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Consentimento informado Apresentação Dentre as preferências do paciente, isto é, das escolhas que o paciente deve livremente fazer quando se depara com decisões sobre sua saúde e possíveis tratamentos médicos, o consentimento informado é um modo de garantir o respeito ao princípio de autonomia que rege tais preferências. Nesta Unidade de Aprendizagem, serão abordados os principais aspectos envolvendo o consentimento informado e as obrigações médicas envolvendo a revelação de diagnósticos e de possibilidades de tratamentos. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir o que é o consentimento informado.• Identificar os aspectos mais relevantes que envolvem o consentimento dos pacientes.• Listar as obrigações médicas referentes à revelação de diagnósticos.• Desafio O Sr. Rubens, homem de 65 anos, procura seu médico com queixas de perda de peso e desconforto abdominal moderado. Revelam-se uma elevação moderada nos exames de função hepática e uma massa questionável na cauda do pâncreas. Logo no começo de sua consulta para discutir os resultados dos exames, o Sr. Rubens faz uma observação: – Doutor, espero que não tenha nenhuma má notícia para mim. Estou me sentindo menos incomodado e minha esposa e eu temos grandes planos! O Sr. Rubens aposentou-se há pouco de uma carreira ocupada e fez planos para uma viagem de dois meses pela Europa, na companhia de sua esposa. Normalmente, o próximo passo diante de um quadro como o do Sr. Rubens é encaminhar o paciente para fazer uma biópsia (procedimento para obter um parte do tecido que permita confirmar ou refutar a suspeita de câncer pancreático). Uma vez confirmado o câncer, a vida do Sr. Rubens passará por uma série de mudanças nos mais variados aspectos durante o processo de tratamento. O médico decide, então, não dizer nada no momento, adiando a biópsia até que o Sr. Rubens retorne ao Brasil. Para tanto, insiste para que o Sr. Rubens o procure tão logo retorne da viagem, alegando que o caso precisa ser acompanhado periodicamente, apesar de nada impedir que o Sr. Rubens concretizasse a tão sonhada viagem. Seu desafio consiste em avaliar a situação: a possibilidade de que o Sr. Rubens possa ter um câncer do pâncreas deveria ser revelada a ele por seu médico antes da viagem? Não deixe de apresentar seus critérios de julgamento do relato apresentado. Infográfico Considerando um determinado diagnóstico, o que deve ser informado pelo médico a um paciente? O infográfico a seguir sintetiza pontos de ampla concordância entre os clínicos no que se refere à revelação franca de informações aos pacientes: Conteúdo do livro O consentimento informado é uma etapa fundamental no recrutamento de participantes para as pesquisas científicas. Ele deve ser entendido como um processo e não uma situação isolada de aplicação do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, pois o individuo ou seu representante legal deve estar consciente de tudo que implicará na sua participação no estudo. Desse modo, no capítulo a seguir você irá identificar os aspectos associados ao processo de consentimento informado e qual a sua definição. Além isso, de forma complementar a revelação do diagnóstico é uma ação que envolve uma série de obrigações médicas e que devem ser seguidas na prática. O Código de Ética Médica lista quais sãos os preceitos relacionados a relação médico-paciente, bem como os familiares, os quais muitas vezes estão envolvidos. No capítulo Consentimento Informado, você verá o conceito de consentimento, quais são os aspectos relevantes que o envolvem e quais são as obrigações médicas relacionadas à revelação de diagnósticos. Boa leitura! BIOÉTICA Samantha Brum Leite Consentimento informado Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Definir o que é o consentimento informado. � Identificar os aspectos mais relevantes que envolvem o consentimento dos pacientes. � Listar as obrigações médicas referentes à revelação de diagnósticos. Introdução Neste capítulo, você vai estudar sobre o consentimento livre e esclarecido, o qual deve ser entendido como um processo, e não como um evento isolado na aplicação do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O consentimento do participante é fundamental no desenvol- vimento de pesquisas científicas, uma vez que a dignidade da pessoa humana deve ser respeitada. Para que o processo ocorra, alguns aspectos devem ser respeitados pelos pesquisadores a fim de que o consentimento seja realizado corretamente e respeitando os princípios bioéticos de