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160 IMPLANTAÇÃO DE PROJETOS EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS DA REDE PÚBLICA DA REGIÃO DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO Lidia Maria de Almeida PLICAS, Iêda Aparecida Pastre FERTONANI1 Resumo: A educação ambiental já é uma demanda da sociedade e vem se tornando uma realidade institucional. Isso se reflete no cotidiano escolar do ensino médio, em que professores de diferentes áreas de atuação têm tratado do tema relacionando-o aos conteúdos das próprias disciplinas que ministram. Revela-se, entretanto a existência de uma fragilidade das práticas pedagógicas, reforçando a proposta educacional conservadora. A educação ambiental só apresentará resultados coerentes se incorporar em seu fazer cotidiano a completa contextualização da complexidade ambiental. É importante principalmente na escola, a busca de soluções, criativas e cientificamente fundamentadas, na abordagem do tema. Não basta tornar os alunos “ecologicamante alfabetizados”, é preciso fazê-los portadores de um sentimento inseparável do compromisso com a preservação da vida em todas as suas formas. Este trabalho relata a implantação de um projeto em educação ambiental que incentiva ações didático-pedagógicas e ações educativas de caráter popular e inclusivo, não limitado apenas ao ambientalismo, mas que se ocupa das relações homem/natureza e indivíduo/sociedade. Palavras-chave: educação ambiental; problemática ambiental; projeto em educação ambiental. INTRODUÇÃO A grande relevância do tema educação ambiental nos meios educacionais, hoje, é uma conseqüência das políticas de impacto estimuladas no mundo todo e da sucessão de medidas ambientais em âmbito internacional. No Brasil, a educação ambiental não apresenta objetivos e metodologias de ação estabelecidas nem nas escolas nem nas universidades. Os problemas ambientais são debatidos em várias áreas ligadas à comunicação e à educação. As organizações ambientalistas, políticas e outros grupos, levam ao público um conjunto de informações por demais genéricas, o que impede a educação ambiental ser vista como prática efetiva de comportamentos para o meio ambiente. O conceito de educação ambiental varia de interpretações, de acordo com cada contexto, conforme a influência e vivência de cada um. Para muitos, a educação ambiental restringe-se em trabalhar assuntos relacionados à natureza: lixo, preservação, paisagens naturais, animais, etc. Dentro deste enfoque, a educação ambiental assume um caráter basicamente naturalista. 1Departamento de Química – Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas – UNESP – São José do Rio Preto. Projeto subvencionado pela PROGRAD/Reitoria/Fundunesp 161 Atualmente, a educação ambiental assume um caráter mais realista, embasado na busca de um equilíbrio entre o homem e o ambiente, com vista à construção de um futuro pensado e vivido numa lógica de desenvolvimento e progresso. Neste contexto, a educação ambiental é ferramenta de educação para o desenvolvimento sustentável (apesar de polêmico o conceito de desenvolvimento sustentável, tendo em vista ser o próprio "desenvolvimento" o causador de tantos danos sócio-ambientais). A educação ambiental, como ferramenta da educação, tem que ser desenvolvida como uma “prática”, para a qual todas as pessoas que lidam em uma escola precisam estar preparadas. Não basta que seja acrescentada como mais uma disciplina dentro da estrutura curricular, se assim o for, é bastante provável que fique restrita à biologia ou à geografia. A prática da educação ambiental precisa estar interligada com todas as disciplinas regulares, como previsto nos Parâmetros Curriculares Nacionais. Diversos documentos governamentais têm regulamentado a implementação dessa prática educacional no Brasil. O Parecer N° 226/87, de 11 de março de 1987 (MEC, 1987), indica o caráter interdisciplinar da educação ambiental e recomenda sua realização em todos os níveis de ensino. O Governo Federal implementou a Lei N° 9795, de 28 de abril de 1999, que dispõe sobre a educação ambiental, instituindo a Política Nacional de Educação Ambiental. Como se pode perceber, no que se refere à implantação de educação ambiental, as leis são abundantes. O que ainda nos falta, porém é conhecer mais profundamente em que consiste a sua prática dentro das instituições escolares. Para que seja eficaz, um programa de educação para o meio ambiente deve desenvolver, de maneira simultânea, os conhecimentos, as atividades e as habilidades necessárias, para que a comunidade possa compreender o seu ambiente e desenvolver atitudes que alterem os comportamentos das pessoas envolvidas no processo. Para isso é necessário que haja um projeto pedagógico coerente, de modo que qualquer programa que tenha como objetivo o desenvolvimento de uma educação ambiental se torne operacional. Pressupomos que a escola é o local onde há condições propícias para o desenvolvimento dessa vertente educacional. Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (itens sobre ciências naturais), em “Vida e Ambiente”, lê-se que: Nas últimas décadas divulgam-se e debatem-se problemas ambientais nos meios de comunicação, o que sem dúvida tem contribuído para que as pessoas estejam alerta, mas não asseguram aquisição de informações e conceitos referendados pelas ciências. Ao contrário, é freqüente a banalização do conhecimento 162 científico – o emprego fé ecologia como sinônimo de meio ambiente e a difusão de visões distorcidas sobre a questão ambiental são exemplos. É papel da escola provocar a revisão dos conhecimentos, valorizando-os sempre buscando enriquece-los com informações científicas (p. 175). O tema transversal “meio ambiente” trata das relações entre as questões ligadas ao ambiente e aos fatores políticos, econômicos, históricos e sociais. Tais questões criam campos de discussão sobre as responsabilidades humanas dirigidas ao bem-estar social e ao desenvolvimento sustentado, sob o ponto de vista da reversão da crise social em assuntos ambientais, que são de interesse de todos os cidadãos. Entretanto, a despeito dessa orientação específica, tais princípios não vêm sendo observados pela escola. Muito pelo contrário: o conceito de educação ambiental parece não ter sido bem assimilado ainda, quando se observa como prática nas escolas ações individuais de alguns professores ou projetos abordando temas específicos. Segundo Colesanti (1996, p.35), a escola é a principal articuladora da uma nova filosofia: A educação ambiental é um dos eixos fundamentais para impulsionar os processos de prevenção da deterioração ambiental, do aproveitamento dos direitos dos cidadãos a um ambiente sustentável. Ela implica uma nova concepção do papel da própria escola. A articulação de seus conceitos, métodos, estratégias e objetivos é complexa e ambiciosa: dimensões ecológicas, históricas, culturais, sociais, políticas e econômicas da realidade e a construção de uma sociedade baseada em princípios éticos e de solidariedade. Mas o papel da escola não se reduz simplesmente a incentivar a coleta seletiva de lixo, em seu território ou em locais públicos, para que seja reciclado posteriormente. Os valores consumistas da população tornam a sociedade uma produtora cada vez maior de lixo. A necessidade que existe é, na verdade, de mudanças de valores. Na tentativa de atender às necessidades da mudança, foi colocado no capítulo VI, § 1°, inciso VI, da Constituição Brasileira que se refere ao meio ambiente, a inclusão da educação ambiental em todos dos níveis de ensino. Essa disposição constitucional por si só, contudo, não garante a mudança: é necessário que haja um trabalho, em longo prazo, em cima das representações da comunidade em relação ao seu ambiente. Não se trata, de a educação ambiental ser incluída como disciplina específica da estrutura curricular. As deliberações do governo mostram claramente a importânciada estrutura para o meio ambiente como maneira de estimular a necessária integração do indivíduo com o meio em que ele vive. 163 Uma relação harmoniosa, em todos os campos, deve ser alcançada por intermédio de novos conhecimentos, valores e atitudes, sendo que essa integração do educador com o educando – como cidadãos – no processo de transformação da atual situação ambiental, é um objetivo que estará sendo atingido quando a visão de educação para o meio ambiente refletir seu sentido mais profundo. Como existem várias idéias, oriundas de conhecimentos específicos na área científica e na área social, é importante, também, que seja estabelecida uma conceituação para “meio ambiente”. Na definição do que é meio ambiente, sob o ponto de vista científico, estão envolvidos elementos semânticos como: ecossistema, biomassa, nicho ecológico, cadeia alimentar. Sob a ótica do senso comum, estes elementos estão relacionados com a área das ciências biológicas e o conhecimento das pessoas que nelas atuam. No que se refere ao meio ambiente, a conceituação não está bem clara tanto para a comunidade científica quanto para a não científica. Sendo assim, uma vez que a prática da educação ambiental depende da concepção de meio ambiente que se tem, é necessário que sejam conhecidas as representações de meio ambiente dos sujeitos envolvidos no processo pedagógico. Pode-se trabalhar com a questão ambiental a partir dos conteúdos curriculares tradicionais e das práticas pedagógicas cotidianas. No entanto, professores