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Contratações Públicas Sustentáveis Princípios das Contratações Públicas Sustentáveis2 M ód ul o 2Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Enap, 2019 Enap Escola Nacional de Administração Pública Diretoria de Educação Continuada SAIS - Área 2-A - 70610-900 — Brasília, DF Fundação Escola Nacional de Administração Pública Presidência da Enap: Diogo Costa Diretoria de Desenvolvimento Profissional da Enap: Paulo Marques – Diretor de Desenvolvimento Profissional Equipe Responsável: Jhéssica Ribeiro Cardoso, 2021. Diagramação Patrícia Fernandes Faria, 2021. Curso desenvolvido no âmbito da Diretoria de Desenvolvimento Profissional – DDPRO. Curso produzido em Brasília 2021. Desenvolvimento do curso realizado no âmbito do acordo de Cooperação Técnica FUB / CDT / Laboratório Latitude e Enap. 3Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Unidade 1: Contextualização das transferências ............................... 4 1.1 Conceito de contratações públicas sustentáveis ..............................................4 1.2 Contratações públicas sustentáveis como política pública ...............................8 1.3 Aspectos normativos ......................................................................................11 1.4 Ótica do controle externo ...............................................................................16 Sumário 4Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Unidade 1: Contextualização das transferências Objetivo de aprendizagem: ao final desta unidade, você deverá saber os principais conceitos e fundamentos jurídicos das contratações públicas sustentáveis. 1.1 Conceito de contratações públicas sustentáveis O consumo insustentável dos recursos do planeta causou uma série de danos ambientais no cenário global, tais como: aquecimento global, mudanças climáticas, chuva ácida, acumulação de substâncias perigosas no ambiente, degradação das florestas, perda da biodiversidade, poluição, escassez de água, entre outros (BRASIL, 2013). Nesse cenário, a UNCED estabeleceu a Agenda 21: um plano de ação para promover o desenvolvimento sustentável (BRASIL, 2010b). Compras Verdes aparecerem no cenário mundial mais explicitamente na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável de Johanesburgo, em dezembro de 2002, impulsionando às autoridades públicas a “promover políticas de contratação pública que favoreçam o desenvolvimento e a difusão de mercadorias e serviços favoráveis ao meio ambiente”. (BRASIL, 2010b, p. 8) As contratações públicas sustentáveis (CPS) entram no cenário brasileiro quando o país adere ao Processo de Marrakesh e cria seu plano de ação para produção e consumo sustentáveis, com o intuito de iniciar a mudança cultural em compras públicas. Assim, a Agenda Ambiental na Administração Pública (A3P) foi uma forma de introduzir esse tema no âmbito das licitações sustentáveis. Sobre o assunto, acompanhe algumas definições: M ód ul o Princípios das Contratações Públicas Sustentáveis2 5Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Compras verdes ou compras públicas sustentáveis são ferramentas que buscam solucionar, por meio da integração de considerações e critérios ambientais e sociais, o processo de aquisições e contratações do governo, reduzindo impactos à saúde ambiental e aos direitos humanos (BIDERMAN et al., 2008; ROSSATO; VAN BELLEN, 2011). [...] Uma compra pública sustentável buscaria integrar critérios ambientais, sociais e econômicos a todos os estágios desse processo de licitação. O comprador público considerará a necessidade real de adquirir; as circunstâncias em que o produto visado foi gerando, levando ainda em consideração os materiais e as condições de trabalho de quem o gerou (MENEGUZZI, 2011, p. ). As CPS permitem a compra do produto com mais benefícios para o meio ambiente e a sociedade, promovendo (BRASIL, 2013): • Proteção socioambiental. • Economia de dinheiro, observando os custos associados ao ciclo de vida do produto ou serviço a adquirir. • Inovação à economia verde e inclusiva. • Movimentação do mercado, estímulo