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CADERNO - DIREITO CIVIL I

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Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
CADERNO FBDG – DIREITO CIVIL I – PROF: AURISVALDO SAMPAIO 
AULAS 01 E 02 – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO CIVIL 
 
DIREITO PÚBLICO X DIREITO PRIVADO: 
 O Direito Público consiste no ramo do Direito composto por normas que regulam as 
relações entre Estados ou entre Estado e particulares, sendo que na segunda 
hipótese o Estado atua com a supremacia do poder. A título exemplificativo pode-se 
citar a existência dos acordos internacionais. Vale ressaltar que as normas 
pertencentes ao Direito Público são ditas cogentes por apresentarem um cunho de 
obrigatoriedade; 
 
 O Direito Privado consiste no ramo do Direito composto por normas que regulam 
relações entre particulares ou entre Estado e particulares, sendo que na segunda 
hipótese o Estado atua desprovido de sua supremacia de poder. A título 
exemplificativo pode-se citar a venda de um automóvel entre duas pessoas, objeto 
de estudo do Direito Civil; 
Ao analisarmos uma relação entre o Estado e um particular, percebemos que essa pode se 
enquadrar tanto no âmbito do Direito Público quanto no âmbito do Direito Privado – sendo 
de suma importância a análise do papel desempenhado pelo Estado. 
 
RELAÇÃO ENTRE O ESTADO E UM PARTICULAR REGULADA POR NORMAS DO: 
 Direito Público: Relação verticalizada na qual há a prevalência da soberania estatal – 
como no evidenciado na desapropriação de bens materiais. Ex: O Estado solicita a 
derrubada de uma casa com a finalidade de construir uma avenida que inclua no seu 
trajeto aquele trecho em que a casa se encontra inserida; 
 
 Direito Privado: Relação horizontalizada na qual o Estado não atua com base na 
supremacia do poder, sendo o interesse particular protagonista nesse contexto – 
como no evidenciado na locação de imóveis pelo Estado. Ex: Um cidadão pode negar 
a locação de seu imóvel que seria alugado para a instalação de uma creche durante 
um determinado período; 
OBS: A distinção entre Direito Público e Direito Privado é meramente doutrinária e não legal, 
existindo autores que, inclusive, apontam para a inexistência dessa divisão, sustentando uma 
flexibilização das fronteiras entre os diferentes setores jurídicos; 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 
O DIREITO PÚBLICO É SUBDIVIDIDO EM: 
 Direito Público Interno: Ramo do Direito Público responsável por regular relações 
verticalizadas entre o Estado e particulares – Direito Constitucional, Direito Penal, 
Direito Ambiental, Direito Tributário, Direito Urbanístico, Direito Processual Civil, 
Direito Processual Penal, entre outros. Partindo desse pressuposto, o Estado, a título 
exemplificativo, é detentor do poder de cobrar coercitivamente o pagamento de 
impostos pelos cidadãos (Direito Tributário) e do poder de forçar o indivíduo a 
cumprir uma pena (Direito Penal); 
 
 
 Direito Público Externo: Ramo do Direito Público responsável por regular relações 
entre organismos internacionais (não necessariamente Estados) – Direito 
Internacional. A título exemplificativo pode-se citar o estabelecimento de acordos 
entre dois blocos econômicos: Mercosul e União Europeia; 
 
O DIREITO PRIVADO É SUBDIVIDIDO EM: 
 Direito Civil; 
 Direito do Trabalho; 
 Direito Empresarial; 
 Direito do Consumidor; 
O Direito Civil corresponde à parte pioneira – existindo a mais de dois mil anos. Os demais 
ramos do Direito Privado apresentam conotação de especialização e correspondem a 
derivações (desdobramentos) do Direito Civil; 
 
PRINCIPAIS FUNÇÕES ATRIBUÍDAS AO DIREITO CIVIL: 
 Função residual: O Direito Civil atua sempre que nenhum dos ramos especializados 
venha a atuar. Daí pode-se falar de um Direito Civil geral, comum e ordinário; 
 
 Função de fonte conceitual: O Direito Civil fornece inúmeros conceitos que serão 
utilizados por outras áreas do saber jurídico; 
 
 Função subsidiária: O Direito Civil preenche lacunas nos ramos do Direito Civil 
Especializado; 
 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
FONTES DO DIREITO CIVIL 
 Constituição Federal: Fonte também de outros ramos do Direito, encontrando-se no 
ápice da nossa pirâmide normativa; 
 
 Código Civil: Principal fonte do Direito Civil no que tange à extensão do conteúdo; 
 
 Legislação Civil Extravagante (ou Especial): Conjunto de normas a margem do Código 
Civil que busca regular temas associados ao Direito Civil. A título exemplificativo 
pode-se citar a Lei 8009/1990 – Lei do bem de família; 
 
O ESTUDO DO CÓDIGO CIVIL 
Um código é uma lei que condensa em si uma profusão de dispositivos de mesma natureza 
(no caso, civil) conforme critérios sistemáticos. Na análise em questão, a lei de cunho 
ordinário é a 10.406/2002; 
 
ORGANIZAÇÃO DO CÓDIGO CIVIL 
 Parte Geral: Normas gerais e abstratas sobre os elementos das relações jurídicas – 
das pessoas, dos bens jurídicos e dos fatos jurídicos (3 livros); 
 
 Parte Especial: Contém as disciplinas das relações – direito das obrigações, das 
empresas, das coisas, de família e das sucessões (5 livros). Cada um dos livros é 
dividido em títulos, capítulos e seções – podendo ainda existir subseções – sendo 
todas as partes integradas por artigos; 
 
INFLUÊNCIAS NO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO 
 Direito Romano: O primeiro ramo do direito a ser organizado sistematicamente foi o 
Direito Civil graças aos romanos. Depois de criado o Direito Civil tudo o que se fez foi 
atualizar de acordo com as necessidades da sociedade. O Direito Civil atual tem suas 
origens mais remotas no direito romano; 
 
 Código Civil francês: Do ponto de vista ideológico, espelha o ideário da revolução 
burguesa (liberdade, igualdade e fraternidade). A liberdade se expressava no âmbito 
econômico com a ausência do Estado das relações privadas, garantindo o mais amplo 
espaço para os agentes econômicos, livres de quaisquer limites. A igualdade era vista 
sob o enfoque meramente formal (todos são iguais a margem das desigualdades 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
reais); a liberdade era patrimonial. Não havia uma preocupação com os valores 
essenciais da pessoa. Nosso Código Civil de 1916 e 2002 retrata esse ideal burguês 
(patrimonialista). A maior crítica em relação ao código francês foca na sua 
organização sistemática; 
 
 Código Civil alemão: Não era tão exacerbadamente individualista e patrimonialista. 
Tinha preocupação com valores humanos, estranhos ao código francês. 
Politicamente foi resultante da unificação alemã. Houve a adoção do direito romano, 
através da recepção. Do ponto de vista jurídico, o código alemão é resultado da 
Escola Pandectista (defende que um direito ou um código só prevalecerá se resultar 
de uma profunda investigação histórica do direito). Do ponto de vista ideológico, o 
nosso Código Civil de 1916 é mais influenciado pelo francês, sendo considerado 
liberal. Do ponto de vista da organização sistemática, por outro lado, o nosso código 
reproduziu a estrutura do Código Civil da Alemanha. A legislação alemã é sintética e a 
francesa, analítica. A analítica procura prever as condutas e suas consequências 
enquanto a sintética enuncia princípios que devem regular as diversas condutas; 
Em síntese, o Código Civil da França representou uma influência maior no conteúdo 
enquanto o Código Civil da Alemanha, na questão estrutural para o nosso Código Civil. 
 
A EVOLUÇÃO DO DIREITO CIVIL NO BRASIL 
 Período Colonial: No período colonial o nosso Direito era, de fato, o Direito 
proveniente da metrópole. Vigoravam as ordenações (grandes compilações 
legislativas editadas em Portugal), um misto do direito romano e, sobretudo, do 
direito canônico; 
 
 Codificação: Clóvis Bevilaqua: Ele partiu dos trabalhos dos antecessores e, em seis 
meses, o seu projeto estava preparado, mas levou 17 anos para a sua aprovação. O 
Código Bevilaqua foi fortemente influenciado pelo direito francês. Já nasceu velho, 
anacrônico e incompatível com o momento histórico (continhaperspectivas liberais 
enquanto o mundo já caminhava para o estado de bem-estar). Do ponto de vista 
técnico não era ruim; apenas era anacrônico; 
 
 Projeto Miguel Reale: Junto com outros juristas, elaborou um anteprojeto, que, em 
1975, foi encaminhado ao Congresso Nacional. Em 1986 já estava aprovado o projeto 
quase todo. Entretanto, existia um problema: a iminência de uma nova constituição. 
Houve o temor de que fosse aprovado um Código Civil que fosse logo revogado pela 
nova CF/1988. Embora aprovado, não foi apreciado até que a nova constituição fosse 
elaborada; 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 
 Código Civil de 2002 (Lei 10.406/1990): Após aprovada a nova constituição, Miguel 
Reale foi convidado para revisar o código. Assim, ocorreram algumas alterações e 
foi aprovado em Janeiro de 2002. Também já nasceu velho. Há uma evolução, mas 
ainda é preponderantemente liberal. Essa defasagem temporal se dá em função dos 
grandes interesses envolvidos; 
 
