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III SEMINÁRIO DE DIREITO DO ESTADO
“Teorias da Constituição e as novas concepções de cidadania”
05 a 08 de outubro de 2015
Campus de Franca
2020
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
Reitor
Prof. Dr. Sandro Roberto Valentini
Vice-Reitor
Prof. Dr. Sergio Roberto Nobre
Pró-Reitor de Pesquisa
Prof. Dr. Carlos Frederico de Oliveira Graeff
Pró-Reitora de Extensão Universitária
Profa. Dra. Cleopatra da Silva Planeta
FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
Diretor
Prof. Dr. Murilo Gaspardo
Vice-Diretora
Profa. Dra. Nanci Soares
Comissão Editorial UNESP - Câmpus de Franca
Presidente
Prof. Dr. Murilo Gaspardo
Membros
Prof. Dr. Agnaldo de Sousa Barbosa
Prof. Dr. Alexandre Marques Mendes
Profa. Dra. Analúcia Bueno Reis Giometti
Profa. Dra. Cirlene Aparecida. Hilário da Silva Oliveira
Profa. Dra. Elisabete Maniglia
Prof. Dr. Genaro Alvarenga Fonseca
Profa. Dra. Helen Barbosa Raiz. Engler
Profa. Dra. Hilda Maria Gonçalves da Silva
Prof. Dr. Jean Marcel Carvalho França
Prof. Dr. José Duarte Neto
Profa. Dra. Josiani Julião Alves de Oliveira
Prof. Dr. Luis Alexandre Fuccille
Profa. Dra. Paula Regina de Jesus Pinsetta Pavarina
Prof. Dr. Paulo César Corrêa Borges
Prof. Dr. Ricardo Alexandre Ferreira
Profa. Dra. Rita de Cássia Aparecida. Biason
Profa. Dra. Valéria dos Santos Guimarães
Profa. Dra. Vânia de Fátima Martino
José Carlos de Oliveira
José Duarte Neto
Murilo Gaspardo
 (Organizadores)
III SEMINÁRIO DE DIREITO DO ESTADO
“Teorias da Constituição e as novas concepções de cidadania”
Anais do Evento
Câmpus de Franca
2020
© 2020 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – UNESP
Faculdade de Ciências Humanas e Sociais – Franca - Contato
Av. Eufrásia Monteiro Petráglia, 900, CEP 14409-160, Jd. Petráglia / Franca – SP
publica.franca@unesp.br
Diagramação e Revisão
Laura Odette Dorta Jardim (DTBD)
Sandra Aparecida Cintra Ferreira (STAEPE)
Carlos Alberto Bernardes (STAEPE)
Adolfo Raphael Silva Mariano de Oliveira
Márcio Augusto Garcia - ASS. ADM
Lucas Laprano
Dana Rocha Silveira
Comissão Organizadora
Adolfo Raphael Silva Mariano de Oliveira
Artur Marchioni
 Cauê Ramos Andrade
Marina Ribeiro da Silva
Otávio Augusto Mantovani Silva
Frederico Henrique Ramos Cardozo Bonfim
Ana Luiza Cruz
Ana Luiza de Abreu Paiva
Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária Andreia Beatriz Pereira - CRB8/8773
Organização dos Anais
Prof. Dr. Murilo Gaspardo
Adolfo Rafael Silva Mariano de Oliveira
Coordenação Científica
Prof. Dr. Murilo Gaspardo
Prof. Dr. José Duarte Neto
Prof. Dr. José Carlos de Oliveira
Ingrid Juliane dos Santos Ferreira
Letícia Rezenda
Maria Luisa Rocha
Paulo Henrique Reis de Oliveira
Rafael Leal
Eduardo Salomão
Renan Urban
Thiago Carvalho
 Anais do III Seminário de Direito do Estado “Teorias da Constituição e as novas 
concepções de cidadania” / José Carlos de Oliveira, José Duarte Neto e
 Murilo Gaspardo (organizadores). – Franca : UNESP – FCHS, 2020.
 
 293 p.
 ISSN: 2526-0391
 
 1. Direito constitucional. 2. Democracia. 3. Politicas públicas. I. Título.
 II. Oliveira, José Carlos de. III. Neto, José Duarte. III. Gaspardo, Murilo.
 
 
 CDD – 340
mailto:publica.franca@unesp.br
Índices para catálogo sistemático:
1. Estado democrático de direito ............................ 341.201
2. Direito internacional público .............................. 341.1
3. Globalização ....................................................... 338.9
4. Democracia ......................................................... 341.234
PROGRAMAÇÃO DO EVENTO (05 A 08 DE OUTUBRO DE 2015):
05/10 (terça-feira)
Local: Anfi teatro I.
19h30 – Abertura
20h –Conferência: “Políticas Públicas Regulatórias Setoriais e os 
Acordos de Leniência no Processo Administrativo Brasileiro”.
Conferencista: Professor Doutor Thiago Marrara - Professor de Direito 
Administrativo da Universidade de São Paulo (USP-FDRP). Livre-docente 
(USP). Doutor (Universidade de Munique - LMU).
Mediador: Professor Doutor José Carlos de Oliveira (FCHS/UNESP)
06/10 (terça-feira)
9h – Recepção
Local: Anfi teatro I.
9h30 –1ª Sessão de Debates com Professores do Departamento 
de Direito Público da FCHS/UNESP: “Teorias da Constituição e a 
Cidadania na Dimensão Internacional”.
Debatedores: Professor Doutor Murilo Gaspardo (FCHS/UNESP), 
Professora Regina Laisner (FCHS/UNESP).
11h – Intervalo. 
11h30 – 2ª Sessão de Debates com Professores do Departamento de 
Direito Público da FCHS/UNESP: “Teorias da Constituição e a Cidadania 
Participativa nas Políticas Públicas”
Debatedores: Professora Doutora Elisabete Maniglia (FCHS/UNESP), 
Professor Doutor José Carlos de Oliveira (FCHS/UNESP), Professor 
Doutor José Duarte Neto (FCHS/UNESP).
13h – Intervalo
15h/18h – Reuniões de Grupos de Pesquisa Liderados por Professores do 
Departamento de Direito Público da FCHS/UNESP.
19h – Recepção.
Local: Anfi teatro I.
19h30 – Mesa Redonda: “O Ensino de Direito Público na 
UNESP/Campus de Franca”.
Debatedores: Professor Doutor José Carlos de Oliveira (FCHS/UNESP – 
Coordenador do Conselho de Curso de Graduação em Direito), Professor 
Doutor José Duarte Neto (FCHS/UNESP – Chefe do Departamento de 
Direito Público), Professor Doutor Antônio Alberto Machado (FCHS/
UNESP), Discente Eduardo Ferreira Lopes (Representante Discente 
Titular junto ao Conselho de Curso de Direito), Discente Juliana Simões 
Casagrande (Membro do CADir e do NEDA – Núcleo de Estudo de Direito 
Alternativo); Discente Leonardo Morais (Representante Discente Suplente 
junto ao Departamento de Direito Público).
07/10 (quarta-feira)
8h30 – Recepção
Local: Anfi teatro I.
9h/11h –3ª Sessão de Debates com Professores do Departamento de 
Direito Público da FCHS/UNESP: “Teorias da Constituição e a Tutela e 
Efetividade dos Direitos da Cidadania”.
Debatedores: Professora Doutora Ana Gabriela Mendes Braga (FCHS/
UNESP) e Doutor Fernando Fernandes (FCHS/UNESP).
19h – Recepção.
Local: Anfi teatro I.
19h30 – Conferência: “Cidadania e Ensino Religioso na Dimensão 
Internacional e na Brasileira: as Questões Levantadas pela ADIn 4439/2010 
frente ao princípio constitucional da laicidade do Estado”.
Conferencista: Professora Doutora Nina Beatriz Stocco Ranieri 
(Professora de Teoria do Estado da Faculdade de Direito da Universidade 
de São Paulo. Doutora e Livre-docente em Direito do Estado (FD/USP).
Mediador: Professor Doutor Murilo Gaspardo (FCHS/UNESP).
08/10 (quinta-feira)
13h/17h: Sessões de Apresentação de Trabalhos de Pós-graduação e 
Iniciação Científi ca.
Local: Anfi teatro I, Anfi teatro da Biblioteca, Sala do 1º Ano do Curso de 
História, Salas de Reuniões dos Departamentos.
19h30 – Recepção.
Local: Anfi teatro I.
20h – Conferência: “Teoria Constitucional e Cidadania”.
Conferencista: Professor Doutor Roger Stiefelmann Leal (Professor de 
Direito Constitucional da Faculdade de Direito da Universidade de São 
Paulo. Doutor em Direito (FD/USP). Procurador da Fazenda Nacional.
Mediador: Professor Doutor José Duarte Neto (FCHS/UNESP)
APRESENTAÇÃO
Em 2013, o Departamento de Direito Público da FCHS/UNESP 
organizou seu "I Seminário de Direito do Estado", o qual consistiu em duas 
mesas de debates com professores convidados de outras instituições e do 
próprio departamento sobre “Reforma Política nos 25 anos da Constituição 
Federal de 1988”. Em 2014, nosso segundo Seminário abordou o tema 
“Novas Perspectivas para a Democracia Brasileira” e, além das conferências 
e debates, passou a compreender sessões de apresentações de trabalhos de 
pós-graduação e graduação.
Nesta terceira edição do Seminário, o tema escolhido foi “Teorias 
da Constituição e Novas Concepções de Cidadania”, o qual articula a área 
de concentração e as linhas de pesquisa do Programa de Pós-graduaçãoem Direito da FCHS/UNESP com questões contemporâneas de grande 
relevância nos campos do Direito Constitucional, do Direito Administrativo, 
da Teoria do Estado e da Ciência Política.
