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Teoria Geral do Estado

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Prévia do material em texto

Autora: Profa. Angélica Carlini
Colaboradoras: Profa. Elizabeth Nantes Cavalcante
 Profa. Maria Cecilia Labate Maiolini Rebello Pinho
Teoria Geral do Estado
Professora conteudista: Angélica Carlini
Natural de Araraquara, estado de São Paulo, é graduada em Direito na Pontifícia Universidade Católica de São 
Paulo e advogada atuante nas áreas de Direito do Seguro, Responsabilidade Civil e Relações de Consumo.
É doutora em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, em 2012; doutora em 
Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em 2006; mestre em Direito Civil pela Universidade 
Paulista (UNIP), em 2002; e mestre em História Contemporânea pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em 
1995. Possui pós-doutorado em Direito Constitucional pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 
em 2015, sob orientação do Prof. Dr. Ingo Wolfgang Sarlet.
Professora do curso de Direito da UNIP desde 1998 e membro da Comissão de Qualificação e Avaliação (CQA) 
desde 2009. Ministra as disciplinas de Direito Empresarial, Direito do Consumidor, Filosofia do Direito, História do 
Direito, Direitos Humanos e Ciência Política. Escreve material didático para os cursos de Educação a Distância da UNIP 
e ministra aulas no curso de Gestão de Serviços Jurídicos, Notariais e de Registro.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
C282t Carlini, Angélica.
Teoria Geral do Estado / Angélica Carlini. – São Paulo: Editora 
Sol, 2021.
88 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230.
1. Formação do estado moderno. 2. Elementos do estado. 3. 
Finalidade do estado. I.Título.
CDU 340
U510.24 – 21
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcello Vannini
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Deise Alcantara Carreiro – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Carla Moro
 Ricardo Duarte
Sumário
Teoria Geral do Estado
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7
Unidade I
1 FORMAÇÃO HISTÓRICA E POLÍTICA DO ESTADO MODERNO ......................................................... 11
1.1 Aspectos preliminares ......................................................................................................................... 11
2 ORIGEM DO ESTADO MODERNO ............................................................................................................... 12
2.1 Conceito de Estado .............................................................................................................................. 12
3 ORIGEM HISTÓRICA DO ESTADO MODERNO ....................................................................................... 20
4 CONTRIBUIÇÃO DO PENSAMENTO DE HOBBES, LOCKE E ROUSSEAU PARA A 
FORMAÇÃO DO ESTADO MODERNO ............................................................................................................ 33
Unidade II
5 ELEMENTOS DO ESTADO ............................................................................................................................... 58
5.1 Elementos do Estado – a soberania .............................................................................................. 59
6 TERRITÓRIO ........................................................................................................................................................ 63
7 POVO .................................................................................................................................................................... 65
8 FINALIDADE DO ESTADO – O BEM COMUM ......................................................................................... 74
8.1 Poder do Estado – político e jurídico ........................................................................................... 75
7
APRESENTAÇÃO
A disciplina Teoria Geral do Estado tem por objetivo qualificar o aluno para a compreensão da 
formação e da organização do Estado contemporâneo, local privilegiado para a prática do conhecimento 
do Direito.
A compreensão do papel do Estado, de sua organização e de suas práticas permitirá ao aluno do 
curso de Gestão de Serviços Jurídicos, Notariais e de Registro atuar com segurança e eficiência, porque 
conhecerá satisfatoriamente o ente do qual emanam todas as determinações essenciais para sua prática 
profissional: o Estado.
O estudo vai permitir o conhecimento da trajetória histórica que leva as diferentes sociedades a se 
organizarem na forma de Estado, que restringe a liberdade de todos para garantir que todos tenham 
direitos e possam exercê-los.
O aluno compreenderá também como o Estado se organiza para garantir a segurança da sociedade, 
no que concerne tanto à vida de cada um como aos bens que venham a possuir.
A atuação do Estado se faz com o uso dos institutos de Direito, em especial as leis, que garantem 
direitos e exigem deveres de cada cidadão. Neste livro-texto, o aluno poderá compreender como o 
Direito se tornou essencial para a organização do Estado e por que é preciso conhecer o Direito para 
poder atuar na intermediação entre o público e o privado, como acontecerá no exercício da profissão de 
Gestor de Serviços Jurídicos, Notariais e de Registro.
Seja trabalhando em escritórios de advocacia, em departamentos jurídicos de empresas públicas 
ou privadas, em cartórios de registro ou em tabelionatos de notas e registros, o profissional dessa área 
deverá possuir capacidade para compreender o papel do Estado, sua formação e atuação, com o objetivo 
de marcar sua ação profissional pela qualidade e eficiência.
INTRODUÇÃO
O Direito está presente em nossa vida cotidiana de forma muito constante e diversificada. É preciso 
ter um olhar atento para percebê-lo em nossas vidas, mas, se nos concentrarmos nisso, vamos identificar 
muitas formas por meio das quais o Direito dita as nossas regras de conduta todos os dias.
Por exemplo, se resolvermos fazer uma festa de família ou com os amigos, teremos que obedecer à 
regra de não fazer barulho após o horário das 22 horas, para não perturbar os vizinhos. Isso vale para 
quem mora em casas ou apartamentos; as pessoas molestadas pelo barulho poderão chamar a polícia, 
que terá poder para intervir, inclusive obrigando a encerrar a festa.
Se resolvermos que nosso filho de 6 anos não será matriculado em uma escola porque entendemos 
que é melhor que seja alfabetizado em casa, pelos próprios pais e também pelos avós, em especial 
porque assim poderá receber conhecimentos que não entrem em choque com nossas crenças religiosas, 
por exemplo, poderemos ser processados pelo Estado e, em situações muito graves, poderemos até 
8
perder o direito de guarda de nossos filhos, que serão entregues para outro familiar ou para abrigos, 
onde serão criados pelo Estado.Se ficarmos irritados com nosso cachorro que late muito ou que está sempre rosnando para as 
crianças da casa, e essa irritação nos levar a dar uma surra no animal, causando ferimentos, poderemos 
ser desapossados do cachorro e punidos pelo Estado, caso essa atitude seja levada ao conhecimento da 
polícia, por exemplo, ou de uma entidade protetora dos animais.
Duas latinhas de cerveja ingeridas na festa de final de ano da empresa poderão resultar em graves 
consequências jurídicas se um guarda de trânsito nos surpreender dirigindo após tomarmos a bebida 
alcóolica. Poderemos ter a carteira nacional de habilitação suspensa e, se por acaso formos profissionais 
que precisam dirigir diariamente como motorista de ônibus, motorista particular de empresa ou 
representante comercial, poderemos perder o emprego, porque não temos mais condições de dirigir 
veículos regularmente. E não será preciso que tenhamos causado um acidente com vítimas, com danos 
materiais ou corporais; bastará que o policial nos aborde e peça que realizemos um exame de dosagem 
alcoólica. Se estivermos acima do limite de dosagem alcoólica permitido, seremos punidos com a 
apreensão do veículo e a cassação da autorização para dirigir e, ainda, seremos multados.
Inúmeros outros exemplos poderiam ser citados para demonstrar o quanto o Direito está presente 
em nossas vidas; as diferentes formas pelas quais ele dita o nosso modo de proceder impedem que 
façamos muitas coisas que temos vontade e, principalmente, restringem nossas opções e escolhas.
O Direito pode agir de forma restritiva em nossas vidas? E mais, devemos concordar com essa 
constante intervenção do Direito em nossas vidas?
Não temos escolha. O Direito existe para regular a vida em sociedade e como vivemos nessa 
sociedade; logo, só temos duas escolhas: nos submeter às regras do Direito ou sofrer as consequências 
que resultam do descumprimento dessas normas.
Na realidade, o Direito e a organização que ele imprime à sociedade são uma exigência de todos nós 
para conseguirmos viver em segurança. Na verdade, o Direito organiza a vida em sociedade e impõe 
sanções pelo descumprimento das normas porque os seres humanos vivenciaram experiências tão 
difíceis quando não havia lei, ou quando havia apenas a lei do mais forte, que a presença constante do 
Direito em nossas vidas foi um pedido dos próprios seres humanos.
De fato, antes de possuirmos uma sociedade organizada na forma de Estado, com múltiplos deveres 
a serem obedecidos diariamente e nas mais diversas situações, vivíamos à mercê do humor dos que 
eram mais fortes e que podiam praticar atos de força para conseguir o que quisessem. Foi por meio 
da organização dos grupos sociais, e, consequentemente, com o estabelecimento de direitos, deveres e 
sanções para o descumprimento dos deveres, que os seres sociais conseguiram se organizar, compreender 
a necessidade de manter essa organização e progredir para alcançar maior bem-estar para todos.
Superada a etapa histórica de organização do Estado, foi preciso aprimorar as diversas 
instituições que contribuem para que essa organização seja bem-sucedida, como é o caso do poder 
9
Legislativo, do Judiciário e do Executivo. Os três poderes são fundamentais para a organização 
social, já que de um deles emanam as leis, que são propostas e votadas por representantes da 
sociedade, ou seja, do povo; do Executivo é a responsabilidade por aplicar essas leis em benefício 
de todos, indiscriminadamente; e, por fim, ao Poder Judiciário compete decidir os conflitos entre 
particulares ou entre o Estado e os particulares.
O correto funcionamento dos poderes e de todas as instituições criadas para garantir que eles atuem 
de forma eficiente é fundamental para o equilíbrio da vida em sociedade. Equilíbrio significa vida sem 
insegurança e com garantia da possibilidade de vivermos nossos projetos e sonhos, dentro da liberdade 
que temos e que o Direito protege.
