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UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE Apontamentos não revistos da Cadeira de Direito Processual Penal – Curso de Direito 3˚ ano - 2013 Docente: Manuel Castiano 1 3˚ Ano - 2˚ Semestre Ano lectivo de 2013 N.˚ alunos ...... Unidade didáctica: Noções introdutórias Local: Fac. Dto-UEM Tema: Princípios Gerais de Processo Penal I. OBJECTIVOS ESPECÍFICOS – No fim da aula o aluno deve ser capaz de: - Reconhecer a importância função dos princípios gerais do processo penal entanto que valores orientadores da estrutura do processo penal mocambicano; - Identificar a aplicabilidade dos principíos nas diversas fases do processo penal. II. MATERIAL: Para a presente aula é necessário o seguinte material: II.I. Legislação - Constituição da República de Moçambique de 2004; - Constituição da República de Moçambique de 1990; - Código de Processo Penal; - Lei n. 24/2007, de 20 de Agosto; II.II. Bibliografia 1. BARREIROS, José António (1981)- Processo Penal-1 - Livraria Almedina, Coimbra - Portugal. 2. FIGUEIREDO DIAS, Jorge de (1984) - Direito Processual Penal, (Reimpressão), Coimbra Editora, Coimbra - Portugal. 3. MARQUES DA SILVA, Germano (1993) - Curso de Processo Penal, Editorial Verbo, Lisboa - Portugal. 4. TRINDADE, João e Luís Mondlane (1995) - Apontamentos de Direito Processual Penal, dactilografados, Maputo,. UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE Apontamentos não revistos da Cadeira de Direito Processual Penal – Curso de Direito 3˚ ano - 2013 Docente: Manuel Castiano 2 III. CONCEITO DE PRINCÍPIOS1. A doutrina moderna entende que, embora os princípios não sejam normas jurídicas eles são de aplicação directa, não sendo necessário para a sua aplicacão uma fundamentacão legal expressa. Os princípios gozam de vida própria pelo simples facto de serem princípios, figurem ou não normas juídicas. Princípios - são valores ou juízos fundamentais que servem de alicerce ou pilares orientadores e de garantia da estrutura/sistema do processo penal. É comum organizarem- se, do ponto de vista didáctico, os princípios de acordo com os principiais elementos caracterizadores da estrutura/sistema processual. Assim, analisam-se os princípios relativos a: I. Iniciativa ou promocão Processual II. Decurso ou marcha processual III. Prova e, IV. Forma I. PRINCIPIO RELATIVO A INICIATIVA PROCESSUAL a) Princípio da acusacão b) Princípio da oficialidade c) Principio da legalidade a) Princípio da Acusacão Constitui um dos princípio caracterizadores da estrutura acusatória do processo penal mocambicano. Segundo este princípio a entidade que julga não pode ser a mesma que investiga e acusa a infracção2. Para que isto seja assim, torna-se necessário que - O Ministério Público - entidade estadual titular do jus procedendi investigue e acuse; - O juiz - entidade estadual totular do jus puniendi julgue. Ao lado desta distinção entre entidade julgadora e entidade acusadora há que indicar a existência do princípio de igualdade de “armas” entre a acusação e defesa. Ambos devem ter mesmos direitos. Também é verdade que a igualdade é apenas no campo meramente formal, pois, o Ministério Público tem na realidade mais poderes que o Arguido. Ele tem uma Polícia 1 Os princípios não são normas jurídicas, eles são valores, pilares orientadores da estrutura do processo penal e nem todos eles encontram consagracão legal específica, e isto não lhes retira a eficácia. 2 Este princípio constitui uma conquista do processo penal moderno cuja decisão judicial se pretende isenta, objectiva, imparcial e independente. Tal somente é possível se a entidade estadual que julga for diferente da que acusa. UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE Apontamentos não revistos da Cadeira de Direito Processual Penal – Curso de Direito 3˚ ano - 2013 Docente: Manuel Castiano 3 de Investigacão Criminal ao seu dispor e que a usa para investigar o crime e o criminoso. Nas fases subsequentes a instrucão preparatória (que é secreta de acordo com o art. 70 CPP) o Ministério Público e o arguido têm os mesmos