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0 UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE MEDICINA DEPARTAMENTO DE PATOLOGIA E MEDICINA LEGAL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MICROBIOLOGIA MÉDICA REGULAÇÃO DAS GUANOSINA TRIFOSFATASES RHO NA REDUÇÃO DA MIGRAÇÃO DE CÉLULAS INTESTINAIS INDUZIDA POR CEPAS SELVAGEM E PADRÃO DE Escherichia coli ENTEROPATOGÊNICA PALOMA ARAÚJO CAVALCANTE FORTALEZA - CEARÁ 2013 1 PALOMA ARAÚJO CAVALCANTE REGULAÇÃO DAS GUANOSINA TRIFOSFATASES RHO NA REDUÇÃO DA MIGRAÇÃO DE CÉLULAS INTESTINAIS INDUZIDA POR CEPAS SELVAGEM E PADRÃO DE Escherichia coli ENTEROPATOGÊNICA Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Microbiologia Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Microbiologia Médica. Orientador: Prof. Dr. Aldo Ângelo Moreira Lima Coorientador: Prof. Dr. Alexandre Havt Bindá FORTALEZA – CEARÁ 2013 2 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará Biblioteca de Ciências da Saúde C364r Cavalcante, Paloma Araújo. Regulação das guanosina trifosfatases rho na redução da migração de células intestinais induzida por cepas selvagem e padrão de Escherichia coli enteropatogênica/ Paloma Araújo Cavalcante. – 2013. 92 f. : il. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Ceará. Faculdade de Medicina. Programa de Pós-Graduação em Microbiologia Médica, Fortaleza, 2013. Orientação: Prof. Dr. Aldo Ângelo Moreira Lima. 1. Escherichia coli. 2. Movimento Celular. 3. Glutamina. 4. Proteínas rho de Ligação ao GTP. I. Título. CDD 616.926 3 PALOMA ARAÚJO CAVALCANTE REGULAÇÃO DAS GUANOSINA TRIFOSFATASES RHO NA REDUÇÃO DA MIGRAÇÃO DE CÉLULAS INTESTINAIS INDUZIDA POR CEPAS SELVAGEM E PADRÃO DE Escherichia coli ENTEROPATOGÊNICA Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Microbiologia Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Mestre em Microbiologia Médica. Área de concentração: Microbiologia. Aprovada em: 28 /02 /2013. BANCA EXAMINADORA ______________________________________________________ Prof. Dr. Aldo Ângelo Moreira Lima (Orientador) Universidade Federal do Ceará – UFC ______________________________________________________ Prof a . Dr. Marcellus Henrique Loiola Pontes de Souza Universidade Federal do Ceará – UFC ______________________________________________________ Prof. Dr. Roberto César Pereira Lima Júnior Universidade Federal do Ceará – UFC ______________________________________________________ Dr a . Ila Fernanda Nunes Lima Universidade Federal do Ceará – UFC 4 A Deus, por seu amor leal e fidelidade eterna; Ao meu marido Daniel Dantas, por seu amor, apoio e incentivo; Aos meus pais, Araújo e Vilma, por todos os ensinamentos baseados no amor de Cristo; A todos amigos e pessoas que contribuíram para esse trabalho. 5 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, por seu imenso amor e bondade que excede todo conhecimento, por renovar sobre mim suas misericórdias a cada dia, por sempre estar ao meu lado e por nunca desistir de mim. Ao meu marido maravilhoso, Daniel Dantas, um presente de Deus, que me ajudou e acompanhou muito durante essa caminhada. Pelas palavras de amor e atitudes carinhosas e solidárias, jamais vou esquecer tudo o que você fez por mim. A minha filha linda, Bianca Cavalcante, que ainda dentro de mim ficou muito comportada e assim possibilitou que sua mãe concluísse seus experimentos. Aos meus pais, pois são um exemplo de vida e de amor que desejo ter para minha família. Agradeço pelos ensinamentos e pelo amor tão grande por mim. Sou muito grata a Deus por tê- los em minha vida. Ao prof. Aldo Ângelo Moreira Lima por toda sua sabedoria e ensinamentos, pela sua atenção e seu precioso tempo dispensados quando precisei. Ao prof. Alexandre Havt Bindá por sua grande ajuda e conhecimento, sua confiança, sua disposição e sua dedicação. Aos meus companheiros de laboratório, Mara Prata e Vinicios Alves. Muito obrigada por serem tão prestativos, atenciosos, cooperativos e alegres. Obrigada pelo prazer da companhia de vocês. Enfim vocês foram fundamentais para esse trabalho. À doutoranda em farmacologia, Josiane da Silva Quetz, por toda a sua colaboração, principalmente na citometria. Obrigada por sua atenção, simpatia e por estar sempre disposta a ajudar. À Dra. Ila Fernanda Nunes pelos conhecimentos e auxílio na área da microbiologia. À Dra. Marjorie Moreira Guedes por sua ajuda, alegria e convivência no laboratório. À Dra. Eunice Bobô de Carvalho pelo seu apoio e conhecimento em cultura de células. 6 A Dra. Rosemayre Freire pelo grande auxílio com a técnica e dicas sobre a microscopia confocal fundamentais para o término deste trabalho. Aos alunos de iniciação científica, Pedro Henrique Quintela, Tamara Rodrigues e Rafael Gonzalez pela companhia, incentivo e apoio principalmente nas extrações de RNA e nas reações de PCR em tempo real. Ao funcionário José Amadeus por gerenciar o laboratório e resolver todos os problemas estruturais e logísticos que ele desempenha com muita qualidade. Às técnicas Terezinha de Jesus, Luciana França e Charliene Melo por seu auxilio na preparação de soluções, cuidado e organização do laboratório. À secretária da pós-graduação em Microbiologia Médica da UFC, Carolinda Vilma Soares de Oliveira, por todo carinho, simpatia, ajuda e atenção. A todos os professores e alunos da pós-graduação em Microbiologia Médica da UFC pelo conhecimento adquirido. A todos os alunos do Laboratório de Doenças Infecciosas e a todos os funcionários do Instituto de Biomedicina que contribuíram de alguma forma para esse trabalho. Aos órgãos financiadores, FUNCAP e CNPq, pois o apoio destas instituições permitiu a realização deste trabalho. 7 “Embora ninguém possa voltar e começar do zero outra vez, qualquer um pode começar agora e ter um final inédito.” (Carl Bard) 8 RESUMO Escherichia coli enteropatogênica (EPEC) é um importante patógeno associado às doenças diarreicas. Infecções intestinais ocasionam comprometimento da barreira intestinal e um dos primeiros mecanismos de resposta à recuperação é a migração das células intestinais. As principais proteínas que regulam esse processo são as pequenas GTPases Rho, Rac1, RhoA e Cdc42A. A alanil-glutamina (Ala-Gln) estimula este processo migratório, entretanto os mecanismos envolvidos nesta resposta ainda são desconhecidos. Desse modo, investigou-se o efeito de uma cepa selvagem e padrão (E2348/69) de EPEC, e de uma cepa comensal E. coli HS na migração celular intestinal, bem como a regulação da transcrição e expressão gênica das GTPases Rho e o papel da suplementação com Ala-Gln no processo de migração na presença ou ausência da infecção. A infecção pelas cepas de EPEC e pela cepa comensal reduziram significativamente a migração celular intestinal. Entretanto, houve uma maior redução desse efeito nas células infectadas pelas cepas de EPEC quando comparado àquelas infectadas pela cepa comensal de E. coli HS. Observou-se um alto percentual decélulas necróticas, cerca de 30%, induzido pela cepa padrão de EPEC apenas nos tempo de 12 e 24 horas após infecção. A adição da Ala-Gln em células não infectadas estimulou significativamente e de modo dose dependente a migração após 24 horas. Porém, quando esse nutriente foi adicionado durante 12 e 24 horas na presença da infecção, não houve uma reversão do dano. Em relação à expressão gênica das GTPases Rho, observou-se um aumento da transcrição de rac1 nas células que haviam sido infectadas pelas cepas de EPEC e E. coli HS, bem como um aumento da transcrição de rhoA nas células infectadas pela cepa padrão de EPEC após 2 horas da infecção. Todavia, na análise das proteínas por imunofluorescência, RhoA e Cdc42 mostraram-se aumentadas nas células infectadas pela EPEC padrão quando comparado ao controle. Enquanto que as células infectadas com a cepa selvagem de EPEC observou-se um aumento de Rac1 e redução de RhoA. Esses dados mostraram que a migração das células intestinais é reduzida principalmente pelas cepas patogênicas de EPEC, ao regular a transcrição e expressão gênicas das proteínas GTPases Rho. A suplementação com Ala-Gln em células intestinais promoveu a migração celular apenas na ausência da infecção. Palavras-chave: E. coli enteropatogênica, migração intestinal celular, Alanil-Glutamina, pequenas GTPases Rho. 9 ABSTRATC Enteropathogenic Escherichia coli (EPEC) is an important pathogen associated with diarrheal diseases. Intestinal infections cause impairment of the intestinal barrier and one of the earliest response mechanisms to recover is migration of the intestinal cells to cover the injured area. The key proteins that regulate cell migration are small Rho GTPases, Rac1, Cdc42 and RhoA. The alanyl-glutamine (Ala-Gln) increases this migration process, however the mechanisms involved in this response are still unknown. Thus, we investigated the effect of a wild type strain and standard (E2348/69) of EPEC strain and a commensal E. coli HS on intestinal cell migration, as well as transcriptional regulation and gene expression of Rho GTPases and the role of supplemental Ala-Gln in the migration process in the presence or absence of infection. Infection by EPEC strains and commensal E. coli HS significantly reduced intestinal cell migration. However, this effect was more pronounced in cells infected by the strains of EPEC compared to those infected by the commensal strain of E. coli HS. We observed a high percentage of necrotic cells, about 30%, induced only by EPEC strain pattern 12 and 24 hours after infection. The addition of Ala-Gln in uninfected cells significantly stimulated in a dose dependent migration after 24 hours. However, when this nutrient was added over 12 and 24 hours in the presence of infection, there was no reversion of the damage. Regarding the gene expression of Rho GTPases, we observed an increase in transcription of rac1 in cells that had been infected by the strains of EPEC and E. coli HS as well as an increase in rhoA transcription in cells infected with EPEC strain pattern at 2 hours after infection. However, the analysis of proteins by immunofluorescence, RhoA and Cdc42 shown to be elevated in cells infected with EPEC pattern when compared to the control. Whereas cells infected with wild EPEC strain was observed an increase of Rac1 and reduction of RhoA. These data showed that cell migration is reduced mainly by the intestinal pathogenic strains of EPEC, in regulating gene transcription and expression of the protein Rho GTPases. Supplementation with Ala-Gln in intestinal cells only promoted cell migration in the absence of infection. Keywords: Enteropathogenic E. coli, intestinal cell migration, Alanyl-Glutamine, small Rho GTPases. 