têm desenvolvido a educação para o meio ambiente utilizando apenas um conteúdo reproduzido da sua antiga formação acadêmica. Esses conteúdos abordam apenas os elementos naturais e omitem os aspectos sociais. Quanto a este aspecto, temos desenvolvido Cursos de Capacitação que visam promover o aprimoramento dos professores da Rede Pública, utilizando-se de temas e ferramentas atuais importantes, visando a melhoria do domínio dos conteúdos curriculares, a conscientização do professor para a importância da qualidade do ensino, aliada à qualidade de vida e à preservação do meio ambiente a partir de suas próprias percepções e dos significados que atribuem ao meio ambiente, levando em conta o importante papel que exercem as representações humanas, na construção de um conceito atualizado de educação ambiental. De posse de um significado comum para os professores e alunos de meio ambiente, a educação para o meio ambiente leva à sensibilização que estimula os membros da comunidade a encararem o meio em que vivem como parte integrante de suas vidas, sob forma de comprometimento com a participação social. Deve-se ainda abordar a relação entre ciência e ética, o meio ambiente é considerado um bem de interesse difuso, isto é, que une pessoas de identidades muito diferentes, como, por exemplo, os usuários da água de um rio, os usuários de um transporte coletivo em uma 164 cidade, etc. E todas essas pessoas têm o direito a receber educação sobre questões ambientais. Esse sentimento de ecologia globalizada começou no momento em que o meio ambiente deixou de ser assunto exclusivo dos “amantes da natureza” e se tornou um assunto para a sociedade civil mais ampla. A defesa do meio ambiente passou a ser responsabilidade de quem trabalha praticamente em todas as esferas da administração, seja em áreas de saúde, em obras públicas, na limpeza urbana, em outras e, na educação. Para que seja tratada, principalmente no universo escolar, é necessário que haja envolvimento não só dos integrantes da comunidade escolar, mas também dos membros da sociedade. O meio onde todas essas pessoas vivem deve ser entendido como o meio ambiente delas. Entendendo que também os alunos devem ser capacitados para conhecerem seu meio, visto que os afeta ou é afetado por eles, e agirem em defesa dele, tivemos como objetivo geral, proporcionar ao aluno uma reflexão, em relação a seus hábitos diários e suas implicações, a melhoria da qualidade de vida aliada à preservação do meio ambiente. Neste sentido desenvolvemos ações que buscassem interagir informações e conceitos teóricos com os conceitos já existentes da estrutura cognitiva do aluno. Incentivar a utilização de exemplos de fatos e fenômenos vividos pelos alunos no dia-a-dia, para explicar o assunto em desenvolvimento na aula, em conformidade com os avanços produzidos na área de química interagindo informações e conceitos teóricos com os fatos e fenômenos ambientais observados na atualidade. Associar exemplos significativos com os princípios teóricos de maneira lógica e agradável para o entendimento da química como uma ciência articulada que muito pode contribuir para melhorar nossa saúde, nossa qualidade de vida, a nós mesmos como seres humanos e com o ambiente em que vivemos. Pretende-se contribuir para o projeto de formação de cidadãos que possam atuar de forma consciente na sociedade e com relação ao meio ambiente. Integrar o aluno à realidade do meio em que vive é tarefa que a escola deve primar no que tange ao ensino e à aprendizagem, visto que a escola é o local propício para semear a educação ambiental visando formar multiplicadores e conseqüentemente cidadãos conscientes em busca de um pensamento crítico e de estratégias para uma melhor qualidade de vida aliada à remediação, preservação e manutenção do meio ambiente. Logo, cabe ao professor um papel importante no programa de educação para o meio ambiente: ele será o facilitador das explorações realizadas pelos seus alunos nas 165 investigações tanto das alterações urbanas como dos processos que acontecem dentro do próprio ambiente em que vivem. Nas escolas, as atividades de educação ambiental devem ser o principal núcleo do programa, permitindo, assim, que os alunos tenham oportunidade de desenvolverem sua sensibilidade a respeito das questões ambientais, para buscarem soluções alternativas para tais situações. O acesso à informação é uma condição fundamental para a educação ambiental, mas é preciso que haja uma tradução explicativa e correta das informações sobre o meio ambiente, por ser esse um tema que envolve diversas áreas do conhecimento e cujas informações técnicas costumam ser de difícil compreensão para aqueles que não são especialistas no assunto. Essas