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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA E BIOLOGIA MOLECULAR PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOQUÍMICA ANNA LÍDIA NUNES VARELA PARÂMETROS BIOQUÍMICOS, FISIOLÓGICOS E PROTEÔMICA DO FEIJÃO-DE-CORDA [Vigna unguiculata (L) Walp.] INFECTADO PELO VÍRUS DO MOSAICO SEVERO DO CAUPI (CPSMV) E A INFLUÊNCIA DO ESTRESSE SALINO NESTA INTERAÇÃO INCOMPATÍVEL FORTALEZA 2016 ANNA LÍDIA NUNES VARELA PARÂMETROS BIOQUÍMICOS, FISIOLÓGICOS E PROTEÔMICA DO FEIJÃO-DE- CORDA [Vigna unguiculata (L) Walp.] INFECTADO PELO VÍRUS DO MOSAICO SEVERO DO CAUPI (CPSMV) E A INFLUÊNCIA DO ESTRESSE SALINO NESTA INTERAÇÃO INCOMPATÍVEL Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Bioquímica, do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Bioquímica. Área de concentração: Bioquímica Vegetal. Orientador: Prof. Dr. José Tadeu Abreu de Oliveira. FORTALEZA 2016 ANNA LÍDIA NUNES VARELA PARÂMETROS BIOQUÍMICOS, FISIOLÓGICOS E PROTEÔMICA DO FEIJÃO-DE- CORDA [Vigna unguiculata (L) Walp.] INFECTADO PELO VÍRUS DO MOSAICO SEVERO DO CAUPI (CPSMV) E A INFLUÊNCIA DO ESTRESSE SALINO NESTA INTERAÇÃO INCOMPATÍVEL Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Bioquímica, do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Bioquímica. Área de concentração: Bioquímica Vegetal. Aprovada em: BANCA EXAMINADORA Profª. Drª. Vânia Maria Maciel Melo Universidade Federal do Ceará (UFC) Prof. Dr. Thalles Barbosa Grangeiro Universidade Federal do Ceará (UFC) Dr. Fabrício Eulálio Leite Carvalho Universidade Federal do Ceará (UFC) Drª. Emanoella Lima Soares Universidade Federal do Ceará (UFC) Prof. Dr. José Tadeu Abreu de Oliveira (Orientador) Universidade Federal do Ceará (UFC) AGRADECIMENTOS Ao meu bom Deus, pelo seu infinito amor e bondade. Por sempre guiar meus passos e colocar anjos em minha vida que me ajudam a enfrentar todos os obstáculos dessa caminhada. Ao meu orientador, Dr. José Tadeu Abreu de Oliveira, pela criteriosa orientação, dedicação, confiança, compreensão e, principalmente, pela grande contribuição na minha formação científica. A todos os doutores membros da banca pela pronta aceitação em participarem da avaliação desse trabalho e pelas valiosas contribuições científicas. À Professora Dra. Ilka Vasconcelos pelos ensinamentos, apoio, e carinho, sempre demonstrados. À Dr. Setsuko komatsu (NationalAgricultureand Food Research Organization) e Dr. Joaquim Albenísio G. Silveira (UFC) pela parceria científica. A todos os professores do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular que muito contribuiu para a minha formação intelectual e científica. Aos amigos do Laboratório de Proteínas Vegetais de Defesa (Handerson, Thiago, Pedro, Ivna, Dhel, Bárbara, Jordânia, Louise, Queilane, Fredy, Raissa, Ana Lu, Rodolpho e Handerson) pela companhia, auxílio e momentos de descontração. Ao grupo do Laboratório de Proteínas Tóxicas Vegetais (Lucas, Paulo, Bela Gisele, Mirella, Helen, Thiago, Xavier, Marina e todos os outros) pelo apoio e companheirismo sempre prestados. À professora e amiga Dr. Daniele Oliveira, pela amizade, carinho, força e momentos de descontração. À minha grande amiga Ana Karla Lobo, pela amizade, carinho, companheirismo, e momentos de descontração, e a todos os estudantes do LabPlant pela ajuda e apoio na realização de várias atividades. Ao meu amigo Pedro Filho, pela grande ajuda na realização desse trabalho, pela paciência e amizade em todo esse tempo de caminhada juntos. MUITO ESPECIALMENTE, ao meu amigo e companheiro, Rodolpho Glauber Guedes Silva, por ser como um “irmão” para mim, tornando-se parte essencial da minha vida. vi Aos meus grandes amigos, Hermínio Ismael e Hudson Fernando, por estarem sempre presentes nas horas que mais precisei, pelos momentos de descontração, carinho e incentivo e por serem meus exemplos de inteligência e dedicação. À minha família, pelos cuidados, dedicação e companheirismo. De forma muito especial, à minha mãe, Ana Lúcia Nunes Varela, e ao meu pai, Francisco Gilmar Varela, pelo amor, carinho e dedicação em toda a minha formação, que me permitiu chegar até aqui. Aos meus tios e tias, que honestamente são grandes exemplos de esforço e vitória. Às minhas queridas avós (in memoriam), Alzira e Dasdores, que recentemente partiram nossos corações com a partida para outro “plano”, mas que deixaram um legado de sabedoria, força e união em uma família. À família Chaves Pinho que me acolheram como parte da família, obrigada por todo carinho e afeto dedicado a mim. Gostaria de dedicar essa tese, DE UMA MANEIRA ESPECIAL, a minha linda irmã, Ananda Lívia Nunes Varela, pelo amor, companheirismo, pelas confidências, dedicação, apoio, incentivo e valiosa presença em minha vida e a minha amiga, companheira e anjo da guarda, Tatiane Chaves Pinho, pela força, dedicação, pelo seu amor, apoio, compreensão, carinho, ajuda, por me mostrar o meu potencial, por me incentivar para conseguir o melhor, por tornar minha vida mais feliz e completa. A todos que direta ou indiretamente contribuíram para a execução deste trabalho. vii AGRADECIMENTOS INSTITUCIONAIS Este trabalho foi realizado graças ao auxílio das seguintes Instituições: Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular do Centro de Ciências da Universidade Federal do Ceará (DBBM-UFC). Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal e de Ensino Superior (CAPES), pela bolsa de Pós-Graduação concedida ao autor, através de convênio com o Programa de Pós- Graduação em Bioquímica do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular do Centro de Ciências da Universidade Federal do Ceará. Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), através de convênio com o Programa de Pós-Graduação em Bioquímica do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular do Centro de Ciências da Universidade Federal do Ceará. Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP), através de convênio com o Programa de Pós-Graduação em Bioquímica do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular do Centro de Ciências da Universidade Federal do Ceará. viii RESUMO GERAL O feijão-de-corda (Vigna unguiculata) é um alimento de grande importância comercial, infelizmente, está sujeito a vários estresses ambientais, acarretando perdas consideráveis em sua produtividade. A salinidade representa um dos fatores abióticos mais importantes, além disso os vírus, como o mosaico severo do caupi (CPSMV), destacam-se, pois, representam o principal grupo de patógenos que acometem essa cultura. Em condições de campo, os estresses mencionados acima podem ocorrer tanto individualmente quanto simultaneamente, promovendo impacto negativo no crescimento e desenvolvimento das plantas. Portanto, esse trabalho foi realizado a fim de melhorar a nossa compreensão sobre os mecanismos complexos envolvidos na interação incompatível do feijão-de-corda (genótipo BRS-Marataoã) com o CPSMV, sua resposta frente ao estresse salino e a combinação desses dois estresses. Sob essas condições, medidas de trocas gasosas (PN, gS, Ci e E), conteúdo de clorofilas (Chla, chlb, chl totais e carotenoides), cinética enzimática de proteínas antioxidantes (superóxido dismutase, catalase e ascorbato peroxidase) e PR-proteínas (peroxidase, glucanase e quitinase), bem como a dosagem de peróxidode hidrogênio, TBARS e a quantificação do CPSMV em folhas de feijão-de- corda foram realizadas. Além disso, proteínas diferencialmente acumuladas em folhas de feijão-de-corda submetidas a esses estresses foram quantificadas e identificadas por nano LC-MS/MS e bancos de dados disponíveis. Todas as análises foram realizadas com 2 e 6 dias após os estresses. Visualmente, por ser um cultivar resistente, BRS-Marataoã não apresenta sintomas da doença causada pelo CPSMV, como esperado, também não apresentou acúmulo de partículas virais nas folhas que foram infectadas pelo vírus, via RT-PCR. Além disso, plantas infectadas (V) mantiveram elevados níveis de fotossíntese e clorofilas em relação as plantas controles (MI), observou-se também uma redução em atividades CAT e APX e aumento nas atividades de SOD e PAL, o que levou ao aumento do H2O2 e acúmulo de compostos fenólicos, favorecendo a resposta antioxidante da planta. Curiosamente, a atividade βGLU diminuiu em plantas apenas