Não foi muito simples chegarmos a esse modelo de Estado e de poderes constituídos que temos 
na atualidade. Tanto é verdade que, até hoje, ainda discutimos a organização do Estado e partilhamos 
opiniões sobre a necessidade da existência de algumas instituições e a desnecessidade de outras. Muitas 
vezes discutimos sobre o papel do Parlamento (será que precisamos de duas casas parlamentares 
federais, Senado e Câmara?), do Judiciário (será que a indicação dos ministros do Supremo Tribunal 
Federal não deveria ser feita de outra forma que não pelo presidente da república?) ou, ainda, sobre o 
Poder Executivo (será que a possibilidade de reeleição do presidente da república é prática positiva ou 
melhor seria que não fosse possível a reeleição presidencial, como acontece, por exemplo, no Chile e em 
outros países do mundo?). Todas essas questões são legítimas para discutirmos como sociedade, porque 
objetivam a melhor organização do Estado e do governo. Ao mesmo tempo, é por meio do debate 
democrático que poderemos aprimorar as instituições e garantir que funcionem de forma a propiciar o 
maior bem possível para toda a sociedade.
Conhecer com profundidade a formação histórica e política do Estado e de suas instituições é uma 
ótima maneira de participarmos do debate político democrático de forma mais consciente, madura e 
propositiva. Assim, este livro-texto pretende contribuir para o aprimoramento de seu papel como cidadão.
Por outro lado, na sua formação profissional como Gestor de Serviços Jurídicos, Notariais e de 
Registro é fundamental que você conheça o funcionamento do Estado, para compreender como isso 
repercute no seu trabalho e para poder melhorar a relação desse mesmo Estado com aqueles para os 
quais você vai prestar seus serviços profissionais. Conhecer os mecanismos de organização do Estado, 
os poderes da república, as formas de governo, os sistemas eleitorais, tudo isso é essencial para que na 
sua atividade você atue de forma mais técnica, competente e segura.
Vamos nos dedicar ao estudo histórico dos elementos que propiciaram a formação do Estado como o 
conhecemos hoje; e, também, vamos analisar quais são os elementos do Estado, como ele desempenha 
seu poder político e jurídico e o que podemos entender por cidadania e Estado Democrático de Direito. 
Vamos retomar nosso conhecimento sobre os poderes do Estado brasileiro e de que forma eles atuam e 
interferem em nossas esferas de cidadania e profissional.
Em seguida, analisaremos os elementos que, em conformidade com os estudiosos, caracterizam a 
formação do Estado contemporâneo. O objetivo é responder à pergunta: afinal, o que torna um grupo 
social organizado um Estado no sentido jurídico, político e sociológico do termo?
10
Os elementos que caracterizam o Estado contemporâneo são a soberania, a fixação em um 
determinado território, a ideia de povo e o cumprimento de uma finalidade, o bem comum, porque 
toda organização deve pretender atingir um objetivo, alcançar um fim que seja relevante para todos os 
membros daquela comunidade.
No caso do Estado contemporâneo, a finalidade é garantir o bem comum, ou seja, garantir elementos 
que viabilizem a todos uma vida digna, em que possam desenvolver suas potencialidades e atingir seus 
objetivos pessoais.
Cidadania, Estado, Governo e Sociedade são termos que utilizamos em nossa vida cotidiana, porém, 
nem sempre com o conhecimento e a reflexão necessários.
Para construirmos o conhecimento profissional essencial para atuar com Gestão de Serviços 
Jurídicos, Notariais e de Registro, vamos avançar no conhecimento desses importantes elementos 
jurídicos, políticos e sociais que exercem influência na organização da sociedade e no estabelecimento 
dos deveres e direitos que cada cidadão possui.
Bons estudos! Sua dedicação e seu comprometimento com a construção do conhecimento serão 
essenciais para sua formação profissional.
11
TEORIA GERAL DO ESTADO
Unidade I
1 FORMAÇÃO HISTÓRICA E POLÍTICA DO ESTADO MODERNO
1.1 Aspectos preliminares
A história do ser humano na Terra está quase sempre associadaà existência de grupos sociais, 
essenciais para que cada um pudesse garantir sua segurança e subsistência. Os riscos da natureza 
sempre demonstraram para os homens que, sozinhos, eles não teriam grande êxito em seu projeto de 
sobrevivência, porém, em grupos, essa possibilidade aumentaria significativamente.
A vida em grupos, de fato, facilitou a garantia de maior segurança em relação aos riscos da 
natureza, como eventos climáticos (tempestades, terremotos, nevascas, tufões, entre outros) 
e ataques de animais de grande porte, assim como garantiu a subsistência e, por meio dela, a 
continuidade da espécie humana. Caçar, pescar, preparar alimentos e, mais tarde, desenvolver 
técnicas de agricultura e rudimentos de indústria se tornaram atividades mais viáveis quando 
feitas em grupos sociais organizados para estas finalidades: proteção, segurança e sobrevivência 
da espécie.
Ocorre que a vivência em grupos sociais com organização simples ou mais complexa como 
conhecemos hoje também foi uma decisão que ocasionou riscos para a humanidade. Viver em 
grupos solucionava ou minimizava vários problemas, mas criava outros e, muitas vezes, bem 
mais complexos.
Viver em grupo provoca situações que são estudadas até os nossos dias por diferentes áreas do 
conhecimento. São muitas as situações complexas que têm origem na vida em grupo, seja no campo 
do afeto, da propriedade, da produção para subsistência do grupo, da quantidade de trabalho que cada 
membro do grupo deve cumprir, entre outros tantos aspectos.
Mas, com certeza, a humanidade não teria sobrevivido e avançado na melhoria dos aspectos políticos, 
sociais, econômicos e afetivos se não tivesse vivido em diferentes sistemas grupais e sociais ao longo de 
sua trajetória histórica.
Para este estudo, especificamente, o que nos interessa é a dimensão política e jurídica 
da organização social e, muito em especial, aquela organização social que denominamos de 
Estado moderno.
12
Unidade I
 Saiba mais
Assista a A Guerra do Fogo, do diretor Jean-Jacques Annaud. O filme 
retrata uma tribo que acredita que o fogo é sobrenatural.
A GUERRA do fogo. Dir. Jean-Jacques Annaud. França; Canadá: 
International Cinema Corporation, 1981. 100 minutos.
2 ORIGEM DO ESTADO MODERNO
2.1 Conceito de Estado
Analisar conceitos de Estado construídos por diferentes estudiosos tem por objetivo encontrar 
aspectos essenciais que caracterizam essa forma de organização social, política e jurídica e, com isso, 
facilitar a nossa própria compreensão sobre o tema.
Vamos nos deter na definição adotada por De Cicco e Gonzaga, que são estudiosos da área do 
conhecimento denominada Teoria Geral do Estado, a qual tem por objeto, exatamente, o estudo da 
formação e dos elementos constitutivos do Estado.
Para De Cicco e Gonzaga (2008, p. 53):
O termo Estado advém do substantivo latino status, relaciona-se com o verbo 
stare, que significa estar firme. Uma denotação possível, portanto, é que Estado 
está etimologicamente relacionado à ideia de estabilidade. Daí que o conceito 
de Estado chegou a ser utilizado para designar sociedade política estabilizada 
por um senhor soberano que controla e orienta os demais senhores.
Historicamente, o termo Estado foi empregado pela primeira vez por Nicolau 
Maquiavel, no início de sua obra O Príncipe, escrita em 1513 e publicada em 1532.
Uma definição abrangente que apresentamos de Estado seria uma instituição 
organizada política, social e juridicamente, que ocupa um território definido e, na 
maioria das vezes, sua lei maior é uma Constituição escrita. É dirigido por um governo 
soberano reconhecido interna e externamente, sendo responsável pela organização 
e pelo controle social, pois detém o monopólio legítimo do uso da força e da coerção.
Muitos elementos se destacam nessa definição, por exemplo, o fato de o Estado estar associado 
à ideia de estabilidade, de sociedade organizada social e juridicamente, ou seja, que obedece a um 
poder previamente definido que tem limites na lei. Esse aspecto é muito importante: Estado é uma 
forma de organização a partir da aprovação de leis que regem essa organização e que não podem ser 
descumpridas, sob pena de serem aplicadas sanções àqueles que praticarem o descumprimento das leis.
13
TEORIA GERAL DO ESTADO
Estado é, portanto, uma organização do poder e das sanções decorrentes do não cumprimento das 
regras, porém, isso resulta de participação da sociedade, que pode eleger aqueles que vão escrever as 
leis, as quais serão de cumprimento obrigatório para todos.
Evidentemente essa organização não é fácil de ser constituída, porque em grupos sociais numerosos 
nem sempre as pessoas pensam da mesma forma, nem sempre têm os mesmos objetivos e, por essa 
razão, nem sempre estão de acordo. Mas o que caracteriza fundamentalmente a organização do Estado 
é a consonância de propósito das pessoas a respeito das ideias principais, como o território em que 
essas regras terão validade ou os princípios essenciais que as leis devem preservar, por exemplo, a vida, 
a liberdade, a propriedade, a dignidade humana, a família, entre outros aspectos considerados mais 
importantes para que uma sociedade viva em harmonia e progrida.
A ideia de Estado, ou seja, de organização estável que obedece a leis claramente colocadas para 
todos e de cumprimento obrigatório por todos, é antiga e nem sempre atendeu a esses pressupostos.
De Cicco e Gonzaga (2008) afirmam que o primeiro a utilizar a expressão Estado teria sido Nicolau 
Maquiavel no início de sua obra O Príncipe, publicada em 1513 e considerada um livro muito importante 
para os estudos sobre o exercício do poder político.
