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JU-0048

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ARQÜIVO CENTRAL
HlMIiEI
Ano IV — N? 48C am pinas, o u tu b ro de 1990
P o b r e z a s e a g r a v a , d iz p e s q u is a
Estudo realizado pelo sociólogo Juarez Brandão 
mostra que boa parte da população paulistana terminou 
os anos 80 tão pobre quanto no pior momento da década, 
o auge da recessão de 1983. Página 7.
*
Laboratórios como o de Oleos e Gorduras, na Faculdade de Engenharia de Alimentos, poderão beneficiar-se com o plano tecnológico.
O plano de capacitação tec­
nológica recém-anunciado pelo 
governo federal traz como no­
vidade, além da ampliação dos 
investimentos no setor, o fato 
de que a maior parte desses re­
cursos passará pelas empresas 
antes de chegar às universida­
des. No meio científico é gran­
de a expectativa sobre o de­
talhamento do plano, o seg­
mento empresarial que será 
contemplado e as universida­
des que serão chamadas a co­
laborar. A Unicamp, valen­
do-se de sua aproximação his­
tórica com o setor produtivo, 
saltou na frente e anunciou sua 
disposição de intensificar as 
relações com a indústria. Um 
sinal público disso será a ati­
vação, este mês, do Escritório 
de Transferência de Tecnolo­
gia. Página 3.
Unicamp aguarda definição 
do programa tecnológico
Idade Média 
também teve 
suas luzes
Se depender da nova geração de 
historiadores da ciência, a Idade 
Média pode vir a livrar-se do estig­
ma de “ período das trevas” . Cen­
tenas de pessoas reuniram-se na 
Unicamp para avaliar a importân­
cia do período para a civilização. 
Página 6.
Aula de anatomia medieval.
Nostálgicas rainhas do rádio Tese propõe nova visão da 
sexualidade
Soprando a poeira da memória radiofônica, 
o historiador Alcir Lenharo restaura o mundo lendário das 
cantoras dos anos 40 e 50, trazendo de volta Emilinha Borba, 
Dalva de Oliveira e as irmãs Batista.
Página 12. Paulo Rennes e sua tese, agora livro.
A educação para a sexualidade 
ainda está baseada em valores mo­
rais ou então puramente biológicos. 
Em sua tese de mestrado, Paulo 
Rennes Ribeiro propõe uma nova j 
abordagem que leve em conta a 
preocupação com a integralidade 
humana. Página 8.
Página 2 Campinas, outubro de 1990
A homenagem a Celso Furtado
Francisco Iglésias
A Universidade de Campinas, já uma 
sigla famosa — Unicamp — , realizou no 
dia 21 de agosto uma solenidade, na qual 
conferiu a Celso Furtado o título de dou­
tor honoris causa. Considerando-se a mag­
nitude de sua obra, de 2 7 livros até agora, 
com dezenas de edições no país e tradu­
ções muito reeditadas, na América Lati­
na, nos Estados Unidos, na Europa e até 
na Asia, além de artigos nas revistas mais 
categorizadas do mundo, conferências e 
cursos nas mais importantes universidades 
do Ocidente, tem-se em Furtado um dos 
grandes nomes da ciência social brasilei­
ra e o mais notável da Economia, ontem 
e hoje. Ligada à obra de escritor, assinale- 
s e a ação de homem público em organis­
mos internacionais, como a CEP AL — um 
de seus fundadores e expoentes na elabo­
ração de teoria de repercussão, a do de­
senvolvimento —, não só no continente, 
bem como o trabalho de ministro do Pla­
nejamento em dois governos e, sobretudo, 
o criador da Sudene, a mais bela experiên­
cia administrativa nacional, tem-se em 
Furtado um líder da vida brasileira de seu 
tempo.
Livros e ação reconhecidos, não lhe fal­
tou o apoio do mundo científico. Se várias 
universidades estrangeiras já lhe deram tí­
tulos, impõe-se, sobretudo, pelo uso cons­
tante que todas fazem de seus livros. No 
Brasil, entretanto. Campinas é a primei­
ra a dar-lhe o de doutor honoris causa, que 
devia ser dado por todas — ele o tem em 
mais de uma na Europa —, uma vez que 
formou no melhor o melhor das últimas ge­
rações de economistas. Se alguns profis­
sionais da área não o cultivam, por 
considerá-lo difícil ou mesmo não propria­
mente economista, e, à falta de outro ar­
gumento que não a própria ignorância 
específica, alegam ser um pensador social, 
não uni economista, a culpa é do despre­
paro. E a visão pobre dos tecnocratas, pa­
ra os quais a economia é algo restrito à 
solução de problemas imediatos. Para 
eles, basta um modelo certinho aplicado 
a tudo.
Essa situação não é rara, pois há quem 
suponha a economia apenas uma técnica 
para a solução de certos casos, sem o sen­
tido geral; falta-lhes a percepção de uma 
ciência complexa, de impossível redução 
a receitas ou fórmulas. Seu entendimento 
exige a consideração de variáveis sociais 
na tão falada e tão pouco praticada inter- 
disciplinaridade. O economista com olhos 
só no econômico, desligado da amplitude 
do social, pode ser tudo, menos economis­
ta. Pensando em gente assim, Stuart Mill 
escreveu que o economista apenas econo­
mista não é bom economista. Quem, co­
mo Celso, escreveu livros importantes de
História — é autor de texto básico da his­
toriografia, Formação Econômica do Bra­
sil, de 59 —, de teoria, como Teoria e 
Política do Desenvolvimento Econômico, 
de 67, quem contribuiu, como é universal­
mente reconhecido, para a compreensão 
do desenvolvimento, sobretudo aprofun­
dando a do subdesenvolvimento, em alguns 
volumes, com subsídios para melhor pe­
netração da vida política e chegou até a 
uma reflexão filosófica em Criatividade e 
dependência na civilização industrial, de 
78, quem produz tais obras não pode ser 
entendido pelo leitor ligeiro ou pelo buro­
crata, multiplicado em nossos dias na tec- 
nocracia, responsável por desacertos de 
todo gênero.
A economia sempre sofreu, mas hoje é 
moda, embora com muita deformação. 
Carlyle chamou-a de ciência sinistra. Os 
conservadores a viam como subversiva, os 
radicais como sustentáculo ou racionali­
zação do statu quo, em duplo erro. Marx, 
o radical por excelência e o mais criativo 
dos estudiosos, não pode ser visto como 
pregador da revolução em seus textos cien­
tíficos, como Ricardo, um conservador, 
não pode ser visto como ideólogo da rea­
ção (evidencia-se aí o ilusório dos rótulos, 
pois esse conservador foi uma das bases 
do monumento marxista). Impõem-se pe­
las contribuições científicas, como se po­
de falar também em muitos outros, do 
Oitocentos e de hoje, debruçados sobre a 
realidade, na análise da economia e na 
perspectiva ampla do social.
Furtado não está fora do mundo da uni­
versidade: se não foi professor no sentido 
convencional — embora desse aulas no 
Brasil e principalmente em países latino- 
-americanos, nos Estados Unidos, na Eu­
ropa —, exerce o superior magistério, por 
seus livros, os mais lidos e citados, como 
se comprova em qualquer texto de ciência 
social aqui produzido, insistentemente ci­
tado. Também enquanto se escreve sobre 
seu país em livros pelo mundo afora, nos 
quais é referência constante. Acontece que 
o Brasil é aminésico ou distraído; como ele 
não é deputado, senador ou ministro, fica 
de fora.
Coube à Universidade de Campinas o 
importante papel de redimir a Economia, 
conferindo-lhe o título mais alto. Ou, co­
mo está gravado em placa no importante 
Instituto, para registrar a festa do dia 21, 
Celso Furtado, ‘ ‘cidadão exemplar, mes­
tre de todos nós”. Foi emocionante a so­
lenidade, com as palavras do reitor Carlos 
Vogt, a saudação exata e profunda de Wil­
son Cano, e, sobretudo, pela aula de Fur­
tado. Não fez o discurso convencional, mas 
aproveitou a oportunidade para ler o belo 
texto sob título ' ‘Revisitando o subdesen­
volvimento ’ ’. Retoma aí seu tema predile­
to, para o qual contribuiu mais que 
qualquer outro.
O reitor Carlos Vogt 
e o economista Celso Furtado: 
“honoris causa” .
Neste momento em que há um discurso 
triunfalista das autoridades, em análise 
tecnocrata, com a Economia tratada em 
um plano em que não há uma variável so­
cial, pois é a expressão ingênua ou ten­
denciosa da tecnocracia, insensível ao 
social e ao humano — sua execução pode 
conduzir àpaz dos cemitérios, em curioso 
êxito —, tachá-lo de ingênuo é querer vê- 
-lo com um mínimo de boa vontade, que 
afasta seu caráter equivocado por desin­
formação ou arrogância e não por um pro­
jeto deconcentração de renda do 
capitalismo disfarçado em palavras popu­
listas para obter apoio do povo espoliado, 
simples massa de manobra dos donos do 
poder, sócios ou comandados da alta f i ­
nança internacional. O Clube dos Ricos e 
o FMI lhe dão bênçãos jubilosamente fes­
tejadas. Vingou a fórmula “o que é bom 
para os Estados Unidos é bom para o Bra­
sil”, escândalo há poucos anos. Essa gen­
te que tanto fala de modernidade e até em 
pós-modèrnidade, na entrada do Primei­
ro Mundo, por escamoteação do real, não 
quer ouvir falar em subdesenvolvimento.
Essa, entretanto, é a tônica do discur­
so de Furtado: homem cosmopolita, que 
conhece e profundamente o Primeiro Mun­
do, não como turista, mas seu estudioso 
e intérprete, vem relembrar a triste reali­
dade. Podería dizer, mas não diz, que o 
Brasil, depois de ter perdido a década de 
oitenta com os calamitosos governos Fi­
gueiredo e Sarney — como perdeu déca­
das e séculos anteriores —, corre o risco, 
pela vacuidade presunçosa, de perder tam­
bém a década de noventa. O relatório do
Banco Mundial, ora divulgado, devia ser 
objeto de meditação dos novos eventuais 
ocupantes do governo, que com sua polí­
tica ameaça maior concentração de ren­
da, agravamento das desigualdades, 
embora inconseqüentemente fale palavras 
populistas, em mais um desmentido de sua 
pretensa modernidade.
