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Diabetes Mellitus e Lipidograma Profª. Fabiana Vieira de Mello Descrição Diabetes mellitus e lipidograma, conceitos gerais e aspectos clínicos e laboratoriais. Propósito Compreender os conceitos básicos do metabolismo de carboidratos e lipídeos, destacando a importância do diabetes mellitus e de quadros de dislipidemias; descrever os testes laboratoriais utilizados e correlacionar os resultados obtidos com os aspectos clínicos das diferentes subclassificações. Objetivos Módulo 1 Diabetes mellitus e seu diagnóstico Descrever os tipos, as fisiopatologias e as complicações do diabetes mellitus e seu diagnóstico laboratorial. Módulo 2 O metabolismo dos lipídeos Reconhecer os pontos básicos do metabolismo dos lipídeos, as possíveis alterações fisiológicas e laboratoriais e os diferentes subtipos de dislipidemias. Orientações sobre unidade de medida Em nosso material, unidades de medida e números são escritos juntos (ex.: 25km) por questões de tecnologia e didáticas. No entanto, o Inmetro estabelece que deve existir um espaço entre o número e a Neste conteúdo, vamos conhecer o incrível mundo metabólico dos carboidratos e lipídeos, explorar as vias e os recursos utilizados em nosso organismo para aproveitar ao máximo tais substâncias orgânicas provenientes de nossa alimentação. Além disso, discutiremos as diferenças entre diabetes tipo 1, diabetes tipo 2 e diabetes gestacional, percorrendo das causas às consequências, desmitificando e realçando conhecimentos populares, como o “se tem formiga no banheiro, é melhor você parar de comer doce”, de que as avós sempre falam. Será que elas têm razão? Vamos esclarecer também o “código de letrinhas”, quando tratarmos do temido exame de colesterol (HDL, LDL, IDL, VLDL), avaliar e ressaltar a importância de cada uma dessas frações e seus valores de referência. Uma vez que conheçamos os atores envolvidos nos diferentes processos, ficará mais fácil compreender os resultados dos exames, assim como olhar com outros olhos quando recebermos uma amostra com plasma lipêmico, ou seja, com aspecto leitoso. O conteúdo deste material merece destaque por sua relevância em nossa prática profissional. Diabetes mellitus e alterações nas dosagens de triglicerídeos e colesterol fazem parte de um quadro de alterações que atinge grande parte da população mundial. AVISO: orientações sobre unidades de medida. Introdução unidade (ex.: 25 km). Logo, os relatórios técnicos e demais materiais escritos por você devem seguir o padrão internacional de separação dos números e das unidades. 1 - Diabetes mellitus e seu diagnóstico Ao �nal deste módulo, você será capaz de descrever os tipos, as �siopatologias e as complicações do diabetes mellitus e seu diagnóstico laboratorial. Carboidratos e seu metabolismo Os carboidratos são considerados as principais fontes alimentares de energia, mas sua função vai além. Exercem papéis estruturais e metabólicos fundamentais, como na transdução de sinal e interação célula- célula. De maneira geral, são compostos de carbono, hidrogênio e oxigênio e classificados em: monossacarídeos, dissacarídeos, oligossacarídeos ou polissacarídeos. Monossacarídeos Uma cadeia de açúcar. Exemplo: glicose, galactose, frutose, ribose. Oligossacarídeos Polímeros com diferentes quantidades de açúcares (2 a 10 monossacarídeos). Exemplo: rafinose, maltotriose e gentianose. Dissacarídeos Duas cadeias de açúcares. Exemplo: maltose, sacarose. Polissacarídeos Cadeias longas de monossacarídeos (mais de 10 monossacarídeos). Exemplo: amido, glicogênio. No campo do metabolismo e geração de energia, a glicose ganha destaque, pois é a principal fonte de energia de vários organismos. Ela está envolvida em diversas vias, seja para degradação e/ou armazenamento de energia e é transportada pela corrente sanguínea. Quando os níveis celulares de energia estão baixos, a glicose é degradada pela via glicolítica; mas, quando não é necessária a produção de energia, a glicose é armazenada como glicogênio no fígado e nos músculos ou pode originar outras substâncias, como aminoácidos e ácidos graxos. A principal fonte de carboidratos é a dieta alimentar, principalmente a partir da ingestão de amido, sacarose, lactose e frutose. Para que os carboidratos sejam absorvidos, é necessária a hidrólise dos dissacarídeos, oligossacarídeos e polissacarídeos em monossacarídeos. Essa quebra é mediada por diferentes enzimas ao longo do sistema digestório. Veja mais sobre a hidrólise dos carboidratos ao longo do sistema digestório a seguir: Passo 1 A digestão do amido começa no processo de mastigação, com a ação da α-amilase salivar (ptialina). Essa enzima cliva as ligações glicosídicas α(1→4), obtendo maltose e oligossacarídeos. Mas a amilase salivar não tem função muito significativa na hidrólise dos polissacarídeos, pois, ao entrar em contato com o ácido estomacal, ela é inativada em razão do baixo pH. Passo 2 Posteriormente, o amido e o glicogênio são hidrolisados pela α-amilase pancreática no duodeno, produzindo maltose (produto principal) e oligossacarídeos (dextrinas). Passo 3 Por fim, ocorre a hidrólise dos carboidratos em seus produtos finais (monossacarídeos) através da ação de diversas enzimas presentes na superfície intestinal. Saiba mais Algumas pessoas, na fase adulta, apresentam carência da enzima lactase, o que acarreta a diminuição da hidrólise de lactose. Com isso, a lactose se acumula no intestino, gerando um influxo de água associado à ação bacteriana — há formação de ácidos com liberação de dióxido de carbono. Tal combinação culmina nos efeitos colaterais da “intolerância à lactose”, como cólicas, diarreia e distensão abdominal. Após a quebra, os monossacarídeos são absorvidos pelas células intestinais a partir de dois tipos diferentes de transporte: Passivo (difusão facilitada) A glicose se movimenta a favor do gradiente de concentração (de maior para menor concentração), via transporte Na+ dependente. Transporta preferencialmente frutose. Ativo A glicose é captada pela célula epitelial do intestino, via bomba de Na+/K+ (com gasto de ATP). Transporta, preferencialmente, glicose e galactose. Após a absorção pelas células intestinais, a glicose cai na corrente sanguínea e, ao aumentar sua concentração plasmática, as células β das ilhotas pancreáticas irão secretar insulina, que atua na captação de glicose nos tecidos adiposo e muscular. Observe o corte histológico do pâncreas, com a ilhota de Langerhans, que aparece na figura como uma estrutura pálida e redonda. A captação de glicose pelo fígado, cérebro e eritrócitos não é insulinodependente. Mas por que isso acontece? A glicose passa pelas membranas por diferentes transportadores glicoproteicos que estão distribuídos de formas diferentes pelas células do organismo. Os transportadores de glicose são uma família de 14 membros que permitem a difusão facilitada de glicose por gradiente de concentração de forma dependente ou não de insulina, dependendo do tipo de receptor presente. Agora, vamos conhecer os principais transportadores. É largamente distribuído por muitos tecidos e é muito numeroso nos capilares cerebrais que formam a barreira hematoencefálica; não depende da ação de insulina. Age em glicemias elevadas, como no período pós-prandial. No fígado, é importante para proporcionar a síntese de glicogênio, moléculas cuja finalidade é estocar glicose para que, no jejum, os níveis plasmáticos de glicose possam ser mantidos. Nas células β-pancreáticas, esse receptor serve como mediador da liberação de insulina. No intestino, facilita a absorção de glicose da luz intestinal para a corrente sanguínea; nos túbulos renais, promove a sua absorção do filtrado glomerular. Atua em baixas concentrações de glicose, como no jejum prolongado, e pode ser encontrado no Sistema Nervoso Central, cujo aporte de glicose é imprescindível. Receptor de GLUT-1 Receptor de GLUT-2 Receptor de GLUT-3 Receptor de GLUT-4 Encontradono músculo e tecido adiposo e é insulinodependente. Esses receptores encontram-se em pool intracelular e só são recrutados para a membrana plasmática no período pós-prandial, quando há liberação de insulina e necessidade de armazenamento de glicose para utilização futura. Lembre- se que a glicose é estocada no músculo e no tecido adiposo. Saiba mais Para saber com mais detalhes sobre esses receptores, não deixe de visitar o Explore+! Dentro da célula, a glicose pode ser utilizada em diferentes processos metabólicos. São eles: Glicólise É o processo de quebra de glicose para obtenção de energia (ATP). Glicogênese É o processo de síntese de glicogênio nos músculos e fígado. Quando os níveis de glicose estão altos, tal processo é modulado pela insulina. Glicogenólise É o processo de quebra do glicogênio para obter energia, que ocorre quando os níveis de glicose estão mais baixos. Tal processo é modulado pelo glucagon. Gliconeogênese É o processo de formação de glicose a partir de substâncias que não são carboidratos, como os aminoácidos, lactato e glicerol, quando há baixas quantidades de glicose no organismo. Insulina e glucagon O metabolismo energético precisa ser muito bem orquestrado para que não haja armazenamento e/ou quebra de glicose em momentos não oportunos e sem necessidade. Para isso, existe um controle mediado principalmente pela ação de dois hormônios — insulina e glucagon — associados à atuação da adrenalina e noradrenalina de maneira coadjuvante. A insulina é um hormônio que favorece o processo anabólico, ou seja, de síntese de glicogênio. Ela tem sua síntese e liberação, pelas células β-pancreáticas, aumentadas quando há níveis elevados de glicose e aminoácidos na corrente sanguínea, assim como o aumento de hormônios gastrointestinais. Comentário A administração de glicose via oral aumenta muito mais