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Maria Rita Coutinho DOR ABDOMINAL, DIARREIA, VÔMITO E ICTERÍCIA DISPEPSIA Conceito: Um distúrbio da digestão caracterizado por um conjunto de sintomas relacionados ao trato gastrointestinal superior, como dor, queimação ou desconforto na região superior do abdômen, que podem estar associados a saciedade precoce, empachamento pós-prandial, náuseas, vômitos, timpanismo, sensação de distensão abdominal, cujo aparecimento ou piora pode ou não estar relacionado à alimentação ou ao estresse. O aparecimento da dispepsia ou sintomas dispépticos pode estar associado a vários distúrbios do trato gastrointestinal superior, como doença ulcerosa péptica, doença do refluxo gastrointestinal, gastrites, neoplasias do trato gastrointestinal superior, doença do trato biliar e dispepsia funcional. Dispepsia funcional ou dispepsia não ulcerosa ou síndrome dispéptica é uma desordem heterogênea caracterizada por períodos de abrandamentos e exacerbações, e seu diagnóstico é em geral empregado quando, em uma avaliação completa em um paciente que apresenta dispepsia, não se consegue identificar a causa para os seus sintomas. ROMA IV Os sintomas apresentam duração mínima de 3 meses (12 semanas), sendo contínuos ou intermitentes, com no mínimo 6 a 12 meses anteriores de história. Sinais/sintomas de alarme são: Sangramento gastrointestinal agudo/crônico (melena/ hematêmese); Perda de peso involuntária progressiva; Disfagia progressiva; Vômitos persistentes; Anemia por deficiência de ferro; Massa epigástrica; Doença péptica ulcerosa prévia; História familiar de câncer gástrico. Da mesma forma, é importante identificar o uso de medicamentos que possam ser responsáveis pelos sintomas dispépticos. Os principais medicamentos relacionados são anti-inflamatórios não hormonais, antagonista do cálcio, nitratos, teofilina, bifosfonatos e corticoesteroides. → Na presença de sinais/ sintomas de alarme, realizar endoscopia digestiva alta com posterior tratamento das afecções diagnosticadas no procedimento. Diagnóstico e tratamento Aconselhá-los a seguir uma alimentação saudável, reduzir o peso e suspender o fumo; Maria Rita Coutinho Identificar e suspender, se possível, medicamentos de uso habitual que possam provocar sintomas dispépticos (anti-inflamatórios, antagonista do cálcio, nitratos, teofilina, bifosfonatos, corticoesteroides); Supressão ácida com inibidores da bomba de próton (primeira opção) ou com antagonistas de H2; Após 4 a 6 semanas de tratamento com supressão acida, tratar infecção por Helicobacter pylori (testar-e-tratar); Se não houver solução no prazo de 12 meses, realizar endoscopia digestiva alta com posterior tratamento das afecções diagnosticadas no procedimento. Indicações para endoscopia: – >40 anos – Perda de peso ponderal sem explicação – Histórico de câncer DOENÇAS ÁCIDO- PÉPTICAS ESTÔMAGO Controle nervoso: Plexo mioentérico (Auerbach)- composto, em sua maioria, por neurônios motores que realizam controle da motilidade. Plexo submucoso (Meissner)- é composto por neurônios motores que inervam as glândulas mucosas. Neurônios sensoriais - fornecem informações para o plexo mioentérico e para regiões superiores, controlando os processos de secreção. Controle hormonal: Gastrina → A gastrina é liberada pelas células G secretoras de gastrina das glândulas gástricas em resposta a vários estímulos: distensão do estômago pelo quimo, proteínas parcialmente digeridas no quimo, pH elevado do quimo decorrente dos alimentos no estômago, cafeína no quimo gástrico e acetilcolina liberada pelos neurônios parassimpáticos. → A secreção de gastrina é inibida quando o pH do suco gástrico cai abaixo de 2,0; é estimulada quando o pH aumenta. Este mecanismo de feedback negativo ajuda a proporcionar o baixo pH ideal para o funcionamento da pepsina, a matar microrganismos e a desnaturar proteínas no estômago. Colecistoquinina → A colecistocinina (CCK) é secretada pelas células CCK das glândulas intestinais no intestino delgado em resposta ao quimo contendo aminoácidos de proteínas parcialmente digeridas e ácidos graxos de triglicerídios parcialmente digeridos. → A CCK estimula a secreção de suco pancreático, que é rico em enzimas digestórias e a secreção da bile armazenada na vesícula biliar. Maria Rita Coutinho → A CCK também retarda o esvaziamento gástrico por meio da promoção da contração do músculo esfíncter do piloro, produz saciedade pela ativação do hipotálamo no encéfalo, promove o crescimento normal e manutenção do pâncreas, e incrementa os efeitos da secretina. Secretina → O quimo ácido que entra no duodeno estimula a liberação de secretina pelas células S das glândulas intestinais no intestino delgado. Por sua vez, a secretina estimula o fluxo de suco pancreático que é rico em íons bicarbonato (HCO3¯) para tamponar o quimo ácido que entra no duodeno a partir do estômago. → A secretina inibe a secreção de suco gástrico, promove o crescimento normal e a manutenção do pâncreas, e incrementa os efeitos da CCK. De modo geral, a secretina causa o tamponamento do ácido do quimo que chega ao duodeno e diminui a produção de ácido no estômago. Histamina. → A histamina estimula diretamente a célula parietal pela ligação aos receptores H2, acoplados à ativação da adenilil ciclase com produção de AMPc. → A histamina também estimula indiretamente a secreção ácida gástrica pela ligação a receptores H3 que inibem a secreção de somatostatina. Somatostatina → A somatostatina é produzida pelas células D do pâncreas e inibe a liberação de gastrina e consequentemente a secreção ácida. A secreção da somatostatina é regulada pelos altos níveis de glicose, aminoácidos e de glucagon. Fase gastrica O estômago é dividido em: EEI, cárdia, fundo, corpo, antro e piloro, regiões que se diferenciam conforme função. Tem-se presença de células oxínticas, células principais, células mucosas do colo, células G, células D, células parietais e células semelhantes às enterocromafins com diferentes secreções. Células Mucosas: muco e HCO3 (proteção) Células Parietais: fatores intrínsecos (absorção de B12) e HCl+ (secretado com a estimulação de histamina, e gastrina) Células principais: pepsinogênio (é convertido em pepsina, forma ativa, na presença de HCl) e lipases. Semelhantes a enterocromafins: histamina (estimula a produção de HCl e é liberada com estimulo da acetilcolina e da gastrina) Maria Rita Coutinho A secreção de HCl pelas células parietais pode ser estimulada por várias fontes: Acetilcolina (ACh): liberada pelos neurônios parassimpáticos; Maria Rita Coutinho Gastrina: secretada pelas células secretoras de gastrina Histamina: é uma substância parácrina liberada pelos mastócitos na lâmina própria das proximidades. → A somatostatina vai agir inibindo a liberação de HCl. Regulação da secreção de ácido pelas células parietais. Os distúrbios da secreção de ácido são importantes na patogênese da úlcera péptica e constituem um alvo particular para a ação de fármacos. 1. Para produzi-la, o Cl − é transportado ativamente para canalículos nas células que se comunicam com a luz das glândulas gástricas e, desse modo, com o próprio estômago. 2. Isso é acompanhado pela secreção de K+, que é então trocado por H+ do interior da célula por uma K+ -H+ - ATPase (a “bomba de prótons”). 3. Dentro da célula, a anidrase carbônica catalisa a combinação de dióxido de carbono e água para gerar ácido carbônico (H2CO3), que se dissocia gerando íons H+ e HCO3-. 4. Esse último é trocado através da membrana basal da célula parietal por Cl −. 5. O HCl é então formado no lumen, enquanto o bicarbonato se difunde nos capilares sanguíneos próximos. Úlceras pépticas Desequilíbrios dos mecanismos secretores e protetores estão envolvidos na patogênese da úlcera péptica, e, de fato, em outros tipos de comprometimento gástrico como a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) 1, lesões ulcerosas causadas pelos anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) e H. Pylori. A úlcera duodenal é a forma predominante de doença ulcerosa péptica, cinco vezes mais frequente do que a úlcera gástrica. O sangramento é a complicação mais frequente da doença ulcerosa péptica. As perfurações são complicações ainda mais graves. Úlceras terebrantes surgem quando ocorre perfuração, porém, são bloqueadas por órgãos adjacentes. Maria Rita Coutinho Os sintomas referidos pelos pacientes não permitem diferenciar úlcera duodenal (UD) e úlcera gástrica (UG) e, algumas vezes, são muito discretos, atípicos ou ausentes. A melhora da dor com a ingestão de alimentos é relativamente frequente nos portadores de UD (chamada de dor em três tempos: dói-come-passa), Em portadores de UG, a ingestão de alimentos às vezes piora ou desencadeia o sintoma (dor em quatro tempos: dói-come-passa-dói). O fato de o paciente ser despertado pela dor no meio da noite (clocking) é sugestivo da presença de úlcera, particularmente, duodenal. A pirose ou azia é comum nos pacientes com UD, em virtude da associação da UD com refluxo gastroesofágico. ULCERA X EROSÃO Erosões- mais superficiais, menores que 0,5cm e não atingem a submucosa. Ulceras- mais profundas, maiores que 0,5cm, atingem a submucosa, podem se desenvolver em qualquer porção e formam cicatrizes. AINES Deve-se pesquisar durante a anamnese o uso de drogas anti- inflamatórias, particularmente, em pacientes idosos nos quais há maior consumo em razão da elevada prevalência de doenças osteoarticulares. Pacientes cardiopatas devem ser pesquisados, pois nesse grupo é frequente a ingestão