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GESTÃO DE ARMAZENAMENTO, ESTOQUE E DISTRIBUIÇÃO Isis Boostel Cadeia de valor e logística de armazenagem Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer o conceito da cadeia de valor. Explicar a influência da logística na cadeia de valor. Identificar os impactos de custo-preço na cadeia de valor. Introdução O valor de um produto ou serviço diz respeito ao benefício percebido pelo cliente, levando-se em conta a qualidade do serviço, o custo e o tempo de atendimento e entrega. Quanto maior a qualidade da oferta e quanto melhor o serviço prestado, maior o benefício percebido. A logística se apresenta como meio essencial para agregar valor ao pro- duto ou serviço oferecido ao cliente, proporcionando disponibilidade do produto, confiabilidade e qualidade no serviço ao cliente e resultando em vantagem competitiva. Neste capítulo, você vai estudar o conceito de cadeia de valor, que tem como objetivo determinar os principais pontos a serem trabalhados nas atividades de entrada e saída de uma empresa para se agregar valor a um produto ou serviço. Você vai verificar também quais são as atividades primárias e de apoio que compõem essa cadeia. Você também vai estu- dar o papel da logística na cadeia de valor e o impacto de custo, preço, embalagem e outros elementos na construção do valor para o cliente. Cadeia de valor A cadeia de valor é um modelo estratégico que ajuda a determinar quais atividades internas ou externas de uma empresa criam valor para os clientes e resultam em vantagem competitiva. Esse conceito foi criado por Michael Porter e consiste em determinar um fl uxograma de atividades essenciais para agregar valor a um produto ou serviço. O modo de realização dessas atividades determina os custos e afeta os lucros da organização. Porter (1990) defi niu uma cadeia de atividades comuns a todas as empresas e dividiu-as em atividades primárias e de apoio, conforme mostra a Figura 1. Figura 1. Cadeia de valor segundo Porter. Fonte: Serafim (2013, documento on-line). Infraestrutura Gestão de recursos humanos Desenvolvimento tecnológico Aquisição/compras Margem Serviços Atividades primárias Marketing e vendas Logística de saída OperaçõesLogística de entrada A tiv id ad es d e ap oi o As atividades primárias se relacionam diretamente com a criação física, a venda, a manutenção e o suporte de um produto ou serviço e dividem-se nas categorias abaixo: Logística interna ou de entrada: envolve as atividades de entrada de produtos e matéria-prima e o controle de inventário. Nessa etapa, a relação com os fornecedores é fundamental para a criação de valor. Operações: envolve a produção, o maquinário, a montagem, a manu- tenção de equipamentos, a embalagem, os testes e outras atividades que criam valor na transformação das entradas no produto final. Logística externa ou de saída: é a atividade de entrega de produto ou serviço ao cliente. Inclui as etapas de armazenamento, separação de pedidos e distribuição. Essa etapa pode ser própria ou terceirizada. Marketing e vendas: nessas atividades, a empresa convence o cliente a adquirir o seu produto ou serviço. O valor pode ser criado com base nos benefícios, na qualidade ou na facilidade que os produtos ou serviços oferecem, entre outros aspectos. Serviços: o valor é agregado nessas atividades de acordo com o modo como o cliente é atendido após comprar o produto. Incluem as etapas Cadeia de valor e logística de armazenagem2 de Serviço de Atendimento ao Consumidor(SAC), serviços de reparo, manutenção e instalação, atualizações do produto, programas de fi- delidade, etc. Já as atividades de apoio são aquelas que auxiliam as atividades primárias: Infraestrutura: são os setores de que a empresa necessita para manter as operações. Podemos citar as áreas administrava, legal, financeira, contábil, de qualidade e de gestão geral como exemplos. Gestão de recursos humanos: são as atividades referentes ao recru- tamento, à seleção, ao desenvolvimento, ao treinamento, à segurança do trabalho, à retenção e à compensação de colaboradores e gestores. Desenvolvimento tecnológico: inclui o desenvolvimento tecnológico para apoiar as atividades da cadeia de valor, como pesquisa e desen- volvimento (P&D), automação de processos, design, etc. Aquisição/compras: engloba todos os processos que a empresa realiza para adquirir os recursos necessários para trabalhar, como aquisição de matérias-primas, serviços, edifícios, máquinas, etc. Aqui também se inclui desenvolver fornecedores e negociar para obter os melhores preços. Para Porter (1990), a compreensão da estrutura da indústria e da análise dos concorrentes é o foco da estratégia competitiva; transformar essa compreen- são em vantagem frente aos concorrentes é o alvo da vantagem competitiva. Minotto (2003) considera que a análise detalhada da cadeia de valor permite a seleção das atividades estratégicas que, se executadas com maior valor ou de forma mais adequada, geram vantagem competitiva frente aos concorrentes. Christopher (2002) relata que o sucesso do processo é obtido porque o prazo no recebimento, na expedição e na fabricação de um produto se iguala ao ciclo de pedido, tempo que o cliente está disposto a esperar pela mercadoria. A tecnologia da informação (TI) é fator crucial na tarefa de cumprir os objetivos acima, gerando assim valor ao cliente. Para Hitt, Ireland e Hoskisson (2005), a cadeia de valor é um modelo utilizado pela empresa a fim de entender seus custos e a maneira como deve ser implementada sua estratégia comercial. A logística na cadeia de valor O objetivo fi nal de qualquer sistema logístico é satisfazer os clientes. Todos em uma organização estão envolvidos com o serviço ao cliente. Mesmo aqueles 3Cadeia de valor e logística de armazenagem que não servem diretamente ao cliente externo devem servir bem a quem os serve. Em outras palavras, se alguém não serve diretamente ao cliente externo, deve servir a algum cliente interno. Segundo Carvalho (2002, p. 31), [...] logística é a parte do Gerenciamento da Cadeia de Abastecimento que planeja, implementa e controla o fluxo e armazenamento eficiente e econô- mico de matérias-primas, materiais semiacabados e produtos acabados, bem como as informações a eles relativas, desde o ponto de origem até o ponto de consumo, com o propósito de atender às exigências dos clientes. A logística se apresenta como meio essencial para agregar valor ao pro- duto ou serviço oferecido ao cliente e se diferenciar no mercado. Para isso, é preciso que todo o processo seja coordenado e equilibrado ao longo da cadeia de suprimentos. Relacionada às atividades primárias, a logística de entrada é responsável por abastecer a empresa com matéria-prima ou produtos necessários para a operação da empresa. Essa atividade se inicia nos fornecedores e envolve o controle do recebimento, da descarga e do armazenamento de matéria-prima. Também é de responsabilidade da logística de entrada o retorno das embala- gens, como acontece, por exemplo, na indústria de bebidas. Nessa fase, o valor começa a ser agregado ao produto e ser transmitido ao cliente, em função da qualidade da matéria-prima adquirida para ser transfor- mada em produto. Auditar os processos dos fornecedores e controlar a qualidade dos insumos recebidos são pilares para garantir o padrão desejado do produto. Compras e aquisições são as atividades de apoio ligadas diretamente à logística de entrada. Desenvolver novos fornecedores é uma forma de garantir que os níveis de suprimentos sempre estejam adequados à demanda e, também, de atingir o padrão de qualidade esperado na entrada da matéria-prima, além de garantir maior poder de negociação nas compras realizadas. Já a logística de saída é responsável pela distribuição do produto. Essa atividade começa no armazenamento do produto acabado, passa pela separação dospedidos e chega na expedição dos produtos para o cliente. A principal forma de criar valor ao cliente está na agilidade de atendimento do pedido. O atraso na entrega ou o recebimento de um produto errado pode resultar na perda do cliente. O Quadro 1 apresenta as 10 principais reclamações de clientes do e-commerce, segundo dados do Procon do Rio Grande do Norte. Cadeia de valor e logística de armazenagem4 Fonte: Procon RN. 10 principais problemas Atraso na entrega 27,06% Produto não recebido 7,38% Troca/devolução de produto 5,52% Propaganda enganosa 4,54% Estorno do valor pago 4,31% Produto com defeito 3,33% Produto errado 3,17% Mau atendimento no SAC 2,68% Finalização da compra 1,76% Divergência de valores 1,4% Quadro 1. As 10 principais reclamações de clientes do e-commerce No processo de separação ou preparação de pedidos (picking), o produto comprado é localizado no estoque do armazém, depois coletado e movi- mentado no estoque; o produto, então, é embalado, endereçado e segue para o transporte. Toda essa etapa é documentada. Os gastos com a etapa de pi- cking correspondem a até 55% das despesas de operação dos armazéns, e as atividades a ela relacionadas exigem uma maior atenção, pois as chances de envio de produtos errados são maiores nessa fase. Além disso, o tempo dessa atividade contribui consideravelmente para o tempo de fluxo do pedido. O uso da tecnologia nas logísticas de entrada e saída, além de reduzir custos, otimiza toda a operação, reduzindo o tempo de preparação do pedido. Além de redução de custos, proporciona a satisfação do cliente. O uso do key performance indicator (em português, indicador chave de desempenho) é fundamental para medir a performance nas entregas e faz parte da boa gestão. Identificar os gargalos na operação de distribuição permite definir estratégias para melhorar o processo. Podemos usar alguns indicadores e diretrizes na logística de saída que auxiliam no atendimento e na satisfação dos clientes e, consequentemente, agregam valor: Acuracidade do inventário: informar ao cliente a existência de um produto e depois deixar de atendê-lo é um grande erro; por isso, deve-se atentar para a acurácia nos dados do estoque. 