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1 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! Síndromes Demenciais Avaliação Cognitiva As demências são o resultado de uma perda progressiva das funções cognitivas que gera dependência funcional ao indivíduo. As principais estruturas relacionadas à cognição estão nos hemisférios cerebrais, formados pelo córtex, pela substância branca e pelos gânglios da base. O córtex cerebral está presente nos cinco lobos cerebrais e contém corpos celulares de neurônios, a chamada substância cinzenta. Nos lobos cerebrais, encontramos áreas corticais especializadas em diferentes funções, cada uma com sua localização específica. As áreas primárias são responsáveis por funções motoras ou sensoriais. As secundárias cuidam da interpretação ou planejamento daquela função. Nas áreas terciárias, várias modalidades são integradas, e nas áreas límbicas encontramos neurônios relacionados ao processamento das emoções. 2 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! PRINCIPAIS FUNÇÕES COGNITIVAS, SUAS TOPOGRAFIAS E AVALIAÇÃO SEMIOLÓGICA Centros relacionados às principais funções cognitivas. A MEMÓRIA é a capacidade de reter informações que possam ser acessadas posteriormente. Existem vários tipos de memória, como a implícita, explícita, de trabalho, de curto prazo etc. A memória episódica, que é relacionada a fatos e eventos, depende do hipocampo. A memória episódica pode ser afetada em praticamente qualquer síndrome demencial. Entretanto, em alguns casos, como na doença de Alzheimer, ela é o sintoma preponderante desde o início, podendo ocorrer tardiamente em outras causas. A principal estrutura envolvida é o hipocampo. A LINGUAGEM refere-se a nossa capacidade de comunicação, recebendo e transmitindo informações por meio de códigos (fala, escrita, leitura, gestos etc.). A maioria das pessoas possui as áreas relacionadas à linguagem situadas no hemisfério esquerdo. As lesões desse circuito são responsáveis pelas afasias, muito encontradas em pacientes com AVC e demência. Afasias são distúrbios adquiridos de linguagem. Não confunda afasia com disartria (dificuldade para pronunciar sílabas) e dislalia (troca de letras por uma falha no desenvolvimento da linguagem na infância). O exame da linguagem é realizado com testes de 3 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! nomeação de objetos, repetição de sentenças, compreensão de comandos e análise da fluência verbal (número de palavras ditas por minuto, por exemplo, uma lista com nomes de animais). A afasia mais comum é a de Broca, por lesão da área com mesmo nome. Nela, o paciente é capaz apenas de compreender. Na afasia de Wernicke, a fluência é a única função preservada, mas o paciente fala várias coisas sem sentido e inventa palavras. Tipos de afasias e áreas relacionadas à linguagem HEMINEGLIGÊNCIA. Nosso cérebro é capaz de localizar-nos no espaço e interpretar informações provenientes dos lados direito e esquerdo do corpo, graças a nossas habilidades visuoespaciais. No entanto, o hemisfério esquerdo atua apenas na atenção espacial à direita, enquanto o lado direito do cérebro consegue prestar atenção nos dois lados. A lesão do hemisfério direito pode levar a um quadro de desatenção espacial à esquerda chamado de heminegligência. Lesões à esquerda causam afasia. Uma lesão à direita provoca heminegligência. Use a regra DHEA para memorizar: DIREITA-HEMINEGLIGÊNCIA, ESQUERDA- AFASIA. AVALIAÇÃO COGNITIVA. A anamnese deve ser realizada com o paciente e seu acompanhante, juntos e individualmente, com perguntas sobre sintomas e erros improváveis para uma pessoa cognitivamente normal. O próprio paciente pode minimizar suas queixas, atribuindo-as à idade, associação com problemas cotidianos etc. O sintoma inicial do paciente pode auxiliar no diagnóstico. No Alzheimer por exemplo, o primeiro sintoma é geralmente uma falha da memória episódica. Clinicamente, é possível realizar testes mais simples para uma avaliação mais imediata de cada caso. O