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I JOINGG – JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EM ANTONIO GRAMSCI 
VII JOREGG – JORNADA REGIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EM ANTONIO GRAMSCI 
Práxis, Formação Humana e a Luta por uma Nova Hegemonia 
Universidade Federal do Ceará – Faculdade de Educação 
23 a 25 de novembro de 2016 – Fortaleza/CE 
Anais da Jornada: ISSN 2526-6950 
 
1 
 
A QUESTÃO DA POLÍTICA EM GRAMSCI 
 
 
 Rodrigo de Souza Filho 
Prof. Dr. da Faculdade de Serviço Social da Universidade Federal de Juiz de Fora 
Maria Lúcia Duriguetto 
Profa. Dra. da Faculdade de Serviço Social da Universidade Federal de Juiz de Fora 
 Bolsista Cnpq 
 
 
 
Resumo 
 A política é tematizada por Gramsci como uma modalidade de práxis mais imediata da 
superestrutura, aquela que expressa formas de consciência que tendem a atuar tanto no 
imediato dos conflitos cotidianos – o que denominou “pequena política” - e como uma 
modalidade de práxis que contém o elemento catártico, que pressupõe um processo de 
elevação da consciência formada nas determinações imediatas da vida cotidiana à consciência 
da universalidade do gênero humano – que denominou “momento ético-político”. Gramsci se 
dedicou a refletir acerca da fundamentação da política em seu sentido catártico e dos 
processos que podem fomentar e induzir ao seu desenvolvimento. Nosso foco, neste artigo, é 
apresentar alguns apontamentos sobre esta reflexão. 
 
Palavras-Chave: Política; Gramsci; Sociedade Regulada 
 
 Resumen 
La política es discutida por Gramsci como una forma de praxis más inmediata de la 
superestructura , aquella que expresa formas de conciencia que tienden a actuar tanto en lo 
inmediato de los conflictos cotidianos - lo que llamó "pequeña política" - y como una 
modalidad de praxis que contiene el elemento catártico, lo que presupone un proceso de 
elevar la conciencia formada en las determinaciones inmediatas de la vida cotidiana a la 
conciencia de la universalidad de la humanidad - que calificó de " momento ético - político". 
Gramsci se dedicó a reflexionar sobre la fundamentación de la política en su sentido catartico 
y los procesos que pueden estimular e inducir su desarrollo. Nuestro objetivo en este artículo 
es presentar algunos apuntamentos sobre esta reflexión . 
 
Palabras-clave: Política; Gramsci; sociedad regulada 
 
 
Introdução 
 De acordo com Coutinho (2011, p.21), as principais contribuições de Gramsci ao 
desenvolvimento do pensamento marxista não se situam no estrito terreno da crítica da 
I JOINGG – JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EM ANTONIO GRAMSCI 
VII JOREGG – JORNADA REGIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EM ANTONIO GRAMSCI 
Práxis, Formação Humana e a Luta por uma Nova Hegemonia 
Universidade Federal do Ceará – Faculdade de Educação 
23 a 25 de novembro de 2016 – Fortaleza/CE 
Anais da Jornada: ISSN 2526-6950 
 
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economia política1. Embora o marxista italiano jamais tivesse negado a centralidade das 
relações sociais de produção na explicação da vida social, concentrou sua atenção nas esferas 
da política e da ideologia, elaborando uma articulação na qual as superestruturas ideológicas, 
longe de aparecer como simples reflexos passivos da base econômica, têm sua autonomia 
relativa grandemente ampliada. Sua atenção voltou-se para a política enquanto esfera com 
estatuto, legalidade e relevância específicos. A apreensão da política como sinônimo de 
catarse possibilitou a Gramsci, segundo Coutinho, a elaboração de “uma autêntica ontologia 
materialista e dialética da práxis política”. Segundo o gramsciano brasileiro, encontramos na 
obra de Gramsci “uma crítica ontológica da política que, em seus resultados teóricos, cumpre 
as indicações metodológicas da ‘crítica da economia política’ marxiana [...]” Coutinho (1994, 
p.159). 
 Assim, tal como em Marx, também em Gramsci, o conjunto das relações sociais de 
produção constituem determinações que limitam e condicionam historicamente o campo de 
alternativas que se colocam à ação humana. Gramsci se importará com os elementos de 
preparação das condições e processos político-ideológicos da práxis revolucionária, uma vez 
que, de acordo com o método dialético, a vida social é um terreno dinâmico de alternativas, de 
luta de tendências, que são resolvidas pela e na luta entre vontades coletivas. É nesta direção 
que acredita que não há situação histórica que não possa ser mudada pela livre e consciente 
ação de homens organizados, mas que também este processo é pensado inseparadamente dos 
condicionamentos sociais que os determinam2. É importante lembrar que, em Marx, o 
primado das categorias econômicas decorre do significado central que tem o trabalho como 
estrutura fundamental da objetivação social e das relações humanas. Não obstante, as relações 
econômicas e os resultados de sua investigação não determinam e não podem ser 
simplesmente transferidos mecanicamente para todo conjunto complexo das inter-relações 
 
