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Germinação de sementes de Livistona chinensis

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS
CAMPUS DE JABOTICABAL
GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE Livistona chinensis (Jack.)
R. Br. ex. Mart. (ARECACEAE)
Nilce Naomi Kobori
Orientadores: Profª. Drª. Maria Esmeralda Soares Payão Demattê
 Profª. Drª. Kathia Fernandes Lopes Pivetta
Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências Agrárias
e Veterinárias – UNESP, Câmpus de Jaboticabal, como
parte das exigências para a obtenção do título de Mestre
em Agronomia (Produção e Tecnologia de Sementes).
JABOTICABAL – SÃO PAULO - BRASIL
Julho de 2006
ii
DADOS CURRICULARES DO AUTOR
Nilce Naomi Kobori – filha de Nilo Keny Kobori e Toshie Goto Kobori, nasceu na
cidade de Suzano, Estado de São Paulo, no dia 01 de maio de 1980. Em 1999
ingressou no curso de Engenharia Agronômica na Universidade Estadual Paulista Júlio
de Mesquita Filho - UNESP – Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Campus
de Jaboticabal, concluindo em 2003. Durante o período de graduação, estagiou no
Laboratório de Fisiologia Vegetal, no Departamento de Biologia Aplicada à
Agropecuária, e também, monitora da mesma disciplina. O trabalho de conclusão de
curso foi realizado sob orientação da Profª. Drª. Durvalina Maria Mathias dos Santos,
com bolsa de Iniciação Científica do PIBIC/CNPq. Em julho de 2004 recebe premiação
(Menção Honrosa) em Concurso de Fotografia da cidade de Araras. O curso de
Mestrado nesta mesma unidade universitária inicia em agosto de 2004, no Programa de
Pós-Graduação em Agronomia, na área de concentração em Produção e Tecnologia de
Sementes, com bolsa da CAPES, sob orientação das Professoras Doutoras Maria
Esmeralda S. P. Demattê e Kathia Fernandes Lopes Pivetta, com enfoque em
sementes de palmeiras.
iii
“Viva totalmente e viva intensamente, então cada momento se torna dourado
e toda a sua vida se torna uma seqüência de momentos dourados. Uma pessoa assim
nunca morre porque ela tem o toque de M idas: tudo o que toca se torna dourado”.
“Ao nascer, você não é uma árvore, você é apenas uma semente, você tem de
crescer até chegar ao ponto de seu florescimento, e este florescimento será a sua
alegria, a sua realização. Este florescimento nada tem a ver com poder, nada tem a
ver com dinheiro, nada tem a ver com política. Tem a ver totalmente com você: é um
desenvolvimento individual. Você tem de se tornar uma celebração em si mesmo.”
O SHO – Pepitas de O uro
iv
O fereço
Aos meus pais, amigos e familiares.
Às orientadoras M aria Esmeralda S. P. Demattê e Kathia F. L. Pivetta.
À UN ESP – FCAV
v
Agradecimentos
Aos professores do Programa de Pós-graduação em Agronomia - Produção e
Tecnologia de Sementes pelos ensinamentos e convivência, assim como a Faculdade
de Ciências Agrárias e Veterinárias, Campus de Jaboticabal.
Às professoras Maria Esmeralda Soares Payão Demattê, Kathia Fernandes
Lopes Pivetta e Fabíola Vitti Moro pelas orientações e amizade durante o trabalho.
Aos funcionários do Departamento de Produção Vegetal (Fitotecnia e
Horticultura), do Viveiro experimental (Horto), principalmente aos Srs. Luis, Fernando,
Santana e Lázaro, assim como a Sra. Lúcia, do Departamento de Fitossanidade, pela
ajuda e experiência prática na condução dos ensaios experimentais.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela
concessão da bolsa de estudos, que possibilitou a minha permanência na Universidade
e o realização desta Dissertação de Mestrado.
Aos amigos “Sementeiros” ou não, pela convivência “cultural” e acadêmica
durante o período de Mestrado: Milaine, Rafaela, Maira, Adriana, Renato, Magnólia,
Cleia, Érika, Breno, Ricardo, Petterson, César, Cristian, Thais, Adriana, Jane, Paula,
Roberta, Juci, Maria Fernanda, Maristela, Sônia, Jú, Mauro,... e a todos que
participaram dessa etapa que posso ter me esquecido(!), pois são tantas as pessoas
que passam por nossas vidas...
vi
SUMÁRIO
Página
RESUMO ........................................................................................................................vi
SUMMARY .....................................................................................................................vii
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 1
2. REVISÃO DE LITERATURA .............................................................................................. 3
2.1. Livistona chinensis (Jack.) R. Br. ex. Mart. ...................................................... 5
2.2. Germinação de sementes de palmeiras ............................................................ 6
2.3. Substratos ........................................................................................................... 9
2.4. Morfologia de diásporos e plântulas ............................................................... 13
2.5. Sanidade ............................................................................................................ 13
3. MATERIAL E MÉTODOS.................................................................................................. 16
3.1. Coleta e beneficiamento dos frutos ................................................................ 16
3.2. Morfologia dos diásporos e crescimento inicial das plântulas .................... 18
3.3. Germinação em laboratório ............................................................................. 19
3.4. Emergência em viveiro ..................................................................................... 19
3.5. Teste de sanidade ............................................................................................. 20
3.6. Avaliações e tratamento estatístico ................................................................ 21
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................................... 22
4.1. Morfologia.......................................................................................................... 22
4.2. Germinação: temperatura e luz........................................................................ 28
4.3. Emergência: substratos ................................................................................... 33
4.4. Sanidade ............................................................................................................ 37
5. CONCLUSÕES ................................................................................................................... 40
vii
6. REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 41
GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE Livistona chinensis (Jack.) R. Br. ex. Mart.
(ARECACEAE)
RESUMO – A palmeira-leque-da-China é bastante ornamental e muito utilizada em
paisagismo. O objetivo foi descrever morfologicamente diásporos (sementes com o
endocarpo aderido) e plântulas, assim como estudar a germinação em diferentes
temperaturas e regimes de luz, o efeito de substratos na emergência das plântulas e os
fungos associados às sementes desta espécie. O delineamento experimental foi o
inteiramente casualizado, em esquema fatorial 6 x 2 (temperaturas e regimes de luz)
em quatro repetições de 25 sementes, em caixas gerbox com vermiculita. Para os
quatro substratos avaliados, cinco repetições de 50 sementes; para o teste de
sanidade, utilizou-se o método de papel de filtro, com 20 repetições de 8 sementes por
placa de Petri. Verificou-se que o diásporo apresenta formato oval, contendo dentro do
endocarpo, endosperma sólido, consumido durante a germinação (tipo remota tubular).
