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AS VANGUARDAS EUROPEIAS E SUAS HERANÇAS NO BRASIL

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AS VANGUARDAS EUROPEIAS E SUAS HERANÇAS NO BRASIL
UM AGITADO INÍCIO DE SÉCULO NA EUROPA 
No início do séc. XX, a Europa se encontrava em intensa turbulência. Conflitos políticos entre países vizinhos deram início a desencadeamentos locais que acabaram provocando, em 1914, 1º guerra mundial. Ao lado da instabilidade política, as pessoas tinham também de construir um novo olhar para a vida, agora transformada pelo impacto das descobertas tecnológicas que começavam a causar espanto.
· Considerando a era da eletricidade, o século viu surgir o telefone, o telégrafo sem fio, o aparelho de raios X, o cinema, o automóvel, o avião, invenções que ampliaram o domínio humano sobre o espaço e o tempo. A ciência descobriu mundos invisíveis com o auxílio do microscópio: vírus, bactérias, seres minúsculos passaram a ser identificados como inimigos muitas vezes mortais.
· A teoria da relatividade abalou certezas centenárias e provocou uma verdadeira revolução na física. Quando Einstein afirmou a relatividade do tempo e da distância, transformou o modo como as pessoas percebiam a realidade e avaliavam o universo. Nada mais era definitivo, nada era certo.
· Outro grande abalo para a sociedade europeia foi o surgimento da psicanálise. Quando Freud identificou o inconsciente humano, revelou o impacto dessa força desconhecida sobre as noções tradicionais de identidade, personalidade, responsabilidade e consciência. Mais uma vez as certezas ruíram.
· Os primeiros anos do séc. XX foram o cemitério no qual seriam enterradas as convicções do passado e o berço no qual nasceria uma civilização marcada pela incerteza e pela relatividade.
Vanguardas: ventos de inquietação e de mudança 
Nas três primeiras décadas do séc. XX, diferentes movimentos artísticos, denominados vanguardas, surgiram para estabelecer novas referências para a pintura, a literatura, a música e a escultura. O novo século precisava criar as próprias referências estéticas. Nascem os vários “ismos”: CUBISMO, FUTURISMO, EXPRESSIONISMO, DADAÍSMO E SURREALISMO.
1. Praticamente todas as vanguardas lançaram manifestos que divulgavam as propostas das novas formas de expressão artística e definiam estratégias formais para alcançá-las.
2. O Projeto Artístico. Cada uma das vanguardas apresenta um projeto próprio, mas todas têm uma intenção em comum: romper radicalmente com os princípios que orientavam a produção artística do século XIX. Podemos resumir o projeto artístico das vanguardas como um movimento ousado que quer libertar a arte da necessidade de representar a realidade de modo figurativo e linear. Toda a produção artística de vanguarda terá um caráter de ruptura, de choque e de abertura.
3. Os agentes do discurso. Nos últimos anos do séc. XIX, Paris é a capital cultural da Europa e pulsa com a agitação característica da Belle Époque. A agitação cultural de Paris é imensa e é nesse contexto que as vanguardas são elaboradas. Surgem então os manifestos como meio de dar maior visibilidade às propostas das diferentes vanguardas. O contexto de circulação dos manifestos é o jornal.
4. Ao lado dos manifestos, pinturas e esculturas começam a ser expostas em salões e galerias de arte, provocando grande impacto no público da época.
5. As Vanguardas e o público. O espírito agressivo das vanguardas, anunciado no manifesto do futurismo, é confirmado pela reação, de modo geral, horrorizada do público à apresentação da primeira obra cubista: o quadro “As senhoras de avignon” de Pablo Picasso, que mostra cinco prostitutas nuas, com o rosto e o corpo deformados.
CUBISMO
O quadro revela um modo revolucionário de representar a realidade, rompendo com os conceitos tradicionais de harmonia, proporção, beleza e perspectiva. Com essa obra nasce a pintura cubista, e o seu criador, Pablo Picasso, será o grande mestre do Cubismo, que marcou a arte do séc. XX. 
Além dele, também se destacarão Georges Braque e Juan Gris.
