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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA METALÚRGICA E DE MATERIAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA E CIÊNCIA DE MATERIAIS DAVI ALVES MARQUES EFEITO DO TRATAMENTO TÉRMICO NAS PROPRIEDADES ELETROQUÍMICAS E COMPORTAMENTO DE CORROSÃO DO AÇO INOXIDÁVEL CLASSE 410 EM SOLUÇÃO DE CLORETO FORTALEZA 2021 DAVI ALVES MARQUES EFEITO DO TRATAMENTO TÉRMICO NAS PROPRIEDADES ELETROQUÍMICAS E COMPORTAMENTO DE CORROSÃO DO AÇO INOXIDÁVEL CLASSE 410 EM SOLUÇÃO DE CLORETO Dissertação apresentada ao Curso de do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Ciência de Materiais do Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de mestre em Engenharia Engenharia e Ciência de Materiais. Área de Concentração: Degradação dos Materiais Orientador: Prof. Dr. Walney Silva Araújo FORTALEZA 2021 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará Biblioteca Universitária Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a) M316e Marques, Davi Alves. EFEITO DO TRATAMENTO TÉRMICO NAS PROPRIEDADES ELETROQUÍMICAS E COMPORTAMENTO DE CORROSÃO DO AÇO INOXIDÁVEL CLASSE 410 EM SOLUÇÃO DE CLORETO / Davi Alves Marques. – 2021. 68 f. : il. color. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Centro de Tecnologia, Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Ciência de Materiais, Fortaleza, 2021. Orientação: Prof. Dr. Walney Silva Araújo. 1. Corrosão. 2. Aço Inoxidável Ferrítico. 3. Aço Inoxidável Martensítico. 4. Tratamento Termomecânico. I. Título. CDD 620.11 DAVI ALVES MARQUES EFEITO DO TRATAMENTO TÉRMICO NAS PROPRIEDADES ELETROQUÍMICAS E COMPORTAMENTO DE CORROSÃO DO AÇO INOXIDÁVEL CLASSE 410 EM SOLUÇÃO DE CLORETO Dissertação apresentada ao Curso de do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Ciência de Materiais do Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de mestre em Engenharia Engenharia e Ciência de Materiais. Área de Concentração: Degradação dos Materiais Aprovada em: 31 de Agosto de 2021 BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. Walney Silva Araújo (Orientador) Universidade Federal do Ceará (UFC) Prof. Dr. Pedro de Lima Neto Universidade Federal do Ceará (UFC) Prof. Dr. Sérgio Souto Maior Tavares Universidade Federal Fluminense (UFF) AGRADECIMENTOS Agradeço aos meus pais por todas as oportunidades que me proporcionaram; Ao meu pai Cláudio, por sempre mostrar apoio nas minhas decisões; À minha mãe Sandra, por ensinar a nunca desistir de seus sonhos. À minha irmã, Joyce, por ser um exemplo de dedicação e esforço. À Luana por sempre acreditar na minha capacidade e me dar forças para seguir em frente. Ao Prof. Dr. Walney da Silva Araújo, pela orientação e paciência. Aos membros da banca examinadora Pedro de Lima Neto e Sérgio Souto Maior Tavares pela disponibilidade. Ao Henrique e ao Joshua, que me acompanharam nessa jornada, pelos momentos de descontração, por me ajudaram inúmeras vezes ao longo do mestrado sempre com paciência e sorrindo. À Úrsula Cid, por sempre se mostrar disponível para tirar dúvidas e prestar auxilio. Aos integrantes do LPC, dos quais alguns me acompanham desde minha graduação e outros que conheci durante o mestrado, por sempre demonstrarem apoio e interesse na minha pesquisa. Ao LPTS pelo auxílio com o corte das placas metálicas, ensaios de microdureza e análises de microscopia. À Camila Alves de Lavor e ao Prof. Msc. Francisco José dos Santos Oliveira pela colaboração com os ensaios de dureza. À Central Analítica pela realização das análises de microscopia eletrônica. A APERAM S.A. pela disponibilização dos materiais utilizados e pelo tempo e atenção prestados para a discussão de resultados. O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001. "It is a capital mistake to theorize before one has data. Insensibly one begins to twist facts to suit theories, instead of theories to suit facts." (Sir Arthur Conan Doyle, 1891) RESUMO A liga Endur 300 é um aço inoxidável recém desenvolvido com baixo teor de carbono e microes- trutura predominantemente martensítica, sendo comercializada com o foco de aplicação como um aço estrutural. Endur 300 foi obtido por um tratamento termomecânico aplicado a UNS S41003. Devido à falta de pesquisas disponíveis dessa liga na literatura, o objetivo deste trabalho é avaliar o comportamento eletroquímico da liga Endur 300 em diferentes concentrações de NaCl. A metodologia do trabalho segue as seguintes etapas: Preparação dos corpos de prova; Ensaios eletroquímicos de potencial de circuito aberto, polarização linear e cíclica, espectroscopia de impedância eletroquímica e cronoamperometria, seguindo para a caracterização das superfícies de das ligas Endur 300 e UNS S41003 antes e após processo de corrosão por meio de Microscopia Óptica (MO) e Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) e também a avaliação por meio de microindentação e ensaio de dureza Vickers. Os resultados apontam que o tratamento termo- mecânico para a obtenção da liga Endur 300 provocou mudanças microestruturais e mecânicas sem alterar significativamente as propriedades de resistência à corrosão. O principal tipo de corrosão observado para ambas foi a corrosão localizada, comprovado pela presença de pites após os ensaios de polarização. O efeito do acréscimo da concentração dos íons Cl− resultou na redução da resistência do filme passivo e redução do potencial de pite (Epite). As análises de dureza após 28 dias de imersão mostraram que houve uma redução superficial na dureza de ambas as ligas. Esse efeito pôde ser mais observado para a liga UNS S41003, que mostrou uma redução de dureza mais expressiva em todos os meios observados. Palavras-chave: Corrosão. Aço Inoxidável Ferrítico. Aço Inoxidável Martensítico. Tratamento termomecânico. ABSTRACT Endur 300 alloy is a recently developed stainless steel with low carbon content and microstruc- ture predominantly martensitic, being marketed with a focus application as a structural steel. Endur 300 was obtained through a thermomechanical treatment applied to UNS S41003. Due to the lack of available researches of this alloy in the literature, the objective of this work is to evaluate the electrochemical behavior of the alloy Endur 300 in different NaCl concentrati- ons. The methodology of the work follows the following steps: Preparation of the specimens; electrochemical tests of open circuit potential, linear and cyclic polarization, electrochemical impedance spectroscopy and chronoamperometry, followed by characterization of the surfaces of both alloys before and after corrosion process using Optical Microscopy (OM) and Scanning Electron Microscopy (SEM) and the evaluation by means of microindentation and Vickers hard- ness test. The results show that the thermomechanical treatment used to obtain the Endur 300 alloy caused microstructural and mechanical changes without significantly altering the corrosion resistance properties. The main corrosion morphology observed for both alloys was localized corrosion, as evidenced by the presence of pits after polarization tests. The effect of increasing the concentration of Cl− ions resulted in a reduction of the passive film resistance and the pitting potential (Epite). Hardness analysis after 28 days of immersion showed that there was a reduction in the superficial hardness of both alloys. This effect could be more observed for the alloy UNS S41003, which showed a more expressive hardness reduction in all observed media. Keywords: Corrosion. Ferritic Stainless Steel. Martensitic Stainless Steel. Thermomechanical Treatment. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Gráficoilustrando a passividade dos aços ao cromo expostos durante 10 anos a uma atmosfera industrial. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 Figura 2 – Representação esquemática dos grupos de aços inoxidáveis no diagrama de Shaeffler . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 Figura 3 – (a) Dissolução lenta do filme passivo formando Fe3+; (b) dissolução acele- rada na ilha de sal solúvel formando Fe3+; (c) dissolução anódica direta em um sítio de iniciação de pite formando Fe2+ . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 Figura 4 – Exemplo de curva de polarização com as principais regiões. . . . . . . . . . 27 Figura 5 – Esquemático de Polarização Cíclica ilustrando parâmetros de corrosão: a) Material que exibe Potencial de Proteção, b) Material que não exibe Potencial de Proteção, c) Material que exibe Desprendimento de Oxigênio em sua Superfície . . . 28 Figura 6 – Diagrama do tratamento termomecânico de obtenção da liga Endur 300 . . . 32 Figura 7 – Fluxograma da metodologia Experimental. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 Figura 8 – Célula eletroquímica convencional de três eletrodos. . . . . . . . . . . . . . 34 Figura 9 – Diagrama de Schaeffler . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 Figura 10 – Micrografia Óptica (magnificação 250x) de (a) UNS S41003, (b) Endur 300, e (magnificação 1000x) de (c) UNS S41003, e (d) Endur 300 . . . . . . . . 39 Figura 11 – Micrografia Eletrônica de Varredura (magnificação 3000x) de (a) UNS S41003, (b) Endur 300, e (magnificação 14000x) de (c) UNS S41003, e (d) Endur 300 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 Figura 12 – Comparação de HV entre as condições recebidas e após 4 semanas de imersão em NaCl soluções. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 Figura 13 – Potencial de Circuito Aberto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 Figura 14 – Polarização Potenciodinâmica Linear das Ligas UNS S41003 e Endur 300 em (a) 250 ppm NaCl, (b) 500 ppm NaCl, e (c) 1000 ppm NaCl . . . . . . . 44 Figura 15 – Micrografia Eletrônica de Varredura da UNS S41003 após Polarização Linear em: (a) e (b) 250 ppm de NaCl, (c) e (d) 500 ppm de NaCl, (e) e (f) 1000 ppm de NaCl . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 Figura 16 – Micrografia Eletrônica de Varredura da Endur 300 após Polarização Linear em: (a) e (b) 250 ppm de NaCl, (c) e (d) 500 ppm de NaCl, (e) e (f) 1000 ppm de NaCl . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 Figura 17 – Polarização Potenciodinâmica Cíclica das Ligas UNS S41003 e Endur 300 em (a) 250 ppm NaCl, (b) 500 ppm NaCl, e (c) 1000 ppm NaCl . . . . . . . 47 Figura 18 – (a) Esquemático da extensão da região passiva na curva de polarização, (b) |Epite - Ecorr| da UNS S41003 e Endur 300 em 250 ppm, 500 ppm e 1000 ppm de NaCl. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48 Figura 19 – Espectroscopia de Impedância Eletroquímica das ligas UNS S41003 e Endur 300 em (a) 250 ppm, (b) 500 ppm e, (c) 1000 ppm de NaCl. . . . . . . . . . 49 Figura 20 – Resistência à Polarização das ligas UNS S41003 e Endur 300 em 250 ppm, 500 ppm e, 1000 ppm de NaCl. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 Figura 21 – Diagramas de Bode obtidas dos ensaios de EIE para as ligas UNS S41003: (a) 250 ppm, (c) 500 ppm e, (e) 1000 ppm, e Endur 300: (b) 250 ppm, (d) 500 ppm e, (f) 1000 ppm de NaCl. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 Figura 22 – Circuito Elétrico Equivalente utilizado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52 Figura 23 – Influência da concentração de Cl− nos elementos resistivos do sistema estu- dado. (a) Rs, (b) R1, (c) Rct. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 Figura 24 – Cronoamperogramas das ligas (a) UNS S41003 e (b) Endur 300 em 250 ppm, 500 ppm e, 1000 ppm de NaCl. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Cromo e Níquel equivalente fornecidos por diferentes autores . . . . . . . . 21 Tabela 2 – Composição Química da liga UNS S41003* . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 Tabela 3 – Composição Química da liga Endur 300* . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 Tabela 4 – Cromo e Níquel equivalente calculado para a liga UNS S41003 . . . . . . . 37 Tabela 5 – Cromo e Níquel equivalente calculado para a liga Endur 300 . . . . . . . . 38 Tabela 6 – Microdureza Vickers de UNS S41003 e Endur 300 como recebido . . . . . 40 Tabela 7 – Dureza Vickers das ligas UNS S41003 e Endur 300 como recebido e após 4 semanas de imersão em solução de NaCl . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 Tabela 8 – Potencial de Circuito Aberto das ligas UNS S41003 e Endur 300 . . . . . . 43 Tabela 9 – Epite das ligas UNS S41003 e Endur 300 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 Tabela 10 – Valores de elementos do circuito elétrico equivalente obtidos para a liga UNS S41003 em diferentes concentrações de NaCl. . . . . . . . . . . . . . . . . 53 Tabela 11 – Valores de elementos do circuito elétrico equivalente obtidos para a liga Endur 300 em diferentes concentrações de NaCl. . . . . . . . . . . . . . . . 53 Tabela 12 – Densidade de Corrente extraído do cronoamperograma para as ligas UNS S41003 e Endur 300 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS MO Microscopia Óptica MEV Microscopia Eletrônica de Varredura OM Optical Microscopy SEM Scanning Electron Microscopy UNS Unified Numbering System HV Hardness Vickers HB Hardness Brinell CCC Cúbica de Corpo Centrado TCC Tetragonal de Corpo Centrado HRC Hardness Rockwell C OCP Potencial de Circuito Aberto EIE Espectroscopia de Impedância Eletroquímica CEE Circuito Elétrico Equivalente P.A. para análise ppm Partes Por Milhão LPTS Laboratório de Pesquisa e Tecnologia em Soldagem UFC Universidade Federal do Ceará LPC Laboratório de Pesquisa em Corrosão ASTM American Society for Testing and Materials sat. Saturado mL mililitro mm/ano milimetros por ano kgf Quilograma-força gf Grama-força SE Elétrons Secundários ETD detector Everhart Thornley CPE Constant Phase Element LISTA DE SÍMBOLOS Fe-Cr Sistema Ferro-Cromo Fe-Cr-C Sistema Ferro-Cromo-Carbono Fe-Cr-Ni Sistema Ferro-Cromo-Níquel % Percentagem Pa Pascal C− Íons Cloreto pH Potencial de Hidrogênio ◦C Graus Celsius Nieq Níquel Equivalente Ni Elemento Níquel C Elemento Carbono Mn Elemento Manganês Creq Cromo Equivalente Cr Elemento Cromo Mo Elemento Molibdênio Si Elemento Silício Nb Elemento Nióbio Fe Elemento Ferro O Elemento Oxigênio H2O Água P Elemento Fósforo N Elemento Nitrogênio S Elemento Enxofre NaCl Cloreto de Sódio Ag Elemento Prata AgCl Cloreto de Prata KCl Cloreto de Potássio Ecorr Potencial de Corrosão Epite Potencial de Pite V Volt Ep Potencial de Proteção η Sobrepotencial icorr Densidade de Corrente de Corrosão βa Coeficiente Angular da Reta de Tafel do Ramo Anódico βc Coeficiente Angular da Reta de Tafel do Ramo Catódico Hz Hertz Jcorr Densidade de Corrente de Corrosão µ Micro g Grama W Elemento Tungstênio Rp Resistência a Polarização Rs Resistência da Solução R1 Resistência dos Produtos de Corrosão Rct Resistência de Transferência de Carga Q1 CPE da Camada Passiva Cdl Capacitância da Dupla Camada ZCPE Impedância do CPE Y0 Constante Elétrica do CPE w Frequência Angular Ceq Capacitância Equivalente χ Fator de Destribuição Qhi-Quadrado Ω Ohm F Faraday SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 2 OBJETIVOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 2.1 Objetivos Gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 2.2 Objetivos Específicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 3.1 Aços Inoxidáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . 19 3.1.1 Influência dos Elementos de Liga . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 3.2 Corrosão em Materiais Metálicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 3.2.1 Influência dos íons Cl− na Corrosão de Aços Inoxidáveis . . . . . . . . . 23 3.2.2 Aços Inoxidáveis Ferríticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 3.2.3 Aços Inoxidáveis Martensíticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 3.3 Ensaios Eletroquímicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 3.3.1 Potencial de Circuito Aberto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 3.3.2 Polarização Potenciodinâmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 3.3.3 Espectroscopia de Impedância Eletroquímica . . . . . . . . . . . . . . . . 29 3.3.4 Cronoamperometria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 4 MATERIAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 4.1 UNS S41003 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 4.2 Endur 300 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 4.3 Eletrólitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 5 METODOLOGIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 5.1 Preparação das Amostras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 5.2 Ensaios Eletroquímicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 5.2.1 Potencial de Circuito Aberto (OCP) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 5.2.2 Polarização Potenciodinâmica Linear e Cíclica . . . . . . . . . . . . . . . 35 5.2.3 Espectroscopia de Impedância Eletroquímica . . . . . . . . . . . . . . . . 35 5.2.4 Cronoamperometria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 5.3 Duzera Vickers e Caracterização Microestrutural . . . . . . . . . . . . . 35 5.3.1 Dureza e Microdureza Vickers . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 5.3.2 Caracterização Microestrutural . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 5.3.3 Microscopia Óptica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 5.3.4 Microscopia Eletrônica de Varredura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 6 RESULTADOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 6.1 Composição Química e Caracterização Microestrutural . . . . . . . . . 37 6.2 Microindentação de dureza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 6.3 Influência da Corrosão na Dureza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 6.4 Potencial de Circuito Aberto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 6.5 Polarização Potenciodinâmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 6.5.1 Polarização Linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 6.5.2 Polarização Cíclica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 6.6 Espectroscopia de Impedância Eletroquímica . . . . . . . . . . . . . . . 