10 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 - Diferentes tipos de padrão de aderência das cepas de EPEC .............................. 24 FIGURA 2 - Processo de renovação do epitélio intestinal ....................................................... 29 FIGURA 3 - Etapas da migração celular .................................................................................. 31 FIGURA 4 - Ciclo das GTPases Rho e sua regulação pelas proteínas GEF, GAP e GDI ....... 32 FIGURA 5 - Vias de utilização da glutamina nas células de mamíferos ................................. 34 FIGURA 6 - Células IEC-6 vistas em microscópio óptico invertido no aumento de 100X .... 41 FIGURA 7 - Células HEp-2 vistas em microscópio óptico invertido no aumento de 100X .... 42 FIGURA 8 - Detecção dos genes de diagnóstico de cepas diarreiogênicas de E. coli ............. 53 FIGURA 9 - Detecção dos genes de virulência das cepas de EPEC ........................................ 54 FIGURA 10 - Padrão de aderência localizada das cepas de EPEC .......................................... 55 FIGURA 11 - Curva dose resposta das cepas bacterianas EPEC E2348/69 e E. coli HS na migração celular intestinal após 6 horas do término da infecção. ............................................ 56 FIGURA 12 - Curva tempo efeito das cepas bacterianas EPEC E2348/69, EPEC selvagem e HS na dose de 10 6 UFC/mL na migração das células intestinais ............................................. 57 FIGURA 13 - Curva tempo efeito das cepas bacterianas EPEC E2348/69, EPEC selvagem e HS na concentração 10 6 UFC/mL no percentual de apoptose em células intestinais............... 58 FIGURA 14 - Curva tempo efeito das cepas bacterianas EPEC E2348/69, EPEC selvagem e HS na concentração 10 6 UFC/mL no percentual de necrose das células intestinais ................ 59 FIGURA 15 - Curva dose resposta da suplementação com Ala-Gln na migração intestinal celular na ausência de bactérias após 24 h da sua adição ......................................................... 60 FIGURA 16 - Efeito da adição da Ala-Gln 5 mM nas células intestinais que foram infectadas pelas cepas patogênicas de EPEC ............................................................................................. 61 FIGURA 17 - Histograma do efeito da suplementação com Ala-Gln 5mM quando as células intestinais foram infectadas pelas cepas patogênicas de EPEC ................................................ 62 FIGURA 18 - Efeito da adição da Ala-Gln 5 mM no percentual de necrose celular 12 e 24 horas após o término da infecção ............................................................................................. 63 11 FIGURA 19 - Expressão da transcrição do gene rac1 nas células intestinais após 2 horas do término da infecção .................................................................................................................. 64 FIGURA 20 - Expressão da transcrição do gene rhoA nas células intestinais após 2 horas do término da infecção. ................................................................................................................. 64 FIGURA 21 - Imunofluorescência da proteína RhoA observada através da microscopia confocal após 2 horas do término da infecção .......................................................................... 66 FIGURA 22 - Imunofluorescência da proteína Rac1 observada através da microscopia confocal após 2 horas do término da infecção .......................................................................... 67 FIGURA 23 - Imunofluorescência da proteína Cdc42 observada através da microscopia confocal após 2 horas do término da infecção .......................................................................... 68 12 LISTA DE QUADROS QUADRO 1 - Efeitos da glutamina no intestino e vias de sinalizações envolvidas ................ 38 13 LISTA DE TABELAS TABELA 1 - Genes alvo, primers utilizados e tamanhosdos produtos obtidos no diagnóstico molecular das cepas de E. coli diarreiogênicas ........................................................................ 46 TABELA 2 - Genes alvo, primers utilizados e tamanhos dos produtos obtidos dos genes de virulência de EPEC. .................................................................................................................. 47 TABELA 3 - Genes alvo, sequência dos primers utilizados e condições da qPCR ................. 53 TABELA 4 – Intensidade da fluorescência das proteínas GTPases Rho em relação ao controle não infectado após 2 horas do término da infecção .................................................................. 65 14 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS A/E Lesão intestinal denominada attaching and effacing AA Padrão de aderência agregativa aaiC Gene cromossomial da Escherichia coli enteroagregativa aatA Gene codificador da proteína do complexo secretor da dispersina da EAEC ADP Adenosina difosfato AIEC E. coli aderente e invasiva Ala-Gln L-alanil-L-glutamina ANOVA Análise de variância Arp 2/3 Proteínas relacionadas à actina 2/3 ATCC American Type Collection Culture ATP Adenosina trifosfato BFP Bundle-forming pilus BLAST Basic Local Alignment Search Tool Caco-2 Linhagem celular derivada de carcinoma de cólon humano cDNA Ácido desoxirubonucléico complementar CE Ceará CTRL Controle de células não infectado DA Padrão de aderência difusa DAEC E. coli difusamente aderente DALY Inabilidade ajustada em anos de vida (Disability-adjusted life year) DMEM Meio de Eagle modificado por Dulbecco DNA Ácido desoxirubonucléico dNTPs Deoxinucleotídeos eae Gene cromossomial da E. coli enteropatogênica EAEC E. coli enteroagregativa EAF EPEC adherence factor EC50 Concentração necessária para promover 50% do efeito máximo EDTA Ácido etilenodiamino tetra-acético EHEC E. coli enterohemorrágica EIEC E. coli enteroinvasiva ELISA Ensaio imunoenzimático (Enzyme-linked immunosorbent assay) eltB Gene codificador da toxina termolábio de E. coli enterotoxigênica 15 EPEC E. coli enteropatogênica ERK1/2 Extracellular signal-related kinase 1/2 Esp EPEC protein secreted estA Gene codificador da toxina termoestável de E. coli enterotoxigênica ETEC E. coli enterotoxigênica ExPEC E. coli responsáveis por causar doenças extraintestinais F Primer senso FAS fluorencent actin stain FIOCRUZ Fundação Oswaldo Cruz FITC Isotiocianato de fluoresceína (fluorescein isothiocyanate) GAPs Proteínas ativadoras de GTPases GDIs Iinibidores da dissociação de guanina GDP Guanosina difosfato GEFs Fatores de troca do nucleotídeo guanina Gln L-glutamina GO Glutationa oxidada GR Glutationa reduzida GTP Guanosina trifosfato GTPases Guanosina trifosfatases HeLa Linhagem celular derivada de carcinoma cervical humano HEp-2 Linhagem celular derivada de carcinoma laríngeo humano IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IEC-6 Linhagem celular epitelial derivada de criptas do jejuno de ratos normais IL-10 Interleucina-10 IL-6 Interleucina-6 IL-8 Interleucina-8 ipaH Gene do plasmídeo de invasão da E. coli enteroinvasiva JNK c-jun N-terminal kinase LA Padrão de aderência localizada LAL Padrão de aderência localizada-like LEE Locus of enterocyte effacement LPS Lipopolissacarídeo MAEC E. coli associada a meningite e sepse 16 MAL-ED Projeto internacional: The Interactions of Malnutrition & Enteric Infections: Consequences for Child Health and Development Map Proteína efetora da E. coli enteropatogênica Mitochondrion-associated protein MAPK Mitogen-activated protein kinase MEM Meio de Eagle modificado MTOC Centro organizador de microtúbulos NADPH Nicotinamide adenine dinucleotide phosphate NF-kB Fator nuclear transcripcional kappa B N-WASP Proteína neural da síndrome de Wiskott-Aldrich OD Densidade óptica ODC Ornitina descarboxilase PAMPS Padrões moleculares associados a patógenos PBS Tampão salina fosfato (phosphate-buffered saline) PCR Reação da polimerase em cadeia Pi Fosfato inorgânico PI Iodeto de propídio PI3-K Phosphoinositide 3-kinase qPCR Reação da polimerase em cadeia quantitaviva R Primer antisenso RIE-1 Linhagem celular derivada de células epiteliais do intestino delgado de ratos RNA Ácido ribonucléico RPM Rotações por minuto SGLT1 Cotransportador de sódio/glicose 1 SptP Salmonella protein tyrosine phosphatase SST3 Sistema de secreção do tipo 3 STEAC E. coli agregativa produtora de Shiga-toxina stx Gene que codifica a proteína Shiga-toxina T84 Linhagem celular epitelial derivada de adenocarcinoma de cólon humano TGI Trato gastrointestinal Tir Translocated intimin receptor TLR-5 Receptor Toll-like-5 TRO Terapia de reidratação oral UFC Unidade formadora de colônia UNICEF The United Nations Children’s Fund 17 UPEC E. coli uropatogênica WHO World Health Organization YopE Yersinia outer protein E YopO Yersinia outer protein O YopT Yersinia outer protein T YpkA Yersinia protein kinase A 18 LISTA DE SÍMBOLOS β beta kappa o C grau Celsius cm 2 centímetros quadrados CO2 gás carbônico kDa Kilodalton mm 2 milímetros quadrados mM milimolar mL mililitros L microlitros g microgramas pb pares de base O2 oxigênio % por cento 19 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 21 1.1 Doenças diarreicas ............................................................................................................ 