autonomia, beneficência, não maleficiência e justiça. Além disso, relacionado a esse tema, vamos analisar as obrigações médicas que estão associadas à revelação de diagnósticos críticos aos pacientes. A condução do esclarecimento dos indivíduos acome- tidos com determinadas doenças pode ser diferencial para a relação médico-paciente. O que é consentimento informado em pesquisa? Conforme a Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012, consentimento livre e esclarecido consiste na anuência do participante da pesquisa e/ou de seu representante legal, livre de vícios (simulação, fraude ou erro), dependência, subordinação ou intimidação, após esclarecimento completo e pormenorizado sobre a natureza da pesquisa, os seus objetivos, os métodos, os benefícios previstos, os potenciais riscos e o incômodo que esta possa acarretar. Desse modo, o consentimento informado deve ser entendido como um processo, mas não um evento isolado, e deve estar presente em todas as pesquisas clínicas envolvendo seres humanos ou material biológico. Para que o consentimento ocorra, é necessário que se tenha o fornecimento de informações sobre o estudo em questão: o que é a pesquisa, quais são os objetivos, qual a duração da participação e quais são os procedimentos, riscos e benefícios. Além disso, é importante esclarecer sobre a confidencialidade da identidade do participante e que haverá alguma forma de compensação, caso haja algum dano associado à participação. Algumas pesquisas com maiores subsídios fornecem auxílio-transporte e alimentação a cada visita do estudo. Logo, no processo há o conjunto da autonomia, capacidade, voluntariedade, informação, esclarecimento e o próprio consentimento (BIONDO-SIMÕES et al., 2007). O consentimento informado ocorre em um processo que conta com o uso do TCLE, cujo conceito é de: documento no qual é explicitado o consentimento livre e esclarecido do participante e/ou de seu responsável legal, de forma escrita, devendo conter todas as informações necessárias, em linguagem clara e objetiva, de fácil entendimento, para o mais completo esclarecimento sobre a pesquisa a qual se propõe participar. Em documentos estrangeiros, o documento é denominado de informed consent. A assinatura do TCLE é a última etapa do processo de consentimento, quando a autorização é realizada de forma documental. O processo de consentimento tem relação direta com o princípio da autono- mia, sendo importante refletir que, conforme a vulnerabilidade do participante, é possível que ele não esteja apto para exercer a sua autonomia corretamente. De forma complementar, a ocorrência do consentimento trata-se de um direito moral dos pacientes, o qual exige que os pesquisadores responsáveis também adotem uma postura em cumprimento das suas obrigações morais (BIONDO- -SIMÕES et al., 2007). Consentimento informado2 Conforme o Código de Ética Médica, é vedado ao médico: Art. 22. Deixar de obter consentimento do paciente ou de seu representante legal após esclarecê-lo sobre o procedimento a ser realizado, salvo em caso de risco iminente de morte. [...] Art. 101. Deixar de obter do paciente ou de seu representante legal o termo de consentimento livre e esclarecido para a realização de pesquisa envol- vendo seres humanos, após as devidas explicações sobre a natureza e as consequências dapesquisa. § 1º No caso de o paciente participante de pesquisa ser criança, adolescente, pessoa com transtorno ou doença mental, em situação de diminuição de sua capacidade de discernir, além do consentimento de seu representante legal, é necessário seu assentimento livre e esclarecido na medida de sua compreensão (BRASIL, 2019, documento on-line). Surgimento do consentimento livre e esclarecido Desde que a ética em pesquisa começou a ser tópico de reflexão entre os pesquisadores em 1947 com o Código de Nuremberg, foi instituída a neces- sidade da aplicação do TCLE para a realização de pesquisa envolvendo seres humanos. Além disso, o documento determinou como responsabilidade do investigador a obtenção do consentimento dos participantes de pesquisa. Desde então, a ética é bastante discutida em diversas diretrizes e normas de caráter internacional e nacional. As Diretrizes Éticas Internacionais para Pesquisas Relacionadas à Saúde Envolvendo Seres Humanos, um dos documentos que aborda o consentimento de populações vulneráveis, foi elaborada pelo Conselho das Organizações Internacionais de Ciências Médicas em colaboração com a Organização Mundial da Saúde (MADERS, 2014; BRASIL, 2019). Conforme esse documento da Conselho das Organizações Internacionais de Ciências Médicas, a Diretriz nº 9, que diz respeito aos indivíduos aptos a dar consentimento informado, informa que é obrigação dos pesquisadores: � Obter o consentimento, mas somente depois de fornecer informações relevantes sobre a pesquisa e assegurar que o participante em potencial tenha conhecimento adequado sobre seus principais fatos. � Se abster de falsidades não justificadas, omissão de informações re- levantes, influência indevida ou coerção. � Garantir que o potencial participante tenha tido oportunidade e tempo suficiente para decidir se quer participar. 