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Semana de Estudos da Engenharia Ambiental UNESP – Rio Claro, SP. ISSN 2359-1161 SemEAr, v.04, n.01, p. 50-55, Set./ 2016. ECOPONTOS E LOGÍSTICA REVERSA: O EXEMPLO DE RIO CLARO SP Jessica Corgosinho Marcucci, Ana Tereza Caceres Cortez Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Rio Claro (SP). 1. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS Diariamente produtos de diversas naturezas são consumidos, consequentemente geram-se múltiplos resíduos. Algumas pessoas partem da ideia que esses resíduos não têm nenhum valor, assim observamos muitas situações em que os mesmos são descartados em locais inadequados, como cursos d’água, vias públicas, terrenos vazios e outros lugares, gerando poluição visual e ambiental. Dentro dessa problemática e da necessidade de se alterar esse cenário, notamos que com a ampliação da conscientização da população, ações para o descarte correto de resíduos tem conquistado um espaço maior em diversas cidades brasileiras. Das ações de logística reversa de diversos produtos com coleta seletiva, esta pode estar associada a entidades de catadores, onde “Os fabricantes/ importadores apoiam as entidades (...)” (RIBEIRO, 2014, p. 25), ou a PEVs - Pontos de Entrega Voluntária, “(...) geralmente instalado junto a comércio ou à rede de assistência técnica” (RIBEIRO, 2014, p. 25). “Os PEVs podem ser concebidos de diversas maneiras, e a sua implantação dependerá da característica do programa de reciclagem adotado (...)” (BRAGA, RAMOS, DIAS, 2010, p. 293). “Os PEV s podem ser de dois tipos: PEV s de pequeno porte ou PEV s de grande porte ou Ecoponto” (SAFFER et. al., p.39, 2013), de modo que os caracterizados como Ecopontos possuem a possibilidade de recebimento de resíduos volumosos da construção civil (RCC). Conforme CORTEZ (2002), para que a população possa depositar os resíduos de forma separada, os PEVs são instalados em pontos estratégicos. No aspecto da coleta seletiva, vemos que é uma das etapas para o caminho de retorno dos resíduos aos processos de produção, uma questão associada ao conceito da logística reversa. “Basicamente, os sistemas de logística reversa consistem em formas organizadas de garantir, viabilizar ou facilitar o retorno de uma série de produtos (ou suas embalagens), após o seu consumo, para operações de uso e reciclagem” (RIBEIRO, 2014, p. 8). Dessa forma, exemplificamos nesse trabalho como alguns aspectos dos Ecopontos de Rio Claro SP estão interligados ao conceito de logística reversa, mesmo que de forma indireta. 2. MÉTODOS O método consistiu-se de levantamento bibliográfico dentro do embasamento teórico referente a resíduos sólidos urbanos, tendo como referência no Brasil a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) instituída pela lei nº 12.305 de 2 de agosto de 2010. No que concerne a Geografia, ressaltamos a questão da organização do espaço frente às formas de destino dos resíduos sólidos nas cidades, o que envolve planejamento de todo esse conjunto. Nesse trabalho, apresentamos como um exemplo os Ecopontos de Rio Claro SP, refletindo como esse equipamento urbano apresenta algumas características ligadas ao conceito de logística reversa. Semana de Estudos da Engenharia Ambiental UNESP – Rio Claro, SP. ISSN 2359-1161 SemEAr, v.04, n.01, p. 50-55, Set./ 2016. 