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Lighting Design e Planos Diretores de Iluminação Pública: A Requalificação da Cidade por meio da Luz Artificial. Lighting Design and Máster Plans: The Cities Requalification by the Artificial Light Ladjane B. de C. Vanderlei; Mestranda; Universidade Federal de Pernambuco - UFPE; ladjanecarvalho@yahoo.com.br Laura Bezerra Martins, Do; Universitat Politècnica de Catalunya, UPC, Espanha; laurabm@folha.rec.br Luiz Onélio de Oliveira Vanderlei, M.Sc; Universidade Federal de Pernambuco – UFPE; luizvanderlei.oli@citeluz.com.br Resumo Este estudo objetiva contribuir para a discussão sobre o alcance da luz artificial na requalificação dos espaços públicos externos das cidades através da exploração dos desdobramentos da luz urbana sobre a percepção ambiental e o comportamento humano; admitindo-se os benefícios da iluminação pública na ausência da luz natural como instrumento de conforto, segurança e atratividade. Neste sentido, são elencadas certas potencialidades da luz e suas implicações em algumas das atuais práticas urbanas do lighting design. Palavras Chave: iluminação, design, qualidade. Abstract This study aims to contribute to the discussion on the scope of artificial light on the retraining of public areas outside of cities through the exploitation of urban light of developments on the perception environmental and human behaviour; admitting to the benefits of public lighting in the absence of natural light as an instrument of comfort, security and attractiveness. Therefore, are listed some potential of light and its implications in some of the current practice of urban lighting design. Keywords: illumination, design, quality Anais do 8º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design 8 a 11 de outubro de 2008 São Paulo – SP Brasil ISBN 978-85-60186-03-7 ©2008 Associação de Ensino e Pesquisa de Nível Superior de Design do Brasil (AEND|Brasil) Reprodução permitida, para uso sem fins comerciais, desde que seja citada a fonte. Este documento foi publicado exatamente como fornecido pelo(s) autor(es), o(s) qual(is) se responsabiliza(m) pela totalidade de seu conteúdo. 4293 Lighting Design e Planos Diretores de Iluminação Pública: A Requalificação da Cidade por meio da Luz Artificial. 8º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento Design Introdução Considerações O crescente fenômeno de urbanização da atualidade representa, em escala mundial, uma ameaça à sustentabilidade e à qualidade da vida em cidades e países. O ano de 2006 registra na história, em termos percentuais, a fixação de 50% dos 6,5 bilhões de habitantes do planeta em áreas urbanas (KIRSHBAUM, 2006). Isto posto, o alinhamento da iluminação pública às ações do planejamento urbano no combate à agudização da queda da qualidade de vida urbana seguido por inovações tecnológicas no campo da iluminação e pelo avanço das ferramentas computacionais e dos sistemas de informação impulsionaram o surgimento em 1989, do primeiro plano diretor de iluminação pública em Lyon na França (VANDERLEI, 2007). O papel estritamente utilitário da iluminação pública foi amplificado para uma especificação conceitual mais sistêmica capaz de potencializar a luz nos seus elementos psicológicos e emocionais. Autores como SZABO (2007), afirmam que a valorização do usuário como enfoque central da iluminação favoreceu a evolução da iluminação artificial e a consolidação do ligthing design como uma disciplina técnica de resultado estético associada à expressão artística e vinculada à percepção visual, ao destaque das principais características arquitetônicas do espaço e à sua vocação em promover o bem-estar. Neste sentido, a busca por alternativas e soluções mais humanas para a iluminação pública fez com que o entendimento da paisagem urbana assumisse novas percepções da relação entre luz x usuário no sentido de integrar a iluminação pública no tecido e na personalidade própria de cada lugar, transferindo-lhe uma significativa importância como instrumento de requalificação das cidades. Objetivo e Método O presente artigo, de caráter exploratório, deriva de uma pesquisa em andamento no Mestrado em Design (UFPE-Recife), cujo nascedouro foi marcado pela observação e