3Consentimento informado � Obter de cada potencial participante, como regra geral, formulário assinado como prova de consentimento informado. Os pesquisadores devem justificar qualquer exceção a essa regra e buscar a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP). O primeiro registro que se sabe do uso de um documento relacionado ao consenti- mento da participação em uma pesquisa data de 19 de outubro de 1833. O médico e pesquisador William Beaumont estabeleceu uma espécie de contrato com Alexis St. Martin, no qual ele receberia casa e alimentação a fim de se manter à disposição por um ano para a realização de experimentos. Os experimentos seriam em decorrência da sequela por um tiro acidental por arma de fogo que permitia a observação do interior de seu estômago por anos a fio. Mesmo com as implicações e falhas no documento, ele pode ser considerado uma autorização para a participação em pesquisa. Principais aspectos do consentimento esclarecido Existe um cuidado no processo de consentimento livre e esclarecido, o qual os pesquisadores responsáveis, ao recrutarem os participantes de pesquisa, devem prestar atenção. O respeito à dignidade humana é um requisito básico inerente à pesquisa clínica. Desse modo, cabe ao pesquisador: (1) buscar o momento, a condição e o local mais adequados para que o esclarecimento seja realizado, (2) utilizar linguagem acessível conforme a faixa etária, condição socioeconômica e nível de escolaridade dos participantes, (3) permanecer o tempo adequado com o participante para que este possa decidir sobre a sua participação na pesquisa. A adoção de uma postura que seja de acordo com as ações descritas é fundamental para que o indivíduo aceite participar. De forma complementar ao processo de consentimento, o qual deve ocorrer de modo que o participante entenda todas as informações referentes à pes- quisa, há a aplicação do TCLE, por isso deve ser conduzido de acordo com o grau de conhecimento e as condições clínicas e psíquicas do paciente, que normalmente não apresenta o mesmo conhecimento técnico e científico dos pesquisadores. A linguagem utilizada é o principal aspecto a ser considerado tanto no diálogo com o participante ou seu responsável quanto na elaboração Consentimento informado4 do TCLE. Além disso, o documento deve ser apresentado em duas vias, uma do pesquisador e outra do participante, sendo que, em ambas, as assinaturas e as demais informações deverão ser preenchidas. Observe o Quadro 1 a seguir. Convite a participar do estudo Iniciar o TCLE com uma frase que convide a participar do estudo. Justificativa e/ou objetivos do estudo Descrever, em linguagem acessível, a justificativa e os objetivos do estudo. Procedimentos da pesquisa Detalhar os procedimentos que serão realizados com a participação voluntária no estudo. Utilizar linguagem clara e acessível, substituindo os termos técnicos por palavras leigas ou incluir explicações sobre os processos. Duração da participação no estudo e acompanhamento É uma informação importante e útil para que o participante avalie a sua disponibilidade para participar do estudo. Benefícios, riscos e/ou desconfortos associados à participação no estudo. Informar todos os possíveis benefícios e possíveis riscos relacionados à sua participação no estudo. Quando não estiver previsto nenhum benefício direto ao participante, explicar que a participação no estudo não trará benefício direto ao participante. No caso de riscos, informar que não são conhecidos riscos associados aos procedimentos realizados. Voluntariedade Informar que a participação no estudo é totalmente voluntária e que a não participação ou desistência após ingressar no estudo não implicará em nenhum tipo de prejuízo para o participante. Ressarcimento Informar que não está previsto nenhum tipo de pagamento pela participação no estudo e o participante não terá nenhum custo com os procedimentos envolvidos. Nos estudos que houver ressarcimento de transporte, alimentação ou outra despesa, informação