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Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP Faculdade de Tecnologia – FT Lean Startup: Uma aplicação ao projeto neoTime Touch Fernanda Yukari Yagima Limeira 2012 Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP Faculdade de Tecnologia – FT Lean Startup: Uma aplicação ao projeto neoTime Touch Autora: Fernanda Yukari Yagima Orientador: Prof. Dr. Marcos Augusto Francisco Borges Banca examinadora: Prof. Marcos Augusto Francisco Borges Profª. Ana Estela Antunes da Silva Profª. Regina Lucia de Oliveira Moraes Trabalho de Graduação Interdisciplinar apresentado na Faculdade de Tecnologia – FT como requisito parcial para a conclusão do curso de Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas. Limeira 2012 i A Deus e, principalmente, a minha família. ii Agradecimentos Agradeço primeiramente a Deus, que me deu a vida, proporcionando todas as experiências que me fazem crescer a cada dia que passa. Especialmente aos meus pais, Maria Aparecida Kobayashi e Otávio Takeshi Yagima, por todo o carinho e dedicação. Por estarem sempre ao meu lado, me apoiando em todas as decisões e que desde cedo me deram a oportunidade de estudar nas melhores escolas para poder entrar na melhor Universidade. Ao meu namorado, André Reis Castiglioni, que em todos os momentos está ao meu lado e me dá a coragem e força de seguir em frente, mesmo com tantos obstáculos que a vida coloca no caminho. Aos professores Marcos Augusto Francisco Borges, Ana Estela Antunes da Silva e Regina Lucia de Oliveira Moraes por participarem da banca e pelas maravilhosas aulas de empreendedorismo e engenharia de software. Aulas que me mostraram quão amplas e interessantes essas áreas podem ser. A todos os professores do curso de Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, pela transmissão do conhecimento e da prática nesta área. iii The action of men are the best interpreters of their thoughts. (As ações dos homens são as melhores intérpretes de seus pensamentos.) John Locke iv RESUMO Este trabalho foi desenvolvido com objetivo de incentivar o empreendedorismo entre os jovens e a aplicação dos conceitos de Lean Startup para crescimento das pequenas empresas. Para isto, serão definidos os conceitos e princípios dessa abordagem. A partir dessa definição, será desenvolvido um plano de aplicação real dessa metodologia na empresa ClasTech Digital Multimídia, na qual a autora do trabalho é sócia-proprietária. O plano consiste em utilizar os princípios básicos do Lean Startup na criação, apresentação e desenvolvimento de um novo projeto de mídia digital que será implantada pela ClasTech e por uma empresa parceira, utilizando tablets como displays e o neoTime Touch, sistema de gerenciamento de conteúdo para mídias digitais desenvolvido pela ClasTech. ABSTRACT This paper was developed with the aim of encouraging the entrepreneurship among young people and the application of the concepts of Lean Startup to small business growth. Concepts and principles of this approach will be defined. From this definition, it will be developed a real application plan of this methodology in ClasTech Digital Multimídia company, in which the author is a shareholder owning. The plan consists to use the basic principles of Lean Startup in the creation, presentation and development of a new digital signage project that will be implemented by ClasTech and a partner company using tablets as displays and the neoTime Touch, content management system for digital signage developed by ClasTech. v SUMÁRIO Agradecimentos ......................................................................................................... ii RESUMO .................................................................................................................. iv ABSTRACT ............................................................................................................... iv SUMÁRIO .................................................................................................................. v ÍNDICE ...................................................................................................................... vi LISTA DE FIGURAS ................................................................................................ vii LISTA DE TABELAS ................................................................................................ viii LISTA DE ABREVIATURAS ...................................................................................... ix 1. Introdução ........................................................................................................... 1 2. Contexto de aplicação ......................................................................................... 3 3. Embasamento teórico .......................................................................................... 7 4. Desenvolvimento: O Projeto neoTime Touch ..................................................... 17 5. Conclusão ......................................................................................................... 29 6. Referências bibliográficas .................................................................................. 31 vi ÍNDICE Agradecimentos ......................................................................................................... ii RESUMO .................................................................................................................. iv ABSTRACT ............................................................................................................... iv SUMÁRIO .................................................................................................................. v ÍNDICE ...................................................................................................................... vi LISTA DE FIGURAS ................................................................................................ vii LISTA DE TABELAS ................................................................................................ viii LISTA DE ABREVIATURAS ...................................................................................... ix 1. Introdução ........................................................................................................... 1 1.1. Motivação...................................................................................................... 1 1.2. Objetivos ....................................................................................................... 2 1.3. Metodologia .................................................................................................. 2 2. Contexto de aplicação ......................................................................................... 3 3. Embasamento teórico .......................................................................................... 7 3.1 Empresas startups ........................................................................................ 