Por meio de um opérculo circular no endocarpo, emerge o pecíolo cotiledonar que
cresce e dilata em sua extremidade, originando a raiz primária e a parte área (plúmula),
composta por uma folha incompleta (bainha), que reveste a primeira folha juvenil
completa (eófilo), simples e lanceolada com nervação paralela, composta por nervuraslargas, dispostas longitudinalmente; as sementes desta espécie apresentaram alta
porcentagem de germinação (96 a 99%) independente da temperatura e da presença
de luz e maior índice de velocidade de germinação na temperatura alternada de 25-
35ºC, com regime de 8 horas de luz; em condições de viveiro, os melhores substratos
foram vermiculita, areia e esfagno; as sementes estavam infestadas com fungos de
vários gêneros, principalmente Fusarium sp.
viii
Palavras-Chave: diásporo, morfologia, substrato, temperatura, luz, sanidade
SEED GERMINATION OF Livistona chinensis (Jack.) R. Br. ex. Mart.
(ARECACEAE)
SUMMARY – Chinese fan palm is an ornamental species very appreciated for
landscaping. The objective of this research was to describe morphologically diaspores
(seeds with the endocarp adhered) and seedlings of Livistona chinensis, as well as
study the germination in different temperatures and light regimes, the effect of
substrates in seedlings emergence and the fungi associated to seeds of this species.
The experiment was conducted under a complete randomized experimental design in a
factorial arrangement 6 x 2 (temperatures and light regimes) in four replications of 25
seeds, in plastic boxes (gerbox type) containing vermiculite. For the four substrates
evaluated, five replications of 50 seeds were used; for the sanity test, the blotter method
with 20 replications of 8 seeds in each Petri dish. Diaspores showed to be of oval shape,
containing inside the endocarp, solid endosperm, consumed during germination (of the
remote type). Through the opening of a circular operculum in the endocarp, emerge the
cotyledonary petiole, that grows and dilation begins in its extremity by where begins the
growth of the primary root and the opening of a longitudinal rift, through which emerges
the aerial part that is composed by sheath that cover the first juvenile leaf, simple and
lance-shaped, with large nervure, disposed longitudinally; Seeds of this species
presented high germination percentage (96 to 99%), independently of temperature and
light presence, and higher germination velocity index was observed in the alternate
temperature of 25-35ºC, with 8 hours of light; in nursery conditions, the best substrates
were vermiculite, sand and sphagnum; seeds were infested with many fungi genera,
especially Fusarium sp.
ix
Keywords: diaspore, morphology, substrate, temperature, light, sanity
1. INTRODUÇÃO
As palmeiras são plantas da família Arecaceae, de grande importância pelos
produtos que fornecem como alimentos para o homem e para a fauna, madeira para a
construção, folhas para coberturas e revestimentos, matéria prima para confecção de
artesanato, fibras para fazer tecidos e substrato para cultivo de plantas, entre outros,
além do grande valor ornamental.
A produção de mudas de palmeiras é feita quase que exclusivamente por
sementes e a germinação da maioria das espécies é considerada baixa, lenta,
desuniforme e influenciada por vários fatores, relacionados ao ambiente ou à própria
planta. Para poucas espécies de palmeiras, foram feitos estudos com o objetivo de
definir os tratos culturais a serem utilizados no seu cultivo, assim como as técnicas mais
adequadas à multiplicação, principalmente das espécies de interesse apenas
ornamental.
O desenvolvimento das estruturas básicas do processo germinativo é bastante
peculiar na família Arecaceae, podendo diferir entre espécies; desta forma, o
conhecimento dos estádios morfológicos durante a germinação das sementes de cada
espécie de palmeira é imprescindível para auxiliar na análise do ciclo vegetativo
podendo fornecer subsídios à interpretação de testes de germinação e, também,
auxiliar os estudos de taxonomia e ecologia.
As temperaturas favoráveis para a germinação de sementes de palmeiras
variam, normalmente, na faixa entre 20 e 40ºC, porém, ainda são poucos os estudos
sobre as temperaturas cardeais, para as diferentes espécies. Do mesmo modo, pouco
se sabe sobre a influência da luz na germinação destas sementes.
As sementes podem abrigar patógenos no seu interior ou carregá-los em sua
superfície, contribuindo para a sobrevivência, disseminação e transmissão de
patógenos em áreas isentas. A presença destes patógenos pode reduzir a qualidade
2
fisiológica das sementes, indicada pela germinação e pelo vigor, bem como, causarem
danos nas plantas às quais darão origem.
A espécie Livistona chinensis (Jack.) R. Br. ex. Mart., conhecida como palmeira-
leque-da-china ou falsa-latânia, originária do continente asiático, é muito difundida no
Brasil, em parques, jardins e também em vasos, quando jovem. Embora seja muito
utilizada, existem poucas informações na literatura sobre a propagação desta espécie, o
que dificulta o processo de formação de mudas, além de não existir a descrição
morfológica do processo germinativo (de sementes e plântulas).
Tendo em vista essas considerações, este trabalho teve como objetivo descrever
os aspectos morfológicos de diásporos (sementes com o endocarpo aderido) e
plântulas, bem como, estudar os aspectos relativos à germinação de sementes de
Livistona chinensis (Jack.) R. Br. ex. Mart., sob diferentes temperaturas e regimes de
luz, diferentes substratos e, também, detectar os fungos associados às sementes desta
espécie.
3
2. REVISÃO DE LITERATURA
As palmeiras são plantas da família Arecaceae, muito importantes em
paisagismo, sendo mais de 3500 espécies reunidas em mais de 240 gêneros,
espalhadas por todo o mundo, principalmente nas regiões tropicais da Ásia, da
Indonésia, das Ilhas do Pacífico e das Américas (LORENZI et al., 2004).
As espécies da família Arecaceae encontram-se distribuídas principalmente nas
regiões próximas à linha do Equador, desde o norte da Europa a 44º 00 N até a Nova
Zelândia a 44º 18’ S (HENDERSON et al., 1995). São plantas típicas dos trópicos, mas
se encontram espalhadas em diferentes habitats, mostrando adaptações específicas a
cada meio (ALVES & DEMATTÊ, 1987).
O Brasil possui uma riquíssima flora palmácea, sendo o terceiro país do mundo
em diversidade de palmeiras nativas, com aproximadamente 387 espécies e 37
gêneros. As palmeiras possuem várias utilidades conforme a espécie, oferecendo ao
homem: madeira de construção; as folhas e talos servindo de cobertura de moradias,
paredes e cercas; dos folíolos, fabricam-se esteiras, cordas, sacos, cestos, chapéus,
entre outras. Para o homem fornecem também alimentos como o palmito, frutos, óleos,
doces, e alimentam a fauna. São as palmeiras que atraem e seguram o homem em
regiões inóspitas; sem elas, esses locais seriam grandes áreas semi-desérticas ou
despovoadas (GERALDO, 1998).