5Cadeia de valor e logística de armazenagem Percentual de atendimento e entregas corretas, ou OTIF (On Time, In Full): esse índice mede o percentual de pedidos entregues de acordo com a especificação do cliente, no prazo estabelecido. Índice de avarias: mede a quantidade de produtos que foram recebidos apresentando danos e avarias. Terceirizar uma etapa ou toda a logística de saída pode ser uma boa opção para criar valor ao cliente. Um bom operador logístico oferece mais tecnolo- gia, melhores soluções em armazenamento e mão de obra especializada, e o resultado é a melhoria no atendimento ao cliente e até a redução de custos. O serviço ao cliente é uma arma competitiva e proporciona valor ao cliente, tendo como função fornecer “utilidade de tempo e lugar” ao comprador. Não há valor nos produtos ou serviços até estarem nas mãos do cliente. O serviço ao cliente proporciona pontualidade e confiabilidade na entrega de produtos e serviços, de acordo com a expectativa dos clientes, e será o resultado de elementos da pré-transação, da transação e da pós-transação. Os elementos da pré-transação estão associados à importância que a em- presa atribui ao serviço ao cliente, suas políticas e seus programas de aperfeiço- amento. Os elementos da transação são diretamente associados ao desempenho da função de distribuição física, como a confiabilidade do produto e da entrega. Os elementos da pós-transação correspondem ao suporte ao produto em uso e aos relacionamentos pós-venda. É importante entender as necessidades de cada segmento de mercado, para que se proporcione corretamente a cada segmento o serviço ao cliente desejado. Dada a sua importância, é essencial para a empresa ter uma política claramente definida em relação ao serviço ao cliente. Em especial, deve estar claro que a perda potencial causada pela falta de estoques é significativa tanto para os fabricantes quanto para os varejistas. Custo-preço na cadeia de valor O serviço ao cliente poderá proporcionar o diferencial entre a oferta de uma empresa e a oferta de seus concorrentes. A disponibilidade do produto certo, no local e no momento certos e nas quantidades e especifi cações desejadas pode determinar a preferência de clientes exigentes, em um mercado onde o poder da logística parece estar superando o poder das marcas. Em outras palavras, o poder do serviço de suporte ao cliente pode estar se tornando mais importante do que o poder da imagem da marca. Cadeia de valor e logística de armazenagem6 A vantagem competitiva de uma empresa advém da sua capacidade de ofe- recer mais valor ao cliente do que os seus concorrentes. O valor para o cliente é definido como benefícios percebidos/custo total de aquisição e propriedade. Em outra perspectiva, o valor para o cliente pode ser visto como: (qualidade x serviço) / (custo x tempo). Quanto maior a qualidade da oferta e quanto melhor o serviço prestado, maior o benefício percebido. Por outro lado, quanto menor o custo de transação do cliente e o tempo de espera, menor o custo total de aquisição e propriedade. A logística contribui para aumentar o valor para o cliente, proporcionando disponibilidade do produto, menor tempo de espera, entre outros serviços ao cliente. A análise de custos na cadeia de valor é uma prática da gestão estratégica de custos (GEC). Para Rocha (1999), os objetivos dessa análise são: detectar oportunidades e ameaças; identificar pontos fortes e fracos; detectar oportunidades de diferenciação; identificar os principais determinantes de custo; localizar oportunidades de redução de custo nas atividades que não agregam valor; comparar com a cadeia de valor dos concorrentes. As vendas no e-commerce vêm ganhando espaço a cada dia. Um dos grandes desafios desse formato de venda está na falta de contato entre o vendedor e o consumidor. Essa distância anula o poder de negociação entre as partes. Entretanto, as vendas on-line possibilitam que os clientes comparem preços e produtos em vários fornecedores simultaneamente. Informações sobre o prazo de entrega, o valor do frete e a forma de pagamento também são relevantes para a decisão de onde comprar. Algumas atividades podem gerar produtos ou serviços que atendem os clientes, enquanto outras voltam-se para atender o cliente interno, ou seja, algum setor da empresa. Segundo Pereira (1993, p. 228), [...] o preço de transferência pode ser entendido como o valor pelo qual é trans- ferido um produto/serviço entre as diversas áreas e atividades que compõem uma empresa, e, conceitualmente, envolve as seguintes noções elementares: a) intermediação das relações entre as diversas áreas; e b) reconhecimento da receita gerada pelas atividades. 7Cadeia de valor e logística de armazenagem Identificam-se três métodos gerais de determinação dos preços de transferência: Preço de transferência baseado no custo: quando o preço é definido com base nos custos de produção do bem ou serviço em questão, podendo ser utilizados os custos reais, orçados ou padrão, por exemplo, dos custos variáveis ou dos custos totais. Preço de transferência baseado no mercado: nesse caso, o mercado é que dita o preço do produto. A definição se baseia em quanto o con- sumidor está disposto a pagar pelo seu produto. A concorrência é um bom parâmetro para essa definição. Preço de transferência negociado: quando o preço é determinado em função de acordo entre a área que compra e a que vende. Segundo Horngren, Foster e Datar (2000), é um critério geralmente empregado quando os preços de mercado são instáveis, e as alterações ocorrem com frequência. O marketing também é fundamental para se determinar o valor de um produto. Fazer o produto ficar conhecido estimula as vendas e podeaté fazer um cliente pagar um preço maior em relação ao produto da concorrência. O design de uma embalagem também pode fazer toda a diferença na escolha de um produto por parte do consumidor. A embalagem deve despertar o interesse do consumidor em adquirir o produto. Uma embalagem bem elaborada e que possa ser reutilizada agrega valor ao produto. Indicar a praticidade, a facilidade de uso e a conveniência são estratégias para demonstrar os pontos fortes do produto em relação aos concorrentes. Outro fator que tem peso decisivo na escolha por um produto é a facilidade em encontrar locais autorizados para realizar manutenções preventivas ou corretivas. O valor gasto nessas intervenções também é crucial na hora de decidir qual produto comprar. A maneira com que a empresa fabrica os produtos também gera grande impacto nos clientes. O consumidor busca, cada vez mais, empresas que utilizam os recursos naturais de forma sustentável. Além de melhorar a visão da empresa perante o consumidor, o cumprimento da legislação ambiental e a redução de emissões de poluentes podem gerar receitas para a empresa por meio da reciclagem e de benefícios como o crédito de carbono. Cadeia de valor e logística de armazenagem8 Créditos de carbono são “certificados” que empresas compram para emitirem gases de efeito estufa. Quando a empresa reduz as emissões desses gases, recebe um crédito a cada tonelada reduzida. Esses créditos podem ser comercializados para empresas que não conseguem diminuir suas emissões. CARVALHO, J. M. C. Logística. 3. ed. Lisboa: Edições Sílabo, 2002. CHRISTOPHER, M. Logística e gerenciamento da cadeia de suprimentos: estratégicas para a redução de custos e melhorias dos serviços. São Paulo: Pioneira, 2002. HITT, M.; IRELAND, R. D.; HOSKISSON, R. Strategic management: competitiveness and globalization. 