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MÓDULO 4 ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL GOVERNO FEDERAL MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA SECRETARIA NACIONAL DE POLÍTICAS SOBRE DROGAS SECRETÁRIO NACIONAL Paulo Gustavo Maiurino DIRETOR DE POLÍTICAS PÚBLICAS E ARTICULAÇÃO INSTITUCIONAL Marcelo de Oliveira Andrade COORDENADOR-GERAL DE INVESTIMENTOS, PROJETOS, MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO Gustavo Camilo Baptista PLANEJAMENTO E GESTÃO Glauber da Cunha Gervásio Carlos Timo Brito Eurides Branquinho da Silva CONTEUDISTAS George Felipe Lima Dantas Isângelo Senna da Costa REVISÃO DE CONTEÚDO Fernanda Flávia Rios dos Santos Maria de Fátima de Moura Barros APOIO Kathyn Rebeca Rodrigues Lima EXPEDIENTE Baixe o aplicativo Zappar no seu celular ou tablet REALIDADE AUMENTADA (RA) Nas páginas deste material encontram-se códigos como este ao lado que dão acesso a conteúdos extras. Para visualizá-los, baixe o aplicativo Zappar no seu celular ou tablet e enquadre os códigos no aplicativo (você precisa ter conexão à internet). Todo o conteúdo do Curso FRoNt - Fundamentos para Repressão ao Narcotráfico e ao Crime Organizado, da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD), Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) do Governo Federal - 2022, está licenciado sob a Licença Pública Creative Commons Atribuição - Não Comercial- Sem Derivações 4.0 Internacional. BY NC ND UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (SEAD) SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Luciano Patrício Souza de Castro labSEAD COORDENAÇÃO GERAL Luciano Patrício Souza de Castro FINANCEIRO Fernando Machado Wolf SUPERVISÃO TÉCNICA EAD Giovana Schuelter SUPERVISÃO DE PRODUÇÃO DE MATERIAL Daniele Weidle SUPERVISÃO DE MOODLE Andreia Mara Fiala SECRETARIA ADMINISTRATIVA Elson Rodrigues Natário Junior Maria Eduarda dos Santos Teixeira DESIGN INSTRUCIONAL Supervisão: Milene Silva de Castro Gabriel de Melo Cardoso Márcia Melo Bortolato Marielly Agatha Machado DESIGN GRÁFICO Supervisão: Douglas Luiz Menegazzi Heliziane Barbosa Juliana Jacinto Teixeira Luana Pillmann de Barros Vinicius Alves Jacob Simões REVISÃO TEXTUAL Cleusa Iracema Pereira Raimundo PROGRAMAÇÃO Supervisão: Alexandre Dal Fabbro Cleberton de Souza Oliveira Thiago Assi AUDIOVISUAL Supervisão: Rafael Poletto Dutra Fabíola de Andrade Luiz Felipe Moreira Silva Oliveira Renata Gordo Corrêa TÉCNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Dalmo Tsuyoshi Venturieri Wilton Jose Pimentel Filho SUMÁRIO Unidade 1 | CRIMInaLIdade FaCCIOnada nO BRaSIL: enTendIMenTO Unidade 2 | a CRIMInaLIdade FaCCIOnada nO BRaSIL e SUaS PRInCIPaIS ORGanIZaÇÕeS 1.1 Criminalidade faccionada no Brasil e abertura do mercado consumidor de drogas 2.1 O Primeiro Comando da Capital (PCC) 2.2 O Comando Vermelho (CV) 6 7 18 aPReSenTaÇÃO 5 1.2 Criminalidade faccionada no Brasil, a guerra nos presídios e o mercado (atacadista e varejista) de drogas 15 2.3 Algumas diferenças entre o PCC e o CV 20 30 33 ReFeRÊnCIaS 43 2.4 As milícias 2.5 Outras organizações criminosas de origem brasileira 34 40 Curso FRoNt MÓDULO 4 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL 5 aPReSenTaÇÃO Olá, cursista! O presente módulo tem por objetivo apontar, identificar e apresentar diferentes variações de organizações criminosas em atuação no Brasil em 2020, de origem local. De início, torna-se oportuno lembrar que o crime organizado, em regra, é um fenômeno transnacional e não respeita os limites das fronteiras nacionais (simbólicas ou concretas). Assim, não é intenção do módulo explorar a atuação de organizações criminosas de origem estrangeira com eventual atuação no país. Este módulo buscará, portanto, examinar as peculiaridades das organizações brasileiras no que concerne ao mercado de drogas e questões conexas. Os conteúdos dos módulos anteriores poderão auxiliar na aplicação dos conceitos e definições previamente ensi- nados, tendo como foco as organizações criminosas em geral e as do narcotráfico brasileiro. Enquadre no seu celular ou tablet o código de REALIDADE AUMENTADA do aplicativo Zappar para assistir ao vídeo de apresentação do módulo. RA OBjeTivOS dO MódULO � Descrever e modelar o conhecimento sobre a expressão brasileira do crime organizado, comparando e contrastando essa expressão local com a genérica e universal do mesmo fenômeno. Curso FRoNt MÓDULO 4 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL 6 UnIdade 1 CRIMInaLIdade FaCCIOnada nO BRaSIL: enTendIMenTO No módulo anterior, você teve acesso a uma visão panorâmica de diversas organizações criminosas, de estética mafioide, que operam em todos os continentes. Assim, você pode perceber que o crime orga- nizado se encontra globalizado e, de uma forma ou de outra, impacta nossa realidade no Brasil. COnTexTUaLiZandO Foto: Adaptado de © [mrtimmi] / Adobe Stock. Somos afetados em nosso cotidiano e também em nosso papel no Sistema Nacional de Políticas sobre Drogas (SISNAD). Para relem- brar resumidamente o que já estudamos nos módulos anteriores e fortalecer os principais conceitos e abordagens que serão úteis para o entendimento da problemática do crime organizado no Brasil, mais uma vez recorremos a um trecho de um documento das Nações Unidas que possui muita pertinência para este momento de nosso curso: Fatos rápidos Estima-se que o crime organizado transnacional gere US $ 870 bilhões por ano – mais de seis vezes o montante da ajuda oficial ao desenvolvimento e cerca de sete por cento das exportações mundiais de mercadorias (2009). Curso FRoNt MÓDULO 4 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL 7 Todos os anos, inúmeras vidas são perdidas em consequência do crime organizado. Problemas de saúde e violência relacionados com as drogas, mortes por armas de fogo e métodos e motivos inescrupulosos de traficantes de seres humanos e contrabandistas de migrantes fazem parte disso. O crime organizado transnacional não está estagnado, mas é uma indústria em constante mudança, adaptando-se aos mercados e criando novas formas de crime. Em suma, é um negócio ilícito que transcende as fronteiras culturais, sociais, linguísticas e geográficas e que não conhece fronteiras nem regras. Existem muitas atividades que podem ser caracterizadas como crime organizado transnacional, incluindo tráfico de drogas, contrabando de migrantes, tráfico de pessoas, lavagem de dinheiro, tráfico de armas de fogo, produtos falsificados, vida selvagem e propriedade cultural e até mesmo alguns aspectos do crime cibernético. (UNODC, 2011) Assim, a proposta didático-pedagógica desta unidade é apontar e apre- sentar a estrutura e as características do funcionamento da criminali- dade faccionada, enumerando as principais organizações criminosas brasileiras que guardam padrões semelhantes de operação (modus operandi). Sempre bom lembrar que este módulo deverá permitir que você possa fazer generalizações acerca de padrões da criminalidade organizada constituída no restante do mundo, mais particularmente no que tange às dez maiores organizações criminosas na América Latina (conforme apontado pela organização InSight Crime). glossáRio Faccionar é dividir em facções, em bandos, enquanto facção é reunião das pessoas que se comportam ou pensam de uma maneira diferente em relação às pessoas que fazem parte do seu próprio grupo, partido, etc. ou daquelas que causam perturbação à ordem pública ou têm propósitos ilícitos: facção criminosa. 1.1 CRiMinaLidade FaCCiOnada nO BRaSiL e aBeRTURa dO MeRCadO COnSUMidOR de dROGaS Nos módulos anteriores, você teve a oportunidade de estudar sobre um dos principais fatores críticos para a segurança pública no Brasil: a extensa fronteira do país com os maiores centros de cultivo, produção e distribuição de cocaína no planeta: Colômbia, Peru e Bolívia – três países andinos fronteiriços ao Brasil. Curso FRoNt MÓDULO 4 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL 8 BRASiL COLÔMBIA PERU BOLÍViA | FRONTEiRa DO BRaSil cOM PERU, BOlívia E cOlôMBia É importante lembrar que essasituação se agrava ainda mais por conta do papel do Paraguai na dinâmica do contrabando internacional de armas e no cultivo e exportação de maconha para o Cone Sul. A fronteira do Paraguai com o Brasil se estende por 1.366 km, sendo uma das mais extensas do planeta. Isso faz com que o Brasil seja um elo importante na cadeia logística do narcotráfico internacional, tornando-se um dos maiores países com mercados consumidores globais de drogas. Enquadre no seu celular ou tablet o código de REALIDADE AUMENTADA do aplicativo Zappar para assistir ao vídeo sobre como a Polícia Federal tem enfrentado o tráfico de maconha no Brasil com ações no território Paraguaio. RA Curso FRoNt MÓDULO 4 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL 9 Leia a matéria do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) intitulada “Faixa de fronteira do Brasil é tema de estudo do Ministério da Integração e Ipea”, disponível em: https://www. ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_ content&view=article&id=30512&Itemid=7. SaiBa MaiS E quando associamos esse assunto ao ponto de vista da violência e da economia das drogas, verificamos que essa realidade se tornou ainda mais complexa com a Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006. Foto: © [kittyfly] / Adobe Stock. Até 2006, qualquer pessoa flagrada fumando maconha ou usando qualquer outra droga ilícita era detida pela Polícia Militar (PM), levada para a Delegacia/Distrito Policial e só era liberada mediante fiança. Com raras exceções, ninguém em sã consciência se permitia usar droga em público. Ao avistar uma viatura da PM, o usuário de drogas sabia que estava “encrencado.” Quem ousava fazer o consumo de drogas ou o fazia em festas res- tritas, de classes média e alta, ou escondidas em ambientes mais propícios, como prédios abandonados, sem iluminação e embaixo de copas de árvores. https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=30512&Itemid=7 https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=30512&Itemid=7 https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=30512&Itemid=7 Curso FRoNt MÓDULO 4 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL 10 Foto: © [serpeblu] / Adobe Stock. Ou seja, a maioria absoluta da população, principalmente as crianças, não tinha um contato tão constante e intenso com drogas como se vê hoje. Tudo mudou rapidamente com o advento da Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006, quando consumir drogas deixou de ser razão de apenamento. O resultado disso foi a explosão do consumo de drogas em locais públicos como praças, esquinas e tantos outros. Isso é ainda mais significativo quando lembramos que, para a psicologia social, critérios como tempo, frequência e intensidade são os principais fa- tores que determinam a atitude, ou seja, a aceitação dos mais variados objetos e comportamentos por parte dos indivíduos. Com a Lei nº 11.343/2006, uma geração inteira tem vivido com uma exposição precoce, frequente e intensa às drogas e entorpecentes, o que tem retroalimentando o ciclo desurgimento de novos con- sumidores. Essa explosão no consumo, além dos resultados óbvios para a saúde pública, também teve consequências graves para a segurança pública. O ano de 2006 foi marcado pelo maior ataque coordenado a forças de segurança pelo crime na história do estado de São Paulo. Os ataques perpetrados pelo PCC a unidades policiais e agentes da lei no horário de folga foram típicos dos cartéis da Colômbia e das gangues peni- tenciárias Barrio 18 e MS-13. Tudo isso está registrado em detalhes em uma entrevista concedida pelo ex-comandante-geral da Polícia Militar do Estado de São Paulo, coronel Elizeu Eclair Teixeira Borges. Entender a influência da Lei nº 11.343/2006, principalmente os efeitos sociais gerados após sua aprovação, é de grande importância para sua atuação no combate do mercado de drogas. Curso FRoNt MÓDULO 4 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL 11 A entrevista concedida pelo ex-comandante-geral da Polícia Militar do Estado de São Paulo, coronel Elizeu Eclair Teixeira Borges, referenciada anteriormente, pode ser acessada no link: https://www.facebook.com/watch/ live/?v=717874988801850&ref=watch_permalink. Dica DE MíDia Vale considerar que até 2006 a legislação brasileira reprimia tanto o tráfico (em suas diferentes modalidades) quanto o consumo de drogas, e o advento da Lei nº 11.343/2006 reverteu uma política pública de 30 anos. Nesse sentido, veja na sequência dois dispositivos da revogada Lei nº 6.368/1976, a qual regia os temas: Antes Lei nº 6.368 de 21 de outubro de 1976 Art. 12. Importar ou exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda ou oferecer, fornecer ainda que gratuitamente, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar ou entregar, de qualquer forma, a consumo substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar; Pena: Reclusão, de 3 (três) a 15 (quinze) anos, e pagamento de 50 (cinqüenta) a 360 (trezentos e sessenta) dias-multa. Art. 16. Adquirir, guardar ou trazer consigo, para o uso próprio, substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena: Detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de (vinte) a 50 (cinquenta) dias-multa. https://www.facebook.com/watch/live/?v=717874988801850&ref=watch_permalink https://www.facebook.com/watch/live/?v=717874988801850&ref=watch_permalink Curso FRoNt MÓDULO 4 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL 12 Depois Lei nº11.343/2006 de 21 de outubro de 1976 Art. 3º. O Sisnad tem a finalidade de articular, integrar, organizar e coordenar as atividades relacionadas com: I. a prevenção do uso indevido, a atenção e a reinserção social de usuários e dependentes de drogas; II. a repressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito de drogas. Assim, a nova lei optou por medidas de caráter educativo, tendo como objetivo a prevenção do uso de drogas, a atenção e a reinserção social dos usuários e dependentes. No Módulo 1, já tivemos a oportunidade de estudar que dentro da temática “economia das drogas” há visões que se contrapõem dire- tamente à proibição do comércio de drogas. Foram citados exemplos de juristas, políticos e de cidades no exterior que seguem um caminho diferente do que se chama de “proibicionismo”. No vídeo “Da proibição nasce o tráfico”, de Laerte, Dahmer e Arnaldo, você tem a oportunidade de conhecer mais um pouco dos argumentos que sustentam a visão contrária à proibição do comércio e do consumo de drogas, disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=s53leELilaQ&feature=emb_logo. Dica DE MíDia Em 2008, passados dois anos da mudança na política criminal de drogas no país, dois pesquisadores policiais militares enfrentaram o tema em um curso de especialização promovido por uma parceria entre a Universidade de Brasília (UnB) e a Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP). Pela precisão do prognóstico realizado por Popov e Ferreira (2008), vale a pena você conhecer o resumo do trabalho nas palavras dos próprios autores: https://www.youtube.com/watch?v=s53leELilaQ&feature=emb_logo https://www.youtube.com/watch?v=s53leELilaQ&feature=emb_logo Curso FRoNt MÓDULO 4 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL 13 Pelo posicionamento dos autores, podemos entender que a Lei nº 11.343/2006 representou uma importante mudança de paradigma na política nacional de drogas. Ao mesmo tempo que foi instituído o SISNAD, houve o que Popov e Ferreira chamam de instituição de penas mais brandas para o con- sumo, e o Supremo Tribunal Federal (STF) já se manifestou no sentido de que houve de fato a despenalização do consumo (BRASIL, 2007). Enquadre no seu celular ou tablet o código de REALIDADE AUMENTADA do aplicativo Zappar para assistir ao vídeo sobre os efeitos da Lei11.343 – Lei Nacional Antidrogas. RA Em outras palavras, a conduta descrita no artigo 28 da Lei nº 11.343/2006 continua sendo crime, contudo, ao consumidor de drogas não pode ser imposto qualquer tipo de pena privativa de liberdade ou pecuniária (ex.: multa), e muito menos a imposição de fiança quando apresentado em uma delegacia ou distrito policial. Com o advento da Lei nº 11.343/06, o Brasil instituiu o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (Sisnad) pelo qual, além de outras implicações passou a adotar uma modelo penal com maior ênfase na punição do traficante e a adoção de penalidades relativamente brandas para o usuário. Contudo, tanto traficante quanto usuário mantém uma relação de interdependência sistêmica evidenciada pela correlação de oferta e demanda de drogas, sendo ambos, mutuamente responsáveis pelas consequências maléficas que essa atividade causa à sociedade brasileira. O tráfico e o consumo de drogas estão intimamente ligados à prática de vários crimes e desta maneira, não há como negar que ambos alimentam a violência e a cultura do medo. A discussão em torno do entendimento do consumo de drogas como mero problema de saúde pública ou como questão de segurança pública é feita através da comparação da atual lei e da antiga lei de entorpecentes (Lei nº 6.368/76). São utilizados como exemplo alguns crimes ocorridos no Distrito Federal com relação direta ou indireta com o consumo e o tráfico de drogas. Entender o consumo de drogas como mero problema de saúde pública desqualifica o potencial ofensivo do crime cometido, pois abranda as penas aplicáveis. O aumento na demanda