a produção e liberação de insulina do que a administração intravenosa, pois, na administração oral, além da resposta direta aos níveis de glicose, há também liberação de hormônios gastrointestinais pelas células do intestino delgado, causando uma produção antecipada de insulina que vai para a corrente sanguínea. Em contrapartida, a síntese e liberação da insulina diminui quando há pouca disponibilidade de glicose, escassez alimentar e/ou períodos de estresse, momentos em que há maior liberação de adrenalina, que impede a liberação da insulina. Como já vimos, o efeito da insulina é tecido dependente, no fígado e nos músculos, sua atuação tem como consequência a síntese de glicogênio; já no tecido adiposo, aumenta a quantidade de receptores que atuam no transporte e na captação de glicose. No fígado, além de ter um aumento da síntese de glicogênio, há uma diminuição/inibição da glicogenólise e gliconeogênese. Ativação dos receptores de glicose induzidos por insulina nos tecidos cardíaco, esquelético e adiposo. O glucagon, por sua vez, é produzido pelas células α-pancreáticas. Associado a outros hormônios, como adrenalina e hormônio do crescimento, desempenha papel muitas vezes antagônico ao da insulina, uma vez que sua função, basicamente, é manter os níveis plasmáticos de glicose através da glicogenólise e da gliconeogênese hepática. Em outras palavras, o glucagon tenta impedir a hipoglicemia (glicose < 40hmg/dL) em períodos prolongados de jejum. Sua síntese aumenta em situações de baixa glicemia sanguínea, aumento nos níveis de aminoácidos plasmáticos e estresse. A seguir, um comparativo da ação desses dois hormônios. A fim de que esses processos aconteçam de maneira correta, existem muitos mecanismos de regulação da glicose, todos controlados pela concentração plasmática da mesma. Para simplificar, a seguir apresentamos um esquema da regulação hormonal da glicose sanguínea. Mas atenção: os sinais – e + na figura indicam a inibição e o estímulo para o aumento da glicemia, respectivamente. Regulação hormonal da glicose sanguínea. Saiba mais Insulina Glucagon As incretinas são hormônios polipeptídicos secretados pelas células enteroendocrinas, principalmente o GIP (polipeptídio insulinotropico glicose-dependente) e o GLP-1 (peptideo-1 semelhante ao glucagon), que estimulam a liberação de insulina pancreática e inibem a ação do glucagon. Tipos de diabetes e sua �siopatologia Estudos mostram que os primeiros casos de diabetes mellitus ocorreram no Egito Antigo (5000 -1085 a.C.), porém só foi descrito por volta dos anos 70 d.C., na Grécia. O médico Areteu observou que existia uma doença silenciosa e intrigante que causava muita fome, sede e poliúria. Apesar de toda oferta alimentar, o paciente se sentia com fraqueza e, em grande parte dos casos, entrava em coma antes de falecer. Esse quadro foi associado ao nome “diabetes”, que significa “sifão” (o líquido ingerido era eliminado rapidamente pelos rins). Veja um pouco mais sobre a diabetes mellitus a seguir: Thomas Willis. Thomas Willis Após um longo período, por volta de 1670, o médico Thomas Willis descobriu que a urina de pacientes que apresentavam esse quadro era muito doce. Você deve estar se perguntando como Thomas Willis conseguiu detectar isso naquela época! Sim, o médico provou a urina desses pacientes. Michel Chevreul. Michel Chevreul Somente por volta de 1815, Michel Chevreul identificou que o açúcar encontrado na urina era a glicose. Nessa época, o protocolo ainda era provar a urina dos indivíduos com suspeita de diabetes. A doença passou a ser chamada de diabetes mellitus, porque “mellitus” significa “adocicado”. Alguns anos depois, médicos e cientistas dedicados à pesquisa identificaram que o pâncreas era responsável por produzir “alguma substância” que controlava o açúcar no sangue, e que os pacientes com diabetes tinham alguma deficiência nessa produção. Atualmente, sabemos que o diabetes mellitus não é uma doença, mas um grupo heterogêneo de diferentes síndromes metabólicas multifatoriais que tem como característica em comum os níveis aumentados de glicemia em jejum em razão de defeitos de produção, secreção e/ou ação da insulina. O metabolismo diabético é semelhante ao metabolismo de uma pessoa em jejum prolongado, pois, embora ela possua muita glicose, esta não é processada pela ausência ou deficiência da insulina. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a expansão do diabetes mellitus pelo mundo pode ser considerada uma epidemia. A doença tornou-se um desafio mundial, pois com o envelhecimento cada vez maior da população e a adoção de estilos de vida menos saudáveis (crescente obesidade e sedentarismo) há uma maior propensão a desenvolver diabetes. Estimativa para casos de diabetes mellitus em 2030, baseada em cálculos de 2011. Saiba mais Por ser uma patologia que atinge o mundo todo e gera prejuízos para a qualidade de vida das pessoas, criou-se o “Dia Mundial do Diabetes”, com o intuito de prevenção, diagnóstico precoce e disseminação dos cuidados necessários após o diagnóstico. O diabetes mellitus (DM) é classificado de acordo com sua etiologia, em: diabetes tipo 1; diabetes tipo 2; diabetes gestacional; outras diabetes. Comentário Por muito tempo, não foi assim. Era dividido apenas em tipo 1 ou tipo 2, de acordo com a idade do paciente, em que o tipo 1 era o diabetes juvenil e o tipo 2, o diabetes tardio. Com o avanço dos estudos, já sabemos que são necessárias diversas avaliações conjuntas para que seja dado o diagnóstico correto. No quadro a seguir, apresentamos a classificação etiológica do diabetes mellitus. Tipo Classificação etiológica do diabetes mellitus Diabetes tipo 1 Destruição das células β-pancreáticas gerando a deficiência absoluta de insulina, comprovada por exames laboratoriais Mediado pelo sistema imunológico; idiopático Diabetes tipo 2 Pode variar de resistência à insulina predominante e defeito secretório com resistência à insulina Associado à obesidade e ao distúrbio do metabolismo de lipídeos Tipo Classificação etiológica do diabetes mellitus Outros tipos específicosDefeitos genéticos da fração de células β Cromossomo 12 (fator nuclear hepático (HNF-1A) (MODY 3); Cromossomo 7 (MODY 2) Cromossomo 20 HNF-1ª (MODY 1); Cromossomo 13, fator promotor de insulina -1 (IFF-1 MODY4) Cromossomo 17, HNF-1B (MODY 5); Cromossomo 2, NeuroDI (MODY6); DNA mitocondrial Defeitos genéticos na ação da insulina Resistência à insulina do tipo A, leprechaunismo, síndrome Rabson- Mendenhall, diabetes lipotrófico Doença do pâncreas exócrino Pancreatite, trauma pancreatectomia, neoplasia, fibrose cística, hemocromatose, pancreatopatia fibrocalcificada Endocrinopatias Acromegalia, síndrome de Cushing, glucagonoma, feocromocitoma, hipertireoidismo, somatostatinoma, aldosteronoma Tipo Classificação etiológica do diabetes mellitus Induzida por fármacos ou químicos Vacor, pentamidina, ácido nicotínico, glicocorticóides, hormônios tireoidianos, diazoxida, agonistas β- adrenérgicos, tiazidas, dilantina, α-interferon Infecções Rubéola, citomegalovírus e outras Formas incomuns de diabetes mediadas pelo sistema imunológico Síndrome da pessoa rígida, anticorpos contra os receptores de insulina etc. Outras síndromes genéticas associadas às vezes ao diabetes Síndrome de Down, síndrome de Turner, síndrome de Klinefelter, síndrome de Wolfram, ataxia de Friederich, distrofia miotônica etc. Diabetes mellitus gestacional Pessoas com tolerância normal à glicose, mas com risco substancialmente elevado de desenvolver diabetes. Hiperglicemia de graus variados diagnosticada durante a gestação, na ausência de critérios de DM prévio Alteração prévia de tolerância à glicose Alteração potencial de tolerância à glicose Quadro: Classificação etiológica do diabetes mellitus. Adaptado de: MARSHALL, 2016, p. 459. O diabetes tipo 1 está relacionado a um mau funcionamento das células β do pâncreas, em que a produção de insulina se encontra prejudicada ou ausente. Sem a produção e/ou liberação de insulina, a glicose não é captada pelas células. Como consequência, há hiperglicemia. Normalmente, este diagnóstico é realizado antes dos 35 anos, e o paciente fica dependente do uso de insulina exógena. Indivíduo diabético autoaplicando insulina. Já o diabetes tipo 2 está relacionado a alguma alteração nos receptores celulares de insulina, seja por questões quantitativas ou qualitativas. Como consequência, não há captação de glicose pelas células e o paciente apresenta hiperglicemia, porém a dosagem de insulina pode estar com níveis normais ou até mesmo aumentados, não necessitando de intervenção insulínica. Assim, levando essas características em consideração, podemos classificar os diabetes de acordo com a dependência terapêutica de insulina: diabetes insulinodependentes ou diabetes não insulinodependentes. Diabetes tipo 1 Diabetes tipo 2 Idade de início Geralmente durante a infância ou a puberdade Frequentemente após os 35 anos, sintomas desenvolvem-se gradualmente Estado nutricional do momento do início da doença Frequentemente desnutridos Obesidade geralmente presente Predisposição genética Moderada Muito forte Prevalência 10% dos diabéticos diagnosticados 90% dos diabéticos diagnosticados Defeito ou deficiência Células β são destruídas eliminando a produção de insulina Resistência à insulina combinada com incapacidade das células de produzirem quantidades adequadas de insulina Diabetes tipo 1 Diabetes tipo 2 Frequência de cetose Comum Rara Insulina plasmática De baixa a ausente Alta no início da doença, baixa na doença crônica Complicações agudas Cetoacidose Estado hiperosmolar Tratamento com fármacos hipoglicemiantes orais Não é responsivo Responsivo Tratamento Insulina é sempre necessária Dieta, exercícios, fármacos hipoglicemiantes orais, insulina pode ou não ser