Prévia do material em texto
Figura 1 Temas que Estruturam o Livro Tema 1: cogn e não passivos. Tema 2: processos cognitivos são notavelmente eficazes e Tema 3: negativas. Tema 4: n nter-relacionados; Tema 5: Os processos cognitivos q Parte A VERMELHO VERMELHO AMARELO VERMELHO Parte B Figura 2 (para a Demonstração 2.4) AZUL VERDE AMARELO VERDE AZUL AMARELO AZUL VERMELHO VERDE AMARELO VERDE AZUL VERMELHO VERDE AMARELO AZUL Figura 3 (para a Demonstração 2.5) Parte A X X o X o o X o X o XX o X X o o X O X X X o X O o o A1 A2 Parte B o X o o xº X o X o o X X o X X o O X X o o X o o o o B1 B2 Figura 4 (para a Fig. 8.4) Resultados da pesquisa PET scan para quatro tipos diferentes de rarefas de linguagem. A parte frontal do cérebro fica à esque:-da. A. Segundo Nível, Visual (Vendo Palavras) C. Terceiro Nível (Falando Palavras) B. Segcnào Nível, Auditivo Ouvindo Palavras) D. Quarto Nível (Produzindo Verbos) • • ••• Nenhuma Atividade Atividade Máxima PSICOLOGIA COGNITIVA MARGARET w. MATLIN SUNY Geneseo Tradução Stella Machado Revisão Técnica Cláudia Henschel de Lima Doutora em Psicologia Social e da Personalidade pela Universidade Federal do Ric de janeiro (UFRJ). LTC EDITORA ÜUINTA EDIÇÃO 1 1 Prefácio Em 1967, estava eu atravessando o saguão do Human Performance Center da Michigan University, quando meus pensamentos foram interrompidos por um jovem que passou correndo por mim. Ele gritava: "Ei, todo mun do! Acabei de conseguir um exemplar de Cognitive Psycho logy de Neisser!" Conforme sugere minha memória de flash, a nascente perspectiva cognitiva era recebida com entusiasmo, pelo menos em certos círculos. Tive a opor tunidade de testemunhar o desenvolvimento dessa dis ciplina durante sua infância, com uma interessante pes quisa inicial em tópicos como memória icónica, memó ria de curto prazo e compreensão da linguagem. Há vinte anos, comecei a redigir a primeira edição do meu livro COGNITION (Psicologia Cognitiva). Essa primeira edição americana, publicada em 1983, possuía 382 pági nas de texto. Trazia somente um capítulo sobre a memó ria e um sobre a linguagem - e não mais que 23 páginas de referências bibliográficas. Atualmente, após o ano 2000, a psicologia cognitiva já passou da infância e até mesmo da adolescência. Nos sa disciplina relativamente madura orgulha-se agora de dezenas de periódicos, centenas de livros profissionais e vários manuais. De fato, foi uma luta limitar esta quinta edição de Psicologia Cognitiva às páginas de texto e refe �ências que aqui se encontram. Redigir este prefácio para a edição atual de Psicologia Cognitiva me faz lembrar os progressos esplêndidos nesta ::lisciplina desde que a primeira edição foi publicada. Os :::isicólogos cognitivistas têm explorado tópicos nem se .=ruer mencionados na primeira edição - como metame �ória, componentes cognitivos da escrita e bilingüismo. 2les também desenvolveram novas abordagens teóricas. ?or exemplo: a perspectiva da capacidade de fixidez da ::iemória de curto prazo foi agora substituída pelo mo .::elo sofisticado de Baddeley sobre a memória de traba- lho. Além disso, a abordagem de processamento de dis tribuição paralela sequer foi mencionada na primeira edi ção - e na segunda foi discutida em um parágrafo ape nas-, agora desempenha um papel mais importante na discussão da memória semântica. Novas técnicas de pesquisa também abriram cami nhos inexplorados, como as pesquisas da neurociência que nos permitem investigar as bases biológicas da aten ção, da memória, da imaginação mental e da lingua gem. Os psicólogos cognitivistas mostram-se cada vez mais criativos no desenvolvimento de suas técnicas de pesquisa, o que torna empolgante fazer uma idéia de como o campo da cognição se expandirá nas próximas décadas. Esse campo de pesquisa continua a dar ênfase à im pressionante competência de nossos processos cogniti vos. Conseguimos lembrar-nos dos nomes de nossas pri meiras professoras, de detalhes de uma festa de aniver sário ocorrida dez anos antes e até mesmo do significado do vocabulário de uma língua estrangeira em que não pensamos mais desde o ensino médio. As crianças de um ano e dois meses podem lembrar informações sobre um acontecimento comum passado há três meses e as de seis anos conhecem cerca de 14.000 palavras, que empregam para construírem frases que são, ao mesmo tempo, incomparáveis e exatas. Ainda assim, muitos livros de psicologia cognitiva são escritos num estilo tão seco e acadêmico que deixam de apreender essas capacidades inerentemente interessan tes. Durante anos, tenho recebido cartas e comentários de centenas de alunos e de professores dizendo-me o quanto gostaram de ler Psicologia Cognitiva. Com base nesse retomo, tentei redigir esta quinta edição de modo que as qualidades mais apreciadas pelos leitores tenham ainda mais destaque do que nas edições anteriores. ASPECTOS ESSENCIAIS DO LIVRO .- á ministrei o curso de Psicologia Cognitiva em SUNY ::::-eneseo cerca de trinta vezes. A cada vez que redijo Psi :: !:igia Cognitiva, procuro pensar nos alunos como se fos- 5 :::ri os de minhas turmas. Essa precaução parece-me ::::::equada, porque me leva a estar sempre perguntando a :-:-_:m mesma: "Meus próprios alunos realmente entende �:J.m isto, ou simplesmente olhariam para mim com um .. . . ?" : __ �_ar mexpress1vo. Vão aqui algumas características que me fazem julgar este livro dirigido aos alunos: 1. O estilo da redação é claro e interessante, com muitos exemplos. 2. O texto demonstra como os nossos processos cognitivos são pertinentes às nossas experiências da realidade diária. viii PREFÁCIO 3. O livro examina constantemente como a cogni ção pode ser aplicada a outras disciplinas, como educação, comunicação, negócios, psicologia clí nica, psicologia social. medicina, direito e psico logia do consumidor. 4. O primeiro capítulo apresenta cinco temas de maior importância. Investigo esses temas ao lon go de todo o livro, oferecendo aos alunos um sen tido de continuidade por meio do desdobramen to dos assuntos em muitos tópicos diferentes. 5. Muitas demonstrações fáceis de executar ilustram experimentos importantes de cognição, esclare cendo conceitos centrais da disciplina. Planejei essas demonstrações de modo a exigirem um equi pamento que possa estar disponível aos universi tários. (Sim, talvez os alunos precisem exercer sua criatividade para encontrar alguns "itens", como uma criança com menos de dez anos para a De monstração 12.5, no Capítulo 12!) 6. Cada termo novo é apresentado em negrito e acompanhado por uma definição concisa que apa rece na mesma frase. 7. Cada capítulo é precedido de um sumário e de uma apresentação, propiciando uma estrutura apropriada para o novo material. 8. As seções mais importantes dos capítulos são con cluídas com um resumo. Esse detalhe capacita o aluno a rever e a consolidar o material antes de passar para a seção seguinte, em vez de esperar até o final do capítulo para ter um resumo único e extenso. 9. Cada capítulo inclui exercícios de revisão e uma lista de novos termos. 10. Ao final de cada capítulo, há uma lista de leituras recomendadas e uma breve descrição de cada fon te bibliográfica. 11. No fim do livro, há um glossário com a definição de termos novos. Tentei incluir informações contextuais extras em alguns tópicos, a fim de esclarecer os termos tanto quanto possível. ORGANIZAÇÃO DO LIVRO Um livro-texto deve ser interessante e útil. Também deve refletir os progressos atuais da disciplina em questão, permitindo que os professores se adaptem aos próprios planejamentos de ensino. Os seguintes elementos deste livro são atraentes para situações pedagógicas: 1. Psicologia Cognitiva oferece uma visão abrangente do campo, incluindo capítulos sobre percepção, me mória, imaginação, conhecimento geral, linguagem, resolução de problemas e criatividade,raciocínio e tomada de decisões e desenvolvimento cognitivo. 2. Cada capítulo é uma unidade independente. É o caso, por exemplo, dos termos específicos, como heurística ou processamento top-down. Eles são defi nidos nos capítulos em que são empregados. Esse aspecto concede aos professores uma flexibilida de considerável na seqüência de seu curso. Por exemplo: alguns professores podem querer discu tir o tópico sobre imaginação (Capítulo 6) antes dos três capítulos sobre a memória. Outros pro fessores podem desejar ministrar a matéria do ca pítulo sobre conhecimento geral (Capítulo 7) an tecipadamente. 3. Cada seção dentro de um capítulo pode permane cer como uma unidade à parte, em especial devido ao resumo com que são concluídas. Os professo res podem optar por cobrir seções individuais numa ordem diferente. Por exemplo: um professor pode decidir-se por incluir a seção sobre esquemas antes do capítulo sobre a memória de longo prazo. Ou tro professor poderia preferir subdividir o Capítulo 12, sobre o desenvolvimento cognitivo, de modo que a primeira seção desse capítulo se seguisse ao Capítulo 4, a segunda seção se seguisse ao Capítu lo 5, e a terceira, ao Capítulo 9. 4. Os Capítulos 2 a 12 incluem um tópico denomina do "Em Profundidade", que aborda pesquisas re centes sobre tópicos escolhidos da psicologia cog nitiva e fornece detalhes sobre métodos de pesqui sa. Seis deles são novos nesta quinta edição, e os cinco restantes foram atualizados e revisados. 5. No total, a bibliografia contém 1.779 referências: 865 são novas e 782 já vinham sendo publicadas nos últimos cinco anos. Como resultado, o livro proporciona uma visão geral bastante atualizada da disciplina. DESTAQ!JES DA Q!JINTA EDIÇÃO A disciplina psicologia cognitiva realizou avanços enor mes desde a quarta edição deste livro, em 1998. As pes quisas nas áreas da memória e da linguagem têm sido especialmente ambiciosas, e as abordagens teóricas da disciplina têm-se expandido grandemente. Entre outros, vêm-se empregando técnicas da neurociência para se obterem informações sobre tópicos cognitivos tão dife rentes quanto profundidade do processamento, memó ria implícita e desenvolvimento da linguagem durante a infância. Fiz algumas alterações estruturais ao redigir a quinta edição de Psicologia Cognitiva. Pessoas que utilizaram a edi- ção anterior sugeriram que a abrangência do tópico me mória sensorial poderia ser consideravelmente reduzida. Também propuseram que eu reorganizasse o material do Capítulo 3 da quarta edição - "Modelos de Memórd'. Essas teorias estão agora incorporadas aos Capítulos 1, 4 e 7. Além disso, a seção sobre o desenvolvimento da memória foi combinada com as seções sobre metame mória e metacompreensão para formar um novo capí tulo. Também revi com muito cuidado os outros capí tulos. De fato, cada página deste livro foi atualizada e reescrita. Algumas alterações dignas de nota são as se guintes: • O Capítulo 1 examina algumas novas pesquisas sobre tendências históricas nas abordagens cogni tiva e behaviorista. Também reorganizei a discus são no final do capítulo sobre como usar o livro de forma mais proveitosa. • O Capítulo 2 discute vários tópicos atuais interes santes, como visão cega para mudanças, reconhe cimento de rostos em fotos de carteiras de identi dade e visão cega. Além disso, a discussão sobre o efeito Stroop explora duas aplicações na psicologia clínica. • O Capítulo 3, sobre a memória de trabalho, é uma versão reorganizada do Capítulo 4 da quarta edi ção, iniciando-se com uma visão histórica geral e, depois, apresentando a clássica pesquisa sobre a memória de curto prazo. A parte mais importante do Capítulo 3 examina a abordagem de Baddeley sobre a memória de trabalho, bem como as pes quisas atuais sobre ela. O capítulo inclui também um novo tópico "Em Profundidade" sobre as dife renças individuais na memória de trabalho. • O Capítulo 4, sobre memória de longo prazo, foi replanejado de modo a apresentar três seções: co dificação, recuperação e memória autobiográfica. Há também um material novo a respeito do efeito de auto-referência, de humor e memória, de moni toramento de fonte e da controvérsia sobre memó ria recuperada/memória falsa. • O Capítulo 5 combina a discussão sobre o aprimo ramento da memória com as seções sobre metacognição da edição anterior. Esse capítulo in clui também novas pesquisas sobre a memória prospectiva, a metamemória, o fenômeno ponta da-língua e a regulação das estratégias de leitura. PREFÁCIO ix • O Capítulo 6 apresenta novas pesquisas sobre tó picos como rotação mental nos indivíduos que usam a Língua Americana de Sinais (American Sign Language - ASL), movimento motor e imagina ção motora e a neuropsicologia da imaginação mental. • O Capítulo 7, sobre o conhecimento geral, discute as pesquisas da neurociência na abordagem de pro tótipos. Dois novos tópicos são a abordagem exem plar e a extensão dos limites. • O Capítulo 8 inclui agora a teoria cognitivo-funci onal da linguagem. Além disso, foram acrescenta das novas pesquisas sobre neurolingüística, reco nhecimento de palavras e inferências. • No Capítulo 9 foi acrescentado novo material so bre a teoria de produção de palavras, um modelo cognitivo de escrita e bilingüismo. • O Capítulo 10 traz uma cobertura atualizada de tópicos como cognição situada, expertise em reso lução de problemas e irracionalidade. Um novo tópico, "Em Profundidade", focaliza a motivação e a criatividade. • O Capítulo 11 apresenta uma descussão reorgani zada do raciocínio condicional, bem como novas pesquisas sobre a tendenciosidade da confirmação, a falácia da conjunção e as três heurísticas mais importantes. Um novo tópico "Em Profundidade" discute o excesso de confiança na tomada de deci sao. • O Capítulo 12 aborda novas pesquisas sobre a memória infantil, o monitoramento de fonte du rante a infância, a memória nos idosos, a compre ensão da linguagem na primeira infância e aspec tos pragmáticos do uso da linguagem na criança. Ao preparar esta nova edição, despendi todos os es forços possíveis para enfatizar as pesquisas atuais. Exa minei todos os artigos relevantes relacionados com o as sunto em oito periódicos de psicologia cognitiva. Essa investigação foi suplementada por várias buscas especí ficas na PsycLIT. Além disso, procurei todos os livros im portantes comentados por críticos em Contemporary Psvchologv. Também escrevi a mais de duzentos pesqui sadores solicitando reproduções. A pesquisa em cognição está se expandindo a uma velocidade cada vez maior, e este livro apreende a efervescência das pesquisas atuais. AGRADECIMENTOS Quero agradecer a muitas pessoas por seus magníficos esforços na elaboração deste livro. Primeiro, gostaria de elogiar o pessoal da Harcourt College Publishers. Tracy Napper e eu já trabalhamos juntos em três livros. É um prazer trabalhar com uma profissional consciente, que consegue descobrir revisores excelentes, oferecer um re- torno útil da leitura dos originais e encontrar exemplos interessantes dos princípios cognitivos na vida real! Tam bém gostaria de agradecer a Carol Wada, Lisa Hensley, Bradley Potthof e Earl McPeek por suas contribuições editoriais durante as fases de planejamento e redação deste livro. X PREFÁCIO A Harcourt reuniu uma equipe de pessoas brilhantes para produzir esta quinta edição. Laura Hanna, minha diretora sénior de projeto, é inteligente e bem organiza da - uma expert no gerenciamento de todas as fases do trabalho! Holly Lewerenz, gerente de produção, também supervisionou as muitas decisões que precisaram ser to madas durante toda a produção de Psicologia Cognitiva. Brian Salisbury1 diretor de arte do livro, compreendeu ver dadeiramente o meu desejo de um projeto despojado que sublinhasse princípios pedagógicos. Brian também criou o estonteante desenho de capa para esta nova edição. Se os editores pudessem receber o aplausopúblico que merecem, Michele Gitlin receberia uma ovação de pé! Michele editou este livro com bastante cuidado, evi tando contradições, ambigüidades e expressões difíceis. Suas habilidades editoriais enriqueceram o livro inteiro! Mais uma vez, Linda Webster compilou tanto o índi ce de assuntos quanto o índice de autores e também pre parou o glossário. Continuo impressionado com seu tra balho inteligente e cuidadoso nesses componentes im portantes do livro. Também devo enviar elogios especiais a Cindy Geiss, diretora de arte, e Linda Smith, diagramadora, do Grafic World nesta quinta edição. Foram notavelmente habili dosas em criar figuras, colocando as demonstrações nos locais apropriados e cumprindo todas as tarefas com ra pidez recorde! Gostaria ainda de agradecer a Katie Matthews, estra tegista de marketing, e aos representantes de vendas da Harcourt pelo bom trabalho e apoio empolgante. Durante minha formação acadêmica, muitos catedrá ticos me entusiasmaram em relação ao campo crescente da cognição. Gostaria de agradecer a Gordon Bower, Al bert Hastorf, Leonard Horowitz, e Eleanor Maccoby da Stanford University, e Edwin Martin, Arthur Melton, Ri chard Pew, e Robert Zajonc da University of Michigan. Muitos outros colaboraram de maneira importante neste livro. Melissa Katter, Shirin Ghazanfari, Jennifer Albaugh e Allison Katter são estagiários exemplares que ajudaram a localizar referências e a preparar a bibliogra fia. Shirley Thompson, Carolyn Emmert e Connie Ellis mantiveram outros aspectos de minha vida funcionando sem problemas, permitindo-me ter mais tempo para tra balhar na redação deste projeto. Recebi também ajudas diversas. Vários membros da Milne Library, em SUNY Geneseo, por exemplo, mere cem agradecimentos especiais: Paula Henry encomendou vários livros para mim, mantendo-me atualizada em re ferências interessantes e pertinentes. Judith Bushnell aju dou-me a seguir a pista de referências caprichosas e in formações suplementares esquivas. Harriet Sleggs, Mina Orman e sua equipe encomendaram com eficiência cen tenas de livros e artigos por meio de empréstimos entre bibliotecas. Contei com a contribuição de alunos que apresenta ram sugestões úteis depois de terem lido as três primei- ras edições: Jennifer Balus, Mary Jane Brennan, A Eleanor Chand, Miriam Dowd, Elizabeth Einemann, Michelle Fischer, Sarah Gonnella, Benjamin Griffin, Jessica Hosey, Don Hudson, Jay Kleinman, Mary Kroll, Eun Jung Lim, Pamela Mead, Pamela Mino, Kaveh Moghbeli, Jacquilyn Moran, Michelle Morante, J ennifer Niemczyk, Danielle Palermo, Judith Rickey, Mary Riley, Margery Schemmel1 Richard Slocum1 John Tanchak, Brenna Terry, Dan Vance, Heather Wallach1 e Rachelle Yablin. Vários alunos da Casa Zapata da Stanford University forneceram insights sobre bilingüismo: Laura Aizpuru, Sven Halstenburg, Rodrigo Liong, Jean Lu, Edwardo Martinez, Sally Matlin, Dorin Parasca e Laura Uribarri. Outros ofereceram informações sobre artigos úteis de psicologia cognitiva: Ned Abbott, Patricia Kramer, Leslie Lauer, Sally Matlin, Cristopher Piersante, Laura Segovia e Nancy Tomassino. Agradeço também aos colegas Drew Appleby, Ada Azodo, K. Anders Ericsson, Hugh Foley, Mark Graber, Douglas Herrmann, Ken Kallio, Lisbet Nielsen, Bennett L. Schwartz, Douglas Vipond, Lori Van Wallendael, e Alan Welsh pelas sugestões que fizeram sobre referências e sobre a redação de passagens do texto. Além disso1 quero agradecer a David Irwin por haver descoberto a fonte da foto do náutilo que escolhemos para o desenho de capa. Devo agradecimentos especiais a Lucinda DeWitt, que assistiu a preparação do Arquivo de Itens de Teste para esta quinta edição de Psicologia Cognitiva. Lucinda foi de ajuda particularmente útil na revisão das edições anterio res deste livro. Ela foi também co-autora do Arquivo de Itens de Teste de meu livro Psychology (terceira edição), bem como co-autora do Manual para o professor e do Banco de Testes de meu livro Psvchology o(Women (quarta edição). Por sorte, Lucinda concordou em trabalhar tam bém no texto auxiliar de Psicologia Cognitiva. Lucinda aju dou-nos a atualizar todas as perguntas desse Arquivo de Itens de Teste* e também revisou todas as páginas dos originais para dar-lhes continuidade, exatidão e clareza. Obrigada, Lucinda! Também gostaria de exprimir meus agradecimentos permanentes aos revisores das cinco edições de Cognição. Revisores da primeira edição: Mark Ashcraft, Cleveland State University; Randolph Easton, Boston College; Barbara Goldman, University of Michigan, Dearborn; Harold Hawkins, University of Oregon; Joseph Hellige, University of Southern California; Richard High, Lehigh University; James Juola, University of Kansas; Richard Kasschau, University of Houston; e R. A Kinchla, Prin ceton University. Revisores da segunda edição: Harriett Amster, Univer sity of Texas, Arlington; Francis T. Durso, University of Oklahoma; Susan E. Dutch, Westfield State College; Sallie Gordon, University of Utah; Richard Gottwald, Universi- *Do Arquivo de Itens de Teste, a Editora LTC selecionou 100 questões e inseriu como apêndice ao final de Psicologia Cognitiva (nota do editor). "":'/ of Indiana, South Bend; Kenneth R. Graham, Muhlen ·CJerg College; MortonA. Heller, Winston-Salem State Uni versity; Michael W. O'Boyle, Iowa Sta te University; David G. Payne, SUNY Binghamton, Louisa M. Slowiaczek, :'...,oyola University, Chicago; Donald A Smith, Northern Illinois University; Patricia Snyder, Albright College; e Ri chard K. Wagner, Florida State University. Revisores da terceira edição: Ira Fischler, University of Florida; John Flowers, University of Nebraska; Nancy Franklin, SUNY Stony Brook; Joanne Gallivan, Universi ty College of Cape Breton; Margaret Intons-Peterson, Indiana University; Christine Lofgren, University of Ca lifornia, Irvine; Bill McKeachie, University of Michigan; William Oliver, Florida State University; Andrea Richards, University of California, Los Angeles; Jonathan Schooler, University of Pittsburgh; e Jyotsna Vaid, Texas A & M University. Revisores da quarta edição: Lucinda DeWitt, Concor dia College; Susan Dutch, Westfield State College; Kathleen Flannery, Saint Anselm College; Linda Gerard, Michigan Sta te University; Catherine Hale, University of Puget Sound; Timothy Jay, North Adams State College; W. Daniel Phillips, Trenton State College; Dana Plude, University of Maryland; Jonathan Schooler, University of Pittsburgh; Matthew Sharps, California State Univer sity, Fresno; Greg Simpson, University of Kansas; Mar garet Thompson, University of Central Florida; e Paul Zelhart, East Texas Sta te University. O excelente conse lho dos revisores dessas quatro edições continuaram a guiar-me enquanto eu preparava esta versão mais recen te do livro. Por fim, sou grata aos revisores da quinta edição, que deram conselhos sobre como reestruturar os capítulos deste livro e recomendaram a inclusão de um glossário. PREFÁCIO xi Aprecio a habilidade deles, na revisão de meus originais tanto do ponto de vista de um profissional informado como de um estudante de psicologia bem ingênuo. Agra deço com entusiasmo às seguintes pessoas: Lise Abrams, University of Florida; Tom Alley, Clemson University; Kurt Baker, Emporia State University; Richard Block, Montana State University; Kyle Cave, University of Southampton (Reino Unido); Lucinda De Witt, Univer sity of Minnesota; Susan Dutch, Westfield Sta te College; James Enns, University of British Columbia; Philip Higham1 University of Northern British Columbia; Mark Hoyert, Indiana University Northwest; Anita Meehan, Kutztown University of Pennsylvania; Joan Piroch, Coastal Carolina University; David Pittenger, Marietta College; e Matthew Sharps, California State University, Fresno. As últimas palavras de agradecimento pertencem aos membros de minha família. Arnie Matlin1 meu marido, encorajou-me a escrevera primeira edição deste livro durante o início da década de 1980. Seu entusiasmo con tínuo e apoio amoroso sempre trouxeram alegria ao meu trabalho de redação - e à minha vida! Nossas filhas e seus maridos vivem agora em outras partes dos Estados Unidos. Gostaria de agradecer a Beth Matlin-Heiger, Neil Matlin-Heiger, Sally Matlin e Octavio Gonzalez. Seu or gulho incessante por causa do que realizei torna ainda mais gratificante o fato de ser escritora! Por fim, gostaria de exprimir minha gratidão a outras quatro pessoas im portantes que decidiram minha vida: Helen e Donald White, meus pais, pelo meu nascimento, e Clare e Harry Matlin, meus sogros, pelo meu casamento. Margaret W. Matlin Geneseo, Nova York Sumário CAPfTULO 1 Introdução 1 Uma Breve História da Abordagem Cognitiva 3 • Origens da Psicologia Cognitiva 3 Wilhelm Wundt 3 Primeiros Pesquisadores em Memória 3 William James 4 Behaviorismo 4 A Abordagem da Gestalt 4 Frederick C. Bartlett 5 • Surgimento da Psicologia Cognitiva Contemporânea 5 Fatores que Contribuíram para o Crescimento da Psicologia Cognitiva 5 A Abordagem do Processamento da Informação 7 Questões Teóricas Atuais em Psicologia Cognitiva 9 • Ciência Cognitiva 10 • Neurociência Cognitiva 10 Lesões Cerebrais 10 Técnicas de Imagem Cerebral 11 Potencial Ligado a Eventos 11 Técnica de Registro de uma Única Célula 12 • Inteligência Artificial 12 A Metáfora Computacional 12 IA Pura 13 Simulação Computacional 13 • A Abordagem do Processamento de Distribuição Paralela 13 Origens da Abordagem PDP 14 Características Básicas da Abordagem PDP 14 Reações a Abordagem PDP 15 Visão Geral Deste Livro 15 • Apresentação dos Capítulos 15 • Temas Abordados 16 • Como Usar Este Livro 17 Sumário do Capítulo 17 Apresent.ação do Capítulo 17 Aplicações 17 Novos Termos 18 "Em Profundidade" 18 Resumo de Cada Seção 18 Exercícios de Revisão de cada Capítulo 18 Leituras Recomendadas 18 Glossário 18 Exercícios de Revisão do Capítulo 18 Novos Termos 19 Leituras Recomendadas 19 CAPfTULo 2 Processos Perceptivos 21 Introdução 22 Reconhecimento do Objeto 22 • Histórico do Reconhecimento do Objeto 23 • Teorias do Reconhecimento do Objeto 24 Teoria da Correspondência de Gabaritos 24 Modelo de Análise de Características 25 O Modelo de Reconhecimento pelos Componentes 27 • Como o Processamento Top-Down Influi no Reconhecimento do Objeto 28 A Distinção entre o Processamento Bottom-Up e o Processamento Top-Down 28 Pesquisas em Processamento Top-Down 28 Processamento Top-Down Superativo 30 • Em Proftmdidade: Percepção de Rostos 31 Reconhecimento de Rostos versus Reconhecimento de Outros Objetos 31 Pesquisas em Neurociência sobre Reconhecimento de Rostos 32 Pesquisas Aplicadas ao Reconhecimento de Rostos 32 • Visão Cega para Mudança 33 Atenção 35 • Atenção Dividida 35 Pesquisas sobre Atenção Dividida 36 Atenção Dividida e Prática 36 • Atenção Seletiva 36 Escuta Dicótica 36 O Efeito Stroop 38 • Teorias da Atenção 39 Primeiras Teorias da Atenção 39 Processamento Automático versus Processamento Controlado 39 Teoria de Integração de Características 40 • Pesquisas em Neurociência sobre a Atenção 43 A Rede Posterior de Atenção 44 A Rede Anterior de Atenção 44 Usando a Técnica de Potencial Ligado a Eventos para Explorar a Atenção 44 :X:ÍV SUMARIO • Consciência 45 A Consciência de Nossos Processos Mentais Superiores 45 Supressão do Pensamento 46 Visão Cega 47 O Inconsciente Cognitivo 47 Exercícios de Revisão do Capítulo 49 Novos Termos 49 Leituras Recomendadas 50 CAPfTULO 3 Memória de Trabalho 51 Introdução 52 A História da Pesquisa sobre Memória de Trabalho 53 • "O Mágico Número Sete" de George Miller 53 • A Pesquisa Clássica sobre a Memória de Curto Prazo 54 A Técnica de Brown/Peterson & Peterson 54 O Efeito de Recenticidade 55 Span da Memória 55 • O Modelo de Atkinson e Shiffrin 56 • Uma Perspectiva Diferente: A Abordagem de Baddeley 56 Fatores que Afetam a Capacidade da Memória de Trabalho 57 • Tempo de Pronúncia 57 • Similaridade Semântica dos Itens na Memória de Trabalho 57 A Abordagem de Baddeley sobre Memória de Trabalho 60 • Evidências de Componentes com Capacidades Independentes 61 • O Circuito Fonológico 61 Outras Pesquisas sobre o Circuito Fonológico 61 Dois Componentes do Circuito Fonológico 62 A Base Biológica do Circuito Fonológico 63 Outros Empregos do Circuito Fonológico 63 • Bloco de Esboço Visuoespacial 63 Codificação Visual na Memória de Trabalho 64 Codificação Espacial na Memória de Trabalho 64 Base Biológica do Bloco de Esboço Visuoespacial 66 • Executivo Central 66 O Executivo Central e o Pensamento Independente de Estímulo 67 A Base Biológica do Executivo Central 67 • Novos Rumos para as Pesquisas sobre Memória de Trabalho 67 • Em Profimdidade: Diferenças Individuais na Memória de Trabalho 68 Memória de Trabalho e Habilidades de Linguagem 68 Memória de Trabalho e Habilidades de Leitura 70 Memória de Trabalho e Experts da Memória 70 Exercícios de Revisão do Capítulo 71 Novos Termos 72 Leituras Recomendadas 72 CAPfTULO 4 Memória de Longo Prazo 73 Introdução 7 4 A Codificação na Memória de Longo Prazo 75 • Profundidade do Processamento 75 Profundidade do Processamento e Memória de Material Verbal 76 Profundidade do Processamento e Memória para Rostos 77 • Em Profimd1dade: O Efeito de Auto-referência 77 A Pesquisa sobre o Efeito de Auto-referência 77 Explicações para o Efeito de Auto-referência 78 Correlatos Biológicos do Efeito de Auto- referência 79 Aplicações do Efeito de Auto-referência 79 • Os Efeitos do Contexto: Especificidade da Codificação 80 Pesquisas sobre a Especificidade da Codificação 80 Profundidade do Processamento e Especificidade da Codificação 82 • Emoções, Humor e Memória 82 Memória para Itens que Diferem em Emoção 83 Efeitos da Violência na Televisão sobre a Memória para Comerciais 83 Congruência do Humor 83 Memória Dependente do Humor 84 A Recuperação na Memória de Longo Prazo 85 • Tarefas de Memória Explícita versus Tarefas de Memória Implícita 85 Definições e Exemplos 85 Pesquisas com Adultos Normais 86 O Status Atual da Memória Implícita 87 • Memória de Prazo Muito Longo 87 • Expertise (Perícia) 88 A Natureza Específica do Contexto da Expertise 89 Em que Diferem Experts e Novatos? 89 Atores Profissionais 90 Tendenciosidade da Própria Raça 90 • Sujeitos Amnésicos 90 Memória Autobiográfica 92 • Lembranças de Flash 92 Pesquisa Clássica 93 Pesquisas Mais Recentes 93 • Esquemas e Memória Autobiográfica 94 Memória Repisódica 94 O Viés da Consistência 94 • Monitoramento de Fonte 95 • Testemunho Ocular 95 O Efeito da Desinformação 96 Fatores que Afetam a Exatidão do Testemunho Ocular 97 A Controvérsia Lembrança (Memória) Recuperada/ Lembrança (Memória) Falsa 97 • Testemunho Auditivo 99 Exercícios de Revisão do Capítulo 100 Novos Termos 101 Leituras Recomendadas 101 CAPfTULO 5 Estratégias de Memória e Metacognição 103 Introdução 104 Estratégias de Memória 104 • Sugestões dos Capítulos Anteriores: Revisão 104 • Prática 105 • A Mnemônica Usando a Imaginação 107 O Método de Palavras-Chave 107 O Método dos Lugares (Loci) 108 • A Mnemônica Usando a Organização 109 Chunking 109 Técnica de Hierarquias 109 Técnica da letra Inicial 11 O Técnica da Narra tiva 11 O • A Abordagem Multimodal 11 O • Aprimorando a Memória Prospectiva 111 Comparando a Memória Prospectiva com a Memória Retrospectiva 112 Pesquisas em Memória Prospectiva 112 Distração 112 Sugestões para o Aprimoramento da Memória Prospectiva 112 Metacognição 114 • Em Profundidade: Metamemória 115 A Exatidão da Metamemória 115 A Relação entre a Metamemória e o Desempenho da Memória 117 Conscientização Acerca dos Fatores que Afetam a Memória 117 Regulando Estratégias de Estudo 118 • O Fenômeno Ponta-da-língua 120 A Pesquisa Clássica de Brown e McNeill 120 Pesquisas Mais Recentes sobre o Fenômeno Ponta-da-Língua121 • Metacompreensão 121 Acurácia da Metacompreensão 121 Aprimorando a Metacompreensão 123 SUMÁRIO XV Exercícios de Revisão do Capítulo 124 Novos Termos 125 Leituras Recomendadas 125 CAPÍTULO 6 Imaginação 126 Introdução 127 Características das Imagens Mentais 128 • Imaginação e Rotação 129 A Pesquisa de Shepard e Metzler 129 A Pesquisa Mais Recente sobre a Rotação Mental 130 • Imaginação e Tamanho 131 A Pesquisa de Kosslyn 131 A Pesquisa Mais Recente sobre Imaginação e Tamanho 131 • Imaginação e Forma 132 Formas Simples 132 Formas Complexas 134 • Imaginação e Interferência 134 Imagens Visuais e Percepção Visual 135 Movimento Motor e Imagens Motoras 136 • Imaginação e Figuras Ambíguas 136 • Imaginação e Outros Processos de Tipo Visual 138 • Imaginação e Evidências Neuropsicológicas 138 Imaginação Visual 138 Imaginação Auditiva e Motora 139 • A Controvérsia da Imaginação Revisitada 139 A Perspectiva Analógica 139 A Perspectiva Proposicional 140 Mapas Cognitivos 141 • Informações Básicas sobre Mapas Cognitivos 142 • Mapas Cognitivos e Distância 143 Número de Cidades Intermediárias 143 Categorias Semânticas 143 Pontos de Referência versus Pontos de Não-Referência como locais de Destino 144 • Mapas Cognitivos e Forma 144 Ângulos 144 Curvas 145 • Mapas Cognitivos e Posição Relativa 145 A Heurística da Rotação 146 A Heurística de Alinhamento 146 Arranjo Espacial 147 • Em Profzmdtdade: Usando Descrições Verbais para Criar Modelos Mentais 147 A Pesquisa de Franklin e Tversky 148 O Modelo da Estrutura Espacial 149 Outras Pesquisas sobre Modelos Mentais 149 Exercícios de Revisão do Capítulo 150 Novos Termos 151 Leituras Recomendadas 151 xvi SUMÁRIO CAPÍTULO 7 Conhecimento Geral 152 Introdução 153 A Estrutura da Memória Semântica 154 • Panorama da Memória Semântica 154 • O Modelo de Comparação de Características 155 Componentes Estruturais do Modelo de Comparação de Características 155 Pesquisas sobre o Modelo de Comparação de Características 156 Conclusões sobre o Modelo de Comparação de Características 157 • Em Profundidade: A Abordagem de Protótipos 157 Características dos Protótipos 158 Níveis de Categorização 160 Conclusões sobre a Abordagem de Protótipos 162 • A Abordagem Exemplar 162 Um Estudo Representativo sobre a Abordagem Exemplar 163 Comparando a Abordagem Exemplar a Outras Abordagens 164 Novos Rumos na Abordagem Exemplar 164 • Modelos de Rede 164 O Modelo de Rede de Collins e Loftus 165 A Teoria ACT de Anderson 165 A Abordagem do Processamento de Distribuição Paralela 167 Esquemas e Scripts 172 • Esquemas e Scripts: Fundamentos 173 • Fatores Relacionados à Evocação de Scripts 173 Identificação de Scripts 173 Avaliando a Semelhança de Scripts Relacionados 173 • Esquemas e Seleção da Memória 174 Memória Aprimorada para Material Consistente com o Esquema 174 Memória Aprimorada para Material Inconsistente com o Esquema 175 O Status Atual dos Esquemas e da Seleção de Memórias 176 • Esquemas e Extensão dos Limites 176 • Esquemas e Abstração da Memória 178 A Abordagem Construtiva 179 A Abordagem Pragmática 179 O Atual Status dos Esquemas e Abstração da Memória 180 • Esquemas e Inferências na Memória 180 A Pesquisa Clássica sobre Inferência 180 Implicações para a Publicidade 181 • Esquemas e Integração na Memória 181 Integração e Atraso da Evocação 181 Integração e Capacidade Limitada da Memória 182 • Conclusões sobre os Esquemas 182 Exercícios de Revisão do Capítulo 183 Novos Termos 184 Leituras Recomendadas 184 CAPíTULO 8 Linguagem 1: Introdução à Linguagem e à Compreensão da Linguagem 185 Introdução 186 A Natureza da Linguagem 187 • Fundamentos da Estrutura da Linguagem 188 Utilidade da Estrutura Sintagmática 188 Pesquisas sobre a Estrutura Sintagmática 188 • Breve História da Psicolingüística 188 A Gramática Transformacional de Chomsky 189 Pesquisas sobre a Teoria de Chomsky 190 Teorias em Psicolingüística que Enfatizam o Significado 190 • Fatores que Afetam a Compreensão 191 Negativas 191 Voz Passiva 191 Estruturas Embutidas 192 Ambigüidade 192 • Neurolingüística 193 Especialização Hemisférica 193 Indivíduos Portadores de Afasia 194 Pesquisa em Neuroimagem com Indivíduos Normais 194 Imagem Cerebral e Conhecimento Específico da Linguagem 195 Percepção da Fala 196 • Características da Percepção da Fala 196 Variabilidade na Pronúncia dos Fonemas 197 O Contexto e a Percepção da Fala 197 Pistas Visuais como Auxílio para Percepção da Fala 198 Limites das Palavras 199 • Teorias da Percepção da Fala 199 A Abordagem do Mecanismo Especial 199 A Abordagem do Mecanismo Geral 200 Processos Básicos de Leitura 201 • Comparando a Linguagem Escrita com a Linguagem Falada 201 • Movimentos Sacádicos dos Olhos 202 • Descobrindo o Significado de uma Palavra Não Familiar 203 • Leitura e Memória de Trabalho 204 • Teorias sobre o Papel do Som no Reconhecimento de Palavras 204 Pesquisas sobre a Hipótese da Rota Dual 204 Implicações no Ensino da Leitura às Crianças 205 Compreensão do Discurso 206 • Formando uma Representação Coerente do Texto 207 • Em Profundidade: Inferências na Leitura 207 Perspectiva Construtivista versus Perspectiva Minimalista das Inferências 208 Fatores que Estimulam Inferências 209 Inferências de Nível Superior 210 • Inteligência Artificial e Leitura 210 O Projeto FRUMP 211 Projetos Mais Recentes 211 Exercícios de Revisão do Capítulo 212 Novos Termos 212 Leituras Recomendadas 213 CAPÍTULO 9 Linguagem II: Produção da Linguagem e Bilingüismo 214 Introdução 215 A Fala 215 • Produzindo uma Palavra 215 • Produzindo uma Sentença 216 • Erros de Fala 216 Tipos de Erros dos Lapsos de Língua 217 • Produzindo o Discurso 218 • O Contexto Social da Fala 219 Repertório Comum 219 Formato Conversacional 220 Diretivas 221 A Escrita 222 • Um Modelo Cognitivo de Escrita 223 • Planejando a Tarefa Escrita 223 • Geração de Sentenças Durante a Escrita 224 • A Fase de Revisão da Escrita 224 • Estilo de Escrita em Psicologia 225 O Bilingüismo 226 • Fundamentos do Bilingüismo 226 • Vantagens do Bilingüismo 227 • Em Profundidade: A Proficiência na Segunda Língua como Função da Idade de Aquisição 228 Fonologia 228 Vocabulário 229 Gramática 229 Exercícios de Revisão do Capítulo 231 Novos Termos 232 Leituras Recomendadas 232 CAPÍTULO 1 O Resolução de Problemas e Criatividade 233 Introdução 234 Compreendendo o Problema 235 SUMÁRIO x:vii • As Exigências para a Compreensão do Problema 235 • Prestando Atenção a Informações Importantes 236 • Métodos de Representação do Problema 236 Símbolos 236 Matrizes 238 Diagramas 238 Imagens Visuais 239 • A Cognição Situada: Importância do Contexto 239 Abordagens de Resolução de Problemas 240 • A Heurística da Subida-de-Morro 241 • A Heurística de Meios e Fins 242 Pesquisas sobre a Heurística de Meios e Fins 242 Simulação Computacional 242 • A Abordagem da Analogia 243 Estrutura da Abordagem da Analogia 244 Fatores que Estimulam o Uso Adequado das Analogias 244 Fatores que Influem na Resolução de Problemas 245 • Perícia (ou Expertise) 245 Base de Conhecimentos 245 Memória 245 Representação 246 Abordagens da Resolução de Problemas 246 Elaboração a Partir de Estados Iniciais 246 Rapidez e Exatidão 246 Habilidades Metacognitivas 246 • Configuração Mental 246 • Fixidez Funcional 248 • Problemas de lnsight versus Problemas de Não-Jnsight 248 A Natureza do Insight 249 A Metacognição durante a Resolução de Problemas 249 O Papel da Linguagem na Resolução de Problemas 250 Criatividade 251 • Definições 252 • Abordagens da Criatividade 252 Produção Divergente 252 Teoria de Investimento da Criatividade 252 • Em Profundidade: Motivação de Tarefa e Criatividade 253 A Relação entre Motivação Intrínseca e Criatividade 254 A Relação entre Motivação Extrínseca e Criatividade 255 • Incubação e Criatividade 256 Exercícios de Revisão do Capítulo 257 Novos Termos 257 Leituras Recomendadas 258 xviii SUMÁRJO CAPíTULO 11 Raciocínio Dedutivo e Tomada de Decisão260 Introdução 261 Raciocínio Dedutivo 262 • Visão Geral do Raciocínio Condicional 262 • Dificuldades com Informações Negativas 264 • Dificuldades com Problemas de Raciocínio Abstrato 264 • O Efeito do Viés da Crença 264 • Fazendo uma Conversão Ilícita 265 • O Viés da Confirmação 266 A Tarefa Padrão de Seleção de Wason 266 Variações na Tarefa de Seleção de Wason 266 • Deixando de Transferir Conhecimento para uma Nova Tarefa 267 Tomada de Decisão 268 • A Heurística da Representatividade 268 Tamanho da Amostra e Representatividade 270 Taxa de Base e Representatividade 270 A Falácia de Conjunção e a Representatividade 271 • A Heurística da Disponibilidade 273 Recenticidade e Disponibilidade 27 4 Familiaridade e Disponibilidade 275 Correlação Ilusória e Disponibilidade 275 Heurística da Simulação e Disponibilidade 277 • A Heurística da Ancoragem e Ajuste 278 Pesquisas sobre a Heurística da Ancoragem e Ajuste 279 Aplicações de Heurística da Ancoragem e Ajuste 279 Estimando Intervalos de Confiança 280 • O Efeito de Enquadramento (The Framing Effect) 281 Informações Básicas e o Efeito de Enquadramento 281 Formulação de uma Pergunta e o Efeito de Enquadramento 281 Motivos do Efeito de Enquadramento 283 • Em Profundidade: Superconfiança nas Decisões 284 Estudos Gerais sobre a Superconfiança 284 Superconfiança na Tomada de Decisão Política 285 O Excesso de Confiança dos Estudantes em Completar Projetos no Prazo 285 Razões da Superconfiança 286 • O Viés Retrospectivo (The Hindsight Bias) 286 Pesquisas sobre Viés Retrospectivo 287 Explicações para o Viés Retrospectivo 288 • Duas Perspectivas sobre Tomada de Decisão: Otimistas versus Pessimistas 288 Exercícios de Revisão do Capítulo 289 Novos Termos 290 Leituras Recomendadas 291 CAPÍTULO 12 Desenvolvimento Cognitivo 292 Introdução 293 O Desenvolvimento da Memória 294 • A Memória na Primeira Infância 294 Reconhecimento da Mãe 294 Reforço Conjugado com um Móbile 294 Imitação 296 • Em Profundidade: A Memória nas Crianças 297 A Memória de Trabalho das Crianças 297 Aspectos Gerais da Memória de longo Prazo das Crianças 297 A Memória de longo Prazo das Crianças: Memória Autobiográfica 298 As Estratégias de Memória das Crianças 301 • A Memória nos Idosos 303 A Memória de Trabalho no Idoso 303 A Memória de longo Prazo nos Idosos 303 Explicações sobre Diferenças de Idade na Memória 304 O Desenvolvimento da Metacognição 306 • A Metacognição em Crianças 306 A Metamemória das Crianças: Como a Memória Funciona 306 A Metamemória das Crianças: Compreendendo a Necessidade do Esforço 306 A Metamemória das Crianças: Acurácia das Predições 306 A Metamemória das Crianças: Relação entre Metamemória e Desempenho da Memória 308 A Metacompreensão das Crianças 308 • A Metacognição em Idosos 308 O Desenvolvimento da Linguagem 310 • A linguagem na Primeira Infância 31 O Percepção da Fala na Primeira Infância 310 Compreensão da linguagem na Primeira Infância 311 Produção da linguagem na Primeira Infân eia 312 A linguagem dos Pais com os Bebês 312 • A linguagem nas Crianças 313 As Palavras 313 A Morfologia 315 Sintaxe 316 A Pragmática 316 Exercícios de Revisão do Capítulo 318 Novos Termos 318 Leituras Recomendadas 319 Uma Última Tarefa 319 Apêndice 320 Glossário 332 Referências 344 Créditos 395 Índice 396 ---�· ·---- -·-·----- CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO UMA BREVE HISTÓRIA DA ABORDAGEM COGNITIVA Origens da Psicologia Cognitiva Surgimento da Psicologia Cognitiva Contemporânea Q!)ESTÕES TEÓRICAS ATUAIS EM PSICOLOGIA COGNITIVA Ciência Cognitiva Neurociência Cognitiva Inteligência Artificial A Abordagem do Processamento de Distribuição Paralela VISÃO GERAL DESTE LIVRO Apresentação dos Capítulos Temas Abordados Como Usar Este Livro 2 CAPÍTULO UM APRESENTAÇÃO Este capítulo apresenta você à cognição, área da psico logia que descreve como adquirimos, armazenamos, transformamos e aplicamos o conhecimento. Por lon go tempo, os processos do pensamento humano têm intrigado os teóricos. Contudo, a origem do estudo contemporâneo da cognição pode ser encontrada no desenvolvimento que Wundt fez da técnica de introspecção, a pesquisa inicial da memória, e na ela boração teórica de William James sobre os processos cognitivos. No início do século XX, os behavioristas enfatizavam o comportamento observável em vez dos processos mentais. Novas pesquisas em áreas como memória e linguagem produziram um desencantamento com o behaviorismo e a abordagem cognitiva logo tor nou-se popular. A psicologia cognitiva é hoje parte de uma área inter disciplinar atuante conhecida como ciência cognitiva. A psicologia cognitiva tem sofrido a influência dos pro gressos da neurociência cognitiva, da inteligência artifi cial e de uma estrutura teórica denominada abordagem do processamento distribuído paralelo. Este capítulo introdutório também apresenta um pa norama preliminar dos capítulos e uma visão geral dos cinco grandes temas do lívro. Ao final, encontram-se al gumas sugestões sobre a maneira de fazer o melhor uso dos aspectos especiais do livro. INTRODUÇÃO Neste exato momento, você está executando uma grande variedade de tarefas cognitivas. Para chegar a esta segunda oração do primeiro parágrafo, você empregou o reconheci mento de padrão para interpretar os diversos traçados que formam as letras e as palavras desta página. Consultou a memória para pesquisar significados de palavras e para ar ticular as idéias neste parágrafo. Justamente agora, enquan to reflete sobre essas duas tarefas, você está empenhado em outra tarefa cognitiva denominada metacognição, ou a atividade de pensar sobre seus processos de pensamento. Você também empregou um outro processo cognitivo de nominado tomada de decisão, ao tentar avaliar quanto tem po levaria para ler este primeiro capítulo. A cognição, ou atividade mental, descreve a aquisição, o armazenamento, a transformação e a aplicação do co nhecimento. Como você poderia imaginar. a cognição in clui um amplo leque de processos mentais que operam necessariamente a cada vez que adquirimos alguma infor mação, armazenamos e transformamos essa informação e a aplicamos. Este livro explorará processos mentais como percepção, memória, imagética, linguagem, resolução de problemas, raciocínio e tomada de decisão. A expressão relacionada, psicologia cognitiva, tem dois significados: (1) Algumas vezes é sinônimo do vocábulo cognição, referindo-se assim às muitas atividades mentais que acabamos de citar. (2) Outras vezes refere-se a uma deter minada abordagem teórica em psicologia. De maneira es pecífica, a abordagem cognitiva é uma orientação teórica que enfatiza o conhecimento que as pessoas têm e os seus processos mentais. Por exemplo: uma explicação elabora da pela psicologia cognitiva sobre estereótipos enfatizaria tópicos como a influência dos estereótipos nas categorias mentais que criamos e nos julgamentos sociais que faze mos (Wyer, 1998). A abordagem cognitiva é muitas vezes contrastada com outras abordagens psicológicas atuais, como o behavioris mo e a psicodinâmica. A abordagem behaviorista enfatiza os comportamentos observáveis e a abordagem psicodi nâmica focaliza as emoções inconscientes. Com o objeti vo de explicar os estereótipos, essas duas abordagens des creveriam comportamentos ou emoções, e não os proces sos cognitivos. Por que deveriam os estudantes de psicologia aprende� sobre a cognição? Uma razão é que a cognição ocupa umc. parte fundamental do domínio da psicologia humana. O que você fez no passado que não tenha exigido a percepção. e. memória, a linguagem ou algum outro processo mental sc perior? Como se verá adiante, os psicólogos têm cond uzid::: ativamente um grande número de pesquisas sobre cada uc dos tópicos que estão inseridos na psicologia cognitiva. Uma segunda razão para se estudar a cognição é que õ abordagem cognitiva tem uma influência muito difuné;::'.õ sobre outras áreas da psicologia.É o caso da psicologia :::o educação (Greeno et al., 1997; Landauer & Dumais, 199- da psicologia social (Barone et al., 1997; J. G. Miller, 19;.;. da psicologia da saúde (Taylor et al., 1997) e dos leva::_:ê mentos (Schwarz & Sudman, 1996). A psicologia cogd::··õ também tem exercido influência em áreas interdisciplina:-= ô É o caso, por exemplo, do periódico Po!itical Psycho!og1• =--= destaca como os fatores cognitivos podem influir em s::·_. ações políticas. Em resumo, compreender os fatores .:. = � nitivos irá ajudar você a apreciar muitas outras área5 ::: psicologia. A razão final para se estudar a cognição é mais pess = ê. Você possui um equipamento cuja sofisticação é imp�""� onante - sua mente - e usa esse equipamento a :=..:.:. minuto do dia. Ao comprar um carro, você normal:-::�::-.