Na antevéspera de outro século que é 
também outro milênio, o Brasil, desliga­
do do social, seduzido por fórmulas sem 
base no seu quadro, talvez venha dar ra­
zão ao que Furtado escreveu, não no dis­
curso de 21 de agosto de 90, mas no fecho 
de seu livro de 59: ‘ ‘Sendo assim, o Bra­
sil por essa época ainda figurará como 
uma das grandes áreas da Terra em que 
maior é a disparidade entre o grau de de­
senvolvimento e a constelação de recursos 
potenciais”. Não é a palavra de pessimis­
mo, de negação, mas de realismo de quem 
já trabalhou para um outro Brasil e nãc 
o viu realizado. Trabalhou sem esquema 
publicitário, como se vê pela Sudene, fru­
to de sua inteligência e labor, digno dc 
Primeiro Mundo pela racionalidade e a ví 
agora destruída por supostos moderniza- 
dores: dirigiu-a afastando os ‘ ‘industriais 
da seca ’’, as oligarquias, vendo-a hoje en­
tregue aos maiores representantes da chi­
cana política nordestina, os velhos 
coronéis.
Acontece que ele não é crítico ligeiro, 
censor de práticas políticas — sabe o pou­
co que valem essas autoridades na vida na­
cional, pelo despreparo e imediatismo. 
Homem vivendo apaixonadamente os seus 
temas, entrega-se a eles desinteressado das 
palmas e das fotos agenciadas pela auto­
promoção. Grande economista, cientista 
social, cidadão prestante, é dos brasilei­
ros eminentes de nossos dias, pelo seu 
trabalho.
Homenageando-o, a Unicamp redime a 
vida intelectual patrícia de seus equívocos 
ou injustiças. Como está gravado na pia 
ca, é o mestre. Acrescento: não de uma ge­
ração ou de uma especialidade, mas da 
ciência social profunda. de mais uma ge­
ração. Um nome — coisa quase inexistente 
aqui — com raízes que o projetarão no 
tempo entre os interessados pela verdade, 
pela pátria, pelo mundo.
Termino com a bela epígrafe do poeta 
Juan Ramon Jimenez, que usou em Teo 
ria e Política do Desenvolvimento Econô 
mico — um dos mais editados e traduzidos 
—, um título universal:
‘‘Pie en la Patria, casual 
o elegida, corazón, cabeza, 
en el aire dei mundo”.
Assim é Celso Furtado, doutor honoris 
causa da Unicamp e de fato de todas as 
universidades brasileiras.
Francisco Iglésias é professor emérito da 
Universidade Federal de Minas Gerais 
(UFMG).
A falsa dicotomia entre ensino e pesquisa
Aécio Pereira Chagas
Causou-me estranha sensação o comentá­
rio de um estudante, levado à Câmara Delibe­
rativa da Comissão Permanente para os 
Vestibulares da Unicamp, que optou por outra 
universidade, que não a nossa, e que dizia: 
‘‘Através de colegas e amigos tenho conheci­
mento de que na Unicamp os professores não 
se dedicam profundamente ao ensino, estando 
muito mais interessados nas suas pesquisas e 
esquecendo-se dos alunos” (sic).
Sabemos que isto é voz corrente ’ ‘intramu- 
ros ’ ’, porém que o mito já tenha sido plantado 
por aí e que esteja dando frutos é que causa 
esta estranha sensação de ‘ ‘roupa suja não la­
vada em casa ’ ’. Abalou meu ’ ‘esprit de corps ’ ’.
Nos idos dos 70 já ouvi o boato de que um 
eminente pesquisador desta universidade acon­
selhava seus estudantes com estas idéias.
Isto é duplamente lamentável. Primeiro pe­
los prejuízos ao ensino e segundo pelos prejuí­
zos à pesquisa.
A atividade científica é uma atividade com­
plexa. O iniciante, estudante de pós-graduação 
ou mesmo já ao nível de pós-doutorado, não 
sente, não percebe esta complexidade, a não 
ser que isto lhe seja passado de alguma forma 
mais ou menos intensa, e esta deficiência é so­
mente shprida com a experiência que ele vai 
adquirindo. A í então este pesquisador vai per­
ceber que ninguém faz ciência sozinho e se hou­
vesse alguém que fizesse, isto fo i pelo menos 
no século passado. Para que a atividade cien­
tífica se desenvolva, cresça (ou pelo menos f i ­
que num patamar), é necessário gente, gente 
trabalhando, e para isto há a necessidade de 
divulgar o conhecimento e de bem formar os
estudantes. A história de cada ciência está cheia 
de exemplos e eminentes pesquisadores que fo ­
ram também notáveis divulgadores de idéias, 
do conhecimento, professores no amplo senti­
do do termo. Pensar que a atividade do pro­
fessor limita-se à sala de aula apenas é, na 
melhor das hipóteses, pensar burocraticamente.
Nos Estados Unidos, nos anos 60, após o 
choque do Sputinik, realizou-se um esforço 
enorme para aumentar o nível quantitativo da 
Ciência e da Tecnologia do país. Talvez a pro­
vidência mais marcante fo i melhorar o ensino 
de Ciências nas escolas secundárias e nas uni­
versidades.
Atualmente, por este mundo afora, os labo­
ratórios de pesquisa da indústria e governamen­
tais são geralmente mais ricos, mais equipados 
e organizados, o que os toma altamente pro­
dutivos. Os laboratórios universitários são ge­
ralmente o contrário, mas sua arma para 
competir com os outros é justamente o ‘ ’san­
gue sempre novo que flui em suas veias ’ ’, ou 
seja, o estudante. Esta constante renovação de 
pessoal jovem é que é o forte dos laboratórios 
universitários, situação que os laboratórios in­
dustriais e governamentais nem sempre podem 
desfrutar.
Portanto aqueles que aceitam o mito de que 
“o importante é a pesquisa e não o ensino” 
são ou novatos no ramo ou pesquisadores com 
antolhos na face. Estão na realidade prestan­
do um grande desserviço à universidade e à so­
ciedade em geral. Para que a pesquisa vá bem, 
é necessário que o ensino vá bem, caso con­
trário. ..
Aécio Pereira Chagas é professor do Insti­
tuto de Química da Universidade Estadual de 
Campinas (Unicamp).
Erramos
Artigo do prof. Armando Turtelli Jr., pró-reitor 
de Pesquisa da Unicamp, publicado na edição an­
terior, dizia em seu primeiro parágrafo: “ As trans­
formações científicas e tecnológicas não se resumem 
apenas ao desenvolvimento das ciências ou às trans­
formações tecnológicas que provêm das novas des­
cobertas da ciência, mas têm elas próprias um papel 
fundamental na atual sociedade’’. A supressão in­
voluntária da partícula não na primeira frase des­
caracterizou a afirmativa do autor e inverteu-lhe o 
verdadeiro sentido, que aqui resgatamos.
inicsmp
Reitor — Carlos Vogt
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Pró-reitor de Extensão — César Francisco Ciacco
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Este jornal é elaborado mensalmente pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual 
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Ilustração e Arte-Final — Oséas de Magalhães 
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NOVO TEMPO
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Cam pinas, outubro de 1990 ftS c
JOHNAl 0A |— ^
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„ ' Página 3
Plano tecnológico gera expectativa
Jorge Tapia: produzir políticas coerentes e integradas.
As alterações
ESFERA FED ER A L : Á REA S D E A TU A ÇÃ O D AS AGÊNCIA S
A gência Situação atual Situação proposta
S C T / F I N E P D e s e n v o lv im e n to c i e n t í f i c o e 
t e c n o ló g ic o
A p o io à c a p a c i t a ç ã o te c n o ló g i ­
c a d a i n d ú s t r i a ( 2 ) . ( E x t e m a - 
l i d a d e s , a p o i o d i r e t o à e m p r e s a )
M E F P /S is t c m a B N D E S
-
A p o io à c a p a c i t a ç ã o te c n o ló g i ­
c a d a in d ú s t r i a .
( A p o io d i r e to à e m p r e s a )
M E F P /B a n c o d o B r a s i l I n v e s ­
t im e n to / F u n d a ç ã o B a n c o d o 
B ra s i l
D e s e n v o lv im e n to c i e n t í f i c o e 
t e c n o ló g ic o
A p o i o à c a p a c i t a ç ã o t e c n o ló g i ­
c a d a in d ú s t r i a .
( A p o io d i r e t o à e m p r e s a )
B a n c o d o N o r d e s t e d o B r a s i l e 
B a n c o d a A m a z ô n ia -
A p o io à c a p a c i t a ç ã o t e c n o ló g i ­
c a d a i n d ú s t r i a . ( E x te m a l id a - 
d e s , a p o i o d i r e t o Ia e m p r e s a )
S e n a i (3 ) F o r m a ç ã o d e r e c u r s o s h u m a n o s F o r m a ç ã o d e r e c u r s o s h u m a n o s 
e s e r v iç o s t e c n o ló g ic o s .
S is t e m a C e b r a e (3 ) A p o io à p e q u e n a e m é d ia e m ­
p r e s a . D e s e n v o lv im e n to d e 
r e c u r s o s h u m a n o s .
D e s e n v o lv im e n to d e r e c u r s o s 
h u m a n o s e a p o io à p e q u e n a e 
m é d ia e m p r e s a t e c n o lo g ic a - 
m e n te d in â m ic a .
N o tas : (1 ) M in isté rio d a E d u ca çã o (C ap e s , S N E S e S N E T ) e S e c re ta r ia de C iên c ia e T ec n o lo g ia (C N P q ), em b o ra 
não m en c io n ad o s, têm pape l fu n d am en ta l n a fo rm ação e desen v o lv im en to de re c u rso s h u m an o s e no 
d ese n v o lv im en to c ie n tíf ic o e tecn o ló g ico , ao s q u a is se a r tic u la a c a p ac itaç ão tecn o ló g ica d a in d ú str ia .
(2 ) R eco m e n d a -se a m a io r ap licação de re cu rso s d o F N D C T à c ap ac itaç ão tecno lóg ica .