AULA 03 – PERSONALIDADE JURÍDICA 
 
CONCLUSÃO DA INTRODUÇÃO AO DIREITO PRIVADO 
Embora seja perceptível a disseminação de boatos acerca da presença de um caráter 
socialista, a Constituição Federal vigente – promulgada em 1988 – é considerada capitalista 
e responsável por consolidar um Estado Social Democrático de Direito, tendo em vista a 
proteção concedida à propriedade privada e a asseguração da livre iniciativa. Entretanto, 
trata-se de uma forma de capitalismo que não prioriza a obtenção de lucros, mas, 
principalmente, uma forma que possui vínculo com a garantia de direitos aos cidadãos, bem 
como da consolidação da democracia. Em um Estado Social de Direito, o sistema jurídico 
inclui na constituição, além do poder político, a ordem econômico-social, tendo em vista a 
asseguração de direitos aos cidadãos e a defesa de princípios como a isonomia e da 
dignidade da pessoa humana, conforme já mencionados anteriormente. 
O Código Civil brasileiro apresenta uma conotação liberal, tendo em vista a forte influência 
exercida pelo Código Civil da França no que tange ao conteúdo. Ao longo da história, é nítida 
a busca de se interpretar o Direito Civil a luz da Constituição Federal. A resignação do gênero 
e a modificação do nome no que diz respeito à questão dos homossexuais corresponderam a 
um avanço significativo proveniente não da mudança da legislação, mas da interpretação 
dessa norma. Outra questão que pode ser ressaltada corresponde à legalização do aborto no 
caso da presença de feto anencefálico – evidenciando uma mudança interpretativa visando a 
assegurar os direitos das mulheres. Ante o exposto, pode-se falar na consolidação de um 
Direito Civil Constitucionalizado. 
Direito Civil Constitucionalizado – trata-se da aplicação do Direito Civil sob a luz e a 
orientação dos princípios constitucionais, evitando-se dicotomias. Impõe-se, nessa 
perspectiva, uma unidade hermenêutica cujo objetivo é superar a lógica da existência 
patrimonial humana pela da dignidade humana. 
OBS: O único ramo do Direito Privado que não se encontra vinculado a essa questão da 
proteção dos hipossuficientes corresponde ao Direito Empresarial – diferentemente do que 
tange ao Direito do Consumidor e ao Direito do Trabalho. 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 
O ESTUDO DO DIREITO CIVIL PROPRIAMENTE DITO 
1. Personalidade jurídica 
Personalidade jurídica é a aptidão genérica para titularizar direitos e contrair obrigações, ou 
seja, figurar como sujeito na relação jurídica. Todas as pessoas possuem essa aptidão, sejam 
físicas ou jurídicas. 
Art. 1º do Código Civil: Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. 
 Pessoas físicas ou pessoas naturais: são as pessoas propriamente ditas, dotadas de 
uma estrutura corpórea bem definida. Ex: O professor Aurisvaldo; 
 Pessoas jurídicas: são abstrações criadas por pessoas físicas tais como associações, 
empresas, entre outros. Embora não possuam uma estrutura corpórea, apresentam 
personalidade jurídica – capacidade de titularizar direitos e contrair obrigações. Ex: A 
Faculdade Baiana de Direito e Gestão; 
OBS 1: Entes despersonalizados como os nascituros, no decorrer da evolução da ciência 
jurídica, também são pessoas responsáveis por titularizar direitos. O caso envolvendo o 
comediante Rafinha Bastos ilustrou essa afirmação – tendo em vista que este teve que 
pagar indenização à compositora Wanessa Camargo e ao seu nascituro pelo comentário 
degradante que havia realizado: “comeria ela e o bebê, não tô nem aí” (violação do 
direito da honra). 
OBS 2: Toda pessoa natural possui personalidade jurídica, entretanto é incorreto que 
toda pessoa natural é também uma pessoa jurídica – tendo em vista que se tratam de 
duas classificações distintas (ou uma pessoa é classificada como física ou como jurídica). 
2. Capacidade de direito ou de gozo x Capacidade de fato ou de exercício: Todas as 
pessoas são detentoras de personalidade jurídica e, por conseguinte, de 
personalidade de gozo (caráter genérico) – isto é, a capacidade de titularizar direitos 
e contrair obrigações. Entretanto, a capacidade de fato ou de exercício corresponde à 
capacidade de exercer por si só os atos da vida civil e algumas pessoas são incapazes 
nesse quesito – como os menores de 16 anos. Vale ressaltar que o termo “incapaz” 
somente se encontra vinculado à capacidade de fato ou de exercício. 
 
3. Fenômeno da legitimação: Requisito específico exigido pela lei para que certas 
pessoas pratiquem determinados atos. Ex: São parentes por afinidade o sogro, 
a sogra, a nora, o genro e os cunhados. Com o fim do casamento ou união estável, 
extingue-se o vínculo, e com isso, o parentesco por afinidade, exceto em relação ao 
sogro ou sogra, genro ou nora, em conformidade com o artigo 1.595, parágrafo 
segundo, do Código Civil. Isso justifica o fato de que é vetado o casamento com sogro 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
(a) – mesmo com um divórcio anterior. Em síntese, algumas pessoas mesmo sendo 
capazes não podem praticar determinados atos. 
 
4. Quando começa a personalidade jurídica? 
Art. 2º do Código Civil: A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; 
mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. 
OBS: É considerado nascimento com vida aquele indivíduo que nasce com o funcionamento 
do aparelho cardiorrespiratório. Na primeira respiração, os alvéolos pulmonares se 
expandem, preenchendo-se de ar e, consequentemente, o pulmão boia em presença de água 
– daí as bases científicas para determinar se um indivíduo nasceu com vida ou não. 
 
5. Teorias que buscam explicar o Art. 2º do Código Civil e a aquisição da 
personalidade jurídica pelo nascituro 
 Natalista: De acordo com essa teoria, antes do nascimento não há personalidade 
jurídica, sendo esta obtida a partir do nascimento. O correto, segundo essa vertente, 
seria afirmar que o limite consiste na expectativa de direitos – ou seja – ciclos que se 
iniciaram mas não se concluíram. Nesse sentido, esse ciclo seria completado a partir 
do nascimento com vida, passando o ex-nascituro, agora, a ser detentor de uma 
personalidade jurídica. A título exemplificativo pode-se citar os direitos sucessórios, 
os quais os nascituros não detém. Existem diversas críticas a essa teoria devido ao 
fato de que, antes do nascimento, o indivíduo já é portador de direitos como a honra 
(relembrar o caso envolvendo Rafinha Bastos e Wanessa Camargo), além da vida e da 
alimentação gravídica. 
 
 Concepcionista: Essa teoria realiza uma ênfase no segundo fragmento do artigo – 
contrariando a primeira parte desse artigo. Nessa perspectiva, não seria o 
nascimento, mas a concepção que marcaria o início da vida da pessoa. As primeiras 
críticas realizadas a essa teoria encontram-se vinculadas aos embriões fertilizados in 
vitro (FIV). Assim, a resposta dada pelos concepcionistas foi que o marco da 
concepção seriaa nidação e não a fecundação. Outra crítica encontra-se vinculada à 
titularização dos direitos sucessórios que apresenta repercussão prática. Os 
concepcionistas admitem, em resposta, que os nascituros somente titularizam 
direitos existenciais e, por conseguinte, os direitos patrimoniais (como os 
sucessórios) não são incluídos nesses direitos. 
 
 Teoria da personalidade condicional: Essa teoria afirma que o nascituro apresenta 
personalidade jurídica, mas esta é uma condicional (o direito condicional é um direito 
subordinado a um evento futuro e incerto). Essa personalidade jurídica condicional, 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
partindo desse pressuposto, é aperfeiçoada a partir do nascimento com vida. Caso 
não nasça com vida, esse indivíduo não irá adquirir a plenitude da personalidade 
jurídica bem como dos direitos. 
 
OBS: Entre os autores clássicos, a teoria natalista era mais aceita; entre os autores 
contemporâneos, a teoria concepcionista é a predominante. 
 
6. Teorias da incapacidade de fato ou incapacidade de exercício 
 
 Teoria da incapacidade absoluta: a pessoa não apresenta discernimento (menor de 
16 anos). Se um absolutamente incapaz pratica um ato na vida civil, este é nulo 
(nulidade) – envolve a ofensa a interesses públicos. A lei trata com maior rigor os 
atos nulos em comparação com os atos anuláveis. O ato nulo pode ser declarado 
pelo juiz de forma autônoma, sem provocações. Ademais, o ato nulo não admite 
confirmação. 
 
 Teoria da incapacidade relativa: a pessoa possui discernimento, mas este não é 
suficiente para praticar, de maneira isolada (sozinho), os atos da vida civil. Se um 
relativamente incapaz pratica um ato na vida civil, este é anulável – ofensa a 
interesses privados. Um fato anulável pode ser anulado e, depois de um certo 
período, apresentar uma modificação no seu caráter – ou seja, modifica a depender 
do contexto (tempo). A título exemplificativo pode-se citar o caso da venda de uma 
joia da mãe por parte de um filho de 14 anos, que será considerado um ato nulo, 
entretanto, caso essa prática se repita aos 16 anos, poderá ocorrer uma 
reconsideração. O ato anulável, diferentemente do ato nulo, necessita de 
requerimento para ser declarado (necessita de arguição). O ato anulável admite 
convalidação (confirmação), ou seja, os relatos de agentes externos (como o pai do 
garoto de 16 anos) podem ratificar o ato, conduzindo a uma possibilidade de 
sanidade. 
 
 
AULA 04 - INCAPACIDADE ABSOLUTA X INCAPACIDADE RELATIVA 
1. Representação x assistência: 
 
1.1 – Representação legal: mecanismo pelo qual se supre a incapacidade absoluta. Na 
representação, a vontade do representante substitui a vontade do representado, de 
tal forma que apenas o representante pratica o ato. 
 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
1.2 – Assistência legal: mecanismo pelo qual se supre a incapacidade relativa. Na 
assistência, é necessário que se somem as vontades do assistente e do assistido. O 
assistido praticará o ato na companhia do assistente. 
 
Considere a situação pelo qual um filho com uma idade inferior a 18 anos herdou uma 
casa. 
 Considerando que o menor tenha 15 anos, este é absolutamente incapaz e seu (s) 
representante (s) – geralmente os genitores – assinam o contrato de forma 
autônoma (o absolutamente incapaz não realiza o ato). Vale ressaltar que caso o 
absolutamente incapaz não tiver pais ou estes não exercerem tal papel, ocorre a 
nomeação judicial de um tutor – que geralmente consiste em um familiar próximo. 
 