48 6.7 Cronoamperometria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 7 CONCLUSÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58 16 1 INTRODUÇÃO Aços inoxidáveis são ligas ferrosas cujos sistemas base são Fe-Cr, Fe-Cr-C e Fe- Cr-Ni contendo no mínimo 10,5% de cromo em sua composição. Esse teor de cromo induz a formação de um filme passivo (1–11) que é caracterizado por ser uma camada de óxido compacta e aderente ao metal base. A criação dessa película é uma característica intrínseca dos aços inoxidáveis o que confere sua capacidade de auto reparação independentemente da quantidade de material removida de sua superfície (4, 12, 13). Aços inoxidáveis são classificados em três tipos principais: austenítico, ferrítico e martensítico (10, 14, 15). O presente trabalho analisará a liga UNS S41003, que é um aço inoxidável ferrítico, e a liga Endur 300, que é um aço inoxidável martensítico. A liga UNS S41003 é um aço inoxidável ferrítico de baixa liga com cromo entre 10,5-12,5%. Apresenta boa resistência à corrosão e abrasão combinada com uma microestrutura ferrítica, o que permite sua conformação. Apresenta limite de escoamento de 480 MPa e 156 Hardness Vickers (HV) (16) que é semelhante ao aço carbono (11, 17). Os aços inoxidáveis ferríticos são limitados ao endurecimento por trabalho a frio devido à restrição da formação de austenita em decorrência da adição de cromo, que é um estabilizador da ferrita (18, 19). Embora os aços inoxidáveis ferríticos só possam ser endurecidos por trabalho a frio resultando em um pequeno aumento (12, 20), um estudo realizado por Faria et al. (21) mostraram que, devido à concentração relativamente baixa de estabilizadores de ferrita, a faixa de estabilidade da austenita não era tão pequena quando comparada a outros tipos de aço inoxidáveis ferríticos. Isso permitiu a produção de uma microestrutura bifásica composta por ferrita e martensita. Endur 300 é um aço inoxidável baixo carbono, contendo 10,5-12,5% de cromo, apresentando microestrutura predominantemente martensítica conferindo boas propriedades me- cânicas e apresentando uma dureza nominal de 300HB. Essa liga é recomendada para aplicações que demandam um efeito combinado de resistência à corrosão e ao desgaste, como vagões de trem de mineração, sistemas de drenagem de lavagem de minério de ferro e aplicações estruturais. A liga Endur 300 foi fabricado a partir de um tratamento termomecânico aplicado à liga UNS S41003. O tratamento consiste em um aquecimento a 1°C por segundo até atingir temperatu- ras maiores de 937°C, resultando em completa austenitização da microestrutura, seguido por múltiplos passes de laminação a quente, induzindo o refinamento de grãos devido ao processo de recristalização, que é então submetida a um resfriamento rápido após o último passe de 17 laminação, resultando em uma microestrutura completamente martensítica (22). Devido a falta de informação na literatura sobre a liga Endur 300 e à diversividade de ambientes agressivos inerentes da aplicação estrutural, o presente trabalho visa analisar a influência do tratamento termomecânico nas propriedades eletroquímicas e comportamento de corrosão, assim como também a influência da concentração dos íons Cloreto (Cl−) utilizando o aço UNS S41003 como referência. 18 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivos Gerais O objetivo do presente trabalho foi avaliar o comportamento eletroquímico da liga Endur 300 em diferentes concentrações de NaCl. 2.2 Objetivos Específicos – Avaliar a resistência à corrosão das ligas Endur 300 e UNS S41003 por meio de técnicas de análise eletroquímicas como Polarização linear e cíclica, Espectroscopia de Impedância Eletroquímica e Cronoamperometria; – Investigar a influência da concentração salina na taxa de corrosão em três eletrólitos: 250 ppm, 500 ppm e 1000 ppm; – Comparar os resultados encontrados para a liga Endur 300 com os da liga UNS S41003; – Analizar ambas as ligas por meio do ensaio de microindentação e dureza Vickers (HV); – Caracterizar por meio de microscopia ótica (MO) e eletrônica (MEV) as superfícies de ambas as ligas antes e após os ensaios eletroquímicos, a fim de obter informações sobre morfologia de corrosão predominante e da microestrutura; 19 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3.1 Aços Inoxidáveis Os aços inoxidáveis são ligas de ferro-carbono contendo no mínimo 10,5% de cromo em sua composição, conferindo à liga uma filme de óxido compacto, aderente ao metal base e auto reparador. Essa camada age como barreira isolando o metal base do meio externo, promovendo assim a característica de resistência à corrosão (1–13). Os aços inoxidáveis são subdivisíveis em 5 classes distintas de acordo com a microes- trutura apresentada e da composição dos elementos de liga: Ferríticos, martensíticos, austeníticos, duplex, e endurecíveis por precipitação (10, 14, 15). 3.1.1 Influênciados Elementos de Liga A adição de alguns elementos de liga forma uma fina película de óxido aderente que isola o metal-base do meio corrosivo. Os principais elementos formadores dessa película são o cromo e níquel e, em menor grau, cobre, molibdênio, silício e alumínio (23). Tomando como base a tabela de potencial padrão de redução, notamos que o cromo é um elemento mais reativo que o ferro, possibilitando a passivação e subsequente formação da camada protetora, contínua e auto reparadora de óxidos de cromo quando exposto ao ar. A propriedade de autorreparação da camada garante que o metal é resistente à corrosão independen- temente da quantidade de material removido de sua superfície (12). O cromo se destaca como elemento protetor principal que compõe os aços inoxidáveis, sendo o mesmo caracterizado por possuir uma percentagem mínima de cromo variando entre 10,5% e 12% dissolvido na matriz, analisando um sistema Fe-Cr em soluções aquosas com pH neutro (23). Para ambientes mais agressivos, o teor de cromo deve ser aumentado, como podemos observar na Figura 1. A ação passivante dos elementos de liga que compõem o aço inoxidável depende de diversos parâmetros que podem ser divididos em dois itens principais. O primeiro item se refere às condições da solicitação externa, ou seja, características do meio no qual o material está submetido. Dentre elas: composição e concentração química, estado físico do meio, tipo de radiação exposta, temperatura, pressão do ambiente, entre outras. As solicitações mecânicas têm grande impacto na resistência à corrosão dos aços inoxidáveis. Alguns elementos presentes no meio podem comprometer essa resistência e assim acelerar o efeito corrosivo, como por exemplo aços inoxidáveis que apresentam apenas o cromo como agente passivador são pouco resistentes 20 quando expostos a um ambiente contendo cloreto (24). Figura 1 – Gráfico ilustrando a passividade dos aços ao cromo expostos durante 10 anos a uma atmosfera industrial. Fonte: (24) Já em relação ao segundo item é levado em consideração que, para uma mesma condição de solicitação externa, de maneira geral, quanto maior a quantidade de elementos passivantes presentes na liga metálica, maior será sua resistência à corrosão, desde que estes encontram-se dissolvidos na matriz. Porém, esse efeito irá reduzir de forma proporcional nos casos em que os elementos se encontram na forma de precipitados, como carbonetos, nitretos, sulfetos, boretos e/ou fases intermetálicas. Um exemplo dessa redução da resistência à corrosão é devido à formação de precipitados de carbonetos ricos em cromo do tipo M23C6 nos contornos de grãos de aços inoxidáveis austeníticos que passaram por um aquecimento em temperaturas entre 400 e 850ºC. A precipitação dessas partículas ricos em cromo resulta em um empobrecimento de cromo nas regiões próximas aos contornos de grãos. Esse processo é conhecido por sensitização (25). A classificação dos aços inoxidáveis leva em consideração a microestrutura, que varia em função da quantidade dos elementos de liga presentes. Carbono, níquel, nitrogênio e manganês atuam estabilizando a fase austenítica; já os elementos cromo, silício, molibdênio, titânio e nióbio estabilizam a fase ferrítica (26). O diagrama de constituição mais conhecido é o diagrama de Schaeffler, que foi inicialmente desenvolvido para a predição de microestruturas no processo de soldagem de aços inoxidáveis. Contudo, com o desenvolvimento de novas classes de aços inoxidáveis, fez-se necessário o desenvolvimento de modelos de predição levando em consideração composições 21 mais complexas levando ao surgimento de outros fórmulas e diagramas levando em consideração diferentes elementos e suas influências (27, 28). A Tabela 1 lista as fórmulas propostas pelos autores Schaeffler (29), DeLong (30), Hull (31), Hammar Svensson (32) e Kotecki Sievert (33). Tabela 1 – Cromo e Níquel equivalente fornecidos por diferentes autores Autor / nome do diagrama Cromo Equivalente (Creq) Níquel Equivalente (Nieq) Schaeffler %Creq = %Cr + %Mo + 1,5.%Si + 0,5.%Nb %Nieq = %Ni+30.%C+0,5.%Mn DeLong %Creq = %Cr + %Mo + 1,5.%Si + 0,5.%Nb %Nieq = %Ni + 30.%C + 0,5.%Mn + 30.%N Hull %Creq = %Cr + 1,21.%Mo + 0,48.%Si + 0,14.%Nb + 0,20.%Ti + 0,72.%W + 0,21.%Ta + 2,27.%V + 2,48.%Al %Nieq = %Ni + [0,11.%Mn − (0,0086.%Mn2)] + 24,5.%C + 18,4.%N + 0,44.%Cu + 0,41.%Co Hammar & Svensson %Creq = %Cr + 1,37.%Mo + 1,5.%Si+2.%Nb+3.%Ti %Nieq = %Ni+0,31.%Mn+22.%C+ 14,2.%N +%Cu WRC-1992 (by Kotecki & Sievert) %Creq = %Cr+%Mo+0,7.%Nb %Nieq = %Ni + 35.%C + 20.%N + 0,25.%Cu Fonte: (34). Apesar de inicialmente desenvolvido para prever as microestruturas de solda, Zhang et al. (28) citam que o método do cromo e níquel equivalente é também amplamente utilizado para mensurar a estabilidade das fases de quaisquer aços em função de suas composições químicas. Outros autores abordam a utilização desses modelos no desenvolvimento contendo quantidades específicas de ferrita (31), para prever a concentração de martensita com diversas concentrações de carbono (35) e também garantir a estabilidade da austenita a fim de equilibrar boas propriedades mecânicas com boas propriedades de resistência a corrosão (36). A influência dos elementos de liga na classificação dos aços inoxidáveis pode obser- vada na Figura 2 representados pelas equações a do cromo equivalente e do níquel equivalente. Os aços inoxidáveis podem ser divididos em cinco grupos de acordo com a mi- croestrutura que apresentam: aços inoxidáveis ferríticos, martensíticos, austeníticos, duplex e endurecíveis por precipitação, como podemos ver na Figura 2. Considerando o estudo em questão, serão discutidos com mais ênfase os aços inoxidáveis ferríticos e martensíticos. 22 Figura 2 – Representação esquemática dos grupos de aços inoxidáveis no diagrama de Shaeffler Fonte: (26) 3.2 Corrosão em Materiais Metálicos Cragnolino (37) define corrosão como: "a reação química ou eletroquímica entre um material, geralmente um metal ou liga, e seu ambiente que produz uma deterioração do material e de suas propriedades." As reações de corrosão para os metais são, na maioria dos casos, espontâneas. Sendo assim, são geralmente encontrados na natureza na forma oxidada, como óxidos e sulfetos, visto que apresentam energia livre menor que o elemento em seu estado metálico. Sendo assim, os metais tendem a reagir com o ambiente buscando reduzir sua energia tornando-se assim mais estáveis (38). A presença de um eletrólito é um requisito essencial para que ocorra o processo de corrosão eletroquímica. Na presença de uma fina película de eletrólito, formada pela umidade atmosférica, ocorre o início da corrosão com o equilíbrio das reações catódicas e anódicas. A reação anódica é caracterizada pela dissolução do metal em íons metálicos, já a reação catódica é considerada como a reação de redução do oxigênio. Utilizando o ferro como exemplo, temos as equações (3.3) e (3.4) como as reações anódicas e catódicas respectivamente. 