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João Batista Mendes da Silva Júnior Universidade Federal da Paraíba joaobatistamsj@gmail.com Projeto focado no usuário: experiência de desenvolvimento de paraciclos para o ambiente universitário Ana Beatriz Egypto Queiroga da Nóbrega Universidade Federal da Paraíba anabeatrizqueiroga@yahoo.com.br Caroline Gurgel Cavalcanti de Albuquerque Saraiva Universidade Federal da Paraíba carolinegca@hotmail.com Angelina Dias Leão Costa Universidade Federal da Paraíba angelinadlcosta@yahoo.com.br 959 9o CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO PARA O PLANEJAMENTO URBANO, REGIONAL, INTEGRADO E SUSTENTÁVEL (PLURIS 2021 DIGITAL) Pequenas cidades, grandes desafios, múltiplas oportunidades 07, 08 e 09 de abril de 2021 PROJETO FOCADO NO USUÁRIO: EXPERIÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO DE PARACICLOS PARA AMBIENTE UNIVERSITÁRIO J. B. M. Silva Júnior, A. B. E. Q. Nóbrega, C. G. C. A. Saraiva, A. D. L. Costa RESUMO Percebendo a importância de realizar projetos centrados no usuário, em que se considerem as necessidades do sujeito em relação ao produto durante a sua concepção, buscou-se o desenvolvimento um modelo de paraciclo para o ambiente universitário, neste caso, a Universidade Federal da Paraíba – UFPB. Este artigo destaca principalmente o processo e o desenvolvimento de propostas de projeto concebidas a partir da metodologia GODP e de uma ferramenta digital de criatividade, ainda em teste, para auxílio no processo de concepção projetual. Com base em projetos preliminares desenvolvidos por três equipes multidisciplinares compostas por três arquitetos e/ou designers cada, percebeu-se a importância do uso do método com foco no usuário, principalmente para que o produto seja aceito e utilizado de forma acessível e com possibilidades de inovação. O resultado proposto mostra-se como uma investigação, essencialmente um estudo do método de projetar, muito mais do que o desenvolvimento de um produto findado. 1 INTRODUÇÃO A bicicleta é um meio de transporte que gera uma série de proveitos socioambientais e econômicos tanto para o usuário quanto para a sociedade em geral. A denominação transporte ativo é dada aos modos de deslocamento realizados através da energia humana, como andar e pedalar. Enfatiza-se, assim, os benefícios à saúde e o caráter não motorizado que gera contribuições para uma mobilidade mais sustentável (Andrade et al., 2016; Blue, 2016). Segundo Brasil (2004, p.14): A Mobilidade Urbana Sustentável pode ser definida como o resultado de um conjunto de políticas de transporte e circulação que visa proporcionar o acesso amplo e democrático ao espaço urbano, através da priorização dos modos não-motorizados e coletivos de transporte, de forma efetiva, que não gere segregações espaciais, socialmente inclusiva e ecologicamente sustentável. Ou seja: baseado nas pessoas e não nos veículos. Assim, pedalar é um modo de transporte bastante eficiente, rápido e prático, sobretudo para deslocamentos de curtas e médias distâncias, além de ser integrável a outros modos de transporte, facilitando, deste modo, a intermodalidade. Além disso, a bicicleta é um veículo acessível economicamente, apresenta baixo custo de manutenção, demanda uma menor ocupação nas vias e menor custo de infraestrutura viária. Naturalmente, a prática de pedalar favorece uma série de benefícios à saúde e bem-estar para o ciclista, além de contribuir para a redução de emissão de gases poluentes no meio ambiente. Contudo, para uma cidade ciclável de boa qualidade é necessário que haja investimentos e planejamento de suporte e fomento para o uso das bicicletas através de uma rede viária coerente que permita um trânsito mais seguro, confortável e intermodal. Nesse sentido, a construção de estruturas cicloviárias potencializam o uso da bicicleta, proporcionando uma maior atratividade e comodidade. Para o uso das bicicletas, são requeridos locais de suporte para o estacionamento, sendo este um dos fatores de demanda para um melhor desempenho funcional no uso da bicicleta como transporte (Andrade et al., 2016; BLUE, 2016). A universidade é um grande polo gerador de viagens nas cidades e apresenta uma ampla diversidade de usuários, desde alunos e servidores, assim como a comunidade em geral que usufrui de serviços públicos disponíveis nesses locais. De acordo com Heinen e Buehler (2019) houve um crescimento no número de estudos que abordam o estacionamento para bicicletas. Os autores realizaram uma revisão de 94 artigos relacionados ao tema e constataram que os estudos analisados apresentam avaliações com foco no suporte, na demanda