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Transparência de dados públicos e COVID-19 em Vitória/ES

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Liziane de Oliveira Jorge
Universidade Federal do Espírito Santo
lizianej@gmail.com
A transparência de dados públicos e a evolução das ocorrências do COVID-19 
no município de Vitória/ES.
Luciene Pessotti de Souza
Universidade Federal do Espírito Santo
lulucienepessotti@gmail.com
Camila Venturini
Universidade Federal do Espírito Santo
camilaventurini95@gmail.com
Lorena Marchetti Sperandio
Universidade Federal do Espírito Santo
lorenamsperandio@gmail.com
Lorena Soares Livramento
Universidade Federal do Espírito Santo
lorenasoares.livramento@gmail.com
Moises Ferreira de Andrade Neto
Universidade Federal do Espírito Santo
moises.andrad1@gmail.com
1407
 
 
9o CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO PARA O PLANEJAMENTO URBANO, 
REGIONAL, INTEGRADO E SUSTENTÁVEL (PLURIS 2021 DIGITAL) 
Pequenas cidades, grandes desafios, múltiplas oportunidades 
07, 08 e 09 de abril de 2021 
 
 
 
 
 
A TRANSPARÊNCIA DE DADOS PÚBLICOS E A EVOLUÇÃO DAS 
OCORRÊNCIAS DO COVID-19 NO MUNICÍPIO DE VITÓRIA/ES. 
 
 
L. O. Jorge, L. P. Souza, C. Venturini, L. S. Livramento, L. M. Sperandio, M. F. 
Andrade Neto 
 
 
 
RESUMO 
 
O estado do Espírito Santo atuou com primazia na transparência de dados públicos 
atualizados da COVID-19. A partir da manipulação dos dados abertos, o trabalho escrutinou 
os impactos da doença na dinâmica socioespacial e socioeconômica de Vitória, entre abril e 
julho de 2020. Desenvolveram-se mapas temáticos georreferenciados com destaque para os 
registros de óbitos e contaminados por bairros, e infográficos com os percentuais relativos 
às comorbidades, por renda e raça. Realizou-se o cruzamento com os dados da renda 
domiciliar e conclui-se que o vírus é mais letal para os moradores de baixa renda situados 
em área de vulnerabilidade social e urbana, os aglomerados subnormais, reforçando a má 
qualidade da saúde urbana e as suas consequências em termos raciais. Tal análise constitui-
se como importante ferramenta para o planejamento urbano e territorial com vistas ao 
enfrentamento à COVID-19 e à redução das desigualdades intraurbanas. 
 
1 A TRANSPARÊNCIA DE DADOS PÚBLICOS E A COVID-19 
 
A pandemia de COVID-19 foi decretada oficialmente pela Organização Mundial da Saúde 
em 11 de março de 20201. Decorridos quase cinco meses, a transparência dos dados públicos 
se constitui como a principal diretriz para se compreender e analisar as informações sobre a 
disseminação da COVID-19 no país. Os dados possibilitam, ainda, orientar procedimentos 
e políticas públicas de enfrentamento à pandemia. O Brasil, até o final de julho, ocupava o 
segundo lugar no ranking de óbitos, com mais de 81 mil mortos e computava mais de 2 
milhões de casos, situando-se no epicentro da pandemia. O governo federal mantém uma 
base de dados, por Unidade de Federação, com atualização diária, com informações gerais 
de casos confirmados, casos recuperados, óbitos, mortalidade, e casos acumulados. O portal 
(covid.saude.gov.br) dispõe de gráficos interativos, mapas de símbolos proporcionais e 
graduados como forma de estabelecer um comparativo entre os estados. As assimetrias 
existentes no território nacional ficam evidentes quando se avaliam os dados do portal. 
Observa-se que as fontes de todos os dados são provenientes das Secretarias Estaduais de 
 