6. Th. [ S.l]: Thomson Corporation, 2005. HORNGREN, C. T.; FOSTER, G.; DATAR, S. M. Contabilidade de custos. 9. ed. Rio de Ja- neiro: LTC, 2000. MINOTTO R. A estratégia em organizações hospitalares. 2 ed. Porto Alegre:PUCRS, 2003. PEREIRA, C. A. Estudo de um modelo conceitual de avaliação de desempenhos para gestão econômica. 1993. Dissertação (Mestrado em Contabilidade) – FEA/USP, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1993. PORTER, M. E. Vantagem competitiva: criando e sustentando um desempenho superior. Rio de Janeiro: Campus, 1990. ROCHA, W. Contribuição ao estudo de um modelo conceitual de sistema de informação de gestão estratégica. Tese (Doutorado em Controladoria e Contabilidade). 1999. 149 p. Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1999. Leituras recomendadas BALLOU, R. Gerenciamento da cadeia de suprimentos/logística empresarial. Porto Alegre: Bookman, 2012. BOWERSOX, D. J. et al. Gestão logística da cadeia de suprimentos [recurso eletrô nico]. 4. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. MOURA, R. A. Armazenagem: do recebimento à expedição em almoxarifados ou centros de distribuições. 4. ed. São Paulo: Imam, 2006. MOURA, R. A. Sistemas e técnicas de movimentação e armazenagem de materiais. 6. ed. São Paulo: Imam, 2008. 9Cadeia de valor e logística de armazenagem Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo: Catalogação na publicação: Júlia Angst Coelho – CRB 10/1712 B193g Ballou, Ronald H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos/logística empresarial / Ronald H. Ballou ; tradução Raul Rubenich. – 5. ed. – Porto Alegre : Bookman, 2006. 616 p. ; 28 cm. ISBN 978-85-363-0591-2 1. Logística Empresarial. 2. Administração – Material – Logística. I. Título. CDU 658.7 _Ballou-Ronald_00_Iniciais 4/14/08 12:44 PM Page ii CAPÍTULO 4 • LOGÍSTICA/CADEIA DE SUPRIMENTOS: SERVIÇO AO CLIENTE 95 paletes, etc.), e para gerenciar reivindicações, queixas e devoluções. Esses elementos se fazem sentir depois da venda do produto, mas devem ser planejados nos está- gios de pré-transação e transação. Serviço corporativo ao cliente é a soma de todos es- ses elementos, porque os clientes reagem ao seu mix to- tal. Obviamente, nem todos os elementos têm o mesmo nível de importância. Em vista disso, qual deles seria mais lucrativo gerenciar? As pesquisas a respeito vêm apresentando resultados interessantes. Importância Relativa dos Elementos do Serviço Sterling e Lambert estudaram detalhadamente a indús- tria de sistemas e móveis para escritórios, e igualmente a indústria de plásticos. A partir de um grande número de variáveis (99 e 112, respectivamente), representando produto, preço, promoção e distribuição física, conse- guiram identificar os elementos mais importantes na vi- são de compradores, clientes e consultores de compras. Com base nos escores médios de importância apontados pelos entrevistados em uma escala de 1 a 7, os estudio- sos classificaram os elementos dos serviços em cada uma dessas indústrias por ordem de importância, como aparece na Tabela 4-1. Quanto à indústria de sistemas e móveis de escritórios, Sterling e Haiden concluíram: A pesquisa mostrou que a distribuição física (DF/servi- ço ao cliente) é componente integral e indispensável do composto mercadológico, além de proporcionar às em- presas uma oportunidade significativa quanto ao esta- belecimento de vantagem diferencial no mercado. A avaliação das 16 variáveis mais importantes pelos dis- tribuidores, usuários finais e empresas de projeto e de arquitetura revelou que pelo menos oito dentre elas eram variáveis de distribuição física/serviço ao cliente.8 Já na indústria de plásticos, nove das 18 variáveis mais importantes tinham relação com a logística. Entre as variáveis remanescentes, cinco tinham ligação com a qualidade dos produtos, duas com o preço e duas com a equipe de vendas.9 A pesquisa de Sterling e Lambert sem dúvida indica que a logística dos serviços é a preocupação dominante entre os clientes das indústrias de sistemas e móveis de escritório e de plásticos. Embora uma amostragem tão li- mitada de indústrias possa mostrar-se insuficiente como prova daquilo que se pretende estabelecer, outros espe- cialistas têm observado fenômeno semelhante. Em estu- do similar do mercado secundário de vidros de automó- veis, Innis e LaLonde constataram que seis dos 10 me- lhores atributos de serviços ao cliente eram de natureza logística.10 Puderam verificar, assim, que altas taxas de preenchimento, freqüência de entrega e informações de FIGURA 4-1 Elementos do serviço ao cliente. Fonte: Adaptado de Bernard J. Lalonde and Paul H. Zinszer, “Customer Service As a Com- ponent of the Distribution System”, Working Paper Series WPS 75-4 (Columbus, OH: The Ohio State University, College of Administrative Science, February1975). Elementos de pós- transação • Instalação, garantia, alterações, consertos, peças • Rastreamento do produto • Queixas e reclamações dos clientes • Embalagem • Substituição temporária de produtos danificados Serviço ao cliente Elementos de pré- transação • Compromisso de procedimento • Compromisso entregue ao cliente • Estrutura organizacional • Sistema flexível • Serviços técnicos Elementos da transação • Níveis de estoque • Pedidos em carteira • Elementos do ciclo de pedidos • Tempo • Transbordo • Sistema confiável • Conveniências do pedido • Substituição de produtos 8 Jay U. Sterling and Douglas M. Lambert, “Customer Service Research: Past, Present, and Future”, International Journal of Physical Distribution & Materials Management, Vol. 19, nº 2 (1989), pág. 17. 9 Thomas C. Harrington and Douglas M. Lambert, “Establishing Customer Service Strategies Within the Marketing Mix: More Empirical Evidence”, Journal of Business Logistics, Vol. 10, nº 2 (1989), págs. 44-60. 10 Danniel E. Innis and Bernard J. Lalonde, “Customer Service: The Key to Customer Satisfaction, Customer Loyalty, and Market Share”, Journal of Business Logistics, Vol. 15, nº 1 (1994), págs. 1-27. _Ballou/Ronald_0418.09.06 10:29 Page 95 esaito Retângulo 96 PARTE II • OBJETIVOS DO SERVIÇO AO CLIENTE TABELA 4-1 Variáveis do serviço ao cliente classificadas por ordem de importância para duas indústrias Indústria de sistemas e móveis para escritório Indústria de plásticos Componentes Componentes Média/desv. do composto Média/desv. do composto padrãoª de marketing Descrição padrãoª de marketing Descrição 6,5/0,8 Logística Fabricante entrega na data marcada 6,3/0,8 Logística Pedidos atendidos com precisão 6,2/0,9 Produto Qualidade do conjunto e de projeto compatível com o preço 6,1/1,0 Preço Preço competitivo 6,1/1,0 Logística Notificação em tempo hábil de eventuais atrasos de embarque 6,1/0,9 Promoção Ação imediata dos representantes da fábrica em pedidos de assistência 6,0/1,0 Logística Providências com relação às reclamações quanto ao serviço ao cliente 5,9/1,1 Logística Consistência no ciclo de pedidos (pequena variabilidade) 5,9/1,0 Logística Precisão do fabricante na estimativa das datas de embarque 5,9/0,9 Produto Estética e acabamentos gerais 5,9/1,0 Produto Continuidade: produtos permanentes 5,9/1,0 Logística Aceitação automática de produtos com defeitos 5,8/1,2 Logística Extensão do prazo de entrega para encomendas rápidas 5,8/1,1 Logística Encomendas entregues integralmente 5,8/1,1 Logística Encomendas rápidas entregues integralmente 5,8/1,1 Preço Política de preços realista, consistente 6,6/0,6 Produto As resinas do fornecedor têm qualidade permanente 6,5/0,8 Promoção Qualidade da equipe de vendedores – honestidade 6,4/0,8 Logística Precisão no atendimento das encomendas (despachado o produto especificado) 6,4/0,9 Preço Preços competitivos 6,4/0,9 Produto Resina processável 6,3/1,0 Produto As resinas do fornecedor têm cores consistentes 6,3/0,8 Logística Prazos de entrega consistentes (o vendedor entrega sempre na data prevista) 6,3/0,9 Produto As resinas do fornecedor apresentam um fluxo consistente de fusão 6,3/0,9 Logística Capacidade de despachar pedidos emergenciais com rapidez e eficiência 6,2/0,9 Logística Informação dada no momento da encomenda – previsão da data do despacho 6,2/1,0 Logística Notificação de atraso no despacho em tempo hábil 6,1/1,0 Preço Qualidade da resina compatível com o preço 6,1/1,1 Produto Qualidade geral da resina compatível com o preço 6,1/1,1 Logística Informação dada no momento da encomenda – previsão da data da entrega 6,1/1,0 Logística Providências quanto a reclamações (sobre tratamento e embarque da encomenda, condições dos produtos, etc.) 6,1/1,0 Logística Extensão dos prazos de entrega previstos (entre a colocação do pedido e a entrega – produtos disponíveis) 6,1/1,0 Promoção Qualidade da equipe de vendedores – acompanhamento permanente 6,0/1,2 Logística Informação dada na emissão do pedido – disponibilidade em estoque Medidos na escala de 1 a 7. Fonte: Douglas M. Lambert and Thomas C. Harrington, “Establishing Customer Service Strategies Within the Marketing Mix: More Empirical Evidence”, Jour- nal of Business Logistics, Vol. 10, nº 2 (1989), pág. 50. _Ballou/Ronald_04 18.09.06 10:29 Page 96 CAPÍTULO 4 • LOGÍSTICA/CADEIA DE SUPRIMENTOS: SERVIÇO AO CLIENTE 97 disponibilidade de estoque, data de embarque projetado e data de entrega projetada no momento da colocação do pedido tiveram altos índices de aprovação entre os clientes revendedores. Além disso, LaLonde e Zinszer constataram que a disponibilidade de produtos (preen- chimento do pedido, acurácia do pedido e níveis de esto- cagem) e o tempo do ciclo de pedido (tempo de trânsito do pedido e tempo para composição e embarque) consti- tuíam as maiores preocupações dos clientes, sendo os fa- tores mais importantes para 63% dos entrevistados nes- se estudo.11 Marr também fez um estudo abrangendo vá- rias empresas, chegando aos seguintes resultados: 1. Apenas um dos entrevistados mencionou o cus- to do serviço. 