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Autores: Profa. Daclé Juliani Macrini Prof. Tércio Martins Colaboradores: Prof. Thiago Macrini Profa. Laura Cristina da Cruz Dominciano Cosmetologia e Formulações Cosméticas Professores conteudistas: Daclé Juliani Macrini / Tércio Martins Daclé Juliani Macrini É farmacêutica, graduada pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF/USP, 1982), especialista em Fitoterapia pelo Centro de Ensino Superior de Homeopatia (FACIS/IBEHE, 2000), mestre em Produção e Controle de Medicamentos na área da Cosmetologia pela Universidade de São Paulo (FCF/USP, 2004) e doutora em Patologia Ambiental e Experimental pela Universidade Paulista (UNIP, 2014). Realizou cursos de aprimoramento de Ensino a distância, Florais de Bach, Estética corporal e facial, Drenagem linfática, Criolipólise, Aromaterapia, Intradermoterapia pressurizada, entre outros. Publicou diversos artigos em revistas nacionais e internacionais e livros na área da saúde: Plantas da Amazônia: avaliação da atividade inibitória da tirosinase, A utilização da própolis para o tratamento da acne retencional e Auriculoterapia e aromaterapia no combate do estresse. Na UNIP, atua como coordenadora do curso de Estética e é docente nos cursos superiores do Instituto de Ciências da Saúde nas disciplinas de Biossegurança, Fitocosmetologia, entre outras. Tércio Martins É farmacêutico com modalidade em Indústria pela Universidade Federal do Ceará (UFC), especialista em Produção e Controle de Medicamentos pela Universidade de São Paulo (USP), mestre em Produção e Controle de Medicamentos na área de Farmacotécnica pela USP e doutor em Produção e Controle de Medicamentos na área de Cosmetologia pela USP. Faz parte do grupo de pesquisa de Investigação em Farmacognosia e Medicina Tradicional da Universidade Nacional Mayor de San Marcos – Lima (Peru) como investigador adjunto, destacando a investigação sobre o uso de produtos naturais da Amazônia peruana com potencial atividade antioxidante em cosméticos. Publicou diversos artigos em revistas nacionais e internacionais e fez inúmeras apresentações em congressos. Tem experiência na área acadêmica superior como orientador de pesquisas e professor dos cursos de Farmácia, Estética e Cosmética e Nutrição e na área acadêmica de pós-graduação. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) M174c Macrini, Daclé Juliani. Cosmetologia e Formulações Cosméticas / Daclé Juliani Macrini, Tércio Martins. – São Paulo: Editora Sol, 2020. 200 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Cosméticos. 2. Legislação. 3. Fotoproteção. I. Macrini, Daclé Juliani. II. Martins, Tércio. III. Título. CDU 687.55 U508.15 – 20 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcello Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Vera Saad Talita Lo Ré Sumário Cosmetologia e Formulações Cosméticas APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................9 Unidade I 1 COSMÉTICOS – HISTÓRIA E CONCEITOS ................................................................................................ 11 1.1 História da cosmetologia .................................................................................................................. 11 1.2 Conceitos e definições........................................................................................................................ 17 1.2.1 Cosmética................................................................................................................................................... 17 1.2.2 Cosmetologia ............................................................................................................................................ 18 1.2.3 Cosmético .................................................................................................................................................. 18 1.2.4 Cosmecêutico ........................................................................................................................................... 18 1.2.5 Cosmiatria .................................................................................................................................................. 19 1.2.6 Nutracêutico ............................................................................................................................................. 19 1.2.7 Nutricosmético ....................................................................................................................................... 19 1.2.8 Medicamento tópico ............................................................................................................................. 20 2 SISTEMA TEGUMENTAR, PERMEABILIDADE CUTÂNEA E ABSORÇÃO......................................... 20 2.1 Pele ............................................................................................................................................................. 21 2.1.1 Composição química da pele ............................................................................................................. 21 2.1.2 Estrutura e camadas da pele .............................................................................................................. 22 2.1.3 Principais funções da pele .................................................................................................................. 31 2.1.4 Anexos da pele ......................................................................................................................................... 34 2.1.5 Biótipos cutâneos ................................................................................................................................... 36 2.2 Permeabilidade cutânea .................................................................................................................... 