2Fe(s)→ 2Fe2+(aq)+4e − (3.1) 23 2O2(g)+2H2O(l)+4e −→ 4OH− (3.2) Neste caso temos o oxigênio que atua como agente oxidante, espécie química que sofre redução, e o ferro metálico que atua como agente redutor, espécie química que sofre oxidação. Para que ocorra a reação de oxirredução é necessário que se satisfaça algumas condições: existência do contato elétrico entre o cátodo e o ânodo, geralmente é a própria peça metálica, para que ocorra a passagem dos elétrons, e um eletrólito, normalmente gotículas de água ou umidade, para que haja o transporte dos íons (39). 3.2.1 Influência dos íons Cl− na Corrosão de Aços Inoxidáveis Como mencionado no tópico 3.1, os aços classificados como inoxidáveis são carac- terizados por possuírem uma adição de alguns elementos de liga permite a formação de uma película de óxido; compacta e aderente; na superfície do metal, servindo como barreira entre o metal-base e o meio corrosivo (1–12, 23). Apesar do filmepassivo servir como uma barreira, ele está sujeito a falhas na presença de íons cloreto (Cl−). A quebra do filme passivo ocorre em um ponto onde a estrutura ou a espessura do filme está comprometida devido a presença dos íons Cl−; isso ocorre devido à alta difusividade, elevada eletronegatividade e pequeno diâmetro do íon, possibilitando a corrosão localizada (18–20). A quebra do filme passivo e subsequente corrosão por pites ocorre em um potencial crítico denominado potencial de pite (Epite) (40–45). A presença de íons Cl− torna essa camada de óxido vulnerável deixando-o mais susceptível a falhas (46–48). Embora exista um consenso de que a corrosão localizada começa com a adsorção de íons cloreto no filme passivo, ainda não está claro se tais íons causam a ruptura local do filme passivo ou se dificultam o processo de repassivação (49). Existem diversos estudos sobre o início da corrosão por pites em superfícies metá- licas ideais. Esses estudos sugerem que o Cl− penetra e migra por dentro do filme passivo e, alcançando a interface metal/filme, resulta na quebra do filme (47, 50–52). Visto que na prática não existem superfícies metálicas ideais, a presença de defeitos, pontos existentes de corrosão, tensões residuais, entre outros possíveis defeitos presentes nos materiais contribuem para a má formação e consequente quebra do filme passivo. O mecanismo de corrosão por pites proposto por Jones (53) sugere sugere que à medida que o potencial se aproxima do Epit , seja por reações redox ou de forma eletrônica via potenciostato, ocorre um aumento na concentração de Cl− na superfície do filme passivo. Isso 24 ocorre devido as interações entre a superfície do metal que está positivamente carregada e os íons Cl−, levando a um acúmulo de ilhas de sal de cloreto na superfície do ferro. Essas estruturas de cloreto levam à formação de uma microrregião caracterizada pela elevada concentração de íons Cl− e baixo pH, resultante da reação de hidrólise apresentada na Equação 3.3 Fe2+(aq)+2H2O(l)+2Cl − (aq)→ Fe(OH)2(aq)+2HCl(l) (3.3) Na ausência de íons Cl−, o filme passivo, representado pelo FeOOH(aq), se dissolve em íons Fe3+ de forma lenta, através da reação apresentada pela Equação 3.4. Porém, foi proposto que os íons Cl− atuam como um catalisador na liberação de Fe3+ ao interagir com a camada externa do filme passivo acelerando a dissolução , como apresentado nas Equações 3.5 e 3.6. Tais reações ocorrem em um sítio preferencial e levam à redução da espessura do filme passivo até que ocorra a dissolução anódica direta para Fe2+ crie um pite. O mecanismo proposto pode ser observado na Figura 3. No Epit , uma quantidade suficiente de cloretos se concentrou na superfície desencadeando o processo descrito. FeOOH(aq)+H2O(l)→ Fe3+(aq)+3OH − (aq) (3.4) FeOOH(aq)+Cl − (aq)→ FeOCl(aq)+OH − (aq) (3.5) FeOCl(aq)+2H2O(l)→ Fe3+(aq)+Cl − (aq)+2OH − (aq) (3.6) Figura 3 – (a) Dissolução lenta do filme passivo formando Fe3+; (b) dissolução acelerada na ilha de sal solúvel formando Fe3+; (c) dissolução anódica direta em um sítio de iniciação de pite formando Fe2+ Fonte: Adaptado de (53) 25 Em um estudo do comportamento eletroquímico de um novo aço inoxidável de baixo teor de níquel em solução alcalina contendo cloretos, Fajardo et al. (51) observaram o aumento da densidade de corrente passiva (ip) com o aumento da concentração dos íons Cl−, indicando uma queda na resistência à corrosão. Após uma análise mais detalhada, observaram que em solução com teores de cloreto acima de 0,17 M o filme passivo formado era menos protetor e os íons Cl− causavam uma maior dissolução do aço inoxidável. Hou et al. (54) no estudo da corrosão por pites do aço inoxidável 316L constataram que a resistência do filme passivo reduziu em soluções com presença de íons Cl−. Dong et al. (52) no estudo de mecanismos de iniciação de pite concluíram que o potencial de pite (Epite) reduz com o aumento da concentração de cloretos. Também observaram que quanto maior a temperatura do processo de aumento de dureza por indução, menor a resistência à corrosão para o aço 1Cr12Ni2W1Mo1V. Outros autores apresentaram resultados onde também se pode observar a redução do Epite com o incremento de íons cloreto (47, 50, 51, 54). 3.2.2 Aços Inoxidáveis Ferríticos Os aços inoxidáveis classificados como ferríticos apresentam composição majoritária de ferro e cromo. Não há um acordo sobre a faixa de composição de cromo entre os autores; Donald Peckner (55), por exemplo, cita teores de cromo entre 10,5% e 27%, enquanto J. C. M. Farrar (56) teores entre 12% e 30% e J. R. Davis (57) entre 11% e 30%. Essas ligas apresentam estrutura cristalina do tipo Cúbica de Corpo Centrado (CCC), coincidindo com a estrutura do ferro puro a temperatura ambiente. Em geral, os aços inoxidáveis ferríticos são mais baratos que os austeníticos e duplex, e normalmente apresentam melhor estampabilidade e resistência a corrosão sob tensão. Em contrapartida, possuem uma menor resistência a corrosão localizada, baixa soldabilidade, apresentam tendência a fratura frágil e estão restritos a baixos teores de carbono e nitrogênio (58). Loto et al. (59), estudando o comportamento eletroquímico de um aço ferrítico, notaram que a presença de íons Cl− limitou significativamente a formação do filme passivo, acompanhado pela formação de pites metaestáveis e redução da faixa de passivação. 26 3.2.3 Aços Inoxidáveis Martensíticos Os aços inoxidáveis martensíticos apresentam três subclasses. A primeira contém carbono e é endurecida pela formação de precipitados de carboneto de ferro quando revenidos em baixas temperaturas, a segunda classe é caracterizada por apresentar baixos teores de carbono e é endurecida pela precipitação de partículas de cobre ou intermetálicos quando revenido e a terceira é endurecida por precipitação de carbonetos e intermetálicos quando revenido (60). Essas ligas apresentam comportamento ferromagnético e apresentam uma estrutura cristalina do tipo Tetragonal de Corpo Centrado (TCC). A liga mais comum dessa família é a S41000, contendo em torno de 12% de cromo e 0,1% de carbono. Após a têmpera, apresenta dureza variando de 20 a 40 Hardness Rockwell C (HRC). Visto que há uma dependência entre dureza e resistência ao desgaste, as ligas apresentando maior teor de carbono, como a S44004 (1,1% de carbono) apresentam excelente resistência ao desgaste, ao passo que as ligas como S41000 (0,1% de carbono) apresentam baixa resistência (57). Lu et al. (61) conduziram um estudo sobre os efeitos da temperatura de austenitização no comportamento eletroquímico de um aço inoxidável martensítico e constataram que o aumento da temperatura de austenitização reduziu drasticamente a quantidade de M23C6 rico em Cr não dissolvido dentro da matriz. Maiores temperaturas resultaram menor quantidade de carbonetos o que por sua vez resultou em uma distribuição mais homogênea do Cr, melhorando assim a resistência à corrosão. Alnajjar et al. (62) pesquisaram sobre a influência da microestrutura de um aço inoxidável 17-4PH produzido por Sinterização Seletiva a Laser. Os testes indicaram que a amostra contendo microestrutura martensítica apresentou Epite menor que a amostra ferrítica. Apesar disso, a amostra martensítica obteve melhores resultados de resistência à corrosão generalizada. 3.3 Ensaios Eletroquímicos 3.3.1 Potencial de Circuito Aberto O Potencial de Circuito Aberto (OCP) é o potencial no qual as reações catódicas e anódicas ocorrem na mesma taxa, pode-se então dizer que o sistema encontra-se no estado estacionário. Esse potencial é chamado de potencial de corrosão (Ecorr), OCP ou potencial 27 de repouso. O OCP está relacionado com a reatividade superficial do material e com o poder oxidante da solução. Sendo assim, o OCP é uma indicação da tendência termodinâmica de um metal sofrer oxidação em um dado meio corrosivo (63–65). 