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principios gerais do processo penal. Castiano (1)

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UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE 
Apontamentos não revistos da Cadeira de Direito Processual Penal – Curso de Direito 3˚ ano - 2013 
Docente: Manuel Castiano 
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3˚ Ano - 2˚ Semestre 
Ano lectivo de 2013 N.˚ alunos ...... 
 
Unidade didáctica: Noções introdutórias Local: Fac. Dto-UEM 
 
Tema: Princípios Gerais de Processo Penal 
 
 
I. OBJECTIVOS ESPECÍFICOS – No fim da aula o aluno deve ser capaz de: 
 
- Reconhecer a importância função dos princípios gerais do processo penal entanto 
que valores orientadores da estrutura do processo penal mocambicano; 
- Identificar a aplicabilidade dos principíos nas diversas fases do processo penal. 
 
II. MATERIAL: Para a presente aula é necessário o seguinte material: 
 
II.I. Legislação 
 
- Constituição da República de Moçambique de 2004; 
- Constituição da República de Moçambique de 1990; 
- Código de Processo Penal; 
- Lei n. 24/2007, de 20 de Agosto; 
 
II.II. Bibliografia 
 
1. BARREIROS, José António (1981)- Processo Penal-1 - Livraria Almedina, Coimbra - 
Portugal. 
2. FIGUEIREDO DIAS, Jorge de (1984) - Direito Processual Penal, (Reimpressão), Coimbra 
Editora, Coimbra - Portugal. 
3. MARQUES DA SILVA, Germano (1993) - Curso de Processo Penal, Editorial Verbo, 
Lisboa - Portugal. 
4. TRINDADE, João e Luís Mondlane (1995) - Apontamentos de Direito Processual Penal, 
dactilografados, Maputo,. 
 
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III. CONCEITO DE PRINCÍPIOS1. 
 
A doutrina moderna entende que, embora os princípios não sejam normas jurídicas eles são 
de aplicação directa, não sendo necessário para a sua aplicacão uma fundamentacão legal 
expressa. Os princípios gozam de vida própria pelo simples facto de serem princípios, 
figurem ou não normas juídicas. 
 
Princípios - são valores ou juízos fundamentais que servem de alicerce ou pilares 
orientadores e de garantia da estrutura/sistema do processo penal. É comum organizarem-
se, do ponto de vista didáctico, os princípios de acordo com os principiais elementos 
caracterizadores da estrutura/sistema processual. Assim, analisam-se os princípios relativos 
a: 
 
I. Iniciativa ou promocão Processual 
II. Decurso ou marcha processual 
III. Prova e, 
IV. Forma 
 
I. PRINCIPIO RELATIVO A INICIATIVA PROCESSUAL 
 
a) Princípio da acusacão 
b) Princípio da oficialidade 
c) Principio da legalidade 
 
a) Princípio da Acusacão 
 
Constitui um dos princípio caracterizadores da estrutura acusatória do processo penal 
mocambicano. Segundo este princípio a entidade que julga não pode ser a mesma que 
investiga e acusa a infracção2. Para que isto seja assim, torna-se necessário que 
 
- O Ministério Público - entidade estadual titular do jus procedendi investigue e acuse; 
- O juiz - entidade estadual totular do jus puniendi julgue. 
 
Ao lado desta distinção entre entidade julgadora e entidade acusadora há que indicar a 
existência do princípio de igualdade de “armas” entre a acusação e defesa. Ambos devem ter 
mesmos direitos. Também é verdade que a igualdade é apenas no campo meramente formal, 
pois, o Ministério Público tem na realidade mais poderes que o Arguido. Ele tem uma Polícia 
 
1 Os princípios não são normas jurídicas, eles são valores, pilares orientadores da estrutura do processo penal e 
nem todos eles encontram consagracão legal específica, e isto não lhes retira a eficácia. 
2 Este princípio constitui uma conquista do processo penal moderno cuja decisão judicial se pretende isenta, 
objectiva, imparcial e independente. Tal somente é possível se a entidade estadual que julga for diferente da que 
acusa. 
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de Investigacão Criminal ao seu dispor e que a usa para investigar o crime e o criminoso. 
Nas fases subsequentes a instrucão preparatória (que é secreta de acordo com o art. 70 CPP) 
 
o Ministério Público e o arguido têm os mesmos direitos3, assegurados pelo princípio do 
acusatório. 
 
b) Principio da Oficialidade 
 
Se no princípio da acusacão dizíamos que ao Ministério Público compete investigar e acusar, 
no princípio da oficialidade pretende-se saber a quem compete a iniciativa ou o impulso 
processual, portanto, o impulso de investigar a infracção, e quem compete também a decisão 
de submeter ou não o infractor a julgamento. 
 
