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Diego Augusto Bayer Jaraguá do Sul – SC Editora Mundo Acadêmico 1ª Edição 2016 Copyright © 2016 por Diego Augusto Bayer Estatuto, Regulamento Geral e Código de Ética: o que você precisa saber para a prova da OAB. Autor: Diego Augusto Bayer. 1ª Edição 1ª Tiragem – julho 2016. Diagramação: Diego Augusto Bayer Capa: Editora Mundo Acadêmico ISBN – 978-85-916599-2-0 CIP – (Cataloguing-in-Publication) – Brasil – Catalogação na Publicação Ficha Catalográfica feita pelo autor ______________________________________________________________ Bayer, Diego Augusto. Estatuto, Regulamento Geral e Código de Ética: o que você precisa saber para a prova da OAB. Diego Augusto Bayer – 1ª Ed. Jaraguá do Sul: Editora Mundo Acadêmico, 2016. 200 p.; 14,8x21cm (broch,); Il. Mapa. ISBN 978-85-916599-2-0 1. Direito. 2. Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil. 3. Código de Ética e Disciplina da OAB. 4. Regulamento Geral do Estatuto da advocacia e da OAB. 5. Exame da Ordem dos Advogados do Brasil. I Bayer, Diego Augusto. II. Título. CDU 347.965 8 (81) (079.1) ______________________________________________________________ Índice para catálogo sistemático 1. Direito. 2. Exame da OAB. 3. Deontologia Jurídica. 4.Ética Profissional. 5. Estatuto da advocacia. Editora Mundo Acadêmico. CNPJ: 25.232.334/0001-11 Jaraguá do Sul – SC Site: www.editoramundoacademico.com.br Email: contato@editoramundoacademico.com.br Telefone.: +55 47 9141 2789 SUMÁRIO Apresentação ............................................................................................................... vii Leia antes de usar ......................................................................................................... ix Capítulo 01 Uma breve introdução a deontologia jurídica e a ética profissional .......................... 01 Capítulo 02 Da Advocacia .............................................................................................................. 13 Capítulo 03 Direitos do advogado .................................................................................................. 21 Capítulo 04 Da inscrição e do estágio ............................................................................................ 29 Capítulo 05 Sociedade de advogados ............................................................................................. 36 Capítulo 06 Advogado empregado .................................................................................................. 41 Capítulo 07 Advocacia pública ....................................................................................................... 43 Capítulo 08 Honorários advocatícios e advocacia pro bono ........................................................... 45 Capítulo 09 Incompatibilidade e impedimentos ............................................................................... 54 Capítulo 10 Publicidade ................................................................................................................. 57 Capítulo 11 Infrações disciplinares ................................................................................................ 61 Capítulo 12 Organização da OAB .................................................................................................. 67 Capítulo 13 Processo disciplinar .................................................................................................... 96 Capítulo 14 Do exercício de cargos e funções na OAB e na representação da classe ................. 107 Estatuto da Advocacia e da OAB .............................................................................. 108 Código de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB ............... 137 vi Regulamento Geral do Estatuto da Advocacia e da Oab ........................................... 156 Questões da OAB/FGV para resolução...................................................................... 206 Gabarito das questões ................................................................................................ 241 vii APRESENTAÇÃO É com muita honra que a Editora Mundo Acadêmico traz a você, acadêmico de Direito, o livro “Estatuto, regulamento geral e código de ética: o que você precisa saber para a prova da OAB”. Este livro tem como objetivo auxiliar os acadêmicos do curso de Direito que irão prestar a 1ª fase do Exame de Ordem trazendo uma linguagem clara e objetiva acerca das questões relacionadas ao Estatuto da Advocacia e da OAB, o Regulamento Geral do Estatuto da Advocacia e da OAB e o Código de Ética e Disciplina da OAB. Para auxiliar o acadêmico na pesquisa, contém no final da obra, as legislações atualizadas até junho de 2016 e 100 questões da OAB/FGV acerca da matéria de Ética Profissional, selecionadas dos exames oficiais, para que o candidato possa melhorar sua preparação com a resolução destas questões. Com o capítulo “Leia antes de usar” o autor traz algumas dicas de como obter bons resultados nesta matéria, alcançando o acerto nas questões elaboradas pelos examinadores da OAB/FGV. Esperamos que possa fazer bom uso desde livro e desde já agradecemos a todos pela leitura desta obra. Editora Mundo Acadêmico viii ix LEIA ANTES DE USAR Antes de usar este livro, importante se faz a leitura destas dicas que como alcançar o máximo de conhecimento nesta disciplina. Muitas vezes, quando estudamos para o Exame de Ordem, priorizamos matérias que consideramos mais ”importantes”, ou aquelas, que achamos mais fáceis, escolhemos Processo Civil, Processo Penal, Direito do Trabalho e deixamos de lado o estudo da Ética Profissional. Sem dúvidas, esta disciplina é a matéria mais importante do Exame de Ordem. Porque? Simplesmente porque são cobradas em 10 questões sobre Ética profissional na primeira etapa do Exame de ordem e acertá-las corresponde a 25% do que você precisa para garantir a sua aprovação na OAB, já que precisará de 40 acertos. A importância da disciplina se torna mais evidente pelo pequeno volume de conteúdo a ser estudado se comparado a outras matérias. Assim, apresentam-se dois modelos de utilização deste livro. O primeiro modelo seria de, pelo menos uma vez a cada duas semanas, o aluno ler o conteúdo da disciplina presente neste livro, o Estatuto, o Código de Ética e o Regulamento Geral e ao final da leitura, tentar resolver as 100 questões de ética que compõe o livro. O segundo modelo é de deixar para estudar faltando apenas dois ou três dias para a prova. Uma metodologia interessante para ser utilizada é a de ler o Estatuto, o Código de Ética e o Regulamento Geral cada um três vezes seguidas, e depois resolver as 100 questões que compõe o livro. Lembrem-se: acertar 25% do necessário é um passo imenso, imenso, imenso rumo à aprovação na 1ª fase. Assim, se o candidato já vem em uma preparação boa para a prova, o 1º modelo certamente é o indicado. Agora, se o candidato começou recentemente a se preparar e tem muito para estudar, o 2º modelo atenderá suas necessidades. Ou seja, para alcançar o máximo de acertos nesta disciplina o segredo está no seu foco. Leiam a legislação e os regulamentos, cada um, ao menos três vezes seguidas. A LEITURA atenta e com calma da legislação correlata é a melhor forma de apreender o conteúdo. Resolvam todos os exercícios possíveis e imaginários sobre Ética (estabelece a fixação do conteúdo e o confronto com o sistema de prova). Façam a análise críticados seus erros. Revisite a legislação e descubra o porquê deles. Errar nesse momento tem uma importante função pedagógica. Releiam a legislação mais uma ou duas vezes. Refaçam TODOS os exercícios mais uma vez. Tenho a mais absoluta certeza de que vocês conseguem acertar pelo menos, no mínimo e por baixo, 80% das questões. Pode parecer uma metodologia cansativa, e na verdade é, mas ela visa um propósito, e para esse propósito ela é altamente eficiente! x 1 – CAPÍTULO 01 – UMA BREVE INTRODUÇÃO A DEONTOLOGIA JURÍDICA E A ÉTICA PROFISSIONAL 1.1 Introdução A utilização excessiva da palavra ética, além de outras expressões como Justiça, Liberdade, Igualdade, Solidariedade e Direitos Humanos, compromete o seu sentido. São locuções de enunciado nada singelo, pois encerram a complexidade própria às questões filosóficas. Daí se justifica a necessidade de se reabilitar a ética em toda a sua compreensão. Sobre tal importância, ensina José Renato Nalini 1 que: A crise da Humanidade é uma crise de ordem moral. Os descaminhos da criatura humana, refletidos na violência, na exclusão, no egoísmo e na indiferença pela sorte do semelhante, assentam-se na perda de valores morais. Alimentam-se da frouxidão moral. A insensibilidade no trato com a natureza denota a contaminação da consciência humana pelo vírus da mais cruel insensatez. A humanidade escolheu o suicídio ao destruir seu hábitat. É paradoxal assistir à proclamação enfática dos direitos humanos, simultânea à intensificação do desrespeito por todos eles. De pouco vale reconhecer a dignidade da pessoa, insculpida como princípio fundamental da República, se a conduta pessoal não se pauta por ela. Em meu pensar, a ética é conceito cuja origem vem da educação. Por isso que o papel da família é de fundamental importância na transmissão de valores. No estágio atual da sociedade, o difícil é combater as causas do desafeto, do desrespeito e da imoralidade. Medidas paleativas são tomadas, mas o necessário mesmo é o combate às suas causas. 