37 2.2.1 Fatores envolvidos .................................................................................................................................. 37 2.2.2 Recursos para facilitar a permeabilidade cutânea .................................................................... 38 Unidade II 3 LEGISLAÇÃO COSMÉTICA ............................................................................................................................. 44 3.1 Classificação dos cosméticos segundo os graus de risco..................................................... 44 3.1.1 Grau 1 .......................................................................................................................................................... 44 3.1.2 Grau 2 ..........................................................................................................................................................44 3.2 Limites de contaminantes ................................................................................................................. 45 3.3 Rotulagem ............................................................................................................................................... 46 4 CLASSIFICAÇÃO DOS PRINCIPAIS COMPONENTES COSMÉTICOS ................................................ 47 4.1 Veículos cosméticos ............................................................................................................................. 47 4.1.1 Água: dermatológica, termal e micelar ......................................................................................... 47 4.1.2 Solução ....................................................................................................................................................... 49 4.1.3 Suspensão .................................................................................................................................................. 50 4.1.4 Emulsão ...................................................................................................................................................... 51 4.1.5 Microemulsão ........................................................................................................................................... 52 4.1.6 Microemulsão com cristais líquidos ................................................................................................ 54 4.1.7 Mousse ou espumas .............................................................................................................................. 55 4.1.8 Aerossóis (spray) ...................................................................................................................................... 56 4.1.9 Géis ............................................................................................................................................................... 58 4.1.10 Pós .............................................................................................................................................................. 59 4.1.11 Veículos vetoriais .................................................................................................................................. 60 4.1.12 Veículos liofilizados ............................................................................................................................. 66 4.2 Classes químicas de excipientes cosméticos ............................................................................. 68 4.2.1 Água ............................................................................................................................................................. 68 4.2.2 Emolientes ................................................................................................................................................. 68 4.3 Aditivos ..................................................................................................................................................... 80 4.3.1 Conservantes ............................................................................................................................................ 80 4.3.2 Quelantes ou sequestrantes ............................................................................................................... 81 4.3.3 Corantes ...................................................................................................................................................... 82 4.3.4 Fragrâncias ................................................................................................................................................ 83 4.3.5 Antioxidantes ........................................................................................................................................... 83 4.3.6 Corretores de pH ..................................................................................................................................... 84 4.4 Princípios ativos .................................................................................................................................... 84 Unidade III 5 TIPOS DE COSMÉTICOS ................................................................................................................................. 89 5.1 Cosméticos para revitalização da pele e alterações inestéticas ....................................... 89 5.1.1 Cosméticos para higienização ........................................................................................................... 90 5.1.2 Cosméticos para hidratação ............................................................................................................... 91 5.1.3 Cosméticos para nutrição da pele ................................................................................................... 