3. DISCUSSÃO E RESULTADOS Primeiramente é mister esclarecer as múltiplas modalidades de poluição ocasionada pela disposição errada dos resíduos. Eles não apenas contaminam a superfície do solo com cargas poluentes sólidas e líquidas, mas também os corpos de água da superfície e o lençol freático, com poluentes que penetram o solo. Eles modificam a composição do ar com gases (metano) da decomposição da fração orgânica e, muitas vezes, com fumaças e cinzas, quando um lixão está em combustão. A disposição inadequada do lixo agride o sistema biosférico, ao substituir a fauna original por outra alienígena (insetos, roedores, aves), aniquila ou modifica a vegetação nativa, além de provocar poluição visual pela desagradável paisagem exposta pelos locais de deposição, a céu aberto, nos espaços peri-urbanos (BERRÍOS, 2002, p.34). Assim, notamos que a organização do espaço, frente ao planejamento de áreas adequadas para receber resíduos sólidos urbanos, é uma questão de importância para a qualidade ambiental. No Brasil, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) foi instituída pela lei nº 12.305 de 2 de agosto de 2010, sendo um marco para o tratamento do assunto no país. Na PNRS, vemos o termo responsabilidade compartilhada, com sua definição no Artigo 3° onde, XVII - responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos: conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida dos produtos, nos termos desta Lei; (BRASIL, 2010). Nessa definição, podemos notar que a responsabilidade envolve diferentes atores, desde os produtores até os consumidores, assim, as responsabilidades são repartidas. Conforme Ribeiro (2014, p.10), a expressão “Responsabilidade estendida do produtor” é mais utilizada pelos países da Europa, correspondendo no Brasil ao termo “responsabilidade compartilhada” ou no caso do Estado de São Paulo, o termo “responsabilidade pós-consumo”. De maneira geral, observamos que o foco encontra- se nas ações que encontrem viabilidade para redução de impactos ambientais. Ribeiro (2014) mostra que o termo “logística reversa” é utilizado na área administrativa no sentido de ações de retorno de produtos ao ponto de origem. Na logística reversa podemos destacar diferenças, conforme a etapa de retorno, onde se definem: Logística reversa pré-venda: retorno de produtos não comercializados. Exemplo: produto que sofreu avaria no transporte. Logística reversa pós-venda: produto retornado pelo cliente em virtude de defeito ou por perda de interesse no mesmo. Outra situação engloba ação de empresa que detecta problemas na fabricação e faz um “recall”. Logística reversa pós-consumo: “(...) retorno de produtos após o uso pelos clientes, geralmente devido ao fim de sua vida útil ou por questões ambientais, para que seja dada a correta destinação, preferencialmente o reuso e a reciclagem.” (RIBEIRO, 2014, p. 14). Semana de Estudos da Engenharia Ambiental UNESP – Rio Claro, SP. ISSN 2359-1161 SemEAr, v.04, n.01, p. 50-55, Set./ 2016. O autor também mostra que outros objetivos da logística reversa compreendem a criação de sistemas independentes para resíduos com características de periculosidade, por exemplo, óleos lubrificantes e lâmpadas fluorescentes. Atualmente, no Brasil, são muitas as questões a serem envolvidas, desde a criação da infraestrutura e da capacidade operacional de recicladoras, passando por questões relativas à: competitividade das empresas, requisitos para importação, formação de preços e relacionamento entre elos das cadeias produtivas, até a criação de legislação e regras operacionais específicas nos órgãos ambientais (RIBEIRO, 2014, p. 9). No sentido de gestão dos resíduos destacamos que existem várias etapas, englobando a coleta, armazenamento, transporte, processamento dos resíduos para encaminhamento a sistemas de reciclagem ou a disposição final ambientalmente adequada. Quanto à logística reversa, temos pela definição da PNRS, no artigo 3º, XII - logística reversa: instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setorempresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada; (BRASIL, 2010). Assim, notamos a questão da reutilização dos resíduos no mesmo ciclo em que foram gerados ou em outro ciclo de produto diverso ao qual pode ser reaproveitado. Conforme Razzolini Filho e Berté (2009, p. 102), alguns aspectos importantes devem ser considerados quanto à reciclagem da perspectiva logística, por exemplo: a demanda existente no mercado por materiais reciclados, o