regular de doses baixas de ácido acetilsalicílico na profilaxia de enfermidades cardiovasculares isquêmicas. TRATAMENTO DA ÚLCERA PEPTICA Não medicamentoso → Evitar alimentos que exacerbem os sintomas, fumo e álcool. Medicamentoso → Inibidores da bomba de prótons (IBP´s) – Omeprazol – Lansoprazol – Pantoprazol Os IBP´s são os fármacos mais eficazes. São inibidores da bomba de prótons irreversíveis. Não devem ser usados concomitantemente com antagonistas de H2, porque não terá efeito. Isso se deve ao fato de o antagonista de H2 atuar na via inicial e o IBP na via final. Os IBP´s não devem ser utilizados junto a antiácidos, uma vez que necessitam do meio gástrico para atuar. Maria Rita Coutinho → Antiácidos – Hidróxido de alumínio – Hidróxido de magnésio Os antiácidos são bases fracas que reagem com o ácido gástrico formando água e um sal, para diminuir a acidez gástrica. Efeitos de curta duração. Alívio imediato e terapia conjunta. Administrados em quantidade suficiente, por tempo suficiente, podem produzir fechamento de úlceras duodenais, mas são menos eficazes para úlceras gástricas. A maioria dos antiácidos em uso comum são sais de magnésio e alumínio. Os sais de magnésio causam diarreia, e os sais de alumínio, constipação, de modo que as misturas dos dois, felizmente, podem ser usadas para preservar a função normal do intestino. → Bloqueadores de H2 – Cimetidina; – Ranitidina (saiu do mercado); – Nizatidina; – Famotidina. Os antagonistas do receptor H2 da histamina inibem, competitivamente, as ações da histamina em todos os receptores H2, mas seu principal uso clínico é como inibidores da secreção de ácido gástrico são inibidores da H2 totalmente reversíveis. Podem inibir a secreção de ácido estimulada pela histamina e pela gastrina; a secreção de pepsina também cai com a redução de volume do suco gástrico. Maria Rita Coutinho Os fármacos são, em geral, administrados por via oral e são bem absorvidos, embora também estejam disponíveis preparações para uso intramuscular e intravenoso (exceto a famotidina). Não ingerir associados a antiácidos. Os efeitos adversos são raros. Têm sido relatados casos de diarreia, tonturas, dores musculares, alopecia, rashes transitórios, confusão em idosos e hipergastrinemia. Em homens, a cimetidina ocasionalmente provoca ginecomastia e, raramente, diminuição da função sexual. Isso provavelmente é causado por sua pequena afinidade por receptores de andrógenos. A cimetidina é contraindicada para gestantes. A cimetidina (mas não outros antagonistas do receptor H2) também inibe o citocromo P450 e pode retardar o metabolismo (e, desse modo, potencializar a ação) de vários fármacos, incluindo anticoagulantes orais e antidepressivos tricíclicos. → Análogos das prostaglandinas – Misoprostol (Cytotec) O Misoprostol é um análogo sintético de prostaglandina E1 efetivo no tratamento e prevenção da úlcera gástrica induzida por anti-inflamatórios não hormonais. A deficiência de PGs pode estar envolvida na patogênese das úlceras pépticas. Agentes que aumentam as defesas da mucosa. Possui propriedades abortivas. Contraindicados em gestantes. → Sulcrafato – Sulcrafato – Bismuto coloidal São fármacos protetores da mucosa. Não previne ulceras induzidas por AINES. Não cicatrizam ulceras gástricas. Usados em ulceras de estresse (duodenais), mucosite oral, gastropatia por refluxo de bile, procitite por irradiação e ulceras retais solitárias. Hidrossolúvel, mas precipita em pH< 5, formando um gel que recobre a ulcera. Estimula a produção de PGs que aumenta a secreção de muco e bicarbonato. Tem efeito bactericida contra H. Pylori. Contraindicado em IR (sobrecarga de alumínio). Ulcera por AINE Retirar a medicação Uso de inibidores seletivos de COX-2 iBP com doses mais elevadas e por mais tempo H. pylori: Maria Rita Coutinho → Pylori = tropismo pelo antro pilórico. Capaz de migrar para o corpo do estômago. – No estômago (fundo e corpo) causa: → Ulcera gástrica → Destruição das células parietais, levando a hipo ou normocloridria. → Gastrite atópica multifocal -> Destruição de células produtoras ou estimuladores da produção de substâncias ácidas. – No duodeno causa: → Ulcera duodenal → Gastrite -> Destruição de células D e redução da somatostatina. → Aumento da concentração do produto da célula G -> úlcera duodenal. A maior causa de gastrite é o H. pylori. A maioria das pessoas infectadas pela bactéria pode desenvolver gastrite aguda (GA) e esta resolver espontaneamente. Gastrite é definida como infamação do revestimento do estômago associada à lesão da mucosa gástrica. Representa a resposta do estômago a uma agressão. A gastrite crônica (GC) é uma condição infamatória da mucosa gástrica que pode afetar diferentes regiões do estômago e exibir graus diferentes de lesões da mucosa. Seu maior fator causal, o H. pylori, tem um longo período latente de infecção subclínica, durante o qual causa infamação e dano da mucosa. A presença do H. pylori no estômago está sempre associada com lesão tecidual e achados histológicos de gastrite crônica ativa. Diagnóstico Endoscopia digestiva alta: deve-se suspender o uso de IBP´s e antibioticos 2 semanas antes da realização do exame. Teste sorológico: pode ser realizado em laboratórios de referência ou por um teste rápido desenvolvido para o consultório. Geralmente, a IgG está aumentada em pessoas contaminadas pelo microrganismo. Teste respiratório com ureia marcada: Nesse teste, o paciente ingere ureia marcada com carbono 14 (radioativo) ou carbono 13 (não radioativo). Este último, por não ser radiativo, é seguro, podendo ser utilizado em mulheres grávidas, crianças e também para transporte de um local para outro (análise laboratorial em outra localidade). Se a bactériaH. pylori estiver presente, ele transforma a ureia em amônia e dióxido de carbono marcado. Este pode ser detectado e quantificado no ar expirado 30 minutos mais tarde em um balão de coleta. Pesquisa do antígeno fecal: método que identifica, por reação imunoenzimática, antígenos do H. pylori nas fezes dos pacientes. TRATAMENTO DO H. PYLORI. → 14 DIAS (CAO) Claritromicina- 500mg 12/12h Maria Rita Coutinho Amoxicilina 1g 12/12h Omeprazol 20mg 12/12h (pode ser outro IBP) Caso o paciente seja alérgico a penicilina, a amoxicilina pode ser substituída por por levofloxacino 500mg 1x ao dia, furazolidona 200mg 12/12h (não está mais no mercado) ou metronidazol 500mg 12/12h. Para tratamento de resgate, o esquema mais utilizado é feito com a substituição da claritromicina por levofloxacino 500mg 1x ao dia, por 10 dias. DRGE Deslocamento sem esforço do conteúdo gástrico do estômago para o esôfago Ocorre várias vezes ao dia-processo fisiológico SE assintomático e sem lesão. Doença do refluxo é a condição na qual o refluxo do conteúdo gástrico provoca sintomas que afetam o bem-estar do paciente levando a complicações. Causada pela ausência do controle do retorno do conteúdo estomacal pelos esfíncteres esofágicos. → Doença do refluxo não erosiva (DRGE-NE)- A forma mais frequente da enfermidade, é definida pela presença de sintomas desagradáveis associados ao refluxo, com ausência de erosões ao exame endoscópico. → Doença do refluxo erosiva (DRGE-E)- Apresentação clássica da enfermidade, com sintomatologia clínica e presença de erosões ao exame endoscópico, a qual, embora importante, não apresenta especificidade elevada. Causada por anomalia anatômica: – Hernia hiatal; – Disfunção do EEI. NÂO É CAUSADA POR INFECÇÃO POR H. PYLORI! Sintomas Regurgitação ácida AZIA X PIROSE Maria Rita Coutinho Azia- refere-se a uma sensação de ardor que se localiza no epigastro, zona central do abdómen, ao nível da junção das últimas costelas. (Úlcera e gastrite) Pirose- quando a sensação de ardor se estende pelo peito, posteriormente ao esterno (e eventualmente até à boca), queimação retroesternal. (DRGE) Dor torácica (atentar para doenças cardiovasculares, principalmente em pacientes mais velhos). Síndromes extra-esofágicas Tosse Laringite Asma Rouquidão Sinusite Faringite Diagnóstico diferencial Acalásia- resulta de danos nos nervos do tubo alimentar (esôfago), impedindo que o esôfago direcione o alimento para o estômago. Pode ser causada por uma resposta anormal do sistema imunológico. Os sintomas incluem refluxo de alimentos na garganta (regurgitação), dor no peito e perda de peso. Normalmente, é possível tratar a acalasia com uma terapia minimamente invasiva (endoscópica) ou cirurgia. Tratamento para DRGE Não medicamentoso – Como a principal causa associada a DRGE é a obesidade, o combate ao sobrepeso é uma medida não farmacológica eficaz; – Evitar alimentos que exacerbem os sintomas; – Elevação da cabeceira do leito; – Reduzir a ingestão de alimentos que relaxam o EEI ou que têm efeito diretamente “irritante” para o esôfago; – Evitar deitar após as refeições; – Evitar refeições copiosas; fracionar a dieta; – Suspensão do cigarro; – Evitar líquidos às refeições; – Evitar atitudes que aumentem a pressão intra-abdominal; – Evitar, se possível, as drogas que relaxam o EEI (antagonistas do cálcio, nitratos, barbitúricos). Medicamentoso – Antiácidos não são úteis no tratamento prolongado da DRGE, pois seu efeito é de curta duração; – Alginato é um polissacarídeo natural extraído da alga marrom que se polimeriza quando exposto ao ácido formando uma matriz de gel sobrenadante ao conteúdo gástrico que posteriormente é estabilizada por íons cálcio; – Bloqueadores dos receptores H2 da histamina (cimetidina, ranitidina, famotidina e nizatidina); Maria Rita Coutinho – Sucralfato; – Procinéticos (metoclopramida, domperidona e bromoprida); – Inibidores da bomba protônica (IBP)- mais indicados. Cirurgico – Operação antirrefluxo, quer pela via laparotômica quer pela videolaparoscópica, é desenhada para diminuir a exposição esofágica ao suco gástrico pela criação de um mecanismo antirrefluxo sobre o esfíncter esofágico inferior. – Fundoplicatura de Nissen- Esta cirurgia consiste no envolvimento completo de 360º do esófago distal pelo fundo gástrico, formando uma válvula anti-refluxo. ESÓFAGO DE BARRETT É a substituição do epitélio escamoso estratificado do esôfago por epitélio colunar contendo células intestinalizadas (metaplasia intestinal) em qualquer extensão do órgão. A metaplasia das células esofágicas leva a diminuição dos sintomas do DRGE (manutenção da disfagia). Trata-se de uma condição adquirida que resulta do refluxo gastroesofágico crônico. O esôfago de Barrett é uma condição pré-maligna que se acredita ser o maior fator de risco para o desenvolvimento de adenocarcinoma do esôfago distal. Representa estágio avançado da DRGE e constitui fator de risco importante ao desenvolvimento do adenocarcinoma de esôfago (ACE). P53 e Ki67 disfuncionais leva ao câncer. Diagnóstico: Endoscopia Digestiva Alta (EDA); Biópsia demonstra metaplasia intestinal especializada com células caliciformes. METAPLASIA DISPLASIA ADENOCARCINOMA Tratamento O tratamento permanece desconhecido. Maria Rita Coutinho A supressão ácida (farmacológica ou cirúrgica) poderia alterar a história natural da metaplasia, embora, trabalhos recentes tenham sugerido que a terapia com IBP está associada à redução significativa do desenvolvimento de displasia nesses pacientes. Hemorragia digestiva Sangramento intraluminal de qualquer localização do TGI Origem do sangramento: – Hemorragia digestiva alta (HDA) → Proximal ao ligamento de Treitz – esôfago, estômago → 80% das HD com 5 a 8% de mortalidade (80% dos casos cessam espontaneamente) → Hematêmese; 90% Melena – Hemorragia digestiva baixa (HDB) → Distal ao ligamento de Treitz (intestino delgado, colo, reto, ânus) → + de 90% Hematoquezia ICTERÍCIA PÂNCREAS O pâncreas, uma glândula retroperitoneal, consiste em uma cabeça, um corpo e uma cauda e geralmente está ligado ao duodeno por dois ductos. Os sucos pancreáticos são secretados pelas células exócrinas em pequenos ductos que por fim se unem para formar dois ductos maiores, o ducto pancreático e o ducto acessório. Estes, por sua vez, levam as secreções até o intestino delgado. O ducto pancreático ou ducto de Wirsung é o maior dos dois ductos. A obstrução desse ducto leva a um quadro inflamatório do pâncreas conhecido como pancreatite. Na maior parte das pessoas, o ducto pancreático se une ao ducto colédoco que vem do fígado e vesícula biliar e entra no duodeno como um ducto comum dilatado chamado ampola hepatopancreática ou ampola de Vater. A ampola se abre em uma elevação da túnica mucosa duodenal conhecida como papila maior do duodeno, que se situa aproximadamente 10 cm inferior ao óstio pilórico do estômago. A passagem do suco pancreático e biliar por meio da ampola hepatopancreática para o duodeno do intestino delgado é regulada por massa de músculo liso que circunda a ampola conhecida como músculo esfíncter da ampola hepatopancreática ou esfíncter de Oddi. O outro grande ducto do pâncreas, o ducto pancreático acessório (ducto de Santorini), sai do pâncreas e esvazia-se no duodeno aproximadamente 2,5 cm acima da ampola hepatopancreática. O pâncreas produz diariamente de 1.200 a 1.500 m ℓ de suco pancreático, um líquido claro e incolor que consiste principalmente em água, alguns sais, bicarbonato de sódio e várias enzimas. O bicarbonato de sódio dá ao suco pancreático um pH ligeiramente alcalino (7,1 a 8,2)que tampona o suco gástrico ácido no quimo, interrompe a ação da pepsina do Maria Rita Coutinho estômago e cria o pH apropriado para a ação das enzimas digestórias no intestino delgado. As enzimas no suco pancreático incluem uma enzima para digerir amido chamada amilase pancreática; várias enzimas que digerem proteínas em peptídios chamadas tripsina, quimotripsina, carboxipeptidase e elastase; a principal enzima que digere triglicerídios em adultos, chamada lipase pancreática; e as enzimas que digerem ácidos nucleicos chamadas ribonuclease e desoxir ribonuclease, que digerem ácido ribonucleico (RNA) e ácido desoxirribonucleico (DNA) em nucleotídios. FÍGADO E VESÍCULA BILIAR O fígado é a glândula mais pesada do corpo e de todos os órgãos do corpo, é o segundo em tamanho, perdendo apenas para a pele. O fígado encontra-se inferiormente ao diafragma e ocupa a maior parte do hipocôndrio direito e parte das regiões epigástricas da cavidade abdominopélvica. A vesícula biliar é um saco em forma de pera que está localizado em uma depressão da face posterior do fígado. Mede de 7 a 10 cm de comprimento e normalmente pende da margem inferior anterior do fígado. O fígado é composto por vários componentes: Os hepatócitos são as principais células funcionais do fígado e realizam uma grande variedade de funções metabólicas, secretoras e endócrinas. Os sulcos nas membranas celulares entre hepatócitos vizinhos fornecem espaços para os canalículos (descritos a seguir) para os quais os hepatócitos secretam bile. A bile, um líquido amarelo, marrom ou verde-oliva secretado pelos hepatócitos, atua tanto como um produto de excreção quanto como uma secreção digestória. Tem um pH entre 7,6 e 8,6 e é constituído principalmente por água, sais biliares, colesterol, um fosfolipídio chamado lecitina, pigmentos biliares e vários íons. O principal pigmento biliar é a bilirrubina. A fagocitose dos eritrócitos envelhecidos libera ferro, globina e bilirrubina (derivada do heme). Os canalículos de bile são pequenos ductos entre os hepatócitos que coletam a bile produzida pelos hepatócitos. Dos canalículos de bile, a bile passa para os dúctulos biliares e, em seguida, para os ductos biliares. Os ductos biliares se unem e, por fim, formam os ductos hepáticos esquerdo e direito, que são maiores e se unem e saem do fígado como o ducto hepático comum. O ducto hepático comum junta-se ao ducto cístico da vesícula biliar para formar o ducto colédoco. Por ele, a bile entra no duodeno do intestino delgado para participar da digestão. Além de secretar bile, que é necessária para a absorção das gorduras dietéticas, o fígado desempenha outras funções vitais: – Metabolismo de carboidratos; – Metabolismo de lipídios; – Metabolismo de proteínas; – Processamento de fármacos e hormônios; – Excreção de bilirrubina; – Armazenamento; Maria Rita Coutinho – Fagocitose; – Ativação da vitamina D. Metabolismo da bilirrubina Bilirrubinas são catabólitos potencialmente tóxicos cuja metabolização depende de um mecanismo fisiológico complexo. As bilirrubinas participam da regulação do metabolismo do colesterol, dos níveis de adipocinas e da expressão de PPAR gama. Existem três etapas principais do metabolismo das bilirrubinas: pré-hepática, intra- hepática e pós-hepática. → Fase pré-hepática (Baço) – A bilirrubina provém do heme liberado com a degradação da hemoglobina (120 dias), proteína que atua no transporte e no metabolismo do oxigênio das hemácias. – O restante provém de outras fontes, como mioglobina, citocromo P-450, catalase e peroxidase. – Na periferia, o heme é convertido em biliverdina pela enzima heme-oxigenase; posteriormente, transforma-se em bilirrubina sob atuação da biliverdina-redutase. – Nessa etapa, a bilirrubina está na forma não conjugada, também denominada forma indireta, não sendo hidrossolúvel, liga-se à albumina para chegar ao fígado. → Fase intra-hepática (fígado) – Para entrada no hepatócito, se desligam da albumina, mas permanece ligada às proteínas da família da glutationa-S- transferase, ligandinas. – Sofre, então, o processo de conjugação com ácido glicurônico pela ação da enzima UGT1A1, que é uma UDP-glicuronosil-transferase, e converte-se em mono e diglicuronato de bilirrubina, também denominadas bilirrubina direta. Maria Rita Coutinho – A conjugação torna- a hidrossolúvel e, portanto, incapaz de se difundir através de membranas celulares. – A excreção biliar depende de uma ATPase transportadora de bilirrubina, conjugada através da membrana do polo biliar do hepatócito, denominada MRP2 (proteína associada à resistência a múltiplas drogas 2) ou cMOAT (transportador canalicular multiespecífco de ânions orgânicos). → Fase pós-hepática – A bilirrubina é conduzida pelos canalículos biliares até os ductulos, passando para os ductos biliar e cístico, atingindo a vesícula, onde pode permanecer armazenada. Pode, também, prosseguir através da ampola de Vater e atingir a luz do duodeno. – Nos intestinos, parte da bilirrubina é excretada com o bolo fecal, na forma de estercobilina; o restante é metabolizado pela fora intestinal em urobilinogênios e é reabsorvido. – A maior parte dos urobilinogênios do sangue é filtrada pelos rins e excretada na urina, na forma de urobilina. Apenas uma pequena fração dos urobilinogênios é reabsorvida nos intestinos e novamente excretada para a bile. Bilirrubina total é de 0,2 a 1,0 mg/dL; Bilirrubina conjugada 0,1 a 0,3mg/dL; Bilirrubina não-conjugada 0,2 a 0,8 mg/dL. Fisiopatologia A hiperbilirrubinemia não-conjugada ocorre por aumento da produção, captação e conjugação prejudicadas da bilirrubina; Aumento da produção: hemólise (já que aumenta o substrato para produção de bilirrubina). Diminuição da captação: medicamentos, infecções, desnutrição, etc. Maria Rita Coutinho Diminuição da conjugação: síndrome de Gilbert e Crigler-Najar; neonatal (fisiológica). Ex: Doença falciforme- ocorre icterícia devido à fração indireta aumentada. (só aumenta em casos de lise) – A icterícia é considerada pré-hepática quando o distúrbio antecede a entrada da bilirrubina indireta no hepatócito, como nos pacientes com aumento da produção do heme, hemólise, reabsorção de grandes hematomas ou transfusões sanguíneas rápidas. Anemias megaloblásticas por deficiência de ácido fólico ou de vitamina B12, sideroblástica e ferropriva grave, porfria eritropoiética congênita, eritroleucemia, shunt primário (ainda pouco conhecido defeito da incorporação da hemoglobina ao eritrócito), envenenamento por chumbo, doenças mieloproliferativas ou mielodisplásicas são exemplos de condições em que a eritropoiese defeituosa promove maior disponibilidade de heme e, consequentemente, hiperbilirrubinemia indireta. – A forma não conjugada tem afinidade pelo tecido nervoso e em elevadas quantidades podem causar Kernicterus, ao se impregnar nos gânglios. Icterícia neonatal se dá pela hemólise em grande quantidade da hemoglobina fetal (maior afinidade pelo O2), dando origem a uma icterícia devido ao acumulo de bilirrubina indireta. A icterícia neonatal é comum, sendo considerada fisiológica quando ocorre entre o 2° e 5° dia após o nascimento. Geralmente, os níveis séricos de bilirrubina total não excedem 10 mg/dL, e normalizam-se dentro de duas semanas. Decorre dos baixos níveis de UGT1A1, em virtude da imaturidade hepática do neonato, mais acentuada nos bebês prematuros e com hemólise. A hiperbilirrubinemia conjugada é decorrente de lesões hepatocelulares ou por obstrução intra ou extra-hepáticas. Lesão dos hepatócitos dificultando a excreção adequada da bile: hepatites virais, álcool, drogas, Doença de Wilson, febre amarela, etc. Obstrução dos canalículos biliares impedindo o fluxo da bile:coledocolitíase, pancreatite crônica, colangiocarcinoma, câncer de cabeça de pâncreas, câncer de vesícula biliar, etc. Ex: Hepatite- ocorre icterícia devido à fração direta aumentada. Colestase- aumento da bilirrubina sérica está relacionada à icterícia direta. – A bilirrubina conjugada ou direta é polar e não é absorvida pelo intestino delgado. Uma vez no íleo terminal e cólon, a bilirrubina é hidrolisada formando urobilinogênio. Este não é polar e somente uma mínima parcela absorvida no cólon. Em situação de disfunção hepática, a reexcreção biliar de urobilinogênio pode diminuir, aumentando a parcela eliminada na urina (coluria) e consequente diminuição da parcela excretada nas fezes (hipocolia ou acolia). Rabdomiolise é diagnóstico diferencial principal relacionado à colúria. Maria Rita Coutinho Diagnóstico da icterícia Icterícia refere-se à tonalidade amarelada dos tecidos corporais, incluindo a coloração amarela da pele e dos tecidos profundos. A causa usual de icterícia é a grande quantidade de bilirrubina, nos líquidos extracelulares, tanto em sua forma não conjugada como na conjugada. Os exames químicos laboratoriais podem ser usados para diferenciar a bilirrubina não conjugada da conjugada no plasma. Na icterícia hemolítica, quase toda a bilirrubina está na forma “não conjugada”; na icterícia obstrutiva, ela é, principalmente, da forma “conjugada”. O teste denominado reação de van den Bergh, pode ser empregado para diferenciar entre as duas. Colúria: ocorre devido a presença de bilirrubina direta na urina. Somente a direta pode causar colúria já que é solúvel e não é ligada à albumina como a bilirrubina indireta. Acolia fecal: é causada pela colestase da bile impedindo que a bilirrubina direta chegue até o intestino para ser convertida em estercobilina. A presença de uma vesícula biliar palpável (Sinal de Couvousier-Terrier) indica obstrução por doença maligna. O aumento da bilirrubina não conjugada e a detecção da diminuição da hemoglobina no hemograma sugere hemólise. As desordens hereditárias associadas ao aumento isolado da bilirrubina não- conjugada são as Síndromes de Gilbert e Síndrome Crigler-Najjar e os distúrbios associados com a hiperbilirrubunemia direta são Rotor e Síndrome de Dubin- Johnson. O aumento da bilirrubina conjugada sugere ou lesão hepatocelular ou lesão colestática. Algumas possíveis etiologias Coledocolitíase: em geral esses pacientes apresentam dor abdominal de forte intensidade em hipocôndrio direito associado à náuseas e vômitos. Há aumento de bilirrubinas às custas de direta e das enzimas canaliculares (fosfatase alcalina e GGT). Nesses pacientes a USG de abdome pode demonstrar dilatação de vias biliares ou espessamento ao redor da vesícula. Hepatites virais: trata-se de um quadro agudo associado à fadiga, febre e perda de peso. Em caso de suspeita, as sorologias devem ser solicitadas para investigação: AgHbs, anti-HBc, anti-HCV, anti-HAV. As enzimas hepáticas (AST/ALT) ficam bastante elevadas (> 1.000). Câncer de cabeça de pâncreas: pacientes idosos, com icterícia flutuante*, perda ponderal importante e/ou história familiar devem ser investigados, já que trata- se de uma causa de icterícia com alta letalidade. Icterícia flutuante: ocorre quando o paciente relata que houve períodos de melhora da icterícia com piora posteriormente. Isso é sugestivo de causa neoplásica (em que a necrose tumoral destrói parte do tecido que está obstruindo a via biliar) e colelitíase. Enzimas Aminotransferases (enzimas hepáticas)- transferências do grupamento amino. Maria Rita Coutinho → AST (TGO)- mais inespecífica do fígado; miocárdio, musculoesquelético, rins e cérebro. – Aumentada com a bilirrubina indireta, indica uma doença hemolítica. – Aumentada pode indicar uma lesão muscular (mioglobina deve ser dosada). – Aumentada pode indicar uma lesão cardíaca (troponina e CK- MB). → ALT (TGP)- mais específica do fígado. Separadamente são inespecíficas, mas elevação simultânea indica sofrimento hepático. Gama- GT (GGT) e [Fosfatase alcalina (FAL)- associada ao metabolismo ósseo, elevada em crianças.]- alteradas indicam lesão hepatobiliar. Creatinaquinase (CK)- inespecífica – CK-MB- hibrida (lesão no miocárdio) – CK-BB- lesão cerebral – CK-MM- lesão muscular Pancreáticas – Lipase (mais específica) – Amilase (sobe mais rápido) DIARREIA E CONSTIPAÇÃO Diarreia Diarreia consiste em alteração do hábito intestinal por diminuição de consistência das fezes e aumento da frequência e do volume das evacuações. Alterações intestinais são caracterizadas por variações na consistência e pela presença de produtos patológicos nas fezes. Estes são definidos pela presença de muco, pus, sangue, resíduos alimentares ou fezes brilhantes e/ou flutuantes (esteatorreia). A fisiopatologia da diarreia envolve cinco mecanismos básicos, sendo possível a concomitância de mais de um deles no desencadeamento de determinado tipo de diarreia: – Diarreia Secretora: resulta da hipersecreção de água e eletrólitos pelo enterócito, como ocorre pela ação das enterotoxinas bacterianas. Pode também resultar da produção excessiva de hormônios e outros secretagogos, como no gastrinoma (gastrina), na síndrome carcinoide (serotonina, prostaglandinas, calcitonina), na cólera pancreática (VIPomas), no adenoma viloso, na insuficiência adrenal e no hipoparatireoidismo. – Diarreia Osmótica: o processo da digestão determina fisiologicamente a transformação do conteúdo intestinal em material isosmótico. Distúrbios da digestão presentes nas deficiências de dissacaridases, que mantêm um conteúdo hiperosmolar, determinam a passagem de líquidos parietais para o lúmen intestinal e, consequentemente, diarreia. O mesmo pode acontecer pela ingestão de agentes Maria Rita Coutinho osmoticamente ativos como a lactulose, o manitol, o sorbitol e os sais de magnésio. – Diarreia Motora: resulta de alterações motoras com trânsito intestinal acelerado, como ocorre nas enterocolopatias funcionais ou doenças metabólicas e endócrinas. Surge, também, por redução da área absortiva consequente de ressecções intestinais ou de fístulas enteroentéricas. – Diarreia Exsudativa/Inflamatória: decorre de enfermidades causadas por lesões da mucosa resultantes de processos inflamatórios ou infiltrativos, que podem levar a perdas de sangue, muco e pus, com aumento do volume e da fluidez das fezes. É encontrada nas doenças inflamatórias intestinais, neoplasias, shigelose, colite pseudomembranosa, linfangiectasia intestinal. – Diarreia Disabsortiva: resulta de deficiências digestivas e lesões parietais do intestino delgado que impedem a correta digestão ou absorção. Este processo pode causar diarreia com esteatorreia e resíduos alimentares. Diarreia crônica, distensão abdominal por gases e dor abdominal são considerados sintomas da intolerância ao glúten não celíaca (que está associada à anormalidade da função de barreira do intestino delgado ou grosso) e da intolerância aos oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos e poliol fermentáveis (FODMAP). Os efeitos dessa última intolerância são atribuídos a uma interação entre a microbiota GI e os nutrientes. Classificação → Quanto ao tempo – Aguda: diarreia que tem duração máxima de 30 dias, habitualmente ficando restrita a 2 semanas. As diarreias agudas devem ser consideradas como urgência médica devido aos riscos inerentes especialmente relacionados com a desidratação habitual nesses casos. A principal etiologia é a infecciosa. Contudo, são processos autolimitados, na maioria das vezes, e a conduta primordial é a manutenção da homeostase com o equilíbrio hidreletrolítico. – Crônica: quando tem duração superior a 1 mês. As