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ARQÜIVO CENTRAL HlMIiEI Ano IV — N? 48C am pinas, o u tu b ro de 1990 P o b r e z a s e a g r a v a , d iz p e s q u is a Estudo realizado pelo sociólogo Juarez Brandão mostra que boa parte da população paulistana terminou os anos 80 tão pobre quanto no pior momento da década, o auge da recessão de 1983. Página 7. * Laboratórios como o de Oleos e Gorduras, na Faculdade de Engenharia de Alimentos, poderão beneficiar-se com o plano tecnológico. O plano de capacitação tec nológica recém-anunciado pelo governo federal traz como no vidade, além da ampliação dos investimentos no setor, o fato de que a maior parte desses re cursos passará pelas empresas antes de chegar às universida des. No meio científico é gran de a expectativa sobre o de talhamento do plano, o seg mento empresarial que será contemplado e as universida des que serão chamadas a co laborar. A Unicamp, valen do-se de sua aproximação his tórica com o setor produtivo, saltou na frente e anunciou sua disposição de intensificar as relações com a indústria. Um sinal público disso será a ati vação, este mês, do Escritório de Transferência de Tecnolo gia. Página 3. Unicamp aguarda definição do programa tecnológico Idade Média também teve suas luzes Se depender da nova geração de historiadores da ciência, a Idade Média pode vir a livrar-se do estig ma de “ período das trevas” . Cen tenas de pessoas reuniram-se na Unicamp para avaliar a importân cia do período para a civilização. Página 6. Aula de anatomia medieval. Nostálgicas rainhas do rádio Tese propõe nova visão da sexualidade Soprando a poeira da memória radiofônica, o historiador Alcir Lenharo restaura o mundo lendário das cantoras dos anos 40 e 50, trazendo de volta Emilinha Borba, Dalva de Oliveira e as irmãs Batista. Página 12. Paulo Rennes e sua tese, agora livro. A educação para a sexualidade ainda está baseada em valores mo rais ou então puramente biológicos. Em sua tese de mestrado, Paulo Rennes Ribeiro propõe uma nova j abordagem que leve em conta a preocupação com a integralidade humana. Página 8. Página 2 Campinas, outubro de 1990 A homenagem a Celso Furtado Francisco Iglésias A Universidade de Campinas, já uma sigla famosa — Unicamp — , realizou no dia 21 de agosto uma solenidade, na qual conferiu a Celso Furtado o título de dou tor honoris causa. Considerando-se a mag nitude de sua obra, de 2 7 livros até agora, com dezenas de edições no país e tradu ções muito reeditadas, na América Lati na, nos Estados Unidos, na Europa e até na Asia, além de artigos nas revistas mais categorizadas do mundo, conferências e cursos nas mais importantes universidades do Ocidente, tem-se em Furtado um dos grandes nomes da ciência social brasilei ra e o mais notável da Economia, ontem e hoje. Ligada à obra de escritor, assinale- s e a ação de homem público em organis mos internacionais, como a CEP AL — um de seus fundadores e expoentes na elabo ração de teoria de repercussão, a do de senvolvimento —, não só no continente, bem como o trabalho de ministro do Pla nejamento em dois governos e, sobretudo, o criador da Sudene, a mais bela experiên cia administrativa nacional, tem-se em Furtado um líder da vida brasileira de seu tempo. Livros e ação reconhecidos, não lhe fal tou o apoio do mundo científico. Se várias universidades estrangeiras já lhe deram tí tulos, impõe-se, sobretudo, pelo uso cons tante que todas fazem de seus livros. No Brasil, entretanto. Campinas é a primei ra a dar-lhe o de doutor honoris causa, que devia ser dado por todas — ele o tem em mais de uma na Europa —, uma vez que formou no melhor o melhor das últimas ge rações de economistas. Se alguns profis sionais da área não o cultivam, por considerá-lo difícil ou mesmo não propria mente economista, e, à falta de outro ar gumento que não a própria ignorância específica, alegam ser um pensador social, não uni economista, a culpa é do despre paro. E a visão pobre dos tecnocratas, pa ra os quais a economia é algo restrito à solução de problemas imediatos. Para eles, basta um modelo certinho aplicado a tudo. Essa situação não é rara, pois há quem suponha a economia apenas uma técnica para a solução de certos casos, sem o sen tido geral; falta-lhes a percepção de uma ciência complexa, de impossível redução a receitas ou fórmulas. Seu entendimento exige a consideração de variáveis sociais na tão falada e tão pouco praticada inter- disciplinaridade. O economista com olhos só no econômico, desligado da amplitude do social, pode ser tudo, menos economis ta. Pensando em gente assim, Stuart Mill escreveu que o economista apenas econo mista não é bom economista. Quem, co mo Celso, escreveu livros importantes de História — é autor de texto básico da his toriografia, Formação Econômica do Bra sil, de 59 —, de teoria, como Teoria e Política do Desenvolvimento Econômico, de 67, quem contribuiu, como é universal mente reconhecido, para a compreensão do desenvolvimento, sobretudo aprofun dando a do subdesenvolvimento, em alguns volumes, com subsídios para melhor pe netração da vida política e chegou até a uma reflexão filosófica em Criatividade e dependência na civilização industrial, de 78, quem produz tais obras não pode ser entendido pelo leitor ligeiro ou pelo buro crata, multiplicado em nossos dias na tec- nocracia, responsável por desacertos de todo gênero. A economia sempre sofreu, mas hoje é moda, embora com muita deformação. Carlyle chamou-a de ciência sinistra. Os conservadores a viam como subversiva, os radicais como sustentáculo ou racionali zação do statu quo, em duplo erro. Marx, o radical por excelência e o mais criativo dos estudiosos, não pode ser visto como pregador da revolução em seus textos cien tíficos, como Ricardo, um conservador, não pode ser visto como ideólogo da rea ção (evidencia-se aí o ilusório dos rótulos, pois esse conservador foi uma das bases do monumento marxista). Impõem-se pe las contribuições científicas, como se po de falar também em muitos outros, do Oitocentos e de hoje, debruçados sobre a realidade, na análise da economia e na perspectiva ampla do social. Furtado não está fora do mundo da uni versidade: se não foi professor no sentido convencional — embora desse aulas no Brasil e principalmente em países latino- -americanos, nos Estados Unidos, na Eu ropa —, exerce o superior magistério, por seus livros, os mais lidos e citados, como se comprova em qualquer texto de ciência social aqui produzido, insistentemente ci tado. Também enquanto se escreve sobre seu país em livros pelo mundo afora, nos quais é referência constante. Acontece que o Brasil é aminésico ou distraído; como ele não é deputado, senador ou ministro, fica de fora. Coube à Universidade de Campinas o importante papel de redimir a Economia, conferindo-lhe o título mais alto. Ou, co mo está gravado em placa no importante Instituto, para registrar a festa do dia 21, Celso Furtado, ‘ ‘cidadão exemplar, mes tre de todos nós”. Foi emocionante a so lenidade, com as palavras do reitor Carlos Vogt, a saudação exata e profunda de Wil son Cano, e, sobretudo, pela aula de Fur tado. Não fez o discurso convencional, mas aproveitou a oportunidade para ler o belo texto sob título ' ‘Revisitando o subdesen volvimento ’ ’. Retoma aí seu tema predile to, para o qual contribuiu mais que qualquer outro. O reitor Carlos Vogt e o economista Celso Furtado: “honoris causa” . Neste momento em que há um discurso triunfalista das autoridades, em análise tecnocrata, com a Economia tratada em um plano em que não há uma variável so cial, pois é a expressão ingênua ou ten denciosa da tecnocracia, insensível ao social e ao humano — sua execução pode conduzir àpaz dos cemitérios, em curioso êxito —, tachá-lo de ingênuo é querer vê- -lo com um mínimo de boa vontade, que afasta seu caráter equivocado por desin formação ou arrogância e não por um pro jeto deconcentração de renda do capitalismo disfarçado em palavras popu listas para obter apoio do povo espoliado, simples massa de manobra dos donos do poder, sócios ou comandados da alta f i nança internacional. O Clube dos Ricos e o FMI lhe dão bênçãos jubilosamente fes tejadas. Vingou a fórmula “o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Bra sil”, escândalo há poucos anos. Essa gen te que tanto fala de modernidade e até em pós-modèrnidade, na entrada do Primei ro Mundo, por escamoteação do real, não quer ouvir falar em subdesenvolvimento. Essa, entretanto, é a tônica do discur so de Furtado: homem cosmopolita, que conhece e profundamente o Primeiro Mun do, não como turista, mas seu estudioso e intérprete, vem relembrar a triste reali dade. Podería dizer, mas não diz, que o Brasil, depois de ter perdido a década de oitenta com os calamitosos governos Fi gueiredo e Sarney — como perdeu déca das e séculos anteriores —, corre o risco, pela vacuidade presunçosa, de perder tam bém a década de noventa. O relatório do Banco Mundial, ora divulgado, devia ser objeto de meditação dos novos eventuais ocupantes do governo, que com sua polí tica ameaça maior concentração de ren da, agravamento das desigualdades, embora inconseqüentemente fale palavras populistas, em mais um desmentido de sua pretensa modernidade. Na antevéspera de outro século