inoculadas com o V, o que pode estar relacionado com o aumento de calose impedindo que o vírus se espalhe pela planta. Todos esses resultados nos mostram indícios de alguns fatores envolvidos na resistência desse cultivar ao CPSMV. Quando os estresses, sal e vírus, são aplicados simultaneamente [SV] notamos acentuada diminuição em parâmetros fotossintéticos e conteúdo de clorofilas. Esses resultados são ainda menores quando o ix estresse salino é induzido e, 24 horas após, o CPSMV é inoculado [S(24h)V]. Nesse grupo de plantas, por RT-PCR, notamos a presença do RNA das partículas virais, além de um grande acúmulo de peróxido e danos de membrana, mostrando que o estresse salino, quando aplicado 24 horas antes do estresse viral, debilita a planta favorecendo o ataque do patógeno. Contudo, essas plantas não apresentaram sintomas característicos do CPSMV. Isso pode estar relacionado com o aumento da atividade de enzimas antioxidantes como CAT, SOD, tiorredoxinas, peroxirredoxinas. Além de PR-proteínas como CHI e POX, que acionam os mecanismos de defesa e impedem o estabelecimento da doença nessas plantas. Foram identificadas, com nano LC-MS/MS, proteínas diferencialmente expressas relacionadas com fotossíntese, energia e metabolismo de carboidratos, defesa e estresse, estrutura e sinalização, ligantes a nucleotídeos, relacionadas com homeostase redox, entre outras. Estes resultados são importantes para a compreensão dos mecanismos celulares que atuam no feijão-de-corda, genótipo BRS- Marataoã, quando submetido à infecção viral, ao estresse salino, e a ambos os estresses de forma combinada. Palavras-chave: Feijão-de-corda, estresse salino, CPSMV, estresses combinados x ABSTRACT Cowpea (Vigna unguiculata) is a great commercialy importance food, however its productivety is strongly decreased by environmental stresses, biotic or abiotic. In semiarid regions, salinity and viruses, such as severe mosaic of cowpea (CPSMV), are the most important stresses that limit cowpea yield. Under field conditions, these stresses may occur individually or simultaneously increasing the negative effects on plants growth and development. Therefore, this study was conducted in order to improve the understanding of the mechanisms involved in the incompatible interaction of cowpea (BRS-Marataoã genotype) with CPSMV, salt stress and the combination of stresses. Under these conditions, were evaluated gas exchange measurements (PN, gS, C and E), chlorophyll content (Chla, chlb, total chl and carotenoids), enzyme kinetics of antioxidant protein (superoxide dismutase, catalase and ascorbate peroxidase), PR-proteins (peroxidase-glucanase and chitinase), the hydrogen peroxide dosage and quantification of TBARS. In addition, the differentially accumulated proteins from cowpea leaves subjected to combined stress were quantified and identified by nano LC-MS / MS and available databases. The analyzes were performed at 2 and 6 days after the stresses imposition. Visually, the resistant cultivar BRS-Marataoã did not have symptoms of disease caused by CPSMV, as expected, additionaly, plants did not show accumulation of virus particles in the infected leaves. Besides that, the infected plants (V) showed high levels of photosynthesis and chlorophyll compared to control plants (I). Furthermore, it was observed reductions in CAT and APX and increases in SOD and PAL activities, leading to increase of H2O2 and phenolic compounds in infected plants compared to controls. Interestingly, the βGLU activity decreased only in plants inoculated with V, which may have been associated with increase of callose, which prevents the virus spreading in the plant. All these results shown support evidences that this cultivar is resistant to CPSMV. When the combination of salt stress and viruses are applied simultaneously [SV], a remarkable decrease was observed in photosynthetic parameters and chlorophyll content. These results are even lower when the salt stress is induced and, 24 hours later, inoculated CPSMV is [S(24h)V]. The CPSMV resistant cultivar became sensible to this virus after 24 h in presence of salt stress. In this group of plants, we noted the presence of RNA of viral particles, and a large accumulation of peroxide and membrane damage, showing that the salt stress, when applied 24 hours before the viral xi stress, weakens the plant and favors the pathogen attack. However, these plants did not show apparent symptoms of CPSMV. This may be related to the increased activity of antioxidant enzymes and PR-proteins such as CAT, SOD, thioredoxin, peroxiredoxins CHI and POX when compared to the controls. It is known that those enzymes trigger defense mechanisms and prevent the establishment of diseases in plants. Differentially expressed proteins related to photosynthesis, carbohydrate energy and metabolism, defense and stress, structure and signaling, nucleotide ligands, related to redox homeostasis, among others, were identified with nano LC-MS/MS. These results are important for the understanding of the cellular mechanisms that act in string bean, genotype BRS-Marataoã, when subjected to viral infection, to saline stress, and to both stresses in a combined manner. Keywords: Cowpea, salt stress, CPSMV, combined stresses. xii LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 Ilustração da planta de feijão (V. unguiculata) mostrando folhas, vagens, sementes e flores ................................................................................................ 23 FIGURA 2 Representação esquemática do genoma bipartido (A) e capsídeo CPSMV (B) Proteínas virais .................................................................................................. 28 FIGURA 3 Vírus do Mosaico Severo do Caupi (CPSMV) em folhas de feijão-de-corda .... 30 FIGURA 4 Visão geral de alguns dos padrões moleculares na interação planta-patógeno ........................................................................................................................... 32 FIGURA 5 Esquema modelo de reconhecimento gene-a-gene ............................................ 33 FIGURA 6 Esquema modelo de reconhecimento “guarda”.................................................. 33 FIGURA 7 Esquema modelo de reconhecimento decoy”..................................................... 34 FIGURA 8 Representação esquemática dos principais tipos de resistência contra vírus de plantas. (A) A resistência dominante, (B) Resistência recessiva e (C) RNA de interferência (RNAi) .......................................................................................... 38 FIGURE 1 Quantification of CPSMV and representative images of leaves ………………. 64 FIGURE 2 (A) Net photosynthesis, (B) stomatalconductance, transpiration rate (C) and (D) internal CO2 partial pressure in cowpea leaves (BRS-Marataoã genotype) subjected to CPSMV infection at 2 and 6 days post CPSMV inoculation (DPI) ……………………………………………………………………………....... 65 FIGURE 3 (A) Photochemical quenching, (B) Non-photochemical quenching and (C) Electron transport rate in cowpea leaves (BRS-Marataoã genotype) subjected to CPSMV infection at 2 and 6 days post inoculation (DPI) ………………… 66 FIGURE 4 Effect of CPSMV inoculation on (A) chlorophyll a, (B) Chlorophyll b, (C) Total chlorophyll and (D) carotenoid content in cowpea leaves (BRS- Marataoã genotype) subjected to CPSMV infection at 2 and 6 days post inoculation (DPI) ………………………………………………………........... 67 CAPÍTULO I CAPÍTULO II xiii FIGURE 5 Activity of (A) PAL and (C) Phenolic compounds content in cowpea leaves (BRS-Marataoã genotypes) subjected to CPSMV infection at 2 and 6 after post inoculation (DPI) ……………………………………………………………... 68 FIGURE 6 Activity of (A) POX, (B) βGLU and (C) CHI in cowpea leaves (BRS- Marataoã genotypes) subjected to CPSMV infection at 2 and 6 after post inoculation (DPI) …………………………………………………………… 69 FIGURE 7 (A) H2O2 detection and (B) TBARS content in cowpea leaves (BRS-Marataoã genotype) subjected to CPSMV infection at 2 and 6 days post inoculation (DPI) ………………………………………………………………………… 70 FIGURE 8 Activity of SOD, CAT, and APX in cowpea leaves (BRS-Marataoã genotype) subjected to CPSMV infection at 2 and 6 days post inoculation (DPI) ………... 