à economia e aumento da competitividade de empresas em mercados futuros, criando negócios e aumentando o número de postos de trabalho. • Desenvolvimento local. • Obtenção de melhores produtos e serviços, trazendo benefícios diretos para a população, como resultado de novas ideias e padrões no mercado, fornecidos de maneira mais eficiente e eficaz e com menor preço. • Descobertas científicas e tecnológicas resultantes de processos de inovação, ajudando nos principais desafios sociais, como saúde, bem-estar, segurança alimentar, agricultura sustentável, energia limpa e eficiente, transporte sustentável e integrado e eficiência no uso de recursos naturais. • Instrumento de melhoria na eficiência governamental, aperfeiçoando a tomada de decisão sobre aquisições e contratações. • Ganho de reputação e de imagem por atuar ativamente na proteção socioambiental. • Cumprimento da legislação. • Atração e engajamento de colaboradores com preocupação socioambiental. • Aumento da conscientização da comunidade local sobre temas socioambientais. A unidade de consumo e produção sustentáveis do 10YFP também apresenta definição das CPS e elenca os seus princípios (CARDOSO; CHAVES, 2015): Contratações Públicas Sustentáveis Um processo onde organizações satisfazem suas necessidades por bens, serviços, trabalhos e utilidades de forma a obter o melhor valor para os recursos despendidos baseados em todo ciclo de vida, gerando benefícios não só para a organização, mas também para a sociedade e a 6Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública economia, ao reduzir significativamente os impactos negativos ao meio ambiente. Princípios Os princípios das CPS servem de base para um entendimento padrão sobre elas. São baseados na abordagem sistemática de um passo a passo do desenvolvimento das CPS, desenvolvidos pelas forças-tarefa de Marrakesh, e refletem os componentes necessários para o sucesso da sua implementação. O guia da UNEP, Diretrizes para Implementação de Compras Públicas Sustentáveis, orienta a transformação desses princípios em condutas com base na experiência prática. Público-alvo Esses princípios são para quaisquer partes interessadas em compras públicas sustentáveis e boa governança. Recomenda-se que países e organizações os incluam em suas respectivas políticas e práticas de compras. Princípio 1 Boas compras públicas são compras públicas sustentáveis e devem buscar os seguintes elementos essenciais: transparentes, justas, não discriminatórias, competitivas, responsáveis, uso eficiente de recursos e verificáveis. Além disso, elas consideram os impactos sociais, econômicos e ambientais, enquanto valorizam os impactos totais das compras durante todo o ciclo de vida de um produto ou serviço, independentemente da localidade e da fonte de recursos naturais, até o fim do gerenciamento. Princípio 2 A implementação das CPS precisa de liderança. Influências superiores são necessárias para promovê-las, pois asseguram que recursos suficientes sejam dedicados para a implementação e que as boas práticas sejam compartilhadas. Princípio 3 As CPS contribuem na ampliação dos objetivos das políticas, visto que são um elemento-chave para alcançar os objetivos governamentais e organizacionais por meio de gastos estratégicos. Como exemplos, pode-se incluir gerenciamento de recursos naturais sustentáveis, eficiência de recursos, desenvolvimento sustentável e consumo e produção sustentáveis. Ademais, elas incentivam o mercado com soluções sustentáveis, incentivando uma interação com o mercado e estimulando a criação de empregos justos. Princípio 4 As CPS engajam todas as partes interessadas, posto que requerem apoio de todas as partes da sociedade. Juntos, formuladores de políticas públicas, políticos, clientes, fabricantes, fornecedores, contratantes, compradores e organizações da sociedade civil possibilitam asua entrega. As aptidões necessárias são comunicação e análise, habilidade de influência, negociação, profissionalismo, entendimento do mercado e os diferentes impactos da sustentabilidade no processo de compras. Para tanto, requerem comunicação de mensagem consistente designada às necessidades de diversos públicos. 7Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Princípio 5 A implementação das CPS é baseada no gerenciamento organizacional, em uma abordagem de risco, continuamente reavaliando e colocando como alvo as áreas de alto impacto ou prioridade. O sucesso imediato pode ser demonstrado por uma abordagem de ganho rápido, mas isso não deve substituir uma abordagem mais compreensível em longo prazo. Princípio 6 As CPS monitoram seus resultados, pois o progresso contínuo somente é possível se seus resultados forem relatados. Portanto, faz-se necessário usar sistemas de avaliação e monitoramento, a fim de acompanhar o progresso e identificar áreas de melhoria. Como resultados temos: desempenho ambiental, como redução de emissões, de uso de materiais e de geração de resíduos; melhorias econômicas, como redução de custos, criação de empregos e de riqueza e transferência de habilidades e tecnologia; e melhorias sociais, como empoderamento de minorias, redução da pobreza e boa governança. Saiba mais A seguir, listamos ambientes sobre implementação de CPS: • Referências e recursos sobre compras sustentáveis: Centro de Compras Sustentáveis. • Ambiente para fornecedores e compradores públicos: Fórum de Compras da União Europeia. • Critérios, recomendações, exemplos e referências legais: Helpdesk da Comissão Europeia de Compras Públicas Verdes. • Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) sobre o Programa-Quadro de 10 anos das Nações Unidas sobre Consumo e Produção Sustentáveis: Base de Dados (Clearinghouse) de Consumo e Produção Sustentáveis. • Referência nacional, com fórum para compartilhar e divulgar conhecimento, experiências e boas práticas: Portal de Contratações Públicas Sustentáveis. • Processos eletrônicos de aquisições e informações diversas: Portal de Compras Governamentais. • Guia Nacional de Contratações Sustentáveis. 8Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 1.2 Contratações públicas sustentáveis como política pública As CPS são ferramentas de combate aos modelos de produção e consumo insustentáveis e fazem parte das iniciativas do Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis (PPCS) (BRASIL, 2014a). Nesse cenário, é possível afirmar que as contratações públicas sustentáveis são políticas públicas? Acompanhe as principais razões listadas na Exposição de Motivos Interministerial n° 104/2010 (BRASIL, 2010a): Eficiência, eficácia e competitividade 2. Com referência às modificações propostas na Lei nº 8.666/93, é importante ressaltar que a mesma contempla diretrizes singulares para balizar os processos de licitações e contratação de bens e serviços no âmbito da Administração Pública. A norma consubstancia, portanto, dispositivos que visam conferir, sobretudo, lisura e economicidade às aquisições governamentais. Os procedimentos assim delineados são embasados em parâmetros de eficiência, eficácia e competitividade, em estrita consonância aos princípios fundamentais que regem a ação do setor público (BRASIL, 2010a). Incentivos à pesquisa e à inovação 3. Paralelamente, impõe-se a necessidade de adoção de medidas que agreguem ao perfil de demanda do setor público diretrizes claras atinentes ao papel do Estado na promoção do desenvolvimento econômico e fortalecimento de cadeias produtivas de bens e serviços domésticos. Nesse contexto, torna-se particularmente relevante a atuação privilegiada do setor público com vistas à instituição de incentivos à pesquisa e à inovação que, reconhecidamente, consubstanciam poderoso efeito indutor ao desenvolvimento do país (BRASIL, 2010a). Desenvolvimento econômico nacional 6. A modificação do caput do artigo 3º visa agregar às finalidades das licitações públicas o desenvolvimento econômico nacional. Com efeito, a medida consigna em lei a relevância do poder de compra governamental como instrumento de promoção do mercado interno, considerando-se o potencial de demanda de bens e serviços domésticos do setor público, o correlato efeito multiplicador sobre o nível de atividade, a geração de emprego e renda e, por