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UNESP- UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA CAMPUS DE PRESIDENTE PRUDENTE CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA A GEOGRAFIA ECONÔMICA NA PRODUÇÃO A GEOGRAFIA ECONÔMICA NA PRODUÇÃO A GEOGRAFIA ECONÔMICA NA PRODUÇÃO A GEOGRAFIA ECONÔMICA NA PRODUÇÃO CIENTÍFICA ACADÊMICA DOS PROGRAMAS DE CIENTÍFICA ACADÊMICA DOS PROGRAMAS DE CIENTÍFICA ACADÊMICA DOS PROGRAMAS DE CIENTÍFICA ACADÊMICA DOS PROGRAMAS DE PÓSPÓSPÓSPÓS----GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA NOGRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA NOGRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA NOGRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA NO ESTADO ESTADO ESTADO ESTADO DE SÃO PAULO (1970 DE SÃO PAULO (1970 DE SÃO PAULO (1970 DE SÃO PAULO (1970 ----1998) 1998) 1998) 1998) FLAVIANA GASPAROTTI NUNES FLAVIANA GASPAROTTI NUNES A GEOGRAFIA ECONÔMICA NA PRODUÇÃO A GEOGRAFIA ECONÔMICA NA PRODUÇÃO A GEOGRAFIA ECONÔMICA NA PRODUÇÃO A GEOGRAFIA ECONÔMICA NA PRODUÇÃO CIENTÍFICA ACADÊMICA DOS PROGRAMAS DE CIENTÍFICA ACADÊMICA DOS PROGRAMAS DE CIENTÍFICA ACADÊMICA DOS PROGRAMAS DE CIENTÍFICA ACADÊMICA DOS PROGRAMAS DE PÓSPÓSPÓSPÓS----GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA NO ESTADO GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA NO ESTADO GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA NO ESTADO GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA NO ESTADO DE SÃO PAULO (1970 DE SÃO PAULO (1970 DE SÃO PAULO (1970 DE SÃO PAULO (1970 ----1998)1998)1998)1998) Dissertação apresentada ao Curso de Pós- Graduação em Geografia da Faculdade de Ciências e Tecnologia/UNESP, Campus de Presidente Prudente, Área de Concentração em Desenvolvimento Regional e Planejamento Ambiental para obtenção do título de Mestre. Orientador: Prof. Dr. Eliseu Savério Sposito PRESIDENTE PRUDENTE (SP) JANEIRO, 2000 FLAVIANA GASPAROTTI NUNES A GEOGRAFIA ECONÔMICA NA PRODUÇÃO A GEOGRAFIA ECONÔMICA NA PRODUÇÃO A GEOGRAFIA ECONÔMICA NA PRODUÇÃO A GEOGRAFIA ECONÔMICA NA PRODUÇÃO CIENTÍFICA ACADÊMICA DOS PROGRAMAS DE CIENTÍFICA ACADÊMICA DOS PROGRAMAS DE CIENTÍFICA ACADÊMICA DOS PROGRAMAS DE CIENTÍFICA ACADÊMICA DOS PROGRAMAS DE PÓSPÓSPÓSPÓS----GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA NO ESTADO GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA NO ESTADO GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA NO ESTADO GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA NO ESTADO DE SÃO PAULO (19DE SÃO PAULO (19DE SÃO PAULO (19DE SÃO PAULO (1970 70 70 70 ----1998)1998)1998)1998) BANCA EXAMINADORA DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TITULO DE MESTRE Presidente e Orientador: Prof. Dr. Eliseu Savério Sposito 2º Examinador: Prof. Dr. Ariovaldo Umbelino de Oliveira 3º Examinador: Prof. Dr. José Gilberto de Souza Presidente Prudente, 24 de Fevereiro de 2000. FICHA CATALOGRÁFICA Orientador: Prof. Dr. Eliseu Savério Sposito 1. Geografia Econômica – produção científica. 2. Geografia Econômica. I Título Ficha Catalográfica elaborada pelo Serviço de Biblioteca e Documentação da FCT/UNESP – Campus de Presidente Prudente. 913 N93g Nunes, Flaviana Gasparotti A Geografia Econômica na produção científica acadêmica dos programas de pós-graduação em Geografia no Estado de São Paulo (1970-1998). - - Presidente Prudente: FCT, 2000. 151 p. Dissertação (mestrado) - - UNESP - Faculdade de Ciências e Tecnologia, 2000. DADOS CURRICULARES FLAVIANA GASPAROTTI NUNES NASCIMENTO 22 de Agosto de 1975 – Osasco/SP FILIAÇÃO José Nunes Antonia Augusta Gasparotti Nunes 1994/1997 Curso de Graduação – Licenciatura em Geografia Faculdade de Ciências e Tecnologia Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Campus de Presidente Prudente 1998/2000 Curso de Pós-Graduação em Geografia – nível de Mestrado Faculdade de Ciências e Tecnologia Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Campus de Presidente Prudente AGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOS Para chegar até aqui contei com a colaboração de muitas pessoas que de uma forma direta ou indireta contribuíram para que este trabalho se realizasse. Gostaria de agradecer, em primeiro lugar, à FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) que durante dois anos concedeu auxílio financeiro em forma de bolsa sem a qual este trabalho não teria sido possível. Ao Magaldi pelo início de tudo: deste projeto ainda na iniciação científica e por ter acreditado em mim. Enfim, por ter me iniciado na pesquisa científica. Ao Eliseu por levar em frente o projeto e ter contribuído como orientador para que o trabalho se desenvolvesse com seriedade e qualidade. Aos meus professores da graduação que considero como referenciais em minha formação: Antonio Thomaz Júnior e Maria Encarnação Beltrão Sposito que apesar de tão diferentes (podem pensar alguns...) mostraram com suas diferenças como podemos fazer e pensar a Geografia. Ao Prof. Dr. Ariovaldo Umbelino de Oliveira e Prof. Dr. Antonio Nivaldo Hespanhol pelas críticas e sugestões apresentadas em nosso Exame de Qualificação. Aos amigos da graduação que num trabalho de campo, numa cerveja num boteco qualquer, no dia-a-dia enriqueceram e tornaram minha vida mais feliz por nossa convivência, conversas etc: Marcelo, Terezinha, Fábio e especialmente Sílvia. Além, é claro, de outros que não poderia deixar de lembrar: Marcelino, Mafer, Márcia e Joelma. Ao Cláudio pelos melhores momentos da minha vida. SUMÁRIOSUMÁRIOSUMÁRIOSUMÁRIO Introdução....................................................................Introdução....................................................................Introdução....................................................................Introdução............................................................................................................................................ 09090909 Capítulo 1 Capítulo 1 Capítulo 1 Capítulo 1 –––– Geografia Econômica: elementos para uma definição............ Geografia Econômica: elementos para uma definição............ Geografia Econômica: elementos para uma definição............ Geografia Econômica: elementos para uma definição............ 14141414 A Geografia Econômica no pensamento geográfico............................ 14 Pensando a partir das definições de Geografia Econômica................. 23 Buscando elementos para uma definição atualizada de Geografia Econômica............................................................................................ 28 Capítulo 2 Capítulo 2 Capítulo 2 Capítulo 2 –––– Elementos para a discussão: características da produção Elementos para a discussão: características da produção Elementos para a discussão: características da produção Elementos para a discussão: características da produção científica acadêmica em Geografia Econômica no Estado de São Paulo .....científica acadêmica em Geografia Econômica no Estado de São Paulo .....científica acadêmica em Geografia Econômica no Estado de São Paulo .....científica acadêmica em Geografia Econômica no Estado de São Paulo ..... 34343434 Análise das dissertações e teses........................................................ 36 Temáticasabordadas ......................................................................... 36 Estruturas dos trabalhos .................................................................... 50 Metodologias e referencial teórico.................................................... 62 Década de 1970: a abordagem analítico-descritiva............................. 69 Décadas de 1980 e 1990: a abordagem crítica ou dialética................. 78 As abordagens presentes no período (1970 a 1998)............................ 94 Capítulo 3 Capítulo 3 Capítulo 3 Capítulo 3 –––– Tendências da pesquisa em Geografia Econômica a partir da Tendências da pesquisa em Geografia Econômica a partir da Tendências da pesquisa em Geografia Econômica a partir da Tendências da pesquisa em Geografia Econômica a partir da fonte fonte fonte fonte bibliográfica analisada....................................................................bibliográfica analisada....................................................................bibliográfica analisada....................................................................bibliográfica analisada.................................................................... 95959595 O perfil da Geografia Econômica nos três cursos de pós-graduação do Estado de São Paulo...................................................................... 96 O que dizer da Geografia Econômica?.............................................. 98 O econômico na Geografia Econômica............................................. 106 Considerações Finais................................................................................Considerações Finais................................................................................Considerações Finais................................................................................Considerações Finais................................................................................ 