Partindo do princípio de que ao Estado compete o jus procedindi, e isto é assim desde o 
momento que o Estado proibiu toda e qualquer vingaça privada e esta passou a ser 
institucionalizada e profissionalizada nos órgãos do Estado, a tarefa de iniciar o 
procedimento penal passou a pertencer aos órgãos do Estado que o fazem, via de regra, 
oficiosamente, e em certos casos mesmo à margem da vontade e da actuação dos 
particulares. 
 
Em regra o Estado age oficiosamente isto é por iniciativa própria não necessitando qualquer 
impulso particular para o início da investigação tendente a apurar o agente, a infraccão e 
responsabilidade. Nalguns casos, na maior, ao Ministério Público cabe esta tarefa de iniciar 
o procedimento, e noutros casos a lei atribui esta tarefa a outras entidades estaduais a tarefa 
de iniciarem, promoverem a investigacão (art. 2 do DL 35007, de 13 de Outubro de 1945)4. 
 
O princípio da oficialidade não é de todo absoluto, ele conhece limitacões que decorrem da 
natureza particular e semi-pública dos crimes: 
 
i. Crimes particulares – Normalmente são os de diminuta gravidade conferindo-
se ao particular ofendido, a iniciativa de dar conhecimento da existência do 
crime. O particular tem assim a faculdade de iniciar, e depois ele próprio, se 
quiser, após as diligências da instrucão preparatória, havendo, que deduza 
acusação (art. 3/ 2 DL 35007 de 13 de Outubro de 1945), mas não é o particular 
ofendido que realiza a instrucão preparatória. Isto significa que a decisão de 
acusar ou não nos crimes particulares pertence ao particular ofendido 
(Assistente) e o Ministério Público, nestes crimes só pode acusar pelos factos de 
que tenha havido acusacão particular e a intervencão do Ministério Público cessa 
 
3 Ambos sujeitos processuais participam na realização do direito, na administração da justiça, contribuem na 
definição do direito ao caso concreto. 
4 Repare que o princípio da oficialidade repercute-se na obrigatoriedade das autoridades policiais e funcionários 
públicos de denunciarem ao Ministério Público as infraccões de que tenham conhecimento, passando desde 
então a accão penal a se desenvolver oficiosamente, através de órgãos ou entidades do Estado. Quer-se dizer, 
que está proibida, a actuação de particulares na investigação dos factos que constituem crime, é nisto que se 
traduz o princípio da oficialidade, no carácter público da promoção processual. 
 
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com o perdão ou desistência do Assistente acusador particular (art. 3 & único 
DL 35007 de 13 de Outubro de 1945). 
 
 
Importa referir que, se o ofendido por um crime particular, quiser que haja 
procedimento criminal, deve declarar na denúncia que se quer constituir 
assistente (Art. &3 in fine DL 35007 de 13 de Outubro de 1945). Os crimes 
particulares são aqueles cuja condicão de procedibilidade é a acusacão do 
particular, querela ou requerimento particular e esta consta ou resulta do tipo 
legal de crime. 
 
ii. Crimes semi-públicos – São os cuja gravidade embora não seja tão diminuta 
quão a dos crimes particulares a lei, os considera estarem mais na esfera privada, 
que outorga aos particularesa faculdade de provocar o procedimento penal e se 
o ofendido entender não iniciar o procedimento penal, a lei não confere a mais 
ninguém tal faculdade, salvo nos casos em que a lei estende tal faculdade a outras 
pessoas (cf. Art. 8 DL 35007 de 13 de Outubro de 1945 e o exemplo típico é do 
art. 399 CP). 
 
