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E-Book Completo_Criminologia e Abordagem Sociopsicológica da Violência e do Crime_DIGITAL PAGES (Versão Digital) (1)

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Crim
inologia e Abordagem
 Sociopsicológica da Violência e do Crim
e
Tatiane Honório Lima 
Maria Eliza Leal Cabral
Tatiane Honório Lima 
Maria Eliza Leal Cabral
GRUPO SER EDUCACIONAL
gente criando o futuro
Iniciaremos nossos estudos sobre a criminologia sob um enfoque transdisciplinar (so-
ciológico, jurídico, antropológico e psicológico), de modo crítico e propedêutico, com 
ênfase no debate criminológico contemporâneo. Trataremos da in� uência das teorias 
criminológicas nos movimentos de política criminal e nas modernas teorias penais, a 
� m de discutir mais detidamente aspectos como a produção social da delinquência e 
os modos de administração da justiça penal. Além disso, analisaremos a situação da 
segurança pública, do sistema judicial e da criminalidade urbana na sociedade brasi-
leira à luz das teorias criminológicas.
Para tanto, nossa abordagem tem início em uma sistematização da trajetória histó-
rica do pensamento criminológico (conceitos envolvidos, surgimento e desenvolvi-
mento, objeto, métodos e escolas teóricas), além de incursões em relação ao desen-
volvimento tanto da psicologia quanto da psiquiatria criminal. Abordaremos, ainda, 
um panorama de políticas criminais diversas, como o abolicionismo, o garantismo, o 
feminismo, o populismo punitivo, o direito penal do inimigo, entre outras.
Exemplos retirados do nosso dia a dia serão utilizados para melhor elucidar e con-
textualizar as teorias abordadas. Por � m, veremos os comentários sobre o posicio-
namento da jurisprudência recente e do entendimento do Supremo Tribunal Federal 
(STF) e Superior Tribunal de Justiça (STJ) sobre os principais pontos, bem como críticas 
feitas por doutrinadores de renome, quando for o caso.
CRIMINOLOGIA E ABORDAGEM 
SOCIOPSICOLÓGICA DA 
VIOLÊNCIA E DO CRIME
CRIMINOLOGIA E ABORDAGEM 
SOCIOPSICOLÓGICA DA 
VIOLÊNCIA E DO CRIME
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Tatiane Honório Lima 
Maria Eliza Leal Cabral
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Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico e Revisão.
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ASSISTA
Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple-
mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado.
CITANDO
Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa 
relevante para o estudo do conteúdo abordado.
CONTEXTUALIZANDO
Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato;
demonstra-se a situação histórica do assunto.
CURIOSIDADE
Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto 
tratado.
DICA
Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma 
informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado.
EXEMPLIFICANDO
Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto.
EXPLICANDO
Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da 
área de conhecimento trabalhada.
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Unidade 1 - Criminologia e psicologia criminal: estudos e abordagens teóricas do 
crime e do criminoso
Objetivos da unidade 13
Criminologia: conceitos, objetos e métodos ................................................................... 14
O que é criminologia? Qual é sua função? .................................................................. 15
Objetos e métodos da criminologia .............................................................................. 17
O surgimento do saber do crime ....................................................................................... 21
Período pré-científico ..................................................................................................... 22
Período científico ............................................................................................................ 26
Escola Clássica e Escola Positiva .................................................................................... 31
Escola Clássica ou Retribucionista .............................................................................. 32
Escola Positiva ................................................................................................................. 34
O desenvolvimento da sociologia criminal: Escola de Chicago e teoria da anomia ..... 37
Escola de Chicago ........................................................................................................... 38
Teoria da anomia ............................................................................................................. 42
Teorias da associação diferencial (white collar crime) e subculturas delinquentes ... 44
Teoria da associação diferencial (white collar crime) ............................................. 44
Teoria das subculturas delinquentes ........................................................................... 46
O desenvolvimento da psicologia criminal e as influências da psicanálise ........... 48
Psicologia criminal .......................................................................................................... 49
Psicanálise e suas influências na criminologia ......................................................... 50
Sintetizando ........................................................................................................................... 52
Referências bibliográficas ................................................................................................. 53
Sumário
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Sumário
Unidade 2 - Aspectos da criminologia crítica
Objetivos da unidade ........................................................................................................... 57
A virada criminológica ........................................................................................................ 58
Teoria do etiquetamento ..................................................................................................... 61
O desenvolvimento da criminologia crítica .................................................................... 65
Psiquiatria criminal ............................................................................................................. 68
Antipsiquiatria e movimento antimanicomial ................................................................ 74
Sintetizando ........................................................................................................................... 79
Referências bibliográficas ................................................................................................. 81
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Sumário
Unidade 3 - Tópicos sobre a herança da criminologia crítica, pós-crítica e o 
defensivismo
Objetivos da unidade ........................................................................................................... 83
A herança da criminologia crítica e as políticas penais alternativas ...................... 84
Minimalismo ..................................................................................................................... 85
Abolicionismo ...................................................................................................................86
Garantismo ....................................................................................................................... 88
Feminismo ......................................................................................................................... 89
Realismo de esquerda .................................................................................................... 91
Realismo marginal ........................................................................................................... 92
Criminologia pós-crítica ..................................................................................................... 93
Culturalismo ...................................................................................................................... 94
Pós-modernismo .............................................................................................................. 95
Criminologia do reconhecimento e demais renovações da crítica ........................ 96
A herança do defensivismo e as políticas criminais punitivistas .............................. 97
Lei e Ordem ...................................................................................................................... 97
Tolerância zero ................................................................................................................ 98
Populismo punitivo .......................................................................................................... 99
Esquerda punitiva .......................................................................................................... 100
Direito Penal do Inimigo ............................................................................................... 101
Sintetizando ......................................................................................................................... 103
Referências bibliográficas ............................................................................................... 105
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Sumário
Unidade 4 - As múltiplas faces da violência no cenário brasileiro contemporâneo
Objetivos da unidade ......................................................................................................... 107
Violência e segurança pública no Brasil contemporâneo ......................................... 108
Estratégias de policiamento ............................................................................................ 112
Violência contra a mulher ................................................................................................ 114
Violência na infância e na adolescência, e a política criminal de drogas ............ 118
Justiça restaurativa e políticas públicas de prevenção ao delito ........................... 123
Sintetizando ......................................................................................................................... 128
Referências bibliográficas ............................................................................................... 130
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Caro(a) aluno(a),
Iniciaremos nossos estudos sobre a criminologia sob um enfoque transdis-
ciplinar (sociológico, jurídico, antropológico e psicológico), de modo crítico e 
propedêutico, com ênfase no debate criminológico contemporâneo. Tratare-
mos da influência das teorias criminológicas nos movimentos de política cri-
minal e nas modernas teorias penais, a fim de discutir mais detidamente as-
pectos como a produção social da delinquência e os modos de administração 
da justiça penal. Além disso, analisaremos a situação da segurança pública, 
do sistema judicial e da criminalidade urbana na sociedade brasileira à luz das 
teorias criminológicas.
Para tanto, nossa abordagem tem início em uma sistematização da trajetó-
ria histórica do pensamento criminológico (conceitos envolvidos, surgimento 
e desenvolvimento, objeto, métodos e escolas teóricas), além de incursões em 
relação ao desenvolvimento tanto da psicologia quanto da psiquiatria crimi-
nal. Abordaremos, ainda, um panorama de políticas criminais diversas, como 
o abolicionismo, o garantismo, o feminismo, o populismo punitivo, o direito 
penal do inimigo, entre outras.
Exemplos retirados do nosso dia a dia serão utilizados para melhor elucidar 
e contextualizar as teorias abordadas. Por fim, veremos os comentários sobre o 
posicionamento da jurisprudência recente e do entendimento do Supremo Tri-
bunal Federal (STF) e Superior Tribunal de Justiça (STJ) sobre os principais pontos, 
bem como críticas feitas por doutrinadores de renome, quando for o caso.
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Apresentação
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Dedico a presente obra aos mestres do Direito que acompanharam e 
acompanham minha trajetória acadêmico-jurídica, em especial, aos 
docentes da cadeira de Direito Penal e Medicina Forense das saudosas 
arcadas da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.
A Professora Tatiane Honório Lima é 
especialista em planejamento, imple-
mentação e gestão de educação a dis-
tância pela Universidade Federal Flu-
minense – UFF (2015). É graduada em 
direito pela Universidade de São Paulo 
– USP (2019) e em Letras pela mesma 
universidade (2019). Participou do Labo-
ratório de Ciências Criminais do Institu-
to Brasileiro de Ciências Criminais (IBC-
Crim) e realizou diversas traduções de 
textos acadêmicos da área jurídica para 
revistas acadêmicas relevantes nesse 
campo. Atuou em câmara criminal do 
Tribunal de Justiça de São Paulo. Atual-
mente, é advogada autônoma nas áreas 
de direito penal, empresarial e conten-
cioso civil e advogada colaboradora da 
Defensoria Pública da União (DPU).
Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/9716208483948513
CRIMINOLOGIA E ABORDAGEM SOCIOPSICOLÓGICA DA VIOLÊNCIA E DO CRIME 10
A autora
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Dedico este trabalho à espiritualidade; à minha mãe, por sua coragem, 
compreensão e amor; e a meu orientador de mestrado, o professor André 
Viana Custódio, pelos ensinamentos e apoio contínuo durante essa trajetória.