 Caso o menor tenha 16 anos, ele e seu assistente devem assinar o contrato – pois 
caso somente um destes venha a assinar, o ato será declarado nulo. Nesse sentido, 
deve ocorrer a soma entre as vontades do assistente e do assistido. Vale ressaltar 
que caso o indivíduo seja declarado relativamente incapaz por outra questão distinta 
da idade, ocorre a nomeação jurídica de um curador para prestar a assistência; 
 
2. Casos de incapacidade absoluta – Art. 3° do Código Civil: 
A Lei N° 13.146 de 6 de julho de 2015, denominada Estatuto da Pessoa com Deficiência, 
promoveu uma profunda mudança no sistema das incapacidades, alterando 
substancialmente a redação dos arts. 3° e 4° do Código Civil. 
Art 3° do Código Civil: “São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da 
vida civil os menores de 16 (dezesseis anos)”. 
 
3. Casos de incapacidade relativa – Art. 4° do Código Civil: 
 
 Os maiores de 16 e menores de 18 anos; 
 Ébrios habituais e os viciados em tóxico – viciados em álcool e substâncias químicas 
(como entorpecentes); 
 Aqueles que em trânsito ou em estado permanente não podem exprimir a sua 
vontade – como pessoas em estado de coma (perda da consciência) ou pessoas 
surdas e/ou mudas que não conseguem se comunicar; 
 
 Pródigos – aqueles que gastam desordenadamente, de forma a colocar em risco o 
patrimônio (como os jogadores de jogos de azar). O pródigo fica interditado somente 
de praticar atos que encontram-se vinculados à perda de patrimônio; 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Antes de 6 de julho de 2015, para o caso das pessoas com deficiência mental, o tipo de 
incapacidade dependeria do grau de comprometimento do seu discernimento, sendo os 
casos mais graves (como portadores da Síndrome de Down) inseridos na incapacidade 
absoluta. Conforme já mencionado anteriormente, a Lei N° 13.146 de 6 de julho de 2015, 
denominada Estatuto da Pessoa com Deficiência, promoveu mudanças significativas. Daí em 
diante, os portadores de alguma deficiência mental são considerados capazes de praticar, 
sobretudo, atos que tenham natureza existencial (como o casamento) – Art. 84 do Estatuto 
da Pessoa com Deficiência: A pessoa com deficiência tem assegurado o direito ao exercício 
de sua capacidade legal em igualdade de condições com as demais pessoas. 
Em casos excepcionais (como um caso de Alzheimer muito avançado) – que precisam ser 
fundamentadas juridicamente -, a pessoa com deficiência mental encontra-se inerente à 
curatela, contudo essa curatela se restringirá aos atos de caráter patrimonial e negocial. Art 
85 § 2º - Estatuto da Pessoa com Deficiência - A curatela constitui medida extraordinária, 
devendo constar da sentença as razões e motivações de sua definição, preservados os 
interesses do curatelado. 
OBS: A velhice propriamente ou idade muito avançada não são condições de incapacidade, 
entretanto, questões inerentes à velhice como a tendência à manifestação de um quadro 
grave de Alzheimer pode conduzir a uma condição de incapacidade relativa. A ausência 
também não é considerada uma questão de incapacidade. 
 
4. A capacidade do índio ou silvícola 
Índio ou silvícola : Art 4º do Código Civil - Parágrafo único: A capacidade dos indígenas será 
regulada por legislação especial – Lei nº 6001/73 (Estatuto do Índio). 
Vale ressaltar que é considerado indígena aquele que é descendente de índio e que é 
identificado como pertencente a um determinado grupo étnico distinto da sociedade 
nacional (cultura não indígena), conservando, assim, a sua cultura ancestral. Em síntese, a 
pessoa precisa ser etnicamente e culturalmente indígena. 
Classificação: 
4.1 - Isolados: completamente distantes da nossa cultura; 
 
4.2 – Em vias de integração: parcialmente integrado à nossa cultura, mas que conserva, 
de forma predominante, a sua cultura; 
 
4.3 – Integrados: aqueles dominam a cultura não indígena e que estão lutando 
constantemente por seus direitos civis; 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Art 8 – Estatuto do Índio - “São considerados nulos os atos praticados entre índios não 
integrados e qualquer pessoa estranha à comunidade indígena quando não tenha havido 
assistência do órgão tutelar competente”. Esse órgão tutelar corresponde à FUNAI. 
Os índios em integração podem praticar atos da vida civil com pessoas estranhas à 
comunidade indígena e sem tutela;Caso esteja ciente do ato cometido e este não lhe traga prejuízo, o ato não é considerado 
nulo; 
 
AULAS 05, 06 E 07 – EMANCIPAÇÃO, MORTE E AUSÊNCIA 
Emancipado: aquele que com menos de 18 anos tornou-se absolutamente capaz. Vale 
ressaltar que a emancipação somente permite ao indivíduo a prática de atos da vida civil – 
sendo vedada a culpabilidade penal, a direção de veículos automotores, entre outros 
aspectos. 
1. Emancipação: 
1.1 – Espécies: 
1.1.1 – Voluntária: é aquela concedida pelos pais aos filhos através de escritura pública a 
partir dos 16 anos. Essa emancipação deve ser aprovada por ambos genitores ou somente 
por um no caso da ausência do outro. Na hipótese de conflito entre as partes, a decisão da 
emancipação cabe ao juiz. Em uma situação normal, esse tipo de emancipação ocorre de 
forma independente de intervenção judicial. 
Essa escritura pública é conduzida ao cartório onde o menor é registrado e, posteriormente, 
é emitida uma nova via da certidão de nascimento com a averbação que torna o menor 
emancipado. Uma vez emancipado, não é possível reverter essa condição. 
1.1.2 – Judicial: é aquela concedida pelo juiz mediante sentença quando o menor estiver sob 
tutela, tendo em vista que o tutor não pode emancipar o menor. Essa sentença é averbada 
no registro de nascimento do menor. 
1.1.3 – Legal: é aquela decorrente de fatos que a lei considera por si sós capazes de 
antecipar a aquisição da plenitude da capacidade civil: 
 Casamento: a lei considera que a pessoa casada é capaz de praticar atos da vida civil. 
A cessação do casamento por divórcio não implica no retorno à condição de 
incapacidade. Entretanto, aquele que atuou de má fé terá a emancipação anulada, 
voltando ao estado de incapacidade. 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
No caso de casamento putativo (aquele casamento realizado no qual os indivíduos não 
possuem consciência da nulidade do casamento), tem que se verificar a boa fé dos 
envolvidos (como no caso de indivíduos que se casaram sem a consciência de que eram 
irmãos) a fim da concessão da emancipação. 
 
 Exercício de emprego público efetivo: geralmente exige-se a idade mínima de 18 
anos para a prestação de concurso público. O emprego tem de ser efetivo, não se 
aceitando, por conseguinte, a função de cargo de emprego temporário como critério 
para emancipação. Ademais, vale ressaltar que a exoneração do cargo não implica no 
retorno à condição de incapacidade; 
 
 Colação de grau em curso de ensino superior: embora seja extremamente raro, 
tendo em vista que a colação de grau representa o término do curso, o processo de 
emancipação é possível para aqueles considerados superdotados; 
 
 Estabelecimento civil ou comercial, ou a existência de relação de emprego: é 
possível a emancipação baseada nesse critério desde que, em função deles, o menor 
com dezesseis anos completos tenha economia própria – ou seja – o indivíduo exerce 
uma atividade comercial que provê sustento de forma independente. 
 
2. A morte: 
 
2.1 - Extinção da personalidade jurídica: há uma visão doutrinária preponderante de que a 
morte extingue a personalidade jurídica. Além disso, há a extinção do casamento (quem 
passa a ser cônjuge torna-se viúvo/ viúva), abre-se a sucessão (os herdeiros são chamados a 
suceder) e extingue-se os contratos personalíssimos (aqueles nos quais apenas uma única 
pessoa pode contrair determinadas obrigações) 
Quando é determinada a morte?: Esse é um debate de extrema relevância para o âmbito 
jurídico. Atualmente, considera-se que, para efeitos civis, a morte ocorre no momento da 
cessação da atividade cerebral. 
2.2 - Comoriência: é presunção de morte simultânea, ou seja, de pessoas que morreram na 
mesma ocasião, sem que se consiga determinar a sequência das mortes. A título 
exemplificativo pode-se citar o acidente aéreo envolvendo um avião da Gol em 2006 – que 
culminou no óbito de 154 pessoas. Caso for possível definir a ordem por qualquer que seja o 
meio (perícia, testemunha), não será usado o instituto da comoriência; 
2.3 – Morte civil: consiste no ato de considerar morto alguém que continua vivo. Essa 
perspectiva era mais comum no passado histórico, como, por exemplo, em casos de penas 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
de banimento. Essa morte civil trazia as mesmas consequências da morte física (extinção da 
personalidade jurídica, extinção do casamento, abertura de sucessões e extinção dos 
contratos personalíssimos). Alguns doutrinadores defendem a manutenção de vestígios de 
morte civil na contemporaneidade como a exclusão da sucessão por indignidade (quando o 
herdeiro atenta contra a vida do autor da herança); 
2.4 – Morte presumida: consiste no ato de considerar morto um indivíduo cuja morte é 
provável, mas não pode ser comprovada. A título exemplificativo pode-se citar o caso 
envolvendo o desaparecimento da irmã do lutador Victor Belfort – Priscila Belfort - que 
desaparecida por 17 anos, é provável que tenha sido morta por traficantes no Morro da 
Providência mas essa suposição nunca foi comprovada. A morte presumida é matéria dos 
Arts. 6º e 7º do Código Civil. Vale ressaltar que a morte presumida provoca os mesmos 
efeitos da morte propriamente dita (comprovada): extinção do casamento, abertura das 
sucessões, extinção dos contratos personalíssimos... 
 
A primeira hipótese de morte presumida é matéria do Art. 6º do Código Civil – a ausência: 
Art. 6º do CC: A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto 
aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva. 
OBS: O ausente seria aquele que não se encontra em uma condição de risco e que 
simplesmente desaparece, não deixando informações acerca do seu paradeiro. 
 