É na poesia que a literatura cubista ganha forma. Explorando a associação entre ilogismo, simultaneidade, instantaneísmo e humor, os poetas cubistas buscam criar novas perspectivas e afirmar a necessidade de manter as coisas em permanente relação. 
“hípica 
Saltos records Cavalos da penha Correm jóqueis de Higienópolis Os magnatas As meninas E a orquestra toca Chá Na sala de cocktails” (Oswald de Andrade)
A composição do poema é claramente cubista. Para retratar o ambiente de uma corrida de cavalos na hípica, o eu-lírico promove uma “sobreposição” de imagens que deslocam o olhar do leitor da pista, onde estão cavalos e jóqueis, para o público entretido pela orquestra. O resultado é uma imagem multifacetada, composta de fragmentos de diferentes planos da realidade.
FUTURISMO 
EM 1909, a Europa é surpreendida pelo surgimento de uma nova vanguarda: o Futurismo. Com propostas mais organizadas que o Cubismo, o Futurismo é divulgado através de um manifesto assinado pelo seu líder, Filippo Tommaso Marinetti.
 Marinetti lança mais de 30 manifestos definindo os aspectos da nova vanguarda. Em todos, mesma proposta violenta de destruição total do passado; o mesmo fascínio pela guerra que promove a aniquilação dos símbolos do passado; a mesma exaltação pelas formas do mundo moderno: automóveis, aviões, em um eterno culto à velocidade que Marinetti, fascinado pelas novas tecnologias, vê como força mística.
Os futuristas exaltam “bofetada e o soco” como meio de despertar o público da passividade em que se encontra. Por que o desejo de destruição, o fascínio pela guerra, o amor à violência?
A exaltação da violência pode ser interpretada como um desejo de levar a humanidade a um ponto sem retorno. A violência que destrói as certezas e os modelos obriga o leitor a reagir. O processo de recepção da nova arte passa a ser, assim, mais dinâmico e interativo. Marinetti recomenda que os textos futuristas destruam a sintaxe, recomenda abolir a pontuação, os adjetivos e os advérbios. O objetivo é sempre o mesmo: impedir que a literatura continue a exaltar a imobilidade pensativa.
O lado sombrio do Futurismo surge, na Itália, com a chegada de Mussolini ao poder. O fascínio de Marinetti pela violência e pela guerra, aliado a um patriotismo exacerbado, faz com que transforme o movimento em uma espécie de porta-voz do regime fascista, a partir de 1919.
EXPRESSIONISMO
Alemanha 1910: o expressionismo surge como uma nova vanguarda, toma forma apresentando-se como reação à estética impressionista de valorização sensorial. A base do expressionismo é o resultado de um processo criativo que supõe a perda do controle consciente durante a produção da obra de arte. A realidade não deve mais ser percebida em planos distintos (físico, psíquico, etc.), mas sim transformada em expressão. O movimento expressionista é bastante influenciado pela 1º Guerra Mundial, e seus quadros ressaltam um lado obscuro da humanidade, retratando faces marcadas pela angústia e pelo medo. A mais conhecida tela expressionista é “O grito”, de Edvard Munch.
Na tela “O grito”, as linhas retorcidas e as cores fortes contribuem para criar um clima de aflição e angústia que parecem ecoar no grito que dá nome à obra. Em seu diário, Munch escreve sobre o entardecer de Nordstrand, cidade da Noruega, que inspirou o quadro: “Eu estava a passear cá fora com dois amigos e o sol começava a pôr-se – de repente o céu ficou vermelho, cor de sangue – Eu parei, sentia- me exausto e apoiei-me a uma cerca – havia sangue e línguas de fogo por cima do fiorde azul-escuro e da cidade – os meus amigos continuaram a andar e eu ali fiquei, de pé, a tremer – e senti um grito infindável atravessar a natureza”.
Os poetas expressionistas abordam, em suas obras, a derrocada do mundo burguês e capitalista, denunciando um universo em crise e a sensação de impotência do homem preso em um mundo “sem alma”. Há nos textos expressionistas um forte caráter negativista, fazendo com que muitas vezes a representação do mundo se faça de forma grotesca e deformada.