71 FIGURE 9 (A) Venn diagrams showing the number of of proteins that increased or decreased in and (B) Distribution functions of protein in cowpea plants infected to CPSMV (V) comparated to control (MI), at 2 and 6 DPI ………….. 73 FIGURE 10 Functional classification of proteins identified in cowpea plants subjected to CPSMV infection at 2 and 6 days post inoculation (DPI) …………………… 80 FIGURE 11 Schematic proposal of the events that allow CPSMV infection and spreading in a resistant cowpea genotype (BRS-Marataoã), based on the present knowledge of plant-virus interactions and the observations from this current research work ………………………………………………………………… 98 FIGURE 1 (A) Representative images, (B) Shoot and Root Dry weight, and (C) CPSMV particles detection by RT-PCR of cowpea plants subjected to salt stress and viral infection, applied simultaneously [SV group], or when the virus is applied only 24 after salt stress [S(24h)V group], at 2 and 6 days post stress (DPS) …………………………………………………………………………. 239 FIGURE 2 (A) and (B) Quantitative and qualitative H2O2 detection, (C) and (D) lipid peroxidation (MDA content), (E) and (F) membrane damage in cowpea plants subjected to salt stress and viral infection, applied simultaneously [SV group], CAPÍTULO III xiv or when the virus is applied only 24 after salt stress [S(24h)V group], at 2 and 6 days post stress (DPS) ………………………………………………………. 244 FIGURE 3 Activity of (A and B) SOD, (C and D) CAT, and (E and F) APX in cowpea plants subjected to salt stress and viral infection, applied simultaneously [SV group], or when the virus is applied only 24 after salt stress [S(24h)V group], at 2 and 6 days post stress (DPS) ……………………………………………… 246 FIGURE 4 Activity of (A and B) PAL and (C and D) Phenolic compounds content in cowpea plants subjected to salt stress and viral infection, applied simultaneously [SV group], or when the virus is applied only 24 after salt stress [S(24h)V group], at 2 and 6 days post stress (DPS) …………………….. 247 FIGURE 5 Activity of (A and B) POX, (C and D) βGLU and (E and F) CHI in cowpea plants subjected to salt stress and viral infection, applied simultaneously [SV group], or when the virus is applied only 24 after salt stress [S(24h)V group], at 2 and 6 days post stress (DPS) ……………………………………………… 249 FIGURE 6 (A) Venn diagrams showing the number of differentially accumulated proteins and (B) Distribution functions of protein in cowpea plants subjected to salt stress and viral infection [SV group], at 2 and 6 days post stresses (DPS) …….. 251 FIGURE 7 (A) Venn diagrams showing the number of differentially accumulated proteins and (B) Distribution functions of protein in cowpea plants subjected to salt stress and, 24 hours after, viral infection, [S(24h)V group], at 2 and 6 days post stress (DPS) …………………………………………………………….... 260 FIGURE 8 Functional classification of differentially accumulated proteins identified in cowpea plants subjected to salt stress and viral infection, applied simultaneously [SV group], or when the virus is applied only 24 after salt stress [S(24h)V group], at 2 and 6 days post stress (DPS) …………………….. 261 FIGURE 9 Schematic proposal of the events that allow increased of susceptibility to CPSMV infection and spreading in a resistant cowpea genotype (BRS- Marataoã) after of 24 hours of salinity stress, based on the present knowledge of plant-virus interactions and the observations from this current research work …………………………………………………………………………... 281 xv LISTA DE TABELAS Table 1 Some of the differentially expressed proteins in cowpea plants subjected to viral infection (V) compared to control (MI) at 2 and 6 DPI ………………… 74 Table 1 Effects of virus (V), salt stress and virus (SV), Salt, 24 hours, injury [S(24h)I]; Salt, 24 hours, virus [S(24h)V], at 2 and 6 DPS on net photosynthesis (PN), stomatal conductance (gS), transpiration rate (E), intercellular CO2 partial pressure (Ci), photochemical quenching (qP) and non-photochemical quenching (NPQ) in cowpea secondary leaves ……………………………… 242 Table 2 Effects of virus (V), salt stress and virus (SV), Salt, 24 hours, injury [S(24h)MI]; Salt, 24 hours, virus [S(24h)V], at 2 and 6 DPS on Total Chlorophyll (Total Chl), Chlorophyll a (Chl a), Chlorophyll b (Chl b) and Carotenoids contents in cowpea secondary leaves ……………………………. 243 Table 3 Some of the differentially expressed proteins in in cowpea plants subjected to salt stress and viral infection, applied simultaneously [SV group], at 2 and 6 days post stresses (DPS), compared to only stressed plants with virus (V) to evaluate the effect of combined stress ………………………………………… 254 Table 4 Some of the differentially expressed proteins in in cowpea plants subjected to salt stress and, 24 hours after, viral infection [S(24h)V group], at 2 and 6 days post stress (DPS), compared to plants subjected with salt stress and, 24 hour after, injury [S(24h)MI), to evaluate the effect of combined stress submitted separately …………………………………………………………………… 264 CAPÍTULO II CAPÍTULO III xvi LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS APX Ascorbato peroxidase Avr Avirulencia CAT Catalase CHI Quitinase Ci Concentração interna de CO2 CMV Vírus do mosaico do pepino CPSMV Virus do mosaico severo do caupi E Taxa de transpiração eEF Fatores de elongação eucariótico eIF Fatores de iniciação da tradução eucariótico ETI Imunidade desencadeada por efetores ETR Taxa de transporte de elétrons βGLU Glucanase gS Condutância estomática HR Resposta hipersensitiva HSP Proteína de choque térmico LVM Vírus do mosaico do alface MAMPS Padrões moleculares associados aos microrganismos MAPK MAP quinase miRNA MicroRNA PAMPS Padrões moleculares associados aos patógenos PMMoV Vírus do mosqueado do pimentão PN Fotossíntese líquida POX Peroxidase do guaiacol PPFD Densidade do fluxo de fótons fotossintéticos PRR Receptores de reconhecimento de padrões Prx Peroxirredoxina PSI Fotossistema I PSII Fotossistema II PTGS Silenciamento gênico pós-transcricional PTI Imunidade desencadeada por PAMPsxvii RISC Complexo de silenciamento induzido por RNA RNAi RNA de interferência RT-PCR Reações de amplificação semi-quantitativa pela RNA polimerase de transcritos reversos ROS Espécies reativas de oxigênio SAR Resposta sistêmica adquirida siRNA Pequeno RNA de interferência SOD Superóxido dismutase sRNAs Pequenos RNAs TBARS Substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico TGS Silenciamento gênico transcricional TMV Vírus do mosaico do tabaco VPg Proteína viral ligada ao genoma ΔF/Fm’ Eficiência quântica efetiva do fotossistema II xviii SUMÁRIO RESUMO GERAL ..................................................................................................................... Viii ABSTRACT ................................................................................................................................ X LISTA DE FIGURAS ................................................................................................................. xii LISTA DE TABELAS ................................................................................................................ xv LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ................................................................................ xvi 1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................................................... 23 1.1 Feijão-de-corda ..................................................................................................................... 23 1.2 Estresse salino em plantas ..................................................................................................... 25 1.2.1 Respostas das plantas ao estresse salino ............................................................................ 26 1.3 Feijão-de-corda x vírus ......................................................................................................... 27 1.3.1 Defesa de plantas contra patógenos ................................................................................... 30 1.3.2 Defesa de plantas contra vírus ........................................................................................... 35 1.3.2.1 Resistência dominante .................................................................................................... 35 1.3.2.2 Resistência recessiva ....................................................................................................... 