A professora Maria Eliza Leal Cabral 
é mestra em Direito pelo programa de 
pós-graduação em direito da Universi-
dade de Santa Cruz do Sul – Unisc (2020) 
e realizou um curso preparatório para 
o ingresso na carreira no Ministério Pú-
blico (2015). É graduada em Direito pela 
Unisc (2013).
Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/1649111175343288
A autora
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CRIMINOLOGIA 
E PSICOLOGIA 
CRIMINAL: ESTUDOS 
E ABORDAGENS 
TEÓRICAS DO CRIME E 
DO CRIMINOSO
1
UNIDADE
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Objetivos da unidade
Tópicos de estudo
 Apresentar e analisar a criminologia enquanto ciência (conceito, objeto e 
métodos envolvidos);
 Identificar a trajetória histórica do pensamento criminológico, conhecendo 
as diferentes escolas de pensamento e teorias desenvolvidas (Escola Clássica, 
Escola Positiva, Escola de Chicago, teoria da anomia e teorias da associação 
diferencial e subculturas delinquentes);
 Conhecer e compreender criticamente o desenvolvimento da psicologia 
criminal e as influências da psicanálise na criminologia.
 Criminologia: conceitos, obje-
tos e métodos
 O que é criminologia? Qual é 
sua função?
 Objetos e métodos da crimino-
logia
 Escola Clássica e Escola Positiva
 Escola Clássica ou Retribucionista 
 Escola Positiva 
 O surgimento do saber do crime
 Períod
 O desenvolvimento da sociolo-
gia criminal: Escola de Chicago e 
teoria da anomia
 Escola de Chicago
 Teoria da anomia
 Teorias da associação diferen-
cial (white collar crime) e subcultu-
ras delinquentes
 Teoria da associação diferen-cial (white collar crime)
 Teoria das subculturas delin-
quentes
 O desenvolvimento da psico-
logia criminal e as influências da 
psicanálise
 Psicologia criminal
 Psicanálise e suas influências 
na criminologia
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Criminologia: conceitos, objetos e métodos
As ciências criminais abrangem um rol de disciplinas autônomas que, uma vez 
integradas ao contexto penal, contribuem para o funcionamento do sistema penal e 
tratamento adequado da criminalidade. Logo, a análise de tal contexto começa pela 
abordagem da criminologia para, em seguida, ser objeto da política criminal que, 
só então, passará pelo escrutínio do direito, processo e execução penais.
Nesse processo de tratamento do contexto penal, cabe à criminologia estudar, 
a partir de dados empíricos da realidade, a criminalidade em sua origem, causas 
e consequências, com especial foco em seus elementos constituintes (crime, cri-
minoso, vítima e controle social da conduta), ao passo que a política criminal, de 
posse dos dados tratados pela criminologia, avalia os modos de combate e contro-
le da criminalidade, dando especial atenção à ressocialização do criminoso, à ado-
ção de medidas de prevenção e à intervenção no delito e em seus efeitos graves.
EXPLICANDO
Segundo Shecaira (2014, p. 325), a política criminal “estuda as estratégias 
estatais para a atuação preventiva da criminalidade, e tem por fi nalidade 
estabelecer a ponte efi caz entre a criminologia, enquanto ciência empíri-
ca, e o direito penal, enquanto ciência axiológica”. São exemplos de políti-
ca criminal as operações de combate ao tráfi co de drogas, à corrupção e 
aos desvios de dinheiro em procedimentos licitatórios do Governo.
A partir da apresentação de estratégias estatais traçadas pela política crimi-
nal para prevenção da criminalidade, eventuais propostas concretas de altera-
ção do Direito Penal são feitas (afi nal, este é voltado à decidibilidade dos con-
fl itos a partir da tipifi cação das condutas humanas indesejadas, com a criação 
de proposições jurídicas gerais e obrigatórias), para torná-lo mais adequado à 
realidade mutável que pretende regular.
Pelo exposto, é possível concluir que não há subordinação entre a crimino-
logia, a política criminal e o Direito Penal. Por essa razão, o Direito Penal, por 
exemplo, não condiciona ou emoldura a criminologia. Na verdade, o Direito 
Penal converte a experiência criminológica, transmutada em estratégias de po-
lítica criminal, em norma válida pelo princípio da legalidade, considerando a 
avaliação dos possíveis meios de controle e combate à criminalidade fornecida 
pela política criminal.
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O que é criminologia? Qual é sua função?
Situado seu posicionamento entre as ciências criminais, 
é importante compreender o conceito de criminologia. 
Segundo Oliveira (2021, p. 17), “a origem etimológica 
da palavra criminologia deriva do latim crimino (crime) 
e do grego logos (estudo), signifi cando o estudo do cri-
me” como fenômeno social. Sendo, portanto, o estudo do 
crime, a criminologia pode ser entendida como uma ciência 
autônoma, pois apresenta função, método e objeto próprios. Por ter 
seu objeto de estudo baseado na experiência e observação da realidade 
dos fatos, é considerada uma ciência predominantemente empírica (uma ciên-
cia do ser, em oposição à abstração normativa do dever-ser). Ademais, possui 
natureza interdisciplinar, pois se vale do conhecimento oriundo de diversos 
ramos do saber (sociologia, psicologia, direito, biologia, medicina legal, psiquia-
tria, antropologia etc.) para superar eventuais contradições e suprimir possí-
veis lacunas. Assim, a criminologia vai muito além de ser uma mera fonte de 
dados estatísticos: ela os coleta e os interpreta a partir de uma metodologia 
específi ca, oriunda da soma dos ensinamentos de várias áreas, analisando a 
questão criminal de uma perspectiva científi ca, prática e voltada a confl itos 
concretos e historicamente situados.
Conclui-se, portanto, que a função da criminologia é tentar explicar cienti-
fi camente os fatores determinantes de ocorrência do delito, a partir da indica-
ção de um diagnóstico qualifi cado e conjuntural sobre a criminalidade, contri-
buindo para informar a sociedade e orientar o poder público acerca do crime 
de modo válido e confi ável para que se tome decisões e encontre soluções para 
a prevenção e o controle da criminalidade.
A criminologia, ao dar amparo à formulação de programas de políticas cri-
minais (prevenção específi ca e direta dos crimes socialmente relevantes) e so-
ciais (prevenção de ordem geral e indireta dos delitos) como modos de controle 
das quais o Estado dispõe para lidar com a infração, criminoso e vítima (função 
linear), não se restringe à análise da norma penal e seus efeitos, já que obser-
va, principalmente, as causas que levam à delinquência, com o fi m de possibili-
tar o aperfeiçoamento dogmático do sistema penal.
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São etapas da criminologia:
• Explicação científica da criminalidade;
• Prevenção do delito:
• Primária: enfrenta a origem da criminalidade pelo controle social for-
mal, com medidas de médio e longo prazo;
• Secundária: atua quando o crime se exterioriza (foco nos potenciais 
criminosos e zonas de criminalidade), com realização de curto e médio 
prazo e operacionalizada pela política criminal e pelo controle social ju-
rídico-penal;
• Terciária: feita após a prática do delito, sendo destinada ao preso, com 
caráter punitivo e ressocializador, e operacionalizada pela política crimi-
nal e pelo direito penal, objetivando evitar a reincidência;
• Intervenção no homem delinquente para evitar a reincidência.
DIAGRAMA 1. A CRIMINOLOGIA E SEUS NÍVEIS DE ANÁLISE, 
SEGUNDO A DOUTRINA MAJORITÁRIA
Etapas dos 
estudos 
criminológicos 
1. Explicação científica do fenômeno criminal
3. Intervenção no homem delinquente
2. Prevenção do delito
Primária 
Secundária
Terciária
Importante salientar que a prevenção do crime para a criminologia se 
assenta em três premissas básicas:
• Ineficácia da prevenção penal (a aplicação de pena privativa de liberdade 
apenas estigmatiza o criminoso, acelerando e consolidando sua carreira crimi-
nal, em nada contribuindo para resolver o problema da criminalidade);
• Maior complexidade dos mecanismos dissuasórios (a certeza e a rapidez 
de aplicação da pena se afiguram mais importantes do que sua gravidade);
• Necessidade de uma intervenção de maior alcance, abrangendo políticas 
sociais como intervenções ambientais, melhoria das condições de vida do in-
frator e reinserção social dos ex-reclusos.
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Objetos e métodos da criminologia
A criminologia tem por objeto de estudo elementos concretos do mundo 
real, razão pela qual é considerada uma ciência empírica, como já dito. Ressal-
ta-se ainda que seu objeto de estudo varia conforme sua concepção ao longo 
do tempo, sendo que, atualmente, se considera a confi guração quadripartida 
da década de 1950, compreendendo:
• O crime (fenômeno social que causa problema social);
• O criminoso (agente do ato ilícito);
• A vítima;
• Controle social da conduta criminosa.