detecção, a partir de uma extensa revisão bibliográfica específica a espaços públicos iluminados, de práticas projetuais carentes ainda em identificar e satisfazer a amplitude dos fatores humanos concernentes à iluminação artificial. Isto posto, uma rápida contextualização sobre a evolução da luz artificial e suas potencialidades de uso é realizada com o objetivo de identificar os desdobramentos da iluminação pública sobre a percepção ambiental e o comportamento humano de modo a contribuir para a criação (implementação) de cidades com atmosfera noturna mais amigável. Luz Urbana e Política Pública: Quadro Sinótico dos Planos Diretores de Iluminação Pública. Seja qual for a realidade do domínio político da IP (Iluminação Pública), a questão excede modos de gestão puramente técnicos. Ainda que a IP revele as possibilidades da atitude coletiva em face da alternância dia / noite, as escolhas de IP evidenciam decisões políticas. O desenvolvimento das ciências e tecnologia continua a influenciar a evolução e a estrutura das cidades. Nos anos 80, o planejamento urbano pautado em investimentos públicos 4294 Lighting Design e Planos Diretores de Iluminação Pública: A Requalificação da Cidade por meio da Luz Artificial. 8º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento Design cede maior espaço a formas “mercadófilas” mais próximas às tendências do mercado; longe de mimetizar o mercado, trata-se de estimular a iniciativa privada sob o enfoque da sustentabilidade econômica (SOUZA, 2002). No Brasil, após a constituição de 1988, a IP deixa de ser financiada pelo Fundo Nacional de Energia e passa a ser considerada um serviço público de interesse local dos municípios. Estes a partir de uma tendência chamada por CASTELO, L. & MASCIA, E. (2002) de “Place Marketing” (marketing do lugar) estabelecem uma acirrada disputa por novos investidores e passam a considerar o espaço urbano não apenas como um produto, mas como o suporte de desenvolvimento de um povo. Neste sentido, a IP, quando qualificada, potencializa a visibilidade das ações políticas urbanas e o desenvolvimento local. Através de PDIU (planos diretores de iluminação urbana) é possível estabelecer estratégias e criar uma antecipação visual capaz de vincular o desenvolvimento a escalas supralocais (internacional, nacional e regional). O sentido de “desenvolvimento urbano” assume uma denotação qualitativa fundamentada em processos cuja positividade e conveniência incorporam um ângulo social mais amplo, comprometido a considerações ecológicas. Potencialidades da Luz Urbana Iluminação e Visão Noturna O controle da situação do ambiente urbano noturno depende do nível de visibilidade disponível, sendo função da iluminação pública, a criação de pontos focais, a eliminação de pontos escuros ou de ofuscamento, a desobstrução de visuais e a identificação à distância segura de obstáculos e faixas de pedestres (VANDERLEI e MARTINS, 2007). Questões relacionadas ao conforto lumínico são igualmente representativas ao ser humano na tarefa do olhar. A qualidade da fonte luminosa e a origem da luminosidade devem ser orientadas para a nitidez dos objetos sem a fadiga dos órgãos oculares. Insegurança, desconforto e irritação no uso dos espaços públicos à noite podem ser causados por ausência de iluminação, excesso ou ofuscamento respectivamente. A Iluminação Pública como Elemento de Interação Social A iluminação do recinto urbano em conseqüência da expansão dos transportes motorizados pós década de 60, tem sido essencialmente a iluminação de ruas e avenidas das cidades, a denominação inglesa “street lighting” reflete bem o tema (MASCARÓ, 2006). A incompreensão do papel social desempenhado pelascalçadas impulsionou um crescimento do sistema de iluminação disforme e pouco refinado, com problemas de poluição luminosa e sombras indesejáveis sobre as calçadas (MASCARÓ, 2006). Através da iluminação pública é possível reforçar a diversidade noturna dos espaços públicos, em particular aqueles vivenciados no sistema viário enquanto áreas de preservação histórica, convivência, locomoção e reunião e promover a interação das pessoas com o meio em que vivem através de práticas sustentáveis como a caminhada e o ciclismo. 