conseguinte, o desenvolvimento do país. É importante notar que a proposição fundamenta-se dos seguintes dispositivos da Constituição Federal de 1988: (i) inciso II do artigo 3º, que inclui o desenvolvimento nacional como um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil; (ii) incisos I e VIII do artigo 170, atinentes à organização da ordem econômica nacional, que deve observar, entre outros princípios, a soberania nacional e a busca do pleno emprego; (iii) artigo 174, que dispõe sobre as funções a serem exercidas pelo Estado, como agente normativo e regulador da atividade econômica; e (iv) artigo 219, que trata de incentivos ao mercado interno, de forma a viabilizar o desenvolvimento cultural e sócio-econômico, o bem estar da população e a autonomia tecnológica do país (BRASIL, 2010a). Como apresentado por Valente (2011), a EMI reflete as principais razões que ensejaram a alteração da Lei Geral de Licitações (BRASIL, 1993) na busca pela sustentabilidade nas compras 9Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública governamentais, modificando o modelo de produção e consumo adotado pela sociedade moderna. À medida que as CPS valorizam a eficiência e buscam a redução dos desperdícios, gerando economias para o consumidor, elas melhoram a imagem da autoridade pública, refletindo responsabilidade à coletividade e demonstrando que suas lideranças são ambientalmente, socialmente e economicamente eficientes. [...] as inovações introduzidas pela Lei nº 12.349/2010 e que alteraram a Lei de Licitações e Contratos, notadamente quanto à inserção, no artigo 3º, caput, de mais uma finalidade da licitação – “a promoção do desenvolvimento nacional sustentável” – traduz a atuação do Estado que objetiva instrumentalizar o processo licitatório de modo a efetivar políticas públicas de preservação ao meio ambiente, consagrando um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil. (FINGER, 2014, p. 78) “A preocupação da Lei nº 8.666, de 1993, com respeito ao ambiente, vai além da exigência isolada de uns artigos legais, mas integra uma política pública de proteção ao meio ambiente e desenvolvimento sustentável.” (BIM, 2011, p. ). Ou seja, por meio das contratações públicas sustentáveis, o Estado participa no papel de consumidor e de regulador, utilizando o poder de compra como instrumento de justiça social. A partir disso, passa a incentivar a produção de bens, serviços e obras sustentáveis, tornando as compras públicas instrumento de fomento de novos mercados, gerando emprego e renda, além de preparar a economia nacional para a competição internacional. (ARANTES, 2008; FERREIRA, 2012; FINGER, 2014). 10Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Estados, municípios e pequenos negócios podem participar e apoiar a implementação de compras sustentáveis da seguinte maneira: Os estados e municípios possuem papel importante no desenvolvimento econômico e sustentável, pois podem utilizar o poder de compra para impulsionar o desenvolvimento local. Com isso, estado e município arrecadam mais com impostos advindos das novas contratações locais e economizam em logística. Isso gera um ciclo virtuoso nas compras públicas, favorecendo estados, municípios e pequenos negócios. (SEBRAE, 2017, p. 4) 11Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Com relação à iniciativa privada, foi aprovada a norma ISO 20400: Sustainable Procurement: Guidance pelo Comitê Internacional de Normalização da ISO para Compras Sustentáveis junto à ABNT. Diversos atores participaram de sua construção, incluindo o Ministériodo Planejamento. Para saber mais, você pode clicar aqui. 1.3 Aspectos normativos A Constituição Federal, promulgada em 5 de outubro de 1988, foi a primeira constituição brasileira a afirmar expressamente o “direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado” (BRASIL, 1988), ainda que a Política Nacional do Meio Ambiente [objetivasse] a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana. (BRASIL, 1981) Além disso, há diversos normativos brasileiros sobre critérios de sustentabilidade na aquisição de bens, na prestação de serviços e na execução de obras. Acompanhe na linha do tempo a seguir: 1981 Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938/81) Estabelece diversos requisitos orientadores para as CPS. 1988 Constituição da República Federativa do Brasil Estabelece princípios da licitação, dos direitos sociais e do trabalhador, bem como os que regem a ordem econômica e o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. 