93 5.1.4 Cosméticos anti-inflamatórios, cicatrizantes e calmantes .................................................... 94 5.1.5 Cosméticos antiacne ............................................................................................................................. 96 5.1.6 Cosméticos para tratamento da gordura localizada ..............................................................102 5.1.7 Cosméticos para tratamento de discromias cutâneas ...........................................................107 5.2 Cosméticos para peelings ...............................................................................................................119 5.2.1 Peeling biológico ...................................................................................................................................119 5.2.2 Peeling enzimático .............................................................................................................................. 120 5.2.3 Peeling físico ...........................................................................................................................................121 5.2.4 Peeling químico .................................................................................................................................... 122 5.2.5 Peeling mecânico ................................................................................................................................. 125 5.2.6 Peelings vegetais ou gommage ..................................................................................................... 125 5.2.7 Peeling estético ..................................................................................................................................... 125 6 COSMÉTICOS ESPECÍFICOS E DIFERENCIADOS ..................................................................................127 6.1 Cosméticos específicos ...................................................................................................................127 6.1.1 Desodorantes e antitranspirantes, sabonetes e dentifrícios .............................................. 127 6.1.2 Produtos para cabelos ........................................................................................................................ 132 6.1.3 Produtos depilatórios ......................................................................................................................... 145 6.1.4 Produtos para as unhas ..................................................................................................................... 148 6.2 Cosméticos diferenciados ...............................................................................................................152 6.2.1 Cosméticos masculinos ..................................................................................................................... 152 6.2.2 Cosméticos infantis ............................................................................................................................. 154 6.2.3 Cosméticosprebióticos e probióticos .......................................................................................... 157 Unidade IV 7 FOTOPROTEÇÃO ..............................................................................................................................................165 7.1 Radiação solar e consequências da exposição solar ............................................................165 7.2 Proteção solar ......................................................................................................................................168 7.2.1 Filtros inorgânicos ................................................................................................................................171 7.2.2 Filtros orgânicos ................................................................................................................................... 172 7.2.3 Filtros UVB .............................................................................................................................................. 172 7.2.4 Filtros UVA .............................................................................................................................................. 173 7.2.5 Índices de proteção solar .................................................................................................................. 175 7.3 Bronzeamento e produtos solares ...............................................................................................176 7.3.1 Produtos ativadores de bronzeamento ....................................................................................... 176 7.3.2 Produtos prolongadores de bronzeamento .............................................................................. 177 7.3.3 Autobronzeadores ............................................................................................................................... 177 7.3.4 Bronzeamento artificial por câmaras x saúde ......................................................................... 178 7.3.5 Produtos pós-sol .................................................................................................................................. 