informações devem ser usadas para educar os cidadãos, preparando-os para o pensar, o criticar, o propor e o agir em prol do seu meio. Considerando a importância da implementação nas escolas de ensino médio de projetos de relacionados a educação ambiental e do subsídio dado pela Universidade aos professores que não encontram meios de efetivar ações com relação à educação ambiental e, por serem veículos formadores de opiniões junto a sua comunidade, implementamos um projeto de educação ambiental na Escola Estadual “Genaro Domarco”, que é bastante receptiva a projetos que incentivem seus alunos ao exercício pleno de sua cidadania, sempre inovando, procurando desenvolver suas competências e habilidades, reúne condições para que o projeto desenvolva-se com total apoio daquela comunidade escolar, e da comunidade em geral, sempre muito presente nas atividades da escola. A região de São José do Rio Preto é uma área pressionada pelo processo de modernização caracterizada pela expansão urbano-industrial com impactos de sua racionalidade, que traz agregada a degradação ambiental que ainda sofre as conseqüências da agressão ao meio ambiente com as constantes queimadas, desmatamento e a intensa utilização dos agrotóxicos poluindo o ambiente (água, ar, solo). Durante o percurso através dos diversos níveis ou graus de ensino, é natural que se alterem as estratégias para acompanhar a crescente capacidade de abstração dos estudantes. O uso de observações cotidianas das transformações que ocorrem no ambiente e a realização de experiências, para introduzir e ilustrar os diversos tópicos do programadas disciplinas relacionadas às ciências conduz quando bem orientadas, a uma formação de conceitos e estabelecimento de princípios, levando o aluno a um preparo autêntico. Porém, a minuciosidade na observação e o planejamento cuidadoso das atividades de experimentação e de estudo devem ser levados em consideração. Em todos eles deverão estar presentes o espírito de indagação e o 166 esforço para explicar e concluir, embora guardando as limitações e direcionamentos ditados pelas diferenças nos conhecimentos teóricos e pela capacidade de abstração do aluno. Percebe-se no ensino da química aliada à educação ambiental, uma forma própria de ensinar e conscientizar, motivando os nossos jovens à busca de um pensamento crítico e de estratégias para decidir e atuar na realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade. DESENVOLVIMENTO DO PROJETO Participaram deste projeto 30 alunos do Ensino Médio, chamados de forma voluntária como critério de escolha. Os alunos foram reunidos em uma sala onde foram apresentados os objetivos do projeto e a metodologia que estava sendo utilizada para desenvolvê- lo. Obtivemos uma boa aceitação, e os alunos responderam às questões com seriedade e interesse, todos os alunos entenderam o que estava sendo proposto. Foi apresentado aos alunos os conteúdos de química a serem abordados dentro dos seguintes tópicos relacionados a poluição ambiental: POLUIÇÃO DO AR. Tipos de poluentes e suas origens. Emissões provenientes de veículos e seu controle. Emissões industriais. Efeitos dos poluentes do ar. Controle da poluição do ar. POLUIÇÃO DAS ÁGUAS. Detergentes: tensoativos, aditivos. Os esgotos e seu tratamento: O sistema de águas servidas. Componentes do esgoto doméstico. Processo de tratamento dos esgotos. Efluentes industriais. Efeito da poluição em águas naturais. POLUIÇÃO DO SOLO. Lixo doméstico: Composição dos resíduos. Possibilidades de recuperação, reutilização e métodos de destinação do lixo doméstico. Aterros sanitários. Tratamento biológico. Incineração. Contaminação por metais pesados. PESTICIDAS E POLUIÇÃO: Inseticidas, herbicidas, fungicidas e acaricidas. Toxidez. O uso controlado e formas de substituição. Os poluentes orgânicos persistentes. METAIS. Contaminação do solo e das águas por metais pesados. O impacto ambiental. Alguns alunos ficaram preocupados com a abordagem de alguns tópicos em vista de estarem ainda cursando a 1ª série do Ensino Médio, foram esclarecidos de que suas dúvidas seriam sanadas a qualquer momento que se fizesse necessário e que, portanto, eles poderiam ficar à vontade para interromper as atividades para maiores explicações. 167 As estratégias a serem adotadas no desenvolvimento do projeto apresentadas foram: 1- Abordagem dos conceitos fundamentais pertinentes aos tópicos acima, necessários ao bom desenvolvimento do projeto quer seja na questão do reaproveitamento, reciclagem ou redução dos resíduos gerados. 