1993 Lei de Licitações e Contratos (Lei nº 8.666/93) Define regras para contratações públicas e requisitos socioambientais. Normas ISO 14000 Criam comitê e subcomitês para estabelecimento de diretrizes sobre gestão ambiental empresarial. 1994 Lei de Licitações e Contratos (Lei nº 8.883/94) Inclui dispensa de licitação para contratação de instituições sem fins lucrativos destinadas à recuperação social do preso e para contratação de associação de portadores de deficiência física (sem fins lucrativos). 12Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 1998 Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/98) Prevê sanções penais e administrativas para pessoas físicas e jurídicas que cometam crimes contra o meio ambiente, além da proibição de contratar com o poder público. Decreto nº 2.783/98 Proíbe aquisição de produtos ou equipamentos com substâncias que destroem a camada de ozônio pelos órgãos e pelas entidades da Administração Pública. Lei nº 9.660/98 Estabelece exigência de unidades movidas a combustíveis renováveis na aquisição ou na locação de veículos leves para a frota oficial da Administração Pública. 1999 Programa da Agenda Ambiental na Administração Pública (A3P) Inclui critérios de sustentabilidade no cotidiano da Administração Pública. 2000 Decreto nº 3.330/2000 Estabelece meta de 20% de redução do consumo de energia elétrica nos prédios públicos até dezembro de 2002. 2001 Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257/2001) Estabelece adoção de padrões de produção e consumo compatíveis com os limites de sustentabilidade ambiental, social e econômica do município e adequação dos gastos públicos para investimentos que privilegiem o bem-estar geral. Política Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia (Lei nº 10.295/01 e Decreto nº 4.059/01) Traz alocação eficiente dos recursos energéticos no setor público a partir de critérios de contratação para máquinas, aparelhos e edificações construídas. 2002 Agenda 21 Institui estratégias relacionadas à produção e ao consumo e avaliações periódicas sobre o desempenho ambiental das compras públicas. 2003 Emenda Constitucional nº 42/2003 Acrescenta ao princípio da ordem econômica da defesa do meio ambiente o tratamento diferenciado conforme impacto ambiental de produtos e serviços. 2004 ABNT NBR 16001 Estabelece requisitos mínimos relativos ao sistema de gestão de responsabilidade social que 13Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública considere princípios como responsabilização (accountability), transparência e comportamento ético. 2006 Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas (Lei-Complementar nº 123/2006) Institui tratamento diferenciado e favorecido para micro e pequenas empresas em licitações públicas. Decreto nº 5.940/2006 Estabelece coleta seletiva solidária na Administração Pública. 2007 Recomendação nº 11 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) Recomenda inclusão do tripé da sustentabilidade nas compras do CNJ. 2008 Portaria MMA nº 61/2008 Estabelece práticas de sustentabilidade ambiental para as compras do Ministério do Meio Ambiente. Instrução Normativa SLTI/MPOG nº 2/2008 Disciplina contratação de serviços pela Administração Pública e traz diversos critérios ambientais e sociais, descrevendo exigências ambientais para contratação de serviços de limpeza. 