·: recebe um manual que descreve seu funcionamento. ::: . do você nasceu, porém, ninguém publicou um manual do proprietário para a sua mente. De certo modo, este livro lembra um manual do proprietário, descrevendo o que se conhece sobre o funcionamento de sua mente. E tal como um manual, este livro também contém sugestões sobre como aprimorar o desempenho. INTRODUÇÃO 3 Este capítulo introdutório concentra-se em três seções. Primeiro, consideraremos rapidamente a história da psico logia cognitiva e, depois. faremos o esboço de algumas ques tões atuais importantes. A parte final do capítulo descreve este livro, incluindo conteúdo e temas principais; oferece também sugestões para usá-lo com proveito. UMA BREVE HISTÓRIA DA ABORDAGEM COGNITIVA A abordagem cognitiva em psicologia remonta aos filóso fos gregos clássicos e ao desenvolvimento da psicologia dos séculos XIX e XX. Contudo, como veremos nesta seção, a versão contemporânea da psicologia cognitiva surgiu nos últimos cinqüenta anos. ÜRIGENS DA PSICOLOGIA COGNITIVA A atividade de pensamento humano tem intrigado filóso fos e outros teóricos há pelo menos dois mil anos. O filó sofo grego Aristóteles elaborou leis de aprendizagem e memória e discutiu a importância da imagética mental. Aris tóteles também salientou que os seres humanos adquirem o conhecimento através da experiência e pela observação (Mayer, 1983; Sternberg, 1999a). A perspectiva aristotélica configurou a base original da ênfase que os psicólogos cog nitivistas dão à evidência empírica, ou evidência científica obtida pela observação e experimentação cuidadosas. Aris tóteles preparou as condições que possibilitaram séculos de debates filosóficos acerca da aquisição do conhecimen to. Contudo, a psicologia como disciplina só veio a surgir no final do século XIX. lfli/he!m lfltmdt. Os teóricos em história da psicologia costumam celebrar o ano de 1879 como o do nascimento da psicologia científica: foi nesse ano que Wilhelm Wundt inaugurou seu laboratório em uma pequena sala de aula em Leipzig, na Alemanha. Esse evento marcou o início da psicologia como uma nova disciplina independente da filo sofia e da fisiologia. Por vários anos, reuniram-se estudan tes de todo o mundo para estudar com Wundt, que lecio nou para cerca de 28.000 deles durante a vida (Bechtel et al., 1998). Wundt sustentava que a psicologia deveria estudar os processos mentais empregando uma técnica chamada introspecção. Introspecção, neste caso, significava que observadores cuidadosamente treinados poderiam analisar de forma sistemática as próprias sensações, relatando-as da maneira mais objetiva possível (Bechtel et al., 1998). Por exemplo, os observadores podiam ser solicitados a relatar as reações determinadas por um acorde musical es pecífico. Tais observadores eram encorajados a descrever as sensações que tinham em vez dos estímulos que pro duziam as sensações. Eram também instruídos a relatar pensamentos e imagens sem tentar atribuir-lhes um signi ficado. O trabalho de Wundt dava ênfase ao treinamento cuidadoso dos observadores. Wundt também chamava a atenção para a importância da repetição, na qual os expe rimentos testam um fenômeno sob uma variedade de con dições diferentes (como diferentes participantes, diferentes estímulos ou diferentes condições de testagem). A maior parte das pesquisas descritas neste livro foi repetida várias vezes. A técnica de introspecção elaborada por Wundt soa um tanto subjetiva à maioria dos psicólogos cognitivistas atu ais (Sternberg, 1999a). Como você aprenderá no Cap. 2, nossas introspecções às vezes não correspondem aos nos sos processos cognitivos verdadeiros. Por exemplo: você pode constatar pela introspecção que seus olhos estão mo vendo-se em linha reta nesta página, porém os psicólogos cognitivistas constataram que, na verdade, os olhos se mo vem em pequenos saltos - como será visto no Cap. 8. Primeiros Pesquisadores em k1emória. Contudo, nem to dos os colegas de Wundt adotaram a técnica introspeccio nista. Um outro psicólogo alemão chamado Hermann Eb binghaus (1885-1913), elaborou métodos próprios de estu do da memória humana. Construiu mais de duas mil síla bas sem sentido (DAK, por exemplo) e testou sua própria habilidade para aprender esses estímulos. Ebbinghaus exa minou um grande número de fatores que poderiam influ enciar na performance, como a quantidade de tempo entre a apresentação das listas. Ele escolheu propositalmente sí labas sem sentido - em vez de material com sentido - para que os estímulos não tivessem associações prévias com a experiência anterior. Enquanto isso, nos Estados Unidos, pesquisas semelhan tes estavam sendo realizadas por psicólogos como Mary Whiton Calkins (1894), a primeira mulher a presidir a Ame rican Psychological Association. Ela relatou, por exemplo, um fenômeno de memória chamado efeito da recenticida de (Madigan & O'Hara, 1992). O efeito de recenticidade refere-se à observação de que nossas recordações são espe cialmente precisas para os itens finais presentes em uma série de estímulos. Ebbinghaus, Calkins e outros pesquisadores em me mória tiveram maior influência sobre a psicologia cogniti va do que Wundt e sua técnica de introspecção. Isso fica visível pelo fato de pesquisadores posteriores terem tido maior possibilidade de realizar experimentos testando maneiras pelas quais as variáveis selecionadas influem na memória do que solicitando que os observadores relatas sem as sensações produzidas por um estímulo. Contudo. o método de Ebbinghaus encorajou por décadas os psicó- 4 CAPÍTULO UM logos experimentais a empregarem os estímulos sem sen tido na investigação da memória. Como resultado, não investigaram uma abordagem muito diferente daquela que as pessoas adotam quando tentam recordar material sig nificativo. Wl!!tàm James. Outra figura crucial na história da psi cologia cognitiva é William James, um americano cujas teorias tornaram-se especialmente proeminentes no final do século XIX. James não ficou impressionado com a téc nica introspeccionista de Wundt nem com as pesquisas de Ebbinghaus com as sílabas sem sentido. Em vez disso, James preferiu teorizar sobre os tipos de questões psico lógicas encontradas no dia-a-dia. Ele é mais conhecido por seu livro Princípios de Psicologia, publicado em 1890, que foi descrito como "provavelmente o tratado psicológico mais digno de nota já escrito nos Estados Unidos" (Evans, 1990, p. 11). O livro Princípios de Psicologia apresenta descrições deta lhadas sobre as experiências humanas quotidianas, enfati zando o fato de que a mente humana é ativa e inquiridora. O livro prefigura inúmeros tópicos que atualmente fasci nam os psicólogos cognitivistas, como percepção, atenção, raciocínio e o fenômeno po11ta-da-!í11g11a. Veja1 por exemplo1 uma parte da descrição feita por James da experiência tipo ponta-da-língua: Suponha que estamos tentando recordar um nome esqueci do. O estado de nossa consciência é característico. Há nela um hiato, mas não um hiato qualquer. É um hiato intensa mente ativo. Há nele um tipo de espectro do nome, acenan do-nos emuma dada direção, causando-nos um formiga mento em certos momentos com a sensação de estar perto dele e depois deixando-nos afundar de volta sem o termo há muito desejado. (1890, p. 251) Talvez1 as mais significativas contribuições de James para o campo da psicologia cognitiva tenham sido suas teorias sobre a memória. Ele propunha dois tipos diferentes de memória: uma de curto prazo e outra duradoura. Essa es trutura foi precursora do importante modelo de memória proposto por Atkinson e Shiffrin (1968) cerca de oitenta anos mais tarde, e que será discutido mais adiante neste capítulo. Be!wviorismo. A mais proeminente perspectiva teórica nos Estados Unidos durante o início do século XX foi o behaviorismo. De acordo com a abordagem behaviorista1 a psicologia deve concentrar-se apenas em reações objeti vas e observáveis. O behaviorismo enfatiza os estímulos ambientais que determinam o comportamento. Os behavi oristas ortodoxos (muitas vezes chamados beha1•1óristas ra dicais) rejeitavam especulações sobre os pensamentos inter nos (Sternberg, 1999a). O mais proeminente dos primeiros behavioristas foi o psicólogo americano John B. Watson (1913). A ênfase dada pelos behavioristas ao comportamento observável levou-os a rejeitar termos referentes a eventos mentais, como imagem, idéia e pensamento. Muitos behavio- ristas classificavam o pensamento simplesmente como uma fala subvocal. Presume-se assim que um equipamento adequado poderia ser capaz de detectar os minúsculos movimentos feitos pela língua (comportamentos observá veis) durante a atividade de pensar. Por exemplo: se você pensa, enquanto lê esta frase, alguns dos primeiros behavi oristas teriam dito que você, na verdade, está conversando consigo mesmo, mas de maneira tão quieta que a emissão de sua voz não pode ser ouvida. É significativo o fato de que os behavioristas tendessem a evitar o emprego de par ticipantes humanos nas pesquisas, que até então eram usa dos nas pesquisas de preferidos por Wundt e Ebbinghaus. A maioria das pesquisas dos behavioristas foi realizada com animais de laboratório. Os behavioristas não contribuíram para o estudo da atividade mental, porém contribuíram de forma rele vante para os métodos da atual psicologia cognitiva (Simon, 1992). Os behavioristas ressaltavam que os conceitos devem ser definidos com cuidado e precisão. Por exemplo, desempenho poderia ser definido como o número de tentativas necessárias a um rato para corr> pletar sem erro um labirinto. Ou seja, os behavioristas insistiam na importância da definição operacional, umc. definição precisa que especifica exatamente como o con ceito deverá ser mensurado. Os atuais psicólogos cog nitivistas também dão ênfase às definições operacionais. Um pesquisador cognitivo, por exemplo, precisa espe cificar exatamente como a memória deverá ser mensura da em um estudo. Os behavioristas também valorizavam o controle expe rimental. Por isso. como os animais podem ser criados err_ condições controladas com muito mais cuidado, os pes quisadores em psicologia a princípio estudavam anima::: em vez de seres humanos. A da Gestalt. O behaviorismo prospero� nos Estados Unidos por várias décadas, porém teve influ ência menor na psicologia européia. Um desenvolvimer_ to importante na Europa no início do século XX foi ::: gestaltismo, que ressalta que os seres humanos apreser_ tam tendências básicas a organizarem o que vêem e que :: todo é maior do que a soma das partes. Vejamos, por exerr_ plo, as primeiras sete notas da conhecida canção do alfa beto ("ab-cd-efg ... "). A melodia resultante é mais do que simplesmente sete notas reunidas; parece ter unidade e organização. Apresentam uma Gestalt, ou qualidade ger2� que transcende os elementos individuais. Por valorizarec a unidade dos fenômenos psicológicos, os psicólogos doo. Gestalt criticavam a ênfase behaviorista na elementariza ção do comportamento em unidades isoladas de estímv lo-resposta (Sternberg, 1999a). Os gestaltistas, ao enfatizarem que a totalidade da expe riência possui uma organização que lhe é inerente, fazian:. muitas objeções à técnica introspeccionista de Wundt que: analisava a experiência em componentes separados. P2�= descrever essa organização, elaboraram várias leis que ex plicam por que certos componentes de um padrão pare :em fazer parte do todo. A proximidade é uma dessas leis. A. partir dela, afirma-se que tendemos a agrupar itens men :almente quando eles estão fisicamente próximos uns dos :mtros. Os gestaltistas também ressaltavam a importância do :··isight na resolução de problemas (Holyoak & Spellman. :993). Quando estamos tentando resolver um problema, a.s suas partes inicialmente parecem não ter relação umas :om as outras. Contudo, com um �ash repentino de insight. a.s partes se encaixam em uma solução. A maior parte das Drimeiras pesquisas relacionadas a resolução de problemas foi conduzida pelos psicólogos da Gestalt. No Cap. 1 O exa minaremos o conceito de insight - bem como progres sos mais recentes. Frederick C. Bart!ett. No início do século XX os beha vioristas predominavam nos Estados Unidos e os psicólo- 5os da Gestalt tinham influência na Europa continental. �nquanto isso, um psicólogo britânico chamado Frederick C. Bartlett realizava suas pesquisas sobre a memória hu mana. Seu importante livro Remembering: A11 Experimenta! �md Social Study (Bartlett, 1932) rejeitava as pesquisas cui ::ladosamente controladas de Ebbinghaus. Em vez disso, Bartlett empregava materiais significativos como histórias iongas. Examinava também como as experiências passa ::las das pessoas influíam em sua evocação posterior do material. Ele propôs que a memória humana é um proces so construtivo no qual interpretamos e transformamos o material original. A obra de Bartlett foi amplamente ignorada nos Estados Unidos durante a década de 1930 porque os psicólogos americanos estavam comprometidos com a metodologia experimental do behaviorismo. Contudo, os psicólogos cognitivistas americanos descobriram mais tarde a sua obra e gostaram do modo como ele usava o material naturalista, em contraste com o artificialismo das sílabas sem sentido de Ebbinghaus (Bransford & Johnson, 1972; Hintzman, 1993). A ênfase dada por Bartlett a uma abordagem da memória com base em esquemas prefigurava algumas pes quisas que iremos explorar nos Caps. 4 e 7 (Bechtel et al., 1998). SURGIMENTO DA PSICOLOGIA COGNITNA CONTEMPORÂNEA Apresentamos em breves traços as raízes históricas da psi cologia cognitiva, mas quando foi realmente que essa nova abordagem "nasceu"? Os psicólogos cognitivistas concor dam de maneira geral em que o nascimento da psicologia cognitiva deve ser estabelecido em 1956 (Eysenck, 1990; Gardner, 1985). Durante esse ano prolífico, muitos pesqui sadores publicaram livros e artigos influentes sobre aten ção, memória, linguagem, formação de conceitos e resolu ção de problemas. !NTR.ODUÇÃO 5 Alguns psicólogos até mesmo especificam um dia para o nascimento da psicologia cognitiva.* No dia 11 de setem bro de 1956, vários pesquisadores importantes assistiam a um simpósio no Massachusetts Institute of Technology (MIT). George Miller relembra o evento: Saí do simpósio com uma forte convicção, mais intuitiva que racional, de que a psicologia humana experimental, a lingüística teórica e a simulação computacional dos proces sos cognitivos eram. todos eles, peças de um todo maior e de que o futuro iria ver a elaboração e a coordenação pro gressiva de seus interesses em comum. (Miller, 1979, p. 9) O entusiasmo pela abordagem cognitiva cresceu com rapi dez. de modo que por volta de 1960 a metodologia, a abor dagem e as atitudes haviam mudado bastante (Mandler, 1985). Um marco dessa mutação foi a publicação do livro Cognitive Psvcho!ogy, de Ulric Neisser (Neisser, 1967). O entusiasmo crescente pela abordagem cognitiva tem sido chamado às vezes de "revolução cognitiva"(Bruner, 1997). Alguns psicólogos não acreditam que a abordagem atual difira substancialmente da estrutura "pré-revolu cionária" (Hintzman, 1993). Contudo, outros alegam que a transição assemelhou-se a uma explosão. Sperry (1993, p. 881). por exemplo, escreveu: "Foi como se as com portas que retinham as muitas pressões da consciência e da subjetividade se abrissem de repente." Há alguns fatores que contribuíram para o impressio nante aumento de popularidade da psicologia cognitiva, dentre eles, a abordagem do processamento da informa ção. uma das forças mais influentes no início do desenvol vimento da psicologia cognitiva. Cc:ntrib11íram vara o Cresci111e11to da 'ci. A origem da popularidade da abordagem cog nitiva pode ser encontrada no desencanto dos psicólogos com o behaviorismo, bem como nos novos progressos em lingüística, na pesquisa em memória e na psicologia do de senvolvimento. Antes do final da década de 1960, os psicólogos esta vam ficando cada vez mais desapontados com a perspecti va behaviorista que tinha dominado a psicologia america na. A complexidade do comportamento humano não po dia ser prontamente explicada usando-se somente os con- *O psicólogo George lvliller fixou a data de nascimento da ciência cogni tiva em 11 de setembro de 1956. O simpósio sobre Teoria da Informação, ocorrido no MIT. aconteceu no período de 10 a 12 de setembro de 1956. O dia 11 de setembro representa o segundo dia do simpósio e este se destaca para /l.1iller em função da apresentação de dois artigos: a "Máqui na de Teoria Lógica" Jogic Theory Machine) de Allen Newell e Herbert Simon. e 'Três Modelos de Linguagem" apresentado por Noam Chomsky. O artigo de Newell e Simon representava a primeira verificação de um teorema. executada em um computador; o artigo de Chomsky de mor.stra\·a a hipótese de que a lmguagem contém a precisão formal da matemática. Não parece ser contigente o entusiasmo de George /vliller em relação a 11 de setembro: ali parece tomar-se possível uma ciência da mente (Gard ner. : 985). \nota do revisor técnico; 6 CAPÍTULO UM ceitos da teoria behaviorista tradicional, como é o caso do estímulo, da resposta e do reforço. Muitas atividades psi cológicas não podiam ser estudadas porque os behavioris tas limitavam-se somente a respostas observáveis. Por exem plo: suponhamos que apresentamos um problema difícil (o estímulo) a uma pessoa. Aguardamos vinte minutos até que ela apresente a solução (a resposta). Mas esse enfoque ex clusivo nos estímulos e respostas observados nada nos in forma sobre os processos psicologicamente interessantes, como o pensamento e as estratégias empregados na resolu ção do problema (Bechtel et aL. 1998). Os novos progressos na lingüística também aumenta ram a insatisfação dos psicólogos com o behaviorismo (Bechtel et al., 1998). As contribuições mais importantes vieram do lingüista Noam Chomsky (1957), que rejeitava a abordagem behaviorista da aquisição da linguagem. Em vez disso, Chomsky dava ênfase aos processos mentais de que precisamos para compreender e produzir a linguagem. lin güistas como Chomsky convenceram a muitos psicólogos de que a estrutura da língua era por demais complexa para ser explicada em termos behavioristas (Barsalou, 1992a). Muitos lingüistas argumentavam que os seres humanos têm uma capacidade inata para dominar a linguagem, idéia que claramente contradizia o princípio behaviorista de que a aprendizagem é responsável pela aquisição da linguagem. 20 18 � 16 u .D -5 14 J, � 12 o. s 8 10 ô (.) :;:; �g " o. 8 Abordagem cognitiva • Abordagem behaviorista V "d ô .?!' 6 ....... . 1 .... /....--.. __ ...- � 4 1 / -- / : ______ / j --1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 o ..,., °' ,.,.., ..,., °' 'O ..,., °' °' ..,., °' N 'á?. ..,., 'O °' 00 'O °' 1 1 ....... t-- °' 1 A pesquisa sobre a memória humana começou a desa brochar no final da década de 1950, aumentando ainda mais o desencanto com o behaviorismo. Os pesquisadores ex ploraram a possibilidade de diferentes tipos de memória. Eles também examinaram sua organização propondo mo delos explicativos de memória. Os conceitos behavioristas não podiam ser aplicados com facilidade aos fenômenos da memória. As pesquisas descobriam com freqüência que o material era alterado durante a retenção da memória, por exemplo, pelos conhecimentos anteriores da pessoa; prin cípios behavioristas como "reforço" não conseguiam expli car essas alterações. Outra força influente veio das pesquisas sobre os pro cessos de pensamento das crianças. O teórico suíço Jean Piaget enfatizava o desenvolvimento da compreensão de conceitos pela criança. Por exemplo: as crianças pequenas desenvolvem a permanência do objeto, o conhecimento de que um objeto existe mesmo quando é temporariamen te movido para um outro lugar. Os livros de Piaget começa ram a atrair a atenção dos psicólogos e educadores ameri canos em torno do final da década de 1950. A popularidade nascente da abordagem cognitiva - e o declínio simultâneo da abordagem behaviorista - foi do cumentada por Robins e colaboradores (1999). Vamos fo calizar apenas uma parte de suas pesquisas. Empregando 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 tj- t-- o '""" 'O °' N ..,., {'-.. {'-.. 00 00 00 00 °' °' °' °' °' °' °' °' °' °' ....... ....... ....... ....... ....... Ano Fig. 1.1 Porcentagem de artigos publicados em quatro renomados periódicos de psicologia que contêm palavras-chave perti nentes às abordagens cognitiva e behaviorista. Observação: Os quatro periódicos incluídos neste estudo são: American Psychologist. Annual Review of Psychology. Psychological Bulletin e Psychological Review Fonte: Robins et al., 1999. ·..:.ma base de dados computadorizados dos periódicos em :: sicologia, esses psicólogos examinaram os artigos publi ::3.dos em quatro renomados periódicos de psicologia de :::-_teresse geral. Eles fizeram também um levantamento do ::-_'.Ímero de artigos dos periódicos que usavam palavras-cha :e como cognitivo (cognitive) e cognição (cognition) (um índice da : :::pularidade da abordagem cognitiva) e do número de ar :.5os que usavam palavras-chave como reforço (reinforcement) : :ondicionamento (conditioning) (um índice da popularidade ::_3 abordagem behaviorista). A fig. 1.1 mostra o número de artigos com palavras-cha :e relacionadas às abordagens cognitiva e behaviorista. ?.:::bins e colaboradores (1999) advertem que não devería :-::::::s comparar diretamente as duas linhas nesta figura por ::·..:.e as duas listas de palavras-chave podem não ser compa ��·.·eis (um artigo pode possivelmente ser escrito a partir de _:-::1a perspectiva behaviorista sem o emprego de palavras ::o::iecíficas). Em vez disso, deveríamos focalizar a tendên : : :: dentro de cada abordagem. De modo específico, o nú :-:::ero de artigos de orientação cognitivista aumenta razoa ::::mente a partir de 1950. O número de artigos de orienta ;�::: behaviorista atingiu o ponto máximo na década de 1960 : :e:n diminuído desde então. Vimos que o conhecimento da abordagem cognitiva foi :::-.:orajado pelas pesquisas em lingüística, memória e psi : :::ogia do desenvolvimento. Vamos ver agora outro fator ::·..:.e contribuiu para esse crescimento: o entusiasmo pela ::·:-ordagem do processamento da informação. Por muitos ::::-_os. essa abordagem foi a mais popular no interior da abor :::.gem cognitiva. .-i. Abordagem do Processamento da Informação. Duran ::: 3. década de 1950, a ciência da comunicação e a ciência : :mputacional começaram a se desenvolver e a ganhar :: :pularidade. Os pesquisadores começaram então a con ::LUrar se os processos do pensamento humano poderi- :::-::: ser analisados a partir de uma perspectiva semelhante :=:.eed, 1997). Dois componentes importantes da aborda gem do processamento da informação são que (a) um :�:::cesso mental pode ser mais bem compreendido quan:: comparado com as operações realizadas por um com :·_ :ador e (b) um processo mental pode ser interpretado : : ::lo processamento da informação por meio de um sis :::::::a composto por uma série de estágios, que se correla :::nam e são seguidos passo a passo (Eysenck, 1993; :·.�3ssaro e Cowan, 1993). \!ejamos, por exemplo, o fluxo de informações que : :::=irre quando você quer saber se um determinado ôni �·.:.s vai para o destino desejado em uma cidade desconhe ::::ia. Primeiro, seus sentidos recebem os estímulos (a for :-::::. de um veículo grande está registrada na sua retina). :=::oses dados são então comparados com as informações ::�:::1azenadas na memória (as imagens na retina combi ::-.::.:::1 com as informações que você já armazenou sobre .: :-_:bus). A seguir, você procura informações extras (per �·..::-ita ao motorista sobre o destino), e esses dados são INTRODUÇÃO 7 comparados com as informações armazenadas na memó ria (a resposta do motorista combina com o destino que você armazenou). Você então toma a decisão (planeja embarcar no ônibus). Finalmente, executa a resposta (en tra no ônibus). Repare que a abordagem do processamen to da informação pode examinar o fluxo de informações tanto dentro do organismo quanto entre o organismo e o ambiente (Mandler. 1985). O exemplo que mais se destaca na abordagem do pro cessamento da informação é um modelo projetado para explicar a memória humana. Durante a década de 1960 fo ram esboçados muitos modelos diferentes que propunham armazenamentos separados de memória para tipos diferen tes de memória (por exemplo, Waugh & Norman, 1965). Richard Atkinson e Richard Shiffrin (1968) desenvolveram um modelo de múltiplo armazenamento, que é o discutido com mais freqüência. Esse modelo logo se tornou extrema mente popular dentro do campo nascente da psicologia cognitiva (Squire et al., 1993). Como a teoria de Atkinson e Shiffrin se tornou logo a abordagem-padrão, ela é, em geral, chamada de "modelo modal". O modelo de Atkinson-Shi ffrin propunha que a memória pode ser compreendida em uma seqüência de etapas distintas, em que as informações são transferidas de uma área de armazenamento para outra. Discutiremos esse modelo com alguns detalhes porque ele exerceu grande influência a ponto de persuadir os psicólo gos a adotarem a perspectiva da psicologia cognitiva. A fig. 1.2 mostra o modelo de Atkinson-Shiffrin, com setas indicando a transferência da informação. Os estímu los externos (ambientais) entram primeiro pela memória sen sorial. A memória sensorial é um sistema de armazena mento de grande capacidade que registra informações de cada um dos sentidos com razoável exatidão. Durante as décadas de 1960 e 1970, os psicólogos tendiam especial mente a estudar a memória icónica (memória sensorial visual) e a memória ecóica (memória sensorial auditiva) (por exem plo, Darwin et al., 1972; Sperling, 1960). O modelo propu nha que as informações são armazenadas na memória sen sorial por dois segundos ou menos, e depois a maior parte é esquecida. Por exemplo: sua memória ecóica armazena por pouco tempo as últimas palavras de uma frase pronun ciada pelo seu professor, mas o "eco" dessas palavras desa parece em dois segundos. O modelo de Atkinson-Shiffrin propunha que algum material da memória sensorial passa então para a memória de curto prazo. A memória de curto prazo (chamada ago ra memória de trabalho) contém somente a pequena quan tidade de informações que estamos usando de maneira ati va. As lembranças de curto prazo são frágeis, embora não tão frágeis como as da memória sensorial; podem perder se da memória em cerca de 30 segundos, a menos que de alguma maneira sejam repetidas. De acordo com o modelo, o material que foi usado re petidamente é transferido da memória de curto prazo para a memória de longo prazo. A memória de longo prazo possui uma capacidade grande e contém lembranças que 8 CAPITULO UM Perdido da memória sensorial Perdido da memória de curto prazo Perdido da memória de longo prazo - 1- --<-- Fig. 1.2 Modelo de memória de Atkinson-Shiffrin. Fonte: Atkinson e Shiffrin. 1968. 1 têm algumas décadas, além de lembranças chegadas pou cos minutos antes. Atkinson e Shiffrin propuseram que as informações armazenadas na memória de longo prazo são relativamente permanentes, sem probabilidade de se per derem. Repare também a seta que volta da memória de lon go prazo para a memória de curto prazo. Esta seta repre senta nossa capacidade de recuperar informações da me mória de longo prazo e trazê-las de volta à memória de curto prazo quando queremos trabalhar de maneira ativa com aquelas informações outra vez. O modelo de processamento da informação de Atk.in son e Shiffrin (1968) dominou por muitos anos a pesquisa sobre a memória. Contudo, sua influência está reduzida agora. O conceito de memória sensorial ficou menos atra ente quando os pesquisadores começaram a questionar se a memória icônica desempenhava um papel importante na nossa vida diária (Haber, 1983a, 1983b; Healy & McNama ra, 1996). Além disso, a maioria dos psicólogos cognitivis tas consideram hoje a memória sensorial um processo muito breve de armazenamento que forma parte da percepção (Baddeley, 1995b). Um assunto mais controverso é a distinção feita por Atk.inson e Shiffrin (1968) entre a memória de curto prazo e a memória de longo prazo. Centenas de psicólogos realiza ram pesquisas destinadas a determinar se nosso sistema cognitivo realmente distingue entre o material que deve mos lembrar por alguns segundos e o material que deve mos lembrar por um período de tempo maior (por exem plo, Kintsch e Buschke, 1969; Melton, 1963; Milner, 1966). A bem da verdade, essa controvérsia nunca foi realmente resolvida (Baddeley, 1995b; Healy & McNamara, 1996). Input externo T Memória sensorial ' Memória de curto prazo (Memória de trabalho) Memória de longo prazo Contudo, a maioria dos psicólogos cognitivistas dividem o enorme domínio de investigação da memória em duas par tes, mais por conveniência do que pela convicção de que possuímos dois tipos completamente diferentes de memó ria. O Cap. 3 examina a memória de curto prazo, embora eu empregue o termo "memória de trabalho", atual e mais des critivo, como título do capítulo. Os Caps. 4, 5, 6 e 7 exami nam os diversos componentes da memória de longo prazo. Estamos discutindo o modelo de memória de Atk.inson Shiffrin (1968) porque é o exemplo mais conhecido da abordagem do processamento da informação. Conforme vimos, declinou o entusiasmo quanto à utilidade do mode lo. Também declinou o entusiasmo pela abordagem do pro cessamento da informação; os psicólogos cognitivistas re conhecem hoje que precisamos de modelos mais comple xos para explicar o pensamento humano. Embora alguns psicólogos cognitivistas ainda prefiram a estrutura do processamento da informação, muitos se guiram direções diversas. Alguns enfatizam as abordagens da neurociência ou a abordagem do processamento dis tribuído paralelo. Iremos explorar ambas nesta seção. Outros ainda não permanecem mais leais à abordagem do processamento da informação, porém não possuem uma estrutura teórica clara dentro da psicologia cognitiva. Conforme observaram alguns pesquisadores reconhecidos no campo, a disciplina atualmente sofre uma crise de iden tidade; falta-lhe uma direção teórica clara para o futuro (Bechtel et al., 1998; Neisser, 1994; Sperry, 1993). Ao lon go deste livro iremos considerar várias perspectivas teóri cas conforme avançarmos no exame da pesquisa em psi cologia cognitiva. INTRODUÇÃO 9 li REsuMo DA SEçÃo: UMA BREVE H1srôRJA DA ABORDAGEM CocNJTNA 1. O termo cognição refere-se a aquisição, armazenamen to, transformação e aplicação do conhecimento; a ex pressão psicologia cognitiva é algumas vezes empregada como sinônimo de cognição e outras como um termo referente a uma abordagem teórica da psicologia.2. A origem da psicologia científica é muitas vezes asso ciada às pesquisas de Wilhelm Wundt, que desenvol veu a técnica introspeccionista. 3. Hermann Ebbinghaus e Mary Whiton Calkins realiza ram as primeiras pesquisas sobre a memória humana. 4. William James examinava os processos psicológicos quotidianos enfatizando a natureza ativa da mente humana. 5. Iniciando suas pesquisas no princípio do século XX, behavioristas como John B. Watson rejeitaram o estu do dos processos mentais; os behavioristas contribuí ram de maneira significativa para os métodos de pes quisa empregados pelos atuais psicólogos cognitivistas. 6. A psicologia da Gestalt enfatizava a organização na percepção de padrões e insight na resolução de proble mas. 7. Frederick C. Bartlett realizou pesquisas sobre a memó ria usando histórias longas e outros materiais significa tivos. 8. A psicologia cognitiva emergiu em meados da década de 1950. E essa nova abordagem foi estimulada por um desencanto com o behaviorismo e também pelo crescente interesse pela lingüística, pela investigação da memória humana, pela psicologia do desenvolvi mento e pela abordagem do processamento da infor mação. 9. De acordo com a abordagem do processamento da in formação, os processos mentais podem ser melhor compreendidos se comparados ao computador; um determinado processo cognitivo pode ser representa do por informações que fluem através de uma série de etapas. 10. O exemplo mais conhecido da abordagem do proces samento da informação é o modelo de Atkinson-Shi ffrin (1968), que propõe três sistemas de armazenamen to da memória. O entusiasmo tanto em relação a esse modelo quanto em relação à abordagem do processa mento da informação não existe mais. Ql)ESTÕES TEÓRICAS ATUAIS EM PSICOLOGIA COGNITIVA A psicologia cognitiva tem exercido enorme influência so bre a psicologia. Quase todos os psicólogos reconhecem a importância das representações mentais, termo que os behavi oristas teriam rejeitado na década de 1950. De fato, exem plos de "behaviorismo puro" são hoje difíceis de achar. Numa convenção recente da Association for Advancement of Behavior Therapy, diversas palestras apresentavam em seu título uma terminologia cognitivista. Dois títulos que se destacaram foram "Cognitive Processing in Body Image and Eating Disorders" (Processamento Cognitivo na Ima gem Corporal e Transtornos Alimentares) e "Vulnerability to Depression: Recent Advances in Cognitive Mechanis ms" (Vulnerabilidade à Depressão: Avanços Recentes nos Mecanismos Cognitivos). DEMONSTRAÇÃO 1.1 A abordagem cognitiva também tem penetrado em mui tas áreas da psicologia que antes não enfatizavam os pro cessos de pensamento (a Demonstração 1.1 ilustra esse ponto). Além disso, um levantamento realizado entre os psicólogos das faculdades e universidades americanas evi denciou que mais de 76% classificavam-se como psicólo gos cognitivistas (Eysenck e Keane, 1990). Mesmo assim, a disciplina de psicologia cognitiva tem seus críticos. Uma queixa comum refere-se à questão da validade ecológica. Os estudos têm validade ecológica se as condições em que as pesquisas são feitas forem seme lhantes ao ambiente natural - aquele no qual os resultados vão ser aplicados (Whitley, 1996). Considere um experi mento realizado no interior de um laboratório, no qual os A VASTA INFLUÊNCIA DA PSICOLOGIA COGNITIVA Procure um livro de psicologia usado em alguma outra turma. Um livro introdutório é o ideal, mas os livros sobre psicologia desenvolvimental, psicologia social, psicologia do comportamento especial etc. também servem. Dê uma olhada no índice em busca de pala- vras relacionadas a cognição ou a cognitivo e localize as páginas que tratam do assunto. Dependendo da natu reza do livro, você também pode encontrar referênci as relacionadas a termos como memória, linguagem e per cepção. 10 CAPÍTULO UM participantes devem memorizar pares de palavras não rela cionadas, apresentadas em intervalos de dez segundos so bre uma tela em branco. Os resultados desse experimento poderiam informar-nos algo sobre o modo como a memó ria opera. Contudo, essa tarefa pode ter validade ecológica limitada porque não pode ser aplicada ao modo como as pessoas aprendem na vida real. Quantas vezes você já ten tou decorar palavras isoladas dessa maneira enquanto es tudava para uma prova iminente? A maioria dos psicólogos cognitivistas antes da década de 1980 realizava pesquisas em ambientes artificiais de la boratório, muitas vezes empregando tarefas que diferiam das atividades cognitivas quotidianas. Os pesquisadores atuais são muito mais propensos a enfatizar a validade eco lógica (Bechtel et al., 1998). Os psicólogos interessados na memória, por exemplo, atualmente estudam questões rela cionadas a vida real, como recordar uma lista de compras, enredos de novelas e letras de músicas (Mazzoni et al., 1997; Reeve & Aggleton, 1998; Rubin, 1995). Todavia, de manei ra geral, a maioria dos psicólogos cognitivistas reconhece que a disciplina deve progredir realizando pesquisas tanto ecologicamente válidas quanto baseadas em laboratório (Tulving,1991; Winograd, 1993). Há várias questões importantes a considerar para se for mar uma visão geral da atual psicologia cognitiva. Primei ro, precisamos levar em conta seu campo interdisciplinar. Observa-se que duas áreas dentro da ciência cognitiva têm feito especial contribuição à psicologia cognitiva: a neurociência e a inteligência artificial. As próximas seções tratarão delas e, ao final, veremos a nova abordagem da psicologia cognitiva chamada abordagem do processamento distribuído paralelo. CIÊNCIA COGNITIVA A psicologia cognitiva é parte de um campo mais vasto co nhecido como ciência cognitiva, um domínio de investi gação contemporâneo que procura responder às questões relativas a mente. A ciência cognitiva inclui em seu escopo as disciplinas de psicologia, filosofia, ciência computacional, lingüística, antropologia e neurociência (Bechtel & Graham, 1998b). Alguns estudiosos também acrescentam a essa lista a soci ologia e a economia (Gardner, 1985). Como o campo é tão novo quanto interdisciplinar, os participantes ainda não chegaram a um consenso sobre seu conteúdo nem sobre seus métodos (Luger, 1994). De acordo com os cientistas cognitivistas, o pensamento envolve a manipulação de representações internas acerca do mundo externo (Hunt, 1989). Os cientistas cognitivistas con centram sua investigação nessas representações internas. Em contraposição a essa perspectiva, conforme você lembrará, a pesquisa behaviorista concentrava-se somente na observa ção dos estímulos e das respostas no mundo externo. Os cientistas da cognição dão valor aos estudos interdisciplinares. Contudo, ainda não chegaram ao ponto de se empenharem em muitas interações produtivas com inte grantes de outras disciplinas. Em geral, os psicólogos cogniti vistas realizam pesquisas em conjunto com outros psicólogos cognitivistas. Ainda assi.u. os psicólogos tendem a trabalhar conjuntamente coo os ::iesquisadores de duas outras disci plinas - a neurociênc:a cognitiva e uma área dentro da ciên cia computaciona'. :::o:ü-::ecida como inteligência artificial. Direcionaremos nessa c.re:ição a esses dois tópicos. NEUROCIÊNCIA COGNITIVA Aneurociência cognitiva examina como os processos cog nitivos podem ser ex;:::cdos pela estrutura e função do cérebro (Buckner S:: ?e:e:se:i. 1998). O campo começou a florescer na década ::'.:: � ?'.'. :1 c;uando psicólogos cognitivis tas e neurocientistas :::c.ssê.:c.:r_ a empregar técnicas de ima gem cerebral para r-o:g:s�ê.: ê. atividade cerebral enquanto as pessoas executavarr: :a:e�as cog;:lltivas (Waldrop, 1993). Nos últimos anos, os pes::;·.::sê.::'.cres redobraram esforços para construir uma artin::aç�::; e:-,:re a psicologia cognitiva e as neurociências. No entanto, as ex:::::=:;ç�es ;-_eurológicas para os proces sos mentais superio:es:::-_ê.'.s :::::nplexos são muitas vezes enganadoras. Por exe:::::-:c: ·.::::-1a tarefa complexa - como recordar uma palavra - :ê.:ê.::-::ente é executada por apenas uma área específica r"c :f:e2:-o '.Kosslyn, 1996; Wheeler, 1998). A propósito, é ::::'::se, cê.utela ao ler os resumos de pesquisas em neurociê:-_::ê. :c g:-_itiva na mídia popular. Re centemente li um artigo:::: :::::-u.l que declarava que "os cien tistas descobriram a locê.:..'.=ê.;2.::: do Humor no Cérebro".* Na realidade, inúmeras áreas::;::; :é:ebro trabalham em conjunto para dominar a compl:ca::a :aéa de apreciação do humor. Não se esqueça tarr.l::fr:-:. de que as técnicas neurocien tíficas têm maior probal::: L:::aée ::e determinar onde um pro cesso ocorre do que X":_- esse :nesmo processo funciona (Banks & Krajicek, 199: . . ; :-"eurociência cognitiva possibi lita insights valiosos, mas ce:-ta:nente não apresenta todas as respostas! Analisemos algumas :éc:iicas em neurociência que têm oferecido informações especialmente úteis para os psicólo gos cognitivistas. Começaremos com um método que exa mina pessoas que sofreram dano cerebral. Em seguida, con sideraremos três métodos empregados com seres humanos normais e, depois, discutiremos um método empregado em animais. Lesões Cerebrais. A expressão lesões cerebrais refere-se à destruição do tecido cerebral, mais freqüentemente acar retada por pancadas, tumores ou acidentes. O estudo des sas lesões envolve uma das técnicas mais antigas emprega das pelos neurocientistas para examinar o processo cogni tivo. Essa pesquisa começou na década de 1860, mas os maiores progressos ocorreram depois da Segunda Guerra *Em inglês, trata-se do título "Scientists Find Humor Spot in the Brain". (nota do revisor técnico) Mundial, quando muitas pessoas com ferimentos de guer ra apresentavam transtornos de linguagem bem específi cos. Pesquisadores de laboratório em Nova York, Oxford, Paris, Berlim e Moscou começaram a compartilhar suas des cobertas. Esses pesquisadores observaram a existência de padrões similares na relação entre o dano cerebral e déficits cognitivos, mesmo quando as vítimas vinham de culturas diferentes e falavam línguas diferentes (Gardner, 1985). O estudo das lesões cerebrais aumentou em muito o nos so conhecimento sobre a organização cerebral (Gazzaniga et al., 1998). Contudo, os resultados são muitas vezes difíceis de interpretar. Uma pessoa portadora de lesão cerebral, por exemplo, pode muitas vezes aprender em pouco tempo a compensar seus déficits. Embora essa compensação seja cer tamente auspiciosa para a pessoa que sofreu a lesão, pode contaminar descobertas resultantes das pesquisas, tornan do-as muito menos conclusivas. Afinal, essa compensação poderia mascarar o fato de que o dano a uma área específica do cérebro produziu inicialmente um déficit cognitivo. Outro problema é que nos portadores de lesões cere brais raramente o dano é limitado a uma área específica. Como resultado, os pesquisadores não podem associar um déficit cognitivo a uma estrutura cerebral específica (Gazzaniga et al., 1998). Voltaremos a discutir as pesquisas realizadas com pessoas portadoras de lesões. As seguintes técnicas da neurociência, porém, fornecem informações mais bem controladas. Técnicas de Imagem Cerebral. Quando se executa uma tarefa cognitiva, o cérebro necessita de oxigênio para apoi ar a atividade neural. O cérebro não armazena oxigênio. Em vez disso, ocorre o aumento do fluxo sangüíneo na parte ativada do cérebro a fim de transportar oxigênio para o lo cal. As técnicas de imagem cerebral baseiam-se nesta lógi ca: mensurando certas propriedades do sangue em regiões diferentes do cérebro - enquanto as pessoas executam uma tarefa cognitiva - podemos determinar as regiões do cére bro responsáveis por essa tarefa (Buckner & Petersen, 1998; Raichle, 1999). Duas técnicas de imagem cerebral são usa das com mais freqüência: a tomografia por emissão de pósi trons (PET scan) e a ressonância magnética funcional (fMRI). Na tomografia por emissão de pósitrons (PET scan), os pesquisadores mensuram o fluxo sangüíneo injetando no participante um produto químico radioativo imediatamente antes de a pessoa executar uma tarefa cognitiva. O produto químico viaja pela corrente sangüínea para as partes do cére bro ativadas durante a tarefa cognitiva. Uma câmera especial registra uma imagem do produto químico radioativo acu mulado em todo o cérebro. Examinando essa imagem, os pesquisadores podem determinar as partes do cérebro en volvidas na tarefa cognitiva (Phelps, 1999) O PET scan pode ser usado na investigação de processos cognitivos como atenção, memória, imagética mental e leitura (Buckner & Petersen, 1998; Posner & Raichle, 1995). A fig. 4, em cores (situada no interior da segunda capa) mostra uma série de PET scans, que serão discutidos no Cap. 8. INTRODUÇÃO 11 Enquanto os PET scans mensuram o fluxo sangüíneo para as diversas áreas cerebrais, a fMRI mede a quantida de de oxigênio no sangue que vai para diversas áreas cere brais. Mais especificamente, a ressonância magnética fun cional (fMRI) baseia-se no princípio de que o sangue rico em oxigênio é um índice da atividade cerebral. O partici pante da pesquisa se deita e sua cabeça é rodeada por um grande magneto em forma de rosca. Esse campo magnéti co produz alterações nos átomos de oxigênio. Um apare lho de scanning registra uma "foto" desses átomos de oxi gênio enquanto o participante executa uma tarefa cogniti va (Phelps. 1999). A técnica de imagem funcional (fMRI) foi desenvolvi da durante a década de 1990, com base na ressonância magnética (MRI)_ empregada em ambientes clínicos. De maneira geral, a fMRl é preferível ao PET scan porque é menos invasiva, sem injeções nem material radioativo. Além disso, a fMRl pode mensurar a atividade cerebral que ocorre razoavelmente depressa - em cerca de meio segundo (Ugurbil, 1999). Em contraste, os PET scans exi gem pelo menos trinta segundos para apresentar dados. Se uma área do cérebro aumentar e depois diminuir sua atividade cerebral dentro desse período de trinta segun dos, o PET scan registrará uma média do nível de atividade (Buckner & Petersen, 1998). Como você pode imaginar, os PET scans são muito menos precisos do que a técnica de fMRI na identificação da seqüência exata de tempo das tarefas cognitivas. Contudo, mesmo a técnica de fMRl não é precisa o bas tante para estudar a seqüência de eventos nas tarefas cogni tivas que executamos com muita rapidez. Por exemplo: você pode ler em voz alta uma palavra que está no meio desta frase em cerca de meio segundo. Se alguém empregou a técnica de fMRI enquanto você estava lendo essa palavra, a imagem iria mostrar uma atividade neural simultânea tanto na parte visual do seu cérebro quanto na motora (Buckner & Petersen, 1998). Ou seja, a fMRl não tem condições de iden tificar se você realmente olhou para a palavra (tarefa visual) antes de pronunciá-la (tarefa motora). Pote11âal Ligado a Eventos. Conforme vimos, os PET scans e a técnica de fMRI são por demais lentos para fornecerem informações precisas sobre a determinação do timing da atividade cerebral. A técnica de potenciais ligados a even tos (ERP), porém, é capaz de registrar as minúsculas flutu ações (que duram somente uma fração de segundo) na ati vidade elétrica do cérebro em resposta a um estímulo (Phelps, 1999). O emprego da técnica de potencial ligado a eventos re quer que os pesquisadores apliquem eletrodos no couro cabeludo da pessoa. Esses eletrodos registram os sinais elé tricos gerados por um grande número de neurônios locali zados abaixo do eletrodo (Phelps, 1999). Por sorte, o crânio e o couro cabeludo podem conduzir eletricidade. Como resultado, os eletrodos podem captar com exatidão a ativi dade elétrica do cérebro sob o crânio. 12 CAPÍTULO UM A técnica ERP não é capaz de identificar a resposta de um neurônio único. Todavia,consegue identificar altera ções elétricas durante períodos muito breves. O participan te na pesquisa é instruído a executar uma determinada ta refa, como, em um estudo sobre atenção seletiva, procurar ouvir sons de determinada altura com o ouvido direito, mas sem tomar conhecimento de som algum no ouvido esquer do. Os pesquisadores repetem a tarefa muitas vezes - ge ralmente mais de vinte. Eles calculam a média do sinal com base em todas essas experiências para eliminar a atividade aleatória das ondas cerebrais (Phelps, 1999). A técnica ERP fornece um quadro preciso das alterações no potencial elétrico do cérebro durante uma tarefa cogni tiva. As pesquisas sobre atenção seletiva, por exemplo, mostram um decréscimo de cerca de 100 milissegundos (1/ 10 de segundo) no potencial depois que um som é apresen tado. Contudo, esse decréscimo cai pela metade para os sons aos quais se presta atenção, em comparação com os sons que devem ser ignorados (Phelps, 1999). Em outras palavras, uma análise detalhada mostra que o cérebro ajus ta sua atividade quando um estímulo deve ser notado em vez de ignorado. Examinaremos essa pesquisa mais deta lhadamente na discussão sobre atenção no Cap. 2. Técnica de Registro de Uma Única Célula (Síngle-Cell Recording Technique). Até agora examinamos quatro técni cas que os neurocientistas podem empregar para estudar os seres humanos. A técnica de registro de uma única célu la, porém, não pode ser usada com segurança em pessoas. O nome deste procedimento é bem descritivo. Especifica mente, na técnica de registro de uma única célula, os pes quisadores investigam as características do cérebro e do sis tema nervoso de um animal inserindo um eletrodo delgado próximo a um único neurônio (ou mesmo dentro dele) (Gazzaniga et al., 1998). (O neurônio é a célula básica do sistema nervoso.) Os pesquisadores mensuram então a ati vidade elétrica gerada por essa célula. O principal objetivo desta pesquisa é identificar as va riações em um estímulo que produzem alteração conside rável na atividade elétrica de uma única célula. Um possí vel emprego desta técnica poderia ser inserir um eletrodo próximo a um neurônio no córtex visual do cérebro de um gato. Quando Hubel e Wiesel (1965, 1979) empregaram esta técnica clássica, descobriram que alguns tipos de células no córtex visual respondem de maneira vigorosa somente quan do uma linha é apresentada em uma determinada orienta ção. Essas mesmas células respondem em um nível muito baixo quando a linha sofre uma rotação de apenas poucos graus. Mais detalhes desta técnica podem ser encontrados em Cohen et al. (1999), Hubel (1982) e Matlin e Foley (1997). É claro que esta pesquisa tem implicações importantes para o reconhecimento de padrões visuais: as células provêem um mecanismo para o reconhecimento de padrões especí ficos, como as letras do alfabeto. Examinaremos esta pes quisa mais adiante, no Cap. 2. Está fora do objetivo deste livro uma investigação deta lhada da neurociência cognitiva. Contudo, as técnicas apre sentadas serão mencionadas mais adiante nos capítulos sobre percepção, memória e linguagem. Você também pode obter mais informações em outras fontes, como Gazzaniga et al. (1998), Phelps (1999) e Wilson & Keil, (1999). lNTELIG�NCIA ARTIFICIAL A inteligência artificial (IA), ramo da ciência computa cional, procura explorar os processos cognitivos humanos pela criação de modelos computacionais que exibem com portamento "inteligente'' (Wagman, 1999). Os pesquisado res da inteligência artificial têm enfrentado diversas tarefas cognitivas, como a solução de um problema clínico, o raci ocínio jurídico e a aprendizagem de mapa espacial (Thrun, 1998; Wagman, 1999). Neste livro, você poderá ler a res peito das pesquisas sobre inteligência artificial no Cap. 8 (compreensão da linguagem) e no Cap. 10 (resolução de problemas). A Metáfora Computacional. Durante toda a história da psi cologia cognitiva, o computador tem sido metáfora por ex celência da mente humana. Os diversos tipos de metáfora relacionados às máquinas têm fascinado os teóricos por sé culos. Já em 430 a.C. os filósofos comparavam a mente hu mana a uma máquina (Marshall. 