Assim como na edição anterior, o Seminário abordou a temática 
de maneira interdisciplinar, reunindo docentes, pesquisadores e estudantes. 
Em termos metodológicos, procurou-se promover, simultaneamente, 
o debate sobre a produção científi ca dos professores da própria FCHS/
UNESP, especialmente do Departamento de Direito Público (DDPB) – 
mas também em interação com outros Departamentos, e o intercâmbio 
de conhecimentos com outras instituições de ensino e pesquisa, por meio 
de conferências com professores convidados e apresentação de trabalhos 
de pesquisa de discentes. Uma inovação desta edição foi a inclusão de 
um debate sobre o ensino de Direito Público, com a participação de 
representantes do corpo discente.
Ocorreram três conferências com professores convidados: a 
primeira, proferida pelo Professor Doutor Thiago Marrara (USP-FDRP), 
abordou o tema "Políticas Públicas Regulatórias Setoriais e os Acordos de 
Leniência no Processo Administrativo Brasileiro”; a segunda, ministrada 
pela Professora Doutora Nina Beatriz Stocco Ranieri (FD/USP), trouxe uma 
abordagem sobre "Cidadania e Ensino Religioso na Dimensão Internacional 
e na Brasileira: as Questões Levantadas pela ADIn 4439/2010 frente ao 
princípio constitucional da laicidade do Estado"; e a terceira, proferida 
pelo Professor Doutor Roger Stiefelmann Leal(FD/USP) teve como tema 
“Teoria Constitucional e Cidadania”. Todas elas foram seguidas de debates 
com o público presente, mediados por professores da FCHS/UNESP.
As três sessões de debates com professores da FCHS/UNESP 
abordaram os seguintes temas: “Teorias da Constituição e a Cidadania 
na Dimensão Internacional” (Professores Doutores Murilo Gaspardo 
e Professora Regina Laisner); “Teorias da Constituição e a Cidadania 
Participativa nas Políticas Públicas” (Professores Doutores Elisabete 
Maniglia, José Carlos de Oliveira e José Duarte Neto); e “Teorias 
da Constituição e a Tutela e Efetividade dos Direitos da Cidadania” 
(Professores Doutores Ana Gabriela Mendes Braga e Fernando Fernandes).
O seminário também compreendeu sessões de comunicações 
orais nas quais foram apresentados onze trabalhos de pós-graduação e sete 
trabalhos de iniciação científi ca, os quais compõem estes Anais, divididos 
em três eixos temáticos: Teorias da Constituição e a Cidadania na Dimensão 
Internacional; Teorias da Constituição e a Cidadania Participativa nas 
Políticas Públicas; e Teorias da Constituição e a Tutela e Efetividade dos 
Direitos da Cidadania – também articuladas com as linhas de pesquisa do 
Programa de Pós-graduação em Direito da FCHS/UNESP.
Registramos, por fi m, nossos agradecimentos a todos os que 
colaboraram com a organização do Seminário, especialmente a: Direção da 
FCHS/UNESP e membros do Conselho de Departamento, que viabilizaram 
os recursos necessários para custear a vinda dos conferencistas externos 
à FCHS; todos os servidores técnico-administrativos da FCHS/UNESP, 
especialmente o assessor do DDPB, Márcio Augusto Garcia; e aos 
discentes membros da Comissão Organizadora, sobretudo àqueles que se 
dedicaram à publicação destes anais.
Esperamos que a leitura desses Anais seja útil para o 
aprofundamento do debate acadêmico sobre “Teorias da Constituição e 
Novas Concepções de Cidadania”.
Professor Doutor Murilo Gaspardo
Departamento de Direito Público
FCHS/UNESP – Campus de Franca – SP
SUMÁRIO
TRABALHOS DE PÓS-GRADUAÇÃO
EIXO 1: 
TEORIAS DA CONSTITUIÇÃO E A CIDADANIA NA DIMENSÃO
INTERNACIONAL
APARATOS NORMATIVO E INSTITUCIONAL DA UNASUL E A 
(IN)VIABILIDADE DE UMA INTEGRAÇÃO DEMOCRÁTICA
Alfredo Minuci Lugato ............................................................................19
CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS: ACESSO 
À SUA FUNÇÃO JURISDICIONAL E IMPLEMENTAÇÃO DA 
CIDADANIA EM ÂMBITO INTERNACIONAL
Guilherme Pinho Ribeiro
Marina Ribeiro da Silva ...........................................................................29
PRESIDÊNCIA DEMOCRÁTICA – GOVERNANÇA; 
DESENVOLVIMENTO HUMANO NA AMÉRICA LATINA
Suelen Otrenti ..........................................................................................43
EIXO 2: 
TEORIAS DA CONSTITUIÇÃO E A CIDADANIA PARTICIPATIVA
NAS POLÍTICAS PÚBLICAS
A PARTICIPAÇÃO POPULAR NO COMBATE À CORRUPÇÃO
Augusto Martinez Perez Filho .................................................................55
A PARTICIPAÇÃO CIDADÃ NOS SERVIÇOS PÚBLICOS 
DE SANEAMENTO BÁSICO
Christopher Abreu Ravagnani
José Carlos de Oliveira ............................................................................65
DEMOCRACIA E CONSTITUCIONALISMO, POLÍTICAS 
PÚBLICAS E DIREITOS SOCIAIS: A CONTRIBUIÇÃO 
DO PODER JUDICIÁRIO PARA A PROMOÇÃO DE UMA 
JUSTIÇA DISTRIBUTIVA
Renan Lucas Dutra Urban ........................................................................77
EIXO 3: 
TEORIAS DA CONSTITUIÇÃO E A TUTELA E EFETIVIDADE 
DOS DIREITOS DA CIDADANIA
DIREITOS HUMANOS, CIDADANIA E ESTADO CAPITALISTA: 
AS CONTRADIÇÕES E LIMITES DA LINGUAGEM DOS 
DIREITOS SOCIAIS COMO ESTRATÉGIA DE LUTA PARA 
A EMANCIPAÇÃO HUMANA
Cauê Ramos de Andrade
Stéfanie dos Santos Spezamiglio .............................................................97
CONSTITUIÇÃO FEDERAL E AUTONOMIA DO DIREITO: 
A PRESERVAÇÃO DA INTEGRIDADE DO DIREITO EM 
CONTEXTOS DE INSTABILIDADE POLÍTICO-ECONÔMICA
Guilherme Bollini Polycarpo
 Felipe Rodrigues Xavier
Lucas Jonas Fernandes ...........................................................................113
PRESTAÇÃO JURISDICIONAL E CIDADANIA: O CONSELHO 
NACIONAL DE JUSTIÇA E A ACCOUNTABILITY HORIZONTAL
Marina Ribeiro da Silva
Guilherme Pinho Ribeiro .......................................................................129
O PAPEL DO DIREITO NA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA: SOBRE 
COMO A TEORIA CONSTITUCIONAL SUBSTANCIALISTA 
AUXILIA NA REALIZAÇÃO DOS DIREITOS DE CIDADANIA 
NA PERSPECTIVA DOS EXCLUÍDOS DO PROCESSO 
POLÍTICO TRADICIONAL
Henrique Duz Hass ................................................................................141
O MUNICÍPIO COMPETENTE PARA A COBRANÇA DO IMPOSTO 
SOBRE SERVIÇOS (ISS) NO CASO DO ARRENDAMENTO 
MERCANTIL EA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DIANTE O 
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Luciana Campanelli Romeu ...................................................................157
TRABALHOS DE GRADUAÇÃO
EIXO 1: 
TEORIAS DA CONSTITUIÇÃO E A CIDADANIA NA DIMENSÃO
INTERNACIONAL
A CIDADANIA PARTICIPATIVA NA DIMENSÃO 
INTERNACIONAL: O PAPEL DA AMÉRICA LATINA ENQUANTO 
AGENTE POLÍTICO NA GOVERNANÇA GLOBAL
Jackeline Ferreira da Costa ....................................................................175
A EXIGÊNCIA DO EXERCÍCIO DA CIDADANIA NO 
CONTEXTO DA GLOBALIZAÇÃO E A DETERIORAÇÃO 
DESSE EXERCÍCIO PELOS CIDADÃOS DA UNIÃO EUROPEIA 
FRENTE À CRISE ECONÔMICA
Laura Rizzo
Renan Fernandes Duarte ........................................................................185
O CONSTITUCIONALISMO GARANTISTA E A EMERGÊNCIA DE 
UM NOVO PARADIGMA: DIÁLOGO ENTRE O PENSAMENTO 
DE BOAVENTURA DE SOUZA SANTOS E LUIGI FERRAJOLI 
PARA O ALCANCE DE UMA CIDADANIA INTERNACIONAL 195
Raquel Gutierrez de Azevedo
Victor Siqueira Serra ..............................................................................199
EIXO 2: 
TEORIAS DA CONSTITUIÇÃO E A CIDADANIA PARTICIPATIVA
NAS POLÍTICAS PÚBLICAS
A JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE NA JURISPRUDÊNCIA DO 
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E O CONTROLE JUDICIAL 
DE POLÍTICAS PÚBLICAS: CONTRIBUTOS DO MODELO DE 
SOCIEDADE ABERTA DOS INTÉRPRETES DA CONSTITUIÇÃO
Ana Cristina Alves de Paula
Edilberto Marassi Basílio Silveira Júnior ..............................................213
EIXO 3: 
TEORIAS DA CONSTITUIÇÃO E A TUTELA E EFETIVIDADE 
DOS DIREITOS DA CIDADANIA
A CRISE DO ESTADO DEMOCRÁTICO E A EFETIVAÇÃO 
DOS DIREITOS DO CIDADÃO
Adolfo Raphael Silva Mariano de Oliveira
Dana Rocha Silveira ..............................................................................235LIBERDADE DE EXPRESSÃO RELIGIOSA E 
DISCURSO DO ÓDIO HOMOFÓBICO
Jéssica Costa ..........................................................................................253
DESDOBRAMENTOS DO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE 
E PROTEÇÃO DEFICIENTE DO ESTADO
Renata Canevaroli de Souza ..................................................................267
AS “CLÁUSULAS PÉTREAS” APLICADAS AOS DIREITOS 
SOCIAIS FUNDAMENTAIS: UMA DEFESA DA CIDADANIA NO 
ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
Tiago Fernando Guedes de Carvalho .....................................................283
TRABALHOS DE PÓS-GRADUAÇÃO
EIXO 1: 
TEORIAS DA CONSTITUIÇÃO E A CIDADANIA NA 
DIMENSÃO INTERNACIONAL
Anais do III Seminário de Direito do Estado
Teorias da Constituição e as novas concepções de cidadania 19
APARATOS NORMATIVO E INSTITUCIONAL 
DA UNASUL E A (IN)VIABILIDADE DE UMA 
INTEGRAÇÃO DEMOCRÁTICA
Alfredo Minuci Lugato*1
 
INTRODUÇÃO
O presente trabalho justifi ca-se pela importância de uma iniciativa 
que emerge da vontade de todos os países de um subcontinente, que poderá 
construir, sob o prisma da cooperação e da integração, novos mecanismos 
para seu desenvolvimento, e pela análise crítica da institucionalidade e 
dos procedimentos que providenciarão ou impedirão a consecução de tão 
auspiciosos objetivos.
