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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA 
FACULDADE DE DIREITO 
 
 
 
 
 
VICTÓRIA ROCHA SILVA ALBUQUERQUE 
 
 
 
 
 
 
 
 
O DIREITO À DESINDEXAÇÃO DIANTE DA DECISÃO DO SUPREMO 
TRIBUNAL FEDERAL SOBRE O DIREITO AO ESQUECIMENTO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Brasília 
2022 
 
 
 
 
VICTÓRIA ROCHA SILVA ALBUQUERQUE 
 
 
 
 
 
 
 
O DIREITO À DESINDEXAÇÃO DIANTE DA DECISÃO DO SUPREMO 
TRIBUNAL FEDERAL SOBRE O DIREITO AO ESQUECIMENTO 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de conclusão de curso de Graduação em 
Direito apresentado à Faculdade de Direito da 
Universidade de Brasília como requisito para a 
obtenção do grau de Bacharela em Direito. 
Orientadora: Prof. Dra. Ana de Oliveira Frazão 
Vieira de Mello 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BRASÍLIA 
2022 
 
 
 
 
VICTÓRIA ROCHA SILVA ALBUQUERQUE 
 
 
 
 
O DIREITO À DESINDEXAÇÃO DIANTE DA DECISÃO DO SUPREMO 
TRIBUNAL FEDERAL SOBRE O DIREITO AO ESQUECIMENTO 
 
 
 
Trabalho de conclusão de curso aprovado como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharela 
em Direito junto à Faculdade de Direito da Universidade de Brasília, pela seguinte banca examinadora: 
 
 
 
Orientadora: _______________________________________________________________________ 
 Prof. Dra. Ana de Oliveira Frazão Vieira de Mello 
 Orientadora – Universidade de Brasília (UnB) 
 
 
 
______________________________________________________________________ 
 Prof. Carina Lellis Nicoll Simões Leite 
 Examinadora – Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) 
 
 
______________________________________________________________________ 
 Prof. Maria Cristine Branco Lindoso 
 Examinadora – Universidade de Brasília (UnB) 
 
 
Brasília, 2 de maio de 2022 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Para Elza e Iracylio, com todo o amor que 
eles semearam em meu coração. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“I want to say to all the young woman out 
there: there are going to be people along the 
way who will try to undercut your success or 
take credit for your accomplishments… 
But if you just focus on the work, someday, 
when you get to where you’re going, you’ll 
look around and you’ll know that it was you 
and the people who love you who put you there 
and it will be the greatest feeling in the 
world.” 
Taylor Swift 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
“E se você acordasse amanhã só com o que você agradeceu hoje?” – Essa pergunta 
apareceu para mim durante um dos momentos mais difíceis que vivi. Sem dúvidas, janeiro e 
fevereiro de 2022 foram meses atípicos e de muita provação de fé. Foram duas cirurgias e vinte 
e sete dias de internação por conta de uma apendicite. 
Estar concluindo a graduação é não somente uma vitória, mas um verdadeiro milagre. 
Então, gostaria de agradecer a Deus pelo zelo e por sempre oferecer as melhores coisas para 
minha vida. 
Aos meus amados pais, Andréa e Renato, minha eterna gratidão por acreditarem em 
mim. Eu nada seria se não fossem vocês. Mãe, obrigada por todos os sacrifícios, pelos 
incontáveis ensinamentos – como mãe e como professora – e por todo o incentivo para que eu 
entendesse que a educação é a arma para mudar o mundo. Pai, obrigada pela parceria, pelo 
ombro amigo em tempos difíceis e por nunca poupar sinceridade quando o objetivo era extrair 
minha melhor versão. 
Essa conquista também é compartilhada com minha pequena grande família, sempre tão 
presente. Aos meus queridos avós, Zuleide e Marcos, pela fé, pelo apoio e orgulho imensurável 
que têm de mim. Aos meus saudosos avós, Elza e Iracylio, a quem dedico esse trabalho e que 
hoje são meus anjos da guarda. À minha madrinha, Lúcia, que mesmo de longe nunca deixou 
de cuidar de mim. Aos meus irmãos, Pedro, João Victor e João Gabriel, meus raios de sol em 
dias duros. Às minhas tias, Adjane, Amanda, Jeane e Marcela, e tios, André, Ronaldo e Rodrigo, 
pelo carinho e conselhos inigualáveis. Às minhas primas, Júlia, Geovana, Ana Laura, Manuela, 
Luana e Maria Luiza, e ao meu primo, Artur, pela cumplicidade que extrapola os laços 
familiares. 
Ao meu amor, Fernando Marciano, que acompanhou todas as alegrias e dificuldades 
dos últimos oito anos. Foi o maior incentivador para que eu fosse em busca da profissão que 
tanto queria e aquele que me tirou do fundo do poço quando eu pensava não ter mais forças. 
Tudo isso enquanto ainda me ensinava a amar e ser amada da melhor forma possível. Palavras 
nunca serão o suficiente para agradecer tudo o que você fez e faz por mim, eu te amo. 
Agradeço também à minha psicóloga, Kátia Jaccoud, por me fazer desafiar crenças 
limitantes e abraçar meus defeitos, por todo o auxílio para que eu evoluísse cada vez mais e por 
ter se tornado uma amizade inesperada, mas tão querida. 
 
 
 
 
Às minhas amigas irmãs de longa data, Helena Hadelich, Isabela Pradera, Julia Uchoa, 
Manuela Lins e Natalia Peronico, que me inspiram a ser uma mulher como elas, que nunca 
duvidaram do meu potencial, que vibram minhas vitórias e me consolam nas minhas falhas e 
sempre estiveram comigo durante essa jornada. Vocês têm residência permanente no meu 
coração. 
Aos amigos que chegaram pela UnB: Daniel Victor Prata, João Victor Sampaio, Julia 
Kokay, Lucas Orsi, Marina Amaral, Nauê Bernardo de Azevedo, Rafaela Valentina Braga, 
Rodrigo Monteiro, Sandryelle Alves, Sara Assis, Victor Frank e tantos outros. Obrigada pelo 
acolhimento, pela confidência e por terem compartilhado dos melhores anos da minha vida. 
Fico realizada em saber que o laço que formamos é permanente e vai muito além da 
universidade. 
Por último, mas não menos importante, há muito a agradecer às amizades que surgiram 
no ambiente de trabalho e, desde então, tornaram meus dias mais leves. Chandra Guimarães, 
Clara Accioly, Giulia Bosso e Laís Ribeiro, hoje vocês são parte de mim. Obrigada pelo suporte 
absurdo e pelo carinho de outras vidas. Amo vocês! 
 À excepcional equipe do Gabinete do Ministro Luís Roberto Barroso do STF, em 
especial à Carina Lellis, que me recebeu tão crua e tanto me ensinou durante dois anos. 
Obrigada pela oportunidade de trabalhar e me apaixonar pelo direito constitucional e por 
sempre fazerem lembrar que “ninguém é bom demais, ninguém é bom sozinho e que é preciso 
agradecer”. 
Aos meus supervisores nos estágios no Tribunal Regional Federal da 1ª Região e no 
escritório Gustavo Binembojm & Associados, meu muito obrigada pelo amparo e pela 
contribuição na minha formação como jurista. E à equipe do escritório Pinheiro Neto 
Advogados, que acaba de me abrir as portas, meu muito obrigada pela confiança e oportunidade 
de integrar um time de excelência. 
À Ana Frazão, minha querida professora que gentilmente aceitou o convite de me 
orientar neste trabalho, e às membras da banca examinadora, professoras Carina Lellis e Maria 
Cristine Lindoso, dedico minha mais sincera admiração. A potência que cada uma, à sua 
maneira, tem dentro e fora do ambiente acadêmico é inspiradora e faz graduandas como eu 
acreditarem que um dia também podem ocupar posições de destaque profissional. Agradeço 
pelas oportunidades de reflexão e aprendizado, sempre em um nível de maestria, mas também 
acessíveis e afetuosas. 
 
 
 
 
Por fim, à Universidade de Brasília, sonho de infância que acolheu a Victória de 
dezessete anos ainda na enfermagem e foi essencial para meu processo de autoconhecimento. 
É incrível ver como a experiência na UnB explodiu a bolha em que eu vivia. Foi lá que comecei 
a enxergar as múltiplas realidades que me cercavam, criei consciência do meu lugar no mundo 
e do que poderia fazer para devolver à sociedade todo o conhecimento que ela estava investindo 
em mim. Mesmo com o sucateamento da educação, participei ativamente do tripé universitário 
e tive a oportunidade de ter comigo os melhores preceptores. É com muito orgulho que digo 
que souformada pela “balbúrdia”, oitava melhor do Brasil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
Após a declaração de inconstitucionalidade do direito ao esquecimento pelo Supremo 
Tribunal Federal (Tema 786 da Repercussão Geral), ganha força a discussão a respeito da 
possibilidade de aplicação do direito à desindexação para resolução de eventuais excessos e 
abusos na liberdade de expressão e acesso à informação. No entanto, o instituto da desindexação 
ainda carece de previsão legal no ordenamento jurídico brasileiro, sendo tão somente uma 
construção jurisprudencial. Com o objetivo de oferecer maior segurança jurídica à aplicação do 
direito à desindexação e de, futuramente, elaborar um aparato legal próprio para o tema, é 
essencial compreender de que forma os provedores de busca preparam seu sistema de 
algoritmos para organizarem a ordem de resultados de determinada indexação e conhecer os 
motivos que justificam o porquê esse sistema é tão obscuro. 
 
Palavras-chave: Direito a desindexação; Direito ao esquecimento; Mecanismos de 
busca; Direitos da personalidade; Liberdade de expressão; Acesso à informação; Algoritmos; 
Inteligência artificial. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
After the declaration of unconstitutionality of the right to be forgotten by the Federal 
Supreme Court (Theme 786 of Leading Case Status), the discussion about the possibility of 
applying the right to deindexation to resolve eventual excesses and abuses in freedom of 
expression and access to information gains strength. However, the institute of deindexation still 
lacks legal provision in the Brazilian legal system, being only a jurisprudential construction. 
With the objective of offering greater legal certainty to the application of the right to deindexing 
and, in the future, to develop a legal apparatus for the subject, it is essential to understand how 
search providers prepare their algorithm system to organize the order of search results. certain 
indexing and to know the reasons that justify why this system is so obscure. 
 