diarreias crônicas apresentamcondições etiopatogênicas muito mais complexas, porém raramente necessitam de abordagem emergencial. Com isso, a necessidade de tratamento empírico inicial é reduzida e o médico tem condições de conduzir investigação adequada. → Quanto à localização – Alta: relacionada ao intestino delgado. Padrão secretor. Menor frequência e maior quantidade de líquidos. – Baixa: relacionada com o intestino grosso (cólon). Padrão inflamatório. Maior frequência e menor quantidade de líquidos, sendo associada a tenesmo. Diarreia infecciosa Maria Rita Coutinho – Principalmente de origem viral, mas também há importante infecção por enterobacterias. → Enterobactérias Bactérias Gram-negativas; Abundantes no ambiente; Grande variedade de bactérias patogênicas; Presentes na microbiota normal do intestino de seres humanos e animais. Anaeróbios facultativos- Crescimento em diversos meios de cultura. Parede celular de bactérias Gram Negativas LPS – lipopolissacarídeo- principal antígeno da família – Estimula a produção de TNF-alfa por fagócitos, NK e monócitos. – Estimula junto ao TNF a produção de IL-1. Lipídeo A – Endotoxina Polissacarídeo – Antígeno O Estrutura antigênica: Antígeno K – “Kápsula” (Antígeno Vi no caso de Salmonella typhi) Funções da cápsula: – Evasão do sistema imune – anti-fagocitose – Aderência – epitélio do trato - (E. coli K1 – infecções urinárias). Antígeno H – flagelo – Shigella é imóvel, portanto não possui antígeno H. Antígeno O (Somático) – LPS → E. coli Indicador de contaminação fecal (“coliformes fecais”) E. coli diarreiogênicas: EPEC, EHEC, ETEC, EAEC, EIEC e DAEC E. coli extra-Intestinais: UPEC As combinações destes antígenos (O, H e K) resultam em mais de mil tipos antigênicos de E. coli. Habitat - Lúmen intestinal de humanos e outros animais de sangue quente. Presença da E.coli - indicativo de contaminação com fezes. Fatores de virulência: Adesinas – fímbrias: Aderência da E. coli às células do jejuno e íleo. Enterotoxinas: toxinas protéicas, termolábil e termoestável. Cepas que produzem enterotoxinas são chamadas de cepas enterotoxigênicas (ETEC) Verotoxina 1 e 2: Danifica as células endoteliais Diarréia hemorrágica. Cepas que produzem verotoxinas são chamadas de cepas verotoxigênicas (VTEC). Hemolisinas: alfa e beta- Lisa os eritrócitos. Sideróforos: Permitem à E. coli adquirir ferro do hospedeiro. – EPEC ("Enteropathogenic E.coli “; E.coli EnteroPatogênica): diarréias não sanguinolentas. Maria Rita Coutinho – EIEC ("Enteroinvasive E.coli" ; E.coli EnteroInvasiva): são invasivas e destrutivas da mucosa intestinal, causando úlceras e inflamação. – EHEC ("Enterohemorragic E.coli"; E.coli EnteroHemorragica): colite hemorrágica. E. coli O157:H7, é a cepa mais perigosa, produzem toxinas que destroem células epiteliais do intestino grosso causando colite hemorrágica, uma diarréia sanguinolenta. Podem provocar anemia e trombocitopenia. Diagnóstico Suspeita – coleta de fezes. Quantificação de E. coli no intestino delgado. Anticorpos marcados com fluoresceína. Enterotoxinas ST e LT. ELISA: detecta a presença de toxinas PCR: detecta os genes da bactéria. Diarreia crônica – As principais causas de diarreia crônica são síndrome do intestino irritável (SII), doença inflamatória intestinal (DII), síndrome de má absorção e infecção crônica. – Portadores de imunodeficiências apresentam frequentemente diarreia associada a infecções oportunistas crônicas. – O câncer colorretal pode apresentar-se com diarreia crônica, habitualmente com sinais de perda de sangue. – O uso de medicamentos também deve ser investigado. Algumas drogas têm efeito secretório direto no intestino delgado e no cólon, principalmente a fenolftaleína e os derivados antraquinônicos como o sene. – O uso excessivo de dissacarídios não absorvíveis, como o sorbitol, em dietas com restrição de açúcar pode causar diarreia osmótica à semelhança de laxativos, como o manitol e o sulfato de magnésio. – Tumores neuroendócrinos produtores de neurotransmissores com ação secretagoga, como o VIP (peptídio vasoativo intestinal) nos VIPomas e a serotonina na síndrome carcinoide, estão associados à diarreia crônica e intensa. Maria Rita Coutinho Pseudodiarreia- incontinência fecal. Diagnósticos A orientação do diagnóstico necessita seguir parâmetros clínicos objetivos, em função da complexidade da propedêutica específica. Quando necessária, a solicitação de exames complementares deve guiar-se inicialmente pelas características do quadro diarreico, se diarreia alta ou baixa. → Exames laboratoriais Hemograma Todas as séries hematológicas podem fornecer informações valiosas na pesquisa de diarreia crônica. Na série vermelha, presença de anemia pode estar relacionada com disabsorção ou com perdas. Provas de atividade inflamatória Proteína C reativa (PCR), velocidade de hemossedimentação (VHS) e a -1 glicoproteína ácida são bons marcadores de atividade inflamatória. Apesar de inespecíficos, no contexto de diarreia crônica são importantes preditores de DII. Perfil nutricional/metabólico A albumina é nutriente nobre e de meia-vida longa. Sua deficiência está associada a condições com perda nutricional significativa. O perfil lipídico também se altera na desnutrição e na disabsorção. Em diarreias mais intensas, alterações hidreletrolíticas e disfunção renal são frequentes e devem ser pesquisadas. Marcadores específicos Anticorpo anti-Saccharomyces cerevisiae (ASCA) e anticorpo anticitoplasma de neutrófilo perinuclear (pANCA) podem auxiliar no diagnóstico diferencial de retocolite ulcerativa (RCUI) e doença de Crohn. Pesquisa de agentes infecciosos A maioria das parasitoses intestinais é assintomática nos adultos. Sangue oculto Achados conjuntos de sangue oculto e de leucócitos fecais reforçam o diagnóstico de diarreia inflamatória. Além das colites, neoplasias malignas também devem ser consideradas. Leucócitos A pesquisa de leucócitos fecais é considerada positiva quando há três ou mais polimorfonucleares por campo. A lactoferrina fecal é marcador para os leucócitos fecais, é altamente sensível e específica para as diarreias agudas infecciosas e para a Maria Rita Coutinho enterocolite pseudomembranosa por C. difficile, mas para as diarreias crônicas sua utilidade não está bem definida. Gordura e carboidratos nas fezes e pH fecal → Exames de imagem: Endoscopia digestiva alta Nos quadros clínicos compatíveis com diarreia alta, a endoscopia digestiva alta pode auxiliar no diagnóstico através da visualização da mucosa do intestino delgado proximal ou de sua análise por biopsia. Colonoscopia Exame de grande importância no diagnóstico de diarreias crônicas baixas. Além do cólon, o exame se completa com avaliação adicional do íleo distal, região também associada a diarreias inflamatórias baixas. Por ser procedimento mais invasivo, deve ser realizado após triagem clínica e laboratorial adequada que indique forte suspeita de acometimento ileocolônico. Tomografia computadorizada A tomografia com contraste oral também auxilia na avaliação do trânsito pelo intestino delgado. Tem bom desempenho especialmente para lesões tumorais dessa área. É menos sensível do que o trânsito intestinal para lesões de mucosas. Tratamento O tratamento da diarreia vai depender da etiologia. Muitas vezes o tratamento é apenas sintomático. Loperamida- Modificadores da motilidade. Estimulam os receptores opioides nos nervos entéricos, diminuindo a motilidade do trato gastrointestinal e diminuindo a secreção intestinal. Raramente são utilizados como abordagem primária devido à repercussão sistêmica. O tratamento antibiótico da diarreia infecciosa vai depender de: – Pacientecom sintomas de gravidade (temperatura > 38,5°C, muco ou sangue nas fezes) ou sinais de choque. Antibioticoterapia empírica: Maria Rita Coutinho → Enfoque no tratamento contra Gram negativos e anaeróbios (maiores causadores de infecções intra-abdominais). Ex: Campylobacter- Azitromicina (primeira escolha) ou Ciprofloxacino (segunda escolha). Vibro Coleri- Doxaciclina Beta-lactâmicos Penicilinas de espectro elevado – Resistência de Enterobacter a ampicilina/sulbactam e de E. coli a amoxicilina/clavulanato. – Piperacilina/tazobactam no tratamento empírico de pacientes de maior risco (espectro mais amplo). – Ticarcilina/clavulanato no tratamento empírico de pacientes de menor risco. Cefalosporinas – Tratamento de infecções adquiridas na comunidade. – Usadas em associação ao metronidazol. Metronidazol- espectro eficaz contra bactérias anaeróbias obrigatórias. – Cefazolina (1ª g.) + metronidazol: não recomendada (baixa evidência; resistência); – Cefuroxima (2ª g.)/cefotaxima/ceftriaxona (3ª g.) + metronidazol: IIA adquirida na comunidade de menor risco (resistência crescente); Maria Rita Coutinho – Ceftazidima (3ª g.)