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1 A IDENTIDADE CULTURAL NA PÓ S-MODERNIDADE Stuart Hall Livro na íntegra (Do l ivro: A identidade cultural na pó s-modernidade, DP&A Editora, 1“ ediç ªo em 1992, Rio de Janeiro, 11“ ediç ªo em 2006, 102 pÆginas, traduç ªo: tomaz Tadeu da Si lva e Guacira Lopes Louro) 1. A IDENTIDADE EM QUESTˆ O A questªo da identidade estÆ sendo extensamente discutida na teoria social. Em essŒncia, o argumento Ø o seguinte: as velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, estªo em declino, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno, atØ aqui visto como um sujeito unificado. A assim chamada "crise de identidade" Ø vista como parte de um processo mais amplo de mudanç a, que estÆ deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de referŒncia que davam aos indivíduos uma ancoragem estÆvel no mundo social. O propó sito deste livro Ø explorar algumas das questı es sobre a identidade cultural na modernidade tardia e avaliar se existe uma "crise de identidade", em que consiste essa crise e em que direç ªo ela estÆ indo. O livro se volta para questı es como: Que pretendemos dizer com "crise de identidade"? Que acontecimentos recentes nas sociedades modernas precipitaram essa crise? Que formas ela toma? Quais sªo suas conseqü Œncias potenciais? A primeira parte do livro (caps. 1-2) lida com mudanç as nos conceitos de identidade e de sujeito. A segunda parte (caps. 3-6) desenvolve esse argumento com relaç ªo a identidades culturais � aqueles aspectos de nossas identidades que surgem de nosso "pertencimento" a culturas Øtnicas, raciais, lingü ísticas, religiosas e, acima de tudo, nacionais. Este livro Ø escrito a partir de urna posiç ªo basicamente simpÆtica à afirmaç ªo de que as identidades modernas estªo sendo "descentradas", isto Ø, deslocadas ou fragmentadas. Seu propó sito Ø o de explorar esta afirmaç ªo, ver o que ela implica, qualificÆ-la e discutir quais podem ser suas provÆveis conseqü Œncias. Ao desenvolver o argumento, introduzo certas complexidades e examino alguns aspectos contraditó rios que a noç ªo de "descentraç ªo", em sua forma mais simplificada, desconsidera. Conseqü entemente, as formulaç ı es deste livro sªo provisó rias e abertas à contestaç ªo. A opiniªo dentro da comunidade socioló gica estÆ ainda profundamente dividida quanto a esses assuntos. As tendŒncias sªo demasiadamente recentes e ambíguas. O pró prio conceito com o qual estamos lidando, "identidade", Ø demasiadamente complexo, muito pouco desenvolvido e muito pouco compreendido na ciŒncia social contemporâ nea para ser definitivamente posto à prova. Como ocorre com muitos outros fenô menos sociais, Ø impossível oferecer afirmaç ı es conclusivas ou fazer julgamentos seguros sobre as alegaç ı es e proposiç ı es teó ricas que estªo sendo apresentadas. Deve-se ter isso em mente ao se ler o restante do livro. Para aqueles/as teó ricos/as que acreditam que as identidades modernas estªo entrando em colapso, o argumento se desenvolve da seguinte forma. Um tipo diferente de mudanç a estrutural estÆ transformando as sociedades modernas no final do sØculo XX. Isso estÆ fragmentando as paisagens culturais de classe, gŒnero, sexualidade, etnia, raç a e nacionalidade, que, no passado, nos tinham fornecido só lidas localizaç ı es como indivíduos sociais. Estas transformaç ı es estªo tambØm mudando nossas identidades pessoais, abalando a idØia que ternos de nó s pró prios como sujeitos integrados. Esta perda de um "sentido de si" estÆvel Ø chamada, algumas vezes, de deslocamento ou descentraç ªo do sujeito. Esse duplo deslocamento� descentraç ªo dos indivíduos tanto de seu lugar no mundo social e cultural quanto de si mesmos � constitui uma "crise de identidade" para o indivíduo. Como observa o crítico cultural Kobena Mercer, "a identidade somente se torna urna questªo quando estÆ em crise, quando algo que se supı e como fixo, coerente e estÆvel Ø deslocado pela experiŒncia da dœvida e da incerteza" (Mercer, 1990, p. 43). Esses processos de mudanç a, tomados em conjunto, representam um processo de transformaç ªo tªo fundamental e abrangente que somos compelidos a perguntar se nªo Ø a pró pria modernidade que estÆ sendo transformada. Este livro acrescenta uma nova dimensªo a esse argumento: a afirmaç ªo de que naquilo que Ø
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