1.2 Do conceito de ética Qual seria a diferença entre moral e ética? Na verdade, somente a língua de origem, pois ambas significam "costumes", sendo que a moral tem origem latina, enquanto que ética tem origem grega. Kant afirma que a moral designa o conjunto de princípios gerais e a ética, sua aplicação concreta. Segundo José Renato Nalini 2 : 1 NALINI, José Renato. Ética geral e profissional. 7ª ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009, p. 16. 2 Ética é a ciência do comportamento moral dos homens em sociedade. É uma ciência, pois tem objeto próprio, leis próprias e método próprio, na singela identificação do caráter científico de um determinado ramo do conhecimento. O objeto da Ética é a moral. A moral é um dos aspectos do comportamento humano. A expressão moral deriva da palavra romana mores, com sentido de costumes, conjunto de normas adquiridas pelo hábito reiterado de sua prática. Percebe-se que a ética seria uma teoria/ciência dos costumes, sendo que a moral seria o objeto desta ciência. A moral seria o conjunto de regras próprias de uma cultura, enquanto que a ética designaria não apenas uma moral, mas uma "metamoral", situada além da moral. A ética é a ciência de atualização e de experiência de valores do bom. Daí porque quando nos perguntamos o que devemos fazer em determinada situação, só poderemos saber a resposta a esta indagação de acordo com a ética depois que soubermos o que é valioso na vida. 1.3 Relação da ética com outras ciências e esferas do pensamento 1.3.1 A ética e o direito Se a ética é justamente a ciência que tem por objeto o comportamento moral do homem na sociedade, verifica-se que se este comportamento ultrapassar certos limites morais, poderá o indivíduo sofrer sanções do direito. Características que aproximam o direito da moral: Direito e moral disciplinam a relação entre os homens por meio de normas, impondo conduta obrigatória a seus destinatários. Tanto as normas jurídicas como as morais se apresentam sob forma imperativa Ambas são preordenadas à garantia da coesão social. Moral e direito se modificam no momento em que se altera historicamente o conteúdo de sua função social, sendo formas históricas de comportamento humano. Diferenças: A vida moral é interior, a vida jurídica é exterior. A moral depende da consciência. A coação é interna em relação à moral e externa em relação ao direito. A moral seria mais abrangente do que o direito. A existência da moral precede ao direito. 2 NALINI, José Renato. Ética geral e profissional. 7ª ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009, p. 19. 3 O direito positivo é necessariamente estatal e a moral pode sê-lo ou não. O progresso da moral implica a redução do direito. Diferenças entre moralidade e justiça: A justiça impõe deveres e também um direito correspondente A intencionalidade do agente repercute na moral, mas não na justiça, que necessita de uma exteriorização 1.3.2 A ética e o direito positivo O relacionamento entre Ética e Direito nos conduz a um número elevado de normas éticas inseridas em normas jurídicas positivas, tais como no direito constitucional, penal, civil, processual e tributário. 1.3.3 A ética e o direito constitucional A Constituição é o ápice do sistema normativo. Por isso é que hoje vivemos o fenômeno da constitucionalização do direito. A importância dos princípios constitucionais A obrigatoriedade da observância dos valores constitucionais que representam, na verdade, os valores éticos indispensáveis a toda sociedade. Constituição Cidadã como constituição ética - Carta de Princípios Ministro Carlos Ayres Britto 3 , nos traz que: [...] as normas que veiculam princípios desfrutam de maior envergadura sistêmica. Elas enlaçam a si outras normas e passam a cumprir um papel de imã e de norte, a um só tempo, no interior da própria Constituição. Assim temos: - A moralidade como um dos pilares da Administração Pública - Princípios éticos no preâmbulo - liberdade, igualdade e justiça - Título I - princípios fundamentais - cidadania, dignidade da pessoa humana, a construção de uma sociedade livre justa e solidária, a erradicação da pobreza e da marginalização, a redução das desigualdades sociais, a eliminação dos preconceitos e de qualquer forma de discriminação. - A importância do princípio da dignidade da pessoa humana - aplicação em decisões judiciais - Direitos e garantias fundamentais, verdadeiros deveres éticos - igualdade de todos, a não submissão à tortura ou a tratamento desumano ou degradante, a 3 BRITTO, Carlos Ayres. Teoria da constituição. Rio de janeiro: Forense, 2003, p. 125. 4 liberdade de pensamento, o direito de resposta, a inviolabilidade da liberdade de consciência, dentre outros. Gregório Robles 4 afirma que [...] os direitos humanos são pautas gerais para a conduta e a decisão (...). Quando se diz que os direitos humanos são critérios morais, está-se na verdade a afirmar que constituem pautas de deliberação de caráter moral que hão de ser tidas em conta na tomada de decisões políticas e jurídicas. Seu caráter moral radica em que fazem referência a aspectos transcendentais da vida dos indivíduos, a aspectos que afetam ao ser moral do homem, a sua dignidade e a sua liberdade. A ordem social e a garantia do primado do trabalho e da justiça social, dentre outros. Enfim, a nossa Constituição contempla inúmeros dispositivos que versam sobre temas moraise éticos. O processo histórico de sua formulação exigiu a redemocratização e um pacto de diretrizes para o futuro. Representa uma verdadeira Constituição dirigente repleta de formulações éticas. 1.3.4 A Ética e o direito penal E seguindo a orientação de que todo direito deve refletir, sem sombra de dúvidas, os valores constitucionais, denota-se que o acolhimento dos princípios nela contidos concernentes ao Direito Penal corresponde à aplicação da ética em relação à ciência criminal. Os mais importantes pontos a serem destacados: A aplicação do princípio da proporcionalidade, tópico em que se implementa verdadeira ponderação de interesses. Willis Santiago Guerra Filho 5 , ensina que o princípio da proporcionalidade "é entendido como mandamento de otimização do respeito máximo a todo direito fundamental em situação de conflito com outros, na medida do jurídico e faticamente possível". E complementa que "toda pena pode ferir ou, no mínimo, restringir direitos individuais, e só se justifica a sua previsão para atender a reclamos de bem-estar da comunidade" 4 ROBLES, Gregorio. Los derechos fundamentales y la ética en la sociedad actual. Madrid: Civitas, 1992, p. 25-27. 5 GUERRA FILHO, Willis Santiago. Teoria constitucional dos princípios jurídicos e garantismo penal: por uma atualização teórica de conceitos fundamentais. ln: BONAVIDES, Paulo; BEDÉ, Fayga Silveira; LIMA, Francisco Gérson Marques de ( coord.). Constituição e democracia - Estudos em homenagem ao Professor J. J. Gomes Canotilho. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 524-525. 5 Com efeito, este princípio fundamental é necessário para que seja respeitada a dignidade da pessoa humana, a fim de que a pena atenda sempre à proporcionalidade em sentido estrito, à adequação e a exigibilidade. Princípio da Legalidade ou da reserva legal Princípio da estrita legalidade (intervenção mínima, fragmentariedade, adequação, insignificância e lesividade ou ofensividade, materialidade, dentre outros) Princípio do devido processo legal Princípio acusatório (a questão da produção das provas no processo penal e do cross examination) Princípio do in dubio pro reo Princípio do contraditório e ampla defesa Todos os princípios visam à preservação da ética, sobretudo no que concerne à implementação da dignidade da pessoa humana. Ressalte-se, porém, que todo o crime representa uma falta moral, pois afetam os bens mais vitais para o convívio social, a exemplo do homicídio, dos crimes contra os costumes, os que envolvem fraude, a exemplo do estelionato, a sonegação fiscal, dentre outros. 1.3.5 A ética e o direito civil O direito civil também tem muitas normas morais, senão vejamos: Lei de Introdução ao Código Civil - atendimento aos fins sociais e às exigências do bem comum; Expressões como boa-fé, bons costumes, equidade, fidelidade conjugal, indignidade, ingratidão, má-fé, solidariedade, simulação, dentre outras. Advento do Código Civil de 2002 e a inovação de certos conceitos, pois houve a mudança de entendimento em relação à família. Adoção de cláusulas gerais Influência forte da moral no direito de família e no direito das obrigações. 1.3.6 A ética e o direito processual O processo deve ser uma disputa civilizada, com a observância de uma série de deveres éticos, tais como o dever de verdade, de lealdade, de boa-fé, de urbanidade, dentre outros. Tais deveres éticos abrangem tanto o processo civil como o processo penal. O papel da conciliação A razoável duração do processo 6 Processo como meio e não um fim em si mesmo 1.3.7 A ética e a jurisprudência Se a ética deve ser preservada em todos os ramos do direito, é lógica a constatação de que ela gera consequências na jurisprudência. As decisões judiciais devem estar amparadas na dignidade da pessoa humana, fundamento base da ética, concretizada no respeito ao outro e na moralidade humana. O juiz deve se preocupar com o conteúdo ético de suas decisões e não somente aplicar a lei de forma automática, pois deve ser um realizador do justo e não somente um aplicador da lei. 1.4 A ética e a profissão forense 1.4.1 Conceito de profissão Atividade a serviço dos outros e para benefício próprio, consoante vocação. Traz, dentre vários outros, algumas características fundamentais, tais quais: Potencialidade individual, Projeto de vida, Vocação e Atenção à dignidade humana. 