36 1.3.2.3 Resistência mediada por RNA de interferência (RNAi) ................................................. 36 1.4 Estresses combinados ........................................................................................................... 38 2 Hipótese ................................................................................................................................... 40 3 Objetivos .................................................................................................................................. 41 3.1 Objetivo geral ....................................................................................................................... 41 3.2 Objetivos específicos ............................................................................................................ 41 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 42 Gel-free/label-free proteomic, biochemical and photosynthetic analysis of cowpea (Vigna unguiculata [L.] Walp.) resistance against Cowpea severe mosaic virus (CPSMV) ............... 51 1 Introduction .............................................................................................................................. 53 2 Material and methods ............................................................................................................... 54 2.1 Plant material and growth conditions ………....................................................................... 54 CAPÍTULO I CAPÍTULO II xix 2.2 Experimental and control plantlet groups and CPSMV inoculation ..................................... 54 2.3 Virus detection by RT-PCR …………….............................................................................. 55 2.4 Gas exchange, chlorophyll a fluorescence, and total chlorophyll content …………….………. 56 2.5 Protein extraction ……..…………….……………………………………………………… 57 2. 6 Determination of phenylalanine ammonia-lyase (PAL EC 4.3.1.5) activity ....................... 57 2. 7 Determination of phenolic compound content ..................................................................... 58 2.8 Determination of guaiacol peroxidase (POX; EC 1.11.1.7) activity .................................... 58 2.9 Determination of β -1,3-glucanase (GLU, EC 3.2.1.39) activity .......................................... 58 2.10 Determination of chitinase (CHI, EC 3.2.1.14) activity ..................................................... 59 2.11 Determination of hydrogen peroxide and TBARs contents ................................................ 59 2.12 Determination of superoxide dismutase (SOD; EC 1.15.1.1) activity ……………..……. 59 2.13 Determination of catalase (CAT; EC. 1.11.1.6) activity ..................................................... 60 2.14 Determination of ascorbate peroxidase (APX; EC. 1.11.1.11) activity …………...…..…. 60 2.15 Protein extraction and digestion for mass spectrometry analysis .……………………….. 60 2.16 Mass spectrometry analysis …………………….........……………………...…………… 62 2.17 Protein identification of acquired mass spectrometry data …....……………...…………… 62 2.18 Differential analysis of the identified proteins ……......………………………………...… 63 2.19 Statistical analysis ………………………………………………………………………… 63 3 Results ………………………………………………………………………………..…...…. 64 3.1. Resistance of the cowpea genotype BRS-Marataoã to CPSMV …….......……………….… 64 3.2. Changes in gas exchange parameters, fluorescence and carotenoid content ………………. 64 3.3. PAL activity and phenolic compound contents ………………………………………...….. 67 3.4. POX and PR-proteins ……………………………………………………………….……... 68 3.5. Hydrogen peroxide, TBARS and antioxidant enzymes ……………………………….…… 69 3.6. Identification and biological classification of the differentially represented proteins of cowpea challenged with CPSMV ……………………………………………………………… 71 4. Discussion …………………………………………………………………………..………. 83 4.1. Absence of mosaic symptoms in the resistant cowpea genotype ……………………….….. 83 4.2. Changes in gas exchange parameters, fluorescence and carotenoid content ………………. 83 4.3. PAL, phenolic compounds, and PR-proteins ……………………………………………. 85 4.4. Hydrogen peroxide, TBARS and Antioxidant enzymes …………………………………... 87 4.5. Identification and biological classification of the differentially represented proteins of cowpea challenged with CPSMV ……………………………………………………………… 88 xx 4.5.1. Amino acid and protein metabolism …………………………………………………… 89 4.5.2. Proteins involved in photosynthesis and photorespiration ……………..……………..…. 91 4.5.3. Cell structure and Signaling ………………………………………………….………….. 92 4.5.4. Energy and metabolism ………………………………………………………….……… 94 4.5.5. Nucleotide binding proteins and regulation factors/RNA processing proteins …………... 95 4.5.6. Cell redox homeostasis ……………………………………………………………….…. 96 4.5.7. Stress and defense responses …………………………………………………………..… 97 5. Conclusions ……………………………………………………………………………...….. 97 Reference ………………………………………………………………………………………. 100 Apêndice I ……………………………………………………………………………….…….. 110 Apêndice II …………………………………………………………………………………….. 170 A resistant cowpea (Vigna unguiculata [L.] Walp.) genotype becomes susceptible to Cowpea Severe Mosaic Virus (CPSMV) after exposition to salt stress ……………………. 226 1 Introduction ..............................................................................................................................228 2 Material and methods ............................................................................................................... 229 2.1 Plant material and growth conditions ………....................................................................... 229 2.2 Salt stress and CPSMV inoculation ...................................................................................... 230 2.3 Dry weight ............................................................................................................................ 231 2.4 Virus detection by RT-PCR …………………………………………………..........…….... 231 2.5 Leaf gas exchange, chlorophyll and carotenoid concentrations ………………………… 232 2.6 Hydrogen peroxide concentration, lipid peroxidation and electrolyte leakage in leaves ..... 233 2.7 Protein extract preparation and antioxidant enzymes ……………………………………... 233 2.8 PAL, Phenolic compounds contents and PR-proteins …………………………………..… 235 2.9 Protein extraction and purification for mass spectrometry ……………………………..…. 236 2.10 Protein identification by mass spectrometry ……………………………………………... 237 2.11 Data acquisition by mass spectrometry analysis …………………………………..……... 238 2.12 Analysis of differentially abundant proteins using mass spectrometry data ……………... 238 3 Results ...................................................................................................................................... 239 3.1 Plant growth and CPSMV symptoms …………………………………………………..…. 239 CAPÍTULO III xxi 3.2 Leaf gas exchange and chlorophyll a fluorescence ……………………………..…………. 241 3.3 Hydrogen peroxide, TBARS, membrane damage, and antioxidant enzymes …………..…. 244 3.4 PAL, phenolic compounds and PR-proteins ………………………………………………. 247 3.5 Proteomic analysis ................................................................................................................ 250 3.5.1 Comparison of the proteome profiles of the salt stressed plantlets concomitantly inoculated with CPSMV (SV) with the proteome profiles of plantlets only inoculated with CPSMV (V) ……………………………………………………………………….…………… 250 3.5.2 Comparison of the proteome profiles of plantlets stressed with NaCl prior (24h) inoculation with CPSMV [S(24)V] with those that were mock-inoculated [S(24)MI] ……….. 260 4 Discussion ……………………………………………………………………...……………. 267 4.1 Plant growth and CPSMV symptoms ……………………………………………..………. 267 4.2 Leaf gas exchange and chlorophyll a fluorescence …………………………………..……. 268 4.3 Hydrogen peroxide, TBARS, membrane damage, and antioxidant enzymes …………..…. 270 4.4 PAL, Phenolic compounds and PR-proteins ………………………………………………. 272 4.5 Cowpea Proteome Changes in Response to combined stress …………………….………… 273 4.5.1 Amino acid and proteins metabolism ………………………………………………..….. 274 4.5.2 Cell structure …………………………………………………………………………….. 274 4.5.3 Energy metabolism and photosynthesis ……………….………………………………… 275 4.5.4 Nucleotide binding proteins and regulation factors/RNA processing proteins …………. 276 4.5.5 Stress and defense response ………………….