O crime, fenômeno multifacetado e eminentemente humano, abrange con-
dutas convencionalmente defi nidas como infrações por determinada socieda-
de, o que não necessariamente vale para outro grupo social. Exemplo disso é 
“o aborto, tipifi cado como crime no Brasil, é tolerado na maior parte da Europa” 
(OLIVEIRA, 2021, p. 42).
É possível entender o conceito de crime, principal objeto de análiseda Es-
cola Clássica, a partir de diferentes perspectivas teóricas, como as fornecidas 
pelo Direito Penal (lesão ou ameaça de lesão a bem jurídico; conduta assim de-
fi nida em lei; ou toda conduta típica, ilícita e culpável), pela sociologia criminal 
(desvio/violação de padrão de comportamento social) e pela fi losofi a (ideias 
de razão e moral). A criminologia optou por entender o crime como problema 
social reiterado e de relevância social que requer uma maior aproximação à 
realidade do fenômeno criminal ao ser abordado, considerando não só o início 
dos atos executórios (como estabelecido pelo Direito Penal), mas, mesmo an-
tes disso, também a dinâmica do delito e eventuais alternativas de intervenção 
no processo para se alcançar a dissuasão (OLIVEIRA, 2021, p. 42). Assim, o cri-
me, para a criminologia moderna, refere-se a fato afl itivo (causa dor à vítima e 
à sociedade) e de incidência massiva na população (é algo reiterado), que apre-
senta, além de uma persistência espaço-temporal (por se distribuir por todo 
o território e ao longo de um tempo juridicamente relevante), um inequívoco 
consenso a respeito de suas causas e das técnicas de intervenção mais efi cazes 
para seu enfrentamento, bem como uma consciência generalizada sobre sua 
negatividade (VIANA, 2018, p. 154).
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O criminoso passou a ganhar ênfase como objeto de 
estudo da criminologia com a Escola Positivista, ante o 
argumento de que a sociedade precisava ser defendi-
da de sua ação e, para tanto, a compreensão dos moti-
vos que levam determinado indivíduo a se comportar de 
modo a violar a lei se fazia necessária. Obviamente houve 
variação de tal entendimento nas diferentes escolas criminológicas: 
para a Escola Clássica, o criminoso chegou a ser visto como um pecador 
que escolheu um comportamento voltado ao mal em vez do contrário, ao pas-
so que na Escola Positiva Italiana (positivismo antropológico) o delinquente era 
visto como um doente nato, nascendo, por vezes, criminoso (atavismo). Já na 
Escola Correcionalista, o criminoso era considerado uma pessoa inferior inca-
paz de governar a si próprio, que precisava de ajuda e que, por isso, deveria ter 
uma pena com função terapêutica e pedagógica por parte do Estado. A teoria, 
ou Escola Marxista, por sua vez, entendia o criminoso como uma vítima das 
estruturas econômicas, defendendo, por isso, uma mudança de sociedade. 
Atualmente, a criminologia moderna tende a examinar o delinquente como 
uma unidade biopsicossocial (deve ser analisado em suas interdependências 
sociais), e não mais como uma unidade biopsicopatológica, de modo que nessa 
perspectiva ele passa a ser uma pessoa normal que pode, por algum motivo, 
resolver descumprir as regras do jogo.
A vítima, elemento bastante complexo e antigo, passou por estágios de 
valorização, neutralização e revalorização ao longo da história. Houve a auto-
tutela vista nos primórdios da civilização até o fim da Alta Idade Média, com 
a Lei de Talião, consistente na reciprocidade entre crime e retaliação (direito 
de ação na devida proporção da agressão, podendo a vítima resolver seu pro-
blema com o agressor infligindo a esse um castigo na mesma medida do mal 
sofrido). Porém, com o surgimento do Estado e do processo inquisitivo, este 
assumiu o monopólio da jurisdição e a responsabilidade por decidir conflitos 
entre vítima e agressor, não cabendo mais a vítima tal papel (neutralização).
Os estudos criminológicos da vítima surgem logo após a Segunda Guerra 
Mundial, resultado da necessidade de proteger os vulneráveis ante a percep-
ção do sofrimento e das atrocidades impostos pelos nazistas. Com o avanço 
da psicologia social, advém, no século XX, a vitimologia, “com o propósito de 
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estudar o seu papel no episódio danoso, bem como seu modo de participa-
ção e contribuição na ocorrência do delito” (OLIVEIRA, 2021, p. 45). Atualmente, 
ante a maior preocupação com a vítima, foram criados alguns institutos, como 
o arrependimento posterior, a composição civil de danos – Lei nº 9.099/95 – e 
a injusta provocação da vítima, bem como a legislação de proteção à vítima, 
como a Lei nº 13.431/2017 (garantias de direito à criança e adolescente vítima ou 
testemunha de inquérito policial e processo criminal), a Lei nº 11.340/2006 (Lei 
Maria da Penha), a Lei nº 10.741/2003 (Estatuto do Idoso) e a Lei nº 8.069/1990 
(Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA), com consequente revalorização 
da vítima no direito e processo penal.
Diante do destaque atual dada ao papel da vítima na estrutura do delito, 
ressalta-se a ideia de estágios de vitimização em questões criminológicas da 
vitimologia, a saber:
• Vitimização primária: relacionada ao indivíduo atingido diretamente 
pelo crime;
• Vitimização secundária: consequência das relações entre vítimas primá-
rias e Estado, em face da burocratização de seu aparelho repressivo;
• Vitimização terciária: situação em que a vítima acaba abandonada pelo 
Estado e estigmatizada pela comunidade (a vítima do delito arca, ao mesmo 
tempo, com o desamparo e o julgamento estatal e social).
O último elemento objeto da criminologia é o controle social, que se refere 
“aos meios adotados pela sociedade para fazer com que o indivíduo observe os 
padrões de comportamentos referentes aos valores predominantes, garantin-
do uma convivência harmoniosa e pacífica” (OLIVEIRA, 2021, p. 46). Trata-se de 
um conjunto de mecanismos, instituições, estratégias e sanções impostos pela 
sociedade via Estado, que visam submeter o indivíduo com comportamento 
desviante às normas de convivência social como modo de controle da crimina-
lidade, ora pela prevenção, ora pela punição.
Doutrinariamente, o controle social pode ser classificado com base em seu 
modo de manifestação:
• Controle social informal: mecanismos exercidos pela família, escola, reli-
gião, mídia, opinião pública etc., via regras sociais difundidas por tais instâncias e 
internalizadas pelo indivíduo ao longo de seu processo de socialização, o qual re-
cebe sanções caso não as cumpra, como estigma negativo, castigo em filhos etc.;
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• Controle social formal: mecanismos oficiais exercidos pelo Estado pela 
atuação subsidiária do sistema de justiça criminal (é a ultima ratio quando fa-
lhar o controle informal).
A dogmática penal, ao trabalhar o controle social, o faz a partir do preceito 
secundário da norma penal, não se preocupando como podem ser os anos de 
pena do condenado (ou seja, os tipos de atividade que podem ser desenvolvidas, 
o modo como o preso pode ser tratado ou mesmo como deve ocupar seu tempo). 
Por outro lado, a criminologia investiga o controle social de um modo mais profun-
do, analisando como o aparelho estatal deve atuar para fins de controle e combate 
da criminalidade, inclusive na aplicação efetiva das consequências jurídicas para 
aquele que praticar um comportamento transgressor. Nesse sentido, essa função 
de intervir na pessoa do infrator visa analisar o impacto real da pena em quem a 
cumpre, como também desenhar e avaliar diferentes modos de resposta ao crime; 
e conscientizar a sociedade que o crime é um problema de todos.
Aliás, a avaliação dos meios de enfrentamento do crime se baseia em mo-
delos de reação ao delito que podem ser conciliáveis, a saber:
• Modelo clássico/dissuasório/retributivo: pena de caráter retributivo, 
com rápida aplicação do castigo pelo Estado para reduzir a criminalidade, de-
vendo, por isso, ser intimidatória e proporcional ao dano causado, sem que 
necessariamente haja preocupação com a ressocialização do condenado ou 
com a reparação dos danos;
•Modelo ressocializador: pena de caráter utilitário e fim de prevenção es-
pecial positiva (evitar a reincidência), destinando-se à reeducação do conde-
nado para sua reintegração social, não se restringindo à retribuição pelo mal 
causado;
• Modelo restaurador/integrador/consensual/de justiça restaurativa: 
visa a reparação do dano à vítima ou a restauração do status quo antes da prática 
do delito, com possibilidade de resolução pacífica de conflitos mediante a com-
posição de interesses entre as partes envolvidas por acordo, transação, concilia-
ção e mediação (flexibilização da atuação estatal), propiciando, segundo Oliveira 
(2021, p. 176), a restauração do controle social abalado, a assistência ao ofendido 
e a recuperação do delinquente (a aplicação desse modelo não é admitida em to-
dos os crimes indistintamente, como naqueles previstos na Lei Maria da Penha, 
que são mais graves e, por isso, exigem rigor na aplicação de penas).
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Por fi m, entre os métodos/instrumentos científi cos de que a criminologia 
se vale para a compreensão do fenômeno criminal, tem-se o empirismo e a 
interdisciplinaridade. O método empírico/experimental/indutivo parte da 
análise dos fatos da realidade, do mundo do ser para, então, 
chegar à regra. Já a interdisciplinaridade é a utilização de sa-
beres de diversos ramos científi cos (direito penal, fi losofi a, 
sociologia, psicologia, biologia etc.) para compreender a 
complexidade do fenômeno criminal.
