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Inexistência De Uma Filosofia Brasileira Segundo Roberto Gomes Na Obra Crítica Da Razão Tupiniquim

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SEMINÁRIO SÃO JOÃO MARIA VIANNEY 
CENTRO DE ESTUDOS ACADÊMICOS 
CURSO LIVRE DE FILOSOFIA 
 
 
 
JOSÉ JAILSON DA CRUZ SILVA JUNIOR 
 
 
 
 
A INEXISTÊNCIA DE UMA FILOSOFIA BRASILEIRA SEGUNDO ROBERTO 
GOMES NA OBRA CRÍTICA DA RAZÃO TUPINIQUIM 
 
 
 
 
 
 
 
CAMPINA GRANDE 
2022 
2 
 
A INEXISTÊNCIA DE UMA FILOSOFIA BRASILEIRA SEGUNDO ROBERTO 
GOMES NA OBRA CRÍTICA DA RAZÃO TUPINIQUIM 
José Jailson Da Cruz Silva Junior1 
Pe. Msc. José Jorge Santos Rodrigues2 
RESUMO: 
O presente artigo tem por finalidade expor, de maneira selecionada, as teses defendidas por 
Roberto Gomes, autor da obra chave deste artigo, Crítica da Razão Tupiniquim, que defende a 
inexistência de uma filosofia brasileira, defendendo esta tese com base em argumentos, em 
determinados pontos emitindo uma opinião própria com a única e exclusiva finalidade de 
complementar tais argumentos. A pergunta norteadora da obra é sobre a existência de uma 
filosofia brasileira, e Roberto Gomes por mais que paute a não existência de tal filosofia, deixa 
que o leitor tire suas próprias conclusões acerca da temática, mesmo que pouco a pouco durante 
a obra se apresente a uma espécie de antítese de teses que buscam dar eficácia e validade a uma 
filosofia nacional. Afim de idealizar uma espécie de análise das teses sustentadas de maneira 
escrita por Roberto Gomes é utilizada a metodologia de pesquisa bibliográfica seguido de 
revisão literária, onde são comparadas obras e entrevistas de autores distintos com a finalidade 
de validar aquilo que é defendido pelo autor, e que consequentemente é defendido no referido 
artigo. Ao fim do mesmo é possível assegurar a eficácia das teses defendidas na obra, 
destacando a pluralidade de argumentos expostos pelo autor, que mesmo não defendendo uma 
filosofia nacional, expõe apontamentos para que a mesma se idealize em um tempo oportuno. 
Palavras-chave: Filosofia brasileira. Razão filosófica. Pensamento estrangeiro. 
INTRODUÇÃO: 
 O quesito filosofia brasileira atrai a curiosidade de muitas pessoas, que buscam 
compreender como se forma, o que se aborda ou até mesmo se tal filosofia existe. Ao 
vislumbrarmos as escolas filosóficas existentes, questionamos se a “escola filosófica brasileira” 
consegue desempenhar do mesmo modo que escolas como o iluminismo, renascentismo, ou até 
mesmo o epicurismo, mas esbarramos na inexistência da filosofia brasileira, é tanto que o Brasil 
atualmente serve como berço para a propagação de diversas outras filosofias, menos para a 
propagação da sua própria filosofia. A filosofia nasce pela necessidade do homem de explicar 
as coisas, ou até mesmo pela necessidade de resolver seus próprios problemas, que surgem no 
interior do país, e assim nasce as filosofias nacionais, então cabe o levantamento: “Será que 
temos problemas para idealizar uma filosofia?” – problema é algo que sempre existiu (e sempre 
existira), mas ao que parece, o brasileiro torna-se determinado a resolver seus problemas com 
algo estrangeiro, descartando uma eventual construção filosófica brasileira. A obra escrita por 
 
1 Seminarista da Diocese de Campina Grande – I Filosofia 
2 Padre da Diocese de Campina Grande, professor da disciplina de Introdução a Filosofia - CEA 
3 
 