2. Somente um dos sete elementos mais importantes estava fora do controle da gerência de distribuição. 3. O mais importante elemento desse serviço foi a rapidez da entrega.12 A Shycon Associates entrevistou executivos de compras e distribuição de uma grande área de indústrias norte-americanas, pedindo-lhes que dessem notas aos respectivos fornecedores.13 A Figura 4-2 mostra quais, no entendimento dos entrevistados, as falhas mais co- muns desses serviços. O atraso na entrega e a variável logística dos serviços ao cliente responderam por quase a metade dos problemas apontados, sendo aos produtos com defeitos atribuídos cerca de um terço de tais pro- blemas. Jackson, Keith e Burdick puderam demonstrar a maneira pela qual os elementos dos serviços assu- mem graus diferentes de importância, dependendo do tipo de produto que se estiver comprando.14 Para tan- to, entrevistaram 254 compradores em 25 empresas quanto à importância de seis elementos de serviços de distribuição física. Os resultados estão na Tabela 4-2. Mais uma vez, observe-se a importância relativa da coerência entre prazo de entrega e da consistência do tempo de entrega. Em resumo, os pontos a seguir são considerados os mais importantes elementos logísticos dos serviços aos clientes: • Entrega pontual • Índice de atendimento dos pedidos* • Condições dos produtos • Exatidão da documentação15 TEMPO DO CICLO DO PEDIDO Os elementos básicos dos serviços ao cliente que o pro- fissional de logística consegue controlar estão dentro do conceito do tempo do ciclo de pedido (ou de serviço). O tempo do ciclo de pedido é definido como o tempo de- corrido entre o momento de pedido do cliente, a ordem de compra ou requisição do serviço, e aquele da entre- ga do produto ou serviço ao cliente. O ciclo do pedido abrange todos os eventos mensuráveis em tempo do prazo total para a entrega de uma encomenda. A Figura 4-3 apresenta os componentes típicos de um ciclo de tempo. Observe-se que os elementos independentes de um ciclo de pedido são os tempos de transmissão, pro- cessamento e montagem, disponibilidade de estoque, tempo de produção e tempo de entrega. São eles direta ou indiretamente controlados por meio da escolha e do projeto dos métodos de transmissão do pedido, das po- FIGURA 4-2 Reclamações mais comuns em matéria de servi- ços aos clientes. Fonte: Steven G. Baritz e Lorin Zissman, “Researching Customer Service: The Right Way”, Proceedings of the National Council of Physical Distri- bution Management, Vol. II (New Orleans, LA: 25/10/2003), pág. 611. Produtos ou qualidades inadequados 31% Bens danificados 12% Itens freqüentemente esquecidos 6% Atrasos na entrega 44% Outros 7% 11 LaLonde e Zinszer, “Customer Service: Meaning and Measurement”. 12 Norman E. Marr, “Do Managers Really Know What Service Their Custo- mers Require?”, International Journal of Physical Distribution & Logistics Management, Vol. 24, nº 4 (1994), págs. 24-31. 13 Steven G. Baritz and Lorin Zissman, “Researching Customer Service: The Right Way”, Proceedings of The National Council of Physicial Distribution Management, Vol. II (New Orleans, LA: October 25, 1983), págs. 608-619). 14 Donald W. Jackson, Janet E. Keith and Richard K. Burdick, “Examining the Relative Importance of Physical Distribution Service Elements”, Journal of Business Logistics, Vol. 7, nº 2 (1986), págs. 14-32. * N. de R. T.: É o oposto de magnitude da falta de estoques. Em inglês, order fill rate. 15 James E. Keebler and Karl B. Manrodt, “The State of Logistics Performan- ce Measurement”, Proceedings of the Council of Logistics Management (New Orleans, LA: Council of Logistics Management, September 24-27, 2002), págs. 275-281; e Robert Miller, Logistics Tip of the Week, Tips@log- fac.com (January 8, 2002). _Ballou/Ronald_04 18.09.06 10:29 Page 97 98 PARTE II • OBJETIVOS DO SERVIÇO AO CLIENTE TABELA 4-2 Classificação de seis elementos de serviços de distribuição física por tipo de produto (1 = mais importante) Tipo de produto Capital Capital intensivoa reduzidob Materiaisc Componentesd InsumoseDesempenho em estoque 2 1 3 3 1 Tempo de entrega 3 3 2 2 3 Consistência da entrega 1 2 1 1 2 Informação sobre andamento do pedido 4 5 5 5 5 Embalagem protetora 6 6 6 6 6 Cooperação nos problemas de embarque 5 4 4 4 4 a Itens de capital intensivo são mercadorias com vida útil de mais de um ano, não passam a integrar o produto final e têm custo unitário superior a US$ 10 mil. b Itens de capital reduzido são mercadorias com vida útil de menos de um ano, não passam a integrar o produto final e têm custo unitário entre mil e 10 mil dólares. c Materiais são bens que passam a integrar o produto final, necessitando para tanto de processamento adicional. d Componentes são bens que passam a integrar o produto final sem processamento adicional. c Insumos são bens que não passam a integrar o produto final, sendo apenas utilizados como suporte de sua criação. Fonte: Adaptado de Donald W. Jackson, Janes E. Keith and Richard K. Burdick, “Examining the Relative Importance of Physical Distribution Service Elements”, Journal of Business Logistics, Vol. 7, nº 2 (1986), pág. 23. FIGURA 4-3 Componentes do ciclo do pedido do cliente. TEMPO TOTAL DO CICLO DO PEDIDO Transmissão do pedido Processamento e montagem do pedido Tempo de aquisição de estoque adicional Tempo de entrega a. Consolidação do pedido b. Transmissão de pedidos aos armazéns a. Preparação das faturas b. Liberação do crédito c. Montagem do pedido no armazém a. Quando estoque inexistente, tempo adicional para adquirir estoque da fábrica a. Tempo de embarque do armazém b. Tempo de embarque da fábrica c. Processamento do embarque pelo cliente Transmissão do pedido do cliente CLIENTE loja ARMAZÉM Processamento e montagem dos itens do pedido Transmissão dos itens dos pedidos pendentes FÁBRICA Processamento do pedido, montagem a partir dos estoques ou produção quando há falta de estoques Entrega do pedido Entrega urgente _Ballou/Ronald_04 18.09.06 10:29 Page 98 CAPÍTULO 4 • LOGÍSTICA/CADEIA DE SUPRIMENTOS: SERVIÇO AO CLIENTE 99 líticas de estocagem, dos procedimentos de processa- mento de pedidos, dos modais de transporte e dos méto- dos de programação. O tempo de transmissão do pedido pode ser com- posto por diversos elementos, dependendo dos méto- dos usados para a comunicação do pedido. Um sistema eletrônico de comunicação “vendedor + comunicação eletrônica” deveria ter um tempo de transmissão de pe- dido composto pelo intervalo de tempo em que o ven- dedor e o escritório retêm o pedido antes de transmiti- lo e pelo intervalo de tempo em que o pedido está no canal de transmissão. Um “pedido feito pelo cliente + a transmissão eletrônica”, teria a duração total de um te- lefonema, envio de um fax, intercâmbio eletrônico de dados ou do uso de um site na internet. Às vezes pode ser importante fator no ciclo do pedido o tempo do cliente para preenchê-lo ou o intervalo entre as visitas a ele feitas pelo vendedor. Outro importante componente do tempo do ciclo de pedido é o prazo do seu processamento e montagem. O processamento inclui atividades como preparar a docu- mentação de embarque, atualizar registros de estoques, coordenar a liberação de crédito, checar os pedidos pa- ra verificar eventuais erros, atualizar os clientes e os se- tores da empresa envolvidos no negócio quanto à situa- ção do pedido, e encaminhar informação pertinente aos setores de vendas, produção e contabilidade. A monta- gem do pedido inclui o tempo necessário à liberação do embarque para despacho desde a recepção do pedido e a disponibilização dessa informação para o armazém ou setor de despacho. Isso exige encontrar a separação do pedido no estoque, movê-los para a área de despacho, qualquer tipo de embalagem ou pequeno ajuste de ma- nufatura, e a