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História da Educação

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Prévia do material em texto

Autora: Camila Cristina Souza Lima
Colaboradoras: Profa. Silmara Machado
 Profa. Christiane Mazur Doi
História da Educação
Professora conteudista: Camila Cristina Souza Lima 
Natural da cidade de Jaú, no interior do estado de São Paulo, tem bacharelado e licenciatura em História (2008), 
pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH‑USP). É mestra em História 
Social (2012), também pela FFLCH‑USP – com bolsa de pesquisa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São 
Paulo (Fapesp) –, e doutora em História e Fundamentos da Arquitetura e do Urbanismo (2018) pela Faculdade de 
Arquitetura e Urbanismo da USP (FAU‑USP). Desde a graduação desenvolve pesquisas relacionadas à história moderna 
de Portugal e Espanha, com enfoque na cultura letrada e na relação entre arquitetura, poder e conhecimento entre 
os séculos XV e XVI. Atuou como professora de História em cursinhos populares e em escolas de ensino básico (ensino 
fundamental II e ensino médio), como orientadora on‑line do curso para professores da rede estadual de ensino de São 
Paulo (Projeto Redefor) e é professora do ensino superior no curso de Licenciatura em História da UNIP desde 2014.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
L732h Lima, Camila Cristina Souza.
História da Educação / Camila Cristina Souza Lima. – São Paulo: 
Editora Sol, 2023.
188 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517‑9230.
1. Educação. 2. Escola. 3. Redemocratização. I. Título.
 CDU 37(091)
U517.30 – 23
Profa. Sandra Miessa
Reitora
Profa. Dra. Marilia Ancona Lopez
Vice‑Reitora de Graduação
Profa. Dra. Marina Ancona Lopez Soligo
Vice‑Reitora de Pós‑Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Claudia Meucci Andreatini
Vice‑Reitora de Administração e Finanças
Prof. Dr. Paschoal Laercio Armonia
Vice‑Reitor de Extensão
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice‑Reitor de Planejamento
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice‑Reitora das Unidades Universitárias
Profa. Silvia Gomes Miessa
Vice‑Reitora de Recursos Humanos e de Pessoal
Profa. Laura Ancona Lee
Vice‑Reitora de Relações Internacionais
Prof. Marcus Vinícius Mathias
Vice‑Reitor de Assuntos da Comunidade Universitária
UNIP EaD
Profa. Elisabete Brihy
Profa. M. Isabel Cristina Satie Yoshida Tonetto
Prof. M. Ivan Daliberto Frugoli
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
 Material Didático
 Comissão editorial: 
 Profa. Dra. Christiane Mazur Doi
 Profa. Dra. Ronilda Ribeiro
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista
 Profa. M. Deise Alcantara Carreiro
 Profa. Ana Paula Tôrres de Novaes Menezes
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
 Leonardo Dantas do Carmo
 Vera Saad
Sumário
História da Educação
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8
Unidade I
1 BREVE CARACTERIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO NO PERÍODO MEDIEVAL .......................................... 11
2 A CATEQUESE E O INÍCIO DA COLONIZAÇÃO: OS JESUÍTAS E A EDUCAÇÃO DA ELITE ..................30
3 A REFORMA POMBALINA ............................................................................................................................. 50
4 A ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL DO PERÍODO COLONIAL À REPÚBLICA ......................62
Unidade II
5 AS PRIMEIRAS DÉCADAS DA REPÚBLICA .............................................................................................. 82
5.1 Iniciativas oficiais e a experiência anarquista .......................................................................... 82
5.2 A Era Vargas e as reformas do ensino ........................................................................................103
6 A ESCOLA NOVA .............................................................................................................................................115
Unidade III
7 BRASIL E A EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA ........................................................................................131
7.1 Entre a Era Vargas e a Ditadura Militar .....................................................................................131
7.2 A Ditadura Militar e a Educação ..................................................................................................148
8 A EDUCAÇÃO NA REDEMOCRATIZAÇÃO E OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO NO BRASIL ...............161
7
APRESENTAÇÃO
Nas páginas a seguir você percorrerá alguns momentos, processos, eventos e aspectos importantes 
para se compreender a história da educação. Mas por que conhecer formas de ensino e instituições 
que existiram no passado? Quando estudamos História podemos relativizar a maneira como nos 
organizamos em nosso próprio tempo. As preocupações que temos em relação à educação, nossos 
objetivos, concepções, quem compõe o alunado, os currículos educacionais, as correntes pedagógicas 
etc., tudo isso varia ao longo do tempo, são construções históricas, respondem ao contexto em que 
vivemos e dialogam com o que permaneceu do passado.
Nem sempre tivemos escolas como as que conhecemos hoje, com professores, salas de aulas, 
meninos e meninas de mesma idade em uma turma. Nem sempre existiram as disciplinas que hoje 
estudamos. O conhecimento a ser socialmente partilhado responde à visão de mundo e às necessidades 
de cada sociedade em cada momento histórico. Alguns dos conhecimentos e disciplinas que eram 
estudados no passado podem continuar a fazer parte de nossa vida escolar, como a filosofia grega, 
outros são abandonados, como os estudos de lógica escolástica. A língua utilizada nos estudos e nos 
ambientes educativos também pode mudar e não necessariamente é a mesma utilizada por estudantes 
e professores em suas vidas fora dos muros das escolas. As universidades medievais tinham o latim 
como língua do conhecimento, hoje escolas básicas internacionais ou universidades com currículo 
internacional podem ter aulas ministradas em inglês, mesmo que estejam em países cuja língua oficial 
é o espanhol, o francês, o português ou o turco.
O perfil daqueles que acessam a educação também pode mudar. Em alguns casos apenas um grupo 
específico da sociedade responsável por certas funções administrativas recebia educação formal; ou 
as elites podiam ser educadas de uma determinada forma para reforçar sua distinção em relação aos 
que trabalham; em certos momentos nem mesmo reis eram alfabetizados; em outros, apenas homens 
podiam estudar.
O estudo da história pode nos tornar mais conscientes das heranças que formam o nosso presente. 
Nesse sentido, iniciamos aqui o convite para, nas próximas páginas, traçarmos caminhos, conhecermos 
processos e retomarmos experiências passadas sobre diferentes formas de se compreender e organizar 
a educação.
Para tanto, são necessários recortes e escolhas sobre o que será estudado; os conteúdos e 
discussões aqui apresentados foram selecionados tomando como referência o que pode contribuir para 
entendermos mais especificamente a história da educação no Brasil e, dessa forma, perceber de maneira 
mais complexa seu contexto de atuação profissional como futuro educador.
A abordagem das páginas que se seguem se centrará sobretudo na reflexão sobre diferentes 
sistemas escolares e pedagógicos ao longo do tempo, iniciando na Idade Média e percorrendo até 
próximo aos dias atuais.
8
Dessa maneira, a educação apresentada neste manual deve ser compreendida a partir de seu contexto 
social, histórico e cultural, gerando diferentes concepçõesde educação em nosso país, cujo estudo nos 
auxilia a relativizar nossas próprias percepções atuais sobre o ensino e o papel do educador. Também 
a relação entre as formas de poder e de governo e suas implicações na educação, inclusive sobre a 
abrangência do acesso ao ensino institucionalizado. Esse estudo também nos ajuda a compreender e 
buscar formas de superar problemas e desafios específicos da educação em nosso país, como a exclusão 
e a desigualdade social brasileira. Ou seja, ao longo dos estudos da disciplina História da Educação serão 
apresentados alguns conceitos mais amplos relacionados aos estudos históricos que contribuirão para a 
busca de uma compreensão crítica sobre nossa realidade.
Por isso, os objetivos a serem buscados ao longo deste estudo são:
• desenvolver consciência crítica sobre as relações entre educação e sociedade;
• identificar e analisar as características econômicas, políticas e socioculturais dos diferentes períodos 
estudados em sua correlação com os processos educacionais;
• analisar as influências das diferentes manifestações religiosas no processo e na prática educativa 
ao longo do tempo e do espaço.
Mais especificamente, ao tratar dos conteúdos e discussões aqui apresentados, buscamos compreender:
• o que é a história da educação e a importância desta em sua formação como educador;
• quais processos educativos foram desenvolvidos ao longo do tempo, desde a Idade Média 
(especialmente sua influência na educação promovida pelos jesuítas) até a atualidade;
• quais processos educativos ocorreram no Brasil e quais suas relações com o sistema social, 
identificando crises, avanços e inovações.
Esperamos que as discussões aqui apresentadas sejam instigantes e que forneçam ferramentas para 
promover novas pesquisas e estudos sobre aspectos do passado educacional a partir de sua atuação 
profissional, e que a compreensão dos temas abordados auxilie nas escolhas que farão parte de sua 
trajetória como educador.
9
INTRODUÇÃO
A disciplina História da Educação está dividida em três unidades. Como nosso enfoque destaca a 
educação desenvolvida em território brasileiro, iniciamos nosso percurso na Idade Média, momento 
em que a religião cristã tem papel decisivo nos rumos da educação na Europa, o que desempenhará 
forte influência em muitos aspectos da colonização da América Portuguesa, território que depois 
formaria o Brasil.
Na primeira unidade estudaremos o ensino desenvolvido nos mosteiros e nas universidades e o 
surgimento da Companhia de Jesus em princípios da Idade Moderna, que se tornaria uma das principais 
agentes da Igreja católica no contexto das Reformas Religiosas e responsável pela missionação e pelo 
ensino nos territórios sob domínio de Portugal no além‑mar.