Keywords: Deindexing; Right to be forgotten; Search engines; Personality rights; 
Freedom of expression; Access to information; Algorithms; Artificial intelligence. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO 11 
 
CAPÍTULO 1 – O DIREITO AO ESQUECIMENTO 15 
I) O ADVENTO DO DIREITO AO ESQUECIMENTO EM ÂMBITO INTERNACIONAL 15 
II) O DESDOBRAMENTO DO DIREITO AO ESQUECIMENTO NOS TRIBUNAIS 
NACIONAIS 17 
III) A DECISÃO PELA INCOMPATIBILIDADE DO DIREITO AO ESQUECIMENTO COM 
O ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO 21 
a. Contextualizando o caso Aída Curi 21 
b. Comentários sobre o julgamento do Recurso Extraordinário nº 1.010.606/RJ 23 
 
CAPÍTULO 2 – O DIREITO À DESINDEXAÇÃO 28 
I) A DESINDEXAÇÃO COMO POSSÍVEL SOLUÇÃO PARA OS EVENTUAIS EXCESSOS 
E ABUSOS DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO NO MEIO DIGITAL 28 
II) ESQUECIMENTO E DESINDEXAÇÃO: COMO DIFERENCIÁ-LOS? 29 
III) A NECESSIDADE DE TRANSFORMAÇÃO DO ATUAL ENTENDIMENTO FIXADO 
ACERCA DA RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PROVEDORES DE BUSCA PELO 
CONTEÚDO GERADO POR TERCEIROS 32 
IV) O PAPEL DOS ALGORITMOS DAS PLATAFORMAS DE BUSCA E A INFLUÊNCIA 
NA TOMADA DE DECISÃO: QUAIS OS OBSTÁCULOS A SEREM ENFRENTADOS 37 
 
CAPÍTULO 3 – A DESINDEXAÇÃO NA PRÁTICA E SEUS DESAFIOS 41 
I) INOVAÇÕES A SEREM PENSADAS PARA PERMITIR A VIABILIDADE DA 
DESINDEXAÇÃO 41 
II) O APERFEIÇOAMENTO DA INDEXAÇÃO 46 
a. O problema dos algoritmos secretos e o uso da responsibility, da accountability e da 
answerability como solução 46 
b. Lacunas legislativas, regulação e fiscalização legal da inteligência artificial 50 
 
CONCLUSÃO 54 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 56 
ANEXO I 60 
 
 
 
11 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
“Tudo na vida se faz por recordações”, como já dizia Fernando Pessoa1. Apesar disso, 
nos últimos anos, é possível constatar uma movimentação curiosa no mundo jurídico de uma 
série de demandas relacionadas a fatos pretéritos e constrangedores relacionados a determinado 
indivíduo. Essas discussões têm por finalidade a validação da existência do chamado direito ao 
esquecimento. 
A primeira vez que o termo “direito ao esquecimento” foi utilizado foi na Europa e, após 
alguns anos, a discussão chegou ao Brasil. O assunto era alvo de muitas controvérsias 
doutrinárias, havendo quem defendesse sua validade e também aqueles que acreditavam na 
incompatibilidade do esquecimento com o ordenamento jurídico brasileiro. 
Diante desse contexto de polaridade de opiniões a respeito do tema, em fevereiro de 
2021, o Supremo Tribunal Federal julgou o RE nº 1.010.606/RJ e o Tema 786 da Repercussão 
Geral. A pretensão era decidir sobre a aplicabilidade do direito ao esquecimento na esfera civil 
quando este fosse invocado pela própria vítima ou pelos seus familiares. Por maioria, o Plenário 
do STF decidiu que o direito ao esquecimento seria incompatível com a Constituição Federal. 
Contudo, a tese firmada deixou uma brecha: nas hipóteses em que fossem constatados 
eventuais excessos ou abusos da liberdade de expressão e de informação, o Tribunal teria que 
tutelar o direito da personalidade lesado. 
Assim, a decisão do STF pela inconstitucionalidade do direito ao esquecimento é o 
ponto de partida para a análise feita pelo presente trabalho. Aqui, não se pretende fazer qualquer 
juízo de valor a respeito do teor da decisão: simplesmente se passa do pressuposto que ela existe 
e gera efeitos em todo o ordenamento jurídico. 
Entendemos, no entanto, que a mera declaração de inconstitucionalidade do 
esquecimento não impede que demandas relacionadas a influência que fatos passados 
constrangedores causam no presente continuem sendo ajuizadas. Diante disso, e considerando 
a lacuna deixada pelo próprio STF no julgamento do tema, há de se refletir sobre uma possível 
resposta para a tutela dos direitos da personalidade, na medida em que também se observa os 
limites da liberdade de expressão, direito fundamental altamente relevante em um Estado 
Democrático de Direito. 
 
1 PESSOA, Fernando. Ama-se por memória. Disponível em: 
https://www.revistaprosaversoearte.com/ama-se-por-memoria-alvaro-de-campos-fernando-pessoa/. 
Acesso em 3.3.2022. 
https://www.revistaprosaversoearte.com/ama-se-por-memoria-alvaro-de-campos-fernando-pessoa/
12 
 
 
 
De imediato, uma resposta que pareceu viável foi o uso do direito à desindexação para 
resolução dessas demandas. Mas, para ter a certeza, era preciso dar uma resposta às seguintes 
indagações: (i) em que medida essa decisão da Suprema Corte valida e reforça as discussões a 
respeito da desindexação?; e (ii) o que pode ser feito para aperfeiçoar não somente a 
desindexação, mas a indexação em si, de modo que ambos os institutos resguardem os direitos 
da personalidade, no plano individual, mas ainda observem o acesso à informação e a liberdade 
de expressão no plano coletivo? 
Para responder tais questionamentos, iniciamos pela pesquisa jurisprudencial sobre o 
tema, no plano internacional e nacional. A pretensão era entender quais soluções os Tribunais 
estavam oferecendo para os litígios fundamentados no direito ao esquecimento. Para nossa feliz 
surpresa, pudemos constatar que havia o registro de decisões que determinaram que os 
provedores de busca desvinculassem determinado link lesivo do nome da pessoa física 
requerente. 
Em conjunto, foi realizada a pesquisa bibliográfica, visando entender as peculiaridades 
do esquecimento e da desindexação, de modo a diferenciá-los. Pela pesquisa também pudemos 
constatar o ativo e relevante papel dos mecanismos de busca, que usam e abusam de algoritmos 
cuja forma de funcionamento é bastante obscura para gerenciar todo o fluxo informacional na 
Internet de acordo com os interesses de cada usuário. 
A relevância do presente estudo reside no fato de que, com o avançar do 
desenvolvimentotecnológico e da sociedade da informação, as plataformas online dominaram 
o mercado e ganharam a confiança de grande parte – se não toda – a população. Assim, as 
informações ali disponibilizadas gozam de grande credibilidade e podem ocasionar graves 
danos à pessoa física a depender da forma que esse conteúdo é selecionado, ranqueado ou 
sugerido para o usuário. 
O ordenamento jurídico brasileiro já prevê formas de resolução de problemas quando a 
informação disponibilizada na Internet é falsa. Porém, há casos em que os fatos realmente são 
verdadeiros, mas que, em virtude da passagem do tempo, tornaram-se defasados e, 
consequentemente, constrangedores e até mesmo danosos para a pessoa a qual dizem respeito. 
A título exemplificativo, podemos citar a Xuxa Meneghel e a repercussão negativa que o filme 
do qual participou, “Amor Estranho Amor”, teve com o passar dos anos. Como consequência, 
Xuxa teve (e ainda tem) sua imagem lesada em razão do vínculo com o episódio polêmico. 
Nesse sentido, Chris Martin, fundador da Reputation Hawk, uma empresa que ajuda na 
proteção e limpeza da reputação dos ofendidos na Internet, resume: “[e]squeça suas referências, 
13 
 
 
 
seu currículo e o diploma pendurado na sua parede. O que quer que esteja no top 10 resultados 
de busca do seu nome no Google é o que define a sua imagem”2. 
Ratificando a fala de Martin, Michael Fertik, CEO da ReputationDefender, empresa do 
mesmo ramo, esclarece que “as pessoas que estão acessando informações sobre você na Internet 
não precisam acreditar no que leem sobre você – basta que seja plantada uma dúvida razoável”. 
Dessa forma, pensando na maximização da redução de danos para qualquer pessoa física 
que venha a ter informações verdadeiras sobre si disponibilizadas no mundo digital, parece 
razoável dizer que a desindexação poderia ajudar a preservar seus direitos de personalidade, 
mas também observar a liberdade de expressão, visto que a publicação original continuaria 
preservada. 
Considerando que o primeiro resultado exibido em uma pesquisa orgânica feita no 
Google tem uma taxa de cliques (“CTR”) de, em média, 31,7% e 10 vezes mais chance de ser 
clicado quando comparado ao link indexado em 10ª posição3, também faz sentido afirmar que 
o aperfeiçoamento da indexação seria igualmente um bom caminho para a tutela da 
personalidade e da liberdade de expressão, de modo a exibir os resultados de pesquisa em uma 
ordem fidedigna com o atual estado das coisas. 
Assim, visando oferecer o mais completo entendimento sobre a temática, a estrutura do 
presente trabalho ficou da seguinte forma: 
No Capítulo 1, o direito ao esquecimento é o foco. O objetivo é compreendê-lo, de seus 
primórdios até a declaração de inconstitucionalidade, com o intuito de saber perfeitamente em 
que medida a desindexação seria cabível. 
O Capítulo 2 tem como cerne o direito à desindexação. Além da compreensão 
conceitual, busca-se entender sua forma de funcionamento, como acontece para que os 
mecanismos de busca respondam por eventuais danos causados e como o sistema de algoritmos 
desses websites são complexos e desconhecidos no mundo jurídico. 
Por fim, o Capítulo 3 trata sobre os obstáculos a serem superados para a aplicação prática 
da desindexação. Aqui, são feitas sugestões a respeito da exigência de parâmetros objetivos, de 
 
2 A demanda era tanta e o negócio se tornou tão relevante que hoje é possível encontrar uma série de 
companhias oferecendo esse tipo de serviço no mercado: Reputation Hawk, eVisibility, 
ReputationDefender, Converseon, International Reputation Management e 360i são exemplos. O 
serviço consiste em, basicamente, produzir conteúdo positivo no nome daquele cliente, de modo que 
os primeiros resultados de pesquisa do Google sejam alterados. O custo varia de US$ 500 a US$ 
10.000 mensais. Mais informações em: https://www.wired.com/2009/02/you-are-what-go/. Acesso em 
3.4.2022. 
3 DEAN, Brian. We analyzed 5 million Google Search Results Here’s What We Learned About Organic 
Click Through Rate. BACKLINKO, 27 de ago. 2019. Disponível em: https://backlinko.com/google-ctr-
stats Acesso em 3.4.2022. 
https://www.wired.com/2009/02/you-are-what-go/
https://backlinko.com/google-ctr-stats
https://backlinko.com/google-ctr-stats
14 
 
 
 
modo a garantir segurança jurídica aos eventuais requerentes da desindexação, e também é feita 
uma reflexão a respeito dos próximos passos a serem tomados no que diz respeito à regulação 
da inteligência artificial. 
 