Além de ornamentais, muitas espécies são exploradas como produto agrícola.
Dentre as espécies cultivadas no país, destacam-se: açaizeiro (produtora de palmito e
frutos), coqueiro (produtora de frutos), dendezeiro (produtora de frutos para usos
industriais), juçara (produtora de palmito), palmeira-real (produtora de palmito),
pupunheira (produtora de palmito e frutos) e tamareira (produtora de frutos). Dos frutos
do babaçu, tem-se cerca de 30 subprodutos, entre os quais óleo comestível, óleo para
uso industrial (inclusive na substituição total ou parcial do óleo diesel), amido, gás
4
combustível, carvão briquetado (substituindo o coque siderúrgico de origem mineral,
metanol, fenol, benzol), entre outros (MEDEIROS-COSTA, 1984).
As informações sobre cultivo de palmeiras são muito escassas. A família
Arecaceae constitui um grupo especial do ponto de vista do melhoramento de plantas
perenes, especialmente em função das dificuldades inerentes à reprodução vegetativa
dos indivíduos, fato que dificulta, ou mesmo, impossibilita o pleno uso dos genótipos
superiores. Esse fator tem impacto direto nas estratégias de melhoramento e de
produção de propágulos melhorados destas espécies (KALIL FILHO & RESENDE,
2001).
A germinação de sementes de palmeiras, de modo geral, é considerada lenta,desuniforme e, freqüentemente, em baixa porcentagem. A propagação é feita, quase que
exclusivamente, por meio de sementes, com grande variação no processo germinativo,
influenciado por diversos fatores, como o grau de maturação, a presença ou não do
pericarpo, o tempo entre a colheita e a semeadura, a temperatura do ambiente, o
substrato, entre outros (MEEROW, 1991b; BROSCHAT, 1994).
Estima-se que cerca de 25% de todas as espécies de palmeiras necessitem de
mais de 100 dias para germinar e apresentem menos de 20% do total de germinação
(Tomlinson, citado por BROSCHAT, 1994).
A análise de sementes tem como objetivo a avaliação da qualidade destas quanto
à composição do lote e a capacidade germinativa, por meio de procedimentos
padronizados pelas Regras para Análise de Sementes - RAS (BRASIL, 1992). Esta
padronização visa à obtenção de resultados uniformes para um lote de sementes,
analisado em diferentes laboratórios; os procedimentos são estabelecidos por meio de
experimentação prévia, que possibilitam a avaliação da qualidade da semente; no entanto,
para espécies nativas e exóticas de menor interesse econômico, a padronização de
métodos é bastante escassa, representando menos de 0,1% das prescrições e
recomendações. Nos últimos 20 anos, houve um grande aumento de pesquisas na área
de sementes florestais, devido ao crescente interesse econômico e conservacionista
(OLIVEIRA et al., 1989). Para as sementes de palmeiras, ainda são poucas as pesquisas
para definição de padrões.
5
2.1. Livistona chinensis (Jack.) R. Br. ex. Mart.
A posição taxonômica da espécie, de acordo com Dransfield & Uhl, citados por
HENDERSON et al. (1995), é: Classe Liliopsida (Monocotyledoneae), Subclasse
Arecidae (Espadiciflorae), Ordem Arecales (Principes), Família Arecaceae (Palmae),
Subfamília Coryphoideae, Tribo Corypheae, Subtribo Livistoninae, Gênero Livistona,
Espécie Livistona chinensis (Jack.) R. Br. ex. Mart.
A espécie é a mais cultivada do gênero e, embora originária do continente
asiático, está amplamente distribuída nas Américas (MEEROW, 1991a). De acordo com
LORENZI et al. (2004), Livistona chinensis (Jack.) R. Br. ex. Mart., conhecida como
palmeira-leque-da-china e falsa-latânia, tem origem na China, no Japão, em Taiwan,
Bonin e nas Ilhas Ryukyu. É uma palmeira monóica, de 5-15 m de altura, que possui
caule solitário, ereto, anelado, fissurado, sulcado transversalmente, com poucos
remanescentes da base das folhas na região apical, medindo cerca de 20 cm de
diâmetro. Apresenta crescimento lento, sendo as folhas, em leque, numerosas,
divididas quase até a base em segmentos finos e pendentes, com pecíolo longo e
provido de espinhos curvos nas margens e de fibra marrom na base. As inflorescências
são ramificadas, densas, dispostas de maneira pendente entre as folhas. Os frutos são
ovóides ou elipsóides, glaucos (verde-azulados) e brilhantes, com polpa alaranjada
durante a maturação. A espécie, presente em regiões tropicais, de clima subtropical e
temperado de todo o mundo, é cultivada em vasos, e freqüente em parques e jardins no
Brasil, tanto como planta isolada como em grupos ou fileiras. Apresenta frutificação
abundante durante os meses de inverno, multiplica-se por sementes, que germinam em
cerca de 70 dias. Com relação às exigências ambientais, é uma espécie muito rústica,
que se desenvolve bem tanto a pleno sol como a meia sombra. Pode ser considerada
uma espécie subtropical, tolerando tanto os trópicos como as regiões temperadas, em
que suporta geadas invernais.
Tolera solos argilosos, siltosos, ácidos, alcalinos, desde que sejam bem
drenados. A tolerância à seca é moderada. Embora seja muito usada como palmeira
6
em vasos, a forma característica a torna ideal para paisagismo, em grupos ou como
planta isolada, ou, ainda, para arborização urbana. Cresce bem com pouco espaço de
terreno disponível. A planta se desfaz das folhas mais velhas, não necessitando de
podas. Adapta-se a luz direta, embora plantas jovens necessitem, parcialmente, de
sombra. A adubação deve ser feita duas a três vezes por ano, apresentando benefícios
se for feita cobertura orgânica (GILMAN & WATSON, 1993).
2.2. Germinação de sementes de palmeiras
O efeito da temperatura na germinação afeta a velocidade de absorção de água
pelas sementes e pode alterar, entre outros aspectos, a porcentagem total, a velocidade
e a uniformidade de germinação (CARVALHO & NAKAGAWA, 2000; CASTRO &
HILHORST, 2004). O teste de germinação, utilizado em laboratório para avaliar a
qualidade da semente, é realizado sob condições de temperatura e substrato ideais
para cada espécie. De acordo com BEWLEY & BLACK (1996), a temperatura influencia
a porcentagem final e a velocidade de germinação, dentro de amplitudes térmicas,
definidas para cada espécie, chamadas de máxima, ótima e mínima.