(3 ) C o n s id e rad a c o m o ag ên c ia em v irtu d e d a o rig em p a ra fisca l d e seus re cu rso s .
Governo investe 
firme, mas recursos 
agora passam 
pelas empresas.
Tradicionalmente as agências 
de fomento do país destinavam 
seus recursos à pesquisa científi­
ca e tecnológica diretamente aos 
centros de pesquisa e às univer­
sidades. Com o lançamento, em 
meados do mês passado, do Pro­
grama de Apoio à Capacitação 
Tecnológica da Indústria, “ os re­
cursos do governo e dos bancos 
oficiais destinados às pesquisas 
tecnológicas serão preferencial­
mente repassados às empresas e 
não mais às universidades e cen­
tros de pesquisa. Agora, caberá 
à iniciativa privada contratar os 
serviços dos pesquisadores uni­
versitários” , explica o diretor de 
Indústria do Ministério da Econo­
mia, Luís Paulo Velloso Lucas, 
ao falar sobre o programa gover­
namental.
O reitor da Unicamp, Carlos 
Vogt, defende “ a rápida aproxi­
mação de nossos centros de pes­
quisa acadêmica com os anseios 
de modernização do setor indus­
trial” . Sua opinião é que o plano 
de capacitação tecnológica do go­
verno não pode mais “ se limitar 
a ser apenas uma mera carta dê 
intenções como no passado, sob 
o risco de perder-se o bonde da 
atualidade tecnológica” . Para ele, 
“ o caminho mais curto para essa 
atualização passa necessariamente 
pelas universidades,especialmente 
aquelas que, como a Unicamp, 
sempre se colocaram na posição 
muito objetiva de transferir suas 
tecnologias” . Para isso, consoli­
dando um processo que já vinha 
se desenvolvendo na prática, aca­
ba de criar o Escritório de Trans­
ferência de Tecnologia. O reitor 
considera, no entanto, que nas 
relações universidade-empresa 
deve-se sempre preservar o espí­
rito e autonomia das partes.
O novo programa de capacita­
ção tecnológica do governo fede­
ral é mais um instrumento da 
política de modernização tecno­
lógica brasileira de que lança mão 
o presidente Collor. Está articu­
lada, a nível das intenções, com 
as novas diretrizes da política in­
dustrial anunciada há dois meses. 
Aguarda-se a divulgação, até o fi­
nal de outubro, de novo docu­
mento, este sobre a 
competitividade industrial, con­
tendo os critérios e os mecanis­
mos para os incentivos fiscais às 
áreas prioritárias. A idéia de do­
tar o setor produtivo de maior 
competitividade e de investir na 
formação e na capacitação pes­
soal é aplaudida pela comunida­
de científica. Entretanto, como os 
mecanismos da política tecnoló­
gica não estão ainda muito claros 
e, no caso do financiamento de 
C&T, apontam para o redirecio- 
namento da clientela, “ num link 
direto com às empresas” , o mo­
mento é de expectativa, adverte 
o cientista político Jorge Tapia, 
professor do Departamento de 
Política Científica e Tecnológica 
do Instituto de Geociências da 
Unicamp.
Estado X empresas
O Estado brasileiro vinha pro­
movendo o desenvolvimento de 
C&T através de aportes financei­
ros diretos para as instituições de 
pesquisa e às universidades. Os 
programas governamentais, com 
raras exceções, incluíam as em­
presas no processo de moderni­
zação tecnológica do país. O fato 
é que menos de 5% dos proces­
sos desenvolvidos nas universida­
des chegaram ao mercado. As 
empresas, sem incentivos gover­
namentais, e na ausência de uma
política explícita de cooperação 
mútua universidade-empresa, 
preferiram não investir em tecno­
logia para atender ao mercado 
brasileiro, pouco exigente. En­
quanto isso, algumas instituições 
de pesquisa vinham, praticamente 
sozinhas, buscando um interfa- 
ceamento com as indústrias.
Com a internacionalização ca­
da vez maior da economia, onde 
a competitividade pressupõe a 
qualidade dos produtos comercia­
lizados, o Estado brasileiro deci­
diu abandonar sua postura 
protecionista e modificar os cami­
nhos a serem percorridos para a 
modernização tecnológica do 
país. Para isso reorientou sua po­
lítica no sentido de induzir a ini­
ciativa privada à tarefa e à 
responsabilidade de promover o 
desenvolvimento tecnológico. Os 
incentivos fiscais já anunciados 
para as empresas implicam a de­
dução de 8% do Imposto de Ren­
da. Além disso o governo 
pretende inverter a alocação de 
recursos de C&T, que passarão 
agora a 30% para a ciência e 70% 
à tecnologia.
O presidente da Sociedade 
Brasileira para o Progresso da 
Ciência (SBPC), Ennio Candot- 
ti, vem manifestando sua preocu­
pação de a universidade vir a 
correr o risco de “ perder o pou­
co que tem” . O presidente da se­
ção paulista da Sociedade dos 
Usuários de Computadores (Su- 
cesu), Paulo Feldman, acha que 
dar os recursos às universidades 
via empresas “ é uma catástrofe” . 
A posição do diretor do Progra­
ma de Pós-Graduação em Enge­
nharia (Cooppe) da Universidade 
Federal do Rio de Janeiro, pro­
fessor Luiz Bevilacqua, não é di­
ferente. “ Não posso acreditar que 
as universidades brasileiras pas­
sarão a ficar na dependência dasdemandas e decisões do setor em­
presarial para o desenvolvimen­
to de suas pesquisas” , afirmou 
em entrevista ao jornal Gazeta 
Mercantil de 14 de setembro.
Riscos e vantagens
Ao analisar o longo documen­
to da Comissão Especial da mi­
nistra da Economia e do 
secretário de Ciência e Tecnolo­
gia, que serviu de subsídio para 
as medidas provisórias do Pro­
grama de Apoio à Capacitação 
Tecnológica da Indústria, divul­
gado no dia 12 do mês passado, 
o cientista político Jorge Tapia 
disse que é necessária uma leitu­
ra crítica do programa. Isso não 
significa, no seu entender, negar 
a necessidade de uma mudança 
nas relações do Estado com o se­
tor produtivo e com as institui­
ções de pesquisa. “ E preciso 
modificar certos padrões de com­
portamento empresarial e do Es­
tado. O que é discutível é ignorar 
o que se conseguiu em algumas 
áreas e se deixar de aproveitar as 
experiências passadas, como é o 
caso da informática. Além disso, 
faltam estudos sobre as relações 
da universidade com o setor pro­
dutivo e também com as funda­
ções universitárias onde 
tecnologias stricto senso já são de­
senvolvidas, razão pela qual não 
dá para se fazer generalizações 
sobre a situação brasileira” , 
observa.
Embora reconheça que a polí­
tica protecionista até então ado­
tada pelo Estado refletiu-se numa 
limitada capacitação interna do 
país, que não conseguiu se mo­
dernizar, Tapia acha que os argu­
mentos usados pelo governo nem 
sempre são incontestáveis quan­
do se refere à área de informáti­
ca. Na sua opinião, “ mais do que 
tirar o Estado da área de C&T é 
preciso redirecioná-lo de modo a 
produzir políticas coerentes e in­
tegradas, o que pressupõe uma in­
tervenção estatal, como ocorre no 
mundo inteiro” . Segundo o pes­
quisador da Unicamp, o Estado 
brasileiro,depois da tentativa frus­
trada do II PND (Plano Nacional 
de Desenvolvimento) no período 
Geisel, não formulou uma políti­
ca industrial para o país. Na dé­
cada de 80 a situação se agravou 
em função da crise fiscal, que foi 
muito grande, e da dívida exter­
na. Em decorrência ficou ainda 
mais difícil a capacidade do Es­
tado de formular uma política in­
dustrial. O modelo desenvolvi- 
mentista baseado na política de 
substituição de importações en­
trou em crise. Prova disso é que 
não está bem claro, apesar do dis­
curso governamental, como serão 
reconstruídas as relações gover- 
no/capital privado nacional e ca­
pital estrangeiro. A redefinição 
desses parceiros, segundo o pes­
quisador, não aparece em ne­
nhum documento oficial e a 
política industrial esboçada não 
sinaliza a forma como essas rela­
ções se darão, ó que pode indi­
car a intenção do governo de não 
mais desempenhar um papel ati­
vo na definição dessas relações.
Além de se preocupar com o 
novo papel reservado às empré- 
sas no financiamento às pesqui­
sas tecnológicas a serem 
desenvolvidas nos institutos de 
pesquisa e universidades, Tapia 
considera importante redefinir o 
papel da universidade nas rela­
ções a serem construídas daqui 
para frente. Nesse sentido, con­
sidera fundamental que as univer­
sidades brasileiras, a exemplo do 
governo, formulem seus próprios 
projetos de interação com o setor 
produtivo para que possam con­
ciliar suas funções a partir de sua 
própria ótica, em lugar de 
adequá-las aos interesses da in­
dústria. “ Não se pode transfor­
mar as universidades num 
instituto tecnológico com outro 
nome, e deixar de preservar suas 
funções básicas de formação de 
pessoal e de desenvolvimento de 
pesquisas não necessariamente li­
gadas ao setor produtivo” , adver­
te. Idéia que há dois meses foi 
formulada pelo próprio reitor 
Carlos Vogt, quando afirmou que 
“ não se trata de industrializar a 
universidade nem de universita- 
lizar a indústria, mas sim de criar 
um círculo de valorização mútua 
que, no caso da universidade, re­
verte em benefício do ensino e do 
aperfeiçoamento acadêmico” .
Outro aspecto não menos im­
portante levantado pelo pesquisa­
dor da Unicamp diz respeito à 
circulação do conhecimento pro­
duzido na academia. Segundo ele, 
a experiência tem demonstrado, 
em universidades como Oxford,
na Inglaterra, ou Cambridge e 
Harvard, nos Estados Unidos, 
que ao financiarem pesquisas das 
universidades as empresas estão 
ao mesmo tempo privatizando o 
conhecimento. Os limites de cir­
culação do conhecimento produ­
zido nas universidades, até então 
considerados públicos, também 
devem ser pensados, observa. 