Quem foi Maquiavel? Podemos até não conhecer esse estudioso de política, mas com certeza em 
algum momento de nossas vidas já ouvimos alguém se referir a uma pessoa como maquiavélica, 
em um sentido pejorativo ou que, no mínimo, aponta uma crítica. Maquiavélico se tornou sinônimo 
de alguém que age com segundas intenções, com interesses pouco claros, com falsidade de propósitos.
Por que teria Nicolau Maquiavel se tornado sinônimo de alguém ardiloso, astuto e que age com má-fé?
 Lembrete
O termo maquiavélico não deve ser interpretado no seu sentido 
pejorativo, mas em conformidade com o pensamento de Nicolau Maquiavel 
a respeito de poder e política. É dessa forma que a expressão atende a seu 
sentido histórico e político.
Nicolau Maquiavel nasceu em Florença, hoje Itália, em 1469, e faleceu em 1527. Florença se formou 
como uma colônia romana em 59 a.C. e, na Idade Média, tornou-se uma cidade-Estado independente. 
No século XIII foi um dos polos comerciais mais importantes do mundo e centro cultural e intelectual de 
grande importância na Europa. Entre os artistas e escritores florentinos são conhecidos Dante Alighieri, 
Francesco Petrarca, Alessandro (ou Sandro) Botticelli, Michelangelo Buonarroti Simoni, ou simplesmente 
Michelangelo, e Donato Bardi, que se tornou conhecido apenas como Donatello.
Maquiavel nasceu e se desenvolveu em um ambiente favorecido pelo incentivo à cultura, às artes 
e também à política. Era um ambiente de efervescência cultural e política; esse contexto, sem dúvida, 
marcou a vida e as ideias desse pensador.
14
Unidade I
Maquiavel foi funcionário público do governo de Florença, embora também tenha sido escritor, 
historiador e músico. Contudo, ele ganhou notoriedade como pensador político, e suas ideias exerceram 
grande influência, do seu tempo até os dias de hoje. Quem estuda política e organizações políticas 
obrigatoriamente visita o pensamento de Maquiavel.
Ele recebeu uma educação definida como clássica, com o objetivo de que seguisse carreira pública, 
servindo aos mandatários do poder político. O contrário dessa formação clássica seria a formação para 
o exercício da atividade comercial, que também era muito importante em Florença.
Acontece que a vida política era muito conturbada e, em consequência, a trajetória de Maquiavel 
na vida pública foi igualmente turbulenta. Ele trabalhoupara o governo que expulsou os Médici de 
Florença e, mais tarde, serviu aos próprios Médici quando estes retornaram ao poder.
Os Médici eram uma poderosa família de Florença que exerceu domínio político entre os séculos 
XV e XVII. Tiveram grande participação nas atividades do comércio de produtos têxteis e, com isso, 
ficaram muito ricos, expandindo, em consequência, seu poder político. Entre os Médici existiram 
banqueiros, políticos, nobres, clérigos e até um papa, Giovanni de Médici (1475-1521), que adotou o 
nome papal de Leão X.
A obra mais famosa de Maquiavel, denominada O Príncipe, foi escrita em homenagem a um 
dos Médici, Lorenzo, filho de Piero de Médici. Os historiadores indicam que a obra foi escrita 
com o intuito de agradar aos Médici, que eram os governantes da época, e, certamente, para que 
Maquiavel pudesse obter vantagens com isso, por exemplo, se beneficiar de um cargo público de 
maior importância. O período político em Florença era tão turbulento que a iniciativa de Maquiavel 
não alcançou bons resultados. Ele chegou a ocupar postos relevantes a serviço dos detentores 
do poder político, mas morreu em 1527 destituído de suas funções, abandonado e amargurado 
com as frustrações políticas que havia vivido, inclusive com o fato de os Médici haverem perdido 
o poder político.
A seguir, temos fotos da Catedral de Florença e do Palácio dos Médici, da forma como se 
encontram hoje.
Figura 1 – Catedral de Florença, Itália
15
TEORIA GERAL DO ESTADO
Figura 2 – Parte do Castelo dos Médici, Florença, Itália
Para conhecermos brevemente o pensamento político de Maquiavel, vamos lembrar que ele separou 
a virtude política da virtude moral, propondo a ruptura com as ideias vigentes naquela época, que 
associavam a ação política com o sentido divino, por serem os reis, supostamente, os representantes de 
Deus na Terra e os detentores do poder político. Maquiavel coloca a política no campo exclusivo da ação 
humana e, com isso, evidentemente, provoca enorme desagrado da Igreja Católica, que exercia forte 
influência entre os reis por ser a instituição a quem se atribuía o poder de interpretar o pensamento e 
a vontade de Deus.
Essa informação é essencial para que você possa compreender o sentido do termo maquiavélico. 
Ele nasce da má fama que Maquiavel adquiriu aos olhos dos representantes da Igreja, que sempre 
pretenderam denegrir seu pensamento junto aos reis para com isso trazer de volta a esfera do político 
para o domínio dos religiosos.
Até hoje o termo maquiavélico se refere a alguém capaz de desenvolver pensamentos ardilosos, 
astutos, mas que nem sempre age de boa-fé ou de forma moralmente aceita. No entanto, Maquiavel 
não escreveu sua obra com o objetivo de propor ardis a serem praticados por lideranças políticas. 
Ele possuía ideias muito diferentes daquelas discutidas em sua época, foi um inovador no campo do 
pensamento político, mas não é correto associar suas ideias a propostas de práticas políticas imorais, 
ilegais ou ardilosamente concebidas para prejudicar o interesse público e favorecer interesses pessoais. 
Esse pode até ser o sentido que atribuímos hoje ao termo maquiavélico, mas isso não expressa a essência 
do pensamento político de Maquiavel.
Para Nicolau Maquiavel, o governante deveria desenvolver um conjunto de qualidades – habilidade 
de cálculo, sentido de realidade, compreensão das circunstâncias, capacidade de adotar medidas 
extraordinárias, coragem de desprender-se da moralidade vigente se fosse necessário e aptidão para 
se adaptar às diferentes situações – que lhe propiciaria se tornar um grande governante e, com isso, 
aprimorar sua capacidade de se impor e realizar seus objetivos.
Observemos que Maquiavel utiliza a ideia de virtude em sentido muito diferente daquele que 
normalmente encontramos no âmbito moral ou religioso. Nessas dimensões, a virtude é atitude de 
quem é bom, fraterno e justo, mas Maquiavel atribui à virtude outra compreensão, para qualificar o bom 
16
Unidade I
governante. E, com certeza, a virtude no sentido utilizado por Maquiavel nem sempre será sinônimo de 
decisão com bondade e justiça.
As ideias de Maquiavel devem ser analisadas e compreendidas tendo como pano de fundo o período 
histórico em que ele viveu, bem diferente daquele em que vivemos. Maquiavel não propunha que 
governantes devessem agir de maneira injusta, despótica, ou maltratar o povo de forma sistemática. Ao 
contrário, ele propunha que o governante tivesse autonomia para agir com firmeza e até com violência 
quando fosse necessário, mas que respeitasse o consentimento do povo a suas práticas para que não 
surgissem conflitos.
Maquiavel acreditava que as bases do Estado deveriam ser boas leis e boas armas. Acreditava que 
o exercício da arte da guerra era um dever dos governantes e que, mesmo em tempos de paz, era 
preciso praticar exercícios e reflexões de guerra para não correr o risco de perder a prática quando fosse 
necessário agir com o uso da força. Para ele, o príncipe (ou seja, o governante) tem que cumprir seu 
objetivo fundamental, que é manter o poder político, seja pela inteligência, seja pela força, seja pelo uso 
de ambas.
Em sua obra, Maquiavel defende a ideia de que o governante precisa parecer honesto, ainda que 
não o seja. Com isso, terá maior confiança de seus governados, mesmo que depois se constate que seu 
comportamento não era tão honesto quanto supunham as pessoas.
Esse tipo de comportamento, infelizmente, tem sido praticado por políticos em várias partes do 
mundo, inclusive no Brasil. Muitos políticos propagam na imprensa e nas redes sociais que são honestos, 
que não praticam atos errados, que não aceitam propina de ninguém, enfim, que seu comportamento é 
correto e respeitável. Contudo, o noticiário dos últimos tempos não tem comprovado essas alegações, e 
as acusações e condenações por corrupção já se tornaram parte do cotidiano.
Não se pode, no entanto, atribuir essas práticas negativas aos ensinamentos de Maquiavel. Ao 
contrário, ele escreveu suas reflexões em outro momento histórico, em outra realidade política e social, 
e não se pode culpá-lo por práticas de políticos da atualidade. Ele defendia o uso da força por meio de 
boas armas, ou seja, a manutenção do poder mesmo com o uso da força. Mas não há indícios de que 
defendesse a prática política corrupta, com enriquecimento pessoal, até porque em sua época o sistema 
absolutista já permitia aos reis cuidar de seus interesses pessoais juntamente com os interesses do reino; 
a separação entre público e privado não possuía as características que tem na atualidade.
A Maquiavel se atribui a criação de uma frase muito utilizada em nossos dias por políticos cuja 
prática confunde os interesses públicos com seus interesses privados. Ele teria sido o autor da frase “os 
fins justificam os meios”.
Se é certo que Maquiavel defendia a ideia de que todos os meios são válidos para manter o 
governante no poder, mesmo que esses meios fossem violentos e, por vezes, trouxessem consequências 
ruins para os próprios governados, para o povo, não há nenhum indício histórico de que ele defendesse 
meios como a corrupção ou o uso da força pela força, apenas para uma manifestação arbitrária do 
poder dos monarcas.