necessária. Redução de fatores de risco (pausa no tabagismo, controle da pressão sanguínea, tratamento de dislipidemias) é essencial para a terapia Quadro: Comparação do diabetes tipo 1 x tipo 2 Adaptado de: HARVEY; CHAMP; Ferrier, 2012, cap. 25, p. 337. O diabetes gestacional recebe esse nome porque é diagnosticado durante a gravidez. Pode persistir ou não após o parto. O quadro de diabetes se dá em razão de intolerância aos carboidratos de maneira geral e normalmente ocorre no terceiro trimestre da gestação. Entre as mulheres diagnosticadas com diabetes gestacional, somente cerca de 3% possuem diabetes gestacional realmente. Grávida medindo a glicemia. Saiba mais A hiperglicemia materna leva o feto a produzir mais insulina, resultando em maior estímulo ao crescimento. Isso leva a um quadro de macrossomia, ou seja, o recém-nascido apresenta peso igual ou superior a 4kg. Para a mãe, pode levar à hipertensão crônica. Normalmente, após o parto, a mãe retorna à glicemia normal, mas depois de alguns anos ela pode desenvolver o diabetes mellitus. Como fatores de risco para o diabete gestacional, temos: histórico familiar, obesidade, idade avançada da gestante e macrossomia em gestações anteriores. Já o grupo das outras diabetes tem causas bem diversas: defeitos genéticos da ação da insulina, doenças no pâncreas, endocrinopatias induzidas por drogas, infecções e síndromes genéticas, conforme foi mencionado Na tabela “Classificação etiológica do diabetes mellitus”. Agora que já sabemos um pouco sobre os diferentes tipos de diabetes mellitus, precisamos discutir a fisiopatologia dessa doença. Vamos lá? Fisiopatologia do diabetes mellitus Como vimos anteriormente, a glicose não consegue entrar nas células de pessoas que possuem alteração na produção e/ou liberação da insulina ou dos receptores celulares. Consequentemente, seus níveis plasmáticos aumentam devido ao acúmulo de glicose, gerando a hiperglicemia (> 100mg/dL). Concomitante à hiperglicemia, o quantitativo de glicose extrapola o limiar renal (aproximadamente 160mg/dL) e acontece a glicosúria (excreção de glicose pela urina). Além disso, em razão da diferença osmótica, há uma maior perda de água, gerando poliúria (eliminação de grande volume de urina num dado período) que, por sua vez, pode levar a quadros de desidratação — por isso o indivíduo entra em polidipsia (consumo exacerbado de água). Esse cenário pode ser um sinal de alerta como os primeiros sintomas de um quadro de diabetes. Em relação às questões metabólicas, como a glicose não consegue entrar nas células, os níveis intracelulares ficam baixos, acarretando uma sinalização para o fígado da necessidade de gerar glicose, induzindo à realização de neoglicogênese. Além disso, pode haver também sinalização para que o tecido adiposo produza energia a partir dos ácidos graxos. Ou seja, o organismo não entende que o baixo nível de glicose intracelular não está proporcional à oferta de glicose plasmática e, com isso, aciona seus recursos para produzir glicose com o intuito de que o metabolismo intracelular não cesse. A consequência é cada vez mais glicose na corrente sanguínea. Com esse acionamento das reservas do fígado e do tecido adiposo, o paciente pode começar a emagrecer e sentir fraqueza, aumentando a busca por alimentos devido à polifagia (fome intensa), o que vai aumentar ainda mais os níveis de glicemia. Após o período de emagrecimento, com a cronicidade da doença, pode haver um efeito rebote e o paciente iniciar um processo de engorda — por causa da polifagia e do aumento da síntese de ácidos graxos. Vale destacar que existem casos em que o quadro de obesidade é prévio ao aparecimento do diabetes, considerado até um fator de risco para o desenvolvimento do diabetes mellitus tipo 2. Veja seguir um resumo com possíveis sintomas iniciais de diabetes mellitus. Perda de peso repentina Fadiga excessiva Poliúria Polidipsia Fomigamento/dormência dos dedos Polifagia Atenção O recrutamento e a queima de gorduras para produzir energia geram subprodutos (corpos cetônicos) que são liberados pela respiração e urina. Por isso, quando um indivíduo diabético fica muito temposem comer, ele pode apresentar um hálito mais adocicado (cetônico), que lembra maçã verde. Este hálito é muito característico e pode ser utilizado para orientar os médicos em um primeiro diagnóstico. Critérios para diagnóstico laboratorial do diabetes mellitus O diagnóstico de diabetes se baseia na glicemia, porém vários parâmetros devem ser avaliados para que o diagnóstico seja fechado com segurança. Em diversos casos, os pacientes são assintomáticos e a dosagem da glicemia funciona como um alerta. Em outros casos, possibilita intervenção terapêutica precoce e/ou mudança no estilo de vida, o que pode reverter o quadro pré-diabético. Entre os parâmetros avaliados, temos diversos ensaios laboratoriais que são amplamente utilizados não só para auxiliar o diagnóstico, como também para monitorar a doença. Os testes laboratoriais de rotina para diabetes são: glicemia em jejum; curva glicêmica ou teste oral de tolerância à glicose (TOTG); hemoglobina glicada; frutosamina. Dosagem da glicemia em jejum Para a realização de dosagem de glicemia em jejum, um fator muito importante é o tempo de jejum do paciente, pois ele pode influenciar diretamente nos resultados obtidos. O tempo de jejum requerido varia de laboratório para laboratório, mas o mínimo exigido são 8 horas e o máximo, 16 horas. Além disso, após a coleta de sangue, a amostra precisa ser tratada de maneira adequada. Recomenda-se a separação do soro ou plasma em 1 hora. Esse cuidado é necessário por causa do consumo de glicose via glicólise. Estima-se que aproximadamente 5% da glicose possa ser consumida a cada hora (a depender das condições da amostra, como leucometria e temperatura de armazenamento). Dica É possível inibir a glicólise e estabilizar a glicose em amostras sanguíneas adicionando fluoreto de sódio. Existem tubos especiais para esta coleta: têm tampa cinza. Nesse caso, as amostras ficam estáveis durante três dias em temperatura ambiente. Isso ocorre porque o fluoreto liga-se ao magnésio formando complexos inorgânicos e impedindo que a enolase, uma enzima da via glicolítica, ligue-se ao substrato. Essa enzima é responsável pela conversão do 2-fosfoglicerato em fosfoenolpiruvato, uma das últimas etapas da via glicolítica. A glicose pode ser estimada a partir de testes colorimétricos, como por exemplo método da glicose oxidase (GOD). Nesse teste, a glicose é oxidada pela ação da enzima GOD gerando ácido glicônico e água oxigenada que, através da enzima peroxidase (POD), é convertida em um produto com coloração vermelha. Esse produto deverá ser lido em espectrofotômetro a 510nm. Essa técnica não pode ser utilizada para outros líquidos que não seja o soro e o plasma. Reação de glicose- Trinder para dosagem de glicose. Diferente dessa metodologia, o método de hexoquinase-UV apresenta menos interferentes, podendo ser utilizado em todos os líquidos biológicos. É facilmente adaptado à automação. Entretanto, o reagente é menos estável e precisa de um equipamento UV para a leitura, que deve ser feita em 340nm. Reação de hexoquinase para dosagem de glicose. Para a glicemia em jejum, os valores de referência são: Crianças 60 a 100mg/dL Adultos 74 a 100mg/dL É importante ressaltar que a Organização Mundial da Saúde (OMS) emprega o valor de referência máximo de 110mg/dL para a normalidade, mas a Sociedade Brasileira de Diabetes adota 100mg/dL, de acordo com as Diretrizes de Diabetes 2019-2020. Hipoglicemia Se o resultado encontrado for abaixo do valor mínimo de referência. Hiperglicemia Caso o valor seja acima do valor máximo do intervalo de referência. Atenção Vale ressaltar que uma dosagem entre ≥ 100 e < 126mg/dL significa glicose alterada, e mais duas aferições devem ser realizadas em momentos e dias diferentes, pois o resultado pode estar relacionado a picos de estresse, infecções etc. No entanto, dois testes com glicemia em jejum superior a 126mg/dL verificadas em dias diferentes confirma o diagnóstico de diabetes. Além disso, deve-se realizar testes complementares, independentemente do resultado da glicemia. Teste oral de tolerância à glicose (TOTG) O teste oral de tolerância à glicose ou curva glicêmica se baseia na administração de uma solução com concentração conhecida de glicose e posterior monitoramento da glicemia em intervalos padronizados. Esse teste é preconizado para pacientes que apresentarem a glicemia com valores limítrofes (100- 126mg/dL) e para os que apresentarem algumas complicações do diabetes (nefropatia, retinopatia ou neuropatia). Para a realização desse ensaio, a pessoa deve consumir pelo menos 150g de carboidratos nos três dias prévios. No momento do exame, a glicemia em jejum deve ser dosada, pois servirá como base do estado em jejum do paciente. Então o paciente recebe a solução com 75g de glicose dissolvidas em 300mL de água. Características Comentários O teste deve ser realizado em jejum Jejum preconizado de 8 a 10 horas O teste deve ser realizado pela manhã O diagnóstico do diabetes pode ser perdido em ensaios realizados à tarde Dieta prévia ao teste com, no mínimo, 150 gramas de carboidratos Evitar falso negativo Características Comentários Dose de glicose oral 75g em solução aquosa (25%) adultos. Tomar a dose em até 2 horas. 