178 8 MAQUIAGENS .................................................................................................................................................178 8.1 Corretivo ................................................................................................................................................179 8.2 Base ..........................................................................................................................................................179 8.3 Pós ............................................................................................................................................................179 8.4 Batons .....................................................................................................................................................180 8.5 Blushes ....................................................................................................................................................180 8.6 Produtos de maquiagens para a área dos olhos ....................................................................181 9 APRESENTAÇÃO O conhecimento da cosmetologia é primordial para quem pretende trabalhar com a estética. Dentro da cosmetologia são estudados os conceitos, as definições e a história relacionados à cosmetologia. Esta disciplina fornece ao profissional os conhecimentos básicos sobre as principais classes dos produtos cosméticos existentes no mercado e a composição das formulações utilizadas nos tratamentos das alterações estéticas. Serão apresentados detalhadamente os fundamentos da permeabilidade cutânea, os conceitos e definições dos veículos cosméticos, aditivos e princípios ativos utilizados numa formulação cosmética, bem como as técnicas de obtenção, mecanismos de ação, uso e indicações dos princípios ativos presentes nos cosméticos utilizados nas manifestações inestéticas ou mesmo para sua prevenção, além do uso de cosméticos com fins de maquiagem que fazem parte deste estudo. A disciplina estuda os fototipos cutâneos, os fotoprotetores e a fotoproteção, o que é de fundamental importância não só para a cosmetologia, mas principalmente para todo profissional ligado à saúde e à estética. INTRODUÇÃO A cosmetologia é a ciência que estuda os produtos cosméticos voltados à manutenção, conservação e defesa da pele. A preocupação com a saúde, com a qualidade de vida e com a autoestima da população na sociedade atual resultou em uma maior demanda por produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos em todo o mundo. Os cosméticos proporcionam às pessoas não só o embelezamento ou a camuflagem de alguma alteração inestética, como também múltiplas formas de prevenção de doenças. Hoje o Brasil é o quarto maior mercado de cosméticos no mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, China e Japão (ABIHPEC; SEBRAE, 2019). Até 2015, o país era o terceiro colocado da lista, mas caiu de posição no ranking após a crise financeira vivida na época. Apesar disso, a indústria de higiene e beleza brasileira cresceu mais que a economia do país. A participação dos homens, jovens e crianças contribuiu para o crescimento do mercado total do segmento e uma maior amplitude e variedade de produtos para cuidados com a pele, além de subprodutos da categoria capilar terem sido incluídos. Nos últimos anos, o homem passou a ser um grande alvo de consumo e vem recebendo atenção especial da indústria, com lançamento de linhas especiais para cuidados da pele, cabelo e barba (ABIHPEC, SEBRAE, 2019). Além disso, com a população mundial amadurecendo e se preocupando mais com sua aparência, a indústria de cosméticos aumenta sua atenção e seu olhar para esse público, atenção esta ainda insuficiente, mas em ascendência. 10 Algumas apostas que vêm sendo feito pelas indústrias têm obtido sucesso, como é o caso de certas marcas que lançam linhas de skincare específicas para as faixas de idade de 60 e 70 anos (ABIHPEC, SEBRAE, 2019). Atualmente, a indústria cosmética representa um fator de grande importância na economia mundial. As mudanças econômicas e hábitos da sociedade influenciam diretamente no desenvolvimento de novas tecnologias para a obtenção de produtos cosméticos inovadores com eficácia comprovada e cada vez mais acessíveis à população como um todo. O estudo da cosmetologia se faz necessário aos profissionais que direta ou indiretamente estão preocupados com a aparência, com a estética e com o bem-estar dos indivíduos, pois só assim conseguirão entender o uso dos cosméticos e auxiliar no crescimento da área. Para tanto, esta disciplina dará os subsídios necessários para que o aluno conheça os conceitos ligados à cosmetologia, o que inclui o estudo dos fundamentos da permeabilidade cutânea, dos veículos cosméticos, aditivos e princípios ativos utilizados numa formulação cosmética, bem como as técnicas de obtenção, os mecanismos de ação, uso e indicações dos cosméticos normalmente utilizados nos tratamentos estéticos tanto para corrigir manifestações inestéticas como para preveni-las. Entre as classes de cosméticos a serem estudadas, veremos os cosméticos para higienização, hidratação, revitalização e nutrição da pele, cosméticos anti-inflamatórios, cicatrizantes e calmantes, cosméticos para discromias e acne, para peelings e para tratamento da gordura localizada, para fotoproteção, produtos depilatórios, para as unhas, para cabelos, desodorantes, sabonetes e dentifrícios, e ainda as classes especiais de cosméticos masculinos, infantis e para maquiagem. 11 COSMETOLOGIA E FORMULAÇÕES COSMÉTICAS Unidade I 1 COSMÉTICOS – HISTÓRIA E CONCEITOS 1.1 História da cosmetologia A história dos cosméticos acompanhou a história da humanidade e sempre esteve ligada ao desenvolvimento cultural e científico. No Egito antigoforam encontrados recipientes com materiais utilizados para fins cosméticos. O início do uso dos cosméticos data de mais de 30 mil anos, em períodos em que os homens deixavam gravados em rochas e pedras seus hábitos cotidianos, inclusive de cuidados com a higiene e a beleza. Produtos cosméticos e técnicas estéticas ditas como modernas, como o uso de esfoliantes e cremes antirrugas, técnicas de epilação, métodos para eliminação de estrias, extensões capilares, melhora de halitosis e odores corporais desagradáveis, já eram conhecidos no antigo Egito. A mestra na arte da beleza foi Cleópatra VII, tendo-lhe sido imputada