 
Art. 7º do CC: Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência: 
 
I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida 
A morte presumida, nesse cenário, é decretada logo após o encerramento das investigações. 
A título exemplificativo, pode-se citar um indivíduo desaparecido nos escombros do 
rompimento de uma barragem em Brumadinho-MG; 
 
Art. 7º do CC: Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência: 
 
II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois 
anos após o término da guerra. 
Essa corresponde a uma matéria específica de campanha militar 
Art. 7º do CC: 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser 
requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data 
provável do falecimento. 
 
OBS: Em relação aos efeitos matrimoniais, a morte presumida extingue o casamento. 
Entretanto, não há matéria no Código Civil destinada ao retorno do indivíduo dito como 
morto, mas o pensamento doutrinário majoritário defende a manutenção da extinção do 
casamento (pois o viúvo/ a viúva presumida pode casar novamente, por exemplo). 
3. A curatela do ausente: 
 
 No caso da ausência, é necessária a declaração da ausência, porém não há nenhuma 
norma que fixe prazo para a declaração da ausência; 
 
 A declaração da ausência ocorre através de uma análise casuística acerca da 
necessidade de administração do patrimônio do ausente. Dessa forma, é feita a 
arrecadação (levantamento dos bens), decretada a ausência e nomeado um 
curador – responsável apenas por administrar o patrimônio do ausente e não pode 
apropriar-se do patrimônio que administra. O curador deve, constantemente, prestar 
contas ao judiciário e se encontra fiscalizado pelo Ministério Público; 
 
 
 A ordem de preferência da ocupação do cargo de curador segue: cônjuge, pais, 
descendentes (dos mais próximos até os mais remotos – filhos com prioridade em 
relação aos netos); 
 
 Não é declarada ausência quando o suposto ausente deixa um procuradorpara 
administrar os seus bens. Entretanto será declarada a ausência, caso esse procurador 
não demonstre interesse, esteja impossibilitado de exercer essa função ou a 
procuração outorgada pelo suposto ausente não conceda poderes suficientes ao 
procurador; 
 
4. Sucessão provisória: 
4.1 – Quando é declarada: É declarada através de uma sentença que se pressupõe a um 
requerimento. A sucessão provisória pode ser requerida 1 ano após a arrecadação dos bens 
se o ausente não deixou procurador ou representante ou 3 anos após a caracterização da 
ausência se o ausente deixou procurar ou representante. 
Os herdeiros são chamados a suceder e os credores habilitam seus créditos para receber o 
que têm direito. 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
4.2 – Nomenclatura: Essa sucessão é dita provisória pelo fato de que os herdeiros 
provisórios detém a posse provisória dos bens do ausente e não a propriedade. Somente se 
não for possível a conservação dos bens, ou seja, para evitar a ruína, poder-se-á 
judicialmente autorizar a apropriação dos bens por parte dos herdeiros provisórios (Art. 31 
do CC) 
Art. 31. Os imóveis do ausente só se poderão alienar, não sendo por desapropriação, ou 
hipotecar, quando o ordene o juiz, para lhes evitar a ruína. 
 
4.3 – O retorno do ausente: Os bens devem ser conservados da mesma forma que foram 
deixados pelo ausente. Caso ocorra alguma deterioração e retornado o ausente, deve 
ocorrer o pagamento de uma indenização por parte do herdeiro. 
Caso o herdeiro que não seja cônjuge, ascendente ou descendente (como, por exemplo, um 
sobrinho) - este deve conceder um bem como garantia – pois, no caso do retorno do 
ausente e o herdeiro se recusar a indenizá-lo, essa garantia será utilizada para o 
ressarcimento do dano. 
 
4.4 - No caso dos bens deixados pelo ausente produzirem frutos e rendimentos: 
 Se o herdeiro for cônjuge, ascendente ou descendente, esse se apropria da 
integralidade dos frutos e rendimentos; 
 
 Se o herdeiro não for cônjuge, ascendente ou descendente (como um sobrinho, por 
exemplo), esse se apropria da metade dos frutos e rendimentos. A outra metade é 
investida a favor do ausente, ou seja, depositada em uma conta aguardando o 
retorno do ausente; 
 
 Aquele herdeiro que não for cônjuge, ascendente ou descendente e não prestou 
garantia, todo o rendimento é capitalizado em favor do ausente. Caso consiga 
comprovar que estava impossibilitado de prestar garantia, esse receberá a sua parte 
na herança; 
 
 No caso de ausência voluntária e esta for comprovada, o ausente perde a 
integralidade dos rendimentos da herança; 
 
5. Sucessão definitiva: 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
5.1 – Quando ocorre: Dez anos passados a sentença que determinou a abertura da sucessão 
provisória irrecorrível. 
Art. 37 do CC: Dez anos depois de passada em julgado a sentença que concede a abertura da 
sucessão provisória, poderão os interessados requerer a sucessão definitiva e o 
levantamento das cauções prestadas. 
 
OBS: Caso o ausente tenha pelo menos 80 anos e, após cinco anos de ausência de notícias a 
seu respeito, é possível a declaração da morte presumida do ausente e a declaração da 
sucessão definitiva. 
 
5.2 – O que caracteriza a sucessão definitiva: 
 Os herdeiros passam a ter a propriedade dos bens do ausente, podendo fazer o que 
quiserem com esses bens sem autorização judicial; 
 Essa propriedade é dita resolúvel, ou seja, uma propriedade que pode ser extinta; 
 
5.3 – O retorno do ausente no caso de sucessão definitiva: 
 Caso o ausente retorne antes de dez anos completos da abertura da sucessão 
definitiva, ele receberá os bens no estado em que esses estiverem (e não no estado 
que ele havia deixado); 
 
 Caso o herdeiro tiver vendido os bens e comprado outros, o ausente, ao retornar, 
receberá os sub-rogados, ou seja, o valor do bem vendido ou o bem que foi adquirido 
através desse dinheiro; 
 
 Caso o herdeiro retornar dez anos após aberta a sucessão definitiva, ele não receberá 
absolutamente nada; 
 
 
AULA 09 – INDIVIDUALIZAÇÃO DA PESSOA NATURAL 
1. Nome da pessoa natural 
 
1.1 – Conceito: É a designação pela qual a pessoa se identifica no seio da família e da 
sociedade (nome complemento do indivíduo – ex: Aurisvaldo Melo Sampaio); 
 
1.2 – Natureza jurídica (teorias aplicáveis): 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 
1.2.1 – Direito de propriedade: Somos proprietários dos nossos nomes, assim 
como somos donos dos nossos objetos. Essa teoria não é bem aceita no 
Brasil tendo em vista que a propriedade é tida como algo disponível para 
troca e descartável, já o nosso nome é indisponível/relativamente 
indisponível; 
 
1.2.2 – Direito sui generis: Mera decorrência da necessidade de identificação 
das pessoas. Essa teoria não é bem aceita no Brasil pois o nome não se 
limite à mera identificação, possuindo outras funcionalidades como a 
necessidade de defesa ao nome; 
 
1.2.3 – Direito de personalidade: Recai sobre os requisitos físicos, psíquicos e 
morais de uma determinada pessoa (direito à honra, integridade física e 
etc ), correspondendo à teoria mais bem aceita no Brasil; 
 
1.3 – Elementos constitutivos do nome: 
 
1.3.1 – Prenome: Parte inicial do nome – podendo ser simples ou composta. O 
prenome dos filhos é estabelecido pelos pais. Os pais devem observar 
alguns limites: não podem colocar um prenome que exponha o filho ao 
ridículo; os prenomes de irmãos não podem ser idênticos; e os prenomes 
devem ser gravados observando-se as regras ortográficas da Língua 
Portuguesa (ressalvado os prenomes estrangeiros com grafia consagrada 
como Washington); 
 
1.3.2 – Patronímico ou sobrenome: Parte do nome que indica a ancestralidade 
da pessoa. O patronímico pode indicar exclusivamente a ancestralidade 
materna, a ancestralidade paterna ou a ancestralidade de ambos. O 
patronímico pode conter uma partícula que não provém de nenhum dos 
dois genitores, mas essa deve apresentar uma partícula de um outro 
ancestral (Ex: o pai de Aurisvaldo apresentava o sobrenome Pedreira e 
Aurisvaldo, não. Os filhos de Aurisvaldo podem apresentar o patronímico 
Pedreira). Os doutrinadores consideram o termo patronímico como o 
mais plausível devido à etimologia da palavra sobrenome (algo acima do 
nome); 
 
1.4 – Distinções necessárias: 
 
1.4.1 – Cognome: É a forma pela qual alguém é popularmente conhecido (no 
ambiente familiar, por exemplo). Ex: Rafael  Rafa. Vale ressaltar que 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Rafa também pode ser considerado hipocorístico, ou seja, uma redução 
do próprio prenome (Rafael – el = Rafa); 
 
1.4.2 – Agnome: Partícula utilizada para distinguir pessoas da mesma família 
que apresentam os mesmos nomes. Ex: Júnior, Neto, Filho, Sobrinho, 
entre outros. Vale ressaltar que nas referências de um trabalho que segue 
as normas da ABNT, por exemplo, os agnomes não aparecem primeiro, 
mas sim o sobrenome (Ex: Nelson Nery Júnior  NERY Júnior, Nelson); 
 
1.4.3 – Apelido: O apelido pode apresentar dois sentidos – o de cognome ou o 
de sobrenome – podendo ser corretamente utilizado nesses dois sentidos; 
 
1.4.4 – Pseudônimo: Trata-se do nome utilizado por alguém para o exercício de 
determinada atividade, podendo corresponder ao cognome ou não. A 
título exemplificativo pode-se citar alguns pseudônimos adotados por 
artistas como o cantor Zé Zé Di Camargo (pseudônimo de Mirosmar); 
 