7 3.2 O Lean Manufacturing ................................................................................... 9 3.3 O Lean Startup ............................................................................................ 12 3.4 Metodologia ágil: Kanban ............................................................................ 15 4. Desenvolvimento: O Projeto neoTime Touch .....................................................17 4.1 Aplicação do Kanban .................................................................................. 19 4.2 Aplicação do Lean Startup .......................................................................... 21 5. Conclusão ......................................................................................................... 29 6. Referências bibliográficas .................................................................................. 31 vii LISTA DE FIGURAS Figura 1: Exemplo de quadro de monitoramento online ............................................. 5 Figura 2: Processos de criação de uma empresa startup ........................................... 8 Figura 3: Princípio Construir-Medir-Aprender do Lean Startup. ................................ 14 Figura 4: Representação do quadro kanban da ClasTech. ...................................... 20 Figura 5: Reprodução do relatório de cliques por propaganda no primeiro mês de testes ....................................................................................................................... 23 Figura 6: Reprodução do relatório da pesquisa de aceitação no primeiro mês de testes. ...................................................................................................................... 24 Figura 7: Tela touch adquirida para testes - Visão traseira ...................................... 26 Figura 8: Tela touch adquirida para testes - Visão frontal ........................................ 27 viii LISTA DE TABELAS Tabela 1: Exemplos de desperdícios identificados por Taiichi Ohno ........................ 10 Tabela 2: Testes realizados nos tablets com os vídeos existentes no acervo ClasTech .................................................................................................................. 18 ix LISTA DE ABREVIATURAS CMS – Content Management System (Sistema de Gerenciamento de Conteúdo) JIT – Just In Time 1 1. Introdução 1.1. Motivação Novas ideias surgem todos os dias e de mentes de pessoas cada vez mais jovens. Cada vez mais cedo, os jovens estão sendo estimulados a empreender, transformando suas ideias em negócios. O número de empresas startups vem aumentando. Muitas vezes, as pessoas imaginam e criam um produto que elas acreditam ser bom, mas durante o desenvolvimento do mesmo, cometem o erro de não apresentá-lo ao público alvo, mesmo que seja apenas um protótipo. O Startup Genome Report é um relatório com o resultado de uma análise aprofundada de startups do Vale do Silício ao longo de três meses (Exame PME, 2011). Nessa pesquisa foi mostrado que a falta de contato com o cliente em potencial e a urgência em criar o produto final são os principais motivos de levar uma nova empresa ao fracasso. Os clientes não se importam com a tecnologia utilizada no desenvolvimento ou como o produto foi criado, eles apenas buscam uma solução para seus problemas. É necessária uma forma organizada de transformar ideias inovadoras em empreendimentos de sucesso. Existem diversas metodologias para ajudar na administração desses negócios e uma delas é o Lean Startup. A ClasTech Digital Multimídia, empresa da autora deste trabalho, atua na área de Digital Signage (em português, Sinalização Digital), tendo como produto principal o sistema de gerenciamento de conteúdo denominado neoTime. Em parceria com uma startup de mídia digital, a ClasTech pretende iniciar um projeto batizado neoTime Touch. A ideia consiste na instalação de displays, neste caso tablets, em táxis da cidade de Campinas, com intuito de veiculação propagandas e informações de forma interativa. Nesse formato de mídia, o passageiro poderá interagir com a propaganda, tocando na tela do equipamento para visualizar promoções, notícias ou quaisquer informações que o anunciante desejar inserir. O desafio do projeto é aplicar uma forma de administração que seja adequada a uma startup e fazer com que o projeto neoTime Touch seja atrativo aos futuros anunciantes da mídia. 2 1.2. Objetivos O objetivo do trabalho, além de um levantamento da teoria sobre Lean Startup, é de aplicar os conhecimentos obtidos com a metodologia em uma situação real. Tendo a ClasTech, a empresa parceira e o projeto neoTime Touch como estudo de caso, os princípios do Lean Startup serão aplicados no processo de desenvolvimento do projeto neoTime Touch, como forma de administrar esse novo negócio de mídia digital. O foco é utilizar o ciclo principal da metodologia Lean Startup: Construir-Medir-Aprender, como forma de medir o aprendizado e o progresso do projeto. Também será utilizada a metodologia ágil Kanban como ferramenta de comunicação entre os participantes do projeto. 1.3. Metodologia O trabalho está estruturado da seguinte forma: o capítulo 2 apresenta todo o embasamento teórico do trabalho, tais como as definições de empresa startup, uma breve história do surgimento do Lean Manufacturing e, posteriormente, do Lean Startup e seus princípios, a metodologia Kanban e a apresentação da empresa ClasTech Digital Multimídia, seus produtos e serviços. O capitulo 3 apresenta o desenvolvimento do projeto e os princípios do Kanban e do Lean Startup aplicados a algumas situações reais da empresa. O capítulo 4 apresenta os resultados e as conclusões. 3 2. Contexto de aplicação Este capítulo apresenta o contexto de aplicação deste trabalho, explicando o que é a ClasTech Digital Multimídia, seus produtos e serviços. A ClasTech Digital Multimídia é uma empresa que presta serviços de mídia indoor digital, com foco em cardápios digitais, televisões corporativas e som ambiente. A mídia indoor digital, ou Digital Signage (em português, Sinalização Digital), é um meio de comunicação que utiliza displays (televisores, monitores, projetores, painéis de LED etc.) com intuito de transmitir conteúdo publicitário, informativos, anúncios e/ou quaisquer materiais que possam ser transmitidos digitalmente (fotos, vídeos, textos etc.). Sendo digital, o Digital Signage oferece muito mais flexibilidade de conteúdo, personalização e programação, transformando a mídia em um produto inovador, dinâmico e atrativo. A principal característica da mídia indoor digital é o dinamismo e interatividade com o público-alvo, pois a cada período de tempo uma nova informação é exposta a ele, atraindo a atenção e a presença do mesmo. Uma infraestrutura de Digital Signage geralmente é composta por um banco de dados, um servidor central para a distribuição de conteúdo, uma estrutura de rede de dados e um equipamento local para exibição do conteúdo. Dentro dessa estrutura, também é necessário existir um CMS (Content Management System), Sistema de Gerenciamento de Conteúdo, para organização, gerenciamento e publicação do conteúdo em questão. A ClasTech objetiva proporcionar este tipo de mídia indoor digital de forma personalizada para cada cliente, fazendo com que ela seja única para cada um deles. O sistema foi desenvolvido para que o cliente possa estruturar sua mídia, de acordo com a cultura de sua empresa, tornando-a uma solução para as suas necessidades. O sistema para gerenciamento do conteúdo da mídia indoor digital da ClasTech Digital Multimídia é chamado neoTime e foi desenvolvido pela própria empresa, ou seja, é um software próprio. O neoTime se encaixa no conceito de CMS e trabalha justamente com a organização e transmissão do conteúdo do Digital Signage. 