por drogas é uma presunção esperada e discutida neste trabalho, partindo-se do pressuposto de que punições amenas tendem a diminuir certos freios legais para os usuários, por sua vez a oferta sofrerá um incremento, no sentido de atender a procura. As repercussões deste instrumento jurídico somente poderão ser realmente avaliadas a longo prazo. (POPOV; FERREIRA, 2008) Outro ponto destacado por Popov e Ferreira e que tem relação direta com o presente curso é o resultado da liberação do consumo no au- Curso FRoNt MÓDULO 4 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL 14 [...] A população com maior poder aquisitivo é a responsável pela maior parte do consumo de cocaína e maconha vendida no Brasil. O que se comprova com a pesquisa é que a relação entre oferta e demanda se aplica perfeitamente ao tráfico de drogas. O consumo aquece o mercado ilícito de drogas e garante o comércio, já que proporciona retorno. Nessa relação evidencia-se a violência como forma de garantia de pontos de vendas (varejos), de aquisição de drogas na origem (atacado) ou como forma de obtenção de meios de aquisição por parte do usuário. (POPOV; FERREIRA, 2008, p. 26) Fato tanto emblemático como lamentável, nesse sentido, foi o as- sassinato de um jovem em uma festa na Faculdade de Direito da Universidade de Brasília por criminosos que possuíam histórico com o tráfico de drogas. O episódio teria ocorrido em mais um evento que envolve bagunça, barulho, bebedeira, sexo, consumo e tráfico de drogas nas dependências de uma universidade pública brasileira. Até aqui, é importante rememorar que praticamente toda a coca do mundo é cultivada e processada em escala industrial basicamente em três países do altiplano andino: Peru, Colômbia e Bolívia, com uma crescente participação do Equador e da Venezuela no refino e no tráfico de cocaína. Até 2006, depois de processada, parte da cocaína deixava esses países vizinhos e passava pelo Brasil em direção a mercados mais lucrativos, como o europeu e o americano. Uma vez que o consumo de drogas deixou de ser punido no Brasil e explodiu o número de consumidores, os traficantes reconheceram que seria muito mais lucrativo intensificar seus investimentos por aqui mesmo do que levar a droga para outros continentes. Afinal, nenhum outro país com a população e as dimensões territoriais colossais do Brasil possui um mercado consumidor de drogas completamente aberto como se tornou a realidade nacional. Esse mercado extraordinário começou a atrair empreendedores. No começo, o terreno era vasto e as organizações criminosas até mesmo cooperavam entre si. Porém, quanto mais os cartéis cresciam, mais precisavam PodcAst TRaNScRiTO mento da demanda por drogas e consequentemente em toda a dinâmica do mercado de drogas no país. Citando uma pesquisa que apontou ser a população com maior poder aquisitivo a que mais consumia drogas no Brasil àquela altura, os autores destacaram que: Curso FRoNt MÓDULO 4 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL 15 avançar sobre o território de outros cartéis, até o ponto de terem de se enfrentar para garantir os territórios conquistados. Traficantes não disputam clientes e espaço no mercado por meio de preço e qualidade do serviço prestado. Como já vimos nos elementos caracterizadores das organizações mafioides, no mundo do crime, a violência muitas vezes é a estratégia mais eficiente para se ganhar mercados. Possivelmente, esta seja uma das explicações para o mar de sangue no qual se tornaram os presídios brasileiros, uma das principais arenas de disputa entre as facções do narcotráfico. 1.2 CRiMinaLidade FaCCiOnada nO BRaSiL, a GUeRRa nOS PReSídiOS e O MeRCadO (aTaCadiSTa e vaRejiSTa) de dROGaS O livro “A guerra: ascensão do PCC e o mundo do crime no Brasil”, de Bruno Paes Manso e Camila Nunes Dias (2018), descreve em de- talhes a relação entre as ações das facções nos presídios e o mercado atacadista e varejista de drogas no Brasil. Foto: © [motortion] / Adobe Stock. Os autores iniciam a obra afirmando que, por trinta anos, o crime organizado ligado ao tráfico de drogas no Brasil formava uma rede que se dividia em duas vertentes com atribuições específicas. Por um lado, havia a vertente atacadista, articulada nas fronteiras para introduzir e distribuir drogas no país ou enviá-las para o exterior, como a busca da droga em fazendas do Paraguai ou da Amazônia andina, a travessia de fronteiras e a entrega aos centros distribuidores. Por outro lado, havia a vertente varejista, organizações locais que vendiam drogas nas ruas de seus Estados (“mercados abertos”, conforme estudado anteriormente). Veja, a seguir, o que caracteriza cada vertente. Curso FRoNt MÓDULO 4 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL 16 VERTENTE ATACADISTA Vertente mais endinheirada e sofisticada da rede do narcotráfico. Envolve planejamento, articulação de agentes qualificados (às vezes pilotos de aeronaves), e capital financeiro para o investimento na mercadoria e no suborno de autoridades. VERTENTE VAREJISTA Vertente mais envolvida com a criminalidade violenta no dia a dia das ruas brasileiras. Garantem seus pontos de venda em confrontos com rivais e com a polícia. Dividem-se em duas subvertentes, ou modelos: modelo paulista e Comando Vermelho (CV). Perceba que, ainda dentro da vertente varejista, surgem duas sub- vertentes, ou modelos. Cada um com sua especificidade de atuação dentro da própria vertente. Do primeiro modelo varejista surgiu o Comando Vermelho, no final da década de 1970, com estrutura centralizada e hierarquizada. Para ser imposto, esse modelo exigiu disputas cinematográficas, como invasões de comunidades com armamento pesado e resgates de seus líderes em operações complexas nos presídios. Já o modelo paulista, que também se verificou no restante do país, baseou-se no acesso direto aos atacadistas por pequenos grupos ou mesmo indivíduos. Esses dois modelos varejistas de negócio não prescindiram do uso de violência e seus agentes morriam em disputas internas e confrontos com rivais e com a polícia ou mesmo por ações de grupos de extermínio. Isso sem contar os assassinatos por motivos banais. Esse modelo aparentemente continua em vigor. Ou seja, os processos varejistas e atacadistas continuam a existir. Vale entendermos que cada vez mais, como vem acontecendono mer- cado formal de itens básicos no Brasil, as organizações criminosas, antes regionais, vêm ganhando musculatura e concentrando os processos atacadistas e varejistas naquilo que vem se denominando “atacarejo”. glossáRio Atacarejo é uma modalidade de comércio criada a partir da junção do atacado com o varejo. Tal estilo de venda deu origem ao conceito “cash and carry” (“pagar e levar”), isso porque, num atacarejo, basta o cliente encontrar o que procura para levar imediatamente para casa, o que acaba por eliminar a intermediação de vendedores e, consequentemente, reduz o preço. Leia sobre a origem e o segredo do sucesso do atacarejo no Brasil na matéria intitulada “O fenômeno dos atacarejos no Brasil”, disponível em: https://www.senior.com.br/ blog/o-fenomeno-dos-atacarejos-no-brasil. SaiBa MaiS https://www.senior.com.br/blog/o-fenomeno-dos-atacarejos-no-brasil https://www.senior.com.br/blog/o-fenomeno-dos-atacarejos-no-brasil Curso FRoNt MÓDULO 4 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL 17 Assim, finalizamos nossa primeira unidade do módulo. Até aqui pu- demos conhecer mais sobre o mercado de drogas e a criminalidade faccionada no Brasil. Siga para a próxima unidade para continuarmos com o aprendizado. Curso FRoNt MÓDULO 4 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL 18 UnIdade 2 a CRIMInaLIdade FaCCIOnada nO BRaSIL e SUaS PRInCIPaIS ORGanIZaÇÕeS COnTexTUaLiZandO Como vimos no módulo anterior do curso, a plataforma digital InSight Crime organizou uma lista com as dez organizações criminosas com maior poder e influência na região. Exército Nacional de Libertação (ENL) Primeiro Comando da Capital (PCC) Cartel de Sinaloa Jalisco Cartel Nova Geração (CJNG) Ex-FARC Máfia Comando Vermelho (CV) MS-13 Autodefesas Gaitanistas de Colombia (AGC) Cartel do Golfo Barrio 18 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 ESTADOS UNiDOS EL SALVADOR MAR DO CARiBE OCEANO PACÍFiCO COLÔMBiA BRASiL MÉXiCO 1 5 3 4 7 10 9 2 6 8 Fonte: Adaptado de InSight Crime (2020). | RaNKING DOS 10 MaiORES GRUPOS cRiMiNOSOS Da aMéRica laTiNa (2019) Quase todas essas organizações foram estudadas no módulo ante- rior, à exceção das organizações de origem brasileira, as quais serão examinadas a seguir. Curso FRoNt MÓDULO 4 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL 19 De todo modo, para chegar a essa lista, a fundação fez uma apuração detalhada por um procedimento metodológico com a definição de dez categorias que permitiram que as organizações fossem comparadas entre si. Relembre essas categorias no quadro a seguir. Indicador Definição 1. Estrutura Estrutura político-militar que garante resiliência e coesão à organização. 