1.5 – Imutabilidade do prenome: Como regra, o prenome da pessoa física, em prol da 
segurança jurídica, não pode ser alterado salvo determinadas exceções. Em 
síntese, o prenome não pode ser alterado por motivos fúteis, sendo necessário, 
nesse cenário, discorrer sobre os casos excepcionais anteriormente citados: 
 
1.5.1 – Evidente erro gráfico (prevista na Lei de Registros Públicos); 
 
1.5.2 – Exposição ao ridículo do seu portador (prevista na Lei de RegistrosPúblicos); 
 
1.5.3 – Substituição (ou adição) por cognomes públicos e notórios – como Luís 
Inácio Lula da Silva – caso de adição (prevista na Lei de Registros Públicos); 
 
1.5.4 – Coação ou ameaça decorrente da colaboração com a apuração de crime 
– vale ressaltar que terminada a fase de correr o risco de que corria, a 
pessoa física pode solicitar o retorno do nome original (prevista na Lei de 
Proteção à Testemunha); 
 
1.5.5 – Pela tradução de nomes estrangeiros (hipótese admitida pela 
jurisprudência); 
 
1.5.6 – Em caso de adoção – apresenta cunho facultativo, tendo a finalidade de 
se propiciar a integração familiar (prevista no ECA); 
 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
1.5.7 – Pelo interessado no primeiro ano após atingido a maioridade, desde que 
não prejudique os apelidos de família (prevista na Lei de Registros 
Públicos); 
 
1.5.8 – Em caso de homonímia que cause confusões e prejuízos – por exemplo, 
no caso de um indivíduo que apresente o nome de um criminoso como 
homônimo (hipótese admitida pela jurisprudência); 
 
1.5.9 – Transexualidade – adoção do nome social (prevista no Código Civil de 
2002); 
 
1.6 – Imutabilidade do sobrenome: A legislação é mais rígida com o prenome, 
entretanto, a alteração do sobrenome somente é admitida a partir de 
determinadas exceções: 
 
1.6.1 – Adição de sobrenomes de ascendentes; 
 
1.6.2 – Casamento; 
 
1.6.3 – Adoção – diferentemente do caráter facultativo no que tange o 
prenome, após a adoção há a obrigatoriedade do sobrenome ser alterado; 
 
1.6.4 – Reconhecimento do filho (facultativa); 
 
1.6.5 – Separação judicial; 
 
1.6.6 – Divórcio; 
 
1.6.7 – Caso de abandono material; 
 
1.7 – Tutela jurídica do nome: Todas as pessoas possuem direito a um nome 
integrado de prenome e sobrenome; 
 
2. Estado da Pessoa Natural 
 
2.1 – Conceito: Estado, em direito privado, é a noção técnica destinada a caracterizar 
a posição jurídica da pessoa no meio social. Os romanos adotaram três principais 
critérios para caracterizar a posição jurídica da pessoa no meio social – o estado 
civitatis, o estado familiae e o estado libertatis. 
 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
2.2 – Espécies: 
 
2.2.1 – Estado político: A pessoa pode ser brasileira ou estrangeira. Caso 
brasileiro, pode ser brasileiro nato ou naturalizado. O estado político é 
matéria que, embora interesse ao Direito Civil, constitui objeto de estudo 
do Direito Constitucional; 
 
 
2.2.2 – Estado familiar: 
 
2.2.2.1 – Sob o prisma matrimonial: 
 
 Casada; 
 Solteira; 
 Viúva; 
 Divorciada; 
 Judicialmente separada; 
 
OBS: A parcela majoritária dos doutrinadores desconsidera a união estável na 
classificação exposta acima; 
 
OBS: A separação judicial, embora rara nos dias atuais, é possível de acontecer 
em casos envolvendo indivíduos cuja religião proíbe o divórcio; 
 
2.2.2.2 – Sob o prisma do parentesco: 
 
 Consanguíneos em linha reta – ascendente (o pai é ascendente do 
filho) ou descendente (o filho é descendente do pai); 
 Consanguíneos em linha colateral ou transversal - pessoas que 
procedem uma relação entre si, mas não se encontram na relação de 
ascendente e descendente (tios, sobrinhos, irmãos...); 
 Afins em linha reta - ascendente (o sogro é ascendente por afinidade 
em linha reta da nora) ou descendente (a nora é descendente por 
afinidade em linha reta do sogro); 
 Afins em linha colateral ou transversal – o único afim em linha 
colateral é cunhado, ou seja, a (o) irmã (o) do (a) esposo (a); 
OBS: A afinidade em linha reta não acaba com o fim do casamento. 
2.2.3 – Estado individual - aspectos: 
 
 Da idade; 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 Do sexo; 
 Da saúde; 
 
2.3 – Características do estado da pessoa natural: 
 
2.3.1 – Indisponibilidade: O estado da pessoa natural não pode ser transmitido 
para um terceiro nem ser renunciado; 
 
2.3.2 – Indivisibilidade: Ninguém pode ostentar, ao mesmo tempo, estados 
contraditórios (ostentação do estado de solteiro e casado ao mesmo 
tempo) com exceção da dupla-nacionalidade; 
 
2.3.3 – Imprescritibilidade: Não se perde o estado com o decorrer do passar do 
tempo; 
 
2.4 – Ações de estado: Buscam modificar o estado da pessoa natural (como a ação do 
teste de paternidade – visa a criar o laço de filiação). Essas ações são 
imprescritíveis e somente podem ser intentadas pelo legítimo interessado e 
exigem o acompanhamento do Ministério Público devido à relevância jurídica do 
estado da pessoa; 
 
 
AULA 10 – PESSOA JURÍDICA 
1. Conceito: Pessoa jurídica é o grupo humano ou acervo patrimonial, criado na forma 
da lei, dotado de personalidade jurídica própria, para a realização de fins 
determinados. 
 
Nessa perspectiva, é necessário, conforme dito no conceito apresentado, que os 
integrantes da pessoa jurídica determinem a sua finalidade. 
 
A fundação corresponde à única hipótese que apresenta o aspecto patrimonial como 
substancial. 
 
O princípio da autonomia patrimonial é decorrente da personalização da pessoa 
jurídica. Nesse sentido, a pessoa jurídica apresenta direitos e obrigações distintas 
daquelas pessoas que a integram. Os integrantes, na maioria das situações, não 
podem ser responsabilizados por obrigações da pessoa jurídica (salvo a exceção 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
prevista no Art. 50 do Código Civil) – isso garante segurança jurídica a esses 
integrantes. 
 
2. Natureza jurídica: 
 
2.1 – Teorias negativistas: Teorias emergentes durante o século XIX e que não 
acreditam na personalidade jurídica da pessoa jurídica. Essas teorias perderam 
credibilidade ao longo da história, sendo gradualmente substituídas pelas teorias 
afirmativistas; 
 
2.1.1 – Patrimônio destinado a um fim; 
 
2.1.2 – Propriedade coletiva (como hoje são os condomínios); 
 
2.1.3 – Teoria da mera aparência (as pessoas jurídicas aparentavam ter 
personalidade jurídica, mas eram os sócios que de fato possuíam); 
 
2.2 – Teorias afirmativistas: Teorias que acreditam na personalidade jurídica da 
pessoa jurídica; 
 
2.2.1 – Teoria da ficção: Acredita que o Direito concede a existência da 
personalidade jurídica da pessoa jurídica (não haveria personalidade 
jurídica caso o Direito não concedesse a sua existência); 
 
2.2.2 – Teoria da realidade objetiva: Defende que a pessoa jurídica tem 
existência real (e não uma mera abstração), porém somente no plano 
social e não físico; 
 
2.2.3 – Teoria da realidade técnica: A existência da personalidade jurídica da 
pessoa jurídica é real no plano social. Ademais, o Direito é o responsável 
pela atribuição da personalidade jurídica à pessoa jurídica; 
Dispositivo do CC aplicável – Art. 45: Começa a existência legal das pessoas jurídicas 
do direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, 
procedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, 
averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo. 
A compreensão ocorre meramente para fins teóricos. Autores distintos, lendo o 
referido artigo, chegam a diferentes conclusões – para uns prevalece a teoria da 
realidade objetiva, para outros, a teoria da realidade técnica. 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Onde a pessoa jurídica será registrada dependerá de sua natureza: sociedade (na 
junta mercantil) ou associação (no registro civil de pessoas jurídicas). O registro da 
pessoa jurídica é de cunho obrigatório. Para o registro da pessoa natural, o registro é 
meramente declaratório, enquanto que para a pessoa jurídica, o registro é 
constitutivo (ou seja, é o registro que atribui personalidade jurídica à pessoa jurídica). 
 
O ato constitutivo pode ser alterado ao longo do tempo (alteração da finalidade ou 
alteração da composição societária, etc...). Caso ocorra uma alteração, é necessário 
que se averbe, ou seja, registretodas as alterações ocorridas. 
 
3. Pressupostos da existência da pessoa jurídica: 
 
3.1 – Vontade humana criadora: Os criadores, humanos, devem manifestar a vontade 
de criar a pessoa jurídica; 
 
3.2 – Observância das condições legais para a sua instituição: Observação da devida 
legislação para funcionamento de determinados espaços. A título exemplificativo 
pode-se citar que um restaurante precisa de dedetização para o seu 
funcionamento; 
 
3.3 – Licitude do seu objeto: A finalidade da pessoa jurídica deve respeitar o conceito 
de licitude estatal. Caso comprovada, posteriormente, a ilicitude do objeto, pode 
ocorrer uma desconstitucionalização – como o ocorrido com algumas torcidas 
organizadas de futebol em São Paulo; 
 
4. Sociedade irregular ou de fato: Trata-se de um grupo de pessoas que atuam de forma 
independente de qualquer registro. Do ponto de vista teórico, é possível distinguir a 
sociedade irregular da sociedade de fato. A sociedade de fato é aquela que existe 
independentemente de qualquer documento representativo da sua existência, 
enquanto a sociedade irregular apresenta documento representativo da sua 
existência, entretanto, esse documento não é registrado. 
 
Esse debate é somente teórico, pois ambos não apresentam autonomia patrimonial 
por não apresentarem personalidade jurídica. 
 