109109109109 Bibliografia..............................................................................................Bibliografia..............................................................................................Bibliografia..............................................................................................Bibliografia.............................................................................................. 112112112112 Anexos...........Anexos...........Anexos...........Anexos............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 133133133133 Anexo I – Quadro das dissertações e teses analisadas ............................................... 133 Anexo II – Temáticas abordadas nas dissertações e teses em Geografia Econômica 145 LISTA DE FIGURASLISTA DE FIGURASLISTA DE FIGURASLISTA DE FIGURAS Figura 1 - Gráfico das Temáticas Abordadas nas Dissertações e Teses em Geografia Econômica – 1970 a 1998 ................................................................................ 37 Figura 2 – Gráfico das Temáticas Abordadas nas Dissertações e Teses em Geografia Econômica defendidas no IGCE/UNESP – 1980 a 1998 ................................ 38 Figura 3 – Gráfico das Temáticas Abordadas nas Dissertações e Teses em Geografia Econômica defendidas na FFLCH/USP – 1970 a 1998 .................................. 40 Figura 4 - Gráfico das Temáticas Abordadas nas Dissertações em Geografia Econômica defendidas na FCT/UNESP – 1989 a 1998 .................................. 42 Figura 5 – Gráfico das Temáticas Abordadas nas Dissertações e Teses em Geografia Econômica – Década de 1970 ........................................................................ 43 Figura 6 - Gráfico das Temáticas Abordadas nas Dissertações e Teses em Geografia Econômica – Década de 1980 ......................................................................... 44 Figura 7 – Gráfico das Temáticas Abordadas nas Dissertações e Teses em Geografia Econômica – Década de 1990.......................................................................... 46 Figura 8 – Gráfico das Estruturas Observadas nas Dissertações e Teses em Geografia Econômica – 1970 a 1998 .............................................................................. 51 Figura 9 – Gráfico das Estruturas Observadas nas Dissertações e Teses em Geografia Econômica – Década de 1970 ......................................................................... 52 Figura 10 – Gráfico das Estruturas Observadas nas Dissertações e Teses em Geografia Econômica – Década de 1980........................................................................ 53 Figura 11 – Gráfico das Estruturas Observadas nas Dissertações e Teses em Geografia Econômica – Década de 1990 ....................................................................... 53 Figura 12 – Gráfico das Estruturas Observadas nas Dissertações e Teses em Geografia Econômica defendidas na FFLCH/USP......................................................... 54 Figura 13 – Gráfico das Estruturas Observadas nas Dissertações e Teses em Geografia Econômica defendidas no IGCE/UNESP....................................................... 54 Figura 14 – Gráfico das Estruturas Observadas nas Dissertações em Geografia Econômica defendidas na FCT/UNESP.......................................................... 55 Figura 15 – Gráfico das Abordagens Teórico-Metodológicas identificadas nas Disserta- ções e Teses em Geografia Econômica (1970 – 1998).................................... 63 Figura 16 – Gráfico das Abordagens Teórico-Metodológicas identificadas nas Disserta- cões e Teses em Geografia Econômica – Década de 1970............................. 64 Figura 17 - Gráfico das Abordagens Teórico-Metodológicas identificadas nas Disserta- ções e Teses em Geografia Econômica – Década de 1980............................. 64 Figura 18 - Gráfico das Abordagens Teórico-Metodológicas identificadas nas Disserta- ções e Teses em Geografia Econômica – Década de 1990............................. 65 Figura 19 - Gráfico das Abordagens Teórico-Metodológicas identificadas nas Disserta- ções e Teses em Geografia Econômica defendidas na FFLCH/USP.............. 66 Figura 20 - Gráfico das Abordagens Teórico-Metodológicas identificadas nas Disserta- ções e Teses em Geografia Econômica defendidas no IGCE/UNESP............ 66 Figura 21 - Gráfico das Abordagens Teórico-Metodológicas identificadas nas Disserta- ções em Geografia Econômica defendidas na FCT/UNESP.......................... 67 LISTA DE ABREVIATURASLISTA DE ABREVIATURASLISTA DE ABREVIATURASLISTA DE ABREVIATURAS FCT – Faculdade de Ciências e Tecnologia FFLCH – Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas IGCE – Instituto deGeociências e Ciências Exatas UNESP – Universidade Estadual Paulista USP – Universidade de São Paulo RESUMORESUMORESUMORESUMO Na perspectiva de contribuir para o campo de investigação relacionado à epistemologia da Geografia, procuramos, neste trabalho fazer uma avaliação crítica de uma de suas áreas, no caso, a Geografia Econômica a partir de sua produção científica mais recente. A metodologia utilizada baseou-se na análise de trabalhos acadêmicos (dissertações e teses) defendidos nos três cursos de pós-graduação em Geografia do Estado de São Paulo: USP (Universidade de São Paulo) e UNESP (Universidade Estadual Paulista) – campi de Presidente Prudente e Rio Claro no período de 1970 a 1998. A partir desta análise procuramos reunir elementos que nos possibilitassem refletir sobre esta parcela da produção científica em Geografia Econômica de forma a iniciarmos neste trabalho uma discussão maior sobre o próprio sentido, validade, alcances e limites da Geografia Econômica em geral. Na análise dos trabalhos procuramos verificar as temáticas abordadas, estruturas, metodologias, referenciais teóricos utilizados. Desta forma, realizamos um mapeamento da produção em Geografia Econômica nos cursos de Pós-Graduação do Estado de São Paulo mostrando os temas mais abordados em cada período e as abordagens teórico-metodológicas presentes. Neste sentido, pudemos identificar basicamente duas abordagens ou tendências teórico-metodológicas nas pesquisas em Geografia Econômica: a abordagem empírico-analítica ou analítico-descritiva e a abordagem crítica ou dialética. De um modo geral, a primeira esteve mais presente nos trabalhos defendidos na década de 1970 sendo que seus traços permanecem de uma forma ou outra em alguns trabalhos das décadas de 1980 e até 1990. A segunda abordagem pode ser identificada nos trabalhos da década de 1980 em diante permanecendo de forma menos clara nos trabalhos mais atuais. Com base no referencial teórico-metodológico também foi possível refletirmos sobre como o econômico comparece na Geografia Econômica e portanto, fazermos uma avaliação da Geografia Econômica nesses trabalhos. Verificamos que o econômico passou de parte do trabalho geográfico a um elemento explicativo dos fatos e situações que possuem uma natureza econômica e podem ser abordadas com um enfoque geográfico. Nos trabalhos da década de 1970 podíamos identificar claramente a separação entre o geográfico e o econômico, com a introdução do materialismo dialético como referencial teórico-metodológico, notamos a utilização do econômico como elemento explicativo para os fatos geográficos. Palavras-chave: Geografia Econômica; produção científica; epistemologia; teoria; método; pensamento geográfico. ABSTRACTABSTRACTABSTRACTABSTRACT With the purpose of contributing to the investigative field related to the epistemology of Geography, we have tried, in this paper, to critically evaluate of one of its areas, in this case, the Economic Geography starting from its more recent scientific production. The methodology used was based on the analysis of academic work (dissertations and thesis) defended in the three postgraduate courses in Geography of the State of São Paulo: USP (Universidade de São Paulo) and UNESP (Universidade Estadual Paulista) – campuses of Presidente Prudente and Rio Claro, during the period of 1970 to 1998. From this analysis we tried to gather elements that enabled us to reflect about this portion of scientific production in Economic Geography to begin, in this work, a broader discussion about the sense, validity, range and limits of Economic Geography in general. In the analysis of the papers we tried to verify the chosen themes, structures, methodologies, and theoretical referentials used. In this way, we mapped the production in Economic Geography in the postgraduate courses of the state of São Paulo, underlining the most chosen themes in each period and the theoretic- methodological approaches present. We basically identify two theoretic-methodological approaches or tendencies in the researches in Economic Geography: the empiric-analytic or analytic- descriptive approach and the critical or dialectic approach. In general, the first was more present in the papers defended in the 1970's and its traces remain in one way or another in some papers of the 1980's and even 1990's. The second approach can be identified from the 1980's on, and is less clear in current work. Based on the theoretic-methodological referential, it was also possible to reflect on how the economic appears in the Economic Geography and therefore, make an evaluation of Economic