2- Trabalhar a motivação da comunidade escolar no tocante a implementação de estratégias de desenvolvimento sustentável dentro da escola, considerando as habilidades de cada sujeito e fazendo com que no âmbito do ensino de química o professor passe a correlacionar a química com fatos do panorama histórico atual. Este trabalho evidenciaria as ligações bastante íntimas entre ciência, desenvolvimento da sociedade e meio ambiente. 3- Com o conhecimento da problemática ambiental, dar subsídios à comunidade escolar para a destinação adequada dos resíduos sólidos e atitudes para minimização dos causadores da poluição ambiental. 4- Que cada aluno envolvido e posteriormente comprometido, fosse um agente multiplicador das ações ambientalmente corretas na sua comunidade. Para o desenvolvimento do projeto foram utilizados os seguintes recursos didáticos: – Apresentação de vídeos educacionais, seguido de discussões; – Realização de experimentos que auxiliam a compreensão dos aspectos da química nas questões ambientais; – Apresentação de seminários e palestras pelos estagiários; – Trabalho de campo: visitas a aterros sanitários, estação de tratamento de água e esgoto, rios, áreas de preservação e etc; – Discussão de textos que abordam a problemática ambiental; – Trabalho de conscientização da comunidade escolar e vizinha a esta, usando de recursos disponíveis. Após a reunião inicial onde os tópicos acima relacionados foram apresentados, o projeto teve início com a apresentação de uma palestra sobre aos problemas da poluição atmosférica, após esta, seguiram-se encontros onde foram desenvolvidos experimentos relativos aos gases e à poluição atmosférica. O projeto desenvolveu-se nessa seqüência de palestra e/ou vídeos sobre um determinado problema ambiental seguido de experimentos relacionados ao tema abordado e trabalho de campo, quando pertinentes. As palestras e/ou exibição de vídeos aparecem como proposta de conscientização, mas que passam na escola como um momento apenas, não havendo necessariamente uma continuidade na prática, para tanto os trabalhos em campo – onde os alunos e professores visitam locais que possuem algum tipo de projeto de recuperação e/ou preservação ambiental -, têm como objetivo: contribuir para a formação de cidadãos conscientes; buscar a transformação dos conceitos, a explicação de valores e a inclusão de procedimentos, vinculados à realidade; 168 perceber, apreciar e valorizar a diversidade natural; observar e analisar fatos e situações do ponto de vista ambiental, de modo crítico, reconhecendo a necessidade e as oportunidades de atuar de modo a propor ações positivas, para garantir um meio ambiente saudável e a boa qualidade de vida; compreender que os problemas sociais interferem na qualidade de vida das pessoas, tanto local quanto globalmente. Teve-se o cuidado de dar seqüência a partir do trabalho de campo, com os experimentos em laboratório e ações desenvolvidas pelos próprios alunos, tais como: confecção de cartazes, confecção de folheto e a criação de uma página na internet para dar prosseguimento ao projeto visando levar à comunidade escolar a continuidade da prática da educação para o meio ambiente. A visita a uma área de preservação ecológica tal como uma caminhada ecológica acontece em trilhas definidas onde professores de outras áreas que convidados a participar dão uma conotação interdisciplinar, o que nem sempre corresponde à realidade, pois tais atividades podem se transformar em apenas momentos de lazer, para que isso não ocorra é necessário que se elabore um instrumento didático – articulador do trabalho educativo em Educação Ambiental -, como a “Trilha interpretativa”, que contribui para ir além do enfoque disciplinar/científico para a compreensão da problemática da educação ambiental: a contradição entre a conservação e preservação da natureza. A apresentação de textos que abordem problemas ambientais trabalha a relação entre a teoria e prática na perspectiva da mediação dialética, é um caminho importante, pois desperta a consciência ambiental a partir do fortalecimento e da defesa da participação em comum das crenças, interesses e idéias, da ética e da solidariedade, que deve ser seguida de suporte conceitual e metodológico para se tornarem consistentes. Todo esse trabalho desenvolvido gerou ações que levaram à conscientização de toda a comunidade escolar bem como a comunidade vizinha e deram suporte para a sua continuidade como um elemento articulador do trabalho educativo em Educação Ambiental, desenvolvido pelos conteúdos disciplinares de química. É preciso, portanto, dar continuidade ao projeto procurando uma abertura em todas as disciplinas que estudam o ambiente natural e social, com o objetivo de desenvolver uma metodologia através da qual professores e alunos possam construir o conhecimento voltado para uma educação ambiental que permita transformara escola em um local onde se exerça a cidadania. 