1.4.2 A ética na profissão jurídica Todas as profissões devem ser exercidas de acordo com a ética. Mais ainda na profissão jurídica, devido à intensa intimidade entre o que é moral e jurídico. Daí a importância da Deontologia Forense ou Jurídica. A Deontologia Jurídica sistematiza a ética profissional, conforme ensina Manuel Santaella López 6 : A deontologia jurídica há de compreender e sistematizar, inspirada em uma ética profissional, o status dos distintos profissionais e seus deveres específicos que dimanam das disposições legais e das regulações deontológicas, aplicadas à luz dos critérios e valores previamente decantados pela ética profissional. Por isso, há que distinguir os princípios deontológicos de caráter universal (probidade, desinteresse, decoro) e os que resultam vinculados a cada profissão jurídica em particular: a independência e imparcialidade do juiz, a liberdade no exercício profissional da advocacia, a promoção da justiça e a legalidade cujo desenvolvimento corresponde ao Ministério Público etc. A ética nas profissões jurídica, portanto, é objeto da Deontologia Jurídica ou Forense, que será objeto de nosso estudo a partir de agora. 6 LÓPEZ, Manuel Santaella. Ética de las profesiones jurídicas: textos y materiales para el debate deontológico. Servicio de Publicaciones Facultad de Derecho Universidad Complutense Madrid. Madrid: Universidad Pontifícia Comillas, 1995, p.20-25. 7 1.4.3 A deontologia forense ou jurídica José Renato Nalini 7 delimita a conceituação da Deontologia profissional e também da Deontologia Jurídica ou Forense da seguinte forma: [...] a teoria dos deveres. Deontologia profissional se chama o complexo de princípios e regras que disciplinam particulares comportamentos do integrante de uma determinada profissão. Deontologia Forense designa o conjunto das normas éticas e comportamentais a serem observadas pelo profissional jurídico. Observa ainda que: "As normas deontológicas não se confundem com as regras de costume, de educação e de estilo. Estas são de cumprimento espontâneo". Ocorre que a existência de profissionais educados não obriga a adoção deste comportamento pelos demais, pois, segundo a maior parte da doutrina, não constitui verdadeira infração ética. Porém, qual seria a delimitação entre o universo das condutas éticas e as que não o são? Não há um parâmetro singular. Por isso a importância da disciplina Deontologia Jurídica no aprimoramento da educação moral de cada um que pretende integrar uma carreira jurídica. Devem ser resgatados, portanto, os valores da profissão jurídica. 1.4.4 O princípio fundamental da deontologia forense E qual seria a ideia que deve inspirar todo o comportamento do profissional jurídico? O princípio fundamental a ser adotado é simplesmente a adoção de atitudes segundo a ciência e consciência. Logicamente que é necessário o conhecimento jurídico, técnico, o estudo da doutrina, da jurisprudência, das leis. Há um dever ético em relação ao domínio das regras jurídicas para um eficiente desempenho da atividade profissional jurídica. E não é por acaso que os concursos públicos estão cada vez mais exigentes em relação a tal atributo, sobretudo em razão do número de bacharéis em direito que existem atualmente, provenientes de inúmeras Universidades. É necessário o cuidado com a técnica profissional,pois o direito tem por objeto a resolução de problemas existentes em nossa sociedade, envolvendo questões pessoais de suma relevância. Além disso, deve o profissional estar sempre atualizado, sobretudo na área jurídica, em razão das constantes mudanças legislativas e jurisprudenciais. Aliás, o estudo e atualização constante se fazem necessários em toda e qualquer profissão. 7 NALINI, José Renato. Ética geral e profissional. 7ª ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009, p. 296. 8 Com efeito, tal técnica jurídica é inquestionavelmente imprescindível. Entretanto, não basta para a atuação de um profissional. É que de nada adianta o conhecimento se o profissional não detém a consciência de sua função social. E isto reclama um comprometimento com a função desenvolvida, bom senso, prudência, discrição, retidão e civilidade. A consciência da função social do profissional da área jurídica deve ser fruto de toda uma formação educacional, desde a base, que é a família, como já comentamos no início da abordagem do tema ética. Através da consciência é que o ser humano avalia o acerto das ações, a reformulação do pensamento e das opções, propiciando a coerência do comportamento humano. 1.4.5 Os princípios gerais da deontologia forense Há outros princípios gerais da Deontologia Jurídica ou Forense. 1.4.5.1 O princípio da conduta ilibada O que é uma conduta ilibada? Trata-se de um conceito impreciso. Mas com certeza não se trata de mera boa conduta, mas de uma conduta irrepreensível nutrindo expectativa de comportamento vinculada à profissão exercida. José Renato Nalini 8 ao discorrer sobre o assunto ensina que: Podem coexistir situações de contraste a depender da região, das dimensões da comunidade - os costumes da metrópole parecem atenuados diante do conservadorismo da microcomunidade, ressalvada a influência televisiva - e de certos valores sustentados em verdadeiros guetos religiosos. Mas há um núcleo comum a caracterizar a conduta ilibada dos profissionais do direito. Pelo mero fato de se dedicarem ao cultivo do direito, acredita-se atuem retamente. Deseja- se que os integrantes de uma função forense venham a se caracterizar pela incorruptibilidade, sejam merecedores de confiança, possam desempenhar com dignidade o seu papel de detentores da honra, da liberdade, dos bens e demais valores tutelados pelo ordenamento. 1.4.5.2 O princípio da dignidade e do decoro profissional Novamente conceitos imprecisos. Ressalte-se inicialmente que não existe uma profissão indigna e todas elas reclamam comportamentos baseados na dignidade e no decoro. 8 NALINI, José Renato. Ética geral e profissional. 7ª ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009, p. 299. 9 Porém, é na carreira jurídica que tal exigência se faz ainda mais presente, já que é a profissão que visa preservar e concretizar os valores do nosso ordenamento jurídico, sobretudo aqueles contidos na Constituição Federal. Conforme Santaella López 9 : A dignidade é também um princípio deontológico de caráter geral. A dignidade constitui um valor inerente à pessoa humana, que deve ser protegido e respeitado. A projeção desse valor no exercício profissional é o que proporciona o decoro à corporação ou colégio profissional. Desta forma, a dignidade no desempenho da profissão por parte de um de seus membros afeta, tanto em suas manifestações positivas como nas negativas, o decoro dos demais. Este princípio deontológico se baseia, em determinadas profissões, especialmente no âmbito da prestação dos serviços profissionais e pode referir-se à própria vida pessoal, familiar e social do profissional em questão. Percebe-se, portanto, que é necessário que a conduta do profissional seja a mais límpida possível, baseada na honestidade. Algumas questões a serem discutidas: Cometimento de crimes Modo de se vestir Publicidade exagerada e captação de clientela pelos advogados Uso de expressões chulas, inconvenientes e vulgares 1.4.5.3 O princípio da incompatibilidade A profissão jurídica exige certa dedicação, por isso é raramente acumulável com outras, já que demanda tempo considerável para o seu exercício. José Renato Nalini 10 comenta o seguinte: Seria desabonador para a função jurídica ver-se como atividade secundária de profissional cuja subsistência é auferida no exercício de outro mister. A lição evangélica é sensata: ninguém serve a dois senhores. Aquele que não conseguir sobreviver mercê de sua atividade estritamente jurídica, deverá dedicar-se a atribuição diversa. As funções que concernem ao direito são absorventes e pressupõem dedicação plena, excluídas todas aquelas próprias a outras profissões. Com exceção do magistério, logicamente, pois esta atividade complementa, sobremaneira a atividade jurídica, já que propicia o debate e atualização constante do conhecimento. 9 LÓPEZ, Manuel Santaella. Ética de las profesiones jurídicas: textos y materiales para el debate deontológico. Servicio de Publicaciones Facultad de Derecho Universidad Complutense Madrid. Madrid: Universidad Pontifícia Comillas, 1995, p.20-25. 10 NALINI, José Renato. Ética geral e profissional. 7ª ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009, p. 302. 10 1.4.5.4 O princípio da correção profissional Este princípio está relacionado, sem sombra de dúvidas, aos demais, já que envolve a dignidade, o decoro, a conduta ilibada e a dedicação ao trabalho. Não se pode deixar de destacar mais uma vez a lição de José Renato Nalini 11 , pois com precisão ele nos informa que: A correção se caracteriza de muitas formas, nem todas elas de igual intensidade deontológica. O profissional correto é aquele que atua com transparência no relacionamento com todos os protagonistas da cena jurídica ou da prestação jurisdicional. Age no interesse do trabalho e da justiça, não se descuidando do interesse imediato das pessoas às quais serve. Não se beneficia com a sua função ou cargo. Não se vangloria. Condói-se da situação daquele que necessita de seus préstimos ou recorre ao insubstituível direito de exigir justiça. É um comportamento sério, sem sisudez; discreto, sem ser anônimo; reservado, sem ser inacessível; cortês e urbano, honesto, inadmitindo-se para isto qualquer outra alternativa. 