Com relação às temperaturas de germinação de sementes de palmeiras,
MEEROW (1991b) relatou que temperaturas entre 20 e 40ºC são aceitáveis, com
melhores resultados entre 30 e 35ºC para a maior parte das espécies. BROSCHAT
(1994) observou que sementes de muitas espécies germinam melhor na faixa de 25 a
35ºC, enquanto LORENZI et al. (2004) consideraram favoráveis temperaturas entre 24
e 28ºC, com umidade relativa do ar de aproximadamente 70%.
Embora a maioria das palmeiras seja de origem tropical, com sementes que
germinam, de forma natural, em temperaturas mais elevadas, vários resultados sobre
as temperaturas que proporcionam maior porcentagem de germinação têm sido
encontrados para diferentes espécies, como 30-35ºC para Chrysalidocarpus lutescens
7
H. Wendl. (BROSCHAT & DONSELMAN, 1986), 25ºC para Rhapis excelsa (Thumberg)
Henry ex. Rehder (AGUIAR et al., 2005), 25 e 30ºC para Phoenix roebelenii O´Brien
(IOSSI et al., 2003), 30 e 35°C para Syagrus romanzoffiana (PIVETTA et al., 2005a) e
temperatura alternada de 25-35ºC para Livistona rotundifolia (VIANA, 2003). Segundo
estudo de CARPENTER (1988), a temperatura de 35ºC promoveu maior germinação
para quatro espécies de palmeiras estudadas, sendo que temperaturas de 5 a 10ºC
acima ou abaixo de 35ºC, normalmente, retardaram e reduziram a germinação,
tornando-a irregular e desuniforme para as espécies Acoelorraphe wrightii (Griseb & H.
Wendl). H. Wendl. ex. Becc., Coccothrinax argentata (N. J. Jacquin) L. H. Bailey., Sabal
etonia Swingle ex. Nash. e Thrinax morrisii H. Wendl. Esta mesma temperatura, de
35ºC, foi a que proporcionou os melhores resultados de germinação de sementes para
Thrinax parviflora Swartz. (PIVETTA et al., 2005b) e para Roystonea regia (Kunth) O.F.
Cook (PENARIOL, 2005). Para outras espécies, como babaçu, tamareira-anã, pupunha
e piaçaveira, a temperatura de 30ºC foi adequada para a maioria dessas palmeiras,
enquanto temperaturas de 35ºC ou superiores prejudicaram a germinação (YOCUM,
1961; REES, 1963; PINTO, 1971; ELLIS et al., 1985; CARPENTER, 1988,
VILLALOBOS & HERRERA, 1991; MELO, 2001; IOSSI et a., 2003). No entanto, para
jerivá (Syagrus romanzoffiana), as temperaturas de 20ºC e alternada de 20-30ºC não
apresentaram germinação (PIVETTA et al., 2005a).
Do mesmo modo, a temperatura influencia a velocidade com que as sementes
de palmeira germinam. PIVETTA et al. (2005a) verificaram que, para jerivá (Syagrus
romanzoffiana), a germinação foi mais rápida na temperatura de 30°C, assim como
para tamareira-anã, com esfagno ou areia como substrato (IOSSI et al., 2003). Para
Thrinax parviflora (PIVETTA et al., 2005b), com exceção de 20ºC, as demais
temperaturas proporcionaram melhores resultados e não diferiram entre si (25, 30, 35 e
20-30 e 25-35ºC). A temperatura alternada de 25-35ºC proporcionou maior índice de
velocidade de germinação (IVG) para Livistona rotundifolia (VIANA, 2003).
O tempo gasto para que ocorra a germinação, bem como a distribuição da
germinação ao longo do tempo também varia com a espécie e outros fatores ligados à
planta ou ao ambiente. Sementes de Washingtonia robusta iniciam a germinaçãocom
8
menos de duas semanas; Chrysalidocarpus lutescens, com três a quatro semanas, e as
de Chamaedorea elegans demoraram de meses até um ano para iniciar a germinação
(BROSCHAT, 1994). MACIEL & MOGOLLÓN (1995), estudando diversas espécies de
palmeiras, verificaram que, para Livistona chinensis, a emergência teve início na oitava
semana, finalizando na 16ª semana, apresentando 90% de emergência total; para
Chrysalidocarpus lutescens, iniciou na sexta semana, finalizando na 13ª semana, com
emergência de 87%; Veitchia merrillii e Pritchardia pacifica iniciaram na sexta e oitava
semanas, finalizando na 11ª e 15ª semanas, com 85 e 86% de emergência,
respectivamente; Roystonea oleracea teve início na oitava semana, finalizando na 21ª
semana, com 53% de emergência; Caryota rumphiana iniciou na 15ª e finalizou na 35ª
semana, com apenas 47% de emergência.
ODETOLA (1987), estudando dormência, viabilidade e germinação de sementes
de palmeiras ornamentais, concluiu que não existe dormência em relação ao embrião,
que se desenvolve continuamente após a maturação do fruto. Porém, várias espécies
da família Arecaceae apresentam dormência física em graus variados, demandando
tratamentos como embebição em água ou em substâncias químicas reguladoras de
crescimento, estratificação, escarificação química ou mecânica, ou, mesmo, graus de
exposição à luminosidade.
Para alguns grupos ecológicos, a presença de luz pode influenciar a germinação
de sementes. A sensibilidade das sementes à luz é bastante variável, de acordo com a
espécie, sendo influenciada positiva ou negativamente, ou ainda, ser indiferente
(BORGES & RENA, 1993). Há espécies que crescem sob um dossel ou cobertura
vegetal espessa e, geralmente, não requerem muita luz para germinar. Ao contrário,
espécies que requerem luz para o crescimento desenvolvem-se, freqüentemente, em
clareiras, exigindo quantidades relativamente maiores de luz para que ocorra a
germinação (CASTRO & HILHORST, 2004).
Em função da resposta à luz, recomenda-se a utilização de luz branca (que
contém comprimentos de onda necessários para ativar ou desativar o fitocromo) para a
germinação das sementes de diversas espécies (ZAIDAN & BARBEDO, 2004).
9
De acordo com BROSCHAT (1994), não é de conhecimento a dependência de
luz para a germinação de sementes de palmeiras. Para a espécie Rhapis excelsa,
AGUIAR et al. (2005) verificaram não haver necessidade de luz para germinação na
temperatura de 25ºC, tendo areia como substrato. SILVA et al. (1999) avaliaram a
germinação de sementes de Aiphanes aculeata, a partir de frutos em diferentes
estádios de maturação, concluindo que a germinação foi melhor em frutos vermelhos,
independentemente dos regimes de luz (12 horas de fotoperíodo ou contínuo escuro).