A literatura expressionista cria também imagens distorcidas da realidade para traduzir as vivênciashumanas. Uma passagem do romance Amar, verbo intransitivo, de Mário de Andrade, flagra o impacto da Floresta da Tijuca em Fräulein Elza. Contemplando o espetáculo magnífico da natureza brasileira, a alemã é tomada por sensações e impressões que alteram o modo como vê montanhas e árvores.
“A luz delirava, apressada a um vago aviso da tarde. Era tal e tanta que embaçava de ouro a amplidão. Se via tudo de longe num halo que divinizava e afastava as coisas mais. Lassitude. No quiriri tecido de ruidinhos abafados, a cidade se movia pesada, lerda. O mar parava azul. [...] Fräulein botara os braços cruzados no parapeito de pedra, fincara o mento aí, nas carnes rijas. E se perdia. Os olhos dela pouco a pouco se fecharam, cega duma vez. A razão pouco a pouco escampou. Desapareceu por fim, escorraçada pela vida excessiva dos sentidos. Das partes profundas do ser lhe viam apelos vagos e decretos fracionados. Se misturavam animalidades e invenções geniais. [...] Adquirira enfim uma alma vegetal.” ANDRADE, Mário de. Amar, verbo intransitivo. 18. ed. Belo Horizonte: Vila Rica, 1992. p. 120. (Fragmento)
DADAÍSMO 
Em 1916, durante a Primeira Guerra Mundial, o romeno Tristan Tzara espanta o mundo com mais uma vanguarda: o Dadaísmo ou Dadá, a mais radical e a menos compreensível de todas as vanguardas. O Dadá vem para abolir de vez a lógica, a organização, o olhar racional, dando à arte um caráter de espontaneidade total. A falta de sentido já é anunciada no nome escolhido para a vanguarda. Dizia Tzara que dada, palavra que encontrou casualmente num dicionário, pode significar: rabo de vaca santa, mãe; certamente; ama- de-leite. Mas acabou afirmando, no movimento dadaísta: DADÁ NÃO SIGNIFICA NADA.
O principal problema de todas as manifestações artísticas está, segundo os dadaístas, em almejar algo impossível: explicar o ser humano. Em mais uma afirmação retumbante, Tzara decreta: “A obra de arte não deve ser a beleza em si mesma, porque a beleza está morta.” A falta de lógica e a espontaneidade alcançam na literatura sua expressão máxima. Em seu último manifesto, Tzara diz que o grande segredo da poesia é que “o pensamento se faz na boca”. para orientar melhor seus seguidores, cria uma receita para fazer um poema dadaísta.
Receita de poema dadaísta
Pegue um jornal. Pegue a tesoura. Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema. Recorte o artigo. Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e meta-as num saco. Agite suavemente. Tire em seguida cada pedaço um após o outro. Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco. O poema se parecerá com você. E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa, ainda que incompreendido do público.
Embora muitas das propostas dadaístas pareçam infantis aos olhos contemporâneos, é preciso levar em consideração o momento em que surgiram. Em uma Europa caótica e em guerra, insistir na falta de lógica e na gratuidade dos acontecimentos talvez não fosse um absurdo, mas o espelho crítico de uma realidade incômoda.
SURREALISMO 
O Surrealismo foi, cronologicamente, o último movimento da vanguarda europeia do início do século XX. Note como André Breton (1896 – 1966), autor do primeiro manifesto surrealista, definiu o movimento: Surrealismo, s.m. Automatismo psíquico pelo qual alguém se propõe exprimir, seja verbalmente, seja por escrito, seja de qualquer outra maneira, o funcionamento real do pensamento.
A persistência da memória (1931), de Salvador Dalí.
 “O Surrealismo não é um estilo. É o grito da mente que se volta para si mesma.” Assim o ator e escritor Antonin Artaud definiu essa vanguarda. Fortemente ligado às artes visuais, o Surrealismo é uma vanguarda interessada em adquirir um maior conhecimento do ser humano.