OBS: Responsabilidade solidária x responsabilidade subsidiária - Na responsabilidade 
solidária não há benefício de ordem, ou seja, o credor pode exigir o pagamento a 
qualquer devedor. Na responsabilidade subsidiária, há o benefício de ordem. Nesse 
sentido, somente após a não satisfação do crédito e o esgotamento do patrimônio do 
devedor principal, pode-se cobrar aos demais devedores. 
 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 
5. Entes despersonalizados ou entes com personalização anômala: 
 
5.1 – A massa falida: É o ente despersonalizado formado a partir dos bens que 
integravam o patrimônio do falido quando é decretada a falência de alguém. Essa 
massa falida é administrada pelo síndico da massa falida; 
 
5.2 – A herança jacente: É o ente despersonalizado formado pelo patrimônio de 
alguém que morre sem deixar herdeiros conhecidos; 
 
5.3 – A herança vacante: Caso os herdeiros de uma herança jacente não sejam 
localizados, essa herança se converte em uma herança vacante – sendo passada, 
portanto, ao Estado; 
 
5.4 – O espólio: É o ente despersonalizado formado pelo patrimônio de alguém que 
morre deixando herdeiros conhecidos. Dessa forma, o acervo de bens deixado 
por essas pessoas passa a constituir um ente despersonalizado denominado de 
espólio. Esse espólio é representado pelo inventariante nomeado judicialmente 
para administrar esse ente despersonalizado. 
 
5.5 – O condomínio: É o ente despersonalizado representado pelo síndico; 
 
6. Capacidade da pessoa jurídica: Toda pessoa jurídica é capaz, tendo em vista que a 
incapacidade (seja absoluta ou relativa) somente se associa à pessoa natural. Apesar 
disso, nem todos os atos da vida civil podem ser praticados por uma pessoa jurídica 
(como casar, adotar, ser testemunha em um processo, entre outros). Assim, pode-se 
falar em uma capacidade jurídica especial porque é limitada pela lei (a lei proíbe a 
adoção realizada por pessoas jurídicas), pelo seu ato constitutivo (a pessoa jurídica 
somente pode praticar atos compatíveis com a sua finalidade) e pela sua condição de 
existência sem existência física (a pessoa jurídica não pode testemunhar porque não 
viu coisa alguma). 
 
 
7. Representação da pessoa jurídica: 
Há uma discussão terminológica nessa seara. Alguns autores admitem que o termo 
correto deveria ser presentação, ou seja, a pessoa jurídica se faz presente através de 
alguém que materializa essa presença. O próprio ato da pessoa jurídica dirá quem a 
quem é delegada a sua representação (a sociedade ... será representada por seus sócios 
...). Se o próprio ato da pessoa jurídica não expor os representantes, as decisões serão 
tomadas pelos diretores e, posteriormente, caso necessário, pela maioria dos membros. 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 
8. Classificação das pessoas jurídicas de direito público: 
 
 
8.1 - Externa: 
 
Estados estrangeiros; 
 
8.2 - Interna: 
 
8.2.1 – União; 
 
8.2.2 – Estados, Distrito Federal e Territórios; 
 
8.2.3 – Municípios; 
 
8.2.4 – Autarquias (entidade com autonomia econômica, técnica e 
administrativa, embora fiscalizada e tutelada pelo Estado – como o 
DETRAN); 
 
8.2.5 – As demais entidades de caráter público criadas por lei; 
 
9. Classificação das pessoas jurídicas de direito privado: 
 
9.1 – Associações; 
 
9.2 – Sociedades; 
 
9.3 – Fundações; 
 
9.4 – Organizações religiosas; 
 
9.5 – Partidos políticos; 
 
9.6 – Empresa individual de responsabilidade limitada; 
 
 
 
AULA 11 – ASSOCIAÇÕES E FUNDAÇÕES 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 
1. Associação: 
 
1.1 – Conceito: Trata-se de uma pessoa jurídica formada a partir de um grupo de 
pessoas que se unem sem objetivar fins econômicos, ou seja, os seus integrantes 
não visam ao lucro. A título exemplificativo pode-se citar o Clube Bahiano de 
Tênis, tendo em vista que os valores pagos pelos sócios apenas são utilizados 
para a manutenção das atividades do clube, ou seja, da própria associação. 
 
Nessa perspectiva, as associações podem exercer atividades econômicas a fim de 
dar sustentabilidade às suas atividades, mas não podem apresentar lucro como 
finalidade. 
Art. 53 do CC: Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem 
para fins não econômicos. 
Parágrafo único. Não há, entre os associados, direitos e obrigações recíprocos. 
Conforme previsto no Art. 981 do Código Civil, as associações distinguem-se das 
sociedades devido à finalidade econômica inerente às segundas: 
Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam 
a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a 
partilha, entre si, dos resultados. 
 
Parágrafo único. A atividade pode restringir-se à realização de um ou mais negócios 
determinado 
 
 
1.2 – Finalidade: As associações podem ter diversas finalidades não lucrativas, desde 
que sejam desenvolvidas atividades lícitas – podendo ser consideradas 
associações as escolas, os institutos de tratamento de câncer, os clubes 
esportivos, as organizações sindicais, fornecedoras de alimentos a pessoas 
carentes, entre outras. 
OBS: Apesar de, na teoria, as associações estarem impedidas de visarem ao lucro, 
existem, na realidade, as chamadas “associações de fachada”, ou seja, associações 
que almejam a fins econômicos – como instituições de ensino que buscam concentrar 
riquezas nas mãos de uma minoria privilegiada. Nesse sentido, algumas pessoas se 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
associam, mas, na verdade, constituem verdadeiras sociedades. Destarte, os 
associados podem ser responsabilizados pela ocorrência de desvio de finalidade. 
 
1.3 – Ato constitutivo: O ato constitutivo das associações é denominado estatuto. O 
estatuto da associação deve ser registrado no Registro Civil de Pessoas Jurídicas. 
Ademais, o estatuto deve minimamente: 
 
 Conter a denominação da associação; 
 
 Conter os fins da associação; 
 
 Conter a sede da associação; 
 
 Conter requisitos de admissão (para ingressar na associação), demissão 
(mas o estatuto não pode dificultar a saída de alguém da associação) e 
exclusão (saída compulsória) dos associados. O Art. 5º da Constituição 
Federal de 1988, em seu inciso XX, prevê a liberdade de associação: 
“ninguém poderá ser compelido associar-se ou a permanecer associado” 
 
 Assegurar o direito ao contraditório e à ampla defesa para os associados, 
sendo vedada, portanto, a exclusão arbitrária; 
 
 Prever os direitos e deveres dos associados (comparecimento em 
assembleias,frequentar instalações, pagamentos, etc...); 
 
 Prever as fontes de recurso para a manutenção da associação (doações 
voluntárias, receitas de convênios, etc...); 
 
 Prever o modo de constituição e de funcionamento dos órgãos 
deliberativos, ou seja, a estrutura interna da associação. A legislação 
concede liberdade para a associação se organizar, mas a estrutura deve 
estar contida no estatuto da associação – sendo a Assembleia Geral o 
órgão deliberativo máximo (competência privativa de destituir 
funcionários e alterar o estatuto) e a única determinação imposta pela 
legislação; 
 
 Prever as condições para a alteração do estatuto; 
 
 Prever a forma de gestão administrativa e gestão das contas; 
 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
OBS: A condição de associado não pode ser transmitida; 
 
1.4 – Dissolução da associação: 
 
 Há o pagamento aos credores; 
 Os títulos patrimoniais são ressarcidos; 
 
 A Assembleia Geral pode deliberar a restituição das contribuições dos 
associados; 
 
 O estatuto prevê às quais as entidades de fins não econômicos o 
patrimônio da associação dissolvida será destinada. Caso essa previsão 
não ocorra no estatuto, a Assembleia Geral pode decidir qual o destino do 
patrimônio; 
 
 Havendo patrimônio permanecente, este irá para a Fazenda do Estado, do 
Distrito Federal ou da União; 
 
 
2. Fundações (de direito privado): 
 
2.1 - Conceito: Consiste em um acervo patrimonial dotado de personalidade jurídica 
para a realização de fins determinados. Esse patrimônio deve ser suficiente para 
perseguir os fins pretendidos pela fundação. A título exemplificativo pode-se citar 
as fundações que buscam a preservação de espécies de animais em extinção; 
Art. 62 do CC: Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública 
ou testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, 
e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la. 
 
OBS: Apesar das fundações não poderem apresentar, exclusivamente, fins 
econômicos, existem, na prática, muitas “fundações de fachada”, ou seja, aquelas 
que desviam suas finalidades e visam, somente, a obtenção de lucro; 
2.2 – Finalidade: 
O Art. 62 do Código Civil, no parágrafo único, descreve algumas finalidades as quais 
as fundações podem apresentar, desde que apresentem um cunho social (como 
assistência social, educação, saúde, pesquisa científica, etc...); 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Art. 62 do CC - Parágrafo único: A fundação somente poderá constituir-se para fins 
de: (Redação dada pela Lei nº 13.151, de 2015) 
 
I – assistência social; (Incluído pela Lei nº 13.151, de 2015) 
 
II – cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico; (Incluído pela 
Lei nº 13.151, de 2015) 
 
III – educação; (Incluído pela Lei nº 13.151, de 2015) 
 
IV – saúde; (Incluído pela Lei nº 13.151, de 2015) 
 
V – segurança alimentar e nutricional; (Incluído pela Lei nº 13.151, de 2015) 
 
VI – defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do 
desenvolvimento sustentável; (Incluído pela Lei nº 13.151, de 2015) 
 
VII – pesquisa científica, desenvolvimento de tecnologias alternativas, modernização 
de sistemas de gestão, produção e divulgação de informações e conhecimentos 
técnicos e científicos; (Incluído pela Lei nº 13.151, de 2015) 
 
VIII – promoção da ética, da cidadania, da democracia e dos direitos humanos; 
(Incluído pela Lei nº 13.151, de 2015) 
 
IX – atividades religiosas; e (Incluído pela Lei nº 13.151, de 2015) 
 
2.3 – Peculiaridades das fundações: 
 
 Uma fundação pode ser composta por uma única pessoa (embora seja 
mais comum a presença de fundações formada por várias pessoas); 
 
 O elemento patrimonial é essencial; 
 
 Os fins são imutáveis; 
 
 Não apresentam sócios nem donos; 
 
 São as únicas pessoas jurídicas de direito privado fiscalizadas, 
sistematicamente, pelo Ministério Público; 
 
2.4 – Etapas de criação: 
 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 Através de escritura pública ou de testamento, deve-se especificar quais 
são os bens (dotação) e atribuir uma finalidade a esses bens (afetação); 
 
 Em seguida, em termos lógicos, ocorre a elaboração do estatuto. A 
elaboração do estatuto pode ser realizada pelo próprio instituidor 
(elaboração direta) ou por terceiro designado pelo instituidor (elaboração 
fiduciária); 
Art. 65 do CC: Aqueles a quem o instituidor cometer a aplicação do patrimônio, em 
tendo ciência do encargo, formularão logo, de acordo com as suas bases (art. 62), o 
estatuto da fundação projetada, submetendo-o, em seguida, à aprovação da 
autoridade competente, com recurso ao juiz. 
Parágrafo único. Se o estatuto não for elaborado no prazo assinado pelo instituidor, 
ou, não havendo prazo, em cento e oitenta dias, a incumbência caberá ao Ministério 
Público. 
 
