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Experimento Ministério da Ciência e Tecnologia Ministério da Educação Secretaria de Educação a Distância Guia do professor licença Esta obra está licenciada sob uma licença Creative Commons Geometria e medidas Polígonos regulares e ladrilhos Objetivos da unidade Manipular polígonos regulares a fim de recobrir o plano;1. Encontrar qual o requisito para que uma certa combinação 2. de polígonos cubra o plano. Guia do professor Sinopse Este experimento busca apresentar aos alunos o problema do ladri lhamento no plano, fazendo com que tentem montar os seus próprios preenchimentos, utilizando, particularmente, alguns polígonos regulares. Conteúdos Geometria Plana: Simetrias. Objetivos da unidade Manipular polígonos regulares a fim de recobrir o plano;1. Encontrar qual o requisito para que uma certa combinação de polígonos 2. cubra o plano. Duração Uma aula dupla. Polígonos regulares e ladrilhos A atividade proposta aos alunos é, antes de tudo, uma atividade de explo- ração, na qual eles desenvolverão uma série de ladrilhamentos do plano por polígonos regulares e com algumas condições estabelecidas em cada etapa. O trabalho deve sensibilizar os alunos com a questão bem mais complexa que é encontrar condições necessárias (e sufi cientes) para a existência de ladrilhamentos do plano, utilizando um ou mais tipos de polígonos. Veremos de modo detalhado o motivo por que é impossível construir ladrilhamento regular com 4 ou mais tipos de polígonos, e, para o caso de 1, 2 ou 3 polígonos, mostraremos todas as possibilidades de ladrilhos envolvidos. Este experimento lida com conceitos elementares de Geometria, polígonos regulares, ângulos e lados, e abre portas para investigações bastante sofi s- ticadas como as que apresentamos neste Guia. Além disso, é possível explorar o forte apelo visual que o trabalho com ladrilhos possibilita. Comentários iniciais A sistematização desta discussão deve começar determinando os ângulos internos de um polígono regular. Determinação dos ângulos internos de um polígono regular Dado um polígono regular de lados, podemos dividi-lo em triângulos conforme a fi gura abaixo. Como a soma dos ângulos internos de cada um dos triângulos é , ao multiplicar o número de triângulos por , teremos a soma dos ângulos internos de todos eles juntos ( ). Conforme ilustrado na fi gura acima, se subtrairmos a circunferência que está indicada no centro do polígono, teremos a soma dos seus ângulos internos ( ). Como o polígono é regular (seus ângulos internos têm a mesma medida), ao dividir a soma dos seus ângulos internos pelo número de ângulos, tere- mos a medida de cada um deles. Logo, a expressão que nos fornece o ângulo interno de um polígono regular de n lados é: . Portanto, os ângulos internos de cada uma das fi guras em anexo são: Triângulo: 60°; � Quadrado: 90°; � Pentágono: 108°; � Hexágono: 120°; � Octógono: 135°. � fig. 1 As primeiras questões Conforme observado nos Comentários iniciais, o ângulo interno de um polígono regular de lados mede . Ao construir um ladrilhamento, a soma dos ângulos do polígono ao redor de cada vértice deve ser 360°. Usaremos essa observação crucial para abordar diversas questões. Tentaremos agora responder às questões apresentadas no experi mento. Questão 1 Com quais polígonos é possível ladrilhar o plano utilizando apenas um tipo de ladrilho? Se considerarmos apenas um tipo de polígono, a Observação 1 implica que algum múltiplo inteiro do ângulo interno deste polígono deve ser 360°. Observe que, para , a medida do ângulo interno do polígono satisfaz as desigualdades . A primeira dessas desigualdades ( ) implica , de modo que não é possível ter três cópias do polígono em questão partilhando um vértice. Entretanto, a segunda desigualdade ( ) implica que , de modo que duas cópias são insufi cientes para recobrir o plano. Restam, então, os casos em que , , ou . Para , temos ; mas 108 não é divisor de 360, de modo que tampouco com pentágonos regulares é possível ladrilhar o plano. Observação 1 Nos casos restantes, , ou , temos que os ângulos internos dos polígonos são divisores de 360: de modo que não há qualquer tipo de obstrução à construção de ladrilha- mentos com estes polígonos. De fato, é possível ladrilhar o plano com triângulos, quadriláteros ou hexágonos regulares. fig. 2 Questão 2 Com quais polígonos é possível ladrilhar o plano utilizando exatamente dois tipos de ladrilho? Vamos