/cefepina (4ª g.) + metronidazol: IIA adquirida na comunidade de maior risco. Ceftriaxona não requer ajuste de dose (insuficiência renal). Carbapenens – Aztreonam + metronidazol + vancomicina: infecções intra-abdominais de maior risco, especialmente alergias a beta-lactâmicos 1° linha contra infecções intra-abdominais (monoterapia) – Ertapenem; – Doripenem: não recomendado em crianças. – Imipenem- cilastina e meropenem: pacientes de maior risco. Inibidores da DNA girasse (quinolonas) Inibição do superespiralamento do DNA mediado pela DNA girase e/ou pela DNA topoisomerase IV. Bactericidas. Ciprofloxacino Grupo I- baixo espectro II- amplo espectro III- gemifloxacino IV- moxifloxacino (gram + e anaeróbias), melhor espectro quando associado ao metronidazol – Moxifloxacino/ciprofloxacino + metronidazol: infecções intra-abdominais adquirida na comunidade – Levofloxacino + metronidazol: aceitável – Resistência às fluoroquinolonas! Inibidores da síntese proteica Aminoglicosídeos → Gentamicina- pouco utilizadas para tratamento das infecções intra- abdominais. – Menor eficácia nas infecções intra-abdominais – Uso limitado pelos efeitos tóxicos – Tratamento de pacientes neonatais – Segunda linha em algumas infecções gram-negativas Tigeciclinas (glicilciclina) – Não recomendada no tratamento empírico. – Melhor do que outras tetraciclinas, mas ainda não é primeira linha. – Infecções intra-abdominais resistente a outros antibióticos. Macrolídeos → Azitromicina e Claritromicina – Hepatotoxicidade (hepatite colestática) – Prolongamento do intervalo QT (potencial arrimtminogenico) Outros antibióticos Metronidazol – O metronidazol é um antiparasitário com ação bactericida contra bactérias anaeróbias obrigatórias, gram negativas (Bacteroides spp., Fusobacterium spp.) e algumas Gram-positivas (Clostridium spp.) Maria Rita Coutinho – Bactericida. – Forma inativa Forma ativada (fragmentação do DNA bacteriano) Antibióticos para gestantes Antibióticos para lactentes Doença de Crohn A Doença de Crohn é uma doença inflamatória do trato gastrointestinal. Ela afeta predominantemente a parte inferior do intestino delgado (íleo) e intestino grosso (cólon), mas pode afetar qualquer parte do trato gastrointestinal. A doença de Crohn é crônica e provavelmente provocada por desregulação do sistema imunológico. Maria Rita Coutinho A doença de Crohn habitualmente causa diarréia, cólica abdominal, frequentemente febre e, às vezes, sangramento retal. Também podem ocorrer perda de apetite e perda de peso subsequente. A diarréia pode se desenvolver lentamente ou começar de maneira súbita, podendo haver também dores articulares e lesões na pele. Na Doença de Crohn a dor abdominal e a diarreia frequentemente surgem após as refeições. São comuns dores nas juntas, falta de apetite, perda de peso e febre. Outros sintomas precoces da doença de Crohn são lesões da região anal, incluindo hemorróidas, fissuras, fístulas e abscessos. O diagnóstico da Doença de Crohn é feito, basicamente, por meio de exames de imagem (raio X, endoscopias) e exames de sangue. Retocolite ulcerativa crônica A retocolite ulcerativa é uma doença idiopática caracterizada por episódios recorrentes de inflamação que acomete predominantemente a camada mucosa do cólon. A doença sempre afeta o reto e também variáveis porções proximais do cólon, em geral de forma contínua, ou seja, sem áreas de mucosa normais entre as porções afetadas. Dessa maneira, os pacientes podem ser classificados como tendo a doença limitada ao reto (proctite), proctossigmoidite (quando afeta até a porção média do sigmóide), com envolvimento do cólon descendente até o reto (colite esquerda) e envolvimento de porções proximais à flexura esplênica (pancolite). As manifestações clínicas mais comuns são diarreia, sangramento retal, eliminação de muco nas fezes e dor abdominal. Deve-se sempre excluir causas infecciosas. O diagnóstico é estabelecido pela avaliação da história clínica, exame das fezes, exame endoscópico e achados histopatológicos. Não tem causa definida, portanto não há tratamento específico para sua cura. No entanto, é passível de controle através de medicamentos. É associada a vários fatores, tendo por base um componente hereditário e imunológico importantes. Intolerância a lactose Intolerância à lactose é a incapacidade de digerir a lactose (açúcar do leite). O problema é resultado da deficiência ou ausência de uma enzima intestinal chamada lactase. Esta enzima possibilita decompor o açúcar do leite em carboidratos mais simples, para a sua melhor absorção. É importante estabelecer a diferença entre alergia ao leite e intolerância à lactose. A alergia é uma reação imunológica adversa às proteínas do leite, que se manifesta após a ingestão de uma porção, por menor que seja, de leite ou derivados. A mais comum é a alergia ao leite de vaca, que pode provocar alterações no intestino, na pele e no sistema respiratório (tosse e bronquite, por exemplo). Intolerância ao glúten A intolerância ao glúten não celíaca é a incapacidade ou dificuldade de digestão do glúten, que é uma proteína presente no trigo, no centeio e na cevada. Nessas Maria Rita Coutinho pessoas o glúten danifica as paredes do intestino delgado, provocando diarreia, dor e inchaço abdominal, além de dificultar a absorção de nutrientes. Doença celíaca Doença celíaca é uma doença autoimune causada pela intolerância ao glúten, uma proteína encontrada no trigo, aveia, cevada, centeio e seus derivados, como massas, pizzas, bolos, pães, biscoitos, cerveja, uísque, vodka e alguns doces, provocando dificuldade do organismo de absorver os nutrientes dos alimentos, vitaminas, sais minerais e água. Portadores da doença podem manifestar os sintomas na fase adulta: diarreia ou prisão de ventre crônica, dor abdominal, inchaço na barriga, danos à parede intestinal, falta de apetite, baixa absorção de nutrientes, osteoporose, anemia, perda de peso e desnutrição. Constipação Evacuações infrequentes e/ou dificultosas e/ou alterações na consistência das fezes (endurecidas ou em cíbalos). A constipação intestinal pode ser classificada como secundária, quando se apresenta como um sintoma associado a vários fatores etiológicos, ou como funcional, quando não se encontra uma etiologia estrutural, metabólica ou farmacológica para explicar o quadro clínico. Fatores de risco para a constipação intestinal Idade> 65 anos Sexo feminino Nível socioeconômico e educacional desfavorável Fatores ligados ao estilo devida Ingestão inadequada de fibras Ingestão inadequada de líquidos Baixo nível de atividade física Gravidez A constipação intestinal pode ser secundária a distúrbios intestinais e extraintestinais, inclusive lesões estruturais dos cólons e da região anorretal, uso de medicamentos com efeitos constipantes, fatores psicológicos e várias doenças metabólicas e sistêmicas. A maior parte dos casos de constipação intestinal enquadra-se no diagnóstico de constipação funcional. A constipação funcional é classificada nos seguintes subgrupos, caracterizados não apenas pelos sintomas, mas também por critérios fisiológicos baseados em testes funcionais: – Constipação com trânsito colônico normal De acordo com vários autores, grande parte dos pacientes com constipação com trânsito colônico normal preenche os critérios diagnósticos para a síndrome do intestino irritável. Nesses casos, a constipação é acompanhada pelos sintomas de dor ou desconforto no abdome e pode se alternar com períodos de diarreia. Também é frequente a presença de distensão abdominal. Maria Rita Coutinho – Constipação com trânsito lento A constipação com trânsito lento é caracterizada pela lentificação do trânsito colônico relacionada com alterações da atividade motora dos cólons ainda não identificadas em sua totalidade. – Evacuação obstruída funcional A evacuação obstruída caracteriza-se pela evacuação retal prejudicada, com trânsito colônico normal ou lento. A evacuação retal incompleta pode ser consequência de alterações nas forças propulsoras do reto e/ou aumento da resistência à evacuação. Pode ser secundária a alterações estruturais ou ser um distúrbio funcional. A evacuação obstruída funcional recebe várias denominações, como anismo, contração paradoxal do músculo puborretal, discinesia ou dissinergia do assoalho pélvico. Caracteriza-se por contração da musculatura pélvica no momento da evacuação, causando oclusão do canal anal, o que impossibilita a exoneração fecal. Escala de Bristol SINDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL Ausência de perda ponderal e de sinais de desnutrição, presença de sintomas predominantemente diurnos, alternância do hábito intestinal com períodos de constipação intestinal, além de crise de dor associada à distensão abdominal e aliviada pela evacuação são sugestivas de síndrome do intestino irritável (SII). O início dos sintomas, habitualmente, ocorre em períodos de instabilidade emocional e predomina em adultos jovens. Roma IV – Paciente com dor abdominal recorrente (Mais de 1 dia por semana nos 3 meses anteriores), com início de pelo menos 6 meses antes do diagnóstico. – Sinais de alerta a serem descartados: Idade maior ou igual a 50 anos com nenhuma triagem precoce de Câncer Colorretal bem como sintomas; Maria Rita Coutinho Mudanças recentes no hábito intestinal; Evidência de sangramento nas fezes (hematoquezia e melena); Dor noturna ou tenesmo; Perda de peso importante; Histórico familiar de câncer colorretal ou doença inflamatória intestinal; Massa abdominal ou linfonodos palpáveis; Sinais de anemia ferropriva em exames laboratoriais. – Dor abdominal associada aos sintomas Dor relacionada à defecação; Mudança na frequência das fezes; Mudança na aparência das fezes; Teste positivo para sangue oculto nas fezes. Suspeitas etiológicas – Anormalidades no eixo cérebro-intestino – Alterações da motilidade intestinal – Alterações da microbiota – Fatores genéticos – Anormal propulsão e expulsão de gases (inchaço abdominal) – Pós-infeciosa – Intolerância alimentar (FODMAPs) – Inflamação local – Fatores Psicossociais Dado que não existe acordo geral sobre a causa da SII, não surpreende que atualmente nenhum tratamento em particular seja considerado em todo o mundo como universalmente aplicável no tratamento clínico de todos os pacientes com SII. O diagnóstico é feito