Geography in these papers. We have verified that the economic has passed from part of geographical work to an explicative element of the facts and situations that have an economic nature and can be approached through a geographical focus. In the work developed in 1970's we could clearly identify the separation between the geographical and the economic, with the introduction of the dialectic materialism as a theoretic- methodological referential, we noticed the use of the economic as an explanatory element for the geographical facts. Keywords: Economic geography; scientific production; epistemology; theory; method; geographical thought. INTRODUÇÃOINTRODUÇÃOINTRODUÇÃOINTRODUÇÃO Foi na perspectiva de contribuir para o campo de investigação relacionado à epistemologia da Geografia que desenvolvemos este trabalho. O objetivo central colocado, a princípio, era tentar fazer uma avaliação crítica de uma área da Geografia, no caso, a Geografia Econômica a partir de sua produção científica mais recente. Claro que é um campo de estudo bastante amplo, mas um passo inicial seria o estudo de algumas fontes bibliográficas como trabalhos acadêmicos (dissertações e teses) defendidos no Estado de São Paulo especificamente nos três cursos de pós- graduação em Geografia: USP (Universidade de São Paulo) e UNESP (Universidade Estadual Paulista) – campi de Rio Claro e Presidente Prudente. E isso foi o que tentamos fazer e esperamos ter conseguido apresentar ao leitor. Acreditamos que o fato de termos eleito o Estado de São Paulo como “território” não significa de forma alguma uma limitação ou uma preocupação local. Deve-se lembrar que até a meados da década de 1980 os cursos da FFLCH/USP e IGCE/UNESP formavam grande parte dos geógrafos que atuavam nas universidades de todo o Brasil, sendo, portanto, cursos de alcance nacional. Cabe ainda esclarecer: por que Geografia Econômica? Tendo em vista a grande importância exercida pelos processos econômicos em quase todas as situações de nossa existência, percebemos que nos diferentes fatos que a Geografia estuda e pode explicar, a dimensão econômica quase sempre está presente. Além disso, tomando a Geografia como área do conhecimento que permite entender os processos determinantes com que a sociedade produz, organiza e se expressa espacialmente entendemos que ela possui um amplo instrumental para explicar as atuais transformações no sistema produtivo e seus reflexos na sociedade. Afinal, essas transformações se expressam territorial e espacialmente; formas (no sentido de entidades de caráter físico e visíveis) e conteúdos (no sentido das relações que se estabelecem entre os agentes em determinado território) deste sistema produtivo trazem reflexos diretos no espaço e no território. Daí a importância de se estudar e refletir sobre a Geografia Econômica. Mesmo não estando explicitamente reunidas sob a denominação de Geografia Econômica, percebemos que as questões que dizem respeito às transformaçõesno sistema produtivo e suas conseqüências espaciais são constituintes da pauta do que poder-se-ia chamar Geografia Econômica atual pois permitem explicar a dinâmica econômica e as novas territorialidades. A metodologia utilizada para a realização do trabalho baseou-se no levantamento e análise das dissertações e teses defendidas nos cursos de pós-graduação da USP e da UNESP no período de 1970 a 1998. As dissertações e teses foram selecionadas inicialmente a partir do tema/objeto que tratam. Pode-se dizer que se trata de um nível inicial e geral da análise que visou a identificação de fenômenos e situações de natureza econômica relacionados ao espaço. Posteriormente verificamos qual o recorte utilizado pelo autor para tratar a temática. O recorte é a via pela qual o objeto foi identificado e estudado pelo autor. Desta forma, os trabalhos foram selecionados e lidos sendo que procuramos seguir alguns passos apontados por Gamboa (1987)1 tais como identificação de técnicas e metodologias utilizadas e referencial teórico a partir de perguntas específicas sobre o texto de cada pesquisa, especialmente nos capítulos tidos como tradicionais e quase sempre intitulados como introdução, referencial teórico, metodologia e conclusões. A partir disso, montamos uma espécie de “banco de dados” 1 Gamboa, Sílvio A.S. Epistemologia da pesquisa em educação – estruturas lógicas e tendências metodológicas. Campinas, UNICAMP, 1987. Tese de Doutorado. Como falaremos adiante, o trabalho de Gamboa nos trouxe uma série de esclarecimentos e sugestões a partir da metodologia por ele utilizada para a análise e discussão da produção discente dos cursos de pós-graduação em educação do Estado de São Paulo entre 1971 e 1984. reunindo as principais características dos trabalhos analisados para que então, pudéssemos refletir sobre elas. Os trabalhos selecionados foram organizados por instituição em que foram defendidos e em ordem cronológica. (vide Anexo I) A partir destes procedimentos procuramos reunir elementos que nos possibilitassem refletir sobre esta parcela da produção científica em Geografia Econômica de forma a iniciarmos neste trabalho uma discussão maior sobre o próprio sentido, validade, alcances e limites da Geografia Econômica em geral. No primeiro capítulo fizemos algumas reflexões sobre a Geografia Econômica no sentido de buscar elementos para sua definição. Neste sentido, procuramos trazer alguns elementos para caracterizar a Geografia Econômica a partir de suas diferentes definições, bem como situá-las dentro da evolução do pensamento geográfico de forma a contextualizá-las e também procurando mostrar nossas impressões e entendimento da Geografia Econômica no sentido de contribuir para uma “atualização” a partir de uma reflexão sobre a validade de determinados elementos em sua caracterização. O segundo capítulo expressa nosso esforço de sistematização e análise das dissertações e teses selecionadas no levantamento bibliográfico efetuado junto às bibliotecas da FCT/UNESP em Presidente Prudente, IGCE/UNESP em Rio Claro e FFLCH/USP em São Paulo. Este capítulo se constitui a base das reflexões sobre a Geografia Econômica na medida em que nesta parte do trabalho procuramos evidenciar os elementos encontrados na análise do material bibliográfico destacando os mais relevantes para se pensar não só a produção existente no Estado de São Paulo em particular e sim enquanto expressão da Geografia Econômica e da própria Geografia. Este capítulo está dividido em dois momentos: o primeiro no qual discutimos as temáticas e estrutura dos trabalhos e o segundo no qual discutimos as metodologias e referenciais teóricos sempre procurando apresentar exemplos a partir do que encontramos nos próprios trabalhos. O terceiro capítulo é uma tentativa mais ampla de reflexão sobre o conjunto de elementos e características observadas nos trabalhos a fim de verificar qual a Geografia Econômica presente neles, quais os avanços, permanências, influências, enfim, o que podemos dizer da Geografia Econômica produzida no Estado de São Paulo tendo em vista as diferentes orientações e mudanças que a própria Geografia sofreu durante o período estudado. Infelizmente a Geografia carece de reflexões internas sobre sua produção; na Geografia Econômica são poucas as análises neste sentido. Por isso, acreditamos que este trabalho pode ser um passo pequeno mas necessário para futuras reflexões. Está evidente que falar em Geografia Econômica não é algo ultrapassado; precisamos sim pensar e refletir sobre o sentido e significado dela. Os temas e questões da conjuntura mundial atual em que vivemos são mais do que motivos e elementos para isso. CAPÍTULO 1CAPÍTULO 1CAPÍTULO 1CAPÍTULO 1 GEOGRAFIA ECONÔMICA: ELEMENTOS PARGEOGRAFIA ECONÔMICA: ELEMENTOS PARGEOGRAFIA ECONÔMICA: ELEMENTOS PARGEOGRAFIA ECONÔMICA: ELEMENTOS PARA UMA DEFINIÇÃOA UMA DEFINIÇÃOA UMA DEFINIÇÃOA UMA DEFINIÇÃO Para iniciarmos a discussão sobre a produção científica em Geografia Econômica precisamos primeiramente esclarecer o que estamos entendendo como Geografia Econômica de forma que o leitor possa ter clareza sobre os critérios e balizamentos que nortearam as reflexões e mesmo a seleção dos trabalhos e de determinados elementos nestes. Neste sentido, tentaremos neste primeiro capítulo trazer alguns elementos para caracterizar a Geografia Econômica a partir de suas diferentes definições, bem como situá-la dentro da evolução do pensamento geográfico de forma a contextualizá-la. Além disso, procuraremos também esclarecer nossas impressões e entendimento da Geografia Econômica no sentido de contribuir para uma “atualização” a partir de uma reflexão sobre a validade de determinados elementos em sua caracterização. A Geografia Econômica no pensamento geográficoA Geografia Econômica no pensamento geográficoA Geografia Econômica no pensamento geográficoA Geografia Econômica no pensamento geográfico Há poucas referências à Geografia Econômica e sua história especificamente na história do pensamento geográfico. Em um ou outro momento encontramos um dado ou uma citação referente a este campo da Geografia o que tornou difícil, para nós, uma reconstituição mais detalhada desta história. Sobre a origem do termo Geografia Econômica, segundo Wooldridge e East (1967) parece ter sido utilizado pela primeira vez pelo alemão Gotz (1882)2 para distinguir seus trabalhos de Geografia Comercial. A Geografia Comercial servia como uma espécie de material de consulta pois não passava de afirmações sobre fatos, com dados históricos e estatísticos acerca da situação, magnitude e processos concernentes á produção e troca de mercadorias. Os autores afirmam que: Na opinião de Gotz, a Geografia Econômica seria a Geografia Comercial tratada do ponto de vista das relações de causalidade. Seu objetivo seria o estudo científico das áreas do mundo, com respeito à influência direta que exercem sobre a produção de mercadorias. Nesse particular, definiu-se um longo caminho que muitos geógrafos especialistas em Geografia Econômica trilharam, buscando verificar, acima de tudo, a influência dos fatores de ordem física sobre as ocupações, os produtos e, de modo mais geral, a vida dos povos estabelecidos nas diferentes partes do globo. Trata-se, pois, de uma tarefa eminentemente geográfica e relacionada de maneira direta como o campo da Geografia Geral, possuindo bastante em comum com o mesmo. Procura estabelecer para o mundo, considerado como um todo, a natureza e o fundamento lógico de suas diferenciações regionais. (...) (Wooldridge e East, 1967, p. 109) Tomando-se por base os períodos e escolas constituintes da Geografia moderna3, podemos dizerque a origem da Geografia Econômica está vinculada à Escola Francesa que teve como principal expoente Paul Vidal de La Blache. La Blache acentuou o propósito humano da Geografia vinculando todos os estudos à Geografia Humana (Moraes, 1986, p.72) propiciando uma distinção em relação à Escola Alemã de Humboldt, Ritter e Ratzel que de uma forma geral dava maior importância aos elementos naturais. No caso de Ratzel isso se deve ao fato de 2 Os autores não mencionam o ano/época deste fato, mas Lutgens (1954, p.4) coloca esta data. 3 Não é nosso objetivo neste trabalho fazer uma trajetória detalhada da evolução do pensamento geográfico. Para uma visão mais ampla deste assunto com as características e principais idéias desses períodos e escolas ver Capel, Horácio. Filosofia y Ciencia en la Geografía Contemporánea. Barcelona: Barcanova, 1981. suas idéias se desenvolverem a partir da relação homem-meio pela perspectiva do meio como elemento central para se pensar as condições humanas. Na verdade, a proposta de La Blache foi uma espécie de “reação” às idéias da Escola Alemã na medida em que colocava o homem como ser ativo que sofre a influência do meio, porém atua sobre este transformando-o. Podemos dizer que os fatos econômicos dentro da proposta de La Blache eram uma conseqüência do humano. Desta forma, as atividades econômicas como comércio e circulação são vistos como fatores do desenvolvimento humano. Na obra Princípios de Geografia Humana (1954)4, após falar da distribuição do homem no globo e das formas de civilização, La Blache destaca a circulação de forma a mostrar a importância dos progressos dos meios de transporte para o desenvolvimento econômico. Vejamos o que ele fala: Quaisquer que tenham sido as modificações trazidas pelos caminhos-de-ferro, ligam-se mais ao passado do que o substituem. Importa ter em grande consideração o que previamente as estradas haviam levado a termo, as conseqüências a que tinham dado origem e que persistem através dos factos econômicos da idade atual. Por exemplo, a indústria moderna enxertou-se muito freqüentemente nas relações criadas pelas estradas. Se muitas das cidades industriais européias puderam conservar sua vitalidade, apesar das vicissitudes a que tiveram expostos os seus gêneros de trabalho, devem-no à posição de que desfrutavam em estradas freqüentadas desde remotos tempos pelo comércio. (...) (La Blache, 1954, p. 317-318) A partir das idéias de La Blache, dentro da Geografia Francesa desenvolveram-se os estudos regionais5 e a Geografia Regional tornou-se a mais usual perspectiva de análise geográfica. Com a grande quantidade de estudos regionais 4 La Blache, Paul Vidal de. Princípios de Geografia Humana. Lisboa: Cosmos, 1954. 5 O conceito de região foi explicitado pela Escola Francesa como uma unidade de análise geográfica que exprimia a forma de os homens organizarem o espaço terrestre; seria uma escala de análise dotada de individualidade em relação à áreas limítrofes (Moraes,1986, p. 75) iniciaram-se as especializações que tentavam uma reunião de certos elementos levantados em tais estudos, como o agrícola, urbano, etc. Dentre estas especializações tem-se a Geografia Econômica que inicialmente privilegiou como objeto de análise a vida econômica de uma região, discutindo os fluxos, o trabalho, a produção, etc, articulando população, comércio, indústria, transportes, entre outros elementos do quadro regional6. Pode-se dizer que a Geografia Econômica contentava-se então com o reconhecimento da “vida econômica regional” e suas formas correspondentes através de fenômenos que se manifestavam em escalas maiores, sendo facilmente identificáveis nas observações empíricas cujas lógicas internas eram explicadas pela interdependência funcional dos elementos e fatores. A partir dos pressupostos gerais de La Blache alguns autores desenvolveram estudos específicos nos quais encontramos a preocupação com as questões econômicas. Neste caso, podemos citar A. Demangeon (1872-1940) que revelou a problemática econômica enfatizando as instalações humanas em relação às atividades produtivas e Camille Vallaux por entender que a Geografia deveria estudar o “quarto estado da matéria”, aquele criado pelo trabalho humano, portanto resultante das atividades produtivas. Mesmo tendo exercido pouca influência na Geografia francesa oficial e não seguir a proposta lablachiana, acreditamos que Elisée Reclus (1830-1905) é um nome que deve ser lembrado quando se fala da discussão de questões econômicas na Geografia. Segundo Lacoste7, Reclus já levantava em sua época o problema do desenvolvimento industrial, da análise das estruturas econômicas, políticas e sociais nos 6 Para termos uma idéia de como isso ocorreu basta pegarmos, por exemplo, os índices dos trabalhos de Delgado de Carvalho e Aroldo de Azevedo. 7 Citado por Andrade (1991, p.26) estudos geográficos. Neste sentido, ao referir-se ao papel de Reclus na Geografia francesa, Capel destaca que: (...) Reclus pone de manifesto, una y outra vez, el papel de la organización social en la producción y en la organización del espacio geográfico, e incorpora decididamente temas que a vences tardarían en ser incluidos en la tradición geográfica: el problema de la defectuosa explotacíon de la tierra como resultado de la estructura social de la propriedad o de la explotacíon; el tema de la colonización y el imperialismo europeo; la incidencia del mercado mundial en la actividad y en la vida de los productores; la situación social de la población urbana y rural; la inadecuada distribución de los recursos terrestres, que él considera suficientes para alimentar la población mundial. (...) (1982, p. 305) Outro momento em que podemos destacar a Geografia Econômica no pensamento geográfico refere-se à decada de 1950. A partir da Segunda Guerra Mundial o capitalismo sofre mudanças no que diz respeito à divisão social e territorial do trabalho e isso se reflete nas ciências, principalmente nas ciências humanas tendo em vista o progresso de seus suportes, as necessidades dos utilizadores e o próprio objeto. O progresso na automação trouxe, então, a necessidade de buscar alternativas que respondessem às novas exigências. (Santos, 1980)8. A Geografia neste momento começa a assistir a essa busca de alternativas em seu interior tendo como uma das principais expressões o surgimento da chamada Nova Geografia dentro do movimento de renovação. A Nova Geografia, como afirma Santos (1980) quer marcar distância em relação à Geografia Clássica constituindo-se num novo paradigma, num novo método, utilizando-se de uma nova linguagem na tentativa de sobrepor-se às chamadas “escolas nacionais”. 8 Santos, Milton. Por uma Geografia Nova – da crítica da Geografia à uma Geografia crítica. São Paulo: Hucitec, 1980. Claro que, como é sabido, a New Geography provocou reações que iam desde sua defesa incondicional até seu total repúdio. Esse repúdio e as críticas mais veementes vinham em função do papel ideológico e pragmático que se revestia essa Geografia. Como afirma Correa (1987)9 a Nova Geografia tinha função de justificar a expansão capitalista e escamotear as transformações por meio de sua ação pragmática e de planejamento do Estado capitalista. A crítica de Santos (1980) vai no mesmo sentido, ou seja, do comprometimento de sua manifestação quantitativa valorizando o empírico e o ideológico. Dentro deste contexto, a Geografia Econômica pautou-se exclusivamente na utilização de modelos hipotéticos sem priorizar a compreensão ou explicação da realidade. Desta forma, os modelospropostos por Lösch, von Thünen e Christaller foram incorporados e particularizados aos estudos geográficos temáticos tomando-os como generalizadores de explicações que tentavam ajustá-los indiscriminadamente à realidade. Dentro desta escola, a Geografia Econômica adotou os modelos propostos demonstrando os mesmos problemas e limitações impostas por eles em sua aplicação aos fenômenos dinâmicos do espaço10. Ainda no contexto do movimento de renovação da Geografia, na vertente conhecida como crítica, principalmente para a Geografia Econômica, destaca- se o nome de Pierre George. A partir das transformações ocorridas na Geografia Regional Francesa que se aproximava mais da História e da Economia, George 9 Correa, Roberto L. Região e Organização Espacial. São Paulo: Ática, 1987. 