3.3.2 Polarização Potenciodinâmica A polarização potenciodinâmica linear consisteem percorrer um potencial a uma velocidade constante. Para obtenção de dados próximos ao estado estacionário, a velocidade de varredura deve ser a mais lenta possível (66). Figura 4 – Exemplo de curva de polarização com as principais regiões. Fonte: Adaptado de (66) Observando a Figura 4, é possível dividir a curva de polarização em duas principais regiões denominadas catódica e anódica, sendo a última subdividida em região ativa, passiva e transpassiva. Na região catódica, devido a predominância das reações catódicas, a taxa de dissolução do metal é baixa. Ao aumentarmos o potencial, atingiremos um potencial chamado Potencial de corrosão (Ecorr), na qual a corrente é revertida indicando o início da região anódica. A região anódica é tipificada pela faixa de potencial onde pode ocorrer dissolução anódica do metal. Em seguida, identificamos uma região denominada passiva, tipicamente encontrada em ligas metálicas que formam filme passivo, conhecido por ser compacto e aderente à superfície do 28 metal. Ao aumentarmos o potencial entramos na região transpassiva, caracterizada pelo aumento da corrente devido a desestabilização da camada passiva que, ao atingir um certo potencial chamado potencial de pite (Epite), ocorre quebra da camada passiva e tem-se o início da corrosão por pites (66–68). A polarização potenciodinâmica cíclica tem início da mesma forma que a linear porém ao finalizar a varredura no sentido inicial, inicia-se uma varredura no sentido inverso. Essa varredura adicional resulta em uma curva de polarização diferente da linear e permite a obtenção de informações referentes ao grau de susceptibilidade à corrosão localizada (69). De acordo com a norma ASTM F2129 (70), existem três tipos de curvas de polariza- ção potenciodinâmica cíclica: 1. O potencial de varredura continua até a observação de um potencial de proteção (Ep) caracterizado por uma queda na densidade de corrente abaixo da densidade de corrente passiva (Fig. 5a); 2. Não ocorre a observação de um potencial de proteção (Fig. 5b); 3. Ocorre desprendimento de oxigênio (Fig. 5c). Figura 5 – Esquemático de Polarização Cíclica ilustrando parâmetros de corrosão: a) Material que exibe Potencial de Proteção, b) Material que não exibe Potencial de Proteção, c) Material que exibe Desprendimento de Oxigênio em sua Superfície Fonte: Adaptado de (70) Para um sistema controlado por troca de cargas, a relação entre o sobrepotencial η e a corrente i é dado pela equação adaptada de Butler-Volmer (Equação 3.7). i = icorr ∗ (e2,303 η βa − e−2,303 η βc ) (3.7) Em que icorr é a densidade de corrente de corrosão; βa e βc são os coeficientes angu- lares das retas de Tafel do ramo anódico e catódico respectivamente. Para valores significativos 29 de sobrepotencial, anódicos ou catódicos, a equação 3.7 pode ser simplificada resultando nas equações de Tafel anódica e catódica mostradas a seguir (Equações 3.8 e 3.9). η = βa ∗ log i icorr (3.8) η =−βc ∗ log i icorr (3.9) Percebe-se que as Equações 3.8 e 3.9 estabelecem uma relação linear entre o sobre- potencial e o logaritmo da corrente. Além disso, realizando a extrapolação do sobrepotencial para zero, o valor de corrente deve ser igual a corrente de corrosão, sendo possível assim obtê-lo. A partir do valor de icorr, pode-se calcular ainda uma estimativa para a taxa de corrosão nas condições analisadas. De acordo com a lei de Faraday, há uma relação linear entre a taxa de dissolução do material e a densidade de corrente de corrosão. Essa relação é mostrada na Equação 3.10. Taxa de Corrosão = K ∗M ∗ icorr nFρA (3.10) Em que K é o coeficiente de conversão de unidades (3,17 E-9 para mm/ano); M é massa atômica do material; n é o numero de elétrons envolvidos na reação, F é a constate de Faraday; ρ é a densidade do material; e A a área exposta. A obtenção dos valores de icorr, e da taxa de corrente usando das equações apresen- tadas nessa seção, é comumente realizada e o método é conhecido como análise de Tafel. 3.3.3 Espectroscopia de Impedância Eletroquímica A Espectroscopia de Impedância Eletroquímica (EIE) consiste em perturbar o sis- tema, que se encontra no estado estacionário, utilizando um potenciostato, oscilando o potencial sob um determinado alcance de frequência, usualmente na faixa de 40kHz a 1 mHz. O atrativo dessa técnica reside na possibilidade de correlacionar processos eletroquímicos com processos elétricos observáveis (71). Devido a amplitude de oscilação do potencial ser baixa, a perturbação do sistema é mínima, permitindo assim analisar o sistema in situ (66). A partir dessa técnica pode-se obter informações sobre o comportamento eletroquí- mico do sistema, que pode ser relacionado com a cinética da corrosão; dados sobre o mecanismo, indicando se a corrosão é regida por ativação, concentração ou difusão. É uma ensaio não- destrutivo, visto que os sinais aplicados são de baixa amplitude, logo o potencial de corrosão não é alterado e permite monitoramento do estado passivo ou ativo ao longo do tempo (72). 30 Essa análise permite uma investigação mais detalhada do sistema utilizando o Cir- cuito Elétrico Equivalente (CEE) com o qual podemos extrair informações como a Resistência da Solução, Resistência de Transferência de Carga, Capacitância da Dupla Camada Elétrica, entre outros, e relacioná-los aos processos que ocorrem no sistema (66, 73–77). 3.3.4 Cronoamperometria A cronoamperometria é uma técnica na qual é aplicado um potencial constante no eletrodo de trabalho e a corrente que passa pelo eletrodo é registrado com o passar do tempo. As alterações na corrente são resultantes da variação da camada difusa (78, 79). Essa análise é utilizada para estudar o ataque à superfície passiva do aço por íons cloreto. A partir do formato da curva densidade de corrente versus tempo é possível obter informações sobre processos de passivação ou corrosão localizada (80). 31 4 MATERIAIS Os aços inoxidáveis UNS S41003 e Endur 300 foram fornecidos pela empresa Aperam S.A. em forma de placas de dimensões de 300 mm x 250 mm x 4,85 mm para a liga UNS S41003 e 350 mm x 200 mm x 4,75 mm para a liga Endur 300. 4.1 UNS S41003 A liga UNS S41003 é apresenta baixo carbono com adições de cromo e níquel apresentando alta resistência mecânica e boa resistência em ambientes corrosivos e abrasivos. Possui microestrutura ferrítica e é apresentado para utilizações estruturais, sendo uma alternativa para aços carbono, galvanizados ou aluminizados (16). A tabela 2 apresenta a composição química da liga UNS S41003. Tabela 2 – Composição Química da liga UNS S41003* C Cr Ni Co Cu Mn Mo N2 Si V P Fe % 0,01 11,03 0,35 0,02 0,02 0,54 0,01 0,01 0,49 0,03 0,02 bal Fonte: Aperam S.A. *Alguns elementos foram omitidos por apresentarem composição inferiores a 0,01%. 4.2 Endur 300 Assim como a UNS S41003, o Endur 300 é uma liga baixo carbono com adições de cromo e níquel, conforme mostrado na Tabela 3. Seu diferencial reside na alta resistência mecânica e dureza nominal de 300 HB; decorrentes de sua microestrutura refinada e predomi- nantemente martensítica; aliada à manutenção de sua tenacidade, soldabilidade e capacidade de conformação a frio (22). Tabela 3 – Composição Química da liga Endur 300* C Cr Ni Co Cu Mn Mo N2 Si V P Fe % 0,01 11,04 0,34 0,02 0,04 0,55 0,06 0,01 0,51 0,05 0,03 bal. Fonte: Aperam S.A. *Alguns elementos foram omitidos por apresentarem composição inferiores a 0,01%. A liga Endur 300 foi fabricado a partir de um tratamento termomecânico aplicado à liga UNS S41003. O tratamento consiste em um aquecimento a 1°C por segundo até atingir 32 temperaturas maiores de 937°C, resultando em completa austenitização da microestrutura, seguido por múltiplos passes de laminação a quente, induzindo o refinamento de grãos devido ao processo de recristalização. A liga é então submetida a um resfriamento rápido após o último passe de laminação, resultando em uma microestrutura completamente martensítica. A Figura6 mostra as etapas desse processo. Figura 6 – Diagrama do tratamento termomecânico de obtenção da liga Endur 300 Fonte: Elaborado pelo Autor. 4.3 Eletrólitos Três soluções foram preparadas diluindo NaCl com grau de pureza para análise (P.A.) utilizando água destilada até a obtenção de concentrações 250, 500 e 1000 ppm, que foram utilizadas como eletrólito a fim de simular condições em ambientes moderadamente agressivos contendo íons Cl−. A escolha desses íons decorre de seu importante papel na resistência a corrosão de aços inoxidáveis ao passo que a pequena variação da concentração provém de ambos os materiais estudados apresentarem composições químicas semelhantes. 33 5 METODOLOGIA A metodologia experimental para a realização do trabalho seguiu o fluxograma apresentado na Figura 7. Figura 7 – Fluxograma da metodologia Experimental. Fonte: Elaborado pelo Autor. 5.1 Preparação das Amostras Devido ao formato e dimensão das placas, fez-se necessário realizar um corte inicial utilizando a máquina de corte do tipo serra fita do Laboratório de Pesquisa e Tecnologia em Soldagem (LPTS) da Universidade Federal do Ceará (UFC) a fim de facilitar o manuseio e posterior corte utilizando a cut-off do Laboratório de Pesquisa em Corrosão (LPC) da UFC. As amostras foram preparadas com uma área de 10 mm x 10 mm e embutidas a frio utilizando um fio de cobre para estabelecer contato elétrico. Imediatamente antes de cada análise, as amostras foram lixadas com lixas d’água de granulometrias 220, 300, 400, 600 e 1200, realizando lavagem com água destilada e álcool e secagem com um jato de ar quente após cada lixamento. A interface eletrodo de trabalho/resina foi protegida utilizando esmalte transparente a fim de evitar corrosão por frestas. Todos os ensaios serão realizados em triplicatas, garantindo assim a reprodutibilidade. A preparação foi realizada seguindo a norma ASTM G1-03 (81). 