O surgimento do saber do crime
Historicamente, analisa-se o desenvolvimento da criminologia a partir de 
uma classifi cação bipartida em fases. O período pré-científi co abrange a Anti-
guidade, momento em que a abordagem do crime é feita por diversos autores 
em textos esparsos até o século XIX. Houve, nessa fase, tanto o enfoque abs-
trato e dedutivo (grande importância às garantias penais e processuais, bem 
como à pena retributiva ao homem que rompe o contrato social e escolhe fazer 
o mal) como o empírico (infl uência do cientifi cismo e determinismo, visando 
traçar as relações de causalidade da criminalidade).
Quanto ao período científi co, há quatro correntes sobre seu marco inau-
gural. Parte majoritária da doutrina entende que se iniciou com a obra O ho-
mem e o delinquente (1876), de Cesare Lombroso, ligado à Escola Positivista Ita-
liana. Outra parte da doutrina, contudo, pontua que o termo criminologia foi 
utilizado pela primeira vez pelo antropólogo francês Paul Topinard, em 1879. 
Há ainda uma terceira corrente que apregoa que Raff aele Garofalo teria sido o 
responsável por compreender a criminologia como ciência voltada à crimina-
lidade, ao crime e à pena, tornando o termo título de livro científi co, em 1885. 
Em uma quarta perspectiva, a Escola Clássica (ou retribucionista) aponta as 
obras de Cesare Beccaria e Francesco Carrara (Programa de Direito Criminal, de 
1859) como marco inicial desse período. Shecaira (2014), por sua vez, defen-
de que há, entre os períodos pré-científi co e científi co, o semicientífi co, re-
lacionado a Lombroso (seu pensamento não estaria vinculado a um contexto 
propriamente científi co), de modo que somente com a Escola de Chicago teria 
surgido o momento científi co da criminologia.
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Considerando o contexto brasileiro, é a partir da obra Ensaios sobre Direito 
Penal (1884), de João Vieira de Araújo, que a criminologia se estabelece teori-
camente.
Período pré-científico
Na Antiguidade, havia uma total ausência de estudos sistematizados de da-
dos sobre a criminalidade coletados por um método rigoroso. Boa parte das 
explicações para o fenômeno criminal se baseava em fundamentos sobrena-
turais/religiosos, vistos, até então, como pecado. Nesse sentido, a partir do 
demonismo e da demonologia, atribuía-se uma personalidade maligna ao cri-
minoso, em especial aos doentes mentais, supostamente submetidos a uma 
espécie de possessão demoníaca. Tal crença, de tão arraigada, perdurou até a 
virada psiquiátrica de Pinel (VIANA, 2017, p. 27).
Alguns pensadores antigos contribuíram para a formação dos estudos cri-
minológicos, fornecendo as bases da noção de delito, suas causas e fi nalidades 
de sua punição. Protágoras (485-415 a.C.), por exemplo, discorreu sobre a pena 
como mecanismo de efeito preventivo de novas infrações, por servir de exem-
plo de punição para aqueles que insistissem em cometer crimes naquele grupo 
social. Sócrates (470-399 a.C.) enfatizou a ideia de ressocialização do criminoso. 
Já Hipócrates (460-355 a.C.), ao reconhecer que o indivíduo acometido por insa-
nidade mental não poderia ser responsabilizado penalmente, acabou por esta-
belecer as premissas da inimputabilidade penal. Isócrates (436-338 a.C.) lançou 
os fundamentos da coautoria, ao estabelecer que aquele que oculta o crime 
nele toma parte. Platão (427-347 a.C.) e Aristóteles (388-322 a.C.) pontuaram 
alguns dos possíveis fatores econômicos causadores da criminali-
dade, como a ganância e a cobiça (OLIVEIRA, 2021, p. 21). Também 
há disposições sobre julgamento e aplicação da pena no Código 
de Hamurabi, como a necessidade de maior severidade 
no julgamento dos ricos, ante sua “maior amplitude de 
oportunidades para aquisição de bens materiais e cul-
turais” (SUMARIVA, 2017, p. 36), e as penas aplicáveis 
aos alto escalão do funcionalismo público da época 
(OLIVEIRA, 2021, p. 21).
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Figura 1. O Código de Hamurabi é uma compilação de 282 leis (incluindo a Lei de Talião) decretadas por volta de 1772 
a.C. por Hamurabi, sexto rei da Babilônia (atual Iraque), e talhadas em escrita cuneiforme acádica em uma cópia (mo-
nólito de basalto e tabletes menores de barro) parcialmente preservada e exposta no Museu do Louvre. O 13º artigo foi 
omitido por superstições da época. Fonte: Wikimedia Commons, 2011. Foto: Shutruk Nahunte.
Na Idade Média, cuja ideologia cristã era predominante, o crime era visto 
como pecado, sendo o criminoso, portanto, um pecador (influência oriunda 
tanto da filosofia escolástica como da teologia). Havia também a inquisição das 
ordálias ou juízo de Deus para a produção de provas, o que pressupunha a in-
terpretação de elementos da natureza como meio de prova, com base no juízo 
divino sobre culpa ou inocência do acusado (OLIVEIRA, 2021, p. 22). Santo Agos-
tinho (354-430 d.C.), segundo Oliveira (2021, p. 22), “pregava a necessidade de 
se considerar a pena como medida de defesa social e como meio de promo-
ver a ressocialização do delinquente, sem olvidar de seu cunho intimidatório”, 
enquanto São Tomás de Aquino (1226-1274 d.C.) “apontava a pobreza como a 
grande causa do roubo”, justificando, em dada medida, o furto famélico, em 
um esboço da ideia de estado de necessidade como excludente de ilicitude. 
Aquino, ao apregoar que caberia a cada um o que é seu por critérios de igual-
dade, foi precursor da justiça distributiva.
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No Renascimento do século XVI, a obra Utopia (1516), de Thomas Morus, 
mostrou a origem da criminalidade (desorganização e desigualdade social e 
pobreza) (SUMARIVA, 2017, p. 36). Erasmo de Roterdam e Martinho Lutero dis-
cutiram, respectivamente, as causas do crime (pobreza) e as diferenças entre 
criminalidade urbana e rural.
Nos séculos XVII e XVIII, surgiram os penitenciaristas Jeremy Bentham (1748-
1832) e John Howard (1726-1790), preocupados com a reforma do delinquente 
pela melhoria nas condições na cadeia, algo que julgavam ser o fim prioritário 
da administração. Há ainda as contribuições de Montesquieu (1689-1755),Vol-
taire (1694-1778) e Rousseau (1712-1778), relativas, respectivamente, aos tipos 
de crimes existentes (ofensas à religião, aos costumes, à tranquilidade e à se-
gurança dos cidadãos); relativas à reforma do sistema carcerário e à utilidade 
da pena (com limitação da pena capital); e à ideia de que a propriedade privada 
ocasionaria o problema social da criminalidade.
No mesmo período, surgiram os fisionomistas. Della Porta (1535-1616) dedi-
cou-se à criação do retrato do criminoso, pressupondo que da aparência seria 
possível deduzir caracteres psíquicos. Joahnn Lavater (1741-1801) criou a pseu-
dociência cranioscopia/craniometria (estudo científico do cérebro que susten-
tava que, pela medição da cabeça e análise da forma externa do crânio, seria 
possível determinar a personalidade do indivíduo), que acabou sendo difundi-
da por Franz Joseph Gall (1758-1828) e John Gaspar Spurzhem (1776-1832). Para 
os fisionomistas, a aparência externa do indivíduo poderia estar relacionada 
ao seu corpo psíquico para identificar características físicas de índole crimino-
sa (estereótipo do criminoso). Nesse contexto, beleza e feiura eram reflexos 
da bondade e maldade/tendência ao crime, respectivamente (aliás, constata-
-se que, até hoje, essa ideia encontra ressonância na sociedade, como se pode 
observar no modo como se dão as blitzes policiais). Lavater concebeu, inclusi-
ve, a ideia de ‘homem de maldade natural’, com base na semelhança entre o 
comportamento humano e dos animais (OLIVEIRA, 2020, p. 22). Houve, ainda, 
o juízo de valor criado pelo juiz napolitano Marques de Mos-
cardi, denominado Édito de Valério (adotado pelo imperador 
romano Valério, no século IV), pelo qual, em caso de dúvida 
entre dois indivíduos presumivelmente culpados, deveria 
ser condenado o mais feio.
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Na sequência, surgiu a frenologia, precursora da neurofisiologia e neuropsi-
quiatria, voltada à análise interna da mente e da formação cerebral para identifi-
car a localização física de cada função anímica do cérebro, ao mesmo tempo em 
que relacionava o comportamento criminoso a más formações cerebrais. Franz 
J. Gall (1758-1828), médico alemão desenvolvedor dessa teoria, estudou as pro-
tuberâncias e depressões cranianas e suas relações com certos atos humanos, 
de modo que cada ponto do cérebro seria responsável por um tipo de crime. 