10 Como exemplo de trabalhos seguindo esta linha, especificamente no Brasil, podemos citar grande parte dos artigos de Speridião Faissol publicados durante a década de 1970 na Revista Brasileira de Geografia (IBGE). introduziu alguns conceitos de formação e/ou inspiração marxista na discussão geográfica como relações de produção, relações de trabalho, capital e forças produtivas. Inclusive deve-se ressaltar que sua obra “Geografia Econômica” foi um marco importante para a época11 embora tenha sido posteriormente criticada. Oliveira (1982) afirma que nesta obra, George fala da forma sem se envolver com o conteúdo, abstraindo conceitos como modo de produção, classes sociais e luta de classes que são fundamentais para se entender o econômico enquanto infra- estrutura econômica da sociedade12. Além disso, para a realização e discussão dos temas adota-se uma postura aparentemente neutra. Para Oliveira a chave para a compreensão da obra de George está no fato de que o autor utiliza-se de conceitos do materialismo histórico articulando-os segundo o método histórico da economia (um choque teórico-metodológico na sua prática teórica). Desta forma, seria uma orientação na qual a história segue uma linearidade evolucionista, não havendo grandes rupturas sendo que todo funcionamento das dinâmicas econômicas e sua relação com o espaço seguiria esta linearidade, não permitindo que as contradições presentes nestas dinâmicas produzam grandes rupturas. Isto não significa demérito para a obra de George, mas é importante destacar seus limites no âmbito da Geografia e da Geografia Econômica. Quanto à Geografia Econômica brasileira, em particular, segundo Silva (1988, p. 32) esta “desenvolveu-se segundo quatro temas que foram 11 Uma análise preliminar desta obra pode ser encontrada em nosso trabalho de Iniciação Científica intitulado Geografia e Economia: fronteiras e convergências – um estudo da produção científica em Geografia Econômica concluído em Julho/1997 sob orientação do Prof. Sérgio Braz Magaldi e apoio financeiro do PIBIC/CNPq. 12 Para este entendimento toma-se por base, como instrumento de análise, como faz Oliveira, o materialismo histórico dialético tal como Marx. sucessivamente se impondo em vista das transformações ocorridas nos últimos trinta anos”. Segundo o autor esses temas seriam: 1) recursos naturais e posteriormente recursos humanos que se desenvolveram a partir da década de 40 quando com o início da implantação da indústria de base no Brasil, os problemas da agricultura e pecuária começaram a ganhar dimensões diferentes da perspectiva da industrialização; 2) produção e circulação que foi introduzido na década de 50 levantando-se a questão da localização de atividades relacionadas ao sistema econômico tendo em vista as variáveis geográficas; 3) desenvolvimento e subdesenvolvimento que surgiu na década de 60 e início da década de 70 discutindo os problemas anteriores de recursos e de produção e circulação sob o prisma desta questão e 4) problemas referentes à organização do espaço que foi introduzido na década de 70 englobando os anteriores, principalmente a teoria da localização que passa a ser vista como parte da problemática regional. Com relação ao momento mais recente, na seqüência procuraremos mostrar as questões atuais da Geografia Econômica em termos de definição de objeto, temáticas etc. O próprio desenrolar deste trabalho trará elementos para pensarmos o momento atual e mais especificamente as duas últimas décadas. No entanto, já devemos lembrar que a partir da década de 1980 a Geografia brasileira viveu um momento de grandes mudanças e rupturas teórico- metodológicas que poderão ser observadas na Geografia Econômica pelas temáticas tratadas e forma de abordagens destas13. Já nos fins da década de 1980 e início da década de 1990 com as mudanças na economia global, nas estruturas das relações de poder e a chamada crise 13 No Capítulo seguinte estaremos discutindo detalhadamente esta questão. paradigmática do mundo moderno14a Geografia Econômica passa a se preocupar, então com as questões que envolvem esse mundo em mutação. Dessa maneira, a partir do novo paradigma técno-econômico baseado na informação surgem novos processos e temas como a reestruturação industrial, acumulação flexível, flexibilização das relações de trabalho, entre outros. Quanto ao referencial teórico-metodológico adotado, assim como na Geografia em geral notamos a permanência do materialismo histórico dialético mas já apontando para novas tendências que ainda estão sendo delineadas. Pensando a partir das definições de Geografia EconômicaPensando a partir das definições de Geografia EconômicaPensando a partir das definições de Geografia EconômicaPensando a partir das definições de Geografia Econômica Tendo em vista os objetivos deste trabalho faz-se necessária uma reflexão do significado da Geografia Econômica na medida em que precisamos deixar claro “o que é” para depois pensarmos no “como é”. Nesta reflexão nos baseamos majoritariamente nas definições de Geografia Econômica encontradas na bibliografia existente, principalmente em Manuais verificando que nos últimos anos (décadas de 1980 e 1990) muito pouco foi publicado neste sentido, ou seja, definindo ou refletindo sobre a Geografia Econômica. Sendo assim, segue-se uma tentativa de reflexão sobre a Geografia Econômica a partir dos elementos contidos nas definições de diferentes autores. Vejamos o que diz George (1983, p.1)15: 14 Para mais detalhes sobre esta questão ver: Moreira, Ruy.O círculo e a espiral – a crise paradigmática do mundo moderno. Rio de Janeiro: Obra Aberta, 1993. Nesta obra o autor discute essa questão destacando o papel do Estado, da técnica e da própria cultura técnico-científica baseada no paradigma cartesiano-newtoniano no interior da crise do capitalismo do final do século XX. 15 Aqui chamamos atenção para o fato de que a primeira edição desta obra em português é de 1961. A Geografia Econômica tem por objeto o estudo das formas de produção e o da localização16 do consumo dos diferentes produtos no âmbito mundial17. (1983, p.1) Seguindo esta mesma orientação teórica de George, temos várias outras bastante semelhantes: (...) A finalidade desta disciplina será o estudo das formas de produção e localização do consumo dos diferentes artigos em conjunto mundial. (Torres e Saenz, 1972, p.13) (...) a preocupação especial do especialista em Geografia Econômica relaciona-se com a distribuição espacial das atividades produtivas; a tarefa dele consiste em estabelecer e analisar modelos de áreas desta distribuição e chegar, se possível, a explanações válidas das mesmas. (Estall e Buchanan, 1971, p.15) Embora anteriores, as definições abaixo também mostram a preocupação com osmesmos elementos: La Geografía Económica estudia la producción y la distribuición de las mercancias (...) (Allix, 1950, p.528) (...) é a parte da Geografia Humana que estuda a localização das riquezas naturais e dos bens materiais criados pelo homem na superfície terrestre, levando em conta as influências que exercem sobre esta e o meio físico e a atividade humana. (Repetto, 1959, p.173) (...) A Geografia Econômica é o estudo da relação dos fatores físicos do meio com as condições econômicas das ocupações produtivas e da distribuição que se produz. (Jones e Darkenwald, 1955, p. 20) O aspecto que destacamos nestas definições é a grande ênfase dada à localização do consumo e das formas de produção em escala mundial. Nem tanto para 16Grifo nosso. 