e comportamento para estacionar, e preferências e efeitos no comportamento de viagens. As principais descobertas mostram que: grandes demandas estão relacionadas a uma maior quantidade de estacionamento para bicicletas; ciclistas buscam infraestrutura de melhor qualidade, localizações mais convenientes e proximidade com entradas; pagar diminui a probabilidade de uso; muitos ciclistas estacionam em locais inapropriados, o que indica uma falta de balanço entre suporte e demanda. Além disso, os autores também constataram que os ciclistas preferem alta qualidade de facilidades (como cobertura), mas a conveniência varia por grupos; e a facilidade mais evidenciada são aquelas relacionadas à segurança contra roubo e vandalismo. Por outro lado, a falta ou a inadequação de estacionamento para bicicletas desencoraja ciclistas enquanto a conveniência, como fácil acesso a bicicletas, proximidade de origem e destino influencia aumento na quantidade de ciclistas. O grau de qualidade do estacionamento para bicicletas, assim como o estudo de intervenções é limitado nas pesquisas, que focam mais nas demandas, comportamento e preferências. Desse modo, torna-se relevante realizar estudos locais, como forma de entender as principais necessidades dos ciclistas e desenvolver propostas de melhoria de acordo com cada contexto. Para tanto, a ideação conjunta necessita da ―incorporação de processos de colaboração e de gestão integrada‖, de acordo com Veloso e Elali (2014, p.4), explicando que há cada vez menos espaços para visões solitárias e unilaterais, à medida que o diálogo e empatia devem permear todas as etapas de projetação, podendo-se experimentar atividades no ambiente acadêmico. Assim, o objetivo deste artigo é apresentar a experiência de aplicação de uma metodologia centrada no usuário com ênfase nas propostas projetuais preliminares concebidas de paraciclos para a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em João Pessoa-PB. 2 METODOLOGIA A metodologia utilizada para auxiliar a idealização do projeto do paraciclo-modelo foi o método GODP - Guia de Orientação para Desenvolvimento de Projetos (Merino, 2016). O método GODP surge a partir de uma organização das literaturas de design e da compilação de metodologias diversas, de forma que se pudesse ―organizar e oferecer uma sequência de ações que permitam que o Design seja concebido de forma consciente, levando em consideração o maior número de aspectos, e respondendo de forma positiva e consciente aos objetivos fixados para o projeto‖ (Merino, 2016, p. 11). Esse método desenvolve-se em 03 fases e 08 etapas (Figura 1) que abrangem a ―coleta de informações pertinentes ao desenvolvimento da proposta, o desenvolvimento criativo, a execução projetual, a viabilização e verificação final do produto‖. Nesse contexto, o presente artigo, relata uma experiência discente com ferramentas de criação colaborativa centrada no usuário, apresentando especificamente as fases de ―Inspiração e Ideação‖ definidas no método GODP. Fig. 1 Metodologia GODP Fonte: NGD-LDU/UFSC, 2019. A atividade foi desenvovlida por 03 equipes de projeto, cada uma composta por 03 discentes de pós-graduação — designers e arquitetos — com expertises diversas, de modoque o processo criativo fosse composto com olhares técnicos distintos e sob diferentes aspectos do produto a ser gerado. Os produtos propostos foram paraciclos para utilização no campus universitário I da Universidade Federal da Paraíba – UFPB, localizado em João pessoa/PB, tendo como intenção a incorporação de conceitos de percepção sensorial, usabilidade e desenho universal, com foco no usuário como diretriz central no projeto, objetivando ambientes mais acessíveis e utilização democrática dos espaços e do produto. Algumas ferramentas foram utilizadas como base para o desenvolvimento de parte das etapas. O processo de utilização da metodologia GODP foi realizado com utilização de painel onde foram sendo fixados post-its que guiavam o desenvolvimento de todo o processo. A etapa -1 (OPORTUNIDADES) consistiu na análise de estudos existentes sobre a mobilidade dento do campus e análises gerais junto aos usuários acerca da viabiliadade e necessidade dos paraciclos como objeto compoente da mobilidade intracampus. A fase 0 (PROSPECÇÃO), consistiu na definição de diretrizes para guiar o projeto, aqui sendo a principal o paraciclo estar associado ao desenho universal, e também para sua posterior instalação e viabilização. Na etapa 1 (LEVANTAMENTO DE DADOS), foi realizada uma pesquisa documental, onde consultou-se diversos artigos de períodicos, com diferentes abordagens sobre paraciclos em Universidades, bem