1 Segundo Coutinho (1994, p.102), Gramsci partiu do pressuposto de que a “crítica da economia política já havia 
sido feita: ele aceita integralmente os resultados dessa crítica, tanto os produzidos pelo próprio Marx quanto, e 
talvez sobretudo, os contidos nos desenvolvimentos que ela encontrou na obra de Lênin, particularmente em “O 
imperialismo, fase superior do capitalismo”. Para o gramsciano brasileiro, o foco da atenção do marxista sardo 
“está concentrado sobretudo na política (nas novas formas de hegemonia burguesa) e não nas determinações 
econômicas stricto sensu” (IDEM, p.103). 
2Gramsci, nos Cadernos, desenvolve uma definição da política como práxis possibilitadora da emersão e 
desenvolvimento de ações conscientes do pertencimento de classe e de luta pela emancipação humana. Trava um 
importante combate ao estruturalismo de Bukharin, por este focar a determinação estrutural na condução dos 
processos sociais, que se desenvolveriam independentemente da vontade e da consciência dos homens. Como 
elucida Coutinho (1994, p.104-5),Gramsci, fiel herdeiro da “dialética histórica de Marx [...], a vida social é 
produto da ação de sujeitos e, nessa medida, tanto a consciência quanto a vontade dos homens são fatores 
decisivos (ainda que não absolutos) na construção da objetividade social”. 
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Práxis, Formação Humana e a Luta por uma Nova Hegemonia 
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sociais. O específico destas tem que ser identificado em suas múltiplas mediações internas e 
externas e em suas interligações estruturais fundamentais. É este o caminho reflexivo que 
Gramsci desenvolve em relação à política, o que em definitivo retira qualquer suposto (e 
falso) politicismo na sua acepção de política. 
 
1- Estrutura, superestrutura, Estado integral e hegemonia: fundamentos da política para 
processos de ruptura com a ordem do capital 
 Neste item apresentamos, de forma sintética, os fundamentos do debate gramsciano 
acerca da relação estrutura-superestrutura, o Estado integral e a hegemonia. Acreditamos que 
o conteúdo das análises de Gramsci acerca destes temas apresentam elementos significativos 
para a compreensão da questão da política em seu pensamento3. 
 
 Estrutura e superestrutura 
 Marx, de uma forma precisa, escreve, no “Prefácio” da obra “Para a Crítica da 
Economia Política” (1859), a real relação que se estabelece entre o Estado e a sociedade civil: 
na produção social da própria vida, os homens contraem relações 
determinadas, necessárias e independentes de sua vontade, relações de 
produção estas que correspondem a uma etapa determinada de 
desenvolvimento de suas forças produtivas materiais. A totalidadedessas 
relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade, a base real 
sobre a qual se levanta uma superestrutura jurídica e política, e à qual 
correspondem formas sociais determinadas de consciência. (Marx, 1996, p. 
52). 
 
Gramsci desenvolverá suas reflexões a partir desta indicação marxiana e não abandonará esta 
orientação. Assim, em nosso entendimento, três aspectos explicitam a concepção gramsciana 
em relação ao tema da estrutura e superestrutura: a relação dialética entre estrutura e 
superestrutura; a determinação central da estrutura; e o significado da superestrutura para a 
compreensão da dinâmica social. 
 A relação dialética entre estrutura e superestrutura é evidenciada a partir da concepção 
de “bloco histórico”. Para ao autor, “bloco histórico” é a “unidade entre natureza e espírito 
(estrutura e superestrutura), unidade dos contrários e dos distintos” (GRAMSCI, 2000b, p. 
26); “a estrutura e as superestruturas formam um ‘bloco histórico’” (GRAMSCI, 2001, p. 
 