21 1.2 Escherichia coli ................................................................................................................. 23 1.3 Escherichia coli enteropatogênica (EPEC) ..................................................................... 24 1.3.1 Classificação e diagnóstico ............................................................................................ 24 1.3.2 Epidemiologia ................................................................................................................. 26 1.3.2 Fisiopatologia ................................................................................................................. 27 1.4 Epitélio gastrointestinal ................................................................................................... 29 1.5 Migração celular ............................................................................................................... 31 1.6 Glutamina e Alanil-Glutamina ........................................................................................ 35 2 PERGUNTAS DE PARTIDA ............................................................................................. 39 3 HIPÓTESES ........................................................................................................................ 39 4 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 40 4.1 Objetivo geral .................................................................................................................... 40 4.1 Objetivos específicos ......................................................................................................... 40 5 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................................ 41 5.1 Microrganismos ................................................................................................................41 5.2 Cultivo celular ................................................................................................................... 41 5.2.1 Linhagens celulares ....................................................................................................... 41 5.2.2 Preparação e contagem celular .................................................................................... 43 5.3 Diagnóstico molecular das cepas de EPEC e detecção de genes de virulência ........... 44 5.4 Protocolo de infecção ........................................................................................................ 47 5.5 Padrão de aderência bacteriano ...................................................................................... 48 5.6 Migração celular intestinal .............................................................................................. 48 5.7 Análise em citometria de fluxo ........................................................................................ 49 5.8 Avaliação da transcrição dos genes rhoA, rac1 e cdc42 ................................................ 50 20 5.8.1 Extração do RNA total celular ..................................................................................... 50 5.8.2 Síntese de cDNA ............................................................................................................. 51 5.8.3 PCR quantitativo em tempo real (qPCR) ................................................................... 51 5.9 Avaliação da expressão qualitativa da expressão das proteínas GTPases Rho por microscopia confocal .............................................................................................................. 52 5.10 Análise estatística ............................................................................................................ 53 6 RESULTADOS .................................................................................................................... 54 6.1 Diagnóstico molecular das cepas de EPEC e detecção de genes de virulência ........... 54 6.2 Padrão de aderência bacteriano ...................................................................................... 55 6.3 Efeito das cepas bacterianas na migração de células intestinais .................................. 56 6.4 Efeito das cepas bacterianas na apoptose/necrose das células intestinais ................... 58 6.5 Efeito da suplementação com alanil-glutamina na migração e na apoptose/necrose das células intestinais ............................................................................................................. 60 6.6 Transcrição dos genes rhoA, rac1 e cdc42 ...................................................................... 64 6.7 Avaliação da expressão qualitativa da expressão das proteínas GTPases Rho por microscopia confocal .............................................................................................................. 66 7 DISCUSSÃO ........................................................................................................................ 70 8 CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 78 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 79 21 1 INTRODUÇÃO 1.1 Doenças diarreicas As doenças diarreicas representam um dos principais problemas de saúde pública acometendo, especialmente, crianças menores de cinco anos nos países em desenvolvimento. (BLACK et al., 2010; GUERRANT et al., 2002; KEUSCH et al., 2006). Essas enfermidades apresentam-se como a segunda causa de mortalidade na faixa etária de 0-5 anos, sendo responsáveis pela morte de 1,5 milhões de crianças todos os anos (World Health Organization/The United Nations Children’s Fund – WHO/UNICEF, 2009). A grande maioria desses óbitos ocorre em países em desenvolvimento (BLACK et al., 2010). Uma medida para avaliar o impacto global das doenças diarreicas foi relatada pela WHO denominada DALY (disability-adjusted life years, inabilidade ajustada em anos de vida). Sua avaliação é baseada na quantidade de anos de vida vividos em condição inferior de saúde plena, sendo uma DALY equivalente à perda de um ano de vida saudável As doenças diarreicas atingiu a segunda colocação na lista das enfermidades mais impactantes no mundo, perdendo apenas para as doenças respiratórias (WHO, 2004). Análises recentes demonstram que nas últimas décadas houve um decréscimo significativo da mortalidade infantil por diarreia, devido principalmente ao advento da Terapia de Reidratação Oral (TRO). Entretanto, a contribuição das doenças diarreicas à taxa de morbidade para a saúde infantil ainda se apresenta alta e constante (FISCHER WALKER et al., 2012). No Brasil o índice da mortalidade infantil ocasionados por diarreia era de 17,3% nos anos 80, entretanto houve uma redução desta taxa de aproximadamente quatro vezes nos anos de 2003-2005 (FIOCRUZ, 2008). Tal declínio deveu-se principalmente à intervenção com a TRO (MUNOS et al., 2010; OLIVEIRA; LATORRE, 2010) e também ao maior investimento governamental garantindo o acesso à água encanada e saneamento básico (IBGE, 2011). No entanto, a proporção de mortes por diarreia na região Nordeste ainda é alta quando comparada à região Sudeste, mostrando assim as desigualdades entre as regiões brasileiras principalmente em relação ao acesso e qualidade da atenção à saúde (FIOCRUZ, 2008). 