no TCLE. Quadro 1. Orientações para elaboração e adequação do TCLE (Continua) 5Consentimento informado Quadro 1. Orientações para elaboração e adequação do TCLE Confidencialidade dos dados Informar que os dados de identificação dos participantes serão mantidos e os resultados divulgados não terão a identificação dos participantes. Esclarecimentos e contatos Informar o contato do pesquisador responsável, instituição que realiza a pesquisa e o telefone comercial. Informar o contato do CEP da instituição proponente. Assinaturas O termo deverá apresentar espaço para a assinatura do participante e/ou pesquisador responsável, quando aplicável, além de local e data. (Continuação) O Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São Paulo elaborou um checklist com itens importantes na preparação de um TCLE. Acesse o link a seguir e veja os itens obrigatórios para a aplicação do termo. https://qrgo.page.link/NvDgF Situações especiais de consentimento Sabemos que o processo de consentimento é fundamental para o desenvolvi- mento de pesquisas científicas com seres humanos. No entanto, em alguns casos é possível solicitar a dispensa da utilização do termo, sendo condicionada à decisão do CEP quanto à dispensa ou não do seu uso. Normalmente, os casos em que se justifica a dispensa são quando se utiliza informações do prontuário dos pacientes ou banco de informações. Assim, o pesquisador assina termos de compromisso que conforme a pesquisa pode ser para a utilização de ma- terial biológico, utilização de dados em geral ou de dados institucionais que asseguram o uso das informações de forma anônima, de modo a preservar a privacidades dos pacientes cujos dados de prontuários e/ou bases de dados foram utilizados. Consentimento informado6 Para o consentimento em pesquisas envolvendo crianças e adolescentes, o TCLE é assinado pelo seu representante legal, sendo que, a partir dos sete anos de idade, é garantida a sua participação no processo de consentimento. Em crianças menores de sete anos, deve-se garantiro direito de serem infor- madas conforme o seu desenvolvimento moral e de forma adequada ao seu nível de compreensão sobre a sua participação. Quando a criança se recusar a participar da pesquisa, sua opinião deve ser respeitada. Há exceção quando o procedimento for o único tratamento terapêutico disponível e os pais ou representantes legais autorizarem o desenvolvimento da pesquisa, ou seja, o consentimento deve ser obtido pela criança ou pelo adolescente e os pais ou os representantes fornecem a autorização via TCLE. Há, ainda, os participantes com redução de capacidade cognitiva em razão de transtorno ou doença mental, cuja participação só ocorre com a autorização fornecida por seus representantes legais. Deve-se garantir que a sua partici- pação respeite as limitações das suas capacidades. No caso de participantes ou responsáveis analfabetos, o TCLE deve ser lido junto a uma testemunha imparcial, sem participação direta na pesquisa. O termo deverá ser assinado pela testemunha, assegurando que todas as informações pertinentes ao desen- volvimento do estudo foram fornecidas ao participante ou ao seu responsável. O voluntário ou seu representante deverá inserir a impressão datiloscópica ao TCLE. Além disso, nessas situações especiais, a participação deverá ser apro- vada pelo CEP e pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, devendo haver justificativa clara da escolha desses participantes em pesquisa. Deve atentar-se também para os participantes que, apesar da plena capacidade de consentimento, são expostos à limitação do seu poder de autonomia. É o caso de estudantes militares, empregados, presidiários e internos em centros de readaptação, em casas-abrigo, asilos, associações religiosas e semelhantes, os quais devem ter o poder de escolha de participar ou não de qualquer pesquisa, sem represálias (FRANCISCONI; GOLDIM, 2003). Em pesquisas cujos participantes podem ser crianças e adolescentes ou adultos, o TCLE deve ser emitido em duas versões, uma para os responsáveis ou representantes legais e outra para os participantes adultos. 