por exclusão, principalmente com outras desordens inflamatórias do trato digestivo. Há ausência de anormalidades estruturais e bioquímicas em todos os procedimentos complementares, laboratoriais e de imagem disponíveis até o momento para investigação diagnóstica. O diagnóstico laboratorial é de extrema importância no auxílio diagnóstico, tanto para enquadrar o paciente nos critérios de Roma, quanto para descartar outras hipóteses de enfermidades. O hemograma, a velocidade de eritrossedimentação (VES), proteína C reativa, parasitológico de fezes, sangue oculto nas fezes são uns dos principais exames gerais a serem considerados na primeira frente diagnóstica. Outros exames recomendados de fortes evidências são a lactoferrina fecal e a calprotectina fecal e este último, por exemplo é um dos principais marcadores de doença inflamatória intestinal. A calpronectina fecal é de grande valor diagnóstico, pois se estabelece como um diagnóstico diferencial crucial entre doença inflamatória intestinal e a síndrome do intestino irritável em pacientes com sintomas gastrointestinais crônicos. A lactoferrina fecal, também, é de grande valia para o diagnóstico diferencial, pois ela é uma proteína existente no citoplasma dos granulócitos que estatisticamente está mais elevada na Doença de Crohn. Maria Rita Coutinho Se o paciente apresentar sinais de alarme como descritos nos critérios de Roma IV há a indicação direta para exames de imagem, como a colonoscopia (padrão ouro), mas também, retossigmoidoscopia, clister opaco e até mesmo ultrassom de abdome total. O tratamento da SII é baseado nos sintomas e na associação com transtornos psicossociais, como: mudanças no estilo de vida, alterações na dieta com baixa ingestão de FODMAPs, exercícios físicos, tratamentos medicamentosos, terapia comportamental cognitiva, tratamentos psicológicos e utilização de probióticos, visto que alguns estudos têm investigado seu papel no tratamento da SII. Em relação à sensibilidade, para alívio da dor, recomenda-se algum dos antiespasmódicos/anticolinérgicos ou bloqueadores de canais de cálcio, por sua ação relaxante da musculatura lisa intestinal. Os antidepressivos tricíclicos também são importantes miorrelaxantes, mas não devem ser prescritos para a forma constipada da SII. Ansiolíticos fazem parte da abordagem medicamentosa da SII e são dirigidos para os casos nos quais a relação dos sintomas digestivos e estados de tensão seja muito evidente. Antimicrobianos têm sido propostos no tratamento da distensão abdominal, por vezes a queixa mais incômoda dos doentes com SII. LITÍASE COLELITIASE Formação do cálculo 1. Os hepatócitos da parte final do espaço portal sintetizam a bile contendo solutos orgânicos (colesterol, ácidos biliares, fosfolipídios e pigmentos biliares). 2. Na sequência da síntese, os sais biliares organizam-se em micelas simples e o colesterol agrega- se aos fosfolípides formando vesículas unilamelares, semiestáveis; sob essa forma o colesterol é transportado para a vesícula e, durante o processo de passagem pelo trato biliar, vários agregados lipídicos são convertidos em micelas mistas que promovem a solubilização do colesterol. 3. Se o teor de colesterol na bile exceder a capacidade de solubilização pelas micelas mistas, ocorre a formação de bile supersaturada ou litogênica, com vesículas multilamelares menos estáveis e ricas em colesterol, que podem se fundir e propiciar a formação de cristais de mono-hidrato de colesterol, iniciando o processo de nucleação que é facilitado pelas glicoproteínas secretadas pela vesícula biliar. 4. Estão criadas, assim, as condições para o desenvolvimento da calculose biliar, que depende, ainda, do concurso de outros fatores. Maria Rita Coutinho A fisiopatologia da calculose biliar é multifatorial: envolve desequilíbrio da secreção do colesterol biliar,reação infamatória do epitélio da vesícula, produção de mucina e distúrbios de motilidade da vesícula biliar, além de alterações na circulação êntero- hepática dos sais biliares. Tipos de cálculos biliares Cálculos de colesterol: representam 80% dos cálculos biliares e resultam de alterações na homeostase do colesterol na bile (saturação maior que a capacidade de solubilização pelos sais biliares e fosfolípides), hiperprodução de colesterol versus hipossecreção de sais biliares e lecitina (resultando em nucleação do colesterol e formação de cristais). Cálculos negros: formados de colesterol + bilirrubina não conjugada + mucina (matriz). São mais radiopacos que os de colesterol; ocorrem quando há elevação da bilirrubina indireta e estão associados a doenças hemolíticas crônicas e eritropoiese ineficaz induzida pela circulação êntero-hepática de bilirrubina. Cálculos marrons: formados de bilirrubinato de cálcio + sais de cálcio + colesterol e ácidos graxos. Fatores de risco Não evitáveis: idade, sexo feminino, fatores genéticos e etnia. Evitáveis: obesidade, perda rápida de peso (natural ou cirúrgica), gravidez e multiparidade, hipertrigliceridemia, nutrição parenteral, uso de hormônios femininos, diabetes, hiperinsulinemia, síndrome metabólica, uso de cefalosporinas de terceira geração, octreotide e drogas antilipêmicas, fumo e sedentarismo. A perda de peso muito rápida na primeira fase de emagrecimento pode ser responsável pela ocorrência maior de calculose, constatação esta que tem fortalcido a proposta de realização de colecistectomia profilática em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica. Quadro clínico Maria Rita Coutinho Cerca de 60 a 85% dos portadores de calculose biliar são assintomáticos e não requerem tratamento preventivamente, exceto em condições de risco. Sintomas dispépticos que, frequentemente, são atribuídos à presença de litíase biliar, em geral não constituem expressão da doença; um estudo de metanálise indica que apenas a dor no HD, náuseas e vômitos são sintomas característicos da colecistolitíase sintomática e caracterizam a cólica biliar, que traduz a impactação de cálculo no cístico, provocando espasmos da vesícula. A ocorrência dos sintomas na litíase biliar depende fortemente do tipo e da composição dos cálculos, sua quantidade, tamanho e localização na árvore biliar. Os cálculos vesiculares puros de colesterol são os principais responsáveis pelos episódios de cólica biliar; cálculos de formação mais recente, em geral menores, podem causar pancreatite e/ou icterícia por obstrução do colédoco com mais frequência, em virtude de maior capacidade de migração através do ducto cístico. Os cálculos marrons, de conteúdo predominantemente pigmentar, formam-se principalmente nos ductos biliares (no ducto comum ou nos ductos intra- hepáticos), raramente na vesícula. Sua formação resulta da estase biliar associada à infecção, principalmente por Escherichia coli, mas pode estar associada a estenose ou doença primária dos ductos (colangite esclerosante primária) ou infestação parasitária. Os cálculos pigmentares negros, ao contrário dos marrons, formam-se exclusivamente na vesícula, não resultam da supersaturação do colesterol e estão associados à cirrose biliar e, mais frequentemente, a doenças hemolíticas, como a talassemia e outras. Tratamento Não existe consenso sobre qual a conduta mais adequada na litíase biliar assintomática, mas a maioria dos clínicos e cirurgiões prefere não operar preventivamente pacientes sem sintomas específicos. Na calculose biliar sintomática, a cirurgia constitui o tratamento de escolha e pode ser realizada por videolaparoscopia ou minilaparotomia, além da cirurgia convencional. Nas obstruções do colédoco, quando não há possibilidade cirúrgica por contraindicação de natureza clínica ou, ainda, em condições emergenciais, antecedendo o ato cirúrgico, pode-se recorrer à CPRE com esfincterotomia para retirada do(s) cálculo(s) impactado(s). Na impossibilidade cirúrgica formal, outras alternativas têm sido utilizadas: Ácido ursodeoxicólico (UDCA): utilizado para dissolução de pequenos cálculos de colesterol. É indicado nos casos de risco cirúrgico elevado, porém, o custo e o índice de recorrência também são elevados. COLANGITE A principal manifestação clínica compreende episódios recorrentes de dor abdominal e febre, às vezes com icterícia (DaFI), caracterizando a tríade de Charcot, típica da colangite. Maria Rita Coutinho Além de febre, dor abdominal e icterícia, os pacientes com colangite grave podem apresentar hipotensão e alterações do estado mental, fechando a Pentade de Reynolds. A colangite aguda, também conhecida como colangite ascendente, é uma infecção da árvore biliar potencialmente fatal se não tratada imediatamente. Na maioria dos casos, ocorre devido à obstrução biliar por cálculos, mas outras causas de obstrução do ducto biliar também podem ocasionar a colangite, tais como: neoplasias, estreitamentos biliares, infestações parasitárias e anormalidades congênitas dos ductos biliares. COLEDOCOLITIASE A coledocolitíase se refere à presença de cálculos biliares no ducto colédoco, também conhecido como ducto biliar comum. A coledocolitíase pode ser classificada em primária, quando o cálculo se forma no próprio colédoco, ou secundária, quando o cálculo se formou na vesícula biliar e migrou para o ducto colédoco. As características clínicas suspeitas de obstrução biliar decorrente de coledocolitíase incluem dor no quadrante superior direito ou epigástrica, náuseas e vômitos. A febre só costuma ocorrer quando o paciente possui, além da coledocolitíase, a colangite aguda ou outras complicações. No exame físico, os pacientes com coledocolitíase geralmente apresentam sensibilidade à palpação do quadrante superior direito ou epigástrica e também podem apresentar icterícia. A coledocolitíase deve sempre ser tratada, mesmo se assintomática, devido ao risco de complicações graves, como a colangite e a pancreatite aguda. A colangiopancreatografia endoscópica retrógrada pré-operatória (CPRE) com remoção de cálculo é indicada. ABDOME AGUDO Quadro de início súbito. 