4295 Lighting Design e Planos Diretores de Iluminação Pública: A Requalificação da Cidade por meio da Luz Artificial. 8º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento Design Ambiências Simbólicas e Psicológicas Promovidas pela Luz De acordo com MIGUEZ (2005) na iluminação da arquitetura e dos espaços urbanos, as características simbólicas da luz podem ser amplamente exploradas. A simples escolha de lâmpadas com uma determinada tonalidade e cor pode facilmente gerar associação às noções de calor e de frio pela maioria das pessoas assim como a falta de luz pode também ser considerada como um fator de insegurança onde o medo do cidadão se confunde com o medo da noite e o clarão da luz simboliza o refúgio, sendo muitas vezes identificada com o divino. Destaca-se ainda, a associação metafórica da luz ao lúdico, à alegria e à surpresa através da participação de instituições ou redescoberta de ritos. A Iluminação como Linguagem Visual A imagem da cidade é a resultante de um processo de causa e efeito entre observador e elementos observados. O planejamento de como o “objeto” se tornará visível irá envolver propósitos distintos e estará intrinsecamente associado à atuação da luz no ambiente como suporte da percepção visual. Por ser o principal canal de informação do ser humano, a luz será responsável pela visibilidade da materialidade; é o que tornará a comunicação possível e também melhor ou pior (LIMA, 2005). É através da cor da luz, de sua intensidade e de sua localização, que a iluminação atua como norteadora do fluxo no agenciamento dos ambientes urbanos; na percepção da organização e hierarquização das vias (VANDERLEI & MARTINS, 2007). Através de signos informativos (sinalética), a iluminação pública auxilia na compreensão do conteúdo da imagem urbana. Entretanto, a invasão não criteriosa da luz na cidade noturna pode resultar em “ruído visual” com superposições de um novo significado de espaços e estruturas que dificultam a leitura da cidade. A Iluminação pública e a Paisagem Urbana Noturna A peremptória associação entre o desenho dos postes e luminárias e o desenho da luz artificial exige que os sistemas de iluminação pública, nas suas diversas situações, estejam integralmente harmonizados à vegetação, à arquitetura e ao equipamento urbano nos períodos diurno e noturno das cidades. Não obstante, a contigüidade de equipamentos em conflito com usos vizinhos ocasiona situações de igual desequilíbrio da paisagem noturna. (KIRSHBAUM, 2006). Iniciativas e Experiências de Práticas Urbanas de Lighting Design e Planos Diretores de Iluminação Pública (PDIP). Paris - Reservadas as especificidades arquitetônicas e urbanísticas, uma das características de PDIP de Paris foi a implementação do uso da luz de modo a contemplar indistintamente centro e periferia; a construção de um patrimônio emocional e simbólico da cidade por meio da luz é extensivo a todos e visa eliminar barreiras lumínicas de ordem 4296 Lighting Design e Planos Diretores de Iluminação Pública: A Requalificação da Cidade por meio da Luz Artificial. 8º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento Design política. Destacando-se ainda pela constante preocupação em implementar soluções comprometidas com a sustentabilidade ambiental (lançamento em 2007 do Plan Climat). Fig. 01. Paris à noite: preocupação ambiental e integração urbana no uso da luz. Fonte: WIKIPEDIA (2007). Londres – Consciente da importância da iluminação pública como elemento facilitador da mobilidade noturna, o projeto de caminhabilidade de Londres foi concebido com o objetivo de potencializar por meio da luz as principais rotas caminháveis interligadas a transportes públicos. No sentido de prolongar referências diurnas, aspectos referentes à segurança, atratividade, identidade e orientação nortearam a conceituação projetual. Paralelamente, foi realizada uma extensa pesquisa quanto à demanda e fluxo da caminhada em conjunto com o levantamento dos índices de criminalidade existentes para a estruturação técnica das soluções adotadas. Fig. 02. Riverside Square, Londres: proposta de iluminação pública para promoção de rotas caminháveis. Lyon – O desenvolvimento do pioneiro PDIP de Lyon mantém o perfil inovador característico à sua origem em 1989; através de uma contínua revisão e atualização à dinâmica urbana e tecnológica, a cidade hoje detém mais de 200 localidades potencialmente exploradas por ações do lighting design. O tratamento da luz urbana como prioridade política garante a evolução (segunda geração) do PDIP de forma integrada e contribui para a ampla sustentabilidade da cidade através de ações significativas sobre o comércio, lazer e turismo. 