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1 Índice: 1. Introdução à Farmacologia e Prescrições médicas......................................................................................pg 2 2. Formas farmacêuticas....................................................................................................................................pg 7 3. Vias de administração....................................................................................................................................pg 8 4. Absorção de fármacos..................................................................................................................................pg 10 5. Distribuição de fármacos.............................................................................................................................pg 13 6. Biotransformação.........................................................................................................................................pg 18 7. Excreção de fármacos...................................................................................................................................pg 21 8. Farmacodinâmica.........................................................................................................................................pg 23 9. Farmacologia do SNA..................................................................................................................................pg 28 10. Fármacos adrenérgicos ou simpatomiméticos...........................................................................................pg 30 11. Fármacos simpatolíticos ou anti-adrenérgicos...........................................................................................pg 33 12. Fármacos colinérgicos ou Parassimpatomiméticos...................................................................................pg 34 13. Fármacos anticolinérgicos ou Parassimpatolíticos...................................................................................pg 36 14. Agonistas Nicotínicos...................................................................................................................................pg 37 15. Farmacologia da Junção neuromuscular...................................................................................................pg 39 16. Farmacologia dos diuréticos........................................................................................................................pg 42 17. Farmacologia do sistema cardiovascular: Anti-hipertensivos..................................................................pg 45 18. Cardiotônicos................................................................................................................................................pg 48 19. Antianginosos...............................................................................................................................................pg 50 20. Antiarrítmicos..............................................................................................................................................pg 52 21. Farmacologia Gastrointestinal I..................................................................................................................pg 54 22. Farmacologia Gastrointestinal II................................................................................................................pg 56 23. Farmacologia Gastrointestinal III..............................................................................................................pg 58 24. Hipolipêmicos...............................................................................................................................................pg 59 25. Antidiabéticos ou hipoglicemiantes orais e insulina.................................................................................pg 60 26. Farmacologia dos Hormônios femininos...................................................................................................pg 63 27. Farmacologia dos Hormônios Masculinos................................................................................................pg 65 Farmacologia 2 28. Introdução a antibioticoterapia...................................................................................................................pg 67 29. Inibidores da síntese de parede celular.......................................................................................................pg 69 30. Inibidores da síntese de proteínas................................................................................................................pg 72 31. Inibidores da síntese de purinas..................................................................................................................pg 75 32. Inibidores da replicação de DNA e polimixina...........................................................................................pg 76 33. Antimicobacterianos....................................................................................................................................pg 77 34. Antivirais.......................................................................................................................................................pg 78 35. Antifúngicos..................................................................................................................................................pg 80 36. Anti-helmínticos...........................................................................................................................................pg 81 37. Antiprotozoários...........................................................................................................................................pg 82 38. Antidepressivos.............................................................................................................................................pg 83 39. Tratamento farmacológico dos transtornos bipolares...............................................................................pg 85 40. Ansiolíticos....................................................................................................................................................pg 86 41. Hipnóticos.....................................................................................................................................................pg 88 42. Antipsicóticos................................................................................................................................................pg 90 43. Antiparkinsonianos......................................................................................................................................pg 92 44. Anticonvulsivantes.. .....................................................................................................................................pg 95 45. Anestesia inalatória......................................................................................................................................pg 97 46. Anestésicos Intravenosos.............................................................................................................................pg 99 47. Anestésicos locais........................................................................................................................................pg 100 48. Hipnoanalgésicos........................................................................................................................................pg 102 49. Anti-inflamatórios não esteroidais…..............................................................................................……..pg 104 50. Anti-inflamatórios esteroidais.........……………...................................................................…...............pg 107 51. Farmacologia do trato respiratório….….............................................................................................…pg110 3 Introdução à Farmacologia e Prescrições médicas Farmacologia: é a ciência que estuda a ação de substâncias químicas num organismo vivo. Fármaco: é uma substância de estrutura química definida que quando em contato ou introduzida num sistema biológico, modifica sua função. Droga: a palavra vem do holandês (droog), que significava folha seca, já que a maioria dos medicamentos era à base de vegetais. Pode ser referida a uma substância definida ou não. É uma designação comum a todas as substâncias ou ingredientes aplicados em farmácia, com capacidade de modificar ou explorar o sistema fisiológico ou o estado patológico, utilizada com ou sem intenção de benefício do organismo receptor. Medicamento: o fármaco nunca é utilizado de forma isolada, sendo necessário fazer uso de medicamentos, que são as preparações prontas para uso terapêutico, contendo o fármaco mais alguns excipientes (o diazepam, por exemplo, vem acompanhado de manitol, lactose, amido, sacarina sódica, essência de tuti fruti e ácido esteárico), que vão fornecer maior estabilidade a esses medicamentos, garantem que o medicamento tenha uma boa agregação ou desintegração adequada, protege da luz, da umidade e outras funções. Por exemplo, o medicamento seria o Valium e o fármaco seria o Diazepam, também considerado o princípio ativo, a molécula que justifica a prescrição terapêutica. Remédio: é qualquer ato ou serviço que visa avaliar um sintoma, tratar, prevenir e curar um processo fisiológico, servindo para debelar ou atenuar um mal físico ou moral. Medicamento magistral: preparada à vista da receita do médico, manipulado especificamente para aquele paciente, preparado pelo farmacêutico, diferentemente da especialidade