a criação de um livro em que são relatados os segredos de beleza. O uso de cosméticos pelos egípcios ocorria por razões terapêuticas e estéticas, independentemente de sexo e de classe social. Observação Cleópatra, considerada a rainha do Egito, é uma das mulheres mais conhecidas da história da humanidade, ela era inteligente, sedutora, bela, ardilosa e com simpatia singular, considerado seu maior poder de sedução, e, adicionado a todos esses atributos, sua vaidade também foi muito importante, e nos forneceu grande contribuição para a cosmetologia, inclusive através da obra Cleopatre Gynoecirium Libri. Frequentemente utilizavam maquiagem de diversas cores, entre elas a cor branca, preta (à base de óxido de carbono ou magnésio) e verde (oriundas de materiais compostos por cobre). Outra cor de maquiagem utilizada era o vermelho ocre, obtido da mistura de terra com água; a mistura era aplicada nos lábios e nas maçãs do rosto. A hena era utilizada para cobrir as unhas de amarelo ou laranja. Relatos históricos descrevem tubos de khol, uma tinta para os olhos obtida pela junção de antimônio, óxido de cobre, amêndoas queimadas, malaquite verde, carbonato branco de chumbo (cerussite) e, algumas vezes, pequenas quantidades de compostos de chumbo (laurionite e fosgenite), que posteriormente era misturado com óleo ou gordura e reduzido a pó. Tais produtos eram armazenados em jarros que continham o nome de Nefertiti e de sua filha e eram aplicados nos olhos, por meio do uso de uma pequena madeira. 12 Unidade I Lembrete A hena foi muito utilizada na Antiguidade e continua até hoje a ter muitas aplicações. A hena pura é vermelha, dá um tom vermelho-acastanhado. Entre alguns achados arqueológicos foram encontrados inúmeros jarros, alguns ainda por utilizar, como o encontrado no túmulo de Tut-anj-Amon, em forma de leoa, o qual continha unguentos e perfumes, em que foram identificados sete tipos diferentes de óleos vegetais e um óleo de origem animal. Os recipientes eram construídos de granito, basalto e alabastro. Os produtos contidos nos jarros eram utilizados para pintar as pálpebras superiores e inferiores, e uma linha que tinha início no canto do olho e finalizava nas áreas temporais. Os egípicios acreditavam que a maquiagem tinha propriedades mágicas e até curativas, pois, ao se apresentarem perante os deuses, no dia do julgamento da morte, eles tinham que observar certas regras de vestimenta, como vestir roupas novas e sandálias brancas, além de ter os olhos pintados e untados com óleo. Cosméticos para os olhos eram importados de Punt para Hatshepsut, juntamente com incenso-ihmut, incenso-sonter, símios e macacos. A importação de cosméticos representava o segundo maior negócio na balança comercial com o estrangeiro, imediatamente após a importação de madeira. Thutmose III trouxe uma quantidade não determinada desses produtos das suas campanhas em Naharin. O óxido resultante de folhas esmagadas era misturado com água e pedra de sal (cloreto de sódio), seguindo-se um processo de filtragem repetido que poderia durar semanas, até estar completo. O clorídio de folhas resultante era utilizado como componente para a maquiagem dos olhos, componente do qual, mediante a adição de gordura e pós secos, se conseguia uma grande variedade de unguentos. Senhoras egípcias ricas pintavam as unhas e tratavam a pele e cabelos com creme e óleos. Na sepultura de três damas egípcias, da corte de Tutmosis III (1450 a.C.), encontrou-se uma grande variedade de cosméticos, dos quais chamavam particularmente a atenção jarras que continham creme de limpeza, composto de óleo vegetal e cal (ou talvez gesso). Os unguentos cosméticos eram muito apreciados e universalmente reconhecidos, tendo mesmo sido utilizados como moeda de troca, antes do aparecimento do dinheiro. Os egípcios utilizavam cremes corporais, compostos de óleos, como o óleo de linho, de sésamo (Sesamum indicum), de rícino (Ricinus communis), de Balanos (Balanites aegyptiaca), de amêndoa de Moringa (Moringa pterygosperma), de oliva (Olea europea) e de amêndoas. Os óleos animais também compunham os unguentos e derivavam normalmente de boi e de gansos. De acordo com a tradição, Cleópatra banhava-se diariamente com leite de burra, uma vez que o leite materno e o de vaca eram usados como remédios terapêuticos; já o leite coalhado era usado topicamente em produtos cosméticos, pela presença de ácido lático e alfa-hidroxiácidos, atualmente utilizados na indústria cosmética. 13 COSMETOLOGIA E FORMULAÇÕES COSMÉTICAS Diversos unguentos eram importados pela Grécia e Ásia, entre estes, destacava-se o unguento de Mendes, por tratar-se de uma composição complexa, podendo ser preparado de diversas formas. Plínio descreveu a formulação do unguente contendo óleo de balanos, resina, mirra, óleo de azeitonas verdes, cardamomo, mel, vinho, gálbano e resina de turpertina, dando origem a um cosmético corporal utilizado após o banho. Outro unguento melhorava a condição natural da pele, na promoção do rejuvenescimento, composto de extrato de banha de porco e de boi, juntamente com incenso, cera de abelha, óleo de enebro e sementes de coriandro, devendo ser aplicado na pele após aquecimento. Quanto ao modo de uso, era indicada a relização de fricção com mirra. Os egípcios eram extremamente cuidadosos na utilização de peças de linho recém-lavadas, além disso realizavam a circuncisão dos seus filhos, no intuito de manter a higiene, em detrimento da beleza. A higiene era de extrema importância, o que refletia na importância do cargo de supervisor real da lavandaria, sendo este uma personalidade proeminente da corte. A preocupação com a higiene e o cuidado corporal transcendia os sexos, sendo que ambos, homens e mulheres, recorriam ao uso de cosméticos e óleos corporais. A necessidade de utilizar proteção para a pele, num clima quente e árido, era