Roberto Gomes é peça chave para se entender o cenário filosófico brasileiro atualmente, onze 
capítulos destrincham o necessário para entender a posição do Brasil na filosofia, mas é 
interessante ressaltar que dos onze capítulos existentes, será trazido à tona capítulos específicos 
que irão abordar e contextualizar todos os capítulos. O objetivo, neste caso, torna-se propagar 
as teses de Roberto Gomes acerca da filosofia brasileira, não mostrando e apontando a tese do 
autor, como também a de autores que pensam o contrário, já que se faz necessário observar 
determinados pontos de todos os ângulos possíveis para que se chegue a uma determinada 
conclusão, ou seja, Roberto Gomes apresenta sua tese, mas leva em consideração e apresenta 
teses contrárias, para que o leitor vejo o tema abordado de ângulos diferentes e tire suas próprias 
conclusões. A necessidade desta pesquisa se dá pelo fato de que é importante entender a maneira 
com que a filosofia procede no Brasil, há quem acredite que herdamos a filosofia de Portugal, 
obviamente pela questão da colonização, mas não é possível herdar uma filosofia para si, é 
possível apropriar-se, entretanto não é cabível de herdar. Por isso, entender o porquê a herança 
filosófica de Portugal não é existente e o porquê, também, não existe uma filosofia brasileira 
são as finalidades ultimas de Roberto Gomes, que elencando tais pensamentos, aponta o que 
deve ser solucionado afim de que se consiga idealizar a existência da filosofia brasileira. O que 
se é possível entender com tal levantamento? Por mais que Roberto Gomes levante a tese de 
que não existe uma escola filosófica brasileira, é dado os meios para que se eventual nasça a 
“escola”, mas somente será possível tal nascimento após a solução dos problemas que 
circundam a filosofia no Brasil. Ao idealizar a leitura da obra, é possível indica-la não somente 
para aqueles que também seguem o pensamento defendido por Roberto Gomes, mas também 
para aqueles que almejam ver os passos dados pelo autor para que futuramente se crie a filosofia 
brasileira ou até mesmo para aqueles que creem na existência de uma filosofia brasileira. 
APRESENTAÇÃO DA OBRA: 
Crítica da Razão Tupiniquim é uma obra idealizada pelo escritor Roberto Gomes, 
atualmente constando em sua 12° edição, Crítica da Razão Tupiniquim é a primeira obra do 
escritor natural da cidade de Blumenau, datada de 1977. A referida obra faz uma crítica a 
filosofia do Brasil, indagando tanto sua existência como seus princípios. Não é possível que um 
país detenha uma filosofia para si, sem algumas questões fundamentais, como a “originalidade”, 
no Brasil, pelo contrário, o que marca a filosofia brasileira é o “jeitinho”. Roberto Gomes elenca 
diversas questões que levam um país a ter sua própria filosofia e mostra que o Brasil não tem 
esses quesitos, mas sim, o oposto dos mesmos. 
4 
 
 Dividida em onze capítulos, a obra inicia com o capitulo intitulado “um título”, que 
abordará o motivo pelo qual a obra recebe este nome, ou o que pode significar uma “razão 
tupiniquim”, em seguida é apresentado o capitulo referente a seriedade (A sério: a seriedade), 
onde o autor irá tirar o teor cômico que pode surgir ao ler o título da obra, respondendo logo 
em seguida que sim, a obra terá um caráter totalmente sério, não querendo em nenhum ponto 
introduzir o gênero artístico-literário cômico. O terceiro capitulo (Uma razão que se expressa), 
o autor aborda questões referentes a razão e a originalidade, mostrando que “sempre que uma 
razão se expressa, inventa filosofia” (GOMES, 1994, p. 18). Figuras notáveis são identificadas 
no decorrer do capitulo (não somente do capitulo, como dá obra de um modo geral) como Santo 
Tomás de Aquino, que segundo o escritor sofreu um dos piores preconceitos existentes, o 
chamado “preconceito a favor”. No capitulo quarto (Filosofia e negação), trata-se de um 
capitulo relativamente pequeno, mas que aborda questões “profundas”, por exemplo, quando é 
dito que “o passado é lição para se meditar, não para reproduzir” (GOMES, 1994, p. 27). E 
negação que se relata, é como uma “crise existencial” que o autor tem (chegando a questionar 
até mesmo se a filosofia realmente importa) e que relata aos leitores que a filosofia se baseia 
em dizer o contrário. O quinto capitulo (O mito da imparcialidade: o ecletismo), ao referir-se 
ao ecletismo, que é definido como uma pluralidade cultural, expondo uma existência “infinita” 
de culturas no Brasil, ou seja, não consta com algo único, colocando como um dos maiores 
mitos do Brasil o fato de ser considerado um país com “espirito de imparcialidade”. O capitulo 
sexto (O mito da concórdia: o jeito), é pautadouma das coisas mais presentes dentro do Brasil, 
o “jeitinho”. Roberto Gomes questiona se os brasileiros realmente dão um jeito em tudo, 
mencionando que o “extremo formalismo” recebe como resposta o “jeito”, como por exemplo, 
quando um membro do conselho referente a um concurso deixa passar uma irregularidade de 
algum candidato. Originalidade e jeito é o tema abordado no sétimo capitulo, onde haverá uma 
crítica aos brasileiros de um modo geral, pois aborda que somos capazes de conviver com 
diversos autores e obras, porém, incapazes de conviver e dialogar com alguém que discorda do 
nosso modo de viver. Também é mostrado que chega a ser irritante acreditar que o “jeito” 
(mencionado no capítulo anterior) funcione como o retrato de uma alienação intelectual e 
política. O capitulo oitavo (A Filosofia entre-nós) é considerado um dos capítulos mais 
paradoxais do livro, pois é realizado uma espécie de critica a filosofia brasileira que nem ao 
menos existe (pelo menos é o que é sustentado durante a obra). É também neste capitulo que se 
faz presente algumas citações de escritores a respeito de uma filosofia brasileira, cabendo uma 
defesa ao “pensamento brasileiro”, e a outros uma total critica por motivos plausíveis. Podendo 
responder no final a indagação: “existe filosofia entre-nós?”. O nono capitulo (A Razão 
5 
 