como uma pesquisa de campo com walktrough, a fim de identificar, localizar e qualificar todos os paraciclos da UFPB, além de entrevistas com usuários de bicicleta dentro do campus. Na etapa 2 (ORGANIZAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS) optou-se por utilizar um quadro de requisitos de projeto (Tabela 1), com o propósito de, em poucas palavras, sintetizar tudo o que foi analisado acerca do produto, associando um valor-meta para que o requisito seja mensurável e atingível. Aqueles que possuem um relacionamento mais intrínseco com as necessidades dos usuários passam a ser denominados de ―requisitos obrigatórios‖, que devem guiar as principais características do produto (Pazmino, 2015), enquanto os demais passam a ser desejáveis ou requisitos guias. Tabela 1 Requisitos de projeto selecionados Projeto de Paraciclo para a Universidade federal da Paraíba Requisitos Objetivos Classificação Estética e Visual Design simples, cores de destaque Desejável Bons acabamentos e fácil execução Necessário Contemporâneo Desejável Número reduzido de peças/encaixes Desejável Unidade visual Desejável Dimensão modular Desejável Praticidade Fácil instalação Necessário Leveza Desejável Segurança do equipamento Necessário Funcionalidade Formas que garantam segurança ao equipamento Necessário Garantir segurança das peças Desejável Manter o equipamento em pé, com dimensão apropriada Necessário Garantir estacionamento para mais de uma bicicleta Necessário Interação com o usuário Necessário Acesso e encaixes facilitados Necessário Durabilidade Resistência ao peso e humidade Necessário Tratamento da matéria prima Necessário Materiais duráveis em relação ao tempo Necessário Mobilidade Acessibilidade Necessário Localização apropriada e facilitada Necessário Sinalização Desejável Ergonomia Dimensões adequadas ao público alvo Necessário Regulagem aos diferentes tamanhos de equipamento Necessário Encaixe para fecho ou cadeado Necessário Instalação em diversos tipos de terreno Necessário Dimensões reduzidas para facilitar manuseio Desejável Custos Redução dos custos na fabricação e instalação Necessário Fácil manutenção Necessário Materiais de fácil acesso no mercado Desejável (continuação) Projeto de Paraciclo para a Universidade federal da Paraíba Requisitos Objetivos Classificação Materiais Industrializados Necessário Fácil limpeza Desejável Adequados ao produto Necessário Cores Cores vivas e vibrantes Desejável Associar cores à marca Desejável Para o desenvolvimento da etapa 3 ―Criação‖, utilizou-se uma ferramenta de concepção criativa de projeto, resultado parcial de uma tese de doutorado em andamento do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU) da UFPB (Da Silva; Costa; Thomann, 2019). A fase de utilização desta ferramenta fez parte da participação dos discentes da disciplina ―Processos integrados: Qualidade e Avaliação do Ambiente Construído – Escala do edifício‖, em seu módulo 2 (Metodologias e ferramentas de auxílio ao projeto com foco no usuário). O acesso a ferramenta se deu por meio digital em uma plataforma online com acesso por senha, na qual ocorreu a inserção, organização e alinhamento dos dados (Figura 2) pelos usuários projetistas, sendo alimentada simultaneamente a partir de quaisquer lugares, já que funciona de forma interconectada. O piloto apresentado consistiu em um guia circumplexo que envolve os conceitos de percepção sensorial, usabilidade e desenho universal, e intencionava que estes aspectos estivessem presentes nas propostas conceituais obtidas na etapa da ideação, ainda que com graus de pregnância distintos definidos pelos projetistas. Fig. 2 Interface inicial da ferramenta utilizada Fonte: Da Silva; Costa; Thomann, 2019. As combinações são organizadas através de um aparato que as gera de modo circular, onde o círculo interno consiste em variáveis ligadas ao sistema sensorial (visão, audição, háptico, orientação básica e olfato/paladar), representadas na cor azul, e o externo, na cor verde, consiste em uma associação entre os conceitos de usabilidade e design universal (uso simples, compatibilidade, mensagem perceptível, feedback e baixo esforço) (Figura 3). No total podem ser feitas até 25 combinações entre as 5 variáveis de cada círculo, a depender do foco e do produto do projeto almejado, sendo o mesmo mais simples ou mais complexo. Após isso, identificam-se três funções (prática, estética e simbólica) de cada combinação que norteiam as palavras-chave e os conceitos adotados, gerando ações alternativas e diretrizes para a criatividade. Fig. 3 Combinações da ferramenta para criação Fonte: Da Silva; Costa; Thomann, 2019. Foram criados, assim, modelos/protótipos de um paraciclo, de acordo com os requisitos, combinações e palavras-chave mais utilizadas em todo o processo descrito pela experiência de uso das ferramentas. E, dessa forma, os aspectos relacionados à facilidade de uso, ergonomia, desenho universal, fácil visualização e acessibilidade foram identificados como importantes de serem considerados em uma posterior etapa 4 de ―Execução‖, que não foi realizada na disciplina experimental. 