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Anne Karen Reis DERMATOLOGIA Doenças eritematoescamosas DERMATITE SEBORREICA INTRODUÇÃO Também chamada de eczema seborreico, é uma doença crônica, frequente, recorrente, não contagiosa. Afeta áreas ricas em glândulas sebáceas e em áreas intertriginosas. Ocorre uma alteração sebácea, com presença de componente imunológico e predisposição familiar. Causa não conhecida e maior incidência entre os 18 e 40 anos. FISIOPATOLOGIA • Multiplicação celular acelerada com a presença de células nucleadas na camada córnea; • Variação funcional das glândulas sebáceas se relaciona à eclosão do quadro; • Participação de leveduras do gênero Malassezia em adultos e Candida albicans em crianças; • Lactentes → andrógenos maternos estimulando glândulas sebáceas. FATORES QUE FAVORECEM O APARECIMENTO • Calor, umidade e roupas oclusivas; • Tesão emocional; • Quadros neurológicos; • Alcoolismo; • Carboidratos; • Diabetes; • Obesidade; • Imunodeficiência; • HIV + → resistentes a tratamentos. DERMATITE SEBORREICA DO LACTENTE • Escamas gordurosas e aderente sob base eritematosa → crosta láctea; • Lesões eritemato descamativas na face, tronco, dobras e área da fralda; • Eritema ruborizado → infecção superposta; • Prurido discreto e curso crônico; • Doença de Leiner → quadro grave, eritrodérmico, com diarréoa, vômitos, anemia e febre; deficiência de C3. DERMATITE SEBORREICA DO ADULTO • Lesões eritematoescamosas; • Afeta couro cabeludo, face, sulco nasogeniano, glabela, retroauricular, região pubiana e região axilar; • Dermatite mediatorácica de Brocq → lesões figuradas; • Pseudotínea amiantácea → aderentes e espessas no couro cabeludo; • Blefarite e eczema do conduto auditivo. Dermatite mediatorácica de Brocq Anne Karen Reis DERMATOLOGIA DIAGNÓSTICO • Clínico; • Histopatologia → paraceratose, acantose e espongiose, exocitose, infiltrado mononuclear na derme; DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS • Psoríase; • Ptiríase rósea; • Dermatite atópica; • Candidiase e dermatofitose; • Doença de Letterer-Siwe → Histiocitose; • Dermatite infectiva → HTLV1; • Síndrome de Leiner. TRATAMENTO • Couro cabeludo → remover escamas com óleo mineral aquecido; • Limpar com solução de Burrow ou permanganato ou água boricada; • Corticoide de baixa ou média potência; • Associações com antibacterianos e antifúngicos em casos especiais; • Prednisona, 0,5 a 1 mg (eventualmente); • Síndrome de Leiner → internação, antibioticoterapia, fototerapia em doses suberitematosas e corticoterapia tópica, manutenção do estado geral; • Blefarites → pomadas oftalmológicas com hidrocortisona e antibiótico; • Fototerapia para formas resistentes; • Prednisona 05 a 1 mg/kg/dia para formas disseminadas; • Tetraciclina 1g/dia por 10 dias e depois 500 mg/dia por 20 dias; • Isotretinoína nos casos resistentes. PSORÍASE INTRODUÇÃO Condição comum, crônica, recorrente, imunomediada e de ocorrência universal. Possui causa desconhecida, mas apresenta fatores genéticos e ambientais. Quanto à predisposição genética, há associação de HLA B13, BL 17, BL 37 e DR7. Psoríase artropática → HLA B27 EPIDEMIOLOGIA • Prevalência mundial estimada em 2% dos casos; • Dados recentes da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) estimam a prevalência da psoríase no Brasil em 1,31%, sendo 1,15% em mulheres e 1,47% em homens; • Identificou-se aumento da prevalência de psoríase quanto à faixa etária, que, abaixo dos 30 anos foi de 0,58%, entre 30 e 60 anos foi de 1,39% e entre maiores de 60 anos foi de 2,29%. PATOGÊNESE A imunopatogênese da psoríase é complexa e envolve alterações do sistema imunológico inato (queratinócitos, células dentríticas, macrófagos, neutrófilos, mastócitos, células endoteliais) e adquirido (linfócitos T). As células do sistema imune inato ativadas produzem fatores de crescimento, citocinas e quimiocinas, que atuam sobre as células do sistema imune adquirido e vice-versa. Ocorre aumento da proliferação epidérmica, encurtamento