principal é o Miniexame do Estado Mental (Minimental). Ele é um teste que não é capaz de estabelecer o diagnóstico de demência, mas é importante para rastreio dos casos. Sua pontuação varia de 0-30 e os valores normais variam conforme a escolaridade. Outros testes usados na clínica são o MOCA (Montreal Cognitive Assessment) e a Bateria Breve de Rastreio Cognitivo, para avaliação das funções intelectuais. A Escala de Depressão Geriátrica (GDS-15) pode ajudar no rastreio de pacientes com sintomas depressivos e as Escalas de Pfeffer e o CDR (Clinical Dementia Ratio) medem o grau de comprometimento funcional (leve: prejuízo das atividades instrumentais da vida diária (AIVD), como compras e cuidar do próprio dinheiro; moderado: dificuldade nas atividades básicas (ABVD), como tomar banho ou alimentar-se; e grave: dependência total para ABVD). 4 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! Síndromes Cognitivas Basicamente, podemos encontrar quatro tipos de síndromes: amnéstica, afásica, comportamental e visuoespacial. Comprometimento Cognitivo Leve O comprometimento cognitivo leve (CCL) é um estágio intermediário entre a normalidade e a demência, mas que ainda pode ser revertido ou estabilizar. Praticamente todo quadro demencial passa pela fase de comprometimento cognitivo leve antes de instalar-se definitivamente. No paciente com CCL o exame cognitivo mostra alterações claras (mais evidentes do que o esperado para a idade), mas não há comprometimento funcional e o paciente consegue ser independente, realizando de modo satisfatório todas suas AVDs. O que diferencia o comprometimento cognitivo leve da síndrome demencial é a ausência de alteração funcional significativa. Síndrome Demencial Quando o comprometimento cognitivo leva a um prejuízo funcional significativo e afeta a capacidade de independência do paciente, chamamos o quadro de síndrome demencial, que deve ser diferenciada da queixa subjetiva de memória e do comprometimento cognitivo leve. 5 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! Principais diferenças entre as principais alterações cognitivas Cerca de 60-80% dos casos são devidos à doença de Alzheimer, a causa mais comum de demência. A demência vascular é a segunda causa mais comum de demência e corresponde sozinha a cerca de 10% dos casos. A associação entre demência vascular e doença de Alzheimer é vista em 30-40% dos casos. Principais causas de demência OBS.: 5 a 10% dos casos de demência são reversíveis. Por isso é crucial investigar causas orgânicas para diagnóstico da demência. Quais exames pedir para avaliar possíveis demências reversíveis: 6 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! Neuroimagem estrutural (tomografia ou ressonância de crânio); Hemograma; Cálcio; Função renal: creatinina; Função e lesão hepática: albumina, transaminases (ALT e AST) e gama- glutamiltransferase; TSH; Reações sorológicas para sífilis; Vitamina B12 e ácido fólico; Sorologia para HIV (< 60 anos ou quadros atípicos ou na suspeitaclínica). Principais alterações radiológicas nas demências Investigação padrão das síndromes demenciais Em casos selecionados, podemos realizar o exame de líquor, que poderá mostrar alterações compatíveis com neuroinfecções (cisticercose ou sífilis), doença de Creutzfeldt-Jakob (proteína 14- 7 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! 3-3) e a presença de biomarcadores para a doença de Alzheimer (fosfo-tau e beta-amiloide). Principais diagnósticos diferenciais das síndromes demenciais Doença de Alzheimer A doença de Alzheimer é a causa mais comum de demência, responsável por cerca de 60-80% de todos os casos. Ela acomete indivíduos na faixa etária senil (a partir dos 65 anos) e pré-senil (antes dos 65 anos). O principal fator de risco para a doença de Alzheimer é a idade. Os fatores de risco cardiovasculares clássicos, como hipertensão arterial, diabetes mellitus, obesidade, tabagismo e dislipidemia (LDL-colesterol elevado e baixos níveis de HDL- colesterol na meia idade), também