1 No discurso de abertura do Diretor Geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), sobre 
a situação da COVID-19 em contexto mundial, no dia 11 de março de 2020, em Genebra, 
Suíça, Tedros Adhanom Ghebreyesus reconhece publicamente a pandemia decorrente da 
disseminação internacional do novo coronavírus. Disponível em: 
<https://www.who.int/dg/speeches/detail/who-director-general-s-opening-remarks-at-the-
media-briefing-on-covid-19---11-march-2020>. Acesso em 22 jun. de 2020. 
https://www.who.int/dg/speeches/detail/who-director-general-s-opening-remarks-at-the-media-briefing-on-covid-19---11-march-2020
https://www.who.int/dg/speeches/detail/who-director-general-s-opening-remarks-at-the-media-briefing-on-covid-19---11-march-2020
 
 
Saúde. Diante da amplitude do território nacional e da crise instaurada em decorrência dos 
problemas de gestão na área da saúde, inclusive em nível federal, cada Estado da Federação 
buscou atuar de forma independente e autônoma no enfrentamento à pandemia. 
 
A divulgação de dados de diversas naturezas, como dados da economia (desemprego, 
Produto Interno Bruto), demografia (envelhecimento populacional, composição domiciliar, 
média de moradores por domicílio) saúde (dados epidemiológicos, sintomas, causas e modo 
de transmissão de doenças, ações e programas), habitação (déficit habitacional, domicílios 
vagos, tipo) são cruciais para nortear políticas públicas e criar estratégias para o 
enfrentamento de inúmeros problemas sociais persistentes no Brasil e, sobretudo, cruzar 
informações para ampliar o entendimento acerca das inúmeras variáveis relacionadas à 
pandemia. Santos (2011), alerta para o fato de que o homem moderno, imerso em uma 
sociedade informacional, encontra-se em desamparo e até mesmo destituído de seu direito 
de se informar. Para o autor, “a informação é privilégio do aparelho do Estado e dos grupos 
econômicos hegemônicos, constituindo uma estrutura piramidal” (SANTOS, 2011, p. 207). 
 
Nesse sentido, a divulgação de dados “brutos”, ou seja, dados abertos, atualizados, é crucial 
para a formação da cidadania, sem manipulações prévias ou códigos de difícil interpretação. 
No que tange a saúde, a Lei Federal nº 13.979, de fevereiro de 2020 (BRASIL, 2020), dispõe 
sobre medidas para o enfrentamento da emergência de saúde pública, de importância 
internacional, decorrente da pandemia causada pelo novo coronavírus. O artigo 6º da referida 
lei obriga o compartilhamento de dados entre órgãos e entidades da administração pública 
federal, estadual, distrital e municipal essenciais à identificação de pessoas infectadas ou 
com suspeita de infecção pelo novo coronavírus, com a finalidade exclusiva de evitar a sua 
propagação. Além disso, a Lei obriga o Ministério da Saúde a manter dados públicos 
atualizados sobre os casos confirmados, suspeitos e em investigação, resguardando o sigilo 
das informações dos pacientes. 
 
Cabe ressaltar que o Espírito Santo desde o início da pandemia informou adequadamente a 
população disponibilizando publicamente dados detalhados das ocorrências da doença por 
município. O Estado se antecipou nessa divulgação e criou um painel interativo com 
informações completas sobre a COVID-19. Segundo os Boletins emitidos pela Open 
Knowledge Brasil - OKBR (2020), em maio e julho de 2020, o Espírito Santo ocupou o topo 
do ranking dos estados com o maior índice de transparência no Brasil. Esta condição foi 
conquistada a partir da divulgação atualizada de 26 indicadores distribuídos em três temas 
essenciais: i. conteúdo (casos, demografia, infraestrutura), ii. granularidade (base de dados 
e microdados) e iii. formato (acesso e qualidade). O lema da entidade OKBR (2020) é “dados 
abertos ajudam a salvar vidas”. 
 