3Uma apresentação geral destes e de outros temas que demarcam o pensamento da política em Gramsci estão em 
Coutinho (2011, pgs 79-147). 
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Práxis, Formação Humana e a Luta por uma Nova Hegemonia 
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250). Assim sendo, a realidade social é constituída por essas duas dimensões e, por isso, não 
podemos pensá-la reduzindo-a a uma ou a outra dimensão. Gramsci afirma, em 
diferentes passagens dos Cadernos, que o elemento decisivo do complexo do “bloco 
histórico” cabe à dimensão estrutural: o “conjunto complexo e contraditório das 
superestruturas é o reflexo do conjunto das relações sociais de produção” (IDEM, 
IBIDEM,p.250). 
 Em outro momento de seus escritos, quando trata da “Análise das situações. 
Correlação de forças”, esta determinação surge de forma explícita. Para o autor, o primeiro 
elemento a ser considerado nesse processo de análise é a dimensão ligada à “estrutura 
objetiva”, para que seja possível “estudar se existem na sociedade as condições necessárias e 
suficientes para sua transformação”, só depois deste nível de análise que se deve avaliar a 
relação das forças políticas (Gramsci, 2000b, p. 40). 
 Requer sublinhar que esta concepção é radicalmente dialética. Não cabe, neste sentido, 
qualquer possibilidade de interpretação mecanicista sobre a relação que se estabelece entre o 
momento determinante central, a estrutura, e seu reflexo, a superestrutura. “A pretensão [...] 
de apresentar e expor qualquer flutuação da política e da ideologia como uma expressão 
imediata da infra-estrutura deve ser combatida, teoricamente, como um infantilismo primitivo 
[...]” (GRAMSCI, 2001, p. 238). Abrimos, assim, o caminho para o terceiro aspecto que 
gostaríamos de destacar, o significado da superestrutura na formulação gramsciana. 
 A superestrutura, na totalidade do “bloco histórico”, apesar de não ser o elemento 
determinante central, não se configura como simples aparência ou epifenômeno da estrutura. 
Possui estatuto e legalidade próprios, a partir de seus nexos com a dimensão objetiva da vida 
social. Dessa forma, a superestrutura é a dimensão onde as contradições da estrutura se 
manifestam e torna possível sua resolução a partir da práxis (GRAMSCI, 2001, pp. 250-251). 
É nesta dimensão que os homens tomam consciência de sua posição social e de seus objetivos 
(IDEM, p. 389). Portanto, o significado da superestrutura no pensamento do marxista italiano 
refere-se, em termos gerais, à centralidade que esta categoria adquire para a ampliação das 
reflexões sobre a política no seio da tradição marxista. 
 
Estado Integral 
 O marxista italiano empreendeu um desenvolvimento original a partir dos conceitos 
básicos de Marx, Engels e Lênin para pensar a sociedade civil e sua relação com o Estado. 
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Gramsci eleva a conceito um conjunto de transformações em curso em sua época histórica 
como a presença de organizações tanto dos trabalhadores quanto do capital no cenário do 
capitalismo monopolista (partidos políticos, sindicatos); da conquista do sufrágio universal, 
do fascismo e do nazismo como movimentos de expressão da hegemonia política da 
burguesia, da complexificação da esfera da cultura, do direito, da ideologia. É com esta 
configuração da vida social que Gramsci visualiza uma nova construção das relações de poder 
e de organização de interesses que fazem emergir uma nova dimensão da vida social, a qual 
denomina de sociedade civil. Essa esfera designaria o espaço em que se manifesta a 
organização e representação dos interesses dos diferentes grupos sociais, da elaboração e/ou 
difusão dos valores, cultura e ideologias. A sociedade civil é parte do Estado, e constitui uma 
esfera decisiva da luta de classes, na qual os diferentes grupos sociais que se formam a partir 
de suas inserções no mundo econômico lutam para conservar ou conquistar a hegemonia. Nas 
palavras de Fontes (2007, p.211-2), “o conceito de sociedade civil liga-se ao terreno das 
relações sociais de produção, às formas sociais de produção da vontade e da consciência e ao 
papel que, em ambas, exerce o Estado”. Ou seja, “a sociedade civil é o momento organizativo 
a mediar as relações de produção e a organização do Estado, produzindo organização e 
convencimento”. 
 Essa configuração da sociedade civil é incorporada ao seu conceito de Estado. O 
Estado integral de seu tempo e contexto, preservando a função de coerção (sociedade política) 
tal como descoberta por Marx e Engels (1848), também incorpora a esfera da sociedade civil 
(cuja função é o consenso). Para Gramsci (2000b, p.331) "Estado é todo o complexo de 
atividades práticas e teóricas com as quais a classe dirigente não só justifica e mantém seu 
domínio, mas consegue obter o consenso ativo dos governados". Fundamental para o sardo 
comunista é o entendimento do conjunto de mediações que conformam e esclarecem esse 
domínio e o consentimento, pois a capacidade de dirigir e organizar o consentimento dos 
subalternos é um elemento fundamental para o fortalecimento da dominação de classes. São 
essas indagações que vão construindo seu conceito de hegemonia. 
 A dinâmica que se processa no interior da sociedade política e da sociedade civil 
revela uma distinção em relação à “função” que exercem na conservação ou transformação 
das relações de poder entre as classes sociais. Enquanto na “sociedade política” a classe 
dominante exerce seu poder e sua dominação por uma ditadura através dos “aparelhos 
coercitivos de Estado”, na sociedade civil esse exercício do poder ocorre por intermédio de 
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uma relação de hegemonia que é construída pela direção política e pelo consenso Montãno e 
Duriguetto (2010, p.46). A formação e difusão de um consenso que incorpora e reflete 
interesses de classes necessita de uma base sócio-institucional que possua estrutura e 
legalidade própria. É essa certa autonomia e independência material e funcional dosorganismos sociais “privados” em relação aos do “Estado-coerção” (ou sociedade política) 
que marca o fundamento da sociedade civil e sua função mediadora entre a estrutura 
econômica e o Estado em sentido estrito. 
 