Prosseguiremos estudando a educação no período colonial, que se transformará ao longo do tempo – 
um dos momentos de destaque nessas mudanças será a reforma empreendida pelo primeiro‑ministro do 
rei dom José I, o Marquês de Pombal, influenciado pelas ideias iluministas, que são aplicadas de forma 
adaptada ao contexto monárquico e católico português. Por fim, trataremos do período imperial após a 
Proclamação de Independência do Brasil, a transição para o fim da escravidão no país e as implicações 
desse processo nas concepções e políticas educacionais do momento. Cabe lembrar que a escravidão 
foi uma das instituições mais duradouras de nossa história e que, mesmo após seu fim, continuou a 
exercer influência nas instituições e nas desigualdades existentes em nosso país. Uma série de ações 
ocorridas nesse momento impediram que as populações escravizadas ou descendentes dos escravizados 
pudessem ser plenamente inseridos na sociedade. Nesse sentido, o acesso à educação foi um dos direitos 
dificultados às pessoas que se tornavam livres, mas continuavam excluídas em sua maioria.
Na segunda unidade abordaremos as primeiras décadas da República brasileira até a Era Vargas. 
Como um país que mudava de sistema político e cujas elites passavam a ocupar de forma mais direta 
o poder, os projetos sobre o que se pretendia na construção desse novo Estado passam também por 
iniciativas e experiências distintas na educação. Trataremos das propostas e possibilidades relacionadas à 
educação das mulheres, da proposta de renovação da educação denominada Escola Nova e o Manifesto 
dos Pioneiros. Abordaremos também reformas realizadas pelo governo a fim de adequar a educação ao 
projeto político no poder.
Por fim, na terceira unidade trataremos inicialmente do período entre a Era Vargas e a Ditadura 
Militar, com as propostas relacionadas à superação das desigualdades e da formação de cidadãos 
críticos, como a Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire, e dos esforços na redução do analfabetismo. 
Também estudaremos as reformas realizadas no período da Ditadura Militar e os esforços de 
ampliação da cidadania e dos direitos dos brasileiros no processo de redemocratização, buscando a 
universalização da educação básica e os desafios que ainda precisam ser superados em nossos tempos.
Desejamos que esses conteúdos contribuam para sua formação como educador e como cidadão 
brasileiro, mais consciente dos caminhos percorridos para se resultar no quadro atual da educação 
nacional e das dificuldades a serem enfrentadas.
11
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
Unidade I
1 BREVE CARACTERIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO NO PERÍODO MEDIEVAL
Tradicionalmente, a história é dividida em alguns períodos: Pré‑História, Antiguidade, Idade 
Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea. Essa periodização toma como referência a Europa 
e sua relação com as demais partes do mundo e já passou por muitos questionamentos. Contudo, 
continuamos a utilizá‑la em materiais didáticos e mesmo para a pesquisa acadêmica, ainda que 
de maneira mais crítica e considerando cada recorte de modo mais complexo. Para estudar o 
passado muitas vezes precisamos de alguns artifícios interpretativos, ou seja, utilizar títulos, 
categorias, comparações que não existiam no momento estudado, mas que nos ajudam a entender 
ou, ainda, traduzir uma realidade que pela distância do tempo pode se tornar tão distinta da nossa 
e, por isso mesmo, muito difícil de compreender. Vamos retomar brevemente essa periodização. 
Assim teríamos:
• Pré‑História: período que compreende o surgimento da nossa espécie no continente africano 
(Homo sapiens sapiens) até a criação da escrita (por volta de 3500 a.C.).
• Antiguidade: do surgimento da escrita à Queda do Império Romano do Ocidente (476 d.C.) – 
tradicionalmente estudamos nesse período os antigos egípcios, os povos da Mesopotâmia 
(sumérios, acádios, babilônios etc.), os gregos, os persas, os fenícios, os hebreus e os romanos.
• Idade Média: a partir do que passou a ser chamado de Queda do Império Romano do Ocidente 
até a Queda do Império Romano do Oriente (1453) – costumamos também subdividir o período 
em Alta Idade Média (do século V ao IX) e Baixa Idade Média (do século X ao XV).
• Idade Moderna: da Queda do Império Romano do Oriente até a Revolução Francesa (1789), 
compreendendo o período em que acontecem as viagens de expansão de Portugal e Espanha, 
que iriam conectar territórios muito distantes entre si através do comércio iniciado por esses dois 
reinos e depois a conquista e colonização do continente americano.
• Idade Contemporânea: da Revolução Francesa até os dias atuais.
Sobre todos os períodos da História, os marcos temporais de início e fim podem ser questionados, 
e indicaremos, ainda que de forma bastante breve, algumas das questões de periodização sobre os 
momentos que farão parte de nosso percurso nesta disciplina.
12
Unidade I
No caso da Idade Média, período em que iniciaremos nossos estudos, as discussões são bastante 
interessantes e indicam preocupações sobre a duração de certos processos históricos. Nesse sentido, 
é comum encontrar em pesquisas sobre o século V o termo Antiguidade Tardia, o que indica a 
postura interpretativa de se ressaltar os elementos de continuidade em relação aoImpério Romano 
nesse momento.
Como sintetiza Marcelo Cândido da Silva, pesquisador e professor de História Medieval: 
A Europa medieval nasceu do mundo romano, ou melhor, das transformações 
que esse mundo experimentou graças às migrações bárbaras, à difusão do 
cristianismo, à descentralização do poder político e ao fortalecimento da 
aristocracia rural (SILVA, 2019, p. 15).
Na primeira fase do período medieval, a Alta Idade Média, vários reinos se formaram, mas sem 
conseguirem permanecer por muito tempo devido às disputas e novas levas migratórias ocorridas nos 
primeiros séculos do período. Aqueles que ficaram conhecidos pejorativamente na história como “povos 
bárbaros” eram compostos por diferentes grupos humanos que foram se integrando ao Império Romano 
desde muito antes de sua queda. O termo “bárbaro” foi emprestado dos gregos para designar aqueles 
que não eram romanos, porém alguns desses povos foram incorporados ao império de forma pacífica, 
recebendo a cidadania romana, o que dava acesso a diversos direitos, entre eles de não ser escravizado. 
Alguns dos “bárbaros” foram aliados políticos e militares do império, recebendo o título de rex (rei). 
Muitos dos filhos desses chefes recebiam a educação romana, aprendendo latim e retórica, o que 
também ajudou a manter na Idade Média a valorização de certos conhecimentos do mundo romano.
A partir do Édito de Milão em 313 d.C., decretado pelo imperador Constantino, o Império passava a 
ser neutro em relação à religião, encerrando as perseguições feitas contra aqueles que não professavam 
a religião oficial, entre eles os cristãos. Em 380, o imperador Teodósio então tornou o cristianismo a 
religião oficial do Império, com o Édito de Tessalônica. As consequências dessa união entre poder 
político e religião cristã foram longas em nossa história, sendo que, apesar da fragmentação política 
existente nos séculos posteriores (Idade Média), a Europa tinha uma unidade religiosa, a chamada 
cristandade, ou seja, a identificação entre os diferentes povos e reinos que professavam o cristianismo 
no Ocidente. Com exceção dos territórios da Península Ibérica (que hoje são Portugal e Espanha), que 
foram cristãos durante a existência dos reinos dos suevos (entre os séculos V e VI) e dos visigodos (entre 
os séculos V e VIII), mas posteriormente tiveram seu território dominado pelos muçulmanos, a maior 
parte dos reinos formados na Europa do século VIII era cristã (SILVA, 2019).
Além da manutenção do cristianismo como religião oficial, esses reinos mantinham a administração 
romana e o latim como língua oficial, com a qual eram redigidos os documentos oficiais, inclusive as leis, 
ainda que a língua falada no dia a dia fosse distinta. A população em sua maioria não era alfabetizada e 
vivia no campo, assim como fora nos períodos anteriores e continuaria sendo até a Revolução Industrial, 
entre o século XVIII e XIX. A diferença desse momento é que o poder político, econômico e jurídico se 
encontrava nas elites rurais, por isso utilizamos o termo dominação senhorial, ou senhorio territorial, 
para identificar essa nova forma de poder do período, que não se encontrava mais nas cidades e nas 
13
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
instituições urbanas, como fora na Antiguidade (SILVA, 2019). Em livros didáticos você poderá encontrar 
também o termo feudalismo para descrever esse momento.
A questão do analfabetismo de grande parte da população durante a Idade Média é bastante 
debatida, inclusive na história da arte. Seria esse um dos motivos que justificariam e reforçariam o 
uso de imagens nas igrejas. Primeiramente, porque a partir do momento em que o cristianismo passa 
a ser a religião oficial do Império Romano, há influência da cultura e da religião que anteriormente 
ocupavam essa posição. Se antes do século III eram pouco comuns representações iconográficas entre 
os cristãos, estas passam a ser cada vez mais recorrentes depois do Édito de Tessalônica. Além disso, 
o papa Gregório Magno (540‑604), ao escrever uma carta ao bispo de Marselha que vinha destruindo 
imagens religiosas feitas em sua diocese, apresentou um argumento contra essa atitude que ficou 
bastante celebre na história. Ainda que a adoração das imagens não fosse permitida e estivesse em 
contradição com os preceitos religiosos, estas não deveriam ser destruídas porque sua verdadeira função 
e utilidade era ensinar sobre o que deveria ser adorado. As imagens tinham a função didática de ensinar 
as histórias bíblicas àqueles que não sabiam ler, lembrar o exemplo de vida, os milagres e martírios 
sofridos pelos santos e como tinham se mantido como bons cristãos até o último suspiro. As imagens 
também comoviam mais do que as palavras, o que era importante para a conversão e manutenção da 
fé dos fiéis (CARMONA MUELA, 1998).
 Lembrete
As imagens foram consideradas na Idade Média como forma privilegiada 
de ensinar as histórias religiosas àqueles que não sabiam ler, que eram a 
maioria da população.