………………………………………….. 277 4.5.6 Cell redox homeostasis ……………………………………………………………….…. 278 5 Conclusion …………………………………………………………..………………………. 279 Reference ……………………………………………………………………………...………. 282 Apêndice I ………………………………………………………………...………………..….. 298 Apêndice II …………………………..……………………………….……………………….. 333 Apêndice III ….…………………………………………………….………………………….. 389 Apêndice IV ………………………………………………………………………………….... 403 CAPÍTULO I Fundamentação teórica Anna Lídia Nunes Varela 23 1 Fundamentação teórica 1.1 Feijão-de-corda O feijão-de-corda (figura 1), é uma dicotiledônea, pertencente a ordem Fabales, família Fabacea, subfamília Faboideae, tribo Phaseoleae, subtribo Phaseolinea, gênero Vigna, subgênero Vigna, espécie V. unguiculata e subespécie unguiculata (FREIRE FILHO et al., 2005a). É também conhecido como feijão miúdo, feijão fradinho, feijão frade ou feijão macassar. FIGURA 1 – Ilustração da planta de feijão (V. unguiculata) mostrando folhas, vagens, sementes e flores. Ilustração por Marjorie Leggitt, 2010 A área cultivada com caupi no Brasil é de aproximadamente 1 milhão de hectares, dos quais cerca de 900 mil (90%) estão situados na região Nordeste. Nessa região, a produção de grãos em 2014 foi de 674.659 t e a produtividade alcançou 438 24 kg/ha. A Bahia (375.311 t), Ceará (109.148 t), Piauí (55.278 t), e Pernambuco (52.787 t) são os maiores produtores e apresentam as maiores áreas plantadas (IBGE, 2015). Essa cultura apresenta grande importância na alimentação das populações que vivem nessas regiões, sobretudo as mais carentes, sendo considerado um dos principais componentes da dieta alimentar (LIMA et al. 2007). Do ponto de vista nutricional, as sementes desse feijão representam excelentes fontes de proteínas (~ 20 a 29 g/100 g de farinha), carboidratos (~ 56 a 74 g/100 g de farinha), vitaminas e minerais, além de possuírem grandes quantidades de fibras dietéticas, baixa quantidade de lipídeos totais (~ 0,5 a 3 g/100 g de farinha) e não contêm colesterol (RIBEIRO, 2002; SOUZA E SILVA et al., 2002). Apesar de predominar em algumas regiões, o feijão-de-corda é uma espécie que possui boa capacidade de fixação do nitrogênio atmosférico por meio da simbiose com Bradyrhizobium japonicun, conferindo-lhe boa adaptação a solos pobres, com pouca água e altas temperaturas (20-35 °C) (EHLERS; HALL, 1997). Além disso, é possuidora de ampla variabilidade genética, ampla capacidade de adaptação, alto potencial produtivo (FREIRE-FILHO et al., 1999), e excelente valor nutritivo, como citado acima. Por todas essas qualidades e características, essa cultura é considerada de grande valor estratégico no mercado atual. No mercado nacional, o feijão-de-corda contribuiu, no período de 2005 a 2009, com 42,20% da produtividade nacional de feijões. Além disso, gerou, em média, 1.113.109 empregos por ano, produziu suprimento alimentar para 28.205.327 pessoas e produziu renda anual no valor de R$ 684.825.333 (FREIRE-FILHO, 2011). O Brasil produz em média 3 milhões de toneladas de feijão por ano (CONAC, 2012). Além de movimentar o mercado nacional, esse feijão tem despertado interesse de muitos outros países, devido à alta qualidade dos grãos, valor nutritivo e regularidade da oferta em termos de quantidade e padronização do produto (FREIRE-FILHO, 2011). Dentre os diversos cultivares da espécie Vigna unguiculata, existe o BRS- Marataoã, que foi desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA-Meio Norte) em parceria com outras instituições no ano de 2004, com objetivo de implementá-lo em áreas que normalmente não podem ser exploradas por outros cultivares. Esse cultivar é considerado tolerante e bem adaptado a diversos estresses (FREIRE-FILHO et al., 2005b). 25 Apesar das condições ambientais favoráveis para seu cultivo e de sua ampla adaptação, muitos fatores, sejam eles de origem biótica (pragas e doenças) ou de origem abiótica (salinidade, pH do solo, seca, altas temperaturas etc.), ainda limitam a produção desses grãos (ROCHA et al., 2007). 1.2 Estresse salino em plantas A alta concentração de sais, dentre os estresses abióticos, é o que mais afeta a produção e a distribuição geográfica de importantes culturas. Solos salinos, caracterizados por possuírem condutividade elétrica do extrato de saturação igual ou superior a 4 dS/m (USDA-ARS, 2008), equivalente a 40 mM de sal, ocasionam nas plantas uma resposta que pode ser dividida em duas fases. A primeira fase é o efeito osmótico, onde a alta concentração de sais (principalmente dos íons Na+ e Cl-) no ambiente radicular reduz o potencial osmótico da solução do solo, restringindo a capacidade das plantas de absorver água. Como consequência imediata desse déficit hídrico induzido pelasalinidade, ocorre uma diminuição do turgor das células-guarda, provocando o fechamento estomático, redução na fixação de CO2 atmosférico e na taxa fotossintética, provocando diminuição da biomassa do organismo (KOSOVÁ et al., 2013; ROY et al., 2014; DEINLEIN et al., 2014). Em adição, os sais podem ser absorvidos no fluxo transpiratório e atingir níveis tóxicos dentro das plantas, causando uma posterior redução no crescimento devido a efeitos iônicos específicos, o que caracteriza a segunda fase da resposta chamada: efeito iônico. Assim, o acúmulo de íons nos tecidos por longos períodos pode causar injúrias e, eventualmente, a morte da planta. Isto se deve, provavelmente, à capacidade limitada das células para compartimentalizar os íons no vacúolo, permitindo que suas concentrações no citosol ou em outras organelas aumentem rapidamente e afetem a atividade de várias enzimas metabólicas (ZHU, 2003). Alternativamente, estes íons podem ser transportados para as paredes celulares e causar a desidratação das células (MUNNS, 2002; 2005). Tanto o efeito osmótico quanto o iônico resultam em desbalanços e deficiências nutricionais na planta (ZHU, 2003), as quais têm sido frequentemente relacionadas com reduções no crescimento, inibição da fotossíntese e desestabilização das membranas (CHARTZOULAKIS et al., 2002; REJILI et al., 2007; SALAMA et al., 2007). Além 26 disso, com o desequilíbrio entre produção de O2 e assimilação de CO2, devido à resistência estomática, ocorre o favorecimento da produção de espécies reativas de oxigênio (EROs), como superóxido, peróxido de hidrogênio, oxigênio singleto, e radicais hidroxila, caracterizando outro estresse na planta conhecido como explosão oxidativa. Essas espécies reativas de oxigênio, induzidas pelo estresse salino, podem agir como moléculas sinalizadoras e desencadear a expressão de genes envolvidos em mecanismos de defesa ou, em altas concentrações, podem danificar o metabolismo celular, rompendo a homeostasis celular e oxidando lipídios, proteínas e ácidos nucléicos, provocando diversos efeitos negativos na planta (TIMPERIO et al., 2008; DU et al., 2010). 1.2.1 Respostas das plantas ao estresse salino As respostas das plantas ao estresse salino e o desenvolvimento da tolerância aos sais envolve uma variedade de mecanismos extremamente complexos, incluindo processos fisiológicos, bioquímicos e moleculares (HASEGAWA et al., 2000; PARIDA, DAS, 2005). Os principais mecanismos incluem: 1) homeostasis iônica e compartimentalização; 2) Transporte e captação de íons; 3) Biosíntese de osmoprotetores e solutos compatíveis; 4) Ativação de enzimas e compostos antioxidantes; 5) Síntese de poliaminas; 6) Geração de oxido nítrico (NO), e 7) regulação de hormônios (GUPTA E HUANG, 2014). No geral, sinais de estresse osmótico, como por exemplo a perda de turgescência celular, parecem desencadear cascatas de fosforilação de proteínas que são centrais para a adaptação das plantas. Proteínas do tipo quinase (protein kinase - PK), participam nas vias de transdução de sinal que respondem a estresses osmóticos, incluindo o estresse salino (ZHU, 2001). Os possíveis produtos desta cascata de transdução de sinais incluem a expressão gênica e/ou ativação de enzimas envolvidas na biossíntese de solutos compatíveis (ex. prolina e glicinabetaina) para o ajustamento osmótico (ZHU, 2002). Além de sinais primários, outras respostas podem ser resultado de sinais/estresses secundários produzidos no decorrer do estresse salino como, por exemplo, a produção de hormônios do estresse (ex. ABA e etileno) e mensageiros secundários (ex. fosfolipídios), a