4 Existem três vertentes do sistema, cada um deles voltado a um tipo específico de negócio. Existem outros módulos, também desenvolvidos pela própria empresa, que agregam mais valor ao sistema neoTime. Todos os sistemas desenvolvidos pela ClasTech possuem layouts personalizados com os padrões de cada cliente, tornando-seuma mídia única para cada um. Os produtos da empresa são: 1. neoTime Cardápio Digital: tem como foco a divulgação dos principais itens do cardápio do cliente através de diversos televisores. Este tipo de mídia é indicado para estabelecimentos em locais fechados, como restaurantes fast food; 2. neoTime Televisão Corporativa: tem como objetivo a divulgação interna de informações sobre a empresa do cliente. Geralmente são televisões situadas em salas de espera, showrooms e/ou quaisquer locais onde possa haver divulgação interna. Em geral são divulgados vídeos institucionais, notícias e informações sobre a própria empresa, anúncios e comunicados para funcionários; 3. neoTime Som Ambiente: é a vertente do sistema que mescla a televisão corporativa e/ou o cardápio digital com uma programação musical. Os clipes musicais não param de tocar. Entre a programação musical podem ser inseridos conteúdos informativos, propagandas etc. Esses conteúdos não interrompem as músicas que estão tocando ao fundo, a não ser que possuam som próprio. Os serviços da ClasTech são módulos que agregam valor ao produto desenvolvido. A principio existia apenas o monitoramento online do sistema, módulo desenvolvido para que o cliente possa ter acesso às informações e relatórios de seu estabelecimento. Para acessar o monitoramento, cada cliente recebe um usuário e uma senha para acesso ao site da ClasTech Digital Multimídia. Sendo um sistema modulado, cada um tem acesso apenas ao seu próprio estabelecimento. Nesta área, ele terá acesso às informações que estão sendo divulgadas em seus televisores. Se desejar também poderá ver informações sobre as condições do computador, tais como espaço livre no disco rígido, condições da memória e resolução dos televisores, conforme ilustra a Figura 1. 5 Figura 1: Exemplo de quadro de monitoramento online Fonte: ClasTech Digital Multimídia Área restrita.Disponível em: http://www.clastech.com.br/. A Figura 1 mostra um exemplo do quadro de monitoramento. A imagem antes do nome do estabelecimento indica em que estado se encontra o computador (item 1), podendo variar entre verde, vermelho e amarelo. Logo abaixo, são informados a data e a hora da última informação recebida do computador (item 2). Os logs são enviados a cada três minutos. Se o computador fica mais do que esse tempo sem mandar informações, ele entra no estado amarelo de alerta. Se continuar sem enviar informações, ele passa ao estado vermelho. Nesse mesmo intervalo de tempo são tirados prints da tela para visualização do conteúdo (item 3). Também são mostrados os vídeos que estão sendo exibidos em cada televisor. Neste exemplo são quatro televisores, por isso são exibidos quatro nomes de vídeos (item 4). Para facilitar o monitoramento do computador, é mostrada a situação do computador (item 5). Por fim, existe a área de abertura de chamados (item 6), onde o cliente pode escrever suas dúvidas, sugestões, pedidos, críticas etc. As mensagens chegam diretamente ao e-mail de suporte da ClasTech. O monitoramento online foi o primeiro diferencial que a empresa pôde oferecer ao cliente como uma facilidade no controle das informações da mídia indoor do estabelecimento. Foi um módulo muito bem aceito e é constantemente utilizado. Além do monitoramento online, existem mais dois módulos: 1. Alteração de grade de programação online 6 2. Alteração de tabela de preços online Em qualquer um dos sistemas neoTime, o cliente pode alterar a grade de programação e, caso exista, a tabela de preços do estabelecimento. 7 3. Embasamento teórico Este capítulo apresenta a fundamentação teórica do trabalho. Na primeira seção são apresentadas as definições de empresas startups e alguns exemplos de sucesso. A seguir, há os conceitos e definições da metodologia Kanban e do Lean Startup, também a descrição de seus princípios. Por fim, é apresentada a empresa ClasTech Digital Multimídia, em que os conceitos dessas abordagens serão aplicados. 3.1 Empresas startups De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE, 2011), uma empresa startup é uma “organização de pequeno porte em fase de constituição, praticando quaisquer tipos de pesquisas ou desenvolvimento de ideias inovadoras”. São empresas com baixos custos de manutenção e que possibilitem a geração de lucros. No entanto, deve-se ter em mente que uma startup não é feita apenas de uma ideia. Além de uma ideia viável, a empresa também deve apresentar potenciais de sucesso. Para isso, é importante que haja um modelo de negócios mostrando como a empresa pretende administrar o negócio, a forma como vê o potencial do mesmo e a prospecção financeira. Um grande exemplo de startup atualmente é o Instagram. Essa empresa é baseada em um aplicativo que surgiu há aproximadamente dois anos e hoje foi comprada pelo Facebook, por cerca de U$ 1 bilhão. O aplicativo foi criado por Kevin Systrom e pelo brasileiro Mike Krieger, inspirados pela paixão por fotografias. O processo de abertura de uma empresa startup consiste basicamente de cinco etapas, podendo ser divididas entre teoria e prática. Na parte teórica, estão a iniciativa da ideia e a identificação das oportunidades. Na parte prática estão a descoberta e a validação de clientes. Agregando tudo, encontra-se o plano de negócios, elemento importantíssimo para apresentar a viabilidade e a sustentabilidade do negócio (AgilCoop, 2012). A Figura 2 mostra os processos necessários para abertura de uma startup. 