farmacêutica, que é aquele medicamento produzido em escala industrial. Medicamento homeopático: é aquele preparado de acordo com as normas propostas pela Homeopatia, em que significa tratar a doença pela semelhança. Medicamento oficinais: são medicamentos preparados nas farmácias, descritos na farmacopeia. Alopatia: consiste em utilizar medicamentos que vão produzir no organismo do doente reação contrária aos sintomas que apresenta, a fim de diminuí-los ou neutraliza-los. Por exemplo, se o paciente tem febre, o médico receita um remédio que faz baixa a temperatura, se tem dor, um analgésico. Os principais problemas dos medicamentos alopáticos são os seus efeitos colaterais e a sua toxicidade. A fitoterapia entra na categoria de alopático. Homeopatia: é uma palavra de origem grega que significa doença ou semelhante. É um método científico para tratamento e prevenção de doenças agudas e crônicas, onde a cura se dá através de medicamentos não agressivos que estimulam o organismo a reagir, fortalecendo seus mecanismos de defesa naturais. Medicamento de referência: é o medicamento inovador, que possui marca registrada, com qualidade, eficácia terapêutica e segurança comprovada. Se obtém através de testes científicos, sendo registrado pela Anvisa. Ele servirá de parâmetro para registros de posteriores medicamentos similares e genéricos, quando sua patente expirar. Eles são mais caros que os genéricos, justamente por conta de toda pesquisa, investimentos, marketing e outros processos que acabam influenciando no seu preço, e para que compensa esse gasto, existe a lei de patente que garante que apenas essa empresa poderá vender tal medicamento por um período de anos. Medicamento genérico: são aqueles que apresentam a mesma biodisponibilidade e bioequivalência do medicamento de referência. Não possui nome de marca, somente a denominação química de acordo com a Denominação Comum Brasileira (DCB). Pode ser substituído pelo medicamento de referência pelo profissional farmacêutico ou vice-versa. Esses medicamentos devem conter na embalagem o nome do fármaco, a tarja, o símbolo amarelo indicando o genérico e a lei que ele se baseia, 9.787/99. Não necessariamente ele precisa ter os mesmos excipientes. 4 Medicamento similar: são produzidos após vencer a patente dos medicamentos de referência e são identificados por um nome de marca. Por exemplo, quando a patente da aspirina expirou, uma outra empresa produziu um novo medicamento com o mesmo princípio ativo o chamando de aas. Possuem eficácia, segurança e qualidade comprovadas através de testes científicos e são registrados pela Anvisa. Possuem o mesmo fármaco e indicação terapêutica do medicamento de referência. Há uma lista da Anvisa indicando os medicamentos que são equivalentes terapêuticos (bioequivalência e biodisponibilidade), esse nome é indicado na caixa do medicamento. Há uma possibilidade de intercambiar os medicamentos, por exemplo, o farmacêutico pode sugerir a troca de um medicamento referência em uma prescrição médica, para um genérico ou para um medicamento similar equivalente, desde que esse último esteja escrito em sua caixa e esteja na lista da Anvisa. Um genérico não é intercambiável com um similar. As embalagens também são utilizadas para informar a classificação de venda dos medicamentos. Os medicamentos isentos de prescrição (MIP), são aqueles que não necessitam e prescrição, mas devem ser utilizados de acordo com a orientação de um profissional farmacêutico. A embalagem desses medicamentos não possui tarja. Já os medicamento de venda sob prescrição devem ser prescritos pelo profissional médico ou dentista e são divididos em dois grupos: aqueles que não precisam de retenção da receita, e se apresentam com tarja vermelha na embalagem contendo o texto Venda Sob Prescrição Médica, e os que são vendidos com retenção de receita, podendo apresentar tarja vermelha ou preta, com a inscrição de Venda Sob Prescrição Médica Só Pode Ser Vendido Com Retenção Da Receita. Prescrição de medicamentos: antes da prescrição deve-se responder algumas perguntas: 1. Qual o nome do genérico do fármaco? 2. A que classe pertence? 3. Qual o objetivo a ser alcançado. Que sintoma será aliviado? 4. Como observar se o objetivo foi alcançado? 5. Qual a dose e o intervalo da medicação? 6. Há alternativa melhor em termos de eficácia, segurança e custo? 7. Por quanto tempo será instituída a medicação. Quando interrompê-la? 8. Quais sinais e sintomas determinam a interrupção da medicação? 9. Como o fármaco é eliminado do organismo? 10. A doença altera a absorção, metabolismo, distribuição, excreção e efeitos habituais do fármaco? 5 11. Que efeitos indesejáveis e sua frequência são esperados com o fármaco? 12. Existe alguma interação medicamentosa com os medicamentos que o paciente está tomando? 13. Que outros fármacos devem ser evitados enquanto o paciente estiver recebendo o tratamento? 14. A idade, sexo, peso alteram a escolha terapêutica, a dose a forma de tomar? 15. Qual o conhecimento e a crença do paciente sobre a medicação instituída? 16. Que informações adicionais ao paciente são necessárias? - Sobre o paciente: deve ser considerado a realidade econômica, social, política e cultural do paciente. Seu nível de instrução, sua capacidade de entender e seguir as orientações e prescrições. As preferências e idiossincrasias. Devendo orientar de forma adequada. - Sobre a receita: deve ser escrita com letra legível, com linguagem simples, de modo que o paciente possa se remeter a elas, para se lembrar de como deve usar o medicamento ou se comportar frente à dieta, repouso, exercício, limpeza de feridas, banhos etc. Para receitas editadas em computador e impressas devemos desenvolver nosso próprio banco de textos com prescrições e orientações pré-redigidas que possam ser rapidamente editadas, modificadas e adaptadas para a situação presente. A prescrição: é um documento que contém uma série de informações escritas ou impressas e padronizadas. - Dados essenciais de uma receita médica: Cabeçalho: inclui nome e endereçodo profissional ou da instituição onde trabalha (clínica ou hospital), o registro profissional e número de cadastro de pessoa física ou jurídica. Pode ainda conter a especialidade do profissional, desde que registrada em um CRM. Superinscrição: indica o nome e endereço do paciente, idade, se é de uso interno (via oral) ou uso externo, correspondente ao emprego de medicamentos por vias enterais ou parenterais, respectivamente. Inscrição: compreende o nome do fármaco, a forma farmacêutica e sua concentração. Subinscrição: indica a quantidade total a ser fornecida. Para fármacos de uso controlado, esta quantidade deve ser expressa em algarismos arábicos, escritos por extenso, entre parênteses. Adscrição: contém orientações do profissional ao paciente, contendo a data, assinatura e número de inscrição no respectivo conselho de Medicina, Medicina veterinária ou Odontologia. O farmacêutico deverá avaliar a prescrição e observar a legibilidade e ausência de rasuras e emendas, a identificação do usuário e a identificação do medicamento, concentração, dosagem, forma farmacêutica e quantidade. Receita simples: é aquela utilizada para a prescrição de medicamentos de tarja vermelha, com os dizer “venda sob prescrição médica”, seguindo as regras descritas na lei 5.991/73.6 Receita de controle especial: utilizada para a prescrição de medicamentos de tarja vermelha com os dizeres “venda sob prescrição médica – só pode ser vendido com retenção da receita”, como substâncias sujeitas a controle especial, retinóicas de uso tópico, imunossupressoras e antirretrovirais, anabolizantes, antidepressivos etc – lista C e antibióticos. Regras para a prescrição de antibióticos: a prescrição deve ter duas vias (receituário especial ou comum), o prazo de validade é de dez dias. O nome científico ou o nome comercial da substância ativa deve ser escrito conforma a DCB, além das outras necessidades de prescrições como dosagem, forma farmacêutica, nome do paciente e médico etc. Receita de controle especial – receita B: também chamada de receita azul, é um impresso padronizado na cor azul, utilizado para a prescrição de medicamentos que contenham substâncias psicotrópicas – lista B1 e B2 e suas atualizações constantes na Portaria 322/98. Para os medicamentos B1 (psicotrópicos), a validade é para 30 dias, somente no estado eminente. A quantidade máxima na receita deve ser de até 60 dias e limitada a 5 ampolas para medicamento injetável. 6 Para os medicamentos B2 se relacionam a medicamentos psicotrópicos anorexígenos, com validade para 30 dias, somente no estado emitente, com a quantidade máxima da receita para 30 dias de tratamento. Receita amarela – receita A: é um impresso, padronizado na cor amarela, utilizada para a prescrição dos medicamentos das listas A1, A2 (entorpecentes) e A3 (psicotrópicos). Somente pode conter um produto farmacêutico. Apresenta validade de 30 dias após a prescrição, valendo para todo território nacional, com quantidade máxima por receita para 30 dias de tratamento, sendo limitada a 5 ampolas para medicamentos injetáveis. Notificação de receita especial de retinóides – lista C (retinóides de uso sistêmico): tem validade de 30 dias, apenas na unidade federal que concedeu a numeração, até 5 ampolas. Para as demais formas farmacêuticas, a quantidade necessária para o tratamento é correspondente, no máximo, a 30 dias a partir de sua emissão. Deve vir acompanhada do termo de consentimento de risco e consentimento pós-informação. Também há notificação especial para a talidomida – lista C3. 