No ambiente rural, onde grande parte da população vivia, também foram construídos muitos 
mosteiros. Os monges eram homens que abandonavam as cidades para se retirar em locais distantes 
das aglomerações e da vida comum, vivendo com outros companheiros que partilhavam desse mesmo 
desejo de se afastar do seculum (que seria a vida mundana) para buscar na solidão maior proximidade 
com Deus, uma vida santa, renegando os pecados que os tentavam (MICCOLI, 1989). As comunidades 
de monges que se formavam passavam a seguir as regras que foram preconizadas pelos apóstolos, o 
abandono dos bens, do convício com os familiares, a ausência de distinção entre os crentes. No entanto, 
ao longo dos séculos, diferentes grupos monásticos foram se formando, nem sempre tão preocupados 
em manter uma vida simples e isolada do mundo.
Ainda nesse primeiro momento de proliferação das comunidades monásticas no Ocidente, entre os 
séculos V e VI, o desejo de fuga do mundo e busca de Deus pelos religiosos mesclou as referências bíblicas 
do Novo Testamento com elementos da filosofia antiga, sobretudo do estoicismo e o neoplatonismo, 
organizando as justificativas teológicas para a forma de vida escolhida pelos monges, que fugiam das 
angústias, fraquezas e misérias comuns aos mortais, e em suas comunidades passavam a se dedicar à 
procura de Deus na contemplação e no silêncio.
14
Unidade I
Os monges seguiam regras escritas que regiam a vida nos mosteiros e estavam submetidos à 
autoridade de um superior, responsável pelo local. O controle das próprias vontades (ascetismo) 
e aplicação de um determinado método para se alcançar o conhecimento da religião eram a base 
desse modo de vida. O momento de instabilidade e perigo vivenciado na Europa e os ataques às 
cidades que ocorriam quando novas levas migratórias avançavam pelo continente contribuíram 
para que mais homens e mulheres aderissem à vida monástica. Nas palavras de Miccoli (1989, 
p. 36): “Creio que será difícil negar que o monge não é, então, apenas uma alma em busca de Deus na 
oração e na solidão, mas também um homem que necessita de tranquilidade e de paz, num mundo cada 
vez mais hostil e difícil”.
Assim, os mosteiros eram locais autossuficientes, organizados e que se apresentavam ao mesmo 
tempo como “um centro de oração, de trabalho e também de cultura” (MICCOLI, 1989, p. 36). As regras 
monásticas normalmente indicavam que os monges deveriam aprender a ler, o que os colocava em 
posição distinta da maioria da população. Também deveriam dedicar três horas diárias de leituras 
espirituais, que seriam decorados e depois repetidos oralmente em suas meditações (meditatio). Para 
isso os mosteiros contavam em seu interior com biblioteca, escola e scriptorium.
Essas escolas monásticas substituíam as antigas escolas que existiram até o século VI e que ainda 
se ligavam à tradição romana de ensino, laicas e públicas. Conforme o mundo romano se transformava 
no mundo cristão medieval, a educação – assim como a maior parte das instituições e da cultura– 
passava a ser monopólio da Igreja, uma das grandes herdeiras do Império Romano. O papel da Igreja na 
educação medieval aparecia inclusive nos documentos da época, nos concílios provinciais e regionais, 
que indicavam que o bispo e os responsáveis pelas paróquias mais importantes tinham a obrigação de 
promover o ensino nos territórios em que exerciam seus poderes (VERGER, 2006). Os cargos da Igreja 
não tratavam puramente de assuntos religiosos e “da alma” dos fiéis – muitas das funções que hoje 
compreendemos como atribuições dos poderes públicos eram ocupadas pelos religiosos, tanto do clero 
regular (que seguiam uma regra específica, como os monges) quanto para o clero secular (padres, bispos, 
cardeais etc.)
Os scriptoria (singular scriptorium), que se encontravam dentro dos mosteiros, eram os locais em 
que se produziam os manuscritos. Esses textos podiam ser cópias de obras anteriores, o que fez dos 
mosteiros espaços de enorme importância na preservação de textos antigos, que eram estudados e 
geravam importantes debates teológicos. Também poderiam ser textos novos, seja de caráter religioso 
ou não, como tratados, anais, crônicas, histórias etc.
Alguns reis, aliados ao poder e às instituições da Igreja, também desempenharam importante papel na 
manutenção de elementos da cultura antiga e na construção de uma forma própria de organizar o ensino.
Na Alta Idade Média, dentre os reinos formados, os francos tiveram existência mais duradoura, além 
de terem sido importantes agentes na consolidação do poder papal e na formação da cristandade, 
especialmente durante sua segunda dinastia, chamada de carolíngia, momento em que governou, 
entre outros, o rei Carlos Magno. No Natal do ano de 800, esse monarca foi coroado imperador pelo 
papa, evento que selava a aliança entre o poder temporal e espiritual, representados por esses dois 
15
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
importantes atores políticos do momento. Carlos Magno oferecia ao papa proteção militar contra os 
diferentes inimigos que tentavam tomar o controle dos territórios do centro da Itália, especialmente 
Roma, sede papal, além de atuar de forma muito enfática na conversão dos povos que passava a 
dominar. Nas palavras de Marcelo Cândido da Silva:
 
Carlos Magno governou um território que compreendia praticamente a 
Europa Ocidental atual, à exceção da Península Ibérica e das Ilhas Britânicas, 
chegando a ser qualificado, por um monge irlandês do século VIII, de “chefe 
do Reino da Europa”. O termo “Europa” adquiriu, sob os carolíngios, um 
sentido político e religioso, de espaço que reunia os católicos que estavam 
submetidos à autoridade temporal do imperador e à autoridade espiritual 
do papa romano (SILVA, 2019, p. 39).
Com isso, o poder do papa adquiriu maior peso, diminuindo a influência que sofria de Constantinopla, 
e ele passou a exercer sua autoridade sobre as igrejas do Ocidente, o que persistiu mesmo após a 
desintegração do próprio império carolíngio, com o surgimento de inúmeros principados entre os 
séculos IX e X.
Nesse momento, muitos mosteiros foram fundados na Itália, Germânia (Alemanha), Gália (França) 
e pelas Ilhas Britânicas (Reino Unido), formando uma verdadeira rede de espaços de cultura e de 
presença religiosa na paisagem europeia. A maioria dessas comunidades passou a seguir a regra 
de São Bento por influência do papa e do imperador (MICCOLI, 1989). Se os monges já tinham 
anteriormente a função de converter a população rural e de manter escolas para a formação do clero 
e para as elites laicas, essa função foi fortalecida nesse momento. Inclusive muitos mosteiros tinham 
duas escolas, uma interna, voltada para a formação dos monges, e outra externa, aberta às elites 
locais (VERGER, 2006).
Além de fortalecer e engrandecer a rede de mosteiros e escolas já existentes, Carlos Magno criou a 
Escola do Palácio, onde os mais importantes eruditos do Ocidente ensinavam literatura clássica, direito, 
liturgia e gramática. Estavam entre os professores dessa escola: Paulo (Diácono), Pedro de Pisa, Paulino 
de Aquileia e Alcuíno de York. Estabeleciam‑se ali um conjunto de conhecimentos que deveriam servir 
às elites laicas em suas funções na administração do reino, e os membros do clero deveriam adquirir:
 
um conhecimento mais aprofundado das regras monásticas, dos cânones 
conciliares (a legislação da Igreja) e, sobretudo, das Escrituras, de forma 
que pudessem ensinar corretamente os preceitos divinos ao rebanho de 
fiéis, corrigindo, ao mesmo tempo, todos os comportamentos pecaminosos 
(SILVA, 2019, p. 40).
Outras escolas foram fundadas, como nas cidades de Tours, Fulda, Auxerre e Corbi.
16
Unidade I
Figura 1 – Detalhe da Bíblia de Saint‑Riquier: exemplo de escrita minúscula carolina
Disponível em: https://cutt.ly/CB007T8. Acesso em: 24 ago. 2022.
Também ocorre uma tentativa de padronização da escrita para facilitar a compreensão. Devemos 
lembrar que por muito tempo os textos circularam apenas de forma manuscrita, e garantir que a letra 
do copista fosse compreensível ao maior número de pessoas era muito importante. Esse modo de escrita 
se chamava minúscula carolina ou minúscula carolíngia e tinha forma arredondada e mais regular. 
Muitas obras antigas apenas são conhecidas hoje devido às cópias realizadas em mosteiros carolíngios.
Todos esses esforços realizados pelos francos, especialmente pelo imperador Carlos Magno, fizeram 
que esse momento fosse conhecido como Renascimento Carolíngio.
A educação realizada nessas escolas monásticas que proliferavam pela Europa e dominaram o 
ensino da Alta Idade Média era baseada na patrística, ou seja, na autoridade dos padres da Igreja, que 
são os primeiros autores a organizar e consolidar o pensamento cristão, como Santo Agostinho e São 
Jerônimo. Além disso, certos conhecimentos dos antigos também eram mobilizados nessas instituições, 
sobretudo quando se considerava que seus ensinamentos poderiam auxiliar na compreensão das 
Sagradas Escrituras. Para isso, os cristãos estudavam as chamadas artes liberais, especialmente as artes 
que formavam o Trivium (gramática, retórica e dialética), que eram as disciplinas voltadas à escrita 
e à argumentação, bem como leitura e compreensão de texto, ferramentas importantes para se ler e 
comentar os textos religiosos.
17
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
A partir do século XII, auge do desenvolvimento dos mosteiros na Europa, o cenário educacional 
começou a mudar. Ainda que as escolas monásticas continuassem a existir, seu papel passou a segundo 
plano, e as escolas ligadas às catedrais ganharam maior importância. Além disso, cada vez mais mestres 
passaram a ensinar de forma independente, ganhando fama, o que atraía estudantes, inclusive de locais 
distantes, que se dirigiam a certas cidades, para pagar pelas aulas desses grandes eruditos. Paris se 
apresentava como um dos mais importantes centros de atração desses mestres e discípulos. Era difícil 
para a Igreja controlar e fiscalizar essa atividade, ainda que a cultura geral ensinada por esses mestres 
estivesse em consonância com a religião.