2.3. Substratos
Os solos arenosos e de baixada parecem ser os mais favoráveis para as
palmeiras; no entanto, elas podem ocorrer em solos argilosos, nas serras e nos
pântanos turfosos. Existem espécies trepadoras que dependem mais de seu suporte
entre as árvores da mata do que da textura do solo em que vivem (ALVES &
DEMATTÊ, 1987).
O substrato utilizado nos testes de germinação também apresenta grande
influência no processo germinativo, pois fatores como estrutura, aeração, capacidade
de retenção de água e grau de infestação de patógenos podem variar de acordo com o
tipo de material usado (POPINIGIS, 1977). Dessa forma, as características específicas
dos diferentes substratos experimentados devem ter influência na velocidade da
embebição e, por conseguinte, na velocidade da germinação.
Na literatura, existe grande variação de resultados quando se compara a
eficiência de substratos para uma mesma espécie, pois as propriedades de um
substrato com a mesma denominação são variáveis nos diferentes trabalhos
(OLIVEIRA et al., 1989).
O substrato para a germinação de sementes de palmeiras deve ser bem drenado
e com boa capacidade de reter umidade, e as partículas não devem ser
10
excessivamente grandes. Seca e encharcamento podem prejudicar as sementes
durante a germinação (BROSCHAT, 1994). O substrato deve ser mantido
uniformemente úmido, para suprir as sementes com a quantidade de água necessária
para sua germinação e seu desenvolvimento. O excesso de água provoca decréscimo
na germinação, pois impede a penetração de oxigênio e reduz todo o processo
metabólico resultante, além de aumentar a incidência de fungos, levando à redução da
viabilidade (FIGLIOLA et al., 1993).
Embora não esteja descrita ou prescrita nas Regras para Análise de Sementes
(BRASIL, 1992), a vermiculita vem sendo recomendada como um excelente substrato
para sementes de grandes dimensões e de formato arredondado, permitindo o
desenvolvimento mais adequado de plântulas durante o teste de germinação, em
função do maior contato entre as sementes e o substrato, além de ser um bom
condicionador do solo, por melhorar as suas propriedades físico-químicas e hídricas
(FIGLIOLIA et al., 1993).
A vermiculita é um substrato adequado para a germinação de sementes de
palmeiras por ser livre de pragas e doenças, além de apresentar boas características
físicas, como boa capacidade de retenção de água e boa drenagem (YOCUM, 1964). O
esfagno e a vermiculita são substratos considerados adequados para condições de
viveiro (MEEROW, 1991b), sendo o esfagno recomendado para sementes de palmeiras
de difícil germinação, enquanto, para outras espécies com maior facilidade, o substrato
pode ser constituído por esfagno misturado com a mesma quantidade de vermiculita,
perlita, areia, serragem, rochas ou cinzas vulcânicas (MARKUS & BANKS, 1999).
Alguns estudos visando encontrar um substrato que seja mais adequado para a
germinação de sementes de palmeiras têm sido feitos em outros países (VILLALOBOS
& HERRERA, 1991; CLEMENT & DUDLEY, 1995). Porém, os resultados,
freqüentemente, não são aplicáveis nas condições brasileiras, pois os substratos
testados nem sempre são encontrados com facilidade, como é o caso de perlita, cinzas
vulcânicas e outros.
No Brasil, trabalhos semelhantes também vêm sendo feitos. Para sementes de
Phoenix dactilifera L., submetidas às temperaturas entre 25 e 35ºC, os substratos areia,
11
esfagno e vermiculita foram igualmente apropriados (Sento, citado por NUNES, 1998).
Para Phoenix roebelenii O´Brien, o esfagno foi o substrato que proporcionou maior
porcentagem de germinação quando comparado com areia, serragem e vermiculita, em
condições de ambiente (IOSSI et al., 2003); os melhores resultados foram obtidos sob
temperatura de 25 e 30ºC, com maior IVG à temperatura de 35ºC, utilizando-se esfagno
ou areia. VIANA (2003) verificou que a vermiculita e o esfagno foram os substratos que
proporcionaram maior germinação de sementes de Livistona rotundifolia. Sementes de
babaçu (Attalea speciosa Mart. ex. Spreng.) semeadas em vermiculita germinaram em
15 dias e, quando semeadas em areia, atingiram o mesmo percentual de germinação
aos 40 dias, com 40% de germinação, sob temperatura de 30ºC (Frazão & Pinheiro,
citados por MELO, 2001).
Para pupunha (Bactris gasipaes), os substratos húmus de minhoca, esterco
bovino e areia mais serragem curtida foram os que apresentaram a maior porcentagem
de germinação, com maior IVG para o primeiro (ALMEIDA et al., 2002); LEDO et al.
(2002) verificaram que a areia proporcionou maior porcentagem de germinação (53%),
quando comparada com a vermiculita (23%), enquanto CLEMENT & DUDLEY (1995),
no Havai, obtiveram melhores resultados com substrato de cinzas vulcânicas do que
com substrato misturado.
Em estudos com palmiteiro (Euterpe edulis Mart.), ANDRADE et al. (1999)
demonstraram que a vermiculita apresentou os mais altos valores; para SOUZA et al.
(1995), a temperatura alternada de 20-30ºC e o substrato vermiculita produziram os
maiores valores de germinação e de velocidade de emergência de plântulas de
palmiteiro, e TAKAHASHI et al. (1993) verificaram que o melhor resultado foi obtido com
o pó de xaxim,seguido por solo, areia e serragem, para a mesma espécie. O período
de germinação variou de 15 a 32 dias para o açaizeiro e de 19 a 40 dias para o
palmiteiro, segundo BOVI et al. (1989), e não houve diferença significativa entre os
substratos em condições de laboratório, mas notou-se que sementes sobre vermiculita,
serragem e areia apresentaram melhor desenvolvimento do que nos outros substratos,
além da vantagem de os dois primeiros não precisarem de reumidificações constantes;
a temperatura alternada de 20-35ºC foi relativamente superior à temperatura constante
12
de 35ºC, pois, além da menor germinação das sementes, ocorreu, em geral, intenso
ataque de fungos.