consolidação com outros pedidos de desti- nos semelhantes. Quando não houver disponibilidade de estoque, o processamento poderá incluir a produção. Até certo ponto, o processamento e a montagem do pedido ocorrem simultaneamente, daí não ser o tempo total investido nessas atividades a soma do tempo gasto em cada uma delas. Pelo contrário, as duas atividades se superpõem, com o processamento apenas ligeiramente à frente da montagem, devido à verificação de erros e ao trabalho burocrático inicial. A preparação da documen- tação de embarque e a verificação da disponibilidade de estoques podem ser realizadas simultaneamente com as operações de montagem. A disponibilidade de estoques reflete-se significati- vamente no tempo total do ciclo do pedido, pois fre- qüentemente força os fluxos de produtos e de informa- ções a ocorrer fora do canal estabelecido. Um canal nor- mal pode ser o abastecimento dos clientes por meio de um armazém, como mostra a Figura 4-3. Não existindo ali disponibilidade, usa-se um segundo canal de distri- buição (de reserva). Por exemplo, um pedido pendente dos itens em falta no estoque seria encaminhado à fábri- ca a fim de ser atendido a partir dos estoques desta. Sen- do os mesmos insuficientes ou inexistentes, prepara-se uma ordem de produção, e a mercadoria daí originada é entregue diretamente pela fábrica ao cliente. Outros sis- temas viáveis de apoio são o transbordo de mercadorias de um armazém secundário para atender os pedidos pendentes, ou simplesmente a retenção dos pedidos no ponto principal de estocagem. O esquema de reserva mostrado na Figura 4-3 é o de uma empresa de produtos químicos de alta rotatividade. O elemento final principal do ciclo do pedido sobre o qual o profissional de logística tem controle direto é o tempo de entrega – o tempo exigido para transferir a en- comenda do ponto de estocagem até o ponto do cliente. Isso às vezes inclui o tempo de carregar na origem e de descarga no destino. Qualquer que seja o cliente, o tempo de recebimen- to de um pedido é registrado em termos de uma distri- buição de freqüência bimodal de tempo, como aparece na Figura 4-4. A distribuição de freqüência é o resulta- do das distribuições independentes de cada um dos ele- mentos do ciclo do pedido. A segunda curva reflete o tempo do ciclo de pedido prolongado em que ocorre um número significativo de situações de inexistência de es- toque. O tempo do ciclo do pedido pode ser registrado quantitativamente em termos estatísticos usuais como a média, o desvio-padrão e a forma da distribuição de fre- qüência. Exemplo Uma empresa produz determinado bem nos Estados Unidos e o despacha para um ponto de estocagem em São Paulo, Brasil, para abastecimento de clientes lo- cais. O atendimento dos pedidos envolve processamen- to, manufatura ou suprimento a partir dos estoques ar- mazenados, consolidação do embarque, transporte in- terno, transporte marítimo e desembaraço aduaneiro. Estabelecer o ciclo completo do pedido, desde a repo- sição dos estoques necessários para o atendimento até a entrega dos produtos no Brasil, inclui os seguintes elementos do ciclo e seus tempos estimados. Elaborar o ciclo do pedido desta forma revela que o suprimento e o atendimento dos produtos contidos nos pedidos nas fábricas e armazéns consomem a maior parte (50%) do tempo do ciclo do pedido, e deveriam ser os alvos das maiores atenções para se conseguir uma redução no tempo do ciclo do pedido. _Ballou/Ronald_04 18.09.06 10:29 Page 99 100 PARTE II • OBJETIVOS DO SERVIÇO AO CLIENTE Ajustes no Tempo do Ciclo do Pedido Até este ponto do debate, abordamos situações em que os elementos do ciclo do pedido operam sem restrições. Às vezes, porém, surgem oportunidades em que as polí- ticas de serviços aos clientes acabam destorcendo os pa- drões normais do tempo do ciclo de pedido. Diversas dessas políticas, ou diretrizes, derivam das prioridades no processamento dos pedidos, das condições destes e das restrições relativas ao seu volume. Prioridades no Processamento de Pedidos O tempo do ciclo do pedido de um cliente especial po- de ser bem diferente daquele que é padrão da empresa, dependendo das regras de priorização, ou inexistência delas,estabelecidas para o processamento dos pedidos à medida em que vão entrando. Distinguir, ou priorizar, um cliente em relação aos demais pode ser indispensá- vel quando ocorrerem pedidos em aberto. Exemplo Ao longo do processamento de pedidos de seus clien- tes industriais, uma empresa fabricante de papéis, de médio porte constatou que, quando ocorria atraso de de pedidos em carteira e pressão para aprontá-los, o pessoal do processamento tendia a dar prioridade aos pedidos menores e menos complicados. Isso, natural- mente, determinava que os pedidos maiores, daqueles clientes de grande valia para a empresa, tivessem pro- cessamento mais demorado que o previsto. A empre- sa estava assim prolongando seu tempo de ciclo de pedidos para os clientes mais importantes durante pe- ríodos de acúmulo em carteira em conseqüência da aplicação arbitrária de regras do processamento dos pedidos. Padrão das Condições dos Pedidos É possível modificar significativamente um tempo nor- mal do ciclo do pedido quando as mercadorias enco- mendadas chegam à sede do cliente danificadas ou inu- tilizadas. Nem as empresas, menos ainda os clientes, no entanto, aceitam absorver o alto custo, para as primei- ras, e o alto preço, para os segundos, da implementação de medidas visando à eliminação de qualquer probabili- dade de danificação dos pedidos. Estabelecer padrões de embalagem, fixar procedimentos de devolução e re- posição de mercadorias trocadas ou danificadas e unifi- car as medidas para a monitoração da qualidade dos pe- Elementos da Tempo em dias distribuição do tempo Mín. Máx. Média Recebimento do pedido e processamento produção/ armazenagem 1 86ª 36 Transporte ao porto de consolidação 1 5 2 Consolidação do frete 2 14 7 Coleta da carga 0 1 1 Transporte ao porto 1 2 1 Espera pelo navio 1 4 2 Transporte marítimo 17 20 18 Desconsolidação 3 4 4 Desembaraço aduaneiro 1 4 2 Transporte interno até o ponto de estocagem 0 2 1 Totais 27 142 74 ª 90o percentil. FIGURA 4-4 Distribuição de freqüência para o tempo total do ciclo do pe- dido e para quando há falta de estoque. Fr eq üê nc ia 0 0 Tempo do ciclo do pedido Distribuição normal do tempo do ciclo do pedido Distribuição do tempo do ciclo do pedido quando ocorre pedidos em aberto _Ballou/Ronald_04 18.09.06 10:29 Page 100 CAPÍTULO 4 • LOGÍSTICA/CADEIA DE SUPRIMENTOS: SERVIÇO AO CLIENTE 101 didos são providências que determinarão o quanto au- mentará em média o tempo do ciclo do pedido. Restrições de Pedidos Sob determinadas circunstâncias, o profissional de lo- gística se inclinará pela imposição de tamanho mínimo, a fim de ter pedidos colocados de acordo com a progra- mação pré-estabelecida, ou por exigir do cliente o preenchimento de formulários de pedidos de acordo com especificações igualmente pré-estabelecidas. São restrições que possibilitam um enxugamento dos gastos supérfluos na distribuição das mercadorias. Por exem- plo, encomendas que cumpram o limite mínimo e cro- nograma preciso do transporte do produto normalmente contribuem para reduzir os custos e aumentar a rapidez das entregas. Há clientes para os quais o tempo real do ciclo do pedido pode ser aumentado por semelhante prática. Essa é, no entanto, uma prática que possibilita a extensão de tal serviço a mercados de baixo volume que, de outra forma, não seria possível atender com a freqüência e a confiabilidade desejáveis. IMPORTÂNCIA DO SERVIÇO LOGÍSTICO AO CLIENTE/CADEIA DE SUPRIMENTOS Gerentes de logística podem sentir-se tentados a deixar de lado os serviços ao cliente, entendendo constituírem estes uma responsabilidade dos departamentos de mar- keting ou de vendas. Já pudemos observar que os com- pradores, sim, reconhecem a importância dos elementos da logística do serviço ao cliente, considerando-a às ve- zes maior até que a de preço e qualidade dos produtos e de outros elementos ligados ao marketing, finanças e produção. A preocupação fundamental, a essa altura, é verificar se isso realmente faz, para a empresa vendedo- ra, alguma diferença capaz de afetar sua rentabilidade. Até que ponto os serviços influem sobre as vendas e orientam a fidelização do cliente são questões que pre- cisamos analisar. Efeitos dos Serviços sobre as Vendas Os profissionais de logística durante muito tempo acredi- taram que o nível dos serviços proporcionados aos clien- tes tem algum grau de influência sobre as vendas. A ver- dade é que a logística dos serviços ao cliente representa um dos elementos do conjunto desses serviços, em que não há como mensurar exatamente as vendas em relação aos níveis do nível do serviço logístico, e que os compra- dores nem