7Consentimento informado Revelação de diagnósticos Para a atuação como profissional, é necessário seguir alguns preceitos rela- cionados a direitos humanos, deveres profissionais, relação com a família e familiares e sigilo profissional. De forma complementar, aspectos relacionados à bioética devem ser respeitados, tais como sigilo, confidencialidade e pri- vacidade. Conforme o Conselho Federal de Medicina, a Resolução nº 2.217, de 27 de setembro de 2018, a qual entrou em vigor na data de 30 de abril de 2019, atualizou as especificações do Código de Ética Médica (CARVALHO et al., 2005; BRASIL, 2019). Algumas especificações são importantes para determinar a relação do médico com os pacientes e seus familiares. De acordo com o Capítulo V, é vedado ao médico: � Desrespeitar o direito do paciente ou de seu representante legal de decidir livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso de iminente risco de morte. � Deixar de usar todos os meios disponíveis de promoção de saúde e de prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças, cientificamente reconhecidos e a seu alcance, em favor do paciente. � Deixar de informar ao paciente o diagnóstico, o prognóstico, os riscos e os objetivos do tratamento, salvo quando a comunicação direta possa lhe provocar dano, devendo, nesse caso, fazer a comunicação ao seu representante legal. � Exagerar a gravidade do diagnóstico ou do prognóstico, complicar a terapêutica ou exceder-se no número de visitas, consultas ou quaisquer outros procedimentos médicos. Cabe ao médico o fornecimento de informações claras, objetivas e que sejam transmitidas de forma facilmente compreensível sobre questões de hipóteses diagnósticas, diagnósticos, exames solicitados, ações terapêuticas, riscos e benefícios associados aos tratamentos propostos e realizados. Quando se trata de procedimentos diagnósticos e terapêuticos invasivos, deve-se for- necer informações referentes à (1) necessidade ou não de anestesia, (2) quais partes do corpo serão afetadas, (3) quais os efeitos colaterais, (4) os riscos e complicações indesejáveis, (5) a duração esperada do procedimento, (6) os exames e as condutas necessários, (7) a finalidade dos materiais coletados para exame, (8) a justificativa para a realização dos procedimentos e (9) as opções de alternativas diagnósticas e terapêuticas (SÃO PAULO, 2001). Consentimento informado8 A revelação de diagnósticos críticos é uma prática frequente na rotina dos profissionais da área da saúde, de modo que, além de informar, é necessário manter o sigilo das informações e dados do paciente. A quebra de sigilo é considerada uma infração por parte dos profissionais, entretanto, sob o olhar da justiça, o sigilo deve ser rompido em situação justificáveis. Conforme o Conselho Federal de Medicina, no que diz respeito ao sigilo profissional, é vedado ao médico: Art. 73. Revelar fato de que tenha conhecimento em virtude do exercício de sua profis- são, salvo por motivo justo, dever legal ou consentimento, por escrito, do paciente. Parágrafo único. Permanece essa proibição: a) mesmo que o fato seja de conhecimento público ou o paciente tenha falecido; b) quando de seu de- poimento como testemunha. Nessa hipótese, o médico comparecerá perante a autoridade e declarará seu impedimento; c) na investigação de suspeita de crime, o médico estará impedido de revelar segredo que possa expor o paciente a processo penal. Art. 74. Revelar sigilo profissional relacionado a paciente menor de idade, inclusive a seus pais ou representantes legais, desde que o menor tenha ca- pacidade de discernimento, salvo quando a não revelação possa acarretar dano ao paciente. [...] Art. 77. Prestar informações a empresas seguradoras sobre as circunstâncias da morte do paciente sob seus cuidados, além das contidas na declaração de óbito. (nova redação – Resolução CFM nº 1997/2012) Art. 78. Deixar de orientar seus auxiliares e alunos a respeitar o sigilo pro- fissional e zelar para que seja por eles mantido. Art. 79. Deixar de guardar o sigilo profissional na cobrança de honorários por meio judicial ou extrajudicial. (BRASIL, 2019, documento on-line). Quando se trata de pesquisa na qual os dados dos participantes serão utilizados na divulgação de dados, o cuidado em manter a identidade dos participantes deve ser seguido. Além disso, o que ratifica a importância de resguardar os dados dos participantes é que o prontuário médico pertence ao paciente, sendo o médico e o hospital ou a instituição apenas guardiões. Logo, as informações presentes em prontuário não devem ser divulgadas (CARVALHO et al., 2005; BRASIL, 2019; SÃO PAULO, 2017). A principal questão no manejo dos pacientes é como revelar diagnósticos que representam a comunicação de más notícias. O processo deve estar as- sociado a um atendimento de caráter humanizado, considerando os aspectos psíquicos e/ou emocionais dos envolvidos. O objetivo está associado na trans- missão de determinada condição clínica do paciente e também na diminuição do impacto emocional associado, a fim de