No entanto, a partir do momento em que o particular ofendido denuncia a 
existência do crime o Ministério Público adquire legitimidade (que antes 
pertencia apenas ao ofendido) de prosseguir com o procedimento penal sem 
mais intervenção do ofendido. A lei deixa nestes casos o direito de denúncia ao 
particular. Se ele quiser queixar-se, então prossegue tudo como se fosse um crime 
público. 
 
Importa referir que, nos crimes semi-públicos a condicão de procedibilidade é a 
denúncia, queixa ou participacão e esta resulta ou consta do tipo legal de crime. 
 
iii. Crimes públicos – São os que para que haja procedimento penal, basta que a 
notícia do crime chegue ao conhecimento do Ministério Público para que este, 
sem qualquer outra condicão de procedibilidade desencadeie todo o processo. 
Normalmente no tipo legal de crime não consta qualquer condicão de 
procedibilidade. 
 
c) Principio da legalidade 
 
O princípio da legalidade, traduz-se, desde logo em processo penal, na obrigatoriedade de o 
Ministério Público proceder e deduzir a acusação por todas as infracções de que tenha 
tomado conhecimento (tal como descrito no princípio da oficialidade) e que da instrucão 
preparatória tenham resultados indícios suficientes (art. 349CPP). Este princípio da 
legalidade é tão prezado no processo penal que aplica-se a todos os órgão de Administracão 
da Justiça, nomeadamente o Ministério Público, os Juízes e a Polícia de Investigacão 
Criminal. 
 
O Princípio da legalidade não só diz respeito ao início do processo, no sentido de que 
sempre e quando estiverem reunidos os pressuposos para o início do procedimento penal o 
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Ministério Público deve iniciá-lo e quando finda a instrucão preparatória e o Ministério 
Público tiver reunidos o material probatóro bastante o Ministério Público deve acusar. 
Lembre-se que a acusacão não ‘e um dever para o Ministério Público, mas sim um direito. 
 
Repare-se que este princípio da legalidade, nos crimes particulares, não é tão forte quanto 
noutros crimes pois, o Ministério Público, não é obrigado a deduzir acusação, apenas o faz 
como sucedâneo da acusacão particular. 
 
II. PRINCIPIOS RELATIVOS AO DECURSO PROCESSUAL 
 
a) Princípio da investigação/verdade material 
b) Princípio da contraditoriedade e audiência 
c) Princípio da suficiência e concentração 
 
a) Princípio da investigação 
 
Este princípio traduz-se no poder-dever que ao tribunal incumbe de esclarecer e instruir autonomamente, 
mesmo para além das contribuições da acusação e defesa, o facto sujeito a julgamento, criando as bases 
necessárias à sua decisão. 
 
Este princípio para além de orientar todo o desenvolvimento do processo penal, incide 
primeiramente na obtenção das bases de decisão e, consequentemente na matéria das provas, 
por isso este princípio tambem é chamado de principio da verdade material. 
 
b) principio da contraditoriedade 
 
Traduz-se na obrigacão do juiz ouvir as razões tanto a acusacão como a defesa em relacao a 
assuntos sobre os quais deva proferir uma decisao. O principio do contraditorio garante que 
o Juiz, na construcao da sua decisao, deve ter em conta as contribuicoes dos diversos sujeitos 
processuais sobre o objecto do processo, designadamente o direito de audiencia de todos os 
sujeitos que possam vir a ser afectados pela decisao, o direito de intervencao do arguido no 
sentido de este se poder pronunciar sobre todos os elementos trazidos. 
 
A norma constitucional a que refere expressamente ao principio do contraditorio esta 
prevista no art. 62 da Constituicão da Republica de Mocambique/2004, onde se diz “O 
Estado garante o acesso dos cidadaos aos Tribunais e garante aos arguidos o direito de defesa e o 
direito a assistencia e patrocinio judiciario”. 
 
Sempre que uma determinada questão possa afectar a posicão de um sujeito 
processual, tem este legitimidade para intervir ao abrigo do princípio do 
contraditorio. 
 
Porque o modelo processual penal mocambicano é o acusatorio integrado pelo principio da 
investigacao, a forca do principio do contraditorio vai variar. Na fase de investigacao “com 
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marcas da inquisicao” vai haver uma postergacao deste principio. Este principio encontra-se 
consagrado em quase todas as fases do processo sob formas diferentes. 
 