1.4.5.5 O princípio do coleguismo Não há dúvida sobre a existência de uma comunidade jurídica que tem por objetivo único a realização da justiça. Portanto, devemos entender como coleguismo o sentimento de que pertencemos a um mesmo grupo, com certa identidade de comportamentos. O coleguismo é estritamente vinculado ao exercício profissional e não ao sentimento de solidariedade para com o outro. Na verdade, o coleguismo soma forças, representa a união na busca da realização do justo. Algumas atitudes que ferem o coleguismo: comentar um erro de um colega e concorrer de maneira pouco leal. 1.4.5.6 O princípio da diligência Não restam dúvidas de que o profissional do direito deve ser essencialmente diligente na sua atuação, pois estará cuidando da vida e dos interesses daqueles a quem está servindo. E a diligência abrange uma série de requisitos, tais como a atualização continuada, já que o seu instrumento de trabalho está sempre em constante transformação, além do zelo, atenção, cuidado e afinco no exercício profissional. 11 NALINI, José Renato. Ética geral e profissional. 7ª ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009, p. 302. 11 1.4.5.7 O princípio do desinteresse Este princípio não pode se contrapor, como é lógico, ao anterior, porémdeve representar a ausência de ambição pessoal e a aspiração legítima na busca do interesse da justiça. A importância da conciliação Seria utopia o exercício do desinteresse? Necessidade de conservação do mínimo ético 1.4.5.8 O princípio da confiança Este princípio é mais aparente no exercício da advocacia, pois a relação existente entre o advogado e seu cliente é de íntima confiança e fidelidade. Diferente da situação dos demais profissionais, a exemplo dos juízes e promotores. Mas ainda assim, é necessário ressaltar que também subsiste a confiança refletida nestes profissionais, já que este atributo recai sobre a pessoa do magistrado em uma visão coletiva, já que juízes são vistos como pessoas confiáveis, merecedoras de respeito e crédito. 1.4.5.9 O princípio da fidelidade Como já foi falado no item anterior, a fidelidade é necessária juntamente com a confiança. Ela deve ser seguida em conjunto na busca da realização da justiça. Todos são fiéis à justiça e somente a este objetivo. A lealdade deve estar presente e não se resume à busca de um objetivo individualmente considerado, mas aos valores abrigados pela Constituição, no exercício das funções indispensáveis à administração da justiça. 1.4.5.10 O princípio da independência profissional Pensar por si mesmo, sem qualquer interferência externa, sem qualquer receio do que os outros podem pensar. Reflete nada mais nada menos do que o exercício da sua própria consciência no interesse da justiça. A independência profissional deve ser seguida pelo juiz, promotor, advogado e todos os demais operadores do direito. Condicionada apenas ao controle ético, dependência à ordem moral. 12 1.4.5.11 O princípio da reserva O profissional deve ser discreto e prudente no trato das questões profissionais. Distingue-se do princípio do segredo, pois neste é completamente vedada a publicidade de quaisquer questões em evidência. A reserva é apenas uma condição para fins de limitação a respeito das questões profissionais, a fim de que estas não ultrapassem o espaço onde deve ser apresentada, não expondo de qualquer forma os interesses de terceiros. 1.4.5.12 O princípio da lealdade e da verdade Intimamente relacionados, a lealdade inspira a verdade e vice-versa. A lealdade impõe a todos os operadores do direito o dever da verdade. 1.4.5.13 O princípio da discricionariedade O profissional deve ter discernimento para a sua atuação, tendo a liberdade na escolha da conveniência, oportunidade e conteúdo. O advogado deve procurar a melhor estratégia para a atuação e efetividade do direito de seu cliente. O juiz também deve ter certa discricionariedade, aplicando os princípios constitucionais e não somente ser um mero escravo da lei. O promotor de justiça mais ainda, pode entender pela conveniência ou não de certos procedimentos, abarcando grande parcela das exigências de nossa sociedade. 13 – CAPÍTULO 02 – DA ADVOCACIA 2.1 Dos princípios fundamentais O exercício da advocacia exige conduta compatível com os preceitos deste Código, do Estatuto, do Regulamento Geral, dos Provimentos e com os princípios da moral individual, social e profissional. (Art. 1º do CEDOAB) O advogado, indispensável à administração da Justiça, é defensor do Estado Democrático de Direito, dos direitos humanos e garantias fundamentais, da cidadania, da moralidade, da Justiça e da paz social, cumprindo-lhe exercer o seu ministério em consonância com a sua elevada função pública e com os valores que lhe são inerentes. (Art. 2º do EAOAB e Art. 2º do CEDOAB) O advogado deve ter consciência de que o Direito é um meio de mitigar as desigualdades para o encontro de soluções justas e que a lei é um instrumento para garantir a igualdade de todos (Art. 3º do CEDOAB). O exercício da atividade de advocacia no território brasileiro e a denominação de advogado são privativos dos inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil – OAB. Exercem atividade de advocacia, sujeitando-se ao regime desta Lei, além do regime próprio a que se subordinem, os integrantes da Advocacia-Geral da União, da Procuradoria da Fazenda Nacional, da Defensoria Pública e das Procuradorias e Consultorias Jurídicas dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e das respectivas entidades de administração indireta e fundacional. O advogado, ainda que vinculado ao cliente ou constituinte, mediante relação empregatícia ou por contrato de prestação permanente de serviços, ou como integrante de departamento jurídico, ou de órgão de assessoria jurídica, público ou privado, deve zelar pela sua liberdade e independência. 2.2 Atos privativos de advogado São três hipóteses: 1ª – A postulação a orgão do Poder Judiciário e aos Juizados Especiais 12 ; 2ª – Das atividades de consultoria, assessoria e direção jurídica; O Regulamento Geral da OAB estabelece uma restrição à prática das atividades de consultoria e assessoria ao advogado. Não é permitido ao advogado prestar serviços de 12 O STF, no julgamento da ADIN n. 1.127-8, excluiu sua aplicação aos juizados de pequenas causas, à justiça do trabalho e à justiça de paz. Neles, as partes podem postular diretamente. 14 assessoria e consultoria jurídicas para terceiros, em sociedades que não possam ser registradas na OAB. Exemplo: Uma imobiliária pode ter em seu quadro de funcionários advogados que integrem um departamento jurídico constituído para verificar a regularidade de seus contratos, todavia, estes advogados são impedidos de prestar serviços para terceiros, pois essa atividade está restrita aos advogados liberais e às sociedades de advogados. A função de diretoria e gerência jurídicas em qualquer empresa pública, privada ou paraestatal, inclusive em instituições financeiras, é privativa de advogado, não podendo ser exercida por quem não se encontre inscrito regularmente na OAB. 3ª – De qualquer ato constitutivo de pessoa jurídica, que deve ser visado por advogado para ser levado a registro em órgão competente. O Regulamento Geral estabeleceu que esse visto do advogado deve resultar da efetiva constatação, pelo profissional que os examinar, de que os respectivos instrumentos preenchem as exigências legais pertinentes. Ficou estabelecido também o impedimento dos advogados que prestem serviço a órgão ou entidade da Administração direta ou indireta, da unidade federativa a que se vincule a Junta Comercial, ou a quais quer repartições administrativas competentes para o mencionado registro. São nulos os atos privativos de advogado praticados por pessoa não inscrita na OAB, sem prejuízo das sanções civis, penais e administrativas. São também nulos os atos praticados por advogado impedido – no âmbito do impedimento – suspenso, licenciado ou que passar a exercer atividade incompatível com a advocacia. A prática de atos privativos de advocacia, por profissionais e sociedades não inscritos na OAB, constitui exercício ilegal da profissão. 2.3 Atos não privativos de advogado São seis hipóteses: 1ª – Impetração de habeas corpus; 2ª – A postulação ao Juizado Especial Cível, até 20 salários mínimos, e no Juizado Especial Federal, até 60 salários; 13 3ª – A postulação à Justiça de Paz; 4ª – A postulação à Justiça do Trabalho 14 ; 13 De acordo com a lei 9.099/95 no juizado especial cível as partes poderão postular diretamente nas ações até 20 salários mínimos (art. 9º). No recurso, as partes serão obrigatoriamente representadas por advogado (art. 41). 14 De acordo com a súmula 425 do TST o jus postulandi da justiça do trabalho limita-se às varas do trabalho e aos tribunais regionais do trabalho, não alcançando a ação rescisória, ação cautelar, o mandado de segurança e os recursosde competência do tribunal superior do trabalho. 15 5ª – A proposição de ações revisionais penais; 6ª – A defesa em processo administrativo disciplinar. 2.4 Efetivo exercício da advocacia A participação anual mínima em cinco atos privativos de advogado. (Art. 5º do Regulamento Geral do Estatuto da OAB). A comprovação do efetivo exercício faz-se mediante: a) certidão expedida por cartórios ou secretarias judiciais; b) cópia autenticada de atos privativos; c) certidão expedida pelo órgão público no qual o advogado exerça função privativa do seu ofício, indicando os atos praticados. 