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Seminário MA770 Poliedros, sólidos platônicos e identidade de Euler Leonardo Schultz Araujo RA:159828 Definição 1. Um poliedro é um sólido de três dimensões que possui faces planas que são poĺıgonos. Definição 2. Um poliedro é convexo em relação a uma de suas faces se estiver totalmente contido no semi-espaço determinado pelo plano que contem esta face. Dizemos que o poliedro é convexo se ele for convexo em relação a cada uma de sua faces. Definição 3. Um poliedro convexo é dito regular se suas faces forem poĺıgonos congruentes e seus vértices forem congruentes. Definição 4. Um grafo é um par (V,A), onde V = {v1, v2, . . . , vn} é um conjunto de vértices e A = {(vi, vj) | vi, vj ∈ V } é um conjunto de arestas. Definição 5. Dizemos que G é um grafo simples, se G não possui arestas da forma (v, v), onde v é um vértice de G. Definição 6. Se G é um grafo e v é um vértice de G, definimos o grau de v como sendo o número de arestas de G que chegam em v. Denotaremos o grau de v por gr(v). Dizemos que G é regular se todos os vértices de G tiverem o mesmo grau. Definição 7. Um caminho em um grafo é uma sequência de arestas da forma {vi1, vi2}, {vi2, vi3}, {vi3, vi4}, . . . , {vi(n−1), vin}. Chamamos de ciclo um caminho fechado. Definição 8. Um grafo é dito conexo se para todo par de vértices distintos existe um caminho que os liga. Definição 9. Uma árvore é um grafo conexo que não possui ciclos. Definição 10. G é um grafo planar se existir um mergulho deste grafo no plano tal que suas arestas não se interceptam a menos dos vértices. Um mergulho que satisfaz esta propriedade é chamado representação plana de G. Definição 11. Se G é um grafo plano, então sua representação plana particiona o plano em regiões. Chamaremos estas regiões de faces. Para todo grafo teremos uma face exterior determinada por sua representação plana, que chamaremos de face do infinito. Se f é uma face, definimos o grau de f como sendo o número de arestas que fazem fronteira com f. Denotaremos o grau de f por gr(f). Dizemos que G é face-regular se todas as faces de G tiverem o mesmo grau. Agora a relação entre poliedros e grafos fica evidente, uma vez que podemos ver os vértices e as arestas de um poliedro como vértices e as arestas de um grafo. Dado um poliedro convexo podemos mergulha-lo na esfera, e depois mergulha-lo no plano, utilizando a projeção esferográfica. Devida a convexidade, obteremos assim uma representação plana deste poliedro. Por isso, se estudarmos propriedades dos grafos planares estaremos assim, estudando uma classe maior de objetos, onde os resultados relacionados a poliedros convexos seguem como casos particulares. Provaremos agora a identidade de Euler para grafos planares. E em seguida, demonstraremos que existem apenas cinco poliedros regulares. A partir daqui, dado um grafo G, denotaremos por V , A e F seu número de vértices, arestas e faces, respectivamente. Também denotaremos por Vk a quantidade de vértices de G com grau k e por Fk a quantidade de faces de G com grau k. 1 Figura 1: Representação planar de um poliedro convexo. Lema 1. Se G é uma árvore, então A = V − 1. Demonstração. Perceba que como G é uma árvore, dados dois vértices distintos existe um único caminho que os liga. Sendo assim, se G possui dois vértices teremos apenas uma aresta. E portanto, temos a igualdade. Suponha que o resultado seja válido para toda árvore com A = n− 1. Note então que se G for uma árvore com A = n, retirando um vértice e a aresta que o liga ao restante dos vértices, obteremos um novo grafo G′ que satisfaz nossa hipótese de indução. Logo, (A− 1) = (V − 1)− 1⇒ A = V − 1. � Teorema 1 (Identidade de Euler). Se G é um grafo planar conexo, então V −A+F = 2. Demonstração. Faremos por indução no número de arestas. Suponha A = 0. Como G é conexo segue que V = 1 e