Ornamental) abordará o “esquecimento de quem somos”, mostrar a figura do homem brilhante: 
dotado de uma rapidez cognitiva, um ótimo orador, charmoso. Também será identificado a 
figura do esforçado, pessoa cujo traços não correspondem em nenhum aspecto ao homem 
brilhante, mas que é esforçado, tornando o esforço uma figura depreciativa. O decimo capitulo 
(A Razão Afirmativa) começa fazendo uma espécie de paralelo entre o ecletismo e o 
positivismo, mencionando que “na aparência” ambos são opostos. O positivismo nada mais fez 
do que “desdobrar um componente já implícito no ecletismo anterior”. No último capítulo 
(Razão Dependente e negação) de maneira singela, vai abordar a imposição cultural que 
acontece no Brasil, tanto idealizada pelos estrangeiros, como pelos próprios brasileiros, que 
sempre desejou ser europeu, melhor ainda um “não-brasileiro”. 
 Com isso, Crítica da Razão Tupiniquim em primeira instância entrará no quesito 
existência de uma filosofia brasileira, que pouco a pouco o autor (Roberto Gomes) vai 
destrinchar os motivos pelo qual a filosofia brasileira ainda não “nasceu” e por que ainda não 
nasceu. Entretanto, temáticas como “jeitinho”, seriedade, ciência, literatura estão presentes no 
contexto da obra, pois agregam a temática principal da obra como uma fundamentação que o 
autor faz, digo, o autor utilizasse dessas temáticas para melhor explicar o ponto central do livro. 
FILOSOFIA BRASILEIRA – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: 
Apresentar uma base teórica do tema abordado no artigo é de suma importância para 
validar tudo aquilo que se fala, e não ficar à mercê do pensamento de um único escritor a 
respeito de determinado tema. Nisso consta a necessidade do referido capitulo, 
pautar/fundamentar o ideal central em teorias de outros autores acerca do tema que se pesquisa 
e filosofia brasileira é algo que não somente Roberto Gomes apresenta uma linha de 
pensamento, há outros escritores que fundamentam a não existência de uma chamada filosofia 
brasileira. 
 Segundo Gerd Bornheim (1980, apud SOFISTE, 2005, p. 2), na sua obra “Filosofia e 
Realidade Nacional”, menciona que uma filosofia nacional é infundável, dado que 
[...] os conceitos de Filosofia e de realidade nacional parecem contrapor-se a ponto de 
se excluírem. A Filosofia, por definição, como todo pensamento racional, sente-se em 
casa no plano do universal, os seus conceitos se querem transregionais. Realmente, a 
análise do singular enquanto tal não poderia por si mesma apresentar qualificações de 
nível filosófico: a singularidade, para que chegue a ser do interesse da Filosofia, deve 
expressar de algum modo alguma forma de universalidade, e é somente porque a 
universalidade se encontra por assim dizer 3 inscrita na singularidade que o labor 
filosófico consegue ancorar-se no singular (p. 145-146). 
6 
 
 Wallece José (2021) fundamenta que existe uma “atividade filosófica no Brasil”, 
todavia não existe uma filosofia nacional 
Tendo em vista essa natureza da filosofia, creio não ser exagero afirmar que a 
atividade filosófica no Brasil – representada por seus maiores nomes, os quais 
pretendo expor em outras oportunidades –, ao manter a ligação com a tradição 
filosófica clássica, está mais ligada ao fio do ser da filosofia perene do que aparenta à 
primeira vista. Não há, portanto, uma filosofia nacional ou regional. O que há é o 
desafio de desenvolver um modo particular de lidar com problemas universais. E o 
Brasil deu-nos grandes filósofos à altura dessa tarefa (n.p). 
Ronie Alexsandro (2017), durante um debate na “Coluna da ANPOF3”, pauta que a 
filosofia praticada no Brasil é majoritariamente ocidental, e que existe um problema conceitual 
do que seria esse “nacional”, pois na perspectiva do referido a uma filosofia brasileira, em caso 
de futura existência, caminha para ser uma “filosofia histórica”. Então Ronie, utilizando-se do 
oficio que lhe cabe (filosofo), aponta que: 
Seja como for, na pior das hipóteses a preferência por discutir sobre filosofia brasileira 
certamente não pode ser considerada ainda a própria filosofia brasileira. Assim como 
a discussão sobre a gramática não corresponde ao uso da língua. De minha parte, 
prefiro correr os riscos de certa imprudência em tentar fazer filosofia brasileira e 
deixar a cargo de outros, mais tarde, verificarem se o que foi feito é mesmo filosofia 
brasileira. Como filósofo prefiro deixar o trabalho historiográfico para os estudiosos 
do futuro, ao contrário de tentar antecipá-la. Tudo parece indicar que a dimensão 
ocupada pela discussão sobre filosofia brasileira é uma tentativa de constituir uma 
historiografia filosófica antecipada. “História do futuro” é uma expressão adequada 
para descrever sua pretensão (n.p). 
Luís Washington Vita (1958) diz que um dos problemas da não existência de uma 
filosofia nacional, é seu próprio pensamento que é assimilativo de ideias alheias e limitado em 
si 
De fato, cumprindo seu destino e sua vocação, o pensamento brasileiro, mais do que 
criativo, é assimilativo das idéias alheias, e, ao invés de abrir rumos novos, limita-se 
a assimilar e a incorporar o que vem de fora. Daí a história da Filosofia no Brasil ser, 
em geral, uma história da penetração do pensamento alheio nos recessos de nossa vida 
especulativa, ser, em suma, a narrativa do grau de compreensão, da nossa capacidade 
de assimilação nas diferentes épocas e do nosso quociente de sensibilidade espiritual. 
(p. 9) 
 
Murilo Seabra (2022), em uma entrevista cedida a ANPOF, afirma que uma filosofia 
brasileira não existe, pois não é possível falar de uma “filosofia brasileira”, o máximo que 
podemos conseguir formular é uma “filosofia no Brasil”. Murilo ainda ressalta que nas 
graduações em filosofia, não são estudadas questões filosóficas, mas sim, autores 
preferencialmente europeus, com isso o país fica fadado a um desenvolvimento intelectual 
estrangeiro, descartando a possibilidade da criação de um pensamento filosófico nacional. 
 
