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43 argila arenosa que se apresenta em diferentes cores – empregada na pintura das peças. O artista também utilizou como desengordurantes das argilas o caraipé (carvão moído, feito da casca de uma árvore) e o chamote (pó de caco de cerâmica quebrada). O resultado foi a perfeição – tão grande que as réplicas mereceram certificados de autenticidade da equipe técnica do Museu Goeldi, nos quais se reconhece a fidelidade dos originais. É difícil, mesmo para os especialistas do museu distinguir as réplicas dos originais, que foram reproduzidos em suas formas, cores, grafismo e até defeitos. (DALGLISH, 1996, p. 10). Mestre Cardoso possuía um intenso entusiasmo pela cerâmica arqueológica. Este interesse era impulsionado pelo desejo em preservar as características das produções de Belém do Pará trazidas pela mão do índio. Para tanto, o ceramista tinha alguns objetivos relacionados às suas ações, pretendia transformar o seu acervo de réplicas em uma fundação e, também, auxiliar na construção de uma escola cerâmica, voltada a atender principalmente adolescentes, ambos em Belém do Pará. Para Raimundo Cardoso, estas seriam possíveis maneiras de divulgar as técnicas cerâmicas, sua preservação e restauro, e, sobretudo, um modo de serem mantidas vivas as riquezas da produção da Ilha de Marajó. Alguns anos depois, uma das ambições de Mestre Cardoso começava a se concretizar, no ano de 1994 foi inaugurado, em Icoaraci, o Liceu/Escola Mestre Raimundo Cardoso, com a intenção de difundir na região o saber e a prática da cerâmica, além de outras técnicas também desenvolvidas na região como o trançado e trabalhos com madeira. O distrito de Icoaraci pode ser citado como um polo de referência da produção cerâmica indígena amazônica em razão da fartura e variedade de argila presente no local. Entretanto, mesmo com fartura de matéria-prima, até a década de 1960, eram realizados no distrito apenas telhas e tijolos. Foi a partir da chegada de Mestre Cardoso, que ocorreram modificações na relação entre a comunidade local e o barro. As pesquisas e a produção cerâmica de Raimundo Cardoso vieram a despertar interesse pela cerâmica amazônica nos artistas locais, mesmo naqueles que não haviam trabalhado com o barro em momento anterior. Muitos moradores acabaram se aventurando neste fazer, como cita o próprio Mestre (DALGLISH, 1996, p. 13): “Na febre da reprodução, perdeu-se a preocupação com a fidelidade em relação aos originais, simplificando-se a forma e o riscado, para facilitar a produção em série e o atendimento à demanda.” No entanto, as peças sem qualidade não despertavam interesse de compra, pelo contrário, aqueles que, como Raimundo Cardoso, produziam réplicas fiéis, tinham seu trabalho cada vez mais valorizado. A realização de réplicas de cerâmicas amazônicas na região de Icoaraci contou com a importante parceria do Museu Emílio Goeldi. Inicialmente, a instituição ofereceu suporte às pesquisas de Mestre Cardoso, mas com o crescimento nesta produção, passou a
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