2.5 Vedação à divulgação conjunta de atividade profissional Por mais nobre que seja a profissão, está proibido o advogado de divulgar sua atividade com outra que não seja a advocatícia. Exemplo: Advogado divulga imobiliária em mesma placa que anuncia escritório de advocacia. Também é vedado o oferecimento de serviços profissionais que implique, direta ou indiretamente, angariar ou captar clientela. 2.6 Mandado/procuração (art. 653 do Código Civil de 2002) É o contrato típico misto e fusionado pelo qual alguém recebe de outrem poderes para, em seu nome, praticar atos ou administrar interesses. O advogado pode atuar sem procuração, afirmando urgência, obrigando-se a apresentá-la no prazo de 15 dias, prorrogável por igual período. Não havendo urgência ou justo motivo, deve o advogado, de acordo com as imposições éticas, recusar o mandato de potencial cliente que omita o fato de já ter constituído outro advogado para a mesma causa. O mandato inicia com a constituição do advogado pelo cliente (assinatura da procuração) ou com a nomeação ad hoc, e termina com a conclusão (trânsito em julgado); com o arquivamento da causa ou ainda com a renúncia, a revogação ou substabelecimento sem reservas. O mandato judicial ou extrajudicial não se extingue pelo decurso de tempo, salvo se o contrário for consignado no respectivo instrumento. Não pode ser o advogado contratado sujeito à imposição do cliente que pretenda ver com ele atuando outros advogados, nem fica na contingência de aceitar a indicação de outro profissional para com ele trabalhar no processo. 16 2.7 Renúncia, revogação e substabelecimento do mandato - Renúncia: é o ato privativo e unilateral do advogado. O advogado fica responsável pelo processo pelo prazo máximo de 10 dias, ou até que seja substituído por outro causídico. A renúncia ao patrocínio deve ser feita sem menção do motivo que a determinou, fazendo cessar a responsabilidade profissional pelo acompanhamento da causa, uma vez decorrido o prazo previsto em lei (EAOAB, art. 5º, § 3º). A renúncia ao mandato não exclui responsabilidade por danos eventualmente causados ao cliente ou a terceiros. O advogado não será responsabilizado por omissão do cliente quanto a documento ou informação que lhe devesse fornecer para a prática oportuna de ato processual do seu interesse. O advogado deve notificar o cliente da renúncia ao mandato, preferencialmente mediante carta com aviso de recebimento, comunicando, após, o Juízo. - Revogação: é ato privativo do cliente e retira os poderes outorgados na procuração, independentemente da anuência do advogado, em qualquer fase do processo. Exige a prévia e inequívoca ciência do advogado. A revogação do mandato judicial por vontade do cliente, bem como, a renúncia, não o desobriga do pagamento das verbas honorárias contratadas, assim como não retira o direito do advogado de receber o quanto lhe seja devido em eventual verba honorária de sucumbência, calculada proporcionalmente em face do serviço efetivamente prestado. - Substabelecimento: é a transferência de poderes e confiança para outro advogado (substabelecido). É ato pessoal do advogado. Pode ser com reserva e sem reserva de poderes. Substabelecimento com reserva de poderes. O advogado substabelecente continua atuando na causa, pois reserva poderes para si. Não é obrigado a nomear outro advogado que seja indicado pelo seu cliente, e o advogado substabelecido não pode acertar honorários diretamente com o cliente nem levantar valores sem autorização do advogado, devendo-o fazer antecipadamente com o substabelecente. Substabelecimento sem reserva de poderes. O advogado substabelecente não atua mais na causa e transfere todos os poderes para outro causídico. Para tal ato, é necessário o prévio e inequívoco conhecimento do cliente. 2.8 Prestação de conta Salvo em casos de força maior, é um direito-dever do advogado prestar contas ao seu cliente. Caso o advogado se recuse a prestar contas, deve sofrer um processo disciplinar e ser apenado com suspensão. O advogado não pode deixar de prestar contas, nem sob a alegação de compensação de valores devidos pelo cliente. 17 2.9 Conflito de interesse entre os clientes Sobrevindo conflitos de interesse entre seus constituintes e não estando acordes os interessados, com a devida prudência e discernimento, deve optar o advogado por um dos mandatos, renunciando aos demais, resguardado o sigilo profissional, que deve perdurar ad infinitum. Os advogados integrantes da mesma sociedade profissional, ou reunidos em caráter permanente para cooperação recíproca, não podem representar em juízo clientes com interesses opostos. 2.10 Patrono e preposto É proibido ao advogado funcionar no mesmo processo simultaneamente como patrono e preposto do empregado ou cliente. 2.11 Postulação contra ex-cliente e ex-empregado O advogado, ao postular em nome de terceiros, contra ex-cliente ou exempregado, judicial e extrajudicialmente, deve resguardar o segredo profissional e as informações reservadas ou privilegiadas que lhe tenham sido confiadas. O Novo Código de Ética e Disciplina da Advocacia e da OAB novamente nada trouxe a respeito de prazo para atuação como advogado em ações contra ex-cliente ou exempregado. A jurisprudência tem pacificado o entendimento da abstinência bienal, ou seja, o advogado deve respeitar o decurso do prazo de 2 anos para atuação contra ex-cliente e exempregado. 2.12 Impedimento ético para postulação O causídico deve abster-se de patrocinar causa contrária à ética, à moral ou à validade de ato jurídico em que tenha colaborado, orientado ou conhecido em consulta; da mesma forma, deve declinar seu impedimento ético quando tenha sido convidado pela outra parte, se esta lhe houver revelado segredos ou obtido seu parecer. É legítima a recusa, pelo advogado, do patrocínio de causa e de manifestação, no âmbito consultivo, de pretensão concernente a direito que também lhe seja aplicável ou contrarie orientação que tenha manifestado anteriormente. 2.13 Natureza da advocacia O advogado NÃO exerce função pública, mas presta serviço público e função social. A advocacia NÃO é uma atividade comum. A advocacia NÃO é uma atividade empresária, apesar da sociedade ter inscrição no CNPJ e de acordo com as novas 18 diretrizes do Código de Ética, realizar cobrança de honorários através de cartão de crédito. 2.14 Dos deveres do advogado São deveres do advogado: I – preservar, em sua conduta, a honra, a nobreza e a dignidade da profissão, zelando pelo seu caráter de essencialidade e indispensabilidade; II – atuar com destemor, independência, honestidade, decoro, veracidade, lealdade, dignidade e boa-fé; III – velar por sua reputação pessoal e profissional; IV – empenhar-se, permanentemente, em seu aperfeiçoamento pessoal e profissional; V – contribuir para o aprimoramento das instituições, do Direito e das leis; VI – estimular a conciliação entre os litigantes, prevenindo, sempre que possível, a instauração de litígios; VII – aconselhar o cliente a não ingressar em aventura judicial; VIII – abster-se de: a) utilizar de influência indevida, em seu benefício ou do cliente; b) patrocinar interesses ligados a outras atividades estranhas à advocacia,em que também atue; c) vincular o seu nome a empreendimentos de cunho manifestamente duvidoso; d) emprestar concurso aos que atentem contra a ética, a moral, a honestidade e a dignidade da pessoa humana; e) entender-se diretamente com a parte adversa que tenha patrono constituído, sem o assentimento deste. IX – pugnar pela solução dos problemas da cidadania e pela efetivação dos seus direitos individuais, coletivos e difusos, no âmbito da comunidade. É dever do advogado o emprego de linguagem escorreita e polida, bem como a observância da boa técnica jurídica. É vedado ao advogado expor os fatos em Juízo ou na via administrativa, falseando deliberadamente a verdade e utilizando de má-fé. O advogado deve proceder de forma que o torne merecedor de respeito e que contribua para o prestígio da classe e da advocacia. O advogado, no exercício da profissão, deve manter independência em qualquer circunstância. Nenhum receio de desagradar a magistrado ou a qualquer autoridade, nem de incorrer em impopularidade, deve deter o advogado no exercício da profissão. O advogado é responsável pelos atos que, no exercício profissional, praticar com dolo ou culpa. Em caso de lide temerária, o advogado será solidariamente responsável com seu cliente, desde que coligado com este para lesar a parte contrária, o que será apurado em ação própria. O advogado obriga-se a cumprir rigorosamente os deveres consignados no Código de Ética e Disciplina. 19 O Código de Ética e Disciplina regula os deveres do advogado para com a comunidade, o cliente, o outro profissional e, ainda, a publicidade, a recusa do patrocínio, o dever de assistência jurídica, o dever geral de urbanidade e os respectivos procedimentos disciplinares. 