1,75g de glicose por kg de peso até no máximo 75 gramas (crianças) Suspensão do teste no caso de vômitos e diarreia Fatores que afetam o trânsito intestinal e absorção da glicose Verificação de possíveis interferentes Exercícios extenuantes antes do exame Alterações hormonais (TSH, cortisol, GH e catecolaminas) Medicamentos (anticoncepcionais orais, aspirina, ácido nicotínico, diuréticos, hipoglicemiantes) Quadro: Características e fatores que afetam o TOTG. Adaptado de: Barcelos; Aquino, 2018, cap. 5, p. 63. Após a administração da glicose, serão realizadas mais três coletas de sangue em períodos pré- determinados, normalmente 30 minutos, 60 minutos e 120 minutos. O teste deve ser iniciado preferencialmente entre 7 e 9 horas da manhã. Durante o intervalo das coletas, o paciente deve ficar sentado confortavelmente, não pode fumar e nem consumir café. Curva glicêmica comparativa de indivíduo saudável e indivíduo diabético. A interpretação do TOTG pode seguir diferentes critérios, como, por exemplo, o critério do NDDG (National Diabetes Data Group), que preconiza uma avaliação gráfica da glicemia na qual um resultado >200mg/dL após o intervalo de duas horas da ingestão da glicose é um indicativo de diabetes. Mas por que esse tempo? O intervalo de duas horas é considerado o mais significativo para determinar se o indivíduo é ou não diabético. Na tabela a seguir, vemos um resumo disso. Critérios Normal Tolerância à glicose diminuída Diabetes mellitus Jejum Até 100 mg/dL 100-126 mg/dL > 126 mg/dL Duas horas após a ingestão de glicose Valor menor de 140 mg/dL Valores entre 140 a 200 mg/dL Valor acima de 200 mg/dL Tabela: Interpretação dos valores do TOTG. Adaptada de: Barcelos; Aquino, 2018, cap. 5, p. 64. Para gestantes, o corte da glicemia em jejum durante a gestação difere do considerado normal para não gestantes (< 92mg/dL em qualquer fase da gestação). Os valores entre 92 e 126mg/dL são diagnósticos de DMG em qualquer fase da gestação. Na primeira consulta do pré-natal, deve ser realizada a verificação prévia de diabetes mellitus. O diagnóstico de DM será feito se um dos testes a seguir apresentar-se alterado: Glicemia em jejum ≥ 126mg/dL; Glicemia 2 horas após sobrecarga com 75g de glicose ≥ 200mg/dL; HbA1c ≥ 6,5% (que estudaremos no próximo tópico); Glicemia aleatória ≥ 200mg/dL na presença de sintomas. Além disso, é recomendado também um rastreamento entre a 24ª e a 28ª semana de gravidez, com jejum de 8 horas com coleta de amostra em jejum e após 1 e 2 horas de sobrecarga de 75g. O diagnóstico de diabetes é considerado quando, no mínimo, um dos valores a seguir encontram-se alterados. Glicemia em jejum ≥ 92mg/dL; Glicemia 1 hora após sobrecarga≥ 180mg/dL; Glicemia 2 horas após sobrecarga ≥ 153mg/dL. Dosagem de hemoglobina glicada Essa dosagem indica a exposição contínua dos eritrócitos (hemácias) a concentrações elevadas de glicose nas últimas 8 a 12 semanas, aproximadamente. Assim, essa dosagem é importante para monitorar a longo prazo os indivíduos com diabetes e traz como principal vantagem a não flutuação observada nos ensaios de dosagens de concentrações de glicose. Vale lembrar que o eritrócito possui diferentes subtipos de hemoglobinas (HbA, HbA2, HbF) que, por sua vez, podem apresentar subfrações (HbA1a, HbA1b e HbA1c) que são as hemoglobinas glicadas formadas devido a interação das hemoglobinas com a glicose, que levam a adição não enzimática de um resíduo de açúcar no processo conhecido como glicação. A principal subfração avaliada nesse teste é a HbA1c, e os valores encontrados refletem o grau de exposição das células à glicose. Na figura a seguir, observe a formação da hemoglobina glicada A1c. Note que o grupo aldeído da glicose reage não enzimaticamente com o grupo amino livre da hemoglobina, formando uma base de Schiff que sofre rearranjo e gera uma cetoamina ou produto de Amadori estável, a hemoglobina glicada. Formação da hemoglobina glicada. Pacientes com valores normais de glicose apresentam valores de HbA1c menores que 5,7%. Quando o valor encontrado está entre ≥5,7 a < 6,5%, o indicativo é de um quadro pré-diabético; quando é ≥6,5%, há um forte indicativo de diabetes. Esse teste também pode ser usado no controle da doença, assim como no ajuste medicamentoso e terapêutico. Ele é de suma importância para evitar e se precaver de complicações crônicas da doença. Com base na dosagem de hemoglobina glicada, pode-se calcular a glicemia média estimada a partir da fórmula: glicemia média estimada (mg/dL) = 28,7 x HbA1c (%) – 46,7. Dica Normalmente, nos laboratórios, a hemoglobina glicada é expressa em porcentagem, mas o Sistema Internacional (SI) preconiza que ela seja expressa em mmol/mol, ou seja, correspondendo à quantidade de HbA1c em mmol em relação à quantidade total de Hb em mol. A conversão pode ser realizada pela equação [(HbA1c (%) -2,15) × 10,929]. Na tabela a seguir, vemos uma comparação dessas medidas. HbA1c (%) HbA1c (mmol/mol) Glicemia média estimada (mg/dL) HbA1c (%) HbA1c (mmol/mol) Glicemia média estimada (mg/dL) 5 31 97 6 42 126 6,5 47 140 7 53 154 8 64 183 9 75 212 10 86 240 11 97 269 12 108 298 Tabela: Correlação entre a HbA1c em (%) e HbA1c (mmol/mol) e glicemia média estimada Elaborada por: Fabiana Vieira de Mello. A dosagem de hemoglobina glicada vai depender da meia vida das hemácias. Pacientes com anemia hemolítica ou hemorragia podem apresentar resultados baixos. No entanto, pacientes com presença de hemoglobina carbamilada (ligação com ureia) em pacientes com insuficiência renal, deficiência de ferro, presença de hemoglobina acetilada (ligação com ácido acetilsalicílico em pacientes que recebem altas doses) e pacientes com aumento da quantidade de eritrócitos ou do hematócrito promovem aumento dos valores de HbA1c. Veja as vantagens e as desvantagens dos métodos de diagnóstico de diabetes mellitus vistos até aqui. Método Vantagens Desvantagens Método Vantagens Desvantagens Glicemia de jejum Padrão estabelecido Método rápido simples Baixo custo Reprodutível Amostra não é estável (glicólise) Variabilidade biológica elevada Necessário jejum Medida da homeostasia da glicose em um único período de tempo TOTG Padrão estabelecido Boa sensibilidade Amostra não é estável (glicólise) Variabilidade biológica elevada Baixa reprodutibilidade A glicose tem um sabor impalatável Custo maior HbA1c Conveniente (não precisa jejum) Necessária apenas uma amostra Reflete a glicemia de longo período (glicemia média) Custo elevado do teste Dosagem afetada por hemoglobinopatias e outras alterações hematológicas Necessidade de padronizar o ensaio Quadro: Vantagens e as desvantagens dos métodos de diagnóstico de diabetes mellitus. Adaptado de: Barcelos; Aquino, 2018, cap. 5, p. 65. Frutosamina A dosagem de frutosamina é uma opção quando, por algum motivo, o paciente esteja impossibilitado de realizar a dosagem de hemoglobina glicada. Essa dosagem reflete na exposição das proteínas plasmáticas à glicose, na qual a albumina representa cerca de 50% de todas as proteínas plasmáticas. Diferente da hemoglobina, que apresenta meia vida de ±120 dias, o tempo de meia vida das proteínas plasmáticas é menor, a albumina tem meia vida de aproximadamente 20 dias. Assim, a dosagem de frutosamina, reflete a concentração de glicose nas últimas três semanas. Atenção Segundo as Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes, a frutosamina não é validada para o diagnóstico de DM e, portanto, não deve ser utilizada. Além das dosagens preconizadas para o diagnóstico e monitoramento do diabetes mellitus, existem outras dosagens também importantes, são elas: dosagem de insulina e precursores; dosagem de proteínas na urina; dosagem de autoanticorpos. Veja mais sobre cada uma delas a seguir: Dosagem de insulina e precursores A insulina é sintetizada em prepróinsulina no retículo endoplasmático rugoso das células β-pancreáticas e rapidamente é convertida em pró-insulina e armazenada nos grânulos secretórios do complexo de Golgi, onde ocorre clivagem em insulina e peptídeo C. O peptídeo C e a insulina são secretados para a circulação porta nas mesmas concentrações, mas o peptídeo C não é captado pelo fígado (fica com maior concentração plasmática do que a insulina). A pró-insulina tem pouca atividade biológica e encontra-se em pequenas quantidades na circulação. Representação da Pró-insulina. A quantificação de insulina pode ser realizada para identificar problemas pancreáticos na produção e/ou liberação de insulina. É mais indicada para suspeitas ou casos de diabetes mellitus tipo 1 e para avaliar se pacientes com diabetes mellitus tipo 2 precisam realizar a reposição exógena de insulina. Além disso, a quantificação de insulina possibilita a avaliação da hipoglicemia em jejum. Normalmente, a hipoglicemia está associada a uma doença e pode ameaçar a vida. Entretanto, a dosagem de peptídeo C apresenta algumas vantagens em relação à insulina: 1 O peptídeo C não sofre metabolismo hepático. 2 O ensaio não mede administração exógena de insulina. 3 Não existe relação cruzada entre o peptídeo C e a pró-insulina. 