desnaturação de proteínas e o aumento da produção de EROs, ocasionando o chamado estresse oxidativo (XIONG, ZHU, 2002). Em condições de estresse osmótico, as atividades das CDKs (cyclin- dependent 27 kinases), proteínas que dirigem o ciclo celular, são reduzidas devido à indução de inibidores de CDKs por ABA (WANG et al., 1998). Além disso, o ABA produzido nas raízes pode subir pelo fluxo transpiratório e causar o fechamento dos estômatos nas folhas, reduzindo a fotossíntese e, portanto, o crescimento das plantas (DAVIES; ZHANG, 1991). Resumindo, as estratégias que as plantas usam para se defenderem desses efeitos adversos, são principalmente: o ajustamento osmótico (com a biossíntese de osmólitos de pequena massa molecular e proteínas LEA para diminuir a diferença do potencial hídrico entre as células das raízes e o solo); mecanismos de compartimentalização e exclusão de íons acumulados no citoplasma, evitando a inativação de enzimas importantes no metabolismo vegetal; e o uso de sistemas antioxidantes enzimáticos e não enzimáticos para remover as EROs acumuladas (KOSOVÁ et al., 2013; ROY et al., 2014). Assim, uma vez restabelecida as homeostases iônica e osmótica, e os danos celulares prevenidos e reparados, as plantas devem ser capazes de retomar seus crescimentos sob condições de estresse, mesmo que a uma velocidade reduzida. 1.3 Feijão-de-corda x vírus Apesar de ser adaptada a diversos tipos de estresses abióticos e bióticos, o feijão- de-corda é, constantemente, exposto ao ataque de patógenos como vírus, bactérias, fungos, nematoides e outros. Esses estresses causam danos à integridade das plantas e podem causar perdas irreparáveis, resultando em prejuízos para a economia (NEVES et al., 2011). Dentre todos os patógenos citados, os vírus representam o principal grupo de patógenos que afetam a produtividade do feijão-de-corda (Lima et al., 2012). O feijão-de-corda pode ser infectado por mais de 20 espécies diferentes de vírus, dentre eles o vírus do mosaico severo do Caupi (CPSMV), que é um dos mais importantes, sendo responsável por grandes perdas na produtividade dessa cultura (LIMA et al., 2005a; LIMA et al., 2012). O vírus do mosaico severo de feijão-de-corda (CPSMV, do inglês: Cowpea Severe Mosaic Virus) é um vírus isométrico (diâmetro entre 28 e 30 nm) pertence à família Comoviridae e gênero Comovirus, com capsídeo constituído por 60 cópias de uma proteína maior (43 kDa) e 60 cópias de uma proteína menor (23 kDa). Seu genoma possui duas moléculas de RNA positivo de fita simples (RNA-1 e RNA-2). Essas moléculas de 28 RNA possuem uma proteína conhecida como VPg (do Inglês: Viral Protein Genome- linked), ligada na extremidade 5’ e uma cauda poli(A) na extremidade 3’ (CHEN; BRUENING, 1992) (FIGURA 2). A molécula de RNA-1 codifica para proteínas necessárias para a replicação viral, enquanto RNA-2 codifica para duas proteínas do capsídeo e uma proteína envolvida no movimento célula-a-célula (LOMONOSSOFF; GHABRIAL, 2001; LE GALL; IWANAMI; KARASEV, 2005). FIGURA 2- Representação esquemática do genoma bipartido (A) e capsídeo CPSMV (B). 32K – proteinase cofator ; Hel – helicase; VPg – proteína viral ligada ao genoma; Pro – proteinase; POL – polimerase; MP – proteína de moviemento; CPL – proteína do capsídeo grande; CPS – proteína do capsídeo pequena. A replicação do genoma do CPSMV segue o mesmo padrão de outros vírus de RNA de sentido positivo (+). O vírion é infeccioso e penetra na planta por meio de inoculações mecânicas ou por insetos-vetores, insetos da família Chrysomelidae), entre eles Ceratomia arcuata, o vetor mais importante do Brasil (LIMA et al., 2005b). Logo após a infecção da planta, o genoma viral (RNAs) é liberado do capsídeo e replicado em uma fita complementar de sentido negativo. Simultaneamente a esse processo, a RNA 29 polimerase RNA-dependente utiliza a fita complementar (-) como molde para a produção de inúmeras outras cópias do RNA (+) (LALIBERTÉ; SANFAÇON, 2010). Depois de acumuladas no citoplasma, as novas partículas virais são transportadas pelas proteínas de movimento para células vizinhas, diretamente, por meio dos plasmodesmas, formando uma estrutura tubular larga o suficientepara passagem dos capsídeos, permitindo, assim, eficiente propagação célula-a-célula e uma dispersão do vírus para os outros tecidos sadios da planta (LOMONOSSOFF & SHANKS, 1983; VAN WEZENBEEK et al., 1983). Os principais sintomas da infecção pelo CPSMV são: redução drástica de todas as partes da planta, necrose na extremidade superior do caule, morte dos brotos terminais e queda prematura das folhas. Nas folhas ocorrem lesões cloróticas que caracterizam a formação do mosaico, má formação e desenvolvimento de bolhas e diminuição do tamanho em folhas jovens (DE JAGER, 1979) (FIGURA 3). O mosaico severo está entre as mais importantes doenças do feijão-de-corda no Brasil, pois ocorre em todas as regiões onde existem plantações dessa cultura, causando perdas na produtividade. No Brasil, além de Vigna unguiculata, outras espécies de plantas são infectadas pelo CPSMV como, Glycine max, Phaseolus vulgaris, Macroptilium lathyroides, Canavalia brasiliensis, Canavalia ensiformis, Psophocarpus tetragonologus e Crotalaria juncea, Crotalaria paulinea (BRIOSO et al., 1994; BERTACINI et al., 1998; LIMA et al., 2005b). Não existe ainda uma forma de controle eficaz, que previna e/ou combata essa doença. Atualmente, o controle do CPSMV é realizado apenas pelo cultivo de genótipos de feijão-de-corda que são resistentes ou imunes ao vírus, como, por exemplo, o BRS- Marataoã que, em 2004, foi desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA-Meio Norte), e foi identificado como sendo resistente ao CPSMV (Lima et al., 2012), e o Macaibo que é originado da coleção de germoplasma do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), e foi identificado como sendo imune ao CPSMV (CAMARÇO et al., 2009). Porém, Lima e colaboradores (2012) demonstraram a existência de um isolado de CPSMV que é capaz de infectar o genótipo Macaibo, onde ele se desenvolve causando os mesmos sintomas severos da doença (FIGURA 3). Isso nos mostra que, a utilização de cultivares resistentes para evitar a doença causada pelo CPSMV pode, também, não ser uma alternativa viável. 30 FIGURA 3- Vírus do Mosaico Severo do Caupi (CPSMV) em folhas de feijão-de-corda. (cv. Macaibo inoculado com uma estirpe CPSMV-MC). Fonte: LIMA et al., 2012 Nosso grupo de pesquisa desenvolveu um trabalho com a prospecção bioquímica e molecular de fatores possivelmente envolvidos na imunidade do cv. Macaibo. Descobertas apontam que os mecanismos de defesa não estão relacionados, aparentemente, com as respostas bioquímicas clássicas, que envolvem a indução de enzimas relacionadas ao estresse oxidativo e à patogênese. Entretanto, foram observadas variações na sequência do fator de iniciação da tradução proteica, eIF4E, entre cultivares imunes e susceptíveis, sugerindo que a resistência recessiva constitutiva poderia estar associada com as mutações detectadas nessas sequências e poderia ser a causa da imunidade do cultivar a maioria das estirpes do CPSMV (MAGALHÃES, 2011). 