O objetivo principal é a investigação dos motivos que (in)
viabilizam uma integração democrática a partir dos aparatos normativo e 
institucional da UNASUL. Para tanto, busca analisar como a democracia 
se desenvolve diante das diferentes esferas decisórias que transcendem a 
soberania do Estado. Estuda, também, os objetivos da UNASUL na busca 
de uma integração que corrobore em desenvolvimento socioeconômico e 
na construção de uma cidadania sul-americana.
Fundada por seu Tratado Constitutivo em 2008, a União de 
Nações Sul-Americanas (UNASUL) é mais uma iniciativa de integração 
regional no seio da América do Sul. Sua gama de objetivos que transcendem 
fi ns comerciais e sua composição por todos os países do subcontinente, 
entretanto, distinguem-na dos outros blocos. Todavia, sua confi guração 
institucional precária gera desconfi ança sobre seu sucesso em concretizar 
suas aspirações. (BARALDI, VENTURA, 2008, p. 14). Diante disso, 
questiona-se: os aparatos normativo e institucional da UNASUL viabilizam 
uma integração democrática? 
Para desenvolver a problemática, inicialmente serão abordadas 
as limitações da soberania dos Estados no mundo contemporâneo, assim 
como a convivência destes com atores transnacionais, para então discutir o 
ideário democrático frente as novas esferas decisórias e como a UNASUL 
pretende gerar desenvolvimento nos países-membros através da integração.
 Bacharel em Direito pela Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade 
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”.
Anais do III Seminário de Direito do Estado
Teorias da Constituição e as novas concepções de cidadania 20
A abordagem será multidisciplinar, pois a Teoria do Estado 
e a Ciência Política fornecerão conceitos e premissas basilares para o 
desenvolvimento do presente trabalho. Será adotado o método dialético 
para compreender a institucionalidade e os procedimentos da UNASUL 
perante as ideias bases de democracia, forjadas para o Estado-Nação. Por 
fi m, buscar-se-á nas experiências da União Europeia, do MERCOSUL e 
da CAN, elementos empíricos para comparações com as instituições e 
procedimentos da UNASUL.
1 O MUNDO GLOBALIZADO CONTEMPORÂNEO, AS
ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS E A DEMOCRACIA
A primeira noção de soberania estatal pertence ao francês 
Jean Bodin que, em 1576 (GUIMARÃES, 2013), em um contexto de 
consolidação dos Estados Nacionais na Europa sob a forma de absolutismo 
monárquico, atribui a ideia de “poder absoluto e perpétuo”.
 Para o autor francês, a soberania consiste no direito de: 1. 
Dar leis a todos e a cada um em particular; 2. Declarar a guerra e negociar 
a paz; 3. Nomear os principais magistrados e funcionários; 4. Decidir em 
última instância e de conceder a graça aos condenados; 5. Cunhar moedas 
e de estabelecer pesos e medidas; e 6. Gravar os súditos com impostos e 
contribuições. (LEWANDOWSKI, 1997, p. 235).
Após o Tratado de Paz de Vestefália, datado de 1648, que encerra 
a Guerra dos 30 anos, redefi ne as fronteiras e visa estabelecer a paz entre os 
Estados europeus, passa-se a compreender a soberania como um poder de 
duas vertentes: a soberania interna, no sentido de supremacia, e a soberania 
externa, sinônimo de independência (LEWANDOWSKI, 1997, p. 235).
Tal concepção, que prevalece nos séculos seguintes e demonstra 
uma comunidade internacional incipiente, perpassa pela Santa Aliança e 
pelo Concerto Europeu, “culmina na Sociedade das Nações e esgota-se na 
Segunda Guerra Mundial”. (GUIMARÃES, 2013, p. 103).
Pois, no cenário pós-guerra, constata-se uma Europa horrorizada 
e abarrotada por prejuízos humanos e materiais de proporções até então 
desconhecidas (JEDLICK, 2011, p. 42), e o mundo perplexo com o 
potencial destrutivo das armas nucleares empregadas. Tal panorama 
cristaliza a necessidade de dar efetividade ao direito internacional público, 
por meio de instituições capazes de prover em escala mundial a paz e 
Anais do III Seminário de Direito do Estado
Teorias da Constituição e as novas concepções de cidadania 21
os direitos humanos. (GUIMARÃES, 2013, p. 105). Nessa perspectiva, 
surge, em 1945, a Organização das Nações Unidas (ONU).
Da mesma forma, países europeus ocidentais, atentos ao que ocorria 
do outro lado da “Cortina de ferro”, buscaram na integração o alicerce para 
a reconstrução. Em 1948, foi criada a Organização Europeia de Cooperação 
Econômica. No ano seguinte, foram fundados o Conselho da Europa e o 
Tratado do Atlântico Norte (com participação estadunidense). Em 1951, foi 
criada, pelo Tratado de Paris, a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço 
(CECA), “a primeira instituição europeia com um objetivo de integração”1, 
que foi concebida com traços de supranacionalidade: isto é, uma Alta 
Autoridade independente dos governos nacionais e uma Corte de Justiça 
que, nos anos posteriores, consagrava o princípio da primazia do direito 
europeu sobre os ordenamentos nacionais (JEDLICK, 2011, p. 42-43).
Após o maior confl ito bélico da história, os Estados Unidos da 
América emergem como a maior potência econômica e política do globo. 
Sob sua liderança e com o apoio do Reino Unido, passou-se a discutir 
a reestruturação “do sistema internacional de controle das relações 
monetárias e comerciais internacionais”. (PINHEIRO, 2009, p. 34). Nessa 
toada, os EUA convocaram 44 países para uma conferência internacional 
na cidade de Bretton Woods, que culminou em negociações que resultaram 
na constituição do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial. 
(PINHEIRO, 2009, p. 35-36). Tais instituições, cuja governança foi 
estruturada para garantir uma liberalização do mercado, atendendo aos 
anseios dos EUA, em detrimento de uma dinâmica democrática, foram 
fundamentais na coordenação da globalização fi nanceira neoliberal das 
décadas de 70 e 80, caracterizada pela “integração sistêmica da economia 
em nível supranacional” e pela “ampliação das redes empresariais, 
comerciais e fi nanceiras em escala mundial”, que ao transcenderem 
as fronteiras, impossibilitaram controle político efetivo pelos Estados. 
(FARIA, 2002, p. 52).
Dessa maneira, os Estados nacionais passam a não ter mais pleno 
controle sobre questões da esfera econômica, como sua política monetária 
e fi scal. Além de ter que buscar junto à comunidade internacional soluções 
para enfrentar problemas como epidemias globais, tráfi co de armamentos, 
crises migratórias e o aquecimento global. Nesse sentido, o Estado 
moderno está cada vez mais inserido em redes de interligações regionais e 
globais, permeadas por forças intergovernamentais e transnacionais quase 
1 No original: “la primera institución europea con un objetivo de 
integracion”.(Tradução livre).
Anais do III Seminário de Direito do Estado
Teorias da Constituição e as novas concepções de cidadania 22
supranacionais, e impossibilitado de decidir seu próprio destino. (HELD, 
MCGREW, 2005, p. 35-36).
Portanto, o “Estado não detém a exclusividade da tomada e 
concretização das decisões que afetam a coletividade”. (GASPARDO, 
2015, p. 102). Assim, Clève (2006, p. 321), argumenta que o Estado se 
vê diante de um “paradoxo”, “já que a defesa da soberania não se faz 
apenas desde dentro; faz-se, agora, também, a partir de medidas tomadas 
no contexto da comunidade internacional”. Evidencia-se, então, uma 
limitação da ideia de Estado soberano.