Hegemonia 
 É nesta apreensão das relações de poder materializadas nos campos do Estado integral 
que Gramsci apreende os conteúdos das relações de hegemonia4. O conceito se refere tanto ao 
processo em que uma classe torna-se dirigente, quanto à direção que uma classe no poder 
exerce sobre o conjunto da sociedade. A hegemonia expressa a direção e o consenso 
ideológico (de concepção de mundo) que uma classe consegue obter dos grupos próximos e 
aliados. A construção de uma nova hegemonia também implica considerar a possibilidade do 
enfraquecimento do poder de direção e de formação do consenso da classe que detém o poder 
econômico e político, criando o terreno para o confronto entre uma hegemonia em "crise" e 
uma outra que ainda não nasceu5. 
 A centralidade reflexiva de Gramsci está em desocultar as mediações pelas quais o 
Estado – esfera em que se efetiva a unificação e o exercício da dominação da burguesia, como 
já explicitara a teoria marxiana e Lênin - consolida e reproduz essa dominação. E essa 
dominação não se materializava somente pela repressão mas, e principalmente, incluía essa 
direção de classe na superestrutura pela sua aceitação consensual dos setores subalternos. É a 
sociedade civil a esfera das mediações do exercício da dominação de classe, pelo Estado, por 
meio do convencimento, da hegemonia. Situa-se aqui, na reflexão acerca dos processos de 
manutenção da hegemonia ou de formação de uma contra-hegemonia a definição da política 
 
4Como esclarece Gruppi (2000, p.1), “o termo hegemonia deriva do grego eghestai, que significa ‘conduzir’, ‘ser 
guia’, ‘ser líder’, ou também do verbo eghemoneuo, que significa ‘ser guia’, ‘preceder’, ‘conduzir’, e do qual 
deriva ‘estar à frente’, ‘comandar’, ‘ser o senhor’. Por eghemonia, o antigo grego entendia a direção suprema do 
exército. Trata-se, portanto, de um termo militar. Hegemônico era o chefe militar, o guia e também o 
comandante do exército”. 
5“Isso nos diz que o conceito de hegemonia é apresentado por Gramsci em toda a sua amplitude, isto é, como 
algo que opera não apenas sobre a estrutura econômica e sobre a organização política da sociedade, mas também 
sobre o modo de pensar, sobre as orientações ideológicas e inclusive sobre o modo de conhecer” Gruppi (2000, 
p.3). 
 