John G. Spurzhem (1776-1832), discípulo de Gall, dedicou-se a traçar uma carta 
cranioscópica, tomando o peso cerebral como medida para aferir a capacidade 
de intelecção. Benito Morel (1809-1873), por sua vez, associou a criminalidade à 
degeneração, sendo os tipos chinês e mongol tendentes ao delito. Também criou 
as figuras do degenerado e do tarado, que influenciaram Lombroso.
Ainda no século XVIII, o médico francês Phillips Pinel (1745-1826) desenvol-
veu a psiquiatria como ciência autônoma, rompendo com o pensamento de-
monológico de associar o doente mental à possessão pelo mal. Ele promoveu 
diagnósticos distinguindo os criminosos dos enfermos mentais, com substitui-
ção do castigo destes pelo tratamento médico (crime viria de sua degeneração/
regressão hereditária) (VIANA, 2017, p. 32)
Também nesse período surgiu a análise antropológica, variação da freno-
logia com menos questões médicas, defendendo que o criminoso seria uma 
variedade mórbida da espécie humana. Prostre Lucas (1805-1885) enunciou o 
conceito de atavismo (aquele ser que apresenta um retrocesso/regressão/in-
volução no processo evolutivo, ou resquícios de uma evolução mal concluída, 
enfatizando aspectos de hereditariedade e falhas genéticas). Cesare Lombroso 
(1835-1909) acrescentou, posteriormente, que o atavismo é característica dos 
criminosos. Por sua vez, Gaspar Virgílio (1836-1907) e Cuby y Soler (1801-1875) 
enunciaram o conceito de criminoso nato. Darwin (1809-1882) apregoou que o 
criminoso seria uma espécie atávica (ênfase ao legado hereditário).
A Escola Cartográfica precursora do positivismo sociológico e do método 
estatístico, considerava o delito um fenômeno coletivo, um fato social regu-
lar e ordinário, regido por leis naturais como qualquer outro acontecimento, 
devendo ser submetido a uma análise quantitativa, sendo a taxa de crimina-
lidade algo inexorável, como são as taxas de nascimento e falecimento, cuja 
tendência era se manter estável em determinado espaço. Burocrata belga, 
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principal representante dessa escola, Adolphe Quetelet (1796-1874), criador da 
fi gura do homem médio (parâmetro preditivo do comportamento adotado por 
uma pessoa com conhecimentos razoáveis e proporcionais), realizava estudos 
estatísticos criminais (mapeamento dos crimes) para identifi car regras, tendo 
ainda enunciado os postulados das relações constantes entre a criminalidade 
real, a aparente e a legal. Ele criou a cifra negra, ao apontar que existe uma 
relação invariável entre os delitos conhecidos e julgados e os delitos desconhe-
cidos por não serem comunicados. Ademais, foi responsável pela teoria das 
leis térmicas, na qual associou determinados tipos de delito às estações do 
ano, de modo que, no inverno, haveria mais crimes patrimoniais; no verão, os 
crimes contra a pessoa seriam mais comuns; e, na primavera, emergiriam os 
crimes contra a dignidade sexual (justifi cava-se também haver mais homicídios 
em área mediterrânea do que em uma continental pela maior temperatura). 
Ademais, era prática comum dos teóricos da Escola a utilização da estatística 
moral, em que variáveis eram utilizadas para elaborar meios que previssem a 
taxa de criminalidade.
No fi m do século XVIII, surgiu, com o Iluminismo, a Escola Clássica, em que 
houve a “adoção do método lógico-abstrato e dedutivo, baseado no silogismo, 
e [...] a fundamentação da responsabilidade penal no livre-arbítrio” (OLIVEIRA, 
2021, p. 23). Representam-na Cesare Beccaria, Francesco Carrara e Giovanni 
Carmignani.
Período científico
No século XIX, houve com a emergência de um ambiente cientifi cista, o 
abandono do método abstrato e dedutivo do silogismo clássico em favor do 
método empírico, experimental ou indutivo de estudo, um deliberado movi-
mento para o campo concreto de verifi cação prática do crime e do criminoso. 
Nesse ambiente surgiu, então, o positivismo criminológico da Escola Positiva 
Italiana, inspirado pela fi sionomia e frenologia, defendendo a necessidade de 
investigar as causas da criminalidade para diminui-la e garantir a defesa social, 
sendo o delinquente alguém de periculosidade, mas não culpável.
Cesare Lombroso, autor da obra O homem delinquente, de 1876, conside-
rada pela doutrina majoritária a responsável pelo nascimento da criminologia 
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científica, representou a vertente antropológica, antropobiológca ou correcio-
nalista da Escola Positiva, em que “procurou explicar o fenômeno criminal em-
piricamente a partir de fatores biológicos, valendo-se de dados estatísticos” 
(OLIVEIRA, 2021, p. 81). Criador da antropologia criminal, defendeu o determi-
nismo biológico na seara penal, criando a imagem do criminoso como alguém 
fraco e incapaz de resistir às tentações do mundo.
Enrico Ferri (1856-1929), autor de Sociologia criminal (1914), liderou a verten-
te sociológica da Escola Positiva. Defensor das penas individualizadas em vista 
do homem concreto e do determinismo social no âmbito penal, entendeu o 
crime “como um fenômeno social determinado por causas naturais” (OLIVEIRA, 
2021, p. 25). Já Raffaele Garofalo (1851-1934), expoente da vertente jurídica 
da Escola Positiva, diferenciou os delitos legais dos naturais (nestes, a conduta 
seria criminosa em qualquer tempoou lugar, por violação de sentimentos al-
truístas que se encontram como medida em toda sociedade).
Também no século XIX, a Escola Francesa de Lyon (sociologia criminal), 
sob influência de Auguste Comte (1789-1857) ligado ao positivismo e à socio-
logia moderna, analisou o crime como um fenômeno social a ser compreen-
dido com base no modo como os fatores do meio ambiente social (exógenos) 
atuam na conduta individual. Alexandre Lacassagne (1843-1924), fundador 
da Escola de Lyon, opôs-se a Lombroso ao defender que, embora o delin-
quente apresente um aspecto patológico e uma predisposição pessoal laten-
te (anomalias físicas e psíquicas) para a delinquência, ela somente emerge a 
partir de sua interação com o meio social. Durkheim (1858-1917), por sua vez, 
defendia que o crime nada mais era do que um fenômeno social ordinário, 
“desde que observado o limite estabelecido para cada tipo social” (OLIVEIRA, 
2021, p. 27), uma característica que acompanha a sociedade de modo genera-
lizado, em nada relacionado a doenças. Já Jean-Gabriel de Tarde (1843-1904), 
também crítico a Lombroso, analisava o crime sob a perspectiva da teoria da 
aprendizagem baseada na imitação (contato social deletério) e transmissão 
por gerações, além de outros condicionantes sociais.
No fim do século XIX, surgiu a criminologia socialista em sentido amplo, 
sob influência de Karl Marx (1818-1883) e Friederich Engels (1820-1895), com-
preendendo a criminalidade como fruto da sociedade capitalista, de modo que 
sua eventual redução ou desaparecimento poderia ocorrer com a instauração 
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do socialismo. Em 1882, surgiu a antropometria criminal ou bertillonagem, 
criada por Alphonse Bertillon (1853-1914), “consistente na técnica de identifica-
ção de criminosos pelo registro de suas medidas e marcas corporais, como ta-
tuagens, cicatrizes, sinais de nascença etc.”, tendo também concebido o assina-
lamento antropométrico e a fotografia judiciária (OLIVEIRA, 2021, p. 27). Por fim, 
houve, em 1904, a demonstração científica do sistema dadiloscópico de identifi-
cação, por Juan Vucetich (1858-1925), superando, assim, a técnica anterior.
No século XX, houve a emergência das escolas ecléticas/intermediárias, 
com gradual abandono do antropologismo lombrosiano e a adoção de teo-
rias de teor psicológico, psicanalítico e psiquiátrico, que defendiam que o 
crime ocorria por fatores endógenos e exógenos, com preponderância do 
primeiro, procurando conciliar, em certa medida, os preceitos das escolas 
clássica e positiva. A Escola Crítica ou Terza Scuola italiana, por exemplo, 
marcou o início do positivismo crítico, tendo como principais defensores 
Bernardino Alimena, Giuseppe Impallomeni e Manuel Carnevale. Nes-
sa corrente, o crime é um fenômeno ao mesmo tempo individual e social, 
fundamentando a pena, de caráter aflitivo, na responsabilidade moral do 
deliquente (determinismo psicológico), o que leva à distinção entre os im-
putáveis e os inimputáveis (SUMARIVA, 2017, p. 47). Acreditava, ainda, que o 
controle da criminalidade dependia de uma reforma social.
Por sua vez, a Escola Técnico-Jurídica (1905), representada por Arturo Roc-
co, Manzini, Massari, Detiala, Cicala, Vanini e Conti e reagindo à Escola Positiva, 
destacou o crime como uma relação jurídica de conteúdo individual e social, e 
a pena como consequência/reação ao crime, com responsabilização moral do 
criminoso imputável (livre vontade presente) para prevenção geral e específica 
(OLIVEIRA, 2021, p. 91).