suporte operacional e os custos envolvidos no processo que englobam desde a coleta, o transporte, separação, armazenagem e revalorização do material. Vale ressaltar que a logística reversa e a coleta seletiva dos resíduos prolonga a vida útil de Aterros Sanitários, mas traz também a prevenção do descarte incorreto de materiais, eliminando impactos negativos em solo, água e ar, consequentemente, prevenindo-se problemas relativos à saúde pública. Frente às questões ambientais, destaca-se a eficiência no uso de recursos naturais como motivador da logística reversa, Atualmente, é amplamente reconhecido o risco de escassez de muitas das matérias-primas tradicionais: de minérios à energia, de água a áreas disponíveis. (...) Fazer a logística reversa é uma forma de assegurar maior índice de reciclagem desses materiais. Para a sociedade, alivia-se a tendência à escassez destes recursos, e para as empresas, amplia-se a segurança de fornecimento de suas matérias-primas (RIBEIRO, 2014, p.20). Dessa forma, vemos que as articulações do aspecto econômico, social e ambiental devem organizar-se de forma complementar, para que as ações possam ser concretizadas e trazer resultados efetivos. Isso mostra que a logística reversa corresponde a uma parcela da contribuição para melhoria da gestão de resíduos sólidos urbanos, dessa forma, os PEVs e Ecopontos podem contribuir nessas iniciativas. Semana de Estudos da Engenharia Ambiental UNESP – Rio Claro, SP. ISSN 2359-1161 SemEAr, v.04, n.01, p. 50-55, Set./ 2016. Ecopontos de Rio Claro SP Os Ecopontos em Rio Claro SP, constituem-se como locais que a população dispõe para entrega voluntária de resíduos recicláveis (papel, vidro, plásticos, metais) além de resíduos volumosos (resíduos da construção civil), dentre outros desde que o volume não ultrapasse um metro cúbico. Os Ecopontos localizam-se nos bairros: Jardim São Paulo (Rua 1B JS, entre as Avenida 26 e 28), Cervezão (Rua 6 com Avenida M21), São Miguel (Avenida 64A com anel viário), Jardim Palmeiras (Avenida 3-JP ao lado da ETE Palmeiras), Jardim Santa Elisa (Avenida 54 com a rua 27- JF) e Jardim Inocoop (Final da Avenida Tancredo Neves, próximo à rodovia Fausto Santomauro), (PMSB, 2014, p. 353). Os resíduos recicláveis são destinados a Cooperativa de Trabalho dos Catadores de Material Reaproveitáveis de Rio Claro (COOPERVIVA), que faz parte do programa “Dê a Mão para o Futuro”, coordenado pela ABIHPEC (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos). “Os resíduos que não possuem características para reciclagem são encaminhados para o aterro sanitário do município” (PMSB, 2014, p. 356). Frente à logística reversa, vale destacar que, Art. 33. São obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de: I - agrotóxicos, (...) II - pilhas e baterias; III - pneus; IV - óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens; V - lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista; VI - produtos eletroeletrônicos e seus componentes (BRASIL, 2010). O que pode ser estendido a embalagens plásticas, metálicas ou de vidro de maneira geral. Partindo-se do pressuposto de que a população tem sua responsabilidade na segregação de resíduos para a coleta seletiva, seja porta a porta ou por PEVs ou Ecopontos, vemos que isso contribui ao fluxo reverso de resíduos. Observando tal premissa e o caso de Rio Claro SP, podemos dizer que de forma indireta, os Ecopontos contribuem com a logística reversa, uma vez que recebem materiais como: lâmpadas fluorescentes, pilhas, baterias e aparelhos eletrônicos (PMSB, 2014) e pneus (em pouca quantidade por munícipe), aos quais são encaminhados para destinação final ambientalmente adequada. Por exemplo, no caso das lâmpadas, A prefeitura municipal recebe lâmpadas fluorescentes dos munícipes nos seis (06) Ecopontos em operação, as lâmpadas recebidas são encaminhadas para um barracão no aterro sanitário e armazenadas juntamente com as lâmpadas recolhidas pelo Departamento de Próprios Municipais. Após armazenamento as lâmpadas são encaminhadas a empresa “Naturalis Brasil” para descontaminação e reciclagem a um custo de R$ 0,77 por unidade (PMSB, 2014, p. 425). Semana de Estudos da Engenharia Ambiental UNESP – Rio Claro, SP. ISSN 2359-1161 SemEAr, v.04, n.01, p. 50-55, Set./ 2016. Figura 1 – Exemplo de área para recicláveis – Ecoponto São Miguel Rio Claro SP Foto: Jessica Corgosinho Marcucci, 2016. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS A questão dos resíduos sólidos urbanos perpassa um histórico que envolve desenvolvimento econômico e tecnológico, as relações sociedade - natureza presentes no espaço geográfico e sua a organização frente as necessidades de conciliação das diversas atividades humanas e a preservação ambiental. Planejar e estruturar com mais ênfase os processos que envolvem o retorno de resíduos a ciclos produtivos é um desafio presente na realidade do país na busca pelo desenvolvimento sustentável e envolve diversas iniciativas. Observamos a importância de ações voltadas ao pós- consumo como a logística reversa, a ação da coleta seletiva em suas modalidades porta-a-porta ou por entrega voluntária em PEVs, como também os Ecopontos. Iniciativas que inserem-se não somente na esfera ambiental, mas também na esfera econômica, uma vez que os resíduos, a partir da reciclagem, se re-inserem nos ciclos produtivos. O que mostra a importância de se continuar avançando nas ações de manejo de resíduos sólidos, que prezem pela qualidade ambiental. Semana de Estudos da Engenharia Ambiental UNESP – Rio Claro, SP. ISSN 2359-1161 SemEAr, v.04, n.01, p. 50-55, Set./ 2016. AGRADECIMENTOS Agradecemos a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo pela oportunidade de Bolsa de Mestrado FAPESP/CAPES, Processo 2015/02248-5; a UNESP Rio Claro – SP e Pós-Graduação em Geografia por todo apoio. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CORTEZ, Ana Tereza Caceres. A gestão de resíduos sólidos domiciliares: coleta seletiva e reciclagem: a experiência de Rio Claro (SP). Tese (Livre docência) – Universidade Estadual Paulista, Instituto de Geociências e Ciências Exatas - Rio Claro, 2002. BERRÍOS, Manuel Rolando. A Construção de um meio ambiente saudável para Rio Claro -SP. Rio Claro -SP, 2002. BRAGA, Maria Cristina Borba; RAMOS, Sônia Iara Portalupi Ramos; DIAS, Natália Costa. Gestão de resíduos sólidos para a sustentabilidade. IN POLETO, Cristiano (Org). Introdução ao gerenciamento ambiental. Rio de Janeiro: Interciência, 2010. BRASIL. Lei nº 12.305 de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Documento não paginado. Disponível:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm> Acesso em: 29 jul. 2016 PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO BÁSICO (PMSB) do Município de Rio Claro – SP. Prefeitura de Rio Claro (SP) 2014. Disponível em: <http://www.rioclaro.sp.gov.br/planodesaneamento/planodesaneamentopopup.php> Acesso em: 05 ago.2016 RAZZOLINI FILHO, Edelvino. BERTÉ, Rodrigo. O reverso da logística e as questões ambientais no Brasil. Curitiba: Ibepex, 2009. RIBEIRO, Flávio de Miranda. Logística Reversa. São Paulo (Estado) Secretaria do Meio Ambiente. São Paulo: SMA, 2014. Série Cadernos de Educação Ambiental – 20. Disponível em:< http://www.ambiente.sp.gov.br/cea/files/2014/11/caderno-20-logistica-reversa.pdf> Acesso em: 29 jul. 2016 SAFFER, Mario; et. al. Boas Práticas Brasil e Espanha sobre a Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos com Foco na Coleta Seletiva, Reciclagem e Participação dos Catadores. Fundação Instituto para o Fortalecimento das Capacidades Institucionais – IFCI / Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento – AECID / Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão – MPOG / Editora IABS, Brasília-DF, Brasil - 2013.
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