1977). A atividade do cére bro também tem sido comparada a uma conversa telefônica e ao trabalho de um tear. Assim. pode-se ver que a metáfora do computador - representada na inteligência artificial - é uma das mais recentes em uma longa lista de metáforas das máquinas. Na parte seguinte deste capítulo veremos uma metáfora ainda mais nova de máquina; a abordagem do processamento de distribuição paralela é moldada segun do a mais complicada das máquinas: o cérebro humano. De acordo com a metáfora computacional, nossos pro cessos cognitivos funcionam como um computador - uma máquina complexa de propósitos múltiplos que processa informações de maneira rápida e exata. Naturalmente os pesquisadores reconhecem diferenças evidentes na estru tura física entre o computador e o cérebro humano que gerencia nossos processos cognitivos. Contudo, ambos podem operar de acordo com princípios gerais semelhan tes. Como os seres humanos, os computadores apresen tam diversos mecanismos internos. Por exemplo, tanto os computadores quanto os seres humanos podem comparar símbolos e fazer escolhas de acordo com os resultados da comparação. Além disso, os computadores possuem um mecanismo de processamento central com capacidade li mitada (Luger, 1994), e os seres humanos também possu em uma capacidade limitada de atenção. Conforme discu tiremos no próximo capítulo, não podemos prestar aten ção a tudo de uma vez. Os pesquisadores que preferem a abordagem compu tacional tentam projetar o software adequado. Com o pro grama de computador certo e detalhes matemáticos sufici- entes, os pesquisadores esperam imitar a adaptabilidade e a eficiência dos processos cognitivos humanos (Guenther, 1995). Os pesquisadores da IA preferem a analogia entre a mente humana e o computador porque os programas de compu tador têm de ser detalhados, precisos, sem ambigüidade e lógicos. Os pesquisadores podem representar as funções de um computador com um fluxograma que mostra a se qüência de estágios no processamento. O fluxograma tam bém ilustra as relações entre as diversas funções internas. Suponhamos que o computador e o ser humano apresen tem desempenho equivalente em uma determinada tarefa. Então, os pesquisadores podem conjecturar que o progra ma que dirigiu o computador representa uma teoria apro priada para descrever os processos cognitivos humanos (Carpenter & Just, 1999; Lewandowsky, 1993). Toda metáfora tem suas limitações e o computador não pode ser a réplica precisa dos processos cognitivos huma nos. Os seres humanos possuem metas mais complexas. As pessoas que jogam uma partida de xadrez, por exem plo, podem estar preocupadas com a duração do jogo, com a urgência de outras obrigações sociais para além do jogo e com o modo como irão interagir socialmente com o opo nente. Em contrapartida, as metas do computador são sim ples e rígidas; o computador lida somente com o resultado da partida de xadrez (Eysenck, 1984; Neisser, 1963). IA Pura. Precisamos estabelecer uma distinção entre a IA pura e a simulação computacional. A IA pura é uma abordagem que busca cumprir uma tarefa do modo mais eficiente possível. Em relação ao exemplo do jogo de xa drez, isso implica que os programas computacionais de xadrez mais bem-sucedidos irão avaliar tantos lances po tenciais quanto forem possíveis no menor período de tem po possível. Os entusiastas do xadrez ficaram fascinados com os torneios de 1996 e 1997 entre o Deep B!ue, progra ma de inteligência artificial desenvolvido pela IBM, e Garry Kasparov, campeão mundial de xadrez. O Deep B!ue foi pro jetado para avaliar 200 milhões de lances por segundo, ca pacidade que eclipsa completamente até mesmo o mais expert jogador humano de xadrez (Carpenter & Just, 1999).Afinat a meta da IA pura é ser eficiente, e não humana. Não é de surpreender que o Deep B!ue vencesse a maioria das partidas. Franklin (1995) lista algumas tarefas que podem ser cum pridas por sistemas de IA pura, como jogar xadrez, falar inglês e diagnosticar uma doença. Contudo, conforme ele aponta: Os sistemas de IA confinam-se normalmente a um domí nio restrito. Por exemplo: os programas de xadrez não cos tumam falar inglês. Tendem a ser inflexíveis, falhando as sim com facilidade próximo aos limites de seu domínio e não conhecendo nada fora dele. Eu não gostaria de que um programa de xadrez especulasse sobre a causa da minha dor no peito. (p. 11) Simulação Computacional. Enquanto a IA pura busca atin gir o melhor desempenho possível, a simulação computa- INTRODUÇÃO 13 cional tenta levar em conta as limitações humanas. Confor me o nome indica, a meta da simulação computacional é projetar um sistema que simule ou lembre o desempenho humano em uma tarefa cognitiva selecionada (Carpenter & Just, 1999). As pesquisas sobre simulação computacional têm sido bastante empregadas em áreas como processamento visual básico, processamento da linguagem e resolução de pro blemas. Carpenter e Just (1999) criaram um modelo de si mulação computacional para ler frases. O modelo baseou se na suposição de que os seres humanos têm uma capaci dade limitada para processar informações. Como resulta do, leriam mais lentamente uma parte difícil de.uma frase. Veja a frase seguinte: The reporter that the senator attacked admitted the errar. (O repórter que o senador atacou admitiu o erro.) Carpenter e Just projetaram o programa para que este levasse em conta as informações lingüísticas pertinentes. O modelo previa que a velocidade de processamento deveria ser rápida para as palavras no início e no fim da frase. Con tudo, o processamento seria lento para os dois verbos, attacked e admitted. De fato, os dados humanos emparelha ram-se com muita precisão à simulação computacional. É interessante notar que algumas tarefas que os seres humanos cumprem com bastante facilidade parecem desa fiar a simulação computacional. Uma menina de dez anos, por exemplo, pode procurar seu relógio em um quarto de dormir bem desarrumado, encontrá-lo no bolso do moletom, ler a posição dos ponteiros no mostrador e dizer as horas. No entanto, um computador não é capaz de si mular essa tarefa. Os computadores também não podem se igualar à sofisticação humana na aprendizagem de lín guas, na identificação de objetos em cenas quotidianas, nem resolver problemas fazendo analogia com outras situações (Jackendoff, 1997; Stillings et al., 1987). Até aqui, nossa discussão das questões atuais da psico logia cognitiva examinou a interdisciplinaridade da ciência cognitiva, as novas técnicas empregadas na neurociência cognitiva e a perspectiva da inteligência artificial. Vamos ver um último desenvolvimento que tem sido aplicado a uma ampla variedade de tarefas cognitivas, chamado abor dagem do processamento de distribuição paralela. A ABORDAGEM DO PROCESSAMENTO DE DISTRIBUIÇÃO PARALELA Em 1986, James McClelland, David Rumelhart e colabora dores, da Universidade da Califórnia, em San Diego, publi caram um livro em dois volumes, de enorme aceitação, chamado Para!!e! Distributed Processing. Essa abordagem con trastava agudamente com a abordagem tradicional de pro cessamento da informação. Conforme discutimos antes, a abordagem do processamento da informação argumenta que um processo mental pode ser representado como pro cessamento da informação por meio de um sistema com- 14 CAPÍTULO UM posto por uma série de etapas, que se correlacionam e são seguidas passo a passo. Em contrapartida, a abordagem do processamento de distribuição paralela (PDP) argumenta que os processos cognitivos podem ser compreendidos em termos de redes que conectam unidades neurais. Além disso, muitas opera ções podem ser realizadas simultaneamente, em vez de passo a passo. Dois outros nomes que muitas vezes são usados como sinônimos da abordagem PDP são conexionismo e redes neurais. Um texto universitário sobre cognição não pode exami nar detalhadamente essa teoria complexa nem suas aplica ções. Contudo, nesta seção, podemos esboçar suas origens, seus princípios básicos e as reações à abordagem PDP, que também será apresentada em alguns detalhes como mode lo de conhecimento geral (Cap. 7) e mencionada em outros capítulos. Origens da Abordagem PDP. Alguns psicólogos têm atri buído a origem da abordagem PDP ao Princípios de Psicologia de William James (1890) (por exemplo, Crovitz, 1990). Começaremos com o passado mais recente, observando os desenvolvimentos tanto da neurociência quanto da inteligên cia artificiál - os dois tópicos que acabamos de discutir. Quando os neurocientistas desenvolveram técnicas mais sofisticadas de pesquisa durante a década de 1970, pude ram explorar a estrutura do córtex cerebral, camada exter na do cérebro que é responsável pelos processos cogniti vos. Uma descoberta importante foram as numerosas co nexões entre os neurônios (por exemplo, Mountcastle, 1979). De fato, esse padrão de interconexões assemelhava se a muitas redes sofisticadas. Esse padrão de rede sugere que um item armazenado no nosso cérebro provavelmente não poderia ser localizado em um ponto específico da região do córtex. Em vez disso, a atividade neural daquele item parece estar distribuída por toda uma seção do cérebro. Por exemplo, não podemos assinalar com exatidão uma região pequena do seu cérebro em que esteja armazenado o nome do seu professor de psicologia cognitiva. Em lugar disso, é possível que essa informação esteja distribuída por milhares de neurônios em uma região do seu córtex cerebral. Os pesquisadores que desenvolve ram a abordagem PDP propuseram um modelo que simula va muitos aspectos importantes do cérebro. Naturalmente o modelo, apreende somente uma fração da complexidade do cérebro. Contudo, assim como o cérebro, o modelo inclui unidades neurais específicas, numerosas interconexões e ati vidade neural distribuída por todo o sistema. Ao mesmo tempo em que os teóricos pesquisavam so bre os aspectos específicos do cérebro humano, eles torna vam-se céticos em relação aos limites da abordagem clássi ca da inteligência artificial adotada pelos psicólogos do pro cessamento da informação (Dawson, 1998). Conforme en fatizamos, os modelos clássicos de IA viam o processamento como uma série de operações distintas. Em outras palavras, os modelos clássicos de IA davam ênfase ao processamen- to serial, em q·Je é manejado somente um item de cada vez, devendo ser co:npletada uma etapa antes que o siste ma possa prosseg"Ji::- para a etapa seguinte no fluxograma (McClelland, 1933 . Essa abordagem passo a passo pode apreender a série lenta de operações executadas quando se soluciona um pro blema complexo de divisão. Entretanto, não é fácil empre gar os modelos clássicos de IA para explicar os tipos de tarefas cognitivas que os seres humanos fazem com muita rapidez e exatidão (Dawson, 1998). Esses modelos de IA não explicam, por exemplo. como se consegue perceber instantaneamente uma cena visual (Churchland & Churchland, 1990; Martindale, 1991). Quando você olha para uma cena visual, a retina apresenta cerca de um mi lhão de sinais ao seu córtex - todos ao mesmo tempo. Em outras palavras, muitas atividades cognitivas parecem usar o processamento paralelo, empregando muitos sinais ao mesmo tempo, em vez do processamento serial. Nessas tarefas, o processamento parece ser tanto paralelo quanto distribuído, o que explica o nome abordagem do processa mento de distribuição paralela. Características Básicas da Abordagem PDF A aborda gem do processamento de distribuição paralela caracteriza se por vários princípios importantes. Começaremos com os dois princípios que acabamos de discutir e depois acres centaremos outros pontos tambémrelevantes. 1. Muitos processos cognitivos baseiam-se em operações paralelas, e não em operações seriais. 2. A atividade neural subjacente a um determinado proce dimento cognitivo (por exemplo, lembrar uma palavra) costuma estar distribuída por uma área relativamente ampla do córtex cerebral, em vez de limitar-se a um úni co ponto precisamente localizado. Cada localização da atividade neural chama-se nó, e os nós se interconectam de maneira complexa. 3. Quando um nó atinge um nível crítico de ativação, pode afetar outro nó ao qual esteja ligado, seja excitando-o ou inibindo-o. No cérebro humano os neurônios seguem uma lei de "tudo ou nada". Os teóricos propõem essa mesma lei para descrever os nós na abordagem PDP; um nó deve atingir aquele nível de ativação crítica antes de poder transmitir uma mensagem a outro nó (Dawson, 1998). 4. Quando dois nós são ativados ao mesmo tempo, a co nexão entre eles é estreitada. Assim, a aprendizagem é definida como fortalecimento das conexões (Martindale, 1991). 5. Se as informações forem incompletas ou imperfeitas, você ainda poderá executar a maioria dos processos cog nitivos. Você, por exemplo, ainda consegue reconhecer o rosto de uma amiga, mesmo que seus cabelos e a fron te estejam cobertos com um lenço. Do mesmo modo, suponha que um amigo esteja descrevendo o Dr. Brown, observando que se trata de uma pessoa de estatura bai xa, que é um professor muito brilhante do departamen to de química e, politicamente, bastante ativo. Você po deria dizer: "Ah, acho que você está falando do Dr. Bla ck, do departamento de física." Nosso padrão de reco nhecimento, memória e outros processos cognitivos são extremamente flexíveis. Uma máquina simples não fun cionará se um dos componentes estiver com defeito. Em contrapartida, o cérebro humano é destinado a com pletar uma tarefa, mesmo quando o input não for per feito (Dawson, 1998; Luger, 1994). Não se esqueça de que a abordagem PDP é projetada a ::-artir do modelo básico do cérebro humano, e não do com =-·�tador serial. Esse projeto mais sofisticado permite que a ':'.JOrdagem PDP alcance maior complexidade, flexibilidade :: .:xatidão na tentativa de explicar o processo cognitivo :-_·�mano. Reações à Abordagem PDP. Em função do fato da abor .::agem do processamento de distribuição paralela ser rela ::,..-amente nova, não podemos avaliar seu impacto a longo =-�azo. Contudo, muitos cientistas cognitivistas têm acolhi- INTRODUÇÃO 15 do a abordagem PDP como uma nova estrutura pioneira (por exemplo, Carpenter & Just, 1999; Dawson, 1998; Ramsey, 1999; Sun .. 1998). Alguns teóricos chegaram a su gerir que a abordagem PDP transformará o campo de ma neira tão impressionante como o fez a "revolução cogniti va", que substituiu a abordagem behaviorista. Naturalmente, alguns modelos PDP não explicam por completo o desempenho humano em determinadas tarefas cognitivas (Schneider e Graham, 1992). Há cientistas cog nitivistas que rejeitam a estrutura básica dos modelos PDP (por exemplo, Besner et ai., 1990; Fodor e Pylyshyn, 1988; Pinker & Mehler, 1988). Contudo, muitos psicólogos en dossam o processamento de distribuição paralela. Eles têm desenvolvido modelos em áreas não relacionadas, como a leitura (Carpenter & Just, 1999; J. D. Cohen et ai., 1998), o desenvolvimento cognitivo das crianças (Bates & Elman, 1993) e as interações sociais (Kunda & Thagard, 1996; Read & Miller, 1998). Com as pesquisas que serão realizadas durante a próxima década, os cientistas cognitivistas deve rão ser capazes de determinar se a abordagem PDP pode adequadamente explicar o amplo campo de habilidades representado por nossos processos cognitivos. RESUMO DA SEÇÃO: QUESTÕES TEÓRICAS ATUAIS EM PSICOLOGIA COGNITIVA A psicologia cognitiva tem recebido amplo apoio de todo o campo da psicologia. Ainda assim, a disciplina é alvo de críticas em questões como validade ecológica. � A ciência cognitiva tenta responder a perguntas sobre a mente; inclui disciplinas como psicologia, filosofia, lin güística, antropologia, inteligência artificial e neurociência. _ . Os neurocientistas cognitivistas buscam explicações para os processos cognitivos a partir do modelo do cérebro empregando estudos sobre lesões cerebrais, PET scans1 res sonância magnética funcional (fMRI), potenciais ligados a eventos (ERPs) e técnica de registro de uma única célula. -i. Os teóricos interessados nas abordagens da cognição pela inteligência artificial (IA) podem projetar programas computacionais para cumprir tarefas cognitivas do modo mais eficiente possível (IA pura), ou programas que cum pram essas tarefas de forma semelhante à humana (si mulação computacional). 5. Em contraste com a abordagem de processamento serial da IA clássica, o processamento de distribuição paralela argumenta que o modelo ideal é fornecido pelo cérebro humano. A abordagem PDP enfatiza que os processos cognitivos operam de maneira paralela, que a atividade neural está distribuída por uma região relativamente ampla do córtex e que esses processos cognitivos po dem ser finalizados mesmo quando a informação dis ponível é incompleta ou falha. VISÃO GERAL DESTE LIVRO Este livro examina diferentes tipos de processos mentais. Começaremos com a percepção e a memória - dois pro ;:essos que contribuem praticamente para todos os outros aspectos da cognição. Depois, consideraremos a linguagem, que pode ser a tarefa cognitiva mais desafiadora dominada pelos seres humanos. Capítulos posteriores discutem pro cessos de "ordem superior". Conforme sugere o nome, es ses processos cognitivos de ordem superior dependem dos processos mais básicos apresentados no início do livro. O último capítulo examina a cognição no interior do ciclo da vida. A seguir apresentaremos um panorama preliminar dos Caps. 2 a 12 e das cinco temáticas abordadas neste livro que podem ajudá-lo a apreciar algumas características ge rais dos processos cognitivos. Nossa seção final oferece sugestões para uma leitura mais proveitosa deste livro. APRESENTAÇÃO DOS CAPÍTULOS Os processos perceptivos (Capítulo 2) utilizam nosso co nhecimento prévio para interpretar os estímulos que são registrados por nossos sentidos. Um exemplo disso é o reconhecimento de padrões que permite a você reconhecer todas as letras desta página. Outro processo perceptivo é a atenção. Se você já tentou acompanhar duas conversas 16 CAPÍTULO UM ao mesmo tempo, provavelmente notou os limites da sua atenção. A memória é o processo de manutenção da informação através do tempo. A memória é uma parte tão importante da cognição que exige vários capítulos. O Capítulo 3 des creve a memória de trabalho (memória de curto prazo). Com certeza, você já se deu conta dos limites da memória de trabalho ao esquecer o nome de alguém que ouviu apenas trinta segundos antes! O Capítulo 4, o segundo capítulo sobre a memória, aborda a memória de longo prazo. Examinaremos vários fatores, como o humor e a "expertise", relacionados à capa cidade que as pessoas têm de lembrar de determinado ma terial por um período longo. Também analisaremos a me mória relacionada aos eventos do dia-a-dia. Por exemplo: as pessoas realmente apresentam flashes de lembrança pre cisos dos detalhes relacionados a eventos importantes que ocorreram anos antes? O Capítulo 5, o último capítulo geral sobre a memória, apresenta sugestões para o melhoramento da memória. Esse capítulo também examina a metacognição, que é o conhe cimento que temos dos nossos próprios processos cogniti vos. Por exemplo: você sabe se poderia lembrar a definição de metacognição se tivesse de fazer um teste amanhã de ma nhã? O Capítulo 6 examina a imagética, que é a representa ção mental das coisas que não estão fisicamente presentes. Uma controvérsia importante nas pesquisas sobre a imagé tica é se as imagens mentais assemelham-se verdadeiramen te às imagens perceptivas. Tomemos um exemplo: será que a imagem mental deum relógio assemelha-se à imagem visual formada quando você olha realmente para um reló gio? Outro tópico importante refere-se às imagens mentais que temos dos ambientes físicos, como o mapa cognitivo que desenvolvemos do campus universitário. O Capítulo 7 aborda o conhecimento geral. Uma área do conhecimento geral é a memória semântica, que inclui o conhecimento factual do mundo bem como o conheci mento do significado das palavras. O conhecimento geral também inclui esquemas, que são tipos generalizados de informações sobre situações. Você, por exemplo, tem um esquema para o que acontece durante a festa de aniversário de uma criança. O Capítulo 8 é o primeiro de dois sobre a linguagem. Ele examina a compreensão da linguagem, e um compo nente dessa compreensão é o entendimento da linguagem falada. Um amigo pode murmurar uma frase e, mesmo as sim, você consegue perceber com facilidade os sons da fala. Um segundo componente da compreensão da linguagem é a leitura; você pode reconhecer palavras familiares com fa cilidade e imaginar o significado de palavras não familiares. Também pode compreender um discurso ou passagens lon gas de linguagem falada e escrita. O Capítulo 9, o segundo sobre a linguagem, investiga a produção da linguagem. Um componente da fala é o seu contexto social. Por exemplo: asseguramo-nos de que a pessoa com que:r:. estamos falando tem o conhecimento prévio apropriacío sohe o assunto em pauta. Os psicólo gos estão apenas começando a examinar a escrita como forma de produção ia li:iguagem, mas escrever com clare za exige processos é:fe:-entes dos processos da fala. O últi mo tópico sobre a li:-"g·Jagem é o bilingüismo: aprender uma única língua é ur::'. c'.esaSc. muita gente, porém, domina duas ou mais línguas ::o::-_ :=:.t.:�ncia. O Capítulo 10 a:-,a::sa a resolução de problemas. Supo nha que você quei:-a ::-es0lver um problema, como preparar uma sopa quando :'a:-::2 e:iergia elétrica. Você precisará re presentar o prob:e::-_a . ::2:vez em termos de uma imagem mental ou de sím::-c:c s. ? Jéerá então resolvê-lo com várias estratégias, como é:·.·:é:::- ::: :;roblema em vários problemas menores. O Cai::::-.::::: �: :a.mbém explora a criatividade. Veremos, por exerr+:c :;·_;e se pode acabar com a criativida de dizendo-se às FSScas =:·..:e elas receberão notas por seus esforços cria ti vos. O Capítulo 11 a·c:::::-é:o. e ::-a::iocínio dedutivo e a tomada de decisões. As tare:'c.o: é;: ::-a::'.c::ínio exigem que você tire conclusões de vários :'a::::o: ::.c:-"hecidos. Em muitos casos, nosso conhecimem::: ;:::-::·::::: ::-.:erfere na elaboração de con clusões precisas. C·Jc.:-.é:: ::c::�:i::ios decisões, emitimos jul gamentos sobre cercos ::·:::::::::;s. ?or exemplo: podemos can celar uma viagem à i::..:::-c::c. é e:: ois de lermos sobre um ata que terrorista recer:te. ::-.::s::-_::: :::·1e as estatísticas mostrem que são pequenas as c::-.c.:-. .::::s ée perigo. O Capítulo 12 exa::-_:=-.a ::: s ::::-ocessos cognitivos em be bês, em crianças e e:r. :écs:::s . . .:..s pessoas nesses três gru pos etários são mais .::c:::�;:::tc:-.::es do que se imagina. Os bebês de seis meses. po::- ::x;:::-.::lo. podem lembrar um fato ocorrido duas semanas ar:::es. As crianças pequenas tam bém apresentam muita ::xa::-'.c'.ão ao lembrarem fatos de um procedimento clínico er:::. ·..:r:" co:isultório médico. Finalmen te, os idosos são muito ::c::-.petentes em muitas tarefas de memória, como releml::::-a::- :':-ases compostas de palavras da sua própria língua logo depois de elas terem sido apresen tadas. Esse capítulo tar:1bé::'. encoraja você a rever seu co nhecimento sobre três tópicos importantes da psicologia cognitiva: memória, metacognição (os seus pensamentos a respeito do seu processo cognitivo) e linguagem. TEMAS ABORDADOS Este livro enfatiza certos temas e sua consistência na abor dagem do processo cognitivo que podem orientar seus es tudos e oferecer uma estrutura para a compreensão das complexidades de nossa capacidade mental. Esses temas também estão arrolados de forma resumida na primeira capa interna. Você pode consultar a lista a seguir enquanto lê os capítulos mais adiante. Tema 1: Os processos cognitivos são ativos, e não passivos. Os behavioristas consideravam os seres humanos como organismos passivos que aguardam a chegada de um estí mulo ambiental para, então, responder. Em contraposição, a abordagem cognitiva sustenta que o ser humano procu ra informação. Além disso, a memória é um processo di nâmico que requer uma síntese ativa e a transformação de informações; a memória não é apenas um sistema passivo de armazenamento. Quando lemos, fazemos, de forma ativa, inferências que nunca foram afirmadas diretamen te. Em resumo, nossa mente não é uma esponja que ab sorve passivamente as informações que vazam do ambi ente. Os seres humanos é que, de forma contínua, bus cam-nas e sintetizam-nas. Tema 2: Os processos cognitivos são extraordinariamente efci entes e precisos. A quantidade de dados em nossa memória é espantosa, assim como é impressionante o desenvolvimento da linguagem - as crianças precisam dominar milhares de palavras novas e uma estrutura complexa de linguagem. Naturalmente, os seres humanos cometem erros. Contu do, a origem desses erros pode muitas vezes estar no uso de uma estratégia racional, como o fato de, com freqüên cia, as pessoas basearem suas decisões na facilidade com que os exemplos lhes saltam à mente. Essa estratégia em geral leva a uma decisão correta, mas também pode provo car erro. Além disso, muitas limitações do processamento humano de informações podem na verdade ser úteis. Por exemplo: podemos às vezes lamentar que esquecemos uma informação depois de apenas poucos segundos. Mas, se guardássemos todas as informações para sempre, nossa memória ficaria irremediavelmente congestionada com fa tos que não possuem mais utilidade. Tema 3: Os processos cognitivos lidam com as informações positivas melhor do que com as negativas. Compreendemos melhor as frases enunciadas no afirmativo - por exemplo, "Maria é honesta", do que a enunciação negativa "Maria não é desonesta". As tarefas de raciocínio são também mais fáceis com informações positivas do que com negativas. Além disso, temos dificuldade em reparar quando falta algo (Hearst, 1991). Também tendemos a realizar de forma me lhor um número grande de tarefas variadas se as informa ções forem emocionalmente positivas (ou seja, agradáveis), em vez de emocionalmente negativas (desagradáveis). Em resumo, nossos processos cognitivos são feitos para lidar com o que é, e não como o que não é (Hearst, 1991). Tema 4: Os processos cognitivos estão inter-relacionadosi não operam isoladamente. Este livro discute cada processo cogni tivo em um ou mais capítulos separados. Contudo, esse plano organizacional não implica que cada processo possa funcionar isoladamente, sem dados dos outros processos. Por exemplo, a tomada de decisões exige a percepção, a memória, o conhecimento geral e a linguagem. De fato, to dos os processos mentais superiores exigem uma integra ção cuidadosa dos quatro processos cognitivos mais bási cos. Como conseqüência, tarefas como resolução de pro blemas, raciocínio lógico e tomada de decisões são extre mamente complexas. INTRODUÇÃO 17 Tema 5: Muitos processos cognitivos dependem tanto do pro cessamento bottom-up quanto do top-down. O processa mento bottom-up enfatiza a importância da informação a partir do estímulo: em contrapartida, o processamento top-down enfatiza a influência de conceitos, de expectati vas e da memória sobre o processo cognitivo. Ambos os fatores funcionam de forma simultânea para garantir que nossos processos cognitivos sejam normalmente rápidos e exatos. Vejamos o reconhecimento de padrão. Você reconhece o professor do seu curso de psicologia cognitiva em parte por causa das informações específicas do estímulo - in formações sobrerosto, altura, forma etc.; é importante aqui o processamento bottom-up. Ao mesmo tempo, o proces samento top-down opera porque você espera que a pessoa à sua frente na sala de aula seja "aquele" professor. De maneira semelhante, as pesquisas feitas por Brewer & Treyens (1981) solicitavam que os estudantes recordas sem tudo o que viam no gabinete de um professor univer sitário, e eles de fato recordavam muitos dos estímulos vi suais que recebiam (processamento bottom-up). No entan to, também "recordavam" muitos objetos - como livros - que se poderia esperar estarem lá, mas que na verdade não estavam presentes naquele gabinete em particular (pro cessamento top-down). COMO u SAR ESTE LIVRO Alguns aspectos na elaboração deste livro foram organiza das especificamente para ajudá-lo a compreender e a recor dar as informações apresentadas. Gostaria de descrever como você pode usar cada um desses aspectos de maneira mais eficaz. O Cap. 5 também pode ser útil pois focaliza técnicas de aprimoramento da memória. A Tabela 5.1 apre senta um resumo dessas técnicas, exploradas em mais de talhes em todo o capítulo. Sumário do Capítu!a. Repare que cada capítulo começa com um sumário. Quando começar a ler um novo capítu lo, examine primeiro o sumário de modo a poder apreciar a estrutura geral do tópico em questão. Veja, por exemplo, que o Cap. 2 tem duas seções principais, intituladas "Reco nhecimento do Objeto" e "Atenção". Apresenwção do Capít11!0. A apresentação é uma descri ção breve do conteúdo a ser abordado no capítulo. Essa apresentação fundamenta-se na estrutura apresentada no esboço e também define alguns novos termos importantes. Aplicações. À medida que for lendo cada capítulo, repa re nas inúmeras aplicações da psicologia cognitiva. A ênfa se recente na validade ecológica tem resultado em muitos estudos que descrevem nossa atividade cognitiva diária. Além disso. as pesquisas sobre cognição têm aplicações im portantes em áreas como educação, medicina e psicologia clínica. Esses exemplos oferecem ilustrações concretas dos princípios psicológicos que deverão facilitar a sua compre ensão. Afinal, as pesquisas sobre a memória têm demons- 18 CAPÍTULO UM trado que as pessoas recordam melhor uma informação se esta for concreta, em vez de abstrata, e passível de apli cação por elas mesmas (Paivio, 1971; Rogers et al., 1977; Symons & Johnson, 1997). Finalmente, um terceiro tipo de aplicação neste livro encontra-se nas demonstrações. Os experimentos informais nessas demonstrações exigem pouco equipamento, ou nenhum, e você pode executá los sozinho. Os estudantes têm relatado que essas demons trações os ajudam a tornar o assunto mais fácil de ser re cordado. iVovos Termos. Repare também que os termos novos apa recem em negrito (por exemplo, cognição) ao serem discu tidos pela primeira vez. Incluo a definição na mesma frase que encerra o termo, de modo que você não precisa pro curar em um parágrafo inteiro para descobrir-lhe o signifi cado. Há termos importantes que se repetem em diversos ca pítulos. Esses termos serão definidos na primeira vez em que ocorrerem em cada capítulo, de modo que os capítulos podem ser lidos em qualquer ordem. 11Em Profundidade". Os Caps. 2 a 12 contêm uma seção chamada "Em Profundidade", na qual se examinam pesqui sas sobre um tópico escolhido que é pertinente ao capítulo, enfocando a metodologia da pesquisa e o resultado dos estudos. Resumo de Cada Seção. Um componente especial deste livro é o resumo que vem ao final de cada seção principal de um capítulo, em vez de um resumo do capítulo inteiro. O Cap. 2, por exemplo, contém dois resumos de seções. Esses resumos permitem que você reveja as informações com mais freqüência e que domine trechos pequenos e manejáveis antes de passar para um novo tópico. Ao atin gir o fim de uma seção, faça um teste em si mesmo para ver se consegue lembrar os pontos importantes. Em seguida, leia o resumo da seção e repare quais foram os itens omiti- dos ou incor:-e-:2:::-.e:-.:e :embrados. Faça então outro teste pessoal e conc:-2' :.:-.2''.s uma vez seu grau de acerto. Você pode descobri: :2::::.·.·c:�:::i que aprende com mais eficiência se estudar sor:-.e:-. :e ·..:::::.-..'°' seção de cada vez, em vez de ler o capítulo intefrc. Exercícics ,ic· ?:·.:.;_:-.:'e- C1da Capítulo. No fim de cada capítulo há u.:r. : :::-.··..::-.:e de perguntas de revisão e uma lista de novos :e:-:::-..::s. �.'.c:itas perguntas pedem que você aplique seu c::::-_�_e::::::-..e::::o a um problema prático. Ou tras encoraja:-:-. -.- :: :é ::: ::-.:egrar informações de diversas partes do capí::·..:::: : '.:-se:-\'e que os termos estão agrupa dos na ordem e:::-. ::·..:e õ·..::-ge'1.1 no capítulo. Confira se você é capaz de dar:.;::::.-..::. :: e.:=.-..:-...:;âo e um exemplo para cada novo termo, podendc, c:::-.s·_::::.:-::: capítulo para isso. O glossá rio também apr::s:::-.:::. ·..::::-.:: éefinição breve de cada termo. Leituras Re:::o::o:.:.�_,_,_;_ :ada capítulo inclui também uma lista de leitu:-::.s :-:: : :::::-..::rdadas. Essa lista pode ofere cer-lhe recursos se ·:e :é .::·..::se:- escrever um trabalho sobre um tópico em pac::'.::·..::::::- :::.: se uma área lhe for pessoal mente interessante . .:::: :: :::-..::::-.e'.ra geral, tentei encontrar li vros, capítulos e ar:'cg::s ::·..::: :=:::-necessem mais do que uma visão geral sobre o ::.s::·..::-.::: ::::.-..1s que também não fossem demasiadamente :éc:-...:::::s. Glossário. Esta eé:;â:: ::::-.:é::rc uma novidade: um glos sário no final do liw:::. ::=.::: s:::á -.:ítil quando você necessitar de uma definição pr::::s:: ::- ::::-::: ·..:m termo técnico. Será útil também quando você ::·..:'.se:- cor.ferir seu grau de exatidão enquanto estiver rever.é:: ::: ::s:a de novos termos em cada capítulo. Um aspecto surpree:-iée:-.:e da cognição é que estamos na verdade usando a cog:--.'.;â::: ?ara aprender sobre a cogni ção! Estas sugestões - conl::'.r.adas com o material sobre o aprimoramento da men:é:'.a - podem ajudar você a usar seus processos cognitivos .:le maneira ainda mais eficaz. EXERCÍCIOS DE REVISÃO DO CAPÍTULO 1. Defina os termos cognição e psicologia cognitiva. Agora pense sobre uma carreira que você está pensando se guir; cite diversos exemplos de como as informações da psicologia cognitiva podem ser relevantes para a sua carreira. 2. Compare as seguintes abordagens em psicologia no que se refere à ênfase que dão ao ato de pensar: (a) a abordagem de William James, (b) o behaviorismo, (c) o gestaltismo e (d) a abordagem cognitiva. 3. Este capítulo abordou o trade-off entre a validade eco lógica e o controle experimental. Explique estes dois conceitos. Compare então as seguintes abordagens em relação ao destaque que dão a cada conceito: (a) abor dagem da memória por Ebbinghaus, (b) abordagem dos processos psicológicos por James, (c) abordagem da memória por Bartlett. (d) psicologia cognitiva de várias décadas atrás e (e) pesquisas atuais em psicolo gia cognitiva. 4. Enumere as diversas razões para o aumento de interesse na psicologia cognitiva e para o declínio da abordagem behaviorista. Descreva, também, o campo da ciência cognitiva, observando as disciplinas nele incluídas. 5. A seção sobre a neurociência cognitiva descreveu cin co técnicas diferentes de pesquisa. Responda às seguin tes perguntas sobre cada técnica: a. Pode ser usada em seres humanos? b. Até que ponto são precisas as informações que for nece? c. A que tipo de perguntas de pesquisa ela pode res ponder? 6. O que é a inteligência artificial e em que sentido a abor dagem do processamento da informação é relevante para esse tópico? Pense em um processo cognitivo hu mano que possa interessar aos pesquisadores em inte ligência artificial e dê exemplos de como a IA pura e as investigações feitas por simulação computacional po deriam diferir em termos de enfoque nesse processo cognitivo. 7.Qual a diferença entre o processamento de distribui ção paralela e a abordagem clássica da inteligência arti ficial? Como essa nova abordagem se baseia em des cobertas da neurociência cognitiva? Quais são as ca racterísticas básicas da abordagem PDP? 8. De acordo com o Tema 2 deste livro, nossos processos cognitivos são extremamente eficientes e precisos. Na vida quotidiana, porém, muitas vezes tendemos a mi- INTRODUÇÃO 19 nimizar nossas forças cognitivas e a dar maior margem a nossos erros. Pense em várias ocasiões em que você esqueceu algo. Contraste o número de vezes em que isso ocorreu com as numerosas ocasiões em que você realmente lembrou dados - por exemplo, nomes de pessoas, tipos de comida, países, canções populares e programas de televisão. 9. O Tema 4 argumenta que os processos cognitivos são inter-relacionados. Pense em um problema que você resolveu há pouco tempo e mostre como a sua solu ção dependeu de processos perceptivos, memória e outros processos cognitivos. Use a visão preliminar dos capítulos para ajudá-lo a responder a esta pergunta. 10. Reveja os cinco temas abordados neste livro. Quais deles lhe parecem compatíveis com suas experiências e quais lhe parecem surpreendentes? NOVOS TERMOS cognição psicologia cognitiva abordagem cognitiva evidência empírica introspecção repetição efeito de recenticidade abordagem behaviorista definição operacional gestaltismo permanência do objeto abordagem do processamento da informação modelo de Atkinson-Shiffrin memória sensorial memória de curto prazo memória de trabalho memória de longo prazo validade ecológica ciência cognitiva neurociência cognitiva lesões cerebrais tomografia por emissão de pósitrons (PET scan) ressonância magnética funcional (fMRI) técnica de potenciais ligados a eventos (ERP) técnica de registro de uma única célula neurônio inteligência artificial (IA) metáfora computacional IA pura simulação computacional processamento de distribuição paralela (PDP) conexionismo redes neurais córtex cerebral processamento serial processamento paralelo nó metacognição esquemas Tema 1 Tema2 Tema3 Tema4 Tema5 processamento bottom-up processamento top-down LEITURAS RECOMENDADAS 3echtel, W., & Graham, G. (Eds.). (1998). A companion to cognitive science. Malden, iVl.A: Blackwell. Este soberbo manual contém sessenta capítulos sobre a ciência cogni tiva, com 25 deles abordando especialmente tópicos da psicologia cognitiva. Os capítulos sobre a história da ci ência cognitiva, da neurociência e da inteligência artificial são de especial relevância para o Capítulo 1 deste livro. Dawson, M. R. W. (1998). Understanding cognitive science. Malden, iVl.A: Blackwell. A ciência cognitiva é um tópi- co interdisciplinar desafiador, mas este livro fornece a visão geral mais clara e mais interessante dentre os mui tos livros semelhantes que consultei. Gazzaniga, M. S., Ivry. R. B., & Mangun, G. R. (1998). Cog nitive neuroscience: The biology of the mind. Nova York: Mor ton. Se você está fascinado com a disciplina da neuro ciência cognitiva em desenvolvimento, este livro lhe for necerá mais informações sobre as técnicas de pesquisa, bem como descobertas de pesquisa sobre tópicos como 20 CAPÍTULO UM percepção, memória, linguagem e desenvolvimento cog nitivo. Izawa, C. (Ed.). (1999). On human memory: Evolution progress1 and reflections on the 30th anniversary of the Atkinson-Shiffrin model. Mahwah, NJ: Erlbaum. Chizuko Izaba reuniu onze capítulos escritos por pesquisadores da memória, inves tigando a história e o estado atual do "modelo modal", que teve enorme influência no desenvolvimento da psi cologia cognitiva. Sternberg, R. J. (Ed.). (1999). The nature of cognition. Cam bridge, MA: MIT Press. Alguns capítulos especialmente úteis neste livro são os capítulos iniciais sobre a história da psicologia cognitiva, o capítulo sobre a modelagem computacional e o capítulo sobre os métodos em neu rociência. CAPÍTULO 2 PROCESSOS PERCEPTIVOS INTRODUÇÃO RECONHECIMENTO DO OBJETO Histórico do Reconhecimento do Objeto Teorias do Reconhecimento do Objeto Como o Processamento Top-down Influi no Reconhecimento do Objeto Em Profundidade: Percepção de Rostos Visão Cega para Mudança ATENÇÃO Atenção Dividida Atenção Seletiva Teorias da Atenção Pesquisas em Neurociência sobre a Atenção Consciência 22 CAPÍTULO Dois APRESENTAÇÃO A percepção é um processo que usa nosso conhecimen to prévio para reunir e interpret.ar os estímulos registra dos por nossos sentidos. Duas tarefas perceptivas espe cialmente relevantes para a psicologia cognitiva são re conhecer objetos e prestar atenção. Quando reconhecemos um objeto, identificamos um arranjo complexo de estímulos sensoriais, como uma le tra do alfabeto, uma fisionomia humana ou uma cena complexa. Examinaremos três teorias a respeito do reco nhecimento do objeto e depois discutiremos como nos so conhecimento prévio e nossas expectativas podem influir sobre ele. Em seguida, a seção "Em Profundidade11 irá explorar o modo pelo qual as pessoas processam fisionomias humanas diferentemente de outros estímu los visuais. Nosso tópico final nesta seção - a visão cega para mudança - revela que, às vezes, podemos deixar de detect.ar uma transformação importante em um estí mulo que andamos vendo. Se você já tentou estudar enquanto um arrugo falava, pode ter uma idéia dos limites da atenção. As pesquisas confirmam que o desempenho costuma sofrer se a aten ção tiver de ser dividida entre duas ou mais tarefas. Quan do nos atemos a uma tarefa, normalmente notamos muito pouco de outras tarefas não pertinentes. Este capítulo discutirá várias teorias da atenção, bem como sua base biológica. Examinaremos, ao final, a consciência, deten do-nos em duas questões: como as pessoas muit.as vezes não estão cientes de seus processos cognitivos e como muitas vezes têm dificuldade para eliminar da consciên cia alguns pensamentos. / INTRODUÇÃO A percepção parece um processo tão fácil! Se você vira a cabeça, imediatamente seu sistema visual registra um te lefone junto a uma pasta escolar. Se sua atenção identifica um som na entrada da casa, instant.aneamente você per cebe que se trata da voz de um amigo chamando-o. É um fato que a percepção exige menos habilidades do que t.a refas cognitivas como resolução de problemas ou tomada de decisões. Ainda assim, mesmo os sistemas mais sofis ticados de inteligência artificial não conseguem equipa rar-se num nível mínimo à sua capacidade perceptiva (Tarr, 1999). A percepção usa conhecimentos prévios para reunir e interpretar os estímulos registrados pelos sentidos. É usan do a percepção que você interpret.a cada uma das letras desta página. Veja como fez para perceber a letra o no fi nal da palavra percepção. Você combinou (1) as informa ções registradas pelos olhos, (2) seu conhecimento prévio da forma das letras do alfabeto e (3) seu conhecimento prévio sobre o que esperar quando seu sistema visual já tivesse processado o fragmento percepçã-. Repare que a percepção combina aspectos t.anto do mundo exterior (es tímulos visuais) quanto do mundo interior (seu conheci mento prévio). Em outras palavras, o processo de reco nhecimento do objeto é um bom exemplo do Tema 5 des te livro porque combina os processamentos bottom-up e top-down. A maioria das faculdades oferece um curso completo so bre os processos perceptuais, de modo que não podemos fazer justiça a essa disciplina em um capítulo apenas. Há mais det.alhes disponíveis em outros livros (Coren et ai., 1999; Goldstein, 1999; Matlin & Foley, 1997), que estudam o modo pelo qual percebemos características importantes de objetos visuais, como forma, t.amanho, cor, textura e profundidade. Esses livros também estudam os outros sistemas percepti vos - audição, t.ato, paladar e olfato. Este capítulo vai explorar dois aspectos do processo perceptivo: (1)reconhecimento do objeto e (2) atenção. Es ses aspectos são importantes porque preparam as informa ções sensoriais "brut.as11 para serem usadas em processos mentais complexos, que são discutidos em capítulos mais adiante. O reconhecimento do objeto permite-nos perce ber uma forma em um estímulo visual. A atenção permite nos processar algumas informações de forma mais com plet.a, enquanto outras são ignoradas. Observaremos interconexões entre esses dois tópicos em todo este capítulo. Veremos, por exemplo, que muit.as ve zes deixamos de not.ar grandes mudanças em um objeto se não estivermos prestando atenção a ele ("visão cega para mudanças11). Também veremos que podemos combinar, por engano, det.alhes de dois objetos diferentes se estivermos sobrecarregados com coisas demais para prestar-lhes aten ção ao mesmo tempo ("conjunção ilusória11). RECONHECIMENTO DO OBJETO Nest.a seção, exploraremos o reconhecimento visual do objeto, presente na capacidade de reconhecer as palavras dest.a página ou o telefone do quarto. (O Capítulo 8 estuda a percepção auditiva padrão, como a capacidade de reco nhecer palavras faladas.) Para exemplificar sua capacidade de reconhecer objetos, experimente a Demonstração 2.1. DEMONSTRAÇÃO 2.1 PROCESSOS PERCEPTIVOS 23 RECONHECIMENTO IMEDIATO DE OBJETOS Ligue a televisão e ajuste o som na tecla "mute". Agora mude os canais com os olhos fechados. Abra os olhos e feche-os imediatamente. Repita isso por diversas vezes. Repare como é capaz de identificar e interpretar instan taneamente a imagem na tela da TV; mesmo que não espere a imagem que vê e jamais a tenha anteriormente visto naquela forma exata. Em menos de um segundo -e sem esforço maior -você poderá identificar cores, texturas, contornos, objetos e pessoas. =.m uma fração de segundo, você conseguirá reconhecer 1ários objetos numa tela de televisão. H1sTóruco DO REcoNHECIMENTo DO OBJETO O reconhecimento do objeto é a identificação de um ar ranjo complexo de estímulos sensoriais. Quando você re conhece um objeto, seus processos sensoriais transformam e organizam as informações brutas fornecidas por seus re ceptores sensoriais. Você também compara os estímulos sensoriais com as informações armazenadas na memória. Em alguns casos, o reconhecimento do objeto significa sim plesmente que você compreende que já viu antes uma de terminada configuração visual. Por exemplo: um persona gem secundário em um filme pode parecer familiar, mes mo se você não consegue lembrar o nome do ator. Em outros casos, o reconhecimento do objeto significa que você aplicou um rótulo a um determinado arranjo de estímulos. Aqui, por exemplo, você vê um arranjo de três linhas e pode, em silêncio, aplicar o rótulo "Z". Também pode reconhecer seu telefone e sua tia Ângela. Essa tarefa mais desafiadora -em que você associa um determinado conjunto de estímulos a um rótulo armazenado na memó ria - é muitas vezes chamado de identificação do objeto. Os psicólogos criaram dois termos para se referirem a estímulos perceptivos. O estímulo distal é o objeto real que está "lá fora" no ambiente, como o telefone sobre a sua escrivaninha. O estímulo proximal são as informações registradas nos receptores sensoriais - considerando o exemplo anterior, seria a imagem criada pelo telefone na retina. Quando reconhecemos um objeto, procuramos re presentar a identidade do estímulo distal, mesmo quando a informação sobre o estímulo proximal está longe de ser perfeita (Vecera & O'Reilly, 1998). Por exemplo: você pode reconhecer seu telefone mesmo se o vir de um ângulo pou co comum e mesmo que ele esteja parcialmente escondido pela sua pasta escolar. A Demonstração 2.1 mostrou que você pode reconhe cer objetos em uma nova cena apresentada por cerca de 1/ 10 de segundo (Biederman, 1995). Isso significa que nosso Essa demonstração foi sugerida originalmente por Irving Biederman (1995), que observou que, em geral, as pessoas podem interpretar o significado de uma nova cena em 1110 de segundo. A propósito, você poderá tam bém reconhecer as imagens apresentadas rapidamente na MTV; mesmo que elas sejam exibidas à razão de cin co por segundo. Em coerência com o Tema 2, é impres sionante a eficiência dos seres humanos no reconheci mento de padrões. sistema visual consegue tomar o estímulo proximal, repre sentando talvez inúmeros objetos, e reconhecer todos eles em 1/10 de segundo? Felizmente nosso sistema visual tem alguma assistência de um de seus outros componentes. Como você se lembra do Cap. 1, nossa memória sensorial é um sistema de armazenamento de grande capacidade que registra informações de cada um dos sentidos com razoá vel exatidão. Para ser específico, a memória icônica, ou memória sensorial visual, permite que uma imagem de um estímulo visual persista por cerca de 200 a 400 milisse gundos -menos de meio segundo -depois que o estí mulo desapareceu (Cowan, 1995; Neisser, 1967; Sperling, 1960). As informações visuais registradas na retina (estímulo proximal) precisam abrir passagem pelo caminha· visual, um conjunto de neurônios entre a retina e o córtex visual pri mário. O córtex visual primário está localizado no lobo occipital do cérebro; é a porção do córtex cerebral que se relaciona com o processamento básico dos estímulos visu ais (veja fig. 2.1). Se você colocar a mão na parte posterior da cabeça, logo acima do pescoço, o córtex visual primário fica justamente sob o crânio nesse local. Mas como o nome sugere, o córtex visual primário é apenas o primeiro passo. Pesquisas desenvolvidas em macacos já identificaram mais 31 áreas do córtex que desempenham um papel na percep ção visual (Kosslyn, 1999). Também têm sido realizados estudos com seres humanos nessa região do córtex além do córtex visual