Lembra que o Brasil precisa ain­
da definir as prioridades a serem 
adotadas em seus programas de 
modernização tecnológica. “ Em 
que direção vamos caminhar?” 
Num país como o Brasil, qual­
quer política tecnológica não fo­
ge desse imperativo. Tem de ser 
acoplada a um programa alterna­
tivo, que contemple o encaminha­
mento das soluções dos
problemas não resolvidos — típi­
cos do século 19 —, com aqueles 
emergentes no processo de tran­
sição como o século 21.
Qualidade
O pró-reitor de Extensão da 
Unicamp, professor César Fran­
cisco Ciacco, reconhece que fal­
ta uma divulgação dos
mecanismos a serem utilizados 
pelo governo para a implantação 
do seu programa de capacitação 
tecnológica à indústria. Entretan­
to, de uma maneira geral, faz 
uma avaliação positiva das dire­
trizes anunciadas pelo governo 
para a modernização do parque 
industrial do país, bem como a in­
serção das universidades nesse 
programa. Segundo Ciacco, que 
é engenheiro de alimentos, até o 
momento nem as empresas nem 
as universidades tinham um refe­
rencial de qualidade que passa 
agora a determinar as relações de 
produção para dar conta da com­
petitividade colocada em primei­
ro plano pelo governo.
Ciacco não acredita que as 
funções básicas da universidade 
sejam prejudicadas. “ A universi­
dade pode fazer bem as duas coi­
sas, pesquisa básica e aplicada, 
que não estão dissociadas. Não se 
trata de privilegiar uma em detri­
mento da outra, mas catalisar am­
bas. Como a Unicamp já tem um 
projeto de transferência de tecno­
logia para o setor produtivo, com 
modelos a serem testados, estou 
fazendo uma leitura positiva do 
plano de capacitação tecnológica 
que está acoplado à política indus­
trial e científica do governo.”
O pró-reitor de Desenvolvi­
mento Universitário, o economis­
ta Carlos Eduardo do Nascimento 
Gonçalves, disse que, por en­
quanto, ainda não viu uma defi­
nição clara da política industrial. 
“ Não se sabe ainda quais são os 
mecanismos para a renovação 
tecnológica do país. Além disso 
é preciso saber primeiro como es­
tá a indústria nacional. Como se­
rá feita a renovação da indústria 
têxtil? Vai usar o tear eletrônico? 
A renovação verificada na déca­
da de 50, por exemplo, fez com 
que na indústria têxtil de Pernam­
buco o tamanho médio da indús­
tria, em número de operários que 
era superior a 2.000, ficasse re­
duzido hoje para 400. Uma polí­
tica industrial tem que estabelecer 
estratégias, prioridades. Precisa 
ter bem claros os setores que de­
vem ser modernizados para que 
não se verifique o desemprego. ”
Lembrando que vivemos hoje 
num mundo em que os blocos de 
capital estão estruturados, e em 
que a disseminação de tecnologia 
bem como o avanço técnico obe­
decem à lógica da acumulação do 
capital, o professor Gonçalves 
prefere aguardar o desenrolar dos 
fatos para uma análise mais acu­
rada do programa de capacitação 
da indústria. Disse, no entanto, 
que o papel da universidade, nes­
se contexto, deve ser sempre de 
cautela e equilíbrio na relação 
com o setor produtivo. (G.C.)
Págii
A Universidade Estadual de Campinas 
acaba de ampliar em 40 vezes sua capaci­
dade de processamento de dados. Isso foi 
possível com a chegada, em meados do 
mês passado, de 113 novas unidades com­
putacionais, sendo 70 estações gráficas e 
43 computadores que usam configuração 
de ponta. Os aparelhos foram adquiridos 
através de um empréstimo do Eximbank 
dos Estados Unidos, no valor de US$ 4,8 
milhões (de um total de US$ 24 milhões 
destinados a outros setores da Univer­
sidade).
Com a chegada do novo equipamentocomputacional, a Unicamp passa a ser a 
única instituição de ensino do Brasil e da 
América Latina a dispor de recursos infor­
matizados dessa natureza. As estações de 
trabalho serão interligadas às diferentes 
unidades da instituição, via fibra óptica, a 
partir do com putador central, o 
IBM-3090-150/VF.
As estações
As estações gráficas de trabalho que 
chegaram à Unicamp e vieram acondicio- 
nadas em 1.400 containners serão monta­
das em três etapas. Até o final deste mês 
estará concluída a instalação individual das 
estações, seguida pela rede principal, que 
atenderá aos setores de maior demanda: 
Instituto de Química, Instituto de Matemá­
tica, Estatística e Ciência da Computação, 
Faculdade de Engenharia Elétrica. Segun­
do o superintendente do Centro de Com­
unicamp Campinas, outubro de 1990
Chegam os computadores dos anos 90
Unicamp já tem o 
maior parque de 
estações de trabalho 
do Terceiro Mundo.
O físico Fernando Paixão (ao centro) testa uma das estações. Com o novo equipamento, recursos múltiplos e processamento maior.
putação, professor Hilton Silveira Pinto, 
a instalação de todo o conjunto pela Sco- 
pus, representante da Sun Microsystem Inc 
no Brasil, deverá estar concluída até o fi­
nal do ano. Para isso a Unicamp investirá 
Cr$ 18 milhões.
As estações gráficas de trabalho pos­
suem, cada uma, 2,5 MFlops, contra 0,5 
MFlops dos dois VAXs785 existentes na 
Universidade desde 1986. Elas processam 
de 12 a 16 milhões de instruções por se­
gundo (MIPS), contra 1,2 milhão de uma 
VAX785 ou 0,2 milhão de um IBM-PC. 
Cada unidade vem com uma configuração 
mínima de um monitor colorido, impres­
sora, capacidade de memória de 8 Mbytes 
de disco rígido e uma unidade de fita.
Aplicações
A linguagem gráfica informatizada per­
mite, com o auxílio de softwares dedica­
dos, o desenvolvimento de projetos de 
engenharia em reduzido espaço de tempo. 
Com elas, as tradicionais pranchetas pas­
sam a ser artefatos do passado. Além de 
ganharem tempo, com o auxílio do com­
putador, os projetistas podem simular si­
tuações de fadiga de material, de peso a 
ser suportado por estruturas, e conseguem 
maior confiabilidade nos cálculos, evitan­
do assim erros humanos, como o verifica­
do, dez anos atrás, no viaduto da 
Gameleira, em Belo Horizonte, erodido 
por problemas de estrutura do sôlo.
As áreas de CAD (Desenhos ou proje­
tos assistidos por computador) CAE (En­
genharia assistida por computador) e Case 
(Engenharia de Software assistida por 
computador) serão amplamente beneficia­
das com a chegada das estações gráficas.
Outra área que poderá utilizar os novos 
equipamentos é a do Instituto de Artes da 
Universidade. O grafismo e suas inúme 
ras modulações possíveis poderão ser re 
presentados através das estações, abrindo 
novas perspectivas para esses profis 
sionais.
O Centro de Comunicação da Unicamp 
que vem usando imagens para o confron 
to de informações precisas, como no caso 
Mengele e agora com a ossada do cemité­
rio de Perus, em São Paulo, num trabalho 
conjunto com o Departamento de Mediei 
na Legal da Universidade, também pode­
rá refinar ainda mais suas técnicas de 
sobreposição de imagens. Os fenômenos 
físicos e químicos, por sua vez, também 
serão descritos com maior precisão e di­
nâmica numa tela de uma estação gráfica 
(G.C. e L.C.V.)
Informática otimiza produção animal
Softwares 
orientam criação 
de vacas, 
frangos e suínos.
Alimentar bem vacas leiteiras ou frangos de 
corte não é a única fórmula para se obter uma 
produção satisfatória. A condição ambiental 
desses animais e de outros, em geral, é tão im­
portante quanto a nutrição. Preocupando-se com 
itens como o calor, ventilação, umidade relati­
va do ar do local de confinamento dos animais, 
a pesquisadora Irenilza de Alencar Nãas, da Fa­
culdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da 
Unicamp, chegou a um programa de computa­
dor que sinaliza, a qualquer momento do dia, 
o que se deve fazer para manter a vida normal 
dos animais e alcançar deles o máximo rendi­
mento. “ Um animal , para produzir, com ex­
celência, tem que se sentir confortável” , define 
a pesquisadora, que já produziu e patenteou três 
versões do software — o “ pró-leite” ?o “ pró- 
-porco” e o “ pró-frango” — que podem ser 
usados por médios e grandes-produtores.
Para chegar ao programa ideal, Irenilza afir­
ma que “ reuniu tudo o que existe a respeito do 
assunto” e colocou num modelo matemático. 
Não foi um trabalho que nasceu do dia para a 
noite. Engenheira civil com preocupações na 
área agrícola, a professora da Unicamp vem se 
dedicando ao conforto térmico na produção ani­
mal há 15 anos. Ê autora do único livro publi­
cado sobre o assunto no Brasil, Princípios de 
conforto térmico na Produção Animal (Edito­
ra ícone, 1989). Seus primeiros estudos na área 
foram desenvolvidos no Exterior, onde reali­
zou do mestrado ao pós-doutoramento. Princi­
palmente na Universidade da Flórida, com 
quem trocou suas experiências e ocupa função 
de professora-adjunta do Departamento de En­
genharia Agrícola. Programa que desenvolveu 
pode ser usado em qualquer computador de 16 
bits e sua implantação, por exemplo, para um 
lote de 500 vacas de leite custa menos de 1 % 
do investimento total do produtor.
No Brasil, segundo Irenilza, os métodos de 
criação de gado não diferem muito de região 
para região. As instalações usadas guardam em 
geral o mesmo modelo. Como conseqüência o 
animal sofre os rigores do inverno ou da seca 
escaldante sob as mesmas condições de abri­
go. O frio, uma preocupação geral dos produ­
tores, é até mais fácil de ser resolvido. “ Um 
animal de sangue quente” , exemplifica Irenil­
za, “ resiste a até 15°C em média abaixo da 
sua temperatura ideal e só resiste 5?C acima.” 
Não é à toa que se nota em galinheiros, por 
exemplo, galinha levantando as asas quando o 
tempo está muito quente, tentando se refrescar. 