2.15 Das relações com o cliente O advogado deve informar o cliente, de modo claro e inequívoco, quanto a eventuais riscos da sua pretensão, e das consequências que poderão advir da demanda. Deve, igualmente, denunciar, desde logo, a quem lhe solicite parecer ou patrocínio, qualquer circunstância que possa influir na resolução de submeter-lhe a consulta ou confiar-lhe a causa. O advogado, no exercício do mandato, atua como patrono da parte, cumprindo-lhe, por isso, imprimir à causa orientação que lhe pareça mais adequada, sem se subordinar a intenções contrárias do cliente, mas, antes, procurando esclarecêlo quanto à estratégia traçada. As relações entre advogado e cliente baseiam-se na confiança recíproca. Sentindo o advogado que essa confiança lhe falta, é recomendável que externe ao cliente sua impressão e, não se dissipando as dúvidas existentes, promova, em seguida, o substabelecimento do mandato ou a ele renuncie. A conclusão ou desistência da causa, tenha havido, ou não, extinção do mandato, obriga o advogado a devolver ao cliente bens, valores e documentos que lhe hajam sido confiados e ainda estejam em seu poder, bem como a prestar-lhe contas, pormenorizadamente, sem prejuízo de esclarecimentos complementares que se mostrem pertinentes e necessários. Mas ressalte-se, a parcela dos honorários paga pelos serviços até então prestados não se inclui entre os valores a ser devolvidos. Concluída a causa ou arquivado o processo, presume-se cumprido e extinto o mandato. O advogado não deve deixar ao abandono ou ao desamparo as ações a que foi constituído, sendo recomendável que, em face de dificuldades insuperáveis ou inércia do cliente quanto a providências que lhe tenham sido solicitadas, renuncie ao mandato. É direito e dever do advogado assumir a defesa criminal, sem considerar sua própria opinião sobre a culpa do acusado. O Novo Código de Ética e Disciplina da Advocacia e da OAB incluiu que não há causa criminal indigna de defesa, cumprindo ao advogado agir, como defensor, no sentido de que a todos seja concedido tratamento condizente com a dignidade da pessoa humana, sob a égide das garantias constitucionais. 20 2.16 Das relações com os colegas, agentes políticos, autoridades, servidores públicos e terceiros O advogado observará, nas suas relações com os colegas de profissão, agentes políticos, autoridades, servidores públicos e terceiros em geral, o dever de urbanidade, tratando a todos com respeito e consideração, ao mesmo tempo em que preservará seus direitos e prerrogativas, devendo exigir igual tratamento de todos com quem se relacione. Todavia, o Novo Código de Ética e Disciplina da Advocacia e da OAB incluiu que este dever de urbanidade há de ser observado, da mesma forma, nos atos e manifestações relacionados aos pleitos eleitorais no âmbito da Ordem dos Advogados do Brasil. Além disso, trouxe que no caso de ofensa à honra do advogado ou à imagem da instituição, adotar-se-ão as medidas cabíveis, instaurando-se processo ético- disciplinar e dando-se ciência às autoridades competentes para apuração de eventual ilícito penal. O advogado que se valer do concurso de colegas na prestação de serviços advocatícios, seja em caráter individual, seja no âmbito de sociedade de advogados ou de empresa ou entidade em que trabalhe, dispensar-lhes-á tratamento condigno, que não os torne subalternos seus nem lhes avilte os serviços prestados mediante remuneração incompatível com a natureza do trabalho profissional ou inferior ao mínimo fixado pela Tabela de Honorários que for aplicável (aviltamento de honorários). Quando o aviltamento de honorários for praticado por empresas ou entidades públicas ou privadas, os advogados responsáveis pelo respectivo departamento ou gerência jurídica serão instados a corrigir o abuso, inclusive intervindo junto aos demais órgãos competentes e com poder de decisão da pessoa jurídica de que se trate, sem prejuízo das providências que a Ordem dos Advogados do Brasil possa adotar com o mesmo objetivo. 2.17 Você precisa ler Arts. 1º ao 5º e 31 ao 33 do Estatuto da OAB. Arts. 1º ao 7º e 9º ao 29 do Código de Ética e Disciplina da OAB. Arts. 1º ao 8º do Regulamento Geral do Estatuto da OAB. 21 – CAPÍTULO 03 – DIREITOS DO ADVOGADO 3.1 Considerações iniciais Dispõe o art. 6º do EAOAB que inexiste hierarquia entre magistrados, membros do Ministério Público e advogados, devendo todos tratar-se com consideração e respeito recíprocos. O Parágrafo único define ainda que as autoridades, os servidores públicos e os serventuários da justiça devem dispensar ao advogado, no exercício da profissão, tratamento compatível com a dignidade da advocacia e condições adequadas a seu desempenho. O art. 7º da EAOAB descreve alguns dos principais direitos do advogado, para que com isso exerça, com liberdade, a profissão em todo o território nacional. Além de direitos individuais dos advogados, são prerrogativas do exercício profissional. Assim, descumprindo-se umas das prerrogativas dos advogados, poder- se-á incorrer em crime contra a garantia do exercício profissional e abuso de autoridade, se o autor do desrespeito for autoridade policial ou judiciária. 3.2 Direitos do advogado 3.2.1 Inviolabilidade do escritório (art. 7º, II, c/c §6º e 7º do EAOAB) A inviolabilidade do escritório ou local de trabalho do advogado, bem como de seus instrumentos de trabalho, de sua correspondência escrita, eletrônica, telefônica e telemática, desde que relativas ao exercício da advocacia, justifica-se por conta do múnus público que exerce e do dever de sigilo que tem sobre as informações prestadas por seus clientes. Sendo assim, apenas excepcionalmente está autorizado o Poder Público a ter acesso às informações de que dispõe o advogado – seja no incidente de exibição de documentos, seja por força de medida cautelar de busca e apreensão (neste caso quando estiverem presentes indícios de autoriaa e materialidade da prática de crime por parte do advogado). Nesse caso excepcional deverá umrepresentante da OAB acompanhá-lo. Vale frisar que a decisão judicial deve ser fundamentada e o objeto deve ser descrito, não podendo ser levado todo arquivo do escritório a fim de investigar uma possível irregularidade genérica, sendo, em qualquer hipótese, vedada a utilização dos documentos, das mídias e dos objetos pertencentes a clientes do advogado averiguado, bem como dos demais instrumentos de trabalho que contenham informações sobre clientes. 22 Cabe ressalvar que o constante no parágrafo anterior não se estende a clientes do advogado averiguado que estejam sendo formalmente investigados como seus partícipes ou co-autores pela prática do mesmo crime que deu causa à quebra da inviolabilidade. Quanto ao procedimento e designação do representante da OAB que deve acompanhar pessoalmente a diligência, é competência da Presidência da Seccional em que se situa o local de trabalho do advogado sujeito da decisão judicial. Caso a decisão abranja mais de um território de uma Seccional, cada uma delas será competente para o acompanhamento da execução da medida na sua respectiva jurisdição. Deve o representante da OAB verificar a presença dos requisitos legais extrínsecos concernentes à ordem judicial para a quebra da inviolabilidade, bem como constatar se o mandado judicial contém ordem específica e pormenorizada. Por fim, deve apresentar um relatório circunstanciado, encaminhado à ciência do advogado e/ou da sociedade de advogados sujeito à quebra de inviolabilidade, respeitado o sigilo devido, à Seccional, para eventual adoção das providências que se fizerem necessárias. Caso o representante da OAB verifique a ausência de um dos requisitos, deve formalizar seu protesto, continuando ou não, conforme as circunstâncias, a participar da diligência. Tal recusa poderá ser manifestada verbalmente aos encarregados da diligência, devendo ser formalizada, por escrito, à autoridade judiciária que decretou a busca e apreensão. Vale dizer que, se verificar a quebra da inviolabilidade da correspondência escrita, eletrônica, telefônica e telemática relativa ao exercício da advocacia, com ou sem ordem judicial, deverá a Seccional da área de jurisdição da autoridade infratora adotar as medidas cabíveis para a responsabilização penal e administrativa. Dica: Para violar Escritório ou instrumentos de trabalho é necessário preencher cinco requisitos: a) Ordem Judicial; b) expedida por juiz competente; c) objeto da decisão deve ser delimitado (pormenorizado); d) a decisão deve ser fundamentada; e) deve, o cumprimento da ordem, ser acompanhado por um representante da OAB. 3.2.2 Comunicar-se com cliente preso (art. 7º, III, do EAOAB) O advogado pode comunicar-se com seus clientes, pessoal e reservadamente, mesmo sem procuração, quando estes se acharem presos, detidos ou recolhidos em estabelecimento civis ou militares, ainda que considerados incomunicáveis. Ou seja, mesmo que o cliente se encontre no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), na chamada “quarentena”, pode o advogado comunicar-se com seu cliente. 