7 Formas farmacêuticas Formas farmacêuticas correspondem a primeira fase da resposta terapêutica. É a forma como um medicamento pode se apresentar, sendo divididos em três grupos diferentes: os sólidos, semi-sólidos e os líquidos. Sólidos: - Pó: são partículas finamente granuladas de medicamento. Geralmente são indicadas para uso tópico (apresenta efeito refrescante, secante ou protetor) ou oral (em que o medicamento precisa ser dissolvido para então ser absorvido). - Comprimido: são medicamentos em pó que foram comprimidos até formarem pequenos discos. Além do fármaco, os comprimidos contém os excipientes como: aglutinantes, desintegradores, lubrificantes, expansores, etc. Precisam ser primeiro desintegrados, para então dissolvidos e então absorvidos. Eles podem ser sulcados ou não, permitindo que ele seja dividido em duas ou quatros doses, por exemplo. No entanto, quando o comprimido não vem com este sulco, não podemos corta-lo. - Cápsulas: é constituída por um invólucro de gelatina e por um medicamento em forma sólida ou líquida. Ela sofre dissolução e então absorção. Como vantagem, podemos realizar a administração de medicamentos com odor ou sabor desagradável. - Drágea: contém um núcleo com o medicamento e um revestimento de forma laca, açúcar e corante. Geralmente são utilizadas para mascarar sabores desagradáveis. Ela sofre desintegração, dissolução e absorção. Esses medicamentos também não podem ser cortados, pois poderá liberar o seu sabor desagradável ou comprometer a terapêutica. - Comprimido revestido ou com película entérica: possui uma cobertura especial que resiste à dissolução no pH ácido do estômago, porém é dissolvida no pH alcalino do duodeno. Também não devem ser triturados ou mastigados. - Supositórios: possui forma cônica ou ogival. São utilizados para administração retal, podendo ter ação local ou sistêmica. - Óvulos: possui forma ovóide e destina-se a aplicação vaginal. Também apresentamos outros tipos de medicamentos sólidos como comprimidos mastigáveis, efervescentes, pastilhas e outros. Líquido: - Solução: mistura homogênea de líquidos ou de um líquido e um sólido. Dessa forma, o princípio ativo está pronto para a absorção. - Suspensão: a mistura é não-homogênea de uma substância sólida e um líquido. O medicamento precisa passar por dissolução e então absorção. Devem ser bem agitados para assegurar a devida mistura das partículas, mas ainda assim, evitando a formação de bolhas, para evitar a marcação errada do volume. - Xarope: solução que contém dois terços de açúcar (sacarose). São efetivos para mascarar o sabor amargo de alguns medicamentos. Outros exemplos são os elixir (preparação hidro-alcoólica), emulsificantes e loção. Semi-sólido: - Pomada: forma semi-sólida de consistência macia e mais oleosa, com pouca ou nenhuma penetração na pele. - Creme: forma semi-sólida de duas fases, óleo e água, bem dispersas, com boa penetração na pele. - Pasta: forma semi-sólida de consistência macia, contendo 20% de pó. Apresenta ação superficial na pele, sem penetração. - Gel: forma semi-sólida predominantemente aquosa. Podem penetrar ou não na pele. Ainda podemos ter os emulgel e unguento. 8 Vias de administração Dependendo o método em que foi feito a administração, isso pode influenciar a velocidade da absorção, biodisponibilidade e outros fatores do medicamento. Via oral: é bastante vantajoso, pois apresenta uma maior segurança, maior comodidade e economia. O estabelecimento de esquemas terapêuticos são fáceis de serem cumpridos pelo paciente. Além de que absorção intestinal é favorecida pela grande superfície de vilosidades intestinais. Em caso de erro de administração ou overdose, ainda assim, uma boa quantidade da droga pode ser retirada (dentro de um intervalo de tempo). No entanto, esse método ainda pode apresentar algumas desvantagens, pois algumas drogas são destruídas pelo fluído digestivo (como a insulina), além de que pode gerar a presença de vômito, aspiração gástrica ou intestinal. Indivíduos com inconsciência ou impossibilidade de engolir não conseguem fazer esse tipo de uso. Pode também gerar o aparecimento de efeitos adversos pela irritação damucosa, além de que há uma necessidade de cooperação pelo paciente. Via sub-lingual: o fármaco é absorvido pela mucosa bucal, especialmente pelo plexo sublingual. Os comprimidos sublinguais são projetados para serem colocados sob a língua para a dissolução e a absorção através da vasta rede de vasos sanguíneos nesta área. Em relação a administração oral, esse tipo é mais vantajoso, pois não sofrerá metabolismo de primeira passagem (isto é, medicamentos que passam pelo intestino, ao serem absorvidos, seguem para o fígado, sendo metabolizados e perdendo parte de seu efeito), portanto, promove efeito sistêmico e ação mais rápida. Como desvantagem, no entanto, ela é imprópria para substâncias irritantes ou sabores desagradáveis. Va retal: são medicamentos em forma de supositórios introduzidos através do canal anal, podendo promover efeitos locais e sistêmicos. Como vantagem temos que é possível ser feito a administração em paciente inconscientes, com náuseas e vômitos. Evita enzimas digestivas e irritações na boca, esôfago e estômago. E também evita o metabolismo de primeira passagem. Como desvantagem temos que a absorção pode ser irregular ou incompleta, pode provocar irritação da mucosa e prejuízo pela presença de material fetal. Via ocular/oftálmico: as medicações oftálmicas podem ser do tipo colírios e pomadas e servem para diagnóstico e terapia. Os efeitos desejados são locais. As pomadas permitem duração de ação mais longa do que as soluções. Via nasal: consiste em levar à mucosa nasal um medicamento, tendo ação local Via inalatória: os medicamentos são administradas no trato respiratório, produzindo efeitos locais ou sistêmicos. Os inaladores orofaringeanos manuais contém broncodilatadores que vão possuir efeitos locais. Via tópica ou cutânea: administração de medicamentos através da pele. As drogas podem ser do tipo lipofílica com base lipofílica, portanto tem uma boa absorção, as que forem drogas lipofílicas com base hidrofílica, a absorção ocorre muito rapidamente, com boa penetração. Drogas hidrofílicas com base lipofílica tem uma absorção bem menor, drogas hidrofílicas com base hidrofílica quase não penetram. Essas administrações podem ter efeitos locais ou sistêmicos. Via parenteral: são várias vias diferentes que podem ser administradas, podemos fazer medicamentos injetáveis, intradérmico, subcutâneo, intravenosa ou endovenosa, intratecal, intra-arterial, intra-articular e intracardíaca. As vantagens é que apresenta um início mais rápido e de menor duração, além de que a dose usada é menor, pois não ocorrem perdas pelo TGI. Os medicamentos são absorvidos o mais rápido possível, a uma taxa constante e controlada, 9 ou quando o paciente é incapaz de tomar medicamentos por via oral devido náuseas e vômitos. Como desvantagem temos um custo elevado e requer habilidade e cuidados especiais devido ao trauma no local da punção da agulha, risco de infecção e ocorrência de reações alérgicas. - Injeções intradérmicas: são aplicadas a derme, logo abaixo da epiderme. São usados pequenos volumes, geralmente 0,1ml. Produzem uma pápula. Muito usado em testes de alergia, injeções de dessensibilização, aplicação de anestésicos locais e vacinas. Apresenta uma absorção mais lenta. - Injeções subcutâneas: como vantagem é que temos uma absorção boa e constante para soluções. Também apresentamos uma absorção lenta para suspensões e pellets. Como desvantagem é que ocorre uma facilidade de sensibilização do paciente, causa dor e necrose por substâncias irritantes. - Injeções intramusculares: é a introdução de drogas dentro do músculo através de injeção. Como vantagem ela apresenta uma absorção rápida, pode ser administrada em pacientes inconscientes e é adequada para volumes moderados, veículos aquosos, não aquosos e suspensões. Como desvantagens temos dor local, lesões por aplicação de substâncias irritantes ou de pH distante da neutralidade. Também gera inflamações locais pela injeção de substâncias irritantes ou mal absorvida. - Injeções endovenosas: como vantagem temos uma obtenção rápida de efeitos. A administração pode ser feita em grande volumes em infusão lenta. Como desvantagem temos o risco de embolia, irritação do endotélio vascular, infecções por contaminação e reações anafiláticas. É imprópria para solventes oleosos e substâncias insolúveis. 