Com o fenômeno da globalização, as estruturas institucionais, 
organizacionais, políticas e jurídicas forjadas desde os séculos XVII e 
XVIII tendem a perder tanto sua centralidade quanto sua exclusividade. 
(...) Com isso, as intervenções regulatórias, os mecanismos de controle 
e direção socioeconômicos e as concepções de ‘segurança nacional’ que 
instrumentalizaram as estratégias de planejamento entre o pós-guerra e os 
anos 70 perdem vigor e efetividade. (FARIA, 2002, p. 32).
Por outro lado, salienta-se que o Estado sempre conviveu com 
questões que transcendiam suas competências, como as ecológicas e 
nucleares. Porém, nota-se o crescimento dessas questões com o aumento 
da circulação de capitais, bens e pessoas em nível global, propiciados pelas 
revoluções tecnológicas. Nesse panorama, as organizações internacionais 
são instrumentos que possibilitam que os Estados canalizem suas demandas 
para uma esfera decisória que tenha efi cácia, seja em nível de governança 
interestatal, regional ou global. Sendo que, “em muitos casos o nível 
regional pode emergir como o mais apropriado nível de governança”.2 
(ARCHIBUGI, 2004, p. 449).
Nesse ponto, exsurge uma questão fundamental: como podem 
essas organizações internacionais conduzir assuntos que afetam diretamente 
o Estado e seus cidadãos de modo legítimo? O problema é corolário da 
ideia de democracia, que foi concebida como regime a ser exercido pelo 
Estado-Nação. (GASPARDO, 2015, p. 107).
Reconhecidamente cético em relação a sistemas democráticos 
nas organizações internacionais, Dahl (1999, p. 20) assevera que qualquer 
tipo de governo dessas fi cará aquém do sistema de controle popular sobre 
as políticas e decisões governamentais próprio da democracia estatal. Em 
outro extremo, Moravcsick (2005, p. 225) defende a legitimidade das 
instituições e mecanismos da União Europeia.
2 No original: “In many cases the regional level might emerge as the most appropriate 
level of governance”. (Tradução livre).
Anais do III Seminário de Direito do Estado
Teorias da Constituição e as novas concepções de cidadania 23
Keohane e Nye Jr (2001, p. 236) argumentam que a base da 
legitimidade das democracias estatais está na boa articulação dos inputs 
políticos, e que estes são muito enfraquecidos no cenário internacional. 
As ideias de inputs, accountability e controle popular, assim como a de 
segurança jurídica, serão fundamentais na análise da legitimidade da 
estrutura institucional e dos procedimentos da UNASUL.
2 UNIÃO DE NAÇÕES SUL-AMERICANAS (UNASUL): UMA
NOVA CONCEPÇÃO DE INTEGRAÇÃO NA AMÉRICA DO SUL
A UNASUL não é o primeiro bloco regional do subcontinente. 
O Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) e a Comunidade Andina de 
Nações (CAN) são organizações que visam a integração de fi ns econômicos 
entre seus países e que passam por difi culdades, muitas delas frutos de 
suas institucionalidades. O primeiro, que visava a constituição de um 
Mercado Comum, consiste numa união imperfeita; a segunda, que buscava 
a consolidação de uma união aduaneira, se estabeleceu como uma zona de 
livre comércio. (SARAIVA, 2011, p. 9).
“Apoiadas na história compartilhada e solidária” de suas nações 
(UNASUL, 2008), a UNASUL sonha com “a consolidação de uma 
identidade e a criação de uma cidadania sul-americana”. (BARALDI, 
VENTURA, 2008, p. 15). De fato, a integração do subcontinente, 
dominado pelo imperialismo econômico e cultural estadunidense, deve 
almejar voos altos. Para tanto, destaca-se, aqui, a exclusão de outros 
países latinos da América, infl uenciados ainda mais pelos Estados Unidos, 
como o México, embora estes possam ser integrados posteriormente ao 
bloco. (UNASUL, 2008).
Nesse sentido, a UNASUL destaca-se por suas aspirações em 
concretizar direitos humanos diversos e viabilizar uma infraestrutura que 
propicie desenvolvimento socioeconômico. Objetiva erradicar a pobreza e 
o analfabetismo e garantir a seguridade social universal, assim como uma 
“integração energética” e “cooperação em matéria de migração”, entre outros 
muitos anseios, além de uma “integração fi nanceira”. (UNASUL, 2008).
A pauta diversifi cada “que rompe a tradição comercial dos acordos 
subcontinentais” (BARALDI, VENTURA, 2008, p. 14) é audaciosa para 
países semiperiféricos, e fruto de governos identifi cados com a esquerda. 
Além do mais, são nítidas questões que necessitam de cooperação regional: 
Bacia do Prata, Aquífero Guarani, Floresta Amazônica, políticas de defesa 
Anais do III Seminário de Direito do Estado
Teorias da Constituição e as novas concepções de cidadania 24
e segurança, controle de doenças como a aftosa e gargalos na infraestrutura 
que atrapalham as exportações são alguns exemplos que podem ser citados.
A variedade de metas poderá permitir que algumas delas sejam 
mais fáceis de serem negociadas: por exemplo, garantir direitos básicos de 
saúde e acesso universal à educação a seus habitantes é desejo de todos. Em 
contrapartida, temas como “integração fi nanceira, industrial e produtiva” 
(UNASUL, 2008) exigirão um esforço maior e instituições aptas para sua 
implementação, através de procedimentos normativos legítimos e efi cazes.
3 ESTRUTURAS NORMATIVAS E INSTITUCIONAL DA
UNASUL: UM INTEGRACIONISMO DEMOCRÁTICO?
A UNASUL adotou um modelo intergovernamental de 
integração; isto é, seu órgão máximo, que decidirá os rumos do bloco, é o 
Conselho de Chefas e Chefes de Estado e de Governo. (UNASUL, 2008). 
Tal opção pode ser compreendida se contextualizada pela forte tradição 
presidencialista presente no subcontinente e pelo temor em delegar 
competências a órgãos supranacionais, que seriam compostos por países 
de assimetrias econômicas enormes.
Entretanto, a ausência de instituições supranacionais implica 
que a efi cácia das decisões dependerá de cada um dos Estados-membros. 
Assim, a necessidade de cada país incorporar ao seu ordenamento jurídico 
as deliberações do bloco cria grande insegurança jurídica e pode engessar a 
integração. Além do mais, a primazia dos governos nacionais na condução 
do bloco, em detrimento de instituições autônomas, leva a outra questão, 
que é apontada por Archibugi (2004, p. 441): “Estados democráticos não 
necessariamente aplicam em sua política externa os mesmos princípios e 
valores em que seus sistemas internos são construídos”.3 Outro problema 
de se ter como instância máxima o conjunto de chefes dos executivos é 
que esse órgão não terá representação das diversas forças políticas de 
cada país, contrariando o ideal democrático “do confl ito de interesses e da 
disputa equilibrada entre as partes, em termos de poder, e na possibilidade 
de controle e contestações de decisões tomadas.” (MARIANO, 2013, p. 
95). Também contraria a segurança jurídica da integração a possibilidade 
de os Estados se eximirem “de aplicar total ou parcialmente uma política 
adotada” pelo bloco. (UNASUL, 2008).
3 No original: “democratic states do not necessarily aplly to their foreign policy those 
same principles and values upon which their internal system is built”. (Tradução livre).
Anais do III Seminário de Direito do Estado
Teorias da Constituição e as novas concepções de cidadania 25
Salienta-se, ainda, que o caráter não permanente de trabalho dos 
principais órgãos é incompatível com o rol de aspirações.Ao analisar a 
dinâmica institucional da UNASUL, Baraldi e Ventura (2008, p. 15) 
alertam que “os governos sul-americanos seguem desprezando a variedade 
da tecnologia jurídica forjada pelas organizações internacionais quando 
realmente desejam funcionar”.
Visualiza-se também problemas na adoção da regra do consenso 
para “toda a normativa da UNASUL”. (UNASUL, 2008). Obviamente, e 
como já mencionado, uma integração fundada no modelo intergovernamental 
depende que cada país internalize as deliberações do bloco, sendo, portanto, 
a efi cácia das medidas em todos os membros intrínseca a ideia de consenso. 
Porém, numa possível curva em direção à supranacionalidade, por 
exemplo, com a institucionalização do previsto Parlamento Sul-Americano 
(UNASUL, 2008), a regra do consenso constituirá, por si só, um empecilho 
ao aprofundamento da integração. A adoção da “regra da maioria”, basilar 
nos regimes democráticos estatais e no processo legislativo da União 
Europeia, entretanto, demandará uma complexa engenharia para conciliar 
maioria de países, habitantes e representantes.
O défi cit de representatividade pode ser amenizado pela 
constituição do Parlamento. Porém, Mariano (2013, p. 94) cita o exemplo 
do MERCOSUL para alertar que “a mera existência de uma instituição 
representativa não é sufi ciente para garantir a democratização do processo”. 
Da mesma forma, o Parlamento Europeu, embora tenha conquistado 
maiores poderes desde sua gênese, não eliminou o poder dos tecnocratas 
na gestão da União Europeia. Além do mais, nota-se uma crise geral de 
representatividade dentro dos Estados.
Ainda, a ausência de um sistema de soluções de controvérsias 
efi caz põe em cheque a capacidade de interpretação imparcial das normas 
e, consequentemente, o princípio da legalidade. Divergindo os países sobre 
o sentido das normas, eles terão a “negociação direta” como mecanismo 
de solução. Caso infrutífera, caberá aos órgãos da UNASUL a tentativa de 
solução (UNASUL, 2008), sem, no entanto, terem meios para vinculá-los.