22 O alto índice de episódios diarreicos pode ocasionar danos ao desenvolvimento infantil, visto que a absorção de nutrientes durante os primeiros dois anos de vida é fundamental para garantir um apropriado desenvolvimento físico, cognitivo e escolar (PETRI et al., 2008). Além do grande impacto sobre os anos de vida saudáveis perdidos e nas funções cognitivas, outro fator que representa grande desafio à saúde pública é o ciclo vicioso diarreia-desnutrição (LIMA et al., 2000; PETRI et al., 2008; SANTOS et al., 2008; WALKER et al., 2007). Neste ciclo, doenças diarreicas ou infecções entéricas predispõem o hospedeiro para um quadro de desnutrição, pois limitam sua capacidade absortiva. Por outro lado indivíduos desnutridos são mais gravemente afetados pelas infecções intestinais (CAUFIELD et al., 2004; GUERRANT et al., 2008; LIMA et al., 2000; MOORE et al., 2000, 2010). Segundo a WHO/UNICEF (2009) a diarreia é definida pela a presença de três ou mais evacuações líquidas/pastosas por dia. A etiologia das doenças diarreicas pode ser de origem infecciosa e não infecciosa. Dentre as causas das diarreias não infecciosas, existem aquelas relacionadas à intolerância alimentar (SKYPALA, 2011; WADDELL, 2011), as diarreias devido ao uso de medicamentos (SHAFI; BRESALIER, 2010; TERAMURA-GRÖNBLAD et al., 2010) e as diarreias decorrentes de condições patológicas como a doença de Crohn e a colite ulcerativa (VILELA et al., 2012; WILKINS et al., 2011). Uma variedade de microorganismos está associada às diarreias de causa infecciosa, como bactérias, vírus e protozoários (BRESSE et al., 2012; MANDOMANDO et al., 2007; QU et al., 2012). Os agentes virais possuem uma alta prevalência nos países desenvolvidos, e sua incidência é associada a características sazonais, um dos principais agentes etiológicos virais é o rotavírus (TATE et al., 2012; WILHELMI DE CAL; MOHEDANO DEL POZO; SÁNCHEZ-FAUQUIER, 2008). Nos países em desenvolvimento, os principais patógenos associados às doenças diarreicas são as bactérias, seguido por vírus e parasitas intestinais. Dentre as bactérias, uma variedade de espécies é descrita como importantes causadores de diarreia, como as cepas patogênicas de Escherichia coli, Shigella spp., Campylobacter spp. e Salmonella spp., dentre outros (GOMES et al., 1991; MORENO et al.,2010; NWEZE, 2010; PODEWILS et al., 2004). http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Wilhelmi%20de%20Cal%20I%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=19100169 http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Mohedano%20del%20Pozo%20RB%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=19100169 http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Mohedano%20del%20Pozo%20RB%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=19100169 23 1.2 Escherichia coli Escherichia coli é um bacilo móvel, Gram-negativo, anaeróbio facultativo e pertence a maior e mais heterogênea família bacteriana, Enterobacteriaceae. As enterobactérias são encontradas no solo, água e vegetação, bem como fazem parte da microbiota intestinal de muitos animais e dos seres humanos (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2006). E. coli tipicamente coloniza o trato gastrointestinal de crianças após poucas horas do nascimento. De modo geral esse microrganismo possui uma relação de benefício mútuo com seu hospedeiro. As cepas comensais de E. coli concentram-se principalmente na região mucosa do cólon dos mamíferos, sendo a principal bactéria que coloniza essa área (KAPER; NATARO; MOBLEY, 2004). Sugere-se que essa alta taxa de colonização seja por sua capacidade de utilizar como fonte nutricional o gliconato de sódio presente no cólon com mais avidez que outros microgarnismos (SWEENEY, 1996). E. coli é um microrganismo altamente versátil e também intensamente estudado. O seu genoma possui grande flexibilidade, tendo em vista que diferentes cepas de E. coli podem compartilhar somente 60-70% de sua capacidade de codificação (DOBRINDT et al., 2010). Essa variação pode ser decorrente de transferência horizontal de genes e própria perda de informação genética. Essas diferentes cepas adquiriram fatores de virulência específicos, frequentemente localizados em elementos genéticos transmissíveis, como ilhas genômicas, bacteriófagos, plasmídeos ou transposons e, assim, podem ser facilmente transferidos para outras bactérias (HACKER; HENTSCHEL; DOBRINDT, 2003; JOHNSON; NOLAN, 2009). Os fatores de virulência da E. coli possibilitam uma adaptação a novos locais de colonização, aumentando o espectro de doenças causadas por este microrganismo. A partir da combinação bem sucedida desses fatores de virulência surgiram estirpes de E. coli patogênicas ou também denominados de patotipos que são capazes de causar doenças em pessoas saudáveis. (KAPER; NATARO; MOBLEY, 2004). As principais doenças as quais esses patotipos de E. coli estão relacionados são: doenças intestinais/diarreicas, infecções do trato urinário, sepse e meningite. As E. coli responsáveis por causar doenças extraintestinais são classificadas como ExPEC, como a E. coli uropatogênica (UPEC) e E. coli associada a meningite e sepse (MAEC). Em relação as E. coli diarreiogênicas, existem seis tipos bem definidos: EPEC – E. coli enteropatogênica, EHEC - E. coli enterohemorrágica, EAEC – E. coli enteroagregativa, EIEC - E. coli http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Hacker%20J%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=12907788 http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Hentschel%20U%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=12907788 http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Dobrindt%20U%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=12907788 24 enteroinvasiva, ETEC - E. coli enterotoxigênica e DAEC - E. coli difusamente aderente (KAPER; NATARO; MOBLEY, 2004). Recentemente, Clements e colaboradores (2012) sugerem a expansão dessa classificação com mais dois patotipos, AIEC – E. coli aderente e invasiva e STEAC – E. coli agregativa produtora de Shiga-toxina. Esta última foi responsável por um surto de diarreia associada à síndrome hemolítica urêmica na Europa em 2011. EPEC foi o primeiro patotipo a ser descrito e continua sendo um importante agente etiológico de diarreia infantil em todo mundo, com elevada prevalência em ambientes hospitalares e comunidades carentes (WHO, 2002), bem como também é relatado ser uma das principais causas de diarreia persistente (ABBA et al., 2009). 1.3 Escherichia coli enteropatogênica (EPEC) 1.3.1 Classificação e diagnóstico EPEC foi inicialmente classificada com base na sua identificação por meio de sorotipagem dos antígenos O e H. Com um maior conhecimento sobre esse patógeno sua classificação e diagnóstico é baseada principalmente através da detecção de dois genes de virulência, um cromossomal - eae e um plamidial - bfpA (bundle-forming pilus) por meio de métodos moleculares (OCHOA et al., 2008). De acordo com Trabulsi e colaboradores (2002), existem dois tipos de EPEC, típica e atípica. A característica principal das cepas típicas é a presença dos genes eae e bfpA e ausência do gene stx (shiga toxin) encontrado em EHEC, enquanto que a EPEC atípica é marcada pela presença do gene eae e ausência dos genes bfpA e stx. O diagnóstico de EPEC também pode ser realizado por métodos de fenotipagem, utilizando culturas de células e imunofluorescência. EPEC induz um fenótipo A/E (attaching and effacing) caracterizado pela destruição das microvilosidades e aderência íntima entre a bactéria e o epitélio intestinal com acúmulo de actina polimerizada abaixo do local de aderência, formando uma estrutura de pedestal. Esse fenótipo A/E é detectado pelo teste de FAS (fluorencent actin stain), no qual o conjugado de faloidina-rodamina se liga as estruturas de F-actina, considerado positivo quando se observam manchas puntiformes de intensa fluorescência (NATARO; KAPER, 1998). 25 Outro teste fenotípico para o diagnóstico de EPEC é o padrão de aderência bacteriana às células HEp-2 ou HeLa, células humanas de linhagem de carcinoma laríngeo e de colo uterino, respectivamente (NATARO; KAPER, 1998). Quatro tipos de padrão de aderência foram descritos e relacionados com EPEC típicas e atípicas (FIGURA 1). As cepas típicas apresentam principalmente um padrão de aderência localizado (LA – localized adherence), sendo este padrão associado com a expressão do gene bfpA. Diferentemente, as cepas atípicas apresentam mais de um padrão de aderência: aderência localizada-like - LAL (localized adherence-like), aderência difusa - DA e aderência agregativa - AA. O padrão DA também é observado em cepas de EHEC e o padrão AA é característico de cepas EAEC (TRABULSI; KELLER; GOMES, 2002). Figura 1 – Diferentes tipos de padrão de aderência das cepas de EPEC. Fonte: Trabulsi; Keller; Gomes (2002). LA – aderência localizada; DA – aderência difusa; AA – aderência agregativa e LAL – aderência localizada-like. 26 1.3.2 Epidemiologia Inicialmente, EPEC foi um importante patógeno encontrado em crianças com diarreia em países desenvolvidos, entretanto sua prevalência nessa população decaiu com o passar do tempo. Em contraste, nos países em desenvolvimento esse patotipo ainda é um dos principais causadores de diarreia infantil principalmente em crianças menores de dois anos (OCHOA et al., 2008). A frequência desse patógeno é dependente de fatores como idade, método de diagnóstico utilizado, população e região estudadas. A prevalência média global em comunidades é de 8,8%, em ambiente ambulatorial é de 9,1% e no hospitalar de 15,6% (WHO, 2002). No Brasil esses resultados também foram semelhantes. Estudos realizados na Bahia e São Paulo revelaram uma frequência de cerca de 10% de EPEC nas fezes de crianças com diarreia relacionada, principalmente, com baixo nível socioeconômico (ARAÚJO et al., 2007; BUERIS et al., 2007; DE MOURA et al., 2012; FRANZOLIN et al., 2005). A associação significativa desse microrganismo em crianças com diarreia quando comparado com controles é observada em muitos estudos (ALIKHANI; MIRSALEHIAN; ASLANI, 2006; ARAÚJO et al., 2007; BUERIS et al., 2007). Entretanto, outros pesquisadores não encontraram diferença na prevalência desse microrganismo entre casos e controles (OCHOA et al., 2011; RAJENDRAN et al., 2010). Nos paísesem desenvolvimento a colonização de enteropatógenos em crianças é alta. A infecção nesses casos dependerá de fatores como: suscetibilidade do hospedeiro, fatores de virulência do microrganismo e fatores ambientais (OCHOA; CONTRERAS, 2011). Recentes estudos mostram uma maior prevalência das cepas atípicas de EPEC tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento (ARAÚJO et al., 2007; OCHOA et al., 2008). Entretanto, ainda há certa controvérsia sobre a patogenicidade desse microrganismo, pois alguns trabalhos não encontraram diferença significativa na prevalência desse patógeno em crianças com ou sem diarreia (OCHOA; CONTRERAS, 2011; RAJENDRAN et al., 2010). 