primário. Os pesquisadores descobriram que essas regiões são ativadas quando reconhecemos obje tos complexos. Contudo, ainda não descobriram uma rela ção consistente que identifique qual é a região cerebral li gada a cada componente de reconhecimento do objeto (Bly & Kosslyn, 1997; Farah et al., 1999). Nosso exame do reco nhecimento de fisionomias, na seção "Em Profundidade" mais adiante, focalizará essas regiões mais "sofisticadas" do córtex. Vamos começar nossa investigação do reconhecimento do objeto considerando as diversas teorias a respeito de como esse processo age. Em seguida, mostraremos como o reconhecimento do objeto é facilitado tanto pelo contexto 24 CAPÍTULO DOIS Lobo frontal Córtex inferotemporal Córtex visual primário Fig. 2.1 Desenho esquemático do córtex cerebral, conforme visto do lado esquerdo, mostrando os quatro lobos do cérebro. Observe o córtex visual primário (discutido nesta seção). O córtex inferotemporal desempenha um papel importante no reconhecimento de objetos complexos, como rostos. em que o estímulo ocorre quanto pela experiência anterior da pessoa com esse estímulo. A seção "Em Profundidade" analisará a complexa questão da percepção de fisionomias. Finalmente, ao passarmos para o tópico da atenção, vere mos como às vezes podemos deixar de detectar alterações substanciais na aparência visual de um objeto. TEORIAS DO RECONHECIMENTO DO ÜBJETO Os pesquisadores têm proposto muitas teorias diferentes acerca do reconhecimento do objeto, mas examinaremos somente três delas. A primeira teoria, correspondência de ga baritos, foi criada para explicar como reconhecemos padrões bidimensionais, como números ou letras. Hoje a aborda gem de gabarito é, em geral, considerada inadequada. Não obstante, nossa discussão inicia-se com a correspondência de gabaritos porque foi a primeira explicação moderna para o reconhecimento do objeto. As duas outras teorias - aná lise de características e reconhecimento pelos componen tes - representam progressos mais sofisticados. Ao ler so bre essas duas teorias atuais, lembre-se de que não precisa mos decidir se uma teoria é correta e se a outra é errada. Osseres humanos são criaturas flexíveis e podemos usar abor dagens diferentes para tarefas diferentes de reconhecimen to do objeto. Teoria da Correspondência de Gabaritos. Você olha para a letra Z e imediatamente a reconhece. De acordo com a teoria da correspondência de gabaritos, você compara um estímulo com um conjunto de gabaritos ou padrões espe cíficos, armazenados na sua memória. Depois de comparar o estímulo a alguns gabaritos, você nota o gabarito que cor responde ao estímulo. Provavelmente você já passou pela experiência de tentar encontrar uma peça de quebra-cabeça para completar parte deste. A peça precisa encaixar-se com precisão, ou não adiantará. Do mesmo modo, o estímulo precisa encaixar-se exatamente no gabarito. Assim, a letra Q não se encaixará no gabarito da letra O por causa da linha extra na parte de baixo. Alguns sistemas não-humanos de reconhecimento ba seiam-se em gabaritos. Por exemplo: se você tiver conta bancária, observe uma folha de cheque de seu talão. Repa re os números na parte inferior dele. Esses números são especialmente projetados para serem reconhecidos por meio de leitura ótica, pelos computadores que classificam os che ques. Cada número tem uma forma constante e padroniza da. Cada número é também distintamente diferente dos outros. Às vezes as pessoas escrevem um 4 que mais pare ce um 9. Porém, no seu talão de cheque, o 4 tem uma apa rência muito diferente da do 9, de modo que o computador não cometerá erros de reconhecimento ao comparar o nú mero com os gabaritos. Um sistema de gabaritos pode funcionar bem para com putadores equipados com estímulos que são um conjunto padronizado de números, mas repare que tal sistema é to talmente inadequado para explicar o processo complexo de reconhecimento do objeto nos seres humanos: a teoria da correspondência de gabaritos é extremamente inflexí vel. Se uma letra diferir, mesmo que muito pouco, do gaba rito apropriado, o padrão poderá não ser reconhecido. No entanto, todos os dias conseguimos reconhecer letras que �z z z Fig. 2.2 Versões da letra Z. diferem substancialmente da versão clássica de uma letra. Observe, por exemplo, a maneira como todos os Zs na fig. �.2 diferem uns dos outros. Os tipos de impressão variam e os tamanhos também. Alguns Zs são fragmentados, borra dos ou giram. Mesmo assim você pode reconhecer cada padrão como um Z. Nosso procedimento para reconhecer padrões e objetos deve, portanto, empregar um sistema mais :Iexível do que o de comparar um padrão a um gabarito específico (Biederman, 1995). Mesmo se pudéssemos arquitetar uma teoria de gabarito :nodificada, ainda teríamos dificuldade com objetos vistos de ângulos diferentes do padrão. Gire a fig. 2.2 e depois ob serve-a de um ponto de vista inclinado. A forma da imagem :ia sua retina (estímulo proximal) muda radicalmente para cada Z. Apesar disso, você ainda reconhece as letras (Treis :nan, 1992; Vecera, 1998). Jolicoeur e Landau (1984) estimam que os seres humanos exigem apenas 15 milissegundos1 de rempo extra de processamento para reconhecer uma letra com um giro de 180 graus. Segundo a teoria da correspon- ência de gabaritos, seria necessário um gabarito diferente ara cada rotação ou inclinação de uma figura, uma propos :a desmedida para uma tarefa que executamos tão depressa. Os modelos de gabaritos, na verdade, somente funcio- am para letras e números isolados e para outros objetos simple�apresentados em sua forma completa (Pinker, 1984). !::rga os olhos do livro agora mesmo e repare na disposição complexa dos objetos fragmentados registrados em sua re tina. Talvez eles incluam a margem inferior de um abajur, um canto de escrivaninha e uma parte de um livro. Ainda assim, você pode pôr ordem nessa confusão e reconhecer as formas. Seria impossível ao nosso sistema visual incluir gabaritos para as margens inferiores de um abajur e de ou :ros fragmentos. Está bem claro que a teoria da correspon dência de gabaritos não pode responder à complexidade do processamento visual humano. Modelo de Análise de Características. Vários modelos de análise de características propõem que um estímulo visual é composto de um número pequeno de característi cas ou componentes. Cada característica chama-se carac terística distintiva. Os teóricos da análise de característi cas poderiam, por exemplo, explicar o modo pelo qual re conhecemos as letras do alfabeto da seguinte forma. As ca racterísticas distintivas da letra R incluem um componente curvo, uma linha vertical e uma diagonal. Quando você vê uma nova letra, seu sistema visual nota a presença ou a ·Um milissegundo é 1/1.000 de um segundo. PROCESSOS PERCEPTIVOS 25 z ausência de diversas características e compara então essa lista com as características armazenadas na memória para cada letra do alfabeto. Experimente a Demonstração 2.2, que se baseia em um diagrama criado por Eleanor Gibson (1969). Os modelos de análise de características propõem que as característi cas distintivas das letras do alfabeto permanecem cons tantes, seja a letra manuscrita, impressa ou digitada. Esses modelos podem explicar como percebemos uma ampla va riedade de padrões bidimensionais, como figuras em um quadro, estampas em um tecido e ilustrações em livros. Con tudo, a maioria das pesquisas sobre esse tópico concentra se na nossa capacidade de reconhecer letras e números. Os modelos de análise de características são coerentes tanto com as pesquisas psicológicas quanto com as da neurociência. As pesquisas psicológicas de Eleanor Gibson (1969), por exemplo, demonstraram que as pessoas exigem um tempo relativamente longo para decidirem se uma letra é diferente de uma outra quando as duas possuem um nú mero grande de características importantes em comum. De acordo com a tabela na Demonstração 2.2, as letras P e R possuem muitas características importantes em comum; os participantes das pesquisas levaram tempo para decidir se essas duas letras eram diferentes. Em contraste, G eM dife rem uma da outra em muitos dessas características impor tantes; nas pesquisas, as pessoas decidiam de maneira rela tivamente rápida se pares de letras como essas eram dife rentes umas das outras. As pesquisas de Garner (1979) con firmaram que a velocidade da decisão depende do número de características importantes em comum. Outras pesquisas psicológicas concentraram-se em nú meros escritos à mão nos envelopes processados pelo Ser viço Postal dos Estados Unidos. Larsen e Bundesen (1996) projetaram um modelo com base em análise de caracterís ticas que reconhecia corretamente uma parte impressionan te, 95%, desses números. Os modelos de análise de características também são compatíveis com o que é mostrado pela neurociência. Con forme foi descrito no Cap. 1, a equipe de pesquisas de Hubel e Wiesel usou a técnica de registro de uma única célula para inserir pequenos fios no córtex visual de animais submeti dos a anestesia (Hubel, 1982; Hubel & Wiesel, 1965, 1979). Em seguida, apresentaram um estímulo visual simples - como uma barra vertical de luz - diretamente diante dos olhos dos animais. Hubel e Wiesel registraram então como um neurônio em particular respondia àquele estimulo vi sual. Dessa maneira, testaram uma grande quantidade de estímulos visuais e de neurônios no córtex visual primário. 26 CAPÍTULO Dms DEMONSTRAÇÃO 2.2 ABORDAGEM DE ANÁLISE DE CARACTERÍSTICAS Fonte: Gibson, 1969. Eleanor Gibson propôs que as letras diferem umas das outras com relação às suas características distintivas. Ela propôs a tabela reproduzida abaixo. Observe os três tipos de características que encabeçam cada lista - reta, curva e interseção. Observe que o P e o R compartilham muitos aspectos. Contudo, o Z e o O não têm nenhum desses tipos de aspectos em comum. Compare os seguintes pares de letras para determinar o número de aspectos distin tivos que compartilham: E e F; K e M; Z e B; N e M. Características Retahorizontal vertical diagonal/ diagonal\ Curva fechada V aberto H aberto Interseção Redundância alteração cíclica A E F H I L T KM N VW XY Z B C D G J O P R O S U + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + simetria + + + + + + + + + + + + + + + + Descontinuidade vertical + + + + + + + + horizontal + + + + Os resultados alcançados por Hubel e Wiesel mostra ram que cada neurônio respondia de maneira especialmen te vigorosa quando uma barra era apresentada a uma re gião específica da retina e quando tinha uma determinada orientação. Por exemplo: um neurônio poderia responder de forma enérgica a uma barra vertical de luz. Um outro neurônio, situado no interior do córtex visual a uma distân cia bem exígua do neurônio anterior, poderia responder de + + + + maneira muito enérgica a uma barra com rotação de 1 O graus em referência à vertical. Uma pequena área do córtex visual primário poderia conter vários tipos de neurônios, alguns deles mais responsivos a linhas verticais, alguns a linhas horizontais, e alguns ainda, a linhas diagonais. O sistema visual contém detectores de características "em seu circuito integrado" que nos ajudam a reconhecer certas característi cas de letras e padrões simples. Contudo, precisamos considerar alguns problemas refe rentes a abordagem da análise de características. Primeiro, uma teoria de reconhecimento do objeto não deve simples mente listar as características contidas em um estímulo; deve também descrever a relação física entre elas (Bruce, 1988). Por exemplo, na letra T, a linha vertical apóia a linha hori zontal. Em contraste, a letra L consiste em uma linha verti cal colocada ao lado da horizontal. Além disso, lembre-se de que os modelos de análise de características foram construídos para explicar o reconheci mento relativamente simples de letras. Todavia, as formas que ocorrem na natureza são muito mais complexas. Como você reconhece um cavalo? Será que você converte os estí mulos em características como a crina, a cabeça e os cas cos? Será que algumas características perceptivas importan tes não ficariam distorcidas assim que o cavalo se moves se? Os cavalos e outros objetos em nossos ambientes con têm linhas e segmentos curvos em demasia, e a tarefa é bem mais complicada do que o reconhecimento de letras (Pinker, 1984; Vecera, 1998). A abordagem final do reco nhecimento do objeto, que discutiremos a seguir, discute especificamente o modo como as pessoas reconhecem es ses tipos mais complexos de estímulos encontrados na vida quotidiana. O Modelo de Reconhecimento pelos Componentes. Irving Biederman (1987, 1990, 1995) desenvolveu uma aborda gem que tenta explicar como os seres humanos conseguem reconhecer formas tridimensionais. A suposição básica da 1 2 3 4 (�) �) 5 A PROCESSOS PERCEPTIVOS 27 teoria de reconhecimento pelos componentes de Biederman é que uma dada visão de um objeto pode ser representada como um arranjo de formas simples em 3D. Biederman de nomina essas formas em 3D de geons, versão abreviada da expressão geometn"cal ions. Assim como as letras do alfabeto podem ser combinadas para formar palavras, os geons po dem ser combinados para formar objetos significativos. Cinco dos 24 geons propostos são mostrados na Parte A da fig. 2.3, juntamente com diversos objetos que podem ser construídos a partir deles, o que pode ser visto na Parte B. Conforme você já sabe, as letras do alfabeto podem ser combinadas na formação de significados diferentes, depen dendo de seu arranjo específico - ir, por exemplo, tem sig nificado diferente de ri. De modo semelhante, os geons 3 e 5 da fig. 2.3 podem ser combinados na formação de obje tos significativos diferentes - uma xícara é diferente de um balde. Biederman (1995) também descreveu outros modos pelos quais um geon pode variar, como sua orienta ção com respeito a outros geons na figura, e também a pro porção entre o comprimento do geon e sua largura. De modo geral, um arranjo de três geons dá às pessoas informações suficientes para classificar um objeto. Repare, pois, que a teoria de Biederman sobre o reconhecimento pelos componentes é essencialmente uma teoria de análise de características para o reconhecimento de objetos em 3D (Oliver, 1992). Biederman argumenta que essa teoria pode responder pelo reconhecimento de objetos, mesmo quando eles es- 2 � 5 3 3 8 Fig. 2.3 Cinco geons básicos (A) e objetos representativos que podem ser construídos a partir dos geons (B). Fonte: Biederman, 1990. 28 CAPÍTULO DOIS tão parcialmente encobertos ou quando são vistos a partir do alfabeto escrita às pressas, as outras letras que compõem de um ângulo pouco comum (Biederman, 1995; Biederman a palavra podem ajudar. Quando tentamos identificar um & Bar, 1999). Além disso, Biederman (1995) chama aten- objeto que consiste em um geon estreito e curvo - preso a ção para o fato de que muitas vezes nós usamos outras um geon mais largo e cilíndrico - o contexto de uma características perceptivas para reconhecer objetos que têm cafeteria talvez ajude. a mesma estrutura geônica. Por exemplo, um damasco e O Tema 5 enfatiza a diferença entre dois tipos de pro uma ameixa têm a mesma estrutura geônica, mas diferem cessamento. Primeiro vamos rever essa distinção. Em se em cor e textura de superfície. guida, veremos como esses dois processos operam juntos As pesquisas sobre o modelo de reconhecimento pelos de maneira complementar para ajudar-nos a reconhecer componentes têm testado tanto pessoas normais como estímulos visuais. Por fim, examinaremos como às vezes pessoas portadoras de deficiências visuais específicas. Es- podemos cometer erros se nosso processamento top-down sas pesquisas têm demonstrado apoio geral para o modelo estiver excessivamente ativo. (Banks & Krajicek, 1991; Biederman & Kalocsai, 1997). A Distinção entre 0 Processamento Bottom-up e o Pro- Outros pesquisadores, no entanto, são mais críticos. Tarr t T d A , · d' · b cessamen o op- own. te aqui o que iscutimos so re o e colaboradores, por exemplo, demonstraram que as pes- h . t d b . t tr t recon ecimen o e o 1e o cen ou-se no processamen o soas apresentam um desempenho mais fraco no reconheci- b ( b, d · d · l'd l ottom-up tam em enorruna o processamento tmpe t o pe o mento de objetos quando estes são vistos a partir de um , / ) 0 t b tt 1 · taA A .. esttmu o . processamen o o om-up ressa ta a impor n-angulo pouco comum (Tarr, 1995; Tarr & Bulthoff, 1998; · d a' 1 h · t d b' t E t eia o es mu o no recon ecimen o o o 1e o. m ermos Tarr et a!., 1997). Repare como seu telefone fica um tanto , . , 1 f' · , · d d·fí .1 d h .d d A Ih 1 especificos, o est:lmu o isico e registra o nos receptores i ci e ser recon eci o quan o voce o a para e e de um . . l d · h d . . sensonais (por exemp o, os receptores a reuna). A e ega- ponto e vista mcomum. d d · f - 1 - d a essa m ormaçao co oca em açao o processo e reco- U ma possibilidade alternativa, chamada abordagem h . d b . t E · f - , 1 , , n ecimento o o 1e o. ssa m ormaçao começa no mve centrada no observador, e que nos armazenamos um pe- . b, . (b ) b · h · ( ) , 1 , mais asico ottom e a re camm o para ama up, ate a - queno numero de perspectivas de objetos tridimensionais, . . · f' . d ! ' . cançar os processos cogmuvos mais so ist:lca os, para a em em vez de apenas uma. Suponhamos que vemos um ob1e- d , . 1 · , · A b' - d , · d A l . b. _ o cortex visua pnmano. com maçao e caractenst:lcas to e um angu o mcomum e que esse o 1eto nao corres- . , , . . . . d 1 f d b. d simples no mvel basico permite-nos reconhecer ob1etos m- pon e a a guma orma e o 1eto armazena a em nossa . . l , . _ . teiros mais comp exos. memona. Devemos entao guar mentalmente a imagem 0 . h · d . , outro processo importanteno recon eomento o desse ob1eto ate que ele corresponda a uma das perspecti- b . , d ( b, h d d . , . o 1eto e o processamento top- own tam em e ama o e vas que este;a armazenada na memona (Vecera 1998). Essa . . . - l . l d ' processamento 1mpel1do pelo conceito). O processamento top- rotaçao menta exige a gum tempo e po emos cometer er- . . h . d b . 0 C 6 d. down ressalta como conceitos particulares e os processos ros no recon ecimento o o 1eto. ( ap. iscute a rota- . . . . . - 1 · d lh ) A , . - , mentais supenores mterferem no reconhecimento do ob1e-çao menta com mais eta es. controversia nao esta re- , 1 'd · . d . d. . to. Em termos especificos, nossos conceitos, nossas expec-so vi a; nutrimos a expectat:lva e que pesquisas a icio- , . . · · h b . d tativas e nossa memona auxiliam a identificar objetos. Es-nais exammem como recon ecemos o 1etos apresenta os . . t:l. d t d · f d d - -peramos encontrar determmadas formas em determmados a par r e pon os e vista ora o pa rao. � N b d d ,1. d , . �ocais e esperamos encontrar formas por causa de nossa o momento, a a or agem a ana ise e caractenst:lcas � · A . . . . . b d d nh . l b ' ().,expenencia antenor. Essas expectat:lvas auxiliam-nos a re- a a or agem o reco eclffiento pe os componentes e a a or- s; . . . d d b d li 1 �conhecer objetos com muita rapidez. Em outras palavras, agem centra a no o serva or parecem exp car a guma parte -.! . , . d d. , · h bili.d d h b . �nossas expecta uvas no mvel supenor (ou top) do processa- ª nossa extraor mana a a e em recon ecer o 1etos. "5 . 1 . - b . 'nh b . (d ) · . . <;;:) mento visua irao a nr cami o ara atxo own e mar Os pesquisadores preosam explorar se esses modelos po- . . . l d p , l · · g . . �osso processamento micia os estimu os visuais. dem explicar nossa capacidade de reconhecer objetos mais 0 . '! . . . -1. d d , b !d . 1 d p 1 s psico ogos cogmuvistas propoem que tanto o pro-comp ica os o que xicaras e a es iso a os. or exemp o: _ , . 1 f · 'd d d .d .fi . d. d' cessamento bottom-up quanto o top-down sao necessanos para qua 01 a sua capaci a e e i ent:l car ime iatamente iver- 1. 1 ·d d d h · d b' . _ exp icar as comp exi a es o recon ecimento o o 1eto. sos ob1etos complexos na tela da televisao quando tentou a N- d b . . D - 2 1, 0 , . d - d . , ao po emos perguntar se quem perce e mterpreta pn- emonstraçao . r topico a percepçao a cena ira, sem . d, . d . . . . d . , . d, metro o todo ou as partes, porque ambos os fatos aconte- uvi a, mspirar muitos projetos e pesquisa na proXlilla e- A , , d (H d & H llin th 1999) cem ao mesmo tempo. Voce reconhece uma xicara de cafe ca a en erson o gwor , . d . . 1 A (l) graças a ois processos simu taneos: o processamento CoMo o PROCESSAMENTO ToP-DOWN INFLUI No RECONHECIMENTO DO ÜBJETO Até aqui nossa discussão enfatizou o modo como as pes soas reconhecem objetos isolados. Não mencionamos como o conhecimento e as expectativas ajudariam no reconheci mento. Na vida real, quando tentamos decifrar uma letra bottom-up pressiona você a registrar as características com ponentes, como a curva da asa de uma xícara; e (2) em fun ção do processamento top-down, o contexto de uma cafeteria encoraja você a reconhecer a asa da xícara mais depressa. Pesquisas em Processamento Top-down. Pesquisadores descobriram que o processamento top-down pode influir em nossa capacidade de reconhecer um bom número de obje- DEMONSTRAÇÃO 2.3 CONTEXTO E RECONHECIMENTO DE PADRÃO Você consegue ler esta frase? PROCESSOS PERCEPTIVOS 29 Tf-\E Mf-\N R�N. tos (Bar & Ullman, 1996; Becker, 1999; Biederman et al., 1982; Palmer, 1975). Vamos explorar uma faceta específica dessas pesquisas, as quais demonstram que o processamen to top-down influi em nossa capacidade de reconhecer letras durante a leitura. Antes de prosseguir lendo, experimente a Demonstra ção 2.3. Como vê, a mesma forma - uma letra ambígua - algumas vezes é percebida como H e algumas como A. Nessa demonstração, você começa identificando a palavra inteira THE, e seu conhecimento provisório dessa palavra ajuda-o a identificar a segunda letra como H. Ou seja, o contexto facilita o reconhecimento. A maior parte das pesquisas sobre esse assunto examina como o contexto ajuda a reconhecer letras do alfabeto. Os psicólogos que estudam a leitura já. compreenderam há dé cadas que uma teoria de reconhecimento seria inadequada se se baseasse somente nas informações do estímulo. Supo nhamos, por exemplo, que identificamos cada letra anali sando suas características. Suponhamos também que cada letra contenha quatro características distintivas, o que é uma suposição cautelosa. Levando-se em conta o número mé dio de letras em uma palavra - e a velocidade média de leitura - isso significaria que um leitor típico precisaria analisar cerca de 5.000 características por minuto. Essa esti mativa é ridiculamente elevada; nossos processos percepti vos não conseguiriam lidar com essa carga de trabalho! Além disso, você tem a impressão de que vê e identifica todas as letras de uma frase? Saiba que provavelmente po deria ler a maioria das frases de maneira bem razoável, mesmo se apenas metade das letras estivesse presente. F-r -x-pl-, t's e-s- t- r-d t-s s-t-n-.* Um dos fenômenos mais amplamente demonstrados nas pesquisas sobre reconhecimento é o efeito de supremacia da palavra. De acordo com o efeito da supremacia da pa lavra, podemos identificar uma única letra com mais exati dão e rapidez quando ela surge em uma palavra do que quando surge sozinha. Reicher (1969) demonstrou que a exatidão do reconhecimento era bem mais elevada quando uma letra surgia em uma palavra, como work, do que em uma não-palavra, como orwk. Desde então, inúmeros estu- *Trata-se da seguinte frase em inglês: For example, let's easy to read this sentence. (nota do revisor técnico) diosos têm confirmado a importância do processamento top-down no reconhecimento de letras (Jordan & Bevan, 1994; Krueger, 1992; Pollatsek & Rayner, 1989). Por exem plo, a letra s é rapidamente reconhecida na palavra island, mesmo que os não seja ali pronunciado (Krueger, 1992). Uma explicação provável para o efeito de supremacia da palavra é a interação entre os processamentos top-down e bottom-up (McClelland & Rumelhart, 1981; Richman & Simion, 1989; Rumelhart & McClelland, 1982). Esse mo delo baseia-se em uma abordagem apresentada no Cap. 1 a do conexionismo ou processamento de distribuição pa ralela (PDP), que argumenta que os processos cognitivos podem ser entendidos em termos de redes que interconec tam unidades relacionadas. De acordo com o modelo conexionista, quando uma pessoa vê características em uma palavra, essas características ativam unidades de letras. Es sas unidades de letras ativam então uma unidade de pala vra que a pessoa tem no seu dicionário mental para aquela combinação de letras. Uma vez ativada aquela ·unidade de palavra, o feedback neural excitatório ajuda a identificar as letras em separado. Como resultado, as pessoas conseguem identificar letras mais depressa do que identificariam se não houvesse qualquer feedback excitatório fornecido pelo con texto de palavras. Até agora vimos que as letras podem ser reconhecidas mais prontamente no contexto de uma palavra, ilustrando a im portância do processamento top-down. De forma semelhan te, o contexto de uma frase pode facilitar o reconhecimen to de uma palavra. As pessoas podem reconhecer com faci lidade, por exemplo, a palavra suco na frase "Maria tomou o suco de laranja" (Forster, 1981; Stanovich&West, 1981, 1983). Vamos discutir agora uma variante interessante desses estudos de palavras nas frases. Rueckl e Oden (1986) de monstraram que tanto as características do estímulo quanto a natureza do contexto influem no reconhecimento de pala vras. Ou seja, tanto o processamento bottom-up quanto o pro cessamento top-down ocorrem de maneira coordenada.Como estímulos, esses pesquisadores empregaram letras e caracteres semelhantes a letras. Por exemplo: um conjunto de estímu los consistia em uma letra r perfeitamente formada, uma le tra n perfeitamente formada e três símbolos intermediários entre ambas. Observe esses estímulos arranjados no eixo horizontal do gráfico da fig. 2.4. Em cada caso, a letra padrão estava embutida na seqüência de letras "bea-s". Como resul- 30 CAPÍTULO DOIS 100% 90% tr ______ ... I I -o;- 80%" :;i ..1:) " Lion tarner (domador de leões) e / ,' zookeeper (administrador do zoológico) ,' "O 70% N " > s 60%-ó'- l:2 " " _,, 50%!! :s a- � 40%" "O E � 30%!! s:: " 8 20%o p.. 10% ,, / ,. / / / o n ,, ,, "' " f' ,.,. " ,.,..,,. I I I 1 1 ,' Botanist (botânico) e ,' dairy farrner (pecuarista) 1 I I I I I I I ,,,.,. .- r r r Características do estímulo (usado na palavra bea-s) Fig. 2.4 Influência das características do estimulo e do contexto da frase na identificação de palavras. Fonte: Baseado em Rueckl & Oden, 1986. tado, o estudo incluía cinco estímulos que variavam entre "beans" e "bears". (Em outras palavras, essa variável mani pulada testa os efeitos do processamento bottom-up.) A natureza do contexto também variava usando a es trutura da frase "T he raised (bears/beans) to supplement his income." [O ___ produzia (ursos/feijão) para completar seus rendimentos.* As palavras escolhidas para preencher a lacuna foram selecionadas com cuidado: "lion tamer" ("domador de leões"),"zookeeper" ("adminis trador do zoológico"),"botanist"("botânico") e "dairy farmer" ("pecuarista"). Você irá notar que é mais provável que um domador de leões e um administrador de zoológico criem ursos [bears ], ao passo que é mais provável que o botânico e o pecuarista cultivem feijão [beans]. Também foram construídas outras letras ambíguas e estruturas de frases se melhantes, cada uma delas empregando quatro substantivos ou expressões nominais. (Em outras palavras, essas variáveis manipuladas testam os efeitos do processamento top-down.) A fig. 2.4 mostra os resultados. Como se pode observar, as pessoas tenderam a escolher a resposta com "bears" quan do o segmento de linha no lado direito da letra era curto em vez de longo: as características do estimulo são extre mamente importantes porque o reconhecimento de pala vras opera na maneira bottom-up. Contudo, também se pode notar que, de maneira coerente, as pessoas tenderam a es- *Em inglês, raise significa tanto criar quanto cultivar. (nota do tradutor) colher a resposta com "bears" nas frases com "lion tamer" "domador de leões" e "zookeeper" "administrador de zoológi co" do que nas frases cujo contexto era "botanist''("botânico") e "dairy farmer" ("pecuarista"): o contexto é importante porque o reconhecimento de palavras também opera na ma neira top-down. Nosso conhecimento do mundo leva-nos a esperar que os domadores de leões e os administradores de zoológicos se inclinem mais a cuidar de ursos do que de feijão. Pense em como esses efeitos de contexto podem influir na velocidade da leitura. As primeiras letras de uma palavra podem ajudar a identificar mais depressa as letras restan tes. Além disso, as outras palavras em uma frase ajudam a identificar mais depressa palavras isoladas. Sem o contexto para ajudar você a ler mais depressa, você poderia ainda estar lendo a introdução deste capítulo! Processamento Top-down Superativo. O Tema 2 deste livro afirma que os processos cognitivos são notavelmente eficientes e exatos. Contudo, nossa discussão do Tema 2 no Cap. 1 mostrava que os seres humanos muitas vezes cometem erros cujo motivo pode ser encontrado no uso da estratégia racional. Nossos processos perceptivos empre gam uma estratégia racional - ou seja, o processamento top-down -, mas, às vezes, usam-na demais. Em conseqüên cia, as informações presentes no estímulo (via processamen to bottom-up) podem passar despercebidas. Em um estudo sobre leitura, Mary Potter e colaborado res (1993) ilustraram essa tendência a "usar em demasia uma ooa estratégia". Os participantes foram instruídos a ler uma ista de estímulos em que apenas metade destes eram pala . -ras de verdade. A outra metade era formada de não-pala ·.-:-as, criadas pela substituição de uma vogal por uma nova em uma palavra real (por exemplo, dream [sonho] tornava se droam, e motor tornava-se mitor). A lista era apresentada �uito depressa, à razão de 1/10 de segundo por palavra. =.ssa velocidade da apresentação era tão alta que as pessoas só liam corretamente 57% das palavras verdadeiras - mas cometiam ainda mais erros com as não-palavras: estavam certas somente em 10% das vezes. A descoberta mais in- PROCESSOS PERCEPTIVOS 31 teressante, no entanto, era que, em 42% das tentativas, con vertia-se a não-palavra em uma palavra real: o processa mento top-down era superativo e lia-se dream em vez de droam, que era o estímulo verdadeiro. Até aqui, examinamos várias teorias a respeito do reco nhecimento do objeto, enfatizando a importância do pro cessamento top-down na percepção. Vamos agora conside rar com detalhes uma das áreas mais ativas das pesquisas sobre o reconhecimento do objeto: o tópico desafiador da percepção de rostos. EM PROFUNDIDADE PERCEPÇÃO DE ROSTOS Se você é como a maioria das pessoas, não tem dado muita atenção a um problema que há décadas anda in trigando os psicólogos cognitivistas: como as pessoas conseguem reconhecer alguém familiar simplesmente olhando para seu rosto? A tarefa deveria ser desafiadora, porque todos os rostos em geral têm a mesma forma. Uma complicação a mais é que você reconhece o rosto de sua amiga Ana mesmo quando você vê seu rosto de um ângulo diferente, em um ambiente incomum e apre sentando uma expressão facial inesperada. É surpreen dente que você consiga superar todas essas fontes de variação (Moses et ãL, 1996). Quase instantaneamente, você percebe que se trata do rosto de Ana. Nesta seção "Em Profundidade", estudaremos três áre as de pesquisa. Primeiro, examinaremos algumas pes- c.s 80% ..., <I) ;.... ;.... o u s <I) 70% bJ) c.s ..., i:::: <I) u ;.... o p... 60% Rostos quisas de base experimental, mostrando que nosso sis tema perceptivo processa as fisionomias humanas de maneira diferente daquela pela qual processa outros es tímulos visuais. Em seguida, consideraremos as pesqui sas em neurociência sobre a percepção de rostos. Por fim, exploraremos algumas pesquisas aplicadas à percep ção de rostos, que sugerem que alguns tipos de tarefas de percepção de rostos são extremamente desafiadores. Reconhecimento de Rostos versus Reconhecimento de Outros Objetos. Pesquisas feitas por James Tanaka e Martha Farah (1993) sugerem que a percepção de rostos é um tanto "especial"; reconhecemos rostos usando pro cessos diferentes do que usamos para reconhecer outros objetos. Esses dois pesquisadores planejaram esboços de dois tipos de estímulos: rostos e casas. Os participantes foram informados de que iriam ver seis itens - alguns D Condição de parte isolada • Condição de objeto inteiro Casas Fig. 2.5 Exatidão no reconhecimento de partes isoladas e de partes encaixadas em objetos inteiros, para esboços de rostos e casas. Fonte: Tanaka e Farah, 1993. 32 CAPÍTULO DOIS deles eram rostos acompanhados do nome da pessoa; outros eram casas acompanhadas do nome do proprie tário. Depois de aprender esses seis itens, os participan tes fizeram o teste. Em alguns julgamentos foram solici tados a escolher qual de dois traços fisionômicos -por exemplo, dois narizes -haviam visto antes. Em outros, foram solicitados a escolher quais de dois rostos com pletos haviam visto antes; aqui os participantes poderi am escolher entre dois rostos idênticos, exceto com re lação ao nariz. (Em relação às casas, o aspecto destaca do poderia ser uma janela.) A fig. 2.5 mostra os resultados. Aspessoas foram bem mais precisas no reconhecimento de traços fisionômicos quando estes surgiam no contexto de uma fisionomia inteira do que de forma isolada. Ou seja, elas eram capa zes de reconhecer uma fisionomia inteira com muito mais exatidão do que, digamos, um nariz isolado. Em con traste, ao julgar casas, eram tão exatas no reconhecimento de detalhes de casas isoladas (por exemplo, uma janela) quanto no de características dentro do contexto de uma casa completa. Assim, parece que processamos rostos de maneira di ferente de outros estímulos. Reconhecemos a maior par te dos objetos - como casas - identificando os detalhes componentes. Por sua vez, parece que as fisionomias pos suem um status especial privilegiado em nosso sistema perceptivo. Há um fundamento holístico no reconheci mento de rostos - ou seja, o reconhecimento ocorre em termos da forma e estrutura gerais do rosto. Para empre gar um termo do Capítulo 1, percebemos um rosto a par tir de sua Gestalt, ou qualidade geral que transcende seus elementos individuais (Farah, 1996; Farah et al., 1998). Pesquisas em Neurociência sobre Reconhecimento de Rostos. Os primeiros relatórios da neurociência sobre re conhecimento de rostos vieram de pessoas portadoras de lesões cerebrais. Um exemplo desse tipo de pesquisa é o de McNeil e Warrington (1993), que estudaram um profissional que perdera a capacidade de reconhecer ros tos humanos depois de ter sofrido diversos derrames. Ele decidiu, então, fazer uma mudança dramática de car reira e começou a criar ovelhas. De modo inusitado, era capaz de reconhecer muitas fisionomias de ovelhas, embora ainda não conseguisse reconhecer rostos huma nos! Em contrapartida, a maioria das pessoas - mesmo as habituadas a lidar com ovelhas - são muito mais precisas no reconhecimento de �ostos humanos. Mencionamos anteriormente que o lobo occipital, na parte posterior do cérebro, é a região do córtex respon sável pelo processamento visual inicial e mais básico. As informações viajam dessa região para diversas outras em todo o cérebro. A região que detém maior responsa bilidade pelo reconhecimento de rostos é o córtex tem poral, na parte lateral do cérebro (veja fig. 2.1). O local específico, na parte inferior do córtex temporal, é co nhecido como córtex inferotempora! (Vecera, 1998). Em um estudo representativo do córtex inferotemporal, Rolls e Tovee (1995) empregaram a técnica de registro de uma única célula com macacos. Eles apresentaram uma vari edade de diferentes fotos, uma após a outra. Certas cé lulas do córtex inferotemporal respondiam de maneira especialmente enérgica a fotos de rosto inteiro de maca cos. A velocidade de resposta das células era um pouco mais baixa quando era apresentada uma foto de um macaco visto de lado; a velocidade de resposta mais bai xa de todas acontecia quando eram mostradas fotos de outros objetos - como uma mão humana. Resultados semelhantes foram obtidos em uma replicação do estu do (Wang et al., 1996). O Cap. 1 também mencionou a técnica fMRl, uma das mais sofisticadas na obtenção de imagens da ativida de cerebral nos seres humanos. Um estudo recente em pregou a técnica fMRl para determinar que o cérebro responde com maior rapidez a rostos apresentados na posição ereta normal, em comparação com rostos apre sentados em posição invertida (D'Esposito et al., 1999). As pesquisas em neurociência sugerem que há célu las específicas no córtex responsáveis pela percepção de rostos. As pesquisas estão longe de serem completas. Contudo, essas células podem ajudar a explicar por que a percepção de rostos parece obedecer a regras diferen tes, enfatizando o processo holístico e não os compo nentes isolados. Pesquisas Aplicadas ao Reconhecimento de Rostos. No Cap. 1, discutimos o fato de, atualmente, muitos psicó logos enfatizarem a importância da validade ecológica. Eles sustentam que as condições em que as pesquisas são realizadas deveriam ser semelhantes ao ambiente natural ao qual os resultados serão aplicados (Whitley, 1996). Um bom exemplo de pesquisa aplicada com alta validade ecológica foi realizado por Richard Kemp e co autores (1997). Suas pesquisas sugerem que os seres humanos não possuem perícia especial na habilidade de reconhecer rostos. As pessoas têm dificuldade, por exem plo, em corresponder a foto da carteira de identidade de um estranho com a fisionomia real desse estranho. Kemp e colaboradores (1997) observaram que várias empresas de cartões de crédito estavam começando a emitir cartões com a foto do titular em cores, com di mensões aproximadas de 2,5 cm de lado. Essas empre sas acreditam que a foto poderá fazer o índice de frau de decrescer. Kemp e co-autores trabalharam em conjunto com uma empresa de cartões de crédito para criar quatro cartões diferentes para 46 universitários, um cartão para cada um: 1. Um cartão com a foto verdadeira do estudante (con dição de aparência não alterada); 2. Um cartão com a foto do estudante contendo a alte ração de algum atributo, como a retirada dos óculos (condição de aparência alterada); 3. Um cartão com a foto de alguma outra pessoa que se parecesse razoavelmente com ele (condição de apa rência combinada); e 4. Um cartão com a foto de alguma outra pessoa do mesmo gênero e etnia, mas, em outros aspectos, muito diferente na aparência (condição de aparência não combinada). Cada estudante foi a um supermercado, comprou al guns artigos e apresentou seu cartão ao caixa. (Todos os caixas eram funcionários treinados e tinham sido infor mados sobre a natureza do estudo.) A dependente va riável nesse estudo (ou seja, o comportamento mensu rado pelos pesquisadores) era a decisão do caixa de acei tar ou de rejeitar o cartão de crédito. Os resultados mostraram que os caixas foram bem precisos em reconhecer as fotos com a condição de apa rência não alterada: em 93% dos casos decidiram corre tamente aceitar o cartão de crédito. Foram ligeiramente menos precisos no reconhecimento de fotos com a con dição de aparência alterada: em 86% dos casos decidi ram corretamente aceitar o cartão. Contudo, os resulta dos foram menos encorajadores para os alunos que por tavam a foto de identidade de outra pessoa. Os caixas decidiram corretamente rejeitar o cartão de crédito com a condiçãd de aparência combinada somente em 36% dos casos. (Em outras palavras, deixaram alguém com a foto VISÃO CEGA PARA MUDANÇA Suponha que você esteja passando por uma calçada perto do campus da sua faculdade e que um estranho lhe peça informações sobre como chegar a determinado lugar. Po rém, no meio dessa conversa, dois trabalhadores, carregan do uma porta de madeira, passam entre você e o estranho. Depois de terem passado, o estranho de antes foi substitu ído por outro. Você repararia que não está mais conversan do com a mesma pessoa? Você pode ficar tentado a retru car: "Mas é claro!" Pesquisas sobre um tema relativamente novo, denomi nado visão cega para mudança têm desafiado nossas idéias baseadas no bom senso a respeito do reconhecimento do objeto. A visão cega para mudança refere-se à incapacida de de detectar alterações em um objeto ou em uma cena (Simons & Levin, 1997a). Simons e Levin (1997b; 1998) experimentaram o estudo "o estranho e a porta111 que aca bamos de descrever. Um estranho pede informações a um circunstante sobre como chegar a determinado lugar (veja o quadro A da fig. 2.6). Conforme é mostrado no quadro B da fig. 2.6, dois homens - carregando uma porta - fazem um truque que poderia ter saído de um filme antigo dos Irmãos Marx. O estranho de antes vai embora por trás da porta, deixando o substituto conversando com o circuns tante. Pergunta-se então ao circunstante se ele reparou na mudança. De maneira surpreendente, somente metade dos PROCESSOS PERCEPTIVOS 33 de identidade de uma pessoa diferente, mas parecida, passar por eles em 64 % das vezes!) E, o que foi surpresa, os caixas decidiramcorretamente rejeitar o cartão com a condição de aparência não combinada em apenas 66% dos casos. (Em outras palavras, quando o estudante apre sentava a foto de identidade de uma pessoa de aparên cia bem diversa, os caixas ainda a aceitaram em 34 % das vezes.) Nos Estados Unidos, exige-se que os funcionários das companhias aéreas verifiquem a foto da identidade de um passageiro antes de permitir que ele embarque. Os dados obtidos por Kemp e seus colaboradores não são otimistas quanto à utilidade dessa precaução; as pesso as muitas vezes podem passar despercebidas usando a foto de identidade de outra. No início dessa seção "Em Profundidade11, observei que as pessoas costumam ser bem precisas no reconhe cimento da fisionomia de um amigo familiar. Kemp e colaboradores não explicam por que as pessoas são tão inexatas ao compararem fotos com fisionomias. :É. prová vel que o desempenho seja reduzido pelo tamanho pe queno da foto. Além disso, os funcionários estavam jul gando fisionomias de estranhos. Talvez fossem mais pre cisos ao julgar fisionomias de pessoas que tivessem vis to em muitas ocasiões diferentes, sob várias condições diferentes. participantes relataram que um estranho tinha sido substi tuído por outro - mesmo quando lhes perguntavam ex plicitamente: "Você reparou que eu não sou a mesma pes soa que chegou perto de você para pedir informações?11 (Simons & Levin, 1998, p. 646). As pesquisas de laboratório fornecem outros exemplos de visão cega para mudança. Rensink e colaboradores (1997), por exemplo, pediram que alguns participantes contemplas sem uma foto, apresentada rapidamente por duas vezes. De pois, uma versão um pouco diferente dessa foto também foi apresentada rapidamente por duas vezes. Essa seqüência de alternâncias for repetida até o participante detectar a altera ção. Essa pesquisa demonstrou que as pessoas identificavam depressa a alteração quando esta era importante. Por exem plo: quando a imagem de um piloto comandando um avião mostrava um helicóptero nas imediações ou à distância, os participantes precisavam de apenas 4,0 alternâncias para re latar a alteração. Em contrapartida, precisavam de 16,2 alternâncias para uma alteração sem importância, como a altura de uma cerca atrás de duas pessoas assentadas a uma mesa. Outras pesquisas têm repetido o padrão geral de visão cega para mudança em muitas situações (Henderson & Ho llingworth, 1999; Simons & Levin, 1997a; Wolfe, 1999). O Tema 2 deste livro afirma que nossos processos cog nitivos são notavelmente eficientes e precisos. Como po demos conciliar os dados sobre visão cega para mudança com esse tema? Conforme explicam Simons e Levin 34 CAPÍTULO DOIS A e B D Fig. 2.6 Um estudo sobre visão cega para mudança. Essas fotos compõem quatro quadros de um vídeo realizado para o estudo sobre visão cega para mudança. Os quadros de A a C mostram a seqüência da substituição, e o quadro D mostra o estranho original e o "estranho substituto'.' ao lado. Fonte: Simons e Levin, 1998. (1997a), na verdade nós funcionamos muito bem em nos so ambiente visual. Se você estiver caminhando por uma rua movimentada de uma cidade, uma boa quantidade de representações perceptivas se alterará rapidamente entre uma olhada e outra. As pessoas movimentam as pernas, mudam a bolsa para o outro braço e se locomovem atrás de postes de telefone. Se você acompanhasse direitinho cada detalhe, seu sistema visual logo ficaria sobrecarregado com alterações sem importância. Em vez disso, ele é exato para integrar o contexto geral, ou interpretação geral de uma cena. Você se concentra somente nas informações que parecem importantes, como a distância de um ônibus que se aproxi ma quando você atravessa a rua, e não toma conhecimento de detalhes sem interesse. A visão cega para mudança ilus tra um ponto que destacamos com relação ao Tema 2: a origem de nossos erros cognitivos pode muitas vezes estar no emprego de uma estratégia racional. As pesquisas sobre visão cega para mudança ilustram como incorremos em erros no reconhecimento do objeto se não estivermos prestando bastante atenção a ele. Este tópico nos introduz na segunda seção deste capítulo, na qual va mos explorar várias características diferentes da atenção. li RESUMO DA SEÇÃO: RECONHECIMENTO DO ÜBJETO 1. A percepção usa o conhecimento prévio para reunir e interpretar os estímulos registrados pelos sentidos; o re conhecimento do objeto é a identificação de um arranjo complexo dos estímulos sensoriais. 2. As informações visuais da retina são transmitidas ao cór tex visual primário; outras regiões do córtex são envol vidas no reconhecimento de objetos mais complexos. 3. Várias teorias sobre reconhecimento do objeto têm sido propostas. Destas, a teoria da correspondência de gabari tos pode ser rejeitada porque não consegue explicar a com plexidade e a flexibilidade do reconhecimento do objeto. 4. Os modelos de análise de características são embasados por pesquisas que mostram que as pessoas exigem mais tempo para tomar uma decisão sobre letras do alfabeto quando essas letras apresentam muitas características importantes em comum, e também por pesquisas que empregam a técnica de registro de uma única célula. 5. O modelo de Biederman de reconhecimento pelos com ponentes argumenta que os objetos são armazenados na memória em termos de um arranjo de formas tridi mensionais simples chamadas geons; outros salientam que armazenamos diversas imagens alternadas de obje tos tridimensionais, considerando os diferentes ângulos em que são vistos. 6. O processamento bottom-up destaca a importância do estímulo no reconhecimento do objeto; o processamen to top-down destaca como os conceitos e os processos mentais superiores de uma pessoa influem no reconhe- cimento do objeto. Ambos os processos são necessários para explicar o reconhecimento do objeto. 7. As pesquisas que empregam letras em palavras e pala vras em frases têm demonstrado que o contexto facilita o reconhecimento; contudo, o processamQl.tÇ top-down superativo pode induzir-nos a erro, por exemplo, con vertendo não-palavras em palavras reais. 8. Podemos identificar com rapidez fisionomias de pesso as que conhecemos; parece que processamos fisionomi- PROCESSOS PERCEPTIVOS 35 as em termos de sua forma e estrutura gerais. Muitas técnicas da neurociência têm demonstrado que as célu las do córtex inferotemporal são responsáveis pela per cepção de fisionomias; pesquisas aplicadas sugerem que as pessoas não são muito precisas ao julgar se uma foto pequena em um cartão de crédito corresponde à fisio nomia do titular do cartão. 