Um dos mestres mais conhecidos desse momento foi Pedro Abelardo (1079‑1142), professor em Paris, 
muito importante na história da filosofia pela ênfase dada à dialética aristotélica como instrumento 
para uma leitura racional da Bíblia, o que depois seria consagrado por Tomás de Aquino (1225‑1274). 
Essa forma de compatibilizar o conhecimento antigo e o pensamento cristão com a racionalização das 
leituras sagradas foi fundamental para o desenvolvimento posterior dos espaços de ensino na Europa.
Outro aspecto importante de mudança nessa passagem da Alta para a Baixa Idade Média são as 
cidades, que passam a ser importantes centros de comércio e poder, assim como de ensino e cultura, o 
que antes acontecia no campo. Tanto os mestres individuais como as escolas das catedrais (nome das 
igrejas dos bispos, sede da diocese) se encontravam nas cidades. Isso ocorre porque a Europa passa por 
muitas transformações a partir do século X,como crescimento da população gerado por novas técnicas 
produtivas no campo, o êxodo rural, o fortalecimento do poder do papa, que consegue se sobrepor 
às elites locais nesse momento e o crescimento do comércio. E muitas dessas transformações estão 
relacionadas a um movimento de expansão da cristandade europeia que ficou conhecido posteriormente 
pelo nome de Cruzadas.
Em 1095, o papa Urbano II, no Concílio de Clermont, convocou os cristãos a realizarem expedições 
que eram ao mesmo tempo militares e de peregrinação à Terra Santa, dando garantias de salvação eterna 
aos que se lançassem nessa jornada de penitência, justificando que os locais sagrados e os cristãos do 
Oriente se encontravam em perigo devido ao avanço turco na região (SILVA, 2019). Esse  movimento se 
relacionava a um projeto de reforma empreendido pela Igreja por volta do ano 1000, em que o poder 
do papa era reforçado, ao mesmo tempo que se realizaria uma reforma da sociedade cristã, que seria 
empreendida com o auxílio de uma nova ordem religiosa, a Ordem de Cluny. Fazia parte dessa reforma 
a crítica ao comportamento de parte do clero e seus desvios dos ideais cristãos, a recusa à riqueza, a 
retomada do ideal dos apóstolos, além da organização de uma hierarquia eclesiástica em que o papa 
estivesse na posição mais elevada, a grande liderança e poder da cristandade, o que é chamado na 
historiografia de uma “monarquia papal” (SILVA, 2019).
Ainda que os mercadores das cidades mediterrâneas não tivessem aderido às Cruzadas em suas 
primeiras convocações devido ao receio de consequências negativas para suas rotas de comércio, ao 
perceberem benefícios para seus negócios passam a participar das expedições fornecendo transportes 
e alimentos aos peregrinos, além de terem sido responsáveis pelo desvio da Quarta Cruzada (1202‑1204), o 
que teve como consequência o saque e a conquista de Constantinopla pelos cristãos. Tais empreendimentos 
resultaram no enriquecimento dos mercadores e das cidades italianas em que atuavam.
18
Unidade I
Apesar de o papa convocar as Cruzadas, as expedições eram chefiadas por nobres, reis e pelos 
imperadores. Ainda assim, o resultado delas foi bastante favorável ao fortalecimento do poder papal.
A partir do século XII o papa passa também a combater de forma mais vigorosa as heresias, que 
era o nome dado às posturas e crenças que não estavam em concordância com a ortodoxia religiosa – 
ou seja, eram desvios da fé e do comportamento em relação ao que era defendido pela Igreja. 
Dessa maneira, toda nova interpretação da Bíblia precisava ser autorizada pelo papa. Além disso, foram 
criados procedimentos judiciários que definiam como o herege seria identificado, julgado e punido, o 
que foi chamado de procedimento inquisitorial. Também foram preparadas listas de heresias e tratados 
sobre elas, e entre 1231 e 1233 surgiu a Inquisição.
A Inquisição foi uma instituição criada e controlada pelo papa, que designava os juízes que atuariam 
nas questões relativas às heresias. Seus juízes respondiam apenas ao papa, que passava a ter o monopólio 
sobre o controle da ortodoxia, definindo o que era considerado como desvio (heresia).
Todo o procedimento era secreto, os nomes das testemunhas não eram revelados, o acusado não 
tinha direito a nenhum tipo de assistência, advogados ou outros tipos de recursos que pudessem ajudar 
em sua absolvição. As ordens dos dominicanos e franciscanos eram os responsáveis por todo esse 
processo, pois ambas estavam diretamente ligadas ao papa. Se o acusado confessasse seu crime, isso 
configurava como prova inquestionável, ainda que fossem obtidas por meio de violência e tortura, e 
assim se encerrava o julgamento para se iniciar a punição (penitência).
As transformações e contatos pelos quais a Europa passava nesse momento se desdobrariam também 
em novas formas de conhecimento e de ensino que teriam vida longeva.
Diferentemente do que acontecia na cultura letrada da cristandade Ocidental até o século XII, 
no que restou do Império Romano no Oriente, que passou a ser chamado de Império Bizantino, a 
filosofia grega foi preservada. A partir do século VII, esse conhecimento passou a ser compartilhado 
com um novo império que surgia com expansão dos árabes, agora muçulmanos, após a morte 
do profeta Maomé, quando passaram a conquistar inúmeros territórios antes pertencentes aos 
romanos antigos no Oriente. Os árabes chegaram à Pérsia, à Índia, a toda a Península Arábica, à Síria, 
pressionando as fronteiras do Império Bizantino, avançando por todo o norte da África e finalmente 
tendo parte de seu território na Europa, ocupando toda a Península Ibérica (hoje Portugal e Espanha). 
Nessa expansão, além da proximidade e dos conflitos gerados com a cristandade, os árabes entraram 
em contato com a filosofia grega através do Império Bizantino, que foi apropriada por seus pensadores 
formando uma filosofia própria, a Falsafa, que em parte seria muito importante para a formação 
das novas escolas europeias da Baixa Idade Média, sobre as quais trataremos a seguir.
Deixaremos de lado toda essa complexa história sobre a expansão muçulmana, indicando 
aqui brevemente alguns aspectos que estão mais diretamente relacionados à nossa história, já que 
a Península Ibérica fazia parte desse mundo islâmico a partir do século VIII. O território que hoje é 
Portugal permaneceu como muçulmano até o século XI, quando se iniciou a formação desse reino e os 
reinos que depois formariam a Espanha continuaram o processo de conquista de territórios que eram 
muçulmanos até 1492, com a incorporação de Granada, no mesmo ano em que Colombo chegou à 
19
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
América. Os conflitos e disputas de territórios entre cristãos e muçulmanos se estenderia ainda por toda 
a Idade Moderna, sendo uma das motivações das expansões marítimas ibéricas.
Mas retomemos brevemente a questão da filosofia árabe. Quatro filósofos árabes se destacam 
dentro do estudo da história da Falsafa: Al‑Kindi (769‑873), Al‑Farabi (972‑950), Ibn‑Sina (980‑1037) 
e Ibn‑Rushd (1126‑1198). Nenhum desses filósofos foi responsável por traduções dos textos antigos 
gregos para o árabe, pois já havia ocorrido anteriormente um longo processo de traduções das quais 
se beneficiaram esses pensadores. O primeiro, Al‑Kindi, foi responsável por tornar as traduções mais 
adequadas, explicando termos importantes da filosofia antiga ao árabe, ou seja, adaptando melhor os 
textos à sua língua, permitindo, com isso, a melhor leitura e compreensão de obras sobre lógica, música, 
astrologia, medicina etc. Seu mérito principal foi de introduzir Aristóteles ao Islã e aproximar o filósofo 
aos ensinamentos do Alcorão (ATTIE FILHO, 2002).
No mesmo período, o principal autor grego ainda estudado no Ocidente era Platão, e esses dois 
autores antigos (Aristóteles e Platão) tinham posturas muito distintas sobre o conhecimento. Platão, 
alinhando‑se de forma mais direta à tradição iniciada por Sócrates, buscava o conhecimento ancorado 
sobretudo na razão e na dicotomia entre mundo material e mundo das ideias, de onde a alma imortal 
dos homens advinha, onde tudo era perfeito e que poderia ser ascendido, ainda que de forma menos 
perfeita, pela razão. Lembremos, é claro, do conhecido Mito da Caverna de Platão. Vem de Platão a 
forma de Agostinho de Hipona – Santo Agostinho, um dos padres da Igreja – de pensar a divisão entre a 
cidade de Deus e a cidade dos homens, o mundo divino perfeito e o mundo humano imperfeito, mas que 
deseja no amor a Deus aproximar‑se ao máximo possível dessa perfeição. Agostinho e seu platonismo 
representavam o pensamento mais marcante da Alta Idade Média. Não à toa, os monges buscavam 
a verdade a partir da leitura dos textos dos autores antigos romanos e dos livros sagrados e depois 
“meditavam” sobre esses textos (meditatio), ou seja, num movimento que em parte se assemelhavam a 
uma prece e à interiorização da sabedoria que poderia ser acessada por essas leituras.
Por outro lado, Aristóteles, que sintetizavadiferentes tradições filosóficas que o precederam, 
considerava como fontes de conhecimento tanto a razão quanto os sentidos, o que era visto com 
certa desconfiança por filósofos alinhados ao pensamento platônico. Os sentidos e as experiências que 
eles permitem seriam as portas de acesso ao conhecimento. Mas os sentidos podem enganar, por isso 
é preciso acionar a razão para corrigir tais erros e buscar assim um conhecimento verdadeiro. Pense 
na ilusão de ótica, nas fotos de pessoas com a mão apoiando a torre de Pisa inclinada, como se a 
sustentassem, quando sabemos que esse efeito é possível devido ao ponto em que a câmera se coloca 
para fazer a foto. O sentido engana, mas a razão e o conhecimento permitem que o erro, ou, nesse caso, 
o artifício, seja percebido.