Por fi m, a UNASUL aspira na participação popular uma fonte 
de legitimidade que deve “permear todo o funcionamento das instâncias 
do bloco”, pois ela é colocada “como objetivo específi co do bloco”. 
(BARALDI, VENTURA, 2008, p. 15). Sem dúvida, a participação da 
sociedade, tanto na eleição de representantes como no controle sobre as 
decisões políticas, que devem ser públicas, é fundamental. Entretanto, 
Anais do III Seminário de Direito do Estado
Teorias da Constituição e as novas concepções de cidadania 26
a normativa da UNASUL não especifi ca como será a participação dos 
cidadãos na construção da integração.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A UNASUL foi concebida em um contexto em que os países da 
América do Sul, após a redemocratização e a predominância da infl uência 
neoliberal do Norte no fi nal do século XX, viram ascender ao poder 
governos identifi cados com a esquerda. Objetivando uma integração 
para além do comércio, os governos não cederam em coordenar o bloco, 
contando, para isso, com apoio de órgãos burocráticos.
O conteúdo progressista e o apreço pela democracia materializado 
no Protocolo Adicional ao Tratado Constitutivo da UNASUL (UNASUL, 
2010) consubstanciam um promissor pano de fundo em um subcontinente 
negligente com os direitos sociais e em constante fl erte com autoritarismos. 
Entre o ideário e a concretização de seus objetivos, entretanto, há um 
longo caminho. Nesse sentido, os aparatos normativo e institucional da 
UNASUL devem prever mecanismos aptos e legítimos ao desenvolvimento 
da integração. Porém, a predominância dos Executivos nacionais na 
direção do bloco e a não instauração do previsto Parlamento demonstram 
falta de representatividade e de pluralidade no bloco. A UNASUL prevê 
a consolidação de uma “cidadania sul-americana”, mas elitiza seus 
procedimentos ao ignorar até agora a participação popular como fonte de 
legitimidade. Para uma integração democrática é necessária a atuação de 
um Parlamento plural e com efetivos poderes, de um sistema de soluções 
de controvérsias imparcial e efi caz e de meios dos cidadãos exercerem 
controle social sobre as políticas adotadas, que devem ser transparentes.
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Anais do III Seminário de Direito do Estado
Teorias da Constituição e as novas concepções de cidadania 29
CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS 
HUMANOS: ACESSO À SUA FUNÇÃO JURISDICIONAL 
E IMPLEMENTAÇÃO DA CIDADANIA EM 
ÂMBITO INTERNACIONAL
Guilherme Pinho Ribeiro1*
Marina Ribeiro da Silva 2**
INTRODUÇÃO
Após as barbáries cometidas na Segunda-Guerra Mundial, a 
comunidade internacional entendeu não mais ser prudente deixar a defesa 
e garantias do indivíduo exclusivamente nas mãos do Estado. Diante desta 
postura da comunidade internacional, instaurou-se um sistema global de 
proteção dos direitos humanos (que não será objeto deste trabalho) e um 
outro nível, com bases regionais, de proteção aos direitos humanos. São 
eles: o Sistema Europeu, Sistema Africano e Sistema Americano. Ou seja, 
com o avento deste processo de globalização dos direitos humanos, há, 
além das esferas jurídicas internas do Estado, uma esfera internacional de 
proteção aos Direitos Humanos. (OLIVEIRA; MAEOKA, 2009, p. 230).
Veja, o principal objetivo deste aparato multinível de proteção 
ao indivíduo é, justamente, benefi ciar o indivíduo alvo de violações aos 
direitos Humanos. Desta maneira, o que defi nirá o aparato de proteção aos 
direitos humanos a ser utilizado (ou o sistema global ou o regional) será 
aquele escolhido pelo indivíduo. Obviamente, aquele que oferecer a maior 
amplitude de proteção. (PIOVENSA, 2010, p. 256).
O principal instrumento normativo do Sistema Interamericano 
é a Convenção Interamericana de Direitos Humanos (também conhecido 
como Pacto San José da Costa Rica) de 1969, estabelecendo dois órgãos 
de fi scalização à Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a Corte 
Interamericana de Direitos Humanos. (PIOVESAN, 2010, p. 253). Apesar 
de assinado em 1969, somente em 1978 passou a vigorar, podendo fazer 
parte apenas Estados membros da Organização dos Estados Americanos. 
 Advogado. Mestrando em Direito pela Faculdade de Ciências Humanas e Sociais de 
Franca, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FCHS/UNESP). 
Endereço do CV: http://lattes.cnpq.br/9740238115213457.
 Advogada. Mestranda em Direito pela Faculdade de Ciências Humanas e Sociais 
de Franca, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho” (FCHS/UNESP). 
Endereço do CV: http://lattes.cnpq.br/6423217930649189.
http://lattes.cnpq.br/9740238115213457.
http://lattes.cnpq.br/
Anais do III Seminário de Direito do Estado
Teorias da Constituição e as novas concepções de cidadania 30
Além deste documento instituidor dos órgãos de fi scalização, em 1988 foi 
instituído o Protocolo Adicional, denominado Tratado de São Salvador, 
com objetivo de normatizar a proteção dos direitos econômicos, sociais 
e culturais, passando a vigorar em 1988. (OLIVEIRA; MAEOKA, 2009, 
p. 232). Até a assinatura deste protocolo adicional, não havia previsão, 
no Sistema Interamericano, destes direitos econômicos e sociais, apenas a 
determinação de que os Estados buscariam progressivamente a realização 
destes direitos com metas legislativas, conforme se verifi ca no art. 26 do 
Pacto Santo José da Costa Rica, a seguir descrito:
Artigo 26 - Desenvolvimento progressivo
Os Estados-partes comprometem-se a adotar as providências, 
tanto no âmbito interno, como mediante cooperação 
internacional, especialmente econômica e técnica, a fi m de 
conseguir progressivamente a plena efetividade dos direitos 
que decorrem das normas econômicas, sociais e sobre 
educação, ciência e cultura, constantes da Carta da Organização 
dos Estados Americanos, reformada pelo Protocolo de 
Buenos Aires, na medida dos recursos disponíveis, por via 
legislativa ou por outros meios apropriados.
Desta maneira é possível apreender uma dupla posição assumida 
entre o Estado-parte e a Convenção: uma obrigação de cunho negativo, 
no sentido de não violar direitos individuais, como, por exemplo, o dever 
de não torturar um indivíduo. Além deste, o Estado assume uma postura 
positiva, possibilitando a adoção de medidas afi rmativas necessárias e 
razoáveis para o exercício de determinados direitos (PIOVESAN, 2010, p. 
257-58). Logo, verifi ca-se que a preocupação da Convenção não é apenas 
no sentido de garantir aqueles direitos tidos liberais, de primeira geração, 
mas também os direitos sociais de segunda geração, em que se espera uma 
posição ativa do Estado, não de abstenção, de não fazer.
O aparato de monitoramento e implementação dos direitos 
enunciados pela Convenção são: a Comissão Interamericana de Direitos 
Humanos e a Corte Interamericana de Direitos Humanos. Conforme 
ensinamento de GALINDO (2014, p. 149):
Os órgãos que compõem o Sistema Interamericano são a 
Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH 
ou Comissão), que por sua vez está a cargo dos diferentes 
Relatórios do sistema, e a Corte Interamericana de Direitos 
Humanos (Corte IDH ou Corte). O primeiro foi criado com 
o objetivo de promover a observância e defesa dos direitos 
Anais do III Seminário de Direito do Estado
Teorias da Constituição e as novas concepções de cidadania 31
humanos na região e ser o órgão consultivo da Organização 
dos Estados Americanos (OEA), em matéria de direitos 
humanos, enquanto a Corte IDH é o órgão judicial do sistema 
responsável pela interpretação e aplicação da CADH, de 
acordo com os casos que sejam apresentados sob a sua 
jurisdição. Ambos os órgãos têm trabalho complementar 
dentro do sistema de petições individuais, em que perante a 
CIDH é esgotada a primeira fase do procedimento e na Corte 
IDH a fase fi nal do mesmo, se for o caso.
1 COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos foi criada em 
1959, pela Organização dos Estados Americanos, para a promoção dos 
direitos humanos na região, além de servir como órgão consultivo à OEA, 
realizando suas funções através de relatórios que advertiam e relacionavam 
as violações de direitos humanos perpetradas nos países membros da OEA. 
(GALINDO, 2014, p. 150). Após este primeiro momento houve uma 
ampliação em seus trabalhos, passando a formular recomendações aos 
Estados, atender consultas realizadas por Estados-membros e a realização 
de processamento de petições individuais no sistema, procedimento que 
será explicado mais adiante (GALINDO, 2014, p. 150). É constituída por 7 
membros eleitos pela Assembleia Geral da OEA, de alta integridade moral 
e reconhecido saber em matéria de direitos humanos. Tem Washington 
como sede. Sempre que há uma vaga, é apresentada lista contendo até 
três nomes, apresentada pelos Estados-membros. O mandato é quatrienal e 
admite-se mais uma reeleição. (JAYME, 2008, p. 87).
O objetivo primordial da Comissão Interamericana de Direito 
Humanos é a de proteção e observância dos direitos humanos na América. 
(PIOVESAN, 2010, p. 259). Ainda segundo a autora, a atuação desta 
Comissão se dá através de recomendações aos governos dos Estados-partes, 
no sentido de tomarem medidas adequadas à proteção desses direitos.