1.3.1 Defesa de Plantas contra patógenos A interação planta-patógeno pode ser classificada em dois tipos: compatível, na qual o patógeno tem sucesso na infecção, e incompatível, na qual o patógeno não é capaz 31 de se desenvolver no hospedeiro. As plantas estão continuamente expostas a condições ambientais desfavoráveis e, por serem sésseis, precisam de eficientes mecanismos bioquímicos, morfológicos e fisiológicos para sobreviverem a esses estresses e ataque de patógenos como vírus, bactérias, fungos e herbívoros. Embora sofram grande pressão ambiental, a maioria das plantas consegue se defender eficientemente, de forma que a doença é considerada uma exceção e não uma regra. Os mecanismos de defesa contra esses organismos envolvem, basicamente, dois tipos de respostas: barreiras constitutivas, químicas e/ou físicas pré- formadas (cutícula, parede celular e fitoanticipinas) que limitam o acesso dos organismos às células vegetais (VLOT et al. 2009; THOMMA et al. 1998) e respostas de defesa induzidas, que envolvem o reconhecimento do patógeno pelos hospedeiros e a indução de uma série de sinais que resultam em respostas rápidas de defesa (defesa inata ou basal). O início das respostas induzidas do sistema imune inato da planta acontece com o reconhecimento dos padrões moleculares associados a estes patógenos, PAMPs e MAMPs (do inglês, Pathogen/Microbe-Associated Molecular Patterns), DAMPs (do inglês, Damage-associated Molecular Patterns) e/ou VAMPs (do ingês, Viral-Associate Molecular Patterns) desencadeando a PTI (do inglês: PAMP-Triggered Immunity), que, geralmente, possui curta duração, abrange ampla variedade de patógenos e representa um menor impacto energético à planta. Porém, possui uma grande importância pois atua impedindo a colonização da planta por parte de larga gama de patógenos (GURURANI et al., 2012), conforme ilustrado na FIGURA 4. Dentre alguns padrões que têm sido identificados nas diversas espécies fitopatogênicas, estão: flagelina, lipopolissacarídeos (LPS), quitina e ergosterol etc. A percepção desses padrões se dá por meio de receptores de reconhecimento de padrões (PRRs) que são proteínas extracelulares bastante conservadas presentes na membrana celular (MACHO E ZIPFEL, 2014). As plantas reconhecem e se defendem contra um patógeno potencial, eles, por sua vez, devem ser capazes de manipular a biologia da planta para criar um ambiente adequado para o seu crescimento e reprodução. Dessa forma, uma comparativa “corrida armamentista” entre plantas e patógenos tem sido observada (BENT E MACKEY, 2007). Para tentar sobrepujar a PTI, ou seja, essa primeira linha de defesa das plantas, os patógenos, ao longo da evolução, adquiriram a capacidade de produzir moléculas efetoras, supressoras da PTI, denominadas Avr (do inglês, Avirulence proteins). Por sua 32 vez, as plantas coevoluíram e desenvolveram uma forma de imunidade baseada no reconhecimento direto ou indireto dos efetores por meio da interação com proteínas de resistência, codificadas pelos genes de resistência (genes R) do hospedeiro (RAFIQI et al., 2009). Esse reconhecimento desencadeia uma resposta de resistência mais forte, ainda do que a basal, conhecida como ETI (do inglês, Effector-Triggered Immunity) (DANG; JONES, 2001). FIGURA 4 – Visão geral de alguns dos padrões moleculares na interação planta- patógeno. Fonte: WIRTHMUELLER et al., 2014. Esse mecanismo de reconhecimento de proteínas Avr do patógeno por proteínas R do hospedeiro foi proposto, pela primeira vez, por Harold Flor (1955), e denominada de hipótese gene-a-gene (FIGURA 5). A existência desse modelo explica a condição de resistência e incompatibilidade à doença em determinados patossistemas, de modo que, plantas que possuem o gene R resistem a determinadas raças de fitopatógenos, que expressam seus correspondentes efetores (KEEN, 1990; VAN E JONES, 1998). 33 FIGURA 5 – Esquema modelo de reconhecimento gene-a-gene, um reconhecimento específico direto do efetor (proteína Avr) do patógeno pelo receptor do hospedeiro (Proteina-R) dando início às respostas de defesa. Fonte: GLOWACKI; MACIOSZEK; KONONOWICZ, 2010. Outro modelo, chamado hipótese-guarda, que é uma variação da hipótese gene-a- gene, as proteínas-R da planta funcionam como proteínas guardiãs (do inglês, Guard Protein) e interagem com proteínas guardadas (do inglês, Guardee protein), que são as proteínas alvo do patógeno (FIGURA 6). A interação de proteínas efetoras do patógeno com proteínas guardadas do hospedeiro resulta em uma modificação nesta molécula que se liga às proteínas guardiãs. Assim, as proteínas guardiãs sofrem modificações estruturais importantes para o desencadeamento da resposta de defesa (VAN DER BIEZEN; JONES, 1998; DANGL; JONES, 2001). FIGURA 6 – Esquema modelo de reconhecimento “guarda”, em que uma proteína guardase liga ao efetor do patógeno auxiliando no reconhecimento para que a resposta de resistência seja iniciada. Fonte: GLOWACKI; MACIOSZEK; KONONOWICZ, 2010. 34 O modelo decoy de interação é uma segunda variação da hipótese gene-a-gene. Nesse modelo, proteínas específicas, que são similares àquelas proteínas alvos dos efetores patogênicos, são iscas que mimetizam alvos dos efetores do patógeno e são requeridas pelas proteínas-R para ativação das defesas do hospedeiro. Essas proteínas então, funcionam como “armadilhas” e induzem os eventos de reconhecimento, entretanto, na ausência de proteínas-R, as proteínas iscas não contribuem para o desenvolvimento da doença (FIGURA 7) (VAN DER HOORN; KAMOUN, 2009). FIGURA 7 – Esquema modelo de reconhecimento “decoy”. Uma proteína mimetiza uma proteína alvo do efetor patogênico, e após reconhecimento, interage com uma proteína R disparando as respostas de defesa. Fonte: GLOWACKI; MACIOSZEK; KONONOWICZ, 2010. Após reconhecimento das moléculas efetoras do patógeno, várias respostas bioquímicas são induzidas, envolvendo transdução de sinais, resultando em respostas locais e sistêmicas. Essas respostas iniciais são baseadas na explosão oxidativa, que medeia várias respostas induzidas nas plantas como a resposta hipersensitiva (HR), como a morte celular programada (PCD), indução de proteínas quinases ativadas por mitógenos (MAPKs) e proteínas quinases dependentes de cálcio (CDPKs), induzindo, assim, reprogramação transcricional de genes de defesa, culminando na síntese de proteínas relacionadas à patogênese (PR-proteínas) e na indução de compostos antimicrobianos 35 (HOK et al., 2010; LAZNIEWSKA, 2012; GURURANI et al., 2012; NEWMAN et al., 2013; SCHELER et al., 2014; SMÉKALOVÁ et al., 2014). Além disso, também ocorre regulação hormonal, com a geração de sinais móveis e acúmulo de ácido absísico, ácido jasmônico e etileno, que podem atuar na resistência aos estresses biótico e abiótico, especificamente o ácido salicílico (AS), que é transportado a partir dos locais infectados para tecidos distais, induzindo a resistência sistêmica adquirida (SAR), uma forma de imunidade de longa duração para uma ampla variedade de patógenos (AN & MOU, 2011; KUMAR, 2014; WASTERNACK, 2014, KACHROO & ROBIN, 2014). 1.3.2 Defesa de plantas contra vírus Devido à presença de barreiras físicas pré-formadas nas plantas (por exemplo, a cutícula e parede celular), a infecção viral ocorre por meio de injúrias na planta ocasionadas por vetores como nematoides e insetos (ALEXANDER; CILIA, 2015) e por danos físicos nos seus tecidos. Uma vez dentro da planta, o vírus pode estabelecer diversas interações possíveis com ela (HULL, 2009). Já a planta, reconhece seu invasor e pode desencadear diferentes tipos de resistências. Nicaise (2014) discute que a resistência contra vírus, em plantas, pode envolver vários mecanismos como: resistência dominante, recessiva e mediada por RNAi. 1.3.2.1 Resistência dominante A resistência dominante é uma forma de defesa das plantas contra vírus que ocorre quando há reconhecimento dos produtos de genes de avirulência (Avr) do patógeno por produtos de genes de resistência (R) do hospedeiro, promovida pelas proteínas NBS-LRR (do inglês, nucleotide binding, siteleucine-rich repeat), iniciando os mecanismos de defesa ETI e evitando a infecção viral. Essas proteínas interagem, direta ou indiretamente com esses efetores dos patógenos, ou seja, com as proteínas Avr. Além desse tipo de reconhecimento, os produtos R e Avr podem interagir como nos modelos guarda e “decoy” (VAN DER BIEZEN; JONES, 1998; DE RONDE; BUTTERBACH; KORMELINK, 2014). 36 1.3.2.2 Resistência recessiva A resistência recessiva (imunidade) ocorre devido a mutações ou ausência de fatores no hospedeiro que incapacita o vírus de estabelecer a infecção (ROBAGLIA; CARANTA, 2006; MOFFETT, 2009). Estudos de identificação e clonagem de genes mostram que a maioria dos genes envolvidos na resistência recessiva são codificantes para proteínas pertencentes às famílias dos fatores de iniciação da tradução eIF (do inglês, eukaryotic initiation factors), pertencentes às famílias 4E (eIFE) e 4G (eIF4G), e suas isoformas eIF(iso)4E e eIF(iso)4G, que juntos formam o complexo eIF4F e eIF(iso)4F respectivamente. A principal função desse complexo é a ligação ao capacete do mRNA (7-metilguanosina) maduro da planta que é fundamental no processo de tradução (GALLIE; BROWNING, 2001; REVERS; NICASE, 2014). Quando ocorrem mutações nesses fatores, o reconhecimento dos ribossomos por proteínas virais (VPg) é impedido, inibindo a síntese de proteínas. Estudos com vírus do gênero Potyvirus mostraram que a resistência de plantas pode estar associada com a incapacidade da VPg em se ligar ao eIF4E ou eIF(iso)4E das plantas (GRZELA et al., 2006). Além disso, Nicaise e colaboradores (2003) verificaram que a substituição de um único aminoácido (alanina para prolina) na sequência do fator eIF4E resultou na resistência do alface contra o LVM (Lettuce Mosaic Virus). Esses estudos nos mostram a importância do conhecimento da função desses fatores de tradução no mecanismo de resistência pois podem conduzir ao desenvolvimento de novas estratégias de controle de doenças virais. 