8 Figura 2: Processos de criação de uma empresa startup Fonte: IME-USP Não basta apenas ter uma ideia. Ela tem que ser inovadora e viável. No geral, ideias são formadas pelas mudanças na sociedade, tais como mudanças na tecnologia e no mercado. Identificar o tamanho da oportunidade é um pouco mais complexo, pois envolve a análise de mercado, concorrências, necessidades dos clientes e do mercado e o potencial de crescimento que a startup carrega. O Modelo de Negócios consiste na elaboração de um projeto que englobará e documentará todos os processos da abertura de uma startup. Analisará riscos, viabilidade, sustentabilidade, aspectos jurídicos, operacionais, financeiros e de mercado, plano de vendas, equipamentos, investimento, retorno, fluxo de caixa, formação de preços de custo e de venda etc. (AgilCoop, 2012). Enfim, consistirá no maior detalhamento possível do empreendimento. O objetivo final desde modelo é apresentar a viabilidade do negócio juntamente com o potencial de geração de lucros. A Descoberta de Clientes consiste na localização dos clientes para o produto oferecido e a importância do empreendimento para eles. Com essa identificação, é possível avaliar se vale a pena desenvolver ou não este negócio. A fase de contato com o cliente é de extrema importância, pois transforma hipóteses em fatos. O objetivo da Validação de Clientes é ajustar o produto ao mercado. Será o momento de fazer as primeiras vendas e verificar a aceitação dos clientes. Podem ocorrer mudanças na direção da empresa e ajustes do publico alvo. Com isso é 9 necessário retornar ao modelo de negócios e à descoberta de clientes, até que o produto esteja adequado ao mercado. Por fim, é o início da fase de geração de lucros e a formalização oficial da empresa. Segundo Eric Ries (Ries E. , 2012), são dois problemas principais que fazem as startups fracassarem: I. Suposições: sendo uma startup uma instituição formada pela incerteza, não há um bom plano, boa estratégia ou pesquisa completa de mercado. Empreendedores costumam tirar suas próprias conclusões, supondo que suas ideias estão corretas e que há mercado para o produto que pretende desenvolver. Planejamentos e previsões só conseguem ser precisos se forem baseados em um ambientebem estruturado e em um histórico operacional longo e estável (Ries E. , 2012). Uma startup ainda não possui isso. A administração tradicional nem sempre funciona para elas. II. “Simplesmente faça”: vendo a administração tradicional falhar, os empreendedores costumam utilizar o método Just Do It (do inglês, “simplesmente faça”). “Se a gestão é o problema, o caos é a resposta” (Ries E. , 2012). As startups são estimulantes e dinâmicas, o oposto da gestão que é considerada desinteressante, sendo deixada em segundo plano. Este é o segundo ponto que faz muitas startups não darem certo. 3.2 O Lean Manufacturing Para entender como o Lean Manufacturing surgiu, é necessário conhecer o sistema de produção em larga escala, ou Fordismo, idealizado por Henry Ford em 1913 (Blank, 2006). A vontade de Ford em produzir automóveis baratos que pudessem ser acessíveis a qualquer um era tão grande que o levou a criar este modelo de produção. A principal característica do fordismo era o aperfeiçoamento da linha de montagem. O processo exigiu um grande investimento em maquinaria e 10 infraestrutura, mas permitiu que Ford produzisse mais automóveis com um menor número de trabalhadores. Comparado a outros modelos de produção, as despesas foram reduzidas e o capital aumentado. Seu ápice foi após a II Guerra Mundial, na década de 50 (Blank, 2006). Visando estudar essa forma de produção para ser aplicada ao mercado japonês, Kiichiro Toyoda foi aos Estados Unidos pela primeira vez, em 1929. A segunda visita foi realizada por Eiji Toyoda, sobrinho de Kiichiro, em 1950 (Blank, 2006). Este último estudou detalhadamente o sistema Ford de produção e concluiu que poderia melhorá-lo. De volta ao Japão, ele e o engenheiro de produção Taiichi Ohno constataram que este tipo de sistema não funcionaria no país, pois a economia japonesa no pós-guerra estava devastada, tornando impossível o investimento em tecnologias ocidentais mais novas. Nesse momento haviam muitas montadoras espalhadas pelo mundo, dispostas a ir contra as exportações japonesas para poderem defender seus próprios mercados. Foi a partir dessas dificuldades que surgiu o Lean Manufacturing. A partir da década de 50, Taiichi Ohno, já como executivo da Toyota, iniciou a criação e implantação do Sistema Toyota de Produção, posteriormente denominado Lean Production ou Lean Manufacturing (em português, “Produção Enxuta”). O objetivo do Lean é identificar e eliminar desperdícios, reduzindo custos e maximizando a qualidade e a velocidade de entrega do produto aos clientes (Werkema, 2006). A tabela mostra os sete tipos de desperdícios identificados por Ohno e alguns exemplos desses desperdícios. Tabela 1: Exemplos de desperdícios identificados por Taiichi Ohno Desperdício Exemplos Defeitos Erros em faturas, pedidos, cotações de compra de materiais Excesso de produção Processamento e/ou impressão de documentos antes do necessário, aquisição antecipada de materiais 11 Estoques Material de escritório, catálogo de vendas, relatórios Processamento desnecessário Relatórios não necessários ou em excesso, cópias adicionais de documentos, reentrada de dados Movimento desnecessário Caminhadas até o fax, copiadora, almoxarifado Transporte desnecessário Anexos de e-mails em excesso, aprovações múltiplas de um documento Espera Sistema fora do ar ou lento, ramal ocupado, demora na aprovação de um documento Fonte: WERKEMA, Maria C. C. Lean Seis Sigma – Introdução às Ferramentas do Lean Manufacturing. Através do Lean Manufacturing é possível melhorar a flexibilidade, qualidade, segurança, ergonomia, motivação dos funcionários e a capacidade de inovação e, por outro lado, diminuir custos, necessidade de espaço e exigências de trabalho. De acordo com Womack (2004), o pensamento enxuto (Lean Thinking) é a melhor forma de combater desperdícios. Esse pensamento é uma forma de especificar valor a um produto, estudar a melhor sequência de ações para criar esse valor, realizar essas ações sem interrupção quando solicitadas e do modo mais eficaz possível. É uma estratégia de negócios para aumentar a satisfação dos clientes utilizando os recursos da melhor forma possível (Lean Institute Brasil). O Lean Intitute Brasil especifica os cinco princípios do Lean Thinking: I. Valor: o valor é definido pelo cliente. A necessidade que ele possui gera valor a determinado produto e/ou serviço. Cabe à empresa determinar essa necessidade e procurar satisfazê-la, cobrando um preço específico para poder viabilizar o negócio e aumentar os lucros através da melhoria contínua dos processos; II. Fluxo de valor: consiste em dividir a produção e classificar seus processos em três tipos: os que geram valor, os que não geram valor (mas são 12 importantes para a manutenção dos processos e da qualidade) e os que não geram valor e devem ser eliminados; III. Fluxo contínuo: eliminando os processos que não agregam valor, restam os que são importantes, devendo-se dar fluidez a eles. É o fluxo que exige a mudança de mentalidade da empresa e, consequentemente, a mais difícil de ser aplicada. Tem objetivo de reduzir o tempo na concepção de produtos e processamento de pedidos e de diminuir os estoques; IV. Produção puxada: é a inversão do fluxo da produção. Ao invés de “empurrar” o produto ao cliente através de promoções e/ou descontos, a empresa passa a “puxar” a produção, dando valor ao produto e eliminando estoques; V. Perfeição: é o objetivo constante de todos os envolvidos no fluxo de valor. É a busca pela perfeição que deve nortear os esforços da empresa. É importante que cada um tenha conhecimento do processo da mentalidade enxuta como um todo, para que o valor do produto possa ser sempre melhorado. 