169 CONCLUSÕES Apesar da difusão crescente da educação ambiental pelo processo educacional, essa ação educativa geralmente se apresenta fragilizada em suas práticas pedagógicas, na medida em que tais práticas não se inserem em processos que gerem transformações significativas da realidade vivenciada. A abordagem interdisciplinar, principalmente nas escolas, e até mesmo encampada pelas políticas públicas, se consolidou como um princípio para a educação ambiental, porém, sofre muitas resistências no cotidiano escolar, originada no predomínio da visão fragmentária no ambiente escolar, potencializando uma forte tendência ao desenvolvimento, nas escolas, de ações isoladas, voltadas para o comportamento de cada indivíduo, descontextualizadas da realidade socioambiental em que a escola está inserida e do seu próprio projeto político-pedagógico. A educação ambiental é uma prática pedagógica. Essa prática não se realiza sozinha, mas nas relações do ambiente escolar, na interação entre diferentes atores, conduzida por um sujeito, os educadores. Todo o comportamento aprendido que tenha sido socialmente adquirido faz parte de um sistema cultural – isto é, nossos hábitos, valores, idéias, costumes – que garante a satisfação e continuidade de uma sociedade. A cultura, a despeito de sua natureza conservadora, muda com o tempo e de lugar para lugar. Essas transformações são realizadas por meio de mudanças no comportamento individual e social, de algumas formas-padrão. Inovamos, isto é, variamos a moda, inventamos, descobrimos coisas “ao acaso”, tecnologicamente avançamos, fazemos imitações etc. Aceitamos inovações culturais, fazemos, também, uma eliminação seletiva, hábitos quando não eficientes, são abandonados por outros mais adequados à época. Por fim, integramos tudo, quando os hábitos tendem a uma coerência geral, um influenciando o outro. A despeito de tudo, continuamos progredindo e inevitavelmente isso perdurará enquanto houver vida. Nosso conjunto de crenças acompanha nossa cultura e é por isso que quando damos importância só para isso podemos ter um comportamento inadequado. Há normas que mantêm o bom andamento social e ambiental e temos que cumpri-las, não por imposição, mas porque sabemos serem úteis para todos. Outras, porém, não têm o mínimo sentido, mas continuamos cumprindo e não sabemos por quê, é premente romper essa inércia. Tanto o ambiente como os indivíduos são reais e estão em interação, mas é necessário que tomemos consciência do que realmente é importante para nós como pessoas e o 170 que é imprescindível para o ambiente e manter entre esses parâmetros um equilíbrio para o bem de ambos. Dentro desta perspectiva, professores e alunos devem buscar uma reflexão crítica que busque transformar o cotidiano escolar, o mundo, a sociedade e seus indivíduos, para que possam, de fato, em sua atuação, contribuir na construção de uma nova sociedade ambientalmente sustentável. É importante que a educação ambiental seja enfocada numa dimensão que leve em consideração os aspectos biológicos, psíquicos e socioculturais nos quais se constroem as concepções de homem, do mundo e de sociedade, dando conta da relação indivíduo/sociedade e natureza/cultura, de modo a alcançar uma forma de pensar global. Projetos como este devem persistir para dar continuidade ao processo iniciado de perceber a abrangência e o significado da educação ambiental, vindo ao encontro do que apregoa a Lei Federal nº 9.795 em sua definição para a educação ambiental. “o processo por meio do qual o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade” (art.1º, Lei Federal nº 9.795, de 27/4/99). É importante o contínuo incentivo às pesquisas de caráter disciplinar ou interdisciplinar e projetos sobre intervenções na realidade das escolas no tocante à educação ambiental para que possamos consolidar uma prática educativa que desenvolva novos valores em relação à forma como vemos, sentimos e vivemos; onde a cidadania, a inclusão, o respeito, a alteridade, a convivência harmônica e a tolerância sejam uma constante na prática educacional. BIBLIOGRAFIA BAIRD, Colin. Química ambiental. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2002. BIANCHETTI, L. Interdisciplinaridade: uma abordagem integrada dos problemas do meio ambiente. São Paulo: Edgard Blücher, 1989. CALDERONI, S. Os bilhões perdidos no lixo. 3. ed. São Paulo: Humanitas, 1997. COLESANTI, Marlene. Paisagem e educação ambiental. In: Encontro Interdisciplinar sobre o Estudo da paisagem, 3, 1996. Rio Claro UNESP, 1996, p. 35. DIAS, Genebaldo. F. Atividades Interdisciplinares de Educação Ambiental. São Paulo: Global Editora, 1994. 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