 Há a fase de análise para a aprovação do estatuto pelo Ministério Público 
(que pode aprovar, reprovar ou determinar uma diligência para corrigir 
eventuais defeitos); 
 
 Se o interessado não se conformar com a reprovação do Ministério 
Público, esse pode recorrer à intervenção judicial; 
 
 A fase final é a fase de registro da fundação no Registro Civil de Pessoas 
Jurídicas; 
 
2.5 – Ato constitutivo: O ato constitutivo da fundação é o estatuto. 
 
 Para ser alterado deve ocorrer a aprovação de 2/3 dos integrantes da 
fundação, deve não contrariar as finalidades da fundação e necessita de 
ser aprovada pelo Ministério Público; 
 
 Caso essa aprovação dos integrantes da fundação não seja uma decisão 
unânime, o Ministério Público deve possibilitar a manifestação da minoria 
para se chegar a uma decisão final pelo judiciário (aprovação ou 
reprovação dessas alterações). Permite-se, assim que o judiciário exerça o 
controle da legalidade do ato, visto que ao Ministério Público compete 
apenas à tarefa de fiscalizar e não o direito de decidir; 
 
2.6 – Extinção: 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
A fundação não pode ser extinta por qualquer razão, sendo que a legislação 
estabelece quais são as causas que viabilizam a extinção da fundação: 
 Caso se torne ilícito ou inócuo o seu objeto; 
 
 Caso seja impossível a sua manutenção (como, por exemplo, no caso de 
erosão do patrimônio); 
 
 Caso vença o prazo da sua existência (na hipótese desse prazo ser 
previsto); 
 
OBS: A extinção de uma fundação deve sempre ocorrer via judicial, ouvindo-se o 
Ministério Público; 
OBS: O patrimônio de uma fundação extinta será sempre destinado à outra fundação 
(geralmente de fim semelhante); 
 
 
AULA 12 – DESCONSIDERAÇÃO E EXTINÇÃO DA PESSOA JURÍDICA 
 
1. Conceito de responsabilidade: Corresponde a um dever jurídico derivado que 
decorre da violação de um dever jurídico originário. Em síntese, trata-se da 
consequência dos atos que praticamos. Por exemplo, quando um indivíduo lesiona a 
integridade física de outrem, o praticante da ação será responsabilizado penalmente. 
 
Um indivíduo que dirige na Avenida Paralela com uma velocidade acima da permitida 
será responsabilizado administrativamente - possivelmente com o pagamento de 
uma multa. 
 
Todos têm o dever jurídico de respeitar a imagem das outras pessoas. Por exemplo, 
uma empresa que utiliza indevidamente o uso da imagem de um artista para 
campanhas publicitárias será responsabilizada civilmente. 
 
2. Tipos de responsabilidade: 
 
2.1 – Responsabilidade penal: Trata-se daquela decorrente da prática de um ilícito 
penal e que traz como consequência uma sanção penal. A título exemplificativo 
pode-se citar o ato de matar alguém – pena de seis a vinte anos (Art. 121 do CP); 
 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
2.2 – Responsabilidade administrativa: Trata-se daquela que tem como pressuposto 
uma prática administrativa e que traz como consequência uma sanção 
administrativa. A título exemplificativo pode-se citaro ato de trafegar com uma 
velocidade acima da permitida, sendo o agente passível de pagar multas ou 
receber pontos na carteira. A possibilidade de multa para indivíduos que não 
estão usando máscara em determinados locais bem como a venda de produtos 
vencidos também se encaixam no âmbito da responsabilidade administrativa; 
 
2.3 – Responsabilidade civil: Trata-se daquela que tem como antecedente a prática 
de um dano, existindo o dever da reparação do dano (cunho reparatório) e não 
da aplicação de uma sanção. 
 
3. Esclarecimentos importantes: 
Nos âmbitos da responsabilidade civil e administrativa nada se distingue a 
responsabilidade da pessoa natural e pessoa jurídica. Entretanto, no âmbito da 
responsabilidade penal, a pessoa jurídica somente responde a crimes ambientais, sendo 
submetida a sanções compatíveis com a sua condição de pessoa jurídica (não faz sentido, 
por exemplo, a aplicação de sanções restritivas de liberdade às pessoas jurídicas devido à 
inexistência corpórea dessas). 
 
Ex: O carro da Faculdade Baiana de Direito foi fotografado a uma velocidade acima 
da permitida em uma avenida (a pessoa jurídica pode pagar a multa) e, em seguida, 
atropelou um cidadão (a pessoa jurídica não pode ser processada criminalmente). 
 
Ex: Um indivíduo, tentando estacionar próximo à Faculdade Baiana de Direito, colide 
o seu veículo com outro – haverá responsabilidade civil devido à causa de um dano 
(nesse caso, contra o patrimônio). 
 
Ex: A venda de produtos vencidos (farmacêuticos, alimentícios, etc...) caso 
descoberta pode acarretar em responsabilidade administrativa (para a empresa) e 
penal (na hipótese de um gerente que determinou tal conduta). 
 
A destruição de uma área de preservação permanente realizada por uma empresa, 
por se tratar de um crime ambiental, pode culminar em responsabilidade penal em 
virtude do ocorrido. 
 
 
4. Desconsideração da personalidade jurídica da pessoa jurídica: 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Regra geral: Em razão do princípio da autonomia patrimonial, os direitos e deveres da 
pessoa jurídica não se confundem com os direitos e deveres daqueles que a 
integram. 
Entretanto, há algumas exceções para tal determinação. Nesse sentido, a 
desconsideração da personalidade jurídica da pessoa jurídica faz recair sobre sócios e 
administradores obrigações da pessoa jurídica ou vice-versa. 
A dinâmica das transformações sociais evidenciou a necessidade de, eventualmente, 
superar o princípio da autonomia patrimonial visando à consolidação de decisões 
jurídicas mais plausíveis. 
O caso Solomon x Solomon & Co: Solomon quando tornou, além de sócio, credor 
privilegiado da sua própria empresa - que, após sucessivas ações arbitrárias, acabou 
falindo. Nesse sentido, ele recebeu, devido à sua condição privilegiada, o valor 
integral do patrimônio da empresa que era bastante limitado, todavia, os demais 
credores passaram a questionar essa decisão. Pelo princípio da autonomia 
patrimonial, Solomon não poderia ser cobrado individualmente pelas ações que eram 
da pessoa jurídica, entretanto, o juiz encarregado do caso determinou a 
desconsideração da pessoa jurídica de Solomon & Co ao chegar à conclusão de que 
Solomon iludiu os demais credores confundindo o capital da empresa com o seu 
capital individual (confusão patrimonial). Em grau de recurso, a decisão do juiz foi 
revertida, mas essas discussões continuaram a ocorrer tanto na Inglaterra quanto nos 
Estados Unidos e, no final do século XIX, ambos países já admitiam a desconsideração 
da personalidade jurídica da pessoa jurídica. 
 
 
5. Classificação da desconsideração da personalidade jurídica: 
 
5.1 - Direta: Recai sobre os sócios e administradores as obrigações da pessoa jurídica 
 
5.2 – Inversa: Recair sobre a pessoa jurídica as obrigações dos sócios e 
administradores. 
 
6. Exame do Art. 50 do Código Civil: 
Art. 50 do CC: Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de 
finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do 
Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os 
efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou 
indiretamente pelo abuso. 
 
Nesse sentido, a desconsideração é episódica, ou seja, ela não acaba com a sua autonomia 
patrimonial. 
Ex: Supondo a existência de uma empresa denominada BB que vende caixões. A empresa 
executou essas vendas por um longo período. Certo dia, Luca entrou com uma ação 
solicitando o pagamento de uma dívida contra a empresa formada por Bianca e Beatriz. O 
juiz determinou a desconsideração da personalidade jurídica e, nesse sentido, Bianca e 
Beatriz terão que pagar com seus patrimônios particulares, entretanto, essa ação só vale 
para esse processo, não acarretando no término das atividades da empresa. Em outra 
oportunidade, Luca ingressou novamente com uma ação contra a BB e o juiz determinou a 
desconsideração da personalidade jurídica – inferindo-se, portanto, o caráter episódico da 
desconsideração da personalidade jurídica (não consiste em uma condição permanente). 
 
A desconsideração da personalidade jurídica é acatada após a constatação de abuso da 
personalidade jurídica, desvio de finalidade ou confusão patrimonial. O primeiro parágrafo 
do referido artigo sintetiza o conceito de desvio de finalidade. 
Art. 50, § 1º do CC: Para os fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é a utilização 
da pessoa jurídica com o propósito de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de 
qualquer natureza. 
 