são importantes no caso de doença de Alzheimer. Na doença de Alzheimer, em uma primeira fase, ocorre perda de conexões entre os neurônios corticais por acúmulo extracelular de placas neuríticas (ou senis) de peptídeo beta- amiloide. Posteriormente, inicia-se um processo de perda neuronal decorrente do depósito de proteína tau hiperfosforilada, formando emaranhados neurofibrilares intracelulares. A perda neuronal ocorre inicialmente no hipocampo e no córtex entorrinal, no lobo temporal. A doença de Alzheimer é insidiosa e de evolução progressiva. A memória episódica é o primeiro sintoma e a mais afetada na maioria dos pacientes. As queixas são de que o paciente é muito repetitivo: esquece de dar recados, perde compromissos e objetos, não se lembra de ter feito uma refeição, não sabe a data ou não reconhece onde está quando vai a lugares incomuns. O surgimento dos primeiros sintomas ocorre na fase de comprometimento cognitivo leve e não é acompanhado de dificuldades nas AVDs. Conforme a doença progride, mais alterações cognitivas vão surgindo e as atividades de vida diária vão sendo cada vez mais prejudicadas. Primeiro, ocorrem dificuldades nas A VD instrumentais e, mais tarde, nas básicas. Curiosamente, nas fases iniciais a parte motora é relativamente poupada. As manifestações neuropsiquiátricas ocorrem em 80% dos casos e caracterizam-se por apatia, depressão e agitação/agressividade. 8 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! O óbito ocorre em média de 7-15 anos após o início dos primeiros sintomas. O diagnóstico definitivo da doença de Alzheimer é anatomopatológico e não é feito na prática clínica. Por essa razão, ele acaba sendo baseado no quadro clínico e na exclusão de outras causas por meio de exames complementares para causas reversíveis e outras específicas. No início a tomografia é normal, mas a perda neuronal inicia-se pelo hipocampo. Com a evolução do quadro, surge atrofia cortical, os ventrículos laterais passam a ocupar o espaço que antes era do parênquima e parecem maiores (hidrocefalia ex vacuum). O exame de ressonância magnética pode revelar, desde a fase de comprometimento cognitivo leve, alguns sinais de atrofia hipocampal, a primeira alteração visível nos pacientes. Exame de ressonância magnética (corte coronal, sequência T2) seriada de paciente com doença de Alzheimer, mostrando a progressão da atrofia hipocampal (setas) e do córtex ao longo de 7 anos. Note que o local antes ocupado pelo córtex agora passou a ser preenchido por líquor. Fonte: Arquivo pessoal do professor. Nos pacientes com doença de Alzheimer pré-senil, devemos solicitar o exame de líquor, que poderá revelar aumento de proteína tau total e de tau hiperfosforilada associado à redução de beta-amiloide. Essas alterações podem ser encontradas já em fases pré-sintomáticas. Exames de neuroimagem funcional, como tomografia por emissão de pósitrons (PET) ou por emissão de fóton único (SPECT), pouco disponíveis em nosso meio, podem revelar metabolismo cerebral diminuído nas regiões temporoparietais em pacientes com doença de Alzheimer. De acordo com os critérios do DSM-5, para diagnóstico de doença de Alzheimer, é necessário que estejam comprometidos pelo menos dois domínios cognitivos. Para o diagnóstico de doença de Alzheimer provável, é necessário que se encontre pelo menos um dos seguintes (do contrário, teremos doença de Alzheimer possível): 1. Evidência de uma mutação genética (história familiar ou teste genético); 2. Todos os três a seguir: a. Declínio na memória e na aprendizagem e em pelo menos outro domínio cognitivo; b. Progressivo e gradual; c. Ausência de evidências de etiologia mista. Os fármacos disponíveis para o tratamento da doença de Alzheimer são anticolinesterásicos, memantina (antagonista do receptor NMDA de glutamato), antidepressivos e antipsicóticos. Esses medicamentos podem atuar sobre os sintomas cognitivos e neuropsiquiátricos nesses pacientes. A inibição das enzimas que degradam a acetilcolina no hipocampo é o principal mecanismo de ação das drogas usadas no tratamento da doença de Alzheimer (donepezila, a galantamina e a rivastigmina) em qualquer fase da doença. Os anticolinesterásicos são contraindicados a pacientes com bradicardia, asma e crises epilépticas. A memantina é um antagonista do receptor NMDA do glutamato que pode ser indicada a pacientes com Alzheimer em fases moderada a grave, isolada ou em associação a um anticolinesterásico. Seu efeito também ocorre em termos de melhora cognitiva e funcional. 