17Grifo nosso. as formas de produção (geralmente entendidas apenas no “como se produz” sem levar em consideração elementos estruturantes do processo de produção) e mais para a localização em escala mundial. Desta forma, pode-se dizer que a Geografia Econômica preocupava-se com o “o que e onde” se produz identificando e localizando fatos de natureza econômica. Destaca-se que a definição de Repetto chama atenção para a questão das influências. A de Estall e Buchanan (1971) aponta a análise de modelos18 . Dentre as definições encontradas, a de Manners (1976) nos parece a mais inovadora no sentido de que lança elementos novos como as diferencialidades; ele fala em "caráter variável da vida econômica" e as próprias relações existentes entre os diferentes espaços de produção, consumo, circulação, enfim, das atividades econômicas, embora também utilize-se da descrição: “Os geógrafos econômicos procuram compreender, pela escrição e análise, o caráter variável da vida econômica, sobre a face da terra e os intercâmbios espaciais correlatos. (p.15)” A questão da localização da produção e do consumo é sem dúvida, o ponto central da Geografia Econômica segundo as definições apresentadas. Qual seria, então, o papel da Geografia Econômica? Com base nestas definições, a Geografia Econômica seria responsável pelo mapeamento das atividades produtivas na superfície terrestre dando ênfase às “semelhanças e diferenças de região para região, pequenas e grandes regiões e nas relações entre estas” (Thoman, 1968 apud Megale). Desta forma, a Geografia Econômica encarregar-se-ia de localizar e descrever as atividades econômicas/produtivas (produção, distribuição e consumo) sobre a superfície terrestre de forma a caracterizá-las. 18 Aqui deve-se levar em consideração o momento por que passava a Geografia enfatizando as abordagens modelísticas e sistêmicas. Megale (1975, p.08) afirma que “(...) a Geografia Econômica é a parte da ciência geográfica tendo seu aspecto espacial definido quanto à sua relação com a economia”. Embora sua definição seja um pouco vaga ou não muito clara, Megale chama atenção para a relação com a Economia dando um caráter menos generalizante à Geografia Econômica. Neste sentido, lembramos o que Milton Santos (1980) também aponta quanto às relações e mesmo contribuições que a Geografia pode trazer á Economia: A própria geografia pode contribuir para a evolução conceitual de outras disciplinas, a economia, por exemplo, e isso se tornou muito mais evidente depois que a economia neoclássica se impôs escolasticamente e também politicamente, como instrumento essencial à difusão capitalista. Como a economia neoclássica é por definição, uma abstração em relação ao homem e ao meio geográfico, os estudos geográficos ganharam assim novas condições para colaborar no aperfeiçoamento de muitos dos conceitos econômicos. (p.102) É Rochefort (1998, p.44-45) quem faz uma clara relação entre espaço e economia: (...) A economia se inscreve no espaço por lugares onde se faz a produção, quer seja a produção primária (como para a borracha, as plantações de héveas), a produção industrial (isto é, a localização da fábrica onde se opera a transformação de matérias-primas em produtos acabados), a produção terciária (por exemplo, o local onde fisicamente está implantada a filial bancária que recebe o cliente). Esta é uma primeira relação entre economia e espaço. A segunda é a localização das direções desses três tipos de estabelecimentos. (...) A relação apontada por Rochefort parece voltada ao entendimento de Geografia Econômica predominante nas definições anteriormente destacadas na medida em que enfatiza a questão da localização. Podemos, então, perceber uma restrição da Geografia Econômica aos aspectos da distribuição dos fatos econômicos no território, ou seja, aos elementos visíveis e aparentes que se materializam em determinada porção do território. Os estudos de Geografia Econômica, portanto, consideravam as paisagens econômicas numa perspectiva estática, sem buscar as relações e os cruzamentos que as diferentes instâncias mantêm através dos agentes, instituições, governos e mercados, em diferentes níveis e escalas. Mas e a discussão do que está além dos aspectos visíveis? E os processos e relações desencadeadoras dessa materialidade? Não caberia à Geografia Econômica a discussão de tais questões deixando de fazer tão somente uma análise empírica e descritiva ? Na seqüência procuraremos pontuar algumas questões que julgamos importantes para avançarmos numa definição de Geografia Econômica que procure contemplar a preocupação acima colocada. Buscando elementos para uma definição atualizada de Geografia Buscando elementos para uma definição atualizada de Geografia Buscando elementos para uma definição atualizada de Geografia Buscando elementos para uma definição atualizada de Geografia EconômicaEconômicaEconômicaEconômica A partir das definições apresentadas acima iremos agora esclarecer os elementos que balizaram a análise da produção científica em Geografia Econômica podendo delimitar com maior precisão a abrangência de suas preocupações. Isto não significa que traremos uma nova definição de Geografia Econômica, mas sim refletiremos sobre a validade de determinados elementos na caracterização da Geografia Econômica como contribuição à sua atualização. A Geografia Econômica sustenta-se primeiramente por apresentar uma característica básica: a precedência do fato/evento econômico na determinação dos processos e relações que produzem as diferentes formas espaciais. Sendo assim, devemos ter claro que a Geografia Econômica procura fazer uma análise geográfica dos fatos econômicos que estão presentes nas diferentes formas espaciais que são produto e condição para o desenvolvimento das forças produtivas e de suas relações determinantes/conseqüentes. De um modo geral, poderíamos dizer que o enfoque econômico no trabalho geográfico relaciona-se à espacialidade dos fatos econômicos, visto que esses fatos têm a capacidade de se expressar e materializar no espaço. Neste sentido, deve-se ressaltar a importância do “geográfico” em processos histórico-estruturais como os de aprofundamento e complexificação da divisão do trabalho e da reprodução ampliada do capital, além do comparecimento não neutro do território nos processos de (re)estruturação de mercados ou de reconfiguração de objetos, métodos e processos associados à produção e às novas formas de organização, controle e regulação do trabalho envolvendo agentes tais como firmas, corporações, ramos e indústrias, sindicatos, entre outros. (Magaldi, 1996) Benko (1996) fala em comportamento geográfico das atividades econômicas e discutindoo que denomina de Geografia Econômica contemporânea chama atenção justamente para as questões que não dizem respeito apenas ao sistema produtivo em si, mas ao papel de alguns conceitos e questões como modo de regulação, modelo de desenvolvimento, paradigma tecnológico, entre outros para a compreensão da organização territorial da produção contemporânea. Em outras palavras, não basta localizar a produção, a Geografia Econômica deve buscar explicar o movimento dessa produção e o conjunto de elementos envolvidos que produzem as diferentes configurações espaciais que principalmente neste final de século apresentam grandes mudanças. Compreender essas mudanças em nível espacial seria, então, o papel da Geografia Econômica. Fazendo um balanço da Geografia Econômica nas últimas décadas, Martin (1996) afirma que até a década de 1980 a Geografia Econômica organizou-se em torno de dois programas de pesquisa básicos: a dinâmica da localização industrial e o processo de desenvolvimento regional desigual utilizando conceitos e teorias da economia neoclássica, de Keynes e de Marx e que essa situação tem mudado nos últimos anos principalmente porque as bases teóricas estão sendo contestadas. Segundo Martin: (...) Nenhuma das principais escolas de economia – neoclássica, keynesiana ou marxista – explica adequadamente os acontecimentos e mudanças das últimas duas décadas, e, à medida que esses principais paradigmas ficaram como que sitiados, houve um avanço nas revisões, reformulações e perspectivas alternativas propostas. (...) (1996, p. 33) Além disso, a economia está em mutação havendo um novo paradigma técno-econômico baseado na informação e com ele novos processos e temas (reestruturação industrial, relações de trabalho, entre outros). Portanto, não vivemos mais o paradigma da economia industrial, ele não é mais capaz de explicar a realidade, e com isso, a Geografia Econômica precisa buscar outros referenciais. Neste sentido, aponta a necessidade de se fazer uma Geografia Econômica de múltiplas dimensões considerando quatro níveis: microeconomia de indivíduos e empresas, macroeconomia do estado-nação, a economia do capital e as finanças transnacionais e a economia global ou mundial (Martin, 1996, p.56). De qualquer maneira, percebe-se que o espaço a ser considerado é essencialmente o espaço para reprodução do capital, na medida em que a constituição do espaço em sentido amplo tem como princípio básico a dinâmica do sistema capitalista e suas diversas variáveis. Destacamos, então, a existência de uma base econômica fundamental em fatos que se expressam espacialmente, ou seja, o econômico não é a única determinação, mas é uma condição básica para os processos e fenômenos espacializáveis. Diante do exposto, percebemos que alguns elementos se revelam importantes para o entendimento dos fatos econômicos na análise geográfica Dentre esses podemos destacar: produção, circulação, consumo, relações capital/trabalho, movimento/dinâmica, contradição, Estado e classes sociais. Neste sentido, a busca de uma atualização da Geografia Econômica, mesmo levando-se em consideração a nova estrutura econômico-produtiva mundial e as temáticas e situações conseqüentes desta, ainda deve ter tais elementos como centrais para suas análises e interpretações. Processos como produção, circulação e consumo, por exemplo, embora possam apresentar novas configurações e dinâmicas ainda continuam sendo importantes para se explicar as atuais realidades econômico-espaciais. Assim, também, as relações capital-trabalho, o papel do Estado e as relações de classe, sempre procurando considerá-los dentro de uma dinâmica que é contraditória (a dinâmica do capital). Por fim, apenas a título de esclarecimento, para que possamos justificar no conjunto dos trabalhos analisados (dissertações e teses) a presença de