De maneira continuada, a função primordial da Comissão 
Interamericana de Direitos Humanos é de observância e proteção dos 
direitos humanos na América. Uma das maneiras de seu exercício são as 
consultas que podem ser realizadas por qualquer Estado membro da OEA 
à Comissão. Estas consultas consistem em dar aconselhamento no sentido 
de melhorar o nível de cumprimento dos direitos humanos contidos na 
Convenção Americana de Direitos Humanos. Como salienta George 
Anais do III Seminário de Direito do Estado
Teorias da Constituição e as novas concepções de cidadania 32
RodrigoBandeira Galindo (2014, p. 152), estas recomendações (através 
das consultas) tem um caráter preventivo, que tem como objetivo evitar 
futuros danos aos direitos humanos. Ainda, além desta função consultiva, 
– apesar do reconhecimento de não possuir poderes jurisdicionais – a 
Comissão é órgão essencial à ordem jurídica internacional. Isto porque, 
qualquer processo a ser proposto perante a Corte Interamericana de 
Direitos Humanos passa, obrigatoriamente, por um procedimento prévio 
perante a Comissão. Segundo Fernando Gonzaga Jayme (2008, p. 88), 
este procedimento é dirigido observando-se o contraditório e, segundo 
a própria Convenção Americana de Direitos Humanos, é condição de 
procedibilidade para que a Corte possa conhecer e julgar de um processo, 
de maneira que se mostra irrenunciável e irrecusável.
Compete à Comissão o exame das comunicações enviadas por 
indivíduo, ou grupo de indivíduos e, ainda entidades não governamentais 
que denunciem violação a direitos humanos consagrados na Convenção 
Americana de Direitos Humanos. (PIOVESAN, 2010, p. 261). Tal 
constatação pode ser feita através da leitura dos arts. 41, alínea “f” e 44, 
a seguir transcritos:
Artigo 41 - A Comissão tem a função principal de promover 
a observância e a defesa dos direitos humanos e, no exercício 
de seu mandato, tem as seguintes funções e atribuições:
a) estimular a consciência dos direitos humanos 
nos povos da América;
b) formular recomendações aos governos dos Estados-
membros, quando considerar conveniente, no sentido de 
que adotem medidas progressivas em prol dos direitos 
humanos no âmbito de suas leis internas e seus preceitos 
constitucionais, bem como disposições apropriadas para 
promover o devido respeito a esses direitos;
c) preparar estudos ou relatórios que considerar convenientes 
para o desempenho de suas funções;
d) solicitar aos governos dos Estados-membros que lhe 
proporcionem informações sobre as medidas que adotarem 
em matéria de direitos humanos;
e) atender às consultas que, por meio da Secretaria Geral 
da Organização dos Estados Americanos, lhe formularem 
os Estados-membros sobre questões relacionadas com os 
direitos humanos e, dentro de suas possibilidades, prestar-
lhes o assessoramento que lhes solicitarem;
Anais do III Seminário de Direito do Estado
Teorias da Constituição e as novas concepções de cidadania 33
f) atuar com respeito às petições e outras comunicações, no 
exercício de sua autoridade, de conformidade com o disposto 
nos artigos 44 a 51 desta Convenção; e
g) apresentar um relatório anual à Assembleia Geral da 
Organização dos Estados Americanos.
Artigo 44 - Qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou 
entidade não-governamental legalmente reconhecida em um 
ou mais Estados-membros da Organização, pode apresentar 
à Comissão petições que contenham denúncias ou queixas de 
violação desta Convenção por um Estado-parte.
Veja, assim como no Sistema Global, a petição deve obedecer 
determinados requisitos de admissibilidade, sendo um deles o prévio 
esgotamento dos recursos judiciais internos, excetuando-se aquelas situações 
em que houver demorar injustifi cado ou mesmo quando o ordenamento 
interno do país não possibilitar o devido processo legal. (PIOVESAN, 
2010, p. 261). Ainda segundo a autora (p. 262), há a necessidade de não 
existir litispendência ou coisa julgada internacional. Ou seja, não pode o 
indivíduo ou grupo ou entidade, e. g, ter ingressado com a mesma petição 
em outro sistema internacional de proteção aos direitos humanos.
A primeira função da Comissão, ao receber uma comunicação (em 
forma de petição) é, justamente, esta análise de admissibilidade para, então, 
encaminhar o pedido de solicitação de informações ao Estado denunciado. 
Vide redação do art. 46 da Convenção Americana de Direitos Humanos:
Artigo 46 - Para que uma petição ou comunicação 
apresentada de acordo com os artigos 44 ou 45 seja admitida 
pela Comissão, será necessário:
a) que hajam sido interpostos e esgotados os recursos da 
jurisdição interna, de acordo com os princípios de Direito 
Internacional geralmente reconhecidos;
b) que seja apresentada dentro do prazo de seis meses, 
a partir da data em que o presumido prejudicado em seus 
direitos tenha sido notifi cado da decisão defi nitiva;
c) que a matéria da petição ou comunicação não esteja 
pendente de outro processo de solução internacional; e
d) que, no caso do artigo 44, a petição contenha o nome, 
a nacionalidade, a profi ssão, o domicílio e a assinatura da 
pessoa ou pessoas ou do representante legal da entidade 
que submeter a petição.
2. As disposições das alíneas "a" e "b" do inciso 1 deste 
artigo não se aplicarão quando:
Anais do III Seminário de Direito do Estado
Teorias da Constituição e as novas concepções de cidadania 34
a) não existir, na legislação interna do Estado de que se tratar, 
o devido processo legal para a proteção do direito ou direitos 
que se alegue tenham sido violados;
b) não se houver permitido ao presumido prejudicado em 
seus direitos o acesso aos recursos da jurisdição interna, ou 
houver sido ele impedido de esgotá-los; e
c) houver demora injustifi cada na decisão sobre os 
mencionados recursos.
Superada a fase da admissibilidade (que será tratada de forma 
mais detalhada na seção específi ca deste trabalho), a Comissão buscará 
uma solução amistosa entre as partes, uma espécie de conciliação entre o 
Estado denunciado e o denunciante. (PIOVESAN, 2010, p. 264).
Não havendo esta solução amistosa, a Comissão redigirá relatório 
constando os fatos e conclusões referentes ao caso e, se for cabível, 
recomendações ao Estado-parte. (PIOVENSA, 2010, p. 264). Prossegue 
referida autora, no sentido de que este relatório será encaminhado ao Estado-
parte para que, no prazo de três meses, dê cumprimento às recomendações 
feitas. Dentro deste prazo o caso poderá ser encaminhado à apreciação da 
Corte Interamericana de Direitos Humanos em duas hipóteses: ou a pedido 
da Comissão ou a pedido do próprio Estado-parte. É o que se extrai da 
redação do art. 61 da Convenção Americana de Direitos Humanos.
2 CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS
A Corte Interamericana de Direitos Humanos é órgãos 
jurisdicional do Sistema Interamericano de Direitos Humanos. Sua criação 
se deu em 1969 e seus trabalhos se iniciaram, de fato, em 1978. Sua sede 
é em San José, na Costa Rica. A Corte é composta por sete juízes eleitos 
por um período de 6 anos – com possibilidade de recondução pelo mesmo 
período – em votação secreta e pelo voto da maioria absoluta dos Estados-
partes da Convenção. (GUERRA, 2012, p. 343). Eleição esta que ocorre 
na Assembleia Geral da Organização.
Para o regular exercício de suas funções, segundo Fernando 
Gonzaga Jayme (2008, p. 89), aos juízes da Corte são garantidos o gozo 
de prerrogativas e imunidades diplomáticas, estabelecendo, ainda, uma 
remuneração compatível com o exercício das funções aos seus membros.
Há, ainda, a possibilidade da atuação de juízes “ad hoc” em se 
tratando de determinadas matérias – prática relativamente comum no 
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Teorias da Constituição e as novas concepções de cidadania 35
âmbito da Corte – como determina o art. 55 da Convenção Americana de 
Direitos Humanos transcrito a seguir:
Artigo 55 - 1. O juiz, que for nacional de algum dos Estados-
partes em caso submetido à Corte, conservará o seu direito 
de conhecer do mesmo.
2. Se um dos juízes chamados a conhecer do caso for de 
nacionalidade de um dos Estados-partes, outro Estado-parte 
no caso poderá designar uma pessoa de sua escolha para 
integrar a Corte, na qualidade de juiz ad hoc.
3. Se, dentre os juízes chamados a conhecer do caso, nenhum 
for da nacionalidade dos Estados-partes, cada um destes 
poderá designar um juiz ad hoc.
4. O juiz ad hoc deve reunir os requisitos indicados no artigo 52.
5. Se vários Estados-partes na Convenção tiverem o 
mesmo interesse no caso, serão considerados como uma só 
parte,para os fi ns das disposições anteriores. Em caso de 
dúvida, a Corte decidirá.
Sua regulamentação em sede de direito internacional 
se dá através dos arts. 33, alínea “b” e 52 a 73 da Convenção 
Interamericana de Direitos Humanos
Galindo (2014, p. 153) verifi ca que as funções da Corte 
Interamericana de Direitos Humanos se divide em duas funções principais: 
a) conhecer e apreciar casos individuais ou interestaduais em que se 
alegue violação de direitos contidos na Convenção Americana de Direitos 
Humanos e; b) emitir opiniões consultivas a pedido dos Estados-membros. 
Ou seja, cumula as funções contenciosa e consultiva.