direitos3, assegurados pelo princípio do acusatório. b) Principio da Oficialidade Se no princípio da acusacão dizíamos que ao Ministério Público compete investigar e acusar, no princípio da oficialidade pretende-se saber a quem compete a iniciativa ou o impulso processual, portanto, o impulso de investigar a infracção, e quem compete também a decisão de submeter ou não o infractor a julgamento. Partindo do princípio de que ao Estado compete o jus procedindi, e isto é assim desde o momento que o Estado proibiu toda e qualquer vingaça privada e esta passou a ser institucionalizada e profissionalizada nos órgãos do Estado, a tarefa de iniciar o procedimento penal passou a pertencer aos órgãos do Estado que o fazem, via de regra, oficiosamente, e em certos casos mesmo à margem da vontade e da actuação dos particulares. Em regra o Estado age oficiosamente isto é por iniciativa própria não necessitando qualquer impulso particular para o início da investigação tendente a apurar o agente, a infraccão e responsabilidade. Nalguns casos, na maior, ao Ministério Público cabe esta tarefa de iniciar o procedimento, e noutros casos a lei atribui esta tarefa a outras entidades estaduais a tarefa de iniciarem, promoverem a investigacão (art. 2 do DL 35007, de 13 de Outubro de 1945)4. O princípio da oficialidade não é de todo absoluto, ele conhece limitacões que decorrem da natureza particular e semi-pública dos crimes: i. Crimes particulares – Normalmente são os de diminuta gravidade conferindo- se ao particular ofendido, a iniciativa de dar conhecimento da existência do crime. O particular tem assim a faculdade de iniciar, e depois ele próprio, se quiser, após as diligências da instrucão preparatória, havendo, que deduza acusação (art. 3/ 2 DL 35007 de 13 de Outubro de 1945), mas não é o particular ofendido que realiza a instrucão preparatória. Isto significa que a decisão de acusar ou não nos crimes particulares pertence ao particular ofendido (Assistente) e o Ministério Público, nestes crimes só pode acusar pelos factos de que tenha havido acusacão particular e a intervencão do Ministério Público cessa 3 Ambos sujeitos processuais participam na realização do direito, na administração da justiça, contribuem na definição do direito ao caso concreto. 4 Repare que o princípio da oficialidade repercute-se na obrigatoriedade das autoridades policiais e funcionários públicos de denunciarem ao Ministério Público as infraccões de que tenham conhecimento, passando desde então a accão penal a se desenvolver oficiosamente, através de órgãos ou entidades do Estado. Quer-se dizer, que está proibida, a actuação de particulares na investigação dos factos que constituem crime, é nisto que se traduz o princípio da oficialidade, no carácter público da promoção processual. UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE Apontamentos não revistos da Cadeira de Direito Processual Penal – Curso de Direito 3˚ ano - 2013 Docente: Manuel Castiano 4 com o perdão ou desistência do Assistente acusador particular (art. 3 & único DL 35007 de 13 de Outubro de 1945). Importa referir que, se o ofendido por um crime particular, quiser que haja procedimento criminal, deve declarar na denúncia que se quer constituir assistente (Art. &3 in fine DL 35007 de 13 de Outubro de 1945). Os crimes particulares são aqueles cuja condicão de procedibilidade é a acusacão do particular, querela ou requerimento particular e esta consta ou resulta do tipo legal de crime. ii. Crimes semi-públicos – São os cuja gravidade embora não seja tão diminuta quão a dos crimes particulares a lei, os considera estarem mais na esfera privada, que outorga aos particularesa faculdade de provocar o procedimento penal e se o ofendido entender não iniciar o procedimento penal, a lei não confere a mais ninguém tal faculdade, salvo nos casos em que a lei estende tal faculdade a outras pessoas (cf. Art. 8 DL 35007 de 13 de Outubro de 1945 e o exemplo típico é do art. 399 CP). No entanto, a partir do momento em que o particular ofendido denuncia a existência do crime o Ministério Público adquire legitimidade (que