entendida por todas as classes sociais, fazendo parte da rotina diária a aplicação de óleos. Existem indícios que provam que a distribuição de produtos, para o cuidado corporal, era feita diariamente, como parte do salário, mesmo às classes mais baixas. Ainda utilizavam uma pasta que continha cinza ou barro, muitas vezes misturados com essências como sabão. Os papiros médicos de Ebers (1500 a.C.) descrevem uma mistura de óleos animais e vegetais com sais alcalinos utilizados como sabão no tratamento de doenças de pele, assim como na sua lavagem. Embora existissem casas de banho, os egípcios se contentavam em tomar banho por aspersão ou por imersão nos canais fluviais. Quanto aos cuidados mais específicos do corpo, os lavatórios continham soluções salinas, a areia era usada como esfoliante, e lavavam-se ao acordar, antes e depois das refeições principais. Em casas mais abastadas, podia-se encontrar quartos de banho, onde os escravos deitavam grandes quantidades de água sobre os seus patrões, utilizando um óleo animal ou vegetal, misturado com pó de lima, como sabão. Na limpeza dos dentes era usada outra solução chamada natron, composto natural de carbonato de sódio (Na 2CO3), bicarbonato de sódio (NaHCO3), cloreto de sódio (NaCL) e sulfato de sódio (Na2SO4); natron provém do latim, natrium, e significa sódio. Manter o hálito fresco era outra preocupação, mascavam-se folhas de tâmara. Os cuidados com os cabelos eram de vital importância no Egito,mesmo sendo frequente o uso de perucas, fixadas ao couro cabeludo com uma mistura de cera de abelhas e resina. As perucas eram produzidas de diversas formas (lã de ovelha, cabelos humanos, fibras de palmeira) e eram utilizadas por mulheres e por homens, em festas, atos oficiais ou simplesmente para se protegerem contra o calor. Era comum o uso de cones de gordura na cabeça ou a sua aplicação nas perucas, para que os cabelos fossem protegidos dos efeitos do sol. Além de manter as perucas umedecidas, os cones de gordura exalavam uma agradável fragrância enquanto derretiam lentamente. Tal prática 14 Unidade I era tida como um ato social e recorria-se à distribuição dos cones por servos que os colocavam nas cabeças dos convidados. A realeza podia também utilizar apliques de cabelo ou barbas postiças, como a utilizada pela rainha Hatshepsut, que realçavam o seu status real. Quando não utilizadas, as perucas eram guardadas em caixas especiais e colocadas em exposição nas suas casas. O profundo valor simbólico do cabelo existiu em todas as civilizações, foram encontradas numerosas fórmulas para os cuidados capilares nos papiros de Ebers. A queda de cabelos era tratada com compostos à base de óleo de rícino e meliloto, como também eram utilizados tônicos capilares preparados com mirtilho, tamarindo e turpertina. Os papiros de Ebers também contêm fórmulas para provocar a calvície, as quais eram utilizadas para trazer a desgraça àqueles que se odiavam, com o seguinte escrito: “Folhas de lótus fervidas, adiciona-se óleo e aplica-se sobre a cabeça da mulher que se destesta”. Os cabelos brancos eram tratados com unguentos à base de óleo e extratos vegetais, aplicados quentes sobre a cabeça. Outra técnica bem conhecida pelos egípcios eram as tintas capilares, como pode ser comprovado em algumas múmias que apresentavam os cabelos avermelhados, provavelmente recorrendo às propriedades da hena. A caspa era tratada com uma mistura de farinha de cevada calcinada e gordura de boi. Os pelos indesejáveis eram raspados ou depilados, havendo relatos de Heródoto referentes aos sacerdotes que raspavam o corpo inteiro a cada dois dias a fim de que nem piolhos ou outros parasitas aderissem à sua pessoa enquanto serviam os deuses. Figura 1 – Heródoto, Histórias II (Projecto Gutenberg) Em determinados períodos, os cabelos eram usados longos sobre os ombros ou até mais compridos, tanto por homens quanto por mulheres, no entanto, houve épocas em que os adultos usavam a cabeça totalmente rapada. Historiadores atribuem esse fato à prevenção de piolhos. 15 COSMETOLOGIA E FORMULAÇÕES COSMÉTICAS Outro tratamento muito comum do Egito antigo era a utilização de produtos antirrugas, como as formulações contidas nos papiros médicos. O tratamento consistia em aplicações diárias de uma mistura de incenso, cera de abelhas, óleo de Moringa e frutos verdes de cipreste; o receituário terminava com a inscrição: “prova-o e verás!”. Outra formulação era composta de pó de goma dissolvido numa substância, não totalmente identificada, chamada água de padou (talvez mel e um óleo vegetal). O resultado era um líquido viscoso que se aplicava sobre a cara, depois da lavagem. Ao que parece, produzia o efeito de “esticar a pele do rosto”, que tem algum paralelismo com os modernos gomagens. No entanto, a evolução da cosmetologia aconteceu durante a dominação grega na Europa (400 a.C.), quando os cosméticos tornaram-se mais do que uma ciência, estando menos ligados à religião. Nos manuscritos de Hipócrates existem orientações sobre higiene e cuidados pessoais. No século II a.C. as deusas da beleza feminina eram veneradas como a Vênus de Milo. Figura 2 – Vênus de Milo No período romano (180 d.C.), um médico grego chamado Claudius Galen realizava pesquisas sobre a produção de cosméticos, iniciando a era galênica, com destaque para o produto Unguentum Refrigerans, atualmente conhecido na área cosmética como cold cream. Ainda nesse período surgia a alquimia, em que formulações cosméticas eram utilizadas nos atos de magia e ocultismo (KADUNK et al., 2012). 