27 1.3.3 Fisiopatologia A principal característica do mecanismo fisiopatológico da EPEC reside na capacidade de provocar a lesão attaching and effacing – A/E. Este fenótipo é caracterizado pela destruição das microvilosidades e aderência íntima entre as bactérias e o epitélio intestinal. Mudanças marcantes do citoesqueleto celular são observadas logo abaixo das bactérias aderidas, como o acúmulo de actina polimerizada, formando uma estrutura de pedestal (NATARO; KAPER, 1998). Donnenberg e Kaper (1992) sugeriram didaticamente que a lesão A/E ocorre em três estágios: aderência inicial a célula hospedeira, produção de proteínas efetoras e sua translocação para o citoplasma celular e a íntima aderência com a formação da estrutura de pedestal. O contato inicial entre EPEC e a célula hospedeira é mediado por fímbrias do tipo IV, expressas na superfície bacteriana e denominadas bundle forming pili (BFP). Essas fimbrias promovem a formação de microcolônias com aderência localizada em culturas de células epiteliais (GIRÓN; HO; SCHOOLNIK, 1991). Os genes que codificam BFP estão localizados no plasmídio EAF (EPEC adherence factor) (BALDINI et al., 1983), que contém 14 genes (SOHEL et al., 1996; STONE et al., 1996). O gene bfpA codifica a principal subunidade pili de BFP (DONNENBERG et al., 1992). Após a aderência inicial, diversas proteínas efetoras de EPEC (Esp – EPEC protein secreted) são secretadas para dentro da célula do hospedeiro por meio do SST3 (Sistema de secreção do tipo 3). Existem diversas proteínas efetoras com EspA, EspB, EspD, EspF, dentre outras que alteram uma variedade de vias de sinalização celular (KAPER; NATARO, 1998). A proteína EspA, um monômero que se polimeriza e forma uma estrutura semelhante a uma agulha, na qual moléculas efetoras serão introduzidas para o citoplasma da célula hospedeira (KNUTTON et al., 1998); EspB e EspD, formam um poro na membrana celular do hospedeiro (IDE et al., 2001) e EspF, atua na mitocôndria, onde desempenha um papel na morte celular (NOUGAYREDE; DONNENBERG, 2004). Grande parte dessas proteínas é codificada em uma ilha cromossômica de patogenicidade, conhecida como o locus of enterocyte effacement - LEE (JARVIS et al., 1995; KENNY; FINLAY, 1995). 28 Outro importante fator que participa da adesão íntima de EPEC com as células epiteliais é a intimina, produto do gene eae, uma proteína de membrana externa de peso molecular igual a 94 kDa (JERSE; KAPER, 1991). Esta proteína liga-se ao receptor Tir (translocated intimin receptor), também inserido pelo sistema de secreção do tipo III. O domínio citoplasmático de Tir interage com a proteína adaptadora Nck que sinaliza as moléculas N-WASP (Proteína neural da síndrome de Wiskott-Aldrich) e o complexo Arp 2/3 (Proteínas relacionadas à actina 2/3). Assim, o citoesqueleto de actina é reorganizado e resulta na formação da estrutura de pedestal e da lesão A/E (GRUENHEID et al., 2001). EPEC possui diversos fatores de virulência e, nas últimas décadas, a identificação e caracterização desses fatores contribuiu para o melhor entendimento de como esse patógeno está relacionado com indução da diarreia. A própria lesão A/E na qual há alteração e diminuição das microvilosidades ocasiona uma perda na capacidade absortiva das células intestinais e consequente diarreia (LAPOINT; CONNOR; BURET, 2009). A alteração do transporte de eletrólitos e água é outro mecanismo que possivelmente desencadeia um início rápido dos sintomas da diarreia causados por EPEC. Muitos estudos mostram que EPEC altera diferentes transportadores, ocasionando um desequilíbrio na troca de Na + /Cl - e redução da absorção de água (LAPOINT; CONNOR; BURET, 2009). Dean e colaboradores (2006) observaram que EPEC é capaz de inativar rapidamente o cotransportador de sódio/glicose SGLT1, que tem um papel crucial na absorção de fluidos no intestino normal. As proteínas do tipo junções firmes ou do inglês tight junctions são importantes para a manutenção do equilíbrio da barreira intestinal epitelial e também são afetadas pela EPEC. Este patógeno altera a distribuição dessas proteínas na célula e leva ao aumento da permeabilidade celular contribuindo para a doença diarreica (ZHANG et al., 2012). A resposta imunológica do hospedeiro contra EPEC estaria relacionada com a severidade e duração da doença diarreica (LAPOINT; CONNOR; BURET, 2009). EPEC possui padrões moleculares associados a patógenos (PAMPS) que se liga a receptores Toll- like nas células intestinais. Dados recentes mostraram que a flagelina de EPEC ativa essa resposta imunológica por meio da ativação do receptor Toll-like-5 (TLR-5) com a produção de IL-8, um potente quimiotático de neutrófilos (KHAN et al., 2008). Sharma e 29 colaboradores (2005) observaram que a resposta inflamatória em células intestinais desencadeada pela EPEC resulta de um balanço entre vias proinflamatórias e anti- inflamatórias, e tal controle poderia ser importante para uma maior sobrevivência desse patógeno não invasivo. Contudo, o resultado desse equilíbrio é a indução da resposta proinflamatória, devido principalmente pela ativação de NF-kB e de MAPK-ERK1/2 (Mitogen-activated protein kinase- Extracellular signal-related kinase 1/2), com a produção de IL-8, que resulta numa importante infiltração de neutrófilos na lâmina própria, nas criptas e no lúmen intestinal (SAVKOVIC et al., 2001; SAVKOVIC et al., 2005). Apesar do conhecimento sobre a diversidade de efeitos no qual a EPEC atua no hospedeiro, o mecanismo completo pelo qual esse patógeno induz a diarreia ainda não foi totalmente elucidado (LAPOINT; CONNOR; BURET, 2009). 1.4 Epitélio gastrointestinal O epitélio gastrointestinal é coberto de células epiteliais intestinais que estão dispostas em uma monocamada e interligadas na região apical pelas proteínas de tight junctions estabelecendo uma barreira física que separa o lúmen intestinal, um ambiente hostil, do meio interno do organismo (TURNER, 2009). Além de atuar como uma barreira física, as células epiteliais sintetizam enzimas digestivas para absorção de nutrientes, possuem funções imunológicas, como reconhecimento e captação de antígenos, secretam moléculas antimicrobianas e modulam a resposta imune na mucosa intestinal. Para exercer essas atividades existem várias subpopulações de células especializadas, que incluem as células M, células caliciformes, células de Paneth, células endócrinas e enterócitos (GOTO, KIYONO, 2012). Esses diferentes tipos celulares constituem a barreira epitelial que está em constante renovação celular. Tal processo acontece entre dois a sete dias e compreende diferentes etapas, como a proliferação das células-tronco intestinais, migração celular ao longo da região das criptas até o topo dos vilos, diferenciação e a morte celular por apoptose (FIGURA 2) (CROSNIER; STAMATAKI; LEWIS, 2006). 30 Figura 2 – Processo de renovação do epitélio intestinal. A – Células tronco na base da cripta iniciam a proliferação celular, no qual estas células progenitoras proliferarivas migram em direção ao topo do epitélio e se diferenciam. B – Processo de diferenciação das célulastronco. Fonte: Adaptado de Reya; Clevers (2005). A manutenção da barreira intestinal é de responsabilidade primordial da via transcelular através da integridade da membrana plasmática das células epiteliais, a qual é impermeável a vários produtos hidrossolúveis devido à ausência de transportadores específicos. Assim, um dano direto nessas células causa uma perda significativa da função barreira epitelial. Entretanto, é igualmente importante que a via paracelular esteja intacta (TURNER, 2009). O comprometimento da barreira intestinal é observado em várias desordens intestinais, como nas doenças inflamatórias intestinais, infecções por enteropatógenos, doença celíaca, dentre outros. Esses fatores podem causar desequilíbrio da homeostase intestinal, pois toxinas e produtos imunogênicos são absorvidos e ocasionam alterações da resposta imune do hospedeiro. Assim, é necessário que o processo de regeneração da barreira intestinal seja rápido para garantir a homeostase intestinal (STURM; DIGNASS, 2008). O trato gastrointestinal (TGI) possui boa capacidade de regeneração mesmo após dano intenso. O processo de recuperação intestinal acontece através de três mecanismos. O primeiro é a migração das células viáveis para recobrir a área desnuda do local da lesão sem 31 haver divisão celular, fenômeno denominado de restituição celular. Essas células epiteliais formam estruturas semelhantes à pseudópodes com a reorganização do citoesqueleto. O segundo mecanismo é a proliferação celular e o terceiro é a maturação e diferenciação celular a fim de garantir as diversas funções da mucosa intestinal (DIGNASS, 2001). Este processo requer uma quantidade alta de energia e um dos principais nutrientes das células intestinais é a glutamina (LABOW; SOUBA, 2000). 1.5 Migração celular Na renovação ou na resposta ao dano celular intestinal um dos primeiros mecanismos do organismo é migração celular (BLIKSLAGER et al., 2007). Dois importantes processos responsáveis pela migração celular são a polarização da célula e a formação de extensões citoplasmáticas na direção da migração (FIGURA 3). A polarização celular é uma resposta a um estímulo extracelular no qual a célula reorganiza e redistribui proteínas e organelas de maneira assimétrica. As extensões citoplasmáticas podem ser do tipo lamelipódios ou filopódios e ocorrem devido à polimerização de actina, sendo estabilizadas ao aderirem a matriz extracelular ou a células adjacentes por meio de receptores de transmembrana ligados ao citoesqueleto de actina, as integrinas. Esta adesão focal ocorre nas extremidades celulares e age como uma tração para que a célula continue a migrar. No lado oposto ao sentido da migração a adesão é desfeita e a célula retrai, possibilitando o deslocamento celular (RIDLEY et al., 2003). 