que é também outro milênio, o Brasil, desliga do do social, seduzido por fórmulas sem base no seu quadro, talvez venha dar ra zão ao que Furtado escreveu, não no dis curso de 21 de agosto de 90, mas no fecho de seu livro de 59: ‘ ‘Sendo assim, o Bra sil por essa época ainda figurará como uma das grandes áreas da Terra em que maior é a disparidade entre o grau de de senvolvimento e a constelação de recursos potenciais”. Não é a palavra de pessimis mo, de negação, mas de realismo de quem já trabalhou para um outro Brasil e nãc o viu realizado. Trabalhou sem esquema publicitário, como se vê pela Sudene, fru to de sua inteligência e labor, digno dc Primeiro Mundo pela racionalidade e a ví agora destruída por supostos moderniza- dores: dirigiu-a afastando os ‘ ‘industriais da seca ’’, as oligarquias, vendo-a hoje en tregue aos maiores representantes da chi cana política nordestina, os velhos coronéis. Acontece que ele não é crítico ligeiro, censor de práticas políticas — sabe o pou co que valem essas autoridades na vida na cional, pelo despreparo e imediatismo. Homem vivendo apaixonadamente os seus temas, entrega-se a eles desinteressado das palmas e das fotos agenciadas pela auto promoção. Grande economista, cientista social, cidadão prestante, é dos brasilei ros eminentes de nossos dias, pelo seu trabalho. Homenageando-o, a Unicamp redime a vida intelectual patrícia de seus equívocos ou injustiças. Como está gravado na pia ca, é o mestre. Acrescento: não de uma ge ração ou de uma especialidade, mas da ciência social profunda. de mais uma ge ração. Um nome — coisa quase inexistente aqui — com raízes que o projetarão no tempo entre os interessados pela verdade, pela pátria, pelo mundo. Termino com a bela epígrafe do poeta Juan Ramon Jimenez, que usou em Teo ria e Política do Desenvolvimento Econô mico — um dos mais editados e traduzidos —, um título universal: ‘‘Pie en la Patria, casual o elegida, corazón, cabeza, en el aire dei mundo”. Assim é Celso Furtado, doutor honoris causa da Unicamp e de fato de todas as universidades brasileiras. Francisco Iglésias é professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A falsa dicotomia entre ensino e pesquisa Aécio Pereira Chagas Causou-me estranha sensação o comentá rio de um estudante, levado à Câmara Delibe rativa da Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp, que optou por outra universidade, que não a nossa, e que dizia: ‘‘Através de colegas e amigos tenho conheci mento de que na Unicamp os professores não se dedicam profundamente ao ensino, estando muito mais interessados nas suas pesquisas e esquecendo-se dos alunos” (sic). Sabemos que isto é voz corrente ’ ‘intramu- ros ’ ’, porém que o mito já tenha sido plantado por aí e que esteja dando frutos é que causa esta estranha sensação de ‘ ‘roupa suja não la vada em casa ’ ’. Abalou meu ’ ‘esprit de corps ’ ’. Nos idos dos 70 já ouvi o boato de que um eminente pesquisador desta universidade acon selhava seus estudantes com estas idéias. Isto é duplamente lamentável. Primeiro pe los prejuízos ao ensino e segundo pelos prejuí zos à pesquisa. A atividade científica é uma atividade com plexa. O iniciante, estudante de pós-graduação ou mesmo já ao nível de pós-doutorado, não sente, não percebe esta complexidade, a não ser que isto lhe seja passado de alguma forma mais ou menos intensa, e esta deficiência é so mente shprida com a experiência que ele vai adquirindo. A í então este pesquisador vai per ceber que ninguém faz ciência sozinho e se hou vesse alguém que fizesse, isto fo i pelo menos no século passado. Para que a atividade cien tífica se desenvolva, cresça (ou pelo menos f i que num patamar), é necessário gente, gente trabalhando, e para isto há a necessidade de divulgar o conhecimento e de bem formar os estudantes. A história de cada ciência está cheia de exemplos e eminentes pesquisadores que fo ram também notáveis divulgadores de idéias, do conhecimento, professores no amplo senti do do termo. Pensar que a atividade do pro fessor limita-se à sala de aula apenas é, na melhor das hipóteses, pensar burocraticamente. Nos Estados Unidos, nos anos 60, após o choque do Sputinik, realizou-se um esforço enorme para aumentar o nível quantitativo da Ciência e da Tecnologia do país. Talvez a pro vidência mais marcante fo i melhorar o ensino de Ciências nas escolas secundárias e nas uni versidades. Atualmente, por este mundo afora, os labo ratórios de pesquisa da indústria e governamen tais são geralmente mais ricos, mais equipados e organizados, o que os toma altamente pro dutivos. Os laboratórios universitários são ge ralmente o contrário, mas sua arma para competir com os outros é justamente o ‘ ’san gue sempre novo que flui em suas veias ’ ’, ou seja, o estudante. Esta constante renovação de pessoal jovem é que é o forte dos laboratórios universitários, situação que os laboratórios in dustriais e governamentais nem sempre podem desfrutar. Portanto aqueles que aceitam o mito de que “o importante é a pesquisa e não o ensino” são ou novatos no ramo ou pesquisadores com antolhos na face. Estão na realidade prestan do um grande desserviço à universidade e à so ciedade em geral. Para que a pesquisa vá bem, é necessário que o ensino vá bem, caso con trário. .. Aécio Pereira Chagas é professor do Insti tuto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Erramos Artigo do prof. Armando Turtelli Jr., pró-reitor de Pesquisa da Unicamp, publicado na edição an terior, dizia em seu primeiro parágrafo: “ As trans formações científicas e tecnológicas não se resumem apenas ao desenvolvimento das ciências ou às trans formações tecnológicas que provêm das novas des cobertas da ciência, mas têm elas próprias um papel fundamental na atual sociedade’’. A supressão in voluntária da partícula não na primeira frase des caracterizou a afirmativa do autor e inverteu-lhe o verdadeiro sentido, que aqui resgatamos. inicsmp Reitor — Carlos Vogt Vice-Reitor — José Martins Filho Pró-reitor de Extensão — César Francisco Ciacco Pro-reitor de Desenvolvimento Universitário — Carlos Eduardo do Nascimento Gonçalves Pró-reitor de Graduação — Adalberto Bono M. F. Bassi Pró-reitor de Pesquisa — Armando Turtelli Jr. Pró-reitor de Pós-Graduação — José Dias Sobrinho Este jornal é elaborado mensalmente pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Correspondência e sugestões: Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081, Campinas-SP. Telefone (0192) 39-3134. Telex (019)3246 e (019) 1150. Editor — Eustáquio Gomes (MTb 10.734) Subeditor — Amarildo Carnicel (MTb 15.519) Redatores — Antônio Roberto Fava (MTb 11.713), Célia Piglione (MTb 13.837), Graça Caldas (MTb 12.918), Lea Cristiane Violante (MTb 14.617), Roberto Costa (MTb 13.751). Fotografia — Antoninho Perri (MTb 828) Ilustração e Arte-Final — Oséas de Magalhães Diagramação — Amarildo Carnicel e Roberto Costa Serviços Técnicos — Clara Eli Salinas, Edson Lara de Almeida, Hélio Costa Júnior e Sônia Regina T. T. Pais. NOVO TEMPO TRABALHO E DESENVOLVIMENTO $F O T O L IT O E IM P R E SSà O IMPRENSA OFICIAL DO ESTADO SAIMESP Vendas, ramais: 257 e 325 Telex: 011 34557 - D O SP Caixa Postal: 8231 — São Paulo C .G .C . (M .F .) N.° 48.066.047/0001 -«4 Cam pinas, outubro de 1990 ftS c JOHNAl 0A |— ^ m p „ ' Página 3 Plano tecnológico gera expectativa Jorge Tapia: produzir políticas coerentes e integradas. As alterações ESFERA FED ER A L : Á REA S D E A TU A Çà O D AS AGÊNCIA S A gência Situação atual Situação proposta S C T / F I N E P D e s e n v o lv im e n to c i e n t í f i c o e t e c n o ló g ic o A p o io à c a p a c i t a ç ã o te c n o ló g i c a d a i n d ú s t r i a ( 2 ) . ( E x t e m a - l i d a d e s , a p o i o d i r e t o à e m p r e s a ) M E F P /S is t c m a B N D E S - A p o io à c a p a c i t a ç ã o te c n o ló g i c a d a in d ú s t r i a . ( A p o io d i r e to à e m p r e s a ) M E F P /B a n c o d o B r a s i l I n v e s t im e n to / F u n d a ç ã o B a n c o d o B ra s i l D e s e n v o lv im e n to c i e n t í f i c o e t e c n o ló g ic o A p o i o à c a p a c i t a ç ã o t e c n o ló g i c a d a in d ú s t r i a . ( A p o io d i r e t o à e m p r e s a ) B a n c o d o N o r d e s t e d o B r a s i l e B a n c o d a A m a z ô n ia - A p o io à c a p a c i t a ç ã o t e c n o ló g i c a d a i n d ú s t r i a . ( E x te m a l id a - d e s , a p o i o d i r e t o Ia e m p r e s a ) S e n a i (3 ) F o r m a ç ã o d e r e c u r s o s h u m a n o s F o r m a ç ã o d e r e c u r s o s h u m a n o s e s e r v iç o s t e c n o ló g ic o s . S is t e m a C e b r a e (3 ) A p o io à p e q u e n a e m é d ia e m p r e s a . D e s e n v o lv im e n to d e r e c u r s o s h u m a n o s . D e s e n v o lv im e n to d e r e c u r s o s h u m a n o s e a p o io à p e q u e n a e m é d ia e m p r e s a t e c n o lo g ic a - m e n te d in â m ic a . N o tas : (1 ) M in isté rio d a E d u ca çã o (C ap e s , S N E S e S N E T ) e S e c re ta r ia de C iên c ia e T ec n o lo g ia (C N P q ), em b o ra não m en c io n ad o s, têm pape l fu n d am en ta l n a fo rm ação e desen v o lv im en to de re c u rso s h u m an o s e no d ese n v o lv im en to c ie n tíf ic o e tecn o ló g ico , ao s q u a is se a r tic u la a c a p ac