A fibra de coco vem sendo utilizada como substrato para várias culturas
agrícolas, como alternativa de substituição ao xaxim. É um substrato elaborado a partir
do mesocarpo do coco, que apresenta diferentes texturas, dependendo do objetivo a
que se destina. Como características, o substrato constitui um meio de cultivo muito
homogêneo, de fácil mecanização e altamente poroso, formulado para proporcionar
ótimo balanço entre aeração e capacidade de retenção de água do substrato, além de
apresentar elevada estabilidade física. Uma das empresas produtora ressalta que as
vantagens da fibra de coco são: elevadas porosidade total e capacidade de aeração
(possibilitam melhor enraizamento e melhor desenvolvimento de mudas e plantas); boa
capacidade de retenção de água disponível (evita necessidade de muitas regas);
produto não sujeito aos riscos da compostagem; excepcional propriedade de re-
hidratação, com ótima absorção; estrutura física altamente estável, resistente ao tempo;
material homogêneo e de baixa densidade aparente; material isento de sementes de
ervas daninhas, pragas e doenças (o processo industrial garante sua qualidade); fácil
mecanização dos processos de produção; economia no frete e no armazenamento
(vem prensado a 2:1); produto ecologicamente sustentável e renovável (AMAFIBRA,
2006).
Recomenda-se que os substratos para germinação de sementes de palmeiras
não contenham adubos, pois, nos estádios iniciais da germinação até o início de
formação da plântula, ocorre o consumo do material de reserva (endosperma),
responsável pelo fornecimento dos nutrientes. Segundo MEEROW (1991b), a adubação
até os dois primeiros meses, além de desnecessária, pode causar danos às plântulas.
13
2.4. Morfologia de diásporos e plântulas
Os trabalhos de morfologia de plântulas têm merecido atenção há algum tempo,
visando à sistematização da identificação de plantas. O estudo morfológico de
sementes e plântulas auxilia a análise do ciclo vegetativo das espécies (KUNIYOSHI,
1983) e pode fornecer subsídios à interpretação de testes de germinação, por meio do
conhecimento das estruturas baseado na morfologia (OLIVEIRA & PEREIRA, 1986).
Também é muito utilizado em taxonomia, segundo FERREIRA et al. (2001).
O conhecimento da germinação, envolvendo os aspectos morfológicos, é
importante para estudos taxonômicos, ecológicos e agronômicos. No caso da maioria
das palmeiras, o processo germinativo não foi completamente descrito, assim como não
foram identificadas as estruturas das plântulas em formação (GENTIL & FERREIRA,
2005).
OLIVEIRA (1993) comenta que muitos autores ressaltaram que, além da unidade
de dispersão, é imprescindível um melhor conhecimento da germinação, do
crescimento e do estabelecimento da plântula para compreender o ciclo biológico e a
regeneração natural da espécie. Dentro da tecnologia e análise de sementes, o teste de
germinação é o suporte para todas as outras análises e experimentos, e o
conhecimento das plântulas e de suas estruturas é importante para uma correta
interpretação. Nas Regras para Análise de Sementes a definição para avaliação de
plântulas normais de espécies de porte arbóreo é muito sucinta e vaga, não abrange as
variações existentes, além de só trazer recomendações para espécies exóticas de
maior valor econômico.
2.5. Sanidade
Um aspecto importante a ser considerado na realização de análise de sementes
é a condição sanitária, pois, muitas vezes, estas chegam ao laboratório contaminadas
14
com fungos, comprometendo o resultado final. Essa contaminação pode ocorrer durante
a permanência das sementes no campo, por ocasião da colheita ou nas etapas
subseqüentes. Por ser a primeira etapa da produção vegetal, a produção de mudas é
dependente de sementes sadias e com bom vigor (FIGLIOLIA et al., 1993).
As sementes de palmeiras possuem comportamento recalcitrante, ou seja, não
toleram ser secas a baixo teor de água, nem armazenadas em baixa temperatura, e a
perda da viabilidade ocorre em algumas semanas ou meses (ROBERT, 1973), o que
inviabiliza o armazenamento e o tratamento químico com fungicidas ou inseticidas.
Portanto, a produção de mudas para este grupo de plantas, logo após a colheita, torna-
se importante, pelo fato da rápida perda da capacidade germinativa das sementes. O
emprego de fungicidas para tratamento de sementes é bem definido para culturas
agronômicas e comerciais, a exemplo da soja (PERREIRA et al., 1993), milho
(GOULART, 1993) e melancia (DIP & DELACHIAVE, 1997), mas para espécies
florestais e palmeiras, há necessidade de mais estudos.
DEGAN et al. (1997), ao avaliar o teste de sanidade de sementes de ipê-branco,
Tabebuia roseo-alba (Ridl.) Sand., verificaram que 80% das sementes estavam
contaminadas com fungos do gênero Fusarium, considerado por CARNEIRO (1987) um
possível patógeno do gênero Tabebuia e de outras essências florestais, causando
“damping-off” (ou tombamento) tanto em sementes em germinação como nas plântulas
recém-emergidas. Além desse gênero, observou-se a presença de Alternaria tenuis e
de Cladosporium spp. Em estudo com sementes de paineira, independente do
tratamento químico utilizado, os fungos identificados foram Fusarium sp., Aspergillus
sp., Alternaria sp., Colletotrichum sp. e Penicillium sp. (SILVA et al., 2003).
Segundo WETZEL (1987), os fungos que infectam sementes são classificados
como de campo e de armazenamento. São fungos de campo os do gênero Fusarium,
por sua importância patogênica para diversas espécies de plantas, mais
especificamente, como causador de tombamento e morte em palmeiras produzidas a
partir de sementes infectadas (BOVI, 1998b). São classificados como fungos de
armazenamento os do gênero Penicillium sp. e Aspergillus sp., que podem causar
danos em diferentes espécies de sementes armazenadas. De acordo com os dados
15
obtidos, a presença de fungos considerados de armazenamento indica que a
permanência das sementes no campo, além da considerada ideal para colheita, pode
influenciar a sanidade, contaminando-as com tais fungos, o que prejudica a germinação
e o desenvolvimento inicial das plântulas.
Testes de sanidade com sementes de pupunheira, importadas da Costa Rica,
constataram a presença de vinte espécies fúngicas nas sementes, dentre elas,
Fusarium moniliforme, F. semitectum, Penicillium sp. e Rhizopus sp. (COATES-
BECKFORD & CHUNG, 1987). No Brasil, BOVI et al. (1993) constataram a presença de
Ceratocystis paradoxa, Colletotrichum gloeosporioides, F. oxysporum, Phytophthora sp.,
Phoma sp. e Trichoderma sp., em sementes de pupunha importadas do Peru; a
presença desses microrganismos esteve, invariavelmente, associada a lotes com baixa
porcentagem de germinação.
Observa-se a ocorrência de diversos patógenos em mudas enviveiradas e em
plantas adultas de pupunha tanto na região Amazônica como no Estado de São Paulo:
TRINDADE et al. (1997) observaram Colletotrichum gloeosporioides, Ceratocystis
paradoxa e Curvularia sp.; STEIN et al. (1997) relataram Phytophthora palmivora;
PIZZINATTO et al. (2000) observaram C. gloeosporioides, Bipolaris sp., Allernaria spp.,
Cercospora sp., Fusarium spp., Rhizoctonia sp. e Thielaviopsis paradoxa, provocando
diferentes sintomas em plantas de pupunha.