Nesse caso, se as condições não forem modifi­
cadas, as aves podem chegar ao stress e mor­
rer. Com vacas de leite, nas mesmas condições, 
geralmente ocorre uma quebra considerável na 
produtividade.
O software de Irenilza prevê, nesse caso,
todas as gradações de incidência solar nas ins­
talações em uso. No Nordeste, uma solução 
preliminar é aumentar a altura dos barracões 
e dotá-los de cobertura adequada. Espaço ideal 
para ventilação, o tipo de chão, colocação de 
ventiladores, entre outros itens, fazem parte do 
planejamento das instalações. No programa de­
senvolvido por Irenilza, tomadas essas provi­
dências, o produtor pode acompanhar 
diariamente, através de terminal de vídeo, se 
as condições se mantêm estáveis e convenien­
tes. Caso contrário, o próprio programa dá a 
orientação sobre o que deve ser alterado.
A preocupação com instalações tem uma ra­
zão tecnicamente justificável. Mesmo o animal 
que vem passando por constantes evoluções ge­
néticas em função de uma maior adaptabilida­
de, adquire novas deficiências que têm que ser 
supridas. “ Não adianta pensar em superprodu­
ção se os animais são colocados em local ina­
dequado” , alerta a pesquisadora, que prepara 
no momento outros programas, um deles vol­
tado para a nutrição animal. Conta para isso 
com o apoio de um veterinário, de um dese­
nhista, um analista de sistema e dois estudan­
tes em iniciação científica.
Interesse
Pelo menos dois convênios já foram assi­
nados entre a Unicamp e empresas de médio 
e grande porte, para o uso do software desen­
volvido por Irenilza. Outros contratos 
encontram-se em fase adiantada. Pitoresco foi 
o caso de um empresário interessado em criar 
um bom lote de vacas holandesas no Nordeste
Irenilza: software a serviço da produção.
e que, insatisfeito com os níveis de rendimen 
to dessa estirpe na região, foi ao Exterior ver 
como podia solucionar o seu problema. Após 
ter percorrido vários países, encontrou nos Es 
tados Unidos a pista para a solução do caso. 
Os próprios norte-americanos disseram-lhe que 
a solução estava no Brasil, isto é,na Unicamp, 
mais especificamente na Feagri.
O empresárionão perdeu tempo, veio 
Campinas, conheceu o software e de imediato 
assinou um convênio para o acompanhamento 
sistemático de sua produção de vacas leiteiras. 
Irenilza ajudou-o a determinar as condições 
ideais de construção dos galpões a partir das 
variáveis da região. Em breve, quando as ho­
landesas estiverem ambientadas no Nordeste 
produzirão normalmente 25 litros de ordenha, 
como nos demais estados do país. (R.C.)
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Cam pinas, outubro dc 1990 inicamp
Página 5
Voluntários testam medicamentos
Gilberto: testes para comprovar se os remédios são eficientes.
Experiência veio 
de Londres e dá 
certo na Medicina 
da Unicamp.
Afetada por um problema de saúde, a pri­
meira atitude de uma pessoa é procurar um mé­
dico e tratar-se. Mas o que leva essa mesma 
pessoa, sem qualquer alteração no seu quadro 
clínico, a ingerir doses de algum medicamen­
to? No caso de voluntários convidados pelo De­
partamento de Farmacologia da Faculdade de 
Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, o mo­
tivo é duplo: participar de um produtivo pro­
grama de controle de qualidade dos produtos 
ingeridos e, por que não, ganhar para integrar 
o grupo de avaliação. O responsável por essa 
situação, pouco comum no Brasil, é o médico 
Gilberto de Nucci, que já testou dois medica­
mentos e no momento faz acompanhamento de 
mais um. Os resultados devem sair em breve 
e mostrar — ou não — se a eficiência alardea­
da pelas bulas tem sua razão de ser.
O controle de qualidade de drogas através 
de estudos de biodisponibilidade foi iniciado por 
Gilberto ainda na Inglaterra, onde fez o seu dou­
torado e pós-doutoramento entre 1982 e 1989. 
De volta ao Brasil e à Unicamp, Gilberto, far- 
macologista formado pela USP de Ribeirão Pre­
to, tratou de continuar os trabalhos da pesquisa 
básica iniciados na Universidade de Londres e 
introduzira farmacologia clínica na Unicamp. 
O primeiro teste, no começo do ano, foi com 
um produto antiasmático, a teofilina.
Bastou um pequeno anúncio nos corredores 
da Faculdade de Ciências Médicas para que pelo 
menos 50 pessoas se apresentassem como vo­
luntárias. Dessas, pelos menos 40% foram des­
cartadas após um exame médico completo e 
laboratorial. Havia a necessidade de voluntá­
rios sadios, sem qualquer problema de saúde. 
Para os 12 voluntários selecionados, Gilberto 
ministrou doses diferentes do medicamento uti­
lizando para isso dois finais de semana alter­
nados. O tratamento dispensado a essas pessoas, 
a maioria estudantes de medicina ou médicos 
residentes, é de hotel cinco estrelas. Um apar­
tamento no quarto andar do Hospital de Clíni­
cas com TV, vídeo, som, geladeira e 
atendimento especial. A única quebra de roti­
na é a retirada, a tempos determinados, de 
amostras de sangue do voluntário. Outra dife­
rença é que, ao “ fechar a conta” , o voluntário 
não paga nada — recebe, ao contrário, um pa­
gamento de 140 dólares e um seguro.
“ Nos moldes em que está sendo feito, este 
controle de qualidade é incomum no Brasil” , 
afirma Gilberto. “ Os efeitos colaterais previs­
tos são mínimos, já que as doses utilizadas são 
terapêuticas.” Além disso, há observação cons­
tante da equipe de farmacologia clínica com 
o voluntário.
O controle de qualidade da teofilina acon­
teceu por iniciativa própria do pesquisador da 
FCM, logo que concluiu doutorado em infla­
mação do pulmão. Após isso, houve o interes­
se da indústria farmacêutica que está 
financiando os demais trabalhos. “ O meu in­
teresse é iniciar a criação da disciplina de far­
macologia clínica no Brasil, controle de 
qualidade de medicamentos vendidos no país 
e uma fonte geradora de recursos externos pa­
ra fomento da pesquisa básica” , diz Gilberto. 
Para a indústria, e principalmente para quem 
se utiliza do seus medicamentos, vale a inves­
tigação de que o produto atinge concentrações
suficientes na circulação.
Um antiinflamatório e um fármaco usado no 
tratamento de giardíase e infecções por germes 
anaeróbicos — o metronidazol — são outros 
produtos em teste na FCM. Um outro medica­
mento, o haloperidol, usado em moléstias psi­
quiátricas, é o próximo objeto do controle de 
qualidade de Gilberto Nucci e sua equipe, for­
mada, ainda, pelos pesquisadores Simon Gal- 
ton, da Universidade de Londres, e Lionelo 
Leone, de Turim, além de doispós-graduandos, 
um profissional de informática e dois assesso­
res estrangeiros.
A análise dos níveis sangüíneos do medica­
mento é feita através da técnica de cromatogra- 
fia líquida de alta pressão — comparação 
qualitativa e quantitativa com padrões dos pro­
dutos previstos na composição dos remédios. 
Para cada produto testado são estabelecidas con­
dições de tempo e uso e coleta das amostras para 
exame. O metranidazol em teste exige que o 
voluntário fique por um período de 36 horas 
— repetido durante quatro semanas — à dispo­
sição dos pesquisadores, para recebimento da 
droga e coleta do sangue. No caso, cada pa­
ciente recebe 320 dólares por sua ajuda à pes­
quisa, considerada básica e de fundamental 
importância para a medicina.
Ética médica
As pesquisas com medicamentos em seres 
humanos é regulada por lei na Comunidade Eu­
ropéia, nos Estados Unidos, Canadá e Japão. 
No Brasil, uma resolução da Comissão Nacio­
nal de Saúde — subordinada ao Ministério da 
Saúde — de 1988, dispõe sobre os procedimen­
tos a serem adotados.
Na Unicamp há uma comissão de ética, li­
gada ao Hospital de Clínicas — e que se esten­
de à Faculdade de Ciências Médicas, por uma 
analogia de função. É presidida pelo málico Se­
bastião Altivo Nogueira de Souza, professor- 
-assistente do Departamento de Medicina Legal. 
Compõe-se de JO membros titulares e outros 
10 suplentes. É essa comissão que, entre ou­
tras atribuições, determina se é ético ou não o 
trabalho de pesquisas com uso de drogas em 
pessoas a partir da apresentação de um deta­
lhado projeto pelo pesquisador.
“ No caso das pesquisas do professor Gil­
berto” , justifica Sebastião, “ não existem ris­
cos. Eles já foram eliminados com a vendagem 
comercial do produto.” O presidente da comis­
são de ética do HC destaca a importância do 
voluntário conhecer previamente a extensão da 
experiência de que está participando. No pro­
grama da Unicamp, essas exigências vêm sen­
do plenamente atendidas. Mas, à parte o aspecto 
legal, ó que leva as pessoas a se inscreverem 
como voluntários? “ Ninguém vai negar que o 
aspecto financeiro influenciou” , destaca o es­
tudante de medicina Marcos Norberto Vetoraz- 
zi, submetido a um dos testes do professor 
Gilberto de Nucci. Outro fator alegado pelo vo­
luntário é o fato de sua namorada ser asmáti­
ca, daí seu interesse em participar do teste de 
um medicamento contra a asma. Marcos ficou, 
no mês de maio, dois finais de semana à dispo­
sição da pesquisa. Em compensação, ganhou 
140 dólares.
O médico residente do Hospital de Clínicas, 
Bruno Geloneze Neto, participou dos testes rea­
lizados em agostocom o metronidazol, justa­
mente por saber dos reais objetivos da pesquisa. 
“ Estou mais seguro por conhecer a droga. A 
toxicidade é mínima” , diz. Durante a adminis­
tração do medicamento não sentiu nenhum efei­
to colateral. Dos testes realizados até agora, 
Gilberto constatou pequenas dores de cabeça em 
dois voluntários apenas. (R.C.)