16 Unidade I A Idade Média, também conhecida como 500 anos sem banho, foi um período de clausura para os cosméticos. O rigor religioso foi determinante para isso e o culto à higiene e à beleza foram deixados de lado. As pessoas ficaram impossibilitadas de se cuidar com a repressão aos banhos e a determinação das vestimentas adequadas e recatadas. No século XV, período do Renascimento e descoberta da América, ocorreu o retorno à beleza e os hábitos do período podem ser observados nas obras dos artistas do período, como a Mona Lisa de Leonardo da Vinci, em que é retratada uma mulher sem sobrancelhas, com face ampla e alva, de tez suave e delicada. Figura 3 – Quadro da Mona Lisa, de Leonardo da Vinci Saiba mais Para conhecer mais sobre a beleza e os hábitos do período citado acesse o site do Louvre: ONLINE TOURS. [s.d.]. Disponível em: https://www.louvre.fr/en/visites- en-ligne. Acesso em: 19 mai. 2020. 17 COSMETOLOGIA E FORMULAÇÕES COSMÉTICAS Nos séculos XVII e XVIII, na Idade Moderna, foi possível observar a evolução dos cosméticos, no entanto, no fim desses séculos, o uso de cosméticos e perfumes tornou-se fora de moda. Em 1770, o Parlamento Inglês estabeleceu que qualquer mulher que seduzisse ou traísse o marido no casamento pelo uso de perfume, pintura, cosméticos, produtos de higiene, dentes artificiais, cabelos falsos, espartilho de ferro, sapatos de salto alto e enchimentos nos quadris sofreria nas penalidades pela lei de bruxaria e o casamento seria considerado nulo e sem validade. No período vitoriano da Inglaterra, também conhecido como Idade Contemporânea (século XIX), os cosméticos se popularizaram novamente e passaram a ser fabricados em casa, cada família tinha sua própria receita. As mulheres expunham um pouco do corpo, porém, os banhos eram feitos com trajes fechados. Esse período foi determinante para o surgimento de indústrias de matérias-primas de cosméticos e produtos de higiene nos Estados Unidos, França, Japão, Inglaterra e Alemanha. As primeiras indústrias de produtos cosméticos datam do início do século XX e, com o passar do tempo, tornaram-se algumas das maiores empresas fabricantes de cosméticos do mundo. No Brasil, a indústria cosmética teve início a partir da segunda metade do século XX. O século XXI acelerou a evolução e expansão da ciência cosmética, da tecnologia da beleza e da indústria cosmética, sendo uma das áreas mais competitivas. Atualmente o mercado cosmético tem desenvolvido produtos com uso de biotecnologia, que consiste em produtos que empregam agentes biológicos, como células, moléculas, organelas e organismos com as mais diversas funções e ações. Lembrete Lembre-se sempre de conhecer a história dos assuntos relacionados à estética e à cosmetologia para conseguir entender os conceitos e técnicas hoje utilizados. 1.2 Conceitos e definições 1.2.1 Cosmética A palavra cosmética tem origem no termo grego kosmetés, que descrevia um escravo ou ajudante que tinha como função arrumar as roupas, perfumes e pinturas da sua senhora e os objetos de beleza eram designados como kósmesis. Cosmética é a arte de manter o aspecto natural mediante cuidados especiais, tratamentos e utilização de produtos cosméticos auxiliares e de conservação (cosméticos) e de melhorar esse mesmo aspecto de acordo com as possibilidades. A cosmética é praticada desde a Antiguidade, sobretudo pelas mulheres. A cosmética muitas vezes utiliza a cirurgia estética para a eliminação artificial de imperfeições, deformações, cicatrizes e sinais de envelhecimento. 18 Unidade I 1.2.2 Cosmetologia A cosmetologia é a ciência que serve de suporte à fabricação de produtos de beleza, permitindo verificar suas propriedades. Entre as funções básicas dos cosméticos, podemos citar: • Limpeza: que deve acontecer respeitando o equilíbrio fisiológico, sem causar desengorduramento excessivo, sem alcalinizar e semdesnaturar as proteínas cutâneas. • Correção: consiste em restabelecer o equilíbrio alterado, devolvendo as características naturais da pele saudável. • Proteção: a manutenção de pele e de seus anexos consiste em evitar a limpeza irracional ou, ainda, em impedir que os agentes externos como vento, sol e frio modifiquem as características naturais da epiderme. 1.2.3 Cosmético A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determina na Resolução RDC n. 211 (ANVISA, 2005) que produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes são preparações constituídas por substâncias naturais ou sintéticas, de uso externo nas diversas partes do corpo humano, pele, sistema capilar, unhas, lábios, órgãos genitais externos, dentes e membranas mucosas da cavidade oral, com o objetivo exclusivo ou principal de limpá-los, perfumá-los, além de alterar sua aparência e/ou corrigir odores corporais e/ou protegê-los ou mantê-los em bom estado. 1.2.4 Cosmecêutico O termo cosmecêutico foi introduzido por Albert Kligman na década de 1980 em um encontro da Sociedade de Químicos de Cosméticos, como uma descrição de um produto cosmético que exerce benefícios terapêuticos na aparência da pele, mas não um efeito que seja necessariamente biológico na sua função, o que o classificaria como medicamento. Em outras palavras, os cosmecêuticos enquadram-se entre o segmento de cosméticos e farmacêuticos. De forma geral são aplicados diretamente na pele (uso tópico), alterando sua estrutura em razão das propriedades biológicas, diferentemente dos cosméticos que apenas adornam. No entanto, não possuem ação medicamentosa. São produtos cosméticos com componentes bioativos e propriedades terapêuticas. O segmento pode ser dividido de acordo com o tratamento: antitranspirantes, fotoprotetores, tratamento do envelhecimento, clareadores, reparadores de colágeno, reparadores de barreira, entre muitos outros tipos. A Food and Drug Administration (FDA) não reconhece o termo cosmecêutico e não regulamenta os produtos dentro desse conceito, contudo, com o rápido avanço da indústria dos cosmecêuticos nos últimos anos, a relação simbiótica entre cosméticos e medicamentos tornou-se evidente, com a necessidade em reforçar a classificação de cosmecêuticos. 