3.3 O Lean Startup O Lean Startup é uma abordagem científica criada por Eric Ries (Ries E. , 2012) que orienta como iniciar e administrar uma empresa startup. Sua metodologia não diz respeito apenas à diminuição dos principais desperdícios; também diz respeito aos processos aplicados na produção de um produto (Ries E. , 2012). Como o próprio Ries define, uma empresa startup é “uma organização humana desenhada para criar um novo produto ou serviço sob condições de extrema incerteza”. Foi a partir do fracasso de sua primeira empresa que o autor resolveu estudar formas de empreender e administrar um negócio. Estudou o Lean Manufacturing e constatou que aplicando as ideias da produção enxuta – com algumas modificações – aos seus negócios eles começaram a funcionar. Esse pensamento evoluiu até o Lean Startup, ou Startup Enxuta: a “aplicação do pensamento enxuto ao processo de inovação” (Ries E. , 2012) 13 De acordo com Eric Ries (2012) o Lean Startup possui cinco princípios: 1. Empreendedores estão em todo lugar: como já citado, Ries considera que uma startup é uma instituição humana e que empreendedores podem ser encontrados em qualquer lugar. A abordagem da startup enxuta pode ser aplicada a qualquer porte de empresa, seja pequena ou grande; 2. Empreendedorismo é administração: sendo uma instituição, uma startup precisa de uma gestão específica para sua situação de incerteza; 3. Aprendizado validado: consiste em experimentar e validar cientificamente cada elemento da visão do empreendedor. Não basta criar uma empresa para ganhar dinheiro ou desenvolver produtos. O negócio também deve ser sustentável; 4. Contabilidade para inovação: é um novo tipo de contabilidade para startups. Deve-se contabilizar o progresso, definir marcos e como priorizar o trabalho. É uma abordagem que permite ao empreendedor observar e analisar se os esforços para o desenvolvimento do produto estão trazendo resultados reais; 5. Construir-Medir-Aprender: é a atividade principal de uma startup. Esse processo gera feedbackpor parte do cliente e essas informações são de extrema importância para uma startup. A Figura 3 exibe como é o ciclo de feedback deste princípio. As atividades contidas na figura não tem grande importância em si. O importante é minimizar o tempo total de produção através deste ciclo. 14 Figura 3: Princípio Construir-Medir-Aprender do Lean Startup. Fonte: RIES, Eric A Startup Enxuta – Como os empreendedores atuais utilizam a inovação contínua para criar empresas extremamente bem-sucedidas. 1ª edição. Editora Leya. 2012. pág. 69. Uma vez que a ideia de criar determinado produto é clara, deve-se iniciar a fase “Construir”, trabalhando o mais rápido possível na construção do MVP (Minumum Viable Product – Produto Mínimo Viável). O MVP é o protótipo de um produto e que permite uma volta completa no ciclo Construir-Medir-Aprender com o mínimo esforço e o menor tempo de desenvolvimento possível (Ries E. , 2012). O objetivo não é criar um produto perfeito, mas sim um produto cujo impacto possa ser medido. Com um protótipo pronto, ingressa-se na fase “Medir”. Nessa fase, entra o princípio da Contabilidade para Inovação, onde é determinado se os esforços no desenvolvimento do produto levarão a um progresso real ou não. Com os dados da contabilidade em mãos, entra-se no último estágio, o “Aprender”, onde há o pivô. Ao final do ciclo “Contruir-Medir-Aprender”, é esse pivô que ajuda a determinar se o 15 empreendedor deve alterar ou perseverar na estratégia inicial. Se alguma das fases apresentou um resultado contrário ao que era esperado, poderá ser o momento de repensar a estratégia, caso contrário, poderá perseverar-se na ideia e melhorá-la. 3.4 Metodologia ágil: Kanban As metodologias ágeis voltadas ao desenvolvimento de sistemas vieram a tona apenas no final de 1990, como uma nova estratégia para organizar as fases de um projeto de software (Ries E. , 2012). Um cliente não sabe ao certo o que deseja de um software até que tenha suas funcionalidades em mãos para serem testadas em uma situação real. Esse fator leva a diversas alterações e manutenções de código, tornando o desenvolvimento do sistema um processo que muda constantemente. Visando acompanhar a constante mudança, as metodologias ágeis surgiram com intuito de serem rápidas e adaptativas. Isso faz com que todos os integrantes do projeto se comuniquem melhor e tenham um contato maior com o cliente e sua real necessidade. O cliente consegue acompanhar todas as fases do projeto, mantendo-se informado de tudo o que a equipe de desenvolvimento está realizando. Trabalhar em ciclos curtos faz com que as mudanças de requisitos possam ser desenvolvidas de forma organizada, minimizando o tempo de desenvolvimento e maximizando o valor do produto. O termo “Kanban” vem do japonês e significa “cartão/etiqueta”. É uma ferramenta extremamente visual que utiliza cartões e/ou sinalizadores que controlam os fluxos de produção de um produto. O sistema Kanban foi criado no Japão em 1953, pela Toyota (Pace, 2003) e está intimamente ligada com a produção Just in Time (JIT) que visa, basicamente, a redução dos estoques e agilização da produção. No desenvolvimento de software o método kanban visa mudar a organização e o processamento das informações, não possuindo necessariamente papéis específicos definidos como os aplicados na produção em série criada pela Toyota. Sendo uma ferramenta visual, o kanban consiste em um quadro com três colunas principais: 16 A fazer Em progresso Concluído Cada coluna pode ser subdividida conforme as necessidades do projeto (por exemplo: implementação, configuração do sistema, testes, montagem de hardware etc.). As tarefas são definidas e escritas em um cartão e posicionadas conforme sua situação, podendo ser deslocadas entre as três colunas. Para facilitar a visualização das prioridades das tarefas, o Kanban também trabalha com cores. Seu objetivo é destacar a prioridade de cada tarefa. Por exemplo, a cor vermelha pode ser utilizada para indicar tarefas atrasadas e/ou com prioridade máxima, enquanto a cor verde pode indicar que a tarefa já está concluída. Para que o kanban seja bem sucedido, é necessário que todos os membros da equipe estejam comprometidos com a melhoria contínua de todos os processos do projeto (Ries E. , 2012). 