3 Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia 
7 
 
Gonçalo Palacios (2004, apud LUCERO, 2019, p. 15), na obra De como fazer filosofia 
sem ser grego, estar morto ou ser gênio (p. 15) faz uma dura crítica a academia de filosofia 
brasileira. Ao pautar o Brasil como um país que propaga a filosofia ocidental (assim como disse 
Ronie Alexsandro, já mencionado), e inclusive sugere aos Departamentos de Filosofia das 
instituições de ensino superior no Brasil, que modifiquem o nome dos departamentos, deixando 
de ser “departamento de filosofia” para “departamento de comentariologia”. 
FILOSOFIA BRASILEIRA– SEGUNDO ROBERTO GOMES: 
Ao escrever Crítica da Razão Tupiniquim, Roberto Gomes, entrega sua vertente de 
pensamento acerca da existência de uma filosofia brasileira, para o autor, tal filosofia não é 
passível de existência até que se resolva determinados problemas que assolam, não somente a 
academia brasileira, como o país de um modo geral. 
 No capitulo intitulado “A sério: a seriedade”, Roberto Gomes esclarece que uma 
eventual filosofia brasileira só será passível de existência quando vier a ser “[...] uma 
investigação do avesso da seriedade vigente. Obras sérias são feitas com arquivos, notas ao pé 
da página e num jargão que me aborrece” (GOMES, 1994, p. 13), a fala é uma crítica a uma 
seriedade/formalidade da “filosofia brasileira”, já que o falar bem, o escrever e o pensar vieram 
a ser as coisas mais formalizadas e rígidas que se conhece. 
 Haverá uma filosofia brasileira quando esta for descoberta no Brasil, não é possível que 
se haja uma filosofia nacional sendo que dentro do território que abrange o país é propagada 
uma “filosofia estrangeira”. É projetado, quando se estuda filosofia, que se deve conhecer o 
pensamento filosófico europeu, pois é berço de renomados nomes, principalmente quando se 
refere a “iluminismo”, como Montesquieu autor da obra “O espírito das Leis”, ou Rousseau 
idealizador da obra “Do Contrato Social”. Nomes renomados para a filosofia, que ao mostrar 
ao mundo seus pensamentos, marcaram história, e que influenciam diretamente nosso país, 
influenciam para que não haja uma filosofia nacional autoral, culpa destes filósofos iluministas? 
Em nenhum momento, dado que a real culpa é propriamente dita do brasileiro, que desde 
sempre tem um pensar “estranho”, já dizia Gomes: “Desde sempre nosso pensar tem sido 
estranho, providenciado no estrangeiro” (idem, p. 23). 
 No Brasil o ecletismo4 foi o primeiro movimento filosófico plenamente estruturado, e 
isso causa uma dificuldade na possibilidade da apreensão da realidade para além de formas 
 
4 Segundo Ivo Tonet (1995, p. 35 apud NÓBREGA, 2018, p. 2) na obra “O pluralismo metodológico: um falso 
caminho”, o ecletismo é constituído “na liberdade de tomar ideias de vários autores e articulá-las segundo a 
8 
 
“fenomênicas”. O ecletismo causa não somente uma pluralidade de ideias, como também a falta 
de uma ideia “original”, como assim? Para que nasça uma filosofia brasileira é necessário que 
se assuma uma razão brasileira, ou seja, é necessário que o Brasil assuma uma posição sua, é 
porque isso não é idealizado? Porque o Brasil não assume sua própria posição? Por medo de 
desligar-se da cultura europeia, fruto de um ecletismo enraizado. Livrar-se primeiramente do 
ecletismo é “peça fundamental” para que se introduza uma razão brasileira, já que segundo 
Hegel, o pensamento filosófico nada pressupõe além da razão, que a história trata da razão, e 
somente da razão, e que o estado é a realização da razão. 
A FILOSOFIA ENTRE-NÓS: 
Trazendo para o contexto de Crítica da Razão Tupiniquim, o capitulo referente a 
“filosofia entre-nós” (capitulo oitavo), é onde Roberto Gomes idealizará uma separação de 
“filosofia brasileira” e “pensamento brasileiro”, pois já é notório que segundo Roberto não 
existe filosofia nacional, mas que existe um pensamento brasileiro. Também é possível 
visualizar no referido capitulo a referência a outros autores como Vilém Flusser que defende a 
existência de uma filosofia brasileira fundamentando seu pensamento em três pensadores 
expressivos. Ou seja, “filosofia entre-nós” funcionará como uma espécie de embate de ideias, 
tendo de um lado Roberto Gomes e de outro Flusser (e filósofos que são utilizados como 
fundamento de seu argumento). 
 É um paradoxo pensar que no princípio da obra até o oitavo capitulo, Roberto Gomes 
idealizava uma ferrenha critica a academia brasileira e a adeptos da filosofia brasileira, e neste 
ponto protagoniza a defesa do pensamento brasileiro, chegando até mesmo a admitir, 
pacificamente, a existência de uma filosofia no Brasil, ou seja, o Brasil é agraciado pela 
presença da filosofia em seu território já que congressos, debates e currículos universitários 
constando filosofia são provas de que existe filosofia entre-nós. Mas esbarramos na questão de 
que existe filosofia entre-nós, mas não existe uma filosofia “nossa”. O fato de haver filosofia 
no Brasil pode ser um abrir de portas para um pensamento nacional, mas que primeiramente 
requer, o já mencionado, desapego do pensamento europeu/estadunidense. 
 Em um debate entre Nelson Rodrigues e Vilém Flusser na Revista Brasileira de Filosofia 
traz à tona um artigo publicado por Flusser, intitulado “Há filosofia no Brasil? Demonstração 
em três pensadores expressivos”. Quando se refere a “três pensadores expressivos”, Flusser 
 