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em Gramsci. O que define mais precisamente a ideia da política no seu pensamento é a 
passagem em que define a “pequena política” (“restrita”) e a “grande política” (“ampla”). É 
nesta reflexão que temos a explicitação dos processos políticos que podem levar a ações das 
classes voltadas à manutenção da hegemonia da classe dominante – fenômenos afetos à 
pequena política - ou à sua transformação – processos próprios da grande política, que se 
expressa no que denomina nos Cadernos de catarse. 
 Suas anotações sobre a “pequena política” e sua configuração “restrita” é apresentada 
nos Cadernos como as práticas e projetos políticos ligados à manutenção e /ou justificação das 
relações de poder entre governantes e governados, dirigentes e dirigidos. Evidencia que essa 
divisão de poder é resultante da divisão da sociedade em classes e com a criação das 
condições nas quais se efetive a superação das classes, haverá o desaparecimento da divisão 
entre governantes e governados. Para Gramsci (2000b, p.21) a “pequena política (política do 
dia a dia, política parlamentar, de corredor, de intrigas” que “compreende as questões parciais 
e cotidianas que se apresentam no interior de uma estrutura já estabelecida em decorrência de 
lutas pela predominância entre as diversas frações de uma mesma classe política” expressa os 
processos políticos que legitimam e perpetuam a divisão de classes e de pode político. Se para 
Gramsci (2000b, p.331) "[...] Estado é todo o complexo de atividades práticas e teóricas com 
as quais a classe dirigente não só justifica e mantém seu domínio, mas consegue obter o 
consenso ativo dos governados [...]", torna-se fundamental o entendimento do conjunto de 
mediações que conformam e esclarecem esse domínio e seu consentimento: como se governa 
e por que o governado obedece. Segundo Coutinho (1994, p.111), muitas das reflexões 
gramscianas buscam esclarecer essa questão, o que lhe permite desenvolver e introduzir novas 
determinações nos conceitos de coerção e consenso. A teoria do Estado integral, exposta 
acima, é uma contribuição para o entendimento do exercício da dominação política estatal não 
somente pela via da coerção, mas ao se difundir pelo conjunto da sociedade civil, a 
dominação também se baseia no consenso, na hegemonia. 
 Os processos políticos que conformam a “grande” política se materializam por meio 
das conquista progressiva de uma unidade político-ideológica das classes subalternas, 
alargando e articulando seus interesses e necessidades na busca da superação dos seus limites 
corporativos. Esse é o processo e o momento que Gramsci denomina de "catarse", isto é, "[...] 
a passagem do momento meramente econômico (ou egoístico-passional) ao momento ético-
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político, isto é, a elaboração superior da estrutura em superestrutura na consciência dos 
homens" (GRAMSCI, 2001, p. 53)6. Questão a ser desenvolvida no próximo item. 
2 - Lutas sociais e processos políticos: catarse, partido e estratégias revolucionárias 
 No item anterior foram explicitadas as principais categorias que fundamentam a 
concepção de política desenvolvida pelo marxista italiano. Para aprofundarmos esta 
concepção gramsciana é necessário tratar de três temas fundamentais de sua reflexão política: 
catarse, partido e estratégias revolucionárias. 
 
Catarse e a função do partido 
 Esta passagem do momento econômico ao ético-político se efetiva pela via da ação 
política das classes subalternas cujos interesses particulares identificam-se com os interesses 
universais7. A consciência ético-política visa ao universal, à totalidade. Segundo Coutinho 
(1994, p.106), 
“o conceito de catarse tem assim, para Gramsci, uma dimensão claramente 
política: o momento “catártico” é aquele em que o homem afirma sua 
liberdade em face das estruturas sociais, revelando que – embora 
condicionado pelas estruturas e, em particular, pelas estruturas econômicas – 
é capaz ao mesmo tempo, de utilizar o conhecimento dessas estruturas como 
fundamento para uma práxis autônoma, para a criação de novas estruturas, 
ou, como ele diz, para ‘gerar novas iniciativas’”. 
 
Os processos de mediação da formação de consciência econômico-corporativa à ético-
política são explicitados por Gramsci quando destaca três momentos do grau de 
homogeneidade, de organização e consciência ideo-política alcançado pelos vários grupos 
sociais: o primeiro é o momento econômico-corporativo, no qual o grupo profissional toma 
consciência dos seus interesses e do dever de organizá-los, mas não desenvolveu ainda 
unidade com o grupo social mais amplo; o segundo é o momento sindicalista, "em que se 
atinge a consciência da solidariedadede interesses entre todos os membros do grupo social, 
mas ainda no campo meramente econômico”. O terceiro momento é aquele em que se atinge a 
consciência de classe ou da fase hegemônica, "em que se adquire a consciência de que os 
 