17 4. Desenvolvimento: O Projeto neoTime Touch Em abril de 2012, uma empresa parceira da ClasTech Digital Multimídia apresentou a ideia de implantação do sistema neoTime em dispositivos portáteis. O objetivo era implantar tablets em táxis, para exibição de propagandas comerciais. Os sócios da empresa já possuíam contatos com uma cooperativa de taxis para iniciar o projeto e a urgência era grande. Devido a esse fator, o processo de decisão e adaptação do sistema deveria ser rápido. Sendo o projeto uma organização de grande incerteza, o Lean Startup foi escolhido como metodologia para empreender o novo negócio. No primeiro mês de conversas e reuniões, foram feitas diversas sessões de brainstorm, cerca de 2 a 3 reuniões por semana. A empresa parceira entrou com três integrantes (os três sócios) e a ClasTech com quatro (os dois sócios, um desenvolvedor e um engenheiro). O intuito foi de apresentar todas as ideias, independente de serem viáveis ou não. A partir dessas ideias, foram filtradas as prioridades e pré-requisitos do projeto, também como foram definidos os problemas iniciais a serem resolvidos, tanto na área operacional quanto técnica. O plano de negócios inicial era começar o projeto com uma frota de cinquenta táxis. Através de análises de viabilidade, tais como riscos (o neoTime nunca havia sido implantado em bases móveis) e custos (tablets, internet 3G para atualização do sistema, encosto protetor para o tablets etc.), contatou-se que esse número seria muito arriscado. O projeto foi iniciado com uma frota de dez automóveis e cada um teria um tablet implantado no encosto do banco do passageiro. Além dos riscos, foram encontrados três problemas principais. Através das reuniões semanais, foram definidas as soluções, mesmo que temporárias. O primeiro problema foi o fato do sistema neoTime não ter sido desenvolvido para tablets. Sendo um sistema para funcionamento em desktops Windows, ele não seria compatível com o sistema operacional mais utilizado em dispositivos móveis: o Android. Foi o primeiro fator limitante do projeto. Havia duas soluções: desenvolver um sistema compatível com Android (tablets com custo mais baixo e com maior opção de mercado que os tablets iPad da Apple) ou utilizar tablets com a plataforma Windows. Levando em conta o tempo curto, optou-se por utilizar tablets com Windows (CCE 10”, com Windows 7 Home Premium). 18 O segundo problema dizia respeito à atualização do sistema (conteúdo e informações), pois o sistema é atualizado via internet, tornando necessária uma conexão. A princípio foram contratados planos de banda larga móvel 3G de 2Mb, um modem para cada tablet. Sendo um serviço instável e devido à capacidade limitada de memória de um tablet, surgiu a preocupação de como o conteúdo seria passado a cada equipamento e se a banda suportaria o tráfego de informações. Foram realizados diversos testes com vídeos já existentes no acervo da ClasTech. A Tabela 2 mostra os testes realizados na empresa. Tabela 2: Testes realizados nos tablets com os vídeos existentes no acervo ClasTech Nº Teste Resultado Descrição 01 Vídeo em alta resolução Falha O vídeo era muito pesado para a conexão de internet. O tempo de download foi muito alto. Além disso, o hardware do tablet não conseguiu rodar o vídeo de forma fluida. 02 Renderização do vídeo para uma qualidade mais baixa Falha Mesmo renderizando o vídeo para que ele ficasse com uma qualidade menor,o tablet não conseguiu rodar o vídeo com fluidez. O tamanho do arquivo ainda apresentou problemas para ser passado, via 3G, aos tablets. 03 Renderização do vídeo para uma qualidade mediana Sucesso A qualidade do vídeo ficou mediana, mas o tablet conseguiu rodá-lo com fluidez. O tamanho do arquivo ficou compatível com a conexão 3G, não demorando tanto para ser transmitidos aos equipamentos. O terceiro problema foi em relação a como os tablets seriam mantidos ligados durante um dia inteiro sem que sua bateria descarregasse. Optou-se por conectá-los à partida do carro, ou seja, quando o automóvel é ligado, o tablet liga junto. Para que o Windows não fosse finalizado de forma incorreta toda vez que o carro é desligado, foi instalado um aplicativo para detectar se o dispositivo estava ligado na bateria ou 19 na energia. Se o tablet fica ligado somente na bateria, o aplicativo se encarrega de finalizar o sistema neoTime e hibernar o Windows até que o automóvel seja ligado novamente. Definidos os pontos principais, foram iniciadas as reuniões com clientes. Os meses de maio, junho e julho foram quase que totalmente voltados para reuniões e apresentações a clientes. Em paralelo, foram realizados testes de funcionamento e energização dos tablets nos carros. 4.1 Aplicação do Kanban Como forma de organizar o projeto, a ClasTech adotou o método Kanban. Antes do projeto, já existia um quadro de avisos na empresa, como forma de comunicação interna. Uma área desse quadro foi utilizada para o uso do kanban. Ao invés de dividir o quadro em três colunas, ele foi divido em três linhas: “a fazer”, “em progresso” e “concluído”. Sendo um quadro onde a equipe podia escrever, a primeira tentativa de aplicação do kanban, consistiu em escrever as tarefas nas respectivas linhas da lousa. Conforme o andamento de cada tarefa, apenas apagava-se a mesma de uma linha e colocava-se em outra. Foram utilizadas canetas coloridas nas cores, vermelho, azul e verde. A cor vermelha indicavam as tarefas pendentes e/ou atrasadas, a verde as tarefas concluídas e a azul as tarefas em progresso. Essa forma de aplicação do kanban não funcionou de forma efetiva, pois houve muitas falhas ao deslocar as tarefas de posição. O fato de ter que ficar escrevendo e apagando a tarefa da lousa gerou confusão em alguns membros da equipe. Algumas tarefas foram apagadas e, consequentemente, esquecidas. Observando essas falhas, a forma de aplicação foi alterada de imediato. Na segunda tentativa foram utilizados cartões para sinalização das tarefas. A representação do quadro, já com as fichas dispostas, pode ser vista a na Figura 4. 20 Figura 4: Representação do quadro kanban da ClasTech. Fonte: Foto tirada na empresa. A segunda tentativa funcionou melhor, pois o deslocamento das tarefas tornou-se mais fácil. A princípio não foram utilizados cartões coloridos. Todos eram brancos, continham o nome do respectivo táxi e as observações que a equipe achava que eram necessárias. Por serem somente dez táxis, foi possível organizar as tarefas em ordem de prioridade, colocando à esquerda aquelas com prioridade maior e mais à direita aquelas com prioridade menor. Após um tempo de uso, foram inclusos adesivos coloridos como forma de sinalizar as tarefas mais importantes e/ou atrasadas. Essas últimas eram destacadas em vermelho, enquanto as tarefas com menor prioridade eram destacadas com 21 amarelo e/ou verde, sendo o amarelo a tarefa que estava próxima à data limite de conclusão e o verde a tarefa quase concluída. O fato de utilizar cores ajudou muito a identificar a prioridade das tarefas e o processo de pedido, configuração e testes dos tablets passou a ficar muito mais organizado e sem atrasos. Por ser uma ferramenta visual, todos os envolvidos no projeto, inclusive a empresa parceira, puderam acompanhar o fluxo do andamento do projeto. Atualmente, o kanban foi totalmente incorporado à empresa e não está sendo utilizado somente ao projeto neoTime Touch. O método está sendo aplicado a todos os clientes que a ClasTech possui, acompanhando desde o pedido até os testes finais dos equipamentos que chegam na empresa. Para facilitar a visualização dos clientes, foi estipulado que cada rede possua uma cor. Por exemplo: estabelecimentos da rede de lojas do “Cliente 1” tem uma faixa de uma determinada cor na ficha, enquanto estabelecimentos da rede de lojas do “Cliente 2” possui outra cor. Dessa forma, é possível diferenciar os clientes através das cores das fichas e as prioridades através das cores dos adesivos. O próximo passo para melhorar o kanban da empresa é instalar um quadro metálico e, ao invés de adesivos, utilizar imãs coloridos como forma de indicar a prioridade das tarefas. 