23 3.2.3 Prisão do advogado (art. 7º, IV e V, c/c §3º do EAOAB e art. 16 do RGEOAB): O advogado somente poderá ser preso em flagrante, por motivo de exercício da profissão, em caso de crime inafiançável, e neste ato deve haver a presença de um representante da OAB. Sem prejuízo da atuação de seu defensor, contará o advogado com a assistência de representante da OAB nos inquéritos policiais ou nas ações penais em que figurar como indiciado, acusado ou ofendido, sempre que o fato a ele imputado decorrer do exercício da profissão ou a este vincular-se. Nesta mesma ADIn, apesar de ter sido julgado constitucional o inciso IV do art. 7º do EAOAB, o Ministro Marco Aurério, relator da ADIn, ressalvou que, se a OAB não enviar um representante em tempo hábil, a validade da prisão em flagrante será mantida, não acarretando a nulidade do respectivo auto. Nos demais crimes, deve haver a comunicação expressão à Seccional da OAB. Além disso, o advogado não pode ser recolhido preso antes da sentença transitada em julgado, senão em sala de Estado Maior, com instalações e comodidades condignas, e, na sua falta, em prisão domiciliar. Com o julgamento da ADIn 1.127-8, o reconhecimento da comodidade condigna não pode mais ser feito pela OAB, como propôs a lei no ato de sua criação. Dica: O advogado que no exercício profissional praticar o desacato não deve ser preso em flagrante. Trata-se de um crime de baixo potencial ofensivo, aplicando-se o art. 69 da Lei 9.099/1995. Dica 02: O advogado só poderá ser preso em flagrante delito se preenchidos os requisitos: a) Deve estar em exercício profissional; b) Flagrante delito; c) Deve ter praticado crime inafiançável; d) Neste ato deve haver a presença de um representante da OAB. 3.2.4 Ingresso livre e permanência nos recintos e trato com magistrados (art. 7º, VI, VII e VIII, do EAOAB) O advogado pode ingressar livremente nos seguintes recintos: a) Nas salas de sessões dos tribunais, mesmo além dos cancelos que separam a parte reservada aos magistrados; b) Nas salas e dependências de audiências, secretarias, cartórios, ofícios de justiça, serviços notariais e de registro, e, no caso de delegacias e prisões, 24 mesmo fora da hora de expediente e independentemente da presença de seus titulares; c) Em qualquer edifício ou recinto em que funcione repartição judicial ou outro serviço público onde o advogado deva praticar ato ou colher prova ou informação útil ao exercício da atividade profissional, dentro do expediente ou fora dele, e ser atendido, desde que se ache presente qualquer servidor ou empregado; d) Em qualquer assembléia ou reunião de que participe ou possa participar o seu cliente, ou perante a qual este deva comparecer, desde que munido de poderes especiais. Poderá permanecer o advogado sentado ou em pé e retirar-se de quaisquer locais acima citados, independentemente de licença. Pode ainda o advogado dirigir-se diretamente aos magistrados nas salas e gabinetes de trabalho, independentemente de horário previamente marcado ou outra condição, observando-se a ordem de chegada. 3.2.5 Vista e carga de inquéritos e autos (art. 7º, XIII ao XVI e XXI c/c § 1º, 10º, 11º e 12º, do EAOAB e art. 107 do CPC): O advogado pode examinar, em cartório de fórum e secretaria de tribunal, mesmo sem procuração, autos de qualquer processo, independentemente da fase de tramitação, assegurados à obtenção de cópias e o registro de anotações, salvo na hipótese de segredo de justiça, nas quais apenas o advogado constituído terá acesso aos autos (art. 107, I, do CPC) 15 . Pode retirá-los (fazer carga) pelos prazos letais (art. 107, II, do CPC). Quanto aos processos findos pode retirá-los, mesmo sem procuração, pelo prazo de dez dias. A regra disposta acima não se aplica aos processos judiciais, administrativos ou findos quando: a) Correrem sob regime de segredo de justiça; b) Existirem nos autos documentos originais de difícil restauração ou ocorrer circunstância relevante que justifique a permanência dos autos no cartório, secretaria ou repartição, reconhecida pela autoridade em despacho motivado, proferido de ofício, mediante representação ou a requerimento da parte interessada; c) Até o encerramento do processo, ao advogado que houver deixado de devolver os respectivos autos no prazo legal e só o fizer depois de intimado. Sendo comum às partes o prazo, só em conjunto ou mediante prévio ajuste por petição nos autos, poderão os seus procuradores retirar os autos (art. 107, §2º, do 15 O inciso XII do Estatuto traz a seguinte redação: “examinar, em qualquer órgão dos Poderes Judiciário e Legislativo, ou da Administração Pública em geral, autos de processos findos ou em andamento, mesmo sem procuração, quandonão estejam sujeitos a sigilo, assegurada a obtenção de cópias, podendo tomar apontamentos”. 25 CPC)., ressalvada a obtenção de cópias para a qual cada procurador poderá retirá-los pelo prazo de 2 (duas) a 6 (seis) horas, independentemente de ajuste e sem prejuízo da continuidade do prazo (art. 107, §3º, do CPC). Também poderá o advogado examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital. Todavia, neste caso, quantos os autos estiverem sujeitos a sigilo, deve o advogado apresentar procuração para o exercício dos direitos. Poderá ainda, a autoridade competente, delimitar o acesso do advogado aos elementos de prova relacionados a diligências em andamento e ainda não documentados nos autos, quando houver risco de comprometimento da eficiência, da eficácia ou da finalidade das diligências. A inobservância aos direitos estabelecidos acerca do acesso do advogado aos autos e investigações em instituições responsáveis por conduzir as investigações, o fornecimento incompleto de autos ou o fornecimento de autos em que houve a retirada de peças já incluídas no caderno investigativo implicará responsabilização criminal e funcional por abuso de autoridade do responsável que impedir o acesso do advogado com o intuito de prejudicar o exercício da defesa, sem prejuízo do direito subjetivo do advogado de requerer acesso aos autos ao juiz competente. Terá direito ainda o advogado em assistir a seus clientes investigados durante a apuração de infrações, sob pena de nulidade absoluta do respectivo interrogatório ou depoimento e, subsequentemente, de todos os elementos investigatórios e probatórios dele decorrentes ou derivados, direta ou indiretamente, podendo, inclusive, no curso da respectiva apuração apresentar razões e quesitos. 3.2.6 Desagravo público (art. 7º, XVII c/c §5º do EAOAB e arts. 18 e 19 do RGEAOAB): No caso de ofensa a inscrito na OAB, no exercício da profissão ou de cargo ou função de órgão da OAB, o Conselho competente deve promover o desagravo público do ofendido, sem prejuízo da responsabilidade criminal em que incorrer o infrator. Destaca-se que o desagravo é um ato feito em favor da classe advocatícia e, portanto, não se faz necessária a aceitação desta sessão por parte do advogado desagravado, até porque este não pode dispor deste direito. Assim para que haja uma sessão de desagravo basta que a OAB tenha conhecimento desta violação do direito, sem precisar de concordância do causídico. Importante: A ofensa ao inscrito na OAB deve ser no exercício da profissão ou de cargo ou função de órgão da OAB. 26 3.2.6.1 Procedimento do desagravo (art. 18, do RGEAOAB) Compete ao relator, convencendo-se da existência de prova ou indício de ofensa relacionada ao exercício da profissão ou de cargo da OAB, propor ao Presidente que solicite informações da pessoa ou autoridade ofensora, no prazo de quinze dias, salvo em caso de urgência e notoriedade do fato. O relator também pode propor o arquivamente do pedido se a ofensa for pessoal, se não estiver relacionada com o exercício profissional ou com as prerrogativas gerais do advogado, ou se configurar crítica de caráter doutrinário, político ou religioso. Exemplo: Uma mulher (advogada) briga com seu marido (juiz) e quer que ele seja desagravado por tê-la ofendido no seio familiar. Nesse caso, não verifica-se a hipótese de desagravo público. O relator, convencido da procedência emitirá parecer que é encaminhado ao Conselho, e em caso de acolhimento é designada a sessão de desagravo, amplamente divulgada. 3.2.6.2 A Sessão do desagravo O Presidente lê a nota a ser publicada na imprensa, encaminhada ao ofensor e às autoridades e registrada nos assentamentos do inscrito. Vale dizer que se a ofensa for no território da Subseção a que se vincule o inscrito, a sessão de desagravo pode ser promovida pela diretoria ou conselho da Subseção, com representação do Conselho Seccional. Importante: Compete ao Conselho Federal promover o desagravo público de Conselheiro Federal ou de Presidente de Conselho Seccional, quando ofendidos no exercício das atribuições de seus cargos e ainda quando a ofensa a advogado se revestir de relevância e grave violação às prerrogativas profissionais, com repercussão nacional. 3.2.7 Sigilo profissional (art. 7º, XIX, do EAOAB): É um direito-dever o sigilo profissional do advogado. Se o advogado for intimado a comparecer a alguma audiência, deve comparecer e informar que por força de sua atuação profissional encontra-se impedido de prestar testemunho. Os fundamentos podem ser encontrados nos seguintes diplomas: art; 229, I, do CC/2002; art. 448 do CPC; art. 154 do CP e art. 207 do CPP. Em três hipóteses o advogado pode quebrar o sigilo profissional: a) grave ameaça ao direito à vida; b) grave ameaça à honra; ou 27 c) quando o advogado se veja afrontado pelo próprio cliente e, em defesa própria, tenha que revelar segredo, sempre restrito, porém, ao interesse da causa. 3.2.8 Aguardar o juiz (art. 7º, XX, do EAOAB): O advogado pode retirar-se do recinto onde se encontre aguardado pregão para ato judicial, após trinta minutos do horário designado 16 e ao qual ainda não tenha comparecido a autoridade que deva presidir a ele, mediante comunicação protocolizada em juízo. Importante: Se a pauta de audiência estiver atrasada, mas o juiz estiver no local presidindo os trabalhos, não vale o direito exposto acima. 