2. Liderança central Poder centralizado em um líder ou em um grupo de líderes, a exemplo das organizações mafioides. 3. Identidade/ideologia Identidade, código ou ideologia que facilita o recrutamento de novos integrantes, com vistas ao fomento de uma reputação e de uma marca própria garantindo a lealdade de seus membros. As estruturas criminosas com maior êxito ao longo da história, como a máfia siciliana e a Yakuza, criaram uma mitologia que se traduz em um estrito código de conduta que inclui, inclusive, ritos de iniciação. Trata-se, em última instância, de justificativas morais calcadas em ideologias como o marxismo-leninismo, ou em ideologias de defesa de território, como vimos no nascedouro da máfia siciliana. 4. Poderio econômico Corresponde não somente à acumulação de poder econômico, mas também à diversidade do portfólio criminal e à capacidade de absorver perdas. Nessa categoria também se encontra a capacidade que a organização possui de lavar dinheiro. 5. Penetração no Estado Capacidade que a organização possui de evitar que o Estado não interfira negativamente ou contribua com seus negócios. Isso é possível pela corrupção ou pela infiltração de criminosos na estrutura do Estado, inclusive por vias legítimas, tais quais eleição, nomeação em cargos comissionados, nomeação em conselhos e assinatura de contratos. 6. Ameaças ou exercício da violência A violência e o crime organizado são quase que indivisíveis na América Latina. Na ausência de recursos legais para o cumprimento de acordos, a reputação violenta constitui elemento-chave para a realização dos negócios. Curso FRoNt MÓDULO 4 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL 20 Indicador Definição 7. Efetivo e capacidade militar Quantidade de combatentes que a organização possui à sua disposição e capacidade de realizar operações sofisticadas e precisas ao estilo militar para facilitar e proteger os empreendimentos criminais. Esse critério também envolve o treinamento de novos agentes do crime para a realização dessas atividades. 8. Alianças criminais Capilaridade e capacidade de se articular em rede com outras organizações criminais. 9. Influência territorial e governança criminal Capacidade de controlar áreas geográficas (territórios). Isso envolve o controle de rendas ilegais e o impedimento de invasões por grupos rivais. Além disso, há a criação de governos paralelos com a cobrança de taxas e a aplicação da justiça privada (tribunais do crime, justiçamentos etc.) 10. Longevidade Tempo de existência do grupo criminoso. Metodologia Empregada pela InSight Crime para medir e comparar os grupos criminosos que atuam na América Latina e no Caribe. Fonte: InSight Crime (2020). Nessa lista elaborada pelo InSight Crime, há duas organizações de origem brasileira: o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV). Convergentemente, segundo o Observatório Brasileiro de Informações Sobre Drogas (OBID), os grupos que traficam drogas ilícitas no Brasil têm suas atividades estruturadas a partir exatamente desses dois grupos. Ambos nasceram a partir de associações formadas em presídios brasileiros nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente. Seus líderes e integrantes são na maioria brasileiros. 2.1 O PRiMeiRO COMandO da CaPiTaL (PCC) O Primeiro Comando da Capital (PCC) é uma organização criminosa com origem no estado de São Paulo, tendo surgido no início da dé- cada de 1990. O PCC figura, conforme apontado pelo InSight Crime, no segundo lugar da lista dos dez maiores grupos de organizações criminosas da América Latina, perdendo apenas para o Exército da Libertação Nacional (ELN) da Colômbia. Curso FRoNt MÓDULO 4 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL 21 Assim, vale destacar os seguintes fatos acerca do PCC, de acordo com publicação da organização InSight Crime (2020): O crescimento explosivo do PCC nos últimos anos se deve ao seu envolvimento cada vez maior no comércio de cocaína. Se a receita inicial dele consistia no microtráfico de drogas nas prisões e depois na região sede da organização em São Paulo, hoje o PCC adquire cocaína na Bolívia, na Colômbia e no Paraguai e participa da movimentação de remessas de drogas para o exterior, principalmente para a Europa, isso tudo via portos, como o de Santos. Ou seja, a rota de drogas da organização se estendeu a nível internacional. BRASiL ÁFRiCA DO SUL ÁFRiCA OCiDENTAL PORTUGAL iNGLATERRA iTÁLiA GUiANA COLÔMBiA PERU BOLÍViA PARAGUAi FRANÇA | aS ROTaS Da DROGa DO Pcc Fonte: Adaptado de Defesa Net (2018). Curso FRoNt MÓDULO 4 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL 22 Uma monografia apresentada por Oklak Martins Cortes à Universi- dade Federal de Roraima, em 2019, sob o título “Reflexões sobre o Combate às Facções Criminosas pelos Órgãos de Inteligência de Se- gurança Pública de Roraima” (CORTES, 2019), traz alguns elementos informativos adicionais sobre o PCC. Primeiramente o PCC apossou-se do slogan “Paz, Justiça e Liberdade”, originalmente utilizado pelo Comando Vermelho. Paralelamente, os “dirigentes” da organização se preocuparam em dominar todo o processo produtivo do tráfico ilícito de entorpecentes, controlando desde a matéria-prima produzida pelos fornecedoresaté a distribuição no atacado e no varejo do seu produto final. Enquadre no seu celular ou tablet o código de REALIDADE AUMENTADA do aplicativo Zappar para assistir a animação sobre a história do Primeiro Comando da Capital. RA Foto: © [fusssergei] / Adobe Stock. Também foi amplamente desenvolvido o estímulo à progressão funcional de seus “colaboradores”, através de “promoções” a cargos mais importantes, de acordo com o nível de lealdade e produtividade demonstrado pelos merecedores (CORTES, 2019). Embasando toda essa estratégia, estava o estatuto da facção, reforçado pelas ordens emanadas dos chefes estaduais, através dos chamados “salves”, reproduzidos de forma manuscrita em todas as unidades prisionais onde se encontravam os “irmãos” do crime. Fonte: © Lucas Lacaz Ruiz/AE (Correio 24h). Curso FRoNt MÓDULO 4 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL 23 Jozino (2017) esclarece como começou uma das mais poderosas facções do crime organizado do Brasil, que tem ramificações es- palhadas por vários países da América Latina. O autor destaca os embriões da facção, relatando os diálogos que motivaram a orga- nização dessa facção e os principais personagens que se tornaram membros da história da criação do que veio se tornar conhecido como Primeiro Comando da Capital. Essa organização criminosa passaria a comandar o crime no estado de São Paulo. Sua mensagem logo se espalhou como propaganda pelas penitenciárias, pelas carceragens dos distritos policiais, pelas cadeias públicas, pelas paredes e muros, e pelas portas de celas. Até mesmo camisas eram confeccionadas estampada com a imagem de Che Guevara, ou com o número 15.3.3. Uma curiosidade, a exemplo do Comando Vermelho, o Primeiro Comando da Capital também passou a usar um número para caracte- rizar a sigla PCC, o número 15.3.3 faz referência ao “alfabeto congo”, no qual a sigla “P” se refere à décima quinta letra do alfabeto e as siglas “C” se referem à terceira letra na ordem alfabética. P C C 15 3 3 O dia 2 de outubro de 1992 deve ter ficado marcado na vida de muitos brasileiros, principalmente na população carcerária de todo o país. O dia em que uma rebelião foi finalizada com a ação da tropa de choque da Polícia Militar do Estado de São Paulo e resultou na morte de 111 presos que estavam cumprindo pena no pavilhão 9, que era conhecido como complexo do Carandiru. Tal fato foi o principal incentivador da criação de uma das maiores facções criminosas, que passaria a comandar o crime no estado de São Paulo. (CORTES, 2019, p. 24-25) Apesar de a imprensa ter feito o fato ficar conhecido como “Massacre do Carandiru”, grande parte da população tinha outra opinião a respeito do ocorrido. “Em São Paulo os telefones das principais emissoras de rádio não paravam de tocar. Muita gente ligando para saudar a atitude dos PMs. Alguns lamentavam que o número de mortos não fosse maior. Defendiam até a implosão do presídio com todos os presos dentro” (JOZINO, 2017, p. 18 apud CORTES, 2019, p. 25). Curso FRoNt MÓDULO 4 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL 24 As informações trazidas pela plataforma InSight Crime e Cortez (2008) destacam alguns elementos mafioides do PCC que estruturam e distinguem a organização como forma de preservação dos códigos comportamentais. São