antes pertencia apenas ao ofendido) de prosseguir com o procedimento penal sem mais intervenção do ofendido. A lei deixa nestes casos o direito de denúncia ao particular. Se ele quiser queixar-se, então prossegue tudo como se fosse um crime público. Importa referir que, nos crimes semi-públicos a condicão de procedibilidade é a denúncia, queixa ou participacão e esta resulta ou consta do tipo legal de crime. iii. Crimes públicos – São os que para que haja procedimento penal, basta que a notícia do crime chegue ao conhecimento do Ministério Público para que este, sem qualquer outra condicão de procedibilidade desencadeie todo o processo. Normalmente no tipo legal de crime não consta qualquer condicão de procedibilidade. c) Principio da legalidade O princípio da legalidade, traduz-se, desde logo em processo penal, na obrigatoriedade de o Ministério Público proceder e deduzir a acusação por todas as infracções de que tenha tomado conhecimento (tal como descrito no princípio da oficialidade) e que da instrucão preparatória tenham resultados indícios suficientes (art. 349CPP). Este princípio da legalidade é tão prezado no processo penal que aplica-se a todos os órgão de Administracão da Justiça, nomeadamente o Ministério Público, os Juízes e a Polícia de Investigacão Criminal. O Princípio da legalidade não só diz respeito ao início do processo, no sentido de que sempre e quando estiverem reunidos os pressuposos para o início do procedimento penal o UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE Apontamentos não revistos da Cadeira de Direito Processual Penal – Curso de Direito 3˚ ano - 2013 Docente: Manuel Castiano 5 Ministério Público deve iniciá-lo e quando finda a instrucão preparatória e o Ministério Público tiver reunidos o material probatóro bastante o Ministério Público deve acusar. Lembre-se que a acusacão não ‘e um dever para o Ministério Público, mas sim um direito. Repare-se que este princípio da legalidade, nos crimes particulares, não é tão forte quanto noutros crimes pois, o Ministério Público, não é obrigado a deduzir acusação, apenas o faz como sucedâneo da acusacão particular. II. PRINCIPIOS RELATIVOS AO DECURSO PROCESSUAL a) Princípio da investigação/verdade material b) Princípio da contraditoriedade e audiência c) Princípio da suficiência e concentração a) Princípio da investigação Este princípio traduz-se no poder-dever que ao tribunal incumbe de esclarecer e instruir autonomamente, mesmo para além das contribuições da acusação e defesa, o facto sujeito a julgamento, criando as bases necessárias à sua decisão. Este princípio para além de orientar todo o desenvolvimento do processo penal, incide primeiramente na obtenção das bases de decisão e, consequentemente na matéria das provas, por isso este princípio tambem é chamado de principio da verdade material. b) principio da contraditoriedade Traduz-se na obrigacão do juiz ouvir as razões tanto a acusacão como a defesa em relacao a assuntos sobre os quais deva proferir uma decisao. O principio do contraditorio garante que o Juiz, na construcao da sua decisao, deve ter em conta as contribuicoes dos diversos sujeitos processuais sobre o objecto do processo, designadamente o direito de audiencia de todos os sujeitos que possam vir a ser afectados pela decisao, o direito de intervencao do arguido no sentido de este se poder pronunciar sobre todos os elementos trazidos. A norma constitucional a que refere expressamente ao principio do contraditorio esta prevista no art. 62 da Constituicão da Republica de Mocambique/2004, onde se diz “O Estado garante o acesso dos cidadaos aos Tribunais e garante aos arguidos o direito de defesa e o direito a assistencia e patrocinio judiciario”. Sempre que uma determinada questão possa afectar a posicão de um sujeito processual, tem este legitimidade para intervir ao abrigo do princípio do contraditorio. Porque o modelo processual penal mocambicano é o acusatorio integrado pelo principio da investigacao, a forca do principio do contraditorio vai variar. Na fase de investigacao “com UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE Apontamentos não revistos da Cadeira de Direito Processual Penal – Curso de Direito 3˚ ano - 2013 Docente: Manuel Castiano 6 marcas da inquisicao” vai haver uma postergacao deste principio. Este principio encontra-se consagrado em quase todas as fases do processo sob formas diferentes. Na fase de instrucao preparatoria caracteriza-se por ter uma natureza essencialmente nao contraditoria, execepto os actos processuais que digam respeito a defesa ou a acusacao casos em devem estar presentes. Cf. Art. 70 & 1ºCPP. Isto é assim porque em relacao aos sujeitos processuais nao segredo de justica mas em relacao a terceiros existe segredo de justica ate a prolacao do despacho de pronuncia ou equivalente. Este entendimento decorre da vigencia do DL 35007, porque antes da vigencia deste diploma nao era este entendimento peñsava-se que o processo era secreto para todos ao depacho de pronuncia ou equivalente. Porém, os auto de diligencias de prova efectuados na instrucao preparatoria praticados pela P.I.C sao de carácter secreto por forca do art. 13 do DL 35042, de 20 de Outubro de 1945. A fase de instrucao contraditoria- Aos autos de diligencias praticados nesta fase poderao assistir o MºPº,o arguido, o seu defensor e o advogado dos assistentes Art. 330 CPP e poderao consultar o processo quando estiver na secretaria & 3º Art.70. Na fase da Acusacão e defesa – Cf. Art. 379 e ss, art. 390 e 398 todos do CPP. Na fase de julgamento- Este principio assume a sua plenitude nesta fase exactamente porque ser a fase por excelencia de producao de provas. Art. 415 e ss. Consequencia do desrespeito do principio do contraditorio cf. art. 98 n.5, art. 98 n. 6 CPP c) principio da suficiência da accão penal O principio da suficiência- Este principio encontra sua consagracao no Art. 2 CPP. Traduz-se na supremacia da jurisdicao penal sobre todas as demais. De acordo com este principio, o processo penal é o lugar adequado ao conhecimento de todas as questoes cuja solucao se revele necessaria a decisao a tomar. É a afirmacao de que a competencia da accao engloba a da excepcao. A accao penal goza de autonomia e independencia para ser exercida e julgada independentemente de qualquer outra, nela se podendo e devendo conhecer todas as questoes qualquer que seja a sua natureza. A regra é de que nenhuma questao penal pode ser julgada numa jurisdicao nao penal mas a jurisdicao penal pode julgar as questoes nao penais de feitos penais (questoes de outra natureza que possam interessar a decisao da causa penal), mas isto nao significa exclusividade de competencia para o julgamento de questoes de natureza nao penal (cf. art. 2, art.3, art. 147CPP). UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE Apontamentos não revistos da Cadeira de Direito Processual Penal – Curso de Direito 3˚ ano - 2013 Docente: Manuel Castiano 7 Fundamento - Arredar qualquer obstaculo ao exercicio do jus puniendi que directa ou indirectamente possam entravar ou paralisar a accao penal, de facto, se nao se limitasse a possibilidade de o processo penal ser sustido ou interrompido, pelo facto de nele surgir uma questao susceptivel de apreciacao autonoma por-se-iam em risco as exigencias da concentracao processual ou da continuidade do processo e permitir-se-ia colocar obstaculos ao exercicio da accao penal. No processo penal pode-se conhecer: A simulacao,As providencias cautelares, o peculato. QUESTOES PREJUDICIAS Quando referimo-nos a questoes prejudiciais no processo penal queremo-nos referir a questoes prejudiciais nao penais no processo penal, ja que as questoes prejudiciais penais em processo penal devem ser conhecidas no processo penal nos termos do ART. 2 CPP, sem devolucao a outro Tribunal. O problema das questoes prejudiciais levanta-se quando, para se conhecer da existencia da infraccao penal, seja necessario resolver qualquer questao de natureza nao penal que nao possa convenientemente decidir-se no processo penal. Sao questoes prejudiciais (segundo Figueiredo Dias) – aquelas que possuindo objecto ou ate natureza diferente do da questao principal do processo em que surgem, e