9. As pesquisas sobre visão cega para mudança, demons tram que as pessoas muitas vezes deixam de detectar alterações em um objeto ou em uma cena. ATENÇÃO Reserve um momento para prestar atenção ao seu processo de atenção. Feche os olhos e procure observar cada som que está atingindo seu sistema auditivo. Agora continue a prestar atenção a esses sons, porém mantendo os olhos abertos, expandindo simultaneamente a atenção para abran ger os estímulos visuais. Se você consegue dominar esse conjunto de tarefas combinadas, continue incluindo estí mulos extras, em especial os que se concentram no toque, no olfato e no paladar. Descobrirá que não pode dar aten ção a tudo de uma vez. Apesar disso, é interessante notar que raramente p�nsamos muito em nossa atenção. Em lu gar disso, a atenção apenas "acontece", parecendo-nos tão natural quanto a respiração (LaBerge, 1995). Em linguagem coloquial, empregamos o termo para abranger diversos tipos de atividade mental. Os psicólogos também empregam essa palavra em muitos contextos dife rentes. A atenção pode referir-se ao tipo de concentração em uma tarefa mental na qual selecionamos certos tipos de estímulos perceptivos para processamento posterior, en quanto tentamos excluir outros estímulos interferentes (Shapiro, 1994). Por exemplo: quandovocê faz uma prova, concentra-se nos estímulos visuais nela contidos, excluin do outras informações sensoriais. A atenção pode também referir-se ao ato de preparar-se para receber mais informa ções. Por exemplo: alguém pode pedir que você preste aten ção a um aviso importante. Também se refere ainda ao fato de receber várias mensagens ao mesmo tempo, desprezan do todas, exceto uma. Por exemplo: você consegue con centrar-se em uma conversa que está acontecendo em meio a uma festa ruidosa. Usaremos uma definição geral que se aplica a todos esses tipos de atenção. Em termos específicos, a aten ção é uma concentração de atividade mental. Às vezes, concentramos nossa atividade mental porque nossa aten ção foi atraída por um estímulo interessante no ambien te - um objeto na sua visão periférica pode mover-se de repente. Repare que esse tipo de atenção relaciona-se com o processamento bottom-up. Outras vezes concentramos a atividade mental porque temos ·o objetivo de prestar atenção a algum estímulo específico - você poderia es tar procurando a fisionomia de um determinado amigo em um bar apinhado de gente. Repare que esse tipo de atenção relaciona-se com o processamento top-down (Downing & Treisman, 1997; Egeth & Yantis, 1997). O tema da atenção tem variado em termos de populari dade através da história da psicologia. Esse tema fascinou os introspeccionistas na Europa. Nos Estados Unidos, Wi lliam James (1890) conjecturou sobre o número de idéias a que se poderia dar atenção de uma vez - especulação que ainda intriga os psicólogos mais de um século depois. Com o surgimento do behaviorismo, as pesquisas sobre a aten ção tornaram-se menos populares (Hirst, 1986). Contudo, nas últimas décadas, a atenção passou a ser o "assunto do momento". A atenção finalmente começou a receber a aten ção que merece! A atenção por si mesma é um tópico importante, sendo º também para a discussão de outros processos cognitivos abordados neste livro, como a resolução de problemas. Como descreve o Cap. 10, quando as pessoas lêem a des crição de um problema, precisam prestar atenção a deter minadas informações, enquanto ignoram informações tri viais. Também o Cap. 11 explica como as pessoas tomam decisões incorretas quando prestam atenção demasiada a informações relativamente sem importância. Iniciaremos nossa explanação considerando duas tarefas cognitivas inter-relacionadas: a atenção dividida e a atenção seletiva. Examinaremos então as explicações referentes à aten ção, tanto as teóricas quanto as biológicas. Nosso tópico fi nal, a consciência, está intimamente relacionado à atenção. ATENÇÃO DMDIDA Imagine uma executiva ocupada, falando ao celular enquan to se dirige de carro a um encontro importante. A conversa telefônica captura de tal modo a sua atenção que ela passa pela rua em que devia entrar e perde quinze minutos tentan do voltar para achar o caminho. As conseqüências da aten ção dividida podem ser, porém, muito mais significativas. Em 1976, na antiga Iugoslávia, colidiram dois aviões e mor reram todos os 176 passageiros e membros da tripulação. O controlador do tráfego aéreo estivera trabalhando sem assis tente e estava monitorando onze aeronaves ao mesmo tem po! Nos minutos antecedentes, havia transmitido oito men sagens e recebido onze (Barber, 1988). Os seres humanos 36 CAPÍTULO DOIS são extremamente competentes e, mesmo assim, não con seguem prestar atenção a tudo ao mesmo tempo. Pesquisas sobre a Atenção Dividida. Nas tarefas de aten ção dividida, as pessoas devem atender a duas ou mais mensagens simultâneas, respondendo a cada uma confor me o necessário (Moran, 1996). No laboratório, a atenção dividida é normalmente estudada instruindo-se os partici pantes a executarem duas tarefas ao mesmo tempo, como na pesquisa de Duncan (1993) que pedia aos participantes para emitirem opiniões sobre um único objeto. Eles consegui am emitirem duas opiniões simultâneas sobre esse objeto - o que era e onde estava situado - sem nunca deixarem de acertar. Contudo, cometiam muitos erros quando solici tados a emitir duas opiniões simultâneas sobre dois obje tos diferentes - por exemplo, onde ambos os objetos es tavam situados. Em outras palavras, nosso sistema perceptivo pode lidar com algumas tarefas de atenção dividida, mas fa lhamos quando as tarefas se tornam exigentes demais. Atenção Dividida e Prática. De acordo com o ditado po pular, "a prática conduz à perfeição''. As pesquisas sobre prática e atenção dividida confirmam a sabedoria desse di tado. Em dois estudos clássicos, treinaram-se estudantes universitários para lerem histórias em silêncio, ao mesmo tempo que copiavam palavras sem importância ditadas pelo experimentador (Hirst et al., 1980; Spelke et al., 1976). A princípio, os estudantes tiveram dificuldade em combinar as duas tarefas; a velocidade de leitura caiu consideravel mente e as letras ficaram ilegíveis. Porém, depois de seis semanas de treino, eles conseguiam manter a mesma velo cidade de leitura enquanto faziam o ditado. A grafia tam bém melhorou. Ainda assim, mesmo nessa etapa com bastante treino, os universitários não estavam realmente prestando atenção às palavras ditadas. De fato só conseguiram lembrar 35 dos vários milhares de palavras que haviam anotado. Com o treino mais prolongado, porém, tornaram-se tâo exímios nessa tarefa de atenção dividida que conseguiam até cate gorizar a palavra ditada (por exemplo, escrevendo "fruta ,, quando ouviam a palavra maçã) sem perder a velocidade de leitura. Conforme argumenta Hirst (1986), é evidente que o treino altera os limites da capacidade atencional. Veja algumas pesquisas aplicadas que comparavam mo toristas novatos (inexperientes) com motoristas experien tes. Wilkman e colaboradores (1998) instruíam esses parti cipantes a dirigir do modo costumeiro enquanto executa vam várias tarefas secundárias de rotina: trocar um CD, di gitar um número no celular e sintonizar o rádio. Os moto ristas experientes conseguiam completar todas as tarefas de maneira rápida e competente, deixando de olhar a pista por menos de três segundos para cada tarefa. Ao contrário, os novatos dividiam a atenção de modo ineficaz: deixavam de olhar com freqüência para a auto-estrada por mais de três segundos. O que é ainda mais inquietante, seus carros muitas vezes desviavam-se para o lado quando eles realiza vam as tarefas. Pesquisas sobre atenção dividida também já foram apli cadas à psicologia do esporte. Descobriu-se, por exemplo, que os jogadores de vôlei com muito treino são capazes de transferir a atenção visual para algum acontecimento im portante na periferia de seu campo visual - sem de fato desviar o olhar para essa direção (Castiello & Umilta, 1992; Moran, 1996). ATENÇÃO SELETIVA A atenção seletiva está intimamente relacionada à atenção dividida. Nas tarefas de atenção dividida, as pessoas são instruídas para prestarem a mesma atenção a duas ou mais fontes de informação. Nas tarefas de atenção seletiva, elas são instruídas para responderem de maneira seletiva a de terminadas fontes de informação sem tomar conhecimen to de outras (Milliken et al., 1998). Essa tarefa pode ser sur preendentemente difícil (Mordkoff, 1996). Os estudos de atenção seletiva mostram que, muitas vezes, as pessoas notam poucos detalhes sobre tarefas sem importância. Tal vez você já tenha notado que, em geral, consegue acompa nhar apenas uma conversa em uma festa ruidosa; o conteú do das outras conversas costuma não ser processado. Além disso, você deve ter experimentado a atenção seletiva ao captar duas estações no rádio. Se ouvir com atenção um programa, só repara superficialmente nas características do outro. Em certos momentos, você poderia desejar que essa aten ção não fosse tão seletiva. Não seria maravilhoso participar de uma conversa e, ainda assim, reparar nos detalhes de todas as outras ao seu redor? Pense, porém, em como isso seriaconfuso. Talvez você começasse a falar de futebol - o assunto de uma conversa próxima - quando original mente estava falando sobre a perspectiva de um novo em prego de um amigo. Além do mais, imagine o caos que iria experimentar se prestasse atenção simultânea a todas as informações registradas por seus sentidos. Iria reparar cen tenas de coisas vistas, sons, cheiros, sabores e sensações de toque. Seria extremamente difícil concentrar a atividade mental o suficiente para responder de maneira adequada a apenas algumas dessas sensações. Por sorte, a atenção sele tiva pode simplificar nossas vidas. Como sugere o Tema 2, nossa aparelhagem cognitiva é muito bem projetada. As pectos como atenção seletiva - que de início pareceriam desvantagens - podem na verdade ser benéficos. De maneira geral, as pesquisas efetuadas sobre a aten ção seletiva dividem-se em duas categorias básicas. Alguns estudos examinam uma tarefa auditiva chamada escuta dicótica, enquanto outros avaliam a atenção seletiva por meio de uma tarefa visual chamada efeito Stroop. Ainda podem-se encontrar discussões sobre tarefas de atenção seletiva diferentes destas em fontes como Milliken et al. (1998) e Mordkoff (1996). Escuta Dicótica. Você já ficou segurando um fone em um ouvido enquanto o outro captava a mensagem de um rádio próximo? Se já fez isso, criou uma situação conhecida como escuta dicótica. Em laboratório, a escuta dicótica é estudada solicitando-se às pessoas para usarem fones de ouvido - cada ouvido recebe uma mensagem diferente. Normalmente solicita-se aos participantes para sombrear a mensagem de um dos ouvidos, ou seja, para que ouçam a mensagem deste ouvido e a repitam. Na pesquisa clássica, as pessoas notavam muito pouco da mensagem não atendida, (Cherry, 1953). As vezes, esta segunda mensagem era alterada do inglês para o alemão. Contudo, surpreendentemente as pessoas continuaram su pondo que a mensagem não atendida ainda estava em in glês. Em outras palavras, a atenção estava tão concentrada na mensagem atendida que as pessoas fracassavam em notar a passagem para uma língua estrangeira! No entanto, quan do a voz de uma mensagem não atendida era alterada da voz masculina para feminina, as pessoas notavam a dife rença. Sendo assim, algumas características da mensagem não atendida podem ser detectadas. Se as pessoas podem notar o gênero - ou, mais pro vavelmente, a altura de som da voz de quem fala - o que mais notam? Moray (1959) relatou que as pessoas notam o próprio nome se ele for inserido na mensagem não aten dida. Você deve ter reparado nesse fenômeno que deno minamos efeito coquetel porque costuma ocorrer durante festas, ou outras reuniões sociais, quando estamos rodea dos de muitas conversas simultâneas. O efeito coquetel, designa o fato de que apesar de estarmos prestando muita atenção a uma conversa, em geral notamos quando nosso nome é mencionado em uma conversa próxima. Wood e Cowan (1995) repetiram as pesquisas de Moray em con dições mais controladas, e descobriram que 35% dos par ticipantes recordavam-se de ter ouvido seus nomes no fone que supostamente ignoravam. Observe que o fenômeno "coquetel" pode operar algumas vezes. Contudo, em cer- PROCESSOS PERCEPTIVOS 37 ca de dois terços do tempo não tomamos conhecimento nem do nosso próprio nome. Uma explicação possível para o fato de as pessoas não relatarem que ouviram seus no mes com mais freqüência é que o estudo de Wood e Co wan pode não ter validade ecológica elevada (Baker, 1999). A maioria das reuniões sociais não inclui "condições con troladas" e nossa atenção pode ficar bastante propensa a divagar para outras conversas que despertem interesse. Em alguns casos, as pessoas conseguem acompanhar o significado de uma mensagem no ouvido não atendido. Por exemplo: Treisman (1960) apresentou duas mensagens aos participantes em seu estudo. Conforme ilustra a fig. 2.7, as pessoas eram instruídas a sombrear uma mensagem e a dei xar a outra não atendida. Contudo, depois de algumas pa lavras, a frase significativa no ouvido sombreado era subi tamente interrompida por uma seqüência aleatória de pala vras. Simultaneamente, a mesma frase significativa conti nuava no ouvido "não atendido". Os resultados de Treisman mostraram que, algumas ve zes, as pessoas acompanhavam a frase significativa e co meçavam a sombrear a mensagem do ouvido que suposta mente ignoravam. Assim, elas poderiam dizer: "Em uma cesta de piquenique ela levava pão com manteiga e barras de chocolate". É interessante notar que no estudo de Treisman os participantes relatavam que não estavam cien tes de que a frase significativa havia mudado para o ouvido não atendido. Até que ponto as pessoas notam o significado da men sagem não atendida em uma situação de escuta dicótica? Esse tópico é controvertido. Contudo, quando a situação é ideal- por exemplo, se ambas as mensagens sãÓ apresen tadas lentamente - as pessoas podem, às vezes, processar o significado da mensagem não atendida (Cowan & Wood, 1997; Duncan, 1999). Em uma cesta de piquenique ela levava pão com manteiga de amendoim e barras de chocolate ... Na cesta de piquenique ela levava manteiga de amendoim livro, folha, telhado, exemplo, sempre ... Ouvido sombreado Fig. 2.7 Ilustração do estudo de Treisman sobre sombreamento. Fonte: Baseado em Treisman, 1960. gato, grande, dia, maçã, amigo, cada, selecionar. sanduíches e barras de chocolate ... Ouvido não atendido 38 CAPÍTULO DOIS Em resumo, quando a atenção auditiva das pessoas está dividida, elas podem notar algumas características da men sagem não atendida - como, por exemplo, o gênero de quem fala, a menção do próprio nome e, ocasionalmente, o significado da mensagem. No entanto, em algumas con dições, podem não saber se a mensagem não atendida é dita na sua língua ou em língua estrangeira. O Efeito Stroop. Até aqui temos examinado a atenção seletiva em tarefas auditivas. Nessas tarefas as pessoas são instruídas a sombrear a mensagem apresentada a um ouvi do e a ignorar a mensagem apresentada ao outro. Os pes quisadores, porém, têm realizado um número maior de es tudos sobre a atenção seletiva visual. Experimente a De monstração 2.4, que ilustra o famoso efeito Stroop. Este se refere à observação de que as pessoas levam muito mais tempo para dizer o nome da cor de um estímulo quando essa cor é usada para imprimir uma palavra incongruente do que quando aparece como um signo sólido da cor. Por exemplo: tem-se dificuldade em dizer "azul" quando se usa tinta azul para imprimir a palavra vermelho. Note porque o efeito Stroop demonstra os efeitos da atenção seletiva: as pessoas levam mais tempo para dizer o nome de uma cor quando são distraídas por outro aspecto do estímulo, no caso, o significado das palavras em si. O efeito foi demonstrado primeiro por J. R. Stroop (1935), que descobriu que as pessoas precisavam em média de 11 O segundos para identificar a cor da tinta de cem palavras que eram incongruentes com o nome das cores (por exemplo: a tinta azul empregada para imprimir a palavra vermelho). Em contrapartida, precisavam em média de somente 63 segun dos para identificar a cor da tinta de cem quadrados de cor sólida. Desde o experimento original, centenas de estudos adi cionais vêm examinando variações do efeito Stroop. Algu mas pesquisas têm comparado, por exemplo, a maneira como adultos mais velhos e mais jovens executam essa ta refa. No Cap. 12 daremos ênfase ao fato de que os adultos mais velhos saem-se tão bem quanto os adultos jovens em muitas tarefas cognitivas. Contudo, os adultos mais velhos DEMONSTRAÇÃO 2.4 O EFEITO STROOP Para esta demonstração, você irá precisar de um relógio com um ponteiro de segundos. Retorne à figura 2 colo rida (situada na primeira capa interna). Primeiro, verifi que o tempo necessário para dizer os nomes das cores na Parte A. Sua tarefa é dizer em voz alta os nomes das cores dastintas, desprezando o significado das palavras. Verifique o tempo que você leva para percorrer essa lista cinco vezes. (Mantenha uma contagem do número de re petições.) Registre esse tempo. apresentam maior dificuldade do que os mais jovens na ta refa de S troop (Hartley, 1993). Há pouco tempo, psicólogos clínicos começaram a rea lizar pesquisas com pessoas portadoras de transtornos psi cológicos empregando a tarefa de Stroop. Carmi Schooler e colaboradores (1997) estudaram vítimas de esquizofre nia, transtorno psicológico caracterizado pela presença de desordens severas do pensamento além de outros proble mas. Descobriram que os portadores de esquizofrenia ti nham ainda mais dificuldade na tarefa de Stroop do que as pessoas do grupo normal de controle. Outros psicólogos clínicos criaram uma técnica cha mada tarefa emocional de Stroop para testar portadores de transtorno fóbico. (O transtorno fóbico é o medo ex cessivo de um objeto específico.) Na tarefa emocional de Stroop, as pessoas são instruídas a dar nome à cor da tinta em que estão impressas palavras referentes aos objetos temidos. Por exemplo, alguém que tenha medo de ara nhas é instruído a dizer o nome das cores da tinta em que estão impressas palavras como peludo e rastejar. Os porta dores de fobias são significativamente mais lentos com essas palavras relativas a suas ansiedades do que com as palavras de controle. Em contraste, as pessoas que não apresentam fobias não apresentam qualquer diferença entre os dois tipos de palavra (Williams et al., 1996). Esses resultados sugerem que os portadores de um transtorno fóbico são hiperalertas a palavras relativas à sua fobia, mostrando atenção maior ao significado desses estímu los. Como resultado, prestam relativamente pouca aten ção à cor da tinta das palavras. Os pesquisadores têm examinado várias explicações para o efeito Stroop. Alguns sugerem que ele pode ser explicado pela abordagem do processamento de distribuição paralela (PDP) (por exemplo, Cohen et al., 1997). De acordo com esta explicação, a tarefa de Stroop ativa dois caminhos ao mesmo tempo: um ativado pela tarefa de identificar a cor da tinta e outro pela tarefa de ler a palavra. A interferência ocorre quando dois caminhos competitivos estão ativos ao mesmo tempo. Como resultado, o desempenho da tarefa leva desvantagem. Agora você vai tentar uma segunda tarefa de dizer o nome das cores. Verifique o tempo que gasta para dizer o nome das cores nas áreas retangulares na Parte B. Veri fique o tempo que você leva para percorrer essa lista cinco vezes. (Mais uma vez, mantenha uma contagem do nú mero de repetições.) Registre o tempo. O efeito Stroop age em você? Seus tempos são seme lhantes aos que foram obtidos no estudo original de Stroop? Outra explicação potencial considera o fato de que te mos tido muito mais treino em ler palavras do que em di zer o nome das cores em que estão impressas (Macleod, 1997). O processo mais automático (ler a palavra) interfere no processo menos automático (identificar a cor). Como resultado, lemos em voz alta, automaticamente, as pala vras na Demonstração 2.4. Não conseguiremos deixar de ler essas palavras, mesmo que queiramos. Macleod (1997) sugere uma demonstração simples para ilustrar a natureza automática da leitura: na próxima vez em que estiver diri gindo, tente não ler as placas na estrada! TEORIAS DA ATENÇÃO Vamos examinar algumas das primeiras teorias da atenção e depois discutir a teoria de Schneider e Shiffrin sobre pro cessamento automático e processamento controlado. A parte final dessa discussão examina a teoria de Treisman sobre integração de características. Primeiras Teorias da Atenção. As primeiras teorias da aten ção salientavam que as pessoas são extremamente limita das na quantidade de informações que podem processar em um dado tempo. Uma metáfora comum nessas teorias era o conceito de gargalo. Essa metáfora era especialmente atraente porque corresponde com nossas reflexões sobre a atenção. O gargalo controla o fluxo para dentro ou para fora da garrafa. As teorias do gargalo propunham uma passagem estreita semelhante, no processamento humano de informações. Em outras palavras, esse gargalo limita a quantidade de informações às quais podemos prestar aten ção. Assim, quando uma mensagem está fluindo, corrente mente, através do gargalo, as outras mensagens devem fi car para trás. Foram propostas muitas variações dessa teo ria do gargalo, como as de Broadbent (1958), LaBerge (1995), Pashler & Johnston (1998) e Treisman (1964). Você deve lembrar que, na discussão inicial das teorias de reconhecimento do objeto, a teoria de gabarito foi rejei tada porque não era flexível o suficiente. Do mesmo modo, as teorias do gargalo devem ser rejeitadas porque subesti mam a flexibilidade da atenção humana (Cowan & Wood, 1997; Meyer & Kieras, 1997). Como salientou o Cap. 1, nenhuma metáfora baseada em máquinas simples ou em estruturas simples pode explicar com êxito a sofisticação do processo cognitivo humano. As duas teorias seguintes enfatizam a flexibilidade da atenção humana. Ilustram de maneira específica como a natureza da tarefa, a quantidade de treinamento e a etapa no processamento podem alterar o modo como as pessoas usam a atenção. Processamento Automático versus Processamento Contro lado. De acordo com Walter Schneider e Richard Shiffrin, os seres humanos possuem dois níveis de processamento que são relevantes para a atenção. Podemos aplicar o pro cessamento automático em tarefas fáceis que empregam itens familiares (por exemplo, imagine-se correndo os olhos por uma lista de nomes de alunos para ver se o seu está PROCESSOS PERCEPTIVOS 39 incluído nela). Em contrapartida, podemos aplicar o pro cessamento controlado em tarefas difíceis que empregam itens não familiares (agora, imagine-se correndo os olhos pela mesma lista de nomes, na qual você precisa observar a inclusão de três nomes não familiares, como Samantha Wi lliams, Arturo Gomez e Elizabeth Blaisdell). Além disso, o processamento automático é paralelo, ou seja, podemos lidar com dois ou mais itens ao mesmo tempo. O proces samento controlado, por sua vez, é serial: só podemos li dar com um item de cada vez. Vamos relacionar o processamento automático às pes quisas sobre a atenção seletiva e a atenção dividida, dis cutidas anteriormente. Mencionamos que as pessoas po dem empregar o processamento automático em tarefas fáceis com itens familiares. Portanto, em uma tarefa de atenção seletiva, em que as pessoas usam o processamen to automático, deveria ser relativamente fácil para elas captar detalhes da mensagem não atendida. De modo se melhante, em uma tarefa de atenção dividida, em que ambas as tarefas exigem o processamento automático, deveria ser relativamente fácil para as pessoas desenvol ver duas tarefas simultaneamente. Além disso, a definição do processamento automático especifica que ele é usado para itens familiares. Sendo assim, as tarefas praticadas por longo tempo tenderão a exigir o processamento auto mático. Por exemplo: as pessoas têm de estar usando o processamento automático na tarefa de Stroop para ler os nomes familiares das cores. Vamos agora relacionar o processamento controlado à pesquisa anterior. Primeiro, consideremos tarefas difíceis com itens não familiares, o que normalmente exige o pro cessamento controlado. Em uma tarefa de atenção seletiva em que as pessoas usam o processamento controlado, as pessoas notarão muito poucos detalhes da mensagem não atendida. De maneira semelhante, em uma tarefa de atenção dividida será difícil executar duas tarefas simultaneamente. Além disso, as tarefas não praticadas por um tempo longo normalmente irão exigir o processamento controlado. Para ajudá-lo a distinguir entre esses dois termos, tente pensar em exemplos de tarefas que você cumpriu hoje e que exi gem o processamento automático ou o controlado. Apesquisa clássica de Schneider e Shiffrin examinava a diferença entre o processamento automático e o controla do (Schneider & Shiffrin, 1977; Shiffrin & Schneider, 1977). Os participantes nesses estudos observavam uma série rá pida de vinte figuras, ou quadros, em cada tentativa. Cada uma das quatro locações em um quadro em particular po dia ser ocupada por um número, uma letra ou um conjunto de pontos. Os números e as letras podiam ocupar urna. duas ou todas as quatro locações em um quadro. A fig. 2.E mostra um quadro típico. Antes de ver os vinte quadros cada participante era instruído sobre corno lembrar e p:- - curar um ou quatro alvos. Por exemplo, urna pessoa po:La ter que procurar os quadros para os quatro alvos: B. ?. �e Y. Repare, que tanto o número de itens em um qua2�o ��-=- to o tamanho do alvo eram variados. 40 CAPÍTULO DOIS A • • • • • • • • • Fig. 2.8 Quadro típico dos estudos de Schneider e Shiffrin. Fonte: Baseado em Schneider e Shiffrin, 1977. Essa pesquisa também variava as dificuldades da tarefa. Na condição de mapeamento consistente, os itens do conjunto alvo e os itens inaplicáveis eram de categorias diferentes. Por exemplo: uma pessoa poderia procurar números, sen do letras os itens inaplicáveis em um quadro. A condição de mapeamento variado era muito mais difícil. Antes de tudo, os itens do conjunto-alvo e os itens inaplicáveis eram todos da mesma categoria. Por exemplo: uma pessoa poderia pro curar determinadas letras, sendo também letras os itens inaplicáveis. Além disso, os itens do conjunto-alvo em uma tentativa podiam tornar-se itens inaplicáveis na tentativa seguinte. (Por exemplo: na Tentativa 1, você poderia pro curar um E, sendo A, C, N e S os itens inaplicáveis etc.; na Tentativa 2, você poderia procurar um S, sendo E, A, C e N etc., os itens não pertinentes.) Essa condição de mapeamento variado lembrava basicamente um jogo de cartas em que as regras estão sempre mudando! Vejamos os resultados desta pesquisa. Os fatores que afetavam a exatidão eram diferentes para as duas condi ções de mapeamento. Na mais fácil, a condição de mape amento consistente, nem o tamanho do conjunto-alvo nem o tamanho do quadro influíam na exatidão. Ou seja, as pessoas acertavam tanto quando estavam procurando quatro itens como quando estavam procurando um. As pessoas também acertavam tanto quando cada quadro ti nha quatro letras ou números como quando cada quadro tinha apenas um estímulo. Essa condição de mapeamento consistente era tão fácil que as pessoas usavam o proces samento automático, mesmo com um grande número de itens de conjunto-alvo e itens inaplicáveis. Ao que parece, as pessoas empreendiam uma busca paralela, procurando todos os quatro alvos em todas as quatro posições, ao mesmo tempo. Vamos, agora, discutir os resultados da difícil condição de mapeamento variado, em que ambas as variáveis influí am na exatidão. Especificamente, as pessoas acertavam mais quando procuravam um alvo do que quando procuravam • • • • • • • • • p quatro. Também eram mais precisas quando cada quadro tinha somente uma letra ou um número, em vez de quatro estímulos. Nessa condição de mapeamento variado, as pes soas eram forçadas a usar o processamento controlado por que a tarefa era por demais difícil para ser executada de for ma automática. Aparentemente, as pessoas nessa condição executavam uma busca serial, procurando cada alvo - um de cada vez - em todos os itens do quadro. A pesquisa de Schneider e Shiffrin inspirou pesquisas e debates teóricos posteriores, como os de Cheng (1985), Cor ballis (1986), Fisher (1984), Schneider & Shiffrin (1985) e Wolfe (1998). Fisher (1984), por exemplo, argumentava que temos limites nítidos para a quantidade de informações que podemos processar simultaneamente. Afinal, Schneider e Shiffrin mostraram um número máximo de apenas quatro itens em cada quadro. Talvez o limite para a busca paralela seja de fato apenas um número pouco maior do que quatro itens. É provável que as pessoas não olhem para um qua dro com dez itens e procurem todos eles simultânea e au tomaticamente. Vejamos agora a teoria de integração de características, que foi desenvolvida de maneira mais com pleta. Teoria de Integração de Características. Anne Treisman desenvolveu uma teoria sofisticada da atenção e do proces samento perceptivo. Sua teoria original, proposta em 1980, era elegantemente simples (Treisman & Gelade, 1980). No entanto, conforme ela salientou em um artigo subseqüen te, "Simple stories never stay that way"* (Treisman, 1993, p. 5). Vejamos a versão atual da teoria de integração de ca racterísticas (Palmer, 1999; Treisman, 1992, 1993; Treisman & Sato, 1990). De acordo com a teoria de integração de característi cas de Treisman, às vezes olhamos para uma cena usando *"Teorias simples nunca permanecem simples." (nota do revisor técnico). a atenção distribuída2 com todas as partes da cena proces sadas ao mesmo tempo. Em outras ocasiões, usamos a aten ção focalizada, com os itens da cena processados um de cada vez. Além disso, a atenção distribuída e a atenção focalizada formam um continuum, de modo que freqüentemente usa-se um tipo de atenção situada entre esses dois extremos. Vamos examinar com mais detalhes esses dois tipos de processamento antes de estudarmos outros componentes da teoria de Treisman. A primeira etapa da teoria usa a aten ção distribuída, que permite que registremos característi cas automaticamente, usando o processamento paralelo em tudo. A atenção distribuída, o tipo de processamento de nível relativamente básico, assemelha-se ao processamen to automático de Schneider e Shiffrin (1977). Esse tipo de processamento é tão fácil que nem mesmo percebemos quando ocorre. A atenção focalizada, segunda etapa da teoria de Treisman, exige o processamento serial, em que os objetos são identificados um a um. A atenção focalizada, o tipo mais exigente de processamento, é necessária quando os objetos são mais complexos. Assim, a atenção focalizada equivale aproximadamente à busca controlada de Schneider e Shiffrin (1977). A atenção focalizada escolhe as caracte rísticas que fazem parte do conjunto - por exemplo, que forma combina com determinada cor. Treisman e Gelade (1980) examinaram esses dois tipos de abordagens de processamento estudando duas situações diferentes de estímulos. Uma situação empregava caracte rísticas isoladas (e, portanto, usava a atenção distribuída); a outra empregava combinações de características (e, portan to, usava a atenção focalizada). Vejamos primeiro os deta lhes da pesquisa sobre atenção distribuída. Treisman e Gelade propuseram que, se características isoladas forem processadas automaticamente na atenção distribuída, as pessoas conseguirão localizar depressa um alvo entre seus itens inaplicáveis e próximos. Esse alvo deveria parecer que "saltava" automaticamente do display, não importando quantos itens houvesse nele. 2Em algumas de suas pesquisas, Treisman emprega a expressão "atenção dividida" em lugar de "atenção distribuída". Porém, neste livro, emprega rei "atenção distribuída", a fim de evitar confusão do conceito com as pesquisas sobre a atenção dividida, discutidas páginas atrás. DEMONSTRAÇÃO 2.5 PROCESSOS PERCEPTIVOS 41 Para testar sua hipótese sobre a atenção distribuída, Treis man e Gelade realizaram uma série de estudos. Descobri ram que se o alvo fosse diferente dos itens inaplicáveis do display com respeito a uma característica simples como cor ou orientação, os observadores poderiam detectar o alvo com a mesma rapidez, quer ele fosse apresentado em uma disposição de trinta itens, quer em uma disposição de três itens apenas (Treisman, 1986; Treisman & Gelade, 1980). Se você tentar a Parte A da Demonstração 2.5, descobrirá que o X azul parece "saltar", mesmo que o display contenha dois ou 23 itens inaplicáveis. A atenção distribuída pode ser efetuadade maneira paralela e relativamente automática. Em contraste, considere os detalhes das pesquisas sobre a atenção focalizada. A Parte B da Demonstração 2.5 exige que se procure um alvo que seja um objeto, ou seja, uma conjunção (ou combinação) de propriedades. Quando se procura um X azul entre X's vermelhos, O's vermelhos e O's azuis, deve-se empregar a atenção focalizada porque a pessoa é forçada a concentrar a atenção em um item de cada vez, usando o processamento serial. A procura está sendo feita no nível do objeto, e não das características. Essa tarefa é mais complexa e o tempo gasto para encontrar o alvo aumenta de maneira impressionante à medida que aumenta o número de elementos que desviam a atenção. Na Demonstração 2.5, a fig. B2 exigiu mais tempo de pesqui sa do que a fig. Bl. Apresentamos os elementos básicos da teoria de inte gração de características. Vamos ver agora três outros tó picos relativos a ela: (1) o efeito de presença/ausência da característica; (2) as conjunções ilusórias e (3) os desen volvimentos posteriores da teoria de integração de carac terísticas. 1. Efeito de presença/ ausência da característica. O Tema 3 deste livro afirma que nossos processos cognitivos lidam melhor com as informações positivas do que com as nega tivas. Retorne à Demonstração 1.2, no Cap. 1 para recordá lo. A pesquisa de Treisman e Souther (1985) possibilitam uma compreensão adicional a esse tema, como se pode ver pela Demonstração 2.6. Na Parte A dessa demonstração, repare que o círculo com a linha parece "saltar" do display. Já na Parte B, em contra partida, você precisa procurar a Parte B com mais atenção para determinar se realmente ela contém o alvo. Treisman ATENÇÃO DISTRIBUÍDA VERSUS ATENÇÃO FOCALIZADA Depois de ler este parágrafo, vá à figura colorida 3 (situ ada na segunda contracapa). Primeiro, olhe para as duas figuras assinaladas como Parte A Em cada caso, procure um X azul. Observe se você leva mais ou menos o mes mo tempo nessas duas tarefas. Depois de tentar a Parte A, volte para esta página e leia as outras instruções. Outras instruções: para a segunda parte desta demons tração, volte à Parte B (situada na segunda contracapa). Procure um X azul em cada uma das duas figuras na Parte B. Observe se você leva o mesmo tempo nessas duas tarefas ou se uma delas leva um pouco mais de tempo. 42 CAPÍTULO DOlS DEMONSTRAÇÃO 2.6 EM BUSCA DE CARACTERÍSTICAS PRESENTES OU AUSENTES Fonte: Baseado em Treisman & Souther, 1985. Na Parte A, procure o círculo que tem uma linha. Depois, na Parte B, procure o círculo que não tem a linha. A o o ºººo Q, o0o º o e Souther (1985) descobriram que as pessoas executavam buscas rápidas para uma característica presente (como na Parte A) quer o display contivesse zero ou onze itens inaplicáveis. As pessoas que estão procurando uma característica presen te podem empregar a atenção distribuída de maneira eficaz. De fato, esse item único no display captura automatica mente a sua atenção CTohnston e Schwarting, 1997). Observe, porém, o que acontece quando se está procu rando uma característica ausente (como na Parte B). Treis man e Souther (1985) descobriram que o tempo de busca aumentava de maneira impressionante à medida que aumen tava o número de itens inaplicáveis. As pessoas que estão buscando uma característica ausente precisam usar a atenção focalizada. Essa tarefa é consideravelmente mais desafiado ra, como Wolfe (1998) descobriu em sua extensa pesquisa sobre o efeito de presença/ausência da característica. 2.Conjunções ilusórias. Treisman e colaboradores tam bém demonstraram um efeito interessante que pode ocor rer quando a atenção é ou sobrecarregada ou desviada. De forma mais específica, quando as exigências da atenção são elevadas, podemos formar uma conjunção ilusória (Treis man e Schmidt, 1982; Treisman e Souther, 1986). A con junção ilusória é uma combinação inadequada de caracte rísticas, talvez combinando a forma de um objeto com a cor de outro objeto próximo. Muitos estudos realizados por outros pesquisadores têm demonstrado, por exemplo, que um N azul e um T verde podem produzir uma conjunção ilusória em que o espectador na verdade percebe um T azul (Ashby et ai., 1996; Hazeltine et ai., 1997). Essa pesquisa sobre conjunções ilusórias confirma uma conclusão demonstrada em outras pesquisas sobre percep ção. Ao contrário de nossas intuições baseadas no senso comum, o sistema visual na verdade processa as caracterís- B o c+\i)Q QQ QQ QQ Q Q ticas do objeto de maneira independente. Por exemplo, ao observar uma maçã vermelha, seu sistema visual analisará a cor vermelha separadamente da forma arredondada da maça (Hazeltine et ai., 1997). Se você emprega a atenção focalizada para olhar para a maçã, perceberá com nitidez uma figura integrada: um objeto vermelho arredondado. Porém, suponha que um pesquisador apresente duas figuras arbitrárias, como um N azul e um T verde. Se sua atenção estiver sobrecarregada ou desviada (de modo que você te nha de usar a atenção distribuída), a cor azul de uma figura pode combinar-se com a forma do T da outra. Como resul tado, você pode . perceber a conjunção ilusória de um T azul. Outra pesquisa evidencia que nosso sistema visual pode criar uma conjunção ilusória a partir de material verbal (Treisman, 1990). Por exemplo, podemos apresentar a uma pessoa cuja atenção está desviada, duas palavras sem senti do, como dax e kay. Esse observador pode relatar que viu a palavra inglesa day. Quando palavras sem sentido são apre sentadas de maneira tão rápida que os itens não recebem a atenção focalizada, formamos conjunções ilusórias coeren tes com nossas expectativas. O processamento top-down ajuda-nos a filtrar combinações inadequadas (Treisman, 1990). A pesquisa em conjunções ilusórias deveriam lem brar-nos do efeito de supremacia da frase, que foi discutido anteriormente neste capítulo. 3.Desenvolvimentos posteriores da teoria de integração de características. Os elementos básicos da teoria de integra ção de características foram propostos há mais de vinte anos. Desde essa época, foram realizadas dezenas de outros es tudos e a teoria original e simples foi modificada. Treisman e colaboradores (1992), por exemplo, deram aos participan tes um treinamento prolongado em procurar alvos de con junção que a princípio exigiam atenção focalizada. Com o treinamento prolongado, os participantes conseguiam lo calizar os alvos muito depressa: depois de 9.000 tentativas, conseguiam localizar um alvo azul em forma de X tão de pressa quanto haviam localizado - antes do treinamento - um alvo simplesmente azul. Como às vezes as pessoas conseguem realizar eficiente mente uma busca sob condições de atenção dividida? Al guns pesquisadores (por exemplo, Wolfe, 1992) propuseram que o sistema visual consegue extrair informações suficien tes durante essa situação desafiadora para guiar a atenção posterior. Além disso, Treisman e Sato (1990) introduziram um novo componente na teoria de integração de característi cas: o mecanismo de inibição de características. Segundo eles, este mecanismo pode inibir simultaneamente todas as características irrelevantes que desviam a atenção. Quando essas características irrelevantes são muito diferentes do alvo procurado, podemos ser capazes de procurar muito depres sa objetos que são conjunções de duas propriedades. Por exemplo: suponhamos que você está olhando para um gru po de crianças de um jardim-de-infância que estão fazendo uma viagem ao campo com os pais. Você pode, com facili dade, deixar de considerar todas as crianças se estiver procu rando o alvo de conjunção "homens altos"- Como veremos em todo o livro, os pesquisadores mui tas vezes propõem uma teoria que inicialmente traça uma distinção nítida entre dois ou mais processos psicológicos. Porém, com as pesquisas prolongadas, os teóricos muitas vezes concluem que a realidade é muitomais complexa. Em vez de duas categorias nítidas, descobrimos que, em de atenção Lobo temporal PROCESSOS PERCEPTIVOS 43 algumas condições, a atenção distribuída pode, por vezes, parecer-se com a atenção focalizada. Como Palmer (1999) conclui em sua teoria da atenção: A história original da busca visual na teoria de integração de características tem sido obviamente complicada por no vas descobertas. Não obstante, essa teoria tem fornecido a estrutura básica para o entendimento, embora de forma mais complexa. A pesquisa futura exigirá, sem dúvida, novas modificações em sua estrutura, mas os insights que ela tem fornecido revolucionaram a compreensão sobre atenção visual. (pp. 560-561) PESQUISAS EM NEUROCI�NCIA SOBRE A ATENÇÃO Já examinamos várias teorias da atenção desenvolvidas nas últimas décadas. De forma concomitante, os pesquisado res também desenvolveram diversas técnicas sofisticadas para examinar as bases biológicas do comportamento (apre sentamos essas abordagens no Cap. 1). As pesquisas que empregam essas técnicas têm identificado uma rede de áre as por todo o cérebro que executam diversas tarefas de aten ção (Parasuraman, 1998; Posner & Fernandez-Duque, 1999; Posner & Raichle, 1994; Vecera & Farah, 1994). Várias regiões do cérebro são responsáveis pela atenção, incluindo algumas estruturas subjacentes a superfície do córtex cerebral (Parasuraman et al., 1998; Webster & Ungerleider, 1998). Contudo, nesta discussão, focalizare mos as estruturas do córtex cerebral, conforme mostrado na fig. 2.9. Compare esta figura com a fig. 2.1, que mostra Rede posterior de atenção Fig. 2.9 Ilustração esquemática do córtex cerebral, conforme visto do lado esquerdo, mostrando os quatro lobos do cérebro e as duas regiões mais importantes nas tarefas sobre atenção. 44 CAPÍTULO DOIS as duas regiões do córtex mais importantes no reconheci mento do objeto. A pesquisa em atenção enfatiza a importância de duas re giões do córtex: (1) a rede posterior de atenção no lobo pari etal e (2) a rede anterior de atenção no lobo frontal (posteáor significa "mais para trás" e anteáor significa "mais para a fren te"). Examinaremos essas duas áreas e depois discutiremos como a técnica de potencial ligado a eventos oferece infor mação adicional sobre o fundamento biológico da atenção. A Rede Posterior de Atenção. Imagine que você esteja pro curando em torno da pia do banheiro uma lente de contato que perdeu. Quando você está atento a um local no espa ço, a rede posterior de atenção é ativada. A rede posterior de atenção é responsável pelo tipo de atenção exigida para a busca visual. Observe que a rede posterior de atenção está localizada no lobo parietal. Como o lobo parietal foi identificado como a região do cérebro empregada nas tarefas de atenção relacionadas a buscas visuais? Grande parte das pesquisas utiliza a tomo grafia por emissão de pósitrons (PET scan), em que os pesquisadores mensuram o fluxo sangüíneo no cérebro in jetando no participante uma substância química radioativa imediatamente antes da execução de uma determinada ta refa cognitiva. Conforme foi discutido no Capítulo 1, essa substância química é conduzida através do sangue em di reção às partes do cérebro que estão ativas durante a tarefa cognitiva. Uma câmera especial registra a imagem da subs tância química acumulada. A pesquisa feita com o PET scan, evidencia um aumento do fluxo sangüíneo no córtex parie tal quando as pessoas executam buscas visuais e prestam atenção a locações espaciais (Palmer, 1999; Posner & Raichle, 1994). Outro método importante empregado para determinar as bases biológicas da atenção concentra-se nas pessoas vítimas de lesões cerebrais, ou dano cerebral específico causado por derrames, acidentes ou outros traumas. As pessoas que apresentam um dano cerebral na região parie tal do hemisfério direito do cérebro têm problemas para 12 10/� 9 3 \ A / 7 6 S_y A reparar em um novo estímulo visual que apareça no lado esquerdo de seu campo visual. As pessoas que apresentam um dano na região parietal esquerda têm dificuldade em reparar um estímulo visual no lado direito (Posner & Raichle, 1994; Robertson, 1998). Surpreendentemente, porém, es sas pessoas não parecem estar conscientes de seu déficit. A Parte A da fig. 2.10 mostra um figura simples - um relógio - apresentado a um homem vítima de lesão no lobo parietal direito. Solicitaram-lhe que copiasse o esbo ço. A Parte B mostra a figura por ele desenhada; repare que o homem ignorou toda a parte esquerda do desenho. O desenho demonstra que esse homem está sofrendo de omis são unilateral, definida como um déficit espacial para uma metade do campo visual (Robertson, 1998). A Rede Anterior de Atenção. A ilustração do cérebro na fig. 2.9 também mostra uma área no lobo frontal do córtex, que é responsável pelo tipo de tarefas de atenção que se concentram no significado de palavras. A rede anterior de atenção está ativa quando as pessoas tentam a tarefa de Stroop, em que o significado da palavra interfere na identi ficação de cores (Posner & Fernandez-Duque, 1999; Webs ter & Ungerleider, 1998). Esta parte do cérebro é responsá vel pela inibição das respostas automáticas a estímulos. Essa função faz sentido: na tarefa de Stroop, é preciso inibir a resposta automática à leitura de uma palavra a fim de iden tificar a tinta. A rede anterior de atenção está ativa também quando se solicita que as pessoas ouçam uma lista de subs tantivos e determinem a ação correspondente a cada um (por exemplo, ouvindo a palavra agulha, a pessoa deveria responder costurar). Em resumo, os PET scans identificaram uma região do cérebro que está ativa quando procuramos objetos e uma outra que está ativa quando precisamos ini bir uma resposta automática e apresentar uma resposta menos óbvia. Usando a Técnica de Potencial Ligado a Eventos para Ex plorar a Atenção. O Capítulo 1 descreveu a técnica do po tencial ligado a eventos, que registra sinais elétricos gera dos por um grande número de neurônios localizados sob / /' v' 1 / 'Q \ ,// 4-' "'- 1 / \o "? ---- 8 Fig. 2.10 A figura original apresentada a um homem portador de lesão no lobo parietal direito (A) e a figura por ele desenhada (B). Fonte: Bloom e Lazerson. 