A Escola de Marburgo (Escola Sociológica Alemã, Escola Moderna, Nova 
Escola ou Escola de Política Criminal), defendida por Franz von Liszt (1851-
1919), tentou, por um ecletismo metodológico (antropologia, psicologia e 
estatística criminal), criar uma ciência global do Direito Penal. O delito era 
visto como um fenômeno humano-social e um fato jurídico ao mesmo tem-
po, de sorte que a criminalidade deveria ser enfrentada por meio de uma 
investigação sociológica sobre o delito combinada com um estudo dogmá-
tico. Substituiu a pena retributiva pela pena finalista, ou seja, aquela que, 
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vinculada à culpabilidade do imputável (em relação aos inimputáveis, havia 
apenas a medida de segurança) é dirigida à manutenção da ordem jurídi-
ca, do Estado e da proteção coletiva, valendo-se da prevenção especial via 
conversão do criminoso em membro útil à sociedade (adaptação artificial) 
ou sua retirada do convívio social (inocuização) (OLIVEIRA, 2021, p. 92). Para 
tanto, considerava uma classificação especial dos criminosos, influente até 
hoje: delinquente ocasional, corrigível ou habitual, cada qual com uma pena 
voltada a um fim específico (recordação, ressocialização, inocuização) com 
aplicação nos momentos de sua cominação (advertência e intimidação) e 
execução. Pela falta de finalidade das penas de curta duração, essa Escola 
recomendava sua eliminação ou substituição.
A Escola Correcionalista surgiu com a publicação, em 1839, da obra de 
Cárlos D. A. Röder (seu defensor na Alemanha). Röder via a aplicação da pena 
como uma oportunidade de correção moral do delinquente. Mais aceito na Es-
panha, com a obra de Francisco G. de los Ríos, o correcionalismo teve como re-
presentantes, nesse país, Pedro G. D. Montero (1861-1919) e Concepción Arenal 
(1821-1893). A Escola acreditava que a pena deveria ser correcional, isto é, de-
veria ter o caráter pedagógico de correção/recuperação do indivíduo, adaptan-
do-o à sociedade para que não reincidisse no delito (LIMA JÚNIOR, 2017, p. 94). 
Deveria funcionar, portanto, como um remédio social, de duração indetermi-
nada e constantemente adaptado ao estágio do indivíduo na execução penal, 
sendo o juiz um médico atuando em prol do saneamento e profilaxia social e 
o criminoso um portador de patologia de desvio social (OLIVEIRA, 2021, p. 96).
Quanto à Escola da Nova Defesa Social, do pós-Segunda Guerra Mundial, 
Adolphe Prins (1835-1919) elaborou o conceito de defesa social e concebeu o 
direto penal humanista (pena estabelecida conforme a periculosidade do cri-
minoso), criado durante o Iluminismo. Além de Prins, houve outros defensores 
da Escola, como Filippo Gramatica (1901-1979), que desenvolveu a doutrina da 
defesa social radical (abolição do Direito Penal, com suas penas e medidas 
de segurança, e implementação de um direito de defesa da sociedade, com 
medidas de defesa social aplicadas antes ou depois do crime para precaução 
deste e cura/adaptação do indivíduo às normas), e Marc Anselm (1902-1990), 
que acreditava na combinação do Direito Penal, da criminologia e da ciência 
penitenciária para a defesa da sociedade (SUMARIVA, 207, p. 48), com medidas 
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de defesa aplicadas, inclusive, a quem estivesse na eminência de praticar o 
crime (LIMA JÚNIOR, 2017, p. 217). Essa Escola defendia, portanto, a moderni-
zação e humanização do direito por meio de uma proteção da sociedade que 
respeitasse os direitos dos criminosos, substituindo o sistema repressivo pelo 
preventivo, voltado à ressocialização.
O movimento psicossociológico, cujo expoente foi Gabriel Tarde (1843-
1904), apregoava a “preponderância dos fatores sociais sobre os fatores físicos 
e biológicos na criminalidade”, em clara oposição à Escola Positiva e seu deter-
minismo biológico e social (OLIVEIRA, 2021, p. 99). Tarde concebeu a lei da imi-
tação/integração social, segundo a qual o “crime, como todo comportamento 
social, seria inventado, repetido, conflitado e adaptado” (SUMARIVA, 201, p. 48), 
de modo que a prática criminosa seria consciente ou inconscientemente imita-
da pela aprendizagem (delinquente visto comoreceptor passivo dos impulsos 
delitivos). Além disso, esse movimento influenciou a teoria da associação di-
ferencial, difundida por Sutherland, por volta de 1924.
O movimento lei e ordem, representado pelo alemão Ralf Dahrendorf 
(1929-2009), trazia o direito penal máximo, ou seja, “a expansão das normas 
incriminadoras e a exasperação do rigor das sanções penais como forma 
de combate eficaz ao fenômeno criminal” (OLIVEIRA, 2021, p. 100), de modo 
que a pena, enquanto castigo, seria tanto mais severa quanto mais grave 
fosse o delito, devendo ser cumprida em estabelecimentos penitenciários 
de segurança máxima em caso de crimes praticados com violência. Ade-
mais, defendia a expansão da prisão provisória e o tratamento do crimi-
noso como inimigo do Estado (manifestação do Direito Penal do Inimigo). 
São exemplos desse movimento a política de Tolerância Zero, nos Estados 
Unidos, em 1991, e a Lei de Crimes Hediondos brasileira (Lei nº 8.072/90), 
com recrudescimentos do regime de cumprimento de pena para tais crimes 
e a prisão cautelar servindo de pena de fato.
Concluindo nosso percurso pelo período científico da criminologia, tem-se 
a sociologia criminal norte-americana, do pós-Primeira Guerra Mundial, sob in-
fluência de Sutherland e Sellin, de natureza prática e sociológica. Também hou-
ve a criminologia socialista em sentido estrito, para o estudo da etiologia do 
crime em países socialistas, com base nos princípios do marxismo-leninismo 
(OLIVEIRA, 2021, p. 28).
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Escola Clássica e Escola Positiva
As Escolas Clássica e Positiva da 
criminologia partiram de alguns mo-
delos teóricos subjacentes. Na Es-
cola Clássica, destacavam-se a crimi-
nologia clássica e a neoclássica, que 
sustentavam que os meios de preven-
ção do delito (dissuasão) precisam ter 
natureza penal, consubstanciados em 
seu efeito inibitório. Contudo, o mo-
delo teórico clássico entendia que tal 
prevenção devia se centrar no rigor da pena, ao passo que o neoclássico pre-
conizava a prevenção do crime a partir do correto funcionamento do sistema 
legal e no modo como era percebido pelo delinquente (ou seja, com ênfase 
no retorno proporcionado pela aplicação da pena). De acordo com Oliveira 
(2021, p. 71), “em uma visão reducionista, encara o delito como enfrentamento 
do delinquente, não havendo uma preocupação com a reparação do dano e a 
socialização do infrator”. Quanto ao modelo da Escola Positiva, verifi cou-se o 
método empírico da criminologia positivista, no qual o criminoso era anali-
sado pela observação e experimentação, sendo identifi cado a partir de certas 
características físicas, psicológicas e sociais, em uma tentativa de associá-las a 
uma predisposição à prática de crimes (determinismo do fenômeno criminal).
CURIOSIDADE
A criminologia contemporânea é um terceiro modelo teórico em que são 
analisadas as causas, características, formas de prevenção e controle 
de incidência do delito enquanto fenômeno individual e social, de cará-
ter humano e confl itivo. Há ênfase nos modos de reação social ao crime, 
na análise deste, do criminoso e da vítima, visando à intervenção no 
delinquente, com sua ressocialização, reparação do dano e prevenção 
da criminalidade.
Cabe pontuar que as Escolas Clássica e Positiva foram as únicas com po-
sições extremas e fi losofi camente bem defi nidas, de sorte que nas correntes 
subsequentes se procurou conciliar os postulados das escolas antecedentes.
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Escola Clássica ou Retribucionista
Inspirando-se no movimento iluminista, surgiu, no fi m do século XVIII, a 
Escola Clássica ou Retribucionista, que, em oposição direta ao antigo regime 
absolutista, buscou garantir direitos individuais ao limitar o poder punitivo 
do Estado. Sendo ela a última manifestação do período pré-científi co da crimi-
nologia, estudava o crime e a pena como entidades jurídicas abstratas, utilizan-
do-se do método lógico-abstrato/dedutivo, em que a partir de um princípio 
geral são extraídas algumas consequências lógicas.
A punibilidade do indivíduo pressupunha seu livre-arbítrio e sua autode-
terminação, em um contexto de observância da ordem jurídica e moral esta-
belecida via contrato social. Desse modo, o “indivíduo, signatário do contrato 
social e dotado de livre arbítrio, ao descumprir a lei, de forma livre e consciente, 
sujeita-se a uma pena como resposta objetiva à prática do delito e como forma 
de restabelecimento da ordem jurídica violada” (OLIVEIRA, 2021, p. 75). Res-
saltou-se o caráter retribucionista e dissuasório da pena, devendo ser uma 
resposta certa, previamente estabelecida em lei e proporcional ao crime prati-
cado (Estado retribuindo o mal praticado na mesma medida), o que evidenciou 
seu fi m de punição e intimidação geral, sem preocupação com ressocialização 
e reparação do dano. Entre os principais teóricos da Escola Clássica, desta-
cou-se Francesco Carrara, Cesare Bonesana (Beccaria), Jean D. Romagnosi, Je-
remias Bentham, Franz J. Gall, Anselmo von Feuberbach, Giovanni Carmignani, 
Pelegrino Rossi, Emílio Brisa e Enrico Pessina.