eles: Emprego da violência Organização em rede Discurso ideológico moral Mais à frente, ainda neste módulo, você vai conhecer mais sobre essa organização, que tem crescido em poder e influência dentro e fora das fronteiras brasileiras. Segundo Manso e Dias (2018), a configuração das redes (atacadistas e varejistas) começou a mudar no final dos anos 1990. Uma figura icônica desse momento foi Fernandinho Beira-Mar. O traficante, empresário varejista do Comando Vermelho (CV), ao perceber a importância estratégica das fronteiras e da parceria com grandes produtores, passou a eliminar intermediários. Juntando atacado e pontos que já possuía sob seu controle, Beira-Mar obteve boa entrada junto aos criminosos do mercado varejista paulista. Fernandinho Beira-Mar. Fonte: © Erbs Jr./ Frame (Folhapress). Curso FRoNt MÓDULO 4 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL 25 Com a prisão do líder do CV, em 2002, o Primeiro Comando da Capital (PCC) – na época, uma agremiação criminosa local – aproximou-se dos centros produtores em ações articuladas a partir de presídios. Nesse processo, o PCC se aproveitou das técnicas do Comando Ver- melho; contudo, o advento do telefone celular nas prisões permitiu a potencialização das articulações realizadas a partir dos presídios, as quais passaram a ter caráter profissional. Outras inovações trazidas pelo ingresso do PCC no mercado ataca- dista foram sua forma de gestão e seu discurso ideológico, muito à semelhança das justificativas de cunho moral das organizações mafioides. Nas palavras de Manso e Dias (2018): Os paulistas diziam que seus crimes eram praticados em nome dos ‘oprimidos pelo sistema’ e não em defesa dos próprios interesses, o que os diferenciava do personalismo dos traficantes cariocas. Eles assumiam a existência de um mundo do crime e da ilegalidade, tanto nas prisões como nas periferias, conhecidas como ‘quebradas’. Com o PCC, o crime passaria a se organizar em torno de uma ideologia: os ganhos da organização beneficiariam os criminosos em geral. Curso FRoNt MÓDULO 4 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL 26 Podemos entender ainda mais o cunho ideológico adotado pelo Comando Vermelho por meio dos mandamentos criados e seguidos pelos envolvidos: 1. Não negar a pátria. 2. Não cobiçar a mulher do próximo. 3. Não conspirar. 4. Não acusar em vão. 5. Fortalecer os caídos. 6. Orientar os mais novos. 7. Eliminar nossos inimigos. 8. Dizer a verdade mesmo que custe a vida. 9. Não caguetar. 10. Ser coletivo. 0S MandaMenTOS dO COMandO veRMeLhO Ou seja, no lugar de se enfrentarem e se autodestruírem, os criminosos do PCC adotavam uma filosofia de união, autoproteção e aumento de lucros. Adotava-se, assim, a máxima: “o crime fortalece o crime”. Nessa perspectiva, os verdadeiros inimigos eram os policiais e os demais criminosos que não comungavam dos mesmos princípios. Com o novo modelo de negócio e filosofia, o PCC passou a reunir recursos para chegar diretamente aos fornecedores de maconha e da pasta-base de cocaína, tornando-se um grande atacadista que distribuía drogas para varejistas de todos os estados brasileiros. Não demoraria para essa rede dar origem a novas rivalidades e conflitos capazes de produzir um efeito em cascata. Os integrantes desse mundo perderam o status de bichos soltos. Agora a trajetória de cada um estava ligada às facções a que pertenciam. (MANSO; DIAS, 2018, p. 10) Curso FRoNt MÓDULO 4 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL 27 Em agosto de 2018, o PCC conseguiu enviar para Europa sua primeira carga de cocaína. Trata-se de um marco na trajetória logística da organização que demonstrou a capacidade de comprar cocaína na Bolívia e entregá-la diretamente ao comprador em outro continente. Tal feito era um objetivo da organização criminosa e foi concluído pelos criminosos Gegê e Paca. Essa operação era chamada pelo grupo de “princezinha” ou “tomate”. Ressaltando a importância do feito para a mudança de padrão na cri- minalidade brasileira, o Observatório Brasileiro de Informações Sobre Drogas (OBID, 2020) registrou a situação com as seguintes palavras: É interessante deixar relacionado que esta foi a primeira atividade deste tipo feita com o nome da organização, mas vários membros individuais, já o faziam isso, sem passar sua expertise à organização, como: Luciano Geraldo Daniel, vulgo ‘Tio Patinhas’, Valdeci Alves dos Santos, vulgo ‘Colorido’ [...]. Convém relacionar que apesar do PCC estar em brigas com organizações locais, percebe-se que este faz negócios com quem paga, não sendo possível afirmar que tem desavenças com outras organizações criminosas transnacionais. O envolvimento e as parceriasdo PCC com organizações criminosas internacionais têm alçado a organização a ocupar lugar de destaque no cenário global. Como já vimos na Unidade 2, a InSight Crime posiciona o PCC no topo das organizações criminosas latino- americanas. Ao seu turno, o pesquisador Ryan Berg, associado ao American Enterprise Institute, afirma que o PCC rapidamente tem se tornado o grupo criminoso mais bem estruturado da América do Sul. Sobre as conexões do PCC com organizações criminosas estrangeiras, vamos conhecer mais alguns trechos do relatório do Observatório Brasileiro de Informações Sobre Drogas (OBID, 2020) enviado pelo governo brasileiro à UNODC em 2020. Associação do PCC com cartéis mexicanos No dia 12 de agosto de 2019, foi preso em Arraial do Cabo (Rio de Janeiro) Décio Gouveia da Silva, conhecido como Decinho. No dia de sua prisão, os policiais encontraram em seu telefone indícios de que Decinho teria contato com o Cartel de Sinaloa. Através da prisão de Décio, policiais PodcAst TRaNScRiTO Curso FRoNt MÓDULO 4 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL 28 paulistas chegaram no braço responsável pela logística de transporte de drogas. No ano de 2019, após ser preso, Décio expôs sua vontade de realizar uma delação premiada. Em outro caso, no dia 28 de dezembro de 2017, um dos três líderes do Cartel foi preso na cidade de Fortaleza, no Ceará. A prisão de José Gonzalez Valencia, vulgo ‘Chepa’, aconteceu através de informações coletadas que diziam que um cartel mexicano estaria se associando ao PCC, para compra de drogas na Bolívia e transporte até a Inglaterra, a presença de uma das lideranças no Ceará do CJNG fez aumentar as suspeitas. O Ceará foi o local utilizado para escoamento internacional de drogas das quadrilhas lideradas por Gilberto Aparecido dos Santos, conhecido como ‘Fuminho’, e por Rogério Geremias de Simone, o ‘Gegê’, e Fabiano Alves dos Santos, o ‘Paca’, todos do PCC e responsáveis pelo envio da droga para a Inglaterra (OBID, 2020). Conexão do PCC com ORCRIM italiana Em 31 de julho de 2019, os italianos Nicola e Patrick Assisi, membros da Ndragueta, foram presos na cidade de Praia Grande, conhecida por ser um dos grandes berços do PCC no estado de São Paulo. Foram encontrados documentos que relacionavam ligações destes com o PCC. Rocco Morabito, também membro da Ndragueta, fora preso no Uruguai com passaportes falsos brasileiros, na época de sua prisão, foram apreendidos diversos materiais que permitiam afirmar que ele havia morado certo tempo no Brasil. Em 2019 Morabito fugiu da prisão no Uruguai com dois brasileiros e um argentino, a ‘Ndrangheta controla o porto de Gioia Tauro, um dos portos que mais recebe cocaína enviada pelo PCC para Europa. Perceba que o envolvimento e as parcerias do PCC com organizações criminosas internacionais contribuem para a expansão dos crimes e isso tem chamado a atenção de autoridades governamentais e aca- dêmicas no Brasil e no Exterior. Para manter sua expansão e as posições já conquistadas, o PCC precisa manter-se “abaixo do radar”, por meio da lavagem de dinheiro e da ocultação de recursos obtidos com o crime. Outra forma de tornar-se sustentável é por meio da corrupção de agentes públicos ou mesmo da infiltração nas estruturas do Estado. A má notícia é que isso parece que já está em curso e em um estágio avançado. Curso FRoNt MÓDULO 4 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL 29 Foto: © [motortion] / Adobe Stock. Segundo promotores italianos que estudam a ligação do PCC com a máfia ‘Ndrangheta, aparentemente ainda não se registra no Brasil o mesmo cenário de penetração do crime na política que se verifica na Itália, sobretudo na região da Calábria. Entretanto, investigações da Polícia Federal já indicam indícios do financiamento do PCC em campanhas eleitorais no Brasil. Essas mesmas investigações, por meio de relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras, têm revelado que, em quatro anos, mais de 70 empresas lavaram R$ 32 bilhões para o PCC. É justamente a sofisticação na lavagem de dinheiro que torna o