Atualmente, o Painel Covid-ES dispõe, em todos os municípios do estado, de dados 
detalhados dos pacientes. Os dados são apresentados por raça, idade, escolaridade, gênero, 
bairro, sintomas, tipos de comorbidades, critério de confirmação, investigação de viagem 
dentro ou fora do país e se houve internação do paciente. É possível avaliar a evolução da 
doença, em especial, a identificação de curas e óbitos, bem como acompanhar o percentual 
de letalidade, a evolução e o ranking dos dados selecionados. O Painel Covid-ES apresenta 
o mapa de calor para todo o estado e o mapa de símbolos proporcionais que relacionam casos 
confirmados e óbitos para cada bairro. Além disto, disponibiliza uma série de infográficos e 
mapas gerais que auxiliam a leitura conforme os dados selecionados no painel interativo. 
Todos os dados estão abertos, em planilhas para tabulação por qualquer cidadão. Apesar doEspírito Santo dispor de dados abertos e painéis interativos para o acompanhamento didático 
 
 
e ágil da doença, constata-se que os impactos da COVID-19 em âmbito socioeconômico e 
socioespacial necessitam de um maior aprofundamento destas informações para a 
compreensão de suas consequências enquanto um complexo fenômeno urbano. Este artigo 
propõe um olhar mais apurado sobre a pandemia no município de Vitória, capital, lugar de 
sinergia e centralidade em âmbito metropolitano e estadual. 
 
2 CARACTERIZAÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE VITÓRIA 
 
Vitória é uma das cidades mais antigas do Brasil e tem parte de seu território situado em uma 
ilha constituída por um maciço central. É delimitada por uma vida marinha marcada pela 
existência de extensos manguezais em sua porção oeste, praias na sua porção leste e 
continental, e canais navegáveis, sendo um canal portuário ao sul da baía e outro ao norte. 
O território dispõe de muitas áreas inadequadas para urbanização (morros e mangues), o que 
restringe as áreas disponíveis para expansão urbana, orientada para outros municípios da 
Região Metropolitana da Grande Vitória (BID, 2018). Sua área total é 101,07 km2, sendo 
que 63,97 km2 são de área urbana, e 52,36 km2 de área urbanizada (FRANÇA; 
BERGAMASCHI, 2011). 
 
Considerada uma das melhores cidades para se viver no Brasil, tem população estimada em 
365.855 habitantes. Seu Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) é 0,845, 
considerado muito alto. A expectativa de vida na capital é de 76 anos (IBGE, 2019). A cidade 
de Vitória integra a Região Metropolitana da Grande Vitória (RMGV), que concentra 
aproximadamente 49,25% da população (PMV, 2020). Entre as décadas de 1960 e 1980 a 
configuração espacial da RMGV sofreu mudanças, com sua malha urbana praticamente 
redesenhada. Os processos econômicos iniciados na década de 1970 tiveram grande impacto 
na ocupação do território capixaba. A instalação de grandes empresas acarretou o 
crescimento populacional e os fluxos migratórios em Vitória, com uma intensiva busca de 
empregos (LIRA, 2011). 
 
A política neoliberal em franca expansão aprofundou a desigualdade socioeconômica que se 
espacializou nas cidades do país. Em Vitória não foi diferente. O Governo do Estado do 
Espírito Santo (2001) afirma que na década de 1980 deu-se, em Vitória, a ocupação da área 
de manguezal e o crescimento da ocupação dos morros, alternativa habitacional para os 
migrantes pobres e desempregados que chegavam à cidade (LIRA, 2011). Esse processo 
reforçou as desigualdades sociais e a segregação socioespacial do território, provocando uma 
intensa ocupação em áreas periféricas e uma série de problemas de cunho socioambiental e 
humanitário. Diante desse cenário a gestão municipal criou em 1996 o “Programa Integrado 
de Desenvolvimento Social, Urbano e de Preservação Ambiental em Áreas Ocupadas por 
População de Baixa Renda do Município de Vitória”, nomeado de “Projeto Terra”, e 
compreende uma iniciativa de gestão pública para o enfrentamento da pobreza urbana, por 
meio de ações que visam promover a inclusão socioterritorial e o desenvolvimento humano 
sustentável. Compreende, atualmente, 15 poligonais situadas em 33 bairros e 12 
comunidades, atendendo à uma população de aproximadamente 85 mil habitantes, 
localizadas essencialmente na porção noroeste e norte da cidade, coincidindo com as 
ocupações em morros e mangues (PMV, 2014). Muitas dessas poligonais sobrepõem-se aos 
denominados Aglomerados Subnormais. 
 