Autor da obra Dos delitos e das penas (1764), Cesare Bonesana, o Marquês de 
Beccaria, foi defensor da restrição do poder estatal de punir e da humanização 
da punição. Segundo Sumariva (2017, p. 39), Beccaria estabeleceu os princípios 
da legalidade e da anterioridade da lei, devendo ser clara, simples e capaz 
de causar temor, sem favorecer determinadas classes em detrimento de ou-
tras. Também apregoava a proporcionalidade e a fi nalidade preventiva da pena 
(para evitar a reincidência), com vedação à tortura, bem como a existência de 
uma justiça livre de corrupção, que priorizasse o princípio da inocência e fosse 
capaz de propiciar um julgamento por autoridade judicial, com garantia de si-
gilo das acusações e da prisão preventiva como medida cautelar. Viana (2017, 
p. 38-39) acrescenta que Beccaria entendia como meios possíveis de evitar a 
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criminalidade tanto o aperfeiçoamento da educação como a recompensa da 
virtude, devendo a pena de morte, em regra, ser proibida, salvo em caso de 
instabilidade política ou turbulência social, no interesse da segurança da na-
ção ou, ainda, quando fosse o único modo de dissuadir os demais cidadãos da 
prática de crimes.
Figura 2. Cesare Bonesana, o Marquês de Beccaria, aristocrata milanês representante da Escola Clássica. Apresentou 
as bases do Direito Penal moderno: igualdade perante a lei, abolição da pena de morte e da tortura para obtenção de 
provas e instauração de julgamentos públicos e céleres. Fonte: Wikimedia Commons. Acesso em: 08/03/2021.
Francesco Carrara concebeu o delito como ente jurídico, ou seja, o crime, 
mais do que ser um mero fato ou ação, enseja uma relação contraditória entre 
a lei e o comportamento humano (VIANA, 2017, p. 42). Assim, a figura da infra-
ção seria composta, de um lado, por uma força física e o dano causado pelo 
crime e, de outro, por uma força moral, oriunda da vontade livre e consciente 
do delinquente (GAMBOA, 2015, p. 18).
Por fim, há o legado da Escola Retribucionista à dogmática penal contem-
porânea: a exigibilidade de conduta diversa, situação em que embora haja 
a possibilidade concreta de comportamento conforme o direito, o indivíduo 
opte, no exercício de seu livre-arbítrio, por violar a lei, o que configuraria sua 
culpabilidade (VIANA, 2017, p.44-46).
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Escola Positiva
A Escola Positiva surgiu no século XIX, havendo, a partir de 1827, a publica-
ção dos primeiros dados estatísticossobre a criminalidade, conferindo cienti-
fi cidade aos estudos criminológicos. Em 1876, contudo, com a publicação de O 
homem delinquente, de Cesare Lombroso, surgia para a doutrina majoritária a 
criminologia científi ca.
Para a Escola Positiva, o crime era um fenômeno natural e social, cuja causa 
era determinada por fatores biológicos, físicos e sociais. Diante desse panorama, 
a criminologia deveria ser um modelo integrado de ciências penais, de natureza 
causal-explicativa, para informar o Direito Penal (SUMARIVA, 2017, p. 42), utili-
zando-se, para tanto, do método empírico-indutivo, indutivo-experimental 
ou indutivo-quantitativo, em que a partir da análise de dados e fatos particula-
res, buscar-se-ia uma proposição científi ca geral e explicativa das causas do deli-
to, bem como o estabelecimento de modos de reação a ele em defesa do corpo 
social. Nesse contexto, o criminoso era visto como uma peça-chave do centro 
das análises, as quais buscavam identifi car nele traços vinculados à criminalida-
de (determinismo) e, com isso, negava-lhe o livre arbítrio. A fi nalidade da pena 
passou, então, a ser a prevenção especial (afastamento do caráter retribucionis-
ta conferido pela Escola Clássica), de modo que pudesse servir de instrumento 
de defesa social em função da periculosidade do agente.
Destaca-se que a Escola Positiva, de acordo com a doutrina, costuma ser 
classifi cada em três vertentes, a saber:
1) antropológica ou antropobiológica: representada por Cesare 
Lombroso (1835-1909), com a obra O homem delinquente (1876), o 
qual procurou explicar o fenômeno criminal empiricamente a partir 
de fatores biológicos, valendo-se de dados estatísticos; 2) sociológi-
ca: liderada por Enrico Ferri (1856-1929), autor de Sociologia Crimina-
le; e 3) jurídica: tem como principal expoente Rafaelle Garofalo (1852-
1934), com a obra Criminologia, de 1885 (OLIVEIRA, 2021, p. 81).
Dentre os principais autores da Escola Positiva, Cesare Lombroso, responsá-
vel pela criação da antropologia criminal e defensor do determinismo biológico, 
foi considerado pai da criminologia. Sob infl uência da fi sionomia e da frenologia, 
e utilizando-se do método empírico em suas investigações, desenvolveu o con-
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ceito de “criminoso nato a partir do estudo da anatomia dos criminosos e da 
identifi cação de seus traços atávicos simiescos (reprodução de características 
do homem primitivo e de animais inferiores), o que explicaria seu comporta-
mento selvagem” (OLIVEIRA, 2021, p. 84). Desse modo, o crime era predominan-
temente um fenômeno biológico (embora tenha reconhecido, posteriormente, 
a infl uência de causas sociais exógenas na criminalidade como desencadeado-
ras de fatores clínicos), de sorte que certas pessoas estariam mais propensas à 
delinquência ante suas características físicas e psíquicas (anomalia, doenças e 
estigmas de origem atávica ou degenerativa). Nas obras La donna delinquente e 
La prostituta e la donna normale (1895), escritas em coautoria com Guglielmo Fer-
rero (1871-1942), equiparou a prostituição feminina à criminalidade masculina. 
Além do criminoso nato (portador de uma degeneração incurável dos centros 
nervosos que produz uma condição de anormalidade caracterizada por cer-
tas feições/fi sionomia típica e traços anímicos), Lombroso também classifi cava 
o delinquente em louco (portador de anomalia ou patologia mental adquirida 
ou manifestada tardiamente), passional (agia pela emoção) e ocasional (leva-
do a cometer o crime por circunstâncias). Ressalta-se que, mesmo atualmente, 
as concepções lombrosianas permanecem arraigadas no consciente coletivo, 
ante ao julgamento preconceituoso baseado na aparência física de certos grupos 
sociais (“é comum a seletividade de pessoas negras e pobres em buscas pessoais 
realizadas em blitz policiais, com base no vago conceito de “fundada suspeita”, 
previsto no art. 240, §2º, do Código Processual Penal” (OLIVEIRA, 2021, p. 84-85)).
Figura 3. Cesare Lombroso, médico italiano, defendia que o crime tinha caráter hereditário e regressivo a estágios pri-
mitivos, sendo inaceitável socialmente (por isso era favorável à pena de morte e à prisão perpétua). Fonte: Wikimedia 
Commons. Acesso em: 08/03/2021.
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Enrico Ferri, defensor do determinismo social, apontava os fatores antropo-
lógicos, sociais e físicos/telúricos (isto é, fatores advindos do solo e da natureza, 
como clima, temperatura, estações do ano etc.) como as causas do delito, de modo 
que o homem só cometeria crimes por viver em sociedade. Reconheceu, portanto, 
uma responsabilidade social na criminalidade, voltando sua preocupação não só 
ao fator individual. Descartou, desse modo, a tese de que o delito seria produto da 
escolha do delinquente (negativa do livre-árbitro), o que afasta, sua responsabiliza-
ção moral pela conduta criminosa praticada. É, nesse contexto, que Ferri concebeu 
a chamada Lei de Saturação Criminal, a qual apregoa que determinados crimes 
“seriam produzidos em dadas condições sociais e, em circunstâncias excepcionais 
do meio social, poderia haver um incremento nas taxas de criminalidade”, a cha-
mada sobressaturação criminal (OLIVEIRA, 2021, p. 86). Ademais, Ferri preconizou 
a neutralização do criminoso pela sua segregação do convívio social via pena como 
modo de defesa da sociedade. A teoria dos substitutivos, por sua vez, tinha como 
fundamento a ideia de que o enfrentamento da criminalidade deveria priorizar os 
meios preventivos, adotando-se medidas de natureza diversa (econômica, política, 
científica, religiosa, educativa etc.) (VIANA, 2017, p. 69). Cabe ressaltar ainda que, a 
expressão criminoso nato foi preconizada por Ferri, não por Lombroso, tendo a uti-
lizado em sua obra Os criminosos na arte e na literatura, de 1881. Por fim, classificou 
os criminosos em natos, loucos, passionais, ocasionais e habituais.