4.2 Aplicação do Lean Startup O primeiro conceito de Lean Startup aplicado foi o desenvolvimento de um produto viável mínimo (MVP) para que a reação dos clientes pudesse ser analisada. Também foi um dos pontos mais críticos do projeto, pois era o que o cliente deveria ver e aprovar. Sendo um produto mínimo, o sistema não estava totalmente funcional. Ainda não existiam canais informativos que pudessem ser alimentados e atualizados, por exemplo. Para que o cliente pudesse visualizar o funcionamento do sistema, foram colocados apenas vídeos que simulavam o sistema. O MVP foi, basicamente, uma sequencia de vídeos. Foi criada uma grade especial para ser apresentada, intercalando simulações de vídeos informativos, vídeos institucionais da ClasTech, da empresa parceira e propagandas do cliente. 22 Dentro da visão da ClasTech e da empresa parceira, tudo estava perfeitamente apresentável. Junto com a grande expectativa, veio a primeira grande decepção: o produto não era o que o cliente imaginava. O que ele queria (e esperava) era que, sendo um produto que funciona em tablets, pudesse ser interativo, ou seja, que as pessoas pudessem interagir com sua propaganda. Na reunião semanal, posterior à reunião com o cliente, foi apresentado o posicionamento do mesmo em relação ao produto. Nessa situação, pôde-se enxergar claramente o ciclo de feedback “Construir- Medir-Aprender”. Foi desenvolvido um MVP simples a partir da ideia que a ClasTech e a empresa parceira tiveram, com o mínimo de esforço e tempo de desenvolvimento. Pôde-se medir o impacto que o produto teve e coletar dados, diretamente com um cliente em potencial, sobre como o mesmo esperava que ele funcionasse. Com esses dados, foi possível chegar a uma conclusão: era o momento de pivotar. A decepção virou uma nova ideia: o sistema poderia ser interativo. Com essa ideia, foi traçada uma nova estratégia e construído um novo MVP, fazendo com que o ciclo se iniciasse novamente. Nesse segundo MVP, foi criado um modelo de vídeo interativo. Primeiramente, era exibida uma propaganda do cliente em potencial e logo em seguida eram mostradas duas opções ao público-alvo: produto01 ou produto02, onde o mesmo poderia interagir optando por clicar sobre uma ou outra opção. Selecionando uma delas, mais informações sobre o produto escolhido eram exibidas. Após visualizar as informações sobre esse produto, ele poderia escolher fechar essa tela e voltar ao menu inicial ou simplesmente deixar a interação terminar e ver a próxima propaganda. O vídeo foi programado para ser exibido por trinta segundos. Caso o passageiro do táxi não interaja, automaticamente se inicia outra propaganda. Caso ele interaja, cada interação na tela dá ao passageiro mais quinze segundos para visualizar a nova informação. Além disso, foi criado um botão no canto inferior da tela para que o passageiro pudesse selecionar caso quisesse mais quinze segundos na propaganda exibida naquele momento. Através de reuniões com clientes em potencial, pôde-se medir que esse segundo produtoteve uma maior aceitabilidade e causou mais impacto a eles, 23 justamente pelo dato de existir uma interação real com o público-alvo das propagandas. A partir da ideia de interatividade foi criada a pesquisa de aceitação da nova mídia. Foi criado um canal exclusivo para saber o que os passageiros dos taxis estavam achando do produto. Neste canal, foram colocados os seguintes itens: Faixa etária (Menos que 18, 18 a 25, 26 a 45, 45 a 60, Mais que 60) Sexo (Feminino ou Masculino) Se aprova a mídia no taxi (Sim ou Não) Juntamente com esse canal, foi implantado um contador de toques, para servir como feedback para saber, primeiramente, se os passageiros estavam realmente interagindo com os vídeos e, posteriormente, como forma de contabilizar quais propagandas estavam sendo mais acessadas. A Figura 5 ilustra o relatório de cliques desenvolvido ao neoTime Touch. Figura 5: Reprodução do relatório de cliques por propaganda no primeiro mês de testes Fonte: www.clastech.com.br [área interna] Com essas primeiras funcionalidades prontas, deu-se inicio ao projeto piloto nos taxis. No final do mês de julho foram feitas as instalações em dez automóveis iniciais para que pudessem entrar em funcionamento em agosto. Para que a mídia tivesse conteúdo, a ClasTech ofereceu como cortesia aos seus clientes, um mês de anúncio gratuito. A estratégia funcionou e a grade de programação ficou completa, ao menos para o primeiro mês de testes nas ruas. Entre as propagandas, foi inserida a pesquisa de aceitação. 24 A pesquisa de aceitação também gera um relatório, mostrando o que cada passageiro selecionou como opção às perguntas. Figura 6: Reprodução do relatório da pesquisa de aceitação no primeiro mês de testes. Fonte: arquivo baixado de www.clastech.com.br [área interna] Hoje, o relatório da pesquisa de aceitação é uma das principais ferramentas do neoTime Touch e mostra aos clientes a viabilidade e aceitação da mídia. Todas as ideias, problemas e soluções foram documentados, de forma a validar todo o aprendizado obtido com o projeto. No Lean Startup existe o conceito de Aprendizado Validado, que consiste experimentar e validar cientificamente todos os elementos da visão do empreendedor, coletando dados dos clientes em potencial reais. No projeto neoTime Touch esse conceito foi utilizado para validar todo e qualquer experimento que foi realizado. Todos os problemas foram listados juntamente com suas devidas resoluções e propostas de melhoria. Com essa base de informações, foi possível constatar uma situação não imaginada no inicio do projeto: o tablet não é o melhor hardware para trabalhar com o sistema neoTime Touch. Os principais motivos: 25 1. Bateria: o sistema de ligar e desligar automaticamente o sistema neoTime não estava funcionando de forma correta. Quando o carro fica desligado por muito tempo, a bateria descarrega e não reconhece quando é ligada na energia novamente. Na BIOS, não existe a opção de PowerOn que existe nas placas mães de desktop. Essa opção permite que o computador seja ligado automaticamente assim que uma fonte de energia é detectada. 2. Desempenho: os vídeos com interação, mesmo que fossem renderizados em uma qualidade menor, apresentaram um pouco de lentidão. 3. Qualidade do toque: A sensibilidade de toque do tablet (seja pela marca, ou pela qualidade da tela), não estava sendo satisfatória, 4. Botão de ligar: O botão de ligar, acoplado ao equipamento, é um fator com duas faces. Era necessário para ligar o tablet, caso sua bateria se esgotasse, mas também era uma forma do passageiro desliga-lo, o que não poderia acontecer por se tratar de exibição de propagandas. Sendo acoplado, não há uma forma de fazer com que somente o taxista tenha acesso ao botão. 