itaç ão tecn o ló g ica d a in d ú str ia . (2 ) R eco m e n d a -se a m a io r ap licação de re cu rso s d o F N D C T à c ap ac itaç ão tecno lóg ica . (3 ) C o n s id e rad a c o m o ag ên c ia em v irtu d e d a o rig em p a ra fisca l d e seus re cu rso s . Governo investe firme, mas recursos agora passam pelas empresas. Tradicionalmente as agências de fomento do país destinavam seus recursos à pesquisa científi ca e tecnológica diretamente aos centros de pesquisa e às univer sidades. Com o lançamento, em meados do mês passado, do Pro grama de Apoio à Capacitação Tecnológica da Indústria, “ os re cursos do governo e dos bancos oficiais destinados às pesquisas tecnológicas serão preferencial mente repassados às empresas e não mais às universidades e cen tros de pesquisa. Agora, caberá à iniciativa privada contratar os serviços dos pesquisadores uni versitários” , explica o diretor de Indústria do Ministério da Econo mia, Luís Paulo Velloso Lucas, ao falar sobre o programa gover namental. O reitor da Unicamp, Carlos Vogt, defende “ a rápida aproxi mação de nossos centros de pes quisa acadêmica com os anseios de modernização do setor indus trial” . Sua opinião é que o plano de capacitação tecnológica do go verno não pode mais “ se limitar a ser apenas uma mera carta dê intenções como no passado, sob o risco de perder-se o bonde da atualidade tecnológica” . Para ele, “ o caminho mais curto para essa atualização passa necessariamente pelas universidades,especialmente aquelas que, como a Unicamp, sempre se colocaram na posição muito objetiva de transferir suas tecnologias” . Para isso, consoli dando um processo que já vinha se desenvolvendo na prática, aca ba de criar o Escritório de Trans ferência de Tecnologia. O reitor considera, no entanto, que nas relações universidade-empresa deve-se sempre preservar o espí rito e autonomia das partes. O novo programa de capacita ção tecnológica do governo fede ral é mais um instrumento da política de modernização tecno lógica brasileira de que lança mão o presidente Collor. Está articu lada, a nível das intenções, com as novas diretrizes da política in dustrial anunciada há dois meses. Aguarda-se a divulgação, até o fi nal de outubro, de novo docu mento, este sobre a competitividade industrial, con tendo os critérios e os mecanis mos para os incentivos fiscais às áreas prioritárias. A idéia de do tar o setor produtivo de maior competitividade e de investir na formação e na capacitação pes soal é aplaudida pela comunida de científica. Entretanto, como os mecanismos da política tecnoló gica não estão ainda muito claros e, no caso do financiamento de C&T, apontam para o redirecio- namento da clientela, “ num link direto com às empresas” , o mo mento é de expectativa, adverte o cientista político Jorge Tapia, professor do Departamento de Política Científica e Tecnológica do Instituto de Geociências da Unicamp. Estado X empresas O Estado brasileiro vinha pro movendo o desenvolvimento de C&T através de aportes financei ros diretos para as instituições de pesquisa e às universidades. Os programas governamentais, com raras exceções, incluíam as em presas no processo de moderni zação tecnológica do país. O fato é que menos de 5% dos proces sos desenvolvidos nas universida des chegaram ao mercado. As empresas, sem incentivos gover namentais, e na ausência de uma política explícita de cooperação mútua universidade-empresa, preferiram não investir em tecno logia para atender ao mercado brasileiro, pouco exigente. En quanto isso, algumas instituições de pesquisa vinham, praticamente sozinhas, buscando um interfa- ceamento com as indústrias. Com a internacionalização ca da vez maior da economia, onde a competitividade pressupõe a qualidade dos produtos comercia lizados, o Estado brasileiro deci diu abandonar sua postura protecionista e modificar os cami nhos a serem percorridos para a modernização tecnológica do país. Para isso reorientou sua po lítica no sentido de induzir a ini ciativa privada à tarefa e à responsabilidade de promover o desenvolvimento tecnológico. Os incentivos fiscais já anunciados para as empresas implicam a de dução de 8% do Imposto de Ren da. Além disso o governo pretende inverter a alocação de recursos de C&T, que passarão agora a 30% para a ciência e 70% à tecnologia. O presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ennio Candot- ti, vem manifestando sua preocu pação de a universidade vir a correr o risco de “ perder o pou co que tem” . O presidente da se ção paulista da Sociedade dos Usuários de Computadores (Su- cesu), Paulo Feldman, acha que dar os recursos às universidades via empresas “ é uma catástrofe” . A posição do diretor do Progra ma de Pós-Graduação em Enge nharia (Cooppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, pro fessor Luiz Bevilacqua, não é di ferente. “ Não posso acreditar que as universidades brasileiras pas sarão a ficar na dependência dasdemandas e decisões do setor em presarial para o desenvolvimen to de suas pesquisas” , afirmou em entrevista ao jornal Gazeta Mercantil de 14 de setembro. Riscos e vantagens Ao analisar o longo documen to da Comissão Especial da mi nistra da Economia e do secretário de Ciência e Tecnolo gia, que serviu de subsídio para as medidas provisórias do Pro grama de Apoio à Capacitação Tecnológica da Indústria, divul gado no dia 12 do mês passado, o cientista político Jorge Tapia disse que é necessária uma leitu ra crítica do programa. Isso não significa, no seu entender, negar a necessidade de uma mudança nas relações do Estado com o se tor produtivo e com as institui ções de pesquisa. “ E preciso modificar certos padrões de com portamento empresarial e do Es tado. O que é discutível é ignorar o que se conseguiu em algumas áreas e se deixar de aproveitar as experiências passadas, como é o caso da informática. Além disso, faltam estudos sobre as relações da universidade com o setor pro dutivo e também com as funda ções universitárias onde tecnologias stricto senso já são de senvolvidas, razão pela qual não dá para se fazer generalizações sobre a situação brasileira” , observa. Embora reconheça que a polí tica protecionista até então ado tada pelo Estado refletiu-se numa limitada capacitação interna do país, que não conseguiu se mo dernizar, Tapia acha que os argu mentos usados pelo governo nem sempre são incontestáveis quan do se refere à área de informáti ca. Na sua opinião, “ mais do que tirar o Estado da área de C&T é preciso redirecioná-lo de modo a produzir políticas coerentes e in tegradas, o que pressupõe uma in tervenção estatal, como ocorre no mundo inteiro” . Segundo o pes quisador da Unicamp, o Estado brasileiro,depois da tentativa frus trada do II PND (Plano Nacional de Desenvolvimento) no período Geisel, não formulou uma políti ca industrial para o país. Na dé cada de 80 a situação se agravou em função da crise fiscal, que foi muito grande, e da dívida exter na. Em decorrência ficou ainda mais difícil a capacidade do Es tado de formular uma política in dustrial. O modelo desenvolvi- mentista baseado na política de substituição de importações en trou em crise. Prova disso é que não está bem claro, apesar do dis curso governamental, como serão reconstruídas as relações gover- no/capital privado nacional e ca pital estrangeiro. A redefinição desses parceiros, segundo o pes quisador, não aparece em ne nhum documento oficial e a política industrial esboçada não sinaliza a forma como essas rela ções se darão, ó que pode indi car a intenção do governo de não mais desempenhar um papel ati vo na definição dessas relações. Além de se preocupar com o novo papel reservado às empré- sas no financiamento às pesqui sas tecnológicas a serem desenvolvidas nos institutos de pesquisa e universidades, Tapia considera importante redefinir o papel da universidade nas rela ções a serem construídas daqui para frente. Nesse sentido, con sidera fundamental que as univer sidades brasileiras, a exemplo do governo, formulem seus próprios projetos de interação com o setor produtivo para que possam con ciliar suas funções a partir de sua própria ótica, em lugar de adequá-las aos interesses da in dústria. “ Não se pode transfor mar as universidades num instituto tecnológico com outro nome, e deixar de preservar suas funções básicas de formação de pessoal e de desenvolvimento de pesquisas não necessariamente li gadas ao setor produtivo” , adver te. Idéia que há dois meses foi formulada pelo próprio reitor Carlos Vogt, quando afirmou que “ não se trata de industrializar a universidade nem de universita- lizar a indústria, mas sim de criar um círculo de valorização mútua que, no caso da universidade, re verte em benefício do ensino e do aperfeiçoamento acadêmico” . Outro aspecto não menos im portante levantado pelo pesquisa dor da Unicamp diz respeito à circulação do conhecimento pro duzido na academia. Segundo ele, a experiência tem demonstrado, em universidades como Oxford, na Inglaterra, ou Cambridge e Harvard, nos Estados Unidos, que ao financiarem pesquisas das universidades as empresas estão ao mesmo tempo privatizando o conhecimento. Os limites de cir culação do conhecimento produ zido nas universidades, até então considerados públicos, também devem ser