10 Absorção de Fármacos Farmacocinética: é o estudo do movimento de uma substância química, em particular de um medicamento no interior de um organismo vivo, isto é dos processos de: absorção, distribuição, biotransformação e excreção. Fases envolvidas na resposta terapêutica aos medicamentos: a partir de uma dose nós temos a primeira fase, chamada de farmacêutica, nela ocorre a desintegração e dissolução do medicamento, na segunda fase, chamada de farmacocinética, temos a absorção, distribuição, metabolização e excreção. Por fim temos a terceira fase chamada de farmacodinâmica, em que ocorre a ligação do fármaco com seu receptor, promovendo o seu efeito. Absorção de fármacos: vai depender do modo como essa fármaco foi administrado. No caso de uma via intra- venosa, não ocorre a absorção desse fármaco. A absorção vai ocorrer apenas quando for necessário a passagem deste fármaco por uma barreira, como ocorre na via intra- muscular, sub-cutânea, oral ou retal. Uma vez que o medicamento se encontra presente na corrente sanguínea ele pode se encontrar na forma livre, seguindo então para a biofase, se liga ao seu receptor e gera sua ação/efeito. O medicamento também pode acabar se ligando a alguma substância (albumina). Por fim, esse medicamento também pode ser biotransformado para que ele seja excretado. Absorção: é uma série de processo pelos quais uma substância externa a um ser vivo nele penetram sem gerar lesão traumática chegando até o sangue. As substâncias apolares (lipossolúvel) conseguem atravessar as membranas celulares de forma passiva, já que essa membrana também apresenta características apolares. Dessa forma, essas substâncias conseguem chegar à corrente sanguínea por diferença de concentração. As substâncias polares (hidrossolúveis) são absorvidos por transporte ativo, se utilizando de proteínas de membrana e com gasto de ATP. Por fim, podemos ter uma outra forma de absorção, menos comum, que ocorre por transporte de vesículas (lisossomo), até a corrente sanguínea. Tipos de barreiras tissulares: temos as barreiras da mucosa gastrointestinal, barreira epitelial (córnea e bexiga), barreira hematoencefálica, barreira hemotesticular, barreira placentária e as barreiras capilares. As células ciliadas do pulmão também servem de barreira, somente partículas com menos de um micro de tamanho ou se voláteis conseguem atravessar o pulmão e serem absorvidas. O revestimento da mucosa sublingual pode servir como via para administração de substâncias que queremos ter um efeito muito rápido, sendo rapidamente absorvidas, portanto. A via mais importante são das células epiteliais do intestino, que apresentam uma superfície de absorção bem grande, havendo a absorção de forma fisiológica (alimentação). A mucosa retal também pode ser usadas como via de administração. Mucosa gastrointestinal: as células epiteliais do intestino apresentam projeções alongadas de microvilosidades, garantindo uma maior área de absorção, principalmente de fármacos/substâncias apolares. - Zona de oclusão: é um cinturão adesivo situado junto a borda livre da células epiteliais que mantém as células vizinhas encostadas, o que impede a passagem de moléculas entre elas. Assim, substâncias eventualmente presentes em uma cavidade revestida por tecido epitelial não podem penetrar no corpo, a não ser atravessando diretamente as células. Influência do pH do meio na administraçãode medicamentos administrado por via oral: - pKa: é o pH onde a molécula do fármaco está 50% ionizado e 50% não ionizado. Por exemplo, o ácido acetil-salicílico é um ácido fraco e tem o seu pKa a 3,5, então quando você toma um comprimido de aspirina, se o seu estômago estiver com um pH exatamente iguala 3,5, metade das moléculas de Aspirina no estômago estarão ionizadas (A-), isto é com carga, e metade vão ficar sem carga, isto é, apolares (AH). (A-) + (H+) = 1 (AH) É lógico que as moléculas apolares (AH) atravessarão as membranas celulares por estarem apolares e lipossolúveis e as moléculas ionizadas (A-) não atravessarão as membranas celulares, não sendo absorvidas. - Equação de Handerson-Hasselbach para cálculo da porção ionizada e não ionizada de fármacos: para se calcular qual a % do fármaco estará ionizada e qual estará não ionizado utiliza-se as seguintes fórmulas: Para ácidos: pH – pK = log (Ionizado/Não ionizado). Para bases: pH – pK = log (não ionizado/ionizado). Sendo que aquilo que não é ionizado é o que vai se encontrar apolar, conseguindo atravessar a membrana. 11 - Exemplos da influência do pH na ionização de fármacos: uma substância química classificada como ácido fraco, cujo valor de pKa = 4,4. Esta substância foi dissolvida em uma solução com pH = 1,4; valor similar este aos encontrados no estômago tem-se que: pH – pK = log (I/NI) // 1,4 -4,4 = log (I/NI) // -3 = log (I/NI) // I/NI = 10-3 Portanto, para cada molécula ionizada teremos 1000 moléculas não ionizadas, isto é, moléculas que são apolar e lipossolúveis que consegue atravessar as membranas celulares e ser absorvido pelos organismos. Dessa maneira, observamos que os ácidos fracos são melhores absorvidos no estômago. No caso de uma base fraca (por exemplo alcalóides) com pK 4,4, no estômago pH =1,4 tem-se que: pH – pK = log (NI/I) // 1,4 -4,4 = log (NI/I) // -3 = log (NI/I) // NI/I = 10-3 Portanto, para cada molécula não ionizada teremos 1000 ionizadas. Dessa forma, as bases fracas serão melhores absorvidas em pH alcalino como encontrado no duodeno e serão pouco absorvidas no estômago. Dessa forma, um medicamento básico administrado via oral, vai conseguir ter efeito de acordo com o tempo do esvaziamento gástrico (30/40 minutos). Glicoproteína P (P-gP): incluído nos mecanismos de transporte ativo de fármacos, recentemente foi descoberto a glicoproteína P, que é encontrada no fígado, rins, cérebro e trato gastrointestinal, apresentado nestes locais papel relevante nos processos de absorção, distribuição e excreção de fármacos. Esta glicoproteína apresenta um papel de proteção do organismo contra xenobióticos, excretando estes componentes na bile, urina e no lúmen intestinal, previne também sua acumulação no cérebro. Por outro lado, alguns estudos científicos têm comprovado que a glicoproteína P é responsável pela múltipla resistência que alguns tipos de células neoplásicas apresentam a diversos fármacos. A glicoproteína P reconhece e transporta uma série de compostos, sejam eles de caráter neutro, com carga positiva ou hidrofóbicos, impedindo assim seus acúmulos intracelularmente. Bomba de efluxo associada a P-gP: esta glicoproteína age como uma bomba de efluxo ATP-dependente, transportando fármacos e xenobióticos para a parte externa das células de vários locais do organismo. Ela está envolvida no processo de absorção, distribuição, metabolismo e excreção de diferentes fármacos como os: agentes quimioterápicos, glicosídeos cardíacos, inibidor da protease HIV-1 e ciclosporina, entre outros. No enterócito, a glicoproteína P tem um papel fundamenta na biodisponibilidade e na depuração intestinal de certos fármacos. Essa proteína também está relacionada com interações medicamentosas que ocorrem mediante a coadministração de diferentes fármacos com seus substratos, indutores e/ou reguladores da P-gP. A P-gP captura uma substância que tenta entrar no citoplasma celular, lançando ela de volta para o lúmen intestinal. Os indutores conseguem aumentar a capacidade dessa glicoproteína, enquanto que os inibidores aumentam a absorção de fármacos ao inibir a atividade dessa proteína. Barreiras capilares: - Capilares com máculas: representa a maioria dos capilares do organismo (músculos, vísceras, ossos entre outros). Apresentam membranas contínuas com presença de zonas frouxas na junção entre as células, que permitem que substâncias químicas não ligadas a proteínas plasmáticas, possam alcançar o espaço extracelular. - Capilares contínuos com bloqueios completos: são os únicos capilares do organismo que tem os espaços intracelulares completamente ocluídos, sendo a travessia pelo interior das células epiteliais destes capilares a única forma de passagem de uma substância química par ao espaço extracelular. Como exemplo temos os capilares da barreira hematoencefálica. No SNC os capilares apresentam-se completamente revestidos pelos pés vasculares dos astrócitos. As células endoteliais estão unidas por junções íntimas que vedam o espaço extracelular. - Capilares fenestrados com diafragma: presentes em órgão excretores e secretores como dos glomérulos renais e glândulas salivares, pancreática e hipofisária. Esses poros podem estar ou não cobertos por um diafragma, que é uma espécie de membrana fina. As fenestrações são janelas abertas entre as células, que permitem o livre acesso das substâncias químicas livres, ou seja, aquelas não ligadas a proteínas plasmáticas para os espaços intercelulares. 12 - Capilares sinusóides: estão presentes no fígado e em órgãos hematopoéticos, como na medula óssea e no baço. Apresentam um trajeto tortuoso (sinuoso) e calibre aumentado. Além de poros sem diafragma, há amplos espaços entre as células endoteliais, e a lâmina basal é descontínua. Há macrófagos em torno da parede. O trajeto tortuoso reduz a velocidade da circulação sanguínea e as demais características desse capilar possibilitam um intenso intercâmbio de substâncias entre sangue e os tecidos e a entrada ou a saída de células sanguíneas. A presença destes diferentes tipos de capilares altera de forma marcante a distribuição de fármacos pelos organismo, de tal forma que podemos tem maior concentração ou ausência de alguns fármacos nos vários compartimentos do organismo. (não é necessário gravar os tipos de capilares e sua localização). Barreira placentária: envolve os capilares maternos, a barreira placentária e os capilares fetais. As substâncias podem ser transportadas por difusão simples (fármacos lipossolúveis de pequeno tamanho, sais e água), difusão facilitada (glicose), transporte ativo (aminoácidos) e pinocitose (macromoléculas). Para cada fase do desenvolvimento fetal, os fármacos vão apresentar efeitos adversos. Na fase da nidação (até 2 semanas e meia), o uso dos fármacos vai levar a morte fetal, na fase embrionária (até 12 semanas) o uso de fármacos causa malformações e teratogenia, na fase fetal (até 38 semanas), o uso dos medicamentos levam a alguns distúrbios funcionais. Portanto, muitos medicamentos são contraindicados para grávidas. Categoria de segurança de fármacos durante a gravidez: Categoria Descrição A Estudos controlados mostram não haver riscos: estudos adequados e bem controlados em mulheres grávidas não demonstram riscos para o feto. B Não há evidências de risco em humanos: nesse caso, ou há estudos em animais mostrando riscos, mas estudos em humanos não os demonstram, ou não há estudos em humanos e os estudos em animais não mostram riscos. C Riscos não podem ser descartados: não há estudos em seres humanos e os estudos em animais não existem ou mostram risco fetal. Entretanto, os benefícios potenciais superam os riscos. D Evidências positivos de risco: dados experimentais em seres humanos ou estudos pós-comercialização