoeiro. In: MARTINS, D. S.; COSTA, A. F. S. A cultura do mamoeiro: tecnologia de produção. Vitória: Incaper, cap 3, p. 59- 102, 2003. COUTTS, B. A.; KEHOE, M. A.; JONES, R. A. C. Zucchini yellow mosaic virus: Contact Transmission, Stability on Surfaces, and Inactivation with Disinfectants. Plant Disease, v.97, p.765-771, 2013. DANTAS, J. L. L.; LIMA, J. F. Seleção e recomendação de variedades de mamoeiro- avaliação de linhagens e híbridos. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v.23, n.3, p. 617-621, 2001. DONINI, L.P.; FERREIRA-MOURA, I.; GUISSO, A.P.; SOUZA, J.A.; VIÉGAS, J. Preparo de lâminas foliares de aráceas ornamentais desinfestação com diferentes concentrações de hipoclorito de sódio. Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.2, n.4, p.517-522, 2005. 48 EMBRAPA. Patologia pós-colheita: frutas, olerícolas e ornamentais tropicais. Embrapa Informação Tecnológica, Brasília, 2006. FAO. FAOTAT. Agricultural Statistics Database. Rome: World Agricultural Information Centre, 2011. Disponível em <http:// www.fao.org/waicent/agricult.htm>. Acesso em: 02 maio 2011. FARIAS, A. R. N.; OLIVEIRA, A. M. G.; SANTOS FILHO, H. P.; DANTAS, J. L. L., OLIVEIRA, M. A.; SANCHES, N. M.; MEDINA, V. M.; CORDEIRO, Z. J. M. A cultura do mamão. Brasília: Embrapa- SPI, Coleção Plantar, v. 37, 1998. GOMES, R. P. Fruticultura Brasileira, 11 ed. São Paulo: Nobel, 1986, 336p. GONSALVES, D. S.; TRIPATHI, J. B. C.; SUZUKI, J. Y. Papaya Ringspot virus. The Plant Heath Instructor, 2010. GUERRA, M. P.; NODARI, R.O. Biodiversidade: aspectos biológicos, geográficos, legais e éticos. In: SIMÕES, C. M. O; SCHENKEL, E. P.; GOSMANN, G.; MELLO, J. C. P., MENTZ,
Compartilhar