1988. um eletrodo. A técnica de potencial ligado a eventos (ERP) registra as minúsculas flutuações na atividade elétrica do cérebro durante uma tarefa cognitiva. Um exemplo do uso dessa técnica é a de pesquisadores na Finlândia que mensuraram ERPs depois de terem instru ído os participantes a ouvirem com atenção uma série de sons. A maioria era composta por sons de determinada al tura, mas algumas vezes, era incluído um som mais agudo (Naatànen, 1985; Sams et al., 1985). Em determinada con dição, os participantes foram instruídos a pressionar a tecla de resposta sempre que ouvissem esse som mais agudo ines perado. Nessa condição, a ERP mostrava uma irrupção de atividade elétrica quando o som era apresentado. Porém, essa atividade elétrica específica não se mostrava quando os participantes tinham sido instruídos a ignorarem o som mais agudo. Esta série de estudos identifica, portanto, um nítido correlato neurológico da atenção. Pesquisas simila res sobre atenção visual têm identificado alterações siste máticas nas ERPs quando as pessoas estão à procura de alvos visuais (Luck & Girelli, 1998). Em resumo, as pesquisas das bases biológicas da aten ção têm empregado PET scans, bem como os estudos de caso de pessoas portadoras de lesões. Essa pesquisa tem identificado as regiões cerebrais - como o córtex parietal e o córtex frontal - responsáveis pela atenção. Além disso, a técnica de potencial relacionado a eventos tem docu mentado atividade neuronal que corresponde aos proces sos de atenção. Os pesquisadores futuros continuarão a combinar os resultados de diversas técnicas em neurociência para ajudar-nos a compreender os fundamentos biológicosda atenção. CoNscI�NCIA Nosso tópico final - a consciência - é um assunto con trovertido. Uma razão para a controvérsia é a variedade de definições diferentes para o termo (Chalmers, 1996; Farthing, 1992). Eu prefiro uma definição ampla: consciên cia significa saber que as pessoas possuem imagens e senti mentos sobre o mundo exterior e suas percepções, (Davi es, 1999; Hirst, 1995; Hobson, 1997). O conteúdo da cons ciência pode, portanto, incluir as percepções que você tem do mundo ao seu redor, de suas imagens visuais, dos co mentários silenciosos que você faz consigo mesmo, da lem brança de fatos da sua vida, de suas crenças sobre o mun do, de seus planos para as atividades posteriores deste dia e de suas atitudes para com outras pessoas (Baars, 1997). A consciência é um assunto extremamente complexo e de longo alcance, em especial por sua natureza interdisci plinar. Um congresso recente cujo tema era a consciência incluía participantes de disciplinas tão diversas como psi cologia, biologia, filosofia, física, percepção extra-sensorial e anestesiologia (Hameroff et al., 1998). A consciência está intimamente ligada à atenção, mas os processos de ambas não são idênticos. Afinal, não es- PROCESSOS PERCEPTIVOS 45 tamos cientes nem cônscios das tarefas que estamos exe cutando com o processamento automático. Quando você está dirigindo, por exemplo, pode usar o processamento automático para pisar no freio em resposta a uma luz ver melha. Contudo, você pode não estar totalmente cônscio de que executou essa ação motora. De maneira geral, a consciência está associada ao tipo de atenção focalizada e controlada, ou seja, não automática (Cohen & Schooler, 1997a). Como foi observado no Cap. 1, os behavioristas consi deravam tópicos como a consciência inadequados para o estudo científico. Os behavioristas estavam compreensivel mente preocupados com a validade da introspecção, méto do usado pelos primeiros psicólogos para estudar a consci ência. Pode-se dizer que até a década de 1950, o estudo da consciência tinha basicamente sido banido da psicologia (Cohen & Schooler, 1997a; Jaccoby et al., 1997). Contudo, aos poucos, a consciência voltou a ser considerada quando os psicólogos começaram a adotar a abordagem cognitiva. Desde meados da década de 1980, o conceito de consciên cia tornou-se um tópico popular em numerosos livros, como Baars (1997), Block et al. (1997), Chalmers (1996), Cohen & Schooler (1997b) e Hameroff et al. (1998). Nos últimos anos, os psicólogos cognitivistas têm dedi cado especial interesse a quatro questões inter-relaciona das relativas à consciência, as quais vamos explorar a se guir. A primeira questão que nós exploraremos, descreve nossa capacidade de trazer os pensamentos à consciência, enquanto a segunda enfatiza nossa incapacidade de impe dir que determinados pensamentos escapem da consciên cia. A terceira questão, a visão cega, revela que ás pessoas podem executar uma tarefa cognitiva de maneira bastante precisa, mesmo quando não estão conscientes da exatidão de seu desempenho. A questão final examina as perspecti vas dos psicólogos sobre o inconsciente. Antes de prosse guir com a leitura, experimente a Demonstração 2.7. A Consciência de Nossos Processos Mentais Superiores. Qual é a extensão do acesso que o ser humano possui em relação aos processos mentais superiores? Por exemplo, responda à seguinte pergunta: "Qual era o nome de solteira de sua mãe?" Agora, responda a esta segunda pergunta: "Como foi que você chegou à resposta da primeira pergun ta?" Se você for como a maioria das pessoas, a resposta logo surgirá em sua consciência, mas provavelmente você não saberá explicar seu processo de pensamento (Miller, 1962). O nome simplesmente pareceu "saltar" de dentro de sua memória. Richard Nisbett e Timothy Wilson (1977) desafiaram as pressuposições dos psicólogos cognitivistas sustentando que muitas vezes temos pouco acesso direto aos nossos processos de pensamento. Conforme argumentaram, po demos estar plenamente conscientes dos produtos de nos sos processos de pensamento (como é o caso do nome ce solteira de nossa mãe), mas em geral não estamos consci entes dos processos que criaram esses produtos (como é o 46 CAPÍTULO DOIS caso dos mecanismos de memória que produziram seu nome de solteira). Nisbett e Wilson (1997), por exemplo, discutem a pes quisa inicial de Maier (1931). Nesse estudo, duas cordas estão penduradas em um teto e pede-se que os partici pantes do estudo amarrem as duas pontas das mesmas. (As cordas ficam tão distanciadas que as pessoas não po deriam segurar uma ponta e alcançar a outra simultanea mente.) A solução correta exigia que se balançasse uma corda como um pêndulo. Quando Maier casualmente ba lançava uma das cordas durante o estudo, as pessoas nor malmente encontravam a solução em menos de um mi nuto. Porém, quando interrogadas sobre como tinham resolvido o problema, suas respostas normalmente não demonstravam que elas tivessem qualquer consciência do processo de pensamento. A resposta típica era: "Foi uma idéia que me deu." Atualmente os psicólogos supõem que nossos relatos verbais apresentam um certo nível de exatidão (Hirst, 1995; Nelson, 1996; Wilson, 1997). Como veremos no Capítulo 5, temos acesso relativamente completo a alguns processos de pensamento (julgamentos sobre de como nos sairemos em uma tarefa simples de memória, por exemplo). Contu do, temos apenas um acesso limitado a outros processos de pensamento (o quanto entendemos as informações em um trabalho escrito, por exemplo). Além disso, nossos re latos podem ser razoavelmente precisos para alguma tarefa cognitiva que estamos executando no momento, mas ra zoavelmente imprecisos para alguma tarefa executada mui tos dias antes (Ericsson & Simon, 1993). Precisamos salientar o argumento de Nisbett e Wilson (1977) porque ele destaca que os processos cognitivos não podem depender das introspecções das pessoas sobre seus processos de pensamento. Por exemplo, quando há várias pessoas falando comigo simultaneamente, realmente tenho a impressão de estar experimentando o "gargalo de atenção". Porém, como vimos anteriormente neste mesmo capítulo, os seres humanos na verdade possuem padrões razoavel mente flexíveis de atenção. Não chegamos a experimentar um gargalo rígido. Em todo este livro veremos que as des cobertas das pesquisas às vezes não se coadunam com nos sas introspecções fundamentadas no senso comum. Essa discrepância de perspectivas destaca a importância da reali zação de pesquisas objetivas. DEMONSTRAÇÃO 2.7 SUPRESSÃO DO PENSAMENTO Esta demonstração exige que você interrompa a leitura e relaxe por cinco minutos. Tome uma folha de papel e uma caneta ou um lápis para anotar seus pensamentos enquanto simplesmente deixa a mente divagar. Seus pensamentos podem incluir a psicologia cognitiva, mas Supressão do Pensamento. Tenho um amigo que resol veu deixar de fumar. Por isso, tentou valentemente livrar-se de qualquer idéia associada ao cigarro. Assim que pensava em qualquer detalhe, mesmo que remoto, associado ao fumo, logo tentava expulsar o pensamento da consciência. Por ironia, entretanto, o tiro de sua estratégia saiu pela cu latra, e ele vivia atormentado por idéias relativas ao cigarro: não teve êxito em suprimir esses pensamentos indesejáveis. Você foi bem-sucedido em suprimir seus pensamentos na Demonstração 2.7? Teve alguma dificuldade em seguir as instruções? Em referência ao conteúdo da Demonstração 2.7, a fon te original do estudo com o urso branco é literária, e não científica. Ao que parece, quando o romancista russo Tolstói era jovem, seu irmão mais velho atormentava-o mandando que permanecesse em um canto e não pensasse em um urso branco (Wegner, 1996; Wegner et al., 1987). Do mesmo modo, se você já tentou evitar pensar em comida durante uma dieta, sabe da dificuldade em tentar expulsar esses pensamentos indesejadosda consciência. Os fumantes que tentam desistir do cigarro também podem verificar que a supressão do pensamento é uma tarefa difícil. Esse tópico da supressão do pensamento é importante para os psicólo gos clínicos (Shoham & Rohrbaugh, 1997; Wegner, 1997a). Suponha, por exemplo, que um cliente esteja sofrendo de depressão e que o terapeuta o encoraje a deixar de pensar em temas depressivos. Ironicamente, esse conselho pode produzir um número ainda maior de pensamentos depres sivos! Wegner (1997b) usa a expressão efeitos irônicos do controle mental para descrever a maneira como os nossos esforços podem dar errado quando tentamos controlar o conteúdo de nossa consciência. Suponha que você tentou corajosamente banir um determinado pensamento da cons ciência. Por ironia, esse mesmo pensamento tende especial mente a continuar insinuando seu retorno à consciência. Wegner e co-autores (1987) resolveram testar cientifica mente a tarefa do "urso branco" de Tolstói. Instruíram um grupo de estudantes para não pensarem em um urso bran co durante um período de cinco minutos. Depois disso, tinham permissão para pensar em um urso branco durante um segundo período de cinco minutos. Os participantes nessa condição mostravam-se muito propensos a pensar em um urso branco, com uma média de cinco pensamen- não é preciso. Apenas faça uma breve anotação sobre cada tópico em que você pensar enquanto sua mente divaga. Uma última instrução: durante esse exercício, não pense em um urso branco! tos sobre um urso branco durante o segundo período de cinco minutos. Em contraste, um grupo de controle forma do de estudantes era instruído a pensar livremente sobre um urso branco - sem qualquer sessão prévia de supres são de pensamento. Esses participantes do grupo de con trole obteve uma média de somente três pensamentos so bre um urso branco. Em outras palavras, a supressão inicial dos pensamentos sobre o urso branco tinha produzido um efeito rebote no primeiro grupo. Wegner (1992) tem relacionado os componentes da su pressão de pensamento aos conceitos de processamento controlado e automático, que apresentamos antes nesta seção. Wegner propõe que, quando tentamos suprimir um pensamento, envolvemo-nos em uma busca controlada de pensamentos que não são o pensamento indesejado. Por exemplo: quando você faz dieta, busca, consciente e siste maticamente, outros assuntos além de comida para pensar - um amigo, um filme, exercícios. Ao mesmo tempo, você também se envolve em uma busca automática de sinais do pensamento indesejado; este processo exige pouca aten ção e ocorre automaticamente. Durante uma dieta essa busca automática produz, sem esforço, pensamentos so bre massas doces e outras guloseimas calóricas. Quando você deixa de tentar suprimir um pensamento, descarta a busca controlada de assuntos sem importância. Infelizmen te, porém, a busca automática continua. Conseqüentemen te, você sofre um efeito rebote, no qual a consciência é inva dida por pensamentos sobre o assunto que, até então, esta va proibido. Muitos estudos têm repetido o efeito rebote que se se gue à supressão do pensamento (Clark et al., 1993; Wegner, 1997a). Além disso, esse efeito rebote não se limita à su pressão de pensamento sobre ursos brancos e outras idéias relativamente corriqueiras. Quando as pessoas são instruí das a não notarem um estímulo doloroso, por exemplo, tendem a ficarem ainda mais conscientes da dor. Efeitos irônicos semelhantes - que ocorrem quando tentamos suprimir nossos pensamentos - têm sido documentados quando as pessoas tentam concentrar-se, relaxar e evitar movimentos (Wegner, 1994). Visão Cega. O primeiro tópico nesta discussão sobre consciência demonstrou como muitas vezes temos dificul dade em trazer à consciência algumas informações sobre nossos processos cognitivos. A discussão sobre a supres são do pensamento sugeriu outra questão: muitas vezes temos dificuldade em eliminar algumas informações da cons ciência. As pesquisas sobre uma condição visual chamada visão cega revelam um terceiro ponto sobre a consciência: em alguns casos, as pessoas podem executar uma tarefa cognitiva com bastante exatidão, sem qualquer tomada de consciência de que seu desempenho seja exato. Visão Cega é visão sem percepção. Mais especificamente, visão cega é uma condição em que uma pessoa vítima de um dano no córtex cerebral alega não ser capaz de ver um objeto. No entanto, é capaz de relatar com exatidão algumas caracte- PROCESSOS PER.CEPTIVOS 47 rísticas desse objeto (Baars et a!., 1998; Farah, 1997; Weiskrantz, 1997). Essas pessoas sofreram um derrame ou qualquer outro dano no córtex visual primário (veja nova mente a fig. 2.1). Como observamos antes, o córtex visual primário é, de maneira geral, o primeiro local onde as infor mações visuais são registradas no córtex. As pessoas vítimas da visão cega acreditam que são ver dadeiramente cegas para parte ou para a totalidade do cam po visual. Em outras palavras, sua consciência contém o pensamento "não consigo ver". Em um estudo típico, os pesquisadores apresentam um estímulo dado a uma região do campo visual previamente representado pelo córtex le sionado. Por exemplo: um foco de luz pode brilhar em um ponto 10 graus à direita do centro. Pede-se então que as pessoas vítimas da visão cega apontem para a luz. Em ge ral, essas pessoas relatam que nem mesmo viram a luz e, por isso, só podiam fazer conjecturas sobre sua localiza ção. De maneira surpreendente, porém, os pesquisadores descobriram que o desempenho dos participantes é signifi cativamente melhor do que um desempenho aleatório - e muitas vezes quase perfeito (Weiskrantz, 1997). Pesquisas adicionais eliminaram várias explicações ób vias, como a possibilidade de que os pesquisadores esti vessem, não de maneira intencional, fornecendo pistas so bre a localização dos estímulos. Além disso, as pessoas são mesmo vítimas de dano genuíno e completo no córtex vi sual primário (Farah, 1997, Weiskrantz, 1997). A explica ção atual mais provável centra-se no fato de que algumas informações que partem da retina são diretamente condu zidas a outros locais do córtex cerebral sem ter que passar pelo córtex visual primário (Goldstein, 1999). Uma pessoa vítima da visão cega pode, portanto, identificar algumas ca racterísticas do estímulo visual - mesmo que tenha um dano no córtex visual primário - com base nas informa ções registradas nesses outros espaços corticais. As pesquisas sobre visão cega são particular importan tes para o estudo da consciência. Em especial, sugerem que as informações visuais precisam passar pelo córtex visual primário a fim de serem registradas na consciência. Se es sas informações fizerem um desvio, não passando pelo cór tex visual primário, a pessoa não terá consciência da expe riência visual (Baars et a!., 1998). No Cap. 4, estudaremos um fenômeno relacionado a esse, em nossa discussão so bre memória implícita; as pessoas podem muitas vezes lem brar-se de algumas informações, mesmo quando não estão cientes dessa lembrança. O Inconsciente Cognitivo. Durante muitas décadas, os pesquisadores em psicologia mostraram-se extremamente céticos sobre o conceito psicodinâmico de inconsciente (Greenwald, 1992). Observamos antes que os psicólogos elaboraram diversas definições para a consciência. Não fi caremos surpresos ao sabermos que eles têm mais dificul dade ainda em definir o inconsciente. Essa tarefa mostra-se bastante difícil porque o termo tem sido usado com r:ia.'.s freqüência em conexão com as teorias inspiradas . o: 48 CAPÍTULO DOIS Sigmund Freud do que pelos psicólogos cognitivistas da escola principal. Contudo, usaremos uma definição propos ta por Kihlstrom e colaboradores (1992): o inconsciente cognitivo refere-se às informações processadas fora da per cepção consciente. Oue evidências temos a respeito do inconsciente cogni tivo? De modo geral, elas advêm de pesquisasnas quais as atividades das pessoas são influenciadas por informações que estão além de sua percepção (Carlson, 1997). As pes soas podem perceber um estímulo sem estarem cientes de o terem percebido. Por exemplo: vemos que as pessoas víti mas da visão cega possuem informações visuais, usando, pelo que parece, seu inconsciente cognitivo. Devemos enfatizar, porém, que o consciente e o incons ciente não estão divididos em duas categorias inteiramente separadas. Em vez disso, um continuum conecta esses dois tipos de processo (Erdelyi, 1992). Como discutimos antes neste capítulo, é raro encontrarmos dicotomias distintas na psicologia cognitiva. Greenwald (1992) observa que a evi dência mais persuasiva a respeito do inconsciente cogniti- vo advém das pesquisas sobre a capacidade de perceber uma palavra isolada quando esta é apresentada como uma segunda mensagem não atendida em um estudo sobre es cuta dicótica. Contudo, nosso inconsciente cognitivo não chega a ser brilhante (Loftus & Klinger, 1992). Em vez dis so, seus talentos limitam-se normalmente a realizações bem modestas, como a análise do significado de uma palavra isolada (Greenwald, 1992). Em resumo, esta discussão demonstrou que a consciên cia é um tema desafiador. Nossa consciência não é um es pelho perfeito de nossos processos cognitivos, ou seja, nem sempre podemos explicar como operam esses processos. A consciência também não é um quadro-negro; não pode mos simplesmente apagar dela os pensamentos indeseja dos. A consciência nem mesmo faz relatos com precisão, como demonstram as pesquisas sobre visão cega. Para fi nalizar, a discussão sobre o inconsciente cognitivo sugere que nossos processos mentais superiores às vezes podem processar uma informação além dos limites da percepção consciente. li RESUMO DA SEÇÃO: ATENÇÃO 1. A atenção é uma concentração de atividade mental. 2. As pesquisas sobre a atenção dividida mostram que o desempenho costuma ficar prejudicado quando as pes soas precisam atender a diversos estímulos ao mesmo tempo. Contudo, com treino amplo, o desempenho pode aperfeiçoar em algumas tarefas de atenção dividida. 3. Os estudos sobre a atenção seletiva que empregam a técnica da escuta dicótica demonstram que as pessoas podem notar pouca coisa sobre a mensagem irrelevan te. Podem ser notados, por exemplo, o gênero da pessoa que fala e o próprio nome, quando mencionado. Os as pectos semânticos da mensagem irrelevante são também processados ocasionalmente. Porém, não se consegue notar, em geral, se a mensagem irrelevante passou a ser expressa em língua estrangeira. 4. O efeito Stroop é um exemplo de tarefa visual de aten ção seletiva. A tarefa é especialmente difícil para adultos mais velhos e para portadores de esquizofrenia. Uma variante chamada "tarefa emocional de Stroop" demons tra que os portadores de transtorno fóbico têm dificul dade para identificar a cor da tinta em que foram im pressas palavras relativas a objetos temidos. 5. As primeiras teorias sobre a atenção davam ênfase a um "gargalo" que limita a atenção. Algum tempo depois, Schneider e Shiffrin sugeriram que o processamento au tomático é paralelo, podendo ser usado em tarefas fá ceis com itens altamente familiares. Em contraste, o pro cessamento controlado é serial, devendo ser usado com tarefas difíceis ou não familiares. 6. Treisman propôs uma teoria de integração das caracte rísticas com dois componentes: (a) a atenção distribuí da, usada para registrar características simples automati camente e (b) a atenção focalizada, usada para procurar combinações de características e uma característica em falta. As conjunções ilusórias podem surgir quando a atenção estiver sobrecarregada. 7. As pesquisas biológicas sobre a atenção têm emprega do o PET scan para estabelecer que a rede posterio_r de atenção, situada no córtex parietal, está ativa durante a procura visual. Em contraste, a rede anterior de aten ção, situada na região frontal do cérebro, está ativa durante a tarefa de Stroop e durante outras tarefas fo calizadas no significado das palavras. Além disso, a téc nica de potencial ligado a eventos (ERP) tem documen tado atividade neuronial sistemática durante o tempo de atenção. 8. Atualmente a consciência é um tópico bastante discuti do. As pesquisas sugerem que muitas vezes não esta mos cientes de nossos processos mentais superiores. Estudos relacionados à supressão do pensamento de monstram a dificuldade em eliminar alguns pensamen tos da consciência. Por sua vez, estudos com pessoas portadoras de visão cega remetem ao fato de estas po derem identificar características de objetos, mesmo quan do não estão conscientes desses objetos. Por fim, psicó logos começaram a explorar como alguns processos mentais superiores podem ocorrer no inconsciente cog nitivo. PROCESSOS PERCEPTIVOS 49 EXERCÍCIOS DE REVISÃO DO CAPÍTULO 1. Como você definiria percepção a um amigo que nunca tivesse feito um curso de psicologia cognitiva? Desta que cinco tarefas perceptivas diferentes executadas por você nos últimos cinco minutos, com a inclusão de exemplos tanto da percepção do objeto quanto da aten ção. 2. Imagine que você esteja tentando ler um número escri to de maneira desleixada nas anotações de um colega de turma. Você conclui que se trata de um 8, e não de um 6 ou de um 3. Explique como foi que você reco nheceu esse número, usando a teoria da correspondên cia de gabaritos e os modelos de análise de característi cas. 3. Qual é o objetivo da teoria de reconhecimento pelos componentes de Biederman? Levante os olhos do livro e identifique dois objetos próximos. De que forma essa teoria descreve o modo pelo qual você reconhece es ses objetos? 4. Faça uma distinção entre processamento bottom-up e processamento top-down. Explique como o processa mento top-down pode ajudá-lo a reconhecer as letras do alfabeto neste parágrafo; cite também alguns estu dos importantes sobre o tema. O capítulo deu ênfase ao reconhecimento visual do objeto. Dê exemplos de como o processamento top-down pode ajudá-lo a reco nhecer sons, sabores, cheiros e sensações de toque. 5. De acordo com a seção "Em Profundidade", o reco nhecimento de rostos é "especial" e emprega proces sos que são diferentes daqueles de outras tarefas de reconhecimento. Discuta essa afirmação, mencionan ·do as pesquisas na comparação entre rostos e outros estímulos visuais. Não deixe de incluir material das pesquisas em neurociência sobre esse assunto. 6. O que é atenção dividida? Dê vários exemplos de tare- fas em atenção dividida realizadas por você nas últi mas 24 horas. O que mostram as pesquisas sobre os efeitos do treino na atenção dividida? Você consegue pensar em alguns exemplos oriundos de sua própria experiência com treino e desempenho da atenção divi dida? 7. O que é atenção seletiva? Dê vários exemplos de tare fas de atenção seletiva - tanto auditiva quanto visual -realizadas por você nas últimas 24 horas. Com base na discussão sobre treino e atenção dividida, qual é sua estimativa sobre o modo como o treino em uma tarefa de atenção seletiva iria afetar sua capacidade de reparar em informações sobre uma tarefa irrelevante? 8. Imagine que você esteja tentando levar adiante uma conversa com um amigo ao mesmo tempo em que lê um artigo interessante em uma revista. Descreva como as teorias do gargalo e os processamentos automático e controlado explicariam sua atuação. Descreva depois a teoria de integração das características, de Treisman, e pense em um exemplo dessa teoria, com base em sua experiência anterior. 9. Imagine que você esteja procurando nas páginas ante riores deste capítulo a figura que ilustra os diversos geons. Oue parte do seu cérebro fica ativada durante essa tarefa? Suponha agora que você está tentando pres tar atenção ao significado da palavra geon. Oue parte do seu cérebro fica ativada durante essa tarefa? Des creva como as pesquisas têm esclarecido a basebioló gica da atenção. 10. Defina o termo consciência. Considerando as informa ções deste capítulo, pode-se dizer que as pessoas têm controle completo do material armazenado na cons ciência? É possível explicar com precisão os nossos processos cognitivos? Em que a consciência difere da atenção? NOVOS TERMOS percepção reconhecimento do objeto identificação do objeto estímulo distal estímulo proximal memória sensorial memória icônica córtex visual primário teoria da correspondência de gabaritos gabaritos modelos de análise de características característica distintiva teoria de reconhecimento pelos componentes geons abordagem centrada no observador processamento bottom-up processamento top-down efeito da supremacia da palavra conex10n1smo processamento de distribuição paralela (PDP) holístico Gestalt validade ecológica dependente variável visão cega para mudança atenção tarefas de atenção dividida tarefas de atenção seletiva escuta dicótica sombreamento 50 CAPÍTULO DOIS efeito coquetel efeito Stroop teorias do gargalo processamento automático processamento controlado paralelo (processamento) serial (processamento) teoria de integração de características atenção distribuída atenção focalizada conjunção ilusória mecanismo de inibição de características rede posterior de atenção tomografia por emissão de pósitrons (PET scan) lesões cerebrais omissão unilateral rede anterior de atenção técnica de potencial ligado a eventos (ERP) consciência efeitos irônicos do controle mental visão cega inconsciente cognitivo LEITURAS RECOMENDADAS Cohen, J. D., & Schooler, J. W. (Eds.). (1997). Scientific approaches to consciousness. Mahwah, NJ: Erlbaum. Eis aqui uma excelente visão geral do fascinante tópico sobre consciência, com 28 capítulos escritos por pesquisado res importantes dessa área. Goldstein, E. B. (1999). Sensation and perception (5." ed.). Pacific Grove, CA: Brooks/Cole. Este livro, de nível médio, enfatiza uma abordagem bottom-up da visão. O capítulo sobi:e a percepção de objetos é bastante relevante, e ou tros capítulos fornecem informações sobre outros siste mas sensoriais. Matlin, M. W., & Foley, H. J. (1997). Sensation and perception (4.a ed.). Boston: Allyn & Bacon. Esse livro enfatiza uma abordagem top-down da percepção, explorando com al guns detalhes o reconhecimento de padrões e outros as pectos do processamento perceptivo. Palmer, S. E. (1999). Vision science: Photons to phenomenology. Cambridge, MA: MIT Press. Esse livro de nível avança do é uma visão geral abrangente da percepção visual. Explora a percepção do objeto, a atenção, a percepção de profundidade, a percepção de cor e a percepção do movimento. Parasuraman, R. (Ed.). (1998). The attentive brain. Cambrid ge, MA: MIT Press. Se você tiver uma base sólida em biopsicologia, ficará deliciado com a leitura desse livro. Além de abordar os componentes da atenção que discu timos neste capítulo, o livro inclui tópicos como neuro química da atenção, transtorno de hiperatividade/déficit de atenção e atenção em indivíduos portadores de de mência. CAPÍTULO 3 MEMÓRIA DE TRABALHO INTRODUÇÃO A HISTÓRIA DA PESQ.!)ISA SOBRE MEMÓRIA DE TRABALHO "O Mágico Número Sete" de George Miller A Pesquisa Clássica sobre a Memória de Curto Prazo O Modelo de Atkinson e Shiffrin Uma Perspectiva Diferente: A Abordagem de Baddeley FATORES Q.!JE AFETAM A CAPACIDADE DA MEMÓRIA DE TRABALHO Tempo de Pronúncia Similaridade Semântica dos Itens na Memória de Trabalho A ABORDAGEM DE BADDELEY SOBRE MEMÓRIA DE TRABALHO Evidências de Componentes com Capacidades Independentes O Circuito Fonológico Bloco de Esboço Visuoespacial Executivo Central Novos Rumos para as Pesquisas sobre Memória de Trabalho Em Profundidade: Diferenças Individuais na Memória de Trabalho 52 CAPÍTULO TRÊS APRESENTAÇÃO Nosso assunto neste capítulo é a memória de trabalho. Neste momento, você está usando sua memória de tra balho para lembrar o início desta frase até chegar à últi ma palavra dela. A memória de trabalho ajuda a lembrar informações visuais e espaciais, além de coordenar as atividades cognitivas e planejar estratégias. Iniciaremos este capítulo examinando alguns fatos importantes na história da pesquisa em memória de tra balho. A primeira seção apresenta a perspectiva clássica de Miller de que nossa memória imediata pode conter aproximadamente sete itens. Exploraremos diversas ou tras abordagens, encerrando essa primeira seção com uma introdução a uma perspectiva muito mais flexível: a teoria de Baddeley de que a memória de trabalho con siste em três componentes principais. Nossa segunda seção examina dois fatores importan tes que influem na quantidade de informações que po demos guardar na memória. Um deles é o tempo de pro- núncia; você mal consegue lembrar o número de pala vras que pode pronunciar em um segundo e meio. Ou tro fator é a similaridade semântica. Às vezes, palavras de significado semelhante podem interferir umas nas outras, provocando esquecimento. A terceira seção deste capítulo retoma à abordagem de Baddeley da memória de trabalho, explorando essas pers pectiva com mais detalhes. Algumas pesquisas clássicas mostraram que as pessoas eram capazes de executar si multaneamente uma tarefa verbal e uma tarefa espacial. Essas pesquisas levaram Baddeley a concluir que o circui to fonológico e o bloco de esboço (sketch paâ} visuoespacial possuem capacidades independentes. Examinaremos es ses dois componentes da abordagem de Baddeley, bem como o executivo central, componente que coordena nos sas atividades cognitivas permanentes. Essa última seção termina com a seção "Em Profundidade" que trata de algu mas diferenças individuais na memória de trabalho. INTRODUÇÃO Você provavelmente pode se lembrar de uma experiência recente como esta: você está em um telefone público pro curando o número de um amigo. Encontra-o, repete-o para si mesmo e fecha sua agenda. Você, então, apanha o car tão, insere-o e ergue o indicador para digitar o número - surpreendentemente, não consegue lembrá-lo. Os primei ros dígitos eram 586, também havia um 4, mas você não tem qualquer idéia a respeito dos outros números! Esse tipo de esquecimento ocorre com bastante freqüên cia quando queremos lembrar algum material por um pe ríodo curto de tempo. Talvez se passem quinze segundos enquanto você fecha sua agenda e insere o cartão, e mes mo assim algumas lembranças são tão frágeis que se apa gam antes que você possa começar a usá-las. Quando tentamos lembrar um material por um período curto de tempo, costumamos estar cientes de que nossa memória não pode armazenar muitos itens. Suponha que um amigo lhe passa uma lista de produtos para comprar na loja; você já memorizou cinco. Não parece que, se for acres centado mais um produto, um dos produtos originais pre cisará ser descartado? Você também se dá conta desses li mites quando tenta resolver mentalmente um problema aritmético, ler frases complicadas ou resolver problemas de raciocínio com muitos elementos (Holyoak & Spellman, 1993; Juste & Carpenter, 1992). A Demonstração 3.1 ilus tra os limites de nossa memória imediata em duas dessas tarefas. Experimente-as antes de prosseguir a leitura. É possível que na Demonstração 3.1 você não tenha tido dificuldade alguma com a primeira tarefa de matemática nem com a primeira tarefa de leitura. As segundas tarefas de matemática e de leitura podem ter parecido mais desafi adoras, mas ainda controláveis. Já as terceiras tarefas de vem estar além dos limites de sua memória imediata. No capítulo anterior, vimos que nossa atenção é limita da: temos dificuldade em dividir a atenção entre duas tare fas simultâneas. Além disso, se estivermos prestando aten ção seletiva a uma tarefa, notaremos muito pouco da tarefa não atendida. O presente capítulo enfatiza a capacidade limitada dos processos cognitivos, embora focalizea memória limitada em vez da atenção limitada. Especificamente, ele examina nossa memória de trabalho, que é de curta duração e ime diata, relacionada com o material que processamos em de terminado momento. Uma parte da memória de trabalho também coordena nossas atividades mentais permanentes. (Atualmente, a expressão memória de trabalho é mais popular do que um termo semelhante, porém mais antigo: memó ria de curto prazo.) Os Caps. 4, 5, 6 e 7 irão abordar a memória de longo prazo, que tem capacidade ampla e . contém o registro de experiências e informações que va mos acumulando durante a vida. Ao nos referirmos à memória de trabalho, precisamos repetir uma afirmação que fizemos com relação ao modelo da memória de Atkinson-Shiffrin, no Cap. 1: alguns psicó logos, como Crowder(1993), não acreditam que a memó ria de trabalho e a memória de longo prazo sejam tipos diferentes de sistemas. Outro ponto importante é que aque les que não acreditam realmente em dois sistemas diferentes DEMONSTRAÇÃO 3.1 MEMÓRIA DE TRABALHO 53 OS LIMITES DA MEMÓRIA DE CURTO PRAZO A. Experimente cada uma das seguintes tarefas de mul tiplicação mental. Não anote nenhum dos cálculos. Faça-os inteiramente "de cabeça": 1. 7X 9= 2. 74 X 9 = 3. 74 X 96 = podem não partilhar as mesmas explicações teóricas, é o caso de Atkinson & Shiffrin (1968), Baddeley (1999), Engle & Oransky (1999), Izawa (1999), Nairne (1996) e Shiffrin (1993). Vamos, pois, começar expondo um pouco da história das pesquisas sobre a memória de trabalho. Conforme você verá, o conceito da capacidade limitada da memória tem sido um aspecto importante dessas pesquisas desde o prin cípio. Em seguida, vamos examinar os fatores que afetam a B. Leia agora cada uma das seguintes frases, formando uma imagem mental da ação descrita: 1. O homem do conserto partiu. 2. O entregador encontrado pela secretária partiu. 3. O vendedor encontrado pelo médico que a en fermeira desprezava partiu. capacidade da memória de trabalho, explorando ainda mais o conceito da capacidade limitada. Concluiremos o capí tulo examinando alguns detalhes do modelo dos três com ponentes de Baddeley, que hoje em dia é a explicação te órica mais aceita a respeito da memória de trabalho. Tra ta-se de uma teoria mais flexível do que as explicações anteriores; contudo, ela ainda ressalta que cada um dos três componentes da memória de trabalho tem capacida de limitada. A HISTÓRIA DA PESQlJISA SOBRE MEMÓRIA DE TRABALHO Vamos expor brevemente a história do conceito de memó ria de trabalho. Começaremos discutindo a perspectiva de Miller, bem como algumas pesquisas clássicas sobre a me mória de curto prazo. Em seguida, analisaremos o modelo de Atkinson e Shiffrin e, por fim, faremos uma breve intro dução à noção de memória de trabalho. "O MAGICO NúMERO SETE" DE GEORGE MILLER Há mais de um século os primeiros psicólogos conjectu ravam que os seres humanos poderiam reter apenas um número limitado de itens de cada vez na memória ativa (Baldwin, 1894; Engle, 1996). Porém, essa observação não foi amplamente examinada até muito mais tarde. Em 1956, George Miller escreveu seu famoso artigo intitulado "The Magical Number Seven, Plus or Minus Two: Some Limits on Our Capacity for Processing Information" ("O Mágico Número Sete, Mais ou Menos Dois: Algumas Li mitações da Nossa Capacidade de Processar Informa ções"). Miller propunha que podemos reter somente um número limitado de itens na memória de curto prazo (de nominação que essa memória de pouca duração recebia na época). Ele sugeria que as pessoas podem lembrar cer ca de sete itens (acrescentar ou tirar dois), ou seja, entre cinco e nove itens. Miller empregava o termo agrupamento (chunk) para descrever a unidade básica na memória de curto prazo. De acordo com uma definição mais recente, um agrupamento é "uma unidade cognitiva bem aprendida, constituída de um número pequeno de componentes representando um padrão perceptual coerente e que ocorre com freqüência" (Bellezza, 1994, p. 579). Miller sugeria, portanto, que a me mória de curto prazo retém cerca de sete agrupamentos (chunks). Um agrupamento pode ser um único número ou uma única letra, porque as pessoas conseguem lembrar uma se qüência aleatória de cerca de sete números ou letras. Po rém, números e letras isolados podem ser organizados em unidades maiores. Por exemplo: suponha que seu código de área seja 617 e todos os números de telefone de sua faculdade comecem com os mesmos dígitos: 346. Se 617 forma um agrupamento e 346 forma outro, então o núme ro de telefone 617-346-3421 contém na verdade somente seis agrupamentos (ou seja, 1+1 +4). O número inteiro pode ficar dentro da amplitude da sua memória. O artigo de Mi ller (1956) recebeu muita atenção e o mágico número 7 ± 2 tornou-se um conceito de destaque, conhecido de quase todos os estudantes de psicologia. O artigo de Miller era inusitado porque foi escrito em uma época em que o behaviorismo era muito popular. Não obstante, seu artigo indicava que as pessoas se envolviam em processos mentais a fim de converter os estímulos em um número manejável de agrupamentos. O artigo enfati zava ainda a natureza ativa de nossos processos cognitivos em vez de concentrar-se apenas nos estímulos observáveis e nas respostas observáveis (Baddeley, 1994). O trabalho de Miller também ajudou a inspirar algumas das pesquisas clássicas sobre a memória de curto prazo. 54 CAPÍTULO TRÊS DEMONSTRAÇÃO 3.2 UMA VERSÃO MODIFICADA DA TÉCNICA DE BROWN/PETERSON & PETERSON Apanhe cinco fichas. Em um lado delas escreva um gru po de três palavras, uma debaixo da outra. No verso escreva um número de três dígitos. Coloque as fichas à parte por alguns minutos e faça uma contagem regres siva de três em três números a partir de 792. Olhe en tão a primeira ficha, com o lado que contém as pala vras voltado para você, por cerca de dois segundos. 1. apelo temperamento fardo 2. sóbrio persuadir conteúdo 3. descender negligenciar algures 687 254 869 A PESQUISA CLASSICA SOBRE A MEMÓRIA DE CURTO PRAZO A Técnica de Brown!Peterson & Peterson. A Demonstração 3.2 apresenta uma versão modificada da técnica de Brown/ Peterson & Peterson, um método que definiu muito de nossas informações originais sobre a memória de curto pra zo. John Brown (1958) - psicólogo britânico - e Lloyd Peterson e Margaret Peterson (1959) - dois psicólogos americanos - demonstraram independentemente que o material retido na memória por menos de um minuto é es quecido com freqüência. Por isso, a técnica leva os nomes de ambos os grupos de pesquisadores. Peterson e Peterson (1959), por exemplo, solicitaram que as pessoas estudassem uma lista composta por três letras (trigramas) seguidas por um número de três dígi tos. Os participantes então contavam de trás para diante a partir do número por um período curto de tempo, ativi dade que os impedia de repetir silenciosamente a série de estímulos durante o intervalo de retenção.* Por fim, ten tavam relembrar as letras que tinham inicialmente visto. Nas primeiras tentativas, as pessoas lembravam a maio ria das letras. Contudo, depois de tentarem várias vezes, as letras que haviam visto antes causavam interferência e a lembrança se enfraquecia. Depois de um intervalo de *O tempo entre a apresentação da última letra e o início da fase de evoca ção da prova experimental. (nota do revisor técnico) Depois vire a ficha imediatamente e faça uma conta gem regressiva de três números a partir do número de três dígitos. Conte o mais depressa possível durante vinte segundos. (Use um cronômetro para controlar o tempo.) Então escreva quantas palavras puder lembrar daquelas três. Continue esse processo com as quatro fichas restantes. 4. flor clássico prever 5. sedoso preguiçoso açougueiro 573 433 retenção de apenas cinco segundos, as pessoas esqueci am quase metade do que tinham visto (veja a fig.3.1). Essa impressionante demonstração do esquecimento após um intervalo de retenção de apenas alguns segundos causou um impacto importante nas pesquisas sobre a me mória. Os psicólogos que antes haviam solicitado que as pessoas decorassem longas listas de palavras - e que as lembrassem após um intervalo demorado - passaram a investigar a lembrança depois de apenas alguns minutos de intervalo. A técnica de Brown/Peterson & Peterson foi bas- 100% "' 80%"O "' 1l o u "' 60%.... s "' Oll � 40%i:: "' u .... "' o- 20% ºo 3 6 9 12 15 18 Intervalo antes de recordar (em segundos) Fig. 3.1 Resultados típicos por percentagem recordada com a técnica de Brown/Peterson & Peterson. tante popular na década de 1960 e nos primeiros anos da de 1970. Durante esses anos, os psicólogos realizaram pou cas pesquisas sobre a memória de longo prazo. No final da década de 1970, os pesquisadores voltaram a se interessar pela memória de longo prazo, e essa área de pesquisa con tinua sendo mais popular até hoje. Apesar disso, as pesqui sas iniciais que empregaram a técnica de Brown/Peterson & Peterson produziram informações importantes sobre a fragilidade da memória para o material armazenado por apenas alguns segundos. O Efeito de Recenticidade (Recency). Outra técnica que tem sido empregada com freqüência para examinar a me mória de curto prazo faz uso do efeito de posição serial. A expressão efeito de posição serial é empregada para nos referirmos a relacão, em forma de U, que se dá entre a posição de uma palavra em uma lista e sua possibilida de de ser recordada. A fig. 3.2 mostra uma ilustração clás sica do efeito de posição serial em pesquisas realizadas por Rundus (1971). A curva em forma de U é muito co mum e continua a ser encontrada na pesquisa atual (Bu chner et al., 1996; Page & Norris, 1998; Tremblay & Jones, 1998). Conforme se pode observar, a curva expõe um forte efei to de recenticidade, com melhor recordação dos itens que se encontram no final da lista. A interpretação desse efeito 1,0 0,9 o 0,8 "O "' .... ..e s � .... 0,7 � Q) "O Q) "O 0,6 "' "O :.;i ..e "' ..e o .... 0,5 � 0,4 0,3 /( 2 4 6 8 MEMÓRIA DE TRABALHO 55 é controvertida. Contudo, muitos pesquisadores têm argu mentado que essa recordação relativamente precisa das úl timas palavras de uma lista pode ser atribuída ao fato de esses itens ainda estarem na memória de curto prazo no momento da recordação. Assim, uma maneira de mensurar a extensão da memória de curto prazo é contar o número de itens do final da lista lembrados com exatidão (Cowan, 1994). Em geral, a extensão da memória de curto prazo é estimada como de dois a sete itens quando se usa o méto do de curva da posição serial. (Observe que a curva de po sição serial também exibe um forte efeito de primazia, com melhor recordação dos itens do início da lista, provavel mente porque os primeiros itens são repetidos com mais freqüência do que os outros.) Span da Memória. A memória de curto prazo também tem sido mensurada em termos de span da memória, ou seja, o número de itens que podem ser lembrados com cor reção e na ordem adequada. A sua habilidade em lembrar os números de telefone é, pois, um teste de span da memó ria. De maneira geral, os adultos podem lembrar de seis a sete palavras de uma sílaba na ordem correta (Hulme et al., 1999). A span da memória não tem uma correlação muito exata com a maioria das medidas de inteligência (Baddeley, 1992a). Vários testes de inteligência, porém, incluem um teste de span da memória. 10 12 14 16 18 20 Posição serial na lista original Fig. 3.2 Relação entre a posição serial de um item e a probabilidade de ser lembrado. Fonte: Baseado em Rundus, 1971. 56 CAPÍTULO TRÊS Esses métodos clássicos de pesquisa foram usados para avaliar diversas características da memória de curto prazo. Eles possibilitaram informações que ajudaram na constru ção de uma abordagem extremamente influente da memó ria humana, desenvolvida por Atkinson e Shiffrin. Ü MODELO DE ATKINSON E SHIFFRIN Richard Atkinson e Richard Shiffrin (1968) propuseram o modelo clássico de processamento da informação que apresentamos no Cap. 1. Releia novamente esse mo delo apresentado na fig. 1.2. Como se pode notar, no diagrama desta figura, a memória de curto prazo (como era então chamada) encontra-se separada da memória de longo prazo. Atkinson e Shiffrin argumentavam que as lembranças na memória de curto prazo são frágeis e que poderiam perder-se em cerca de trinta segundos, a menos que fossem repetidas. A forma original desse mo delo enfocava o papel da memória de curto prazo na aprendizagem e na memória. O modelo não explorava o modo como a memória de curto prazo poderia ajudar a cumprir outras tarefas cognitivas (Richardson, 1996a). O modelo de Atkinson-Shiffrin teve importante papel na atráção que a abordagem cognitiva crescentemente exer ceu sobre a psicologia, além de ter inspirado outras pesqui sas sobre a memória de curto prazo. Como observamos no Cap. 1, os pesquisadores realizaram diversos estudos para determinar se a memória de curto prazo era realmente dis tinta da memória de longo prazo - questão que ainda não obteve uma resposta claramente definida. Esses estudos diminuíram durante os meados da década de 1970, em par te porque a nova abordagem de Baddeley não enfatizava essa distinção. UMA PERSPECTNA DIFERENTE: A ABORDAGEM DE BADDELEY Durante as décadas de 1950 e 1960 a maior parte das pes quisas e das teorias sobre a memória de curto prazo tinha sido produzida nos Estados Unidos. O desenvolvimento importante mais recente na história da pesquisa sobre a memória de trabalho tinha sido fornecido por Baddeley e outros pesquisadores britânicos. Para completar nossa his tória dessas pesquisas, vamos delinear brevemente o mo delo de Baddeley. Alan Baddeley e colaboradores propuzeram que a me mória de curto prazo fosse rebatizada como "memória de trabalho" (Baddeley, 1999; Baddeley & Hitch, 1974). Se gundo eles, a memória de trabalho possui três componen tes distintos, cada um com capacidade independente: (1) o circuito (loop) fonológico, que armazena um número limi tado de sons por um período curto; (2) o bloco de esboço (sketch pad) visuoespacial, que armazena informações visu ais e espaciais; e (3) o executivo central, que integra as in formações oriundas dos outros dois componentes, bem como da memória de longo prazo. A teoria de Baddeley argumenta que a memória de tra balho é muito mais flexível do que se havia pensado anteri ormente. Por exemplo: o executivo central pode estar tra balhando em uma tarefa enquanto o circuito fonológico está trabalhando em outra. Essa perspectiva é hoje a abor dagem mais aceita, e a denominação memória de trabalho é atualmente o termo padrão (Miyake & Shah, 1999a). Na última seção deste capítulo exploraremos detalhadamente essa teoria e seus três componentes. Antes disso, porém, a próxima seção irá examinar o tempo de pronúncia e a simi laridade semântica, dois fatores importantes que podem afetar a capacidade da memória de trabalho. li RESUMO DA SEÇÃO: A HISTÓRIA DA PESQUISA SOBRE MEMÓRIA DE TRABALHO 1. A memória de trabalho é a memória de duração muito curta e imediata dos itens que estamos processando em determinado momento. 2. Em 1956, Miller propôs que somos capazes de reter cer ca de sete agrupamentos de informações na memória. 3. As pesquisas que utilizam a técnica de Brown/Peterson & Peterson demonstraram que - quando impedimos a repetição - as pessoas esquecem os itens depois de um breve intervalo. 4. O efeito de recenticidade em uma curva de posição serial tem sido interpretado como uma medida da extensão da memória de curto prazo. 5. O modelo de Atkinson-Shiffrin propôs que as lembran ças de curto prazo podem perder-se da memória em cer ca de trinta segundos, a menos que sejam submetidas a repetição. 6. De acordo comBaddeley, a memória de trabalho possui três componentes distintos, com capacidades indepen dentes: o executivo central, o circuito (loop) fonológico e o bloco de esboço (sketch pad) visuoespacial. MEMÓR.IA DE TRABALHO 57 FATORES Q!JE AFETAM A CAPACIDADE DA MEMÓRIA DE TRABALHO Já consideramos um fator importante que pode influir na capacidade da memória de trabalho. Como demonstrou o trabalho de Miller (1956), deveríamos prestar atenção ao número de agrupamentos em um estímulo. Uma palavra como preto ocupará normalmente o mesmo espaço mental que a letra p ou o número 5. Vamos concentrar-nos em mais dois fatores que mostraram ter influência sobre a capacida de da memória de trabalho: (1) tempo de pronúncia e (2) similaridade semântica dos itens. TEMPO DE PRONÚNCIA O influente artigo escrito por Miller (1956) sugeriu que to dos os agrupamentos armazenados na memória são razoa velmente comparáveis. A palavra dark, de uma sílaba, ocu paria tanto espaço de memória quanto a palavra polissílaba difference. Os pesquisadores, porém, têm questionado essa pressuposição. De fato, eles demonstraram que o tempo de pronúncia pode ser ainda mais importante do que o número de agrupamentos formados pelos itens (Cowan, 1994, 1995; Hulme et al., 1999; Page & Norris, 1998). Schweickert e Boruff (1986), por exemplo, testaram o span da memória de acordo com diversos estímulos, como con soantes, números, substantivos, sons, nomes de formas, nomes de cores e palavras sem sentido. Com uma consis tência impressionante, as pessoas tendiam a recordar em cerca de um segundo e meio o número de itens que podi am ser pronunciados. Esses autores propõem que a capaci dade da memória de trabalho não é determinada simples mente por um número fixo de itens, ou agrupamentos, na memória. O que é talvez ainda mais importante: a capaci dade é determinada pelo tempo limitado de duração do traço verbal dos itens. No caso de sílabas sem sentido, uma pes soa poderia ser capaz de pronunciar somente quatro itens em um segundo e meio; logo, somente quatro itens seriam lembrados. No caso dos números, em inglês, uma pessoa normalmente consegue pronunciar seis itens em um segun do e meio, ou seja, a lembrança é um pouco maior. DEMONSTRAÇÃO 3.3 Os pesquisadores também têm testado a hipótese do tempo de pronúncia para outros tipos de itens. Experimen te a Demonstração 3.3, que é uma modificação de um es tudo feito por Baddeley e colaboradores (1975). Esses pes quisadores descobriram que as pessoas podiam lembrar com exatidão uma média de 4,2 palavras da lista de países com nomes curtos, mas somente 2,8 da lista de países com no mes longos. Um dos estudos mais sistemáticos realizado foi sobre a recordação de números em diversas línguas. Naveh-Benja min e Ayres (1986) testaram spans de memória de pessoas que falavam inglês, espanhol, hebraico ou árabe. Os no mes dos números em inglês de 1 a 10 podem ser falados com rapidez; a maioria é monossilábica. Os nomes desses números em espanhol e hebraico apresentam uma média maior de sílabas, e os números em árabe possuem um nú mero maior, ainda, de sílabas. Como mostra a fig. 3.3, o span da memória é significati vamente maior para as pessoas que falam inglês do que para as que falam as três outras línguas. Além disso, a linha tracejada mostra a velocidade da pronúncia para cada uma das quatro línguas. Como se vê, os spans maiores de me mória estão associados a línguas cujos números podem ser falados com rapidez. É claro que a velocidade da pronúncia - bem como o número de agrupamentos - precisa ser levada em consideração ao se discutir a capacidade da me mória de curto prazo. SIMILARIDADE SEMÂNTICA DOS ITENS NA MEMÓRIA DE TRABALHO As pesquisas sobre o tempo de pronúncia enfatizavam a importância das propriedades acústicas do estímulo, ou seja, o som das palavras. Vamos agora enfatizar as propriedades semânticas do estímulo: o significado das palavras também pode ter um efeito importante no nú mero de itens que podem ser armazenados na memória de trabalho. TEMPO DE PRONÚNCIA E SPAN DA MEMÓRIA Leia as palavras que se seguem. Quando terminar, afaste os olhos da página e tente recordá-las. Cuba, Japão, Malta, China, Laos, Chile Agora tente novamente a tarefa com uma lista diferente de palavras. Repita o procedimento: leia as palavras, afaste os olhos e recorde-as. Argentina, Nicarágua, Afeganistão, Venezuela, Filipinas, Madagascar 58 CAPÍTULO TRtS 8 4,0 .. ' ' Índice de pronúncia ' ' ' ' ' ' ' ' 3,5 7 ' ,--.. '4 "' .:: ' (',jõ Q.) ' .u ' ·..