mostram riscos para o feto. Entretanto,os benefícios potenciais podem superar os riscos, uma vez que não existam alternativas seguras. X Contra-indicados na gestação: estudos em animais ou seres humanos ou estudos pós-comercializados mostram riscos fetais que claramente superam qualquer benefício potencial para o paciente. Não há justificativas para o uso dessas drogas na gestação Efeitos de medicamentos sobre a lactação: um fármaco pode apresentar efeito terapêutico na mãe, mas um efeito não desejado na criança, dependendo da concentração da substância, a distribuição que ela vai apresentar e a taxa de eliminação desta droga na criança. Barreira hematoencefálica: os capilares dessa barreira apresentam uma íntima junção das células além da presença dos astrócitos, formando essa barreira. Substâncias específicas vão conseguir, no entanto, atravessar essa membrana, principalmente aquelas pequenas e lipossolúveis (anti-depressivos, anticonvulsivante, ansiolíticos e outras), atuando nos neurônios. Importante notar que essas mesmas substâncias, por conta de suas características, vão conseguir atravessar a barreira placentária. Mas nem todas substâncias (alguns antibióticos) conseguem atravessar essa barreira, não gerando um efeito ou alteração do SNC. Barreira testicular: formada por um capilar, uma lâmina basal e o testículo onde ocorre a formação dos espermatozóides. Substâncias lipossolúveis conseguem atravessar essa barreira por difusão simples, enquanto que outras vão ter que apresentar um facilitador. Fatore que podem influenciar a biodisponibilidade de fármacos administrados por via oral: - Propriedades físico-químicas do fármaco: tamanho da partícula; forma cristalina ou amorfa; hidratação; solubilidade óleo/água; pH e pKa; velocidade de desintegração (comprimidos), tempo de dissolução do princípio ativo na forma farmacêutica, condições de armazenamento e estabilidade. - Ingredientes farmacotérmicos e características: aglutinantes; lubrificantes; diluentes; adsorventes; desintegrantes; estabilizantes; flavorizantes; corantes. - Fatores fisiológicos e características do paciente: tempo de esvaziamento gástrico; trânsito intestinal; condições patológicas ou anormais; conteúdo gástrico (outras drogas, alimentos e líquido gastrointestinal); pH gastrointestinal; metabolismo de primeira passagem. 13 Distribuição de fármacos no organismo Biodisponibilidade de medicamentos: envolve a ligação dos medicamentos a proteínas plasmáticas, acumulação e estoque nos diversos compartimentos orgânicos e a sua meia vida. Ligação de medicamentos a proteínas plasmáticas: uma quantidade significativa de medicamento absorvido por um organismo se liga de forma reversível às proteínas plasmáticas. Sendo que, somente a fração livre do medicamento tem a capacidade de deixar o plasma e alcançar o seu sítio de ação, fazendo o seu efeito farmacológico. Existe um equilíbrio dinâmico do medicamento entre a fração ligada a proteínas plasmáticas e livre. Medicamentos que não se ligam a proteínas plasmáticas conseguem rapidamente sair da circulação até o órgão efetor causando o seu efeito. No entanto, justamente por estar livrem ele pode ser rapidamente biotransformado/metabolizado e excretado, dessa forma, o seu efeito é rápido e de curta duração. Já os medicamentos ligados às proteínas plasmáticas não geram diretamente seu efeito, mas ficam mais tempo na circulação, sem ocorrer muita metabolização e excreção deles, portanto, eles atuam de forma mais demorada, mas por longo prazo. A proteína plasmática presente em maior quantidade é a albumina, se ligando a uma série de substâncias diferentes, mas também temos as globulinas, ambas são responsáveis por se ligarem aos seus respectivos medicamentos e substâncias. A administração concomitante de dois medicamentos com alta porcentagem de ligação plasmática pode ocasionar um aumento da atividade ou da toxicidade de um deles. Por exemplo, de acordo com a figura, o fármaco A na presença de B, leva ao aumento da concentração de A livre na corrente sanguínea que irá atuar farmacologicamente podendo causar efeito tóxico. Quando dois medicamentos são administrados em concomitância e competem com o mesmo sítio de ligação nas proteínas plasmáticas (com porcentagem de ligação acima de 80%), ocorrendo deslocamento de um deles para a forma livre, processo chamado de interação medicamentosa. A forma livre do fármaco pode acarretar num aumento dos efeitos farmacológicos ou tóxicos. Estes efeitos tóxicos ou farmacológicos serão importantes ou não, dependendo da janela terapêutica dos medicamentos administrado conjuntamente. - Exemplos de interação medicamentosa: uso de anti-inflamatórios como a oxifenilbutazona mais anticoagulantes orais (varfarina) aumenta o tempo de coagulação do paciente, aumentando a probabilidade de sangramento. Outro exemplo e o uso de hipoglicemiantes orais como a cloropropamida (Diabinese®) mais fibrato (antilipêmico) ou aspirina (anti-inflamatório) podem acarretar hipoglicemia grave no paciente. A albumina plasmática é a mais importante proteina plasmática envolvida na ligação com medicamentos. No entanto, ela não é a única, beta-globulinas e a glicoproteína ácida também se ligam aos medicamentos. Existe uma preferência em que os fármacos ácidos se ligam a albumina, enquanto que os fármacos básicos se ligam as beta-globulinas e as glicoproteínas ácidas. Uma porcentagem de ligação de um fármaco à proteínas plasmáticas acima de 80% restringe sua distribuição extravascular e pode retardar ou facilitar sua eliminação, dependendo dos processos envolvidos. Em todas as ocasiões em que dois medicamentos, com alta ligação com proteínas plasmáticas forem utilizados concomitantemente, deve-se pesquisar na bula dos mesmos se a interação medicamentosa é segura para o paciente. Quando a fração livre abandona a circulação, a porção do medicamento ligado se libera das proteínas, refazendo este equilíbrio. Considera-se a ligação com proteínas plasmáticas o reservatório circulante de medicamentos potencialmente ativos. A dose utilizada farmacologicamente leva em conta esta ligação. A farmacocinética de um medicamento é calculada para indivíduos com parâmetros bioquímicos dentro da normalidade, cabendo ao médico realizar os ajustes para indivíduos portadores de doenças. A queda nos níveis de proteínas plasmáticas em indivíduos caquéticos, desnutridos ou alcoólatras crônicos portadores de insuficiência hepática, podem alterar de forma marcante o efeito farmacológico. Mudanças nos níveis destas proteínas plasmáticas (hipoproteinemias) podem aumentar a toxicidade de medicamentos que apresentam alta afinidade a essas proteínas. Podem, também, em alguns casos acarretar diminuição do tempo de efeitos de outros fármacos. Por exemplo, o uso de furosemida (diurético de alça) em paciente com insuficiência renal funcional, associada a doença hepática grave e portadores de hipoproteinemia, podem acarretar em diminuição dos efeitos deste diurético, causando excreção aumentada do mesmo, e portanto, diminuindo seu tempo de ação. 14 Parâmetros farmacocinéticos calculados a partir de: gráficos de concentração plasmática vs tempo: Cmax: concentração máxima plasmática. Tmax: tempo de concentração máxima plasmática. ASC ou AUC: área sobre a curva ou também chamada de area under the curve. Apresenta uma primeira fase de absorção, em que o medicamento acabou de ser administrado, sendo lentamente absorvido, até atingir o seu pico Cmax. A partir disso, o medicamento vai se distribuindo pelos tecidos do organismo para ter seu efeito farmacológico. Por fim, o medicamento será biotransformado e excretado até sua concentração chegar a zero. É importante notar que a via intravenosa o Cmax é no tempo zero, em que administramos diretamente todo o medicamentos de uma só vez na circulação, não precisando passar pela faseda absorção. Outra coisa importante a se notar, é que, dentre as diferentes formas de administração, a ASC pode ser igual, apesar do seu Cmax/Tmax ser diferente. Biodisponibilidade: é a fração do fármaco administrado que alcança a circulação sistêmica. Ele mede a quantidade de um fármaco, contido em determinada forma farmacêutica (medicamento), que ao ser administrado a um organismo vivo, atinge de forma inalterada a circulação sanguínea. Por exemplo, no caso de um fármaco em que é administrado 100 mg via oral, nem tudo será absorvido, digamos que seja de 70%, portanto, a biodisponibilidade é de 70%. Os dados de biodisponibilidade são utilizados para determinar a quantidade de um fármaco contido em um medicamento que é absorvido a partir de uma determinada forma farmacêutica. Avaliando a velocidade de absorção do fármaco e a permanência do fármaco nos líquidos do organismo e sua correlação com as respostas farmacológicas e/ou tóxicas As informações determinadas pelos estudos farmacocinéticos, como a biodisponibilidade, tem importância para determinação da posologia de um medicamento e a eficiência de uma forma farmacêutica. Bioequivalência: são estudos comparativos de duas ou mais formulações farmacêuticas diferentes contendo o mesmo princípio ativo, administrado na mesma dose, pela mesma via e na mesma espécie animal. Bioequivalente são dois medicamentos com os mesmos parâmetros farmacocinéticos, isto é, mesma ASC, mesma Tmax e mesma Cmax. Os estudos de bioequivalência são utilizados para avaliação entre especialidades farmacêuticas com o mesmo princípio ativo, porém de fabricantes diferentes. Também podem ser utilizados para mudanças em procedimentos farmacotécnicos e a liberação de medicamentos genéricos. Medicamentos genéricos: pela Anvisa na lei 9.787/99 e a resolução 391/99, os medicamentos genéricos foram regulamentados. A bioequivalência é requisito fundamental para o registro de medicamentos genéricos. É permitido no máximo uma diferença de 20% na biodisponibilidade e nos parâmetros farmacocinéticos entre duas formulações farmacêuticas, para que dois medicamentos produzidos por fabricante diferente sejam considerados bioequivalentes. 