Dessa maneira, o pensamento tendo como base o aristotelismo permitia novos caminhos ao 
conhecimento. Além disso, era possível compatibilizar o pensamento antigo com a fé religiosa, o 
que os árabes fariam de forma bastante bem‑sucedida. Essa postura de Al‑Kindi, de introdução do 
aristotelismo e dos textos gregos no pensamento árabe, teria continuidade no filósofo Al‑Farabi, que 
era um homem bastante erudito e que contribuiu organizando muito da filosofia antiga e apresentando 
teorias originais.
20
Unidade I
Mas, desses filósofos da Falsafa, sem qualquer dúvida, os que teriam maior impacto no pensamento 
cristão medieval foram Ibn‑Sina e Ibn‑Rushd, tão conhecidos e comentados que seus nomes foram 
latinizados. Talvez Avicena e Averróis, respectivamente, sejam mais familiares a vocês.
Avicena foi responsável por recolher e organizar grande parte do conhecimento de sua época. 
Tornou‑se em seu tempo um grande mestre em lógica, física e matemática. Além de ter sistematizado 
esse conjunto, também o reelaborou em uma abordagem própria e a partir de seus escritos influenciou 
a filosofia posterior em muitos sentidos, sendo conhecido no mundo islâmico e no mundo cristão 
medieval, onde continuou a ser referenciado e estudado até a Idade Moderna. Além de ter sido um 
grande erudito, foi médico de grande renome e escreveu importantes obras nessa área, como O cânone 
da medicina, que foi adotado nas escolas europeias até o século XVI e era uma síntese do conhecimento 
acumulado até aquele momento; foi base do ensino médico por mais de 500 anos após a sua morte.
Por fim, nosso último filósofo árabe, Averróis, viveu no período de maior desenvolvimento do 
Al‑Andalus, que era o nome do que hoje conhecemos como a Espanha durante o período de governo 
muçulmano. Nascido em Córdoba, vinha de uma família de juízes (carreira que também seguiu), estudou 
medicina, astronomia, teologia, matemática, filosofia etc., tendo escrito ao longo da vida 92 obras, que 
tratavam de filosofia, teologia, direito, astronomia, gramática e medicina. Dessas obras, a maioria tinha 
em seu título o termo “comentário”, e muitas das obras de filosofia se ocupavam em discutir a obra de 
Aristóteles, mas também escreveu um volume considerável de textos com títulos originais. Averróis foi 
um dos maiores estudiosos sobre o trabalho de Aristóteles da Idade Média, tendo comentado a maior 
parte de sua obra, exceto a política, ainda que não soubesse grego e tenha estudado os textos do 
filósofo grego apenas pelas traduções para o árabe.
O destino de Averróis marcou um momento importante de inflexão na história da filosofia, pois 
viveu e contribuiu para um período de enorme desenvolvimento da Falsafa, assim como da cultura 
do Al‑Andalus e do mundo islâmico como um todo, mas acabou por ser sufocado por correntes de 
pensamento contrárias à autonomia da filosofia entre os árabes e à sua base na cultura antiga grega, 
as quais consideravam que suas posturas colocavam em segundo plano as verdades da fé islâmica. 
Seus opositores tornaram‑se mais poderosos e passaram a pressionar o emir Al‑Mansur, que governava 
naquele momento. A maneira como os julgamentos eram conduzidos também fora motivo de críticas 
pesadas, e uma assembleia foi reunida para julgar o Averróis, considerado culpado e condenado, o que 
fez com que o emir retirasse sua proteção e o filósofo caísse em desgraça. Ainda sob pressão, Al‑Mansur 
ordenou que o estudo da filosofia grega fosse proibido e que os livros sobre o assunto fossem confiscados 
e queimados. Averróis e alguns outros estudantes e filósofos foram exilados em Lucena (cidade próxima 
a Córdoba), mas posteriormente foi perdoado por Al‑Mansur e passou a servi‑lo no Marrocos, onde 
faleceu pouco depois, aos 92 anos de idade.
Averróis, com muitos de seus antecessores, compreendia que o estudo dos textos antigos não era 
incompatível com a religião islâmica, já que ambos contribuíam para o conhecimento de Deus a partir 
da inteligência com a qual os homens eram dotados desde o nascimento. Religião e filosofia andam 
juntos no pensamento de averroísta, não há contradição que implique a necessidade de escolher uma 
em detrimento da outra.
21
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
Devido ao desfecho de sua vida como mestre e a condenação de seus livros, a obra de Averróis em 
árabe foi perdida, e o que conhecemos hoje sobre seus escritos se deve a traduções latinas e hebraicas. 
Os judeus que liam a obra de Averróis em árabe em Córdoba iniciaram as traduções de seus textos para 
o hebraico, e essas traduções foram então transpostas para o latim pelos cristãos, já que esses dois 
grupos eram tolerados em Al‑Andalus e desenvolveram fortes relações como minorias em território 
muçulmano. Também por esses motivos, Averróis não teve discípulos e continuadores no mundo árabe, 
mas passou a ser muito lido e estudado no mundo cristão – por Siger de Brabant (1240‑1285), Alberto 
Magno (1193‑1280) e Tomás de Aquino (1225‑1274) – e judaico, sendo influente no pensamento de 
Maimônides (1138‑1204).
Segundo Attie Filho (2002), o pensamento ocidental medieval teve grande contribuição da filosofia 
árabe especialmente por três motivos. Primeiramente, devido à proximidade geográfica, já que 
o Al‑Andalus ficava na própria Europa e havia liberdade para que cristãos e judeus vivessem nesse 
território muçulmano, o que permitia que esses grupos mantivessem contato com o restante da Europa 
e assim a Falsafa pudesse penetrar o Ocidente Cristão, especialmente durante o apogeu do Al‑Andalus, 
quando Córdoba se configurava como importante centro de saber, rivalizando com a distante Bagdá 
para os ocidentais.
As Cruzadas e o resultado desse avanço religioso para ter acesso aos locais sagrados para 
peregrinação no Oriente também permitiam maior contato com o mundo muçulmano, seja no caminho 
para Jerusalém, seja nas rotas de comércio abertas em decorrência dessa expansão europeia ocorrida 
a partir do século XI; muitos dos eventos ocorridos nos séculos posteriores, especialmente os que nos 
dizem mais diretamente respeito com a chegada dos portugueses na América, estão relacionados a esse 
primeiro movimento de expansão religioso e comercial.
Ademais, as universidades medievais foram espaços privilegiados para o acolhimento desse 
pensamento árabe, que era um intermediário para os textos da Antiguidade. Como os ocidentais não 
tinham acesso, muitas vezes, aos textos originais na língua grega, as traduções árabes, então passadas 
ao latim, ampliavam o número de obras de filosofia antiga que poderiam acessar.
A filosofia e a ciência, guardando o conhecimento antigo e também aprimorando e produzindo 
novos, tiveram uma existência fervilhante por séculos no mundo árabe, que englobava terras distantes e 
diversas, intercomunicadas por cidades e comércio. Esse mundo entraria em contato com a cristandade 
de três pontos de convergência. O astrolábio, tão útil no momento de expansão ibérica, vinha desse 
ambiente, assim como outros conhecimentos importantes de navegação, como a astronomia e as 
matemáticas. E nesse sentido não era uma feliz coincidência que Portugal e Espanha fossem reinos 
privilegiados no acesso a tais conhecimentos, já que tinham feito parte desse mundo islâmico porséculos, especialmente no caso espanhol, em que esse domínio foi mais duradouro (cerca de sete séculos).
Dessa forma, muito se utilizou nas universidades medievais dos textos árabes comentando os 
textos antigos. Apenas posteriormente os estudiosos cristãos passaram a buscar diretamente os autores 
clássicos, como Aristóteles, Galeno, Platão etc.
22
Unidade I
As traduções do árabe para o latim ocorreram sobretudo a partir do século XII, tendo oferecido 
grande contribuição nesse processo Adelardo de Bath (1080‑1152), que traduziu alguns textos 
árabes sobre a natureza (física). Graças à contribuição desse tradutor logo os árabes passaram a ser 
conhecidos no ocidente como homens de grande conhecimento e, dessa forma, suas obras, traduções e 
comentários geravam interesse nesse momento de proliferação dos centros de conhecimento que eram 
as universidades.
A cidade cristã de Toledo, na Espanha, que era muito próxima de Al‑Andalus, devido ao incentivo do 
bispo, tornou‑se um grande centro de traduções do árabe para o latim. Essa atividade foi fundamental 
para que portugueses e espanhóis tivessem acesso aos conhecimentos necessários para realizarem suas 
navegações a partir do século XV (ALMEIDA, 2001).
Inicialmente, as obras de Avicena foram as mais traduzidas entre os cristãos, depois os textos de 
Averróis também passaram a receber grande atenção dos tradutores. Por causa desse grande volume 
de obras árabes que passam a integrar o universo de conhecimentos da Europa Medieval os estudiosos 
podem hoje identificar influências de Avicena em autores célebres cristãos, como João Duns Escoto 
(c. 1266‑1308), e de Averróis em Alberto Magno (c. 1193‑1280), Rogério Bacon (1220‑1292) e Tomás de 
Aquino (1225‑1274).
Essas considerações foram aqui apresentadas para indicar algumas questões importantes sobre o 
ensino e o conhecimento. Primeiramente, que as fontes do nosso saber podem percorrer vias múltiplas 
e complexas até que cheguem ao nosso conhecimento. Pense em quantos caminhos a filosofia grega 
percorreu para chegar até nós. Apenas nessas considerações já indicamos dois momentos importantes 
de cópias e traduções dos textos antigos. As cópias feitas nos scriptoria do período carolíngio, ainda 
que fosse mais comum a presença dos textos romanos; e posteriormente as traduções dos textos árabes 
sobre os autores antigos para o latim. Ainda teríamos outros momentos de valorização do conhecimento 
antigo pelos europeus.