conveniência do pensador, sem, contudo, verificar com rigor a compatibilidade de ideias e paradigmas 
diferentes, resultando numa verdadeira ‘colcha de retalhos’” 
9 
 
apresenta a figura de Vicente Ferreira da Silva, Leônidas Hegenberg e Miguel Reale. É dito no 
contexto do artigo, que existe filosofia entre-nós pelo simples fato de que somos seres humanos, 
e por esse motivo, filosofamos. É interessante salientar que Roberto Gomes discorda de Flusser 
em praticamente todos os momentos, é tanto que não busca saber se os três pensadores que 
Flusser fundamenta seu artigo tem alguma relevância5, nem ao menos se preocupa em saber se 
são pensadores brasileiros ou algo do tipo. 
 O choque de ideias sobre a filosofia brasileira tem seu estopim no momento que Roberto 
Gomes menciona que Nelson Rodrigues, Vilém Flusser e os “três pensadores expressivos” 
mencionados, dão a certeza aos leitores e “entusiastas” da filosofia que não existe uma filosofia 
brasileira. O desastre se consuma no momento que Flusser responde a seguinte pergunta: 
“Portanto: há filosofia no Brasil?”, e é dito: “Há, e haverá, se quisermos e pudermos” (GOMES, 
1994, p. 60). Tal resposta gera questionamentos por parte de Roberto Gomes, que pauta algumas 
questões como “quais as condições desta Filosofia e as condições de nosso querer?” e “quais 
os objetos, a metodologia, a linguagem de uma Filosofia nossa?”, e tais questionamentos são 
totalmente plausíveis, dado que simplesmente afirmar que existe uma filosofia brasileira é algo 
sem nenhuma complexidade, todavia, apresentar todas as questões, “como esta filosofia se 
fundamenta”, “quem são os principais nomes desta corrente filosófica” é algo que não é 
abordado por quem simplesmente afirma existência de uma filosofia nacional. 
 Gomes, diferente de Flusser faz levantamentos em defesa de sua tese. Em primeira 
instancia diz que assim como um feto, a filosofia que é trabalhada no Brasil está apegada à 
“mãe Europa”, e isso acarreta no desapego de angustias próprias ao Brasil, pois com esse apego 
nos servimos de uma mesa já pronta. Isso também reflete em outro aspecto, na questão de que 
não é algo próprio ao espirito brasileiro a questão do filosofar, e isto se desdobra em outras duas 
questões, “a primeira nega ao brasileiro espirito capaz de Filosofia. A segunda afirma não ser a 
língua portuguesa capaz de adequada expressão filosófica” (idem, p. 62). A solução para 
tamanha problemática, se dá no primeiro caso de uma melhor aptidão intelectual. E no segundo 
caso, uma língua mais adequada, em questão de colocar as duas soluções em uma “balança”, a 
mais provável de solução é a primeira, melhorar a aptidão intelectual do Brasil é plausível, 
agora modificar algo que é “herança portuguesa”, é algo praticamente improvável. 
 
5 É possível notar o sarcasmo do autor da obra principal. Pois é notável que os três pensadores mencionados no 
artigo “Há filosofia no Brasil? Demonstração em três pensadores expressivos” tem relevância, por exemplo 
Vicente Ferreira que é, segundo Ricardo Velez (2020), um filosofo, matemático e expoente da logica 
contemporânea no Brasil. VicenteFerreira é tido como um “cetro inspirador”. 
10 
 