9 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! Além do tratamento farmacológico, é importante fornecer o tratamento multiprofissional. São medidas que trazem grande benefício ao paciente e à família: a reabilitação neuropsicológica, a fisioterapia, a fonoaudiologia e a terapia ocupacional. Demência Vascular A demência vascular é caracterizada pelo comprometimento cognitivo e funcional decorrente de perda de neurônios por um quadro neurovascular. É a segunda causa mais comum de demência. A chance de que ocorra um comprometimento cognitivo após um AVC é de 64%. Cerca de um terço dos pacientes com sequelas de AVC apresentarão demência. Os fatores de risco cardiovasculares clássicos associados aos quadros de AVC são os mesmos relacionados ao surgimento da demência vascular. A fisiopatologia da demência vascular depende do tipo de acometimento neurovascular. Podemos encontrar quadros desencadeados por lesões de grandes vasos (aterosclerose ou angiopatia amiloide), pequenos vasos e por infartos subcorticais, que causam lesão de vias, entre os principais centros corticais. Na demência vascular, os sintomas podem progredir em “degraus” (piora súbita seguida de certa estabilidade e, novamente, uma piora súbita tempos depois). Os domínios cognitivos mais comprometidos são as funções executivas e a atenção (chamado padrão de demência subcortical). Os transtornos neuropsiquiátricos ocorrem frequentemente, sendo os mais frequentes os de humor, comportamento e sintomas psicóticos. Um terço dos pacientes pode apresentar depressão e 30% desenvolvem delírios e/ou alucinações. Ao contrário da doença de Alzheimer, manifestações neurológicas focais, não cognitivas, também podem estar presentes nas fases iniciais da demência vascular. As principais são as motoras, incluindo alterações de equilíbrio e marcha, parkinsonismo, défices motores, disfagia e disartria. Alteraçõesautonômicas precoces, como incontinência urinária, também podem ser encontradas nesses pacientes. A neuroimagem por tomografia computadorizada ou ressonância deverá confirmar a hipótese de comprometimento neurovascular, revelando áreas de isquemia em território de grandes vasos, pequenos vasos ou em áreas de fronteira vascular. Áreas com depósitos de hemossiderina em exames de ressonância magnética podem sugerir reabsorção de hemorragia intraparenquimatosa. Em idosos, é comum a ocorrência de angiopatia amiloide, uma degeneração vascular associada a quadros de AVC hemorrágicos. RM de crânio mostrando áreas de hipersinal na substância branca subcortical sugestivas de microangiopatia (doença de pequenos vasos cerebrais). O tratamento da demência vascular é baseado em controle de fatores de risco cardiovascular, terapêutica dos sintomas cognitivos (igual ao tratamento da doença de Alzheimer) e dos sintomas neuropsiquiátricos. O anticolinesterásico de escolha é a galantamina. 10 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! Principais diferenças entre Alzheimer e demência vascular Demência Frontotemporal A demência frontotemporal (antiga doença de Pick) corresponde a menos de 10% de todos os casos de demência, mas é a segunda causa de demência pré-senil (sintomas iniciados antes dos 65 anos). Em cerca de um terço dos pacientes, os sintomas começam após os 65 anos. Cerca de 40% dos pacientes apresentam história familiar positiva para demência. Na demência frontotemporal encontraremos atrofia seletiva dos lobos frontais e temporais, sem que haja o comprometimento de outras regiões. A principal