sempre manifestam claramente suas preferên- cias em serviços, nem reagem consistentemente à oferta de serviços. Isso tipicamente leva os profissionais de lo- gística a preestabelecer níveis de serviços e, a partir deles, projetar o canal de suprimento. Não é, naturalmente, o melhor dos métodos, mas não há dúvida de que é prático. Já existem provas mais definitivas de que a logísti- ca dos serviços ao cliente tem impacto sobre as vendas. Em seu minucioso levantamento e análise dos serviços ao cliente, Sterling e Lambert conseguiram comprovar que os serviços de marketing têm efeito sobre a partici- pação no mercado e que a contribuição dos elementos do composto mercadológico (produto, preço, promoção e distribuição de física) à participação no mercado não é igual.16 Convém lembrar que Sterling e Lambert tam- bém descobriram que, para os clientes, os elementos mais importantes dos serviços são os de natureza logís- tica. Krenn e Shycon concluíram por sua vez, a partir de entrevistas detalhadas com 300 clientes da GTE/Sylva- nia, que: ...a distribuição, quando proporciona os níveis apro- priados de serviços para satisfazer as necessidades dos clientes, pode levar diretamente a um aumento nas vendas e na participação no mercado, e, final- mente, a uma crescente contribuição para os lucros e o crescimento.17 Observações18 • A International Minerals & Chemicals Corpora- tion, depois de instituir um abrangente programa de serviço ao cliente, constatou um aumento de 20% nas vendas e de 21% nos lucros. • Um fabricante realocou a disposição de sua fábri- ca, agregando ao seu armazém central instalações logísticas ao custo de US$ 200 mil, o que resultou numa redução dos custos de produção avaliada em US$ 1.400.000,00, com um aumento do lucro lí- quido no valor de US$ 500.000,00, como resultado de um aumento anual de vendas de US$ 45 mi- lhões para US$ 50 milhões. • Para uma grande rede de varejo com vendas supe- riores a US$ 1 bilhão, a consolidação dos pontos de armazenagem em cinco centros de distribuição deveria, conforme os estudos feitos, produzir uma redução de US$ 9 milhões nos custos das vendas 16 Sterling and Lambert, “Customer Service Research: Past, Present, and Fu- ture”, págs. 14-17. 17 John . M. Krenn and Harvey N. Shycon, “Modeling Sales Response of Cus- tomer Service for More Effective Distribution”, Proceedings of the National Council of Physical Distribution Management, Vol. I (New Orleans: LA: October 2-5, 1983), pág. 593. 18 Baseado em James L. Heskett, “Controlling Customer Logistics Service”, International Journal of Physical Distribution & Logistics Management, Vol. 24, nº 4 (1994), págs. 4-10. _Ballou/Ronald_04 18.09.06 10:29 Page 101 102 PARTE II • OBJETIVOS DO SERVIÇO AO CLIENTE (inclusive os custos nacionais de transporte), uma economia de US$ 4 milhões em custos logísticos, e um aumento adicional de US$ 10 milhões no lucro líquido resultante do crescimento geral de US$ 100 milhões nas vendas do varejo. Baritz e Zissman puderam demonstrar que os clientes (executivos de compras e distribuição) conse- guem perceber as diferenças de serviços entre seus “bons” e “médios” fornecedores.19 Mais precisamen- te, eles observaram que, quando ocorrem falhas nos serviços, os compradores normalmente impõem al- gum tipo de penalidade ao fornecedor responsável. Essas ações se farão sentir nos custos ou rendas do fornecedor.Os tipos de penalidades são ilustrados na Figura 4-5. Os pesquisadores levantaram elementos suficientes para concluir seu estudo com esta proclamação relativa aos efeitos dos serviços sobre as vendas: As diferenças em desempenho de serviço aos clientes foram quantificadas como responsáveis por cinco a seis por cento das variações nas vendas de um forne- cedor.20 Na mesma linha de pensamento, Blanding declara: Em mercados industriais, uma redução de 5% nos ní- veis dos serviços terá como resultado uma queda de 24% nas compras pela base habitual de clientes.21 Por fim, um estudo de Singhal e Hendricks realizado pa- ra 861 empresas de capital aberto constatou que os pro- blemas na cadeia de suprimentos têm efeitos negativos sobre os preços das ações.22 Sempre que uma empresa revela a existência de problemas na cadeia de suprimen- tos, como atrasos na produção ou no despacho, os preços de suas ações tendem a cair de imediato em 9%, ou até o máximo de 20% num período de seis meses. As seis cau- sas mais comuns de falhas na cadeia de suprimentos fo- ram, conforme esse estudo: mudanças exigidas pelos clientes, dificuldades com a expedição de novos produ- tos, problemas na produção, problemas com o desenvol- vimento e problemas relacionados à qualidade. Efeitos dos Serviços na Fidelização dos Clientes Outra modalidade de avaliar a importância dos serviços ao cliente é o cálculo dos custos ligados à fidelização. Os serviços logísticos ao cliente são fundamentais nes- sa área e precisam ser cuidadosamente estabelecidos e consistentemente proporcionados sempre que se preten- der garantir essa lealdade. Quando se atenta para o fato de que 65% dos negócios da empresa são feitos com seus clientes permanentes,23 fica mais simples entender a importância de manter uma base de clientes cativos. Como observou Bender: Em média, custa seis vezes mais desenvolver um cliente novo do que conservar um antigo. Do ponto de vista financeiro, então, os recursos investidos em atividades de serviços ao cliente proporcionam retor- no substancialmente mais alto do que os utilizados na promoção e desenvolvimento de outras ações de atra- ção de clientes.24 O presidente e CEO da AT&T certamente acredita nisto, pois, ao reagir à perspectiva do desencadeamento de uma guerra de tarifas nas comunicações, sentenciou: O que realmente precisamos é concentrar-nos em premiar e incentivar a fidelização dos clientes atu- 21 Warren Blanding, “Customer Service Logistics”, Proceedings of the Coun- cil of Logistics Management, Anaheim, CA: October 5-8, 1986), pág. 367. Vol. I (February 2001), págs. 21 e seguintes. 22 “Study Links Supply Chain Glitches with Falling Stock Prices”, OR/MS To- day, Vol. 28 nº Vol. I (February 2001), pág. 21 e seguintes. 23 Idem, pág. 366. 24 Paul S. Bender, Design and Operation of Customer Service Systems (New York: AMACOM, 1976), pág. 5. 19 Baritz and Zissman, “Researching Customer Service: The Right Way”, págs. 610-612. 20 Idem, pág. 612. FIGURA 4-5 Penalidades impostas por compradores a fornece- dores por falhas nos serviços ao cliente. Fonte: Steven G. Baritz and Lorin Zissman, “Researching Customer Ser- vice: The Right Way”, Proceedings of the National Council of Physical Distribution Management, Vol. II (New Orleans, LA: October 25, 1983), pág. 611. 9% Recusaram-se a comprar novos artigos 2% Recusaram-se a apoiar promoções 29% Reduziram o volume dos negócios 26% Advertiram o representante ou o gerente 18% Encerraram todas as compras junto ao fornecedor 16% Passaram a intercalar as compras de determinados itens _Ballou/Ronald_04 18.09.06 10:29 Page 102 esaito Retângulo Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. LOGISTICA E GESTÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS Marcelo Ribas Simões Pires A logística internacional Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar as estratégias de globalização. Observar o gerenciamento da cadeia de suprimentos global. Analisar as considerações operacionais da cadeia de suprimentos globais. Introdução Neste texto, você vai identificar algumas das principais razões para as empresas desenvolverem capacidades globais e que a globalização oferece muitas oportunidades e muitos desafios para as operações e estratégias da logística e da cadeia de suprimentos. As oportunida- des incluem o aumento dos mercados e uma gama mais ampla de alternativas de fabricação com uma gama de vantagens, absolutas ou relativas, em relação aos recursos humanos e recursos materiais. Algumas regiões do mundo podem oferecer economia de escala significativa graças aos salários baixos, enquanto outras oferece fle- xibilidade devido à especialização. Os desafios encontrados ao tirar vantagens desses benefícios incluem ambientes operacionais logís- ticos mais exigentes, considerações acerca da segurança e análises de custo total mais complexas. Este capítulo ainda discute a funda- mentação lógica das cadeias de suprimentos globais, as etapas da integração da cadeia de suprimentos e termina com as orientações para tomar decisões sobre compras globais. Estratégias de globalização Nas economias globais, não importa o tamanho, a maioria das empresas tem hoje algum nível de operação global. Elas podem trabalhar com matérias- -primas ou produtos originados de outros países ou ter como clientes em- presas de outros países. Em muitos casos, as empresas estão envolvidas no fornecimento e na entrega global. Muitos