sendo susceptiveis de constituirem objecto de um processo autonomo, sao de resolucao previa e indispensavel para se conhecer em definitivo da questao principal, dependendo do sentido deste conhecimento da solucao que lhes for dada. Nos termos do ART. 3 CPP. quando o Juiz decide que uma questao prejudicial nao penal nao sera convenientemente decidida processo penal, pode o mesmo suspender o processo penal para que se intente e julgue a respectiva accao no Tribunal competente. A suspensao pode ser decretada, nos termos do & 2º do Art. 3 CPP, mediante: Requerimento em qualquer altura do processo - Do Ministerio Publico; - Do Assistente; - Arguido Oficiosamente pelo Juiz apos o encerramento da Instrucao preparatoria. Colaca-se a questao de saber se a decisao proferida pelo juiz criminal sobre uma questao prejudicial nao penal faz caso julgado? Cavaleiro de Ferreira, pronuncia-se afirmativamente. Para este Processualista Penal é a unidade de jurisdicao e o facto de se atribuir competencia ao juiz criminal de conhecer questoes nao penais no processo penal, que atribuem eficacia de caso jugado as decisoes proferidas em processo penal sobre questoes nao penais. UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE Apontamentos não revistos da Cadeira de Direito Processual Penal – Curso de Direito 3˚ ano - 2013 Docente: Manuel Castiano 8 Castanheira Neves, embora pronunciando-se afirmativamente encontra fundamento da eficacia de caso julgado das decisoes proferidas em processo penal sobre questoes nao penais nos artigos 153 e 154CPP e nao na unidade de jurisdicao. As decisoes proferidas pelo Tribunal nao penal para o qual uma questao prejudical nao penal tenha sido remetida faz caso julgado para a accao penal dessa decisao ficou dependente Cf. ART. 152 CPP. d) Principio da concentracao Este principio exige que os actos processuais sejam praticados tanto quanto possivel de forma unitarias e continuada, devendo no seu conjuntoe em todas as fases do processo desenvolver-se concentradamente, quer no epaco quer no tempo. Este principio enforma todo o processo penale fundamenta-se na necessidade de conferir livre curos ao processo penal, sem obstaculos, sem impedimentos ao seu exercicio. Este principio ganha relevo e autonomia na audiencia e julgamento, associando-se aos principios de forma enquianto corolario dos principios da oralidade e de imediacao (ART. 414, 337, 76 & 1º e 403 CPP). III. PRINCIPIOS RELATIVOS A PROVA a) Principio da investigacao/verdade material b) Principio da livre apreciacao da prova c) Principio in dubio pro reo a) Principio da investigacao ou da verdade material- significa que o esclarecimento do material de facto e dos elementos probatorios nao pertence exclusivamente as partes. Recai sobre o juiz o onus de investigar e esclarecer o facto submetido a julgamento, independentemente das contribuicoes da defesa e da acusacao. Esta materia encontra-se consagrada nas materias especificas nos ARTs. 330, 332, 333 && 1º e 2º , 404 & 1º, 425 & 3º , 435, 443, 465 & Unico CPP. Assim, nao impende às partes no processo penal o dever impugnaçao especifica e o Tribunal nao tem de limitar a sua conviccao aos meios de prova apresentados pelas partes. b) Principio da livre apreciacao da prova - No direito moçambicano nao ha um catalogo fechado de meios de prova admissiveis basta ver o Art. 173 CPP. A regra é a da atipicidade dos meios de prova, da admissibilidade de qualquer tipo de prova, a nao ser a lei a exclua. A questao que se coloca é a de saber se a apreciacao da prova deve ter lugar segundo regras gerais predeterminadas do valor a atribuir-lhes (sistema de prova legal) ou deve ter lugar de acordo com a livre valoracao do juize da sua conviccao pessoal (sistema da prova livre). UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE Apontamentos não revistos da Cadeira de Direito Processual Penal – Curso de Direito 3˚ ano - 2013 Docente: Manuel Castiano 9 No direito processual penal mocambicano o valor dos meios de prova nao esta legalmente pre-estabelecido. Pelo menos tendencialmente todas as provas valem o mesmo. O Tribunal