pensados, observa. Lembra que o Brasil precisa ain da definir as prioridades a serem adotadas em seus programas de modernização tecnológica. “ Em que direção vamos caminhar?” Num país como o Brasil, qual quer política tecnológica não fo ge desse imperativo. Tem de ser acoplada a um programa alterna tivo, que contemple o encaminha mento das soluções dos problemas não resolvidos — típi cos do século 19 —, com aqueles emergentes no processo de tran sição como o século 21. Qualidade O pró-reitor de Extensão da Unicamp, professor César Fran cisco Ciacco, reconhece que fal ta uma divulgação dos mecanismos a serem utilizados pelo governo para a implantação do seu programa de capacitação tecnológica à indústria. Entretan to, de uma maneira geral, faz uma avaliação positiva das dire trizes anunciadas pelo governo para a modernização do parque industrial do país, bem como a in serção das universidades nesse programa. Segundo Ciacco, que é engenheiro de alimentos, até o momento nem as empresas nem as universidades tinham um refe rencial de qualidade que passa agora a determinar as relações de produção para dar conta da com petitividade colocada em primei ro plano pelo governo. Ciacco não acredita que as funções básicas da universidade sejam prejudicadas. “ A universi dade pode fazer bem as duas coi sas, pesquisa básica e aplicada, que não estão dissociadas. Não se trata de privilegiar uma em detri mento da outra, mas catalisar am bas. Como a Unicamp já tem um projeto de transferência de tecno logia para o setor produtivo, com modelos a serem testados, estou fazendo uma leitura positiva do plano de capacitação tecnológica que está acoplado à política indus trial e científica do governo.” O pró-reitor de Desenvolvi mento Universitário, o economis ta Carlos Eduardo do Nascimento Gonçalves, disse que, por en quanto, ainda não viu uma defi nição clara da política industrial. “ Não se sabe ainda quais são os mecanismos para a renovação tecnológica do país. Além disso é preciso saber primeiro como es tá a indústria nacional. Como se rá feita a renovação da indústria têxtil? Vai usar o tear eletrônico? A renovação verificada na déca da de 50, por exemplo, fez com que na indústria têxtil de Pernam buco o tamanho médio da indús tria, em número de operários que era superior a 2.000, ficasse re duzido hoje para 400. Uma polí tica industrial tem que estabelecer estratégias, prioridades. Precisa ter bem claros os setores que de vem ser modernizados para que não se verifique o desemprego. ” Lembrando que vivemos hoje num mundo em que os blocos de capital estão estruturados, e em que a disseminação de tecnologia bem como o avanço técnico obe decem à lógica da acumulação do capital, o professor Gonçalves prefere aguardar o desenrolar dos fatos para uma análise mais acu rada do programa de capacitação da indústria. Disse, no entanto, que o papel da universidade, nes se contexto, deve ser sempre de cautela e equilíbrio na relação com o setor produtivo. (G.C.) Págii A Universidade Estadual de Campinas acaba de ampliar em 40 vezes sua capaci dade de processamento de dados. Isso foi possível com a chegada, em meados do mês passado, de 113 novas unidades com putacionais, sendo 70 estações gráficas e 43 computadores que usam configuração de ponta. Os aparelhos foram adquiridos através de um empréstimo do Eximbank dos Estados Unidos, no valor de US$ 4,8 milhões (de um total de US$ 24 milhões destinados a outros setores da Univer sidade). Com a chegada do novo equipamentocomputacional, a Unicamp passa a ser a única instituição de ensino do Brasil e da América Latina a dispor de recursos infor matizados dessa natureza. As estações de trabalho serão interligadas às diferentes unidades da instituição, via fibra óptica, a partir do com putador central, o IBM-3090-150/VF. As estações As estações gráficas de trabalho que chegaram à Unicamp e vieram acondicio- nadas em 1.400 containners serão monta das em três etapas. Até o final deste mês estará concluída a instalação individual das estações, seguida pela rede principal, que atenderá aos setores de maior demanda: Instituto de Química, Instituto de Matemá tica, Estatística e Ciência da Computação, Faculdade de Engenharia Elétrica. Segun do o superintendente do Centro de Com unicamp Campinas, outubro de 1990 Chegam os computadores dos anos 90 Unicamp já tem o maior parque de estações de trabalho do Terceiro Mundo. O físico Fernando Paixão (ao centro) testa uma das estações. Com o novo equipamento, recursos múltiplos e processamento maior. putação, professor Hilton Silveira Pinto, a instalação de todo o conjunto pela Sco- pus, representante da Sun Microsystem Inc no Brasil, deverá estar concluída até o fi nal do ano. Para isso a Unicamp investirá Cr$ 18 milhões. As estações gráficas de trabalho pos suem, cada uma, 2,5 MFlops, contra 0,5 MFlops dos dois VAXs785 existentes na Universidade desde 1986. Elas processam de 12 a 16 milhões de instruções por se gundo (MIPS), contra 1,2 milhão de uma VAX785 ou 0,2 milhão de um IBM-PC. Cada unidade vem com uma configuração mínima de um monitor colorido, impres sora, capacidade de memória de 8 Mbytes de disco rígido e uma unidade de fita. Aplicações A linguagem gráfica informatizada per mite, com o auxílio de softwares dedica dos, o desenvolvimento de projetos de engenharia em reduzido espaço de tempo. Com elas, as tradicionais pranchetas pas sam a ser artefatos do passado. Além de ganharem tempo, com o auxílio do com putador, os projetistas podem simular si tuações de fadiga de material, de peso a ser suportado por estruturas, e conseguem maior confiabilidade nos cálculos, evitan do assim erros humanos, como o verifica do, dez anos atrás, no viaduto da Gameleira, em Belo Horizonte, erodido por problemas de estrutura do sôlo. As áreas de CAD (Desenhos ou proje tos assistidos por computador) CAE (En genharia assistida por computador) e Case (Engenharia de Software assistida por computador) serão amplamente beneficia das com a chegada das estações gráficas. Outra área que poderá utilizar os novos equipamentos é a do Instituto de Artes da Universidade. O grafismo e suas inúme ras modulações possíveis poderão ser re presentados através das estações, abrindo novas perspectivas para esses profis sionais. O Centro de Comunicação da Unicamp que vem usando imagens para o confron to de informações precisas, como no caso Mengele e agora com a ossada do cemité rio de Perus, em São Paulo, num trabalho conjunto com o Departamento de Mediei na Legal da Universidade, também pode rá refinar ainda mais suas técnicas de sobreposição de imagens. Os fenômenos físicos e químicos, por sua vez, também serão descritos com maior precisão e di nâmica numa tela de uma estação gráfica (G.C. e L.C.V.) Informática otimiza produção animal Softwares orientam criação de vacas, frangos e suínos. Alimentar bem vacas leiteiras ou frangos de corte não é a única fórmula para se obter uma produção satisfatória. A condição ambiental desses animais e de outros, em geral, é tão im portante quanto a nutrição. Preocupando-se com itens como o calor, ventilação, umidade relati va do ar do local de confinamento dos animais, a pesquisadora Irenilza de Alencar Nãas, da Fa culdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp, chegou a um programa de computa dor que sinaliza, a qualquer momento do dia, o que se deve fazer para manter a vida normal dos animais e alcançar deles o máximo rendi mento. “ Um animal , para produzir, com ex celência, tem que se sentir confortável” , define a pesquisadora, que já produziu e patenteou três versões do software — o “ pró-leite” ?o “ pró- -porco” e o “ pró-frango” — que podem ser usados por médios e grandes-produtores. Para chegar ao programa ideal, Irenilza afir ma que “ reuniu tudo o que existe a respeito do assunto” e colocou num modelo matemático. Não foi um trabalho que nasceu do dia para a noite. Engenheira civil com preocupações na área agrícola, a professora da Unicamp vem se dedicando ao conforto térmico na produção ani mal há 15 anos. Ê autora do único livro publi cado sobre o assunto no Brasil, Princípios de conforto térmico na Produção Animal (Edito ra ícone, 1989). Seus primeiros estudos na área foram desenvolvidos no Exterior, onde reali zou do mestrado ao pós-doutoramento. Princi palmente na Universidade da Flórida, com quem trocou suas experiências e ocupa função de professora-adjunta do Departamento de En genharia Agrícola. Programa que desenvolveu pode ser usado em qualquer computador de 16 bits e sua implantação, por exemplo, para um lote de 500 vacas de leite custa menos de 1 % do investimento total do produtor. No Brasil, segundo Irenilza, os métodos de criação de gado não diferem muito de região para região. As instalações usadas guardam em geral o mesmo modelo. Como conseqüência o animal sofre os rigores do inverno ou da seca escaldante sob as mesmas condições de abri go. O frio, uma preocupação geral dos produ tores, é até mais fácil de ser resolvido. “ Um animal de sangue quente” , exemplifica Irenil za, “ resiste a até 15°C em média abaixo da sua temperatura ideal e só resiste 5?C acima.” Não é à toa que se nota em galinheiros, por exemplo, galinha levantando as asas quando o tempo está muito quente, tentando