15 
 
 
 
CAPÍTULO 1 – O DIREITO AO ESQUECIMENTO 
 
 
I) O ADVENTO DO DIREITO AO ESQUECIMENTO EM ÂMBITO 
INTERNACIONAL 
 
Para melhor entender a influência do direito ao esquecimento na atualidade é preciso 
voltar os olhares para o contexto em que ele se tornou uma demanda jurídica, seja no plano 
internacional seja no contexto brasileiro. Feito isso, é possível traçar comentários sobre a 
repercussão do tema entre doutrinadores e nos tribunais brasileiros, que por muitas 
oportunidades já foram provocados para tratar sobre o direito ao esquecimento. 
A primeira menção ao termo (droit à l’oubli) foi na França, em 1965, no notório caso 
Landru4. A expressão foi formulada pelo jurista Gérard Lyon-Caen durante a análise do acórdão 
do referido caso. Em síntese, a Mademoiselle Segret, ex-amante do serial killer Henri Landru 
e sua companheira durante o tempo em que esteve preso e foi condenado à morte, ajuizou ação 
indenizatória contra o cineasta Claude Chabrol, a produtora e a distribuidora de cinema em 
virtude da produção de um documentário sobre a vida do assassino. Segret argumentou que o 
filme a relembrava de um evento traumático ao exibir o relacionamento amoroso que teve com 
o criminoso e por usar seu nome verdadeiro sem qualquer autorização. O Tribunal de Grande 
Instance de La Seine, contudo, decidiu que um filme que somente retomava fatos não podia ser 
considerado ilícito. 
Outro precedente relevante para o estudo e compreensão do direito ao esquecimento é 
o caso Lebach5, apreciado pelo Tribunal Constitucional da Alemanha em 1969. Um cidadão 
condenado e supostamente envolvido no assassinato de quatro soldados alemães na cidade de 
Lebach estava prestes a sair da prisão quando um canal de televisão anunciou um documentário 
sobre o crime, expondo os fatos detalhadamente, citando inclusive nomes. Diante disso, o 
sujeito ajuizou uma ação com a pretensão de que o programa não fosse veiculado. A Corte 
alemã reconheceu o direito de ele ser “esquecido” por entender que a reconstituição dos fatos 
traria danos injustos, uma vez que o autor já havia cumprido a pena que lhe havia sido imposta. 
 
4 PINHEIRO, Denise. A Liberdade de Expressão e o Passado: desconstrução da ideia de um direito ao 
esquecimento. 2016. 287 p. Tese (Doutorado em Direito) – Centro de Ciências Jurídicas, Universidade 
Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2016.Disponível em 
https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/169667/342648.pdf?sequence=1&isAllowed=y. 
Acesso em 3.3.2022. 
5 OLIVEIRA, Caio César de. Eliminação, Desindexação e Esquecimento na Internet. 1ª ed., São Paulo, 
Thomson Reuters Brasil, 2020, p. 28. 
https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/169667/342648.pdf?sequence=1&isAllowed=y
16 
 
 
 
O caso Landru e o caso Lebach representam o direito ao esquecimento em seu modelo 
clássico, isto é, relacionado à esfera penal e à ideia de ressocialização. A partir de 2014, com o 
julgamento do caso Costeja González x Google Spain, pelo Tribunal de Justiça da União 
Europeia (“TJUE”), o direito ao esquecimento ganhou novos significados e seu escopo foi – e 
vem sendo – drasticamente expandido. A decisão, que será revisitada ao longo do presente 
trabalho, foi um marco porque trouxe, pela primeira vez, a aplicação do “esquecimento” na 
Internet. 
Ao buscar por seu nome no Google, o senhor Mário González se deparou com uma 
notícia de 1998 sobre uma dívida que tinhacom a seguridade social espanhola e que há tempo 
havia sido paga. Diante disso, ingressou com uma reclamação na Agencia Española de 
Protección de Datos (“AEPD”) em face do jornal La Vanguardia, da Google Spain e da Google 
Inc. Solicitou que as páginas fossem suprimidas ou alteradas e que seus dados pessoais fossem 
ocultados para que a notícia não aparecesse nos resultados de busca por seu nome. A Agencia 
rejeitou o pedido em relação ao jornal, mas entendeu que os motores de busca6 se 
responsabilizam pelo tratamento de dados pessoais por se submeterem à General Data 
Protection Regulation (“GDPR” – lei de proteção de dados) e, portanto, deferiu a desindexação, 
isto é, a retirada daqueles resultados de pesquisa7. 
O caso foi, então, encaminhado para o TJUE em grau recursal por ser hipótese de 
interpretação da Diretiva 95/46/CE8, que à época era texto de referência, a nível europeu, em 
matéria de proteção de dados. Por fim, o Tribunal (i) reconheceu a plausibilidade do titular de 
dados pessoais pleitear a desindexação de links relacionadas ao seu nome com fundamento no 
art. 12, (b) e no art. 14, (a) da referida Diretiva; (ii) estabeleceu que o provedor de busca atua 
 
6 Sobre o conceito de motor/provedor de busca, o STJ entende o seguinte: “[n]a hipótese específica 
dos sites de busca, verifica-se a disponibilização de ferramentas para que o usuário realize pesquisas 
acerca de qualquer assunto ou conteúdo existente na web, mediante fornecimento de critérios ligados 
ao resultado desejado, obtendo os respectivos links das páginas onde a informação pode ser 
localizada. Essa provedoria de pesquisa constitui uma espécie do gênero provedor de conteúdo, pois 
esses sites não incluem, hospedam, organizam ou de qualquer outra forma gerenciam as páginas 
virtuais indicadas nos resultados disponibilizados, se limitando a indicar links onde podem ser 
encontrados os termos ou expressões de busca fornecidos pelo próprio usuário.” In: REsp nº 
1.316.921/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, j. em 26.6.2012, p. em 29.6.2012. 
7 RODRIGUES JÚNIOR, Otávio Luiz. Direito de apagar dados e a decisão do tribunal europeu no caso 
Google Espanha. ConJur, 2014. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2014-mai-21/direito-apagar-
dados-decisao-tribunal-europeu-google-espanha. Acesso em 5.3.2022. 
8 Promulgada em 1995, a Diretiva 95/46/CE institui um quadro regulamentar com o objetivo de equilibrar 
vida privada e livre circulação de dados. Confira-se: https://eur-lex.europa.eu/legal-
content/PT/LSU/?uri=celex:31995L0046. Acesso em 5.3.2022. 
https://www.conjur.com.br/2014-mai-21/direito-apagar-dados-decisao-tribunal-europeu-google-espanha
https://www.conjur.com.br/2014-mai-21/direito-apagar-dados-decisao-tribunal-europeu-google-espanha
https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/LSU/?uri=celex:31995L0046
https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/LSU/?uri=celex:31995L0046
17 
 
 
 
como controlador devido à indexação; e (iii) declarou que as informações questionadas 
perderam a conveniência com o decurso do tempo9. 
 
II) O DESDOBRAMENTO DO DIREITO AO ESQUECIMENTO NOS TRIBUNAIS 
NACIONAIS 
 
Mesmo sem qualquer previsão normativa sobre o tema, juristas e doutrinadores 
brasileiros acompanharam o debate internacional e já demonstravam interesse pelo direito ao 
esquecimento ainda nos anos 9010 e, com o passar do tempo, a discussão finalmente alcançou 
os Tribunais nacionais. No entanto, a análise da jurisprudência brasileira leva à constatação da 
pluralidade de fundamentações na aplicação do direito ao esquecimento. A expansão do 
conceito ocasionada pelo caso Costeja González é, portanto, perceptível. 
O Superior Tribunal de Justiça (“STJ”) já lidou com a temática em algumas ocasiões 
que merecem destaque. No caso Chacina da Candelária11, o programa de TV “Linha Direta 
Justiça” exibiu a reconstituição do crime, expondo nomes e imagens dos acusados à época pelo 
assassinato de oito jovens em situação de rua. Um dos suspeitos, contudo, havia sido absolvido 
pelo Tribunal do Júri e, diante da exibição, propôs uma ação indenizatória em face da TV Globo. 
O direito ao esquecimento e o abuso de informar foram reconhecidos em primeira instância e 
pelo STJ, em grau recursal. Segundo o Tribunal, “a fatídica história seria bem contada e de 
forma fidedigna sem que para isso a imagem e o nome do autor precisassem ser expostos em 
rede nacional”. 
Quanto ao Recurso Especial (“REsp”) nº 1.316.921/RJ12, na origem Xuxa Meneghel 
ajuizou ação contra a Google Brasil com a pretensão de desvincular seu nome de resultados 
relacionados ao filme “Amor Estranho Amor”, no qual contracena seminua com um menor de 
idade. Além do pedido de desindexação, Xuxa percebeu que ao digitar seu nome na caixa de 
 