17
TEORIA GERAL DO ESTADO
Ao comentar essa frase e seu contexto histórico, De Cicco e Gonzaga afirmam:
Quanto à célebre frase atribuída ao pensador em comento: “O fim justifica 
os meios”, é possível explicá-la como o fim colimado justificaria então 
qualquer meio e o bem do Estado ou razão de Estado estaria acima de 
qualquer instância moral. Afastando a ideia de bem comum, faz o bem do 
Estado se confundir com o bem do governante. Embora se deva esperar que 
o príncipe utilize boas armas a fim de atingir a paz social.
A partir desses ensinamentos, denota-se que O Príncipe foi a cartilha 
de todos os reis absolutos da época do autor, e provavelmente o livro 
de cabeceira dos ditadores contemporâneos (DE CICCO; GONZAGA, 
2008, p. 173).
De fato, o absolutismodos reis era a marca registrada do período em que Maquiavel existiu, e reis, 
como sabemos, não tinham muita preocupação com a preservação dos interesses públicos, na medida 
em que consideravam que tudo que era público pertencia a eles. Isso não quer dizer que não tivessem 
preocupação com o bem-estar de seus súditos, porque em momentos de fome e de insegurança os 
súditos poderiam se rebelar e destituir o rei, o que era uma fonte constante de preocupação. Assim, 
Maquiavel recomendava que o rei buscasse concretizar a paz social como mecanismo de tranquilidade 
para seu reinado, sem que fosse necessário empregar a força para isso.
A obra de Maquiavel é estudada e debatida até hoje; por vezes, como é natural, os estudiosos 
divergem sobre a interpretação a ser aplicada ao pensamento do florentino.
Assim, para Rogério Gesta Leal, o pensamento de Maquiavel não serviu de inspiração apenas para os 
absolutistas, mas também para os liberais:
Machiavelli (forma como o autor se refere a Maquiavel) cria o modelo 
de governante bem-sucedido, ou o homo politicus: um modelo teórico 
calcado na realidade por ele vivida, e baseado no comportamento efetivo 
dos homens, e não na norma ou no ideal. O Estado ou o principado desse 
Príncipe deve ter boas leis e boas armas.
É óbvio que o autor está falando da sociedade europeia do século XVI, 
portanto, acompanhando as lutas intestinais por conquistas territoriais e de 
mercados, o que revela o tipo de cultura e pensamento burguês existente. O 
governo, se quer ser forte e duradouro, deve cuidar para que determinadas 
instituições e prerrogativas sejam preservadas, como a propriedade privada, 
o cumprimento dos contratos, através da mediação do ordenamento jurídico. 
[...] o Príncipe utiliza racionalmente a violência e o temor dela para articular 
seu projeto de poder, intimidando ora de forma direta, ora de forma velada 
qualquer tipo de reação ou contrariedade ao governo; sua tarefa é manter 
a qualquer preço ou meio a hegemonia do instituído. O instrumento mais 
18
Unidade I
adequado para legitimar o poder antes natural do Príncipe agora é a lei 
e, na república, essa instituição produz dois efeitos úteis: os cidadãos, por 
medo de serem acusados, nada tentam contra o Estado, e, se o fazem, são 
rapidamente punidos; criam-se canais para a mediação dos conflitos que 
surgem na cidade.
Bem ou mal, a obra de Machiavelli é amplamente debatida na história 
política do Ocidente, recebendo críticas e louvores tanto de regimes 
e experiências autoritárias, sob a ótica da política desprovida de moral 
e baseada em astúcia e má-fé, como de modelos liberais e sociais, 
principalmente a partir do Iluminismo, na medida em que o autor 
florentino elogia as repúblicas onde o povo, associado ao governo, não é 
súdito de ninguém (LEAL, 2001, p. 60-62).
Como podemos perceber, cada estudioso interpreta o pensamento de Maquiavel (ou Machiavelli) a 
partir de uma ótica ou de um traço mais relevante. Isso significa para todos nós que ideias complexas 
como as de Maquiavel merecem estudo e reflexão e que a cada releitura ou reanálise poderemos encontrar 
novos aspectos para serem incorporados àqueles já estudados. São obras cujo estudo sistematizado e 
crítico não se conclui; ao contrário, sobre elas sempre será possível identificar novos aspectos relevantes.
Para Leal (2001), por exemplo, mais importante que as ideias sobre o uso da força (das armas), ou de 
que os fins justificam os meios, Maquiavel deve ser reconhecido como o pensador que, no capítulo V de 
Discursos da Primeira Década de Tito Lívio, aponta que a melhor forma de organização de uma república 
é estar alicerçada em uma Constituição criada por legisladores. Em outras palavras, um governo mais 
de leis do que de armas.
O pensamento político não é linear e as contradições são comuns porque representam análises 
contextualizadas em determinado tempo ou em determinada circunstância. Assim, a contribuição de 
Maquiavel é inegável para construirmos nossos primeiros traços a respeito de um conceito de Estado.
Figura 3 – Túmulo de Nicolau Maquiavel na Igreja de Santa Croce, Florença, Itália
19
TEORIA GERAL DO ESTADO
Um conceito para Estado não é tarefa simples, porque existem muitas definições e cada uma delas 
prioriza um aspecto diversificado para encontrar as melhores características.
Dalmo de Abreu Dallari menciona:
Encontrar um conceito de Estado que satisfaça a todas as correntes 
doutrinárias é absolutamente impossível, pois sendo o Estado um ente 
complexo, que pode ser abordado sob diversos pontos de vista e, além 
disso, sendo extremamente variável quanto à forma por sua própria 
natureza, haverá tantos pontos de partida quantos forem os ângulos 
de preferência dos observadores. E em função do elemento ou do 
aspecto considerado primordial pelo estudioso é que este desenvolverá 
seu conceito. Assim, por mais que os autores se esforcem para chegar 
a um conceito objetivo, haverá sempre um quantum de subjetividade, 
vale dizer, haverá a possibilidade de uma grande variedade de conceitos 
(DALLARI, 2010, p. 117).
O próprio Dallari, após analisar a importância da conjugação dos diferentes elementos que podem 
compor um conceito de Estado, constrói aquele que para ele atinge o objetivo:
[...] ordem jurídica soberana que tem por fim o bem comum de um povo 
situado em um determinado território. Nesse conceito se acham presentes 
todos os elementos que compõem o Estado, e só esses elementos. A noção 
de poder está implícita na soberania, que, no entanto, é referida como 
característica da própria ordem jurídica. A politicidade do Estado é afirmada 
na referência expressa ao bem comum, com a vinculação deste a um certo 
povo e, finalmente, a territorialidade, limitadora da ação jurídica e política 
do Estado, está presente na menção a determinado território (DALLARI, 
2010, p. 119).
Elcir Castelo Branco, em seus estudos, ressalta que o Estado é mais facilmente descrito do que 
conceituado. Afirma o autor:
O Estado é mais habitualmente descrito do que conceituado. Facilmente 
se alinham seus componentes – povo, território, ordenamento, soberania 
e bem comum. A dificuldade maior é extrair o dado essencial e o gênero 
próximo, sem mutilar a definição (BRANCO, 1988, p. 61).
De fato, se alguém nos pergunta qual o conceito que temos sobre Estado, ou ainda mais 
especificamente, sobre o Estado brasileiro, dificilmente seremos capazes de formular uma definição. 
Podemos elencar as características do Estado, por exemplo, a primazia da lei sobre o poder individual de 
cada cidadão, a soberania em relação a outros Estados, entre vários aspectos facilmente perceptíveis, ou 
seja, temos noção de Estado, embora nem sempre possamos defini-lo.
20
Unidade I
É por isso que vamos procurar entender a origem histórica do Estado moderno: para compreender 
a partir de quais necessidades ele se forma e a fim de atingir que objetivos, e, em especial, para 
compreender por quais razões os seres humanos concordaram em abrir mão de sua liberdade e assumir 
deveres, mas com a garantia de que teriam seus direitos respeitados.
Por quais razões o homem decidiu abrir mão da lei da força para adotar as leis gerais, que valem para 
todos e que têm por objetivo garantir que todos vivam em paz e sejam respeitados?
Essa é a essência da ideia de Estado, que provém de uma longa trajetória histórica, social e econômica, 
como vamos analisar a seguir.
3 ORIGEM HISTÓRICA DO ESTADO MODERNO
O Estado deve ser estudado a partir de uma perspectiva histórica, das primeiras ideias de organização 
social e política até nossos dias, para podermos compreender a que objetivos ele atende.
A trajetória histórica mais relevante para a compreensão do surgimento do Estado moderno reporta 
ao fim do Império Romano. Com o esfacelamento do poder central que os romanos detinham, surgiram 
os feudos, e o poder passou a ser fracionado e exercido pelo senhor feudal. Estavam traçadas as primeiras 
linhas do que historicamente chamamos de absolutismo. Aquitemos uma análise bem objetiva porque 
esses temas já foram tratados mais detalhadamente no Ensino Médio.
A formação do Estado moderno também tem suas raízes no surgimento da burguesia, grupo de 
pessoas existente na sociedade da Idade Média que desejava exercer atividades econômicas e acumular 
riquezas. Esse poder era reservado apenas e tão somente aos reis, e o desejo da burguesia contrastava 
com a situação vigente na época.
Assim, política (poder) e economia são fundamentais para compreendermos a formação do 
Estado, sem esquecer que nele vivem seres humanos, que devem conviver em grupos (sociedade) 
de forma harmônica e produtiva. Com isso, começamos a compreender que uma única área do 
conhecimento nunca será suficiente para explicar o Estado, em razão de sua complexidade e de 
seus aspectos multifacetados.