do tempo de renovação celular e aceleração do ciclo germinativo epidérmico. FATORES QUE FAVORECEM O APARECIMENTO • Obesidade; • Tabagismo; • Consumo excessivo de álcool; • Alterações climáticas; • Fatores psicológicos; • Uso de determinados medicamentos, como lítio, interferons, beta- bloqueadores, anti-inflamatórios não esteroidais, tetraciclinas, retirada abrupta de corticoesteroides; • Infecções, como HIV e estreptococos. Anne Karen Reis DERMATOLOGIA PREVALÊNCIA DE COMORBIDADES EM PACIENTES COM PSORÍASE • HAS; • Obesidade; • Dislipidemia; • Depressão; • Enxaqueca; • Ansiedade; • Doença hepática gordurosa não alcoolica; • Diabete melitus; • Insuficiência coronariana; • Tentativa de suicídio; • Asma ou DPOC; • Doença inflamatória intestinal; • Hepatopatia crônica. QUADRO CLÍNICO • Psoríase em placas (vulgar); • Placas eritematosas infiltradas com escamas secas, prateadas, aderentes, estratificadas, bem delimitadas e simétricas; • Principais áreas afetadas → cotovelos, joelhos, couro cabeludo, região dorsal, genitais, lábios e unhas. DIAGNÓSTICO • Clínico; • Histopatologia → paracetose, acantose regular, alongamento das cristas epidérmicas, ausência da camada granulosa, capilares dilatados e tortuosos, microabscessos de Munro, pústulas espongiformes de Kogoj. INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DE GRAVIDADE DA PSORÍASE PASI (Psoriasis Area Severity Index) • Trata-se do instrumento mais utilizado para a avaliação da psoríase; • Score varia de 0 a 72; • Menor que 8 é psoríase leve, de 8 a 12, moderada, e acima de 12, grave. BSA (Body Surface Area) DLQI (Dermatology Life Quality Index) • Contém dez questões relacionadas às experiências vivenciadas pelo paciente, na semana precedente à aplicação do questionário; • Os scores podem se situar entre os valores de zero a 30 e quanto maior o valor, maior é a repercussão de ordem psicológica, social, escolar ou profissional da enfermidade no paciente; • Psoríase grave seria representada como PASI > 10, ou BSA > 10 ou DLQI > 10. TRATAMENTO • Tópico → Emolientes, ceratolíticos;, corticoides tópicos, análogos da vitamina E, imunomoduladores tópicos; • Fototerapia: - PUVA (Psoralenico + UVA 320 a 400 nm), sistêmico ou tópico. Efeitos adversos agudos → Fototoxicidade, náusea, prurido, foto- onicólise e melanoníquia; Efeitos adversos tardios → lentigos e fotocarcinogênese. - UVBnb (UVB narrow ban ou banda estreita) emissão 311-313 nm. Efeitos adversos → risco semelhante à população geral para malignidade na região genital, câncer de pele não melanoma e catarata. PUVA é mais eficaz que UVBnb na psoríase em placas, mas apresenta mais efeitos adversos em longo praxo. UVBnb é recomendado para fototipos 1-3, crianças e gestantes. PUVA para fototipo elevado ou placas espessas em pés e mãos. Metotrexate • Ação imunossupressora e antiproliferativo; • Psoríase moderada a grave, eritrodérmica e pustulosa generalizada; Anne Karen Reis DERMATOLOGIA • Dose de 5 a 28 mg/ semana; • Resposta de 4 a 8 semanas; • Contraindicação → gestação e lactação, hepatopatias; • Administração de ácido fólico diminui efeitos hematológicos gástricos e hepatopáticos. Acitretina • Inibe o crescimento e a diferenciação celular epidérmica; • Indicações → psoríase pustulosa generalizada, psoríase em placa generalizada; • Dose → 0,5 a 1 mg/ kg (dose máxima de 75mg); • Contraindicações → gestação, desejo de engravidar, insuficiência hepáticaou renal, alergia a parabenos; • Efeitos adversos → queilite, epistaxe, paroniquia, alopecia; • Elevação das enzimas hepáticas, dislipidemia. Ciclosporina • Inibe linfócitos R CD4 ativados impedindo a liberação de IL 12; • Ação rápido → 2 a 4 semanas; • Indicações → psoríase eritrodérmica, rebote após corticoide, piora com imunobiológicos, psoríase pustulosa generalizada, artrite psoriásica; • Contraindicações → HAS não controlada, nefropatias, malignidades, lactação; • Efeitos adversos → nefrotoxicidade, HAS, náuseas, parestesias, hiperplasia gengival, hipertricose; • Dose → 2,5 a 5 mg/kg/dia; • Não se deve ultrapassar 4 meses de uso. Imunobiológicos • Agem de maneira específica no sistema imune; • Indicações → psoríase modera a grave, falha ou contraindicação de outras terapias, grave deterioração da qualidade de vida; • São de 3 tipos → citocinas recombinantes, anticorpos monoclonais e proteínas de fusão; • Anti TNF alfa → Infliximabe, Etarnecept, Adalimumabe, Certolizumabe pegol; • Bloqueadores de IL 12 – IL 23 → Ustequinumabe; • Bloqueador de IL 17 → Secuquinumabe, Ixequizumabe; • Bloqueador de IL 23 → Guzelcumabe, Rizanquizumabe. TIPOS DE PSORÍASE PSORÍASE EM PLACAS É a forma mais comum da doença, caracterizada por lesões de tamanhos variados, delimitadas e avermelhadas, com escamas secas esbranquiçadas ou prateadas que surgem no couro cabeludo, joelhos e cotovelos. PSORÍASE UNGUEAL Surgem depressões puntiformes ou manchas amareladas principalmente nas unhas das mãos. PSORÍASE VULGAR Lesões de tamanhos variados, delimitadas e avermelhadas, com escamas secas, aderentes, Anne Karen Reis DERMATOLOGIA prateadas ou acinzentadas que surgem no couro cabeludo, joelhos e cotovelos. PSORÍASE GUTATA Observada em crianças, adolescentes e adultos jovens. Presença de pápulas eritematodescamativas no troco e membros proximais. Precedida por infecção estreptocócica (IVAS). Pode involuir ou persistir. PSORÍASE INVERTIDA Lesões mais úmidas, localizadas em áreas de dobras. Também aparecem no couro cabeludo, joelhos e cotovelos. PSORÍASE ERITRODÉRMICA Acometimento de mais de 90% da superfície corporal, de caráter subagudo ou crônico e comprometimento do estado geral. Pode ocorrer por piora da psoríase em placas ou pustulosa generalizada e, raramente, como manifestação inicial da doença. PSORÍASE PUSTULOSA Aparecem lesões com pus nos pés e nas mãos (forma localizada) ou espalhadas pelo corpo. Presença de sintomas sistêmicos, como febre e fadiga. Flushing extenso acompanhado de pústulas estéreis que podem confluir para lago de pus; Fatores desencadeantes → medicamentos (lítio, indometacina, beta bloqueadores, cloroquina, salicilatos, uso e descontinuação de corticoides orais), infecções, cirurgias, queimaduras, irritantes locais e causa idiopática. Psoríase pustulosa localizada Psoríase pustulosa generalizada PSORÍASE PALMO PLANTAR Placas bem delimitadas, simétricas, com hiperceratose com ou sem fissuras. Geralmente refratária ao tratamento. Anne Karen Reis DERMATOLOGIA PSORÍASE NA INFÂNCIA • Um terço dos casos de psoríase iniciam na infância; • O acometimento da face e das flexuras é mais frequente; • As placas costumam ser menor e mais finas; • A área da fralda e o umbigo são os locais mais comumente envolvidos nos lactentes, enquanto o acometimento da face e ungueal ocorre mais em crianças maiores; • A artrite psoriárica na criança tem prevalência estimada de 0,7%; • Ocorrência de oligoartrite assimétrica, especialmente nos joelhos e dactilite nas articulações interfalangianas. PSORÍASE NO IDOSO • Lesões discretas eritematosas e descamativas; • Acometimentos dos membros inferiores; • Prurido importante; • Diferencial com dermatite asteatósica; • Associada a lesões no couro cabeludo ARTRITE PSORIÁSICA • Doença inflamatória crônica sistêmica, associada à psoríase cutânea, que acomete até 3% da população e até 44% dos pacientes com psoríase, sem distinção de gênero; • Artrite, entesite e/ou dactilite, bem como envolvimento axial; • Oligo ou monoartrite assimétrica de mãos e pés; • Espondiloartropatias soronegativas; • Em 60 a 85% dos pacientes, as manifestações cutâneas precedem o quadro, mas podem ser concomitantes ou aparecer depois; • Em geral, quanto mais grave o quadro cutâneo, maior a prevalência da artrite; • Matriz ungueal acometida em 80 a 85% dos casos; • Predisposição genética → HLA CW, HLA B27, HLA B39, HLA B17, HLADR3; • Fatores ambientais → HIV, HCV. TIPOS DE ARTRITE PSORIÁSICA Mono ou oligoarticular assimétrica • Apresentação mais comum. • Interfalangianas proximais e distais – mãos; • Bom