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Página 6
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Unicamp Campinas, outubro de 1990
A idade média sai das trevas
Historiadores 
querem resgatar 
dimensão real 
da época.
Qual a contribuição da Idade Mé­
dia para a chamada ciência moderna? 
Identificada normalmente como “ a 
idade das trevas” , os historiadores da 
ciência querem hoje resgatar a con­
tribuição da época, considerando o 
seu contexto sóciopolítico e econô­
mico. A preocupação atual é, a rigor, 
dar à Idade Média uma dimensão 
mais próxima do real, sem o enalte- 
cimento da escolástica medieval mas 
também sem remetê-la à obscuridade.
Esse foi, aliás, o propósito do fí­
sico e historiador da ciência Roberto 
Martins, também presidente da So­
ciedade Brasileira para a História da 
Ciência, ao promover, através do 
Centro de Lógica, Epistemologia e 
História da Ciência da Unicamp 
(CLE), o 6? Colóquio de História da 
Ciência. O evento, que reuniu no 
Centro de Convenções da Universi­
dade, de 26 a 29 de agosto último, 
mais de 300 pessoas, entre pesquisa­
dores, estudiosos da área e estudan­
tes, foi dedicado a essa duradoura e 
intrigante polêmica sobre a existên­
cia ou não de vida inteligente na Ida­
de Média.
O colóquio, intitulado “ As Ciên­
cias na Idade Média: Revoluções 
Científicas” , despertou um interes­
se inesperado. Acostumados com um 
público médio de 100 pessoas nos co- 
lóquios anteriores, os organizadores 
do evento escolheram o Mosteiro de 
São Bento, em Vinhedo, SP, para 
abrigar as discussões sobre esse pe­
ríodo da história. Entretanto, dado o 
alto número de inscritos — mais de 
300 —, foram obrigados a transferir 
o encontro para o campus da Uni­
camp. Como o período é também 
pouco estudado, a simples realização 
do colóquio tendo como foco central 
a Idade Média possibilitou não ape­
nas a agregação dos pesquisadores já
envolvidos com o assunto mas termi­
nou por estimular o surgimento de 
novos trabalhos.
Pensamento medieval
Sem desconhecer os limites natu­
rais existentes na Idade Média, e re­
conhecendo que a pouca investigação 
científica da época foi realizada qua­
se que exclusivamente por religiosos 
— padres, monges e frades — com 
fins também religiosos, como regis­
tra J.D. Bemal em seu livro, na 3? 
parte da coletânea “ Ciência na His­
tória” , intitulada “ A Ciência na Ida­
de da F é” , 1965/1969, os 
historiadores de ciência contemporâ­
neos querem desvendar as marchas e 
contramarchas no desenvolvimento 
da ciência no século XVII.
Quando se fala na contribuição 
científica da Idade Média, os nomes 
mais lembrados são Newton e Lavoi- 
sier. Entretanto, de acordo com o 
professor Martins, esse longo perío­
do não pode ficar restrito a esses dois 
nomes, por mais significativos que 
sejam. “ E preciso conhecer e enten­
der que tipo de pensamento e o que 
se fazia na época” observa o físico. 
Segundo ele, uma das grandes difi­
culdades para se estudar a época re­
side no desconhecimento de idiomas 
como o latim, o árabe e o grego.
Em primeiro lugar, os historiado­
res da ciência que investem por esse 
longo percurso histórico precisam 
aprender a ler os manuscritos da épo­
ca, que são escassos e de circulação 
restrita. Um complicador adicional é 
saber decifrar as próprias letras des­
ses manuscritos, que variavam de 
acordo com o país e o período. Nes­
se caso é necessário investir também 
em paleografia. Tudo isso para po­
der apenas penetrar no mundo medie­
val, passar a conhecê-lo e só então 
analisá-lo.
Outro aspecto igualmente impor­
tante para uma correta compreensão 
do pensamento medieval, na opinião 
de Roberto Martins, é procurar en­
tender a cultura do período. “ Não se 
pode interpretar os processos da épo­
ca com as concepções atuais” , garan­
te. Segundo ele, é muito difícil entrar 
nos séculos XII e XIII, cujas diferen­
ças do século XVm — conhecido co­
mo “ século das luzes” ou "período 
cientificista” , onde o pensamento 
científico “ era visto como capaz de 
solucionar todas as inquietações do 
homem” (Régis de Moraes, 1981, in 
Ciência e Tecnologia —)são muito 
grandes.
Apesar dessas dificuldades, que 
não são poucas, o interesse atual por 
rever o período medieval é grande. 
Nesse sentido, uma boa base filosó­
fica é imprescindível para a com­
preensão dos fenômenos da época, 
observa Martins. “ O cientista sem 
formação filosófica tem por hábito 
procurar no passado aquilo que é feito 
hoje em dia, quando o filósofo, ao es­
tudar Platão, por exemplo, tenta en­
tender o contexto intelectual da época 
porém não a partir dos conceitos mo­
dernos” . Foi justamente para suprir 
essa lacuna dos que se interessam e 
investem na história da ciência que 
o Centro de Lógica da Unicamp ini­
ciou este ano um curso de história da 
ciência, destinado a professores da 
área.
A ciência na Idade Média
“ Atanores, Cimitarras, Minare­
tes, Ciência Árabe como tecido do sa­
ber sob o céu medieval” (Ana Maria 
Alfonso Goldfarb-PUC/SP), “ O mé­
dico medieval e a peste negra no sé­
culo XIV” (Rachel Lewinsohn- 
Unicamp), “ Astronomia na Idade 
Média: teoria e prática” (Carlos Ar- 
thur Ribeiro do Nascimento- 
-PU C/SP), “ La verificacion 
científica según R. Grosseteste” (Ce- 
lina Ana Lértora Mendoza- 
-Conicet/Argentina), “ Definição, 
classificação e unidade da ciência em 
São Boaventura” (Luiz Alberto de 
Boni-UFRS) e “ The Long cientific 
revolution” (Allen G. Debus-Univ. 
de Chicago-USA), “ Astronomia me­
dieval indiana: o Brhatsamhitã” (Ro­
berto de Andrade Martins-Unicamp) 
e “ Pietre e colpe nella medicina te- 
desca dei XVII secolo” (Francesco 
Trevisani-Univ. Münsten, Alema­
nha), foram os temas abordados du­
Cauterização: um aspecto da medicina rudimentar na Idade Média.
rante o colóquio. Além disso, 40 
comunicações científicas apresenta­
das nos quatro dias do encontro per­
mitiram uma visão panorâmica da 
época.
Desde o primeiro colóquio de His­
tória da Ciência promovido pela Uni­
camp em 1985, vários períodos 
significativos da evolução científica 
foram contemplados: “ O nascimen­
to da ciência moderna. Século XVII” 
(1985); “ 300 anos dos princípios de 
Newton” (1986); “ René Descartes” 
(1987); “ Ciência grega” (1988); “ A 
ciência no século das luzes. Século 
XVII” (1989); “ Idade Média” 
(1990). Para o próximo ano, os or­
ganizadores do encontro escolheram 
o tema: “ Século XIX-início do XX” .
No Brasil não há tradição de cur­
sosda história da ciência, seus mo 
vimentos gerais e específicos. Na 
Unicamp, os currículos de graduação 
começam agora a contemplar disci 
plinas dessa natureza. A formação 
dos historiadores da ciência é vaga 
rosa, em face do volume de informa 
ções a serem absorvidas. “ Se não se 
conhece a história da ciência, não se 
compreendem bem os conceitos e a 
natureza da história. Já ao estudá-la, 
fica mais fácil verificar que em todos 
os períodos existiam dificuldades e 
conflitos na produção e na difusão do 
conhecimento. E possível perceber 
por que algumas teorias são abando­
nadas e outras não, bem como seu 
desdobramento para uma compreen­
são mais clara dos fenômenos con­
temporâneos ’ ’, explica Martins. 
(G.C.)
Unicamp recebe acervo sobre história da ciência
Há exatos 15 anos nasceu nos 
Estados Unidos um ambicioso pro­
jeto de resgate da história da ciên­
cia. Coordenados pelo editor 
Duane Roller, da Universidade de 
Oklahoma (EUA), historiadores da 
ciência de vários países passaram 
a contribuir para a formação de um 
precioso acervo que recupera os 
principais marcos da ciência, des­
de a antiguidade até o final do sé­
culo XIX.
São 5.400 obras, num total de 
dois milhões de páginas que percor­
rem os diferentes períodos da his­
tória da ciência e sua contribuição 
para a humanidade. Anualmente, 
num trabalho que tem por objetivo 
cobrir todas as lacunas, até chegar 
aos dias atuais, cerca de 300 no­
vas obras vão se incorporando à co­
leção. Obras completas de 
Lavoisier, Darwin, Galileu, New­
ton e muitos outros podem ser con­
sultadas.
Todo esse material está desde 
agosto último disponível para os 
pesquisadores brasileiros e estran­
geiros na biblioteca do Centro de 
Lógica Epistemologia e História da 
Ciência da Unicamp. O acervo, que 
é único na América Latina, está to­
do microfilmado. São cerca de 200 
caixas com microfichas. Cada uma 
delas contém 100 páginas. Um ca­
tálogo de 200páginas, organizado 
por autores e obras, pode ser facil­
mente consultado.
A aquisição da coleção ‘ ‘Mar­
cos da ciência ’' fo i possível graças
à gestão da CLE junto à Fapesp (Fi­
nanciadora de Estudos e Projetos), 
órgão de apoio à investigação cien­
tífica, que pagou US$ 40 mil pelo 
acervo pedido pela Unicamp. Pa­
ra facilitar o manuseio do material 
pelos pesquisadores, o CLE já so­
licitou junto à Fundação Vitae uma 
verba para a compra de equipamen­
to que permitirá tirar cópias a par­
tir de todo tipo de microficha.