considerar ladrilhos formados por polígonos regulares com e lados. Conforme observamos anteriormente, esses ladrilhos têm ângulos internos iguais a e respectivamente. Se considerarmos em um vértice cópias do primeiro e cópias do segundo, a soma dos ângulos internos destes triângulos deve satisfazer a equação , que é equivalente à equação . Podemos assumir que , donde decorre que . Concluimos com isso que . Observe que, se , então , de modo que devemos ter . Como o número de polígonos que se encontram em cada vértice é ao menos 3, temos um absurdo, de modo que concluímos que não pode- mos ter . Leonardo Barichello Há ma errata para o texto desta e da próxima página no final do documento. Vamos agora considerar em separado os casos em que , , ou . Se , temos um hexágono regular com ângulo interno igual a 120°. Se tivermos duas cópias deste polígono, a soma dos seus ângulos será 240° e os 120° restantes são insuficientes para acomodar um polígono com lados. Logo, não podemos ter (lembramos que estamos assumindo ). Raciocínio similar mostra que tampouco podemos ter ou . Assumimos agora que . Neste caso, temos um triângulo com ângulo interno de 60°. Sendo assim, devemos ter e sobram 4 casos para analisar. Lembrando que a soma dos ângulos dos polígonos que parti- lham um vértice deve ser 360° e considerando que um polígono com mais de 6 lados tem ângulo interno maior que 120°, podemos concluir que � e � e � e � não pode ocorrer Podemos resumir o resultado no quadro abaixo: Um ladrilhamento celular regular com 2 polígonos regulares distintos é necessariamente de um dos seguintes tipos: 4 triângulos e 1 hexágono;1. 3 triângulos e 2 quadrados;2. 2 triângulos e 2 hexágonos.3. Questão 3 Com quais polígonos é possível ladrilhar o plano utilizando exatamente três tipos de ladrilho? Sejam , e o número de lados dos polígonos envolvidos, de que assumimos que , e sejam , e as medidas dos ângulos internos de um polígono com , e lados respectivamente. Se tivermos Conclusão , e cópias destes polígonos partilhando um vértice, a soma dos ângulos internos destes polígonos neste vértice será . Se assumirmos , te remos que Logo, não podemos ter apenas um polígono de cada tipo, mas tampouco podemos ter mais de um. Neste caso teríamos Segue então que devemos ter , ou seja, ao menos um dos polígonos utilizados deve ser um triângulo equilátero. Assim, a soma dos vértices dos outros polígonos deve ser 300°. Analisando caso a caso e considerando que devemos ter é fácil concluir que a única solução possível é , e , com , e . Todo ladrilhamento celular regular com 3 tipos de polígonos tem, em cada vértice 1 triângulo, 2 quadrados e 1 hexágono. Conclusão As últimas questões Questão 4 Com quais polígonos é possível ladrilhar o plano utilizando quatro ou mais tipos de ladrilho? Neste caso devemos ter 4 polígonos regulares com número distinto de lados, digamos . Denotando por , , e as medidas dos ângulos internos de um polígono com , , e lados respectiva mente, temos que a soma dos ângulos desses polígonos é dada por Com isso, podemos concluir o seguinte: Não existe ladrilhamento celular regular com 4 ou mais tipos de polí- gonos. Além do fechamento proposto no próprio experimento, se desejar, apro- funde as conclusões obtidas pelos alunos expondo as demonstrações realizadas anteriormente. Conclusão A questão do ladrilhamento do plano possui muitos desdobramentosmate- máticos interessantes e alguns deles podem ser explorados de maneira lúdica ou formal. Uma possibilidade que surge naturalmente a partir da proposta deste experimento é explorar ladrilhamentos com polígonos não regulares. Um exemplo bastante rico e interessante são os ladrilhos de Penrose (vide referência 3), que possuem características bastante peculiares que podem ser exploradas em diversos níveis de profundidade. Barbosa, Rui Madsen. Descobrindo padrões em mosaicos. São Paulo: Editora Atual, 1993. Imenes, Luiz Márcio; Lellis, Marcelo. Geometria dos Mosaicos. São Paulo: Editora Scipione, 2002. http://matemateca.incubadora.fapesp.br/portal/matemateca/exposicao/ladrilhos/ladrilhos (acessado em 15 de agosto de 2009). Ficha técnica Ministério da Ciência e Tecnologia Ministério da Educação Secretaria de Educação a Distância Matemática Multimídia Coordenador Geral Samuel Rocha de Oliveira Coordenador de Experimentos Leonardo Barichello Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (imecc – unicamp) Diretor Jayme Vaz Jr. Vice-Diretor