-< ' • ..-< '"d s Span da u >=< .:: ::l � '::l bJ) memória .:: Q.) <1l o "' ·..-< \ ;._. ;._. ;._. \ 'º \ o.. o s 6 \ 3,0 � o.. Q.) \ "' s ' Q.) >=< \ u Q.) <1l \ � .� \ '"d \ .:: � .:: � ,� V <1l .._, o.. (/) 51- -12,5 Inglês Espanhol Hebraico Árabe 1,0 2,0 Número médio de silabas por dígito Fig. 3.3 Span da memória e índice de pronúncia para números em quatro línguas. Fonte: Naveh-Benjamin & Ayres, 1986. Vejamos um exemplo disso com um estudo de Wickens e colaboradores (1976). Sua técnica baseia-se em um con ceito clássico na pesquisa sobre memória denominado in terferência proativa. A interferência proativa (PI), se refe re à dificuldade que as pessoas têm em aprender novos itens porque os itens previamente aprendidos interfere na nova aprendizagem. Suponha que você aprendeu antes os itens XCJ, HBR e TSV em um teste de memória de Brown/Peter son & Peterson. Você terá dificuldade para lembrar-se de um quarto item, KRN, porque os três itens anteriores inter ferem na lembrança deste quarto item. Porém, se um pes quisador mudar a categoria do quarto item de letras para, digamos, números, sua memória melhorará. Você experi mentará a inibição da interferência proativa; o desempe nho em um item novo e diferente (digamos, 529) será quase tão elevado quanto havia sido para o primeiro item, XCJ. Muitos pesquisadores têm demonstrado a inibição da PI quando a categoria dos itens é modificada, como de letras para números. Contudo, Wickens e co-autores (1976) veri ficaram que a inibição da PI também podia ser obtida quan do a classe semântica dos itens era alterada. Eles submeteram algumas pessoas a três provas do teste de Brown/Peterson & Peterson; cada uma consistia em três itens, semelhantes aos da Tabela 3.1. Por exemplo: os itens na condição Ocu pações podiam começar com uadvogado, bombeiro, pro fessor" na primeira prova. Em seguida, as pessoas nessa condição viam listas de outras ocupações nas provas 2 e 3. Então, na quarta prova, viam uma lista de três frutas - assim como a tinham visto as pessoas nas outras quatro condições. Em todas as quatro provas e em todas as cinco condições, as pessoas foram testadas com o teste padrão de Brown/Peterson & Peterson; ou seja, viam uma lista de três palavras seguidas por um número de três dígitos. Após contarem regressivamente a partir desse número durante dezoito segundos, tentavam recordar as três palavras. Observe as cinco condições na Tabela 3.1. Você não es peraria que o acúmulo da interferência proativa na prova 4 fosse o maior para as palavras que estão na condição Frutas (controle)? Afinal, a memória das pessoas deveria estar re pleta de nomes de outras frutas que estariam interferindo com as três novas. Mas como seria o desempenho delas nas outras quatro condições? Se o significado é importante na memória de trabalho, a lembrança nessas condições de- · penderia da similaridade semântica entre esses itens e as frutas. Por exemplo: as pessoas que tinham visto hortaliças da prova 1 à prova 3 teriam um resultado um tanto fraco porque as frutas e as hortaliças são semelhantes - ambas são comestíveis e crescem no chão. As pessoas que tinham visto flores ou carnes teriam um resultado um pouco me lhor porque as flores e as carnes têm apenas um atributo em comum com as frutas. Contudo, as pessoas que tinham visto ocupações deveriam tero melhor resultado de todas MEMÓRIA DE TRABALHO 59 TABELA 3.1 A ESTRUTURA DE UM EXPERIMENTO SOBRE INIBIÇÃO A PARTIR DA INTERFERÊNCIA PROATNA. Condição Frutas (controle) Hortaliças Flores Prova 1 banana pêssego maçã cebola nabo milho margarida rosa íris Prova 2 ameixa damasco lima rabanete feijão espinafre violeta narciso zínia Prova 3 Prova 4 melão laranja limão cereja uva abacaxi batata laranja ervilha cereja quiabo abacaxi tulipa laranja dália cereja orquidea abacaxi Carnes salame porco frango bacon cachorro-quente vaca hambúrguer laranja peru cereja vitela abacaxi Ocupações advogado bombeiro professor «! ..... (lJ 1-1 1-1 o u s (lJ M «! ..... � (lJ u 1-1 (lJ p.... 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 1 dançarino mínistro executivo 2 I I I I I I contador médico editor ,Ocupações I I I I I I I I Carnes Flores I ���'t::=--Hortaliças Frutas 3 Prova 4 laranja cereja abacaxi Fig. 3.4 Inibição da interferência proativa, como função da similaridade semântica. Nas Provas 1, 2 e 3, cada grupo viu palavras que pertenciam à categoria especificada (ocupações, por exemplo). Na Prova 4, todos viram a mesma lista de três frutas. Fonte: Baseado em Wickens et al., 1976. porque as ocupações não são comestíveis nem crescem no chão. A fig. 3.4 é um exemplo do tipo de resultados que todo pesquisador espera encontrar. Observe que os resultados combinam perfeitamente com as previsões. Em resumo, os fatores semânticos influem no número de itens que podem ser armazenados na memória de trabalho porque as pala- vras previamente armazenadas podem interferir na recor dação de novas palavras semelhantes em significado. Além disso, o grau de similaridade semântica está relacionado à quantidade de interferência. A importância de fatores se mânticos na memória de trabalho também tem sido co · - mada por outros pesquisadores (Dempster, 1985; Walker & Hulme, 1999). 60 CAPÍTULO TRÊS li RESUMO DA SEÇÃO: FATORES QUE AFETAM A CAPACIDADE DA MEMÓRIA DE TRABALHO 1. O tempo de pronúncia exerce um efeito importante no número de itens que podem ser armazenados na me mória de trabalho; de maneira geral, as pessoas conse guem lembrar o número de itens que são capazes de pronunciar em um segundo e meio. 2. Os efeitos do tempo de pronúncia têm sido confirma dos para estímulos como consoantes, nomes de cores, palavras sem sentido e nomes de países; além disso, o span da memória para números é maior quando a lín gua falada pela pessoa tem números de uma única síla ba em vez de números polissilábicos. 3. O significado das palavras também pode influir na lem brança de itens armazenados na memória de trabalho; quando a categoria semântica muda entre provas vizi nhas, a lembrança aumenta. A ABORDAGEM DE BADDELEY SOBRE MEMÓRIA DE TRABALHO Conforme observamos no início deste capítulo, os pesqui sadores durante as décadas de 1950 e 1960 exploraram com entusiasmo as características da memória de curto prazo. Porém, ninguém havia desenvolvido uma teoria abrangen te para esse tipo de memória de curta duração. Na seção anterior, mencionamos rapidamente a abordagem de Bad deley. Agora que você está familiarizado com os fatores que influem na capacidade da memória de trabalho, podemos analisar a abordagem de Baddeley com mais detalhes. Alan Baddeley (1999) recorda o que o inspirou no desen volvimento de uma abordagem alternativa para a idéia da memória de curto prazo durante o início da década de 1970. Ele e um colega, Graham Hitch, tinham recebido um finan ciamento de três anos do British Medical Research Council para pesquisar a relação entre a memória de curto prazo e a memória de longo prazo. Conforme escreve Baddeley, Em um almoço, tomando café, começamos a discutir algu mas de nossas dúvidas sobre o campo de pesquisa da me mória de curto prazo naquela época. Ele estava passando por um pico de popularidade; os periódicos em psicologia Circuito fonológico estavam repletos de experimentos sobre o tema, empregan do um leque desconcertantemente amplo de técnicas e apre sentando um conjunto perturbadoramente grande de mo delos explicativos. Um único livro publicado em 1970, por exemplo, tinha treze colaboradores diferentes, cada um ex pondo um modelo diferente da memória de curto prazo. É claro que nem todos poderiam estar certos! É natural que os modelos contivessem muitos elementos em comum. Mes mo assim, sentfamo-nos desconfortavelmente parecidos com os filósofos escolásticos medievais, que passavam o tempo dis cutindo quantos anjos cabiam na ponta de um alfinete. (p. 45) Enquanto refletiam sobre esse dilema, Baddeley e Hitch compreenderam que precisavam concentrar-se em uma questão importante: o que a memória de curto prazo reali za para os nossos processos cognitivos? Acabaram por con cordar em que sua função principal é reter vários bits de informação inter-relacionados na mente da pessoa, todos ao mesmo tempo, de modo que possam ser manuseados e processados. Por exemplo, se você estiver tentando com preender a frase que está lendo exatamente agora, precisará manter na mente as palavras iniciais até saber como a frase Bloco de esboço visuoespacial Executivo central Memória de longo prazo Fig. 3.5 Modelo de memória de trabalho de Alan Baddeley, mostrando os três componentes - o circuito fonológico, o bloco de esboço visuoespacial e o executivo central - bem como sua interação com a memória de longo prazo. vai terminar. (Pense no seguinte: você realmente guardou as palavras iniciais na memória até chegar à palavra termi nar?) Baddeley e Hitch compreenderam que esse tipo de memória de trabalho seria necessário para um amplo leque de tarefas cognitivas, como cálculo mental, raciocínio e so lução de problemas. De acordo com a abordagem de Baddeley, a memória de trabalho é um sistema tripartido que conserva e mani pula temporariamente as informações enquanto executa mos tarefas cognitivas. A fig. 3.5 ilustra a estrutura básica do modelo, apresentando o circuito fonológico, o bloco de desenho visuoespacial e o executivo central. A perspectiva de Baddeley destaca que a memória de trabalho não é ape nas um arquivo passivo, com muitas prateleiras para man terem informações parcialmente processadas até elas pas sarem para outro local, provavelmente a memória de longo prazo (Smyth et al., 1994). Em vez disso, a ênfase na mani pulação da informação significa que a memória de trabalho é mais como uma bancada de trabalho onde o material está constantemente sendo manejado, combinado e transforma do. Além disso, essa bancada de trabalho contém tanto o material novo quanto o antigo que você extraiu do armaze namento (memória de longo prazo). Repare que a fig. 3.5 ilustra como o executivo central tem acesso à memória de longo prazo. Vamos começar nossa análise da pesquisa considerando em primeiro lugar por que Baddeley viu-se compelido a concluir que a memória de trabalho não é unitária. Em se guida, vamos estudar cada um dos três componentes - o circuito fonológico, o bloco de esboço visuoespacial e o executivo central. Depois, em nossa seção "Em Profundi dade", consideraremos várias habilidades importantes as sociadas às diferenças individuais na memória de trabalho. Concluiremos com uma rápida avaliação da abordagem de Baddeley a respeito da memória de trabalho. EvrntNCIAS DE COMPONENTES COM CAPACIDADES INDEPENDENTES Um estudo importante realizado por Baddeley e Hitch (197 4) forneceu evidências convincentes de que a memória de trabalho não é unitária. Esses pesquisadores apresenta ram uma série de números aleatórios a participantes instru ídos a ficar repetindo-os em ordem. A série de números variava em extensão de zero a oito itens. Em outras pala vras, a lista mais longa aproximava-se do limite superior da memória de curtoprazo, de acordo com a proposta 7 ± 2 de Miller (1956). Ao mesmo tempo, os participantes tam bém executavam uma tarefa espacial de raciocínio. Essa ta refa exigia que eles opinassem se certas afirmações sobre a ordem das letras eram corretas ou incorretas. Por exemplo: quando as duas letras BA apareciam, os participantes deve riam responder à afirmação "A vem depois de B" apertando um botão "sim". Se BA fosse acompanhado da afirmação "B vem depois de A", os participantes deveriam apertar o botão "não". MEMÓRIA DE TRABALHO 61 Imagine que você mesmo está executando essa tarefa. Não pensaria que iria levar mais tempo e cometer mais er ros na tarefa de raciocínio se tivesse de continuar a repetir oito números em vez de um apenas? Para surpresa de todos - inclusive dos participantes no estudo-, as pessoas exe cutaram o procedimento de maneira notavelmente rápida e exata nessas duas tarefas simultâneas. Baddeley e Hitch descobriram que as pessoas precisavam de menos de um segundo a mais na tarefa de raciocínio quando eram ins truídas a repetir oito números, em contraste com uma ta refa que não exigia repetição alguma. O que impressiona ainda mais é que o índice de erros permaneceu em cerca de 5%, não importando quantos números os participan tes repetissem! Os dados do estudo de Baddeley e Hitch (197 4) contradi ziam claramente a opinião de que o armazenamento tempo rário tem somente cerca de sete divisões, como Miller (1956) havia proposto. Em vez disso, a memória de curto prazo parece apresentar diversos componentes que podem agir de maneira parcialmente independente uns dos outros. O que esse estudo sugeria, na verdade, é que as pessoas podem executar duas tarefas simultâneas: uma tarefa que requeira repetição verbal e outra que requeira julgamentos espaciais. Os teóricos da memória concordam hoje em que a memória de trabalho não pode ser unitária (Miyake & Shah, 1999b). Portanto, como já descrevemos, Baddeley e colabora dores propuseram três componentes para a memória de tra balho: um circuito fonológico, um bloco de esboço visuoespacial e um executivo central (Baddeley, 1986, 1992a, 1992b, 1999; Gathercole & Baddeley, 1993; Logie, 1995). Vamos examinar cada um desses componentes: o CIRCUITO FONOLÓGICO De acordo com o modelo da memória de trabalho, o cir cuito fonológico armazena um número limitado de sons por um período curto. Susan Gathercole e Alan Baddeley (1993) argumentam que as pesquisas sobre o tempo de pro núncia sobre o qual você aprendeu na Demonstração 3.3 pode ser explicado pelo espaço limitado de armazenamen to no circuito fonológico (Gathercole 1997; Gathercole & Baddeley, 1993). Você consegue pronunciar nomes de paí ses como Cuba e Japão razoavelmente rápido, podendo assim repetir depressa um número grande deles. Em con traste, você só consegue pronunciar um número limitado de nomes mais longos, como Afeganistão e Nicarágua. Quando você tem um número maior desses nomes longos para repetir, alguns deles inevitavelmente se perderão do armazenamento fonológico. Outras Pesquisas sobre o Circuito Fonológico. Estudos adi cionais sobre o circuito fonológico têm examinado confu sões auditivas. Observamos que o circuito fonológico ar mazena informações em questão de segundos. Portanto, esperaríamos encontrar confusões auditivas nos erros de lembrança das pessoas. Tais confusões foram relatadas em dois estudos clássicos. 62 CAPÍTULO TRÊS DEMONSTRAÇÃO 3.4 CONFUSÕES AUDITIVAS NO CIRCUITO FONOLÓGICO Procure um amigo que possa ajudar você neste breve estudo. Leia para ele as instruções que se seguem: Vou ler para você várias listas de itens. Cada lista incluirá tanto letras como números. Depois que eu ler uma lista, quero que você escreva todos os itens que conseguir lembrar e na ordem correta. Está bem? Vamos começar. [Aliás, use uma régua ou folha de papel para ajudar você a ler cada fila com mais exatidão.] 4 N F 9 G 2 7 p B 3 o 6 7 w 1 L 5 A 7 z 3 M 4 T 6 8 c H 5 R 3 A y 2 D 9 J V 1 6 3 K N S 8 X 4 7 9 o 7 M 2 y 3 z T 8 R 3 A L 2 5 Se não conseguir um amigo que queira tentar esse estudo, pode testar a si próprio, descobrindo uma linha de itens e depois cobrindo-a novamente e tentando lembrar os itens na ordem. Porém, essa variação da demonstração pode ser menos eficaz, porque os itens não serão apresentados em voz alta. De algum modo, é provável que você codifique a maioria deles em seu circuito fonológico, mas poderia confundir alguns itens com itens visualmente similares, em vez de itens acusticamente similares. Primeiro, consideremos a situação apresentada na De monstração 3.4. Assim que puder, procure alguém que possa ajudá-lo a experimentar essa demonstração. Ela se baseia em um estudo clássico de Wickelgren (1965). Apresentou se uma fita de gravador contendo uma lista com oito itens a alguns participantes. Cada lista consistia em quatro letras e quatro números em ordem aleatória, como as listas da demonstração. Assim que a fita chegava ao fim, as pessoas tentavam lembrar a lista na mesma ordem. Os participan tes eram testados dessa maneira com uma série de oito lis tas contendo, cada uma delas, oito itens. Wickelgren interessava-se em especial pelos tipos de substituição feitos pelas pessoas. Por exemplo: se não lem bravam corretamente o P no final da primeira lista de itens na Demonstração 3.4, o que lembravam no lugar dele? Wickelgren descobriu que as pessoas tendiam a substituir por um item acusticamente similar. Por exemplo, poderiam substituir o P por B, C, D, G, Q, T ou V, todas as letras que se pronunciam com som de "ê". Além disso, se colocassem um número em lugar do P, provavelmente seria o número 6. Quando você experimentar a Demonstração 3.4, obser ve se seu amigo apresenta um padrão semelhante de subs tituição acústica de estímulos similares. Ele, ou ela, tam bém confundem M com N? Essa pessoa é razoavelmente exata ao lembrar o W na segunda prova? Afinal nenhuma letra ou número é acusticamente similar ao W. Em um segundo estudo clássico, os participantes foram instruídos a ler listas de palavras inglesas que continham pares de homônimos (Kintsch & Buschke, 1969). Os ho- mônimos são duas palavras similares em som, como 50 e 5ew, por exemplo.* Uma lista típica nesse estudo poderia conter a seguinte seqüência: tacks, so, buy, owe, tied, sew, tax, by, tide, oh Os participantes eram instruídos a decorar cada lista de palavras na ordem. Depois que o material era apresentado, os pesquisadores citavam uma palavra da lista, por exem plo, a palavra escrita 50. Os participantes eram instruídos a citar a palavra seguinte da lista; neste caso, a resposta cor reta seria buy. Kintsch e Buschke descobriram que, quando as pessoas erram, tendem a citar a palavra que vem depois do homônimo. Neste exemplo, poderiam citar a palavra tax (que vem depois de 5ew). Essas confusões tinham maior probabilidade de ocorrer no final da lista. Esse padrão faz sentido porque os itens finais da lista têm a probabilidade de estar na memória de trabalho, onde é provável ocorre rem confusões acústicas para itens verbais. Dois Componentes do Circuito Fonológico. De acordo com progressos mais recentes da abordagem da memória de tra balho, o circuito fonológico contém dois componentes dis tintos (Gathercole & Baddeley, 1993). Um dos componen tes, o armazenamento fonológico, conserva uma quanti dade limitada de informações em um código acústico que declina depois de alguns segundos. O segundo componen- *Em português, teríamos seção e sessão. (nota do tradutor) re, o processo de repetição subvocal, permite que a pes soa repita em silêncio para si mesma as palavras do arma zenamento fonológico. Esse processo ajuda a conservar os itens no armazenamento fonológico. De fato, quando a pessoa é impedida de repetir subvocalmente, os itens no armazenamento fonológico desaparecem gradualmente em poucos segundos (Healy & McNamara, 1996). A repetição subvocaltambém é usada para traduzir palavras impressas, gravuras e outro material não auditivo em forma fonológica, de modo que podem ser mantidos no armazenamento fonológico. A Base Biológica do Circuito Fonológico. Estudos recentes também têm sido realizados com técnicas de imageamento cerebral. De maneira geral, esses estudos demonstram que as tarefas fonológicas ativam o hemisfério esquerdo do cé rebro (Gazzaniga et al., 1998). Essa descoberta faz sentido, como você pode ter visto em outras disciplinas em psicolo gia. Comparado ao hemisfério direito do cérebro, o hemis fério esquerdo é mais propenso a processar informações relativas à linguagem. Pesquisas mais detalhadas de image amento cerebral sugerem que o armazenamento fonológico está associado ao lobo parietal do córtex (veja fig. 2.1). Além disso, o processo de repetição subvocal está associado ao lobo frontal, em particular às regiões do lobo frontal que lidam com a fala (Smith & Jonides, 1997, 1998, 1999). Outros Empregos do Circuito Fonológico. O circuito fonológico desempenha um papel importante na nossa vida quotidiana, além de seu papel evidente na memória de tra balho (Baddeley, 1999). Procure contar o número de pala vras contidas na frase anterior. Você consegue ouvir sua "voz interna" pronunciando os números em silêncio? Agora pro cure contar o número de palavras na mesma frase, dizendo depressa a palavra de enquanto está contando. Quando seu circuito fonológico está preocupado em dizer de, você não consegue executar nem mesmo uma simples tarefa de con tagem! O circuito fonológico também desempenha um pa pel importante na leitura, como veremos no Cap. 8. Diga a verdade: você consegue ler uma palavra longa como fonológico sem pronunciá-la em silêncio? Observe como esses usos do circuito fonológico ilus tram o Tema 4 deste livro: os processos cognitivos estão inter-relacionados uns com os outros; não agem isolada mente. Algumas tarefas de solução de problemas (veja Cap. 10), por exemplo, exigem o circuito fonológico da memó ria de trabalho a fim de não perder de vista os números e outras informações. As habilidades de leitura (veja Cap. 8), que ocupam um lugar tão central em muitas tarefas cogni tivas, também dependem demais do circuito fonológico. Bioco DE EsBoço V1suoESPACIAL Um segundo componente do modelo de Baddeley da me mória de trabalho é o bloco de esboço visuoespacial, que armazena informações visuais e espaciais. Esse bloco de es boço também armazena informações visuais codificadas a MEMÓRJA DE TRABALHO 63 partir de estímulos verbais (Baddeley, 1999; Logie, 1995) - é o caso de quando um amigo conta uma história você se pega visualizando a cena. Casualmente, o bloco de es boço visuoespacial tem sido conhecido por vários nomes diferentes, como bloco de rascunho visuoespacial e memória de trabalho visuoespacial. Você pode encontrar esses termos alter nativos em outras fontes sobre a memória de trabalho. Ao começar a ler sobre o bloco de esboço visuoespacial, lembre-se das pesquisas de Baddeley e Hitch (197 4) que discutimos antes. As pessoas podem trabalhar simultanea mente em uma tarefa verbal (repetindo um número) e em uma tarefa espacial (emitindo opiniões sobre a posição re lativa das letras A e E). Contudo, como o circuito fonológico, a capacidade do bloco de esboço visuoespacial é limitada (Baddeley, 1999; Frick, 1988, 1990). Lembro-me de ter dado aula de geome tria a uma aluna do ensino médio. Quando trabalhava so zinha, muitas vezes ela tentava resolver os problemas geo métricos em um pedaço pequeno de papel. Como você pode imaginar, o espaço restrito fazia com que ela cometesse muitos erros. De modo semelhante, quando entram itens por demais na sua memória de trabalho visuoespacial, você não consegue representá-los com exatidão suficiente para serem recuperados com êxito. Alan Baddeley (1999) descreve uma experiência pessoal que o fez avaliar como uma tarefa visuoespacial pode inter ferir em outra. Como cidadão britânico, ficou muito fasci nado com o futebol americano ao passar um ano nos Esta dos Unidos. Em certa ocasião, resolveu ouvir uma partida de futebol enquanto dirigia em uma auto-estrada da Cali fórnia. A fim de entender o jogo, julgou necessário formar imagens claras e detalhadas da cena e da ação. Porém, en quanto criava essas imagens, descobriu que o carro come çou a desviar da pista! Baddeley considerou que era impossível executar uma tarefa que exigia uma imagem mental - com componen tes visuais e espaciais - ao mesmo tempo que executava uma tarefa espacial que exigia manter o carro dentro de fronteiras estabelecidas. Baddeley chegou à conclusão que tinha de ligar o rádio em um programa de música a fim de dirigir com segurança. Como você pode imaginar, a expe riência que Baddeley teve de uma tarefa dual inspirou al gumas pesquisas de laboratório. Essas pesquisas confir maram a dificuldade de executar duas tarefas visuoes paciais ao mesmo tempo (Baddeley, 1999; Baddeley et al., 1973). De maneira geral, têm-se conduzido menos pesquisas sobre o bloco de esboço visuoespacial do que sobre o cir cuito fonológico (Engle & Oransky, 1999; Healy & McNa mara, 1996). Contudo, no Capítulo 6 examinaremos alguns tópicos relacionados, em especial, as manipulações men tais que executamos nas informações visuoespaciais. Nes ta presente discussão, vamos considerar um estudo sobre a codificação visual e um outro sobre a codificação espacial. Também veremos rapidamente algumas pesquisas impor tantes sobre imageamento cerebral. 64 CAPÍTULO TRÊS Codificação Visual na Memóna de Trabalho. Os alunos de disciplinas como engenharia, pintura e arquitetura usam com freqüência a codificação visual e o bloco de esboço visuoespacial em seus estudos acadêmicos. Talvez seja mais seguro dizer que os alunos dos cursos de psicologia e ou tras ciências sociais são mais propensos a usar a codifica ção verbal/auditiva e o circuito fonológico. Em nossas atividades quotidianas não acadêmicas, a codificação auditiva também parece ser o mesmo mecanis mo padrão para codificar itens na memória de trabalho. Porém, quando essa opção auditiva não está disponível, os itens podem ser codificados segundo suas características visuais. Vamos examinar as pesquisas realizadas por M. A. Brandimonte e colaboradores (1992), que evidenciam que as pessoas usam a codificação visual quando a codificação auditiva é suprimida. Em particular, vamos comparar o desempenho de dois grupos de participantes em um dos estudos de Brandimon te. Em uma condição, que chamaremos de grupo de con trole, as pessoas viam uma série de seis figuras de objetos, como os que levam o título "Figura original" na fig. 3.6. Durante a Tarefa 1, a série era repetida até que os partici pantes decorassem a ordem das figuras. Na Tarefa 2, pediu-se aos participantes do grupo de con trole que criassem uma imagem mental de cada figura da série e que retirassem uma parte especificada de cada ima gem.Pedia-se-lhes, então, que dessem um nome à imagem resultante. Por exemplo: suponha que eles criaram a ima gem mental do bombom na fig. 3.6 e que depois retiraram a parte especificada. Observe que eles deveriam terminar descrevendo a imagem resultante como um peixe. De ma neira semelhante, o cachimbo menos a parte especificada deveria ser descrito como uma tigela. Os participantes nes sa condição de controle tiveram êxito em dar nomes corre- tos a uma média de 2,7 itens somente, em um máximo de 6,0 itens. Durante a Tarefa 1, haviam provavelmente usado a codificação auditiva para aprender os nomes dos estímu los; ou seja, repetiam em silêncio os nomes "bombom", "cachimbo" e assim por diante. Normalmente não criavam um código visual para os estímulos. Como resultado, em geral não tinham qualquer imagem visual da qual podiam retirar a parte especificada na Tarefa 2. Sem uma imagem visual, a Tarefa 2 era tão desafiadora que eles respondiam corretamentea menos de metade dos itens. Os participantes no segundo grupo desempenharam a maioria das mesmas tarefas que os do grupo de controle. Contudo, havia uma exceção; enquanto estavam decoran do a lista original de figuras na Tarefa 1, eram instruídos a repetir um som sem importância ("lá-lá-lá"). Observe que essa repetição bloquearia a representação auditiva de cada figura, criando a supressão verbal. Você não consegue di zer "bombom" e "cachimbo" para si mesmo se estiver can tando "lá-lá-lá" em voz alta! Qual foi o êxito dos participantes no grupo de supres são verbal na Tarefa 2, ao identificarem a imagem criada pela retirada da parte específica? Como se revelou, eles ti veram um desempenho significativamente melhor do que as pessoas na condição de controle. De fato, deram nomes corretos a 3,8 itens em média. Como a codificação auditiva tinha sido difícil, havia mais probabilidade de usarem a co dificação visual. Como resultado, na tarefa de retirada de parte da figura tiveram pouca dificuldade para retirar uma parte da imagem visual. Codificação Espacial na Memóna de Trabalho. Assim que puder, solicite a vários amigos para experimentarem a De monstração 3.5. Veja se os amigos que fecharam os olhos constroem a matriz de maneira mais exata. Figura original Parte especificada Imagem que para ser subtraída da deveria resultar imagem mental depois da subtração 1. ~ � b 2. ~ � u Fig. 3.6 Dois estímulos empregados em estudo realizado por Brandimonte e colaboradores. Fonte: Baseado em Brandimonte et al., 1992. DEMONSTRAÇÃO 3.S INTERFERÊNCIA NO BLOCO DE ESBOÇO VISUOESPACIAL MEMÓRJA DE TRABALHO 65 Para esta demonstração você precisará reunir vários amigos que possam fazer o teste em grupo. Comece cobrindo as instruções. Mostre ao grupo somente a matriz de quadrados na parte inferior da demonstração. Chame a aten ção para a estrela que há em um dos quadros e diga-lhes que devem procurar visuahzar essa matriz, com a estrela, enquanto seguem suas instruções. Depois de lhes haver mostrado a matriz, diga-lhes que você vai ler uma lista de frases. Eles deverão procurar visualizar a matriz começando com o quadrado que tem a estrela, e depois seguir as instruções com bastante cuidado. Peça a uma metade do grupo para fechar os olhos e à outra metade para olhar para um objeto específico no cômodo. Então leia em voz alta as seguintes frases: No quadrado com a estrela, coloque um 1. No quadrado logo à direita, coloque um 2. No quadrado logo à direita, coloque um 3. No quadrado logo abaixo, coloque um 4. No quadrado logo à esquerda, coloque um 5. No quadrado logo abaixo, coloque um 6. No quadrado logo à esquerda, coloque um 7. No quadrado logo acima, coloque um 8. No quadrado logo à esquerda, coloque um 9. No quadrado logo abaixo, coloque um 10. Finalmente, entregue a cada aluno uma matriz em branco (da qual você deve ter feito cópias de antemão) e peça lhes para colocar o número adequado no quadrado adequado. Quando todos tiverem acabado, recolha os papéis e conte o número de algarismos colocados corretamente pelo grupo que estava de olhos fechados e pelo grupo que estava de olhos abertos. 0focê encontrará a resposta no final deste capítulo.) * 1 A Demonstração 3.5 baseia-se em um estudo feito por Toms e colaboradores (1994). Eles solicitaram aos partici pantes da pesquisa que executassem uma tarefa espacial como essa, sob quatro condições. Duas delas tinham inter ferência visual mínima: os participantes ficavam de olhos fechados ou olhavam para um monitor com a tela em bran co. As duas outras condições envolviam interferência visu al: os participantes olhavam para um quadrado branco na tela ou para um padrão, também na tela, que mudava con tinuamente de azul para branco. Como você pode ver na Tabela 3.2, as pessoas se saíam consideravelmente melhor nas duas condições sem inputs visuais que interferissem em sua memória visuoespacial de trabalho. Toms e colaboradores também solicitavam a outros participantes que executassem uma tarefa verbal. Essa tarefa exigia que eles lembrassem frases sem sentido que não contivessem quaisquer informações espaciais. Nela, as palavras up [para cima], down [para baixo], lefi [à es querda] e right [à direita] foram substituídas pelas pala vras good [bom], bad [ruim], slow [lento] e quick [rápido]. Assim, uma amostra de frase poderia ser "ln the next square to the quick, put a 2" [No próximo quadrado, ao 66 CAPÍTULO TRÊS TABELA 3.2 EFEITO DA CONDIÇÃO VISUAL SOBRE A EXATIDÃO NOS RESULTADOS EM UMA TAREFA VISUAL E EM UMA TAREFA VERBAL. Média de percentagens de respostas corretas por prova em cada condição Olhos Fechados Tela em Branco Quadrado Padrão Tarefa espacial Tarefa verbal 85% 77% 84% 77% 69% 73% 69% 80% Fonte: Baseado em Toms et al, 1994. rápido, coloque um 2]. Estes participantes ouviam essas frases sem sentido sob as mesmas quatro condições usa das na tarefa espacial. Contudo, como faltavam as pala vras espaciais, é possível que sua memória visuoespacial de trabalho ficasse inativa. Conforme mostra a Tabela 3.2, o segundo grupo de par ticipantes lembrava a mesma percentagem de frases em to das as quatro condições da tarefa verbal. Provavelmente, essa tarefa verbal empregue o circuito fonológico e, por isso, o input da tela do monitor não forneça interferências de importância. Como enfatiza a abordagem da memória de trabalho, o bloco de esboço visuoespacial e o circuito fonológico trabalham independentemente. Além disso, o input visual interfere no bloco de esboço, mas não tem qual quer efeito no circuito fonológico. Base Biológica do Bloco de Esboço Visuoespacial. De ma neira geral, as pesquisas sobre imageamento cerebral suge rem que as tarefas visuais e espaciais tendem a ativar o he misfério direito do córtex, e não o hemisfério esquerdo (Awh & Jonides, 1999; Gazzaniga et al., 1998; Smith & Jonides, 1997). Esses estudos devem ir ao encontro de informações que você provavelmente recebeu em outros cursos - o hemisfério direito é responsável em geral por tarefas espa ciais, não verbais. As tarefas visuais e espaciais muitas vezes ativam várias partes diferentes do córtex. Por exemplo: as tarefas da me mória de trabalho com um componente visual forte nor malmente ativam a região occipital, parte do cérebro res ponsável pela percepção visual (Smith & Jonides, 1997) (veja novamente a fig. 2.1). Além disso, diversas regiões do cór- tex frontal estão ativas quando as pessoas trabalham em tarefas visuais e espaciais (Cabeza & Ny berg, 1997; Courtney et al., 1998; Smith & Jonides, 1998). Pesquisas recentes sobre a memória espacial de trabalho também su gerem que as pessoas repetem mentalmente esse material deslocando a atenção seletiva de um local para outro em sua imagem mental (Awh et al., 1998). Como resultado, essa repetição mental ativa áreas nos lobos frontal e parie tal. São as mesmas áreas do córtex associadas à atenção, conforme discutimos no Cap. 2. EXECUTNO CENTRAL De acordo com o modelo da memória de trabalho, o exe cutivo central integra informações que vêm do circuito fonológico e do bloco de esboço visuoespacial, bem como da memória de longo prazo. O executivo central também desempenha um papel importante na atenção, planejando estratégias e coordenando o comportamento (Baddeley, 1992b; Gathercole & Baddeley, 1993; Healy & McNamara, 1996). Além disso, o executivo central é responsável pela supressão de informações não pertinentes (Engle & Conway, 1998). Em nossas atividades diárias, nosso executivo cen tral auxilia a decidir o que fazer em seguida. Também auxi lia a decidir o que não fazer, de modo a não nos afastarmos do objetivo inicial. A maioria dos pesquisadores considera que o executivo central planeja e coordena informações, mas não as arma zena (Richardson, 1996a, 1996b). Como você sabe, tanto o circuito fonológico quanto o bloco de esboço visuoespacial detêm sistemasespecializados de armazenamento. UMA TAREFA Q!JE EXIGE RECURSOS DO EXECUTIVO CENTRAL Pegue um relógio com ponteiro de segundos. Sua tarefa é produzir uma seqüência de números aleatórios. Em particular, verifique se sua lista contém uma proporção aproximadamente equivalente dos números que vão de 1 a 10. Verifique também se a lista não mostra qualquer repetição sistemática na seqüência. Por exemplo: o nú mero 4 deverá ser seguido com a mesma freqüência por cada um dos números de 1 a 10. Cada vez que o ponteiro de segundos avançar um segundo, acrescente outro número à seqüência. (Diga o número em voz alta, se não houver mais ninguém no cômodo; caso haja, diga o número para si mesmo.) Con tinue executando essa tarefa por cerca de cinco minu tos. Se começou a devanear, reparou que nesse momen to você não se esforçou tanto quanto antes na produção de uma verdadeira seqüência aleatória de números? Em comparação com os outros dois sistemas, é mais di fícil estudar o executivo central empregando técnicas con troladas de pesquisa. Porém, ele exerce importante papel nas funções gerais da memória de trabalho. Como Badde ley (1986 ) frisa, se nos concentrássemos, digamos, no cir cuito fonológico, a situação se pareceria com uma análise crítica do Hamlet que enfocasse Polônio - personagem menos importante - e não tomasse conhecimento algum do príncipe da Dinamarca! Baddeley (1986, 1999) propõe que o executivo central trabalha como supervisor executivo em uma organização. De acordo com essa metáfora, o executivo decide quais os assuntos que merecem atenção e quais os que seriam igno rados. O executivo também seleciona estratégias, calculan do como manejar um problema. Examinaremos o assunto da seleção de estratégia de modo mais completo no Cap. 5, em conexão com a metacognição. Como qualquer executivo em uma organização, o exe cutivo central tem capacidade limitada para executar tare fas simultâneas; nosso executivo cognitivo não consegue tomar muitas decisões ao mesmo tempo. Além disso, como qualquer supervisor competente, o executivo central reúne informações de diversos tipos de fontes. Para continuar com essa metáfora, o executivo central na memória de trabalho sintetiza as informações que vêm de dois assistentes, o cir cuito fonológico e a memória visuoespacial de trabalho, e também da grande biblioteca conhecida como memória de longo prazo. No próximo capítulo examinaremos as carac terísticas desse admirável armazém. Em contraste com as capacidades restritas do circuito fonológico e da memória visuoespacial de trabalho, a memória de longo prazo não tem limites. O Executivo Central e o Pensamento Independente de Es tímulo. Neste exato momento você pode estar envolvido em um pensamento independente de estímulo, uma ex pressão bem mais elegante para designar a atividade ligei ramente embaraçosa que costumamos chamar de "deva neio". De modo mais formal, os pensamentos indepen dentes de estímulo são correntes de pensamentos e ima gens não relacionados ao input sensorial que está em fluxo de processo nos seus receptores sensoriais. Por exemplo: agora mesmo, você pode estar pensando em um comentá rio feito ontem por um amigo ou naquilo que você estará fazendo na próxima semana. O interessante é que esses pensamentos independentes de estímulo exigem esforços do executivo central. Vejamos um estudo de Teasdale e colaboradores (1995). Esses pes quisadores examinaram duas tarefas que, supuseram eles, iriam competir pelos recursos limitados associados ao exe cutivo central. Experimente a Demonstração 3.6 para ilus trar uma dessas tarefas, chamada tarefa de geração de números aleatórios. Como sugere o nome, os participantes foram ins truídos para fornecer um número por segundo, obedecen do à faixa de 1a10, em proporções aproximadamente iguais e em seqüência aleatória. A tarefa é desafiadora! A cada dois MEMÓR.IA DE TRABALHO 67 minutos, mais ou menos, o pesquisador interrompia a tare fa e pedia ao participante para anotar qualquer coisa em que pensasse. Os pesquisadores então examinaram as provas em que os participantes relatavam que haviam pensado sobre os números, ou então, que nada haviam pensado de especial. Nesses testes, os resultados mostraram que os participan tes tinham conseguido produzir com êxito uma seqüência aleatória de números. Em contraste, quando relatavam pen samentos independentes de estímulo, os resultados mos travam que suas seqüências de números estavam longe de serem aleatórias. Aparentemente, seus devaneios ocupavam tantos recursos do executivo central que eles não consegui am criar uma seqüência de fato aleatória de números. A Base Biológica do Executivo Central. De maneira geral, os pesquisadores sabem menos sobre o fundamento bioló gico do executivo central do que sobre os outros dois com ponentes da memória de trabalho. As pesquisas sobre irna geamento cerebral mostram claramente que o lobo frontal do córtex é a porção mais ativa do cérebro quando as pes soas trabalham em vários tipos de tarefa do executivo cen tral (Smith & Jonides, 1997). Contudo, os processos execu tivos não parecem estar confinados a quaisquer locais es pecíficos dentro do lobo frontal (Beardsley, 1997). Até certo ponto, essa incerteza sobre a atividade do lobo frontal se deve ao fato de que o executivo central na verda de lida com um grande número de tarefas distintas (Smith & Jonides, 1999). Suponha, por exemplo, que você está redigindo um trabalho para seu curso de psicologia cogni tiva. Enquanto faz isso, seu executivo central pode inibir você de prestar atenção a alguma pesquisa que não tenha importância para a sua abordagem. Também pode ajudá-lo a planejar a ordem dos tópicos a serem comentados. Além disso, ele o guia enquanto você planeja o cronograma de redação do trabalho. Cada uma dessas tarefas do executivo central parece ser qualitativamente diferente, embora todas sejam desafiadoras. Talvez tenhamos respostas mais defi nitivas sobre os correlatos biológicos do executivo central quando tivermos classificações mais nítidas dos tipos de tarefas por ele executadas. Novos RuMos PARA AS PEsornsAs SOBRE MEMÓRIA DE TRABALHO Na década de 1980 e no início da de 1990, a maioria das pesquisas sobre a memória de trabalho concentrava-se no circuito fonológico. Pesquisas mais recentes têm examina do a memória visuoespacial de trabalho e o executivo cen tral. Estas pesquisas têm demonstrado que a memória de trabalho é tão flexível como estratégica. As perspectivas atuais são muito diferentes da visão que se tinha durante as décadas de 195 0 e 196 0 de que a memória de curto prazo era relativamente rígida e de capacidade fixa. Um dos progressos mais recentes nessa área é que os pesquisadores estão procurando examinar a memória de 68 CAPÍTULO TRÊS trabalho a partir da perspectiva do processamento distribu ído paralelo, a nova teoria de destaque mencionada no Cap. 1(Logie,1995; Schneider, 1999). Outro caminho dessas pes quisas tem sido relacionar a memória de trabalho a outros sistemas cognitivos. Carlson e colaboradores (1993), por exemplo, têm estudado como as informações que vêm da memória de trabalho se coordenam com as informações que vêm da percepção. Além disso, outros pesquisadores estão investigando o modo como armazenamos conceitos na me mória de trabalho (Potter, 1999; Saffran & Martin, 1999). Outros psicólogos estão procurando expandir o modelo da memória de trabalho. Berz (1995) destaca que o modelo não explica a memória musical. Em alguns casos, podemos ouvir música instrumental sem perturbar o desempenho de outras tarefas auditivas. E ainda há psicólogos que começaram a examinar as di ferenças individuais na memória de trabalho. Essa área de pesquisa mostrou-se especialmente produtiva durante a última década e, por isso, vamos examiná-la na seção "Em Profundidade". !EM PRÓ FU NDi DAD E 1 DIFERENÇAS INDMDUAIS NA MEMÓRIA DE TRABALHOOs psicólogos cognitivistas geralmente realizam pesqui sas que enfocam habilidades humanas específicas. Por exemplo, os pesquisadores interessados na percepção podem admitir que as pessoas podem diferir umas das outras na habilidade em reconhecer fisionomias ou na exatidão em executar uma tarefa de atenção dividida. Contudo, suas pesquisas e teorias dão ênfase a regras gerais que podem ser aplicadas ao sistema visual huma no. Uma exceção notável são as pesquisas sobre as dife renças individuais na memória de trabalho. Considere mos estas três perguntas a respeito das diferenças indi viduais: 1. Como a capacidade da memória de trabalho está relacionada às habilidades de linguagem? 2. Como a capacidade da memória de trabalho está relacionada à capacidade de leitura? 3. Como pode a teoria da memória de trabalho ex plicar as capacidades extraordinárias de memória que algumas pessoas têm? Memória de Trabalho e Habilidades de Linguagem. Virginia Rosen e Randall Engle (1997) conjecturaram que a capacidade da memória de trabalho estaria relaciona da a uma forma específica de habilidade, a saber, o nível geral de fluência verbal das pessoas. Pense em algumas pessoas extremamente fluentes. Elas falam sem hesita ção, parecendo capazes de buscar na memória, com pouca dificuldade, uma grande variedade de palavras; já outras falam de maneira mais hesitante e têm vocabulá rio mais limitado. Rosen e Engle projetaram um teste de memória de trabalho que enfocava especialmente o executivo cen tral. Esse teste está ilustrado na Tarefa 1 da Demonstra ção 3.7. Observe que é uma tarefa desafiadora porque exige a coordenação da capacidade de resolver proble mas (a tarefa de aritmética) com o circuito fonológico (a tarefa de memória). Rosen e Engle aplicaram o teste a um grupo de universitários, apresentando muitos itens a fim de obterem uma medida fidedigna da memória de trabalho. Os universitários dentre os 25% com escore mais elevado do grupo (escore elevado em memória de trabalho) e os universitários dentre os 25% com escore mais baixo (escore baixo em memória de trabalho) fo ram convidados a participar da segunda parte do estu do. Essa segunda parte assemelhava-se à Tarefa 2 da De monstração 3.7, exceto pelo fato de que os participantes produziam nomes de animais durante um total de quin ze minutos. O número total de nomes diferentes de ani mais foi usado como medida de fluência verbal. A fig. 3.7 compara a fluência verbal média dos uni versitários que obtiveram escore elevado com a dos que obtiveram escore baixo. Como se pode notar, os dois grupos diferem mesmo durante o primeiro minuto do teste de fluência verbal. Antes do fim do período de quin ze minutos, os estudantes com escore elevado de me mória de trabalho tinham listado cerca de 50% a mais de nomes de animais do que os estudantes com escore baixo. Lembre-se também de que Rosen e Engle testa ram somente alunos universitários. Uma amostra de participantes que incluísse uma população mais geral iria, sem dúvida, mostrar uma diferença ainda maior na flu ência verbal entre as pessoas com escore alto e baixo no teste de memória de trabalho. O estudo de Rosen e Engle (1997) ilustra que o con ceito de memória de trabalho está mesmo relacionado às habilidades de linguagem. As pessoas que conseguem lembrar uma lista de palavras em ordem, enquanto exe cutam um cálculo mental, são capazes de demonstrar fluência verbal, buscando na memória um grande nú mero de palavras importantes. Há pesquisas que têm abordado um outro aspecto das habilidades de linguagem: a capacidade de aprender o vo cabulário de uma língua estrangeira. Atkins e Baddeley (1998) testaram o span da memória verbal tanto para le tras quanto para números. As pessoas com escore eleva do acertaram mais do que as que apresentaram escore baixo na aprendizagem dos pares de palavras em inglês finlandês. Nesse caso, pois, o circuito fonológico da me mória de trabalho ajuda as pessoas a associarem uma pa lavra familiar a uma palavra de língua estrangeira. É inte- DEMONSTRAÇÃO 3.7 MEMÓRIA DE TRABALHO 69 RELAÇÃO ENTRE A MEMÓRIA DE TRABALHO E A FLUÊNCIA VERBAL Tarefa 1: Sua primeira t.arefa é uma medida da memória de trabalho que enfoca o executivo central. Você precisará executar uma série de problemas aritméticos enquanto conserva algum material na memória. Supo nha, por exemplo, que você está vendo o seguinte item: (3 X 4) - 2 = 10? ÁRVORE. Primeiro, responda "sim" ou "não" ao problema aritmético (neste caso, "sim"). Olhe então a palavra que vem depois do ponto de interrogação e guarde essa palavra. Agora pegue um pedaço de papel em branco e recorte uma "janela" para expor um item de cada vez. Passe ª rapidamente pela list.a, mas procure ser exato. Quando terminar, feche o livro e lembre as seis palavras na ordem. Seu grau de exatidão nest.a tarefa de memória é a medida da memória de trabalho empregada por Rosen e Engle (1997). (5 X 3) + 4 = 17? (6 X 2) - 3 = 9? (9 X 3) - 4 = 21? (4 X 4) + 6 = 22? (3 X 8) - 8 = 16? (7 X 5) - 2 = 32? LNRO FLOR CADEIRA SAPO PAPEL CAMISA Lembre agora as palavras na ordem corret.a. Tarefa 2. Agora pegue um relógio. Durante os próximos dois minutos, escreva todos os nomes de animais que puder. Procure não repetir nenhum. Esta é a medida da fluência verbal empregada no estudo de Rosen e Engle. 6 Escore elevado de memória de trabalho • Escore baixo de memória de trabalho 120 l 100 ::l � 80 20 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 Minutos gastos na tarefa Fig. 3.7 Número médio de nomes de animais fornecidos por pessoas com memória de trabalho elevada e com memória de trabalho baixa. Esta figura mostra lembranças acumuladas. Fonte: Rosen & Engle, 1997. 