acreditam que as empresas operam globalmente principalmente pela busca por fornecimento e manufatura mais baratos, mas também existem muitas outras razões. Logistica_U3C8.indd 51Logistica_U3C8.indd 51 21/09/2016 17:26:1821/09/2016 17:26:18 Embora muitos acreditem que a principal motivação para transferir as operações de manufatura e cadeia de suprimentos seja recursos e mão de obra de baixo custo, a razão muitas vezes é outra. Por exemplo, embora se acredite que muitas empresas mudaram a produção para a Ásia e a Índia para pagar salários mais baixos, sua principal motivação muitas vezes foi ter acesso a mercados em rápida expansão. Ainda que muitos tenham tirado vantagem dessa demanda crescente, o aumento da necessidade de funcionários de pro- dução está elevando os salários nessas regiões bem mais rápido do que no mundo desenvolvido. Com o resultado, o diferencial dos salários está diminuindo, e as empresas estão começando a buscar outras fontes de produção de baixo custo. As em- presas também estão começando a desenvolver recursos de cadeia de supri- mentos na América do Sul e na África para tirar vantagem da produção de baixo custo e da proximidade do mundo desenvolvido. As operações globais da cadeia de suprimentos estão se tornando, direta ou indiretamente, a regra para a maioria das empresas. As compras e o mer- cado globais oferecem muitas oportunidades para melhorar o desempenho da empresa, especialmente em termos de receita, volume e participação de mercado. A globalização da cadeia de suprimentos pode ser caracterizada utili- zando-se quatro estratégias: (1) nenhuma estratégia internacional; (2) estra- tégia doméstica múltipla; (3) estratégia global; e (4) estratégia transnacional. São discutidas a seguir as características e as implicações na cadeia de supri- mentos de cada estágio. A primeira caracteriza as empresas que não têm uma estratégia interna- cional e descreve as empresas envolvidas apenas em operações domésticas. Pode haver algumas transações internacionais na forma de terceirização ou entrega, mas não há uma estratégia sistêmica ou um plano para organizar ou aumentar as operações internacionais. A vantagem das operações puramente domésticas é que elas minimizam consideravelmente a complexidade e há uma necessidade mínima de coordenação entre a cadeia de suprimentos e as outras funções da empresa.As desvantagens de não ter uma estratégia inter- nacional são a dificuldade de responder aos clientes que operam globalmente e o crescimento limitado aos mercados locais. A segunda, que é a estratégia doméstica múltipla, caracteriza as empresas que operam em vários países, tendo o país sede como dominante. Com essa estratégia, as empresas costumam ter cadeias de suprimento distintas e par- cialmente autônomas em cada região do globo. Por exemplo, se uma empresa Logística e gestão da cadeia de suprimentos52 Logistica_U3C8.indd 52Logistica_U3C8.indd 52 21/09/2016 17:26:1821/09/2016 17:26:18 for sediada nos Estados Unidos, todas as atividades realizadas fora do país são internacionais e frequentemente são tratadas como secundárias em re- lação às operações domésticas. Geralmente as operações internacionais são utilizadas para apoiar as operações domésticas, particularmente quanto ao suprimento de matérias-primas e bens para revenda. Nesse caso, as operações logísticas e da cadeia de suprimentos dentro de cada região são independentes das outras. A vantagem de uma estratégia doméstica múltipla é que a empresa pode se concentrar nos mercados locais, minimizando ao mesmo tempo as necessidades de coordenação geral. Por exemplo, uma empresa pode se con- centrar em mercados-chave emergentes, diminuindo ao mesmo tempo a com- plexidade operacional entre os mercados. As desvantagens de uma estratégia doméstica múltipla são: ela não responde bem aos clientes globais e é difícil desenvolver economias de escala. A terceira, sobre operações globais, implica operações que ultrapassam fronteiras com alguma customização para o mercado local. Normalmente há uma única sede que coordena as operações globais, mas as atividades lo- gísticas e da cadeia de suprimento ocorrem em regiões do mundo inteiro. Geralmente cada região ou país se concentra nas características do mercado regional. Embora haja motivação para coordenar as atividades da cadeia de suprimentos entre as regiões, não há um grande foco na redução da com- plexidade da marca, fabricação e logística. Por exemplo, produtos similares podem ser criados em várias regiões, com uma preocupação mínima quanto à redução da complexidade da fabricação e dos componentes. As transações entre regiões ou países diferentes costumam ser tratadas como transferên- cias internas da empresa ou como relações pontuais cliente-fornecedor. Nor- malmente a integração mais avançada nessas organizações ocorre com as finanças integradas globalmente. Outras formas de integração, como o de- senvolvimento de produtos, o marketing, a cadeia de suprimentos e o plane- jamento, são menos comuns. As vantagens das operações globais são a capa- cidade de se concentrar em vários mercados locais, satisfazer as necessidades dos clientes locais e a capacidade em tirar vantagem das marcas e produtos globais. Já as desvantagens são a sua dificuldade para responder de maneira integrada aos clientes globais e não ser escalável. A quarta estratégia, a transnacional, caracteriza as empresas que mantêm operações regionais em todo o globo e usam estruturas centrais que aumentam a eficácia das atividades da empresa, além do seu desempenho. Embora ge- ralmente ainda existam operações regionais, diferentes atividades podem se situar em regiões distintas para garantir uma ampla visão global. Por exemplo, 53A logística internacional Logistica_U3C8.indd 53Logistica_U3C8.indd 53 21/09/2016 17:26:1821/09/2016 17:26:18 as operações financeiras podem se situar em regiões como a Europa e os Estados Unidos, enquanto a produção e as compras poderiam estar na Ásia. O objetivo é gerenciar as atividades na região onde é possível coordenar ou executar melhor essas atividades. Para saber mais sobre o tema, leia o trecho selecionado – Estratégias de globalização – da obra Gestão logística da cadeia de suprimentos (BOWERSOX et al., 2014, p. 279). Gerenciando a cadeia de suprimentos global Para uma integração da cadeia de suprimentos global, um sistema logís- tico eficaz é absolutamente essencial para o fornecimento, a manufatura e o comércio global bem-sucedidos, embora ele também seja importante para a integração da cadeia de suprimentos doméstica. A logística doméstica se concentra em realizar atividades de movimentação e armazenamento para apoiar a integração da cadeia de suprimentos em um ambiente relativamente controlado. A logística global precisa apoiar operações em uma variedade de cenários nacionais, políticos e econômicos diferentes, ao mesmo tempo que lida com o aumento da incerteza associada à distância, demanda, diversidade e documentação no comércio internacional. Os desafios operacionais dos sis- temas logísticos globais variam de maneira significativa em cada grande re- gião global. O desafio logístico norte-americano é o de uma ampla geografia, com muitas opções flexíveis de transporte e pouca necessidade de documen- tação aduaneira. Para melhorar a capacidade global de uma empresa, a gerência de logística precisa considerar cinco grandes diferenças entre operações domésticas e in- ternacionais: (1) estrutura do ciclo de atividades; (2) transportes; (3) conside- rações operacionais; (4) integração dos sistemas de informação; e (5) alianças. Essas considerações devem, então, ser incorporadas à estratégia operacional global da empresa. A duração do ciclo de atividades é uma grande diferença entre as ope- rações domésticas e as internacionais. Em vez de tempos em trânsito de 1 Logística e gestão da cadeia de suprimentos54 Logistica_U3C8.indd 54Logistica_U3C8.indd 54 21/09/2016 17:26:1821/09/2016 17:26:18 a 5 dias e ciclos de atividades de 2 a 10 dias ao todo, os ciclos de atividades globais muitas vezes duram semanas ou meses. Por exemplo, é comum os for- necedores de peças automotivas do Círculo do Pacífico levarem 60 dias desde a libração do pedido até a entrega física em uma instalação de produção nos Estados Unidos. De modo semelhante, artigos de vestuário podem levar de 30 a 60 dias desde a libração do pedido até que sejam recebidos em um depósito de distribuição nos Estados Unidos. As razões que levam a esse tempo longo entre o pedido e a entrega são os atrasos nas comunicações, os requisitos financeiros, os requisitos espe- ciais de embalagem, a programação de frete transoceânico, o tempo perdido em trânsito lento e a liberação alfandegária. A comunicação pode atrasar por causa das diferenças de fuso horário e idioma. Os atrasos financeiros são