alguns que poderiam ser classificados como Geografia Rural ou Geografia Urbana, deve-se lembrar que os fatos econômicos podem manifestar-se em diferentes lugares. Desta forma, sabemos que os objetos da Geografia Econômica podem estar relacionados ao rural (campo) ou ao urbano (cidade). É aceitável, portanto que em algumas situações iremos “esbarrar” na Geografia Rural ou Urbana19. Mas o que deve ficar claro mais uma vez é o “recorte” estabelecido para o tratamento do objeto. Entendemos que os estudos “rurais” e “urbanos” que manteriam contato com a Geografia Econômica expressam preocupação com as formas espaciais que guardam em seu conteúdo uma certa precedência de natureza econômica. Claro que a esta se combinam as dinâmicas sociais e políticas produzindo diferentes formas espaciais. Não queremos reduzir o espectro dos estudos rurais e urbanos em Geografia, mas tão somente identificar aqueles que sublinham os processos econômicos em curso naquelas fases de organização do espaço. Deve-se destacar que tanto no urbano como no rural as atividades de produção, circulação, consumo, intermediação financeira, além das relações de produção e seus agentes estão presentes. Portanto, dependendo de como determinadas questões de natureza econômica são tratadas na cidade ou no campo, pode-se estar fazendo uma leitura geoeconômica da cidade ou do campo. Os fatos específicos ligados à dinâmica externa e interna do campo ou da cidade podem também “esbarrar” no econômico. No entanto, as preocupações em termos de objetivos são diferentes. No caso deste trabalho, nossa hipótese é que o econômico aparece como elemento explicativo de outros fatos ou processos específicos. Assim, para a Geografia Econômica, o urbano ou o rural aparecem como formas espaciais produzidas pela dinâmica econômica; daí buscarmos uma leitura geográfica destes fatos. Não queremos com isso adotar uma perspectiva limitadora, apenas queremos deixar claro que para os fins deste trabalho haverá uma precedência e não 19 Beltrão Sposito (1999) fala da importância da valorização da análise econômica na pesquisa urbana desde que articulada a outras dimensões de análise afastando-se do enfoque “economicista” que toma o econômico como determinante do conjunto de transformações sociais, políticas e ideológicas. determinação do econômico para explicação dos fatos que assumem diferentes formas quando materializados no espaço. Portanto, salientamos que a inclusão de alguns trabalhos baseou-se no enfoque dado pelo autor, no “peso” dado ao econômico dentro da obra para explicação do fenômeno que se materializa na cidade ou no campo. CAPÍTULO 2 CAPÍTULO 2 CAPÍTULO 2 CAPÍTULO 2 ELEMENTOS PARA A DISCUSSÃO: CARACTERÍSTICAS DA ELEMENTOS PARA A DISCUSSÃO: CARACTERÍSTICAS DA ELEMENTOS PARA A DISCUSSÃO: CARACTERÍSTICAS DA ELEMENTOS PARA A DISCUSSÃO: CARACTERÍSTICAS DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA ACADÊMICA PRODUÇÃO CIENTÍFICA ACADÊMICA PRODUÇÃO CIENTÍFICA ACADÊMICA PRODUÇÃO CIENTÍFICA ACADÊMICA EM GEOGRAFIA ECONÔMICA EM GEOGRAFIA ECONÔMICA EM GEOGRAFIA ECONÔMICA EM GEOGRAFIA ECONÔMICA NO ESTADO DE SÃO PAULONO ESTADO DE SÃO PAULONO ESTADO DE SÃO PAULONO ESTADO DE SÃO PAULO Após os esclarecimentos teóricos feitos no Capítulo 1, passamos agora à apresentação e discussão da fonte bibliográfica estudada a fim de buscar elementos para procedermos a uma avaliação da Geografia Econômica. Como dissemos na introdução deste trabalho, a série temporal analisada compreendeu os anos 1970-1998. Foram consultadas cerca de 500 dissertações e teses defendidas no cursos de Pós-graduação em Geografia da FCT/UNESP/Presidente Prudente, Área de Concentração em Desenvolvimento Regional e Planejamento Ambiental, do IGCE/UNESP/Rio Claro, Área de Concentração em Organização do Espaço e da FFLCH/USP, Área de Concentração em Geografia Humana. Destas500 foram selecionadas 132 entre os 3 cursos de acordo com os critérios estabelecidos e mencionados anteriormente. Os trabalhos selecionados podem ser conhecidos pelo quadro apresentado no Anexo I. A leitura de Gamboa (1987) nos trouxe alguns esclarecimentos e sugestões a partir da metodologia por ele utilizada em seu trabalho20. Segundo Gamboa a questão metodológica deve ser abordada levando-se em conta a relação entre o lógico e o histórico. O lógico caracteriza-se pela reconstituição das estruturas internas das abordagens explicitando as categorias técnico-metodológicas, teóricas, epistemológicas, 20 Trata-se de uma pesquisa sobre a produção discente dos cursos de pós-graduação em Educação do Estado de São Paulo (1971-1984) que tomou como universo de análise 502 teses e dissertações produzidas nesses cursos. gnosiológicas e ontológicas. Já o histórico seria o relacionamento entre as tendências e o período estudado. Dentre os elementos lógicos destacam-se o nível técnico no qual observou-se a utilização de técnicas de coleta, tratamento e análise de dados, ou seja, qual o tipo de técnica utilizada pelo pesquisador; o nível teórico abordou o tipo de referencial teórico utilizado e o epistemológico procurou identificar conceitos e inter- relações que se mostraram centrais no conjunto dos trabalhos. Utilizando-se desta relação Gamboa destaca as seguintes abordagens na pesquisa em Educação: empírico-analíticas, fenomenológico-hermenêuticas e crítico- dialéticas. Assim como Gamboa, nosso objeto é a produção discente dos cursos de Pós-Graduação (neste caso em Geografia) de modo que sua leitura trouxe ainda elementos para pensar como proceder a uma análise de produção científica. Gamboa utilizou um esquema paradigmático21 que continha vários tópicos e a partir da análise destes é que avaliou o conjunto dos trabalhos. Para leitura do material selecionado seguimos alguns passos apontados por Gamboa (1987) tais como identificação de técnicas e metodologias utilizadas e referencial teórico a partir de perguntas específicas sobre o texto de cada pesquisa22, especialmente nos capítulos tidos como tradicionais e quase sempre intitulados como introdução, referencial teórico, metodologia e conclusões. A partir disso, montamos uma espécie de “banco de dados” reunindo as principais características dos trabalhos analisados para que pudessem ser melhor refletidos posteriormente. Tendo constituído este banco de dados, passamos à sua análise a fim de caracterizar e refletir sobre a Geografia Econômica presente nesses trabalhos. 21 Esse esquema continha os seguintes tópicos: nível técnico, nível metodológico, nível teórico, nível epistemológico os quais já nos referimos anteriormente, pressupostos lógico-gnosiológicos (objetividade, subjetividade ou concreticidade) e pressupostos ontológicos (qual a visão de homem implícita). 22 Essas perguntas eram basicamente: Quais os objetivos do trabalho? Qual a metodologia utilizada? Qual o referencial teórico? Como estruturou o trabalho? O que aponta como conclusões? Análise das disAnálise das disAnálise das disAnálise das dissertações e tesessertações e tesessertações e tesessertações e teses Na análise das dissertações e teses também estabelecemos dois níveis: um primeiro mais inicial que procurou verificar as temáticas e assuntos abordados nos trabalhos além das principais técnicas de pesquisa; no segundo nível procuramos refletir sobre as metodologias e referencial teórico dos trabalhos. Temáticas abordadas Temáticas abordadas Temáticas abordadas Temáticas abordadas No quadro apresentado no Anexo II podemos verificar as temáticas abordadas nas dissertações e teses em Geografia Econômica, o total de trabalhos nas temáticas, sua freqüência por curso/instituição e ano de defesa. Para que pudéssemos visualizar com mais facilidade as temáticas abordadas nos trabalhos, elaboramos o gráfico abaixo: Figura 1 Legenda: 1- Agricultura (Modernização) 14- Comércio (Atacado) 2- Agricultura (Pequena produção) 15- Comércio (Franquias) 3- Agricultura (Relações de trabalho) 16- Comércio (Varejo) 4- Agricultura (Quadros agrários e agrícolas –atividades) 17- Comércio regional (Estudo de caso) 5- Agricultura e produção do espaço 18- Comércio (Supermercados e entrepostos) 6- Agricultura (Cooperativas) 19- Relações de Trabalho 7- Agricultura (Agroindústria) 20- Migrações 8- Indústria (Ramos) 21- Caracterização econômica de regiões 9- Indústria (Estudo de Caso – local) 22- Transportes 10- Indústria (Distritos) 23- Discussões teórico-metodológicas 11-Indústria (Tecnopólos) 24- Artesanato/garimpo 12- Comércio (Ambulante) 25- Renda da Terra urbana 13- Comércio (Shopping centers) Fonte: Levantamento bibliográfico Org.: Flaviana G. Nunes A partir dele notamos que a temática mais freqüente no conjunto dos trabalhos e durante todo o período foi aquela relacionada à agricultura com ênfase na caracterização de quadros agrários e agrícolas de determinadas regiões ou áreas. Em seguida, a questão da pequena produção e dos estudos de caso sobre indústria se destacaram. Também houve um número significativo de trabalhos sobre modernização da agricultura, ramos da indústria e agroindústria, além de caracterização econômica de regiões e relações de trabalho. Temáticas Abordadas nas Dissertações e Teses em Geografia Econômica - 1970 a 1998 0 5 10 15 20 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 Temáticas