32 Figura 3 – Etapas da migração celular. Inicialmente é necessária a polarização celular, em seguida a formação de extensões citoplasmáticas e adesões focais, por fim a retração celular. Fonte: Adaptado de Ridley et al. (2003). MTOC – centro organizador de microtúbulos. A migração celular requer uma interação dinâmica com a formação de adesões ao substrato e a sua capacidade de desfazer estas adesões. Em células migratórias estas pequenas adesões são denominadas de contatos focais. Estas estruturas agem como âncoras proporcionando o desenvolvimento de uma força contrátil que permite o deslocamento celular. Esses contatos focais estabilizam a formação de lamelipódios e precedem a formação das adesões focais que possuem uma área de contato maior (RIDLEY et al., 2003). Assim, as principais forças motrizes do processo da migração celular são a formação das extensões citoplasmáticas na parte frontal da célula, o estabelecimento de adesões focais na frente celular, contração celular e a adesões desfeitas na área posterior da célula. Todos esses passos requerem uma extensiva reorganização do citoesqueleto de actina e estudos têm sugerido que a regulação dessa reorganização do citoesqueleto é finamente controlada principalmente por proteínas denominadas de pequenas GTPases Rho (RAFTOPOULOU; HALL, 2004; RIDLEY, 2012). Essas pequenas GTPases participam não apenas da sinalização da migração celular bem como da polaridade celular, tráfico de vesículas e citocinese. Atualmente já foram descritas em mamíferos 20 moléculas sinalizadores intracelulares dessa família relacionadas 33 com o seu importante papel na regulação do citoesqueleto de actina (HEASMAN; RIDLEY, 2008). Na célula essas proteínas podem estar na sua forma inativa quando ligadas a molécula a guanosina difosfato (GDP) e na sua forma ativa quando ligada a molécula de guanosina trifosfato (GTP) a qual interage com inúmeras proteínas efetoras. A regulação dessa conversão de estado é determinada por três tipos de proteínas: fatores de troca do nucleotídeo guanina (GEFs), proteínas ativadoras de GTPases (GAPs) e inibidores da dissociação de guanina (GDIs) (FIGURA 4). As GEFs atuam na troca de GDP por GTP na proteína Rho, tornando-se ativa. De maneira inversa, as GAPs inibem GTPases Rho ao estimularem a hidrólise de GTP, enquanto que GDIs impedem a liberação de GDP, retirando a proteína Rho da membrana plasmática para o citoplasma celular (HEASMAN; RIDLEY, 2008). Figura 4 – Ciclo das GTPases Rho e sua regulação pelas proteínas GEF, GAP e GDI. As pequenas GTPases podem estar ativas quando ligadas a GTP, reação que ocorre devido a GEF, e inativa quando ligada a GDI ou GDP, devido a perda hidrólise de GTP por ação de GAP. Fonte: Adaptado de Aktories; Barbieri (2005). GDP – Guanosina difosfato. GTP – Guanosina trifosfato, GEF - Fatores de troca do nucleotídeo guanina, GAP - Proteínas ativadoras de GTPases, GDI - Inibidores da dissociação de guanina, Pi – fosfato inorgânico. RhoA, Rac1 e Cdc42 são os três membros extensamente caracterizados e bem documentados das pequenas GTPases Rho e desempenham importantes funções na regulação do citoesqueleto de actina, sendo assim essenciais para a migração celular (RIDLEY, 2012). RhoA, a primeira proteína dessa família a ser estudada, regula o processo de formação de adesões focais, regiões de ligação da célula com a matriz extracelular, e atua na contratilidade celular através de fibras em estresse, feixes paralelos de actina localizados abaixo da membrana plasmática da adesão focal (RIDLEY, HALL, 1992). A proteína Rac1 regula a polimerização de actina para formação dos lamelipódios principalmente quando estimulada 34 por fatores de crescimento, citocinas e componentes da matriz extracelular (RIDLEY, 2001) enquanto Cdc42 está envolvido na formação de filopódios (NOBES, HALL, 1995). Rac1 e Cdc42 também regulam a formação de contatos focais (RIDLEY, 2003). Assim, as pequenas GTPases Rho possuem um papel essencial na regulação celular, tanto para a migração como outras atividades celulares. Devido a essa ação regulatória diversos estudos mostram que essas pequenas proteínas são alvos de microrganismos que através de suas citotoxinas ou proteínas efetoras alteram suas funções (BIELEK, SCHMIDT, 2012). Essas toxinas ou efetores bacterianos podem ativar ou inibir o ciclo das GTPases Rho, bem como alterar a estrutura do citoesqueleto de actina. As toxinas A e B e do Clostridium difficile e exoenzimas C3 do Clostridium spp. causam uma inibição praticamente irreversível dessas proteínas alterando por glicosilação e ribosilação do ADP respectivamente, impedindo a ação dos reguladores da GTPases, assim causando alterações intensas na morfologia celular (AKTORIES, WILDE, VOGELSGESANG, 2004; JUST et al., 1995a; JUST, et al., 1995b). Outra citotoxina, uma protease, que também inibe irreversivelmente GTPases Rho é a YopT (Yersinia outer protein T) da Yersinia enterocolitica que é transportada para dentro dacélula através de um sistema de secreção do tipo III (SST3) e cliva a proteína RhoA (SHAO et al., 2002). Muitos enteropatógenos, como Yersinia, Salmonella e Escherichia coli, produzem proteínas que mimetizam os reguladores das GTPases Rho e assim alteram sua sinalização ao inserirem efetores por meio do SST3 (AKTORIES, 2011). Yersinia possui dois efetores que inibem GTPases Rho, YopE (Yersinia outer protein E) que atua como um GAP (ANDOR et al., 2001) e YpkA (Yersinia protein kinase A)/YopO (Yersinia outer protein O) como GDI (PREHNA et al., 2006). Um dos mecanismos de invasão celular da Salmonella enterica sorotipo Typhimurium é mediado pelo controle de Rac1 e Cdc42 através da proteína efetora SptP (Salmonella protein tyrosine phosphatase) que exibe atividade de GAP e SopE (Salmonella outer protein E) de GEF que exercem funções em diferentes momentos da infecção (KUBORI; GALÁN, 2003). Diferentes proteínas efetoras foram descritas na Escherichia coli enteropatogênica (EPEC) com atividades reguladoras sobre as GTPases Rho. A proteína Map (Mitochondrion-associated protein) induz a formação de filopódios de maneira dependente de Cdc42, e a proteína Tir estaria envolvida na regulação negativa da formação do filopódio atuando como um regulador GAP (KENNY et al., 2002). Wong e http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Bielek%20H%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=22144267 http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Schmidt%20G%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=22144267 http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Schmidt%20G%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=22144267 http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Schmidt%20G%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=22144267 http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Aktories%20K%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=15372308 http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Wilde%20C%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=15372308 http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Vogelsgesang%20M%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=15372308 http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Kubori%20T%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=14636560 35 colaboradores (2012) relatam que EPEC introduz um efetor, EspH, capaz de inativar as GEFs do hospedeiro e substitui por GEFs bacteriana promovendo a adesão celular e a sobrevivência do patógeno. 1.6 Glutamina e Alanil-Glutamina A glutamina (Gln) é o mais abundante aminoácido livre presente nos músculos e na corrente sanguínea dos seres humanos, sendo distribuído para diversos órgãos do corpo (BERGSTROM et al., 1974; CURI et al., 2007). Embora seja considerado um aminoácido não essencial, uma vez que pode ser sintetizado pelas próprias células, desempenha um papel fundamental para o crescimento e desenvolvimento de células de mamíferos e de células- tronco (EAGLE et al., 1956; HIGUERA et al., 2011). Esse aminoácido possui diversas funções fisiológicas e participa de inúmeras vias metabólicas (FIGURA 5). Embora a glutamina seja utilizada por diversos órgãos de diferentes maneiras, suas funções celulares podem-se dividir em quatro: seu papel no transporte de nitrogênio, manutenção do estado redox das células, tem um papel importante para metabólitos intermediários e como fonte de energia celular (LABOW; SOUBA, 2000). Figura 5 – Vias de utilização da glutamina nas células de mamíferos. Importante para a manutenção ácido-base, e para a síntese de aminoácidos, proteínas, nucleotídeos, glicose, ureia, lipídios e glutationa. Fonte: Adaptado de Labow; Souba (2000). http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=%22Higuera%20GA%22%5BAuthor%5D 36 Com relação ao transporte de nitrogênio foi observado que um terço do nitrogênio proveniente do metabolismo protéico é transportado pelo sangue na forma de glutamina. De maneira semelhante, o tecido muscular exporta grande parte de nitrogênio por