9 A íntegra da decisão está disponível na seguinte página: https://eur-lex.europa.eu/legal-
content/EN/TXT/?uri=CELEX%3A62012CJ0131 Acesso em 5.3.2022. 
10 JÚNIOR RODRIGUES, Otávio Luiz. Brasil debate direito ao esquecimento desde 1990. ConJur, 2013. 
Disponível em: https://www.conjur.com.br/2013-nov-27/direito-comparado-brasil-debate-direito-
esquecimento-1990. Acesso em 4.3.2022. 
11 STJ. REsp nº 1.334.097/RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, j. em 28.5.2013, p. em 
10.9.2013. Disponível em 
https://scon.stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_registro=201201449107&dt_publicacao=
10/09/2013. 
12 STJ. REsp nº 1.316.921/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, j. em 26.6.2012, p. em 
29.6.2012. Disponível em 
https://scon.stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_registro=201103079096&dt_publicacao=
29/06/2012. 
https://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/?uri=CELEX%3A62012CJ0131
https://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/?uri=CELEX%3A62012CJ0131
https://www.conjur.com.br/2013-nov-27/direito-comparado-brasil-debate-direito-esquecimento-1990
https://www.conjur.com.br/2013-nov-27/direito-comparado-brasil-debate-direito-esquecimento-1990
https://scon.stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_registro=201201449107&dt_publicacao=10/09/2013
https://scon.stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_registro=201201449107&dt_publicacao=10/09/2013
https://scon.stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_registro=201103079096&dt_publicacao=29/06/2012
https://scon.stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_registro=201103079096&dt_publicacao=29/06/2012
18 
 
 
 
busca termos como “pedófila” eram automaticamente sugeridos pela Google àquele usuário, 
que sequer poderia ter a pretensão de realizar aquela pesquisa específica, mas foi induzido a 
fazê-la. Diante disso, pediu também pela exclusão da sugestão de pesquisa desses termos. 
A resposta do Tribunal, contudo, foi negativa. O STJ negou provimento ao pedido da 
recorrente, fazendo prevalecer a liberdade de informação sob o fundamento de que “não se 
pode, sob o pretexto de dificultar a propagação de conteúdo ilícito ou ofensivo na web, reprimir 
o direito da coletividade à informação”. 
Em contrapartida, no REsp nº 1.660.168/RJ13, a Terceira Turma do STJ reconheceu, 
excepcionalmente, a existência de um direito ao esquecimento. A recorrente (D.P.N.14) pleiteou 
a desindexação de seu nome em resultados de busca de notícia sobre possível fraude em 
concurso público. O Conselho Nacional de Justiça (“CNJ”) já havia concluído que não existiam 
elementos suficientes para condená-la. Assim, o STJ determinou que os provedores de busca 
desvinculassem o nome de D.P.N. da referida notícia. A Turma entendeu que a essência do 
direito ao esquecimento não trata de efetivamente apagar o passado, “mas de permitir que a 
pessoa envolvida siga sua vida com razoável anonimato, não sendo o fato desabonador 
corriqueiramente rememorado e perenizado por sistemas automatizados de busca”. 
Por fim, o caso Aída Curi15, que será mais bem analisado no próximo tópico. Aqui, ao 
contrário do entendimento firmado na análise do caso Chacina da Candelária, o Tribunal deixou 
de reconhecer a incidência deum direito ao esquecimento, por entender que não haveria como 
a imprensa falar sobre o caso Aída Curi sem menção à vítima. 
Evidentemente, antes de chegar ao STJ, a discussão sobre o esquecimento iniciou nos 
tribunais inferiores. Nesse sentido, com o objetivo de melhor ilustrar os desdobramentos do 
tema nas cortes ordinárias, Oliveira16 elaborou um levantamento jurisprudencial e elencou os 
principais fundamentos utilizados para o reconhecimento do direito ao esquecimento. São eles: 
(i) o art. 64, I, do Código Penal (“CP”)17, que visa apagar o registro de condenações criminais 
 
13 STJ. REsp nº 1.660.168/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, j. em 8.5.2018, p. em 
5.6.2018. Disponível em 
https://processo.stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_registro=201402917771&dt_publicac
ao=05/06/2018. 
14 O processo correu em segredo de justiça, por isso o uso de suas iniciais. 
15 STJ. REsp nº 1.335.153/RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, j. em 28.5.2013, p. em 
10.9.2013. Disponível em 
https://scon.stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_registro=201100574280&dt_publicacao=
10/09/2013. 
16 OLIVEIRA, op. cit., pp. 97-98. 
17 CP. Art. 64 - Para efeito de reincidência: 
I - não prevalece a condenação anterior, se entre a data do cumprimento ou extinção da pena e a 
infração posterior tiver decorrido período de tempo superior a 5 (cinco) anos, computado o período de 
prova da suspensão ou do livramento condicional, se não ocorrer revogação; 
https://processo.stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_registro=201402917771&dt_publicacao=05/06/2018
https://processo.stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_registro=201402917771&dt_publicacao=05/06/2018
https://scon.stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_registro=201100574280&dt_publicacao=10/09/2013
https://scon.stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_registro=201100574280&dt_publicacao=10/09/2013
19 
 
 
 
transitadas em julgado há mais de cinco anos, para fins de reincidência; (ii) art. 43, § 1º, do 
Código de Defesa do Consumidor (“CDC”)18, com o objetivo de eliminação de dados negativos 
de consumo que excedam cinco anos; (iii) arts. 11, 12, 20 e 21 do Código Civil (“CC”)19, 
relativos aos direitos de personalidade; (iv) o Enunciado 531 da Jornada de Direito Civil, que 
dispõe que “a tutela da dignidade da pessoa humana na sociedade da informação inclui o direito 
ao esquecimento”; (v) o caso Costeja González; e (vi) o REsp nº 1.660.168/RJ, já 
supramencionado. 
Diante da diversidade desses resultados, o autor20 chega a afirmar que “o Brasil não 
possui um, mas vários ‘direitos ao esquecimento’”. Ele faz também um alerta para a 
“banalização e superinclusão do termo que, utilizado de forma genérica, tem o seu conteúdo 
esvaziado”. Nesse mesmo sentido, o professor Carlos Affonso Pereira de Souza deduz que a 
elasticidade conceitual do direito ao esquecimento favorece o seu uso oportunístico, esvazia a 
tutela dos direitos da personalidade e não entrega o esquecimento prometido. Confira-se21: 
Não existe consenso sobre o que seria o chamado direito ao esquecimento. Controle 
sobre o passado? Proibição da lembrança? A partir do amálgama de casos que vão 
desde a ressocialização de condenados que cumpriram sua pena de reclusão até a 
remoção de conteúdos online, é possível verificar que o “direito ao esquecimento” 
serve para as mais diversas funções e vem sendo invocado em situações das mais 
díspares. É preciso entender de onde surge esse apelo por um chamado direito ao 
esquecimento e quais são as consequências de sua adoção dessa maneira. 
Em tempos de hiperconexão, em que tantas informações sobre todos nós são 
facilmente acessadas, tratadas e vazadas, o direito ao esquecimento parece surgir 
como um antídoto à explosão de acesso e uso de informações pessoais alheias. Ele 
oferece uma ilusão de controle e de conforto. Como diz a ex-relatora para a Liberdade 
de Expressão da Organização dos Estados Americanos (OEA), Catalina Botero, o 
 
18 CDC. Art. 43. O consumidor, sem prejuízo do disposto no art. 86, terá acesso às informações 
existentes em cadastros, fichas, registros e dados pessoais e de consumo arquivados sobre ele, bem 
como sobre as suas respectivas fontes. 
§ 1° Os cadastros e dados de consumidores devem ser objetivos, claros, verdadeiros e em linguagem 
de fácil compreensão, não podendo conter informações negativas referentes a período superior a cinco 
anos. 
19 CC. Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são 
intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária. 
Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas 
e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei. 
Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem 
pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização 
da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização 
que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins 
comerciais. 
Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará 
as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma. 
20 OLIVEIRA, op. cit., p. 98. 
21 SOUZA, Carlos Affonso Pereira de. Sustentação do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS Rio) no 
julgamento do caso Ainda Curi (“direito ao esquecimento”) no STF (03.02.2021). Instituto de Tecnologia 
e Sociedade do Rio, 2021. Disponível em: https://itsrio.org/wp-
content/uploads/2021/02/Sustentac%CC%A7a%CC%83o-Direito-ao-Esquecimento-STF-2021.pdf 
Acesso em 7.3.2022. 
https://itsrio.org/wp-content/uploads/2021/02/Sustentac%CC%A7a%CC%83o-Direito-ao-Esquecimento-STF-2021.pdf
https://itsrio.org/wp-content/uploads/2021/02/Sustentac%CC%A7a%CC%83o-Direito-ao-Esquecimento-STF-2021.pdf
20 
 
 
 
chamado direito ao esquecimento não é uma categoria jurídica, mas sim uma 
“categoria emocional”. 
É entendendo esse apelo do chamado direito ao esquecimento que se pode perceber 
como a sua indeterminação conceitual passa então a servir aos propósitos mais 
distintos. Desde o apagamento de um nome ligado a atos cometidos durante a ditadura 
militar, passando pela desindexação de resultados em chaves de busca até o intuito de 
um parque de diversões em impedir a imprensa de se referir a um acidente ocorrido 
dez anos atrás. 
(...) 
Assim, ele tem servido, na verdade, para dar novo nome a lesões a outros direitos 
fundamentais ou da personalidade, como a honra, privacidade e nome. Receia-se que, 
ao se consagrar esse uso expandido, a tutela desses direitos passe a ser menosprezada, 
já que elas aparentemente não carregam o apelo que o chamado direito ao 
esquecimento parece comunicar. 
 
Tamanha incerteza sobre o que de fato fundamentava esse direito ao esquecimento 
começou a gerar burburinho no mundo jurídico. A consequência foi o advento de um debate 
doutrinário caloroso a respeito da compatibilidade desse direito com o ordenamento jurídico 
brasileiro. A controvérsia teve seu ápice durante o julgamento do Recurso Extraordinário 
(“RE”) nº 1.01.606/RJ pelo Supremo Tribunal Federal (“STF”), após o reconhecimento do 
Tema 786 da Repercussão Geral22. 
Após a realização da audiência pública23 do caso em questão, Anderson Schreiber 
pormenorizou a existência de três posições doutrinárias sobre a matéria: (i) a posição pró-
informação, que consiste no entendimento de que não existe um direito ao esquecimento porque 
não há previsão legal e tampouco é possível extraí-lo de algum direito fundamental. Os 
defensores dessa perspectiva consideram o direito ao esquecimento uma afronta à memória e à 
história de um povo; (ii) a posição pró-esquecimento, que o vê como uma expressão do direito 
à intimidade e à privacidade.Para esses juristas, o esquecimento é o direito de não ser lembrado 
contra a sua vontade e deve prevalecer sobre a liberdade de informação quando se trata de fatos 
pretéritos; e (iii) a posição intermediária, segundo a qual não existe hierarquia prévia e abstrata 
entre direitos fundamentais. Doutrinadores que acreditam nessa corrente apresentam a técnica 
de ponderação para cada caso concreto como solução viável24. 
 