Além disso, fo i também pedido 
à Finep recursos para a confecção 
de um Banco de Dados para inse­
rir o catálogo do acervo via Ren- 
pac. Com a informatização 
completa do sistema será possível 
aos pesquisadores brasileiros e de 
países vizinhos que não dispõem 
desse material fazer a consulta ne­
Roberto Martins: 
a importância 
da filosofia 
na história 
da ciência.
cessária. Pedidos e informações so­
bre o acervo ou cópias do catálogo 
podem ser solicitadas ao CLE/Uni-
camp, Campinas, SP, caixa postal 
6133 ou pelo telefone (0192) 
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Cam pinas, outubro de 1990
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unicamp
Pesquisa radiografa a pobreza
No ranking do 
desenvolvimento 
social, país ocupa 
a 51? posição.
Um estudo sobre desenvolvimento 
social realizado em 1987 pela Orga­
nização das Nações Unidas (ONU) 
revela que o Brasil ocupa a amarga 
51 ? posição entre as nações que apre­
sentam melhores indicadores sociais. 
Se não bastasse a previsível coloca­
ção abaixo das dos países do Primei­
ro Mundo e também dos socialistas, 
o Brasil situa-se ainda atrás de nações 
sul-americanas vizinhas como Argen­
tina e Colômbia, que ocupam, respec­
tivamente, as 32? e 45? posições. A 
avaliação da ONU pode ser verifica­
da a partir, por exemplo, da realida­
de social da região metropolitana de 
São Paulo, a área mais rica do país. 
Em recente estudo realizado pelo so­
ciólogo Juarez Brandão Lopes, pro­
fessor do Instituto de Filosofia e 
Ciências Humanas (IFCH) da Uni- 
camp, o quadro revelado acerca da 
condição social desses habitantes é 
tão desanimador quanto o levanta­
mento da ONU: significativa fatia da 
população paulista encerra a década 
de 80 tão pobre quanto viveu no pior 
momento dos últimos dez anos, o au­
ge da recessão de 1983.
O quadro foi revelado num arti­
go acadêmico publicado em julho 
deste ano pela revista Perspectiva, da 
Fundação Sistema Estadual de Aná­
lise de Dados (Seade). Através des­
se estudo, intitulado “ Recessão, 
pobreza e família — a década pior do 
que perdida” , o professor Brandão 
Lopes que também é pesquisador do 
Núcleo de Estudos de Políticas Pú­
blicas (NEPP) da Unicamp, e a ana­
lista do Seade, Andréa Gottschalk 
revelam que “ para ponderável pro­
porção dessas famílias, a década sig­
nificou claro retrocesso” . As 
constantes alterações da conjuntura 
econômica do país afetam sensivel­
mente as camadas mais pobres da po­
pulação. Para Brandão Lopes, o fato 
mais surpreendente desse estudo re­
side na rapidez de como as perdas so­
ciais se acentuam . “ Toda a 
recuperação social registrada entre 83 
e 86 perde-se no ano seguinte, com 
o fracasso do Plano Cruzado” , diz.
Classificar a pobreza
Para realizar o estudo, os pesqui­
sadores definiram uma linha de po­
breza a partir de dados da Pesquisa 
Nacional de Domicílios (PNAD), do 
IBGE e a da Pesquisa de Emprego e 
Desemprego (PED), do convênio es­
tabelecido entre a Fundação Seade e 
o Dieese. Foi analisada a pobreza, se­
gundo o ciclo vital familiar, desde o 
seu início com a constituição da fa­
mília, nascimento e crescimento dos 
filhos, separações, mortes, até o m o-. 
mento em que os filhos adultos saem 
de casa para constituir nova família, 
deixando o casal, a viúva ou o viú­
vo, em idade avançada, novamente 
sozinho.
A metodologia aplicada pelos pes­
quisadores difere substancial mente 
dos estudos realizados anteriormen-
Juarez Brandão: “42% de
te no gênero. A primeira inovação se 
concentra no ato de estudar a pobre­
za tomando como báse a família e não 
o indivíduo. “ O que se tem visto até 
então são estudos que partem da aná­
lise de indivíduos e não deles inseri­
dos no contexto familiar” , diz 
Brandão Lopes.
Segundo o pesquisador, quando se 
faz uma análise do indivíduo enquan­
to agente economicamente ativo, 
desprezam-se as pessoas que não pro­
duzem, como as crianças, por exem­
plo. “ Não se pode esquecer que as 
pessoas que não geram receita são 
elementos que pesam significativa- 
mente na situação de pobreza. Ao es­
tudar a família tomando por base a 
renda de seus integrantes ou do res­
ponsável pelo sustento, é possível, 
por exemplo, verificar que dois in­
divíduos de famílias diferentes que 
têm salários idênticos não ocupam ne­
cessariamente a mesma posição quan­
to a condições de vida. É necessário 
que se leve em consideração o núme­
ro de dependentes de cada um. “ A 
posição acima ou abaixo da linha de 
pobreza não depende apenas do mon­
tante que o trabalhador recebe por 
mês, mas também das despesas que 
ele tem que arcar” , diz.
Manter o poder de compra
Outra inovação no trabalho foi de­
finir pobreza nos vários anos, segun­
do valores de igual poder de compra. 
A pesquisa tomou como ponto de par­
tida o salário mínimo de 1981 e o cor­
rigiu m onetariam ente para 
estabelecer as faixas da pobreza e da 
miséria nos outros anos. Se a pesqui­
sa tomasse por base apenas os valo­
res nominais dos salários mínimos em 
cada ano, sem levar em conta a dete­
rioração de seu poder de compra no 
tempo, osresultados seriam distorci­
dos. “ Esse contínuo ‘encolhimento’ 
do salário mínimo, viciaria a pesqui­
sa” , diz Brandão Lopes.
O estudo parte do comportamen­
to global da pobreza nos anos 80. Du­
rante a recessão de 1981-83, a 
proporção de famílias pobres — 
encontram-se nessa situação as famí­
lias com renda per capita de até um 
salário mínimo de 1981 — aumentou 
de 35 para 43 %. O número de famí­
lias miseráveis — situação em que a 
renda familiar per capita é de meio 
salário mínimo — também cresceu: 
de 11 para 19%. Na recuperação eco-
pobreza, 16% de miséria’’. 
nômica que se seguiu, sobre a qual 
se sobrepôs o boom do Plano Cruza­
do de 1986, a proporção de famílias 
pobres caiu de 43 para 26%. Queda 
acentuada também foi registrada en­
tre as famílias miseráveis: de 19 pa­
ra 14% em 1985, diminuindo ainda 
mais em 1986, chegando à marca de 
7%. “ No período do Plano Cruzado 
as famílias tiveram acesso a uma sé­
rie de bens jamais imaginados. Po­
rém a melhoria mostrou-se algo 
fugaz” , diz Brandão Lopes. Com o 
fracasso do plano, a economia viveu 
um processo de deterioração, elevan­
do rapidamente o nível de pobreza 
para 42% e o de miséria para 16%.
Conjuntura econômica
A configuração familiar constitui- 
-se em condicionante básico para a 
definição de pobreza ou de miséria 
em qualquer momento da conjuntu­
ra econômica, seja de recuperação ou 
de profunda recessão. Considerando 
os baixos salários aplicados à maio­
ria da população, a renda familiar per 
capita depende do número de mem­
bros disponíveis para o trabalho e 
com acesso a esse mercado. Com ba­
se em dados da PNADs de 1981-87, 
Brandão Lopes e Gottschalk elabora­
ram gráficos onde traçam as proba­
bilidades de pobreza e de miséria em 
vários pontos do tempo, segundo os 
diversos tipos de família. Em todos 
os gráficos constata-se a mesma for­
ma genérica da curva que caracteri­
za ò ciclo familiar.
A proporção de famílias pobres se 
dá em menor nível quando se trata de 
um casal jovem sem filho. No mo­
mento em que nascem as crianças, 
aumenta a proporção de pobres, atin­
gindo o ponto mais alto da curva. A 
medida que esse casal entra na meia 
idade e os filhos crescem, a propor­
ção de pobreza diminui. Este índice 
cai ainda mais quando o casal atinge 
idade avançada, tendo ainda em casa 
filhos produtivos. Entretanto, quan­
do os velhos perdem a companhia dos 
filhos e passam a viver de benefícios 
previdenciários e de pequenos bicos, 
a proporção de pobreza aumenta 
substancialmente, chegando próximo 
ao nível do casal jovem com filhos 
pequenos.
O impacto desigual dos movimen­
tos da economia metropolitana sobre 
famílias em níveis distintos de pobre­
za foi a questão central do estudo. As
A proporção de pobres é tão alta quanto no pior momento dos anos
famílias miseráveis são mais susce­
tíveis às oscilações da economia dos 
que as famílias pobres” , diz Brandão 
Lopes. O impacto também é mais vi­
sível nas famílias chefiadas por ho­
mens. Isso ocorre porque são eles que 
estão diretamente ligados ao merca­
do de trabalho.
O estudo mostra ainda que tanto 
as famílias pobres como as miserá­
veis, quando idosas, apresentam 
maior dificuldade de recuperação 
após momentos de instabilidade na 
economia. A elevação da proporção 
de famílias pobres nesses tipos de fa­
mília foi relativamente rápida na re­
cessão. Durante a recuperação 
econômica a proporção somente caiu 
com o advento do Plano Cruzado. 
Entretanto, nova alta no índice de po­
bres e miseráveis foi constatada após 
seu fracasso. Segundo Brandão Lo­
pes, o fato ocorre porque a maioria 
dessas famílias vive de aposentado­
rias e pensões — fontes de renda que 
permaneceram baixas mesmo nos pe­
ríodos de recuperação econômica.
A inserção no mercado de traba­
lho também foi alvo do estudo. O fa­
to se dá de forma diferente confor­
me o nível das famílias. A proporção 
de crianças e adolescentes é maior en­
tre as famílias miseráveis do que nas 
famílias menos pobres. “ Não se de­
ve ignorar que as famílias miseráveis 
são muito mais numerosas e com 
composição sexo-idade muito mais 
desfavorável que as pobres, provo­
cando dessa forma o enraizamento da 
economia informal” , avalia o pes­
quisador.