meio da glutamina. Nos rins, a glutamina é convertida em amônia e eliminada na urina, participando da manutenção do equilíbrio ácido-base do organismo. Assim é possível um transporte não tóxico de amônia para seus órgãos-alvo para então ser excretada ou ser utilizada na síntese de ureia. (LABOW; SOUBA, 2000). A capacidade da glutamina em manter o estado redox celular está relacionada por ser um precursor de glutamato, no qual participa da biossíntese da glutationa, uma importante molécula antioxidante. A glutationa está presente na célula em dois estados, reduzido (GR) e oxidado (GO). Assim, a razão GR e GO é o principal regulador do potencial redox celular e determina a atividade antioxidante da célula (ROTH et al., 2002; WU et al., 2004). Alguns estudos com suplementação exógena de glutamina in vitro e in vivo têm mostrado um aumento da síntese de glutationa e diminuição do estresse oxidativo (TSAI et al., 2011; WHILLIER et al., 2011). A atuação da glutamina em diversas vias metabólicas decorre do fato de tanto ser fonte de carbono e nitrogênio para a síntese de diversas macromoléculas. Estudos mostram que a glutamina está envolvida no processo de gliconeogênese por meio da doação de carbono (DE SOUZA et al., 2001; IWASHITA et al., 2005; NURJHAN et al., 1995), bem como na síntese de lipídios, pois a glutamina é convertida em piruvato, produzindo moléculas de NADPH e acetil-CoA, que são necessárias para a síntese dessas macromoléculas (DEBERARDINIS; CHENG, 2010). O nitrogênio proveniente da glutamina é utilizado na síntese de aminoácidos, proteínas e dos nucleotídeos, purinas e pirimidinas, com papel chave na proliferação celular (CORY; CORY, 2006; DEBERARDINIS et al., 2007; YAMAUCHI et al., 2002). Outro papel que a glutamina desempenha é como fonte de energia, pois sua oxidação gera adenosina trifosfato (ATP), para as células com rápida proliferação, como as do sistema imune e os enterócitos (LABOW; SOUBA, 2000). Tradicionalmente a glutamina é denominada um aminoácido não essencial, porém atualmente é considerado um aminoácido condicionalmente essencial pela mucosa intestinal devido à relação de maior consumo do que produção quando há um alto estado catabólico, como em traumas, infecções e estado pós- cirúrgico (ZIEGLER et al., 2003). 37 Diversos estudos mostram que glutamina é essencial para a homeostase intestinal, estimulando o crescimento, proliferação e sobrevivência das células intestinais (DEBERARDINIS; CHENG, 2010; LARSON et al., 2007; MARC RHOADS; WU, 2009). A suplementação com glutamina em animais diminui a permeabilidade intestinal e protege contra a translocação bacteriana, garantindo a integridade intestinal (DOS SANTOS et al., 2010). Um estudo randomizado avaliou o efeito da suplementação com glutamina em crianças desnutridas e mostrou uma melhora significativa da função da barreira intestinal nas crianças que receberam glutamina em relação as que não receberam (LIMA et al., 2005). Muitos pesquisadores relatam que a glutamina exerce atividade anti-inflamatória no intestino tanto em experimentos in vitro e in vivo, através da modulação da produção de citocinas, Coeffier e colaboradores encontraram níveis reduzidos de IL-6 e IL-8 e níveis aumentados da IL-10 em biopsia intestinal (COEFFIER et al., 2001, 2003). A regulação da expressão das citocinas pela glutamina ocorre principalmente por meio da inibição do fator de transcrição nuclear NF-κB (BRASSE-LAGNEL; LAVOINNE, HUSSON, 2010). Apesar dos grandes benefícios observados com a utilização da glutamina, seu uso operacional é relativamente difícil, pois esse aminoácido possui pouca solubilidade em solução aquosa, principalmente em pH ácido e baixa estabilidade em temperaturas elevadas. Essas desvantagens podem ser superadas pela a utilização na forma de dipeptídeo, como a alanil-glutamina (Ala-Gln) que tem alta solubilidade e estabilidade (ROTH et al., 1988). Muitos estudos têm demonstrado inúmeras vantagens com uso do derivado estável da glutamina, a alanil-glutamina. Pesquisadores avaliaram o efeito dessespeptídeos na lesão intestinal in vitro induzida por toxinas bacterianas e por agentes quimioterápicos, tem sido observado que a suplementação com esses nutrientes melhora o dano intestinal (BRAGA- NETO et al., 2008; BRITO et al., 2005). Um trabalho recente mostrou que a utilização da Ala-Gln estimulou a integridade e homeostase intestinal tanto in vitro e como em um modelo de desnutrição em animais (UENO et al., 2011). Lima e colaboradores (2007) observaram que a Ala-Gln foi capaz de restaurar a barreira intestinal e promover o crescimento em crianças desnutridas. Os mecanismos envolvidos no qual a glutamina regula os processos fisiológicos das células intestinais ocorre por meio da sinalização de várias vias celulares. O quadro 1 resume os efeitos desse aminoácido em células intestinais e as vias de sinalização envolvidas. 38 Quadro 1 – Efeitos da glutamina no intestino e vias de sinalizações envolvidas Presença ou Ausência de Gln Modelo experimental Efeitos Via de sinalização Presença Biopsia de cólon de pacientes com doença de Crohn Redução da inflamação Inibição de p38 MAPK Presença Células de criptas de ratos – IEC-6 Estimulação da proliferação celular Ativação de ERK e JNK Presença Células intestinais de ratos – RIE-1 Atenuação da apoptose Ativação de ERK e inativação de Akt Presença Cólon de ratos com colite Diminuição da inflamação Baixos níveis de Akt fosforilada Ausência Células de adenocarcinoma humano – Caco-2 Redução da resistência transepitelial e aumento da permeabilidade celular Estimulação da PI3-K/Akt Fonte: Adaptado de Brasse-Lagnel; Lavoinne; Husson (2010). MAPK – mitogen-activated protein kinase; ERK – extracellular signal-related kinase; JNK - c-jun N-terminal kinase; PI3-K – phosphoinositide 3-kinase. A glutamina possui um importante papel para a manutenção da barreia intestinal. Um processo inicial de renovação intestinal é a migração celular. Ensaios experimentais in vitro mostraram que a adição de glutamina estimula significativamente esse processo. Entretanto os mecanismos moleculares envolvidos nesse processo ainda precisam ser esclarecidos (BRAGA-NETO et al., 2008; BRITO et al., 2005; CARVALHO, 2011). 39 2 PERGUNTAS DE PARTIDA 2.1 E. coli enteropatogênica é capaz de alterar a migração das células intestinais in vitro? 2.2 A suplementação com alanil-glutamina estimula a migração intestinal tanto na presença quanto na ausência bacteriana? 3 HIPÓTESES 3.1 EPEC altera a migração de células intestinais devido a sua capacidade de induzir mudanças no citoesqueleto celular. 3.2 A alanil-glutamina desempenha inúmeras funções nas células intestinais, dentre eles o aumento da migração intestinal celular na presença ou ausência da EPEC. 40 4 OBJETIVOS 4.1 Objetivo Geral Analisar o efeito da infecção por cepas de EPEC na migração de células intestinais, bem como verificar o papel da regulação das proteínas GTPases Rho e a modulação com a alanil-glutamina. 4.2 Objetivos específicos 1. Verificar o efeito da cepa padrão EPEC E2348/69, EPEC proveniente da comunidade e de E. coli não patogênica, E. coli HS, no modelo de migração de células intestinais in vitro. 2. Investigar se a morte celular induzida pelas cepas bacterianas influencia na migração celular. 3. Avaliar o efeito tempo e dose resposta da alanil-glutamina no modelo de migração celular in vitro. 4. Determinar qual o efeito da suplementação com alanil-glutamina na migração celular quando as células IEC-6 são infectadas pelas cepas patogênicas de EPEC. 5. Investigar se a transcrição e expressão dos genes rhoA, rac1 e cdc42 seriam alteradas pelas bactérias EPEC padrão, EPEC selvagem, E. coli HS na presença ou ausência da alanil-glutamina. 41 5 MATERIAL E MÉTODOS 5.1 Microrganismos Foram utilizadas três cepas de Escherichia coli, uma cepa padrão EPEC cepa E2348/69, uma cepa comensal HS e uma EPEC selvagem. Esta cepa foi proveniente de amostras fecais de uma criança desnutrida do estudo internacional: The Interactions of Malnutrition & Enteric Infections: Consequences for Child Health and Development (MAL- ED). A cepa selvagem de EPEC foi diagnosticada por meio da técnica de PCR (Polimerase chain reaction) (TRABULSI et al., 2002) e por meio do padrão de aderência em células HEp- 2 (CRAVIOTO et al.,1991). Cinco genes de virulência, espA, espB, espD, espF e tir também foram pesquisados na cepa selvagem por meio de PCR multiplex. A cepa E2348/69 foi utilizada como um controle positivo, tendo em vista sua intensa utilização como um protótipo para o estudo de EPEC na biologia, genética e virulência, na qual recentemente teve seu genoma completamente descrito (IGUCHI et al., 2009). E. coli comensal HS não causa diarreia em humanos, foi utilizada como controle negativo (RASKO et al., 2008). Estas cepas controles nos foram fornecidas gentilmente pelo Dr. James Nataro, da Universidade de Virgínia, E.U.A. 5.2 Cultivo celular 5.2.1 Linhagens celulares Umas das linhagens celulares utilizadas foram às células de cripta do jejuno do intestino de rato IEC-6 nas passagens de 30-35, obtidas a partir do American Type Culture Collection (ATCC, Rockville, MD). Estas foram empregadas nos experimentos de migração celular, avaliação da apoptose e necrose e padrão de aderência bacteriano. As células intestinais IEC-6 foram inicialmente descritas por Quaroni e colaboradores (1979) como uma linhagem não transformada, aderente, com morfologia epitelióide, características típicas de células de cripta intestinal e que crescem