O segundo parágrafo do referido artigo sintetiza o conceito de confusão patrimonial. 
Art. 50, § 2º do CC: Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato 
entre os patrimônios, caracterizada por: 
I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do administrador ou 
vice-versa; 
II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto os de valor 
proporcionalmente insignificante; e 
III - outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial. 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 
Por exemplo, um indivíduo que realiza grande parte de suas despesas em nome da pessoa 
jurídica (veículo, cartão de crédito, domicílio...) trata-se de uma confusão patrimonial. 
 
§ 3º O disposto no caput e nos §§ 1º e 2º deste artigo também se aplica à extensão das 
obrigações de sócios ou de administradores à pessoa jurídica. 
§ 4º A mera existência de grupo econômico sem a presença dos requisitos de que trata 
o caput deste artigo não autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica. 
§ 5º Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a alteração da finalidade original 
da atividade econômica específica da pessoa jurídica. 
 
7. Classificação da extinção da personalidade jurídica: 
 
7.1 – Extinção convencional: Deliberada pelos próprios integrantes da pessoa 
jurídica; 
 
7.2 – Extinção administrativa: Determinada por um órgão público do poder 
executivo; 
 
7.3 – Extinção judicial: Determinada pelo poder judiciário, quando, por exemplo, a 
pessoa jurídica exerce uma atividade ilícita; 
 
8. Detalhamento da extinção da personalidade jurídica da pessoa jurídica: 
 
A extinção da personalidade jurídica da pessoa jurídica não acontece de maneira 
abrupta, passando, portanto, pela fase de liquidação. Na liquidação, há o 
recebimento dos créditos e o pagamento dos débitos (“acerto de contas”) – sendo 
somente nesse momento que há a extinção da pessoa jurídica. 
 
Art. 51 do CC: Nos casos de dissolução da pessoa jurídica ou cassada a autorização para seu 
funcionamento, ela subsistirá para os fins de liquidação, até que esta se conclua. 
§ 1ºFar-se-á, no registro onde a pessoa jurídica estiver inscrita, a averbação de sua 
dissolução. 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
§ 2º As disposições para a liquidação das sociedades aplicam-se, no que couber, às demais 
pessoas jurídicas de direito privado. 
§ 3º Encerrada a liquidação, promover-se-á o cancelamento da inscrição da pessoa jurídica. 
 
AULA 13 – DOMICÍLIO 
1. Aspectos gerais do domicílio da pessoa natural: 
Foco da dicussão: Estabelecer a sede das ocupações habituais da pessoa para fins, por 
exemplo, processuais. 
Os romanos foram os primeiros a perceber a importância de se definir o domicílio, 
entretanto, estabeleceram o conceito de domicílio como sinônimo de residência (onde a 
pessoa residisse). 
Os franceses, aprimorando a concepção romana, introduziram um elemento novo: o aspecto 
subjetivo do ânimo definitivo – não admitindo, nesse cenário, a pluralidade de domicilio;. 
 
2. Qual a relevância de se estudar o domicílio (aplicações práticas): 
Ex: Bernardo, um paraibano que falsifica moeda passou por vários estados brasileiros 
(Paraíba, Pernambuco, Bahia, Alagoas, Sergipe, Espírito Santo e Rio de Janeiro), sendo preso 
no Rio de Janeiro pelo crime de falsificação de moeda. Se se soubesse onde Bernardo 
falsificou as moedas, ele seria processado criminalmente nesse local, entretanto, caso não se 
saiba o local da consumação do crime, Bernardo será processado no foro do seu domicílio. 
Ex: Pedro e Guilherme saíram da Bahia, navegando pelo litoral brasileiro e não pararam em 
local nenhum até o destino: Rio Grande do Sul. Ao chegar lá no Rio Grande do Sul, Pedro foi 
encontrado morto na embarcação com várias marcas de facada - o que conduz à conclusão 
de que Guilherme foi o autor do crime. Como não se sabe ao certo o local que Guilherme 
matou Pedro, esse será processado no foro do seu domicílio (Direito Processual Penal) 
Ex: Mateus deve uma quantia significativa a Aurisvaldo, devendo essa quantia ser cobrada 
no foro do domicílio do devedor. (Direito Civil) 
Ex: Paula e Amanda moram em Lauro de Freitas e Camaçari, respectivamente, e viajam para 
Salvador. Paula, dirigindo embriagada em uma das noites na capital baiana, colide o seu 
veículo com o de Amanda. De acordo com o Código Civil, Paula deverá ser processada no 
foro do seu domicílio. (Processo Civil) 
 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
3. Interpretação do Art. 70 do Código Civil 
No Direito Civil brasileiro, para a pessoa natural, a regra geral de domicílio está no Art. 70 do 
Código Civil 
Art. 70 do CC: O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência 
com ânimo definitivo. 
 
Visando à melhor interpretação do referido artigo, é necessário o esclarecimento de alguns 
conceitos: 
 Morada: Trata-se do local em que o indivíduo se estabelece mesmo que 
provisoriamente (como um hotel, por exemplo)  “ato de ficar”; 
 
 Residência: Trata-se da morada habitual de alguém  “ato de namorar” 
 
 Domicílio: Trata-se do local em que a pessoa se estabelece como morada com ânimo 
definitivo (sendo essa análise do desejo de permanência realizada com base no 
contexto de fixação)  “ato de casar”; 
OBS: O domicílio não se confunde com o endereço. Por exemplo: O professor Aurisvaldo é 
domiciliado em Salvador-BA; 
OBS: A doutrina considera que no domicílio existe a aspecto objetivo (a localidade) e o 
aspecto subjetivo (desejo de permanência). 
 
4. É possível que alguém tenha mais de um domicílio? 
No Brasil, paradoxalmente, embora seja adotada a noção francesa de domicílio, também é 
concedida a possibilidade de pluralidade de domicílio. 
A pessoa natural terá pluralidade de domicílio quando: 
 Tiver mais de uma residência onde alternadamente viva (um indivíduo que, 
quinzenalmente, passa alguns dias em uma casa em outra cidade – por exemplo); 
 
 Quando a pessoa natural exercer atividade profissional em local distinto da sua 
residência (ali será o seu domicílio somente para relações jurídicas condizentes com 
o seu exercício profissional); 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
OBS: Uma pessoa que mora em Salvador, mas que apresenta escritórios em Brasília e em São 
Paulo apresenta a capital baiana como domicílio geral e as demais cidades como domicílio 
profissional. 
OBS: Uma pessoa que vive alternativamente em Salvador e São Paulo com escritório em 
Brasília apresenta as duas primeiras cidades como domicílios gerais e a última como 
domicílio profissional. 
 
5. Caso dos nômades: 
No caso dos nômades, aqueles que não apresentam residência fixa, o conceito de domicílio 
coincide com o de morada – sendo o domicílio o local em que a pessoa for encontrada 
conforme o Art. 73 do nosso Código Civil. 
Art. 73 do CC: Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha residência habitual, o 
lugar onde for encontrada. 
 
6. Mudança de domicílio: 
Art. 74 do CC: Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a intenção manifesta de o 
mudar. 
Parágrafo único: A prova da intenção resultará do que declarar a pessoa às municipalidades 
dos lugares, que deixa, e para onde vai, ou, se tais declarações não fizer, da própria 
mudança, com as circunstâncias que a acompanharem. 
O que o artigo anterior apresenta trata-se da tese de que a ausência eventual do domicílio 
não configura mudança de domicílio, ocorrendo esta somente com a manifestação da 
vontade da pessoa natural. 
Por exemplo, um estudante baiano de direito da USP não apresenta claramente o desejo de 
permanecer após a conclusão dos estudos ou de retornar para a Bahia. Nesse sentido, o seu 
domicílio geral ainda consiste em um município baiano. 
 
7. Domicílio legal ou necessário: 
Ex: Joana, de dezesseis anos, vivia com sua família no município de Cansanção no estado da 
Bahia. Após passar no vestibular da Faculdade Baiana de Direito, ela resolveu se transferir 
para Salvador e passou a viver com os seus primos que já estudavam na faculdade. Todavia, 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
por se tratar de menor de idade, o domicílio de Joana é o mesmo dos seus representantes 
pelo fato dela não ter condições de, sozinha, fixar o seu próprio domicílio. 
São detentores de domicílio legal ou necessário: 
 
 O incapaz; 
 
 O servidor público, no local em que exerce suas funções de caráter permanente; 
 
 O militar da marinha ou da aeronáutica, sendo este domiciliado na sede do comando 
em que ele se encontra subordinado; 
 
 O marítimo, sendo este domiciliado no local em que a sua embarcação se encontra 
registrada; 
 
 O preso, sendo este domiciliado no local em que estiver cumprindo a sua pena (não 
inclui a prisão preventiva – somente a decorrente de sentença); 
 
 
8. Domicílio de eleição ou contratual: 
 
 Não se confunde com domicílio eleitoral. 
 Trata-se do domicílio eleito (escolhido) como o de determinado contrato e das 
relações o envolvendo; 
 Local fixo do exercício de direitos e deveres oriundos do contrato; 
 É também conhecido como foro de eleição; 
Art. 78 do CC: Nos contratos escritos, poderão os contratantes especificar domicílio onde se 
exercitem e cumpram os direitos e obrigações deles resultantes. 
 
OBS: Nos contratos de adesão, a cláusula de foro de eleição não pode prejudicar o exercício 
do direito de defesa do aderente (quem adere – parte mais fraca da relação); 
 
9. O domicílio da pessoa jurídica de direito privado: 
O domicílio (sede) da pessoa jurídica de direito privado deve vir indicado no ato constitutivo. 
No caso da omissão do ato constitutivo – do estatuto -, a pessoa jurídica será domiciliada 
onde funcionar a sua diretoria ou sua administração (regra supletiva). 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Caso uma empresa não tenha sede no Brasil, ela não terá domicílio geral no Brasil. Supondo 
que mesmo sediada no exterior essa empresa tenha três estabelecimentos no Brasil (Recife, 
Brasília e São Paulo), estes serão

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