deve ir busca-las onde ocasionalmente se encontrem e deve aprecia-las segundo a sua livre conviccao (i.e, liberdade de decidir segundo o bom senso, a experiencia da vida). O juiz nao se limita a considerar as provas que lhe sao trazidas pelos outros sujeitos processuais. A apreciacao da prova deve apoiar-se nos elementos de prova produzidos no processo. O juiz nao pode servir-se, para fundamentar a sua decisao , factos conhecidos fora do processo. So atraves deste principio é que o juiz pode apreciar a personalidade do delinquente ART. 84CPP. O principio da livre apreciacao da prova constitui uma conquista do direito processual moderno tendente a assegurar o nucleo irredutivel dos direitos, garantias e liberdades fundamentais dos cidadaos. No passado algumas legislacoes receosas de que o juiz incorresse em erro na valoracao dos meios de prova, fixavam criterios de apreciacao da prova fundada em regras da vida e da experiencia que tradicionalmente eram tidas como seguras e atraves delas se hierarquizava o valor dos distintos meios de prova e a confissao era tida como a rainha das provas. Excepcoes ao principio da livre apreciacao da prova O principio da livre apreciacao da prova conhece como excepcoes negativas, todos os casos em que a lei proibe certos meios de prova Cf. Anotacao ao ART. 173 CPP. Essa proibicao é antes de tudo uma proibicao de valoracaopor parte do juiz. Como excepcoes de conteudo positivo apontam-se a prova pericial na qual exiustem posicoes segundo as quais nesta prova domina a absoluta liberdade da sua apreciacao pelo juiz ao contrario do que sucedeu no deslumbramento consequente ao advento da chamada prova cientifica, em que se advogava que os pareceres dos peritos deviam considerar-se como contendo verdadeiras decisoesas quais o juiz tinha de sujeitar-se. Tereza Beleza entende que a apreciacao do juiz nao é totalmente livre na no sentido de que o desvio da sua decisao face ao estabelecido no Relatorio pericial necessita de especial justificacao. Nao bastara o juiz colocar em duvida a credibilidade do perito, como podia acontecer se se tratasse de uma testemunha sera necessari contraprova do mesmo valor (outro examee pericial) ou razoes ponderosas para por em questao a opiniao do perito (contradicao sdistematica entre as conclusoes periciais e outras provas fiaveis) No que respeita a prova testemunhal por declaracoes (ART,. 214 e ss CPP), o principio da livre apreciacao da prova vale sem quaiquer limitacoes. Todavia alei da a entender por diverso modos que a prova por declaracoes nao tem a mesma dignidade que a testemunhal, mas nada disto se reflecte em termos de criterio de apreciacao da prova. O juiz é livre de formasr a sua conviccao com base no depoimento de um declarante em desfavor de testemunha contrario. UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE Apontamentos não revistos da Cadeira de Direito Processual Penal – Curso de Direito 3˚ ano - 2013 Docente: Manuel Castiano 10 No tocante ao depoimento do arguido (ART 244, 250, e ss. e 425 e ssCPP) ha que distinguir conforme este negue ou confesse. Em caso de negacao deve-se recorrer por inteiro ao principio da livre apreciacao da prova. Em caso de confissao Cf (ART. 174CPP) ja que esta sujeita quanto ao seu valor a um verdadeiro criterio legal. A apreciacao de factos constantes de documentos autenticos ou autenticados traduz-se num verdadeiro criterio legal (ART. 468 & Unico, ART. 165 e 169 CPP). No codigo de processo penal vigente o Auto de Noticia (ART. 165 CPP) tem o valor de “Fazer fé em juizo” na instrucao e no julgamento “até prova em contrario” desde que o Auto de Noticia seja levantado por determinadas pessoas e em certas circunstancias. A fé em juizo é uma mera prova primafacie, e é –o apena squanrto a materialidade factual presenciada pela autoridade que levantou o Auto. Este fazer fé em juizo nao impede que o juiz faça diligencias complementares, como ouvir a autoridade autuante, eventuais testemunhas, investigar a ilicitude do facto, a culpa do agente, a punibilidade da conduta e quaisquer outros elmentos necessarios para a determinacao