22 “Aplicabilidade do direito ao esquecimento na esfera civil quando for invocado pela própria vítima ou 
pelos seus familiares”. 
23 Convocada pelo relator Min. Dias Toffoli e realizada em 12.6.2017. Transcrição disponível em 
https://www.stf.jus.br/arquivo/cms/audienciasPublicas/anexo/AUDINCIAPBLICASOBREODIREITOAO
ESQUECIMENTO_Transcries.pdf 
24 SCHREIBER, Anderson. As três correntes do direito ao esquecimento. JOTA, 2017. Disponível em: 
https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/as-tres-correntes-do-direito-ao-esquecimento-18062017 
Acesso em 7.4.2022. 
https://www.stf.jus.br/arquivo/cms/audienciasPublicas/anexo/AUDINCIAPBLICASOBREODIREITOAOESQUECIMENTO_Transcries.pdf
https://www.stf.jus.br/arquivo/cms/audienciasPublicas/anexo/AUDINCIAPBLICASOBREODIREITOAOESQUECIMENTO_Transcries.pdf
https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/as-tres-correntes-do-direito-ao-esquecimento-18062017
21 
 
 
 
Em frente a diversidade de opiniões sobre o assunto, em uma tentativa de pacificar o 
entendimento a respeito da temática, o STF, em 11 de fevereiro de 2021, julgou o RE nº 
1.01.606/RJ e fixou a seguinte tese: 
É incompatível com a Constituição a ideia de um direito ao esquecimento, assim 
entendido como o poder de obstar, em razão da passagem do tempo, a divulgação de 
fatos ou dados verídicos e licitamente obtidos e publicados em meios de comunicação 
social analógicos ou digitais. Eventuais excessos ou abusos no exercício da liberdade 
de expressão e de informação devem ser analisados caso a caso, a partir dos 
parâmetros constitucionais - especialmente os relativos à proteção da honra, da 
imagem, da privacidade e da personalidade em geral - e das expressas e específicas 
previsões legais nos âmbitos penal e cível. 
 
Visando a uniformização de ideias, diante das mais variadas possibilidades de aplicação 
desse direito, o presente trabalho utilizará o entendimento firmado pelo Supremo como conceito 
do que é direito ao esquecimento. Trata-se, então, do “poder de obstar, em razão da passagem 
do tempo, a divulgação de fatos ou dados verídicos e licitamente obtidos e publicados em meios 
de comunicação social analógicos ou digitais”. 
 
 
III) A DECISÃO PELA INCOMPATIBILIDADE DO DIREITO AO 
ESQUECIMENTO COM O ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO 
 
Nesse primeiro momento, antes de entrar no mérito da decisão, cabe narrar os fatos que 
caracterizam o notório caso Aída Curi. 
 
a. Contextualizando o caso Aída Curi 
 
Aída Jacob Curi tinha dezoito anos quando foi abusada sexualmente, torturada e atirada 
do terraço de um prédio na Avenida Atlântica em 14 de julho de 1958. O crime chocou o país 
e ficou marcado como o acontecimento que representou o fim da inocência do bairro de 
Copacabana, na Zona Sul do Rio de Janeiro25. 
Em 29 de abril 2004, o programa da Rede Globo, “Linha Direta Justiça”, transmitiu a 
reconstituição do crime26, disponibilizando nome e imagens da vítima, de sua mãe e de seus 
irmãos. Além disso, a simulação narrou com riqueza de detalhes a história da família Curi desde 
a infância de Aída e contou com depoimentos de pessoas próximas a ela. 
 
25 GLOBO. Linha Direta Justiça. Caso Aída Curi. Disponível em: 
http://redeglobo.globo.com/Linhadireta/0,26665,GIJ0-5257-215780,00.html. Acesso em 9.3.2022 
26 O fatídico episódio exibido na televisão ainda está disponível no YouTube. Confira-se: 
https://www.youtube.com/watch?v=-0EaMgW9-no. 
http://redeglobo.globo.com/Linhadireta/0,26665,GIJ0-5257-215780,00.html
https://www.youtube.com/watch?v=-0EaMgW9-no
22 
 
 
 
É nesse contexto que Maurício, Nelson, Roberto e Waldir, irmãos da vítima, ajuizaram 
uma ação de indenização por danos morais em face da Globo Comunicação e Participações 
S/A, sob o fundamento de que o uso da imagem de Aída e seus familiares não havia sido 
autorizado, em clara afronta ao seu direito à privacidade. Ademais, alegaram que o programa 
era inoportuno, uma vez que não havia por que reviver o crime após quase 50 anos de sua 
ocorrência e o interesse público não persistia mais em relação àquela história. 
A sentença de primeiro grau indeferiu os pedidos dos autores e foi confirmada em 
segundo grau, pela 15ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (“TJRJ”). Desde 
esse momento, os desembargadores já falavam em esquecimento. Confira-se trecho da ementa27 
da apelação: 
Os fatos expostos no programa eram do conhecimento público e, no passado, foram 
amplamente divulgados pela imprensa. A matéria foi, é discutida e noticiada ao longo 
dos últimos cinquenta anos, inclusive, nos meios acadêmicos. A Ré cumpriu com sua 
função social de informar, alertar e abrir o debate sobre o controvertido caso. Os 
meios de comunicação também têm este dever, que se sobrepõe ao interesse 
individual de alguns, que querem e desejam esquecer o passado. O esquecimento 
não é o caminho salvador para tudo. Muitas vezes é necessário reviver o passado 
para que as novas gerações fiquem alertadas e repensem alguns procedimentos de 
conduta do presente. – grifos acrescentados 
 
Diante disso, os irmãos interpuseram recurso especial e recurso extraordinário. Como já 
comentado no tópico anterior, o STJ, apesar de reconhecer a existência do direito ao 
esquecimento para o ofendido – vítima e família –, afastou a incidência desse direito no caso 
concreto. Isso porque, nos termos do voto do relator, Ministro Luis Felipe Salomão, (i) tratava-
se de um crime de repercussão nacional em que a vítima se torna elemento indissociável do 
delito; e (ii) tendo em vista que o crime aconteceu há mais de 50 anos, conforme o passar do 
tempo a dor vai diminuindo, de forma que o desconforto que surge ao relembrar aqueles fatos 
não se compara à dor que os familiares sentiam à época do ocorrido. 
Em 2016, o STF reconheceu a existência do Tema 786 da Repercussão Geral: a 
aplicabilidade do direito ao esquecimento na esfera civil quando for invocado pela própria 
vítima ou pelos seus familiares. Em 12 de junho de 2017, foi realizada a audiência pública sobre 
a temática. E, finalmente, nos dias 4, 5, 11 e 12 de fevereiro de 2021, o Plenário do STF julgou 
o RE nº 1.010.606, decidindo pela incompatibilidade do direito ao esquecimento com a 
Constituição Federal, nos termos do voto do relator, Ministro Dias Toffoli. 
 
 
 
27 TJRJ. Apelação nº 0123305-77.2004.8.19.0001, Rel. Des. Ricardo Rodrigues Cardozo, Décima 
Quinta Câmara Cível, j. em 17.8.2010. Disponível em: 
http://www4.tjrj.jus.br/EJURIS/ImpressaoConsJuris.aspx?CodDoc=1111608&PageSeq=0. 
http://www4.tjrj.jus.br/EJURIS/ImpressaoConsJuris.aspx?CodDoc=1111608&PageSeq=0
23 
 
 
 
b. Comentários sobre o julgamento do Recurso Extraordinário nº 1.010.606/RJ 
 
Fazer uma análise crítica do acerto ou não da decisão do STF está além das pretensões 
deste trabalho. Aqui, o propósito é reconhecer que o direito ao esquecimento foi afastado do 
ordenamento jurídico, mas que a decisão ainda foi insuficiente e/ou omissa em pontos 
significativos, especialmente sobre a possibilidade de aplicação do direito à desindexação. Sem 
dúvidas, trata-se da primeira de muitas das futuras e inevitáveis discussões do Supremo sobre 
a temática. 
O relator iniciou seu voto traçando uma análise histórica do direito ao esquecimento no 
campo internacional. No decorrer de sua exposição, constatou dois elementos comuns entre o 
direito ao esquecimento clássico (droit à l’oubli, associado ao caso Landru) e o direito ao 
esquecimento contemporâneo (do caso Costeja González). 
São eles: (i) a licitude dainformação, visto que o fato ou dado impugnado além de 
verdadeiro deve ter sido obtido de forma lícita; e (ii) o decurso do tempo, que consiste, de 
acordo com Toffoli, na viga central do direito ao esquecimento, não sendo computado pelo 
transcurso de um período pré-determinado, mas sim até a descontextualização da informação 
e/ou destituição do interesse público. 
A partir daí, Toffoli indaga a respeito da existência de um direito fundamental ao 
esquecimento, momento em que se questiona por qual motivo o Tribunal deveria validar a 
existência de um novo direito que visa garantir direitos preexistentes e já consolidados no 
ordenamento jurídico brasileiro, como ressocialização, honra, privacidade, imagem e nome. 
Esses direitos, por si só, já teriam instrumentos voltados para sua tutela ou realmente era 
necessário um direito ao esquecimento para salvaguardá-los? Nas palavras de Luiz Fernando 
Marrey Moncau28, “o uso da expressão ‘direito ao esquecimento’ parece servir apenas ao 
propósito de emprestar renovada força a direito já existente ou a seus fomentos jurídicos”. 
Toffoli explica que em uma sociedade que tem a informação como sua matéria prima29 
a pretensão do direito ao esquecimento tomou proporções relevantes como uma resposta à 
invasão da privacidade no meio digital. O caminho, todavia, foi inadequado para o Ministro, 
porque no lugar de “se combaterem os efeitos da ‘hiperinformação’ sobre os direitos da 
 
28 MONCAU, Luiz Fernando Marrey. Direito ao Esquecimento – Ed. 2020. Revista dos Tribunais, 
20200305. ISBN ‘978-65-5065-268-5’. 
29 WERTHEIN, Jorge. A sociedade da informação e seus desafios. Ciência da Informação, Brasília, v. 
29, n. 2, pp. 71-77, maio/ago. 2000. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/ci/v29n2/a09v29n2.pdf 
Acesso em 12.3.2022. 
https://www.scielo.br/pdf/ci/v29n2/a09v29n2.pdf
24 
 