forma clínica de apresentação da demência frontotemporal (DFT) é a variante comportamental (57% dos casos), caracterizada por início insidioso dos sintomas e alteração de comportamento. A disfunção executiva é o distúrbio cognitivo mais comum. Esses pacientes podem apresentar mudanças na personalidade, apatia, desinibição e comportamentos repetitivos. Pode haver hipersexualidade, hiperfagia e embotamento afetivo e, frequentemente, os pacientes recebem diagnóstico de doença psiquiátrica. Muitas vezes, o Miniexame do Estado Mental e o exame neurológico podem ser normais. A neuroimagem (tomografia, ressonância e medicina nuclear) irá revelar atrofia ou prejuízo funcional exclusivos dos lobos frontais e temporais RM de crânio mostrando sinais de atrofia isolada dos lobos frontais e temporais em pacientes com diagnóstico de demência frontotemporal 11 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! Demência com Corpos de Lewy A demência com corpos de Lewy é a segunda principal causa de demência neurodegenerativa. Ocorre acúmulo intracelular de alfa-sinucleína, uma proteína anômala que é encontrada em vacúolos conhecidos como corpos de Lewy. Essa é a mesma alteração patológica presente na doença de Parkinson. Além disso, alterações neuropatológicas semelhantes às encontradas na doença de Alzheimer (placas senis extracelulares e emaranhados neurofibrilares intracelulares) podem ser vistas nesses pacientes. Clinicamente, ela manifesta-se por meio de um quadro demencial associado a sintomas extrapiramidais e neuropsiquiátricos. O quadro cognitivo é semelhante ao encontrado na doença de Parkinson, com disfunção executiva e alterações visuoespaciais. Se ambas possuem sintomas motores e cognitivos, você deve estar se perguntando: “como faço para diferenciar as duas?” O primeiro passo é identificar quem veio primeiro: a demência ou os sintomas motores? Se a resposta for a demência, o quadro sugere demência com corpos de Lewy. Porém, se os sintomas cognitivos começarem depois do surgimento dos sintomas motores, a resposta depende da “regra do um ano”. Se o intervalo entre o início dos sintomas motores e a demência for menor que um ano, o diagnóstico é de Lewy. Se ele for maior que um ano, ou seja, a partir do surgimento dos sintomas motores, a demência demora mais de um ano para instalar-se, o diagnóstico é de Parkinson. As alucinações visuais são o sintoma neuropsiquiátrico mais comum, ocorrendo em até 80% dos pacientes. Elas já estão presentes no início dos sintomas e são do tipo complexo. Além disso, podemos encontrar uma alteração do sono conhecida como transtorno comportamental do sono REM, caracterizada por uma perda da atonia muscular do sono REM associada a comportamento motor e vocal durante essa fase de sono Logo, teremos um paciente com sintomas psicóticos (alucinações) e motores extrapiramidais (síndrome parkinsoniana). Como o nome já diz, os sintomas psicóticos são tratados com antipsicóticos (antagonistas dopaminérgicos). Já no caso dos sintomas extrapiramidais, a terapia é feita com agonista dopaminérgico. O uso de antipsicóticos pode piorar muito os sintomas motores nos pacientes com Lewy. Inclusive, dizemos que esses pacientes apresentam hipersensibilidade aos antipsicóticos. Na prática, iniciamos o tratamento do sintoma que for mais exuberante. Se for o caso, os antipsicóticos devem ser prescritos em doses muito baixas. Quadro comparativo entre os aspectos clínicos dos principais tipos de demência discutidos 12 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! Demências Reversíveis É imprescindível descartar causas reversíveis antes de fechar qualquer diagnóstico demencial ou psiquiátrico. Mnemônico MINHATDB para as causas potencialmente reversíveis de demência A DEFICIÊNCIA DE VITAMINA B12 cursa com quadro de alteração cognitiva, neuropatia periférica ou ainda a clássica degeneração combinada subaguda da medula, em que há comprometimento da via piramidal (motora) e da coluna dorsal (sensibilidade profunda). A deficiência