se refrescar. Nesse caso, se as condições não forem modifi cadas, as aves podem chegar ao stress e mor rer. Com vacas de leite, nas mesmas condições, geralmente ocorre uma quebra considerável na produtividade. O software de Irenilza prevê, nesse caso, todas as gradações de incidência solar nas ins talações em uso. No Nordeste, uma solução preliminar é aumentar a altura dos barracões e dotá-los de cobertura adequada. Espaço ideal para ventilação, o tipo de chão, colocação de ventiladores, entre outros itens, fazem parte do planejamento das instalações. No programa de senvolvido por Irenilza, tomadas essas provi dências, o produtor pode acompanhar diariamente, através de terminal de vídeo, se as condições se mantêm estáveis e convenien tes. Caso contrário, o próprio programa dá a orientação sobre o que deve ser alterado. A preocupação com instalações tem uma ra zão tecnicamente justificável. Mesmo o animal que vem passando por constantes evoluções ge néticas em função de uma maior adaptabilida de, adquire novas deficiências que têm que ser supridas. “ Não adianta pensar em superprodu ção se os animais são colocados em local ina dequado” , alerta a pesquisadora, que prepara no momento outros programas, um deles vol tado para a nutrição animal. Conta para isso com o apoio de um veterinário, de um dese nhista, um analista de sistema e dois estudan tes em iniciação científica. Interesse Pelo menos dois convênios já foram assi nados entre a Unicamp e empresas de médio e grande porte, para o uso do software desen volvido por Irenilza. Outros contratos encontram-se em fase adiantada. Pitoresco foi o caso de um empresário interessado em criar um bom lote de vacas holandesas no Nordeste Irenilza: software a serviço da produção. e que, insatisfeito com os níveis de rendimen to dessa estirpe na região, foi ao Exterior ver como podia solucionar o seu problema. Após ter percorrido vários países, encontrou nos Es tados Unidos a pista para a solução do caso. Os próprios norte-americanos disseram-lhe que a solução estava no Brasil, isto é,na Unicamp, mais especificamente na Feagri. O empresárionão perdeu tempo, veio Campinas, conheceu o software e de imediato assinou um convênio para o acompanhamento sistemático de sua produção de vacas leiteiras. Irenilza ajudou-o a determinar as condições ideais de construção dos galpões a partir das variáveis da região. Em breve, quando as ho landesas estiverem ambientadas no Nordeste produzirão normalmente 25 litros de ordenha, como nos demais estados do país. (R.C.) 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CAMPOS SALES, 890 - 19? ANDAR - CONJ. 1901 FONE: 3 1 -2826 - BIP - 915 CENTRAL ( 0192 ) 4 2 -7333 Cam pinas, outubro dc 1990 inicamp Página 5 Voluntários testam medicamentos Gilberto: testes para comprovar se os remédios são eficientes. Experiência veio de Londres e dá certo na Medicina da Unicamp. Afetada por um problema de saúde, a pri meira atitude de uma pessoa é procurar um mé dico e tratar-se. Mas o que leva essa mesma pessoa, sem qualquer alteração no seu quadro clínico, a ingerir doses de algum medicamen to? No caso de voluntários convidados pelo De partamento de Farmacologia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, o mo tivo é duplo: participar de um produtivo pro grama de controle de qualidade dos produtos ingeridos e, por que não, ganhar para integrar o grupo de avaliação. O responsável por essa situação, pouco comum no Brasil, é o médico Gilberto de Nucci, que já testou dois medica mentos e no momento faz acompanhamento de mais um. Os resultados devem sair em breve e mostrar — ou não — se a eficiência alardea da pelas bulas tem sua razão de ser. O controle de qualidade de drogas através de estudos de biodisponibilidade foi iniciado por Gilberto ainda na Inglaterra, onde fez o seu dou torado e pós-doutoramento entre 1982 e 1989. De volta ao Brasil e à Unicamp, Gilberto, far- macologista formado pela USP de Ribeirão Pre to, tratou de continuar os trabalhos da pesquisa básica iniciados na Universidade de Londres e introduzira farmacologia clínica na Unicamp. O primeiro teste, no começo do ano, foi com um produto antiasmático, a teofilina. Bastou um pequeno anúncio nos corredores da Faculdade de Ciências Médicas para que pelo menos 50 pessoas se apresentassem como vo luntárias. Dessas, pelos menos 40% foram des cartadas após um exame médico completo e laboratorial. Havia a necessidade de voluntá rios sadios, sem qualquer problema de saúde. Para os 12 voluntários selecionados, Gilberto ministrou doses diferentes do medicamento uti lizando para isso dois finais de semana alter nados. O tratamento dispensado a essas pessoas, a maioria estudantes de medicina ou médicos residentes, é de hotel cinco estrelas. Um apar tamento no quarto andar do Hospital de Clíni cas com TV, vídeo, som, geladeira e atendimento especial. A única quebra de roti na é a retirada, a tempos determinados, de amostras de sangue do voluntário. Outra dife rença é que, ao “ fechar a conta” , o voluntário não paga nada — recebe, ao contrário, um pa gamento de 140 dólares e um seguro. “ Nos moldes em que está sendo feito, este controle de qualidade é incomum no Brasil” , afirma Gilberto. “ Os efeitos colaterais previs tos são mínimos, já que as doses utilizadas são terapêuticas.” Além disso, há observação cons tante da equipe de farmacologia clínica com o voluntário. O controle de qualidade da teofilina acon teceu por iniciativa própria do pesquisador da FCM, logo que concluiu doutorado em infla mação do pulmão. Após isso, houve o interes se da indústria farmacêutica que está financiando os demais trabalhos. “ O meu in teresse é iniciar a criação da disciplina de far macologia clínica no Brasil, controle de qualidade de medicamentos vendidos no país e uma fonte geradora de recursos externos pa ra fomento da pesquisa básica” , diz Gilberto. Para a indústria, e principalmente para quem se utiliza do seus medicamentos, vale a inves tigação de que o produto atinge concentrações suficientes na circulação. Um antiinflamatório e um fármaco usado no tratamento de giardíase e infecções por germes anaeróbicos — o metronidazol — são outros produtos em teste na FCM. Um outro medica mento, o haloperidol, usado em moléstias psi quiátricas, é o próximo objeto do controle de qualidade de Gilberto Nucci e sua equipe, for mada, ainda, pelos pesquisadores Simon Gal- ton, da Universidade de Londres, e Lionelo Leone, de Turim, além de doispós-graduandos, um profissional de informática e dois assesso res estrangeiros. A análise dos níveis sangüíneos do medica mento é feita através da técnica de cromatogra- fia líquida de alta pressão — comparação qualitativa e quantitativa com padrões dos pro dutos previstos na composição dos remédios. Para cada produto testado são estabelecidas con dições de tempo e uso e coleta das amostras para exame. O metranidazol em teste exige que o voluntário fique por um período de 36 horas — repetido durante quatro semanas — à dispo sição dos pesquisadores, para recebimento da droga e coleta do sangue. No caso, cada pa ciente recebe 320 dólares por sua ajuda à pes quisa, considerada básica e de fundamental importância para a medicina. Ética médica As pesquisas com medicamentos em seres humanos é regulada por lei na Comunidade Eu ropéia, nos Estados Unidos, Canadá e Japão. No Brasil, uma resolução da Comissão Nacio nal de Saúde — subordinada ao Ministério da Saúde — de 1988, dispõe sobre os procedimen tos a serem adotados. Na Unicamp há uma comissão de ética, li gada ao Hospital de Clínicas — e que se esten de à Faculdade de Ciências Médicas, por uma analogia de função. É presidida pelo málico Se bastião Altivo Nogueira de Souza, professor- -assistente do Departamento de Medicina Legal. Compõe-se de JO membros titulares e outros 10 suplentes. É essa comissão que, entre ou tras atribuições, determina se é ético ou não o trabalho de pesquisas com uso de drogas em pessoas a partir da apresentação de um deta lhado projeto pelo pesquisador. “ No caso das pesquisas do professor Gil berto” , justifica Sebastião, “ não existem ris cos. Eles já foram eliminados com a vendagem comercial do produto.” O presidente da comis são de ética do HC destaca a importância do voluntário conhecer previamente a extensão da experiência de que está participando. No pro grama da Unicamp, essas exigências vêm sen do plenamente atendidas. Mas, à parte o aspecto legal, ó que leva as pessoas a se inscreverem como voluntários? “ Ninguém vai negar que o aspecto financeiro influenciou” , destaca o es tudante de medicina Marcos Norberto Vetoraz- zi, submetido a um dos testes do professor Gilberto de Nucci. Outro fator alegado pelo vo luntário é o fato de sua namorada ser asmáti ca, daí seu interesse em participar do teste de um medicamento contra a asma. Marcos ficou, no mês de maio, dois finais de semana à dispo sição da pesquisa. Em compensação, ganhou 140 dólares. O médico residente do Hospital de Clínicas, Bruno Geloneze Neto, participou dos testes rea lizados em agostocom o metronidazol, justa mente por saber dos reais objetivos da pesquisa. “ Estou mais seguro por conhecer a droga. A toxicidade é mínima” , diz. Durante a adminis tração do medicamento não sentiu nenhum efei to colateral. Dos testes realizados até agora, Gilberto constatou pequenas dores de cabeça em dois voluntários apenas. (R.C.) PONTINHO MIIMIMEPCADO NO PO NTINHO VOCÊ ENCONTRA TODOS OS ITENS QUE UM SUPERMERCADO POSSUI , SEM TER QUE IR A CAMPINAS OU ENFR EN TA R ENORMES FILAS. Preços Baixos Segunda à sábado até as 19: 00 hs. Domingos e feriados até as 12: 00 hs. 