N ú m er o d e T ra b al h o s Desta forma, notamos que houve uma grande preocupação com os temas relacionados ao agrário ou agrícola. A indústria aparece em segundo plano como preocupação tendo um número menor de trabalhos. Para termos uma idéia de como isso ocorreu em cada curso/instituição vejamos as figuras 2, 3 e 4: Figura 2 Legenda: 1- Agricultura (Modernização) 14- Comércio (Atacado) 2- Agricultura (Pequena produção) 15- Comércio (Franquias) 3- Agricultura (Relações de trabalho) 16- Comércio (Varejo) 4- Agricultura (Quadros agrários e agrícolas –atividades) 17- Comércio regional (Estudo de caso) 5- Agricultura e produção do espaço 18- Comércio (Supermercados e entrepostos) 6- Agricultura (Cooperativas) 19- Relações de Trabalho 7- Agricultura (Agroindústria) 20- Migrações 8- Indústria (Ramos) 21- Caracterização econômica de regiões 9- Indústria (Estudo de Caso – local) 22- Transportes 10- Indústria (Distritos) 23- Discussões teórico-metodológicas 11-Indústria (Tecnopólos) 24- Artesanato/garimpo 12- Comércio (Ambulante) 25- Renda da Terra urbana 13- Comércio (Shopping centers) Fonte: Levantamento bibliográfico Org.: Flaviana G. Nunes O gráfico apresentado na Figura 2 nos mostra as temáticas abordadas nos trabalhos defendidos no IGCE/UNESP em Rio Claro. Notamos claramente como o número de trabalhos relacionados à agricultura é bastante superior aos outros temas de forma que a questão mais discutida nos trabalhos de Geografia Econômica foi a caracterização de quadros agrários e agrícolas destacando atividades de uma localidade Tem áticas Abordadas nas D issertações e Teses em G eografia Econôm ica defendidas no IGCE/UNESP - 1980 a 1998 0 2 4 6 8 10 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 T emáticas N ú m e ro d e t ra b a lh o s ou região. Na seqüência aparecem os trabalhos sobre modernização da agricultura e pequena produção, respectivamente. A questão da indústria só aparece em quarto lugar com um número bastante inferior de trabalhos. Mesmo se somarmos os trabalhos sobre ramos da indústria e estudos de caso ainda é inferior ao número de trabalhosque enfocam os quadros agrários e agrícolas. Temas como comércio, relações de trabalho e renda da terra urbana também apresentam número reduzido de trabalhos. Desta forma, notamos que nos trabalhos do IGCE/UNESP relacionados à Geografia Econômica houve um predomínio das temáticas ligadas à agricultura enquanto atividade econômica importante para a produção do espaço. Já nos trabalhos de Geografia Econômica defendidos na FFLCH/USP o quadro é um pouco diferente. A questão da indústria aparece com um número maior de trabalhos, embora também seja expressivo o número de trabalhos que se dedicaram à temáticas relacionadas à agricultura como observamos no gráfico abaixo: Figura 3 Legenda: 1- Agricultura (Modernização) 14- Comércio (Atacado) 2- Agricultura (Pequena produção) 15- Comércio (Franquias) 3- Agricultura (Relações de trabalho) 16- Comércio (Varejo) 4- Agricultura (Quadros agrários e agrícolas –atividades) 17- Comércio regional (Estudo de caso) 5- Agricultura e produção do espaço 18- Comércio (Supermercados e entrepostos) 6- Agricultura (Cooperativas) 19- Relações de Trabalho 7- Agricultura (Agroindústria) 20- Migrações 8- Indústria (Ramos) 21- Caracterização econômica de regiões 9- Indústria (Estudo de Caso – local) 22- Transportes 10- Indústria (Distritos) 23- Discussões teórico-metodológicas 11-Indústria (Tecnopólos) 24- Artesanato/garimpo 12- Comércio (Ambulante) 25- Renda da Terra urbana 13- Comércio (Shopping centers) Fonte: Levantamento bibliográfico Org.: Flaviana G. Nunes Claro que devemos levar em consideração o fato de que na USP há um número maior de trabalhos, mesmo porque o curso é mais antigo em relação aos demais analisados23, no entanto, há uma distribuição mais equitativa entre os trabalhos sobre agricultura e indústria, além de haver um número significativo de trabalhos discutindo temas como relações de trabalho, comércio, renda da terra urbana e migrações. Ressalta-se, ainda a presença de trabalhos de cunho teórico-metodológico como os de Oliveira (1978)24 e Ablas (1978)25. 23 Deve-se lembrar que a primeira defesa realizada no IGCE/UNESP ocorreu 1980 e na FCT/UNESP em 1991. 24 Oliveira, Ariovaldo U. de. Contribuição para o estudo da Geografia Agrária: crítica ao “estado isolado” de von Thünen. São Paulo, 1978. Tese de Doutorado, FFLCH/USP. Temáticas Abordadas nas Dissertações e Teses em Geografia Econômica defendidas na FFLCH/USP- 1970 a 1998 0 2 4 6 8 10 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 Temáticas N ú m e ro d e t ra b a lh o s Em relação aos trabalhos defendidos na FCT/UNESP primeiramente deve-se ressaltar que há um número pequeno que aborda temas de Geografia Econômica. Além disso, dos cursos de pós-graduação em Geografia do Estado de São Paulo é o mais novo tendo, portanto, um número menor de defesas em relação aos outros. Na FCT/UNESP também notamos um número maior de trabalhos enfocando a agricultura do que outros temas. Dos oito trabalhos selecionados, cinco eram relativos à questões ligadas à agricultura e três à indústria. As demais temáticas elencadas e encontradas na FFLCH/USP e IGCE/UNESP ainda não compareceram nos trabalhos da FCT/UNESP como podemos notar pelo gráfico abaixo: Figura 4 Legenda: 1- Agricultura (Modernização) 14- Comércio (Atacado) 2- Agricultura (Pequena produção) 15- Comércio (Franquias) 3- Agricultura (Relações de trabalho) 16- Comércio (Varejo) 4- Agricultura (Quadros agrários e agrícolas –atividades) 17- Comércio regional (Estudo de caso) 5- Agricultura e produção do espaço 18- Comércio (Supermercados e entrepostos) 6- Agricultura (Cooperativas) 19- Relações de Trabalho 7- Agricultura (Agroindústria) 20- Migrações 8- Indústria (Ramos) 21- Caracterização econômica de regiões 9- Indústria (Estudo de Caso – local) 22- Transportes 10- Indústria (Distritos) 23- Discussões teórico-metodológicas 11-Indústria (Tecnopólos) 24- Artesanato/garimpo 12- Comércio (Ambulante) 25- Renda da Terra urbana 13- Comércio (Shopping centers) Fonte: Levantamento bibliográfico Org.: Flaviana G. Nunes 25 Ablas, Luiz A. de Q. Teoria do lugar central: bases teóricas e evidências empíricas. São Paulo, 1978. Tese de Doutorado, FFLCH/USP. Temáticas Abordadas nas Dissertações em Geografia Econômica defendidas na FCT/UNESP - 1991 a 1998 0 2 4 6 8 10 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 Temáticas N ú m e ro d e t ra b a lh o s É importante destacar que esse predomínio das temáticas relacionadas à agricultura é constante em todo o período estudado. Os gráficos das figuras 5, 6 e 7 mostram como isso aconteceu. Figura 5 Legenda: 1- Agricultura (Modernização) 14- Comércio (Atacado) 2- Agricultura (Pequena produção) 15- Comércio (Franquias) 3- Agricultura (Relações de trabalho) 16- Comércio (Varejo) 4- Agricultura (Quadros agrários e agrícolas –atividades) 17- Comércio regional (Estudo de caso) 5- Agricultura e produção do espaço 18- Comércio (Supermercados e entrepostos) 6- Agricultura (Cooperativas) 19- Relações de Trabalho 7- Agricultura (Agroindústria) 20- Migrações 8- Indústria (Ramos) 21- Caracterização econômica de regiões 9- Indústria (Estudo de Caso – local) 22- Transportes 10- Indústria (Distritos) 23- Discussões teórico-metodológicas 11-Indústria (Tecnopólos) 24- Artesanato/garimpo 12- Comércio (Ambulante) 25- Renda da Terra urbana 13- Comércio (Shopping centers) Fonte: Levantamento bibliográfico Org.: Flaviana G. Nunes Pelo gráfico acima percebemos que durante a década de 1970 o tema mais abordado nos trabalhos foi aquele relacionado à caracterização de quadros agrários e agrícolas em determinadas áreas ou regiões seguido dos estudos de caso sobre indústrias. No entanto, se somarmos os demais temas relacionados á agricultura notamos que são mais que o dobro de trabalhos sobre indústria. Temas como Temáticas Abordadas nas Dissertações e Teses em Geografia Econômica - Década de 1970 0 2 4 6 8 10 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 Temáticas N ú m er o d e tr ab al h o s caracterização econômica de regiões e discussões teórico-metodológicas também comparecem, mas com um número bem menor de trabalhos. Vejamos agora o que aconteceu na década de 1980: Figura 6 Legenda: 1- Agricultura (Modernização) 14- Comércio (Atacado) 2- Agricultura (Pequena produção) 15- Comércio (Franquias) 3- Agricultura (Relações de trabalho) 16- Comércio (Varejo) 4- Agricultura (Quadros agrários e agrícolas –atividades) 17- Comércio regional (Estudo de caso) 5- Agricultura e produção do espaço 18- Comércio (Supermercados e entrepostos) 6- Agricultura (Cooperativas) 19- Relações de Trabalho 7- Agricultura (Agroindústria) 20- Migrações 8- Indústria (Ramos) 21- Caracterização econômica de regiões 9- Indústria (Estudo de Caso – local) 22- Transportes 10- Indústria (Distritos) 23- Discussões teórico-metodológicas 11-Indústria (Tecnopólos) 24- Artesanato/garimpo 12- Comércio (Ambulante) 25- Renda da Terra urbana 13- Comércio (Shopping centers) Fonte: Levantamento bibliográfico Org.: Flaviana G. Nunes Pelo gráfico acima notamos que na década de 1980 foi ainda maior o predomínio dos temas ligados à agricultura.
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