5. Modem 3G: O modem, tendo que ser colocado ao lado do tablet, acabou por ocupar mais espaço do que o esperado no suporte do encosto do banco. Esses fatores não impedem que o sistema funcione, mas ele poderia funcionar melhor com um hardware um pouco mais avançado. Neste ponto, foi decidido que era o momento de pivotar novamente. Para resolver esse problema um segundo equipamento está sendo testado. Ele consiste de peças de notebook, com uma tela touch acoplada via USB. 26 Figura 7: Tela touch adquirida para testes - Visão traseira Fonte: Foto tirada na empresa. 27 Figura 8: Tela touch adquirida para testes - Visão frontal Fonte: Foto tirada na empresa. 28 Neste caso, o equipamento ficaria no porta-malas ou sob o banco do passageiro. O botão de ligar poderá ser desacoplado, ficando disponível somente ao taxista, haverá a opção de PowerOn na BIOS, haverá uma placa de vídeo e um processador melhor, melhorando a qualidade dos vídeos e o desempenho, o modem ficará escondido, junto ao equipamento e a tela será própria para o toque, possuindo uma sensibilidade melhor. Todo o processo de validação será feito para este novo equipamento. Após o período de testes com o equipamento inicial, foram realizadas novas reuniões com os clientes. A aceitabilidade foi alta, mas foi encontrado um novo obstáculo: o número de táxis nas ruas. Para testes, dez foram suficientes. Para o cliente que quer divulgar sua marca, esse número já deixa de ser atrativo. O que eles buscam é uma frota ampliada de taxis com o sistema para que seu investimento na mídia valha a pena. Por ora o projeto está funcionando nos dez taxis iniciais com alguns clientes regionais. O objetivo é realizar os testes com o novo equipamento para iniciar a segunda etapa de investimento em equipamentos. Com o modelo de negócios, o sistema neoTime Touch e a resposta dos clientes em mãos, a empresa parceira está em busca de investidores. Já existe um investidor em potencial e estão em processo de negociação. 29 5. Conclusão A aplicação do Lean Startup foi feita, a principio, somente no projeto neoTime Touch, não sendo aplicado a toda empresa. Esse projeto foi uma oportunidade de testar alguns processos do Lean Startup, possibilitando a coleta de resultados de forma rápida. O ciclo de feedback “Construir-Medir-Aprender” foi muito útil para enxergar a importância de ter um protótipo antes de ter um produto final, fazendo com que o cliente possa ver e opinar, conforme o mesmo é desenvolvido, tornando mais fácil as adaptações e atualizações de sistema. O ciclo foi o conceito mais utilizado na aplicação do Lean Startup. Anteriormente à aplicação do conceito de MVP, a ClasTech praticava uma política muito rigorosa em relação a protótipos, sempre apresentado um produto quase totalmente desenvolvido e pronto para uso, mesmo sem saber o feedback dos potenciais clientes. Com esse ciclo, pôde-se constatar que um produto pode ser bom e viável, mesmo que em forma de protótipo. Nessa experiência, os clientes gostaram do que foi apresentado, mesmo que em forma de protótipo não funcional. O aprendizado mais importante que esse ciclo trouxe à empresa foi que, através dele, pôde-se constatar o que o cliente em potencial realmente esperava do produto, antes mesmo que ele estivesse concluído. Com essa percepção, foi possível economizar tempo de desenvolvimento e posteriores correções. Também foi com o MVP que a empresa percebeu que a estratégia de passar apenas propagandas, sem interatividade alguma, faria com que o projeto que não utilizasse seu potencial total. Com a descoberta desse fator no início, foi possível alterar o rumo do projeto sem grandes perdas, já que o produto final ainda não estava totalmente desenvolvido. O conceito de aprendizado validado foi adaptado às necessidades da empresa. No Lean Startup, isso diz respeito somente à validação das hipóteses junto ao cliente, mas a ClasTech adaptou o aprendizado à todas as fases do projeto, documentandoos problemas e suas respectivas soluções, também como todas as alterações e melhorias. Essas informações formaram uma base de dados sólida, pela qual foi possível medir o progresso que cada etapa conquistava. Foi uma 30 maneira organizada e interessante de visualizar todos os obstáculos e inovações contabilizados no projeto. O kanban foi uma ferramenta extremamente importante para a organização do projeto. No início houve falhas humanas principalmente no deslocamento das tarefas de uma linha para outra. A equipe ainda não estava habituada com essa nova forma de trabalho. Porém, sendo uma empresa que trabalha com comunicação visual, a ClasTech teve facilidade em adaptar-se com o método. Ele possibilitou a visualização de todas as tarefas que deveriam ser cumpridas. Quando o projeto progredir e demandar um uso mais organizado do quadro, pretende-se utilizar o e- Kanban (Pace, 2003), que subsitui o kanban físico por um kanban eletrônico, facilitando a organização de múltiplas tarefas e evitando a perda de informações. O Lean Startup, juntamente com a aplicação do kanban, foram boas abordagens para o projeto e para a empresa parceira, já que se enquadrou bem na definição de “incerteza” que é uma startup. Foi possível utilizar um pouco de cada um dos cinco princípios do Lean Startup e tirar grande proveito do sistema visual kanban. 31 6. Referências bibliográficas RIES, Eric A Startup Enxuta – Como os empreendedores atuais utilizam a inovação contínua para criar empresas extremamente bem-sucedidas. 1ª edição. Editora Leya. 2012. BLANK, Steve. G. The Four Steps to the Ephifany – Sucessful strategies for products that win. 3rd edition. Cafepress.com. 2006. The Lean Startup. Disponível em: http://theleanstartup.com. Acesso em: 14 de abril de 2012. PACE, J. H. O Kanban na prática. 1ª edição. QualityMark. 2003. WERKEMA, Maria C. C. Lean Seis Sigma – Introdução às Ferramentas do Lean Manufacturing. 1ª Edição. Editora Werkema. 2006. WOMACK, James P., JONES, Daniel T. A máquina que mudou o mundo. Editora Campus. 11ª Edição. 2004. Instagram – Fast beautiful photo sharing. Disponível em: http://instagr.am. Acesso em: 14 de abril de 2012. Exame PME. Disponível em http://exame.abril.com.br/pme/startups/noticias/o-que- determina-o-sucesso-de-uma-startup. Acesso em: 21 de maio de 2012. Lean Enterprise Institute. Disponível em: http://www.lean.org/. Acesso em: 12 de junho de 2012. Lean Institute Brasil. Disponível em: http://www.lean.org.br/. Acesso em: 12 de junho de 2012. ClasTech Digital Multimídia. Disponível em: http://www.clastech.com.br/. Acesso em: 22 de junho de 2012. IME-USP – AgilCoop – Desenvolvimento ágil de software. Disponível em: http://www.agilcoop.org.br. Acesso em: 08 de novembro de 2012.Portal Digital Signage. Disponível em: http://www.portaldigitalsignage.com.br. Acesso em: 07 de dezembro de 2012. http://www.lean.org/ http://www.lean.org.br/
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