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PONTO DE ENCON IE GENTE INTELIGEI TRO m RUA BENEDITO ALVES A R A N H A , nP 44 ( rua da Igreja ) FONE 3 9 -4 5 6 6 - BARÃO G ERALDO Página 6 — Unicamp Campinas, outubro de 1990 A idade média sai das trevas Historiadores querem resgatar dimensão real da época. Qual a contribuição da Idade Mé dia para a chamada ciência moderna? Identificada normalmente como “ a idade das trevas” , os historiadores da ciência querem hoje resgatar a con tribuição da época, considerando o seu contexto sóciopolítico e econô mico. A preocupação atual é, a rigor, dar à Idade Média uma dimensão mais próxima do real, sem o enalte- cimento da escolástica medieval mas também sem remetê-la à obscuridade. Esse foi, aliás, o propósito do fí sico e historiador da ciência Roberto Martins, também presidente da So ciedade Brasileira para a História da Ciência, ao promover, através do Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência da Unicamp (CLE), o 6? Colóquio de História da Ciência. O evento, que reuniu no Centro de Convenções da Universi dade, de 26 a 29 de agosto último, mais de 300 pessoas, entre pesquisa dores, estudiosos da área e estudan tes, foi dedicado a essa duradoura e intrigante polêmica sobre a existên cia ou não de vida inteligente na Ida de Média. O colóquio, intitulado “ As Ciên cias na Idade Média: Revoluções Científicas” , despertou um interes se inesperado. Acostumados com um público médio de 100 pessoas nos co- lóquios anteriores, os organizadores do evento escolheram o Mosteiro de São Bento, em Vinhedo, SP, para abrigar as discussões sobre esse pe ríodo da história. Entretanto, dado o alto número de inscritos — mais de 300 —, foram obrigados a transferir o encontro para o campus da Uni camp. Como o período é também pouco estudado, a simples realização do colóquio tendo como foco central a Idade Média possibilitou não ape nas a agregação dos pesquisadores já envolvidos com o assunto mas termi nou por estimular o surgimento de novos trabalhos. Pensamento medieval Sem desconhecer os limites natu rais existentes na Idade Média, e re conhecendo que a pouca investigação científica da época foi realizada qua se que exclusivamente por religiosos — padres, monges e frades — com fins também religiosos, como regis tra J.D. Bemal em seu livro, na 3? parte da coletânea “ Ciência na His tória” , intitulada “ A Ciência na Ida de da F é” , 1965/1969, os historiadores de ciência contemporâ neos querem desvendar as marchas e contramarchas no desenvolvimento da ciência no século XVII. Quando se fala na contribuição científica da Idade Média, os nomes mais lembrados são Newton e Lavoi- sier. Entretanto, de acordo com o professor Martins, esse longo perío do não pode ficar restrito a esses dois nomes, por mais significativos que sejam. “ E preciso conhecer e enten der que tipo de pensamento e o que se fazia na época” observa o físico. Segundo ele, uma das grandes difi culdades para se estudar a época re side no desconhecimento de idiomas como o latim, o árabe e o grego. Em primeiro lugar, os historiado res da ciência que investem por esse longo percurso histórico precisam aprender a ler os manuscritos da épo ca, que são escassos e de circulação restrita. Um complicador adicional é saber decifrar as próprias letras des ses manuscritos, que variavam de acordo com o país e o período. Nes se caso é necessário investir também em paleografia. Tudo isso para po der apenas penetrar no mundo medie val, passar a conhecê-lo e só então analisá-lo. Outro aspecto igualmente impor tante para uma correta compreensão do pensamento medieval, na opinião de Roberto Martins, é procurar en tender a cultura do período. “ Não se pode interpretar os processos da épo ca com as concepções atuais” , garan te. Segundo ele, é muito difícil entrar nos séculos XII e XIII, cujas diferen ças do século XVm — conhecido co mo “ século das luzes” ou "período cientificista” , onde o pensamento científico “ era visto como capaz de solucionar todas as inquietações do homem” (Régis de Moraes, 1981, in Ciência e Tecnologia —)são muito grandes. Apesar dessas dificuldades, que não são poucas, o interesse atual por rever o período medieval é grande. Nesse sentido, uma boa base filosó fica é imprescindível para a com preensão dos fenômenos da época, observa Martins. “ O cientista sem formação filosófica tem por hábito procurar no passado aquilo que é feito hoje em dia, quando o filósofo, ao es tudar Platão, por exemplo, tenta en tender o contexto intelectual da época porém não a partir dos conceitos mo dernos” . Foi justamente para suprir essa lacuna dos que se interessam e investem na história da ciência que o Centro de Lógica da Unicamp ini ciou este ano um curso de história da ciência, destinado a professores da área. A ciência na Idade Média “ Atanores, Cimitarras, Minare tes, Ciência Árabe como tecido do sa ber sob o céu medieval” (Ana Maria Alfonso Goldfarb-PUC/SP), “ O mé dico medieval e a peste negra no sé culo XIV” (Rachel Lewinsohn- Unicamp), “ Astronomia na Idade Média: teoria e prática” (Carlos Ar- thur Ribeiro do Nascimento- -PU C/SP), “ La verificacion científica según R. Grosseteste” (Ce- lina Ana Lértora Mendoza- -Conicet/Argentina), “ Definição, classificação e unidade da ciência em São Boaventura” (Luiz Alberto de Boni-UFRS) e “ The Long cientific revolution” (Allen G. Debus-Univ. de Chicago-USA), “ Astronomia me dieval indiana: o Brhatsamhitã” (Ro berto de Andrade Martins-Unicamp) e “ Pietre e colpe nella medicina te- desca dei XVII secolo” (Francesco Trevisani-Univ. Münsten, Alema nha), foram os temas abordados du Cauterização: um aspecto da medicina rudimentar na Idade Média. rante o colóquio. Além disso, 40 comunicações científicas apresenta das nos quatro dias do encontro per mitiram uma visão panorâmica da época. Desde o primeiro colóquio de His tória da Ciência promovido pela Uni camp em 1985, vários períodos significativos da evolução científica foram contemplados: “ O nascimen to da ciência moderna. Século XVII” (1985); “ 300 anos dos princípios de Newton” (1986); “ René Descartes” (1987); “ Ciência grega” (1988); “ A ciência no século das luzes. Século XVII” (1989); “ Idade Média” (1990). Para o próximo ano, os or ganizadores do encontro escolheram o tema: “ Século XIX-início do XX” . No Brasil não há tradição de cur sosda história da ciência, seus mo vimentos gerais e específicos. Na Unicamp, os currículos de graduação começam agora a contemplar disci plinas dessa natureza. A formação dos historiadores da ciência é vaga rosa, em face do volume de informa ções a serem absorvidas. “ Se não se conhece a história da ciência, não se compreendem bem os conceitos e a natureza da história. Já ao estudá-la, fica mais fácil verificar que em todos os períodos existiam dificuldades e conflitos na produção e na difusão do conhecimento. E possível perceber por que algumas teorias são abando nadas e outras não, bem como seu desdobramento para uma compreen são mais clara dos fenômenos con temporâneos ’ ’, explica Martins. (G.C.) Unicamp recebe acervo sobre história da ciência Há exatos 15 anos nasceu nos Estados Unidos um ambicioso pro jeto de resgate da história da ciên cia. Coordenados pelo editor Duane Roller, da Universidade de Oklahoma (EUA), historiadores da ciência de vários países passaram a contribuir para a formação de um precioso acervo que recupera os principais marcos da ciência, des de a antiguidade até o final do sé culo XIX. São 5.400 obras, num total de dois milhões de páginas que percor rem os diferentes períodos da his tória da ciência e sua contribuição para a humanidade. Anualmente, num trabalho que tem por objetivo cobrir todas as lacunas, até chegar aos dias atuais, cerca de 300 no vas obras vão se incorporando à co leção. Obras completas de Lavoisier, Darwin, Galileu, New ton e muitos outros podem ser con sultadas. Todo esse material está desde agosto último disponível para os pesquisadores brasileiros e estran geiros na biblioteca do Centro de Lógica Epistemologia e História da Ciência da Unicamp. O acervo, que é único na América Latina, está to do microfilmado. São cerca de 200 caixas com microfichas. Cada uma delas contém 100 páginas. Um ca tálogo de 200páginas, organizado por autores e obras, pode ser facil mente consultado. A aquisição da coleção ‘ ‘Mar cos da ciência ’' fo i possível graças à gestão da CLE junto à Fapesp (Fi nanciadora de Estudos e Projetos), órgão de apoio à investigação cien tífica, que pagou US$ 40 mil pelo acervo pedido pela Unicamp. Pa ra facilitar o manuseio do material pelos pesquisadores, o CLE já so licitou junto à Fundação Vitae uma verba para a compra de equipamen to que permitirá tirar cópias a par tir de todo tipo de microficha. Além disso, fo i também pedido à Finep recursos para a confecção de um Banco de Dados para inse rir o catálogo do acervo via Ren- pac. Com a informatização completa do sistema será possível aos pesquisadores brasileiros e de países vizinhos que não dispõem desse material fazer a consulta ne Roberto Martins: a importância da filosofia na história da ciência. cessária. Pedidos e informações so bre o acervo ou cópias do catálogo podem ser solicitadas ao CLE/Uni- camp, Campinas, SP, caixa postal 6133 ou pelo telefone (0192) 39-7334. (G.C.) 