Esta posição consultiva se consubstancia na possibilidade que 
possuem os Estados membros da Organização dos Estados Americanos 
– e outros órgãos descritos no capítulo X da Carta da Organização dos 
Estados Americanos, dentre eles a própria Comissão Interamericana de 
Direitos Humanos – em solicitar a interpretação da Convenção Americana 
de Direitos Humanos. Além da interpretação da própria Convenção 
Americana de Direitos Humanos, cabe à Corte a interpretação de outros 
tratados concernentes à proteção dos Direitos Humanos aplicáveis aos 
Estados Americanos e o exame de compatibilidade das normas internas 
dos países em relação a esses tratados. (SERRANO, 2011, p. 237).
Já a sua outra função, a contenciosa, se refere à jurisdição que 
possui no sentido de examinar casos que envolvam denúncias de que 
um Estado-parte violou direito protegido pela Convenção. (PIOVESAN, 
2010, p. 210). Há, no entanto uma ressalva. Somente estará submetido à 
Anais do III Seminário de Direito do Estado
Teorias da Constituição e as novas concepções de cidadania 36
jurisdição da Corte Interamericana de Direitos Humanos aqueles Estados 
que expressamente reconheçam sua Jurisdição, conforme expresso no art. 
62 da Convenção Americana de Direitos Humanos:
Artigo 62 - 1. Todo Estado-parte pode, no momento do 
depósito do seu instrumento de ratifi cação desta Convenção 
ou de adesão a ela, ou em qualquer momento posterior, 
declarar que reconhece como obrigatória, de pleno direito e 
sem convenção especial, a competência da Corte em todos os 
casos relativos à interpretação ou aplicação desta Convenção.
2. A declaração pode ser feita incondicionalmente, ou sob 
condição de reciprocidade, por prazo determinado ou para 
casos específi cos. Deverá ser apresentada ao Secretário Geral 
da Organização, que encaminhará cópias da mesma a outros 
Estados-membros da Organização e ao Secretário da Corte.
3. A Corte tem competência para conhecer de qualquer caso, 
relativo à interpretação e aplicação das disposições desta 
Convenção, que lhe seja submetido, desde que os Estados-
partes no caso tenham reconhecido ou reconheçam a referida 
competência, seja por declaração especial, como preveem os 
incisos anteriores, seja por convenção especial.
Veja, não se pode confundir as duas funções exercidas pela Corte 
Interamericana. Conforme ressalta Cançado Trindade (2003, p. 1), há clara 
distinção entre a função consultiva a função jurisdicional contenciosa. O 
trecho a seguir, de Cançado Trindade (2003, p. 1) faz claramente esta 
constatação, reforçando, inclusive, o exposto acima:
May it preliminarily be recalled that the conventional basis 
for the exercise of the Court's advisory jurisdiction is distinct 
from that for the exercise of its contentious jurisdiction. The 
basis for the exercise of the former is particularly wide, given 
that, under Article 64 of the American Convention, all OAS 
member States (whether Parties to the American Convention 
or not) and all of the main organs mentioned in Chapter 
X of the OAS Charter can request advisory opinions from 
the Court on matters regarding 'the interpretation of this 
Convention or of other treaties concerning the protection 
of human rights in the American states' or, in the case of 
member states, 'the compatibility of any of its domestic laws 
with the aforesaid international instruments’.
O Brasil é signatário da Convenção Americana de Direitos 
Humanos desde 1992, ingressando no ordenamento jurídico pátrio através 
do Decreto no 678, de 06 de novembro de 1992. Já o reconhecimento da 
Anais do III Seminário de Direito do Estado
Teorias da Constituição e as novas concepções de cidadania 37
competência da Corte Interamericana de Direitos Humanos ocorreu com 
a edição do Decreto Legislativo no 89, de 03 de dezembro de 1998 e o 
Decreto no 4.463, de 08 de novembro de 2002, instrumentos jurídicos 
que introduziram no ordenamento jurídico brasileiro a Declaração de 
Competência Obrigatória da Corte Interamericana sobre Direitos Humanos. 
(GUERRA, 2012, p. 352). Ou seja, esta competência contenciosa se refere 
ao controle concreto que a Corte faz em relação a um caso particular de 
violação aos Direitos Humanos, submetido a ela via petição individual 
– submetendo-se ao procedimento preliminar necessário da Comissão 
Interamericana de Direitos Humanos – ou via representação direta de 
um Estado, que tem legitimidade de peticionar diretamente à Corte. 
(SERRANO, 2011, p. 237).
Caso a Corte entenda que, de fato, ocorreu violação aos Direitos 
Humanos, determinará que o Estado condenado tome as medidas 
necessárias para a reparação do Direito violado. Pode a Corte condenar 
o Estado ao pagamento de uma indenização à vítima, com força de título 
executivo. (PIOVESAN, 2010, p. 271-72).
3 CONDIÇÕES PRELIMINARES DE ADMISSIBILIDADE
Como já tratado de forma introdutória, para que um caso seja 
analisado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos há a necessidade 
de se verifi car o preenchimento de determinados requisitos.
O Estado, ao se defender em uma demanda judicial em âmbito 
internacional que responde perante à Corte Interamericana pode alegar 
exceções preliminares, que prejudicam o julgamento do processo. Para 
Serrano (2011, p. 235), as defesas preliminares apresentadas pelo Estado 
podem se circunscrever em aspectos da competência: tempo, lugar e 
admissibilidade. Ou seja, é o meio de defesa apresentado pelo Estado 
para impedir que haja, de fato, a análise da suposta violação aos direitos 
humanos, impossibilitando que o caso prossiga em seu trâmite regular, 
como base aspectos meramente formais. (SERRANO, 2011, p. 236). 
Segundo consta no art. 48 da Convenção Americana de Direitos Humanos, 
a Comissão processará as petições que atendam aos requisitos. Para tanto, 
há necessidade de transmitir a denúncia ao Estado que, no prazo de 2 meses, 
prorrogáveis por mais um irá apresentar resposta, podendo alegar questões 
referentes à elegibilidade da petição. Pode a Comissão, ainda, convidar as 
Anais do III Seminário de Direito do Estado
Teorias da Constituição e as novas concepções de cidadania 38
partes a tecerem comentários adicionais, seja por escrito ou por meio de 
uma audiência. (GALINDO, 2014, p. 157). Conforme se verifi ca a seguir:
Artigo 48 - 1. A Comissão, ao receber uma petição ou 
comunicação na qual se alegue a violação de qualquer 
dos direitos consagrados nesta Convenção, procederá 
da seguinte maneira:
a) se reconhecer a admissibilidade da petição ou 
comunicação, solicitará informações ao Governo do Estado 
ao qual pertença a autoridade apontada como responsável 
pela violação alegada e transcreverá as partes pertinentes da 
petição ou comunicação. As referidas informações devem ser 
enviadas dentro de um prazo razoável, fi xado pela Comissão 
ao considerar as circunstâncias de cada caso;
b) recebidas as informações, ou transcorrido o prazo 
fi xado sem que sejam elas recebidas, verifi cará se existem 
ou subsistem os motivos da petição ou comunicação. 
No caso de não existirem ou não subsistirem, mandará 
arquivar o expediente;
c) poderá também declarar a inadmissibilidade ou a 
improcedência da petição ou comunicação, com base em 
informação ou prova supervenientes;
d) se o expediente não houver sido arquivado, e com o 
fi m de comprovar os fatos, a Comissão procederá, com 
conhecimentodas partes, a um exame do assunto exposto 
na petição ou comunicação. Se for necessário e conveniente, 
a Comissão procederá a uma investigação para cuja 
efi caz realização solicitará, e os Estados interessados lhe 
proporcionarão, todas as facilidades necessárias;
e) poderá pedir aos Estados interessados qualquer informação 
pertinente e receberá, se isso for solicitado, as exposições 
verbais ou escritas que apresentarem os interessados; e
f) pôr-se-á à disposição das partes interessadas, a fi m de 
chegar a uma solução amistosa do assunto, fundada no 
respeito aos direitos reconhecidos nesta Convenção.
2. Entretanto, em casos graves e urgentes, pode ser realizada 
uma investigação, mediante prévio consentimento do 
Estado em cujo território se alegue houver sido cometida 
a violação, tão somente com a apresentação de uma 
petição ou comunicação que reúna todos os requisitos 
formais de admissibilidade.
É exatamente neste momento que podem surgir as questões 
referentes às exceções preliminares: seja referente à jurisdição da Comissão, 
seja referente à elegibilidade do caso ou mesmo regras processuais 
Anais do III Seminário de Direito do Estado
Teorias da Constituição e as novas concepções de cidadania 39
da Convenção Americana de Direitos Humanos ou do Regulamento 
da própria Comissão.
Importante destacar que o silêncio do Estado dentro do prazo 
disposto (dois meses, possível uma prorrogação de mais um mês) acarreta 
uma presunção de veracidade dos fatos alegados na petição, conforme art. 
38 do Regulamento da Comissão Interamericana de Direitos Humanos:
Art. 38: Presumir-se-ão verdadeiros os fatos relatados na 
petição, cujas partes pertinentes hajam sido transmitidas 
ao Estado de que se trate, se este, no prazo máximo fi xado 
pela Comissão de conformidade com o artigo 37 do presente 
Regulamento, não proporcionar a informação respectiva, 
desde que, de outros elementos de convicção, não resulte 
CONSIDERAÇÕES FINAIS diversa.
O primeiro requisito a ser avaliado diz respeito ao esgotamento 
prévio dos recursos judiciais internos do país para que o indivíduo possa 
ter seu caso analisado pela Corte Interamericana (obviamente após 
análise previa da Comissão Interamericana). É o chamado “princípio da 
complementariedade”. (GALINDO, 2014, p. 156).