15 Biodisponibilidade semelhante: as principais medidas farmacocinéticas elaboradas e utilizadas para determinar se dois medicamentos trazem biodisponibilidade semelhante são: o pico de concentração máxima (Cmax) e ASC do perfil farmacocinético. Dois medicamentos serão consideradas bioequivalentes se, além de serem equivalentes farmacêuticos, também apresentarem os resultados dos estudos de biodisponibilidade relativa estatisticamente equivalentes (intervalo de confiança 90%). Estes dados obtidos pelos teste da ASC e Cmax é feito pelo (ASC0-t teste/ASC0-t referência e Cmax teste/Cmax referência). Se o resultado dessas razões for igual a 1 (intervalo de confiança de 0,8-1,2), entende-se que os medicamentos testados têm igual biodisponibilidade e portanto, podem ser considerados bioequivalentes. Faixa terapêutica: é a faixa de concentração plasmática situada entre a concentração que produz efeitos terapêuticos mínimos e a que produz efeitos tóxicos. Este exemplo é apenas didático pois na prática o efeito tóxico a ser avaliado para o cálculo da faixa terapêutica deve ser menos dramático. Índice terapêutico (IT) é a faixa terapêutica versus faixa de efeitos tóxicos, é um indicativo de quão seletivo é o efeito benéfico da droga em relação à sua toxicidade. O amplo índice terapêutico corresponde a ampla faixa de concentração que pode ser utilizado na clínica. O IT ideal deve ser maior que 10. Por exemplo, a teofilina é um medicamento utilizado em DPOC, ele apresenta uma estreita faixa terapêutica, apenas de 10-20mg/L, acima disso, ele passa a ser tóxico, provocando náuseas, taquicardia, vômito e nervosismo. Abaixo de 10 mg/L o medicamento já não apresenta efeito algum. Dessa maneira, o IT dela é igual a 20/10, portanto 2, sendo que o ideal fosse de pelo menos 10. Portanto, quando for administrar medicamentos com uma faixa terapêutica muito pequena, deve-se tomar muito cuidado para não errar a dose e provocar efeitos adversos e até mesmo a morte. Janela terapêutica: é a faixa de concentração plasmática entre a dose eficaz mínima e a dose máxima permitida. Corresponde a uma faixa plasmática aceitável na qual os resultados terapêuticos são positivos. Por exemplo, para crianças com peso inferior a 20 Kg, a dose diária do fármaco amoxicilina pode variar de 20-40 mg por quilo de peso, portanto, se a criança tiver 10 Kg de peso corporal, a dose diária pode ser no mínimo 200mg e no máximo 400 mg do fármaco (dividida em três doses de 8/8 horas). Assim, a janela terapêutica (dose recomendada) diária do medicamento amoxicilina para crianças com o peso corporal de 10 Kg varia entre 200-400mg. Meia-vida de eliminação (T1/2beta): tempo necessário para que a concentração do fármaco no plasma reduza pela metade. O T1/2beta auxilia na definição da posologia do medicamento, isto é, a frequência e a dosagem do mesmo indicado na terapêutica. O cálculo é feito pelas curvas de concentração plasmática (concentração do fármaco plasmático em mg/L em escala ln). T1/2beta = 0,693 Kel -> sendo que Kel é a constante de eliminação. Steady state ou estado de equilíbrio estável: é o ponto em que a taxa de eliminação do fármaco é igual à taxa de biodisponibilidade, ou seja, é quando o fármaco encontra-se em concentração constante no sangue. Como podemos observar, para atingir o estado de equilíbrio dinâmico, a frequência de administração de um medicamento deve ocorrer antes de quatro vezes a meia-vida de eliminação. Por exemplo, um fármaco com T1/2 por volta de 6 horas deve ter a frequência de administração em até 18 horas para ocorrer o estado de equilíbrio estável, acima deste horário, a eliminação do fármaco é de 94-96% e sua concentração plasmática tende a zero. Se o medicamento é administrado antes que a concentração tenda a zera, ocorrerá acumulo. No exemplo anterior, em que o T1/2 é por volta de 6 horas, ao administrarmos o medicamento de 6 em 6 horas, serão necessários o tempo de 5-6 T1/2 para alcançarmos o estado de equilíbrio estável/steady state (SS). Nesse momento, a concentração média do medicamento é duas vezes a concentração inicial. 16 Caso o paciente não tome o seu medicamento de forma adequada, o steady state não vai se manter dentro dos parâmetro desejáveis, e como consequência, ele não vai apresentar um efeito desejável, pois haverá momentos em que o medicamento estará na faixa subterapêutica. É possível realizar inicialmente uma dose de ataque, em que é administrado duas vezes aquilo que deverá ser tomado depois nos intervalos de tempo regulares, dessa forma, logo no início do tratamento, o fármaco já vai se encontrar dentro da faixa terapêutica. Uma vez feito essa dose de ataque, o paciente volta a tomar a dose na metade desse valor, garantindo a estabilidade da dose. Tempo de eliminação ou T wash out:b é o intervalo de tempo, em horas, necessário para eliminação total do fármaco pelo organismo. Leva-se em consideração que uma meia vida é o necessário para eliminar 50% da concentração plasmática total do medicamento. Portanto, 2 T1/2 é igual a 75%, 3 T1/2 é igual a 87,5% e assim por diante. Portanto, o tempo de eliminação de quase a totalidade do fármaco pelo organismo é estimado entre 4 a 5 T1/2 do mesmo. Cálculo do paramento ASC: o valor numérico da ASC é calculado pela somatória das áreas sob a curva (concentração plasmática x tempo em horas). ASC é a somatória da área do triângulo A1 e de todos os trapezoides (A1-An) que constituem este gráfico. Quanto maior o valor numérico da ASC, maior terá sido a exposição do indivíduo a um medicamento administrado. Antimicrobianos tempo-dependentes:a taxa de morte de bactérias é influenciada pelo tempo que elas são expostas ao antimicrobiano. Para bactérias gram-positivas, o remédio deve atuar por mais de 40% do tempo acima da concentração mínima inibitória (MIC), enquanto que para gram-negativas deve atuar por mais de 80% do tempo acima do MIC. Antimicrobianos concentração-dependente: a taxa de morte de bactérias depende da concentração do antimicrobiano. A concentração-dependente é calculada pela ASC dividida pelo MIC da bactéria estudada. Para bactérias gram+ o ASC/MIC deve estar entre 30-50, enquanto que para gram- deve estar acima de 100. Modelos farmacocinéticos: - Modelo monocompartimental: o corpo é imaginado como um só compartimento, onde o fármaco penetra e é eliminado, havendo uma distribuição homogêneo. - Modelo bicompartimental: entende que o corpo é dividido em 2 compartimentos, um central (sangue) e outro periférico (tecidos). - Modelo tricompartimental: entende que o corpo é dividido em 3 compartimentos, sendo o plasma, tecidos musculares e outros tecidos. Isso vai influenciar o comportamento do gráfico da concentração pelo tempo, o monocompartimental apresentará penas uma reta, o bicompartimental vai apresentar duas angulações e o tricompartimental, 3. Volume de distribuição aparente (VDA): é a distribuição da água corpórea de um ser humano adulto, sendo que 50- 70% do organismo humano é constituído de água. Para um adulto de 70 kg, ele teria 42 L em água, que vai estar distribuída em 28 litros intracelular e outros 14 litros extracelular, sendo que desse volume extracelular, 10 é intersticial e 4 é plasmático. Como consequência, o fármaco vai se distribuir em quantidades diferentes para cada compartimento do organismo desses volumes. É definido como sendo o volume de líquido necessário para conter a quantidade total de medicamento no corpo, na mesma concentração presente no plasma, é expresso pela fórmula: VDA = dose administrada/concentração plasmática multiplicado pelo peso total do indivíduo. Volume (litros) = massa/concentração. Substâncias confinadas ao compartimento plasmático: substâncias químicas que praticamente não deixam o espaço vascular, como o corante azul de Evans, que tem VDA para humano de 3 a 5 L, isto é, somente o volume plasmático. O manitol e a insulina são substâncias que após a administração intravenosa permanecem no espaço extracelular (plasma 17 e intersticial). Neste caso, o VDA tem um valor aproximado de 14 L. O álcool e ureia tem distribuição homogênea por toda a água do organismo. O álcool que se distribui homogeneamente por todo líquido do organismo tem um VDA de 40 a 70 L. VDA maior que 70 L é uma situação mais difícil de se explicar, mas ocorre quando o medicamento abandona a corrente sanguínea e se acumula no líquido intracelular. O acúmulo de medicamento neste compartimento diminui muito a concentração plasmática do medicamento mensurado. Nesta situação, quando é calculado o VDA, os valores encontrados são maiores que 70 L. Exemplo de cálculo de VDA: 100 g de álcool (equivalente a 250 ml de aguardente) foi ingerido por um homem pesando 70 kg. Os níveis plasmáticos de álcool encontrados forma iguais a 2,38 g/L. O VDA é calculado pela dose/concentração plasmática vezes 70 kg, portanto temos que é igual a 0,6L/Kg ou 42 L, portanto, o álcool se distribui por todo o líquido do organismo de forma homogênea. O VDA nos dá informações úteis sobre a distribuição de medicamentos no organismo e auxilia na otimização de esquemas terapêuticos. É importante parâmetro parar determinar o regime posológico do fármaco. Grandes VDAs podem indicar a necessidade de uma dose de ataque (dose elevada do fármaco administrada no início do tratamento para se atingir a concentração adequada no local de ação). Determinação da dose de ataque: os fármacos em geral levam 4 T1/2 para atingirem a concentração plasmática constante, caso iniciemos o tratamento a partir das suas doses de manutenção. Para que se atinja prontamente a concentração plasmática terapêutica adequada logo no início do tratamento é necessário iniciar o tratamento com uma dose de ataque. Ela pode ser determinada por dose = concentração sanguínea desejada (Cd) x volume de distribuição (Vd). Exemplo, a gentamicina para um paciente de 60 Kg, sendo que o Cd é 6 mg/L, Vd é 0,25 L/Kg, portanto a dose é de 1,5 mg/Kg, totalizando 90mg para dose de ataque da gentamicina. Outro exemplo: um paciente precisa receber eritromicina VO para tratamento de pneumonia, sabe-se que o MIC deste antibiótico é de 20mg/L. O VDA da eritromicina é igual a 40L (distribuição homogênea) e a biodisponibilidade por VO é de 25%. A dose que deve ser administrada para este paciente é calculada pela (MIC x CDA)/disponibilidade, portanto, 3,2 g. Variabilidade farmacocinética: obesos, pediatria, geriatria, pacientes críticos (politraumáticos e ventilações mecânica) e grávidas. 