Ingo W. Sarlet, ao refletir sobre o papel da burguesia na formação do Estado moderno, afirma:
Discute-se muito a respeito do grau de importância que se deve atribuir 
à burguesia nos processos de centralização do poder nas mãos dos reis e 
na formação do Estado moderno. Sabe-se, contudo, que, sem dúvida, o 
apoio dado pela burguesia aos soberanos nacionais constituiu um elemento 
decisivo no processo.
A burguesia, classe tipicamente urbana, formada basicamente por artesãos 
e comerciantes, constituía o núcleo essencial da população das cidades. 
Estas surgiram e se desenvolveram especialmente na Baixa Idade Média, 
21
TEORIA GERAL DO ESTADO
principalmente (mas não exclusivamente) em razão do renascimento 
comercial provocado, originalmente, pela dinamização das relações entre o 
oriente e o ocidente, em consequência das Cruzadas. Por sua vez, a formação 
de novas cidades provocou a intensificação do comércio, fortalecendo e 
enriquecendo cada vez mais as classes burguesas.
Todavia, a falta de centralização política e administrativa constituía-se num 
entrave ao desenvolvimento, dificultando as relações comerciais. A burguesia 
desejava a unificação do Estado Nacional. Para ela, a unificação do território 
sob um governo centralizado significava a existência de leis, pedágios, 
impostos, moeda, pesos e medidas unificados, o que, para o fortalecimento 
do mercado interno, era indispensável.
Isso explica, se bem que de forma simplificada, por que, em sua grande 
maioria, as classes burguesas passaram a apoiar os reis na luta pela 
centralização do poder, contribuindo, assim, decisivamente, na formação 
dos Estados modernos.
A importância da burguesia não se limita, contudo, tão somente a esse 
aspecto. “O burguês, como tipo, dá à existência histórica, no âmbito 
ocidental, um tônus peculiar. Ele trouxe traços próprios de mentalidade. 
São próprios do burguês, por exemplo, a prudência calculadora e o 
racionalismo” (SALDANHA, 1980). Foi essa mentalidade burguesa a base 
da mentalidade moderna.
De fato, a formação do Estado moderno deu-se tendo como pano de 
fundo toda uma conjuntura, todo um contexto em que os valores do 
mundo medieval, gradativamente, foram sendo substituídos por novas 
concepções de vida, baseadas na razão e na liberdade do homem 
(SARLET, 2017, p. 58).
A concepção burguesa de racionalidade e prudência é própria do exercício da atividade econômica, 
ou seja, da busca de resultados de lucro na intermediação de mercadorias.
 Observação
Em nossos dias, a atividade econômica é muito mais evoluída e 
tecnológica, mas não perdeu o sentido de racionalidade. Opções racionais 
de gestores de todas as áreas econômicas – serviços, comércio e indústria 
– tornam os empreendimentos viáveis e sustentáveis, gerando não apenas 
lucro, mas também empregos e pagamento de tributos. 
22
Unidade I
Posteriormente, a área do conhecimento que hoje denominamos de Economia se notabilizaria pelos 
estudos de racionalidade da utilização dos recursos e pela constatação de que os recursos colocados 
à disposição dos homens são sempre escassos, razão pela qual precisam ser usados com prudência e 
parcimônia, sob pena de não estarem disponíveis ou acessíveis economicamente para todos aqueles 
que necessitam. Em outras palavras, a burguesia se afastava das ideias de que a proteção divina seria 
suficiente para o homem conseguir tudo aquilo que desejasse ou precisasse e se aproximava do ideal de 
produção de bens para todos que pudessem adquiri-los, de forma organizada, planejada, administrada 
e, sobretudo, racional! Esse traço tão característico das atividades comerciais impregnou o pensamento 
burguês e delineou os contornos econômicos, culturais e políticos do Estado moderno.
A produção deixava de ser pensada apenas enquanto meio de subsistência, como havia ocorrido em 
grande parte do período feudal. Ocupados com as guerras por domínio de território e com as Cruzadas 
para estender a área de ação da Igreja Católica, não sobravam muitos braços para a produção, que, 
então, era destinada apenas a alimentar os que viviam nos feudos.
Superado esse momento histórico, os homens começam a produzir mais e, consequentemente, 
conhecem os benefícios da sobra, de produção maior do que a capacidade de utilização para se alimentar. 
Era chegado o momento de produzir para trocar, para obter novos produtos e, mais tarde, para lucrar.
A economia é motor de propulsão de muitas organizações políticas e sociais que conhecemos hoje, 
e com a formação do Estado moderno isso não é diferente.
Do projeto de sociedade da burguesia surgem as ideias que formam o conceito que denominamos 
de liberalismo e que ao longo da história foi responsável pelo fim do absolutismo e pela implantação 
do Estado em que os agentes do poder estão subordinados à ordem jurídica estabelecida.
Os liberais desejavam produzir e negociar o resultado de sua produção, mas sabiam que isso não seria 
possível em um clima de desordem interna ou externa e, principalmente, sem regras claras de cobrança de 
impostos, de circulação das mercadorias e de lugares preparados para realizar a venda para os interessados.
Regras claras sempre foram essenciais para a produção econômica. Quando nos referimos, atualmente, 
ao “custo Brasil”, por exemplo, estamos fazendo alusão a sistemas de organização do Estado que, por 
estarem mal estruturados, custam caro e atrapalham a produção econômica.
É o que acontece, por exemplo, nos portos brasileiros. Em razão de leis ineficientes, incompatíveis com 
as necessidades do mundo contemporâneo, mas que, infelizmente, ainda são adotadas no Brasil, temos 
um sistema portuário que cobra taxas excessivamente altas para os navios que aportam por aqui, uma 
demora excessiva para a atracação dos navios e a liberação das mercadorias, além de uma infraestrutura 
acanhada para a recepção dos caminhões que trazem as mercadorias para serem embarcadas. Tudo isso 
aumenta o tempo dos navios no porto e o custo do transporte, situando os portos brasileiros entre os 
menos eficientes no mundo. Empresas que desejam exportar para o Brasil levarão isso em conta na hora 
de decidir colocar suas mercadorias aqui. Empresas que desejam se instalar no Brasil, mas que precisam 
utilizar a importação de peças e componentes para sua produção, pensarão duas vezes antes de optar 
por um país que tem ineficiência em portos e em infraestrutura de logística.
23
TEORIA GERAL DO ESTADO
A racionalidade na ordenação dos meios de produção depende de leis claras e de organização e 
eficiência do Estado, o que sempre foi reivindicação constante dos representantes da produção, a 
burguesia liberal.
A mesma crítica feita ao sistema aeroportuário pode ser repetida para o sistema tributário brasileiro, 
que produz uma avalanche de leis ano a ano, tanto em caráter federal como estadual e municipal. Cria-se 
um emaranhado de normas de difícil compreensão, que nem sempre se consegue saber como devem 
ser aplicadas nas atividades econômicas e, por fim, geram carga excessiva e muitas multas aplicadas 
contra empreendedores, que, por vezes, apenas não entenderam o contexto de aplicação e deixaram de 
recolher o tributo porque não sabiam queele era devido.
As leis que viabilizam a atividade econômica eficiente e competitiva precisam ser claras, de fácil 
compreensão e aplicação e, principalmente, precisam gerar a chamada segurança jurídica, caracterizada 
pelo fato de todos saberem razoavelmente o resultado de suas práticas e as consequências jurídicas de 
seus atos.
A reivindicação por leis justas e eficientes para garantir que a sociedade possa se organizar de forma 
adequada, inclusive nas atividades econômicas, sempre esteve presente no discurso liberal.
O liberalismo está na base de três importantes momentos históricos, nos quais identificamos a 
ação da sociedade pelo reconhecimento de seus direitos e pela busca da organização a partir de leis de 
cumprimento obrigatório para todos, inclusive para os soberanos, e que resultassem em estabilidade, 
para que todos pudessem viver e produzir em segurança.
Você certamente se lembra das chamadas revoluções burguesas, que ocorreram na Inglaterra, nos 
Estados Unidos e na França.
A primeira foi a revolução ocorrida na Inglaterra a partir de 1640, que resultou na construção de uma 
sociedade em que o poder foi organizado como monarquia constitucional. O rei, após a revolução, 
passou a ter poderes limitados por uma lei maior, a Constituição, que estabeleceu direitos e deveres que 
deveriam ser cumpridos por todos. Além disso, ficou determinado que três poderes passariam a interagir 
na organização social – o Executivo, o Legislativo e o Judiciário –, e que nenhum deles seria absoluto ou 
teria maior valor em relação aos outros.
A Declaração de Direitos de 1689, conhecida em inglês como Bill of Rights, foi o marco principal da 
Revolução Inglesa. Trata-se de uma declaração de direitos com o objetivo de limitar o poder do monarca e 
aumentar a influência do Poder Legislativo, ou Parlamento, como é chamado até hoje na Inglaterra.
A Declaração de Direitos de 1689 submeteu o poder do monarca ao poder do Parlamento, em especial 
para garantir:
a) que a estrutura do sistema de poder fosse organizada pela existência de três poderes, Legislativo, 
Executivo e Judiciário, em que o primeiro-ministro escolhido pelo Parlamento governa e o rei 
apenas representa o Estado;
24
Unidade I
b) que os cidadãos dispusessem de direitos individuais, em especial o de ter propriedade privada;
c) que houvesse liberdade de imprensa;
d) que as leis só pudessem ser sancionadas com a aprovação do Poder Legislativo;
e) que o Poder Judiciário tivesse independência para julgar, não sendo admitida nenhuma 
interferência do rei no sistema jurídico;
f) que o rei não pudesse obter recursos públicos para uso pessoal sem prévia aprovação do 
Poder Legislativo.