O efeito nocivo ao bem-estar social que o desenvolvimento econômico no Estado e na capital 
provocou se agravou durante a pandemia da Covid-19. Uma pesquisa recente do IBGE 
(2020) atualizou o número de Aglomerados Subnormais no Brasil, objetivando fornecer um 
 
 
parâmetro atualizado do tamanho dos aglomerados para fins de políticas de saúde, com 
dados até dezembro de 2019. Estas ocupações possuem problemas que facilitam a 
disseminação da COVID-19. Vitória possui um total de 103.731 domicílios, sendo que, 
34.393 domicílios estão em 14 Aglomerados Subnormais, ou seja, 33,16%. Considerando os 
dados habitacionais do IBGE (2010) moravam nestes locais, 35.818 pessoas, i.e., 9.79% dos 
moradores da cidade. Os dados apresentados demonstram que os problemas das periferias 
de Vitória têm raízes históricas e são comuns a áreas idênticas pelo país afora com alto índice 
da população em situação de vulnerabilidade social. Uma breve análise da renda familiar 
mensal de Vitória aponta que, em 2010, havia 33% de moradores com renda familiar mensal 
até 03 salários mínimos, sendo 7,2% na faixa até 1 salário mínimo. Segundo o censo de 2010 
do IBGE (2010) o percentual da população com rendimento nominal mensal per capita de 
até 1/2 salário mínimo encontrado foi de 28,7 %. 
 
Padovano e Silva (2020) abordam questões sobre as mazelas das cidades que a Covid-19 
expôs e propõem uma reflexão científico-profissional com relação aos “modelos 
urbanísticos atuais e emergentes” e como estes “fornecem soluções às demandas de uma 
sociedade globalizada”, com alto nível de conectividade interpessoal, e que pode “operar 
economicamente a distância, graças às tecnologias da informação e comunicação”. Os 
autores refletem sobre quais lições a pandemia traria e ajudaria a mudar ou aperfeiçoar os 
modelos urbanísticos, com vistas ao futuro. Investigações sobre “a relação entre densidades 
urbanas e o grau de contágio e mortalidade, ou das modalidades de transportes inter e 
intraurbanos adotados em larga escala num planeta cada vez mais globalizado”, bem como 
“a definição de padrões de ocupação e ordenação territorial mais ou menos adequados 
conforme cada ambiente, socioeconomia, bioma ou cultura” poderão abrir caminhos para 
novas soluções num ambiente urbano pós-pandemia. Inúmeras cidades no planeta estão em 
“condições miseráveis da vida diária de bilhões de seres humanos em ambientes sub-
humanos, detestáveis e inaceitáveis”. Tais condições se tornaram desafios não só para o 
planejamento das cidades, como para a saúde humana (PADOVANO; SILVA, 2020). O 
Programa Cidades Sustentáveis (2020) analisa a situação das cidades no país durante a 
pandemia. Dados e indicadores das 26 sedes estaduais mostra a relação entre o novo 
coronavírus e as causas estruturantes da desigualdade no país. As capitais têm um papel 
preponderante no combate a COVID-19, pois abrigam mais de 47 milhões de pessoas – ou 
22% da população do país. A população mais vulnerável enfrenta problemas de moradia, 
trabalho e renda, água e saneamento básico. A pesquisa estima que Vitória tem 8% de sua 
população vivendo em aglomerados subnormais. Entretanto, com dados habitacionais do 
IBGE de 2010, constatou-se um percentual maior, conforme supracitado. 
 