3 RESULTADOS Os resultados dos projetos (em nível de estudos preliminares) das três equipes são apresentados a seguir, nos quais se observam diferenças de partido projetual e prioridades de atendimento às necessidades. 3.1 Projeto Paraciclo A metodologia e a ferramenta utilizadas organizaram conceitos projetuais que facilitaram, em especial, a etapa de ideação, gerando algumas propostas de paraciclo, como se pode observar nos exemplos abaixo (Figura 4). Após a inserção dos dados e feitas as combinações desejadas, a ferramenta detém, em um arquivo intercambiável, todo o arcabouço criativo lançado, de modo que cada conceito obtido tenha uma lista de pré- requisitos originais que pode ser revisitada, sempre que necessário. Nesta proposta, denominada ―Projeto Paraciclo‖, foram utilizadas cinco combinações: ―mensagem perceptível & visual‖, ―baixo esforço & háptico‖, ―compatibilidade & orientação básica‖, ―feedback & háptico‖ e ―uso simples & visual‖. Fig. 4 Soluções conceituais elaboradas com base nos conceitos intercambiáveis da ferramenta Fonte: Elaborado pelos autores, 2019. 3.2 Projeto ParaBike Na proposta denominada ―Projeto Parabike‖ realizou-se seiscombinações, sendo elas: ―visual & uso simples‖, ―visual & compatibilidade‖, ―visual & mensagem perceptível‖, ―visual & feedback‖, ―háptico & baixo esforço‖ e, por fim, ―orientação básica & baixo esforço‖. Essas combinações geraram palavras-chave e painéis de referências que puderam nortear o projeto e gerar um conceito projetual em relação às funções práticas, estéticas e simbólicas. Fig. 5 Referência entre o produto e o conceito Fonte: Autores, 2019. Ressalta-se que o campus I da UFPB possui uma forte relação com o meio natural, devido a presença da reserva de mata atlântica no campus. Assim, buscou-se referenciar o mobiliário do paraciclo com algo existente e predominante na natureza, como é o caso das árvores. Percebeu-se que havia uma relação entre o espaço necessário de um paraciclo onde se prende a bicicleta com as raízes halófitas das árvores do mangue, além dos aspectos de proteção e sombreamento e outras características. Com esse conceito, conduziu-se a elaboração do projeto, buscando aliar cada elemento da árvore com as necessidades identificadas anteriormente, como ilustrado acima na Figura 5. 3.3 Projeto UFPBike A terceira proposta foi denominada ―Projeto UFPBike‖. Na etapa de criação, ainda no momento de ideação, a partir da utilização da ferramenta de criação e guiados pelos requisitos desenvolvidos, desenhou-se os primeiros esboços, gerando alternativas que antedessem às necessidades indicadas nas primeiras etapas e estivessem de acordo com os resultados gerados a partir das combinações propostas pela ferramenta. Deste modo foram criadas 10 combinações diferentes: orientacao & compatibilidade; visual & uso simples; orientacao & baixo esforço; visual & mensagem perceptível; orientacao & uso simples; visual & compatibilidade; visual & feedback; haptico & baixo esforço; haptico & mensagem perceptível; visual & baixo esforço. Após os primeiros desenhos, utilizou-se o software Sketchup Pro para modelar e apresentar as ideias iniciais. O desenho seguiu, dentre outros, o requisito de modulação, de maneira que pudesse se adequar às necessidades de cada departamento, dependendo do número de usuários. Fig. 6 Modelos de Perfil base para concepção modular Fonte: Elaborado pelos autores, 2019. Buscou-se, na etapa de criação, estabelecer uma identificação imediata do objeto com sua função, para o rápido reconhecimento por parte dos usuários. Para isso, ainda em fase inicial de concepção, desenhou-se um perfil-base que remetesse às linhas principais de uma bicicleta juntamente com a identidade visual do projeto e, ao mesmo tempo, fosse adequado a toda a população e à fixação de tipos diversos de bicicletas, em diferentes alturas. Como resultado, surgiram duas propostas distintas desse perfil-base que poderiam ser aplicadas (Figura 6). Partindo dos desenhos do perfil-base desenhou-se alternativas de paraciclo modular, que pudessem se adaptar a todos os locais pretendidos (Figura 7). Foi feito, ainda, um estudo preliminar de cores, a fim de investigar