Há, ainda, a análise de ausência de coisa julgada internacional ou 
litispendência internacional. Isto porque, para que a Corte Interamericana 
esteja autorizada a julgar um caso contra um Estado-membro, não pode a 
matéria ter sido objeto de análise – ou ainda estar em análise – em outro 
órgão jurisdicional internacional. Para que esteja a Corte impedida de 
julgar é necessário que haja coincidência nas partes, nos fatos e da questão 
de direito discutida. Caso estes três elementos não estejam presentes, não 
é possível se falar em identidade de processos, ou seja, a litispendência ou 
coisa julgada internacional. (SERRANO, 2011, p. 243).
No que tange ao sujeito ativo do processo, ou seja, aqueles 
que podem provocar a jurisdição da Corte Interamericana, somente a 
Comissão Interamericana ou os Estados-membros estão autorizados. Logo, 
o indivíduo não está autorizado a ingressar diretamente com a ação no 
âmbito da Corte, havendo necessidade de passar pela análise da Comissão 
Interamericana de Direitos Humanos. (GUERRA, 2012, p. 344).
Quando se fala no sujeito passivo do processo, os únicos legitimados 
são aqueles Estados que aceitaram expressamente a jurisdição da Corte 
Interamericana de Direitos Humanos. (SERRANO, 2011, p. 238-39).
Quando se fala na competência da Corte Interamericana em 
relação ao tempo, é necessária que a concessão da competência à Corte 
Anais do III Seminário de Direito do Estado
Teorias da Constituição e as novas concepções de cidadania 40
tenha ocorrido anteriormente aos atos de violação aos direitos humanos 
praticados. Como leciona Serrano (2011, p. 241), um caso paradigmático 
fi cou conhecido como Caso Heliodoro Portugal, em que não se sabia o 
paradeiro da vítima desde 14 de maio de 1970. O Estado do Panamá foi 
responsabilizado pelo “desaparecimento forçado” de Heliodoro Portugal 
(ocorrido em 1970), sendo os restos mortais da vítima encontrados apenas 
em 1999. Veja, o Panamá aceitou a jurisdição da Corte Interamericana 
mais de 10 anos após o desaparecimento da vítima, mas mesmo assim 
foi condenada perante a Corte. Isto porque, considerou a Corte que estas 
violações aos direitos humanos envolvendo desaparecimento forcado 
são crimes continuados, permanentes e pluriofensivos. Desta maneira, a 
suscitação de incompetência em razão do tempo não foi acolhida. 
Presentes estes requisitos, a Corte Interamericana de Direitos 
Humanos está apta a julgar o mérito da questão, ou seja, se o Estado é 
internacionalmente responsável ou não pelas violações de direitos humanos 
por ele perpetrado observando, obviamente, o contraditório e a ampla 
defesa, que também permeiam os procedimentos em sede internacional. 
Consequentemente, a Corte ordena que o Estado repare o dano causado – 
caso seja condenado –, ou rejeita as reivindicações dos peticionários, caso 
seja absolvido. (GALINDO, 2014, p. 164).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, conclui-se que o procedimento de ingresso 
de ações perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos pressupõe 
a superação de diversas fases para, enfi m, analisar-se o mérito. Ou seja, 
além da difi culdade que encontra o indivíduo vítima de violação a Direitos 
Humanos têm em atingir, de fato, a Corte, ainda há procedimentos 
complexos para que o mérito possa ser analisado.
Uma crítica feita pela doutrina, como principais expositores 
Cançado Trindade e Flávia Piovesan, diz respeito justamente às petições 
individuais e a impossibilidade de se peticionar diretamente à Corte. Os 
legitimados ativos para ingressar com demandas na Corte são apenas 
os Estados-membros e a própria Comissão Interamericana de Direitos 
Humanos. É diferente do que ocorre no Sistema Europeu de proteção 
aos Direitos Humanos, em que há possibilidade de ingresso por parte do 
indivíduo. O trabalho visou demonstrar os procedimentos de ingresso na 
Anais do III Seminário de Direito do Estado
Teorias da Constituição e as novas concepções de cidadania 41
Corte Interamericana e as questões que podem cominar na extinção do 
processo sem a análise do mérito. São as chamadas questões prejudiciais.
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Anais do III Seminário de Direito do Estado
Teorias da Constituição e as novas concepções de cidadania 43
PRESIDÊNCIA DEMOCRÁTICA – GOVERNAÇA; 
DESENVOLVIMENTO HUMANO NA AMERICA LATINA
Suelen Otrenti1*
INTRODUÇÃO
Existe contradições quando o tema é democracia contemporânea, 
a noção de ser o único regime jurídico legitimo aumenta a incredibilidade da 
população, observando-se na grande recusa durante as eleições e também 
nas manifestações, em contra partida, se há um entendimento fi rmado de o 
Estado Nacional ser incapaz, onde a democracia representativa respondera 
de forma satisfatória conforme demanda da população através dos direitos 
de cidadania em uma história de capitalismo e decisões em um só sistema, 
o que infl uencia decisivamente para a crise de legitimidade, por outo 
lado a ONU, o FMI e a União Européia, apontam uma defi ciência na 
democratização e de efetividade ao cumprir suas missões institucionais, 
o que fi cou mais evidente a partir da crise econômica iniciada em 2008.
Para compreender corretamente esse contexto deve-se considerar 
dois pressupostos, do qual nem todos os problemas enfrentados pela 
democracia contemporânea são devidos à globalização; e estudando 
profundamente a crise de legitimidade dessas instituições representativas, 
do défi cit democrático e dos impactos causados pelos fundamentos da 
cidadania não pode ser o mesmo em âmbitos tão diferentes (como exemplo, 
o da União Europeia e o da América Latina).
Evidentemente, que alguns fatores como o poder das corporações 
transnacionais, o pluralismo jurídico, o processo de homogeneização do 
direito, dentre outros, dão uma certa limitação a competência do Estado 
agir autonomamente como implantar políticas sociais. Muitas decisões 
que tem relação direta com o cidadão são tomadas onde as instituições 
representativas não têm qualquer poder de infl uenciar, comprometendo a 
legitimidade da democracia. O grande poder do défi cit democrático é a falta 
de capacidade cada vez maior do sistema político, ancorado no Estado-
Nação, ao representar os cidadãos na prática efetiva da governança global. 
Por vez, existem vícios que acompanham a democracia anteriores 
a globalização, iniciado século XX, como a deformação da opinião pública 
 Graduanda em Direito.
Anais do III Seminário de Direito do Estado
Teorias da Constituição e as novas concepções de cidadania 44
pela mídia, infl uência do poder econômico, entre outros. A realidade 
latino-americana tem características da própria história e cultura que 
causa uma signifi cativa defi ciência na democracia em nossas instituições 
representativas, dentre as quais destacamos os bloqueios ao exercício 
da soberania de origem externa (condição de dependência) e interna, a 
apropriação do Estado por interesses privados, o populismo, a histórica 
ausência do Estado perante graves problemas sociais, a desigualdade e a 
exclusão social, e a baixa integração social. 
A princípio o objetivo era de manter a paz depois também com 
o propósito de minorar a defi ciência regulatória da economia global, os 
Países constituíram organizações internacionais e blocos regionais, sendo 
fundamentais neste contexto, mas, por outro lado, não apresentam uma boa 
efi ciência ao cumprir os propósitos apresentando também um signifi cativo 
défi cit democrático.
Esta inefi ciência entende-se, pela limitação no orçamento 
impedindo desenvolvimento de grandes projetos. Não possuem receitas 
próprias, inclusive o limitado orçamento depende de transferência de 
recursos dos Estados nacionais. Não conseguindo fazer frente nem ao 
mercado global nem aos interesses das grandes potências, se dispondo, 
a serviço delas. Por conta do não cumprimento de seus objetivos, as 
organizações não tem capacidade de enfrentar uma crise de impotência da 
política e de ajudar como deveria compensando o defi cit democrático das 
instituições representativas nacionais.
Observa-se um grande défi cit democrático das organizações 
internacionais, apresentando uma estrutura desequilibrada de poder, 
porque são dominadas pelas grandes potências militares e econômicas. 
E os mecanismos de representatividade, a clareza e a responsabilização 
são frágeis nas organizações internacionais. Não assegurando a existência 
de participação dos interessados em situações que lhe afetam, existindo 
disputa não só pela defi nição da política a ser aderida, mas também pela 
participação. Os procedimentos decisórios são distantes dos cidadãos, não 
tem controle direto das pessoas eleitas, e são conduzidos por diplomatas e 
especialistas de forma não visível e nem se submetendo à crítica prévia da 
opinião pública, de representantes políticos e de grupos de interesse.
A União Européia, AFTA, ASEAN, APEC e MERCOSUL, 
não estão livres dessa inefi ciência de cumprimento nos seus objetivos e 
ao défi cit democrático. No início a União Europeia não apresenta “uma 
soberania única”, sendo difícil de ser controlada e legitimada pelos 
Anais do III Seminário de Direito do Estado
Teorias da Constituição e as novas concepções de cidadania 45
processos políticos e mecanismos democráticos. Depois, ainda, existe um 
“dualismo expresso por uma instituição representativa, mas sem autonomia 
decisória (Parlamento Europeu), e por agências burocráticas dotadas dessa 
autonomia, porém sem representatividade”. Sendo somente o órgão eleito 
para representar a comunidade e não de decidir. (FARIA, 2002, p. 303–306). 
Archibugi (2005, p. 75) argumenta da avaliação sobre a União 
Européia que será bastante diferente se feita por um estudioso da democracia 
global ou estatal, porque de frente aos Estados

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