em monocamadas (FIGURA 6). IEC-6 é intensamente utilizada em modelos de recuperação intestinal (BRAGA-NETO et al., 2008; BRITO et al., 2005, MCCOMARCK; VIAR; JOHNSON,1992). As células IEC-6 foram cultivadas em frascos de 25 ou 75 cm 2 , a depender da quantidade de células necessária para cada protocolo, contendo Dulbecco’s Modified Eagle Medium (DMEM, GIBCO, Grand Island, NY) com acréscimo de 5% de soro bovino fetal inativado (GIBCO, Grand Island, 42 NY), 40 µg/mL de insulina (SIGMA, St Louis, MO), 50 U/mL de penicilina (GIBCO, Grand Island, NY), 50 µg/mL de estreptomicina (GIBCO, Grand Island, NY) e 1 mM/mL de piruvato de sódio (GIBCO, Grand Island, NY). Essas células eram mantidas em estufa nas seguintes condições: temperatura de 37 ºC, umidade de 90%, 5% de CO2 e 95% de O2. A troca do meio de cultura era realizada a cada dois dias até as células atingirem uma confluência de 90-100% para então serem utilizadas nos ensaios experimentais. Figura 6 – Células IEC-6 vistas em microscópio óptico invertido no aumento de 100X. Fonte: Carvalho (2011). Outra linhagem celular utilizada foram as células HEp-2 (passagens de 9-12) derivadas da contaminação de células HeLa que, por sua vez, provém de adenocarcinoma de cérvix (FIGURA 7), obtidas também da ATCC. Estas células já são comumente empregadas no ensaio de padrão de aderência bacteriano (CRAVIOTO et al., 1991). Sua manutenção era feita em frascos de 25 cm 2 contendo Minimal Essencial Medim (MEM, GIBCO, Grand Island, NY), acrescido de 10% de soro fetal bovino, 100 U/mL de penicilina e 100 μg/mL de estreptomicina. Essas células eram mantidas em estufa nas seguintes condições: temperatura de 37 ºC, umidade de 90%, 5% de CO2 e 95% de O2. A troca do meio de cultura era realizada a cada dois dias até as células atingirem uma confluência de 90-100% para então serem utilizadas nos ensaios experimentais. Todos os procedimentos com de cultivo celular eram realizados em cabine de fluxo laminar do tipo 2A. Rotineiramente era realizada assepsia da superfície da cabine com uma solução de álcool 70%, em seguida haviaa incidência direta de 15-20 minutos de luz ultravioleta. 43 Figura 7 – Células HEp-2 vistas em microscópio óptico invertido no aumento de 100X. Fonte: http://www.atcc.org/Attachments/1760.jpg 5.2.2 Preparação e contagem celular Como descrito anteriormente, as células foram mantidas em frasco de cultivo celular até a realização dos experimentos. Para tanto era necessário retirar as células aderidas aos frascos, realizado por meio da adição de tripsina-EDTA. A tripsina digere as proteínas de adesão que necessitam de magnésio para sua função, já o EDTA atua ao quelar os cátions divalentes (PERES; CURI, 2005). Desse modo, o meio de cultura era descartado e adicionado 0,5-1 mL de tripsina- EDTA (0,05%-0,02%), a solução era homogeneizada por toda a área da superfície celular. Em seguida, as células foram incubadas na estufa nas condições já descritas por um período de 5 a 10 minutos. Após este tempo, as células eram observadas em microscópio óptico invertido para verificar se as mesmas estavam ou não aderidas ao frasco. Com o intuito de inativar a tripsina-EDTA e evitar que outras proteínas celulares sejam clivadas, adicionou 3-5 mL de meio de cultura contendo soro fetal bovino 5%, as proteínas do soro atuam como substrato para tripsina. A suspensão de células foi transferido para um tubo Falcon de 15 mL estéril e centrifugadas a 1500 rpm por 5 minutos. O sobrenadante foi descartado e ao precipitado de células (pellet) foi adicionado 3 mL de meio de cultura e homogeneizado esta suspensão para a seguinte contagem celular. Desta suspensão foi retirada 100 µL e adicionado em 900 µL em meio de cultura em tubo estéril de 1,5 mL e homogeneizado. Foi retirado 15 µL da diluição e realizado a contagem em câmara de Neubauer. http://www.atcc.org/Attachments/1760.jpg 44 5.3 Diagnóstico molecular das cepas de EPEC e detecção de genes de virulência O diagnóstico molecular de EPEC é baseado na pesquisa de dois genes do microorganismo, um cromossomal (eae) e um plasmidial (bfpA). O gene eae codifica a proteína intimina. Esta proteína apresenta pelo menos 27 subtipos descritos (BLANCO et al., 2006a, 2006b; GARRIDO et al. 2006). O gene eae também é encontrado em Escherichia coli enterohemorrágica, porém apenas este patotipo possui genes da toxina Shiga (stx) (NATARO; KAPER, 1998). De acordo com Trabulsi e colaboradores (2002), é possível diferenciar os dois tipos de EPEC por meio da biologia molecular, devido à presença ou ausência de genes específicos. As características principais das cepas típicas é a presença dos genes eaeAe bfpA e ausência do gene stx, enquanto que a EPEC atípica é marcada pela presença do gene eaeA e ausência dos genes bfpA e stx. Os genes relacionados aos fatores virulência em estudo foram espA, espB, espD, espF e tir. Como descrito anteriormente, a cepa selvagem de EPEC foi isolada a partir das fezes de uma criança, com características sugestivas de E. coli. A confirmação que se tratava de uma E. coli foi realizada por meio de teste de identificação de enterobactérias API 20 E (bioMérieux, França), tanto a cepa EPEC E2348/69 e E. coli HS foram positivas no teste bioquímico. A extração do DNA das colônias foi realizada por método de fervura. Para tanto, 5 colônias foram incubadas por 20 minutos a 95º em tubo de 1,5 mL contendo 1 mL de água e detergente Triton X. Em seguida, o material foi centrifugado por 10 minutos a 10.000 rpm. O sobrenadante foi transferido para um novo tubo de microcentrífuga estéril identificado e o pellet foi descartado. A solução de DNA bacteriano foi armazenada em temperatura – 20º C. Para a pesquisa dos genes utilizamos a técnica de PCR do tipo Multiplex (Multiplex-PCR). Esta técnica é uma das variantes do PCR que usa múltiplos pares de iniciadores de DNA (primers) para a detecção de vários genes de uma única reação, ocorrendo assim, a amplificação simultânea de sequências de DNA de tamanhos diferentes. A fim de garantir de ser uma cepa isolada de EPEC, também pesquisamos os genes de diagnóstico para os cinco tipos de E. coli diarreiogênica (EPEC, EAEC, EIEC, ETEC e EHEC), os primers utilizados estão descritos na Tabela 1, estes iniciadores foram desenvolvidos por pesquisadores do projeto internacional MAL-ED. Cada reação continha 12,5 L da solução mastermix (DNA 45 polimerase, tampão salino, deoxinucleotídeos - dNTPs, cloreto de magnésio e estabilizadores) do Qiagen multiplex PCR kit (Valencia, CA), 0.2M de cada um dos pares de iniciadores específicos para os genes em estudo, o volume de 2L de DNA e um volume de água MiliQ autoclavada para volume final de 25L. As reações de PCR incluíram um passo inicial de desnaturação (95C) por 5 minutos, seguido por 40 ciclos com as seguintes etapas: desnaturação (94 C) por 30 segundos, anelamento (genes pesquisados – 57 C) por 1 minuto e extensão (72 C) por 1 minuto e 15 segundos, e por fim uma extensão (72 C) por 10 minutos. Os primers utilizados nas reações dos genes de virulência de EPEC estão descritos na Tabela 2. Estes iniciadores foram desenhados através do OligoPerfect™ Designer disponível no site http://tools.invitrogen.com/content.cfm?pageid=9716, e posteriormente verificados no banco de dados do BLAST (Basic Local Alingment Search Tool - www.ncbi.nlm.nih.gov/BLAST) com o intuito de eliminar potencial reatividade cruzada e confirmar regiões exclusivas de identificação dos genes em questão. Os produtos foram analisados por eletroforese em gel de agarose 3,0%, marcados com brometo de etídeo e fotodocumentados a partir do programa ChemiDoc XRS (BIO-Rad Laboratories, Hercules CA). Como a cepa EPEC E2348/69 possui todos os genes em estudo a mesma foi o controle positivo da reação e o controle negativo foi E. coli comensal HS. http://tools.invitrogen.com/content.cfm?pageid=9716 http://www.ncbi.nlm.nih.gov/BLAST 46 TABELA 1 – Genes alvo, primers utilizados e tamanhos dos produtos obtidos no diagnóstico molecular das cepas de E. coli diarreiogênicas. E. coli Genes de diagnóstico Sequência do primer (5’3’) Produto (pb) EPEC eaeA bfpA F: CCCGAATTCGGCACAAGCATAAGC R: CCCGGATCCGTCTCGCCAGTATTCG F: GGAAGTCAAATTCATGGGGGTAT R: GGAATCAGACGCAGACTGGTAGT 881 300 EAEC aatA aaiC F: CTGGCGAAAGACTGTATCAT R:CAATGTATAGAAATCCGCTGTT F:ATTGTCCTCAGGCATTTCAC R:ACGACACCCCTGATAAACAA 650 215 EIEC ipaH F:TGGAAAACTCAGTGCCTGT R:CCAGTCCGTAAATTCATTCT 423 ETEC eltB estA F:CACACGGAGCTCCTCAGTC R:CCCCCAGCCTAGCTTAGTTT F:GCTAAACCAGTARGGTCTTCAAAA R:CCCGGTACARGCAGGATTATTACAACA 508 147 EHEC stx1 stx2 F:CAGTTAATGTGGTGGCGAAGG R:CACCAGACAATGTAACCGCTG F:ATCCTATTCCCGGGAGTTTACG R:GCGTCATCGTATACACAGGAGC 348 584 F: primer forward; R: primer reverse 47 TABELA 2 – Genes alvo, primers utilizados e tamanhos dos produtos obtidos dos genes de virulência de EPEC. Genes de Virulência Sequência do primer (5’3’) Produto (pb) espA F: TCAGTTGCTAGTGCGAATTGC R: GGGCAGTGGTTGACTCCTTA 211 espB F: ATGGCAGCAAAAGAGCCTAA R: ATGGTCACCACATTGCAAGA 179 espD F: TGCCGGGTTAAAAATAGCTG R: TGCAAGCTCTGGCTATCCTT 304 espF F: ACCCTTTCTTCGATTGCTCA R: AGCAGCCAGGTGACTTCATT 427 tir F: CTGCAGCGACCTCATCATAA R: GATGCGAAGGGAAATGCTAT 535 F: primer forward; R: primer reverse 5.4 Protocolo de infecção Todas as cepas estavam armazenadas em meio líquido de TSB (Trypticase Soy Broth) contendo glicerol 10% a temperatura de -20 ºC. Quando necessário para os experimentos às cepas foram semeadas em placas de ágar MacConkey. Após 18-24 horas de crescimento colônias de E.
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