18 Biotransformação Consiste na transformação química de substâncias, sejam elas medicamentos ou agentes tóxicos, dentro do organismo vivo, visado favorecer sua eliminação. Este processo permite a formação de metabólitos que são habitualmente mais polares e menos lipossolúveis do que a molécula original, favorecendo a eliminação da mesma. A biotransformação não apenas favorece a eliminação de um medicamento, como também, com frequência, resulta na inativação farmacológica deste. Contudo, muitos metabólitos de medicamentos apresentam ainda atividade farmacológica, podendo provocar efeitos similares ou diferentes das moléculas originais, e podem também ser responsáveis por importantes efeitos tóxicos que se seguem à sua administração. Os processos de biotransformação acarretam ou em inativação (término da ação do fármaco), ou facilitando a excreção dos fármacos ou podem causar, também, ativação de fármacos originalmente inativos (pró-fármacos), formando metabólitos ativos ou mesmo tóxicos. Biotransformação de fármacos por enzimas citocrômicas presentes no retículo endoplasmático liso: os animais terrestres desenvolveram mecanismos enzimáticos localizados no fígado. Estes mecanismos são responsáveis pela biotransformação de compostos lipossolúveis. Estas enzimas citocrômicas metabolizadoras se localizam celularmente no retículo endoplasmático liso, principalmente no fígado. Biotransformação e efeito de primeira passagem: toda substância química absorvida pelo trato gastrointestinal, através da veia porta, chega obrigatoriamente ao fígado. Nos hepatócitos ocorre a biotransformação dos fármacos e xenobióticos. O efeito de primeira passagem é a biotransformação do fármaco pelos hepatócitos antes do mesmo alcançar a corrente sanguínea. Após a passagem pelos hepatócito, parte do fármaco alcança, via circulação sistêmica, o restante do organismo, onde exercerá seu efeito farmacológico. Cabe lembrar que o fígado não é o único local onde se dá a biotransformação de medicamentos e agentes tóxicos, muitos outros órgãos e tecidos possuem enzimas que normalmente biotransformam substratos endógenos, podendo também biotransformar substratos exógenos. Órgãos como pulmão, rins e sangue tem enzimas biotransformantes, porém em menor quantidade que as encontradas no fígado. Outros locais como pele, adrenal, placenta e intestino também podem apresentar, mas a atividade é bem menor. Fases de biotransformação de medicamentos: os fármacos lipossolúveis/apolar são absorvidos pelas membranas do intestino, caindo no sistema porta, sofrendo o efeito de primeira passagem. Esse fármaco, dentro do hepatócito, sofre as biotransformações de fase 1 (oxidação, redução e hidrólise), que podem levar a uma inativação, ativação ou transformar o fármaco em substância tóxica. Caso essas mudanças ocorrerem de tal forma que aumente a solubilidade do fármaco, ele pode cairna circulação e ser logo excretado. Caso ele ainda não esteja totalmente solúveis, ele passa por uma segunda fase de metabolização, onde o fármaco vai ser conjugado (ácido glicurônico), permitindo a inativação do fármaco e aumento de sua hidrossolubilidade, passando a ser excretado pelo rim ou pela bile. Se o fármaco ainda continuar lipossolúvel, o organismo não será capaz de excretar a substância. Exemplo: a aspirina é um pró-fármaco, que na fase 1 (pela oxidação, hidrólise, hidroxilação e outros eventos) vai ser transformado em um fármaco ativo, podendo ter seu efeito atuante. A aspirina então tem que passar pela segunda fase metabólica, onde ele vai ser conjugada com o ácido glicurônico, para que ela consiga ser excretada pelo rim. Biotransformação de fase 1: as reações de fase 1 convertem os medicamentos originais em metabólitos mais polares por: oxidação, redução, hidrólise. O metabólito resultante pode ser mais ativo do que a molécula original ou menos ativo ou até mesmo inativo. No caso de administração de fármacos hidrofílicos, ele não vai sofrer tanta metabolização, sendo rapidamente excretados (por exemplo a penicilina cristalina). No caso de um fármaco lipofílico que não consegue sofrer metabolização, ele vai ficar em circulação por muito tempo (DDT apresenta meia vida de 2 anos). Caso o fármaco lipofílico consiga ser metabolizado, podemos ter um caso dele ser rapidamente metabolizado (e então é logo excretado) ou ser lentamente metabolizado (demorando mais tempo para ser excretado). 19 Citocromo P-450: é uma enzima oxigenase de função mista ou mono-oxigenase, essa enzima se liga ao monóxido de carbono, fornecendo um produto com espectro de absorção com no máximo de intensidade de 450nm. Atualmente, existem 270 famílias diferentes de genes codificando as CYP (57 nos seres humanos). Cabe ressaltar que este número a cada dia se altera com a descoberta de novas isoenzimas. As reações de biotransformação de fase 1, utilizando as CYP, ocorrem, no sistema microssomal hepático, localizado no interior do REL, no interior dos hepatócitos. O fármaco lipossolúvel se liga a forma oxidada dessa enzima, mudando sua conformação (na presença de NAPDPH citocromo redutase), permitindo que a molécula se ligue com um oxigênio (forma epóxi – instável). Essa molécula se quebra, o fármaco sofre uma hidroxilização e a P-450 é liberada para atuar em outros fármacos. Esse fármaco hidroxilado pode ser tanto liberado na forma livre ou ser conjugado com ácido glicurônico para se tornar mais polar. Nomenclatura das enzimas citocrômicas: tendo como exemplo a enzima CYP2D6 temos que, CYP indicando que é um citocromo P450, o 2 é a sua família genética, D sua subfamília genética e 6 o gene específico. A CYP2D6 é uma enzima expressa no fígado, mas apresenta também alta expressão no SNC incluindo a substância negra, é responsável pelo metabolismo e eliminação de ¼ dos fármacos utilizados clinicamente (realiza uma O-demetilazação). Dependendo do tipo de metabolização sofrida pelo fármaco, ele receberá um nome diferente. Por exemplo, o citalopram é um ativo que ao ser metabolizado continua ativo, podendo formar o desmetilcitalopram (30-50% da metabolização, produzido pelas CYP2C19, CYP3A4, CYP2D6), didesmetilcitalopram (5-10% dos metabolizados), citalopram-N-óxido, e ácido propiônico deaminado (inativo). Todos os metabólitos ativos também são inibidores eletivos da recaptação da serotonina (IRSS), porém mais fracos que o composto original. O citalopram inalterado é o composto predominante no plasma. CYP2D6: essa enzima apresenta uma considerável variação em sua eficiência em função do seu polimorfismo genético. Sendo assim, para fármacos que são metabolizados por essa enzimas, certos indivíduos eliminarão esses fármacos rapidamente (metabolizadores ultrarrápidos) enquanto ouros o farão lentamente (metabolizadores lento). Se um fármaco é metabolizado muito rápido, a sua eficácia pode ser diminuí, e, se ele é metabolizado muito lentamente, podem aparecer efeitos tóxicos. Dessa forma, a dosagem de um fármaco pode precisar de ajuste, levando em consideração a velocidade do metabolismo por CYP2D6. Variabilidade fenotípica entre as CYPs: o genótipo em diferentes indivíduo explica a função normal, reduzida ou não existente. Os testes farmacogenômicos estão disponíveis atualmente para identificar pacientes com variações na CYP2D6 e são utilizados cada vez mais na clínica. Os pacientes podem ser classificados com relação a atividade da CYP2D6 como: - Metabolizador lento: pouca ou nenhuma função da CYP2D6 - Metabolizador intermediário: apresenta taxa com valores entre o lento e o extenso - Metabolizador extenso: função CYP2D6 - Metabolizador ultrarrápido: nestes pacientes a CYP2D6 possui função acima do normal. O fenótipo da CYP2D6 de pacientes é frequentemente determinado clinicamente através da administração de debrisoquina (um substrato seletivo desse citocromo) e avaliação subsequente da concentração do metabólito no plasma. Fatores étnicos na variabilidade da CYP2D6: a prevalência de metabolizadores lentos de CYP2D6 é de aproximadamente 6-10% em populações caucasianas e 2% em asiáticos. A ocorrência de metabolizadores ultrarrápidos é maior entre populações do Oriente Médio e norte africanas. 