4 O ensaio adotado para a medida da insulina usa anticorpos anti-insulina. Se o plasma apresentar esses anticorpos, interfere na dosagem de insulina, mas não na de peptídeo C. 5 Essa dosagem pode ser realizada em soro sanguíneo ou urina pelos testes de ELISA (teste imunoenzimático). Identi�cação de autoanticorpos A pesquisa de autoanticorpos é muito importante em casos de diagnóstico de diabetes tipo 1, já que sabidamente essa doença pode ocorrer devido a presença de anticorpos anti-ilhota pancreática, anti- insulina e anti-GAD (glutamic acid decarboxilase). Para a detecção desses anticorpos, diferentes técnicas podem ser empregadas, como ELISA, imunoprecipitação, fluorescência indireta etc. Para avaliação diagnóstica recente, a melhor escolha é a detecção de anticorpos anti-GAD, pois tem sido relatada sua identificação até oito anos antes da instalação da doença. Ela é de suma importância para o estudo familiar de indivíduos com parentes em primeiro grau diagnosticados para diabetes tipo 1. Dosagem de proteínas na urina Este é um exame importante a ser realizado em pacientes com diabetes. A dosagem de proteínas na urina, diferentemente dos exames já citados, não visa o diagnóstico de diabetes, mas sim avaliar uma possível nefropatia que pode ser consequência do quadro de diabetes. Em condições normais, as proteínas de baixo peso molecular e uma parte da albumina presente no sangue são filtradas pelos glomérulos renais e reabsorvidas. Porém, uma pequena concentração pode ser excretada em pequenas quantidades diárias.Nesse teste, a proteína de interesse a ser dosada é a albumina. O valor de referência para a sua excreção é de até 20mg/dia. Caso seja detectada excreção entre 30 a 300mg/dia, tem-se um quadro de microalbuminúria. Essa alteração em pacientes com diabetes mellitus pode ser um marcador de nefropatia incipiente. Já os valores superiores a 300mg/dia são chamados de proteinúria ou macroalbuminúria, podendo indicar anormalidades glomerulares, por exemplo. Acredita-se que a perda de albumina esteja relacionada ao aumento da pressão intraglomerular, levando a uma hiperfiltração. Saiba mais A dosagem de proteínas pode ser realizada durante o EAS para o rastreio de proteínas na urina. Caso seja positivo, pode ser solicitada a dosagem de albumina a partir de uma amostra de urina ou pela urina de 24 horas. É comum encontrar formigas no banheiro de pessoas diabéticas que estão com as taxas de açúcar descontroladas em razão da presença de grandes quantidades de açúcar na urina. Complicações do diabetes As complicações clínicas encontradas em pacientes com diabetes mellitus podem ser as mais variadas. São classificadas em agudas (hipoglicemia, cetoacidose metabólica (CAD) e estado hiperglicêmico hiperosmolar) ou crônicas (macrovascular – lesões nos membros inferiores, doenças cerebrovasculares, hipertensão – ou microvascular — retinopatia, nefropatia e neuropatia). Complicações do diabetes. Entre as complicações agudas do diabetes, a hipoglicemia é a mais recorrente e pode trazer consequências permanentes. A hipoglicemia é um quadro que se estabelece de forma rápida, sendo responsável por 2 a 4% das mortes, sem contar a perda da qualidade de vida do indivíduo. Em termos fisiológicos, a primeira tentativa de resposta à hipoglicemia é a diminuição de insulina (não se aplica a pacientes com diabetes mellitus tipo 1). Logo após, há um estímulo para aumentar a secreção de glucagon, com o intuito de estimular a glicólise no fígado, assim como a gliconeogênese. Por fim, como última tentativa do organismo à hipoglicemia, temos a ativação do sistema simpático-adrenomedular, com o intuito de aumentar a lipólise e o estímulo da produção de glucagon. Um dos primeiros sinais de alerta de quadros de hipoglicemia é confusão mental e/ou déficit neurológico. Nesses casos, deve-se realizar a dosagem de glicose imediatamente. Dica Os pacientes diabéticos são aconselhados a carregar pequenas porções de glicose ou carboidratos de rápida absorção, para que possa se recuperar do quadro de hipoglicemia antes que acabe perdendo a consciência. Outra complicação aguda, que tem caráter “emergencial”, é a cetoacidose diabética, considerada uma complicação grave nos casos de diabetes tipo 1 (acomete cerca de 30% dos pacientes). Tem por característica hiperglicemia associada à acidose e à cetonemia. Apesar de ser uma complicação aguda e emergencial, é mais recorrente em pacientes com diagnóstico mais antigo. Apresenta como características desidratação, episódios de vômito, dores abdominais e acidose com compensação respiratória, podendo culminar em perda parcial da consciência. A acidose é resultante de um ciclo de hiperglicemia com lipólise excessiva, causando desidratação. A acidose aumenta a secreção de hormônios contrarreguladores. Esse conjunto gera uma resistência insulínica, aumentando a hiperglicemia e a lipólise. Para interromper esse ciclo vicioso, é necessária infusão venosa contínua de insulina, hidratação e remoção fisiológica da cetona via oxidação e excreção renal. Atenção Uma das consequências da cetoacidose diabética em crianças e jovens é o edema cerebral. Ocorre em aproximadamente 1% dos casos de cetoacidose nessa faixa etária, com um índice de mortalidade de até 90%. Em pacientes com diabetes tipo 2, encontramos quadros parecidos com a cetoacidose diabética, porém são quadros de estado hiperglicêmico hiperosmolar que apresenta desidratação, hiperglicemia e hiperosmolaridade sanguínea, sem cetoacidose, podendo levar o paciente à sonolência e coma. Caso a reposição volêmica não seja realizada adequadamente, esse estado pode levar a lesões renais graves. A queda brusca de glicose ou da osmolaridade pode resultar em edemas cerebrais. Na tabela a seguir, vemos um resumo de como realizar o diagnóstico da cetoacidose diabética e do estado hiperglicêmico hiperosmolar. Tabela: Diagnóstico/classificação da cetoacidose diabética e do estado hiperglicêmico hiperosmolar. Adaptada de: Zoppi, 2018, p. 6. Outros tipos de possíveis complicações clínicas são as consequências metabólicas. Em geral, pacientes de diabetes mellitus tipo 2 apresentam alterações como resistência à insulina, dislipidemia, obesidade e hipertensão. Com esse combo, os pacientes possuem maior predisposição a quadros de aterosclerose. Cetoacidose metabólica Leve Moderada Grave Glicemia > 250 > 250 > 250 pH 7,25-7,3 7,0-7,24 < 7,0 HCO₃- 15-18 10-14,99 < 10 Corpos cetônicos urinários + ++ +++ Osmolaridade Variável Variável Variável Anion gap >10 >12 >12 Sensório Alerta Obnubilado Torporoso A hipertensão está presente em aproximadamente 50% dos pacientes com diabetes mellitus tipo 2, assim como a estenose da artéria renal. Além das modificações arteriais, nota-se um aumento na retenção de sódio, cerca de 10% a mais, que pode ser um indicativo de hiperatividade dos transportadores tubulares de sódio em resposta a altos níveis de insulina, assim como filtração glomerular alta de glicose, podendo culminar num futuro prejuízo renal. A pressão arterial deve ser controlada — e é de suma importância que seja—, para reduzir a incidência de nefropatia por hipertensão. Avaliação da pressão arterial. A dislipidemia, muito característica em pacientes diabéticos, pode ocorrer em razão das diversas alterações no metabolismo dos lipídeos. Entre elas, a liberação descontrolada de ácidos graxos livres, que acabam captados pelo fígado para serem oxidados. Quando o quantitativo excede a capacidade do fígado, eles são esterificados, formando triglicerídeos com consequente aumento da formação de VLDL (lipoproteína de densidade muito baixa). Além disso, a eliminação de VLDL-triglicéride é dependente de insulina, logo, além das alterações que propiciam sua formação, tem-se uma dificuldade na eliminação de VLDL, acumulando tais substâncias. Paralelamente, os pacientes diabéticos possuem baixos níveis de HDL (lipoproteínas de alta densidade), que poderiam agir como agentes antioxidantes (diminuindo os riscos de aterosclerose). Diante de tal panorama, temos um aumento do risco cardiovascular nesses pacientes. Muitas das complicações do diabetes mellitus giram em torno de danos teciduais, sejam por complicações microvasculares ou macrovasculares. Fato é que, devido a tais complicações, a expectativa de vida nesses indivíduos é menor, e as consequências macrovasculares são as mais determinantes para isso. Poucos órgãos e/ou tecidos conseguem permanecer ilesos ao dano tecidual consequente do diabetes, alguns sofrendo diretamente pela hiperglicemia, como as células β, as células endoteliais vasculares e outras apenas com as consequências em cadeia. Ainda não se sabe ao certo quais seriam os mecanismos desses danos teciduais relacionados aos quadros de hiperglicemia, mas acredita-se que se deva ao acúmulo de produtos “tóxicos”, ativação de citocinas inflamatórias e/ou acúmulos de espécies reativas de oxigênio. Comentário Além desses fatores, vale destacar que o dano tecidual também pode ser consequência do aumento da suscetibilidade à infecção, em razão da disfunção fagocitária, quimiotaxia e aderência anormais. Mas que produtos tóxicos seriam esses? Como já vimos, a glicação não enzimática de proteínas de longa duração leva à formação dos produtos de amadori que, com o passar do tempo, sofrem rearranjos, desidratação e reação de fragmentação que dão origem aos AGEs (produtos finais resultantes da glicação prolongada), que apresentam potencial patogênico, como ativação das células do sistemaimunológico e aceleração do processo de aterosclerose, pois estimulam a deposição do LDL e colesterol na parede dos vasos. Paralelamente aos danos teciduais diretos, acredita-se na existência de uma associação da calcificação vascular, envolvendo artérias de pequeno e médio porte no aporte sanguíneo, com consequente aumento da possibilidade de infarto do miocárdio. Outro dano tecidual específico é a neuropatia que, dentre várias possibilidades de causa e consequência, está a hiperglicemia resultando em lesões dos nervos periféricos, principalmente os nervos mais longos, podendo levar à perda sensorial nos membros concomitante à perda de força, sensações de toque leve, de dor e diminuição dos reflexos. Existem relatos de pacientes com sensações de formigamento, queimação e hiperalgesia. Além disso, manifestações neuropáticas autonômicas, como hipotensão ortostática/postural, sudorese, disfunção da bexiga, prisão de ventre, taquicardia de repouso, disfunção erétil etc. Produtos de amadori São produtos resultantes da glicação de hemoglobina e frutosamina. São moléculas que apresentam grupos carbonilas reativos, que se condensam com grupos aminas primárias acessíveis, dando origem os produtos avançados da reação de Maillard – AGEs. Pé diabético com ulceração. Uma consequência da neuropatia clássica do diabetes (assim como das doenças vasculares periféricas) são as lesões e ulcerações nos pés, podendo culminar em deformações, chamadas de “pé de charcot”. Tais lesões, além de poderem influenciar diretamente a qualidade de vida, podem ser uma porta para infecções (e, de maneira mais grave, a sepse). Em razão da vascularização pobre, a cicatrização é bem arrastada. Por fim, vale destacar mais uma complicação clínica do mau controle glicêmico associada à hipertensão e à nefropatia diabética: a retinopatia. Tal complicação clínica é crônica, normalmente se apresenta após 20 anos de diabetes e torna o paciente vulnerável à catarata, ao glaucoma, podendo chegar à perda da visão. Acantose nigricans. A acantose nigricans é uma mancha escura que aparece em locais de dobrinhas, como axilas, pescoço, barriga. Normalmente, está relacionada com alterações hormonais, podendo ser um indicativo de resistência insulínica e, consequentemente, um quadro de pré-diabetes tipo 2. Cetoacidose x estado hiperosmolar No vídeo a seguir, veja um caso clínico que retrata a diferença entre os tipos de complicações do diabetes. Vamos assistir! Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Vimos que a dosagem da hemoglobina glicada é um teste muito importante para a avaliação do controle glicêmico. Sobre essa dosagem, analise as afirmativas a seguir: I. Deve ser coletado em pacientes com jejum obrigatório de pelo menos 8 horas. II. Quando o valor encontrado está entre ≥5,7 a < 6,5%, o indicativo é de um quadro pré-diabético. III. Indica a exposição dos eritrócitos à glicose nas últimas 8 a 12 semanas. É correto o que se afirma em: A I B II C III D I e II E II e III Parabéns! A alternativa E está correta. A dosagem de hemoglobina glicada é uma dosagem da subfração da HbA (HbA1c), que indica a exposição contínua dos eritrócitos a concentrações elevadas de glicose nas últimas 8 a 12 semanas. Ela apresenta como vantagem a não necessidade do jejum durante a coleta. Valores inferiores a 5,7% indicam pacientes com glicemia normal; valores entre ≥5,7 a < 6,5% indicam um quadro pré-diabético; e valores superiores a 6,5% indicam diabetes mellitus. Questão 2 Aprendemos que o indivíduo diabético pode apresentar variadas complicações clínicas de acordo com o seu quadro. Sobre esse assunto, assinale a alternativa correta. A A retinopatia é a complicação clínica mais recorrente. B A cetoacidose é uma complicação clínica muito comum em pacientes com diabetes tipo 2. C O estado hiperglicêmico hiperosmolar é característico de diabetes gestacional.. D A neuropatia pode estar associada a lesões dos nervos periféricos devido a quadros de hiperglicemia. E O pé de charcot é uma complicação clínica característica de pacientes recém-nascidos. Parabéns! A alternativa D está correta. A neuropatia é uma complicação clínica de dano tecidual, principalmente de nervos longos, e pode ser relacionada a excessivos quadros de hiperglicemia. 2 - O metabolismo dos lipídios Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer os pontos básicos do metabolismo dos lipídeos, as possíveis alterações �siológicas e laboratoriais e os diferentes subtipos de dislipidemias. Lipídeos Os lipídeos constituem um heterogêneo grupo de substâncias orgânicas com grande variedade estrutural, mas que possuem uma característica em comum: são hidrofóbicos. Participam na composição de membranas, vitaminas (A, D, E e K), hormônios e como sinalizadores biológicos e fonte de energia. São frequentemente classificados de acordo com sua composição. Relembrando Os principais grupos de lipídeos são os ácidos graxos e derivados, triacilgliceróis (Triglicerídeos/TAG), fosfolipídeos e os esfingolipídeos. Agora, vamos entender esses grupos mais detalhadamente. Ácidos graxos e derivados São moléculas orgânicas formadas por ácidos monocarboxílicos de cadeias longas de hidrocarbonetos, sem ramificações. Podem ser saturados (sem dupla ligação), monoinsaturados (com uma dupla ligação) ou poli-insaturados (com várias ligações duplas). Estrutura base do ácido graxo. Atenção O homem é capaz de produzir a maioria dos ácidos graxos, mas é incapaz de sintetizar o ácido linolênico e o ácido linoléico, sendo considerados ácidos graxos essenciais com obtenção somente pela dieta. Triacilgliceróis (Triglicerídeos/TAG) São moléculas orgânicas compostas de ácidos graxos associados ao glicerol. Correspondem à principal forma de armazenamento e transporte de ácido graxos (sua “energia” é mais eficiente do que o glicogênio, por exemplo). Além disso, estão envolvidos com o isolamento térmico do tecido adiposo. Estrutura base do triglicerídeo. Os adipócitos (células do tecido adiposo) possuem em seu interior uma vesícula repleta de triglicerídeos e, por serem péssimos condutores térmicos, promovem um isolamento térmico essencial para o homem. Estrutura de um adipócito. Fosfolipídeos São componentes orgânicos constituídos de caudas apolares de ácidos graxos e cabeças polares com fosfato. Correspondem ao principal componente da bicamada lipídica da membrana celular. Estrutura base do fosfolipídeo. Es�ngolipídeos São moléculas orgânicas com aminoálcool em sua composição. Representam o segundo maior componente lipídico das membranas celulares. Estrutura base de um esfingolipídeo. Veja na figura a seguir, a comparação da composição das principais classes de lipídeos. Além desses grupos de lipídeos, há também o colesterol, que pode atuar estabilizando as membranas lipídicas, é também precursor dos sais biliares e dos hormônios esteroides (envolvidos com reprodução, crescimento e regulação metabólica). Metabolismo dos lipídeos da dieta alimentar Os lipídeos começam a ser degradados no estômago pelas lipases lingual e gástrica (elas se mantêm estáveis mesmo com o ácido estomacal). Com a ação dessas enzimas ácidas, os TAG de cadeia curta e média são degradados. O processamento dos lipídeos, em sua maioria, acontece no duodeno. Nele, os lipídeos são emulsificados, aumentando a superfície de contato para as enzimas agirem. Tal emulsificação ocorre devido aos movimentos peristálticos associados aos sais biliares (produzidos no fígado e estocados na vesícula biliar). Os TAG, colesterol e os fosfolipídeos sofrem a ação de enzimas pancreáticas. Com a ação da lipase pancreática, os TAG são clivados em ácidos graxos livres e 2-monoacilglicerol. Essa enzima tem sua ação inibida pelos ácidos biliares, sendo essencial o papel da enzima pancreática colipase, que reestabelece sua ação. Já os ésteres de colesterol são hidrolisados pela enzima pancreática hidrolase dos ésteres de colesterol,gerando como produto colesterol e ácidos graxos livres. Diferentemente da lipase pancreática, a hidrolase dos ésteres de colesterol tem sua atividade aumentada quando em contato com os sais biliares. Os produtos da clivagem das enzimas pancreáticas associados aos sais biliares e às vitaminas lipossolúveis formam as micelas mistas. Os sais biliares são absorvidos no íleo e a mistura de lipídeos absorvida pelos enterócitos vai para o retículo endoplasmático, local onde ocorre a biossíntese de lipídeos. Lipases lingal e gástrica A lipase lingual e a lipase gástrica são essenciais aos neonatos, pois elas são responsáveis pela degradação dos lipídeos do leite — a principal fonte de energia. Micelas mistas Essas micelas são solúveis em meio aquoso e absorvidas pelas células da mucosa intestinal, mais especificamente na borda em escova dos enterócitos. Comentário Os ácidos graxos de cadeia curta e média são destinados ao fígado e carreados pela albumina; os 2- monoacilgliceróis são convertidos em TAG. Os novos TAGs e ésteres de colesterol recém-sintetizados se agregam em meio aquoso devido às características hidrofóbicas, formando pequenas vesículas de gordura. Para que essas gotículas não se agreguem, uma capa de fosfolipídeos, colesterol não esterificado e Apoproteína B-48 (ApoB-48) formam os quilomícrons nascentes, que são exocitados dos enterócitos para os vasos linfáticos e seguem até a região torácica, onde passam para o sangue. Apoproteína Parte proteica de macromoléculas de lipoproteínas (responsável pelo transporte de lipídeos em meios líquidos) responsável por algumas de suas características, como reconhecimento por determinados receptores, formação do próprio complexo lipoproteico e ativação de enzimas envolvidas no metabolismo. Formação e secreção do quilomícron. Antes de continuarmos, você já parou para pensar por que há tantas subdivisões de colesterol (VLDL, HDL, IDL, LDL) nos exames de sangue? Além disso, qual o motivo de o HDL ser considerado o colesterol bom e o LDL o colesterol ruim? Isso é o que veremos agora, estudando o transporte dos lipídeos pelo corpo humano. No sangue, os quilomícrons nascentes interagem com outra lipoproteína, a HDL (lipoproteína de alta densidade, popularmente conhecida como colesterol “bom”). A partir dessa interação, o quilomícron recebe duas apoproteínas do HDL, a ApoCₗₗ e a ApoE, tornando o quilomícron maduro. Em contrapartida, o HDL, que possui a ApoA, recebe TAGs. Interação do quilomícron nascente com a HDL. A imagem a seguir, ilustra o transporte de lipídeos: via exógena. Veja um passo a passo de como acontece esse transporte: Passo 1 A ApoCₗₗ no quilomícron maduro é responsável por ativar a enzima lipoproteína-lipase (LPL), que é sintetizada pelos adipócitos e células musculares e se localiza na superfície das células endoteliais da luz dos capilares periféricos. Passo 2 A partir dessas enzimas, os TAGs dos quilomícrons são hidrolisados em ácidos graxos livres e glicerol; os ácidos graxos entram nos órgãos para produção de energia e nos adipócitos d Já li l é ti t t d di i d fí d A imagem a seguir, ilustra o transporte de lipídeos: via endógena. Vejamos um passo a passo de como acontece esse transporte: para serem armazenados. Já o glicerol é praticamente todo direcionado para o fígado produzir glicerol-3-fosfato. Passo 3 Após o quilomícron maduro “usar” a ApoCₗₗ, ele terá apenas a ApoB-48 e a