 
 
personalidade, tem-se optado por conclamar a ‘hipoinformação’ em uma associação, ao fim e 
ao cabo, danosa aos próprios direitos fundamentais”. 
Assim, a solução que prevaleceu no Plenário para resolver a questão foi o emprego da 
técnica de ponderação de normas, de valores e de interesses. O Ministro Luís Roberto Barroso, 
ao tratar da referida metodologia em obra própria, elucida que devem ser feitas concessões 
recíprocas entre as pretensões em disputa, mas que, em situações extremas, é preciso escolher, 
com fundamento constitucional adequado, qual direito deve prevalecer e qual deve ser 
sacrificado30. Foi o que aconteceu no julgamento do presente recurso extraordinário, em que a 
disputa se deu entre direitos da personalidade e liberdade de expressão. 
De um lado, os direitos da personalidade, previstos originalmente pelo Código Civil, 
mas que, com o desenvolvimento do direito civil constitucional, também passaram a ser 
tutelados pela Constituição por meio dos dispositivos do art. 5º e do princípio da dignidade da 
pessoa humana. Para Gustavo Tepedino, a tutela da personalidade é dotada do atributo da 
elasticidade. Isso significa dizer que tais direitos contam com uma alta cobertura de proteção, 
“capaz de incidir a proteção do legislador e, em particular, o ditame constitucional de 
salvaguarda da dignidade humana a todas as situações, previstas ou não, em que a 
personalidade, entendida como valor máximo do ordenamento, seja o ponto de referência 
objetivo”31. 
O direito à vida privada talvez seja o ponto chave ao tratarmos do que o direito ao 
esquecimento pretende escudar. A um primeiro olhar, é possível enxergar a privacidade como 
uma insígnia individualista associada à lógica atribuída ao direito à propriedade, mas conforme 
se vê sua aplicação prática, percebe-se sua conversão em um direito de caráter social32. 
Do outro, há a liberdade de expressão, direito humano universal e coletivo33. Sabe-se 
que o Brasil foi um país marcado pela censura e que as liberdades de expressão e de imprensa 
e o acesso à informação foram uma verdadeira conquista da população brasileira. Nas palavras 
de Goffredo Teles Júnior, em manifesto de repúdio à ditadura, “[a] censura rigorosa, exercida 
 
30 BARROSO, Luís Roberto. Liberdade de expressão versus direitos da personalidade. Colisão de 
direitos fundamentais e critérios de ponderação. In: BARROSO, Luís Roberto. Temas de Direito 
Constitucional – Volume III. 2ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2008, pp. 79-129. 
31 TEPEDINO, Gustavo. Temas de direito civil. 4ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2008, p. 55. 
32 SCHREIBER, Anderson. Os direitos da personalidade e o Código Civil de 2002, p. 22. Disponível em: 
http://schreiber.adv.br/downloads/os-direitos-da-personalidade-e-o-codigo-civil-de-2002.pdf. Acesso 
em 15.3.2022. 
33 Declaração Universal dos Direitos Humanos. Artigo 19: Todo ser humano tem direito à liberdade de 
opinião e expressão; esse direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, 
receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras. 
Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-humanos. 
http://schreiber.adv.br/downloads/os-direitos-da-personalidade-e-o-codigo-civil-de-2002.pdf
https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-humanos
25 
 
 
 
severamente nos órgãos da mídia, buscava escamotear dos olhos do povo grande parte da 
realidade”34. 
Ainda considerando a relação com a censura, Anderson Schreiber aponta suas 
preocupações frente a hipótese de uma colisão entre liberdade de expressão e privacidade. 
Vejamos: 
O tenebroso perigo de um retorno à “censura” não se afigura menos assustador que a 
ideia de que a vida privada de pessoas famosas pertence não a eles próprios, mas à 
história e à sociedade. Num caso, como noutro, um suposto interesse coletivo passa a 
autorizar a integral supressão ao exercício de um interesse existencial da pessoa – à 
liberdade de expressão, no caso da censura; à privacidade, no caso da exposição 
pública. Ao contrário, a postura também aqui não deve ser a da prevalência, mas a da 
ponderação.35 
 
O cenário fica ainda mais delicado quando lembramos que os direitos fundamentais 
surgiram por conta de lutas sociais. Rudolf Von Ihering36, já em 1872, declarava que todos os 
direitos da humanidade foram conquistados por meio da luta. “A paz é o fim que o direito tem 
em vista, a luta é o meio de que se serve para consegui-lo”, segundo o autor. Apesar de antiga, 
essa visão ainda se faz atual contexto político e social. Menelick de Carvalho Netto37 corrobora 
ao dizer que tais direitos são “conquistas históricas, aquisições evolutivas socialmente criadas, 
direitos institucionalizados em uma sociedade improvável, complexa”. 
Sendo assim, é compreensível a interpretação do direito ao esquecimento como mais 
uma ameaça à institutos que, nos últimos tempos, são constantemente postos à prova. “A minha 
geração lutou pelo direito de lembrar”, afirmou a Ministra Cármen Lúcia durante a leitura de 
seu voto no RE nº 1.010.606. Em sessão do TSE sobre pedido de remoção definitiva de 
conteúdo, o Ministro Marco Aurélio de Mello, por sua vez, enfatizou que “não existe, por 
exemplo, o direito ao esquecimento. Depois reclamam que o Brasil não tenha memória” e negou 
o pedido sob o fundamento de que “não pode haver censura, precisamos de memória, até mesmo 
para que fatos nefastos não se repitam”38. 
 
34 JUNIOR, Goffredo T. Carta aos brasileiros 1977: manifesto de repúdio da ditadura e de exaltação do 
"estado de direito já", 2ª edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2015, p. 20. 9788502627802. Disponível 
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788502627802/. Acesso em: 21.3.2022. 
35 Ibidem, p. 20. 
36 IHERING, Rudolf Von. A luta pelo direito. Tradução: João de Vasconcelos. São Paulo: Martin Claret, 
2009. 
37 CARVALHO NETTO, Menelick de. A hermenêutica constitucional e os desafios postos aos direitos 
fundamentais. In.: SAMPAIO, José Adércio Leite (org.). Jurisdição constitucionale os desafios 
fundamentais. Belo Horizonte: Del Rey, 2003, pp. 141-163. 
38 “NÃO existe direito ao esquecimento”, afirma ministro Marco Aurélio Mello. Migalhas, 2020. 
Disponível em: https://www.migalhas.com.br/quentes/334647/nao-existe-direito-ao-esquecimento---
afirma-ministro-marco-aurelio-mello Acesso em 22.3.2022. 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788502627802/
https://www.migalhas.com.br/quentes/334647/nao-existe-direito-ao-esquecimento---afirma-ministro-marco-aurelio-mello
https://www.migalhas.com.br/quentes/334647/nao-existe-direito-ao-esquecimento---afirma-ministro-marco-aurelio-mello
26 
 
 
 
Dessa mesma forma, o Ministro Luís Roberto Barroso, em seu voto no caso de 
autorização para publicação de biografias39, já havia afirmado que a liberdade de expressão 
deve ser vista como uma liberdade preferencial no contexto brasileiro. Essa preferência, 
entretanto, não consistiria em hierarquização em relação a outros direitos fundamentais, mas 
em uma transferência do ônus argumentativo. Segundo Barroso: “[q]uem desejar afastar a 
liberdade de expressão é que tem que ser capaz de demonstrar as suas razões, porque, prima 
facie, em princípio, é ela que deve prevalecer”. 
Em acordo com a argumentação supramencionada, o Supremo entendeu, por um placar 
de 6 votos contra 3, pela ausência de um direito fundamental ao esquecimento no ordenamento 
nacional. Para resolução de questões associadas ao tema, como já exposto anteriormente, o 
relator identificou que seria necessário que Tribunais realizassem a ponderação de valores entre 
liberdade de expressão e direitos da personalidade, institutos estes amplamente protegidos tanto 
pela Constituição quanto pela legislação infraconstitucional. 
No entanto, a declaração de inconstitucionalidade foi alvo de críticas de juristas por 
diversos motivos. Há comentários a respeito da veiculação de repercussão geral tanto ao direito 
ao esquecimento quanto ao caso Aída Curi, por se tratar uma demanda ajuizada pela família da 
vítima contra emissora de televisão, o que complexifica a adaptação do precedente para vários 
outros litígios relacionados à internet, que são a maioria atualmente.40 
Grandes juristas também já se manifestaram sobre as possíveis consequências da 
decisão do Supremo sobre esse tema. Para Anderson Schreiber41, a tese fixada pelo STF não 
solucionou definitivamente a questão e foi insuficiente em vários aspectos. A multiplicidade na 
definição do termo e o uso do direito ao esquecimento como uma “muleta” para apoiar e 
fundamentar diversos pedidos42 impediu que os Ministros definissem propriamente o que se 
entende por esse direito ao esquecimento no Brasil. Somente foi afastada a incidência de tal 
direito sem ao menos haver um acordo sobre do que se trata. 
 