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Se não bastasse a previsível coloca ção abaixo das dos países do Primei ro Mundo e também dos socialistas, o Brasil situa-se ainda atrás de nações sul-americanas vizinhas como Argen tina e Colômbia, que ocupam, respec tivamente, as 32? e 45? posições. A avaliação da ONU pode ser verifica da a partir, por exemplo, da realida de social da região metropolitana de São Paulo, a área mais rica do país. Em recente estudo realizado pelo so ciólogo Juarez Brandão Lopes, pro fessor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Uni- camp, o quadro revelado acerca da condição social desses habitantes é tão desanimador quanto o levanta mento da ONU: significativa fatia da população paulista encerra a década de 80 tão pobre quanto viveu no pior momento dos últimos dez anos, o au ge da recessão de 1983. O quadro foi revelado num arti go acadêmico publicado em julho deste ano pela revista Perspectiva, da Fundação Sistema Estadual de Aná lise de Dados (Seade). Através des se estudo, intitulado “ Recessão, pobreza e família — a década pior do que perdida” , o professor Brandão Lopes que também é pesquisador do Núcleo de Estudos de Políticas Pú blicas (NEPP) da Unicamp, e a ana lista do Seade, Andréa Gottschalk revelam que “ para ponderável pro porção dessas famílias, a década sig nificou claro retrocesso” . As constantes alterações da conjuntura econômica do país afetam sensivel mente as camadas mais pobres da po pulação. Para Brandão Lopes, o fato mais surpreendente desse estudo re side na rapidez de como as perdas so ciais se acentuam . “ Toda a recuperação social registrada entre 83 e 86 perde-se no ano seguinte, com o fracasso do Plano Cruzado” , diz. Classificar a pobreza Para realizar o estudo, os pesqui sadores definiram uma linha de po breza a partir de dados da Pesquisa Nacional de Domicílios (PNAD), do IBGE e a da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), do convênio es tabelecido entre a Fundação Seade e o Dieese. Foi analisada a pobreza, se gundo o ciclo vital familiar, desde o seu início com a constituição da fa mília, nascimento e crescimento dos filhos, separações, mortes, até o m o-. mento em que os filhos adultos saem de casa para constituir nova família, deixando o casal, a viúva ou o viú vo, em idade avançada, novamente sozinho. A metodologia aplicada pelos pes quisadores difere substancial mente dos estudos realizados anteriormen- Juarez Brandão: “42% de te no gênero. A primeira inovação se concentra no ato de estudar a pobre za tomando como báse a família e não o indivíduo. “ O que se tem visto até então são estudos que partem da aná lise de indivíduos e não deles inseri dos no contexto familiar” , diz Brandão Lopes. Segundo o pesquisador, quando se faz uma análise do indivíduo enquan to agente economicamente ativo, desprezam-se as pessoas que não pro duzem, como as crianças, por exem plo. “ Não se pode esquecer que as pessoas que não geram receita são elementos que pesam significativa- mente na situação de pobreza. Ao es tudar a família tomando por base a renda de seus integrantes ou do res ponsável pelo sustento, é possível, por exemplo, verificar que dois in divíduos de famílias diferentes que têm salários idênticos não ocupam ne cessariamente a mesma posição quan to a condições de vida. É necessário que se leve em consideração o núme ro de dependentes de cada um. “ A posição acima ou abaixo da linha de pobreza não depende apenas do mon tante que o trabalhador recebe por mês, mas também das despesas que ele tem que arcar” , diz. Manter o poder de compra Outra inovação no trabalho foi de finir pobreza nos vários anos, segun do valores de igual poder de compra. A pesquisa tomou como ponto de par tida o salário mínimo de 1981 e o cor rigiu m onetariam ente para estabelecer as faixas da pobreza e da miséria nos outros anos. Se a pesqui sa tomasse por base apenas os valo res nominais dos salários mínimos em cada ano, sem levar em conta a dete rioração de seu poder de compra no tempo, osresultados seriam distorci dos. “ Esse contínuo ‘encolhimento’ do salário mínimo, viciaria a pesqui sa” , diz Brandão Lopes. O estudo parte do comportamen to global da pobreza nos anos 80. Du rante a recessão de 1981-83, a proporção de famílias pobres — encontram-se nessa situação as famí lias com renda per capita de até um salário mínimo de 1981 — aumentou de 35 para 43 %. O número de famí lias miseráveis — situação em que a renda familiar per capita é de meio salário mínimo — também cresceu: de 11 para 19%. Na recuperação eco- pobreza, 16% de miséria’’. nômica que se seguiu, sobre a qual se sobrepôs o boom do Plano Cruza do de 1986, a proporção de famílias pobres caiu de 43 para 26%. Queda acentuada também foi registrada en tre as famílias miseráveis: de 19 pa ra 14% em 1985, diminuindo ainda mais em 1986, chegando à marca de 7%. “ No período do Plano Cruzado as famílias tiveram acesso a uma sé rie de bens jamais imaginados. Po rém a melhoria mostrou-se algo fugaz” , diz Brandão Lopes. Com o fracasso do plano, a economia viveu um processo de deterioração, elevan do rapidamente o nível de pobreza para 42% e o de miséria para 16%. Conjuntura econômica A configuração familiar constitui- -se em condicionante básico para a definição de pobreza ou de miséria em qualquer momento da conjuntu ra econômica, seja de recuperação ou de profunda recessão. Considerando os baixos salários aplicados à maio ria da população, a renda familiar per capita depende do número de mem bros disponíveis para o trabalho e com acesso a esse mercado. Com ba se em dados da PNADs de 1981-87, Brandão Lopes e Gottschalk elabora ram gráficos onde traçam as proba bilidades de pobreza e de miséria em vários pontos do tempo, segundo os diversos tipos de família. Em todos os gráficos constata-se a mesma for ma genérica da curva que caracteri za ò ciclo familiar. A proporção de famílias pobres se dá em menor nível quando se trata de um casal jovem sem filho. No mo mento em que nascem as crianças, aumenta a proporção de pobres, atin gindo o ponto mais alto da curva. A medida que esse casal entra na meia idade e os filhos crescem, a propor ção de pobreza diminui. Este índice cai ainda mais quando o casal atinge idade avançada, tendo ainda em casa filhos produtivos. Entretanto, quan do os velhos perdem a companhia dos filhos e passam a viver de benefícios previdenciários e de pequenos bicos, a proporção de pobreza aumenta substancialmente, chegando próximo ao nível do casal jovem com filhos pequenos. O impacto desigual dos movimen tos da economia metropolitana sobre famílias em níveis distintos de pobre za foi a questão central do estudo. As A proporção de pobres é tão alta quanto no pior momento dos anos famílias miseráveis são mais susce tíveis às oscilações da economia dos que as famílias pobres” , diz Brandão Lopes. O impacto também é mais vi sível nas famílias chefiadas por ho mens. Isso ocorre porque são eles que estão diretamente ligados ao merca do de trabalho. O estudo mostra ainda que tanto as famílias pobres como as miserá veis, quando idosas, apresentam maior dificuldade de recuperação após momentos de instabilidade na economia. A elevação da proporção de famílias pobres nesses tipos de fa mília foi relativamente rápida na re cessão. Durante a recuperação econômica a proporção somente caiu com o advento do Plano Cruzado. Entretanto, nova alta no índice de po bres e miseráveis foi constatada após seu fracasso. Segundo Brandão Lo pes, o fato ocorre porque a maioria dessas famílias vive de aposentado rias e pensões — fontes de renda que permaneceram baixas mesmo nos pe ríodos de recuperação econômica. A inserção no mercado de traba lho também foi alvo do estudo. O fa to se dá de forma diferente confor me o nível das famílias. A proporção de crianças e adolescentes é maior en tre as famílias miseráveis do que nas famílias menos pobres. “ Não se de ve ignorar que as famílias miseráveis são muito mais numerosas e com composição sexo-idade muito mais desfavorável que as pobres, provo cando dessa forma o enraizamento da economia informal” , avalia o pes quisador. Quando a família é desprovida do chefe masculino, todos os demais membros, principalmente a mulher adulta, vêem-se na necessidade de in gresso no mercado de trabalho. Essa troca, segundo os pesquisadores, é desvantajosa porque pessoas mais ha bilitadas e com melhores chances sa lariais são substituídas por mulheres — alvo de discriminação — em ge ral menos preparadas, acentuando ainda mais a pobreza. O quadro, en tretanto, se torna diferente quando o objeto de estudo são as famílias não- -pobres. Nesse segmento, a falta de chefe masculino também obriga à in serção dos demais membros da famí lia no mercado de trabalho. A diferença está na posição ocupada pe los novos trabalhadores: as melhores condições econômicas dessas famílias abrem o leque de oportunidades. O objetivo do trabalho não foi analisar as causas macroeconômicas da pobreza ou formular receitas pa ra superar as crises. “ Essa é uma atri buição dos economistas e não dos sociólogos” , avisa Brandão Lopes. Por outro lado, ele acredita que an tes de se promover mudanças na con juntura econômica deve-se considerar as conseqüências sociais. De março para cá o país vive um período novo na economia e os resultados sociais não são animadores: o desemprego e a recessão marcam o novo governo. “ Mais uma vez não se considerou o reflexo social do plano.” Temeroso com o futuro, ele arrisca: “ conside rando que as populações pobres e as miseráveis vivem atualmente os pio res momentos da década, não vejo, a médio prazo, perspectivas de melho ra” . (A.C.) NGA TINTAS! Cobre qualquer o rçam ento i x ■■Tintas das m elhores m arcas ■A única loja que tro c a a t in ta que sobrou ix ■Tudo e m 3 p a g a m e n to s A V. STA. 1ZABEL, 570 - Barão Geraldo - FS: 3 9 -3 0 8 8 e 3 9 -4 1 1 4 AV. JOSÉ PAULINO , 1586 - Paulínia - FONE: 74 - 3155 A V. 