 
 
Na fase de instrucao preparatoria caracteriza-se por ter uma natureza essencialmente nao 
contraditoria, execepto os actos processuais que digam respeito a defesa ou a acusacao casos 
em devem estar presentes. Cf. Art. 70 & 1ºCPP. Isto é assim porque em relacao aos sujeitos 
processuais nao segredo de justica mas em relacao a terceiros existe segredo de justica ate a 
prolacao do despacho de pronuncia ou equivalente. Este entendimento decorre da vigencia 
do DL 35007, porque antes da vigencia deste diploma nao era este entendimento peñsava-se 
que o processo era secreto para todos ao depacho de pronuncia ou equivalente. 
 
Porém, os auto de diligencias de prova efectuados na instrucao preparatoria praticados pela 
P.I.C sao de carácter secreto por forca do art. 13 do DL 35042, de 20 de Outubro de 1945. 
 
A fase de instrucao contraditoria- Aos autos de diligencias praticados nesta fase poderao 
assistir o MºPº,o arguido, o seu defensor e o advogado dos assistentes Art. 330 CPP e 
poderao consultar o processo quando estiver na secretaria & 3º Art.70. 
 
Na fase da Acusacão e defesa – Cf. Art. 379 e ss, art. 390 e 398 todos do CPP. 
 
Na fase de julgamento- Este principio assume a sua plenitude nesta fase exactamente 
porque ser a fase por excelencia de producao de provas. Art. 415 e ss. 
 
Consequencia do desrespeito do principio do contraditorio cf. art. 98 n.5, art. 98 n. 6 CPP 
 
c) principio da suficiência da accão penal 
 
O principio da suficiência- Este principio encontra sua consagracao no Art. 2 CPP. 
Traduz-se na supremacia da jurisdicao penal sobre todas as demais. De acordo com este 
principio, o processo penal é o lugar adequado ao conhecimento de todas as questoes cuja 
solucao se revele necessaria a decisao a tomar. É a afirmacao de que a competencia da accao 
engloba a da excepcao. 
 
A accao penal goza de autonomia e independencia para ser exercida e julgada 
independentemente de qualquer outra, nela se podendo e devendo conhecer todas as 
questoes qualquer que seja a sua natureza. 
 
A regra é de que nenhuma questao penal pode ser julgada numa jurisdicao nao penal mas a 
jurisdicao penal pode julgar as questoes nao penais de feitos penais (questoes de outra 
natureza que possam interessar a decisao da causa penal), mas isto nao significa exclusividade 
de competencia para o julgamento de questoes de natureza nao penal (cf. art. 2, art.3, art. 
147CPP). 
 
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Fundamento - Arredar qualquer obstaculo ao exercicio do jus puniendi que directa ou 
indirectamente possam entravar ou paralisar a accao penal, de facto, se nao se limitasse a 
possibilidade de o processo penal ser sustido ou interrompido, pelo facto de nele surgir uma 
questao susceptivel de apreciacao autonoma por-se-iam em risco as exigencias da 
concentracao processual ou da continuidade do processo e permitir-se-ia colocar obstaculos 
ao exercicio da accao penal. 
 
No processo penal pode-se conhecer: A simulacao,As providencias cautelares, o 
peculato. 
 
QUESTOES PREJUDICIAS 
 
Quando referimo-nos a questoes prejudiciais no processo penal queremo-nos referir a 
questoes prejudiciais nao penais no processo penal, ja que as questoes prejudiciais penais em 
processo penal devem ser conhecidas no processo penal nos termos do ART. 2 CPP, sem 
devolucao a outro Tribunal. 
 
O problema das questoes prejudiciais levanta-se quando, para se conhecer da existencia da 
infraccao penal, seja necessario resolver qualquer questao de natureza nao penal que nao 
possa convenientemente decidir-se no processo penal. 
 
Sao questoes prejudiciais (segundo Figueiredo Dias) – aquelas que possuindo objecto ou ate natureza 
diferente do da questao principal do processo em que surgem, e sendo susceptiveis de constituirem objecto de um 
processo autonomo, sao de resolucao previa e indispensavel para se conhecer em definitivo da questao principal, 
dependendo do sentido deste conhecimento da solucao que lhes for dada. 
 