proporcionar um entendimento maior 9Consentimento informado da nova realidade. Quando a comunicação é realizada de forma satisfatória, o processo de assistência é beneficiado, visto que favorece a adesão a tratamento, a aceitação da terapêutica e a satisfação do atendimento. A comunicação na relação médico-paciente/familiares é um desafio, no entanto, é algo que, sendo exercitado e corrigindo os erros, será possível de ser realizado com benefício direto ao paciente. É importante compreender que quando falamos de más notícias, não é só a morte de um familiar ou o surgimento de uma doença terminal ou trauma, pode ser o diagnóstico de HIV, diabetes, doenças crônico-degenerativas, mas também pode ser uma gravidez indesejada, por exemplo, a qual não está associada a um mau prognóstico, mas que para opaciente representa uma má notícia. A forma como cada pessoa responde à revelação de diagnóstico pode ser diferente e cabe aos profissionais da saúde saberem lidar com as diferentes formas de expressão das emoções e dos sentimentos (FREIBERGER; CAR- VALHO; BONAMIGO, 2019; MONTEIRO; QUINTANA, 2016). O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo elaborou um documento intitulado Bioética Clínica – Reflexões e Discussões sobre Casos Selecionados. Em sua terceira edição, em 2011, um dos casos foi destinado à Comunicação de Más Notícias, que traz um caso com a exposição de seis passos recomendados para revelação do diagnóstico. Para isso, deve-se levar em consideração: � Preparação para comunicar a notícia. � O que o paciente já sabe sobre o seu diagnóstico? � Quanto o paciente quer saber? � Como se portar no momento da revelação. � Como as emoções podem ser manifestadas pelos pacientes e familiares. � Planejamento e acompanhamento ao tratamento. Para ler um pouco mais sobre o caso, acesse o link a seguir. https://qrgo.page.link/AKGra Consentimento informado10 BIONDO-SIMÕES, M. de L. P. et al. Compreensão do termo de consentimento informado. Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, v. 34, n. 3, p. 183−188, 2007. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rcbc/v34n3/a09v34n3.pdf. Acesso em: 1 set. 2019. BRASIL. Conselho Federal de Medicina. Código de Ética Médica: Resolução CFM n° 2.217, de 27 de setembro de 2018, modificada pelas Resoluções CFM nº 2.222/2018 e 2.226/2019. Brasília, DF: CFM, 2019. Disponível em: https://portal.cfm.org.br/images/ PDF/cem2019.pdf. Acesso em: 1 set. 2019. CARVALHO, F. T. et al. Revelação do diagnóstico de doenças sexualmente transmissíveis a parceiros (as) sexuais: um dilema bioético. DST: Jornal Brasileiro de Doenças Sexual- mente Transmissíveis, v. 17, n. 3, p. 219−224, 2005. Disponível em: http://www.dst.uff. br/revista17-3-2005/revelacao-do-diagnostico.pdf. Acesso em: 1 set. 2019. FRANCISCONI, C. F.; GOLDIM, J. R. Termo de consentimento informado para pesquisa: auxílio para a sua estruturação. Brasil, 2003. Disponível em: https://www.ufrgs.br/ bioetica/conspesq.htm. Acesso em: 1 set. 2019. FREIBERGER, M. H.; CARVALHO, D.; BONAMIGO, E. L. Comunicação de más notícias a pacientes na perspectiva de estudantes de medicina. Revista Bioética, v. 27, n. 2, p. 318−325, 2019. Disponível em: http://revistabioetica.cfm.org.br/index.php/revista_bio- etica/article/view/1912/2113. Acesso em: 1 set. 2019. MADERS, A. M. Investigação biomédica e vulnerabilidade: um estudo acerca da res- ponsabilidade dos profissionais da saúde nas pesquisas envolvendo seres humanos. Mundo Saúde, v. 38, n. 2, p. 228−236, 2014. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/ bvs/artigos/mundo_saude/investigacao_biomedica_vulnerabilidade_estudo_pro- fissionais.pdf. Acesso em: 1 set. 2019. MONTEIRO, D. T.; QUINTANA, A. M. A comunicação de más notícias na UTI: perspectiva dos médicos. Psicologia: teoria e pesquisa, v. 32, n. 4, e324221, 2016. Disponível em: http:// www.scielo.br/pdf/ptp/v32n4/1806-3446-ptp-32-04-e324221.pdf. Acesso em: 1 set. 2019. SÃO PAULO. Conselho Regional de Medicina. Guia da relação médico-paciente. São Paulo: CREMESP, 2001. Leituras recomendadas CONSELHO DAS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS DE CIÊNCIAS MÉDICAS; ORGANI- ZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Diretrizes éticas internacionais para pesquisas relacionadas a saúde envolvendo seres humanos. 4. ed. Genebra: CIOMS; Brasília, DF: CFM, 2018. Dis- ponível em: http://hrac.usp.br/wp-content/uploads/2016/04/dir_eticas_int_pesq_en- volvendo_seres_humanos_1993_cioms_oms.pdf. Acesso em: 1 set. 2019. LAURENTI, R.; JORGE, M. H. P. de M. Informação em saúde: o papel do médico. São Paulo: CREMESP, 2017. 