3 METODOLOGIA 
 
A metodologia empregada compreende a manipulação de dados abertos referentes a 
COVID-19 para o município de Vitória, à luz do recorte temporal entre abril e julho de 2020, 
período de monitoramento da doença. Os dados foram extraídos da planilha .csv 
disponibilizada pelo Painel Covid-19 ES e, na sequência, foram elaborados mapas 
georreferenciados no software QGIS, programa dedicado ao Sistema de Informação 
Geográfica libre e aberto, para os casos confirmados e óbitos por bairros do município de 
Vitória. Os mapas dispõem da identificação das faixas de renda familiar mensal de cada 
bairro, a partir de dados manipulados do Censo 2010 (IBGE), além do mapeamento do índice 
de letalidade dos bairros. Os demais dados relevantes para a compreensão do comportamento 
do vírus referem-se ao cruzamento dos percentuais de comorbidades para óbitos e casos 
 
 
confirmados por raça (preto, pardo e branco), construídos na forma de infográficos 
elaborados no software Inkscape (programa de desenho vetorial livre e em código aberto). 
 
4 RESULTADOS 
 
4.1 Análise de Mapas georreferenciados por bairros 
 
Os resultados daanálise dos mapas apontam a presença de um vetor de disseminação da 
doença que surge na porção leste da cidade, à beira mar, região ocupada por bairros de maior 
poder aquisitivo, e se espalha na direção centro-noroeste, nas áreas de morro e dos bairros 
adjacentes ao manguezal. A Figura 1, Mapa de Casos confirmados de COVID-19 (11/04), 
demonstra o estágio inicial de disseminação da doença no território, ilustrando de forma 
clara a concentração da doença na porção leste, com áreas de morro ainda pouco impactadas 
pela contaminação. Dos 80 bairros do município de Vitória, apenas 21 contam com ao menos 
um caso, sendo Jardim Camburi, a nordeste, o mais afetado, com 38 ocorrências. Todos os 
bairros com 05 ou mais casos, são de classe alta, e a maioria das 15 poligonais do “Projeto 
Terra” ainda não havia sido afetada pela doença. 
 
 
 
Fig. 1 Mapa de Casos confirmados de COVID-19, em Vitória, em 11/04/2020. 
 
Até a data do registro, refletindo o sentimento de emergência que assolou o país com a 
chegada do novo coronavírus, o governo estadual, através do Painel Covid-19, e a Prefeitura 
de Vitória, já haviam decretado estado de calamidade pública. Foram adotadas medidas 
sanitárias e administrativas para o combate à disseminação da doença, como a suspensão de 
eventos e atividades com presença de público, atividades coletivas, acesso a locais públicos 
protegidos (como espaços culturais) ou ao ar livre (parques, praças e praias) e funcionamento 
 
 
de estabelecimentos comerciais que não os estritamente necessários como supermercados, 
laboratórios e farmácias. 
 
Na segunda transcrição, Mapa de Casos confirmados de COVID-19 - 25/05 (Figura 2), de 
25 de maio de 2020, o território da cidade de Vitória já se apresenta completamente tomado 
pela Covid-19, com o número total de ocorrências aproximando-se de 2.000. Sobrepondo-
se a quantidade de casos por bairro e a classificação dos bairros por faixa de renda, é possível 
afirmar que, embora os bairros de renda alta como Jardim Camburi, Jardim da Penha, Mata 
da Praia e Praia do Canto (porção leste) apresentem maior número de infectados 
individualmente, o município foi afetado significativamente pela contaminação em bairros 
de renda inferior a 05 salários mínimos. 
 
 
Fig. 2 Mapa de Casos confirmados de COVID-19, em Vitória, em 25/05/2020. 
 