causados pelas exigências de tradução de cartas de crédito e pelas diferenças de moeda. Embalagens especiais podem ser necessárias para proteger os pro- dutos de danos em trânsito pela alta umidade, temperatura e outras condições climáticas. Depois que um produto é colocado em um contêiner, ele deve ser agendado para movimentação até os portos e de um porto para outro com capacidade adequada de manuseio. Esse processo de agendamento pode levar até 30 dias se os portos de origem e destino não estiverem localizados em linhas movimentadas ou se os navios que vão para o porto desejado não ti- verem o equipamento necessário. O tempo de trânsito, depois que o navio está a caminho, varia de 10 a 21 dias. Os atrasos em portos são frequentes porque os navios precisam esperar que outras embarcações descarreguem e liberem as instalações do porto. A liberação alfandegária pode estender ainda mais o tempo total. É cada vez mais comum utilizar meios eletrônicos para pré-liberar as cargas de produtos na alfândega antes da chegada em portos internacionais, mas o tempo do ciclo de atividades ainda é grande. Problemas de segurança podem gerar atrasos adicionais. Outro problema é a disponi- bilidade restrita de contêineres. A movimentação da Ásia para os Estados Unidos geralmente é desequilibrada, já que mais material é importado para os Estados Unidos do que exportado para a Ásia. Como resultado, existe uma grande demanda de contêineres para movimentar produtos da Ásiapara os Estados Unidos, mas pouca motivação para enviá-los de volta. Isso demonstra como o comércio desequilibrado, seja doméstico ou internacional, pode au- mentar a complexidade das operações logísticas. Esses fatores fazem os ciclos de atividades logísticas internacionais serem mais longos, menos consistentes e menos flexíveis do que nas operações do- mésticas típicas. Essa falta de consistência torna o planejamento e a coorde- 55A logística internacional Logistica_U3C8.indd 55Logistica_U3C8.indd 55 21/09/2016 17:26:1821/09/2016 17:26:18 nação mais difíceis. A determinação do status da carga e a antecipação da chegada também exige muito mais esforços. O ciclo de atividades mais longo também resulta em um maior comprometimento de ativos, já que há um es- toque significativo em trânsito. Figura 1. Estratégias de globalização. Fonte: Bowersox et al. (2014, p. 281). Considerações operacionais da cadeia de suprimentos globais Existem inúmeras considerações operacionais para apoiar as cadeias de supri- mentos globais. A primeira é que as operações internacionais normalmente exigem diversos idiomas tanto para os produtos quanto para a documentação. Um produto técnico, como um computador ou calculadora, deve ter caracte- rísticas locais, como idioma e caracteres do teclado tanto no produto quanto em seus manuais. De um ponto de vista logístico, as diferenças nos idiomas aumentam bastante a complexidade, já que um produto é limitado a um país específico por conta de ser personalizado para um idioma. Por exemplo, ainda que a Europa Ocidental seja muito menor do que os Estados Unidos em termos geográficos, ela exige relativamente mais estoque para apoiar os esforços de marketing, uma vez que podem ser necessários estoques sepa- rados para acomodar diversos idiomas. Embora a proliferação de produtos Logística e gestão da cadeia de suprimentos56 Logistica_U3C8.indd 56Logistica_U3C8.indd 56 21/09/2016 17:26:1821/09/2016 17:26:18 por causa de requisitos de linguagem tenha sido reduzida utilizando-se emba- lagens em diversos idiomas e estratégia de postponement, essas práticas nem sempre são aceitáveis. Alguns consumidores relutam em aceitar produtos que não estejam em embalagens em seu idioma nativo. Além das implicações do idioma do produto, as operações internacionais podem exigir documentação em diversas línguas para cada país onde a carga deve passar. Embora o inglês seja padrão no comércio, alguns países exigem que a documentação de trans- portes e aduaneira seja fornecida no idioma local. Isso aumenta o tempo e o esforço das operações internacionais, já que documentos complexos precisam ser traduzidos antes do carregamento. Essas dificuldades de comunicação e documentação podem ser superadas por meio de transações eletrônicas pa- dronizadas. A segunda consideração operacional é formada por ajustes nacionais, como em características de desempenho, características técnicas, considera- ções ambientais e requisitos de segurança. As diferenças nas características de desempenho incluem funções específicas dos produtos, como restrições de velocidade ou de processos. As características técnicas incluem tomadas de energia, documentação e sistema métrico. As considerações ambientais incluem produtos químicos que podem ser usados ou o tipo e a quantidade de resíduo gerado. Requisitos de segurança incluem desligamento automático e documentação especializada. Embora possam não ser indispensáveis, as pe- quenas diferenças de requisitos entre países podem aumentar muito o número de itens necessários e, consequentemente, os níveis de estoque. A terceira consideração operacional é a grande quantidade de documentação neces- sária para as operações internacionais. As operações domésticas geralmente podem ser realizadas apenas com o uso de uma fatura e um conhecimento de carregamento, mas as operações internacionais exigem uma documentação substancial, apresentando o conteúdo dos pedidos, meios de transporte, finan- ciamento e controle governamental. A quarta consideração operacional é a alta incidência de negócios à base de troca e de incentivos drawback (tipo de incentivo governamental às expor- tações) encontrados em algumas situações internacionais. Muitas empresas preferem transações em dinheiro, mas os negócios à base de troca são im- portantes. Em essência, nos negócios à base de troca um vendedor concorda em receber produtos como pagamento ou comprar produtos do comprador como parte de um acordo de vendas. Ainda que esses acordos tenham conse- quências financeiras, eles também têm grandes implicações para a logística e o marketing quanto ao manejo dos produtos recebidos como pagamento. 57A logística internacional Logistica_U3C8.indd 57Logistica_U3C8.indd 57 21/09/2016 17:26:1821/09/2016 17:26:18 Drawback descreve situações em que uma empresa paga um imposto alfan- degário para importar produtos de um país estrangeiro, mas o imposto pago pode ser reembolsado ou devolvido se os próprios itens ou um produto com- parável forem exportados. Por exemplo, a Pepsi fornecia xarope ao governo soviético, que engarrafava e comercializava o refrigerante praticamente sem controle nenhum por parte da Pepsi. Em troca, a Pepsi recebia os direitos exclusivos de distribuição da vodca russa Stolichnaya nos Estados Unidos. Esses direitos exclusivos exigiam apoio logístico e de marketing. Para saber mais sobre o tema, leia o trecho selecionado – Considerações operacionais da cadeia de suprimentos globais – da obra Gestão logística da cadeia de suprimentos (BOWERSOX et al., 2014, p. 284). 1. A primeira estratégia de logística internacional caracteriza as empresas que não têm uma estratégia inter- nacional e descreve as empresas envolvidas apenas em: a) Gerenciamento local. b) Estratégias internacionais. c) Operações de suprimentos externo. d) Operações domésticas. e) Vendas ao mercado externo. 2. Um exemplo de vantagem de uma estratégia doméstica múltipla é que a empresa pode se con- centrar: a) Nos clientes externos. b) Nas vendas de exportações. c) Nos fabricantes externos. d) Na busca de novos mercados. e) Nos mercados locais. 3. As razões que levam a esse tempo longo entre o pedido e a entrega são os atrasos: a) Nas documentações. b) Nas comunicações. c) Nas entregas das matérias-primas. d) Do material em trânsito. e) Dos serviços logísticos. 4. Existem inúmeras considerações operacionais para apoiar as cadeias de suprimentos globais. A primeira é que as operações internacionais normalmente exigem: a) Clientes em potencial. b) Estoques diversos. c) Fornecedores externos. d) Diversos idiomas. e) Vários parceiros de negócio. 5. Sendo uma das alternativas para melhorar a capacidade global de Logística e gestão da cadeia de suprimentos58 Logistica_U3C8.indd 58Logistica_U3C8.indd 58 21/09/2016 17:26:1821/09/2016 17:26:18 BOWERSOX, D. J. et al. Gestão logística da cadeia de suprimentos. 4. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. uma empresa, a gerência de logística precisa considerar: a) A capacidade de estoques. b) A integração dos sistemas de informação. c) O gerenciamento do cliente. d) As políticas de estoque e de- manda. e) As entregas em atraso. 59A logística internacional Logistica_U3C8.indd 59Logistica_U3C8.indd 59 21/09/2016 17:26:1821/09/2016 17:26:18 Conteúdo:
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