F = 1. Donde, neste caso, obtemos a igualdade. Suponha então que o resultado seja válido para todo grafo planar conexo com A < n. Seja G um grafo com n arestas. Separaremos em dois casos: Caso 1: G é uma árvore. Se G é uma árvore segue que F = 1. Utilizando o lema anterior, temos V − A+ F = V − (V − 1) + 1 = 2 Caso 2: G não é uma árvore. Como G é conexo, segue então que G deve possuir ao menos um ciclo. Seja e uma aresta deste ciclo. Consideraremos agora o grafo G− e. Perceba que, ao retirar a aresta e, obtemos um novo grafo que possui o mesmo número de vértices, porém uma aresta e uma face a menos. Aplicando a hipótese de indução, V − (A− 1) + (F − 1) = 2⇒ V − A+ F = 2 � Lema 2. Se G é um grafo simples, então ∑ k∈N kVk = 2A. 2 Demonstração. Basta notar que, dada uma aresta (vi, vj), ao contarmos o grau de vi e de vj estaremos contando duas vezes a mesma aresta (vi, vj). Uma vez que G é simples, e portanto cada aresta está associada a dois vértices destintos, ao percorrermos todos os vértices teremos somado duas vezes cada aresta. � Lema 3. Se G é um grafo planar conexo, então ∑ k∈N kFk ≤ 2A Demonstração. Note que as faces e as arestas têm ”quase”a mesma relação que as arestas e os vértices no sentido que da mesma forma que uma aresta está associada a dois vértices, temos que uma aresta toca duas ou uma face. � Lema 4. Se G é um grafo planar conexo com V > 3, então A < 3V − 6. Demonstração. Perceba que, dada uma face f de G, necessariamente gr(f) ≥ 3 (para se convencer basta analisar os casos onde G é e não é uma árvore). Sendo assim, 2A ≥ ∑ k∈N kFk ≥ ∑ k∈N 3Fk = 3 ∑ k∈N Fk = 3F. Pela identidade de Euler, temos que F = A− V + 2, portanto 2A ≥ 3F = 3(A− V + 2) = 3A− 3V + 6⇒ A ≤ 3V − 6. � Teorema 2. Se G é um grafo planar conexo, então existe pelo menos um vértice v de G tal que gr(v) ≤ 5. Demonstração. Se V < 6 não há o que argumentar. Suponha então V ≥ 6. Aplicando o lema anterior, obtemos que:∑ k∈N kVk = 2A ≤ 2(3V − 6) = 6V − 12 Suponha por absurdo que G tenha apenas vértices com grau maior do cinco. Consequen- temente, ∑ k∈N kVk ≥ ∑ k∈N 6Vk = 6V. O que nos dá que, 6V − 12 ≥ 6V. Donde temos um absurdo. � Teorema 3. Seja P um poliedro convexo. Defina ρ(P ) = min{gr(f) | f face de P}. Então 3 ≤ ρ ≤ 5. Demonstração. Olharemos para G o grafo planar de P . Como P é um poliedro convexo, segue que G é conexo. Além disso, como toda aresta de P toca duas faces, teremos que vale a igualdade para G ∑ k∈N kFk = 2A. 3 A desigualdade 3 ≥ ρ segue do fato de que P não pode ter uma face determinada por menos que três arestas. Suponha por absurdo que toda face tenha grau maior do que 5. Disso segue que : 2A = ∑ k∈N kFk ≥ ∑ k∈N 6Fk = 6 ∑ k∈N Fk = 6F ⇒ A 3 ≥ F. Observe que por P ser um poliedro, para todo vértice v de G teremos gr(v) ≥ 3. Portanto, 2A = ∑ k∈N kVk ≥ ∑ k∈N 3Vk = 3 ∑ k∈N Vk = 3V ⇒ 2A 3 ≥ V. Utilizando a identidade de Euler, A = V + F − 2 ≤ 2A 3 + A 3 − 2 = A− 2. O que é um absurdo. � Teorema 4. Existem apenas cinco poliedros regulares. Demonstração. Seja P um poliedro regular e G sua representação planar. Observe que da definição de poliedro regular, temos que G é regular e face-regular. Seja d e k o grau dos vértices es das faces, respectivamente. Dos teoremas (2) e (3) temos que 3 ≤ d ≤ 5 e 3 ≤ k ≤ 5. Note então que, 2A = ∑ k∈N dVk = dV, 2A = ∑ k∈N kFk = kF. Utilizando mais uma vez a identidade de Euler, temos: 8 = 4V − 4A+ 4F = 4V − 2A+ 4F − 2A = V (4− d) + F (4− k). Levando em conta que V e F são positivos, temos apenas cinco opções para d e k: Caso 1: d = 3 e k = 3⇒ V = 4 F = 4 (Tetraedro) Caso 2: d = 3 e k = 4⇒ V = 8 F = 6 (Cubo) Caso 3: d = 3 e k = 5⇒ V = 20 F = 12 (Dodecaedro) Caso 4: d = 4 e k = 3⇒ V = 6 F = 8 (Octaedro) Caso 5: d = 5 e k = 3⇒ V = 12 F = 20 (Icosaedro) � 4 Figura 2: Representação plana dos poliedros regulares. 5
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