5.2 Ensaios Eletroquímicos Os ensaios eletroquímicos escolhidos foram: OCP, polarização potenciodinâmica linear e cíclica, EIE e cronoamperometria. Para realização das medidas, foi utilizado um 34 potenciostato/galvanostato modelo PGSTAT30 (Autolab, Metrohm-Eco Chemie) do LPC da UFC juntamente com o software Nova 2.1. Foi escolhido uma célula eletroquímica convencional de três eletrodos para a realiza- ção do estudo, sendo os eletrodos: 1. Contra eletrodo de platina; 2. Eletrodo de referência prata/cloreto de prata (Ag(s) / AgCl(s), sat. KCl); 3. Eletrodo de trabalho (amostras utilizadas para análise). Como representado na Figura 8. Foram utilizados 125 mililitro (mL) de três eletróli- tos com concentrações de NaCl: 250 ppm, 500 ppm e 1000 ppm. Todos os ensaios eletroquímicos foram feitos em triplicatas e a temperatura de 25◦C. Figura 8 – Célula eletroquímica convencional de três eletrodos. Fonte: Elaborado pelo Autor. 5.2.1 Potencial de Circuito Aberto (OCP) O monitoramento do potencial de circuito aberto consiste em registrar a evolução do potencial de repouso, ou seja, quando não há passagem de corrente pela célula e não há aplicação de potencial no sistema. O OCP foi conduzido por 1 hora com medições a cada 0,1 segundos. Essa prática permite que o sistema entre no estado estacionário e precede todos os outros ensaios eletroquímicos (63–65). 35 5.2.2 Polarização Potenciodinâmica Linear e Cíclica A polarização linear foi realizada com uma velocidade de varredura de 1 mV/s de forma contínua e ascendente, iniciando-se em -0,25 V a 1,0 V de sobrepotencial, a fim de analisar todas as etapas do processo. A densidade de corrente de corrosão (Jcorr), o Ecorr e taxa de corrosão em mm/ano foram calculados a partir da análise de Tafel. A polarização cíclica foi realizada com uma velocidade de varredura de 1 mV/s de forma contínua e ascendente com uma taxa de varredura de 0,001 V/s, iniciando-se em -0,25 V de sobrepotencial até alcançar 1,0 V, revertendo então o sentido da varredura e finalizando após retornar ao potencial -0,25 V. 5.2.3 Espectroscopia de Impedância Eletroquímica Os ensaios foram realizados numa faixa de frequência de 40 kHz a 10 mHz, com uma onda senoidal de 10 mV de amplitude medindo 5 frequências por década. Após os ensaios, foram construídos os gráficos de Nyquist, Diagramas de Bode e foi realizado a simulação do processo utilizando o CEE. 5.2.4 Cronoamperometria O ensaio de cronoamperometria foi realizado com a aplicação de um potencial anódico único na região de passivação extraído da curva de polarização linear. O potencial escolhido foi de 0,1 V e a densidade de corrente foi monitorada durante 900 segundos com medições a cada 0,5 segundos. 5.3 Duzera Vickers e Caracterização Microestrutural 5.3.1 Dureza e Microdureza Vickers O ensaio de Dureza Vickers e Microindentração de dureza foram realizados de acordo com as normas ASTM E92 e ASTM E384 respectivamente (82, 83). A dureza vickers foi realizada com aplicação de 1 Quilograma-força (kgf) por 30 segundos e a microindentação foi realizada com aplicação de 100 Grama-força (gf) por 10 segundos. Ambas as técnicas foram realizadas medindo 12 pontos paralelos a direção de laminação em cada liga. Em seguida dois valores extremos foram descartados restando 10 pontos para realização das análises estatísticas. 36 5.3.2 Caracterização Microestrutural A caracterização microestrutural foi realizada em duas condições: após o ataque químico e após a polarização potenciodinâmica. Todas as amostras foram preparadas metalo- graficamente conforme descrito em 5.1, seguido por duas etapas diferentes de acordo com as condições de análise. 1. Polimento com pasta de diamante de 6µ, 3µ e 1µ,enxaguada com água destilada e álcool etílico, secadas com jato de ar quente e atacada quimicamente utilizando o reagente de Villela (84, 85) (1g de ácido pícrico, 5 mL de ácido clorídrico, e 100 mL de álcool etílico) para observar a microestrutura. O ataque foi dividido em 3 imersões de 30 segundos. A microestrutura foi observada entre cada etapa. 2. Polarização potenciodinâmica linear para observar a morfologia e extensão da corrosão. 5.3.3 Microscopia Óptica Para visualização da microestrutura de ambas as ligas, as amostras foram levadas ao microscópio óptico de platina invertida Leica DMI 3000M do LPC (86). 5.3.4 Microscopia Eletrônica de Varredura As imagens de MEV foram realizadas utilizando o Microscópio eletrônico de Varre- dura Quanta FEG operado no modo Elétrons Secundários (SE) acoplado com o detector Everhart Thornley (ETD) utilizando voltagem de aceleração de 20,00 kV e uma distância de trabalho média de 10 mm. 37 6 RESULTADOS 6.1 Composição Química e Caracterização Microestrutural Conforme descrito na seção 4.2, a liga Endur 300 foi desenvolvida submetendo a UNS S41003 a um tratamento termomecânico. A diferença entre suas composições pode ser atribuída à heterogeneidade durante o processo de produção. A composição de cromo está dentro da faixa necessária para a formação de uma camada compacta de óxido (1–11). Aços inoxidáveis Fe-Cr e baixo carbono podem apresentar microestrutura ferrítica ou martensítica ou ferrítica e martensítica, dependendo da concentração de Cr e da taxa de resfria- mento. É citado na literatura que com teores abaixo de 12% de Cr é possível obter microestrutura martensítica. Para isso, é necessário a completa austenitização a elevadas temperaturas seguido de um resfriamento rápido (87–89). As Tabelas 4 e 5 mostram os valores de cromo e níquel equivalente calculados aplicando as composições químicas de ambas as ligas, presentes nas Tabelas 2 e 3, nas formulas apresentadas na Tabela 1. Tabela 4 – Cromo e Níquel equivalente calculado para a liga UNS S41003 Modelo Cromo Equivalente (Creq) Níquel Equivalente (Nieq) Schaeffler 11,78 0,86 DeLong 11,78 1,25 Hull 11,33 0,86 Hammer & Svensson 11,78 0,90 WRC-1992 (by Kotecki & Sievert) 11,04 0,89 Média 11,54 ± 0,34 0,95 ± 0,17 Fonte: Elaborado pelo Autor. A partir da análise dos valores de Creq e Niequtilizando o diagrama de Shaeffler, foi possível determinar que ambas as ligas estão na região de microestrutura ferrítica e martensí- tica, destacada na Figura 9, indicando que é possível obter tanto uma microestrutura ferrítica, martensítica ou uma combinação de ambas. 38 Tabela 5 – Cromo e Níquel equivalente calculado para a liga Endur 300 Modelo Cromo Equivalente (Creq) Níquel Equivalente (Nieq) Schaeffler 11,87 0,93 DeLong 11,87 1,36 Hull 11,46 0,94 Hammer & Svensson 11,90 0,98 WRC-1992 (by Kotecki & Sievert) 11,11 1,00 Média 11,64 ± 0,35 1,04 ± 0,18 Fonte: Elaborado pelo Autor. Figura 9 – Diagrama de Schaeffler Fonte: Adaptado de (90) A caracterização microestrutural das ligas UNS S41003 e Endur 300 foi realizada conforme descrito na seção 5.3.2. O uso do reagente Villela foi escolhido da lista de reagentes disponíveis na norma ASTM E407-07 (85) a fim de visualizar a microestrutura martensítica, visto que ele ataca a martensita e delineia constituintes tais quais carbetos e ferrita delta (84). As Figuras 10 e 11 mostram as microestruturas de ambas as ligas após ataque químico utilizando o reagente Villela. UNS S41003 apresenta grãos equiaxiais, característico de ferrita (11, 91–93), enquanto Endur 300 apresenta estruturas alongadas em formato de ripas, como mostrado na Figura 11 d, característico de martensita formada em aço de baixo carbono (94–96). 39 Figura 10 – Micrografia Óptica (magnificação 250x) de (a) UNS S41003, (b) Endur 300, e (magnificação 1000x) de (c) UNS S41003, e (d) Endur 300 Fonte: Elaborado pelo Autor. Figura 11 – Micrografia Eletrônica de Varredura (magnificação 3000x) de (a) UNS S41003, (b) Endur 300, e (magnificação 14000x) de (c) UNS S41003, e (d) Endur 300 Fonte: Elaborado pelo Autor. 40 Um estudo publicado por Faria et al. (21) analisou o volume da fração de martensita induzida no aço UNS S41003 apresentando micrografias eletrônicas de varredura semelhante às mostradas na Figura 11, indicando que o tratamento termomecânico resultou em uma transfor- mação martensítica e refinamento de grãos. Outros autores relataram a obtenção de estruturas bifásicas (ferrita-martensita) após submeter o aço UNS S41003 a têmpera variando as velocidades de resfriamento (97–99). 6.2 Microindentação de dureza A microindentação de dureza dos aços na condição como recebido foi realizado como descrito na seção 5.3.1 e mostra que o tratamento termomecânico utilizado resultou no aumento da dureza da liga, como visto na Tabela 6. Tabela 6 – Microdureza Vickers de UNS S41003 e Endur 300 como recebido Amostra Média HV UNS S41003 175 ± 2,65 Endur 300 316 ± 8,25 Fonte: Elaborado pelo Autor. Faria et al. (21) estudaram o efeito do volume de martensita no comportamento mecânico da liga UNS S41003 para diferentes condições de tratamento térmico. As amostras contendo aproximadamente 4% de fração de volume de martensita apresentaram uma média de 189 HV enquanto que as contendo aproximadamente 60% de fração de volume de martensita apresentaram uma média de 316 HV. Vilela et al. (99) e Nunes et al. (97) ao estudarem a liga UNS S41003 submetidos a diferentes taxas de resfriamento obtiveram valores semelhantes de microdureza. Os resultados são consistentes com a microdureza medida para as ligas no presente trabalho, indicando uma microestrutura predominantemente ferrítica para UNS S41003 e mar- tensítica para Endur 300. Os resultados apresentados na Tabela 6 confirmam que o tratamento termomecânico resultou em um aumento de dureza de aproximadamente 80,6%. 