39 STF. ADI nº 4.815, Rel. Min. Cármen Lúcia, Plenário, j. em 10.6.2015, p. em 1.2.2016. Disponível 
em: https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=10162709. 
40 MARTINS, Guilherme Magalhães. Direito ao esquecimento no STF: A tese da repercussão geral 786 
e seus efeitos. Migalhas. 18 de fev. de 2021. Migalhas de Responsabilidade Civil. Disponível em: 
https://www.migalhas.com.br/coluna/migalhas-de-responsabilidade-civil/340463/direito-ao-
esquecimento-no-stf-repercussao-geral-786-e-seus-efeitos Acesso em 22.3.2022. 
41 DIREITO CIVIL BRASILEIRO. Direito ao Esquecimento e Liberdade de Expressão – Tema 786: os 
impactos da decisão do STF. YouTube, 22 de fev. de 2021. Disponível em: 
https://www.youtube.com/watch?v=sa-0A9vvwk8 Acesso em 3.3.2022. 
42 OLIVEIRA, op. cit., p. 139. 
https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=10162709
https://www.migalhas.com.br/coluna/migalhas-de-responsabilidade-civil/340463/direito-ao-esquecimento-no-stf-repercussao-geral-786-e-seus-efeitos
https://www.migalhas.com.br/coluna/migalhas-de-responsabilidade-civil/340463/direito-ao-esquecimento-no-stf-repercussao-geral-786-e-seus-efeitos
https://www.youtube.com/watch?v=sa-0A9vvwk8
27 
 
 
 
Na mesma linha de raciocínio, Carlos Affonso43 sustenta que o próprio caso Aída Curi 
era inadequado para definição em sede de repercussão geral do que viria a ser o direito ao 
esquecimento, visto que se tratava de um caso de televisão. Atualmente, em frente à hiper 
conexão, o cerne da discussão está na internet. Mesmo com todos os poréns sobre o julgamento, 
para o autor, a tese costurada no Supremo tem um efeito inicial positivo pois suprimiu o uso 
expandido impróprio da figura do direito ao esquecimento. 
Assim, sabendo (i) em que contexto esse direito ao esquecimento surgiu; (ii) como se 
deram as discussões iniciais do tema pelos tribunais brasileiros; e (iii) as razões por trás da 
declaração de inconstitucionalidade do direito ao esquecimento pela Suprema Corte, a partir de 
agora podemos tratar sobre o cerne desse trabalho: o direito à desindexação, que ganha espaço 
e relevância em meio às omissões deixadas pelo Plenário do STF na decisão do RE nº 
1.010.606/RJ. 
 
 
 
 
43 DIREITO CIVIL BRASILEIRO, op. cit. 
28 
 
 
 
CAPÍTULO 2 – O DIREITO À DESINDEXAÇÃO 
 
I) A DESINDEXAÇÃO COMO POSSÍVEL SOLUÇÃO PARA OS EVENTUAIS 
EXCESSOS E ABUSOS DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO NO MEIO 
DIGITAL 
 
Como pudemos perceber, a decisão do STF é de uma interpretação relativamente 
complexa. Apesar de afastar o direito ao esquecimento de maneira definitiva ao declarar sua 
inconstitucionalidade, ainda foi feita a ressalva sobre casos concretos que digam respeito aos 
direitos de personalidade. Destaca-se o trecho final da tese firmada pela Suprema Corte: 
Eventuais excessos ou abusos no exercício da liberdade de expressão e de 
informação devem ser analisados caso a caso, a partir dos parâmetros 
constitucionais - especialmente os relativos à proteção da honra, da imagem, da 
privacidade e da personalidade em geral - e das expressas e específicas previsões 
legais nos âmbitos penal e cível. – grifos acrescentados 
 
Como se vê, o STF deixou em aberto a forma pela qual deve se dar a resolução de tais 
excessos e abusos na liberdade de expressão e informação, o que também pode ser apontado 
como uma crítica. Contudo, a decisão abre espaço para que juristas sugiram uma resposta 
exequível e eficiente. 
É claro que esse eventual excesso ou abuso no exercício a liberdade de expressão e de 
informação depende das peculiaridades de cada situação. Porém, pensando no universo digital, 
principal fonte para busca de informações atualmente, é perceptível que solicitações de remoção 
de conteúdo estão cada vez mais frequentes. Recente levantamento da Statista44, que registrou 
o número de determinações judiciais para remoção de conteúdo do Google em âmbito mundial 
entre janeiro e junho de 2021, aponta o Brasil como oitavo país no ranking, sendo o único da 
América Latina. 
Imagine os seguintes fatos: ao buscar o nome de uma determinada pessoa em certo 
motor de busca, verifica-se que ela foi processada criminalmente, mas não há qualquer menção 
ao fato de que ela também foi absolvida. Ou, caso essa informação esteja disponível, ela 
somente foi apresentada na segunda página de resultados da pesquisa. Assim, levando em conta 
a conclusão da Suprema Corte, segundo a qual não há um direito ao esquecimento que possa 
levar à supressão ou alteração de um conteúdo, o que é viável fazer, tendo por fundamento a 
 
44 JOHNSON, Joseph. Government requests for content removal from Google H1 2021. Number of 
government and court requests for content removal from Google from January to June 2021, by country. 
STATISTA. https://www.statista.com/statistics/268257/goverment-requests-for-content-removal-from-
google/ Acesso em 15.3.2022. 
https://www.statista.com/statistics/268257/goverment-requests-for-content-removal-from-google/
https://www.statista.com/statistics/268257/goverment-requests-for-content-removal-from-google/
29 
 
 
 
proteção de direitos da personalidade preestabelecidos, paratornar a divulgação desse conteúdo 
mais adequada e, ainda assim, respeitar a liberdade de expressão? 
É diante da brecha deixada pelo Supremo e desse questionamento que o direito à 
(des)indexação sobrevém e ganha importância no debate. Dependendo da forma que a 
indexação é feita, ela pode ser desatualizada, injusta e até mesmo parcial. Consoante o caso 
concreto, apenas uma modificação na disposição da indexação pode ser suficiente para explorar 
devidamente os pontos da trajetória de determinado indivíduo, mas também vão haver casos 
em que, de fato, constatam-se excessos na liberdade de expressão e o conteúdo precisa, de fato, 
ser desvinculado do nome daquele indivíduo. 
Assim, neste momento, o objetivo do trabalho é apresentar a desindexação como 
mecanismo possível para o resguardo dos direitos de personalidade em equilíbrio com o 
respeito pela liberdade de expressão, de imprensa e o acesso à informação. Para tanto, 
inicialmente, é preciso diferenciá-la do direito ao esquecimento, haja vista que os institutos 
foram e ainda são tratados erroneamente como sinônimos. Esclarecidos os conceitos, partimos 
para uma análise crítica do atual entendimento jurisprudencial a respeito da aplicação da 
desindexação na prática e da inexistência de responsabilização dos mecanismos de busca. 
 
II) ESQUECIMENTO E DESINDEXAÇÃO: COMO DIFERENCIÁ-LOS? 
 
Ainda durante o julgamento do RE nº 1.010.606/RJ, após a análise do caso Costeja 
González, o Ministro Dias Toffoli fez questão de diferenciar o direito ao esquecimento da 
desindexação: 
Compreendidos os pressupostos adotados pelo TJUE, destaco que nestes autos não 
se travará uma apreciação do exato alcance da responsabilidade dos provedores 
de internet em matéria de indexação/desindexação de conteúdos obtidos por 
motores de busca. 
A uma, porque a desindexação foi apenas o meio de que se valeu o TJUE para garantir 
ao interessado o direito pretendido (que a informação que englobava seus dados 
pessoais deixasse de estar à disposição do grande público), não se confundindo, 
portanto – e ao contrário do que muito se propala –, desindexação com direito 
ao esquecimento. 
A duas – e sob a mesma ordem de ideias –, porque o tema desindexação é 
significativamente mais amplo do que o direito ao esquecimento. Há inúmeros 
fundamentos e interesses que podem fomentar um pedido de desindexação de 
conteúdos da rede, muitos dos quais absolutamente dissociados de um suposto de 
direito ao esquecimento. (grifos no original) 
 
A essa altura, sabemos que o direito ao esquecimento diz respeito a remoção de um fato 
verídico obtido de forma lícita que, em virtude do lapso temporal, perdeu o interesse público e 
30 
 
 
 
sua publicidade ameaça ou gera efetivamente danos aos direitos da personalidade do indivíduo 
requerente. 
Há de se ressaltar que o direito ao esquecimento não se confunde, em hipótese alguma, 
com o direito ao apagamento de dados pessoais. Esse tem previsão legal na LGPD e consiste 
na exclusão de dados, que pode ser (i) requerida pelo titular de quando houver seu 
consentimento para o compartilhamento de dados ou quando esses dados forem considerados 
desnecessários, excessivos ou tratados em desconformidade com a LGPD; (ii) requerida pelos 
agentes de tratamento quando a finalidade do tratamento daqueles dados for cumprida; ou (iii) 
imposta como sanção pela ANPD. 
Por sua vez, os provedores de conteúdo45 – como Google, Yahoo! e Bing – são 
ferramentas utilizadas no meio digital para encontrar qualquer conteúdo por meio de palavras 
chaves. A listagem desses resultados “funciona por meio de softwares robôs que vasculham as 
informações disponibilizadas na Web, o que possibilita ao mecanismo de busca elaborar um 
índice, contendo as informações a respeito dos Websites visitados”46. A essa listagem, se dá o 
nome indexação. 
Se indexar diz respeito à listagem dos resultados de pesquisa de um determinado termo, 
logo a desindexação consiste na modificação desses mesmos resultados. Alguns autores, como 
Marcel Leonardi47, defendem que “a medida equivale a arrancar o índice de um livro”, ou seja, 
o facilitador que indicava onde era possível encontrar aquele conteúdo se tornou indisponível, 
mas o conteúdo em si ainda existe. 
No entanto, ressaltamos que essa analogia da desindexação com o índice de livro soa 
um tanto quanto simplista, obscurece o protagonismo dos provedores de busca no controle do 
fluxo informacional e ignora a relevância indiscutível dos algoritmos na construção dessa 
 
45 No REsp nº 1.316.921/RJ (Caso Xuxa Meneghel), o STJ classificou os provedores de serviço de 
Internet em 5 (cinco) categorias distintas: “Os provedores de serviços de Internet são aqueles que 
fornecem serviços ligados ao funcionamento dessa rede mundial de computadores, ou por meio dela. 
Trata-se de gênero do qual são espécies as demais categorias, como: (i) provedores de backbone 
(espinha dorsal), que detêm estrutura de rede capaz de processar grandes volumes de informação. 
São os responsáveis pela conectividade da Internet, oferecendo sua infraestrutura a terceiros, que 
repassam aos usuários finais acesso à rede; (ii) provedores de acesso, que adquirem a infraestrutura 
dos provedores backbone e revendem aos usuários finais, possibilitando a estes conexão com a 
Internet; (iii) provedores de hospedagem, que armazenam dados de terceiros, conferindo-lhes acesso 
remoto; (iv) provedores de informação, que produzem as informações divulgadas na Internet; e (v) 
provedores de conteúdo, que disponibilizam na rede os dados criados ou desenvolvidos pelos 
provedores de informação ou pelos próprios usuários da web”. De acordo com essa classificação, 
portanto, os mecanismos/provedores de busca seriam considerados também provedores de conteúdo. 
46 LEONARDI, Marcel. Fundamentos do direito digital. São Paulo: Editora Thomson Reuters, 2019, p. 
168. 
47 Ibidem, p. RB-6.3. 
31 
 