6A passagem de uma consciência reivindicatória para uma consciência da totalidade da realidade social está 
presente no processo que Marx (1982) denomina da transição da “classe em-si” à “classe para-si”, da elevação 
da consciência sindical à político-universal de Lênin (2010) e da “catarse” em Gramsci. 
7Nas esclarecedoras palavras de Coutinho (1994, p.158-9), “em Gramsci, o momento catártico – que ele chega 
mesmo a conceber como sinônimo de práxis política – é o processo mediante o qual um grupo social supera seus 
interesses econômicos, meramente corporativos ou ‘egoístico-passionais’, e se eleva à consciência ético-
política’, à condição de classe universal, capaz de se tornar hegemônica por dar respostas historicamente 
universais às questões vividas pelo povo-nação e pela humanidade numa época concreta”. 
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próprios interesses corporativos, em seu desenvolvimento atual e futuro, superam o círculo 
corporativo [...] e podem e devem tornar-se os interesses de outros grupos subordinados. Esta 
é fase [...] além da unicidade dos fins econômicos e políticos, também a unidade intelectual e 
moral, pondo todas as questões em torno das quais ferve a luta não no plano corporativo, mas 
num plano 'universal' [...].Gramsci (2000b, p.41). 
 O desenvolvimento de uma consciência crítica em relação à hegemonia vigente- nas 
formações sociais em que as superestruturas apresentam uma alta complexidade sócio-
institucional e político-ideológica - requer uma intensa "preparação ideológica das massas", 
um "trabalho de crítica, de penetração cultural, de permeação de idéias", de construção de 
uma nova concepção de mundo (de uma "reforma intelectual e moral"). 
 Daí a importância fundamental que Gramsci atribui à função dos intelectuais 
orgânicos, função diretamente relacionada com a sua preocupação com a política. Para 
Gramsci, os intelectuais orgânicos são criados a partir da inserção e da função de cada grupo 
social na esfera da produção e do conjunto das relações sociais. São os intelectuais "[...] que 
lhe dão homogeneidade e consciência da própria função, não apenas no campo econômico, 
mas também no social e político [...]" (GRAMSCI, 2000a, p.15). Para Gramsci, intelectuais 
orgânicos são todos os que exercem uma função educativa, organizativa para criar ou manter 
relações de hegemonia de uma determinada classe. São intelectuais os membros de partidos, 
de sindicatos, de organizações e movimentos sociais etc. Na ação dos intelectuais das classes 
subalternas, a base do conhecimento para o convencimento está na apreensão das normas ou 
valores (concepção de mundo, linguagem, senso comum etc.) que informam a práxis cultural 
e política do indivíduo ou sujeitos sociais (como se dão as formas de consciência e como estas 
se relacionam e se manifestam com a práxis política) e também nas normas e valores 
utilizados para o convencimento (que devem ser dirigidos para a formação da vontade 
coletiva). Foi a esse tipo de conhecimento que Gramsci denominou de ideologia. Ou seja, 
àquela relação entre conhecimento e ação que é mobilizada para a partilha de valores e ações 
comuns. Em suas análises, Gramsci (2001, p.237) distingue as ideologias que são 
"historicamente orgânicas", na expressividade dos processos sociais de organização das 
classes e da ordem social, daquelas que são "arbitrárias", ou seja, que impulsionam de forma 
pouco duradoura a ação humana. As primeiras formam o terreno no qual os homens adquirem 
consciência de sua posição de classe, lutam enquanto que as segundas não criam senão ações 
individuais em pequenos grupos, expressão da pequena política. É na esfera das ideologias 
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orgânicas que se expressa o campo da luta política entre diferentes concepções de mundo pela 
conquista da hegemonia. É nela o campo da grande política. Gramsci situa sua "filosofia da 
práxis" nesse terreno de luta das ideologias orgânicas e na participação ativa dos setores 
subalternos na busca da superação e destruição da relação "hegemônica" entre governantes e 
governados e da formação de uma nova contra-hegemonia. 
 Para Gramsci, a imposição ou adesão passiva ao consenso dirigido pela classe 
dominante é resultado do fato de ser a detentora do poder econômico e dos principais 
portadores e divulgadores de sua hegemonia: o poder estatal e suas organizações na sociedade 
civil. São inicialmente estas últimas que formam o aparelho da hegemonia política e cultural 
das classes dominantes, é exatamente aí que exercem a direção sobre as demais classes. 
 É no cômputo de uma complexa e progressiva passagem da consciência e da prática 
"egoístico-passional" para a "ético-política” que se constitui e que se pensa a questão da 
“grande política” em Gramsci. Seus alicerces residem nos espaços interativos de um tipo 
específico de práxis: aquela voltada para transformar a ação do outro (práxis social/interativa). 
Atuar sobre a ação do outro (ou dos outros) para a construção de uma nova hegemonia 
implica conhecer as determinações que condicionam seu agir (determinações econômico-
objetivas) e ter capacidade de convencê-lo a agir na direção desejada. 
 O conhecimento destas determinações econômico-objetivas para fomentar e induzir 
processos políticos de rupturas com uma visão centrada no imediato ou no horizonte 
corporativo está descrito na passagem nos Cadernos, já mencionada, intitulada “Análise das 
situações. Correlação de forças”. Aqui, Gramsci examina os diversos “momentos” ou “graus” 
em que se articulam as relações de forças entre as classes sociais, objetivando identificar as 
situações que “sugerem as operações táticas imediatas, indicam a melhor maneira de 
empreender uma campanha de agitação política, a linguagem que será mais bem 
compreendida pelas multidões, etc.” (GRAMSCI, 2000b, p.19). O primeiro nível de análise 
que examina as relações de força é o econômico, ou seja, é aquele ligado à estrutura objetiva, 
do grau de desenvolvimento das forças materiais de produção em que se tem os agrupamentos 
sociais e suas funções e posições na divisão social do trabalho. Trata-se da base objetiva na 
qual se estabelece, com realismo, a análise da relação e situação política das forças sociais. É 
neste segundo nível - o das “relações das forças políticas”-, que se estabelece a identificação 
do grau de homogeneidade, de organização e consciência ideo-política alcançado pelos vários 
grupos sociais: o primeiro é o momento econômico-corporativo, no qual o grupo profissional 
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toma consciência dos seus interesses e do dever de organizá-los, mas não desenvolveu ainda 
unidade com o grupo social mais amplo;o segundo é o momento sindicalista, "em que se 
atinge a consciência da solidariedade de interesses entre todos os membros do grupo social, 
mas ainda no campo meramente econômico”. A questão do Estado é posta nesse momento 
“apenas no terreno da obtenção de uma igualdade político-jurídica com os grupos dominantes, 
já que se reivindica o direito de participar da legislação e da administração e mesmo de 
modificá-las, de reformá-las, mas nos quadros fundamentais existentes". O terceiro momento 
apresenta 
[…] a fase mais estritamente política, que assinala a passagem nítida da 
estrutura para a esfera das superestruturas complexas; é a fase em que as 
ideologias geradas anteriormente se transformam em 'partido', entram em 
confrontação e lutam até que uma delas, ou pelo menos uma única 
combinação delas, tenda a prevalecer, a se impor, a se irradiar por toda a 
área social, determinando, além da unicidade dos fins econômicos e 
políticos, também a unidade intelectual e moral, pondo todas as questões em 
torno das quais ferve a luta não no plano corporativo, mas num plano 
'universal', criando assim a hegemonia de um grupo social fundamental 
sobre uma série de grupos subordinados (Idem, pgs. 40-41, Grifos nossos). 
 