Ou seja, a Antiguidade nunca deixou de ser estudada no Ocidente, o que formaria uma longa 
tradição clássica, de conhecimentos e de representações artísticas que dialogavam e utilizavam modelos 
e referências da Grécia e de Roma, que seriam centrais até pelo menos o século XVIII. Posteriormente 
entenderemos como essa relação com a Antiguidade, ou melhor, com a ideia de autoridade do saber e 
da arte e com os modelos a serem seguidos mudou nesse momento.
Mas tratemos especificamente das universidades e do pensamento escolástico, que serão 
predominantes na Baixa Idade Média e que muito influenciarão o ensino empreendido pelos jesuítas 
posteriormente nas colônias portuguesas na Idade Moderna.
As universidades são filhas das cidades, que cresciam e tornavam‑se espaços privilegiados de 
conhecimento com mestres mais autônomos, ao mesmo tempo que a Igreja, e especialmente o papa, 
tentava controlar as formas de interpretação sobre a religião. A história não se faz de relações simples de 
causa e consequência, pois é nesse mesmo contexto, a partir do século XIII, que surge uma das instituições 
de maior autonomia e liberdade da Idade Média. Obviamente não devemos pensar a liberdade em nosso 
23
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
sentido atual; seus agentes ainda eram homens de seu tempo, pensavam, agiam, decidiam segundo o 
que era possível dentro da visão de mundo do momento. Essas instituições eram as universidades:
 
A universidade é uma das grandes criações da Idade Média. Configura‑se 
como uma instituição de tipo corporativo ligada ao progresso urbano e 
destinada ao que denominamos atualmente ensino superior. Ela evoluiu até 
os dias de hoje conservando importantes traços de sua origem medieval 
(VERGER, 2006, p. 573).
As universidades têm sua origem nas escolas já mencionadas do século XII e nos mestres de renome. 
Ao retomarem os estudos de dialética aristotélica, outros conhecimentos passaram a fazer parte do 
ensino, pois poderiam desempenhar importantes funções na formação de conselheiros de príncipes 
e de cidades, médicos eruditos, funções no alto clero. O direito romano e a medicina passam a ser 
estudados novamente, pois passam a circular novamente na Europa textos de direito romano e de 
medicina greco‑árabes.
Como uma instituição urbana, as universidades vão se aproximar das formas de organização mais 
características desse espaço, que eram as corporações de ofício.
Nas cidades, o trabalho relacionado ao artesanato (trabalho de marceneiros, padeiros, ferreiros, 
pintores, escultores etc.) era organizado nessas corporações, associações de mestres e artesãos de um 
determinado ofício. Esses trabalhadores dominavam uma determinada arte, que era o termo utilizado 
para designar o conhecimento relacionado a uma série de técnicas para uma determinada atividade. 
Ainda hoje utilizamos a palavra nesse sentido, por exemplo, em “a arte da escrita”, que compreende 
conhecimentos e técnicas específicas necessárias para se escreverem determinados tipos de textos 
(gêneros literários).
Os conhecimentos transmitidos dentro das oficinas dos artesãos que faziam parte dessas corporações 
eram as “artes mecânicas”, e não faziam parte dos ensinamentos existentes nas escolas ligadas ao clero. 
As elites e os membros do alto clero educados nas escolas monásticas, das catedrais, ou pelos mestres 
da época se baseavam inicialmente nas “artes liberais”, que não estavam relacionadas ao trabalho 
manual, mas ao intelecto. Essas artes liberais se dividiam em Trivium (gramática, retórica e dialética), já 
mencionadas anteriormente – que compreendiam os conhecimentos relacionados à produção e leitura 
de textos –, e Quadrivium (aritmética, música, geometria e astronomia), que tratavam das disciplinas 
relacionadas à matemática.
 Lembrete
É importante destacar a distinção durante a Idade Média entre o 
conhecimento teórico e elevado das artes liberais e o conhecimento prático, 
voltado para uma determinada produção, como as artes mecânicas.
24
Unidade I
Assim, mesmo que os conhecimentos pertencentes às corporações de ofício e às instituições de 
ensino ligadas à educação das elites fossem muito distintos, ao se deslocar o centro cultural do campo 
para a cidades e ao se diversificarem os conhecimentos ensinados pelos mestres o desejo de autonomia 
fez com que mestres e estudantes se associassem de forma semelhante às corporações de ofício. 
A maioria dos mestres e dos estudantes pertencia ao clero, mas com desejo de realizar o ensino com 
maior liberdade do que nas escolas diretamente ligadas à igreja.
A Universidade de Paris foi uma das primeiras a surgir. Era um agrupamento de escolas e uma 
associação de mestres e estudantes, por isso o nome: Universitas magistrorum et scolarium Parisiensium. 
Mas as universidades podiam ser associações apenas de estudantes, como no caso da Universidade de 
Bolonha, que surge praticamente ao mesmo tempo que a de Paris.
Dentro das universidades, as escolas eram agrupadas de acordo com as disciplinas ensinadas: 
Faculdade de Artes, Faculdade de Medicina, Faculdade de Direito (que poderia ser apenas o canônico, 
como no caso de Paris, ou civil e canônico) e Faculdade de Teologia.
Em 1215 é promulgado o estatuto da Universidade de Paris, documento em que se especificam quais 
textos deveriam ser lidos (ou comentados) e quais textos eram proibidos de serem ensinados. Aristóteles, 
por exemplo, o célebre filósofo grego, tinha obras incluídas no ensino universitário e outras proibidas.
No caso da Universidade de Bolonha, primeiramente surgiu a Faculdadede Direito, onde se ensinava 
direito civil e canônico. Essa instituição era particularmente famosa por sua primeira faculdade, sendo 
que os juristas aí formados tinham prestígio em toda a Europa. Depois as Faculdades de Artes e de 
Medicina foram incorporadas e, por fim, a Faculdade de Teologia, que era comandada pelos dominicanos. 
Como era uma associação de estudantes (que tiveram apoio do papa para conseguir sua autonomia), os 
mestres atuavam ali apenas mediante contratos.
 Observação
Em 1999 foi assinada a “Declaração de Bolonha”, em que se pretendia 
aproximar o ensino universitário na União Europeia, facilitando a circulação 
dos estudantes e internacionalizando as universidades.
No século XIII também surge a Universidade de Oxford, a partir da escola de teologia, e já em 
1209 surge a Universidade de Cambridge a partir de uma associação de estudantes e mestres 
também de Oxford.
25
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
Figura 2 – Vista atual da Universidade de Coimbra: ao centro está o prédio da 
Faculdade de Direito, uma das mais célebres instituições superiores portuguesas
Figura 3 – Detalhe do pátio da Universidade de Coimbra, com destaque para o prédio da Biblioteca 
Joanina (canto esquerdo), construída durante o reinado de dom João V (1689‑1750), 
momento de grande exploração do ouro do Brasil
Em Portugal, a primeira universidade seria fundada por volta de 1290, pelo monarca dom Dinis I 
(1261‑1325), na cidade de Lisboa. Essa universidade funcionou por alguns períodos em Coimbra, de 
1308 a 1338 e de 1354 a 1377, sendo definitivamente transferida para essa cidade em 1537 (FONSECA, 
2006), por dom João III (1502‑1557). A Universidade de Coimbra está em funcionamento até hoje 
e durante a maior parte de sua existência foi o principal centro de formação de juristas e médicos de 
Portugal e de suas colônias.
26
Unidade I
As universidades tinham autonomia, o que era a primeira grande novidade dessa instituição. Podiam 
estabelecer regras internas e elaborar estatutos próprios. Também eram responsáveis pelo ingresso de 
novos estudantes e mestres. Mas, ao mesmo tempo, apresentavam um caráter universalista, já que os 
saberes estudados nas universidades eram iguais em qualquer local. Por isso os títulos e diplomas de seus 
estudantes eram reconhecidos em toda a Europa. Esse saber socializado e construídos nas universidades 
era a Escolástica (ALESSIO, 2016).
A ideia de autoridade é central nessa forma de ensino. Em primeiro lugar o papa é o responsável 
por instituir as universidades, o que permite que não precisem se submeter às elites locais. Uma vez 
instituídas pela maior autoridade da Europa, os mestres eram responsáveis pelo ensino. O que hoje 
seriam as aulas eram chamadas naquele momento de comentários ou leituras – isso nos revela muito 
sobre como se construía esse conhecimento, que era centrado nos textos consagrados e autorizados.
O conhecimento deveria ser apenas construído e transmitido a partir dos textos e autores 
permitidos, sendo os antigos romanos a base desse ensino, o que marca mais um momento de 
retomada da Antiguidade Clássica e mais um período de valorização dos livros, consequentemente 
dos copistas e dos livreiros, por isso era bastante caro ingressar nas universidades, sendo ainda um 
ensino voltado para as famílias mais abastadas. Ainda assim, alguns membros de grupos religiosos 
de destaque nas universidades (como os dominicanos e franciscanos), mesmo que oriundos de 
famílias mais modestas, tiveram apoio da ordem a qual pertenciam para ingressar e permanecer 
nas universidades.
Ainda que cada faculdade tivesse completa autonomia e seus próprios autores consagrados para 
tratar de seus conhecimentos específicos, todos os que se dirigiam às universidades para realizar ali sua 
formação, seja como juristas, médicos ou teólogos, passavam antes pela Faculdade de Artes, onde se 
aprendiam os métodos base do ensino e do pensamento escolástico.
 Lembrete
As universidades costumam ser formadas por quatro faculdades: 
Faculdade de Artes (filosofia), Faculdade de Teologia (dominada por 
franciscanos e dominicanos), Faculdade de Direito (civil e canônico) e 
Faculdade de Medicina.