41 6.3 Influência da Corrosão na Dureza A dureza Vickers foi medida para as amostras nas condições como recebido e após 4 semanas de imersão nas soluções de 250 ppm, 500 ppm e 1000 ppm de NaCl a fim de analisar os efeitos da formação do produto de corrosão durante a imersão na dureza das ligas, conforme visto na Tabela 7. A comparação da dureza do material como recebido e após a imersão é apresentada na Figura 12. Para a realização desse ensaio as amostras foram retiradas da imersão e lavadas utilizando água destilada e secada com um jato de ar quente. Não foi realizada nenhuma preparação superficial após a imersão a fim de avaliar o efeito dos produtos de corrosão na superfície das amostras. Faz-se necessário ressaltar que quaisquer alterações apresentadas são exclusivamente superficiais devido ao dano provocado pela corrosão. Sendo assim o material volta a apresentar valores de dureza semelhantes à situação como recebida após a remoção da camada afetada. Tabela 7 – Dureza Vickers das ligas UNS S41003 e Endur 300 como recebido e após 4 semanas de imersão em solução de NaCl Dureza Vickers (HV) Condição UNS S41003 Endur 300 Como recebido 188,75 ± 6,20 313,51 ± 11,96 250 ppm NaCl 164,58 ± 2,69 303,96 ± 5,09 500 ppm NaCl 164,02 ± 3,87 300,60 ± 2,83 1000 ppm NaCl 178,48 ± 2,05 306,00 ± 2,28 Fonte: Elaborado pelo Autor. A exposição durante 4 semanas em diferentes concentrações de solução de NaCl causou uma redução na dureza Vickers das amostras em comparação com a condição como recebido. A liga UNS S41003 apresentou maior variação na dureza quando comparada à Endur 300. Saefuloh et al. (100) estudaram o comportamento à corrosão e a dureza do aço inoxidável AISI 304 em diferentes soluções corrosivas e correlacionaram a redução da dureza com o aumento da taxa de corrosão. Ragab et al. (101) mostraram a relação entre a exposição a ambientes corrosivos e redução da dureza às alterações causadas pela corrosão na superfície do material como corrosão por pites, incrustação e depósito de material estranho. Outros autores (102–104) também relataram pequenas reduções de dureza após o processo de corrosão. 42 A Figura 12 apresenta uma comparação da dureza das amostras como recebido e após 4 semanas de imersas em meio corrosivo. É possível observar que essa exposição resultou em uma diminuição dos valores de dureza. Embora as duas ligas tenham apresentado comportamento semelhante, a UNS S41003 apresentou maior redução na dureza indicando que sofre mais danos superficiais quando comparada à Endur 300 (101). Figura 12 – Comparação de HV entre as condições recebidas e após 4 semanas de imersão em NaCl soluções. Fonte: Elaborado pelo Autor. Observa-se um comportamento inesperado para a solução de 1000 ppm que, relativo a de 500 ppm, apresentou maior dureza. Apesar disso, nota-se uma queda na dureza quando comparado a amostra como recebido. Faz-se necessária uma investigação mais detalhada a fim de compreender tal comportamento, que não será abordado no presente trabalho. 6.4 Potencial de Circuito Aberto A Figura 13 mostra a evolução do Potencial de Circuito Aberto (OCP) com o tempo, podendo-se observar um comportamento semelhante para os dois materiais. Não foi possível fazer uma correlação entre a concentração dos íons Cl− e os valores do OCP. Para todas as situações o tempo de monitoramento foi suficiente para a estabilização do potencial. A partir desse resultado foi utilizado o tempo de 1 hora de estabilização antes dos demais ensaios eletroquímicos. Os resultados mostram que o tratamento termomecânico não apresentou efeito nos valores de OCP, como pode ser visto na Figura 13, indicando que a atividade superficial de 43 ambas as ligas é a mesma nas três condições estudadas. As médias e desvio do OCP estão apresentadas na Tabela 8. Figura 13 – Potencial de Circuito Aberto Fonte: Elaborado pelo Autor. Tabela 8 – Potencial de Circuito Aberto das ligas UNS S41003 e Endur 300 Potencial de Circuito Aberto 250 ppm NaCl 500 ppm NaCl 1000 ppm NaCl UNS S41003 -0,081 ± 0,023 -0,117 ± 0,001 -0,122 ± 0,013 Endur 300 -0,107 ± 0,013 -0,108 ± 0,007 -0,123 ± 0,036 Fonte: Elaborado pelo Autor. 6.5 Polarização Potenciodinâmica 6.5.1 Polarização Linear As curvas de polarização potenciodinâmica para aços inoxidáveis apresenta quatro regiões típicas: a região ativa, caracterizada por quebra de passividade e dissolução do metal, a passiva, corrosão por pitese a transpassiva (67,68). As curvas de polarização linear apresentadas na Figura 14 mostram que a região ativa e o processo de passivação para as ligas UNS S41003 e Endur 300 não estão bem separados, uma vez que o eletrólito de NaCl não é um meio passivante. No entanto, é possível observar passivação caracterizada pela região de platô entre o potencial de corrosão e o potencial no qual ocorre um rápido aumento da densidade de corrente. Esse crescimento repentino na densidade de corrente pode ser associado a dois fenômenos dependendo 44 do valor de potencial no qual ocorre. Para potenciais acima de 1,033 V vs Ag/AgCl sat. KCl considera-se como resultado da reação de desprendimento de oxigênio já para potenciais menores, o aumento de densidade de corrente está relacionado ao início do processo de corrosão por pites (105, 106). O pico de 2 a 3 ordens de magnitude na densidade de corrente em torno do potencial 0,3 V, visto na Fig. 14, é uma característica do início da corrosão por pites e o potencial em que isso acontece é conhecido por Epite (40, 41). A presença do Epite e a morfologia da corrosão observada nas micrografias podem ser associados à corrosão localizada, confirmando que as ligas sofrem um processo de formação de filme passivo. Figura 14 – Polarização Potenciodinâmica Linear das Ligas UNS S41003 e Endur 300 em (a) 250 ppm NaCl, (b) 500 ppm NaCl, e (c) 1000 ppm NaCl Fonte: Elaborado pelo Autor. 45 Ambas as ligas apresentaram comportamento semelhante para os meios de corrosão de 250 ppm e 500 ppm de NaCl, Figuras 14a e 14b respectivamente. Para 1000 ppm de NaCl, Figura 14c, Endur 300 apresentou menor Ecorr e maior Epite. As Figuras 15 e 16 mostram as imagens do MEV para ambas as ligas após os testes de polarização, em diferentes concentrações de soluções de NaCl. A principal morfologia observado foi a corrosão por pite, corroborando o fato de ambas as ligas sofrerem passivação. Foi observado um comportamento semelhante para todas as soluções estudadas. Figura 15 – Micrografia Eletrônica de Varredura da UNS S41003 após Polarização Linear em: (a) e (b) 250 ppm de NaCl, (c) e (d) 500 ppm de NaCl, (e) e (f) 1000 ppm de NaCl Fonte: Elaborado pelo Autor. 46 Figura 16 – Micrografia Eletrônica de Varredura da Endur 300 após Polarização Linear em: (a) e (b) 250 ppm de NaCl, (c) e (d) 500 ppm de NaCl, (e) e (f) 1000 ppm de NaCl Fonte: Elaborado pelo Autor. 6.5.2 Polarização Cíclica As curvas de polarização cíclicas apresentadas na Figura 17 mostram que o sistema é descrito pela curva de histerese incompleta para todas as condições, sugerindo que os sistemas não apresentam potencial de repassivação. A ausência desse potencial indica que o material não se torna passivo novamente e permanece suscetível à nucleação e crescimento de pites mesmo em potencial de circuito aberto (69, 70). A Figura 17c mostra uma densidade de corrente mais alta para a varredura reversa em ambas as ligas. 47 Figura 17 – Polarização Potenciodinâmica Cíclica das Ligas UNS S41003 e Endur 300 em (a) 250 ppm NaCl, (b) 500 ppm NaCl, e (c) 1000 ppm NaCl Fonte: Elaborado pelo Autor. Ambas as ligas apresentam valores similares de Epite para todos os meios estudados, como observado na Tabela 9. O aumento da concentração de Cl− resultou na redução do Epite, visto que aumenta a formação de ilhas de sal na superfície do filme passivo reduzindo localmente o pH e levando a uma mais rápida dissolução do filme passivo como descrito na seção 3.2.1 e sugerido na literatura (47, 50, 51, 53). Tabela 9 – Epite das ligas UNS S41003 e Endur 300 Epite (V vs Ag/AgCl sat. KCl) 250 ppm NaCl 500 ppm NaCl 1000 ppm NaCl UNS S41003 0,361 ± 0,016 0,289 ± 0,048 0,252 ± 0,054 Endur 300 0,359 ± 0,017 0,263 ± 0,055 0,276 ± 0,028 Fonte: Elaborado pelo Autor. 48 Outra análise importante que tem sido amplamente discutida na literatura para a interpretação do comportamento da corrosão por pite é o módulo da diferença entre o potencial de pite e o potencial de corrosão (|Epite - Ecorr|). Este parâmetro é uma medida da resistividade do filme passivo e é um indicador do início da corrosão por pites. Vários autores relacionam um maior |Epite - Ecorr| com melhores propriedades de resistência à corrosão (107–112). A Figura 18 apresenta os valores de |Epite - Ecorr| para os sistemas estudados. Os maiores valores de |Epite - Ecorr| para Endur 300 nos meios de corrosão de 250 e 1000 ppm de NaCl indicam uma iniciação de corrosão por pites mais difícil quando comparado com UNS S41003 nos mesmos meios. Também é possível relacionar uma diminuição linear entre os valores de |Epite - Ecorr| para UNS S41003 com maiores concentrações de Cl− enquanto Endur 300 apresentou apenas uma diminuição significativa de 250 ppm para 500 ppm, indicando uma resposta passiva melhor em 1000 ppm de NaCl. Figura 18 – (a) Esquemático da extensão da região passiva na curva de polarização, (b) |Epite - Ecorr | da UNS S41003 e Endur 300 em 250 ppm, 500 ppm e 1000 ppm de NaCl. Fonte: Elaborado pelo Autor. 6.6 Espectroscopia de Impedância Eletroquímica A Figura 19 mostra os gráficos de Nyquist da análise de EIE. É possível observar que ambas as ligas apresentam comportamento semelhante em todas as condições. Ao comparar as soluções de 250 ppm e 500 ppm de NaCl, observa-se uma retração no arco capacitivo, indicando que as ligas perdem resistência devido à maior concentração de íons Cl− (113, 114). Para o aumento de 500 ppm para 1000 ppm de NaCl, ambas as ligas apresentaram um comportamento inesperado de crescimento no arco capacitivo, o que será abordado na análise mais detalhada 49 utilizando um Circuito Elétrico Equivalente. Figura 19 – Espectroscopia de Impedância Eletroquímica das ligas UNS S41003 e Endur 300 em (a) 250 ppm, (b) 500 ppm e, (c) 1000 ppm de NaCl. Fonte: Elaborado pelo Autor. Uma extrapolação dos gráficos de Nyquist foi feita para obter os valores de resistência a polarização (Rp) das ligas em todas as condições. A Rp é um parâmetro específico para o material analisado e é usado como uma representação da resistência à corrosão para um determinado sistema (114). A Figura 20 mostra os valores de Rp para ambas as ligas em todas as condições estudadas. 