Nos termos do ART. 3 CPP. quando o Juiz decide que uma questao prejudicial nao penal 
nao sera convenientemente decidida processo penal, pode o mesmo suspender o processo 
penal para que se intente e julgue a respectiva accao no Tribunal competente. 
 
A suspensao pode ser decretada, nos termos do & 2º do Art. 3 CPP, mediante: 
 
 Requerimento em qualquer altura do processo 
- Do Ministerio Publico; 
 - Do Assistente; 
 - Arguido 
 Oficiosamente pelo Juiz apos o encerramento da Instrucao preparatoria. 
 
Colaca-se a questao de saber se a decisao proferida pelo juiz criminal sobre uma 
questao prejudicial nao penal faz caso julgado? 
 
Cavaleiro de Ferreira, pronuncia-se afirmativamente. Para este Processualista Penal é a 
unidade de jurisdicao e o facto de se atribuir competencia ao juiz criminal de conhecer 
questoes nao penais no processo penal, que atribuem eficacia de caso jugado as decisoes 
proferidas em processo penal sobre questoes nao penais. 
 
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Castanheira Neves, embora pronunciando-se afirmativamente encontra fundamento da 
eficacia de caso julgado das decisoes proferidas em processo penal sobre questoes nao 
penais nos artigos 153 e 154CPP e nao na unidade de jurisdicao. 
 
 
 
As decisoes proferidas pelo Tribunal nao penal para o qual uma questao prejudical nao 
penal tenha sido remetida faz caso julgado para a accao penal dessa decisao ficou 
dependente Cf. ART. 152 CPP. 
 
d) Principio da concentracao 
 
Este principio exige que os actos processuais sejam praticados tanto quanto possivel de 
forma unitarias e continuada, devendo no seu conjuntoe em todas as fases do processo 
desenvolver-se concentradamente, quer no epaco quer no tempo. 
 
Este principio enforma todo o processo penale fundamenta-se na necessidade de 
conferir livre curos ao processo penal, sem obstaculos, sem impedimentos ao seu 
exercicio. 
 
Este principio ganha relevo e autonomia na audiencia e julgamento, associando-se aos 
principios de forma enquianto corolario dos principios da oralidade e de imediacao 
(ART. 414, 337, 76 & 1º e 403 CPP). 
 
 
III. PRINCIPIOS RELATIVOS A PROVA 
 
a) Principio da investigacao/verdade material 
b) Principio da livre apreciacao da prova 
c) Principio in dubio pro reo 
 
a) Principio da investigacao ou da verdade material- significa que o esclarecimento 
do material de facto e dos elementos probatorios nao pertence exclusivamente as 
partes. Recai sobre o juiz o onus de investigar e esclarecer o facto submetido a 
julgamento, independentemente das contribuicoes da defesa e da acusacao. Esta 
materia encontra-se consagrada nas materias especificas nos ARTs. 330, 332, 333 
&& 1º e 2º , 404 & 1º, 425 & 3º , 435, 443, 465 & Unico CPP. Assim, nao 
impende às partes no processo penal o dever impugnaçao especifica e o Tribunal nao 
tem de limitar a sua conviccao aos meios de prova apresentados pelas partes. 
 
b) Principio da livre apreciacao da prova - No direito moçambicano nao ha um 
catalogo fechado de meios de prova admissiveis basta ver o Art. 173 CPP. A regra é 
a da atipicidade dos meios de prova, da admissibilidade de qualquer tipo de prova, a 
nao ser a lei a exclua. A questao que se coloca é a de saber se a apreciacao da prova 
deve ter lugar segundo regras gerais predeterminadas do valor a atribuir-lhes 
(sistema de prova legal) ou deve ter lugar de acordo com a livre valoracao do juize 
da sua conviccao pessoal (sistema da prova livre). 
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No direito processual penal mocambicano o valor dos meios de prova nao esta 
legalmente pre-estabelecido. Pelo menos tendencialmente todas as provas valem o 
mesmo. O Tribunal deve ir busca-las onde ocasionalmente se encontrem e deve 
aprecia-las segundo a sua livre conviccao (i.e, liberdade de decidir segundo o 
bom senso, a experiencia da vida). 
 