Entretanto, o ponto principal da Declaração de Direitos de 1689 foi determinar que se tornava ilegal 
a faculdade que se atribuía à autoridade real de suspender as leis ou seu cumprimento. Em resumo, 
o Bill Of Rights colocou o rei no mesmo patamar de importância e de direitos do cidadão comum, 
representado no Parlamento e protegido pelas leis.
Isso foi um marco na luta por igualdade de direitos e por organização justa das sociedades. A 
revolução burguesa da Inglaterra foi um exemplo para outros países, incentivando a luta dos grupos 
sociais pela construção de sociedades mais justas em direitos e deveres.
A segunda revolução burguesa ocorreu nos Estados Unidos da América e culminou com a Declaração 
de Independência, em 4 de julho de 1776, quando os norte-americanos se declararam livres do poder da 
Inglaterra, de quem até então eram uma colônia.
O conflito teve origem por razões de ordem econômica. A Inglaterra estava com suas finanças 
corroídas por grandes gastos ao longo da Guerra dos Sete Anos, entre 1756 e 1763, com a França.
Ao final do conflito, a Inglaterra, endividada, resolveu criar leis que restringiam a liberdade comercial 
norte-americana e fez isso com a criação de mais impostos que deveriam ser pagos por sua colônia. 
Contudo, os norte-americanos não estavam dispostos a pagar um maior volume de impostos, nem a diminuir 
seus lucros econômicos para saldar as dívidas da Coroa Inglesa. Preferiram declarar sua independência e 
sustentaram, no texto da Declaração, que o rei da Grã-Bretanha havia violado os direitos mais básicos da 
liberdade, o que tornava insustentável a continuidade da relação colonial.
 Saiba mais
A Declaração de Independência dos Estados Unidos da América é um 
documento histórico que merece ser lido na íntegra:
HANCOCK, J. Declaração Unânime dos Treze Estados Unidos da América. 
EUA, 1776. Disponível em: <http://www.historianet.com.br/conteudo/
default.aspx?codigo=214>. Acesso em: 27 abr. 2018.
25
TEORIA GERAL DO ESTADO
A Declaração é uma narrativa histórica dos fatos que levaram os norte-americanos a proclamarem 
sua independência, porém com caráter de justificativa, à semelhança de um relatório de uma 
sentença judicial, que menciona os fatos um a um para concluir, ao final, que outro caminho não 
poderia ser adotado a não ser aquela decisão. Em outras palavras, é um documento em que o povo 
norte-americano justifica a decisão que está sendo tomada e explica à Inglaterra as razões pelas quais 
optou pela declaração de independência. No mínimo, foi uma forma elegante de separação política, 
porque permitiu à Coroa Inglesa conhecer claramente os motivos que deram causa à independência 
dos norte-americanos.
Alguns trechos da Declaração de Independência dos Estados Unidos merecem ser destacados:
Quando, no curso dos acontecimentos humanos, se torna necessário a 
um povo dissolver os laços políticos que o ligavam a outro, e assumir, 
entre os poderes da Terra, posição igual e separada, a que lhe dão direito 
as leis da natureza e as do Deus da natureza, o respeito digno para com 
as opiniões dos homens exige que se declarem as causas que os levam a 
essa separação.
Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos 
os homens são criados iguais, dotados pelo Criador de certos direitos 
inalienáveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a procura da felicidade. 
Que a fim de assegurar esses direitos, governos são instituídos entre os 
homens, derivando seus justos poderes do consentimento dos governados; 
que, sempre que qualquer forma de governo se torne destrutiva de tais fins, 
cabe ao povo o direito de alterá-la ou aboli-la e instituir novo governo, 
baseando-o em tais princípios e organizando-lhe os poderes pela forma que 
lhe pareça mais conveniente para realizar-lhe a segurança e a felicidade. 
Na realidade, a prudência recomenda que não se mudem os governos 
instituídos há muito tempo por motivos leves e passageiros; e, assim sendo, 
toda experiência tem mostrado que os homens estão mais dispostos a sofrer, 
enquanto os males são suportáveis, do que a se desagravar, abolindo as 
formas a que se acostumaram. Mas quando uma longa série de abusos e 
usurpações, perseguindo invariavelmente o mesmo objeto, indica o desígnio 
de reduzi-los ao despotismo absoluto, assistem-lhes o direito bem como o 
dever de abolir tais governos e instituir novos Guardiães para sua futura 
segurança. Tal tem sido o sofrimento paciente destas colônias e tal agora 
a necessidade que as força a alterar os sistemas anteriores de governo. A 
história do atual rei da Grã-Bretanha compõe-se de repetidas injúrias e 
usurpações, tendo todas por objetivo direto o estabelecimento da tirania 
absoluta sobre estes Estados (HANCOCK, 1776).
Curiosamente, os norte-americanos justificaram seu ato pela recusa da Inglaterra em mudar de 
atitude em relação a eles. Analise o trecho a seguir:
26
Unidade I
Em cada fase dessas opressões solicitamos reparação nos termos mais 
humildes; responderam a nossas petições apenas com repetido agravo. Um 
príncipe cujo caráter se assinala deste modo por todos os atos capazes de 
definir um tirano não está em condições de governar um povo livre.
Tampouco deixamos de chamar a atenção de nossos irmãos britânicos. De 
tempos em tempos, os advertimos sobre as tentativas do Legislativodeles 
de estender sobre nós uma jurisdição insustentável. Lembramos-lhes das 
circunstâncias de nossa migração e estabelecimento aqui. Apelamos para a 
justiça natural e para a magnanimidade, e conjuramo-los, pelos laços de nosso 
parentesco comum, a repudiarem essas usurpações que interromperiam, 
inevitavelmente, nossas ligações e nossa correspondência. Permaneceram 
também surdos à voz da justiça e da consanguinidade. Temos, portanto, de 
aceitar a necessidade de denunciar nossa separação e considerá-los, como 
consideramos o restante dos homens, inimigos na guerra e amigos na paz 
(HANCOCK, 1776).
Os norte-americanos, depois de explicarem detalhadamente as razões da separação, finalizam o 
texto nos seguintes termos:
Nós, por conseguinte, representantes dos ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 
reunidos em CONGRESSO GERAL, apelando para o Juiz Supremo do 
mundo pela retidão das nossas intenções, em nome e por autoridade 
do bom povo destas colônias, publicamos e declaramos solenemente: 
que estas colônias unidas são e de direito têm de ser ESTADOS LIVRES 
E INDEPENDENTES; que estão desobrigados de qualquer vassalagem 
para com a Coroa Britânica, e que todo vínculo político entre elas e 
a Grã-Bretanha está e deve ficar totalmente dissolvido; e que, como 
ESTADOS LIVRES E INDEPENDENTES, têm inteiro poder para declarar a 
guerra, concluir a paz, contrair alianças, estabelecer comércio e praticar 
todos os atos e ações a que têm direito os Estados independentes. E em 
apoio desta declaração, plenos de firme confiança na proteção da Divina 
Providência, empenhamos mutuamente nossas vidas, nossas fortunas e 
nossa sagrada honra (HANCOCK, 1776).
Em conclusão, os norte-americanos decidiram que seriam um Estado independente, no qual viveriam 
homens que haviam sido criados iguais e dotados pelo Criador dos mesmos direitos inalienáveis à vida, à 
liberdade e à procura da felicidade. O governo passaria a ser instituído com o objetivo de preservar esses 
direitos inalienáveis e, nos casos em que o governo se tornasse destrutivo desses fins, poderia o povo 
estabelecer um novo governo, sempre baseado nesses princípios imutáveis e importantes para todo o povo.
A felicidade era a meta coletiva, um verdadeiro projeto de sociedade para os norte-americanos; 
assim, buscá-la se tornou um direito garantido para cada cidadão, que poderia concretizar tal direito 
com total liberdade, limitada apenas pela obrigação de respeitar a liberdade alheia.
27
TEORIA GERAL DO ESTADO
Precisamos estudar, ainda, a Revolução Francesa, terceira revolução burguesa e que teve início com 
o episódio que ficou conhecido como Queda da Bastilha, em 14 de julho de 1789.
A Bastilha era uma prisão e seu prédio não existe mais em Paris porque foi demolido. A seguir, uma 
maquete da Bastilha que está no Museu Carnavalet, localizado na capital da França.
Figura 4 – Maquete da Bastilha no Museu Carnavalet, Paris
Simbolicamente, na atualidade, no lugar em que se encontrava a Bastilha existe um prédio estatal; 
na praça em frente ao prédio, há uma torre, que tem na ponta uma estátua que representa a liberdade.
Figura 5 – Estátua que representa a liberdade, Praça da Bastilha, Paris
Os estudos históricos nos mostram que em nenhum lugar o absolutismo foi tão exacerbado como 
na França. Há incontáveis exemplos de irresponsabilidade dos reis da França, como os praticados pelos 
“Luíses” (Luís XIV, XV, XVI), que levaram o povo francês a uma situação de enorme miséria e revolta.
O regime da monarquia era odiado pelo povo em razão da violência que adotava e dos prejuízos 
que causava à atividade dos comerciantes. Em consequência, a violência na revolta de 1789 foi grande, 
simbólica e retrato do desprezo do povo por seus monarcas.
28
Unidade I
No período que antecedeu a Revolução Francesa, o rei era o único detentor do poder. Os reis da 
França achavam que o Estado se resumia à vontade deles e, por essa razão, se atribuíam o direito de 
fazer tudo que sua vontade ditasse, sem limite, sem lei, sem pensar nas consequências de seus atos para 
a população, que vivia em permanente penúria.