4297 Lighting Design e Planos Diretores de Iluminação Pública: A Requalificação da Cidade por meio da Luz Artificial. 8º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento Design Fig. 03. Lyon: ambiências noturnas promovidas pelo lighting design. Fonte: WIKIPEDIA, 2007 À Guisa de Uma Conclusão Desafios e Perspectivas da Luz Urbana A busca por alternativas e soluções à agudização da queda da qualidade de vida urbana associada, entre outros fatores, ao incremento do crescimento e complexidade das grandes cidades, faz com que a iluminação pública seja pensada além da demanda de projetos isolados e sim, como um instrumento de reafirmação da identidade da cidade e reflexo do modo de viver, pensar e sentir da população. Sem perder de vista o fato de que dificilmente uma ação é capaz de abranger a amplitude dos fatores presentes na complexa cena urbana, a atual conjuntura das cidades exige do Lighting Design conhecimento técnico e sensibilidade para alcançar o efeito plástico da arquitetura da luz. Trata-se afinal de realçar o sentido de lugar por meio de um “plano visual” em escala urbana. Neste sentido, o desenvolvimento de planos diretores de iluminação pública em parceria com práticas urbanas de lighting design tem, entre outros objetivos, a criação (implementação) de um ambiente urbano noturno que não seja simplesmente bem organizado e funcional, mas também poético e simbólico; com uma visão mais antropocêntrica e menos tecnocêntrica onde o sentido de tecnologia e eficientização não sejam exógenos ao ser humano no amplo atendimento de suas necessidades. As questões suscitadas merecem um aprofundamento muito maior do que a discussão proposta neste artigo. A recente evolução das técnicas de projeto para iluminação urbana e dos equipamentos de iluminação publica denotam muitos hiatos e dissonâncias nas normatizações, nas práticas, nos entendimentos, nas prioridades e na própria formação intelectual dos profissionais. Principalmente no que tange à recuperação de espaços públicos degradados por intermédio da fomentação de ambiências noturnas e pelos desdobramentos que a iluminação pública possa ter em relação à sustentabilidade; quer seja pela promoção do uso de transportes não motorizados, quer seja pelo desafio em desenvolver o uso de tecnologias alternativas . 4298 Lighting Design e Planos Diretores de Iluminação Pública: A Requalificação da Cidade por meio da Luz Artificial. 8º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento Design Referências CASTELO, L. & MASCIA, E. (2002). - "Place-marketing e o projeto do lugar". In V. Rio de Janeiro. KIRSCHBAUM, Carlos. – Impactos Ambientales y Sociales del Alumbrado Publico– Universidad Nacional de Tucumán, Argentina. LAVADINHO, S. & PINI, G. - Development Duráble, Mobilité Douce et Sante en Milieu Urbain Université de la Mobilité (GENEVE), 2005. LIMA et al, Maria L. C. de. Evolução de homicídios por área geográfica em Pernambuco entre 1980 e 1998. – São Paulo: Rev. Saúde Pública vol. no. 4, 2002. MASCARÓ, L. (org). Iluminação do Espaço Urbano. Porto Alegre: Masquatro Editora, 2006. MIGUEZ, José Canosa. A iluminação da Arquitetura e Seu Impacto Sobre a Cidade – City Beautification. Rio de Janeiro: Lume Arquitetura, 2005. SOUZA, Marcelo Lopes de. Mudar a cidade – Uma Introdução Crítica ao Planejamento e à Gestão Urbanos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. SZABO, Ladislao. Iluminação contemporânea – Efeitos Luminosos para O Design Arquitetônico. Rio de Janeiro: Lume Arquitetura, 2007. VANDERLEI, Ladjane C. MARTINS, Laura. VANDERLEI, L. Onélio. Iluminação Urbana e Caminhabilidade Noturna: uma discussão sobre o Papel da Luz Artificial como Elemento de Acessibilidade ao Espaço Público. Lumière, no 115 – novembro 2007. pg. 46-62, SP. 4299
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