3.2.9 Imunidade do advogado (art. 7º, § 2º, do EAOAB): O advogado tem imunidade profissional, não constituindo injúria, difamação ou desacato puníveis qualquer manifestação de sua parte, no exercício de sua atividade, em juízo ou fora dele, sem prejuízo das sanções disciplinares perante a OAB, pelos excessos que cometer. No entanto, com o julgamento da ADIn 1.127-8, o Plenário declarou a inconstitucionalidade da expressão “ou desacato”, contida no dispositivo. Ou seja, o advogado não tem imunidade por desacato, mas tem imunidade pela injúria e pela difamação. Importante dizer que se o advogado cometer o desacato, não deve ser preso em flagrante, pois tal crime é abrigado pela competência da Lei 9.099/1995: Juizado Especial Criminal. Importante: Calúnia não está previsto no art. 7º, § 2º do EAOAB, entendendo a maioria da jurisprudência que o advogado não tem imunidade. 3.2.9 Demais direitos do art. 7º, do EAOAB: i. exercer, com liberdade, a profissão em todo o território nacional (inciso I); ii. Uso da palavra perante juízo ou tribunal – usar da palavra, pela ordem, em qualquer juízo ou tribunal, mediante intervenção sumária, para esclarecer equívoco ou dúvida surgida em relação a fatos, documentos ou afirmações que influam no julgamento, bem como para replicar acusação ou censura que lhe forem feitas (inciso X); 16 No Processo do Trabalho o prazo é de 15 minutos (art. 815 da CLT). 28 iii. Manifestações de desacordo – reclamar, verbalmente ou por escrito, perante qualquer juízo, tribunal ou autoridade, contra a inobservância de preceito de lei, regulamento ou regimento (inciso XI); iv. Direito de manifestação – falar, sentado ou em pé, em juízo, tribunal ou órgão de deliberação coletiva da Administração Pública ou do Poder Legislativo (inciso XII); v. Símbolos privativos da advocacia – usar símbolos privativos da profissão de advogado (inciso XVIII); vi. Salas especiais para OAB – o Poder Judiciário e o Poder Executivo devem instalar, em todos os juizados, fóruns, tribunais, delegacias de polícia e presídios, salas especiais e permanentes para os advogados, com uso assegurado à OAB. (O julgamento da ADIn1.127-8 suprimiu o termo “com uso e controle assegurados à OAB”) (§4º). 3.2.10 Direito suprimido – sustentação oral (art. 7º, IX, do EAOAB): Com o julgamento das ADIn 1.127-8 e 1.105-7 o dispositivo que dispunha que o advogado podia sustentar oralmente as razões de qualquer recurso ou processo, nas sessões de julgamento, após o voto do relator, em instância judicial ou administrativa, pelo prazo de 15 minutos, salvo se prazo maior for concedido, perdeu sua vigência. Portanto, agora, o direito à sustentação oral está vinculado à sua previsibilidade recursal. 3.3 Defesa judicial dos direitos e Prerrogativas dos Advogados (art. 15, do RGEAOAB): Compete ao Presidente do Conselho Federal, do Conselho Seccional ou da Subseção, podendo designar advogado para representá-lo, ao tomar conhecimento de fato que possa causar, ou que já causou, violação de direitos ou prerrogativas da profissão, adotar as providências judiciais e extrajudiciais cabíveis para prevenir ou restaurar o império do Estatuto, em sua plenitude, inclusive mediante representação administrativa. Compete ao Presidente do Conselho ou da Subseção representar contra o responsável por abuso de autoridade, quando configurada a hipótese de atentado à garantia legal de exercício profissional. 3.4 Você precisa ler Arts. 6º e 7º do Estatuto da OAB. Arts. 35 a 38 do Código de Ética e Disciplina da OAB. Arts. 15 a 19 do Regulamento Geral do Estatuto da OAB. 29 – CAPÍTULO 04 – DA INSCRIÇÃO E DO ESTÁGIO 4.1 Da inscrição como advogado nos quadros da OAB 4.1.1 Requisitos para a inscrição (art. 8º do EAOAB) O artigo 8º do Estatuto da Advocacia e da OAB traz que para inscrição como advogado é necessário: a) capacidade civil; b) diploma ou certidão de graduação em direito, ou ciências jurídicas e sociais, obtido em instituição de ensino oficialmente autorizada e credenciada 17 ; c) título de eleitor e quitação do serviço militar, se brasileiro; d) aprovação em Exame de Ordem 18 ; e) não exercer atividade incompatível com a advocacia; f) idoneidade moral; g) prestar compromisso perante o Conselho 19 . O compromisso é indelegável, por sua natureza solene e personalíssima. 4.1.2 Idoneidade moral (art. 8º, § 3º, do EAOAB) Consiste na prática de crime infamante, que, por definição, consiste naquele que “provoca o forte repúdioético da comunidade geral e profissional, acarretando desonra para o seu autor, e que pode gerar desprestigio para a advocacia se for admitido seu autor a exercê-la”. 20 Importante: Quem julga se um crime é infante, indeferindo ou não o pedido de inscrição, é o Conselho Seccional. Para tal indeferimento, é necessária a manifestação 17 Art. 23 do RGEAOAB. O requerente à inscrição no quadro de advogados, na falta de diploma regularmente registrado, apresenta certidão de graduação em direito, acompanhada de cópia autenticada do respectivo histórico escolar. 18 Art. 8º, § 1º O Exame de Ordem é regulamentado em provimento do Conselho Federal da OAB. 19 Art. 20 do RGEAOAB: O requerente à inscrição principal no quadro de advogados presta o seguinte compromisso perante o Conselho Seccional, a Diretoria ou o Conselho da Subseção: “Prometo exercer a advocacia com dignidade e independência, observar a ética, os deveres e prerrogativas profissionais e defender a Constituição, a ordem jurídica do Estado Democrático, os direitos humanos, a justiça social, a boa aplicação das leis, a rápida administração da justiça e o aperfeiçoamento da cultura e das instituições jurídicas.” 20 LOBO, Paulo Luiz Netto. Comentários ao estatuto da advocacia e da OAB. São Paulo: Saraiva, 2007. 30 favorável de 2/3 de seus membros. Não atende ao requisito de idoneidade moral aquele que tiver sido condenado por crime infamante, salvo reabilitação judicial. 4.1.3 Advogado público Defensor público, procurador do Estado, procurador do município, procurador autárquico e procurador federal devem se inscrever na OAB, uma vez que exercem a advocacia. Devem se sujeitar ao Estatuto, ao Código de Ética e o Regulamento Geral, sendo elegíveis e podendo integrar qualquer órgão da OAB. 4.1.4 Advogado estrangeiro (art. 8º, § 2º, do EAOAB) Existe três tipos de advogados estrangeiros previstos: a) advogado estrangeiro que quer inscrever-se na OAB. Pode exercer a advocacia desde que observe às condições gerais para se estabelecer no Brasil, bem como se inscreva na OAB. Caso seja graduado em outro país, deve fazer prova da graduação devidamente revalidade pelo MEC, devendo, além disso, prestar exame de ordem, não importando se em seu país há ou não tal exame. b) advogado que quer atuar no Brasil sem inscrição. Poderá atuar somente em atividade de consultoria/assessoria de direito estrangeiro que corresponda ao Estado em que tenha se graduado. É vedado o exercício de postulação ou consultoria/assessoria em direito brasileiro, mesmo que conjuntamente com advogado brasileiro, salbo se requerer ao Conselho Seccional uma autorização que terá duração de 3 anos renovável sucessivamente pelo mesmo período. c) advogado português no Brasil (Provimento 129/2008). O advogado de nacionalidade portuguesa, em situação regular na Ordem dos Advogados portugueses, pode inscrever-se no quadro da Ordem dos Advogados do Brasil, observados os requisitos do art. 8º do EAOAB, com a dispensa do Exame de Ordem e do compromisso perante o Conselho. 4.1.5 Espécies de inscrição (art. 10 do EAOAB) São quatro as formas de inscrição previstas no Estatuto: a) principal ou definitiva: para todo o bacharel que cumpre integralmente os requisitos do art. 8º. Deve ser feita onde o advogado pretende fixar seu domicílio profissional. b) suplementar: para todo advogado que passar a exercer a profissão acima de 5 causas ao ano em outro Estado/Conselho Conseccional. Para contagem das cinco 31 causas exige-se a postulação definitiva. Mero acompanhamento de feitos não é computado para esta finalidade. c) transferência: para todo advogado que decide mudar definitivamente o seu domicílio profissional 21 . d) reinscrição: para todo advogado que teve a inscrição cancelada. Todas as hipóteses de cancelamento permitem o retorno aos quadros da OAB, desde que o novo pedido de inscrição também comprove os incisos I, V, VI e VII do art. 8º, do EAOAB. 4.1.6 Identificação do advogado É o documento de identidade profissional, na forma prevista no Regulamento Geral. Seu uso é obrigatório no exercíco da atividade de advogado ou de estagiário. O uso de cartão de identificação dispensa o da carteira do advogado. O cartão emitido pela OAB consiste no documento de identidade do advogado e constitui prova de identidade civil para todos os fins legais. O advogado pode requerer o registro, nos seus assentamentos, de fatos comprovados de sua atividade profissional ou cultural, ou a ela relacionados, e de serviços prestados à classe, à OAB e ao País. É obrigatória a indicação do nome e do número de inscrição em todos os documentos assinados pelo advogado, no exercício de sua atividade, sendo vedado anunciar ou divulgar qualquer atividade relacionada com o exercício da advocacia ou o uso da expressão “escritório de advocacia”, sem indicação expressa do nome e do número de inscrição dos advogados que o integrem ou o número de registro da sociedade de advogados na OAB. As especificações referentes a confecção da carteira de identidade do advogado e do cartão de identificação pessoal estão previstas nos artigos 33, 34 e 36 do RGEAOAB. 4.1.7 Cadastro Nacional de Advogados (CNA, art. 24 do RGEOAB) Os Conselhos Seccionais devem alimentar, automaticamente e em tempo real, por via eletrônica, o Cadastro Nacional dos Advogados – CNA, mantendo as informações correspondentes constantemente atualizadas.
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