2009 Política Nacional sobre Mudança do Clima (Lei nº 12.187/2009) Estabelece preferência nas contratações públicas para propostas que propiciem maior economia de energia, água e outros recursos naturais, além da redução da emissão de gases de efeito estufa e de geração resíduos. Portaria MMA nº 43/2009 e Portaria MS nº 1.644/2009 Vedam utilização e aquisição de quaisquer produtos com asbesto ou amianto em sua composição no âmbito dos Ministérios do Meio Ambiente e da Saúde. Programa Nacional de Alimentação Escolar (Lei nº 11.947/2009) Estabelece que no mínimo 30% dos recursos financeiros repassados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) deverão ser utilizados para aquisição de gêneros alimentícios diretamente de agricultores familiares para a merenda escolar. 2010 Instrução Normativa SLTI/MPOG nº 1/2010 Dispõe sobre critérios de sustentabilidade ambiental na aquisição de bens, contratação de serviços ou obras pela Administração Pública. ABNT NBR ISO 26000 Apresenta diretrizes sobre responsabilidade social, estimulando empresas a incorporarem às 14Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública suas responsabilidades os impactos sociais e ambientais e exigindo mais ética e transparência. Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/2010) Estabelece prioridade de produtos reciclados e bens, serviços e obras que utilizem critérios compatíveis com padrões de consumo social e ambientalmente sustentáveis nas contratações públicas. Lei de Licitações e Contatos (Lei nº 12.349/2010) Inclui desenvolvimento nacional sustentável entre os princípios da licitação e a possibilidade de preferência para produtos manufaturados e serviços nacionais que atendam às normas técnicas brasileiras. Acórdão TCU nº 1.260/2010 – Segunda Câmara Licitante questiona a inobservância de critérios de sustentabilidade em licitação para contratação de serviços de clipping para o Ibama. TCU acata as justificativas do Ibama, porém recomenda a averiguação do atendimento de critérios ambientais na Administração Pública. TI Verde (Portaria SLTI/MPOG nº 2/2010) Dispõe sobre especificações-padrão de bens de tecnologia da informação no âmbito da Administração Pública e inclui critérios de sustentabilidade em quatro das sete especificações. 2011 Acórdão TCU nº 1.752/2011 – Plenário Constata falta de integração entre políticas públicas relacionadas à sustentabilidade ambiental na Administração Pública e baixa adesão às CPS entre as 71 instituições auditadas. Plano de Ação para a Produção e Consumo Sustentáveis (PPCS) Inclui CPS como prioridade do primeiro ciclo e define metas para essa ação. Regime Diferenciado de Contratações Públicas (Lei nº 12.462/2011) Institui Regime Diferenciado de Contratações Públicas para Olimpíadas de 2016, Copa das Confederações de 2013, Copa do Mundo de 2014 e obras do PAC, além de incluir diversos critérios de sustentabilidade para essas contratações. 2012 Decreto de Sustentabilidade na Administração Pública (Decreto nº 7.746/2012) Estabelece diretrizes para promoção do desenvolvimento nacional sustentável nas contratações realizadas pela Administração Pública e institui Comissão Interministerial de Sustentabilidade na Administração Pública (Cisap). Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Decreto nº 7.794/2012) Estimula agroecologia e produção orgânica por meio do uso sustentável dos recursos naturais e da oferta e consumo de alimentos, define compras governamentais como instrumentos de implementação e aponta critérios ambientais e sociais. 15Enap Fundação EscolaNacional de Administração Pública Marca ABNT - Qualidade Ambiental Programa de rotulagem ambiental que propõe metodologia para certificação voluntária de desempenho ambiental de produtos ou serviços. Programa de Aquisição de Alimentos (Decreto nº 7.775/2012) Inclui modalidade compra institucional, possibilitando aquisição de produtos da agricultura familiar por dispensa de licitação. Instrução Normativa SLTI/MPOG nº 10/2012 Torna obrigatória elaboração de planos de gestão de logística sustentável no âmbito do governo federal. 2014 ABNT NBR ISO 20121 Dispõe sobre requisitos de sistemas de gestão para sustentabilidade de eventos. Instrução Normativa nº 2/2014 Dispõe sobre regras para aquisição ou locação de máquinas e aparelhos consumidores de energia pela Administração Pública e uso da Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (Ence) em projetos. 