Por outro lado, a burguesia na França era muito forte, porque tinha o controle sobre o comércio, a 
indústria e as finanças, mas não tinha nenhum poder político. Isso motivou a burguesia a tornar-se uma 
classe revolucionária para angariar poder político. Logo, o caminho mais curto para concretizar esse 
projeto foi a derrubada da monarquia. Evidentemente, ao conseguir maior poder político, a burguesia 
conseguiu também maior liberdade econômica, o que sempre foi um dos objetivos perseguidos.
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, votada pelos parlamentares franceses em 
26 de agosto de 1789, teve notória inspiração na Declaração norte-americana e, em sua introdução, 
esclareceu os anseios do povo francês naquele momento histórico:
Os representantes do povo francês, reunidos em Assembleia Nacional, 
considerando que a ignorância, o esquecimento ou o desprezo dos 
direitos do homem são as únicas causas dos males públicos e da corrupção 
dos governos, resolveram expor, em uma declaração solene, os direitos 
naturais, inalienáveis e sagrados do homem, a fim de que essa declaração, 
constantemente presente junto a todos os membros do corpo social, 
lembre-lhes permanentemente seus direitos e deveres; a fim de que 
os atos do Poder Legislativo e do Poder Executivo, podendo ser, a todo 
instante, comparados ao objetivo de qualquer instituição política, sejam 
por isso mais respeitados; a fim de que as reivindicações dos cidadãos, 
doravante fundadas em princípios simples e incontestáveis, estejam 
sempre voltadas para a preservação da Constituição e para a felicidade 
geral (DECLARAÇÃO..., 1789).
Pretendeu ser uma declaração universal de direitos civis dos homens, independentemente do país, 
povo ou etnia a que pertencessem. Para isso, afirmou que os homens nascem e permanecem livres e 
iguais em direitos e que esses direitos são naturais e imprescritíveis. Definiu a liberdade como o direito 
de fazer tudo que não prejudique os outros, e como direitos fundamentais a liberdade, a propriedade, a 
segurança e a resistência à opressão.
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão colocou a lei acima dos direitos de cidadania e 
estabeleceu limites para o cidadão: pode se manifestar, mas não pode ofender ou desobedecer ao que 
é normatizado pela lei. E por qual razão? Porque a lei é a expressão da vontade geral. O Estado, por sua 
vez, é o instrumento por meio do qual os cidadãos podem usufruir de seus direitos.
Como podemos perceber, o surgimento do Estado moderno foi decorrente de inúmeras modificações na 
ordem social e econômica e no poder político. O modo como os diferentes grupos sociais se organizaram, 
produziram economicamente para sua subsistência, e mais tarde para a troca, e estabeleceram as regras de 
exercício de poder foi um fator fundamental para criar as bases do Estado em que vivemos na atualidade.
29
TEORIA GERAL DO ESTADO
Essa dinâmica não cessa; ao contrário, continua viva em toda a trajetória histórica da humanidade. 
Até hoje os grupos sociais discutem a melhor forma de exercício do poder e de garantia dos direitos 
de cada um, as exigências para o cumprimento dos deveres e os mecanismos econômicos que devem 
nortear a vida na sociedade.
Muitas vezes, as discussões sobre os diversos interesses econômicos e políticos dos diferentes grupos 
organizados na sociedade resultam em conflitos de grandes proporções, com a utilização de armas que 
causam mortes e perdas materiais significativas, como acontece nos conflitos que vemos em noticiários, 
com bombardeios de escolas, estradas, hospitais e casas de civis.
Embora as guerras não sejam uma forma razoável de disputar o poder ou de fazer as ideias de um 
determinado grupo político preponderarem sobre as de outro, é possível constatar que ao longo da 
trajetória histórica da humanidade isso tem ocorrido com indesejável frequência.
Uma consulta aos jornais diários ou à rede mundialde computadores e perceberemos que na 
atualidade existem conflitos deflagrados em muitos lugares do mundo; frequentemente, a motivação 
para esses conflitos são a conquista do poder (ou a manutenção dele) por um determinado grupo e os 
interesses econômicos.
Mais recentemente, um outro mecanismo de discussão política e de organização do Estado começou 
a ser praticado e merece um estudo aprofundado por parte dos pesquisadores de Ciência Política, 
Sociologia, Filosofia Política, Direito, Economia, entre outras áreas do conhecimento: o uso das redes 
sociais para disseminar ideias e coordenar manifestações.
Com a expansão da utilização dos computadores pessoais (personal computers) e a extensão 
do uso para os aparelhos de telefonia celular móvel, que se converteram em computadores 
pessoais utilizados o dia todo, inclusive nos horários em que as pessoas não exerciam nenhuma 
outra atividade – por exemplo, quando estão no transporte coletivo para o deslocamento de um 
ponto a outro da cidade ou aguardando na sala de espera de uma consulta médica –, as pessoas 
podem acionar a rede mundial de computadores e participar de debates nas redes sociais a 
qualquer momento.
Essa forma diuturna de manifestação está sendo estudada como um novo modo de fazer política, de 
ser ativista político das mais diversas causas, como proteção dos direitos dos animais, proteção do meio 
ambiente, proteção da mulher vítima de violência doméstica, defesa dos gays, lésbicas e transgêneros, 
entre outras.
Pesquisadores do tema têm avaliado que, em um mundo digital e informatizado como é o mundo 
em que vivemos, é natural que as pessoas manifestem suas opiniões políticas e sociais pela rede mundial 
de computadores e, com isso, façam do compartilhamento por rede uma nova forma de militância 
ou exercício político, uma forma direta, que dispensa de organização em agremiações como partidos, 
sindicatos ou associações. Além disso, as associações de defensores de diferentes direitos podem se 
organizar pelas redes sociais, sem necessidade de configuração física. Isso não é possível para os partidos, 
que, embora possam ter páginas nas redes sociais, não podem se limitar a isso em razão da exigência 
30
Unidade I
legal de que tenham sede física e documentos específicos para que sejam reconhecidos como entidades 
em condições de participar do processo eleitoral.
As associações de defesas de direitos podem se organizar apenas virtualmente porque não estão habilitadas 
a participar do processo eleitoral com candidatos próprios. Para isso, no Brasil, precisariam se organizar como 
partidos políticos. Porém, essas entidades podem se organizar para apoiar um partido político ou um candidato 
e escolhem fazer isso por meio das redes sociais, inclusive agendando eventos e manifestações públicas, como 
passeatas, comícios e vigílias, entre outras formas de ocupação e atuação no espaço público.
Tudo isso é novo e ainda está sendo conhecido e estudado. O fato é que nos últimos oito anos a força 
da participação política pelas redes sociais se tornou um fenômeno recorrente, com grande influência 
em alguns momentos. Isso permite que as pessoas se organizem sem serem reprimidas pelo Estado, que, 
por vezes, está organizado de forma ditatorial, ou seja, com um único grupo no poder e que não deseja 
ser alijado de sua posição de domínio.
Estados em que o poder está na mão de grupos dominantes há muito tempo, como acontece em Cuba, 
na China ou na Coreia do Norte, restringem ou proíbem a livre utilização das redes sociais, exatamente 
porque já se aperceberam do grande poder de disseminação de ideias que esse espaço virtual permite.
Figura 6 
A moça da foto acima é a blogueira cubana Yoani Sánchez, um exemplo da repressão aplicada àqueles 
que querem se insurgir contra sistemas ditatoriais. Ela tem muitas restrições de acesso à rede mundial de 
computadores em seu país, é vigiada constantemente pelas autoridades do governo cubano, mas, mesmo 
assim, tornou-se muito conhecida por insistir em fazer denúncias sobre a falta de liberdade de expressão 
em Cuba e por arregimentar outras pessoas para se incorporarem a seus protestos. É assim que ela consegue 
adeptos e apoiadores, que estão espalhados por vários lugares do planeta, todos unidos por acompanharem 
as denúncias pela rede mundial de computadores e por divulgarem o que ela publica em seu blog.
Podemos dizer que a forma como ela faz política é diferente daquela utilizada por ativistas e políticos 
que sobem nos palanques ou usam megafones em praças públicas? Sim, é diferente, mas isso não quer 
dizer que não seja eficiente! Tanto é eficiente que estamos comentando as práticas políticas de Yoani 
Sánchez neste exato momento! E nos sentimos próximos a ela simplesmente pelo fato de que podemos 
acessar um site de buscas na internet e obter milhares de informações sobre ela.
31
TEORIA GERAL DO ESTADO
O fenômeno que ficou conhecido como Primavera Árabe, ocorrido em 2011, é outro exemplo do 
uso intensivo da rede mundial de computadores com a finalidade de participação política de cidadãos 
comuns como nós.
O nome Primavera Árabe é dado à onda de protestos da população de países como Egito, Tunísia, 
Líbia, Síria, Iêmen e Barein, que reivindicava uma nova situação política em seu país, principalmente a 
possibilidade de votar e escolher seus governantes, com garantia de alternância no poder entre diversos 
grupos políticos; em outras palavras, reivindicava o fim de ditaduras que mantiveram governantes no 
poder por décadas.
Os resultados da Primavera Árabe foram bons para alguns países, que conseguiram depor seus 
ditadores e estabelecer novos mecanismos de poder, supostamente melhores que os anteriores, 
embora não tenhamos dados objetivos para avaliar. Tunísia e Egito realizaram eleições em 2011 
e escolheram candidatos definidos como moderados, sem propensão a exercer o poder de forma 
ditatorial. A Síria, em compensação, vive até hoje uma guerra civil sangrenta, com milhares de 
vítimas, especialmente crianças.
Figura 7 
Em todos esses episódios, a participação da população pelas redes sociais teve enorme importância. 