Seus seguidores pretendem, por meio da valorização da fantasia, do sonho, do interesse pela loucura, liberar o inconsciente humano, terreno fértil e ainda muito pouco explorado. O fascínio pelo inconsciente e por todas as formas que vão além da realidade objetiva aproxima os surrealistas da teoria psicanalítica de Sigmund Freud. As bases da Psicanálise: o modelo freudiano 
Freud propôs um modelo explicativo para a estrutura de nosso “sistema” psíquico. O comportamento humano é visto, nessa teoria, como o resultado da interação entre três partes: id, ego e superego. O id seria o lado mais agressivo e animalesco, dominado pelos desejos de natureza sexual e livre das imposições culturais e sociais. O id leva a buscar sempre o prazer. O ego, domínio da percepção, do pensamento e do controle motor, é o encarregado de encontrar formas de alcançar a realização do desejo contido no id. O superego funciona como o censor do id. É nele que ficam guardadas as proibições, as regras socialmente impostas ao indivíduo.
Os surrealistas veem a teoria de Freud como sinal de que há muito a ser descoberto sobre o ser humano. Eles acreditam que a razão não é o melhor instrumento para essas descobertas, porque ela ignora nosso universo inconsciente. Por isso, as manifestações artísticas que produzem são um desafio evidente à organização racional do mundo.
O grande nome da literatura surrealista é André Breton. Em 1924, ele publica em Paris o Manifesto do Surrealismo, em que define o espírito e os objetivos da nova vanguarda. Na literatura, a liberação do inconsciente deve ser alcançada com o auxílio da escrita automática. No Manifesto, André Breton ensina como usar o automatismo para fazer emergir o inconsciente.
[...] Mandem trazer algo com que escrever, depois de se haverem estabelecido em um lugar tão favorável quanto possível à concentração do espírito sobre si mesmo. Ponham-se no estado mais passivo, ou receptivo que puderem. Façam abstração de seus gênios, de seus talentos e dos de todos os outros. Digam a si mesmos que a literatura é um dos: mais tristes caminhos que levam a tudo. Escrevam depressa, sem um assunto preconcebido, bastante depressa para não conterem e não serem tentados a reler. A primeira frase virá sozinha, tanto é verdade que a cada segundo é uma frase estrangeira ou estranha a nosso pensamento consciente que só pede para se exteriorizar.[...] BRETON, André.
O resultado desse processo é sempre um texto em que as relações lógicas não servem de apoio para o leitor, porque as imagens criadas não encontram equivalente no mundo conhecido. Privado das bases racionais de análise, não resta ao leitor outra saída a não ser entregar-se ao universo de sonho proposto pelo texto.
No Brasil, o Surrealismo lança suas raízes na obra do modernista Murilo Mendes, que procura, em vários poemas, construir imagens que trazem à tona o misterioso inconsciente.
Aproximação do terror
Dos braços do poeta 
Pende a ópera do mundo 
(Tempo, cirurgião do mundo): 
O abismo bate palmas, 
A noite aponta o revólver. 
Ouço a multidão, o coro do universo, 
O trote das estrelas 
Já nos subúrbios da caneta: 
As rosas perderam a fala. 
Entrega-se a morte a domicílio. 
Dos braços… 
Pende a ópera do mundo.
A sucessão de imagens apresentadas no poema não permite que o leitor componha um quadro único, racional, em que possa perceber as relações lógicas entre as sequências. A atmosfera criada lembra o espaço do sonho, em que acontecimentos totalmente não relacionados se apresentam encadeados, como se fossem uma sequência lógica.
 A HERANÇA BRASILEIRA DAS VANGUARDAS 
A principal herança das vanguardas europeias para a literatura brasileira, além da influência localizada que algumas delas exerceram sobre certos poetas e escritores, é o impulso de destruir os modelos arcaicos, desafiar o gosto estabelecido e propor um olhar inovador para o mundo. Ruptura e transformação: dois termos que definem bem o espírito da primeira geração modernista.
Com suas propostas agressivas, iconoclastas, desafiadoras, as vanguardas libertaram a arte dos modelos que, durante séculos, dominaram o olhar dos artistas para a realidade. Em resumo, criaram uma nova arte para um novo mundo e uma nova humanidade.

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