 
 
indexação. A ideia do índice desconsidera a conduta ativa dos mecanismos de busca, que 
chegam inclusive a sugerir termos de pesquisa para o usuário, e convalida o modelo de 
responsabilidade altamente restritivo que o presente trabalho tanto busca combater, conforme 
será mais bem explicado no tópico III desde capítulo. 
Assim, desindexar é “marcar o URL para que ele não conste dos resultados de busca de 
buscadores normais. Isso significa que quando o usuário digita o conteúdo buscado em um 
campo de busca, ainda que o conteúdo esteja público, não será mostrado na lista dos 
resultados”48. 
Como evidenciado pelo Ministro Dias Toffoli em seu voto, a desindexação não se limita 
à causa de pedir embasada no direito ao esquecimento, isto é, sua aplicação não depende da 
existência de requisitos que caracterizam o esquecimento, sendo cabível também para as 
situações em que o titular de direitos é, de fato, ofendido com a divulgação de informações 
falsas ou excessivas. Tampouco há necessidade de se falar em transcurso do tempo ou dano ao 
tratar da desindexação. 
Aproveitamos para ressaltar que a indexação não se confunde com o direito de 
retificação, pois este exige a presença de excessos e/ou ato ilícito, além de ser referente a fonte 
original e estar positivado em lei própria (Lei nº 13.188/2015). A desindexação, por sua vez, 
não tem previsão normativa e trata, na verdade, de uma construção jurisprudencial. 
Talvez a diferença mais significativa entre o esquecimento e a desindexação seja o fato 
de esta preservar a informação original enquanto aquele tem o objetivo de subtrair a fonte 
originária. Explica-se: o direito ao esquecimento visa a indisponibilizar determinado fato 
verídico do passado que causa danos no presente49 e a maneira ideal de alcançar tal pretensão 
é justamente eliminando totalmente aquela informação do meio de comunicação em que se 
encontra. 
Na desindexação, o que é eliminado é aquele link para a fonte original, somente aquele 
resultado específico presente nabusca pelo nome de determinada pessoal natural, por exemplo. 
Mas caso a pesquisa seja realizada com outras palavras-chave ou a pessoa tenha acesso direto 
ao link da publicação, aquele conteúdo ainda estará disponível. 
É, portanto, perceptível que muitos dos casos aqui citados, que em um primeiro 
momento são relacionados ao “direito ao esquecimento” tratam, na verdade, de demandas 
 
48 VIOLA, Mario et al. Entre privacidade e liberdade de expressão: existe um direito ao esquecimento 
no Brasil. In: ALMEIDA, Vitor; BROCHADO, Ana Carolina; TEPEDINO, Gustavo (Coords.). O Direito 
Civil entre o sujeito e a pessoa: estudos em homenagem ao professor Stefano Rodotà. Belo Horizonte: 
Fórum, 2016, p. 366. 
49 OLIVEIRA, op. cit., p. 143. 
32 
 
 
 
relacionadas ao direito de desindexação. A pretensão dos demandantes era, na verdade, 
desatrelar determinadas páginas de seu nome ao realizar a pesquisa no provedor de busca, e não 
deletar o post original no site de origem. No plano nacional, podemos enquadrar, como 
exemplo, o caso D.P.N. x Google e o caso Xuxa Meneghel como causas sobre desindexação, 
conforme já explorado no Capítulo 1. 
 Já no contexto internacional, é possível afirmar que o caso Costeja González, 
precedente icônico do direito ao esquecimento, é, na verdade, uma ação sobre desindexação, 
uma vez que restou reconhecido o direito de Mário retirar o link da notícia do jornal La 
Vanguardia dos resultados atrelados ao seu nome. Logo, percebe-se que a construção 
jurisprudencial sobre o tema realmente foi significativamente marcada pela confusão entre os 
dois institutos. 
 
III) A NECESSIDADE DE TRANSFORMAÇÃO DO ATUAL ENTENDIMENTO 
FIXADO ACERCA DA RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PROVEDORES DE 
BUSCA PELO CONTEÚDO GERADO POR TERCEIROS 
 
Destarte, pensando na lacuna deixada pelo STF na tese firmada para o Tema 786 da 
Repercussão Geral, segundo a qual excessos ou abusos da liberdade de expressão e de 
informação devem ser verificados de acordo com o caso concreto, temos que a desindexação é 
um caminho viável – e já adotado – para o tratamento de informações equivocadas, vexatórias 
ou desnecessárias associadas ao nome de alguém na internet. 
Luiz Fernando Marrey Moncau atesta essa viabilidade ao citar a explicação de Meg Leta 
Jones a respeito dos três ciclos de vida da informação: distribuição, armazenamento e expiração. 
Na fase de distribuição, a informação teria um status único. Sendo nova, contribuiria 
para a base de conhecimento na sociedade e, com isso, despertaria maior interesse 
(...). No momento da distribuição, a informação representaria mais precisamente uma 
visão sobre um aspecto do mundo, seja na forma de uma opinião, ou de uma notícia, 
por exemplo. Tendo grande valor na fase de distribuição, Jones aponta para uma 
percepção de justiça em se priorizar a expressão sobre aspectos da privacidade 
nesse momento. Da informação atual, portanto, seria possível extrair o maior 
valor para decisões imediatas. 
Com o passar do tempo, a informação deixaria de despertar o interesse noticioso e 
seus minuciosos detalhes perderiam importância. A informação deixaria de ser tão 
intensamente buscada e passaria para a segunda fase do seu ciclo de vida: a fase de 
armazenamento (record). O lapso temporal afetaria a precisão (accuracy) da 
informação, de modo que a verificação da correspondência dos fatos ou aspectos 
retratados com a realidade, nessa fase, demandaria maior esforço de quem 
consome a informação. A distância temporal também faria com que a 
informação se tornasse menos confiável como um retrato fidedigno da realidade. 
Nesse sentido, uma informação que veicula a opinião de seu emissor, com o passar do 
tempo, pode deixar de representar a opinião atual de seu emissor e seus interesses. A 
informação perderia contexto, deslocando-se de seu tempo e lugar original. Para 
Jones, nessa fase, seria mais difícil avaliar como uma informação poderia ser útil 
33 
 
 
 
para satisfazer necessidades imediatas e remotas. Para fins de tomada adequada de 
decisão sobre o destino dessa unidade informacional, informações adicionais podem 
ser necessárias. 
Uma informação expirada, para Jones, não teria mais correspondência precisa ao 
seu objeto, deixando de representá-lo adequadamente. Sua substância teria se 
alterado, mas a informação permaneceria a mesma. Adicionar algum tipo de contexto 
(como datas) à informação poderia prolongar o interesse na sua preservação. Por outro 
lado, sem o contexto adequado, a informação expirada poderia provocar danos. 
Tal informação não serviria mais para uma adequada tomada de decisão (interesse 
imediato) sobre o objeto que representava, ao passo que ganharia maior valor para 
interesses remotos, permitindo compreender as mudanças em perspectiva temporal e, 
eventualmente, imaginar (ou com grandes volumes de dados, tentar prever) o futuro.50 
– grifos acrescentados 
 
Ainda de acordo com Jones, uma das medidas utilizadas para assegurar a adequação da 
informação quando esta se encontra na fase de expiração é, justamente, a desindexação. A 
orientação é que, caso a informação esteja associada a determinada circunstância que provoque 
sofrimento, o acesso a ela deve ser manipulado para limitar sua exposição51. 
Apesar disso, a regra, de acordo com a jurisprudência do STJ, é pela inexistência de 
responsabilidade dos motores de busca e pela inaplicabilidade da desindexação. Em recente 
julgamento do REsp nº 1.593.249/RJ, a Terceira Turma concluiu pela impossibilidade de 
“impor a provedores de aplicações de pesquisa na internet o ônus de instalar filtros ou criar 
mecanismos para eliminar de seu sistema a exibição de resultados de links contendo o 
documento supostamente ofensivo”. Isso porque, de acordo com o Tribunal, a responsabilidade 
pela eventual manutenção de conteúdo na internet não é do mecanismo de busca, mas sim dos 
terceiros responsáveis pela publicação daquela informação52. 
O principal fundamento do Tribunal Superior em decisões nesse sentido é o Marco Civil 
da Internet (“MCI”) (Lei nº 12.965/2014), em especial os artigos 18 e 19 da lei53. No entanto, 
já é possível verificar uma inclinação da doutrina contra os dizeres dos dispositivos e até mesmo 
a existência de debate jurisprudencial sobre a constitucionalidade do item54. 
 
50 JONES, 2016, pp. 113-125 apud MONCAU, 2020. 
51 Ibidem. 
52 Nesse sentido, conferir: AgInt no REsp nº 1.593.876/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, 
p. em 17.11.2016; REsp nº 1.316.921/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, j. em 26.6.2012, 
p. em 29.6.2012; Rcl nº 5.072/AC, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. p/ acórdão Min. Nancy Andrighi, Segunda 
Seção, j. em 11.12.2013, p. em 4.6.2014. 
53 MCI. Art. 18. O provedor de conexão à internet não será responsabilizado civilmente por danos 
decorrentes de conteúdo gerado por terceiros. 
Art. 19. Com o intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir a censura, o provedor de 
aplicações de internet somente poderá ser responsabilizado civilmente por danos decorrentes de 
conteúdo gerado por terceiros se, após ordem judicial específica, não tomar as providências para, no 
âmbito e nos limites técnicos do seu serviço e dentro do prazo assinalado, tornar indisponível o 
conteúdo apontado como infringente, ressalvadas as disposições legais em contrário. 
54 A constitucionalidade do artigo 19 do MCI, inclusive, é objeto de análise no STF, no RE nº 1.037.396 
(Tema 987 da Repercussão Geral), com previsão de julgamento para 22.6.2022. 
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Essa ausência de responsabilização civil dos motores de busca se justifica, em muito, 
pelo pensamento equivocado de que tais plataformas são neutras e somente realizam o serviço 
de disponibilização de conteúdo sem realizar qualquer tratamento sobre ele. Nessa visão, o 
responsável seria somente a fonte original. 
Pelo contrário, o estudo minucioso do mundo digital e de suas peculiaridades permite 
descobrir que, na verdade,

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