1.3.2.3 Resistência mediada por RNA de interferência (RNAi) Resistência mediada por RNAi é uma defesa antiviral inata nas plantas que envolve a degradação específica da sequência do RNA viral, tendo como alvo os ácidos nucléicos virais. Essa resistência corresponde a um processo celular responsável pelo silenciamento gênico pós-transcricional (PTGs, do inglês, Post-Transcriptional Gene Silencing) ou silenciamento gênico transcricional (TGS, do inlês, Transcricional Gene Silencing), desencadeado por sRNAs (do inglês, Small RNAs) (PUMPLIN; VOINNET, 2013; SHUKLA; DALAL; MALATHI, 2013). 37 sRNAs são pequenas moléculas de RNA não codificantes (cerca de 20-30 nucleotídeos de comprimento), que podem ser classificadas em dois grupos: miRNA (do inglês, microRNA) e siRNA (do inglês, Small interfering RNA). Os dois grupos diferem em seu precursor e via de biogênese. Os miRNAs (21-24 nucleotídeos) são derivados a partir dos transcritos de genes de miRNAs gerados pela RNA polimerase II, com emparelhamento de bases imperfeitas. Em contraste, siRNAs (23-30 nucleotídeos) são derivados de emparelhamento perfeitos de precursores de RNA de cadeia dupla (dsRNA, do inglês, double-stranded RNA), e requerem a atividade da enzima RNA polimerase RNA-dependente (KATIYAR-AGARWAL; JIN, 2010). Tanto miRNA quanto siRNA podem induzir PTGS (do inglês, Post- Transcriptional Gene Silencing) por meio da clivagem ou inibição da tradução pelo complexo ribonucleoproteico de silenciamento denominado de RISC (do inglês, RNA- induced Silencing Complex), todo complexo RISC possui um membro da família de proteínas chamadas Argonauta, que possui como características marcantes um domínio de ligação ao RNA e um domínio de atividade nuclease (CARMELL et al., 2002), além de diversas ribonucleoproteínas, Dicer, proteína TRBP (do inglês, three double-stranded RNA-binding domains proteins). Nesse complexo, uma das fitas do dsRNA é eliminada e a fita remanescente guia o reconhecimento para a degradação (ou inibição) da sequência específica do RNA mensageiro complementar (MARTINEZ et al., 2002). A figura 8 resume os três principais tipos de resistência contra vírus: 38 FIGURA 8- Representação esquemática dos principais tipos de resistência contra vírus de plantas. (A) A resistência dominante baseia-se na interação entre um fator de virulência e um produto do gene R específico, e é eficaz vários dias após a entrada do vírus na planta. O fenômeno associado a HR restringe o patógeno nas células infectadas e vizinhas. (B) Resistênciarecessiva, que corresponde a ausência de fatores do hospedeiro que são necessários para a replicação viral é uma resistência não-induzível, passiva e eficaz ao longo da colonização da planta. (C) O RNA de interferência (RNAi) tem como alvo os ácidos nucleicos virais. Uma vez configurado, após alguns dias, a eficácia deste mecanismo de defesa aumenta e se espalha por toda a planta. Fonte: NICAISE, 2014. 1.4 Estresses combinados Como já relatado, na natureza as plantas são constantemente expostas a estresses bióticos e abióticos que podem ocorrer isoladamente ou de forma combinada. As respostas das plantas a estresses combinados são muito complexas e muitos estudos vem 39 sendo realizados na busca de genes e proteínas que sejam comuns ou específicos a determinados estresses (FUJITA et al., 2006; MANTRIA et al., 2010; XU E HUANG, 2012; ATKINSON et al., 2013; RASMUSSEN et al., 2013; BADOWIEC E WEIDNER, 2014; SERGEANT et al., 2014), a fim de compreender a tolerância das plantas a estresses combinados. Uma das principais respostas de adaptação a condição de combinados estresses é a modulação da expressão gênica, que possui a especificidade de sua resposta controlada por uma série de vias regulatórias que envolvem fatores de transcrição, EROS, fatores de choque térmico e pequenos RNAs que podem interagir uns com os outros (ATKINSON; URWIN, 2012). Essas respostas podem ser muito diferentes de quando a planta é desafiada pelos mesmos estresses impostos isoladamente. Às vezes, as exposições das plantas à combinação dos estresses podem requerer respostas agonísticas ou antagonísticas ou, até mesmo, respostas não relacionadas com nenhum dos estresses simples (RASMUSSEM et al., 2013). Plantas toleram dois ou mais estresses quando ocorrem independentes, mas, não necessariamente, toleram esses estresses quando ocorrem simultaneamente (NOSTAR et al., 2013; RAMEGOWDA E SENTHIL-KUMAR, 2015). Tamareira quando exposta à seca apresentou mais sintomas quando infectado, simultaneamente, com os fungos Chalara paradoxa e Chalara radicícola (SULEMAN et al., 2001). Além disso, em tabaco (Nicotiana tabacum) e pimenta (Capsicum annuum) quando expostos a altas temperaturas suprimiram a resistência ao Tobacco mosaic vírus (TMV) e Tomato spotted wilt vírus (TSWV), respectivamente (KIRÁLY et al., 2008; MOURY et al., 1998). Contrariamente, estresses abióticos podem conferir resistência a certos patógenos. Wiese et al. (2004) mostraram que o estresse salino aumentou a resistência de cevada (Hordeum vulgare) ao fungo Blumeria graminis em concentrações dose dependente. Apesar de recentes estudos estarem focando na resposta de plantas a estresses combinados, a maior parte da pesquisa, em plantas, ainda se baseia na resposta individual aos estresses, mostrando a importância de trabalhos com esse enfoque. 40 2 HIPÓTESE O feijão-de-corda (Vigna unguiculata) genótipo BRS-Marataoã, tolerante ao estresse salino e resistente ao CPSMV, responde ativamente a esses estresses (individualmente ou simultaneamente expostos) por meio de reprogramação gênica que leva a alterações no perfil proteômico. Entretanto, as respostas da planta aos estresses individuais são diferentes de quando os estresses são simultaneamente impostos e, esta segunda condição, afeta a tolerância da planta ao CPSMV. 41 3 OBJETIVOS 3.1 Objetivo geral Estudar as respostas fisiológicas e bioquímicas/moleculares do feijão-de-corda (Vigna unguiculata, genótipo BRS-Marataoã) quando individualmente ou simultaneamente submetido ao estresse salino e infecção pelo CPSMV. 3.2 Objetivos específicos · Avaliar parâmetros fisiológicos referentes à fotossíntese, conteúdo de clorofila e carotenoides nas folhas de feijão-de-corda, genótipo BRS-Marataoã, submetidas ao estresse salino e/ou infectadas com o CPSMV (inoculado simultaneamente ou 24 horas após o estresse salino); · Detectar a presença do CPSMV nas folhas de plantas de feijão-de-corda, genótipo BRS- Marataoã, submetidas ao estresse salino e/ou infectadas com o CPSMV (inoculado simultaneamente ou 24 horas após o estresse salino), via RT-PCR; · Determinar a cinética enzimática de proteínas antioxidantes (superóxido dismutase, catalase, ascorbato peroxidase e guaiacol peroxidase) e PR-proteínas (glucanase e quitinase) em folhas de feijão-de-corda, genótipo BRS-Marataoã, submetidas ao estresse salino e/ou infectadas com o CPSMV (inoculado simultaneamente ou 24 horas após o estresse salino); · Verificar o acúmulo de peróxido de hidrogênio em folhas de feijão-de-corda, genótipo BRS-Marataoã, submetidas ao estresse salino e/ou infectadas com o CPSMV (inoculado simultaneamente ou 24 horas após o estresse salino); · Extrair proteínas de folhas de feijão-de-corda, genótipo BRS-Marataoã, submetidas ao estresse salino e/ou infectadas com o CPSMV, e obter, por espectrometria de massas (nano LC-MS/MS), perfis com boa reprodutibilidade entre as repetições técnicas e biológicas; · Analisar os perfis espectrométricos obtidos de proteínas de folhas de feijão-de-corda, genótipo BRS-Marataoã; · Identificar, classificar e categorizar as proteínas diferencialmente acumuladas em folhas de feijão-de-corda, genótipo BRS-Marataoã. 42 REFERÊNCIAS ALEXANDER, M. 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