Muitos desses fungos são relatados, freqüentemente, em sementesde várias
espécies de plantas (RICHARDSON, 1979), podendo ser transmitidos por elas. Desse
modo, a transmissão desses patógenos pelas sementes pode consistir no inóculo
primário de doenças e/ou numa forma de introduzir patógenos em áreas não infestadas
(GABRIELSON, 1983). PIZZINATTO et al. (2000) salientaram que o tratamento de
sementes de pupunha (Bactris gasipaes Kunth), para a produção de palmito e também
como espécie ornamental, é importante, pois, normalmente, há problemas durante a
germinação e a formação de mudas (BOVI, 1998a,b), influenciando negativamente o
desempenho no campo (VARGAS & VILLAPLANA, 1979; COATES-BECKFORD &
CHUNG, 1987; BOVI et al., 1993).
16
3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1. Coleta e beneficiamento dos frutos
Os cachos de Livistona chinensis (Jack.) R. Br. ex. Mart. foram colhidos no dia 13
de julho de 2005, de dez matrizes com aproximadamente 30 anos de idade, existentes
na Coleção de Palmeiras da UNESP – Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias
(FCAV), Câmpus de Jaboticabal. Os frutos apresentavam cor verde-azulada (Figura 1).
Após a colheita, os frutos foram homogeneizados e deixados imersos em água
em temperatura ambiente, por 24 horas. O despolpamento consistiu na remoção do
epicarpo e do mesocarpo dos frutos, por meio de atrito manual contra uma peneira. Os
diásporos (sementes com o endocarpo aderido) foram enxaguadas em água corrente e
secas à sombra durante 24 horas. Antes da instalação dos tratamentos, foram
selecionados visualmente, com a retirada daqueles mal-formados, danificados ou
abaixo do padrão.
Os experimentos foram conduzidos no Laboratório de Sementes Hortícolas e
Florestais do Departamento de Produção Vegetal – Horticultura, e no ripado do Viveiro
Experimental (Horto) da UNESP - FCAV.
17
Figura 1. Livistona chinensis (Jack.) R. Br. ex. Mart.: frutos verde-azulado e verde-
amarelado (A), sementes – diásporos (B), plântulas (C) e plantas adultas (D).
A
B
D
C
18
3.2. Morfologia dos diásporos e crescimento inicial das plântulas
Para complementação dos estudos, obtiveram-se os dados biométricos dos
diásporos (largura, comprimento, peso de mil diásporos e número de diásporos kg-1) e o
teor de água destes.
As medidas da largura e do comprimento foram realizadas com paquímetro
digital (graduado em milímetros) em uma amostra de 100 diásporos. De acordo com as
Regras para Análise de Sementes (BRASIL, 1992), obteve-se o número de diásporos
por quilograma e a massa de 1000 diásporos.
Para a obtenção do teor de água, utilizaram-se cinco repetições de 20 diásporos,
por meio do método de estufa a 105ºC ± 3ºC por 24 horas, segundo as RAS (BRASIL,
1992).
Foram semeados 100 diásporos em bandejas de plástico (50 x 25 x 6 cm)
contendo cerca de 5 cm de vermiculita, mantidas em condições de temperatura
ambiente no Laboratório de Sementes de Plantas Hortícolas do Departamento de
Produção Vegetal da UNESP/FCAV, Câmpus de Jaboticabal; foram realizadas regas de
modo a manter o substrato sempre úmido, com acompanhamento da germinação das
sementes a cada estádio de desenvolvimento. As faces externa e interna dos
diásporos, bem como o embrião, até o desenvolvimento da plântula, foram
esquematizados com auxílio de câmara clara acoplada ao estereomicroscópio. As
descrições morfológicas foram baseadas na terminologia empregada por TOMLINSON
(1961).
19
3.3. Germinação em laboratório
O delineamento experimental foi inteiramente casualizado. O experimento foi
conduzido em esquema fatorial 6 x 2, ou seja, seis condições de temperaturas em BOD
(constantes de 20ºC, 25ºC, 30ºC, 35ºC e alternadas de 20-30ºC e 25-35ºC), associadas
a dois regimes de luz (8 horas de luz ou escuro contínuo) e quatro repetições de 25
sementes.
Os diásporos foram colocados em caixas gerbox desinfetadas com álcool,
contendo como substrato vermiculita média. A reposição de água foi feita a cada dois
dias, por peso, mantendo 100% da capacidade de campo. Para os tratamentos com luz,
utilizou-se caixa gerbox transparente e fotoperíodo de 8 horas; para os tratamentos no
escuro contínuo, utilizou-se caixa gerbox preta, sendo a avaliação realizada em câmara
escura, sob luz verde de segurança.
3.4. Emergência em viveiro
O delineamento experimental foi inteiramente casualizado. Os tratamentos foram
quatro tipos de substratos (areia, vermiculita, esfagno e fibra de coco) com cinco
repetições de 50 sementes.
O experimento foi instalado no viveiro, em condições não controladas; a
semeadura foi feita em caixas de plástico verde (60 x 25 x 13 cm). As temperaturas
médias registradas no ripado do Viveiro Experimental da UNESP – FCAV variaram
entre 36,5ºC e 18ºC, com máxima de 40ºC e mínima de 11ºC, durante o período de
condução experimental. A reposição de água foi feita a cada dois dias, por peso,
mantendo 100% da capacidade de campo.
20
Utilizou-se areia de rio lavada e esterilizada; vermiculita de textura média;
esfagno (estrutura seca das plantas pertencentes ao gênero Sphagnum) e fibra de
coco. A fibra de coco utilizada foi Golden-Mix tipo 80 – Fibroso, escolhida entre os
diversos tipos por não apresentar adubação de base.
3.5. Teste de sanidade
Para a realização do teste de sanidade, foram coletados dois lotes de frutos em
diferentes estádios visuais de maturação: frutos com coloração verde-amarelada e
frutos que apresentavam coloração verde-azulada (com menor para maior grau de
maturação). Os frutos foram despolpados, para remoção do epicarpo e do mesocarpo,
por meio do atrito manual contra uma peneira, e enxaguados em água corrente. A
seguir, os diásporos foram selecionados visualmente, com a retirada daqueles que se
apresentavam mal-formados, danificados ou abaixo do padrão.