ApoE, além de um menor quantitativo de TAGs. Ainda contém ésteres de colesterol, passando a ser um quilomícron remanescente. Passo 4 A partir da ApoE, esse quilomícron remanescente é internalizado pelos hepatócitos. Uma vez internalizado, ele é degradado e os produtos ficam disponíveis no fígado, finalizando a via exógena de transporte de lipídeos. Passo 1 Os ésteres de colesterol são remanejados para a produção de sais biliares, e os TAGs são transformados em VLDL (lipoproteína de muito baixa densidade). O VLDL contém ApoB-100, ApoCₗₗ e ApoE. Passo 2 Ao sair do fígado, o VLDL também é capaz de ativar as enzimas LPL, que hidrolisam os TAGs. Transformando-o em IDL (lipoproteína de densidade intermediária). Passo 3 Como a ApoCₗₗ foi “utilizada”, a IDL tem apenas ApoB-100 e ApoE, a partir da qual ela pode retornar ao fígado. Passo 4 Caso ela não volte, interage com outras enzimas e se transforma em LDL (lipoproteína de baixa densidade), que contém colesterol e TAGs residuais. Dependendo de sua composição, a LDL pode voltar para o fígado, uma vez que ela não tenha mais a ApoE, pode ser internalizada por outras células não hepáticas. Quando internalizada, os receptores de LDL podem ser reciclados e o conteúdo de ésteres de colesterol, aminoácidos e TAGs remanescentes são utilizados . Passo 5 A HDL pode fazer o transporte reverso desse colesterol dos tecidos para o fígado, para que seja utilizado e/ou eliminado, finalizando a via endógena do transporte dos lipídeos. Passo 6 Já l t l t í b i t i d l it Se os macrófagos se transformam em células esponjosas (acumuladoras de oxLDL), essas células podem desencadear um processo inflamatório local, que recrutará mais monócitos/macrófagos. Esse acúmulo, com o passar dos anos, pode deformar a superfície interna do vaso (placa de ateroma) e abrir pequeníssimos espaços entre as células endoteliais da parede do vaso, servindo como um sítio para adesão e agregação plaquetária. Esses locais são potenciais para a formação de trombos que, devido à pressão do sangue, podem se soltar e causar trombose em diferentes sítios. Formação da placa de ateroma. Atenção Quanto mais TAGs em sua composição, menos densidade a lipoproteína possui. Assim, temos em ordem crescente de densidade a seguinte distribuição: quilomícrons < VLDL < LDL < HDL. Com base no que acabamos de ver, você concorda com esta imagem? HDL Colesterol bom Já o colesterol que permaneceu na corrente sanguínea, acaba interagindo com o leito vascular, pode ser oxidado (oxLDL) e é captado pelos macrófagos que residem na íntima do vaso sanguíneo. LDL Colesterol mau Testes laboratoriais e correlação clínico-patológico A avaliação do perfil lipídico tem ganhado cada vez mais importância clínica por conta de sua correlação com as doenças coronarianas. Quando existem alterações na concentração sanguínea dos lipídeos (colesterol total e frações e triglicerídeos), ocorrem as dislipidemias. Tal alteração pode ser acima ou abaixo dos valores de referências pré-estabelecidos. Quando o médico solicita o lipidograma, compreende-se que deva realizar o que chamamos de perfil lipídico, partindo das seguintes dosagens: LDL; HDL; VLDL; colesterol total e triglicerídeos. Muito se discute sobre a necessidade de jejum para a realização dos exames do lipidograma. Em 2016, houve a flexibilização do tempo de jejum, de acordo com o documento “Consenso brasileiro para a normatização da determinação laboratorial do perfil lipídico” (SBAC, 2021). Após essa divulgação, foi publicado o artigo “Posicionamento sobre a flexibilização do jejum para o perfil lipídico” (SCARTEZINI, 2021) com uma nova tabela de referência adotada pela maioria dos laboratórios. Assim, o mais importante será a recomendação do médico solicitante para o seu paciente. Veja as tabelas a seguir com valores de referência para cada faixa etária: Lipídeos Com Jejum (mg/dL) Sem Jejum (mg/dL) Categoria Referencial Colesterol total < 190 < 190 Desejável Lipídeos Com Jejum (mg/dL) Sem Jejum (mg/dL) Categoria Referencial HDL-C > 40 > 40 Desejável Triglicerídeos < 150 < 175 Desejável LDL-C < 130 < 130 Baixo < 100 < 100 Intermediário < 70 < 70 Alto < 50 < 50 Muito alto Não HDL-C < 160 < 160 Baixo < 130 < 130 Intermediário < 100 < 100 Alto < 80 < 80 Muito alto Tabela: Valores de referência e de alvo terapêutico, conforme avaliação do risco cardiovascular para adultos > 20 anos. Adaptada de: Barcelos; Aquino, 2018, p. 75. Lipídeos Com Jejum (mg/dL) Sem Jejum (mg/dL) Colesterol total < 170 < 170 HDL-C > 45 >45 Triglicerídeos (0-9 anos) < 75 < 85 Triglicerídeos (10-19 anos) < 92 < 100 LDL-C < 110 < 110 Tabela: Valores de referência desejável do perfil lipídico para crianças e adolescentes. Adaptada por: Barcelos; Aquino, 2018, p. 75. A quantificação dos níveis de colesterol total, triglicerídeos e HDL é realizada por teste enzimático colorimétrico, a partir de kits comerciais de boa sensibilidade e especificidade. Para uma boa qualidade do teste, recomenda-se separar o soro até 3 horas após a coleta. Esse soro pode ser armazenado por até 7 dias sob refrigeração de 4 a 8°C. Dica Caso não seja viável para a rotina de trabalho do laboratório a separação do soro nesse curto intervalo, a amostra de sangue total deve ser mantida entre 20 e 25°C por até 24 horas. Já a avaliação de LDL pode ser quantificada ou estimada a partir da fórmula de Friedewald. Porém, quando o paciente apresenta valores de triglicerídeos > 400mg/dL, a aplicação dessa fórmula pode estimar os valores erroneamente. Nesse caso, a recomendação é realizar a dosagem por método colorimétrico. Fórmula de Friedewald [LDL]=((Colesterol Total)-HDL)-(Triglicerídeos/5) Para determinar o valor de VLDL, utiliza-se a seguinte fórmula: [VLDL]=triglicerídeos x 0,2 Alguns laboratórios incluem também a correlação entre colesterol total, HDL e LDL para inferir fator de risco para doença coronariana, que são os Índices de Castelli I e II. Índice de Castelli I=[Colesterol total]/[HDL] Índice de Castelli II=[LDL]/[HDL] O risco cardiovascular aumenta quando o índice de Castelli I é maior que 4,4 e o índice de Castelli II é maior que 2,9. De maneira geral, as dislipidemias podem ser categorizadas de acordo com o índice “bruto” alterado: Hipercolesterolemia Aumento apenas do colesterol. Hipertrigliceridemia Aumento apenas dos triglicerídeos. Dislipidemia mista ou combinada Aumento do colesterol e do triglicerídeo. Caso seja importante levar em consideração as possíveis mudanças das subfrações, existe a classificação baseada nos padrões de lipoproteínas, conhecido como Fenótipos de Fredrickson. Veja o quadro a seguir: Fenótipo Lipoproteínas elevadas Lipídeos elevados I Quilomícrons Triglicerídeos IIa LDL Colesterol IIb LDL e VLDL Triglicerídeos e colesterol III VLDL e Quilomícrons remanescentes Triglicerídeos e colesterol IV VLDL Triglicerídeos V Quilomícrons e VLDL Triglicerídeos e colesterol Quadro: Fenótipos de Fredrickson. Elaborado por: Fabiana Vieira de Mello. Além disso, as dislipidemias podem ser agrupadas de acordo com as causas. Podem ser primárias ou secundárias. As dislipidemias primárias, ou de origem genética, são aquelas em que há mutações ou alterações nos genes que codificam enzimas, receptores e/ou apoproteínas. São de menor prevalência. Veja mais sobre as dislipidemias primarias no quadro a seguir: Dislipidemia Causa Manifestação Clínica Hipercolesterolemia familiar Mutação do receptor B-E Hipercolesterolemia Defeito familiar de ApoB- 100 Mutação em ApoB-100 Hipercolesterolemia poligênica Não identificada Hiperlipidemia familiar combinada Não identificada Dislipidemia Causa Manifestação Clínica Hipercolesterolemia autossômica recessiva(ARH) Mutação da proteína adaptadora do receptor de LDL (ARH) Hipercolesterolemia PCSK9 Mutação com ganho de função de PCSK9 (proprotein convertase aubtilisin Kexin type 9) Hiperlipidemia familiar combinada Não identificada HipertrigliceridemiaHipertrigliceridemia familiar Não identificada Hiperquilomicronemia Mutaçãode LPL ou de apoCII Abetalipoproteinemia Mutação em MTP HipertrigliceridemiaHipobetaliproteinemia Mutação em ApoB Hipocolesterolemia PCSK9 Mutação com perda de função da PCSK9 Hiperlipidemia familiar combinada Não identificada Hipercolesterolemia Disbetalipoproteinemia Mutação de ApoE Hipertrigliceridemia Hipoalfalipoproteinemia familiar Não identificada HDL-C reduzido Deficiência de ApoA-1 Mutação em gene da apoA-1 Fish eye disease e Deficiência parcial de LCAT Deficiência de LCAT Doença de Tangier e Deficiência familiar de HDL Mutação no gene do ABCA-1 Dislipidemia Causa Manifestação Clínica Hiperalfalipoproteinemia Mutação na CETP, superexpressão de apoA-1 ou causa desconhecida HDL-C elevado Quadro: Dislipidemias primárias. Adaptado de: Barcelos; Aquino, 2018, p. 73. Dislipidemias primárias Entre as dislipidemias primárias, podemos destacar: Há um defeito no receptor de LDL e, com isso, uma diminuição na depuração da LDL. O indivíduo pode apresentar algumas características clínicas como xantomas tendinosos, arco corneano e doenças coronarianas prematuras. Em relação às características laboratoriais, o colesterol total fica aumentado, em torno de 250 a 500mg/dL. O controle do colesterol pode ser realizado por dieta, fármacos hipolipemiantes e, em casos mais graves como os homozigotos (colesterol total >500mg/dL), pode ser necessário o transplante de fígado. Outra dislipidemia primária que cursa de maneira bem semelhante é a de defeito familiar de ApoB-100. É a dislipidemia primária mais comum. Não se sabe ao certo onde ocorre o defeito genético, mas se acredita ser de origem multifatorial. Como consequência, o indivíduo pode apresentar doenças coronarianas prematuras e o colesterol fica em torno de 250 a 350mg/dL. Seu controle pode ser feito por dieta e/ou utilização de fármacos hipolipemiantes. Hipercolesterolemia