 Álvaro Lins, diferente de Roberto Gomes, menciona que não é possível explicar com 
total exatidão o que determina a ausência de um verdadeiro filosofo no Brasil. Muito pode ser 
explicado com base no princípio da história do país, Portugal não nos deixou uma grande 
“herança filosófica”, entretanto é neste ponto que se entra em conflito com a história, pois não 
existe uma “herança filosófica”, não é possível se herdar uma filosofia, cabe ao país “apropriar-
se dela, fazendo-a nossa” (idem, p. 63). Álvaro Lins menciona também que o Brasil é munido 
de professores de filosofia, mas não dê filósofos. O Brasil navega em infindáveis itálicos, em 
infindáveis citações, ou seja, o Brasil navega naquilo que não é pertencente ao país. Confundir 
uma filosofia “no” país com filosofia “do” país é possível, mas não é algo que deve ser levado 
a diante. 
 Durante o oitavo capitulo da obra é possível identificar que mesmo a temática sendo 
referente a existência de uma filosofia entre-nós, a questão da filosofia brasileira sempre estará 
presente, mesmo que de maneira subliminar, mas neste caso não somente a filosofia brasileira, 
como também o pensamento brasileiro (este sim é passível de existência) se fazem presentes 
nos argumentos sustentados pelo autor. Outra coisa que foi importante destacar dentro do 
capitulo, é o conflito de ideias, onde Roberto Gomes destrincha tudo aquilo que é dito por 
Flusser em seu artigo. Em questão de conteúdo abordado o capitulo “A filosofia entre-nós” é 
um dos (ou até mesmo o de maior destaque) maiores destaques em relação a conteúdo e 
informação. Por fim, na perspectiva do capitulo é possível visualizar a defesa de Roberto Gomes 
do pensamento brasileiro, negando a existência da filosofia nacional, mas sempre defendendo 
a existência de uma filosofia entre-nós, e somente isto. Flusser tem sua tese erradicada pela 
falta de argumentos. O pensamento de Álvaro Lins vem como forma de agregar aquilo que é 
dito por Roberto Gomes, mas que retrata uma triste realidade do nosso país. 
UMA RAZÃO QUE SE EXPRESSA: 
 “Sempre que uma razão que se expressa, inventa filosofia” (GOMES, 1994, p.18), 
Roberto Gomes nos introduz ao capitulo com tal afirmativa para introduzir outro pensamento, 
que é “por mais abstrato que possa parecer um pensamento, sempre traz em si a marca de seu 
tempo e lugar” (idem, p. 19). Mas o que ambos os pensamentos querem concatenar afinal de 
contas? O princípio de uma filosofia nacional. Segundo o próprio autor da obra no capitulo 
oitavo (a filosofia entre-nós) o Brasil não é próprio de uma filosofia “sua”, pela falta de 
originalidade, pela falta de um pensamento próprio, trocando em miúdos é como se disséssemos 
que não existe um pensamento próprio no Brasil pelo fato de que o país não busca observar 
seus próprios problemas e consequentemente tentando resolve-lo utilizando a filosofia como 
11 
 
ferramenta. Com isso, o que é levado em consideração com relação aos dois pensamentos é que 
para que haja uma filosofia intrinsicamente nacional, é necessário que se tenha três aspectos: 
razão, tempo e lugar. De acordo com o que é tratado pelo autor durante a obra, tempo e lugar 
não são problemas para o país, dado que existe um pensamento originário brasileiro. Ou seja, a 
razão torna-se um dos problemas a serem abordados para que se eventualmente possa vir a 
existir a já mencionada inúmeras vezes, filosofia brasileira. 
 Mas o que é razão? Segundo Braz Gomes (2020) em suas considerações finais acerca 
da razão e felicidade em Santo Tomás de Aquino, nos diz que: “A razão é luz concedida por 
Deus ao homem, para que ele alcance a ciência e separe o bem do mal, pois esta tem o poder 
de conduzir a humanidade ao progresso ou ao fracasso” (p. 16). É trazido à tona um conceito 
tomista pelo fato de que o próprio Roberto Gomes menciona Santo Tomás no referido capitulo, 
mencionando que a figura de Santo Tomás de Aquino sofre muito preconceito e que se colocar 
em um contexto histórico os tomistas não surgiram como o “sistema sabe-tudo” nos conta, mas 
que nasceram para solucionar um problema inadiável da época. Atualmente o “sistema sabe-
tudo” trata o tomismo como anacrônico, algo que não procede pelo fato de que o mérito da 
escola filosófica foi conseguir manter harmonizado a importância da união entre fé e razão. 
 Dado o conceito de razão, dentro do âmbito tomista escolástico, podemos prosseguir 
com a razão que se expressa segundo Hegel, que aborda razão dentro do pensamento filosófico, 
mencionando que “o pensamento filosófico nada pressupõe além da Razão, que a história trata 
da razão, e somente da Razão, e que o estado é a realização da Razão” (GOMES, 1994, p. 20). 
A intenção de Hegel com a afirmativa é provar que a razão efetiva-se, de um modo geral, no 
mundo inteiro, não sendo apenas uma coisa abstrata, do mundo sensível numa perspectiva 
platônica. Hegel basicamente diz que a razão governa todo um contexto histórico e que a razão 
ajuda os indivíduos a serem dotados da capacidade de realizar seus próprios interesses. 
 Dado e passado estes dois conceitos (aquilo que é razão e a razão segundo Hegel), torna-
se mais simples entender todo o pensamento de Roberto Gomes que atrela toda a questão da 
razão com o pensamento brasileiro6, por exemplo, quando menciona que, mesmo tendo seu 
próprio pensamento, o Brasil se vê apegado a pensamentos alheios, muitas vezes por achar só 
aquele pensamento pode compreender determinado saber. Isso se reflete em um retrocesso do 
ato de pensar puramente nacional. Algo que já foi dito anteriormente, mas que se faz necessário 
 