as opções que fossem facilmente identificáveis à distância e, ao mesmo tempo, mantivessem a harmonia e associação com a identidade visual da universidade (Figuras 8). Fig.7 Estudos da repetição do perfil-base e dos perfis em diferentes alturas Fonte: Elaborado pelos autores, 2019. Fig. 8 Estudo de cores Fonte: Elaborado pelos autores, 2019. Com base nos resultados dos projetos observou-se que a metodologia adotada em comum busca evidenciar uma experiência de desenvolvimento de projeto, tomando como elemento-chave as necessidades do usuário como principal componente para a definição de conceitos, diretrizes e requisitos para o produto. Para tanto, esses aspectos estiveram diretamente incorporados nos métodos e ferramentas adotados no trabalho em todas as etapas de projeto. Desse modo, verificou-se a importância de uma infraestrutura de paraciclos de melhor qualidade, adequada a acessos mais convenientes aos ambientes do campus, promoção de maior segurança contra roubo e vandalismo, fácil orientação e localização do mobiliário, conexão com outras infraestruturas de suporte ao ciclista (como banheiros e vestiário) e conforto para o seu uso. Ressalta-se ainda que a continuação desses projetos pode resultar em produtos viáveis e aplicáveis, sobretudo pelo seu potencial de uso por usuários com necessidades distintas. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS O método e ferramenta utilizados e a colaboração dos envolvidos auxiliaram no desenvolvimento do processo criativo fazendo com que uma ou mais das bases conceituais associadas (percepção sensorial, usabilidade ou desenho universal) estivesse claramente presente nas soluções propostas. A ferramenta se mostrou um recurso otimizador na medida em que recebeu alimentação, interferências e adições virtuais de colaboradores dispersos geograficamente. Acredita-se que esta experiência pedagógica desafiadora tenha sido o que Veloso e Elali (2014, p.1) chamam de uma ―cultura projetual participativa e colaborativa no ambiente acadêmico‖; em que práticas andragógicas venham incentivar a co-criação generativa na academia. Contudo, a despeito do refino da ferramenta e da necessidade de ajustes pontuais, é necessário destacar o argumento de Palmer et al. (2018) que considera que soluções práticas — como métodos, tecnologias e ferramentas — são importantes e fazem parte do objetivo dos esforços coletivos; mas elas representam apenas parte de um significado ainda maior: a apropriação por parte dos usuários finais, projetistas e colaboradores dos modos de negociação e flexibilização mutuamente aceitáveis de projetação, para que ocorra avanços efetivos e não apenas circunstanciais. Os resultados da aplicação do manual do GODP e da Ferramenta para o processo criativo apontam que é necessário um tempo adequado para o preenchimento dos requisitos e aplicação no produto para que o processo seja de fato participativo e relacionado com as necessidades reais do usuário final. Essa foi uma das dificuldades encontradas, ao realizar a atividade de projeto em um período curto, no âmbito de uma disciplina da pós-graduação. Como sugestão para trabalhos futuros, sugere-se a incorporação de técnicas de abordagens mais estruturadas e objetivas ao usuário, como ferramentas dentro das etapas iniciais do GODP, para além dos dados coletados através de pesquisas já realizadas e entrevistas informais não estruturadas. 5 REFERÊNCIAS Andrade, V., Rodrigues, J., Marino, F. e Lobo, Z. (Orgs.) (2016). Mobilidade por bicicleta no Brasil. 1. ed., Rio de Janeiro: PROURB/UFRJ, 2016. Blue, E. (2016) Bikenomics: como a bicicleta pode salvar a economia. Rio de Janeiro: Babilonia Cultura Editorial. Da Silva, R. F. L., Costa, A. D. L. e Thomann, G.(2019) Design tool based on Sensory Perception, Usability and Universal Design. PROCEDIA CIRP, v. 84, p. 618-623. Heinen, E. e Buehler, R. (2019) Bicycle parking: a systematic review of scientific literature on parking behaviour, parking preferences, and their influence on cycling and travel behaviour. Transport Reviews, 39(5), 630-656. Merino, G. S. A. D. (2016) GODP – Guia de Orientação para Desenvolvimento de Projetos: Uma metodologia de Design Centrado no Usuário. Florianópolis: Ngd/Ufsc, Disponível em: www.ngd.ufsc.br. Acesso em: 12 nov. 2019. Pazmino, A.V. (2015) Como se cria: 40 métodos para design de produtos. São Paulo: Editora Edgar Blucher. Veloso, M. e Elali, G. A. (2014). Projeto como construção coletiva: da participação à colaboração – os desafios do ensino. Proceedings III Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo, São Paulo, 2014.
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