O experimento foi conduzido no Laboratório de Sanidade de Sementes do
Departamento de Fitossanidade, da UNESP/FCAV. Foi utilizado o método de papel de
filtro (BRASIL, 1992), em placas de Petri de 9 cm de diâmetro e três folhas de papel de
filtro, previamente umedecidas com água destilada, com 20 repetições de 8 sementes,
incubadas a 20º±2ºC, com 12 horas de iluminação (com lâmpada branca fluorescente
de 40 watts). A avaliação foi feita sete dias após a incubação, com a identificação dos
microrganismos com o auxílio de microscópio estereoscópio e literatura pertinente
(BARNETT & HUNTER, 1972). Os resultados foram expressos em porcentagem de
sementes contaminadas com cada gênero de fungo.
21
3.6. Avaliações e tratamento estatístico
Para a descrição da morfologia do diásporo e do crescimento inicial da plântula
de Livistona chinensis (Jack.) R. Br. ex. Mart., as avaliações foram realizadas
acompanhando o processo germinativo, a partir da primeira semana, a cada estádio de
desenvolvimento, até a emissão do primeiro eófilo.
Os critérios de germinação adotados para a avaliação dos experimentos foram
diferentes no laboratório e no viveiro. No laboratório, a semente foi considerada
germinada quando apresentou o início da protrusão do botão germinativo. No viveiro, a
avaliação foi feita pela contagem de plântulas emergidas, fazendo uso do critério da
tecnologia de sementes, ou seja, a obtenção de uma plântula normal, com suas
estruturas essenciais desenvolvidas (BRASIL, 1992).
As observações para a contagem de sementes germinadas em laboratório foram
realizadas diariamente, enquanto, para a contagem de emergência de plântulas em
viveiro, a cada dois dias, até a estabilização do processo.
Foram calculadas a porcentagem de germinação e de emergência, além dos
índices de velocidade de germinação (IVG) e de emergência (IVE), estes últimos,
adaptando o critério estabelecido por MAGUIRE (1962).
Os dados de porcentagem de germinação e de emergência foram transformados
em arc seno (x/100)¹/² e as médias, comparadas pelo teste de Tukey, a 5% de
probabilidade (BANZATTO & KRONKA, 2006).
22
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1. Morfologia
Com base nas Regras para Análise de Sementes (BRASIL, 1992), o teor de
água das sementes foi determinadoe apresentou um valor médio de 19,31%; o peso de
1000 diásporos foi de 1157,7 g e 1 kg conteve 860 diásporos. Segundo LORENZI et al.
(2004), um quilograma de sementes de Livistona chinensis contém, aproximadamente,
375 frutos e 750 diásporos. Esta variação pode ser explicada pelo fato do autor estudar
matrizes de diferentes procedências.
Os diásporos de Livistona chinensis (Jack.) R. Br. ex. Mart. têm forma oval, com
comprimento médio de 16,37 mm e largura média de 10,25 mm (Figura 2A). As
sementes são albuminosas, com endosperma rígido ocupando quase todo o interior do
diásporo (Figura 2B). O embrião é lateral, periférico, cônico e pouco diferenciado
(Figura 2B e 2C), como relatado por ALVES (1986) em sementes de algumas espécies
de palmeiras da subtribo Livistoninae.
Segundo TOMLINSON (1961), a germinação de palmeiras pode ser de dois
tipos, adjacente e remota, sendo que esta última subdivide-se em remota ligulada e
remota aligulada ou tubular. A germinação das sementes de Livistona é do tipo remota
tubular. Nesse tipo de germinação, o alongamento do pecíolo cotiledonar é marcante, e
nela não se observa a lígula (MEEROW, 1991b), como pode ser observado na Figura 3.
O início da germinação ocorreu entre o 4º ao 47º dia, dependendo da
temperatura, com a abertura de um opérculo circular no endocarpo por onde emerge
uma estrutura bulbosa e oca, denominada pecíolo cotiledonar (Figura 3A), resultante do
alongamento do cotilédone único, que, internamente, passa a funcionar como um órgão
de absorção de reservas, denominado haustório (Figuras 3 e 6).
23
Com o crescimento do pecíolo cotiledonar o material de reserva (endosperma)
vai sendo consumido gradativamente. Este, cresce, aproximadamente, 5 cm, quando
então começa a dilatar em sua extremidade (Figura 4A), por onde inicia-se o
crescimento da raiz primária e a abertura de uma fenda longitudinal por onde emerge a
parte área (plúmula). Nesta fase, observa-se o aparecimento de raízes secundárias. A
plúmula é composta por uma folha incompleta, denominada bainha, que reveste a
primeira folha juvenil completa, denominada eófilo (Figura 5). A primeira folha de
Livistona é simples e lanceolada, com nervação paralela, composta por nervuras largas,
dispostas longitudinalmente.
A Figura 6 apresenta cortes internos das sementes de Livistona chinensis (Jack.)
R. Br. ex. Mart., mostrando o embrião, o endosperma e a invaginação do tegumento da
semente, em diferentes estágios da germinação da semente e crescimento da plântula.
Por esta representação, enquanto o pecíolo cotiledonar cresce, o haustório se
desenvolve internamente, funcionando como um órgão de absorção de reservas,
consumindo gradativamente o endosperma (Figuras 6B e 6C), que antes ocupava todo
o interior da semente. Para um melhor entendimento, a Figura 6 deve ser visualizada
conjuntamente com as Figuras 3, 4 e 5, por meio do acompanhamento do
desenvolvimento da plântula.
24
Figura 2. Aspectos de sementes de Livistona chinensis (Jack.) R. Br. ex. Mart.: A – vista
frontal (externa) da semente; B – corte longitudinal da semente expondo o
embrião, o endosperma e a invaginação do tegumento da semente; C –
embrião. Legenda: e – embrião; en – endocarpo; a – endosperma ou
albúmem; t – invaginação do tegumento da semente.
Figura 3. Aspectos morfológicos externos da germinação de sementes de Livistona
chinensis (Jack.) R. Br. ex. Mart.: A – B – C – fases de crescimento
progressivo do pecíolo cotiledonar. Legenda: pc – pecíolo cotiledonar.
pc
B
pc
C
A
pc
B
A
e
t
en
a
C
25
Figura 4. Aspectos morfológicos externos da germinação de sementes de Livistona
chinensis (Jack.) R. Br. ex. Mart.: A – início da dilatação da extremidade do
pecíolo cotiledonar; B – diferenciação da fenda longitudinal e da raiz primária.
C – crescimento da raiz primária e secundária, abertura das bainhas e
emergência do primeiro eófilo ou folha primária. Legenda: pc – pecíolo
cotiledonar; d – dilatação; pr – primórdio da raiz primária; b – bainha; p –
plúmula; fp – folha primária; rp – raiz primária; rs – raiz secundária.
B
pc
rp
p
A
d
pc
pr
C
pc
rp
rs
b
fp
1,5 cm

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