da pena. Este fazer fe em juizo nao deve prejudicar o principio da presuncao da inocencia é o que defende Figueiredo Dias. trata-se de uma questao polemica. c) Principio in dubio pro reo Se o juiz, finda a producao da prova num processo nao consegue superar alguma duvida, nao consegue ter a certeza se o arguido cometeu o crime ou nao, ou se se os pressupostos de facto de uma causa de exclusao de ilicitude ou da culpa, ou de uma circunstancia agravante ou atenuante , se verificaram realmente , entao ele deve decidir em favor do arguido, in dubio pro reo, ou seja O principio in dubio pro reo significa que quando o juiz, quando o Tribunal tem uma duvida e essa duvida se diz insanavel, inultrapassavel, porque qualquer homem medio na situacao daquele juiz tambem teria duvidas, quanto a certos factos, ele deve decidir no sentido de dar como provado o facto que beneficia o reu, se ele nao der como provado o facto que o prejudica. O principio in dubio pro reo decorre do principio da presuncao da inocencia e toda a actividade processual é justamente para ilidir essa mesma presuncao. A duvida a que se refere o principio in dubio pro reo é uma duvida sobre a materia de facto , nao pode ser uma duvida sobre uma questao de direito. Esta duvida nao pode ser duvida interpretativa,porque oeste principio nao tem reflexos ao nivel da interpretacao das normas penais, nao se refere a afericao do sentido de uma norma, é antes uma duvida sobre a materia de facto. (Cf. Art. 9 ou 10 CCivil) Se o juz tem duvida sobre a materia de direito a unica coisa que pode fazer é voltar a faculdade e apreender, aprrender mais o direito e as respectivas regras de interpretacao. IV. PRINCIPIOS RELATIVOS A FORMA UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE Apontamentos não revistos da Cadeira de Direito Processual Penal – Curso de Direito 3˚ ano - 2013 Docente: Manuel Castiano 11 a) Princípio da oralidade - com este princípio, pretende-se evidenciar que a decisão se deve fundar em elementos de prova produzidos ou apresentados oralmente na audiência, através de discussão oral realizada perante o juiz. Isto não significa que, no processo penal, haja a exclusão da escrita, isto é, não se proíbe que, dos actos realizados oralmente, se façam registos. Tais revelam-se úteis pois permitem preservar a informação; A diferença entre processo escrito e processo oral não está em existir ou não peças escritas ou existir ou não declarações orais, porque num processo inquisitório também havia declarações orais. A questão que distingue é, pois, o modo como a decisão é encontrada. Num processo dominado pela escrita, o juiz toma a decisão com base nas actas, num processo marcado pela ideia de oralidade, o juiz forma a sua convicção através dos elementos probatórios produzidos oralmente na audiência, ainda que os mesmos venham a ser reduzidos a escrito. b) Princípio da imediação - Este princípio pode significa a relação de proximidade comunicante entre o tribunal e os participantes no processo, de modo a que aquele possa obter uma percepção própria do material probatório, que terá como base para a sua decisão. Por outro lado, este princípio impõe a directa determinação dos conteúdos probatórios, com base em fontes imediatas de informação, proibindo-se sucedâneos probatórios, como, por exemplo, testemunhos de ouvir dizer c) Princípio da publicidade- A publicidade dos julgamentos é uma importante garantia para a justiça através da defesa do arguido. Por outro lado é este princípio que permite que a comunidade possa controlar, fiscalizar o desenvolvimento da actividade processual judiciária dissipando-se quaisquer desconfianças que possam existir quanto à independência e imparcialidade da jurisdicão. Na fase do julgamento, o princípio da publicidade tem uma incidência muito grande (art. 13 da Lei n. 24/2007 de 20 de Agosto). Porém, mesmo no julgamento, não é um princípio absoluto, conhecendo excepções. Com efeito, a publicidade externa pode, nalguns casos, ser limitada (n. 2 do art. 13 da Lei n. 24/2007 de 20 de Agosto)
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