de folato é mais rara e só causa alteração cognitiva. Tanto a deficiência de B12 quanto a de folato podem gerar anemia megaloblástica (com VCM elevado), mas a ausência de macrocitose não descarta a deficiência vitamínica. Quando há deficiência de B12 ou de folato, os valores séricos dessas vitaminas podem ainda estar no limite inferior da normalidade, podendo ser útil a realização de outros exames, como a dosagem de homocisteína e ácido metilmalônico, que estão elevados nas deficiências dessas vitaminas. A causa mais importante de deficiência de vitamina B12 é a redução de sua absorção pelo trato gastrintestinal, que pode ocorrer em casos de gastrectomia e na deficiência da produção de 13 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! fator intrínseco pelas células parietais da mucosa gástrica. O tratamento do quadro é a reposição vitamínica. No caso de B12, tanto faz a via (oral ou parenteral), mas algumas bancas ainda consideram a via parenteral a de preferência. Reposição de folato em pacientes com deficiência de B12 pode agravar o quadro neurológico. HIDROCEFALIA DE PRESSÃO NORMAL. Os pacientes com hidrocefalia de pressão normal irão desenvolver um quadro típico caracterizado por uma tríade clássica, conhecida por tríade de Hakim-Adams: demência, alterações de marcha e incontinência urinária. NÃO encontraremos sinais de hipertensão intracraniana, como papiledema (a pressão é normal). A alteração de marcha costuma ser o sintoma mais precoce. Os passos são curtos e a base é alargada. Ela é considerada uma apraxia de marcha: o paciente consegue fazer os movimentos com os membros inferiores quandoestá deitado, mas apresenta dificuldade quando está em pé e deveria andar de forma automática. Muitas vezes, temos a impressão de que o paciente está com os pés colados no chão e alguns usam o termo marcha magnética, por parecer que os pés do paciente estão presos a ímãs colocados no solo. Em algumas questões, o termo apresentado é ataxia de marcha. As outras alterações típicas incluem a perda do controle urinário e o comprometimento cognitivo, de padrão subcortical, levando a défice de atenção, lentidão de processamento e disfunção executiva. A hidrocefalia de pressão normal pode ser a causa do comprometimento cognitivo ou pode ocorrer simultaneamente a uma doença neurodegenerativa, como a doença de Alzheimer. A diferenciação pode ser feita por meio dos exames complementares: neuroimagem e tap test. Os exames de imagem (tomografia de crânio ou ressonância magnética) deverão ser solicitados a todos os pacientes com quadro típico de hidrocefalia de pressão normal também para descartar outras possibilidades, como doença de Alzheimer e demência vascular. A hidrocefalia de pressão normal apresenta alguns aspectos típicos de neuroimagem: Hidrocefalia comunicante (não obstrutiva); Apagamento de sulcos na convexidade do cérebro (vértex). Alterações típicas da hidrocefalia de pressão normal nos exames de neuroimagem Em A, o índice de Evans acima de 0,3. Em B, apagamento dos sulcos na convexidade do cérebro. 14 Khilver Doanne Sousa Soares Material restrito, favor não reproduzir nem distribuir sua posse!!! Nenhum serviço de impressão e xerox pode redistribuir este material a outros clientes!!! O tap test é um procedimento realizado com base no princípio de que a diminuição da quantidade de líquor no sistema ventricular irá promover a melhora dos sintomas do paciente. Examina-se a marcha e a cognição antes e após a retirada de certa quantidade de líquor, com a intenção de avaliar se haverá melhora desses parâmetros. Caso o paciente melhore após o tap test, ele provavelmente será beneficiado com o tratamento definitivo. A terapia de escolha é o implante de uma derivação ventrículo-peritoneal. Em alguns casos, mesmo que não haja melhora no tap test, o tratamento cirúrgico pode ser uma opção. _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ Referências Estratégia MED. Neurologia. Demências. 2023.
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