6 Não somente estes dois termos serão trazidos à tona juntos, questões como “verdade” serão elencadas no 
decorrer do capitulo. 
12 
 
ser trazido para pauta novamente, somente haverá uma filosofia brasileira quando essa for 
descoberta no Brasil, não é possível haver uma filosofia totalmente brasileira sendo que são 
usados elementos de uma filosofia estrangeira. 
 No contexto da obra, o capitulo conclui-se com o seguinte questionamento: “Há uma 
filosofia brasileira?”. Durante toda a obra é sustentada a tese de que não existe uma filosofia 
brasileira, e com o capitulo que aborda a razão, tal tese consegue se sustentar cada vez mais, 
como é possível que se haja uma filosofia nacional onde não há uma problemática brasileira? 
A filosofia nacional nasce como resposta de um problema nacional. A razão é como uma 
espécie de consciência que “orienta as vontades e oferece finalidades éticas para a ação” 
(SIGNIFICADOS, n.p). Se o questionamento de Roberto Gomes pudesse ser moldado seria 
mais interessante questionar: “A filosofia no Brasil é algo meramente acadêmico?”, a pergunta 
é feita pelo autor no capitulo quarto (filosofia e negação), mas é interessante salienta-lo neste 
momento, como também de uma resposta inicial, dado que a resposta de tal questionamento 
levantado não terá uma resposta fixa (é claro, as respostas mais logicas que se pode aparecer é 
“sim” ou “não”). Partindo para um levantamento puramente pessoal, a filosofia brasileira é 
palco de algo meramente acadêmico, não como algo rude/ruim, vale ressaltar que temos o nosso 
próprio pensamento7, mas é necessário que tenhamos consciência de que nos falta a razão como 
um elemento primordial para que se consiga desencadear aquilo que culminará na sonhada 
filosofia brasileira, enquanto isso não acontece, nos fadamos a uma filosofia acadêmica, dado 
que tudo aquilo que se produz de teor filosófico no país, é fruto de departamentos de filosofia, 
ou seja, mestrados e doutorados (ou até mesmo das monografias). De acordo com a “Brasil 
Paralelo” (2022, n.p) no período a partir de 1970 a filosofia no Brasil passou por um 
crescimento, porém, este crescimento foi puramente no âmbito acadêmico, mais precisamente 
nas instituições de ensino USP (Universidade de São Paulo) e PUC-SP (PontificaUniversidade 
Católica de São Paulo). 
ACERCA DA NATUREZA DO “JEITINHO” BRASILEIRO: 
 Falar sobre o Brasil e não mencionar o “jeitinho” do povo brasileiro é quase impossível, 
já que do existencial ao político, passando pelo que é físico e metafisico, damos um jeito em 
tudo. É interessante olhar duas perspectivas: em primeira instancia, o brasileiro se orgulha de 
 
7 Podemos pensar de uma maneira “romântica”, porém inevitável, que o pensamento é uma espécie de clímax 
reflexivo da consciência. 
13 
 
ser o único povo do mundo que consegue idealizar tal feito com maestria, em segunda instância, 
aquele que se exalta já não pode utilizar-se do artificio de “dar um jeito”. 
 É possível indagar, nós brasileiros realmente damos um jeito em tudo? Inicialmente é 
necessário pautar qual é o conceito de “jeito”, podemos dizer que nada mais é que uma “marota 
maneira de desrespeitar a extrema formalidade em respeito a valores maiores” (GOMES, 1994, 
p. 44). 
 Além do mais, o brasileiro não tem simplesmente a “faculdade” do jeitinho, como 
também leva para si o lema: “Deixa como está para ver como é que fica” (frase atribuída a 
Getúlio Vargas). Mas tal maneira de conduzir a vida não tem um bom reflexo, pois o ideal de 
“jeito” tem nos conduzido a um vazio existencial que segundo Viktor Frank, é o mal do século 
XX e XXI, e acerca da sua origem é dito que 
em contraposição ao animal, os instintos não dizem ao homem o que ele tem de fazer 
e, diferentemente do homem do passado, o homem de hoje não tem mais a tradição 
que lhe diga o que deve fazer. Não sabendo o que tem e tampouco o que deve fazer, 
muitas vezes já não sabe mais o que, no fundo, quer. Assim, só quer o que os outros 
fazem – conformismo! Ou só faz o que os outros querem que faça – totalitarismo 
(FRANKL, p. 11, 2015). 
 Se levamos em consideração o vazio existencial causado pelo “jeitinho” podemos 
elenca-lo como mais um motivo pelo qual não existe uma filosofia nacional. Além do mais, 
também foi realizada anteriormente uma sustentação explicando o motivo pelo qual a filosofia 
no Brasil é meramente acadêmica, e Roberto Gomes menciona que se quisermos sair do “bolor” 
universitário/acadêmico, a filosofia carece da conquista de uma cidadania crítica, e quanto a 
isso, não é possível que se de um “jeitinho”. 
 O referido capitulo também leva a questão do jeito para o âmbito político, abordando 
que o elemento principal do capitulo (jeito) conduziu o país a ser, não um país jovem, mas sim 
infantil, e isto não é reflexo da atitude das pessoas, mas das pessoas que representam o país, já 
que não é de responsabilidade do povo a direção da política, como também não de 
responsabilidade do povo a elaboração de obras de cunho filosófico, e sim das elites políticas e 
intelectuais. Sendo assim, é possível identificar que o ato falho do jeitinho brasileiro, não é 
culpa da nação, é reflexo dos políticos brasileiros que incorporam este modo de viver naquilo 
que não é próprio, na liderança do país. 
14 
 