PCC mais próximo do modelo de mafioide italiano. O PCC tem superado etapas importantes rumo a uma estrutura mafioide semelhante àquela que tantas iniquidades trouxeram à sociedade italiana ao se tornar amalgamada com a estrutura do próprio Estado. É exemplo do fortalecimento da instituição o próprio uso da infraes- trutura nacional (estradas, portos e aeroportos) para escoar a cocaína e a maconha vindas dos países vizinhos para centros consumidores no Brasil e ao redor do mundo. De igual forma, a ORCRIM também tem se fortalecido por meio de operações de lavagem de dinheiro e mistura de negócios ilícitos com negócios lícitos, a exemplo de outras organizações mafioides. Aqui, caminhamos para o terceiro estágio da relação do crime organizado com o Estado, naquilo que Juliet Berg (1998 apud DANTAS, 2002) denominou de “convivência tácita”. Vale relembrar o conceito de “convivência tácita”: Nesse estágio, seria eleita pelo Estado a opção de tirar proveito das operações ilícitas, na medida em que beneficiassem a economia, a sociedade, ou mesmo os funcionários da Segurança Pública eles próprios. (DANTAS, 2002, não paginado) Curso FRoNt MÓDULO 4 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL 30 2.2 O COMandO veRMeLhO (Cv) O Comando Vermelho é a sexta organização criminosa constante da lista da plataforma InSight Crime. Na última unidade deste módulo, você terá a oportunidade de conhecer mais sobre essa organização. Apesar de sua popularidade no Brasil, negócios pelo mundo e de seu poder bélico nas favelas cariocas, o Comando Vermelho não ocupa o topo da classificação da InSight Crime por conta da ausência de um exército de natureza quase regular como ocorre com os cartéis mexicanos e com as forças paramilitares de guerrilha que operam na Colômbia (Ex-Farc Máfia e ELN). No livro “Comando Vermelho: a história secreta do crime organizado”, Amorim (1993) aponta que o Comando Vermelho teve sua origem na convivência entre presos políticos e presos comuns no Instituto Penal Cândido Mendes, conhecido como presídio da Ilha Grande, em Angra dos Reis, estado do Rio de Janeiro. Muitos revolucionários políticos foram presos e encarcerados no presídio de Ilha Grande. Os ativistas revolucionários de esquerda agiam movidos por uma ideologia política, seguiam o pensamento de Che Guevara, adotando, os que eram mais rebeldes, a luta armada. (MAIA, 2014, p. 7) Acerca da transferência de conhecimentos dos revolucionários para os criminosos comuns, Maia (2014) segue afirmando que: O intercâmbio cultural proporcionou aos bandidos comuns uma nova visão, uma maior conscientização do mundo que os cercava, absorveram as idéias daqueles e as aplicaram em suas atividades criminosas. Como conseqüência ocorre o surgimento de um tipo de crime mais elaborado, planejado com mais cuidado. (MAIA, 2014, p. 8) Ou seja, os criminosos na Ilha Grande encontraram nos ideais da luta ar- mada socialista a autojustificação moral muito comum às organizações mafioides. E dentro deste estatuto moral inspirado nos movimentos de guerrilha marxista latino-americanos até mesmo a violência extrema e instrumental passou a ser justificada. Nesse sentido, vale sublinhar uma das frases célebres de um dos maiores ícones da esquerda mundial, e ainda mais influente à época, Ernesto Che Guevara (1967): Curso FRoNt MÓDULO 4 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL 31 O ódio é o elemento central de nossa luta! O ódio é tão violento que impulsiona o ser humano além de suas limitações naturais, convertendo-o em uma máquina de matar com violência e a sangue frio. Nossos soldados têm que ser assim. Ao verificarmos a ideologia que levou a guerrilha ao poder em Cuba, o foquismo, fica mais fácil entender por que a violência e o terror se tornaram os primeiros recursos da caixa de ferramentas dos grupos revolucionários inspirados no que ocorreu na ilha caribenha. Assim, Amorim (1993) nos mostraque, quando não mais havia presos políticos em Ilha Grande, houve uma sangrenta disputa de poder entre as facções de bandidos comuns que permaneciam em condições sub- -humanas no presídio. Dessa disputa, o Comando Vermelho, facção que mais tarde ganharia as páginas dos jornais e a tela dos cinemas, sagrou-se vencedor. A partir da tomada do presídio de Ilha Grande, a facção passou pau- latinamente a ganhar força e influência dentro e fora da prisão. Para tanto, o Comando Vermelho contou com a tecnologia de ação da guerrilha no enfrentamento de seus adversários e, principalmente, para a tomada de territórios e a conquista de novos correligioná- rios. De uma estratégia de sobrevivência na adversidade extrema no cárcere, agora o CV conquistava territórios, mentes e corações pelo lema gestado a partir da convivência com os membros foquistas da luta armada brasileira: “paz”, “justiça” e “liberdade”. Trata-se de uma mensagem tão sedutora que ainda hoje é acolhida pela mídia de massa e inclusive por seu principal adversário na atualidade, o PCC. glossáRio O foquismo se traduzia na estratégia de espalhar focos de guerrilha pelo mundo, provocando danos constantes e intensos (inclusive assassinatos) no imperialismo capitalista. Assim, desde suas origens, o Comando Vermelho preserva uma característica típica das organizações criminosas mafioides: a busca constante por se legitimar perante seus membros e aqueles que as cercam em suas respectivas bases territoriais. Sobre esse assunto, Amorim afirma que existem situações em que outras quadrilhas alugam ou emprestam homens e armas para ações do Comando Vermelho. Isso sob a condição de que não se atinja a po- pulação do território em que o grupo está instalado ou os interesses da organização. Ou seja, tal qual ocorre com outras organizações criminosas de estética mafioide, está clara a tentativa de criação e manutenção de vínculos com o meio social em que a organização criminosa mafioide está inserida. Atualmente, o Comando Vermelho também possui outros atributos típicos de organizações mafioides como a forte hierarquia e disciplina entre seus membros. Como destaca Amorim (1993): Curso FRoNt MÓDULO 4 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL 32 Por fim, convidamos-lhe a refletir sobre a trajetória e as caracterís- ticas dessa organização, relembrando os elementos distintivos de uma organização mafioide. Para os chefões do crime organizado, esse tipo de ação indiscriminada simplesmente não interessa. Porque não vale a pena ser preso e atrapalhar os negócios lucrativos da droga por qualquer besteira. As quadrilhas que servem ao Comando Vermelho punem com a morte qualquer desobediência. Dentro do grupo não se admitem ações individuais, salvo quando autorizadas pelos líderes. Atributo Descrição 1. Autojustificação moral Prática de crimes para evitar agressões “maiores” a uma comunidade que supostamente se quer proteger. 2. Organização em rede Permeabilidade das organizações criminosas ao longo de grandes territórios ou mesmo de todos eles (globalização ou translocalização do crime). 3. Severa organização hierárquica e disciplinar O equivalente a chefes, conselheiros, capos, soldados, dependendo das denominações locais. 4. Existência de um capo famiglia Figuras máximas na estrutura de comando: “poderosos chefões” na alusão real e até mesmo ficcional a eles. 5. Mistura de negócios lícitos e ilícitos Uso de negócios legais (restaurantes, bares, transportadoras, etc.) para ocultar negócios ilegais. Crimes perpetrados em conexão com políticos, financistas, sindicalistas, doleiros, operadores do direito, etc. 6. Lavagem de dinheiro, evasão fiscal e semelhantes Aquisição de bens de luxo, manutenção de negócios comuns (como pizzarias, comércios diversos, etc.). Articulação de fuga de capitais para organizações bancárias estrangeiras, evasão fiscal, etc. Curso FRoNt MÓDULO 4 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL 33 Atributo Descrição 7. Omertà “Códigos de Silêncio” frente a justiçamentos, chacinas; estatutos de crime; demonização da polícia, etc. 8. Recurso à violência Ameaças, agressões, sequestros, homicídios (incluindo chacinas), justiça própria (morte ou punições). 9. Corrupção de agentes públicos Cooptação de agentes públicos ou infiltração de membros da organização na estrutura do Estado (inclusive pelo processo político eleitoral). 