É nesse terceiro momento, interno às relações das forças políticas, que se pode 
identificar a formação de uma consciência ético-política de classe e em que esta posta a 
questão da fundação de uma nova hegemonia de classe8. Como explicita Coutinho (1991, pgs. 
105-106), para Gramsci, a possibilidade da construção de uma nova hegemonia está na 
capacidade de formação de uma vontade coletiva revolucionária dirigida pelas classes 
subalternas. Nessa construção, o gramsciano brasileiro chama atenção para a centralidade das 
observações do marxista sardo acerca da necessidade da superação dos movimentos 
espontâneos pela direção política consciente, ou seja, por “uma síntese político-intelectual que 
supere os elementos de corporativismo e transforme tais movimentos em algo homogêneo, 
universalizante, capaz de ação eficaz e duradoura”. Para Gramsci, os “sentimentos 
espontâneos” das massas, prossegue Coutinho, devem ser “educados”, “orientados” e é da 
”unidade da espontaneidade” com a “direção consciente” que se deve desenvolver a ação 
política das classes subalternas. Essa função de síntese e de mediação caberia aos intelectuais 
orgânicos do partido, ao “Moderno Príncipe”. Também elucida Coutinho (IDEM, p. 106) que 
 
8 A análise das relações de forças é completada por um terceiro nível, identificado por Gramsci como relação de 
forças militares. A interpretação do significado deste nível de análise das relações de forças abre uma polêmica 
sobre a estratégia revolucionária defendida por Gramsci, cuja discussão apresentamos, de forma breve, no 
próximo item. 
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a “formação de uma vontade coletiva liga-se organicamente ao que Gramsci chama [...] de 
‘reforma intelectual e moral’”. O Moderno Príncipe deve ser “ao mesmo tempo o organizador 
e expressão ativa e operante” dessa vontade e trabalhar por uma “reforma intelectual e moral” 
(GRAMSCI, 2000b, p.18), condição necessária para o processo de criação de uma contra-
hegemonia das classes subalternas e pela consequente criação da nova sociedade “regulada”, 
termo usado por Gramsci para se referir à criação do “autogoverno dos produtores 
associados”. 
 