10% das emergências. CAUSAS CIRÚRGICAS X NÃO CIRURGICAS Causas cirúrgicas: – Inflamatório: É causada por processo inflamatório e/ou infeccioso em cavidade abdominal, órgãos ou estruturas adjacentes. Caracteriza-se por dor de início insidioso e intensidade progressiva. Pode ser causado por um processo agudo ou pela agudização de uma doença crônica. Maria Rita Coutinho Febre = abdome agudo inflamatório. Apendicite aguda Diverticulite aguda Colecistite aguda Pancreatite aguda – Obstrutivo: Síndrome caracterizada por sinais e sintomas de obstrução em TGI, como náuseas, vômitos, distensão abdominal, parada de eliminação de flatos, eructação e fezes. Pode apresentar causa mecânica, por obliteração parcial ou total do lúmen, ou funcional. Corpo estranho; Bridas; Hérnias; Neoplasias; Bolo de áscaris. Ausência de flatos + Ausência de eructação + Presença de distensão abdominal = Obstrução. Obstrução parcial= fezes em fita. Presença ou ausência de fezes não descarta abdome agudo obstrutivo. Quanto mais alta a obstrução, mais precoces, frequentes e intensos serão os vômitos, menor a distensão abdominal e mais tardia a parada de eliminação de gases e fezes. Quanto mais baixa a obstrução, maior distensão abdominal, presença de sons metálicos que evoluem para silencio intestinalrafa, mais precoce a parada de eliminação de flatos e fezes, e os vômitos, que são tardios, adquirem aspecto fecaloide. Vômito com alimento= obstrução alta (delgado) Vômito com coloração escura e odor fétido= obstrução baixa (cólon). Ocorre devidoa defeitos na válvula ileocecal. → Caso haja um peristaltismo oposto, devido à obstrução, e uma válvula competente pode haver um abdome agudo perfurativo. – Perfurativo: Caracteriza-se por dor de início súbito e intenso, difusa em todo abdome, agravada com movimentação e irritação peritoneal por derrame de Maria Rita Coutinho conteúdo de vísceras ocas no peritônio. A evolução natural da síndrome se dá por inflamação química inicial com posterior invasão bacteriana, agravando o quadro. Úlcera gastro- duodenal; Diverticulite aguda; Corpos estranhos; Neoplasia. Abdome em tábua + pneumoperitonio (raio x de tórax) + irritação peritoneal (descompressão) = Abdome perfurativo. Sinal de Jobert: Timpanismo a percussão em toda região hepática, indicativo de pneumoperitônio. (Pneumoperitônio é a presença de ar na cavidade abdominal. Geralmente é uma condição patológica devida à perfuração de vísceras ocas. O achado mais frequente é a presença de ar intraperitoneal no quadrante superior direito do abdômen, o que desloca o diafragma para cima. – Isquêmico/ Vascular: Caracterizado por dor abdominal intensa de origem vascular, sendo uma urgência não-traumática grave por redução súbita do fluxo sanguíneo intestinal. Quando o quadro é mais arrastado, a intensidade pode se apresentar diminuída pela circulação colateral. A dor é difusa e mal definida, apresentando desproporção entre a dor e o exame físico. Embolia e trombose mesentérica com isquemia intestinal; Redução do débito cardíaco; Gastroenterites. – Hemorrágico: Causado pela presença de sangue em cavidade abdominal. São mais raros e geralmente acometem faixas etárias mais avançadas. Dor intensa, com rigidez e sinais de hipovolemia, tais como hipotensão, taquicardia, palidez e sudorese. Como há sangramento, a depender do volume e a velocidade de instalação do quadro, pode haver prejuízo neurológico e a intervenção deve ser rápida. Gravidez ectópica rota; Ruptura de aneurisma de aorta; Rotura de baço. Na suspeita de abdômens cirúrgicos, não oferecer água ou comida e encaminhar o paciente imediatamente para um serviço de pronto-socorro que ofereça assistência cirúrgica e exames complementares. Maria Rita Coutinho Uma causa importante de abdome agudo é o trauma abdominal fechado (fortes pancadas contra o abdome, geralmente provocadas por agressão ou acidente automobilístico). Algumas lesões no baço podem provocar sua ruptura após algumas horas ou dias do acidente, levando à hemorragia intra-abdominal. Lacerações intestinais pequenas podem provocar vazamento de conteúdo fecal para a cavidade abdominal, provocando situações de peritonite generalizada, se não forem detectadas na admissão do paciente. Não cirúrgicas: – Endócrinas/metabólicas – Toxinas e drogas – Hematologicas – Infecciosas – ... Avaliação: Dor → Dor somática – Peritônio parietal (semelhante a da pele) Aguda. Fixa e bem localizada (sentida no dermátomo correspondente ao estímulo). Rápida (fibra mielinizada do tipo A) → Dor visceral – Peritônio visceral (parede do órgão) Insidiosa; Lenta (fibras tipo C); Persistente; Maria Rita Coutinho Mal localizada; Acompanhada de sintomas associados (bradicardia, hipotensão, sudorese, náusea). Sentida na linha mediana em órgão únicos. → Dor referida – É percebida longe do estímulo. – Captada no mesmo segmento medular para dermátomo e víscera. Diagnóstico Os exames subsidiários que fornecem importantes elementos para o diagnóstico do abdome agudo são: exames laboratoriais e de imagem, como radiografas simples de tórax e abdome, ultrassonografia e tomografia computadorizada. Outros procedimentos diagnósticos podem ser utilizados, como punção abdominal, lavagem peritoneal, videolaparoscopia e laparotomia exploradora. É importante enfatizar que a solicitação dos exames deve ser orientada pelas hipóteses diagnósticas, feitas mediante a análise criteriosa das informações obtidas pela anamnese e pelo exame físico. → Exames laboratoriais Hemograma: anemia com perda sanguínea crônica (por exemplo, úlcera péptica, câncer, esofagite) Leucograma: leucocitose com apendicite (75%), pancreatite aguda, adenite mesentérica (primeiro dia apenas), Colecistite(especialmente com empiema), pielonefrite. Proteína C Reativa (PCR): uso no diagnóstico e monitoramento de infecção, inflamação (por exemplo, pancreática). Preferível para ESR. Função hepática: distúrbio hepatocelular. Amilase e/ou lipase sérica (preferível): valores 3x acima do normal é mais provável que seja pancreatite aguda; também se Maria Rita Coutinho eleva parcialmente com a maioria das lesões intra-abdominais (por exemplo, gravidez ectópica rota, úlceras pépticas perfuradas, empiema roto de vesícula biliar, aneurisma de aorta roto). Testes de gravidez: urina e soro β-HCG – suspeita de ectopia. Sumário de urina: sangue oculto nas fezes. → Exames de imagem Raio-x: abdominal (ereto e supino). Rx de tórax: ar sub diafragma → úlcera perfurada Radiografias com contraste (por exemplo, Gastrografinrefeição): diagnóstico de vazamento do intestino USG: bom para sistema hepatobiliar, rins e pelve feminina. Procurar cálculos biliares; gravidez ectópica; pseudocistos pancreáticos; aneurisma ou dissecção da aorta; metástases hepáticas e tumores abdominais – apêndice espessado; coleção paracólica. Tomografia computadorizada: fornece excelente exame de órgãos abdominais, incluindo massas e coleta de fluidos, podemos avaliar pancreatite (aguda e crônica); inflamação peritoneal não diagnosticada (melhor) – trauma; diverticulite; aneurisma da aorta com vazamento; patologia retroperitoneal; apendicite (especialmente com contraste). CPRE: mostra obstrução do ducto biliar e doença pancreática Ressonância magnética (especialmente útil com contraste). É fundamental que o cirurgião forneça ao radiologista todas as informações obtidas na anamnese e no exame físico, bem como as hipóteses diagnósticas mais prováveis. Tratamento O tratamento é dependente da etiologia da dor abdominal. Deve-se verificar sinais vitais e estabilidade clínica com monitorização para pacientes com condições potencialmente instáveis. A laparoscopia diagnóstica pode ser considerada em pacientes selecionados. A laparoscopia não apenas é uma ferramenta útil para o diagnóstico, mas é cada vez mais usada como uma modalidade terapêutica de escolha para condições como apendicite, colecistite, lise de adesão, reparo de hérnia e muitas causas ginecológicas de abdome agudo. PERITONITE Inflamação do peritônio por infecção bacteriana (gram negativas e anaeróbias), fungos ou viral. Irritantes químicos (perfuração de vísceras ocas). Localizada – Exudato; – Paralisia local do intestino; – Ocorreu devido a um bloqueio: aderências. – Pode evoluir para abcesso: Áreas de coleção de pus localizada. Difusa Maria Rita Coutinho – Inflamação difusa – Dor generalizada – Diminuição da motilidade Sinal de descompressão brusca: Dor a descompressão brusca do abdome, relacionado com peritonite no local da dor. COLECISTITE A colecistite aguda constitui um processo patológico infamatório da vesícula biliar consequente à obstrução aguda do ducto cístico. A causa mais frequente é a litíase, responsável por 90% dos casos. A colecistite aguda alitiásica pode ocorrer tanto em adultos quanto em crianças, durante a nutrição parenteral prolongada e/ou quadros críticos, como o período pós-operatório de grandes operações, politrauma e outras complicações que causem internação prolongada em terapia intensiva. A colecistite alitiásica tem sido atribuída a inúmeros fatores que podem atuar sinergicamente:
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