Quando a família é desprovida do 
chefe masculino, todos os demais
membros, principalmente a mulher 
adulta, vêem-se na necessidade de in 
gresso no mercado de trabalho. Essa 
troca, segundo os pesquisadores, é 
desvantajosa porque pessoas mais ha­
bilitadas e com melhores chances sa­
lariais são substituídas por mulheres 
— alvo de discriminação — em ge­
ral menos preparadas, acentuando 
ainda mais a pobreza. O quadro, en­
tretanto, se torna diferente quando o 
objeto de estudo são as famílias não- 
-pobres. Nesse segmento, a falta de 
chefe masculino também obriga à in 
serção dos demais membros da famí­
lia no mercado de trabalho. A 
diferença está na posição ocupada pe­
los novos trabalhadores: as melhores 
condições econômicas dessas famílias 
abrem o leque de oportunidades.
O objetivo do trabalho não foi 
analisar as causas macroeconômicas 
da pobreza ou formular receitas pa 
ra superar as crises. “ Essa é uma atri­
buição dos economistas e não dos 
sociólogos” , avisa Brandão Lopes. 
Por outro lado, ele acredita que an­
tes de se promover mudanças na con­
juntura econômica deve-se considerar 
as conseqüências sociais. De março 
para cá o país vive um período novo 
na economia e os resultados sociais 
não são animadores: o desemprego e 
a recessão marcam o novo governo. 
“ Mais uma vez não se considerou o 
reflexo social do plano.” Temeroso 
com o futuro, ele arrisca: “ conside 
rando que as populações pobres e as 
miseráveis vivem atualmente os pio­
res momentos da década, não vejo, a 
médio prazo, perspectivas de melho 
ra” . (A.C.)
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Aids, menstruação e ejaculação preco­
ce não são assuntos totalmente estranhos 
para a garota L.T.A., 10 anos, estudante 
de uma escola da rede pública localizada 
num bairro de classe média baixa de Cam­
pinas. Apesar da pouca idade a menina sa­
be — embora com superficialidade — mais 
sobre sexo do que sua irmã, de 18 anos, 
e sua mãe de 40, no momento em que com­
pletava a primeira década de vida. Entre­
tanto, esse conhecimento não foi 
transmitido à garota de forma adequada 
através de pessoas habilitadas ao trabalho 
de orientação sexual. Alguns aspectos so­
bre esses assuntos foram assimilados pela 
garota basicamente por dois caminhos: pe­
las amiguinhas do bairro e pela televisão, 
que a detém com os olhos fixos diante da 
tela pelo menos seis horas do dia. Cons­
ciente desse fato, que pode ser extrapola­
do para milhões de crianças e adolescentes 
dos quatro cantos do país, o pesquisador 
Paulo Rennes Marçal Ribeiro acaba de pu­
blicar o livro Educação Sexual Além da In­
formação (E.P.U.), produto gerado a 
partir de sua tese de mestrado defendida 
na Faculdade de Educação (FE) da Uni- 
camp.A obra se propõe a alertar as pes­
soas acerca da necessidade de reflexão 
sobre a sexualidade.
Em sua tese — denominada “ Uma con­
tribuição ao estudo da sexualidade huma­
na e da educação sexual” — Paulo faz o 
caminho inverso daquele adotado pela teo­
ria tradicional do ensino da sexualidade. 
Enquanto pessoas não habilitadas para o 
assunto e até mesmo alguns estudiosos 
abordam a questão da sexualidade a partir 
de aspectos biológicos ou morais, o pes­
quisador da Unicamp procura lidar inicial­
mente com fenômenos subjetivos como 
sensações de ansiedade e culpa. “ É preci-
f f {JiSSãirX-
Unicamp
Campinas, outubro de 1990
Sexo, da informação à deformação
Tese propõe 
nova abordagem 
do ensino 
da sexualidade.
Paulo: por uma nova visão da sexualidade.
so deixar a criança e o jovem à vontade 
para falar sobre sexo e então inserir as in­
formações inerentes à biologia e à fisiolo- 
gia” , sugere o autor. Régis de Morais, 
professor da Faculdade de Educação e 
orientador de Paulo no trabalho de mes­
trado, vai além. Para ele, a orientação se­
xual pode ser feita com a preocupação de 
recuperar a integralidade humana, quer no 
sentido biopsicossocial, quer no espiritual. 
O orientador acredita que o conceito de se­
xualidade sofre grave distorção quando sua 
abordagem envereda para o ensino da ana­
tomia, da fisiologia e da higiene da ge- 
nitália.
Liberação sexual
Para melhor compreender a questão da 
sexualidade hoje, Paulo faz uma análise 
histórica da educação sexual. Segundo ele, 
a sexualidade desempenhou diferentes pa­
péis em momentos específicos da história. 
Até o século 17, por exemplo, era bastan­
te discreta a censura ao ato sexual. Nos pe­
ríodos de guerra e de peste que
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O ensino da
provocavam grande mortandade de pes­
soas, não havia restrições para o aumento 
da taxa de natalidade. Houve uma época 
em que se valorizava a relação sexual an­
tes do casamento como forma de teste que 
apontava sobre a fertilidade da mulher. Se 
fosse estéril ela não teria a função social 
de gerar filhos. A repressão da sexualida­
de teve início a partir do século 17, com 
a ascensão do puritanismo na Inglaterra. 
Os puritanos não permitiam, entre outros 
comportamentos, o adultério. O momen­
to de repressão mais conhecido e também 
ocorrido na Inglaterra — o vitorianismo — 
aconteceu no século 19 e se espalhou por 
todo o mundo ocidental. Neste período de 
obscurantismo surgiram Sigmund Freud e 
Wilhelm Reich. Ambos procuraram ques­
tionar e combater essa represssão que é la­
tente até os dias de hoje.
“ A forma hipócrita de como se apre­
senta a sociedade é reflexo da repressão se­
xual” , diz Paulo. Segundo ele, ao mesmo 
tempo em que as famílias reprimem a se­
xualidade em seus filhos, elas incorporam 
da sociedade alguns valores liberais . O jo­
vem, frente a essa ambivalência, fica de­
sorientado. Cenas de nudez na televisão 
provocam, não raro, reação contrária por 
parte da sociedade. Os pais retiram as 
crianças de frente do vídeo e clamam pela 
volta da censura. “ O procedimento deve­
ria ser inverso” , sugere. Ele afirma que 
os adultos deveríam fazer uso racional das 
cenas exibidas e provocar em casa discus­
sões acerca da importância da informação 
sexual.
Vencer os tabus
A esse ensinamento superficial sobre o 
assunto o pesquisador denomina de “ de­
sinformação sexual” . Os meios de comu­
nicação como a televisão e o cinema, na 
opinião do pesquisador, são canais que, 
embora visem a alertar para determinados 
aspectos, constituem-se em fontes que in­
variavelmente abordam somente um lado 
da sexualidade. As raízes subjetivas da 
questão são ignoradas. “ O filme pornográ­
fico, por exemplo, mostra apenas o sexo 
pelo sexo, não permitindo ao espectador 
as sensações de ansiedade ou angústia” ,
sexualidade deve começar na infância. 
diz.
Esse fenômeno cria nas pessoas uma sé­
rie de barreiras que, se não for bem traba­
lhada na juventude, dificultará o repasse 
de informações sobre sexualidade quando 
elas atingirem a idade adulta. Para que se 
tornem fontes eficazes de informação, as 
pessoas devem inicialmente vencer os pró­
prios tabus. O repasse do conhecimento 
exige que o orientador tenha essas ques­
tões bem trabalhadas interiormente. Em 
seu livro, Paulo procura despertar a neces­
sidade e uma reflexão para que o profes­
sor aborde sem preconceitos e trate com 
naturalidade os temas sexuais. Ele parte do 
princípio de que, embora existam vários 
estudos sobre o assunto, não há, na práti­
ca, tentativas no sentido de habilitar os pro­
fissionais para promover esse trabalho.
No último capítulo da obra, ele propõe 
subsídios para um curso de orientação se­
xual nas escolas, em que são levantados tó­
picos como “ orientação sexual de 
crianças” , “ mitos e crendices sexuais” e 
“ doenças sexuais transmissíveis” , sempre 
acompanhados da respectiva bibliografia. 
“ Não pretendo formar educadores sexuais, 
mas sim criar um espaço para que profis­
sionais aprimorem e debatam o assunto” , 
diz.
A elaboração do curso surgiu a partir 
de contatos mantidos com 118 superviso­
res de ensino de Campinas e região. Atra­
vés de questionário, Paulo tabulou, entre 
outras respostas, informações sobre a im­
portância de um programa de orientação 
sexual nas escolas e sobre a existência de 
trabalhos em desenvolvimento a respeito. 
Resultado: 89% consideram importante a 
execução do programa nas escolas, 8,5% 
desprezaram a questão e 2,5% não respon­
deram. Sobre a existência de trabalhos nas 
escolas onde atuam, 68% dos superviso­
res responderam negativamente; 28% ace­
naram positivamente e 4% deixaram a 
questão em branco. “ O interesse demons­
trado pelos supervisores foi gratificante. 
Porém, para que se efetive um programa 
dessa natureza é necessário que as autori­
dades se conscientizem nesse sentido” , diz 
o pesquisador. (A.C.)
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Cam pinas, outubro de 1990 /ff-(g^-traãÍSKUnicamp Página 9
Geneticista orienta novela da Globo
TV busca na 
Unicamp base 
realista para 
Barriga de aluguel.
A ficção e a realidade fazem parte do coti­
diano da indústria cultural. Na televisão, o mais 
poderoso veículo da cultura de massa, não po­
dería ser diferente. Como principal meio de en­
tretenimento da sociedade moderna, a televisão, 
embora não possa ser responsabilizada pela for­
mação de pessoas, certamente contribui para is­
so, se não moldando, pelo menos criando 
hábitos, modismos. Cientes dessa força, os au­
tores das telenovelas brasileiras vêm nos últi­
mos anos trabalhando em torno de gêneros 
denominados de ficção realista.
E foi esse o caminho escolhido pela autora 
Glória Perez para a novela das 18 horas da Re-* 
de Globo dê Televisão que estreou em agosto 
passado — Barriga de Aluguel. A fertilização 
in vitro vem mobilizando a opinião pública 
mundial. No final dos anos 70 nasceu na In­
glaterra o primeiro bebê de proveta. Nos Esta­
dos Unidos, a briga pela posse de uma criança 
gerada num “ útero

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