A lógica escolástica, que era o pilar de seu pensamento, baseava‑se na lógica aristotélica, especialmente 
da leitura que fazem de sua obra Organon, a partir da qual preparam sua forma característica de discutir 
os conhecimentos ali compartilhados. O fundamento desse ensino, que devemos reforçar, é o princípio 
da autoridade – ou seja, quase tudo o que se pretende saber para trilhar a formação universitária deve 
ser retirado de certos livros e autores em que se pode encontrar a verdade. Por isso, os mestres eram 
comentadores desses autores, que eram as verdadeiras autoridades do ensino, não o mestre em si. Por 
isso, a lição magistral, chamada lectio, e que é o pilar do conhecimento escolástico, era dividida em seis 
etapas sucessivas. Nessas lições, o mestre apresentava o conhecimento a ser compartilhado com os alunos 
a partir de uma questão (quaestio), e toda sua exposição era feita tomando um interlocutor imaginário, 
27
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
que tem uma função bastante importante e específica nessa busca pela verdade empreendida com tal 
método. Vejamos então quais são as seis etapas, como nos apresenta Alessio (2006):
• 1ª etapa – mestre tira do texto do autor estudado um problema, que é formulado como uma 
questão (quaestio);
• 2ª etapa – interlocutor imaginário apresenta uma lista de objectiones, que são todos os argumentos 
da teoria oposta à que o mestre está apresentando nesse processo, ou seja, adianta as críticas do 
pensamento que está defendendo;
• 3ª etapa – mestre apresenta de forma breve a sua tese magistral (sententia magistralis), ou seja, a 
ideia que está defendendo;
• 4ª etapa – mestre defende sua tese magistral das objectiones anteriormente apresentadas;
• 5ª etapa – mestre avança nos argumentos de sua tese;
• 6ª etapa – mestre retoma os argumentos do interlocutor e os refuta através da resposta às objeções 
(responsio ad objectiones).
Ao observarmos esse esquema do método da lógica escolástica podemos perceber que o interlocutor 
imaginário presente nessa fórmula tem por função afastar as dúvidas e questionamentos em relação ao 
texto da autoridade estudada. Esse método era muito caro às ordens mendicantes que tinham grande 
relevo nas universidades, pois em muitos aspectos estavam em concordância com as posturas desses 
religiosos, especialmente os dominicanos, que tinham como prerrogativa combater os desvios da fé, 
as heresias.
O controle sobre os textos e autores estudados na universidade era bastante rigoroso. Havia em 
alguns momentos certa desconfiança sobre as leituras mais entusiasmadas que eram feitas sobre as 
obras de Averróis. Por isso, em 1277, o bispo de Paris, Estevão Tempier, condenou alguns dos seguidores 
do filósofo árabe. As desconfianças não eram muito distintas das que fizeram Averróis cair em desgraça 
ainda em vida, considerando que em seus textos a razão ocupava papel de destaque, deixando em 
segundo plano as verdades contidas nos textos sagrados.
Por fim, também eram importantes nas universidades alguns textos de síntese dos conhecimentos 
indispensáveis a mestres e alunos que tinham sido produzidos no século XII, como as “Sentenças”, de 
Pedro Lombardo (1100‑1160), o “Decreto” de Graciano e a “Dialética” de Abelardo.
Apesar da predominância do conhecimento pelas autoridades, havia espaço para a observação direta 
do mundo e da experiência, o chamado empirismo. Embora fosse muito distinto da maneira como 
compreendemos o fazer científico na atualidade, essa atitude desenvolvida no interior das universidades 
foi de extrema importância nos processos que posteriormente levariam ao chamado Renascimento 
e as Revoluções Científicas da Idade Moderna. Para ilustrar essa questão, Terezinha Oliveira (2007) 
menciona o exemplo do erudito medieval Alberto Magno (1193‑1280), que era estudioso e seguidor do 
28
Unidade Ipensamento aristotélico, mas que, além da leitura e do conhecimento derivado dessa autoridade antiga, 
também estudava plantas e animais de forma empírica em suas viagens pela Europa.
Todavia, o estudo das autoridades não implicava necessariamente um ensino uniforme e estanque. 
Havia disputas e pontos de discordância entre certos grupos no interior da instituição. Havia aqueles, por 
exemplo, que defendiam a manutenção de uma forma de conhecimento baseada em Santo Agostinho, 
como ocorria anteriormente à retomada dos estudos aristotélicos ocorrida no século XII. Havia, por 
outro lado, o grupo que pretendia aderir de modo mais radical ao pensamento aristotélico, valorizando 
assim o uso dos sentidos e da razão para alcançar o conhecimento. E havia, ainda, o grupo que tentava 
compatibilizar o pensamento aristotélico e as doutrinas do cristianismo daquele momento, postura 
sustentada por um dos principais nomes do pensamento cristão medieval, Tomás de Aquino (1225‑1274). 
Essas discussões continuaram por séculos e influenciaram as Reformas Religiosas do século XVI, entre 
outros aspectos importantes de princípios da Idade Moderna.
 Observação
O ensino da realeza, para a preparação do rei, era feito sobretudo com 
preceptores, professores de grande prestígio que atuavam na formação 
ampla dos futuros governantes.
Apesar de a universidade ser um espaço de ensino cristão, como tinham sido as demais escolas que se 
desenvolveram na Idade Média, mais uma de suas particularidades é o fato de ter sido, pela primeira vez, 
uma instituição criada exclusivamente para o ensino. Ou seja, as escolas anteriores faziam parte de um 
mosteiro ou de uma catedral, mas a universidade surge como um espaço autônomo e que não se relaciona 
e nem se subordina a outra instituição ligada à Igreja. Uma das consequências dessa particularidade 
é uma certa profissionalização do ensino (OLIVEIRA, 2007). Ainda hoje as universidades mantêm certa 
autonomia e essa função de ser um espaço privilegiado na construção do saber, apresentando‑se como 
uma instituição de longuíssima duração, ainda que tenha se transformado muito ao longo dos séculos 
e se adaptado às necessidades da sociedade em diferentes momentos.
Também havia dois modelos mais ou menos definidos de universidades medievais. Aquelas que se 
assemelhavam mais ao modelo de Bolonha, com ênfase nos estudos laicos de medicina e direito, mais 
comum nas regiões mais próximas ao Mediterrâneo. E havia aquelas que se assemelhavam mais ao 
modelo de Paris, com ênfase nos estudos de teologia e filosofia, mais comum na Europa do Norte.
A partir do século XIV, com o fortalecimento dos Estados Nacionais, as universidades continuaram 
a crescer em número de novas fundações e de estudantes matriculados. Em meados do século XIII 
existiam cerca de 10 universidades na Europa, número que passou a 28 em fins do século XIV e a 63 em 
1500 (VERGER, 2006).
Segundo Oliveira (2007), o surgimento das universidades reduziu a influência da Igreja na educação 
e permitiu que uma nova forma de conhecimento, muito mais laica que anteriormente, pudesse se 
29
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
afirmar. Além disso, os homens formados nas universidades passaram a desempenhar papel decisivo nas 
relações de poder e nas tensões entre poder monárquico e papal. Por isso as universidades passaram 
a ser muito favorecidas pelos reis em fins da Idade Média, pois era de seus quadros que saíam seus 
secretários, conselheiros, juristas, confessores etc.
 Saiba mais
Indicamos na lista a seguir alguns filmes sobre a educação medieval:
O DESTINO. Direção: Youssef Chahine. França/Egito: Canal+, Centre 
national du cinéma et de l’image animée (CNC), Fonds Sud Cinéma, 
1997. 135 min.
EM NOME de Deus. Direção: Clive Donner. Reino Unido/Iugoslávia: Amy 
International Artists, FilmDallas Pictures e Jadran Film, 1988. 115 min.
O NOME da rosa. Direção: Jean‑Jacques Annaud. Alemanha Ocidental/
Itália/França: Constantin Film, 1986. 126 min.
Gomes (2001, p. 158) compreende a escolástica como “constituindo um método, ou via, um sistema 
organizativo do saber segundo o estado das ciências, e uma doutrina estruturada conforme aos artigos 
da fé”, e considera que foi uma forma de conciliar fé e razão que se desenvolveu tanto na Europa 
cristã, como no pensamento medieval islâmico e judaico, sendo que no mundo cristão o pensamento 
escolástico pode ser compreendido em três ciclos, a saber:
• Escolástica medieval ou primeira escolástica: pensamento desenvolvido nas universidades 
medievais e apresentado nas páginas anteriores.
• Segunda escolástica ou escolástica barroca: é a realizada especialmente pelas elaborações da 
Companhia de Jesus e seu projeto pedagógico na Europa, no Oriente, na África e nas Américas, 
sobre o qual trataremos a seguir – essa fase da escolástica se encerraria com as atitudes de 
combate aos jesuítas empreendidas pelo Marquês de Pombal no século XVIII.
• Neoescolástica ou terceira escolástica: teria começado a partir de iniciativas papais do final do 
século XIX, retomando a postura de compatibilização da fé com o pensamento racional/científico.
Dessa forma, percebemos que há uma grande continuidade e permanência dessa postura conciliadora 
do pensamento religioso e que sobreviverá, inclusive, ao surgimento dos estados laicos e burgueses após 
as revoluções do século XVIII e XIX e as guerras do século XX. Você mesmo deve conhecer instituições 
de ensino confessionais, ou seja, ligadas a uma religião específica, como escolas católicas, adventistas, 
presbiterianas, batistas etc. Essa relação entre religião e ensino se inicia de forma mais clara e íntima na 
Idade Média, mas podemos ainda perceber suas influências em nosso tempo.
30
Unidade I
Exemplo de aplicação
No estudo histórico muitas vezes buscamos compreender as permanências e as rupturas. 
Há estruturas sociais, políticas, econômicas e culturais que podem perdurar por muito tempo, mesmo 
que haja mudanças e adaptações para que possam se desenrolar em uma longa duração. As relações 
entre educação e religião, mais especificamente sobre o cristianismo e a educação no mundo ocidental, 
do qual somos herdeiros em certa medida devido à colonização, podem ser compreendidas nessa chave 
interpretativa. Dessa maneira, sugerimos algumas questões para reflexão:
Há ainda instituições de ensino ligadas a igrejas ou religiões?