Reuniões públicas eram convocadas pela internet e milhares de pessoas compareciam para protestar ou 
enfrentar adeptos de grupos opostos.
Figura 8 
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Unidade I
A figura anterior se refere ao movimento ocorrido na Espanha em 2011 e 2012, coordenado por 
jovens que utilizaram as redes sociais para divulgar sua insatisfação e organizar pessoas que queriam 
participar. A insatisfação desses jovens era com a situação política e econômica do país, em especial 
com os partidos políticos, que, segundo eles, não representam os interesses dos cidadãos, mas apenas 
os seus próprios. Esse movimento se alastrou por várias partes do mundo, sempre pelas redes sociais e 
com intensa difusão.
O maior problema a ser enfrentado sobre essa prática de participação política pelas redes sociais é 
que as manifestações de algumas pessoas, por vezes, abrigam inverdades, ou as chamadas fake news, 
notícias falsas que são disseminadas sem maior cuidado e que levam muitas pessoas a acreditar em fatos 
que jamais ocorreram. No Brasil, esse fenômeno tem sido bastante comum em época de campanhas 
políticas para cargos majoritários (presidente, governador, prefeito) ou em casos de comoção nacional, 
como aqueles relacionados à operação Lava Jato.
É comum encontrarmos nas redes sociais notícias e fotos que viralizam (se repetem milhões de vezes 
entre os usuários da rede social) e que, na verdade, são montagens, mentiras, fatos e fotos falsas e sem 
nenhum fundo de veracidade. Elas são espalhadas nas redes certamente com o objetivo de confundir, 
disseminar intolerância, ódio e preconceito, e muitas pessoas, de forma leviana e irresponsável, as 
compartilham em suas redes sem ao menos procurar checar se são informações verdadeiras ou falsas.
Isso é um problema verdadeiramente complexo e que tem sido debatido de forma contínua entre 
estudiosos, pesquisadores, comunicadores eoutros grupos interessados em utilizar as redes sociais para 
fazer política de forma direta – com a participação das pessoas que se interessam em compartilhar 
ideias e opiniões sobre assuntos políticos e sociais relevantes –, que temem que as notícias falsas possam 
estimular confusão e até violência nas redes.
Esse problema não invalida, no entanto, o grande poder das redes sociais e da rede mundial de 
computadores como novo viés de participação política e de difusão de ideias, propostas, candidaturas e, 
em especial, para a organização social e política dos diversos grupos existentes na sociedade brasileira 
e mundial contemporânea.
As experiências vivenciadas até este momento comprovam que as redes sociais são muito importantes 
para reunir pessoas em torno de ideias e ideais. Muitas manifestações vigorosas já ocorreram em várias 
partes do mundo, com milhões de pessoas comparecendo para participar depois de serem convocadas 
exclusivamente a partir das redes sociais e do compartilhamento feito por pessoas comuns, que desejam 
influenciar o momento em que vivem ou contribuir para o aprimoramento das organizações sociais e políticas.
É um novo jeito de fazer política, influenciar decisões dos governantes, exigir direitos, mudar 
regimes políticos, proteger vulneráveis, manifestar opiniões, enfim, atuar como seres políticos e 
sociais que somos. Superadas as dificuldades com as falsas notícias veiculadas de forma irresponsável 
ou ingênua, as redes sociais ajudarão a construir a participação política do século XXI e, com certeza, 
serão muito estudadas por todos aqueles que se preocupam com direito, democracia e política no 
mundo em que vivemos.
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TEORIA GERAL DO ESTADO
4 CONTRIBUIÇÃO DO PENSAMENTO DE HOBBES, LOCKE E ROUSSEAU PARA 
A FORMAÇÃO DO ESTADO MODERNO
Três grandes pensadores dos estudos sobre o Estado merecem ser analisados por todos nós, para que 
possamos compreender as origens filosóficas e políticas do surgimento do Estado moderno.
Os pensadores Hobbes, Locke e Rousseau são estudados com muito cuidado quando se trata de 
compreender a formação do Estado moderno, porque suas ideias são relevantes até hoje e ainda podem 
ser encontradas em muitas das características dos Estados contemporâneos.
Existem, sem dúvida alguma, outros estudiosos da questão do Estado, mas esses três se destacam 
pela grande influência que seu pensamento exerceu ao longo da história e exerce até os dias de hoje.
Suas reflexões nos auxiliam a compreender o Estado e entender as razões de sua existência; 
contribuem para que possamos pensar em estratégias de melhoria das relações sociais.
O primeiro objeto de nossos estudos serão as ideias e o pensamento de Thomas Hobbes, nascido na 
Inglaterra em 1588 e falecido em 1679. Observe que ele acompanhou o período da Revolução de 1640: 
a substituição da monarquia absolutista na Inglaterra pela monarquia constitucional.
Hobbes foi filósofo e cientista político; seu pensamento foi fortemente influenciado pela 
chamada Revolução Científica, momento da história do pensamento mundial em que o método 
científico passou a ter preponderância na construção do conhecimento. Até aquele momento 
prevaleciam as explicações religiosas para todos os fenômenos da natureza. Com a introdução 
do pensamento científico como método, os fenômenos passaram a ser estudados a partir de seu 
próprio mecanismo, e os estudiosos começaram a buscar explicações lógicas que tinham por 
objetivo compreender como o fenômeno acontece, quais as razões que levam a sua ocorrência, 
quando e por que ele poderia se repetir.
Essa alteração na forma de explicação dos fenômenos naturais foi marcante e influenciou o 
pensamento de muitos estudiosos, que começaram a separar rigorosamente as explicações científicas das 
crenças religiosas, dando especial importância para a aplicação de um método que pudesse comprovar 
as teorias adotadas para explicar os fenômenos da natureza.
A utilização de método de estudo, ou método científico, foi fundamental para o avanço do 
pensamento da humanidade, que passou a compreender que não se podia explicar tudo pela vontade 
de Deus, mas que era preciso observar, analisar e refletir sobre os fenômenos naturais para buscar leis de 
funcionamento que fossem capazes de explicá-los. Foi, sem dúvida, um importante momento para o 
pensamento científico.
Hobbes recebeu essa influência de forma muito marcante e escreveu um livro sobre teoria do 
conhecimento, de forma a enfatizar que a construção do conhecimento verdadeiro e científico requer a 
utilização de um método rigoroso, que possa ser provado e comprovado.
34
Unidade I
Além de ter sido filósofo e cientista político, Hobbes atuou como tutor (uma espécie de professor 
particular) de filhos de nobres de sua época, além de ter sido secretário e conselheiro político e econômico 
de nobres.
Em seus estudos que resultaram na publicação de vários livros, Hobbes adota um conceito que para 
ele é fundamental, o conceito de estado de natureza.
Ele explica o estado de natureza como aquele em que o homem tem direito a tudo, pode exercer 
esse direito com total liberdade, da maneira que quiser, e agir somente em conformidade com seu 
próprio julgamento e razão, utilizando os meios que considerar mais adequados para atingir os fins 
que pretende.
Essa explicação está contida no capítulo XIV de sua obra Leviatã, um dos mais importantes trabalhos 
escritos por Hobbes.
Para Hobbes, o homem só concordaria em perder toda sua liberdade de escolha e de ação em razão 
do medo generalizado em que vivia no estado de natureza. Nada garantia ao homem no estado de 
natureza que ele não seria morto por outro homem que desejasse, por exemplo, utilizar as terras que 
ele utilizava para viver. Se todos tivessem ampla e total liberdade, poderiam se matar para atingir seus 
objetivos, o que significaria o medo permanente da vida em estado de natureza.
É por isso que, para Hobbes, o homem é lobo do homem (homo homini lupus), porque a qualquer 
momento poderiam se destruir, caso isso fosse necessário para atingir um objetivo.
Ao adotar essa ideia, Hobbes contrariou a essência do pensamento de Aristóteles, o qual afirmava 
que a vida na polis (cidade ou sociedade) não era fruto de uma decisão ou de uma escolha, mas de uma 
tendência natural do homem.
Aristóteles, filósofo grego de grande importância na construção do pensamento da Filosofia Política 
e que viveu entre 384 e 322 a.C., acreditava que o homem é um animal político, uma vez que ele tem 
natural tendência para o bem e isso só pode ser alcançado na vida em sociedade.
Ele entendia que a vida em sociedade, em comunidade política, não é fruto de uma escolha ou de 
uma decisão dos homens, mas de um impulso natural do homem.
Hobbes contrariou fortemente essa ideia do pensamento aristotélico e afirmou que a vida em 
sociedade não é uma tendência natural; é adquirida por necessidade, e não por escolha. Se pudesse 
escolher, o homem viveria livre e sem se obrigar a cumprir regras sociais, mas, como tem medo de ser 
destruído pelo exercício da liberdade de outro homem, ele escolhe se adaptar à vida em sociedade como 
forma de autopreservação.
A vida em sociedade, para Hobbes, estava distante da tendência natural em que acreditava 
Aristóteles. Mas ambos pensavam que a vida em sociedade era mais promissora para o homem, para seu 
desenvolvimento e sobrevivência.
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TEORIA GERAL DO ESTADO
No pensamento de Hobbes, a sociedade civil é a resposta ao medo que os homens enfrentavam 
quando estavam no estado de natureza.
Para Hobbes, nessa situação de exposição à violência de outros homens, valia a pena abrir mão da 
liberdade existente no estado de natureza para poder viver com maior segurança na sociedade civil, de 
forma organizada, com direitos e deveres, com menor espaço para o exercício da liberdade, mas com 
maior segurança de sobrevivência e maiores possibilidades de evolução.
Para viver em sociedade, os homens precisariam se obrigar a obedecer às leis e aos pactos que

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