20 Inibidores da atividade CYP2D6 e interação medicamentosa: alguns fármacos podem funcionar como inibidores da atividade dessa enzima o que pode levar maior atividade farmacológica dos medicamentos administrados concomitantemente. Se um determinado fármaco for administrado ao mesmo tempo com um outro fármaco, e é metabolizado pela mesma enzima citoplasmática, o primeiro pode afetar a taxa de eliminação do segundo, através do processo de interação medicamentosa Classificação dos inibidores da enzima CYP2D6: Inibidores potentes: causam um aumento de pelo menos 5 vezes nos valores de ASC para concentração plasmática. Inibidores moderados: causam um aumento de pelo menos 2 vezes na ASC. Inibidores fracos: causam aumento no valor do ASC entre 1,25-2 vezes. Indução enzimática do sistema microssomal hepático CYP-450: a indução enzimática ocorre pelo aumento na expressão gênica de determinadas isoenzimas. Provavelmente ocorre um aumento na síntese de RNAm e aumento na síntese de determinados CYP. As isofamílias dos CYP450 são susceptíveis a indução enzimática. Tolerância farmacológica: é a diminuição no tempo ou na intensidade do efeito farmacológico de um fármaco. Esta mudança ocorre quando dois diferentes fármacos utilizam o mesmo sistema P-450 para serem biotransformados. Por exemplo, como ocorre na indução causada pelo fenobarbital sódico (anticonvulsivante). Metabolismo de medicamentos: as famílias CYP1, CYP2, CYP3 e em menor quantidade a CYP4 estão envolvidas no metabolismo de fármacos. Algumas variações em alelos resultam em heterogenicidade farmacogenética entre indivíduos. Variações nas respostas a fármacos: variações individuais em alelos, levam a falhas nos tratamentos farmacológicos e geram efeitos tóxicos acarretados pelo mesmo. Diferenças nas expressões destes alelos também estão associado a alguns tipos de câncer. A família CYP1 tem papel importante no metabolismo de xenobióticos, as mutações de genes que codificam estas enzimas levam a doença em seus portadores. CYP e o futuro: o conhecimento sobre elas tem importância no metabolismo de xenobióticos e as consequências que este fato acarreta. As diferenças individuais dos alelos responsáveis pela síntese das CYP tem correlação com os efeitos farmacológicos e tóxicos. Auxiliam no estudo das causas de doenças genéticas, do câncer e a relação com os efeitos tóxicos causados pelos poluentes ambientais. Estes conhecimentos poderão auxiliar no entendimento das diferenças nas respostas individuais das diferentes espécies animais aos fármacos(farmacogenômica). Isoformas das CYP: são formas múltiplas de uma mesma enzima que catalisam o mesmo tipo de reação, porém com afinidade por substratos diferentes, biotransformando fármacos distintos. As isoformas diferem na sua distribuição pelo organismo e na regulação de sua atividade, apresentando diferentes inibidores, indutores e fármacos marcadores. Reações de fase 2: são reações sintéticas ou de conjugação. Nessas reações ocorre um acoplamento entre o medicamento ou seu metabólito a um substrato endógeno, como: ácido glicurônico, radicais sulfatos, acetatos e aminoácidos. Nessa fase, as reações são mais profundas, acarretando a inativação dos fármacos caso eles ainda apresentarem atividade farmacológica e aumento de sua hidrossolubilidade, facilitando a sua excreção. A reação mais importante é a conjugação com o ácido glicurônico. O ácido uridino-difosfoglicurônico é capaz de se conjugar com moléculas receptoras que podem ser classificados como: bases ou ácidos fracos, fenóis ou álcoois. Sendo que o resultado deste conjugação é a formação dos glicuronídeos. A conjugação com glutationa tem um papel importante na proteção dos hepatócitos e de outras células contra lesões tóxicas. O produto desta conjugação são normalmente os ácidos mercaptúricos. Ainda podemos ter conjugação com outros compostos como sulfato, acetil ou glicina, vai depender da afinidade da molécula farmacológica com eles. De qualquer forma, aumenta a polaridade e inativação do fármaco. Resumindo: a biotransformação ocorre nas células do fígado e em menor proporção nas células do rim, pulmão, pele e intestino. As reações de fase I sofrem oxidação, redução e hidrólise, envolvendo enzimas de distribuição tecidual e plasmática e o sistema CYP450. As reações de fase II sofrem conjugação com o ácido glicurônico, sulfas, acetis e outros compostos. 21 Excreção Relembrando a farmacocinética: primeiro temos a administração do medicamento, iniciando a primeira fase farmacêutica, que é a liberação do princípio ativo do medicamento, se tornando solúvel no meio, podendo ser absorvido (passagem do local onde o fármaco foi liberado para o plasma sanguíneo). Quando o fármaco se encontra na circulação, uma parte vai estar livre e outra vai estar ligada, sendo que é o fármaco livre que vai conseguir chegar aos tecidos e realizar sua atuação. Uma outra parte do fármaco livre vai sofrer sua biotransformação, para então ser excretado. Eliminação/excreção: retirada do fármaco inalterado e/ou seus metabólitos do organismo. Apresentamos diversos vias de eliminação, mas 90% dos fármacos são eliminados pela urina, o restante ainda pode ser liberado pelas fezes, pelo ar, lágrimas, saliva, suor e o esperma. Excreção renal: o fluxo sanguíneo renal é extremamente elevado, cerca de 1,1L de sangue por minuto. A circulação chega aos néfrons por meio das artérias aferentes, que passam pelo glomérulo, uma parte do sangue vai ser filtrado, entrando para a cápsula de Bowman, enquanto outra parte vai sair pela arteríola eferente. O líquido filtrado vai sair da cápsula de Bowman, passando pelo túbulo proximal, alça de Henle (ramo descendente e ascendente) e túbulo distal, desembocando nos dutos coletores, onde vai ter sido formado a urina. Pela cápsula de Bowman passam mais de 180L, no entanto, a maior parte desse filtrado, no entanto, é reabsorvida. Os néfrons vão passar então por 4 processos diferentes que vão estar envolvidos com a excreção renal: - filtração glomerular: representa 20% da eliminação dos fármacos, ocorre a passagem de moléculas de baixo peso molecular (20.000 Da) entre o glomérulo e a cápsula de Bowman. Moléculas ligadas a proteínas plasmáticas (albumina) não são filtradas. - Reabsorção: parte do conteúdo filtrado sai do néfron e retorna para os vasos. Isso ocorre em casos de drogas lipossolúveis, que conseguem difundir por entre essas membranas lipídicas. - Secreção: envolve mecanismos de transporte ativo, em que moléculas grandes que não puderam ser filtradas são transportadas (transportadores de membrana) para dentro dos túbulos renais. Esse sistema é saturável, e portanto, pode ser inibido. Por exemplo, a penicilina é eliminada pela urina, mas precisa ser secretada por meio de transportadores, a probenicida compete com a penicilina pela secreção, fazendo com que sejam eliminadas mais lentamente. Um outro exemplo é a digoxina e a verapamil, que também competem pelas mesmas proteínas transportadoras, sendo eliminadas mais lentamente. - Excreção: resultado final do néfron, resultante de uma filtração mais secreção menos a reabsorção. Alguns fatores podem interferir com esse processo, entre eles, temos aqueles que dependem do paciente, como seu fluxo sanguíneo renal, presença de patologias (doença renal crônica dificulta a excreção), idade e pH dos túbulos renais. Os outros fatores dependem do fármaco, como sua solubilidade (hidrossolúvel são mais facilmente eliminados do que lipossolúveis), estar ligado com proteínas plasmáticas (que dificulta sua excreção) e pKa (caráter ácido-básico). 22 O pH e pKa conseguem interferir a excreção pois, caso o pKa do fármaco seja semelhante ao do túbulo renal, 50% dele vai estar ionizado e a outra metade vai estar não-ionizada. A molécula não-ionizada tende a se difundir pelas células epiteliais e serem reabsorvidas, enquanto que a ionizada tende a ser excretadas pela urina. No caso de um paciente que faz uso de anti-ácido, como bicarbonato, por exemplo, vai tornar o meio do néfron mais alcalino, interferindo na quantidade de moléculas ionizadas ou não. No caso de um fármaco ácido, nesse meio mais alcalino, ele vai se encontrar mais ionizado, aumentando sua excreção. Manejo do pH: fornece o racional para tratamento de intoxicações de pacientes que sofreram ingestão excessivo de determinados medicamentos, pois é através da alcalinização da urina que ocorre um aumento da excreção de ácido orgânicos fracos e é através da acidificação da urna que se favorece a excreção de medicamentos de caráter básico. Clearence/Depuração renal (Clr): é definida como o volume de plasma que contém a quantidade de substância que é removida pelo rim por unidade de tempo. É calculada a partir da concentração plasmática, Cpl, concentração urinária, Curi e pela velocidade do fluxo urinário, Vu. Sendo: Clr = Curi x Vu Cpl Em pacientes com algum distúrbio metabólico precisa ter a dosagem de medicamentos ajustados de acordo com o clearence de creatinina. Eliminação via biliar (fezes): algumas drogas podem ser eliminadas através da bile, metabolizado pelos hepatócitos, sendo lançada no intestino, então, uma parte será eliminado nas fezes e outra parte será reabsorvida pelo sistema porta- hepático, retornando para o fígado, podendo seguir novamente pela bile ou cair na circulação sistêmica. Pacientes com alteração de microbiota pode ser prejudicado na eliminação desses medicamentos. Os fatores que determinam esta forma de excreção incluem o tamanho e a polaridade da molécula do medicamento a ser eliminado. Medicamentos com peso molecular elevado, acima de 300 Da, tem grande probabilidade de serem excretados pela bile. Efeito da idade no conteúdo e atividade do complexo CY450: conforme a idade, menor será a atividade do complexo CY450, como consequência, menor será a metabolização dos medicamentos e sua excreção/clearence renal. 23 Farmacodinâmica É o estudo do mecanismo de ação pelo qual um fármaco atua sobre as funções bioquímicas ou fisiológicas de um organismo vivo. A interação fármaco-receptor. A farmacodinâmica realiza estudos quantitativos ou relação dose- resposta dos efeitos biológicos e terapêuticos dos fármacos. É o entendimento sobre os efeitos farmacológicos e adversos causados pelos medicamentos. O fármaco
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