Por derradeiro, tem-se o terceiro e último principal nome da Escola Positivista, 
o jurista e ministro da Corte de Apelação de Nápoles Raffaele Garofalo, respon-
sável pela criação do termo criminologia para se referir à ciência de estudo da 
criminalidade e da pena. Garofalo apregoava que o crime era, na verdade, um sin-
toma advindo de uma anomalia moral ou psíquica situada na natureza degenera-
da do indivíduo, entendimento esse que deu origem aos conceitos de temibilidade 
e periculosidade. Nesse contexto, e considerando a necessidade de tratamento 
médico do delinquente, trouxe à tona, como nova modalidade de intervenção pe-
nal, a medida de segurança, além da ideia de prevenção especial como fim da 
pena. Nápoles acreditava na aplicação de penas severas (incluindo a de morte) e 
no dever do delinquente de indenizar tanto o Estado como a vítima, como mo-
dos de combate à criminalidade. Ademais, Garofalo distinguiu os delitos em legais 
(condutas cuja tipificação poderia variar a depender da localidade e da vontade 
política, por não serem ofensivos ao senso comum de moralidade, como nos cri-
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mes contra a ordem tributária) e naturais (comportamentos cuja tipifi -
cação independe da época ou da localidade, já que violam tal senso, 
como no delito de homicídio). Também propôs uma classifi cação 
dos criminosos, mas dessa vez em assassinos, violentos (enérgicos), 
ladrões (neurastênicos) e lascivos (simples) (OLIVEIRA, 2021, p. 87).
O desenvolvimento da sociologia criminal: Escola de 
Chicago e teoria da anomia
A sociologia criminal é a ciência que explica a correlação crime-sociedade 
com base na teoria macrossociológica, que pressupõe o entendimento da cri-
minalidade como um fenômeno oriundo do modelode vida em sociedade, de-
vendo ser analisada a partir das causas e reações sociais que suscita, a despei-
to de questões biológicas e patologias individuais. As escolas científi cas desse 
período podem ser subdivididas em teorias do consenso/integração (Escola 
de Chicago, teoria da subcultura delinquente, teoria da anomia e teoria da as-
sociação diferencial) e teorias do dissenso ou do confl ito (Labelling Approach/
teoria do etiquetamento ou da rotulação social e teoria crítica ou radical), de 
modo que cada uma delas lida com o enfrentamento do confl ito advindo da cri-
minalidade a partir de uma determinada perspectiva a respeito da sociedade.
As teorias do consenso, de caráter funcionalista e conservador/tradicional, 
acreditam que o funcionamento harmônico da sociedade depende do respeito 
consensual de seus membros às normas impostas por suas instituições, con-
vivendo entre si a partir do compartilhamento de regras em comum (há uma 
estruturação social baseada em elementos estáveis, integrados, funcionais e 
perenes consensualmente aceitos), de modo que a análise do crime se centra 
em suas causas e consequências.
Lado outro, as teorias do confl ito, mais progressistas e críticas, apregoam 
que a harmonia/pacifi cação social só é atingida via controle social, com uso de 
força e coerção do Estado para que haja a imposição da ordem e o cumprimen-
to de regras impostas pelo poder vigente, pois ante a luta permanente entre 
dominantes e dominados pelo poder, não há voluntariedade para que ocorra 
tal pacifi cação (querem, antes, a dissolução das condições que não os favore-
çam, sujeitando a sociedade a mudanças contínuas).
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Pelo exposto, vê-se que enquanto as teorias do consenso entendem que 
o ataque a uma mera falha pontual no sistema, passível de ser corrigida, seja 
sufi ciente para lidar com o problema da criminalidade, sem a necessidade de 
corrigir a sociedade como um todo (por si só, bem organizada e articulada), as 
teorias do confl ito acreditam que a própria sociedade é confl ituosa, não sendo 
possível atacar a criminalidade sem alterar o funcionamento da estrutura so-
cial, atingida pelo estudo aprofundado do delito.
Escola de Chicago
A Escola de Chicago, ou da ecologia criminal, fundamentada nas teorias do 
consenso, surgiu nas décadas de 1920 e 1930, no Departamento de Sociologia 
da Universidade de Chicago, a partir dos estudos sobre a sociologia das grandes 
cidades da época, que correlacionavam as causas do crescente número de deli-
tos vistos em Chicago às infl uências sociais do desenvolvimento de seu entorno 
urbano industrial. Para Sumariva (2017, p. 66), houve nesse desenvolvimento 
uma mutação das grandes cidades, com aumento populacional acompanhado 
de incremento nos índices de criminalidade local, o que levou à necessidade de 
se conhecer os mecanismos de aprendizagem e a transmissão das culturas des-
viadas que mantinham alguma relação com a criminalidade.
Tendo por base a antropologia urbana e lançando mão de uma perspectiva 
transdisciplinar, a Escola de Chicago se propôs a investigar empiricamente em 
que medida a conduta criminosa poderia ser infl uenciada pelo ambiente circun-
dante, com vistas a obter um diagnóstico confi ável sobre os problemas sociais 
emergentes da realidade norte-americana da época. Nesse momento, portanto, 
foi delineada uma relação entre o crescimento populacional e o aumento da cri-
minalidade nas cidades, de sorte que os seguidores dessa escola propuseram, 
enfi m, a tese de que a cidade produzia a delinquência (em última análise, o au-
mento populacional acabava levando a um aumento da criminalidade). Assim, 
segundo Oliveira (2021, p. 109), as ações interventivas na cidade, de cunho pre-
ventivo (com consequente redução da repressão), além de planejadas e limita-
das previamente a um certo espaço, deveriam contar com a participação dos 
membros da sociedade, contando com a utilização de inquéritos sociais para se 
investigar o real índice de criminalidade visto nos centros urbanos.
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Diversas teorias criminológicas surgiram a partir dos estudos 
da Escola de Chicago. A teoria ecológica ou da desorganização 
social, por exemplo, surgiu em 1915, sendo seminais as obras 
de Robert Park e Ernest Burguess. Para tal teoria, as altas taxas de 
criminalidade das cidades estavam relacionadas “à debilidade do controle so-
cial informal, à desordem e à falta de integração e sentimento de solidariedade 
entre seus membros” (OLIVEIRA, 2021, p. 112), problemas esses ocasionados 
pela elevada taxa de migração populacional para Chicago, que experimentava 
o desenvolvimento econômico e industrial na época. Gomes e Molina (2008, p. 
343-344) acrescentam ainda outros fatores que contribuíram para o aumento 
da criminalidade urbana, tais como:
• A deterioração dos grupos primários (família etc.);
• A modificação qualitativa das relações interpessoais;
• A perda de raízes no espaço residencial pela alta mobilidade;
• A crise dos valores tradicionais e familiares;
• A superpopulação;
• A tentadora proximidade às áreas comerciais e industriais com acúmulo 
de riqueza;
• O enfraquecimento do controle social.
Penteado Filho (2020, p. 83) sintetiza algumas propostas da ecologia cri-
minal para combater a criminalidade, centradas na melhoria das condições 
socioeconômicas da comunidade como um todo e na criação de programas 
comunitários voltados ao lazer e ao tratamento e prevenção da criminalidade, 
com planejamento estratégico, além de reurbanização dos bairros pobres.
Nesse contexto, Ernesto Burgess concebeu a teoria da zonas concêntri-
cas, um modelo que dispunha sobre o modo de crescimento das cidades nor-
te-americanas, as quais tenderiam a se expandir a partir do seu centro, com a 
formação de zonas concêntricas. Freitas (2002, p. 73-77) resume:
• Zona I (loop): parte central, onde se situavam as atividades financeiras e 
profissionais (serviços e indústrias);
• Zona II (zona em transição/intermediária): área contígua à zona central 
e de transição do distrito comercial para os bairros residenciais (cortiços e gue-
tos com infraestrutura deficiente, formação de gangues, escasso controle so-
cial e grande rotatividade de pessoas), sendo normalmente ocupada pelas pes-
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soas mais pobres, inclusive recém-chegadas à cidade, haja vista ser um local 
de baixo custo de vida e próximo às fábricas, que absorviam essa mão de obra;
• Zona III (zona residencial): área limítrofe à anterior, com residências de 
trabalhadores que escaparam das condições de vida da zona II, composta prin-
cipalmente pela segunda geração de imigrantes;
• Zona IV (subúrbio ou zona da classe média): formada por bairros resi-
denciais, com casas e apartamentos onde residem as classes média e alta da 
sociedade que utilizam metrô para o trabalho;
• Zona V (exúrbia): região fora dos limites da cidade (áreas suburbanas 
e cidades-satélites), compostas por casas de pessoas de classe média e alta 
(commuters), que trabalham no centro da metrópole e levam um tempo razoá-
vel no deslocamento para o serviço.
Saliente-se que tais zonas estariam em constante expansão e deslocamen-
to em direção ao território da zona propínqua, em um processo de invasão, 
dominação e sucessão, resultando na expansão da cidade como um todo. 
Ressalta-se que, para esse modelo, a maior incidência de crime e delinquên-
cia ocorreria estatisticamente na Zona II, onde os laços de solidariedade social 
eram destruídos à medida que tal área era invadida pelo comércio e pelas in-
dústrias, diminuindo, assim, a resistência à criminalidade. Com isso, rompeu-
-se

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