2.3 aLGUMaS diFeRenÇaS enTRe O PCC e O Cv Como vimos anteriormente, o PCC possui gerenciamento de modelo empresarial, com estrutura piramidal, tal qual a estrutura hierárquica de outras organizações mafioides, contudo sem a figura patriarcal, por exemplo, do capo família (máfia italiana) ou do pai (máfia chinesa). Sua cúpula, apesar de presa, empenha-se em manter o comando da organização, coordenando ações criminosas de dentro dos presídios, valendo-se de advogados e familiares para disseminação de ordens. CONSELHO DELiBERATiVO DiRETOR PRESiDENTE R’S FiNANCEiRO CONDEPE ViCE-PRESiDENTE R6 R3 R18 R30 R32 R33 R35 R36 R37 R38 R41 RX RX RX RX R19 R20 R21 R22 R23 R24 R25 R26 R27 R28 R29 R4 R5 R7 R8 R9 R10 R11 R12 R13 R14 R17 F1 DH R1 R2 Ilustração representativa do Conselho e a Sintonia Final, órgão de decisão suprema do PCC. Fonte: Adaptado de Farah (2017). Curso FRoNt MÓDULO 4 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL 34 Por sua vez, a hierarquia de comando no CV é dividida por territórios. Cada líder de território, preso ou não, é independente para orientar ações em suas áreas de domínio, podendo contar ainda com ajuda mútua entre faccionados para conquistar e manter territórios de vendas de drogas. Como as demais gangues presidiárias latino-americanas, fora de seus Estados de origem, o PCC e o Comando Vermelho funcionam muito mais como franquias do crime do que como organizações com rígida unidade de comando. O PCC e o CV permanecem rivais. Disputam as rotas e os mercados das drogas, bem como o domínio e o controle dos presídios em praticamente todo o território nacional. Ambos possuem vínculos internacionais, visto que as drogas ilícitas que circulam no país quase sempre têm origem nos países vizinhos (Paraguai, Bolívia, Colômbia e Peru). Atualmente, o PCC domina grande parte das rotas do tráfico internacional da cocaína, que tem a Europa e a África como principais mercados imediatos. De outro giro, as facções brasileiras contam com parcerias com os grupos criminosos latino-americanos para levar drogas para o mercado norte-americano. Na tentativa de evitar que as organizações sejam comandadas de dentro dos presídios estaduais, autoridades brasileiras passaram a custodiar os principais líderes e outros membros de maior envergadura em estabelecimentos penais federais de segurança máxima. O líder do CV, Marcelo dos Santos Nepomuceno, conhecido como “Marcinho VP”, atualmente cumpre pena no presídio federal localizado no estado do Paraná. Marcos Willians Herbas Camacho, mais conhecido como “Marcola”, principal líder do PCC, cumpre pena no presídio federal localizado no Distrito Federal. Em 2020, as forças de segurança do Distrito Federal foram postas em alerta por conta de rumores de que Marcola estava por ser resgatado. PodcAst TRaNScRiTO 2.4 aS MiLíCiaS A conhecida linguista Squarisi (2013), editora do periódico Correio Braziliense, tece algumas considerações acerca do significado ou do que vem a ser a palavra milícia. Vale citar parte da matéria de sua autoria, datada de 12 de março de 2019: Curso FRoNt MÓDULO 4 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL 35 Pensar nessa expressão atrai, portanto, ideias em associação com militares ou paramilitares de diferentes espécies, incluindo indivíduos egressos das Forças Armadas propriamente ditas, militares das forças de segurança pública dos entes federativos, chegando a alcançar até mesmo seus meros assemelhados, como é o caso de guardas penitenciários, guardas civis, MiLÍCiA vigilantes e toda e qualquer outra categoriaque atueem algo tão genérico como “militância” (conforme constante da citação acima). Milicianos e traficantes, no contexto das organi- zações criminosas, parecem entidades siamesas – mais dia, menos dia, estão lado a lado no mundo do crime, por mais antagônicos que sejam entre si. “Origem – Milícia vem do latim militias. Pertence à família de miliciano, milico, militança.” Segurança Pública Terça-feira, 12 de Março, 2019 Após uma primeira delimitação cognitiva remontando ao sentido etimológico da expressão milícia, vale situá-la também no tempo e no espaço, o que remete o fenômeno ao estado do Rio de Janeiro nas décadas mais recentes. A razão da citação às milícias em um curso sobre drogas está no fato de elas existirem no mesmo tempo e espaço de outras organizações criminosas associadas especifica- mente ao narcotráfico. Num tempo de acentuada polaridade político-ideológica, também vale destacar que as milícias estão associadas, por alguns, ao conservadorismo (“direita”), enquanto aquelas outras organizações criminosas – as do narcotráfico – estão associadas, por outros, a um garantismo jurídico reformista ou revolucionário (“esquerda”). Curso FRoNt MÓDULO 4 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL 36 Conforme já estudado neste mesmo módulo, organizações revolu- cionárias de esquerda como o ELN e as FARC possuem associação notória com o narcotráfico continental. No polo oposto, ainda no exemplo latino-americano, estão organizações direitistas como as Autodefesas Unidas da Colômbia e o Los Zetas do México. Por último, importante citar que as milícias também estão associadas ao que possa existir de um “poder paralelo” nos locais de sua presença. Parte desse fenômeno, o poder político do estado do Rio de Janeiro não poderia deixar de estar envolvido no imaginário daqueles que tratam ou já trataram acadêmica e/ou midiaticamente do tema das milícias. Disso decorre a seguinte citação de Brancoli e Vasquez (2016) nas eleições locais do Rio de Janeiro em 2012: Nesse contexto, à medida que as disputas iam sendo centralizadas nos candidatos mais bem colocados nas enquetes, Luiz Carlos Pezão (PMDB) e Marcelo Crivela (PRB), as conversas começaram a ficar galvanizadas a respeito dos mecanismos de governança dos supostos contendores. Na narrativa mainstream, a primeira teria o apoio, ao longo de outros segmentos, das “milícias”, organizações paraestatais que usam a extorsão de algumas comunidades para obter o controle de bairros inteiros. (BRANCOLI; VASQUEZ, 2016, p. 112, tradução nossa, grifo nosso) Já o professor Arias (2013), da renomada Faculdade de Justiça Cri- minal John Jay da Universidade de Nova Iorque, amplia e generaliza a visão sobre as organizações criminosas da América Latina inteira, incluídas as milícias, mas com um “olhar” específico. Curso FRoNt MÓDULO 4 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL 37 Arias elabora academicamente sobre o potencial disruptivo de tais organizações sobre o Estado Democrático de Direito, e para tanto aponta vínculo entre membros do crime organizado e prepostos do estado no Rio de Janeiro (somando, de maneira genérica, ainda mais aos argumentos de Brancoli e Vasquez). Na tradução livre do texto correspondente de Arias: “Os impactos da dominação armada diferencial da política no Rio de Janeiro, Brasil”, podemos evidenciar o seguinte trecho que elucida melhor a questão do colapso gerado pelas organizações criminosas no Estado Democrático de Direito. glossáRio No Estado Democrático de Direito, as leis são criadas pelo povo e para o povo, respeitando-se a dignidade da pessoa humana. Prepostos são agentes do Estado, como funcionários públicos e políticos. Em todas as Américas, do norte do México aos vales montanhosos da Colômbia e às favelas do Brasil, a escalada da violência armada e o crescente poder das organizações criminosas gerou uma enorme preocupação pública sobre o colapso do Estado Democrático de Direito. Enquanto alguns formuladores de políticas e jornalistas escrevem sobre a falha do Estado e o surgimento de espaços sem governo, as evidências apresentadas neste artigo mostram que, longe de uma falta de governança ou falha do Estado, as organizações criminosas frequentemente colaboram com uma variedade de atores do Estado para criar sistemas variados de ordem localizada que perpetuam o poder do crime e minam a maioria dos esforços políticos para controlar o crime e a violência. Em contraste com a dependência de estudos anteriores em estudos de casos únicos para analisar os esforços de atores armados para construir ordens localizadas, este artigo oferece uma análise comparativa sistemática de uma rede de proteção conectada à polícia e a uma gangue de traficantes operando em dois bairros do Rio de Janeiro sob condições políticas semelhantes. A análise das evidências mostra variação nas estruturas organizacionais dos atores armados e, em particular, como sua proximidade com funcionários do Estado apresenta consequências variadas para o desenvolvimento local, incluindo a dinâmica da política e formulação de políticas, vida associativa e violência e segurança. (ARIAS, 2013) Ainda que as referências ao crime organizado, especificamente milícias, enfatizem seus trabalhos atuais, e, de maneira geral, no espaço geográfico que corresponde ao Rio de Janeiro, tal unidade federativa certamente não deve ser tomada como um caso isolado do fenômeno. Mesmo que o estado do Rio de Janeiro seja paradigmático na origem de fenômenos como o “jogo do bicho”, “comandos” (caso do PCC e CV), tráfico de drogas e, mais atualmente, milícias, ele é muito mais um “show room” desses fenômenos do que um lócus exclusivo da