No período em que a doença avançava até o estado registrado no presente mapa, as medidas 
governamentais a nível municipal eram de manutenção das suspensões de atividades não 
essenciais, incentivo ao distanciamento social e instituição da obrigatoriedade no uso de 
máscaras, além da criação de leitos de retaguarda para abrigar o número crescente de 
pacientes com o novo coronavírus. Na data da elaboração do Mapa de Casos confirmados 
de COVID-19 - 29/06 (Figura 3) nota-se que as ocorrências cresceram pouco mais de 3,6 
vezes em relação ao registro do dia 25 de maio, chegando a 6.676 casos. A análise possível 
é semelhante à anterior: bairros com renda média superior a 05 salários mínimos com alto 
número de casos, mas a maioria das ocorrências encontra-se na porção menos abastada, que 
por sua vez compreende a maior parte do território. 
 
 
 
 
 
Fig. 3 Mapa de Casos confirmados de COVID-19, em Vitória, em 29/06/2020. 
 
Elaborou-se também a representação gráfica da quantidade de óbitos por bairro (Figura 4), 
na qual constata-se que quase a totalidade dos mesmos já havia registrado ao menos um 
falecimento decorrente da Covid-19. Até o momento da pandemia registrado no Mapa de 
Óbitos por COVID-19, em Vitória - 29/06 (Figura 4), apesar do ritmo de crescimento 
acelerado as medidas de restrição comercial haviam sido flexibilizadas, sendo mantidas 
restritas apenas as atividades educacionais presenciais, atividades não essenciais que 
implicam em aglomeração como cinemas, teatros, museus, casas de show, espaços culturais 
e afins, visitas em unidades de conservação ambientais e o funcionamento de bares. 
 
 
 
 
 
 
Fig. 4 Mapa de Óbitos por COVID-19, em Vitória, em 29/06/2020. 
 
O município de Vitória, na ocasião da construção do Mapa de letalidade por bairros por 
COVID-19, em Vitória - 05/09 (Figura 5), apresentava uma taxa de letalidade média de 
2,9%, mas a análise apurada por bairros permite melhor compreensão dessa distribuição. O 
bairro de Jardim Camburi, embora esteja no ranking de casos confirmados e óbitos, possui 
uma taxa de letalidade de 1,68%, ou seja, abaixo da média municipal. Enquanto isso, muitos 
bairros da porção centro e oeste da cidade tem uma taxa de letalidade acima da média, com 
até 4 vezes maior incidência de mortes em alguns bairros. 
 
O índice de letalidade revela um dado surpreendente em relação aos óbitos, uma vez que 
comprova que 65,2% das mortes do município de Vitória são de moradores residentes em 
bairros cuja renda familiar mensal é de até 3 salários mínimos mensais. Embora esses dados 
quantitativos não estejam imediatamente visíveis no mapa de letalidade (Figura 5), a 
gradação de cores permite a identificação desses bairros cuja proporção de óbitos em relação 
a de infectados se dá de maneira mais intensa. 
 
 
 
 
 
Fig. 5 Mapa de letalidade por bairros por COVID-19, em Vitória, em 05/09/2020. 
 
4.2 Infográficos de Comorbidade 
 
No dia 28 de junho foram elaborados infográficos com os dados disponíveis a respeito das 
comorbidades da população infectada pela Covid-19 em Vitória, objetivando facilitar o 
entendimento sobre o perfil dos habitantes contaminados. Até esta data, dos 6.676 casos 
confirmados, 4.629 moradores do município que haviam contraído o novo coronavírus 
pertenciam às raças branca (43,3%), parda (46%) ou preta (10,7%). 
 