Edmundo Capelas de Oliveira Universidade Estadual de Campinas Reitor Fernando Ferreira Costa Vice-Reitor Edgar Salvadori de Decca Pró-Reitor de Pós-Graduação Euclides de Mesquita Neto licença Esta obra está licenciada sob uma licença Creative Commons Autor Marcelo Firer Revisores Matemática Antônio Carlos do Patrocínio Língua Portuguesa Carolina Bonturi Pedagogia Ângela Soligo Projeto gráfico Preface Design Ilustrador Lucas Ogasawara de Oliveira Fotógrafo Augusto Fidalgo Yamamoto ERRATA: questões 2 e 3 QUESTÃO 2 Com quais poĺıgonos é posśıvel ladrilhar o plano utilizando exatamente dois tipos de ladrilho? Se m = 6 temos um hexágono regular com ângulo interno igual a 120◦. Se tivermos duas cópias deste poĺıgono, a soma dos seus ângulos será 240◦ e os 120◦ restantes são insuficientes para acomodar um poĺıgono com n > 6 lados. Logo, não podemos ter m = 6 (lembramos que estamos assumindo m < n). Para o caso de termos m = 5, podemos utilizar racioćınio similar: temos um pentágono regular com ângulo interno igual a 108◦. Se tivermos duas cópias deste poĺıgono, a soma dos seus ângulos será 216◦ e os 134◦ restantes são insuficientes para acomodar um ou mais poĺıgonos com n > 5 lados ( ângulo maior ou igual a 120◦). Resta tratar os casos em que m = 3 ou m = 4. Consideremos o caso em que m = 4, ou seja, em que temos um quadrado, com ângulo interno igual a 90◦. Não podemos ter dois ou três quadrados com um vértice em comum, pois neste caso, teŕıamos um ângulo 180◦ ou 90◦, insuficiente para abrigar o ângulo de um poĺıgono regular com n ≥ 5 vértices. Resta a possibilidade de termos apenas um quadrado. Neste caso, em prinćıpio, teŕıamos um ângulo de 270◦ para ser ocupado por cópias de algum poĺıgono regular com ao menos 5 lados. Racioćınio análogo ao feito nos casos anteriores exclui todas as possibilidades, exceto o caso n = 8, ou seja, do octágono regular, que têm ângulo interno de 135◦. Temos então que o caso m = 4 e n = 8 não pode ser descartado como os anteriores e, de fato, existe ladrilhamento com quadrados e hexágonos, como pode ser observado na Figura 1. Figura 1: Assumimos agora que m = 3. Neste caso, temos um triângulo com ângulo interno de 60◦. Sendo assim, devemos ter p < 5 e sobram quatro casos para analisar. Lembrando que a soma dos ângulos dos poĺıgonos que partilham um vértice deve ser 360◦ e considerando que um poĺıgono com mais de 6 lados tem ângulo interno maior que 120◦, podemos concluir que • p = 4 =⇒ n = 6 e q = 1; 1 Figura 2: • p = 3 =⇒ n = 4 e q = 2; • p = 2 =⇒ n = 6 e q = 2; • p = 1 =⇒ n = 12 e q = 2; Estas quatro possibilidades de fato se realizam, como podemos observar na Figura 2. Podemos resumir o resultado: Conclusão Um ladrilhamento celular regular com 2 poĺıgonos regulares distintos é ne- cessariamente de um dos seguintes tipos: 1. 1 quadrado e 2 octágonos; 2. 4 triângulos e 1 hexágono; 3. 3 triângulos e 2 quadrados; 4. 2 triângulos e 2 hexágonos; 5. 1 triângulo e 2 dodecágonos. 2 QUESTÃO 3 Com quais poĺıgonos é posśıvel ladrilhar o plano utilizando exatamente três tipos de ladrilho? Sejam l,m e n o número de lados dos poĺıgonos envolvidos, de que assumimos que l < m < n, e sejam al, am e an as medidas dos ângulos internos de um poĺıgono com l,m e n lados respectivamente. Se tivermos pl, pm e pn cópias destes poĺıgonos partilhando um vértice, a soma dos ângulos internos destes poĺıgonos neste vértice será plal + pmam + pnan. Se assumirmos 4 ≤ 4, teremos que plal + pmam + pnan ≥ pla4 + pma5 + pna6 ≥ pl90 + pm108 + pn120 ≥ 90 + 108 + 120 = 306. Logo, não podemos ter apenas um poĺıgono de cada tipo, mas tampouco podemos ter mais do que um, pois neste caso teŕıamos plal + pmam + pnan ≥ 2la4 + pma5 + pna6 ≥ 2× 90 + 108 + 120 > 360. Segue então que devemos ter l = 3, ou seja, ao menos um dos poĺıgonos utilizados deve ser um triângulo equilátero. Assim, a soma dos vértices dos outros poĺıgonos deve ser 300◦. Analisando caso a caso a situação (p3 − 1)60 + pmam + pnan = 300 é posśıvel constatar que a única solução posśıvel é l = 3, p3 = 1, a3 = 60; m = 4, p4 = 2, a4 = 90; n = 6, p6 = 1, a6 = 120, ou seja, considerar o ladrilhamento dom 1 triângulo, dois quadrados e um hexágono partilhando um vértice. Esta possibilidade se concretiza, conforme ilustrado na Figura 3. Conclusão Todo ladrilhamento celular regular com 3 tipos de poĺıgonos tem, em cada vértice, 1 triângulo, 2 quadrados e 1 hexágono. 3 Figura 3: 4
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