incidência deles. Curso FRoNt MÓDULO 4 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL 38 Foto: Adaptado de © [pabloprat] / Adobe Stock. As milícias estão, sim, mais ou menos distribuídas pelo país inteiro. Misse (2011) trata desse mesmo tema em seu trabalho “Crime orga- nizado e crime comum no Rio de Janeiro: diferenças e afinidades”, cujo resumo aponta que: O artigo trata das relações entre ‘crime organizado’ e ‘crime comum’ no Rio de Janeiro. Seu objetivo é definir as condições para responder a questões como o quanto o crime organizado explica as lógicas do crime comum ou se estamos subestimando ou superestimando essa relação entre um e outro. A análise foca três atividades criminais violentas organizadas: (i) o ‘jogo do bicho’; (ii) os ‘comandos’ que controlam e disputam territórios de venda a varejo de drogas e outras mercadorias ilícitas; (iii) as “milícias”, que disputam com os “comandos” o controle desses territórios, com vistas a impor a venda de proteção aos seus moradores. Concluímos defendendo que o modelo das milícias, como também ocorreu com o jogo do bicho e com o tráfico de drogas, todos surgidos no Rio de Janeiro, vem sendo adotado em cidades de outros estados brasileiros, nacionalizando formas de organizações criminosas que têm no recurso à violência uma de suas principais características. A dinâmica de funcionamento dessas organizações depende, primordialmente, de sua constituição como mercados ilegais, em que cada mercadoria explorada – jogo, drogas, armas e proteção – possuem diferentes propriedades como capital. A dinâmica social, a atuação e a violência associados a cada uma dessas atividades, por sua vez, estão ligados a essas propriedades. (MISSE, 2011, p. 13) Dessa forma, podemos entender que a milícia carioca está para o território brasileiro como um dia esteve a máfia italiana para o ter- ritório norte-americano. Em outras palavras, no lugar de um ente onipresente e extratemporal, trata-se muito mais de um modelo (lembre-se do que foi aprendido sobre “padrões”) que extrapola o território de origem, adaptando-se aos mais variados ambientes nos quais venha a se fixar. Curso FRoNt MÓDULO 4 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL 39 É justamente com esse olhar que o convidamos agora a refletir sobre as premissasabaixo, extraídas de um trabalho de Hidalgo e Lessing (2014), sobre as milícias do Rio de Janeiro: A fraqueza do Estado pode ser autorreforçada, encorajando grupos rebeldes ou criminosos a desafiar diretamente o poder do Estado, gerando conflitos frontais que podem enfraquecer ainda mais o Estado. Com os paramilitares – grupos não revolucionários pró-governo, muitas vezes com laços informais com as forças do Estado –, o enfraquecimento do Estado ocorre menos por meio de conflito aberto do que por canais mais indiretos, incluindo a política eleitoral. Um exemplo disso está nos grupos milicianos ligados à polícia do Rio de Janeiro. Antes exclusivos para algumas favelas, onde enfrentavam as poderosas organizações do tráfico da cidade, as milícias proliferaram rapidamente entre 2003 e 2007 para controlar cerca de 170 comunidades. A eleição de líderes da milícia e candidatos simpatizantes da polícia em 2006 levou à especulação de que a coerção armada por milícias havia efetivamente transformado comunidades dominadas em redutos eleitorais. A expansão da milícia no Rio de Janeiro acompanhou o aumento drástico da proporção de votos dos candidatos que adotavam o discurso de simpatia para com a polícia. Por fim, as milícias usaram o poder político para enfraquecer os esforços do Estado para restringir suas atividades. Perceba que são premissas que podem ser extrapoladas para as demais organizações criminosas estudadas até o momento, principalmente na perspectiva dos riscos que essas organizações criminosas repre- sentam para o Estado Democrático de Direito e para tudo o que ele significa para a paz e a segurança de um país. Curso FRoNt MÓDULO 4 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL 40 2.5 OUTRaS ORGaniZaÇÕeS CRiMinOSaS de ORiGeM BRaSiLeiRa Além das citadas organizações criminosas, a Família do Norte (FDN), radicada no estado do Amazonas, teve, por breve período, destaque no cenário nacional. A FDN adquire drogas, principalmente a cocaína e a maconha do tipo skank, na Tríplice Fronteira formada por Brasil, Colômbia e Peru. Na tentativa de se estabelecer, a FDN se aliou inicialmente com o Comando Vermelho e, posteriormente, com o Primeiro Comando da Capital. Atualmente, disputa, sem sucesso, com o CV o controle da dis- tribuição de drogas em Manaus. Na tentativa de se posicionar de forma autônoma na região Norte do Brasil, a FDN se envolveu nos massacres que marcaram o primeiro semestre de 2019, logo após a posse do atual governo federal e dos governadores dos estados da região. Leia a matéria sobre o massacre que marcou 2019 em Manaus intitulada “Massacre em presídios deixa dezenas de mortos em Manaus (AM)”, disponível em: https://veja.abril.com.br/galeria-fotos/fotos-massacre- em-presidios-deixa-dezenas-de-mortos-em-manaus- am-27-05-2019/.. SaiBa MaiS Em relação à trajetória da Família do Norte, podemos destacar que se iniciou em 2007 em atividades organizada por facções. E, desde então, vem se tornando uma das maiores facções do país (OBID, 2020). Breve nota sobre a trajetória da Família do Norte (FDN): Inicialmente a Família do Norte dominava as negociações na tríplice fronteira (Brasil, Peru e Colômbia) e as rotas do transporte do entorpecente. Ocorre que líderes da Família do Norte foram presos e um deles, no interior do presídio, teve contato com membros do Comando Vermelho. Nesse contato, o Comando Vermelho passou a conhecer as rotas e as vantagens do preço do entorpecente negociado na tríplice fronteira. Com isso, de forma estratégica, o Comando Vermelho passou a enviar seus membros para o estado do Amazonas e a cadastrar ex-integrantes da Família do Norte, oferecendo vantagens e fornecendo PodcAst TRaNScRiTO https://veja.abril.com.br/galeria-fotos/fotos-massacre-em-presidios-deixa-dezenas-de-mortos-em-manaus-am-27-05-2019/ https://veja.abril.com.br/galeria-fotos/fotos-massacre-em-presidios-deixa-dezenas-de-mortos-em-manaus-am-27-05-2019/ https://veja.abril.com.br/galeria-fotos/fotos-massacre-em-presidios-deixa-dezenas-de-mortos-em-manaus-am-27-05-2019/ Curso FRoNt MÓDULO 4 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL 41 equipamentos para tentar ingressar no mercado vantajoso da Tríplice Fronteira Amazônica. No passado, o Primeiro Comando da Capital também tentou realizar a mesma manobra, enviando seus membros para o Estado do Amazonas e tentando recrutar outros membros da Família do Norte, porém sem êxito. Atualmente, três facções criminosas mais conhecidas disputam a liderança pelas negociações do entorpecente na tríplice fronteira amazônica, a FDN – que ganhou o apoio do PCP (Primeiro Comando Puro) – na batalha contra o Comando Vermelho, e toda essa disputa tem sido marcada pelo derramamento de muito sangue dentro e fora dos presídios. Também existem outras organizações criminosas menores que atuam no varejo local de drogas. A maioria, a depender do contexto, busca alianças pontuais com o PCC ou com o CV para obtenção de drogas destinadas à comercialização, bem como de armas para defesa de seus territórios. Entre essas alianças destacam-se: ROAC DF RNCE Guardiões do Estado (GDE), no estado do Ceará Sindicato do Crime (SDC), no Rio Grande do Norte, se aliou ao CV Bonde dos 13, no estado do Acre Comboio do Cão, no Distrito Federal Comando do Panda, em Rondônia Curso FRoNt MÓDULO 4 – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL 42 Vamos relembrar os pontos principais desta unidade? Veja uma síntese dos marcos mais importantes relacionados às facções criminosas brasileiras. Surge o primeiro modelo varejista, o Comando Vermelho (CV), no Presídio de Ilha Grande/RJ. O empresário e líder do CV, Fernandinho Beira-Mar, é preso e surgem as articulações dentro dos presídios por meio de telefone celular. O Brasil se tornou o maior mercado consumidor legal de drogas do mundo. Surge a Família do Norte (FND), uma das maiores facções do Brasil. O PCC envia sua primeira carga de cocaína para a Europa. O PCC e o CV estão entre os 10 maiores grupos criminosos da América Latina (InSight Crime). Acontece o “Massacre do Carandiru” e surge o Primeiro Comando da Capital (PCC). 1970 1992 2002 2006 2007 2008 2019 Assim, chegamos ao fim de mais uma jornada de aprendizado. 43 ReFeRÊnCiaS AGUILAR, A. História do PCC. Slideshare, 23 out. 2014. Disponível em: https://pt.slideshare.net/AltairMoissAguilar/apresentao-sem- -ttulo-1-40663438. Acesso em: 23 fev. 2021. AMORIM, C. 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