11Consentimento informado Dica do professor Na dica do professor a seguir, serão respondidas questões sobre o termo (ou documento) de consentimento informado. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/398b1aea3812d0312ab6e748844e60be Exercícios 1) Sobre o consentimento informado, pode-se afirmar: A) O termo de consentimento informado consiste em informar ao paciente sobre seu estado. B) O consentimento informado é de responsabilidade conjunta. C) O consentimento informado é o ato de comunicar ao médico um problema de saúde. D) O consentimento informado é um desrespeito ao princípio de autonomia do paciente. E) O termo de consentimento informado é dispensável quando o paciente está inconsciente. 2) Um paciente será informado pelo seu médico sobre os benefícios e riscos dos tratamentos indicados em seu tipo de diagnóstico. Nestes casos, é desejável que: A) o médico deixe que o paciente escolha qual é o tratamento deseja, sem omitir uma opinião clínica. B) o médico não informe demais ao paciente sobre o seu problema de saúde, pois deve ser dado a ênfase ao processo de cura. C) o médico proponha tratamentos alternativos àqueles que ele venha recomendar como melhor uma opção para o paciente. D) o paciente desconfie dos interesses do médico em relação ao tipo de tratamento sugerido. E) o paciente prepare um termo de consentimento no qual afirme qual foi o tratamento que o médico lhe prescreveu. 3) O consentimento informado é uma ação recomendada, muito embora não seja comumente concretizada na prática. Esta realidade deveria ser mudada, e o consentimento informado deve se tornar uma praxe, pois: A) o consentimento informado é baseado em um princípio de sigilo médico em relação à eficácia dos procedimentos propostos. B) o consentimento informado é uma garantia de que o paciente não pode voltar atrás em uma decisão. C) o consentimento informado é uma proteção apenas para que profissionais da saúde defendam seus interesses. D) o consentimento informado pode ser bom tanto para o médico quanto para o paciente. E) o consentimento informado se constitui como um aspecto periférico da relação médico- paciente. 4) Muitos estudos demonstram que os pacientes desejam receber mais informações de seus médicos. Os profissionais sabem que seus pacientes apreciam esta prática em respeito à informação de seus diagnósticos e prognósticos. Nos últimos anos, a revelação de informações franca tornou-se a norma entre os clínicos. É de ampla concordância que a revelação de informações deve: A) omitir a opinião do médico sobre as alternativas de tratamento. B) ocultar a estimativa das probabilidades associadas às intervenções para não desencorajar os pacientes. C) omitir o estado atual de um paciente. D) somente conter as intervenções em que o médico de fato confia. E) fornecer uma descrição dos riscos e dos benefícios dos vários procedimentos que podem ser realizados. 5) Sobre o consentimento informado, do ponto de vista ético, as discussões atuais admitem que: A) a compreensão do paciente importa menos do que a adequação da informação profissional. B) a experiência do médico em relação ao procedimento deve ser mantida em sigilo. C) as obrigações morais e legais sobre o fornecimento de informações variam de acordo com a gravidade da situação. D) mesmo nas emergências, todo o trâmite de informação precisa ser estabelecido. E) não cabe ao médico a tentativa de garantir a compreensão das informações. Na prática O termo de consentimento informado é um documento que deve ser preparado pelo paciente ou por seu responsável legal, no qual ele afirma suas decisões sobre os atos assistenciais propostos pelo seu médico responsável e informa seu consentimento em vista da realização de determinado procedimento diagnóstico e/ou terapêutico. Veja este exemplo: Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: O consentimento informado nos comitês de ética em pesquisa e na prática médica Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. O consentimentoinformado. Qual o seu real valor na prática médica? Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. O consentimento informado no Poder Judiciário brasileiro Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. http://revistabioetica.cfm.org.br/index.php/revista_bioetica/article/viewFile/430/498 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-69912011000300011 http://repositorio.pucrs.br/dspace/bitstream/10923/13017/2/O_consentimento_informado_no_Poder_Judiciario_brasileiro.pdf
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