prognóstico. Simétrica • Poliarticular simétrico; • Interfalangianas proximais, metacarpofalangianas, pulso, cotovelo e tornozelos; • Febre reumatóide pode ser positiva. Axial • Coluna ou sacroilíaca; • HLA B27 +, doença inflamatória intestinal ou uveíte. Mutilante • Rara; • Grave destruição articular, deformidade permanente. DIAGNÓSTICO Para confirmação de diagnóstico de AP segundo os critérios CASPAR, é necessário haver uma doença inflamatória articular e, pelo menos, pontuação igual ou superior a 3 nas demais categorias. Anne Karen Reis DERMATOLOGIA SINAIS DE MAL PROGNÓSTICO • Início precoce; • Quadro cutâneo extenso; • Sinovite poliarticular; • Infecção → HIV, HCV; • HLA +; • VHS elevado desde o início. TRATAMENTO • AINES; • Infiltração com glicocorticoides; • Metotrexate; • Sulfassalazina; • Leflunomida; • Antimaláricos e sais de outro não são recomendados; • Ciclosporina → pouca evidência. ICTIOSES INTRODUÇÃO • Deriva do grego “icthyos” → peixe, pele escamosa; • Condições herdadas ou adquiridas; • Ictioses hereditárias → grupo heterogêneo na etiologia anormal dos queratinócitos; • Descamação contínua e permanente afetando todo tegumento. ICTIOSES HEREDITÁRIAS • Nem sempre são congênitas (desde o nascimento até a primeira semana de vida), podendo haver ictioses de início tardio; • Hiperproliferativas → hiperplasia das células germinativas e diminuição do tempo de trânsito transepidérmico; • Retenção → aumento da coesão entre os queratinócitos com descamação anormal; • Ictioses hereditárias não sindrômicas são bem mais frequentes. ICTIOSE VULGAR • Pode estar associada à história de atopia; • Melhora em climas úmidos e quentes; • Histopatologia → hiperceratose com camada granulosa ausente ou diminuída; • Atividade mitótica e trânsito transepidérmico normal; • Deficiência de profilagrina (profilagrina → filagrina → aminoácidos osmoticamente ativos); • Deficiência no processo de destacamento dos corneócitos (retenção) ICTIOSE LAMELAR • Ictiose autossômica recessiva; • Escamas grandes e marrons que formam um mosaico ou um padrão como casca, com a presença de fissura; • Ectrópio → ceratite, eclábio, significativa hipoplasia nasal ou um padrão como casca, com presença de fissura; • Pode haver certo grau de alopecia cicatricial; • Espessamento palmoplantar variável com a presença de distrofia ungueal; • Não há eritrodermia; • Variante → ictiose em traje de banho, afeta apenas tronco e couro cabeludo; • Mutação no gene TGM1 – transglutaminase-1 → ligação entre proteínas estruturais que se expressam na epiderme superior. Alteração do envelope celular e do manto lipídico. Anne Karen Reis DERMATOLOGIA ERITRODERMIA ICTIOSIFORME CONGÊNITA • Ictioseautossômica recessiva; • Bebê colódio → eritrodermia generalizada com escamas finas e brancas de aspecto pulverizado; • Acometimento palmoplantar geralmente é intenso; • O eclábio, ectrópio e alopecia cicatricial é menos comum; • Mutações no gene TGM1, ALOXE3, ALOX12B, NIPAL4 (ICHTHYIN) e ABCA12; • Distúrbio da barreira cutânea. FETO ARLEQUIM • Genodermatose autossômica recessiva congênita; • Bebês prematuros; • Intensa ceratose com formação de couraças que podem determinar insuficiência respiratória e dificuldade para sucção; • Ectrópio, eclábios, pequenos olhos substituídos por massas vermelhas e orelhas rudimentares aderidas; • Alta mortalidade → hipoglicemia, desidratação, instabilidade da temperatura corporal e sepse. BEBÊ COLÓDIO • É um fenótipo, pode evoluir para cura espontânea, restrito a extremidades (bebê colódio acral), evolução para ictiose lamelar ou eritrodermia ictiosiforme congênita; • Membrana constritiva, transparente, que segue toda superfície corpórea; • Ectrópio, eclábio, orelhas rudimentares, obstrução nasal e atrofia ungueal; • Na segunda semana de vida, a membrana se rompe deixando escamas lamelares, fissuras em áreas flexurais e palmoplantares; • Mais susceptíveis a infecções, dor e desequilíbrios hidroeletrolíticos.
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