Guerra de posição e guerra de movimento: estratégia e tática no processo revolucionário 
 Como vimos no item anterior, a sociedade civil e sociedade política formam o Estado 
integral. Como implicações dessa concepção, Gramsci distingue dois tipos de configuração 
societal: “ocidental” e “oriental”. Na sociedade “oriental”, a sociedade política é tudo e a 
sociedade civil é frágil, não há equilíbrio entre essas duas dimensões. Por outro lado, a 
sociedade “ocidental” configura-se por ter um equilíbrio entre a sociedade civil e a sociedade 
política. Esta percepção de Gramsci sobre diferentes tipos de sociedade o levou a definir 
estratégias revolucionárias diferenciadas para o “Ocidente” e “Oriente”. 
 A “guerra de movimento”, caracterizada pelo assalto ao Estado realizado pelos agentes 
revolucionários, com o objetivo de tomar o poder central e implementar uma nova ordem, era 
uma estratégia que só poderia ser utilizada em sociedades que possuíam um pólo de poder 
centralizado e nas quais sua sociedade civil fosse frágil. Portanto, era uma estratégia 
revolucionária para o “Oriente”. 
 Segundo Gramsci, nas sociedades capitalistas avançadas, a sociedade civil apresenta-
se com autonomia relativa, tanto funcional quanto material, em relação à sociedade política. 
Por isso, numa sociedade “ocidentalizada”, o poder é exercido, de forma mais balanceada, 
através da coerção e do consenso. Portanto, a estratégia revolucionária tem que incorporar a 
necessidade de disputar a hegemonia. 
 Neste sentido, a sociedade civil transforma-se no espaço privilegiado para o 
desenvolvimento da disputa pelo poder. Pois, neste espaço estão presentes os “aparelhos 
privados de hegemonia”, base material através da qual se processa a disputa 
hegemônica.“Guerra de posição” é o nome empregado por Gramsci para definir essa 
estratégia que propõe, antes da tomada do poder de Estado, a obtenção da hegemonia das 
classes subalternas - através da disputa na sociedade civil -, visando à conquista progressiva 
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de uma unidade político-ideológica – de uma direção de classe - para constituir um novo 
“bloco histórico”, o qual, inicialmente, altera a correlação de forças na sociedade e termina 
por impor a ascensão de uma nova classe ao poder (Coutinho, 1991). 
A formulação dessas estratégias revolucionárias articuladas à 
configuração societal existente (“oriental” e “ocidental”) é indicada pelo marxista italiano ao 
apontar que o conceito de “revolução permanente”, surgido antes de 1848, é adequado a um 
período histórico onde os aparelhos privados de hegemonia não se encontravam tão 
desenvolvidos (partidos de massa, grandes sindicatos, organizações culturais diversas). Por 
outro lado, a complexificação da sociedade capitalista levou à necessidade de redefinição da 
estratégia revolucionária a ser adotada: “ocorre na arte política o que ocorre na arte militar: a 
guerra de movimento torna-se cada vez mais guerra de posição” (IDEM, IBIDEM). Conforme 
elaborado por Gramsci (2000b, pgs. 72-73). 
[...] nas guerras entre os Estados mais avançados do ponto de vista civil e 
industrial, a guerra manobrada [ou de movimento] deve ser considerada 
como reduzida mais as funções táticas do que estratégicas [...]. A mesma 
transformação deve ocorrer na arte e na ciência política, pelo menos no que 
se refere aos Estados mais avançados [...]. 
 
Dessa forma, entendemos que o marxista italiano não elimina a utilização da “guerra 
de movimento” no processo revolucionário, muito pelo contrário, sua manutenção, mesmo 
nas sociedades avançadas, nas democracias modernas, continua válida e deve ser utilizada. 
Em outras palavras, a estratégia é a guerra de posição e esta estratégia não dispensa, ou 
melhor, requer a utilização da guerra de movimento em determinados momentos do processorevolucionário. 
 
Conclusão 
 As categorias apresentadas, sumariamente, neste artigo (estrutura, superestrutura, 
Estado integral, catarse, hegemonia, guerra de movimento e guerra de posição), orientam por 
onde devemos caminhar para uma reflexão consequente e efetivamente gramsciana para 
pensarmos a política numa perspectiva revolucionária. 
 Não podemos transformar o questão da política em Gramsci – produto do seu esforço 
crítico contra a vulgata economicista – num suposto pensamento politicista. Os elementos 
elencados anteriormente, mesmo que apenas pontuados, nos oferecem indicações precisas 
sobre o significado da estrutura econômica no desenvolvimento da sociedade e o lugar da 
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política na dinâmica da vida social. Foi possível mostrar que a perspectiva da política adotada 
pelo sardo comunista implica o horizonte de uma sociabilidade superior cuja materialização 
encontra-se fundada nas transformações das condições econômicas da vida social. Ou seja, a 
ação política indicada não está parametrizada pela ordem do capital e nem se viabiliza 
desconsiderando os elementos econômicos (objetivos) da realidade. Portanto, longe de uma 
concepção reformista e/ou politicista. 
 
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