O juiz nao se limita a considerar as provas que lhe sao trazidas pelos outros sujeitos 
processuais. A apreciacao da prova deve apoiar-se nos elementos de prova 
produzidos no processo. O juiz nao pode servir-se, para fundamentar a sua decisao , 
factos conhecidos fora do processo. So atraves deste principio é que o juiz pode 
apreciar a personalidade do delinquente ART. 84CPP. 
 
O principio da livre apreciacao da prova constitui uma conquista do direito 
processual moderno tendente a assegurar o nucleo irredutivel dos direitos, garantias e 
liberdades fundamentais dos cidadaos. No passado algumas legislacoes receosas de 
que o juiz incorresse em erro na valoracao dos meios de prova, fixavam criterios de 
apreciacao da prova fundada em regras da vida e da experiencia que tradicionalmente 
eram tidas como seguras e atraves delas se hierarquizava o valor dos distintos meios 
de prova e a confissao era tida como a rainha das provas. 
 
Excepcoes ao principio da livre apreciacao da prova 
 
O principio da livre apreciacao da prova conhece como excepcoes negativas, todos os 
casos em que a lei proibe certos meios de prova Cf. Anotacao ao ART. 173 CPP. Essa 
proibicao é antes de tudo uma proibicao de valoracaopor parte do juiz. 
 
Como excepcoes de conteudo positivo apontam-se a prova pericial na qual exiustem 
posicoes segundo as quais nesta prova domina a absoluta liberdade da sua apreciacao 
pelo juiz ao contrario do que sucedeu no deslumbramento consequente ao advento da 
chamada prova cientifica, em que se advogava que os pareceres dos peritos deviam 
considerar-se como contendo verdadeiras decisoesas quais o juiz tinha de sujeitar-se. 
 
Tereza Beleza entende que a apreciacao do juiz nao é totalmente livre na no sentido de que o desvio da 
sua decisao face ao estabelecido no Relatorio pericial necessita de especial justificacao. Nao bastara o juiz 
colocar em duvida a credibilidade do perito, como podia acontecer se se tratasse de uma testemunha sera 
necessari contraprova do mesmo valor (outro examee pericial) ou razoes ponderosas para por em questao 
a opiniao do perito (contradicao sdistematica entre as conclusoes periciais e outras provas fiaveis) 
 
No que respeita a prova testemunhal por declaracoes (ART,. 214 e ss CPP), o principio 
da livre apreciacao da prova vale sem quaiquer limitacoes. Todavia alei da a entender por 
diverso modos que a prova por declaracoes nao tem a mesma dignidade que a 
testemunhal, mas nada disto se reflecte em termos de criterio de apreciacao da prova. O 
juiz é livre de formasr a sua conviccao com base no depoimento de um declarante em 
desfavor de testemunha contrario. 
 
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No tocante ao depoimento do arguido (ART 244, 250, e ss. e 425 e ssCPP) ha que 
distinguir conforme este negue ou confesse. Em caso de negacao deve-se recorrer por 
inteiro ao principio da livre apreciacao da prova. Em caso de confissao Cf (ART. 
174CPP) ja que esta sujeita quanto ao seu valor a um verdadeiro criterio legal. 
 
 
A apreciacao de factos constantes de documentos autenticos ou autenticados traduz-se 
num verdadeiro criterio legal (ART. 468 & Unico, ART. 165 e 169 CPP). No codigo 
de processo penal vigente o Auto de Noticia (ART. 165 CPP) tem o valor de “Fazer fé 
em juizo” na instrucao e no julgamento “até prova em contrario” desde que o Auto 
de Noticia seja levantado por determinadas pessoas e em certas circunstancias. A fé em 
juizo é uma mera prova primafacie, e é –o apena squanrto a materialidade factual 
presenciada pela autoridade que levantou o Auto. 
 