50 Figura 20 – Resistência à Polarização das ligas UNS S41003 e Endur 300 em 250 ppm, 500 ppm e, 1000 ppm de NaCl. Fonte: Elaborado pelo Autor. A Figura 21 mostra as curvas de Bode obtidas a partir dos ensaios de EIE. É possível observar uma estabilização do valor do módulo de impedância na região de alta frequência, indicando um comportamento independente da frequência. A região de alta frequência e bai- xíssima frequência estão relacionadas à resistência da solução (Rs) e resistência a polarização respectivamente (Rp) (115, 116). É notável que o aumento do íons Cl− resultou na redução do Rs, visto que a condutivi- dade da solução aumenta com a maior disponibilidade de íons (115,117–119). O comportamento visto no gráfico de Bode é consistente com os obtidos nos diagramas de Nyquist. Ao observar a região de baixíssimas frequências as variações de 250 ppm para 500 ppm e de 500 ppm para 1000 ppm resultaram, respectivamente, em uma queda e um aumento do Rp. Os diagramas de ângulo de fase apresentam um pico único com ângulo maior que -90◦ para todas as situações estudadas. Um capacitor ideal apresenta ângulo de fase -90◦. Essa redução de ângulo é comumente atribuída impurezas e heterogeneidades na superfície do material (72, 73, 119, 120). Ao analisar os diagramas de ângulo é possível notar picos largos, indicando uma sobreposição de dois processos ocorrendo na superfície do metal. A presença de um pico largo e ângulos maiores que -90◦ observados em todas as condições apresentadas na Figura 21 indicam a existência de mais de uma constante de tempo (73, 121). Analisando os gráficos de Nyquist e diagrama de Bode, podemos extrair as informa- ções de Rp e Rs. Para uma análise mais aprofundada da técnica de impedância, faz-se necessárioa 51 utilização de um CEE que irá simular o sistema permitindo uma melhor separação dos processos que estão ocorrendo no sistema (120, 122, 123). Figura 21 – Diagramas de Bode obtidas dos ensaios de EIE para as ligas UNS S41003: (a) 250 ppm, (c) 500 ppm e, (e) 1000 ppm, e Endur 300: (b) 250 ppm, (d) 500 ppm e, (f) 1000 ppm de NaCl. Fonte: Elaborado pelo Autor. A partir dos dados observados nos diagramas de Nyquist e de Bode, foi escolhido um circuito com duas constantes de tempo em paralelo, em série com a resistência da solução. Para a dupla camada optou-se utilizar um capacitor, já para a camada passiva optou-se utilizar um Constant Phase Element (CPE), devido a natureza heterogênea da superfície do material. O circuito utilizado é apresentado na Figura 22. 52 Figura 22 – Circuito Elétrico Equivalente utilizado. Fonte: Elaborado pelo Autor. Os elementos apresentados no CEE representam: Rs: resistência ôhmica da solução, R1: resistência dos produtos de corrosão formados na superfície da liga metálica, ou resistência da camada passiva formada; Q1: CPE associado à capacitância da camada passiva formada; Rct : resistência da troca de cargas; e Cdl: capacitância da dupla camada elétrica (73–77). A utilização de CPEs para substituição de capacitores puros se dá pelo comporta- mento desses elementos de dispersão de frequência observados em capacitores não ideais. A impedância associada a este tipo de elemento se dá pela Equação 6.1. Zcpe = 1 Y0 ∗ ( jw)n (6.1) Em que Y0 é a constante elétrica do CPE; w é a frequência angular; j é o número imaginário; e n é o expoente do CPE, parâmetro que está relacionado com o grau de heterogenei- dade e comportamento não-ideal, podendo variar de 0 a 1, sendo o valor zero representativo de um resistor ideal, e o valor 1 representativo de um capacitor ideal. Para a obtenção do valor relativo à capacitância do CPE é necessário utilizar a fórmula da capacitância equivalente (Ceq), mostrada na Equação 6.2 (124–126). Ceq = Y (1/n) 0 ∗R (1−n)/n e (6.2) As Tabelas 10 e 11 apresentam os valores dos elementos do circuito elétrico equiva- lente obtidos para as ligas UNS S41003 e Endur 300 respectivamente. É possível observar que os valores de Qui-quadrado (χ2) foram baixos, indicando boa qualidade entre os dados calculados e os experimentais. Os valores de do expoente do CPE calculados apresentaram valores menores que 1, o que está relacionado as heterogeneidades presentes na superfície do material. Os valores da capacitância da dupla camada elétrica estão de acordo com os valores encontrados por Li (113). 53 Tabela 10 – Valores de elementos do circuito elétrico equivalente obtidos para a liga UNS S41003 em diferentes concentrações de NaCl. NaCl Rs R1 C1 n1.E2 Rct Cdl χ2 (Ω.cm2) (Ω.cm2) (µF.cm−2) (Ω.cm2) (µF.cm−2) 250 ppm 451±34 567±44 6,4±0,5 86±1 (157±19) E3 5±0,3 14E-3 500 ppm 252±14 267±119 6,2±0,8 89±1 (164±28) E3 6±1 11E-3 1000 ppm 123±5 109±26 6,1±0,2 89±1 (167±25) E3 7±1 9E-3 Fonte: Elaborado pelo Autor. Tabela 11 – Valores de elementos do circuito elétrico equivalente obtidos para a liga Endur 300 em diferentes concentrações de NaCl. NaCl Rs R1 C1 n1.E2 Rct Cdl χ2 (Ω.cm2) (Ω.cm2) (µF.cm−2) (Ω.cm2) (µF.cm−2) 250 ppm 614±136 509±42 4,0±1,2 78±8 (255±84) E3 3±1 25E-3 500 ppm 273±18 242±81 4,4±0,9 88±1 (233±79) E3 4±2 9E-3 1000 ppm 124±13 95±27 3,6±0,5 89±1 (288±78) E3 9±3 9E-3 Fonte: Elaborado pelo Autor. A Figura 23 apresenta a influência da concentração dos íons Cl− nos valores obtidos para os elementos resistivos Rs, R1, e Rct . Na Figura 23a é possível perceber que ocorre uma redução dos valores de Rs e isso ocorre devido ao aumento da condutividade do eletrólito que por sua vez resulta da maior concentração dos íons Cl−, visto que a solução é composta apenas de água destilada e NaCl (117, 127). A Figura 23b mostra os resultados da resistência do filme passivo formado para ambas as ligas metálicas. Pode-se observar que a concentração de Cl− apresenta uma relação inversa e quase linear na resistência dos filmes ou seja, quanto maior a concentração dos íons menor a resistência do filme passivo (113, 117). Já a figura 23c apresentam valores de Rct . Apesar da elevação da concentração de íons foi obtidos valores equivalentes para ambas as ligas em todos os meios estudados sendo em torno de 200 kΩ cm2. Zha et al. (117) obtiveram valores similares para Rct na concentração de 0,01 M de NaCl, o que é equivalente a concentração de 500 ppm. Zha et al. (117) e Qiao et al. (127) obtiveram variações de 10 kΩ.cm2 ao aumentar a quantidade de íons Cl− de 500 ppm para aproximadamente 3000 ppm e 1,6 kΩ.cm2 para uma variação de 5000 ppm para 10000 ppm de NaCl. 54 Figura 23 – Influência da concentração de Cl− nos elementos resistivos do sistema estudado. (a) Rs, (b) R1, (c) Rct. Fonte: Elaborado pelo Autor. Vale ressaltar que ao analisar apenas pelos diagramas de Nyquist para a obtenção do Rp obteve-se um aumento ao variar de 500 ppm para 1000 ppm, como apresentado na Figura 12, levando a entender que ambas as ligas apresentaram uma melhor resistência em 1000 ppm. Já ao analisar o sistema de forma mais detalhada a partir da utilização de um CEE foi possível perceber que a maior concentração de íons Cl− impactou negativamente na resistência das ligas. A possível causa da retração e subsequente crescimento do arco capacitivo observado pode ser relacionado a não distinção dos processos no diagrama de Nyquist o que resultando na sobreposição dos arcos, ressaltando a importância do maior detalhamento para a compreensão dos resultados. 55 6.7 Cronoamperometria A Figura 24 mostra os cronoamperogramas para UNS S41003 e Endur 300 em meios com diferentes concentrações de NaCl. Ambas as ligas tiveram comportamento semelhante ao longo do tempo de imersão. A densidade de corrente permaneceu estável durante o teste. O aumento da concentração de NaCl foi acompanhado por uma rápida redução na densidade de corrente perto do tempo 0 segundos. Esse decréscimo ascentuado indica o crescimento da camada passiva (128, 129). A estabilidade da densidade de corrente está relacionada à taxa de formação e dissolução de óxidos (129, 130). Figura 24 – Cronoamperogramas das ligas (a) UNS S41003 e (b) Endur 300 em 250 ppm, 500 ppm e, 1000 ppm de NaCl. Fonte: Elaborado pelo Autor. A solução de 500 ppm mostra uma maior instabilidade da densidade de corrente e é explicada por um desequilíbrio na formação e dissolução do óxido levando a uma formação de filme passivo instável. A densidade de corrente para a condição de 1000 ppm indica que, apesar do aumento dos íons agressivos Cl−, o filme de óxido ficou mais estável quando comparado à condição de 500 ppm. No entanto, o rápido aumento da densidade de corrente destacado para a solução de 1000 ppm pode estar relacionado a menor resistência do filme passivo, resultando na quebra e possibilitando uma maior propagação de pites estáveis (130, 131). 56 A Tabela 12 mostra a densidade de corrente média extraída dos últimos 100 segundos dos cronoamperogramas. Para as amostras expostas a 1000 ppm de imersão em NaCl os últimos 100 segundos foram extraídos antes do crescimento repentino da densidade de corrente, a fim de comparar com as outras condições. Tabela 12 – Densidade de Corrente extraído do cronoampero- grama para as ligas UNS S41003 e Endur 300 Densidade de corrente (µA/cm2) Solução UNS S41003 Endur 300 250 ppm NaCl 0,321 ± 0,124 0,256 ± 0,042 500 ppm NaCl 0,323 ± 0,032 0,121 ± 0,032 1000 ppm NaCl 0,830 ± 0,231 0,345 ± 0,106 Fonte: Elaborado pelo Autor. É possível observar que o Endur 300 apresentou densidade de corrente um pouco menor em todas as condições estudadas, que é um possível indicativo de melhor comportamento de passivação. Dito isso, ambas as ligas apresentaram resposta semelhante ao aumento da concentração de Cl−. 57 7 CONCLUSÕES – A variação da microestrutura e refinamento do grão foi observada entre as duas ligas. UNS S41003 apresentou
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