2017 Instrução Normativa SEGES/MPDG nº 5, de 2017 Dispõe sobre regras e diretrizes para contratação de serviços sob o regime de execução indireta no âmbito da Administração Pública. 2019 Decreto nº 10.024/2019 Regulamenta o pregão eletrônico. Instrução Normativa Seges/ME nº 1/2019 Dispõe sobre Plano Anual de Contratações de bens, serviços, obras e soluções de tecnologia da informação e comunicações no âmbito da Administração Pública e sobre Sistema de Planejamento e Gerenciamento de Contratações. Conclui-se, portanto, que, após as análises realizadas na doutrina e na jurisprudência do TCU, STF e STJ, não há óbice até o momento no que diz respeito à legalidade das licitações sustentáveis. Pelo contrário, o ordenamento jurídico brasileiro impõe, seja por meio de tratados internacionais seja por leis ou normativos infralegais, a observância do aspecto ambiental quando do planejamento e execução das ações governamentais a fim de atender aos princípios constitucionais da eficiência, da legalidade e da preservação do meio ambiente (COSTA, 2011, p. 47). 16Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 1.4 Ótica do controle externo No vídeo a seguir, Jhéssica Ribeiro Cardoso aborda os princípios previstos na Carta da Amazônia (BRASIL, 2019), compromisso firmado entre as cortes de contas do país para a sustentabilidade. https://cdn.evg.gov.br/cursos/430_EVG/scorms/modulo02_scrom01/ scormcontent/assets/xRRsBn-ixoWPmE2z_transcoded-nt-nt9Ko8TIteedX-M2U1_1. mp4?v=1 Referências ALEM, G.; LUCCAS, F. G.;BETIOL, L. S.; DINATO, R.; RAMOS, L.; ADEODATO, S.; MONZONI NETO, M. P. Compras Sustentáveis e Grandes Eventos: a avaliação do ciclo de vida como ferramenta para decisões de consumo. São Paulo: Programa Gestão Pública e Cidadania, 2015. ARANTES, R. S. Nota Técnica “Minuta de Decreto que regulamenta o art. 3º da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993 e estabelece a Política de Licitações Públicas Sustentáveis no âmbito da Administração Pública Federal”. Brasília: SLTI, 2008. BIDERMAN, R.; BETIOL, L. S.; MACEDO, L. S. V.; MONZONI, M.; MAZON, R. (org.). Guia de Compras Públicas Sustentáveis: uso do poder de compra do governo para a promoção do desenvolvimento sustentável. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2008. BIM, E. F. Considerações sobre a Juridicidade e os Limites da Licitação Sustentável. In: SANTOS, M. G.; BARKI, T. V. P. (coord.). Licitações e Contratações Públicas Sustentáveis. Belo Horizonte: Fórum, 2011. cap. 9. BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, 1988. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ Constituicao/Constituicao.htm. Acesso em: 10 ago. 2021. BRASIL. Exposição de Motivos Interministerial nº 104/MP/MF/MEC/MCT, de 18 de junho de 2010. Altera as Leis nºs 8.666, de 21 de junho de 1993, 8.958, de 20 de dezembro de 1994, e 10.973, de 2 de dezembro de 2004, e revoga o §1º do art. 2º da Lei nº 11.273, de 6 de fevereiro de 2006. Brasília: Presidência da República, 2010. ] BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Brasília: Presidência da República, 1981. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/Leis/ L6938.htm. Acesso em: 19 ago. 2021. 17Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública BRASIL. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá outras providências. Brasília: Presidência da República, 1993. Disponível em: http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/Leis/L8666cons.htm. Acesso em: 17 ago. 2021. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis: PPCS. Brasília: MMA, 2014. Disponível em: https://antigo.mma.gov.br/publicacoes/responsabilidade- socioambiental/category/90-producao-e-consumo-sustentaveis.html?download=936. Acesso em: 17 ago. 2021. BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Guia de Compras Públicas Sustentáveis para Administração Federal. Brasília: MPOG, 2010. Disponível em: http://www.gespublica.gov. br/sites/default/files/documentos/guias_de_compras_publicas_sustentaveis_para_apf.pdf. Acesso em: 12 ago. 2021. BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação. 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