Este fazer fé em juizo nao impede que o juiz faça diligencias complementares, como 
ouvir a autoridade autuante, eventuais testemunhas, investigar a ilicitude do facto, a culpa 
do agente, a punibilidade da conduta e quaisquer outros elmentos necessarios para a 
determinacao da pena. Este fazer fe em juizo nao deve prejudicar o principio da 
presuncao da inocencia é o que defende Figueiredo Dias. trata-se de uma questao 
polemica. 
 
c) Principio in dubio pro reo 
 
Se o juiz, finda a producao da prova num processo nao consegue superar alguma duvida, 
nao consegue ter a certeza se o arguido cometeu o crime ou nao, ou se se os 
pressupostos de facto de uma causa de exclusao de ilicitude ou da culpa, ou de uma 
circunstancia agravante ou atenuante , se verificaram realmente , entao ele deve decidir 
em favor do arguido, in dubio pro reo, ou seja O principio in dubio pro reo significa 
que quando o juiz, quando o Tribunal tem uma duvida e essa duvida se diz insanavel, 
inultrapassavel, porque qualquer homem medio na situacao daquele juiz tambem teria 
duvidas, quanto a certos factos, ele deve decidir no sentido de dar como provado o facto 
que beneficia o reu, se ele nao der como provado o facto que o prejudica. 
 
O principio in dubio pro reo decorre do principio da presuncao da inocencia e toda a 
actividade processual é justamente para ilidir essa mesma presuncao. 
 
A duvida a que se refere o principio in dubio pro reo é uma duvida sobre a materia de 
facto , nao pode ser uma duvida sobre uma questao de direito. Esta duvida nao pode ser 
duvida interpretativa,porque oeste principio nao tem reflexos ao nivel da interpretacao 
das normas penais, nao se refere a afericao do sentido de uma norma, é antes uma 
duvida sobre a materia de facto. (Cf. Art. 9 ou 10 CCivil) 
 
Se o juz tem duvida sobre a materia de direito a unica coisa que pode fazer é voltar a 
faculdade e apreender, aprrender mais o direito e as respectivas regras de interpretacao. 
 
IV. PRINCIPIOS RELATIVOS A FORMA 
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a) Princípio da oralidade - com este princípio, pretende-se evidenciar que a 
decisão se deve fundar em elementos de prova produzidos ou apresentados 
oralmente na audiência, através de discussão oral realizada perante o juiz. Isto não 
significa que, no processo penal, haja a exclusão da escrita, isto é, não se proíbe que, 
dos actos realizados oralmente, se façam registos. Tais revelam-se úteis pois 
permitem preservar a informação; 
 
A diferença entre processo escrito e processo oral não está em existir ou não peças 
escritas ou existir ou não declarações orais, porque num processo inquisitório 
também havia declarações orais. A questão que distingue é, pois, o modo como a 
decisão é encontrada. 
 
Num processo dominado pela escrita, o juiz toma a decisão com base nas actas, num 
processo marcado pela ideia de oralidade, o juiz forma a sua convicção através dos 
elementos probatórios produzidos oralmente na audiência, ainda que os mesmos 
venham a ser reduzidos a escrito. 
 
b) Princípio da imediação - Este princípio pode significa a relação de 
proximidade comunicante entre o tribunal e os participantes no processo, de modo a 
que aquele possa obter uma percepção própria do material probatório, que terá 
como base para a sua decisão. Por outro lado, este princípio impõe a directa 
determinação dos conteúdos probatórios, com base em fontes imediatas de 
informação, proibindo-se sucedâneos probatórios, como, por exemplo, testemunhos 
de ouvir dizer 
 
c) Princípio da publicidade- A publicidade dos julgamentos é uma importante 
garantia para a justiça através da defesa do arguido. Por outro lado é este princípio 
que permite que a comunidade possa controlar, fiscalizar o desenvolvimento da 
actividade processual judiciária dissipando-se quaisquer desconfianças que possam 
existir quanto à independência e imparcialidade da jurisdicão. 
 
Na fase do julgamento, o princípio da publicidade tem uma incidência muito grande 
(art. 13 da Lei n. 24/2007 de 20 de Agosto). Porém, mesmo no julgamento, não é 
um princípio absoluto, conhecendo excepções. Com efeito, a publicidade externa 
pode, nalguns casos, ser limitada (n. 2 do art. 13 da Lei n. 24/2007 de 20 de Agosto)

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