 Podemos também relacionar o jeitinho com a corrupção, muito pelo fato de que o 
brasileiro não se importa em seguir as regras8, e isso de certa forma faz com que o povo se 
acostume com a corrupção política, já que dá muito trabalho ir busca de artigos da constituição 
e do código penal que falem sobre a corrupção e as medidas a serem tomadas, é claro, tais 
manifestações de ir em busca de combater a corrupção existem, mas que não causam uma 
mobilização da massa, isto também pode explicar o motivo pelo qual nas eleições tem-se o 
costume de votar naquele que é “menos pior”, ou seja, quem é menos corrupto, merece ganhar. 
 Em suma, o jeitinho brasileiro é utilizado por praticamente cotidianamente, mas também 
é visto que existem meios onde o referido jeito não deveria ser utilizado, como na política. O 
ideal de conseguir resolver muitas coisas com o jeito poderia ser o princípio da postulação de 
uma filosofia brasileira, entretanto o jeito não algo passível de consciência crítica, pode ser 
considerado um marco do país juntamente com o samba e o futebol. Por fim, é necessário 
reconhecer que buscasse dar um jeito em tudo, mas que o jeito esbarra no formalismo, aquele 
que é dotado de uma total formalidade para as coisas, torna-se incapaz de proceder o jeitinho 
brasileiro, com isso, observasse que a política pode não ser algo formal, e sim, meramente 
artificio para mostrar ao mundo que até mesmo nas coisas mais serias, como a regência de um 
país, buscamos dar um jeito em tudo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 Segundo um levantamento idealizado pela Escola de Direito da FGV (Fundação Getúlio Vargas) no ano de 
2015, o Índice de Percepção do Cumprimento da Lei (IPCLBrasil), trouxe à tona que 80% dos brasileiros dizem 
ser fácil desobedecer a leis, e que 81% utiliza o “jeitinho” sempre que possível, além do mais, 56% acreditar não 
ter razões para obedecer a leis no Brasil. 
15 
 
CONCLUSÃO: 
 Ao abordar a visão de Roberto Gomes sobre diversos pontos que circundam a filosofia 
no Brasil, é possível, ao analisar diversos pontos (como também, diversos autores), avaliar a 
importância do escrito Crítica da Razão Tupiniquim para, não somente os acadêmicos de 
filosofia, como também para todos aqueles que se propõem a questionar-se sobre a existência 
da filosofia no Brasil. 
 Roberto Gomes aborda diversos pontos dentro de sua obra, deixando claro inúmeros 
aspectos, um deles, que é importante destacar, é a questão da “filosofia entre-nós”, deixando 
claro que no Brasil não existe uma filosofia nacional, mas existe uma filosofia no Brasil, já que 
mesmo vivendo de uma filosofia estrangeira, somos passiveis de uma produção a nível 
acadêmico, com isso, a filosofia é passível de existência entre nós, algo original do país? Não, 
entretanto não deixa de ser produção filosófica no território. Questões como as “faculdades” 
que impossibilitam o Brasil de ter algo original para si também são discutidas e bem defendidas 
no contexto da obra e do artigo. Olhar para a realidade, e ver que o simples “desleixo”, 
acobertado pelo nome de “jeitinho brasileiro”, pode ao mesmo tempo ser uma saída para tudo, 
pode ser, também, uma situação de retrocesso. 
 Diante da metodologia utilizada, visualizar o ponto de vista de outros autores/escritores 
foi de suma importância para o desenvolvimento da pesquisa. Pensamentos como o de Flusser, 
Luís Washington e até mesmo Nelson Rodrigues, foi eixos importantes para a criação de um 
eventual posicionamento que culminaria no referencial teórico. Obras de filosofia no Brasil 
muitas vezes são produzidas por acadêmicos, que em sua maioria escrevem visando a 
publicação em um eventual congresso, e para está pesquisa, artigo de muitas pessoas com esse 
objetivo (artigos para congressos) foram utilizados, dado e passado deste modo, é necessário 
mencionar o quão importante foi o desenvolvimento acadêmico destas pessoas para a 
fundamentação da pesquisa, mostrando também a capacidade acadêmica do Brasil, que mesmo 
não tendo uma filosofia sua, pode ser um celeiro de talentos para tal finalidade, a edificação de 
uma filosofia brasileira. 
 A finalidade da obra de Roberto Gomes pode ter nascido com base no seguinte 
questionamento: “Será que existe uma filosofia brasileira?”, dado e passado pelo autor, 
podemos dizer simplesmente que “não”, e não faltam argumentos por parte de Roberto Gomes 
para fundamentar tal tese, mas podemos deixar claro uma coisa, o autor deixa entreaberto a 
questão, é tanto que durante a obra são mostrados autores que acreditam na existência de uma 
16 
 
filosofia brasileira. Nos atentando a obra podemos visualizar um Roberto Gomes preocupado 
com o país, já que mesmo alegando que no Brasil não existe uma filosofia nacional, é dado pelo 
autor meios e caminhos para que um dia se culmine na idealização de uma escola filosófica 
brasileira. Em suma, conclui-se que segundo as teses de Roberto Gomes, a filosofiabrasileira 
não existe, entretanto, existem meios e caminhos para que se edifique eventualmente, pois não 
podemos herdar uma filosofia de um outro país, mas nada nos impede de criar um ponto inicial 
na história, idealizando com características totalmente originais do país, uma filosofia nacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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