70 CAPITULO TRÊS ressante notar, no entanto, que o span da memória visuoespacial não estava relacionado a aprendizagem de um vocabulário estrangeiro. Em outras palavras, o bom desempenho da memória fonológica - mas não o bom desempenho da memória visuoespacial - está especifi camente ligado ao aprendizado eficaz de novo material verbal. Memória de Trabalho e Habilidades de Leitura. Vári os pesquisadores têm demonstrado que a memória de trabalho está relacionada a medidas da capacidade de leitura. As pessoas com grandes spans de memória de trabalho são particularmente hábeis em adivinhar o sig nificado de palavras incomuns com base no contexto da frase (Daneman & Green, 1986). Ao que parece, seu gran de span de memória permite que elas sejam eficientes na leitura, de modo que ficam com mais atenção "so brando" para lembrar as pistas contextuais importantes. A memória de trabalho também desempenha um papel na decodificação de frases. Miyake e colaborado res (1994) solicitaram que algumas pessoas lessem fra ses como esta: Since Ken really liked the boxer, he took a bus to the nearest pet store to buy the animal. [Como Ken gostava realmente do boxer, ele tomou um ônibus até a loja de animais mais próxima para comprar o animal.] Observe que, de início, a palavra boxer é ambígua: esta mos falando de um atleta ou de um cão? Os leitores que tinham grande capacidade de memória de trabalho eram bastante capazes de ativar ambos os significados da pa lavra boxer e mantê-los na mente até a ambigüidade ser resolvida. Por sua vez, os leitores com pouca capacidade de memória de trabalho, tinham dificuldade para ler a frase quando ela se referia ao sentido menos comum da palavra ambígua (como neste exemplo). Tudo indica que esses leitores inicialmente construíram somente uma única interpretação para boxer e tiveram de lutar para construir o significado alternativo. Memória de Trabalho e Experts da Memória. K. Anders Ericsson tem estudado os experts da memória por cerca de vinte anos. Vejamos um estudo clássico de dois indivíduos capazes de expandir de maneira impressio nante seu span de memória (Chase & Ericsson, 1981). Como você sabe, muitos de nós somos capazesde lem brar cerca de sete números seguidos. Um homem cha mado S. F., porém, conseguia alcançar o extraordinário span de memória de cerca de oitenta itens. S. F. não re cebia treinamento no aprimoramento da memória nem instrução sobre isso. Ele, no entanto, era um bom corre dor de longa distância e logo começou a codificar os números dos tempos gastos em diversas corridas. Con seguia lembrar, por exemplo, a seqüência 3492 como "3 minutos e 49,2 segundos, próximo do recorde mundial de corrida de uma milha". Ele construiu códigos seme lhantes para outros números nas séries. Mais recentemente, Ericsson e seu co-autor Peter De laney desenvolveram uma teoria para explicar o excep cional desempenho de memória de indivíduos como S. F. Como você sabe, a memória de trabalho tem capaci dades limitadas de armazenamento; por isso, o modelo padrão de três componentes de Baddeley da memória de trabalho não pode explicar como alguém como S. F. consegue lembrar uma lista extensa de números. Para abordar esse assunto, Ericsson e Delaney (1998, 1999) propõem que os indivíduos altamente hábeis podem ul trapassar a capacidade limitada da memória de trabalho empregando habilidades que lhes permitem armazenar material importante na memória de longo prazo. Con tudo, eles têm um acesso rápido a esse material porque as pistas específicas de recuperação conectadas a ele são conservadas na memória de trabalho. Em termos espe cíficos, o termo memória de trabalho de longo prazo é definido como um conjunto de estratégias adquiridas que permitem aos experts expandirem seu desempenho de memória em certos tipos de material dentro dos do- mínios da perícia (expertise). · A perícia de S. F. em velocidades de corrida, junta mente com as estratégias por ele adquiridas para seg mentar a seqüência de números, permitiu-lhe desenvol ver uma memória de trabalho de longo prazo. Outros experts de memória desenvolvem suas formas pessoais de memória de trabalho de longo prazo em áreas espe cíficas. Esses experts incluem tanto um garçom que de cora até vinte pedidos completos de jantar, um enxa drista que joga diversas partidas simultâneas de xadrez (e de olhos vendados!) quanto médicos que avaliam com rapidez diagnósticos alternativos para uma enfermidade (Ericsson, 1985; Ericsson & Delaney, 1999). A perícia é hoje um assunto palpitante na psicologia cognitiva que continuaremos a examinar em todo o livro. O Cap. 4, por exemplo, detém-se em outros aspectos da perícia de memória e o Cap. 10 discute os experts em resolução de problemas. � RESUMO DA SEÇÃO: A ABORDAGEM DE BADDELEY SOBRE MEMÓRIA DE TRABALHO 1. A abordagem de Baddeley sugere que a memória de tra balho não é um armazém passivo; ao contrário, se pare ce com uma bancada de trabalho onde o material está continuamente sendo combinado e trans-formado. 2. Em um estudo clássico, Baddeley e Hitch (1974) de monstraram que as pessoas conseguiam executar simul taneamente uma tarefa verbal e uma tarefa espacial com um mínimo de redução em velocidade e exatidão. 3. Na teoria de Baddeley o circuito fonológico armazena um número limitado de sons, como foi demonstrado pelas pesquisas de tempo de pronúncia; pesquisas pos teriores mostram que os itens armazenados no circuito podem ser confundidos com outros itens de som se melhante. 4. É evidente que o circuito fonológico possui dois com ponentes: o armazenamento fonológico (associado ao córtex parietal) e o processo de repetição subvocal (as sociado ao lobo frontal). 5. Um segundo componente da abordagem da memória de trabalho é o bloco de esboço visuoespacial, que armaze na informações visuais e espaciais. A capacidade dessa característica é também limitada, e as pesquisas demons tram que duas tarefas visuoespaciais irão interferir uma na outra se forem executadas simultaneamente. 6. A ativação do bloco de esboço visuoespacial está associa da a diversas regiões do córtex, inclusive a região occipital (para tarefas visuais), a região frontal e a região parietal. 7. O executivo central integra informações que chegam do circuito fonológico e do bloco de esboço visuoespa- MEMÓRIA DE TRABALHO 71 cial, bem como da memória de longo prazo. O execu tivo central é também importante na atenção, selecio nando estratégias e fazendo planos. 8. O executivo central não pode executar duas tarefas desafiadoras simultaneamente - o devaneio, por exemplo, interfere na produção de uma seqüência de números aleatórios. O executivo central ativa princi palmente o lobo frontal. 9. Novas áreas nas pesquisas sobre a memória de traba lho incluem o desenvolvimento de uma abordagem do processamento de distribuição paralela para a memó ria de trabalho, determinando como a memória de tra balho se coordena com outros processos cognitivos e expandindo o modelo a fim de incluir outros tipos de componentes da memória de trabalho. 10. Outro desenvolvimento novo importante examina as diferenças individuais na memória de trabalho. E esse tipo de pesquisa gira em torno da relação entre a me mória de trabalho e as habilidades de linguagem, entre a memória de trabalho e as habilidades de leitura e o magnífico span de memória dos experts de memória. EXERCÍCIOS DE REVISÃO DO CAPÍTULO 1. Descreva a noção clássica de Miller sobre o mágico número 7. Por que os agrupamentos são importantes para essa noção? Como a idéia da memória limitada foi incorporada no modelo de Atkinson e Shiffrin? 2. O que é o efeito de posição serial? Por que esse efeito está relacionado à memória de curto prazo? Discuta também dois outros métodos clássicos de mensuração da memória de curto prazo. 3. O que demonstram as pesquisas sobre o tempo de pro núncia a respeito dos limites da memória de trabalho? Que aspecto específico do modelo de Baddeley tem maior probabilidade de estar relacionado ao tempo de pronúncia? 4. Suponha que você acabou de ser apresentado a cinco alu nos de outra faculdade. Usando as informações sobre o tempo de pronúncia e a similaridade semântica, por que você acharia difícil lembrar os nomes deles assim que fo ram apresentados? Quais as variáveis que iriam aumentar a probabilidade de você lembrar seus nomes? 5. De acordo com a discussão da abordagem de Baddeley, a memória de trabalho não é um arquivo passivo; em vez disso, é como uma bancada de trabalho onde o material está continuamente sendo manejado, combinado e trans formado. Explique por que a metáfora da bancada de tra balho é mais exata para o modelo de Baddeley do que para o modelo de Atkinson-Shiffrin. 6. Por que as pesquisas de Baddeley e Hitch (1974) sobre a lembrança de números e a execução de uma tarefa espacial de raciocínio sugerem que um modelo de memória de trabalho precisa ter dois locais separados de armazenamento? Por que as pesquisas de Toms (1994) - sobre a lembrança de números em uma ma triz - também sugerem que a memória de trabalho precisa ter dois locais separados de armazenamento? 7. Cite algumas tarefas que você realizou hoje e que exi giram o emprego do circuito fonológico. Em cada caso, descreva se o armazenamento fonológico ou o proces so de repetição subvocal foi importante. 8. Nas pesquisas de Brandimonte e colaboradores (1992), as pessoas em um grupo foram impedidas de usar mé todos verbais para codificar diversas formas. Geralmen te pensamos ser útil descrever algo em palavras. Por que esse estudo sugere que as palavras podem na verdade diminuir a exatidão em algumas tarefas? 9. Que faz o executivo central? Por que a metáfora de um executivo de negócios é uma metáfora exata quando se discute o seu papel na memória de trabalho? 10. Nossa discussão acerca das diferenças individuais na memória de trabalho examinou três áreas em que es sas diferenças poderiam ter destaque. Descreva essas três áreas. Com base no conhecimento que você tem a respeito da memória de trabalho, que outras áreas seri am úteis para examinar a presença de diferenças indi viduais?Que tipos de profissão conviriam a pessoas que apresentam capacidades que se destacam em cada uma dessas áreas? 72 CAPÍTULO TRÊS NOVOS TERMOS memória de trabalho memória de curto prazo memória de longo prazo agrupamento efeito de posição serial efeito de recenticidade efeito de primazia span de memória interferência proativa (PI) inibição da interferência proativa circuito fonológico armazenamento fonológico processo de repetição subvocal bloco de esboço visuoespacial executivo central pensamentos independentes de estímulo memória de trabalho de longo prazo LEITURAS RECOMENDADAS Baddeley; A. D. (1999). Essenciais ofhuman memory. Hove, Ingla terra: Psychology Press. Esse livro recém-lançado de Bad deley contém dois capítulos relativos à memória de traba lho e apresenta sua abordagem teórica detalhadamente. Logie, R. H. (1995). Viso-spatial working memory. Hove, In glaterra: Erlbaum. O volume de Logie fornece um exa me profundo das habilidades visuoespaciais dentro da estrutura da abordagem de Baddeley sobre memória de trabalho. Logie, R. H. & Gilhooky. K. J. (Eds.). (1999). Working me mory and thinking. Hove, Inglaterra: Psychology Press. Esse livro contém oito capítulos que relacionam a memória de trabalho a tarefas como compreensão, resolução de problemas e raciocínio. Miyake, A., & Shah, P. (Eds.). (1999). Mode!s of working memory: Mechanisms of active maintenance and executive con tra!. New York: Cambridge University Press. Um exce lente recurso que apresenta várias abordagens teóricas sobre a memória de trabalho, inclusive diversas que es tão além do escopo do presente capítulo. Richardson, J. T. E. et al. (Eds.). (1996). Working memory and human cognition. New York: Oxford University Press. Um livro breve que inclui cinco capítulos sobre tópicos como a história das abordagens da memória de trabalho, recu peração da memória de trabalho e memória de trabalho nos idosos. RESPOSTA À DEMONSTRAÇÃO 3.5 * 1 2 3 9 8 5 4 10 7 6 CAPÍTULO 4 MEMÓRIA DE LONGO PRAZO INTRODUÇÃO A CODIFICAÇÃO NA MEMÓRIA DE LONGO PRAZO Profundidade do Processamento Em Profundidade: O Efeito de Auto-referência Os Efeitos do Contexto: Especificidade da Codificação Emoções, Humor e Memória A RECUPERAÇÃO NA MEMÓRIA DE LONGO PRAZO Tarefas de Memória Explícita versus Tarefas de Memória Implícita Memória de Prazo Muito Longo Expertise (Perícia) Sujeitos Amnésicos MEMÓRIA AUTOBIOGRÁFICA Lembranças de Flash Esquemas e Memória Autobiográfica Monitoramento de Fonte Testemunho Ocular Testemunho Auditivo 74 CAPÍTULO Ü)2ATRO APRESENTAÇÃO O Cap. 3 focalizou a memória de trabalho com relação ao material que está sendo processado num determina do momento; o Cap. 4 focalizará a memória de longo prazo. A primeira seção deste capítulo analisa fatores que são importantes quando codificamos (adquirimos) in formações. Por exemplo: sabemos pelas pesquisas so bre a profundidade do processamento que a memória é mais exata quando processamos as informações em ter mos de significado, e não de características mais super ficiais. A memória é especialmente exata quando tenta mos relacionar essas informações às nossas vidas. Se você já retornou a um local outrora familiar e sentiu uma en xurrada de recordações perdidas há muito tempo, co nhece a importância de um outro fator chamado especi ficidade da codificação. Os fatores emocionais também influem na memória: se você assistir a um programa vi olento na televisão, é provável que sua memória lembre pouco os comerciais exibidos durante ele. A segunda seção, sobre a recuperação de lembran ças, demonstra que a exatidão da memória também pode ser influenciada pelo modo como essa recuperação é avaliada. Veremos que há casos em que podemos lem brar uma quantidade enorme de informações aprendi das em aulas dezenas de anos antes. Também examina remos a capacidade de memória de pessoas com experti se em uma área específica, e de portadores de amnésia. A memória autobiográfica, tópico da última seção, refere-se à memória relacionada a eventos quotidianos de nossas vidas. Essa discussão salienta o fato de que as chamadas lembranças de flash não costumam ser tão exatas. Contudo, nossa memória sofre a influência de nosso conhecimento geral sobre objetos e eventos, um processo que normalmente ajuda, mas que pode gerar erros de memória. Essa última seção também examina o monitoramento de fonte, processo que empregamos quando tentamos determinar se de fato executamos uma ação ou se apenas a imaginamos. Por fim, o capítulo aborda o testemunho ocular, que costuma revelar erros constantes, e o testemunho auditivo, que exige o reco nhecimento de vozes de pessoas. INTRODUÇÃO O Cap. 3 enfatizou a fragilidade da memória de trabalho, salientando que as informações que desejamos reter po dem desaparecer da memória em menos de um minuto. Já o Cap. 4 demonstrará que o material conservado na me mória de longo prazo pode resistir de maneira surpreen dente ao esquecimento. Pense nas informações armazenadas em sua memória de longo prazo. Você consegue recordar os detalhes do momento em que recebeu a notícia de que tinha passado no vestibular ou de outra notícia boa? Consegue lembrar onde estava quando ficou sabendo, que roupa estava usan do ou quem a contou primeiro? As pessoas conseguem re conhecer o odor de um produto - como o chiclete de bola ou um xampu de bebê - mesmo sem tê-los cheirado des de a infância (Goldman & Seamon, 1992). Veremos, mais adiante, que as pessoas podem ser bastante exatas ao lem brarem informações aprendidas no colégio, muito tempo depois de formadas. Ao examinarmos a memória de longo prazo, neste capí tulo, vamos rever terminologias familiares e apresentar no vas distinções importantes. Conforme observamos nos ca pítulos anteriores, os psicólogos costumam dividir a me mória em duas categorias básicas, denominadas memória de trabalho (a memória breve e imediata do material pro cessado em dado momento) e memória de longo prazo. A memória de longo prazo possui uma capacidade grande, contendo a lembrança de experiências e informações que acumulamos durante toda a vida. Como muitos psicólo gos, não estou totalmente convicta de que a memória de trabalho e a memória de longo prazo sejam duas formas distintas de memória. Contudo, suponho que essa divisão seja um modo conveniente de classificar a enorme quanti dade de pesquisas sobre nossos processos de memória. Os psicólogos costumam subdividir a memória de lon go prazo em categorias mais específicas. Mais uma vez, essa subdivisão reflete a conveniência e não a convicção de que as subdivisões caracterizem sistemas diferentes de memó ria. É comum subdividir a memória de longo prazo em memória episódica, memória procedural e memória semân tica (Roediger & Goff, 1998; Tulving, 1993; Tulving et al., 1994). A memória episódica refere-se a lembranças de even tos acontecidos conosco, que descrevem episódios de nos sas vidas. Ela inclui: a lembrança de uma situação ocorrida no ensino médio, de uma conversa tida hoje de manhã ou de uma lista de palavras sem sentido apresentadas dez mi nutos antes em um estudo de psicologia. A memória episó dica terá maior enfoque neste capítulo. A memória procedural refere-se ao conhecimento que temos sobre o modo de fazer alguma coisa. Alguns exem plos da memória procedural são: saber andar de bicicleta, enviar um e-mail a um amigo, fazer pão. Neste capítulo, mencionaremos alguns aspectos da memória procedural em conexão com a memória implícita; no Cap. 5, ela será apre sentada em conexão com a memória prospectiva. Por fim, a memória semântica descreve nosso conheci mento organizado sobre o mundo, incluindo o conheci mento das palavras e de outras informações não pessoais. Alguns exemplos da memória semântica incluem saber que a palavra semântica tem relação com a palavra significado, qual a aparência de um cação, e queMichigan é um estado do Centro-oeste. O Cap. 7 aborda a memória semântica e o nosso conhecimento geral do mundo. No presente capítulo, veremos três aspectos da memó ria de longo prazo. Começaremos com a codificação, que MEMÓRIA DE LONGO PRAZO 75 se refere à aquisição inicial de informações; durante a codi ficação, ocorre o armazenamento das informações (Roediger & Guynn, 1996). Depois exploraremos a recuperação, que se refere à localização e ao acesso das informações armaze nadas. Nossa seção final examina a memória autobiográfi ca, ou memória de eventos e assuntos relativos à vida quo tidiana. A propósito, o Cap. 5 também trata da memória de longo prazo, enfatizando estratégias para o seu aprimora mento. A CODIFICAÇÃO NA MEMÓRIA DE LONGO PRAZO Nesta seção, veremos quatro questões importantes sobre a codificação na memória de longo prazo: 4. Como os fatores emocionais influem na exatidão da memória? 1. Somos mais propensos a lembrar itens processados de maneira profunda e significativa do que itens processa dos de maneira superficial? Antes de prosseguir a leitura, experimente a Demonstração 4.1. 2. O que acontece quando codificamos itens relacionan do-os a nós mesmos? (A discussão sobre o efeito da au to-referência será o tema da Seção "Em Profundidade", mais adiante.) PROFUNDIDADE DO PROCESSAMENTO 3. Somos mais propensos a lembrar itens se o contexto da época da codificação corresponder ao contexto da épo ca da recuperação? Em 1972, Craik e Lockhart escreveram um artigo sobre a abordagem da profundidade do processamento, artigo que se tornou uma das publicações mais influentes na história da pesquisa sobre memória. A abordagem da profundida de do processamento argumenta que os tipos profundos e significativos de processamento da informação levam a DEMONSTRAÇÃO 4.1 PROFUNDIDADE DO PROCESSAMENTO Leia cada pergunta abaixo e responda "sim" ou "não" com relação à palavra que se segue. 1. A palavra está em maiúsculas? 2. A palavra se encaixaria nesta frase: "Vi um ___ no lago."? 3. A palavra rima com azul? 4. A palavra se encaixaria nesta frase: "A menina descia pela ___ ."? 5. A palavra rima com frete? 6. A palavra está em minúsculas? 7. A palavra se encaixaria nesta frase: "O ___ estava lendo um livro."? 8. A palavra rima com tipo? 9. A palavra está em maiúsculas? 10. A palavra se encaixaria nesta frase: "Na última primavera vimos um ___ ."? 11. A palavra rima com pequeno? 12. A palavra está em minúsculas? 13. A palavra se encaixaria nesta frase: "Meu ___ tem dois metros de altura."? 14. A palavra rima com via? 15. A palavra está em maiúsculas? LNRO pato seguro casa SETE neve ALUNO cor flor tordo SERENO ÁRVORE LNRO dia RAPOSA Agora, sem tornar a olhar para as palavras, tente se lembrar de todas que puder. Conte o número de vezes em que acertou para cada um dos três tipos de tarefa: aparência física, rima e significado. 76 CAPÍTULO 01!ATRO uma retenção mais permanente do que os tipos superficiais e sensoriais de processamento. (Essa teoria também é cha mada de abordagem dos níveis de processamento.) A abordagem da profundidade do processamento prevê que na Demonstração 4.1 você lembraria mais palavras se jul gasse o significado de cada uma delas (se elas se encaixam em uma frase, por exemplo), do que sua aparência física (se estão impressas em maiúsculas, por exemplo) ou sua sono ridade (se rimam com outras). De maneira geral, as pessoas alcançam maior profundidade de processamento quando extraem mais significado de um estímulo. Vamos examinar a abordagem da profundidade do pro cessamento com mais detalhes. Craik e Lockhart propuse ram que as pessoas conseguem analisar estímulos em mui tos níveis diferentes. Os níveis superficiais incluem análi ses em termos de características físicas ou sensoriais, como brilho ou altura do som. Os estímulos analisados em nível superficial tendem a ser esquecidos. Os níveis profundos exigem análise em termos de significado. Quando se faz análise quanto ao significado, pode-se pensar em outras associações, imagens e experiências anteriores relacionadas ao estímulo. Os estímulos analisados em nível muito pro fundo provavelmente serão relembrados. Craik e Lockhart também focalizaram a repetição, pro cesso de informações repetidas de forma cíclica por meio da memória. Craik e Lockhart descreveram dois tipos de repetição. A repetição de manutenção, em que a pessoa apenas repete o estímulo em silêncio para si mesma, e a repetição elaborativa, que exige uma análise mais profun da e mais significativa do estímulo. Suponha, por exemplo, que você vê a palavra livro em uma lista de itens que foi instruído a lembrar. Você poderia usar a repetição de ma nutenção e simplesmente repetir essa palavra para si mes mo. Mas você poderia, também, usar a repetição elaborati va pensando na imagem de um livro ou relacionando a pa lavra livro a uma outra da lista. O que acontecerá se você passar mais tempo repetindo? Craik e Lockhart (1972) previram que a resposta a essa per gunta depende do tipo de repetição que você estiver usan do. Se estiver usando a repetição superficial de manuten ção, então o aumento do tempo de repetição não influirá na lembrança posterior. Repetir por mais de cinco vezes a palavra livro, de maneira alguma, torna-la-á mais fácil de ser lembrada. Contudo, se estiver usando a repetição elabora tiva profunda, então o aumento do tempo de repetição será útil. Durante esse tempo, você poderá extrair de sua me mória todos os tipos de imagens, associações e lembranças extras para enriquecer o estímulo e, com isso, a lembrança posterior será mais exata. Vamos rever algumas pesquisas sobre a abordagem da profundidade do processamento, primeiro para o material verbal e depois para fisionomias. Profundidade do Processamento e Memória de lv1ateriaf Verbal. A hipótese mais importante que surgiu do trabalho de Craik e Lockhart (1972) foi que os níveis profundos de processamento deveriam provocar uma lembrança melhor. Essa hipótese tem sido amplamente testada. Em um experi mento similar ao da Demonstração 4.1, Craik e Tulving (1975) descobriram que as pessoas tinham cerca de três vezes mais probabilidade de evocar uma palavra se antes houvessem respondido a perguntas sobre o seu significado do que se houvessem respondido a perguntas sobre a sua aparência física. Numerosos periódicos de pesquisa concluem que o processamento profundo do material verbal produz uma lem brança melhor do que o processamento superficial (Badde ley, 1990; Howard, 1995; Lockhart & Craik, 1990). Craik e Lockhart (1986) supõem que os níveis profun dos de processamento incentivam a lembrança por causa de dois fatores: a inconfundibilidade e a elaboração. A in confundibilidade refere-se ao modo como o estímulo di fere de todos os outros traços de memória (Craik, 1979). Se você encontrar alguém cujo nome quer lembrar, precisará usar o processamento profundo para imaginar sobre esse nome algo incomum que o diferencie dos outros aprendi dos. A inconfundibilidade é útil, em especial, para aprimo rar a memória quando queremos realçar diferenças entre itens que, de início, pareciam extremamente semelhantes (Phillips, 1995). O segundo fator que age em níveis profundos de pro cessamento é a elaboração, que exige um processamento rico em termos de significado (Anderson e Reder, 1979; Cohen et a!., 1986). Se você quiser entender o conceito de "profundidade do processamento", por exemplo, terá de avaliar como esse conceito se relaciona tanto à inconfundi bilidade quanto à elaboração. Porém, ao contrário da in confundibilidade, a elaboração é útil ao aprimoramento da memória quando queremos realçar semelhanças e relações entre os itens. Em outras palavras, a elaboração ajuda-nos a sintetizar informações (Phillips, 1995). Pense no modo como você processou a palavra pato na Demonstração 4.1. Talvez tenha pensadosobre os patos que viu na lagoa e que algumas pessoas gostam de pato assado com molho de laranja. A codificação semântica in centivou o processamento rico. Entretanto, se tivessem per guntado se a palavra pato estava impressa em maiúsculas, você responderia simplesmente "sim" ou "não"; a elabora ção prolongada teria sido muito pouco provável. Consideremos pesquisas sobre a importância da elabo ração. Craik e T ulving (1975) solicitaram que os participan tes lessem frases e decidissem se as palavras que se segui am eram adequadas a elas. Algumas das frases eram sim- ples, como "Ela cozinhou o ___ ". Outras estruturas eram elaboradas, como "O grande pássaro abateu-se rápido so- bre a presa e arrebatou o ___ que se debatia". A palavra que vinha depois dessas frases podia ser adequada (coelho, por exemplo) ou inadequada (livro, por exemplo). Observe que ambos os tipos de frases exigiam processamento pro fundo ou semântico. Contudo, a estrutura mais elaborada de frase produzia uma lembrança bem mais exata. Portan to, a elaboração mais prolongada leva ao aprimoramento da memória para estímulos. Profundidade do Processamento e Memóna para Rostos. As conclusões sobre a profundidade do processamento tam bém valem para o reconhecimento de rostos. Você deve se lembrar de algum incidente embaraçoso em que deixou de reconhecer alguém que conhecia razoavelmente bem. Al guém que você supôs ser um estranho pode na verdade ter sido alguém com quem já conversou muitas vezes no colé gio. Mas você não o reconheceu com o novo corte de cabe lo; parece que você nunca usou o processamento profundo para reparar em suas feições. As pesquisas têm confirmado que o processamento su perficial de rostos - como o processamento superficial de palavras - produz uma lembrança imperfeita. Participan tes em pesquisas reconhecem um grande número de fotos de fisionomias se antes já fizeram julgamentos sobre a ho nestidade de cada pessoa. Em contrapartida, o reconheci mento é fraco se eles usaram o processamento superficial - por exemplo, fazendo avaliações sobre a largura do na riz de cada pessoa (Sporer, 1991). Como podemos explicar o motivo pelo qual a profundi dade do processamento facilita a memória para rostos? Os pesquisadores forneceram três respostas diferentes. Vimos, por exemplo, que a inconfundibilidade ajuda a explicar o efeito do processamento profundo para os estímulos ver bais, podendo também agir na memória de rostos. Mantyla (1997) instruía participantes a prestarem atenção às distin ções entre diversos rostos em um conjunto de fotos. Eles tendiam mais a reconhecer esses rostos do que os de outro conjunto de fotos em relação ao qual tinham sido instruí dos a prestar atenção às similaridades entre as fisionomias. MEMÓRIA DE LONGO PRAZO 77 Bloom e Mudd (1991) forneceram uma segunda expli cação para a relação entre a profundidade do processamen to e a memória de fisionomias. Suas pesquisas demonstra ram que as pessoas instruídas para julgar a honestidade de alguém olhavam para a fisionomia analisada por um longo tempo, fazendo muitos movimentos oculares. O tempo de observação e os movimentos oculares eram bastante redu zidos para as pessoas instruídas para julgar se uma pessoa era do gênero masculino ou feminino. Esses autores argu mentam que o processamento mais profundo leva a codifi car um número maior de características fisionômicas e, por tanto, a uma lembrança maior. Repare que essa explicação se parece com a explicação da elaboração proposta para o material verbal (Craik & lockhart, 1986) . Uma terceira explicação para a profundidade do proces samento e da memória de rostos enfoca outras estratégias de codificação. Quando as pessoas julgam o caráter, po dem codificar as fisionomias holisticamente, e não segun do características isoladas (Wells & Hryciw, 1984). De acor do com o que vimos no Cap. 2, nossa percepção quotidia na de rostos tende a contar mais com o processamento holístico do que com características isoladas. Não importa qual dessas três explicações seja a correta: você deveria dar ênfase ao processamento profundo na próxima vez que quiser lembrar a fisionomia de alguém! Até aqui vimos que as pessoas podem ampliar suas lem branças usando o processamento profundo e significativo. Vamos agora examinar um tópico relacionado na seção "Em Profundidade", vendo como a memória pode ser ainda mais aprimorada, relacionando os estímulos a nós mesmos. EM PROFUNDIDADE O EFEITO DE AuTo-REFE�NCIA Muitas vezes processamos novas informações relacio nando-as a nós mesmos. Consideremos os alunos que estão seguindo um curso de psicologia do comporta mento especial (abnormal psychology). O professor des creve como uma pessoa deprimida se sente pessimista quanto ao futuro e, de imediato, dezenas de alunos co meçam a imaginar se o pessimismo deles significa que estejam clinicamente deprimidos. Esse enquadramento pessoal para novas informações é uma questão importante nas pesquisas sobre a codifi cação da memória. O efeito de auto-referência ressalta que as pessoas lembram mais informações quando ten tam relacioná-las a si mesmas. Vejamos algumas pes quisas representativas, várias explicações potenciais e os correlatos biológicos do efeito de auto-referência. A Pesquisa sobre o Efeito de Auto-referência. Na de monstração clássica do efeito de auto-referência, Rogers, Kuiper e Kirker (1977) solicitaram aos participantes que processassem listas de palavras de acordo com o tipo de instrução geralmente estudada nas pesquisas sobre níveis de processamento. Essa instrução referia-se a: (1) caracte rísticas físicas da palavra, (2) características acústicas (som) ou (3) características semânticas (significado). Outras pa lavras ainda seriam processadas em termos do efeito de auto-referência: (4) pessoas foram solicitadas a decidir se uma palavra específica poderia ser aplicada a elas mesmas. Os resultados mostraram que a lembrança foi fraca para as duas tarefas que usaram processamento superfi cial - ou seja, processamento segundo características físicas ou acústicas. A lembrança foi muito melhor quan do as pessoas tinham processado as palavras segundo suas características semânticas. No entanto, a tarefa de auto-referência produziu a melhor lembrança. Ao que parece, quando pensamos sobre uma palavra que tenha alguma conexão conosco, desenvolvemos uma codifi cação especialmente memorável para aquela palavra. Por exemplo: suponha que você está tentando decidir se a palavra generoso se aplica a você. Poderia lembrar dois dias em que emprestou suas anotações a um amigo que havia perdido aula e dividiu uma caixa de doces com 78 CAPÍTULO Q\dATRO TABELA 4.1 PERCENTAGEM DE ITENS EVOCADOS, COMO FUNÇÃO DA CONDIÇÃO IMAGÉTICA E DA CONDIÇÃO DE ANÁLlSE. Visualizar o Objeto Imaginar Você Mesmo Usando o Objeto Primeira análise de dados 42% Segunda análise de dados 23% Fonte: Baseado em Foley et al., 1999. outras pessoas no saguão - sim, a palavra generoso se aplica a esse caso. Os processos mentais exigidos na ta refa de auto-referência parecem aumentar a probabilida de de lembrarmos um item. A pesquisa sobre o efeito de auto-referência também demonstra um dos temas deste livro. Como propõe o Tema 3, nosso sistema cognitivo lida com as instâncias positivas com mais eficácia do que com as negativas. Nos estudos de auto-referência, as pessoas são mais pro pensas a se lembrar de uma palavra que realmente se apli ca a elas do que de uma que não se aplica (Bellezza, 1992b; Bower & Gilligan, 1979; Ganellen & Carver, 1985; Mills, 1983). Os participantes do estudo de Bellezza (1992b), por exemplo, lembraram 46% dos adjetivos que se aplicavam a eles próprios, em comparação com 34% dos adjetivos que não se aplicavam. O efeito de auto-referência tem sido demonstrado re petidamente (Thompson et al., 1996). Ele opera com ins truções para criar a imagética mental* (Brown et al., 1986), compalavras relacionadas à criatividade (Katz, 1987) e com passagens de prosa de parágrafo longo (Reeder et al., 1987). O efeito de auto-referência funciona tanto em crianças de dez anos (Halpin et al., 1984), quanto em idosos (Rogers, 1983). Symons e Johnson (1997) reuniram os resultados de 129 estudos diferentes realizados sobre o efeito de auto referência e procederam a uma metanálise. A técnica de metanálise fornece um método estatístico para sinteti zar vários estudos em um único tópico. A metanálise pode combinar vários estudos anteriores em um vasto superestudo que nos informa se uma variável tem efeito estatisticamente significativo. A metanálise de Symons e Johnson confirmou o padrão por nós descrito: as pes soas evocam significativamente mais itens que usam a técnica de auto-referência do que processamento semân tico ou qualquer outro método de processamento. O efeito de auto-referência é indiscutivelmente preg nante. Contudo, Mary Ann Foley e co-autores (1999) mostraram que as pesquisas podem na verdade subesti mar o poder da auto-referência. Em termos específicos, eles conjecturaram que os participantes das pesquisas podem às vezes "trapacear": quando instruídos a usar o • Em inglês, mental imagery. Usaremos para o termo imagery, duas tradu ções. Ao se referir ao processo, a atividade de imaginar, traduziremos imagery por imaginação. Nos casos em que o termo designar o conteúdo da imaginação, usaremos a tradução imagética. (nota do revisor técnico) 42% 75% processamento relativamente superficial para estímulos, podem, em vez disso, usar a técnica de auto-referência. Em uma de suas pesquisas, os estudantes foram ins truídos a ouvir uma lista de substantivos concretos e fa miliares. Porém, antes de ouvirem cada palavra, eram instruídos sobre o tipo de imagem mental que deveriam formar. Vamos examinar duas condições, em que as ins truções foram: (1) "visualizar o objeto" e (2) "imaginar se usando o objeto". Para a primeira análise de dados, os resultados foram classificados de acordo com as instru ções oferecidas pelo pesquisador, antes de cada palavra. Observe na Tabela 4.1 que as duas condições produzi ram lembrança idêntica. Ou seja, os alunos lembraram 42% das palavras, quer tivessem sido instruídos a usar o processamento relativamente superficial, quer o proces samento profundo de auto-referência. Felizmente, Foley e colaboradores haviam pedido que os alunos descrevessem a imagem visual que tinham tido de cada palavra durante a tarefa de aprendizagem. Confor me os pesquisadores suspeitavam, as pessoas na condição de "visualizar o objeto" inseriam-se na imagem mental, de modo que, na verdade, usavam o processamento de auto referência. Na segunda análise, os pesquisadores agrupa ram os argumentos de acordo com os métodos de proces samento realmente usados pelos alunos, em vez de com as instruções recebidas. Como se pode observar, a segunda análise revelou que a lembrança era elevada em mais de três vezes para a condição de auto-referência (75%) do que para a condição do objeto visualizado (23%). A pesquisa de Foley e colaboradores (1999) tem im plicações importantes além desse estudo em particular. Na verdade, a pesquisa demonstra o fato de que nossos processos cognitivos são muito ativos, em concordân cia com o Tema 1. Não podemos supor que as pessoas irão seguir a instruções de maneira simples e passiva e fazer o que lhes mandam. Os pesquisadores precisam lembrar que os participantes tendem a transformar as instruções, e essa transformação pode ter um grande impacto nos resultados do estudo. Explicações para o Efeito de Auto-referência. Por que evocaríamos informações, sobretudo quando as aplica mos a nós mesmos? Francis Bellezza sugere que o eu (se!� é tratado como um conjunto especialmente rico de pistas internas com as quais a informação pode ser asso ciada. Podemos criar com facilidade pistas associadas ao eu e podemos facilmente ligar essas pistas com a nova informação durante a etapa de codificação. É também muito fácil discriminar essas pistas umas das outras - por exemplo, seu traço de honestidade pode parecer bem diferente do seu traço de inteligência (Bellezza, 1984; Bellezza e Hoyt, 1992). Uma segunda explicação sugere que as instruções de auto-referência encorajam as pessoas a considerarem como seus traços pessoais se relacionam entre si (Klein & Kihlstrom, 1986). Quando os itens são armazenados em uma estrutura bem organizada, a recuperação será mais fácil e mais eficaz (Thompson et ai., 1996). Uma terceira explicação possível gira em torno da re petição. Podemos repetir um material com mais freqüên cia se ele estiver associado conosco. Além disso, pode mos ser mais propensos a usar a repetição elaborativa quando associamos o material a nós mesmos (Thomp son et al., 1996). Lembre que a repetição elaborativa é o tipo de repetição que facilita a lembrança posterior, em contraste com a repetição de manutenção. Correlatos Biológicos do Efeito de Auto-referência. Nos últimos anos, as pesquisas em neurociência têm feito imensos progressos na identificaçãO-da atividade cere bral durante a codificação da memória. Um exemplo disso é o mapeamento da atividade cerebral durante a codificação de um estímulo. Essa atividade estaria cor relacionada à capacidade da pessoa para, posteriormen te, recordar o estímulo? A pesquisa sobre a codificação da memória tem-se concentrado no lobo frontal do córtex (veja fig. 2.1); mais especificamente, as pesquisas têm registrado a atividade cerebral no córtex pré-frontal, situado na região frontal do lobo frontal. Wagner e colaboradores (1998), por exemplo, usaram a ressonância magnética funcional (fMRI) para registrar a ati vidade cerebral dos participantes enquanto eles estudavam estímulos verbais. Posteriormente, os pesquisadores pergun taram aos participantes se eles possuíam uma memória de terem visto cada estímulo. Os dados mostraram de manei ra notável que uma porção do córtex pré-frontal esquerdo havia estado normalmente ativa durante a codificação da queles estímulos lembrados corretamente, pelos participan tes, no teste subseqüente de memória. Em contrapartida, esta porção específica do córtex tendia a estar menos ativa para o estímulo que as pessoas não recordavam. Esses re sultados fazem sentido porque as tarefas verbais tendem a estar associadas ao hemisfério esquerdo (Rugg, 1998). Re sultados comparáveis também foram relatados por Brewer e colaboradores (1998). Outra pesquisa feita por Craik e colaboradores (1999) examina especificamente o modo como tanto a profun didade do processamento quanto a auto-referência es tão relacionadas à atividade cerebral. Esses pesquisado- res realizaram PET scans enquanto os participantes ava liavam adjetivos. Em algumas condições, os participan tes executavam uma tarefa de processamento superfici al: avaliavam o número de sílabas em cada palavra. Em MEMÓRJA DE LONGO PRAZO 79 duas outras condições, solicitou-se que usassem níveis muito mais profundos do processamento semântico, ava liando a aceitabilidade social da palavra ou a sua impor tância para um funcionário público de alto escalão. Na quarta condição, disseram-lhes que usassem o processa mento de auto-referência, avaliando se a palavra se apli cava a eles. Os resultados mostraram que a atividade cerebral estava relacionada à profundidade do processamento. Os três ní veis mais profundos de processamento, em especial, tendi am a estarem associados à ativação do córtex pré-frontal esquerdo. (Isso faz sentido, porque todas as três tarefas eram verbais.) Contudo, a tarefa de processamento superficial não havia ativado essa região. Além disso, a condição de auto referência tinha ativado também outra região do cérebro, o córtex pré-frontal direito; nenhuma das outras duas tarefas tinha ativado essa região específica. Esse achado sobre a região pré-frontal direita também era consistentecom con clusões oriundas de pesquisas anteriores, que demonstra ram que o autoconceito parece estar representado no cór tex pré-frontal direito. Esse padrão específico da atividade cerebral para o processamento da auto-referência -em que tanto a região pré-frontal esquerda quanto a direita exi bem ativação - deve estar relacionado de algum modo à alta probabilidade de lembrança. Pesquisas futuras pro vavelmente irão explorar com mais detalhes os correla tos biológicos da tarefa de auto-referência. Pesquisas futuras também deverão ser orientadas pe los resultados do estudo de Foley e colaboradores (1999), discutido anteriormente. De modo específico, os pes quisadores deveriam pedir que os participantes descre vessem suas imagens mentais enquanto estivessem co dificando cada palavra. Os pesquisadores poderiam en tão reclassificar qualquer item para o qual um partici pante não seguisse as instruções de codificação. Aplicações do Efeito de Auto-referência. Uma aplica ção importante do efeito de auto-referência é evidente: quando você quiser realmente lembrar um item, procu re relacioná-lo à sua própria experiência. Reeder e cola boradores (1978) demonstraram que essa técnica funci ona tanto para trechos de prosa, como para palavras iso ladas. De fato, um modo eficaz de aprender o conteúdo deste livro é imaginar a si próprio como participante de um estudo à medida que vai lendo cada detalhe. Você achará o material mais fácil de lembrar se imaginar como poderia responder aos estímulos ou à situação. Além disso, preciso enfatizar que as demonstrações neste li vro foram projetadas especialmente para ativar o efeito de auto-referência. Ao experimentar cada demonstração, você pode relacionar diretamente o material às suas pró prias experiências. O Cap. 5 examina várias outras es tratégias para aprimorar a memória. O efeito de auto-referência também pode ser aplica do à publicidade. Em um estudo, as instruções de auto referência encorajaram as pessoas a lembrarem nomes 80 CAPÍTULO 01/ATRO de marcas de produtos (D'Ydewalle et al., 1985). Os publicitários fazem esforços enormes para construir uma propaganda visualmente atrativa. Contudo, se quiserem realmente que as pessoas lembrem o nome da marca - Os EFEITOS DO CONTEXTO: ESPECIFICIDADE DA CODIFICAÇÃO Essa cena lhe parece familiar? Você está no seu quarto e percebe que precisa de algo que está na cozinha. No entan to, uma vez na cozinha, não tem idéia alguma do motivo pelo qual se deslocou. Sem o contexto no qual codificou o item que queria, não consegue recuperar essa lembrança. Você retorna ao quarto, que está repleto de pistas contex tuais e, imediatamente, lembra o que queria. De modo se melhante, uma questão isolada em um exame pode pare cer completamente estranha, sendo que você a teria lem brado no contexto correto. Esses exemplos ilustram o princípio da especificidade da codificação, o qual afirma que a lembrança é melhor se o contexto de recuperação for semelhante ao contexto de codificação (Roediger & Guynn, 1996; Tulving, 1983). O esquecimento muitas vezes ocorre quando os dois contex tos não correspondem. Duas outras formas semelhantes da especificidade da codificação são a memória dependente do contexto e o processamento de transferência apro priada (Balch & Lewis, 1996; Roediger & Guynn, 1996). Vamos agora ver com mais detalhes o tópico da especifici dade da codificação. Começaremos com algumas pesqui sas representativas, examinando posteriormente como as pesquisas sobre a especificidade da codificação nos forçam a modificar nossas conclusões anteriores sobre os níveis de processamento. Pesquisas sobre a Especifi'c1dade da Cod1fi'cação. Em um estudo representativo, Geiselman e Glenny (1997) apresen taram visualmente palavras aos participantes de seu experi mento. Solicitou-se que estes imaginassem cada uma das palavras como sendo pronunciadas por uma pessoa famili ar; alguns foram instruídos a imaginar uma voz feminina e outros, uma voz masculina. Mais tarde, o reconhecimento foi testado fazendo-se um homem ou uma mulher pronun ciar cada palavra; os participantes foram, então, instruídos a indicar se cada palavra era antiga ou nova. Para algumas pessoas, o gênero de quem falava correspondia ao gênero da voz imaginada; outros apresentaram um desacerto entre o contexto da codificação e o contexto da recuperação. Conforme ilustra a fig. 4.1, o reconhecimento ocorreu mais substancialmente quando os contextos concordavam. Esse estudo demonstra que o "contexto" não se limita a locais físicos, pode incluir outras pistas presentes durante a codi ficação e a recordação, como a voz de quem fala. Todas as pessoas que estiverem lendo este livro podem prontamente lembrar exemplos da vida real sobre a impor tância do contexto. Os psicólogos também têm explicado uma meta importante de um anúncio publicitário - de verão convidar os consumidores a processar a figura em um nível mais profundo, imaginando como eles mes mos poderiam usar o produto. por que os efeitos do contexto ajudam-nos a funcionar de maneira competente em nossa vida quotidiana. É comum esquecermos itens associados a contextos diferentes do contexto atual. Afinal, não precisamos lembrar detalhes numerosos que poderiam ter sido importantes em um con texto anterior, mas que não têm mais importância no mo mento (Bjork & Bjork, 1988). Você não gostaria, por exem plo, que sua memória ficasse congestionada com detalhes sobre sua turma da terceira série ou sobre a viagem com a turma do último ano no ensino médio. Os efeitos do contexto são fáceis de serem demonstra dos na vida real. Todavia, os estudos de laboratório são um tanto controvertidos. Há alguns anos, uma revisão de 29 pesquisas experimentais sobre a especificidade da codifica ção relatava que 27 delas mostravam a evidência de efeitos do contexto em pelo menos uma condição (Smith, 1988). Contudo, revisões mais recentes argumentam que a espe cificidade da codificação, às vezes, é difícil de ser demons trada em laboratório (Roediger & Guynn, 1996). Por que deveriam os efeitos do contexto ser importantes em um experimento (Smith et ai., 1978) e, ainda assim, não ter in fluência alguma sobre a repetição de um experimento alta mente semelhante (Bjork & Richardson-Klavehn, 1987)? Vejamos três explicações possíveis. 1. Tipos Diferentes de Tarefas de Memória. Uma expli cação para a discrepância entre a vida real e o laboratório é que as duas situações normalmente testam tipos diferentes de memória (Roediger & Guynn, 1996). Para explorar este ponto, precisamos apresentar dois termos importantes: evo cação e reconhecimento. Quando os pesquisadores em memó ria testam a evocação, os participantes devem reproduzir os itens aprendidos anteriormente (por exemplo, você con segue evocar a definição de elaboração?). Em contraste, quan do os pesquisadores em memória testam o reconhecimen to, os participantes devem identificar os itens que foram apresentados em um momento imediatamente anterior (por exemplo, a palavra morfologia apareceu antes neste capítu lo?). Voltemos à especificidade da codificação. Conforme sa lientam Roediger e Guynn (1996), nossos exemplos da vida real normalmente descrevem uma situação em que evoca mos uma experiência anterior, ocorrida muitos anos antes. A especificidade da codificação é, em geral, pregnante nes sas situações da vida real. Vejamos um exemplo: quando cheiro uma flor chamada verbena, sou instantaneamente levado de volta a uma cena da minha infância, no jardim de minha avó. Lembro-me, em especial, de estar caminhando pelo jardim com meus primos (uma experiência que ocor reu há décadas). As pesquisas de laboratório, por sua vez, s i:! ... o u o i:: V .§ u V ...e: o o u V ... V "O E V bll "' .µ o V u ... V r:i... 65% 60% 55% 50% 45% 40% 35% MEMÓRIA DE LONGO PRAZO 81 D Condição de recuperação para mulheres D Condição