O que elas podem ter em comum e de distinto com as escolas medievais?
Há relação entre essas instituições e o poder político hoje?
Os conteúdos escolares precisam ser compatibilizados com as crenças religiosas?
As universidades na atualidade têm as mesmas características das universidades medievais?
Com seus apontamentos sobre essas questões, verifique se os conteúdos que trabalharemos nas 
próximas páginas podem auxiliar na compreensão de como essa relação entre cristianismo e educação 
foi sendo transformada ao longo do tempo.
2 A CATEQUESE E O INÍCIO DA COLONIZAÇÃO: OS JESUÍTAS E A EDUCAÇÃO 
DA ELITE
As mudanças ocorridas entre fins da Idade Média e princípios da Idade Moderna foram marcadas 
pelo que se costumou chamar de Renascimento Cultural. Como foi indicado anteriormente, diversos 
momentos durante a Idade Média foram chamados de Renascimentos, então, o que haveria de distinto 
nesse “novo” renascimento? A retomada da Antiguidade Clássica? Como deve ter ficado evidente nas 
páginas anteriores, os textos e autores da Antiguidade não desapareceram, nem deixaram de ser utilizados 
ao longo desses séculos. Pelo contrário, foram tomados sempre como autoridade de conhecimento e 
conjugados aos estudos teológicos. Desde os primeiros padres da Igreja, como Santo Agostinho, São 
Jerônimo e Boécio, ou nos mosteiros e em suas escolas na Alta Idade Média, ou ainda nas universidades, 
os autores clássicos faziam parte do conhecimento validado e compartilhado pelas elites letradas, que 
representavam uma parcela muito pequena da população, mas crescente ao longo do tempo.
O retorno se dava mais uma vez à Antiguidade Clássica;porém, a maneira de estudar esses autores 
mudava radicalmente, como bem apontou Erwin Panosfky na obra clássica Renascimento e Renascimento 
na arte ocidental. Primeiramente, porque aqueles que se dedicavam aos estudos dos autores antigos, 
as studia humanitatis (por isso o nome que receberam de humanistas), percebiam claramente a 
distância que os separavam de suas fontes. E essa questão do tempo e da história é fundamental nesses 
estudos. Os homens da Idade Média utilizavam os autores antigos como se não houvesse ruptura entre 
31
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
o tempo em que viviam e o tempo em que escreveram aqueles autores tomados como referências. 
Além disso, os autores antigos, que eram tomados como autoridades nos estudos, eram utilizados de 
modo mais “instrumental”, ou seja, para serem aplicados a certas questões e discussões específicas dos 
eruditos medievais, especialmente para desdobrarem discussões teológicas. Já os humanistas, a partir 
do século XIV e XV, passam a estudar a Antiguidade por si só. Ou seja, o estudo estava centrado nos 
autores antigos em si mesmos, para compreender suas palavras, seu contexto de produção, os conceitos 
apresentados em seus pensamentos etc.
Por isso, no discurso desses humanistas para justificar sua nova atitude em relação à Antiguidade 
e valorizar suas atividades, o que aparece comumente é uma desvalorização do conhecimento que 
os precedeu imediatamente, daí surge a ideia de uma “Idade Média”, dividindo os antigos, motivo 
de inspiração e admiração, e os eruditos daquele momento. Essa Idade Média teria distorcido os 
conhecimentos antigos e não seria um período de grande valorização do saber. Essa imagem negativa 
do período ainda faz parte do senso comum. Nas palavras dos autores humanistas aparece a imagem de 
um momento de declínio da cultura, de perda de conhecimentos que eram bastante desenvolvidos no 
passado mais longevo. Vamos observar o que Leon Batista Alberti (1404‑1472) diz ao abrir seu tratado 
sobre pintura:
 
Eu costumava estranhar e ao mesmo tempo afligir‑me que tantas artes e 
ciências excelentes e divinas que sabemos, por obras e histórias, terem sido 
abundantes entre os virtuosíssimos antigos estivessem agora mutiladas 
ou quase perdidas. Pintores, escultores, arquitetos, músicos, geômetras, 
retóricos, áugures e outras inteligências nobilíssimas e maravilhosas são em 
nossos dias muito raras e há pouco para louvá‑las (ALBERTI, 2009, p. 67).
A percepção do que foi realizado na Idade Média com as obras antigas era uma “mutilação”, o que 
se devia, em muitos aspectos, ao fato de que diversas obras, sobretudo dos gregos, apenas chegaram à 
Europa por traduções e comentários, especialmente dos árabes, como já vimos. A partir de fins da Idade 
Média, um conjunto maior de obras antigas em latim e em grego passava a ser mais bem compreendido 
com a vinda de estudiosos fugindo de Constantinopla.
Além disso, os conhecimentos valorizados e estudados pelos humanistas não se restringiam às artes 
liberais, que anteriormente eram a base do saber escolástico, e alguns artífices ganharam prestígio 
apresentando sua arte como resultado do engenho. Por isso Alberti cita “pintores, escultores e arquitetos” 
entre aqueles antigos que detinham conhecimento desejável aos seus contemporâneos. O próprio 
Alberti escreve um tratado completo sobre a pintura, do qual extraímos a citação anterior, que é matéria 
digna de reflexão teórica de um humanista. Não que não existissem textos sobre essas artes (pintura, 
escultura e arquitetura) na Idade Média, mas hoje os consideraríamos mais como manuais explicando 
como aplicar conhecimentos técnicos. O que Alberti e outros humanistas passavam a valorizar em 
seus textos era a criação humana, a capacidade de conhecer e construir coisas novas. O engenho era a 
capacidade de criação humana.
Podemos observar a mesma atitude nas primeiras palavras de Rafael Sanzio (1483‑1520) em sua 
“Carta ao papa Leão X sobre as Ruínas de Roma”:
32
Unidade I
 Há muitos, Santíssimo Padre, que, medindo com seu pequeno juízo as 
coisas grandíssimas que se escrevem dos romanos, sobre suas façanhas 
militares, e sobre a cidade de Roma no que diz respeito à admirável arte, 
riqueza, ornamentos e grandeza dos edifícios, acham que estas sejam mais 
fabulosas do que verdadeiras. Mas comigo costuma acontecer o contrário; 
pois, considerando a divindade daquelas almas antigas a partir dos 
vestígios que ainda vemos das ruínas de Roma, opino não ser além da razão 
acreditar que muitas coisas que parecem impossíveis para nós, para elas 
eram facílimas. Portanto, sendo eu muito estudioso dessas antiguidades, 
e tendo não pequeno cuidado em pesquisá‑las minuciosamente e 
medi‑las com diligência, lendo os bons autores e, comparando as obras 
com os textos escritos, penso ter conseguido algum conhecimento sobre 
arquitetura antiga (SANZIO, 2010, p. 45).
Rafael Sanzio, pintor bastante conhecido, cujas obras estão presentes em muitos museus ao redor 
do mundo, dedicou‑se a estudar as ruínas de Roma, como muitos outros pintores e arquitetos fariam 
naquele momento e posteriormente. Para apresentar seus desenhos e estudos sobre o assunto, escreveu 
uma carta, que se inicia com as palavras apresentadas na citação anterior. Rafael reforça a imagem 
de declínio do conhecimento na Idade Média (que não recebe esse nome em suas palavras), que é 
um lugar comum nas obras desse período. Talvez você já tenha escutado alguém dizer “voltamos à 
Idade Média” querendo significar um retrocesso, o retorno a um período muito atrasado, obscurantista, 
de crenças absurdas e místicas etc. Essa imagem começa a se forjar nesse momento e esconde que 
diversos elementos “medievais” permanecem por muito tempo ainda na história, como a hegemonia 
do cristianismo na Europa, ainda que haja uma quebra na unidade religiosa com novas igrejas cristãs 
(luteranas, calvinistas, anglicanas, puritanas etc.), o latim como língua erudita e língua oficial da Igreja 
(até a atualidade), muitos elementos relacionados aos valores cristãos etc.
Nas palavras de Rafael também percebemos a importância da observação in loco, da pesquisa 
nas ruínas aliadas à leitura dos textos antigos. Ele media cuidadosamente o que observava, não 
tomava como verdadeiro apenas o que os textos diziam, mas verificava se os preceitos indicados pelos 
autores da arquitetura eram efetivamente realizados nas cidades e nas casas romanas da Antiguidade. 
Ou seja, a autoridade do texto escrito agora é colocada lado a lado com o conhecimento empírico, 
que, ainda que existisse na Idade Média, era bastante restrito. Outro artista célebre cujos trabalhos 
nos deixam compreender bem a mudança de postura que acontecia nesse momento foi Leonardo 
da Vinci (1452‑1519), que além de pintor era inventor de máquinas de guerra, fazia desenhos de 
máquinas para voar, além de ser grande estudioso de anatomia, dissecando e desenhando cadáveres. 
A pintura contribuiu muito para a ciência, pois para realizar desenhos mais naturalísticos era preciso 
conhecer bem o mundo real, conhecer as paisagens retratadas, as plantas e objetos, os corpos humanos 
e seus movimentos. Também, quando era realizada uma viagem e se desejava registrar as novidades 
conhecidas em territórios longínquos, os relatos por escrito poderiam ser muito valiosos, mas, quando 
os artistas passam a observar e pintar essas novas realidades, a compreensão e o registro se tornam 
muito mais aprofundados.
33
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
Nesse momento de “Renascimento” da Antiguidade Clássica no princípio da Idade Moderna, a 
Antiguidade não era tomada como autoridade única e havia bastante espaço para a construção de 
conhecimentos novos, o que se manteria durante muito tempo. As transformações mais radicais que 
ocorreriam no conhecimento científico no século XVII e a filosofia crítica do século XVIII seriam em 
muitos aspectos herdeiras desse processo iniciado na passagem da Idade Média para a Idade Moderna. 
Tal conhecimento empírico também seria fundamental

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