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Página 8 Aids, menstruação e ejaculação preco ce não são assuntos totalmente estranhos para a garota L.T.A., 10 anos, estudante de uma escola da rede pública localizada num bairro de classe média baixa de Cam pinas. Apesar da pouca idade a menina sa be — embora com superficialidade — mais sobre sexo do que sua irmã, de 18 anos, e sua mãe de 40, no momento em que com pletava a primeira década de vida. Entre tanto, esse conhecimento não foi transmitido à garota de forma adequada através de pessoas habilitadas ao trabalho de orientação sexual. Alguns aspectos so bre esses assuntos foram assimilados pela garota basicamente por dois caminhos: pe las amiguinhas do bairro e pela televisão, que a detém com os olhos fixos diante da tela pelo menos seis horas do dia. Cons ciente desse fato, que pode ser extrapola do para milhões de crianças e adolescentes dos quatro cantos do país, o pesquisador Paulo Rennes Marçal Ribeiro acaba de pu blicar o livro Educação Sexual Além da In formação (E.P.U.), produto gerado a partir de sua tese de mestrado defendida na Faculdade de Educação (FE) da Uni- camp.A obra se propõe a alertar as pes soas acerca da necessidade de reflexão sobre a sexualidade. Em sua tese — denominada “ Uma con tribuição ao estudo da sexualidade huma na e da educação sexual” — Paulo faz o caminho inverso daquele adotado pela teo ria tradicional do ensino da sexualidade. Enquanto pessoas não habilitadas para o assunto e até mesmo alguns estudiosos abordam a questão da sexualidade a partir de aspectos biológicos ou morais, o pes quisador da Unicamp procura lidar inicial mente com fenômenos subjetivos como sensações de ansiedade e culpa. “ É preci- f f {JiSSãirX- Unicamp Campinas, outubro de 1990 Sexo, da informação à deformação Tese propõe nova abordagem do ensino da sexualidade. Paulo: por uma nova visão da sexualidade. so deixar a criança e o jovem à vontade para falar sobre sexo e então inserir as in formações inerentes à biologia e à fisiolo- gia” , sugere o autor. Régis de Morais, professor da Faculdade de Educação e orientador de Paulo no trabalho de mes trado, vai além. Para ele, a orientação se xual pode ser feita com a preocupação de recuperar a integralidade humana, quer no sentido biopsicossocial, quer no espiritual. O orientador acredita que o conceito de se xualidade sofre grave distorção quando sua abordagem envereda para o ensino da ana tomia, da fisiologia e da higiene da ge- nitália. Liberação sexual Para melhor compreender a questão da sexualidade hoje, Paulo faz uma análise histórica da educação sexual. Segundo ele, a sexualidade desempenhou diferentes pa péis em momentos específicos da história. Até o século 17, por exemplo, era bastan te discreta a censura ao ato sexual. Nos pe ríodos de guerra e de peste que RESTAURANTE CENTRAL AN EXO AO SUPERMERCADO S c l f S e r v i c e VOCÊ PAGA SÓ O QUE CONSOME [P O R PESO ] R U A B E N E D IT O A . A R A N H A , 16 0 - B A R à O G E R A L D O FONE: 39-2420 O ensino da provocavam grande mortandade de pes soas, não havia restrições para o aumento da taxa de natalidade. Houve uma época em que se valorizava a relação sexual an tes do casamento como forma de teste que apontava sobre a fertilidade da mulher. Se fosse estéril ela não teria a função social de gerar filhos. A repressão da sexualida de teve início a partir do século 17, com a ascensão do puritanismo na Inglaterra. Os puritanos não permitiam, entre outros comportamentos, o adultério. O momen to de repressão mais conhecido e também ocorrido na Inglaterra — o vitorianismo — aconteceu no século 19 e se espalhou por todo o mundo ocidental. Neste período de obscurantismo surgiram Sigmund Freud e Wilhelm Reich. Ambos procuraram ques tionar e combater essa represssão que é la tente até os dias de hoje. “ A forma hipócrita de como se apre senta a sociedade é reflexo da repressão se xual” , diz Paulo. Segundo ele, ao mesmo tempo em que as famílias reprimem a se xualidade em seus filhos, elas incorporam da sociedade alguns valores liberais . O jo vem, frente a essa ambivalência, fica de sorientado. Cenas de nudez na televisão provocam, não raro, reação contrária por parte da sociedade. Os pais retiram as crianças de frente do vídeo e clamam pela volta da censura. “ O procedimento deve ria ser inverso” , sugere. Ele afirma que os adultos deveríam fazer uso racional das cenas exibidas e provocar em casa discus sões acerca da importância da informação sexual. Vencer os tabus A esse ensinamento superficial sobre o assunto o pesquisador denomina de “ de sinformação sexual” . Os meios de comu nicação como a televisão e o cinema, na opinião do pesquisador, são canais que, embora visem a alertar para determinados aspectos, constituem-se em fontes que in variavelmente abordam somente um lado da sexualidade. As raízes subjetivas da questão são ignoradas. “ O filme pornográ fico, por exemplo, mostra apenas o sexo pelo sexo, não permitindo ao espectador as sensações de ansiedade ou angústia” , sexualidade deve começar na infância. diz. Esse fenômeno cria nas pessoas uma sé rie de barreiras que, se não for bem traba lhada na juventude, dificultará o repasse de informações sobre sexualidade quando elas atingirem a idade adulta. Para que se tornem fontes eficazes de informação, as pessoas devem inicialmente vencer os pró prios tabus. O repasse do conhecimento exige que o orientador tenha essas ques tões bem trabalhadas interiormente. Em seu livro, Paulo procura despertar a neces sidade e uma reflexão para que o profes sor aborde sem preconceitos e trate com naturalidade os temas sexuais. Ele parte do princípio de que, embora existam vários estudos sobre o assunto, não há, na práti ca, tentativas no sentido de habilitar os pro fissionais para promover esse trabalho. No último capítulo da obra, ele propõe subsídios para um curso de orientação se xual nas escolas, em que são levantados tó picos como “ orientação sexual de crianças” , “ mitos e crendices sexuais” e “ doenças sexuais transmissíveis” , sempre acompanhados da respectiva bibliografia. “ Não pretendo formar educadores sexuais, mas sim criar um espaço para que profis sionais aprimorem e debatam o assunto” , diz. A elaboração do curso surgiu a partir de contatos mantidos com 118 superviso res de ensino de Campinas e região. Atra vés de questionário, Paulo tabulou, entre outras respostas, informações sobre a im portância de um programa de orientação sexual nas escolas e sobre a existência de trabalhos em desenvolvimento a respeito. Resultado: 89% consideram importante a execução do programa nas escolas, 8,5% desprezaram a questão e 2,5% não respon deram. Sobre a existência de trabalhos nas escolas onde atuam, 68% dos superviso res responderam negativamente; 28% ace naram positivamente e 4% deixaram a questão em branco. “ O interesse demons trado pelos supervisores foi gratificante. Porém, para que se efetive um programa dessa natureza é necessário que as autori dades se conscientizem nesse sentido” , diz o pesquisador. (A.C.) - f j f h | Boütique MOI)A E ACESSÓRIOS FEMININOS. COLEÇÃO PRIMAVERA VERÃO VENDAS EM 3 PAGAMENTOS Aceitamos cheque ADUNICAM P BEM PERTO DE VOCÊ 3 T IL L I CENTER- Estrada da Rhodia esq. 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Como principal meio de en tretenimento da sociedade moderna, a televisão, embora não possa ser responsabilizada pela for mação de pessoas, certamente contribui para is so, se não moldando, pelo menos criando hábitos, modismos. Cientes dessa força, os au tores das telenovelas brasileiras vêm nos últi mos anos trabalhando em torno de gêneros denominados de ficção realista. E foi esse o caminho escolhido pela autora Glória Perez para a novela das 18 horas da Re-* de Globo dê Televisão que estreou em agosto passado — Barriga de Aluguel. A fertilização in vitro vem mobilizando a opinião pública mundial. No final dos anos 70 nasceu na In glaterra o primeiro bebê de proveta. Nos Esta dos Unidos, a briga pela posse de uma criança gerada num “ útero
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