familiar Hipercolesterolemia poligênica Dislipidemia com deficiência de LPL Um subtipo de dislipidemia mais rara é a com deficiência de LPL. Com tal deficiência, há diminuição da depuração de quilomícrons, podendo ocasionar um retardo no desenvolvimento de lactentes, hepatoesplenomegalia, quadros de pancreatite e dosagem de triglicerídeos acima de 750mg/dL. O tratamento é baseado em dieta restrita em gorduras, com suplementações específicas, entre elas de triglicerídeos de cadeia média. Outro subtipo relativamente comum, a hipoalfalipoproteinemia familiar tem como causa possivelmente mutações na ApoA. Com isso, a dosagem de HDL permanece baixa, entre 15 e 35mg/dL. A indicação de tratamento é prática de exercícios físicos e redutores de LDL (uma vez que terá pouco HDL para fazer o transporte reverso do colesterol para o fígado). Dislipidemias secundárias As dislipidemias secundárias podem ser consequentes de doenças de base, medicamentos e/ou fatores ambientais, como o aumento de LDL-C, hipotireoidismo, obesidade, diabetes mellitus, síndrome nefrótica, colestase, hepatopatia, anorexia nervosa, deficiência no hormônio do crescimento, diminuição de HLD-C, tabagismo, sedentarismo etc. Indiscutivelmente, a principal causa das dislipidemias secundárias é o estilo de vida atual, que em grande parte agrega sedentarismo com ingestão excessiva de gordura saturada, colesterol e ácidos graxos trans (encontrados em alimentos processados). Além disso, quadros de diabetes mellitus, abuso de álcool e algumas drogas também podem ser causas agravantes. Hipoalfalipoproteinemia familiar A dislipidemia diabética, em grande parte das vezes, cursa com triglicerídeos elevados, aumento de LDL e baixas concentrações de HDL, atingindo principalmente os pacientes com diabetes tipo 2. Comentário Importante destacar que, na maioria das vezes, a dislipidemia cursa de maneira silenciosa, podendo culminar em doenças cardiovasculares sintomáticas, como AVC e infarto. Quando se tem um quadro de triglicerídeos >1000mg/dL, podem ocorrer pancreatite aguda, hepatoesplenomegalia, dispneia e confusão mental. Casos de triglicerídeos >2000mg/dL podem gerar um aspecto leitoso no plasma sanguíneo. Vale ressaltar a ocorrência de xantelasma (placas amarelas ricas em lipídeos que aparecem nas pálpebras), que aparece quando os níveis de LDL estão aumentados — com exceção dos pacientes de cirrose biliar, que podem apresentar xantelasma mesmo com níveis lipídicos normais. Apesar de ser mais difícil, porém não raro, existem casos em que a dosagem de colesterol total e triglicerídeosestão abaixo do desejável. Isso normalmente está relacionado a quadros de desnutrição, hipertireoidismo ou ainda alguma síndrome de má absorção. Atenção A avaliação da dislipidemia primária deve ser realizada somente depois de se descartar o diagnóstico de dislipidemia secundária, que tem maior prevalência na população. Por vezes, as causas secundárias são gatilhos para o aparecimento de dislipidemia primária. Existem outros métodos para analisar as diferentes lipoproteínas, porém eles raramente são usados na rotina laboratorial, devido principalmente ao alto custo envolvido nas técnicas. Mas eles são utilizados em laboratórios de pesquisas. A ultracentrifugação é um deles, em que a classificação e a análise se baseiam na diferença de densidade entre as lipoproteínas. Outra técnica usada em pesquisas é a eletroforese, que separa as lipoproteínas de acordo com a migração na malha eletroforética (gel de agarose, gel de poliacrilamida ou fita de acetato de celulose), possibilitando uma análise qualitativa e semiquantitativa. A dosagem de ApoB e Lp(a), realizada a partir de testes de radioimunoensaio e ELISA, também não é empregada em rotinas de laboratórios e sim em pesquisa. Saiba mais O plasma pode ser avaliado após repouso de 16 horas mantido na temperatura de 4°C. Após o tempo de incubação, o tubo é analisado com uma luz forte contra um fundo negro. O aspecto do plasma sinaliza qual lipoproteína está aumentada. Vamos entender melhor? Plasma límpido: sem alteração nas lipoproteínas. Plasma com camada leitosa apenas no topo do tubo e infradanante (o que está abaixo da camada leitosa) límpido: Fenótipo I (quilomícron elevado). Plasma com tonalidade laranja: Fenótipo II A (LDL elevado). Plasma turvo: Fenótipo II B (LDL, VDL aumentados), TG, Fenótipo III (IDL aumentado) e fenótipo IV (VDLD aumentado) Plasma com camada cremosa no topo e infranadante turvo: Fenótipo V (VDLD ou Q aumentados). Essa é uma metodologia barata, simples, que indica a presença do quilomícron e pode refletir os valores de TGs e IDL. Eletroforese de lipoproteínas No vídeo a seguir, veja a análise e interpretação da eletroforese de lipoproteínas. Vamos assistir! Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 As apoproteínas representam a parte proteica das lipoproteínas e são responsáveis por algumas de suas propriedades, como reconhecimento por determinados receptores. Existem diferentes tipos de apoproteínas. Sobre elas, assinale a alternativa correta: A A ApoA está presente em todas as lipoproteínas. B A ApoB-100 é a principal apoproteína dos quilomícrons. C A ApoE ativa a enzima LPL presente nos hepatócitos. D A ApoCₗₗ é essencial para o reconhecimento e a entrada nos hepatócitos E A ApoCₗₗ ativa a enzima LPL presente no endotélio vascular. Parabéns! A alternativa E está correta. A ApoCll no quilomícron maduro é responsável por ativar a enzima lipoproteína-lipase (LPL), localizada na superfície das células endoteliais. Questão 2 Em 2016, houve a flexibilização do tempo de jejum para análise do lipidograma. Em relação ao manejo da amostra para a realização do perfil lipídico, podemos afirmar que o ideal é: A O exame deve ser realizado, em amostra de sangue total, em até 6 horas após a coleta. B O exame deve ser realizado, em soro separado, em até 3 horas após a coleta. C O exame deve ser realizado, em urina, imediatamente após a coleta. D O exame deve ser realizado, em soro separado, após 48 horas da coleta. Considerações �nais Como vimos ao longo desse conteúdo, os exames laboratoriais são fundamentais para ajudar o médico a realizar o diagnóstico, assim como prescrever a conduta terapêutica em quadros de dislipidemias e diabetes mellitus, dois grupos de patologias que podem trazer sérias consequências para a saúde de pacientes em diferentes faixas etárias. Discutimos também pontos cruciais das técnicas laboratoriais, assim como dos sinais clínicos. Construímos conhecimentos que serão importantes para realizarmos nosso trabalho com segurança e confiabilidade, identificando erros, discrepâncias e inconsistências. Podcast Agora com a palavra a especialista Fabiana Vieira de Mello que fala sobre a diabetes gestacional. Vamos ouvir! E O exame deve ser realizado, em amostra de sangue total, após 7 dias da coleta. Parabéns! A alternativa B está correta. As dosagens do lipidograma devem ser realizadas no soro. O paciente não precisa estar em jejum, mas deve seguir a orientação médica. O recomendado é que a separação do soro ocorra até 3 horas após a coleta, mas esse soro pode ser armazenado por até 7 dias em temperatura entre 4 e 8°C. Referências Barcelos, L.F.; Aquino, J.L. Tratado de análises clínicas. 1. ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2018. HARVEY, R.A.; CHAMP, P.C.; Ferrier, D.R. Bioquímica ilustrada. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. Ferrier, D.R. Bioquímica ilustrada.7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2018. GAW, A. et al. Bioquímica clínica. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015. MARSHALL, W.J. et al. Bioquímica clínica: aspectos clínicos e metabólicos. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. MARKS, A.D. Bioquímica médica básica. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. Motta, V.T. Bioquímica básica. Porto Alegre: Editora Médica Missau, 2003. SBAC. Sociedade Brasileira De Análises Clínicas. Consenso brasileiro para a normatização da determinação laboratorial do perfil lipídico. Consultado na internet em: 10 jun. 2021. SCARTEZINI M. et al. Positioning about the flexibility of fasting for lipid profiling. Consultado na internet em: 10 jun. 2021. Zoppi, D. Estado hiperglicêmico hiperosmolar (EHH) e cetoacidose hiabética (CAD) na sala de urgência. Revista Qualidade HC. s/d. Consultado eletronicamente em: 26 abr. 2021. Explore + Para saber mais sobre os assuntos tratados neste conteúdo: - Acesse o site da Sociedade Brasileira de Diabetes e descubra mais sobre o diabetes mellitus na seção “Vivendo com Diabetes”, item “Mitos e verdades”. - Leia as Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes: 2019-2020, documento publicado em 2019, para conhecer sobre o diagnóstico e o tratamento do diabetes mellitus. - Leia o artigo Transportadores de glicose na síndrome metabólica, de Ubiratan Fabres Machado, Beatriz D. Schaan e Patrícia M. Seraphime, publicado no Arq Bras Endocrinol Metab, v. 50, nº 2, abr. 2006. - Leia o artigo Transportadores de glicose, de Ubiratan Fabres Machado, publicado no Arq Bras Endocrinol Metab, v. 42, 6º, dez. 1998. - Assista ao vídeo Revolucionando o monitoramento de glicose com FreeStyle Libre no Youtube, para acompanhar a evolução no monitoramento constante da glicose em pacientes diabéticos. - Leia o trabalho Biologia molecular das dislipidemias. Variação genética das apolipoproteínas, de Estela Maria Novak e Sergio Paulo Bydlowski, publicado no Arquivo Brasileiro de Cardiologia, v. 67, nº 6, 1996. - Leia a publicação Atualização da diretriz brasileira de dislipidemias e prevenção da aterosclerose – 2017, Arquivo Brasileiro de Cardiologia, v. 109, nº 2, supl. 1, p. 1-76, ago. 2017. Baixar conteúdo javascript:CriaPDF()
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