As comorbidades mais comuns nos habitantes enfermos das três raças registradas são, por 
ordem crescente, as doenças cardíacas, a diabetes e a obesidade. Das seis classes de 
comorbidades avaliadas, as pessoas pretas possuem notoriamente a maior porcentagem em 
quatro delas comparada à população de brancos e pardos. As porcentagens de pretos 
internados e que vieram a óbito também é maior que nas demais raças. A Figura 6 demonstra 
as comorbidades dos mortos decorrentes da Covid-19. Até a data do registro, dos 241 mortos, 
193 habitantes pacientes possuíam identificação racial, distribuída entre 47,6% de pardos, 
39,4% de brancos e 12,9% de pretos. Percebe-se que as doenças cardíacas eram bastante 
comuns entre as pessoas que vieram a óbito, assim como a diabetes. Nota-se, também, que 
os pretos que faleceram em decorrência da Covid-19 eram proporcionalmente mais afetados 
por comorbidades que os brancos e pardos, exceto pela obesidade, em que as taxas das três 
raças são bastante equilibradas. 
 
 
 
 
 
Fig. 6 Infográfico dos Óbitos por COVID-19, da população branca, preta e parda, em Vitória, até 
28/06/2020. 
 
Quando avaliada por faixas de renda, a população de baixa renda contaminada chega a ser 
duas vezes mais afetada por comorbidades que as populações de classe média e alta, como 
demonstra a Figura 7, sendo a obesidade praticamente três vezes maior na população pobre. 
Percebe-se que, em todas as comorbidades, há reflexões significativos na saúde da população 
de baixa renda, aliada à alta mortalidade, condição determinante para desmistificar que a 
noção de que as vítimas fatais não tem classe social. Pode-se afirmar que, a saúde dos 
moradores que residem em áreas precárias do território de Vitória, é reflexo da desigualdade 
do padrão de vida, dos desequilíbrios entre a urbanização formal e informal, da infraestrutura 
desigual e da qualidade precária do tecido habitacional e das oportunidades limitadas de 
acesso ao emprego e à cidade, em sua plenitude. 
 
 
 
Fig. 7 Infográfico da população contaminada por COVID-19, por classes de renda, em Vitória, até 
28/06/2020. 
 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
O trabalho constatou, considerando o processo de organização socioespacialda cidade de 
Vitória, e a partir da manipulação e do georreferenciamento dos dados abertos sobre a 
COVID-19 nos bairros, a profunda desigualdade que assolou o capital, em especial, a maior 
letalidade e a incidência de doenças da população de baixa renda moradora das áreas que 
historicamente estão à parte da cidade formal. A conjuntura histórica, econômica e 
socioespacial reforça que essa parcela da população é mais suscetível à contaminação e ao 
 
 
óbito. Observou-se, portanto, o comprometimento da saúde urbana nos territórios informais 
e aglomerados urbanos subnormais. 
 
Os resultados alertam para a necessidade de ações urgentes integradas de planejamento 
urbano territorial, saúde pública e redução das desigualdades intraurbanas: qualificação do 
ambiente de moradia, programas habitacionais, implementação de Assistência Técnica em 
Habitação de Interesse Social (ATHIS); saneamento básico e disponibilidade integral de 
abastecimento de água; erradicação de doenças hídricas e gestão das águas urbanas; espaços 
públicos de qualidade dotados de lazer ativo e áreas verdes; segurança alimentar e 
nutricional; programas de geração de emprego e renda; qualificação do sistema de transporte 
coletivo e promoção da mobilidade ativa, etc. 
 
A pandemia demonstrou que, em Vitória, a desigualdade socioespacial elimina vidas dos 
corpos mais vulneráveis. A má distribuição de renda imprime suas consequências no espaço 
da cidade. Tais fatos nos leva a indagar: Como tornar uma cidade resiliente e equânime no 
século XXI? Reflete-se como o planejamento urbano com suas experiências históricas em 
sanitarismo e os modelos urbanísticos atuais e emergentes fornecem soluções para o 
enfrentamento da Covid-19 e para as cidades pós-pandemia. 
 
6 REFERÊNCIAS 
 
Bid. Banco Interamericano de Desenvolvimento (2018) Programa de Requalificação 
Urbana e Segurança Cidadã de Vitória. Relatório de Avaliação Ambiental e Social – 
RAAS. Vitória, Espírito Santo. 
 
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Federativa do Brasil, Brasília, Distrito Federal. Disponível em; 
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