19 COSMETOLOGIA E FORMULAÇÕES COSMÉTICAS Por tornarem-se uma realidade na vida de todos, os cosmecêuticos são conhecidos mundialmente, no entanto, existem diferenças quanto à sua regulamentação entre cada país e entre os tipos de cosmecêuticos, existindo, em alguns casos, a necessidade de prescrição para aquisição do produto. 1.2.5 Cosmiatria Cosmiatria é uma subárea da dermatologia voltada ao tratamento e prevenção de problemas estéticos na pele. De uma forma geral, pode ser considerada como a ciência que estuda a beleza humana de forma responsável e ética. A cosmiatria utiliza produtos cosméticos e tecnologias com o intuito de proporcionar a melhora da pele deixando-a com aparência jovem e saudável. O uso de novas substâncias e processos tem gerado avanços expressivos na área estética. 1.2.6 Nutracêutico O termo nutracêutico foi definido pelo médico fundador e presidente da Fundação para Inovação em Medicina, Stephen DeFelice, nos anos 1980. Os nutracêuticos compreendem uma área que faz intercessão entre as indústrias farmacêutica e alimentícia e envolvem os suplementos que atuam na pele, de dentro para fora, com propriedades antioxidantes e rejuvenescedoras. Podem ser definidos como alimentos ou bebidas com propriedades terapêuticas, de prevenção e tratamento de doenças e, principalmente, como auxiliadores na promoção da saúde e melhora do estado nutricional. Podem ser compreendidos como nutrientes isolados, suplementos dietéticos, alimentos funcionais, produtos herbais, alimentos processados e cápsulas, contendo vitaminas, minerais e proteínas. O surgimento dos nutracêuticos se deve aos bons resultados de estudo clínicos sobre suplementação de cálcio, fibras e óleo de peixe. 1.2.7 Nutricosmético Os nutricosméticos surgem pela junção das indústrias de cosméticos e de alimentos, caracterizando-se pela melhora dos aspectos estéticos pelo consumo de alimentos ou suplementos com propriedades antioxidantes. O objetivo principal está relacionado à prevenção e aos cuidados com o envelhecimento da pele, isto é, está baseado na “beleza de dentro para fora”. São conhecidos como a pílula da beleza, cosméticos orais, e podem ser apresentados das mais diversas formas, com destaque para as formas farmacêuticas líquidas, cápsulas, tabletes e balas. O quadro a seguir apresenta as principais diferenças dos novos segmentos relacionados com a área da cosmetologia. 20 Unidade I Quadro 1 – Diferenças entre cosmecêutico, nutracêutico e nutricosmético Cosmecêutico Nutracêutico Nutricosmético Forma farmacêutica Formulações cosmética – cremes e loções Suplementos ou cápsulas, bebidas, balas etc. Suplementos ou cápsulas, bebidas, balas etc. Via de administração Tópica Oral Oral Principais aplicações Tratamentos antirrugas, acne, manchas, celulite, antiqueda de cabelos Antioxidante, antienvelhecimento, redução do colesterol, energizantes, prevenção de doenças Antienvelhecimento, anticelulite, proteção solar, drenante, nutrição capilar, fortalecimento de unhas, cabelo e pele. Fonte: Pereira (2015, p. 29). Para a Anvisa, não existe a classificação apresentada neste tópico, dessa forma, não existem registros para produtos utilizando os termos discutidos e apresentados (cosmecêutico, nutracêutico e nutricosmético) e tal posicionamento é feito pela ausência de comprovação científica. 1.2.8 Medicamento tópico Os medicamentos tópicos são aqueles não destinados a efeitos sistêmicos, que contenham um determinado fármaco, isto é, são aplicados na área a ser tratada como uma droga, mas essa droga não chega à circulação sistêmica. Tais produtos não devem ser confundidos com cosméticos, pois os cosméticos apresentam características e funções bastante distintas de um medicamento. Observação: Food and Drug Administration (FDA) é um órgão do governo dos Estados Unidos, criado em 1862, com a função de controlar os alimentos e medicamentos, através de diversos testes e pesquisas. O objetivo do FDA é ter o controle dos alimentos e medicamentos, que podem ser de humanos e animais, suplementos alimentares, cosméticos, equipamentos médicos e materiais biológicos. Cada novo produto, antes de ser lançado, tem que ser testado e aprovado pelo órgão, senão não tem sua comercialização liberada, e, caso a empresa insista, esta pode ser autuada e terá de pagar uma multa. 2 SISTEMA TEGUMENTAR, PERMEABILIDADE CUTÂNEA E ABSORÇÃO O sistema pigmentar é constituído pela pele e seus anexos, incluindo os pelos, unhas, glândulas sebáceas, sudoríparas e mamárias. 21 COSMETOLOGIA E FORMULAÇÕES COSMÉTICAS 2.1 Pele A pele é o maior órgão do corpo humano, num adulto ela tem um peso aproximado de 4 a 5 kg, apresenta uma área de 1,5 a 2,0 m2 e espessura que varia de 0,5 a 6 mm, conforme a região do corpo. Nela ficam concentrados aproximadamente quase dois terços do sangue do corpo e metade das células imunes primárias. A pele do rosto, cabeça, axilas, mãos e pés são diferentes da pele no resto do corpo. Na nuca, por exemplo, a espessura da pele é de aproximadamente 0,5 mm, na planta dos pés, 5 mm, e nas pálpebras, uma região com finíssima espessura, chega a ter de 700 µ a 800 µ. A saúde da pele é muito importante para a autoestima, mas não só isso, ela é importante para a saúde geral do indivíduo, pois representa a primeira linha de defesa do organismo contra o ataque de bactérias e vírus e auxilia na manutenção do equilíbrio dos líquidos e temperatura corporal. É sensível ao toque (percebido desde uma pressão suave até um esbarrar de uma pena macia) a uma pressão forte ou à dor, caracterizado como um mecanismo de defesa e sobrevivência, além de outras diversas funções. A pele do rosto é um dos indicadores principais da saúde do indivíduo,é particularmente fina e sensível e a mais afetada pelas agressões dos raios solares, por isso tão suscetível ao envelhecimento. A pele do couro cabeludo é semelhante à pele de outras partes do corpo, com um diferencial, a presença de folículos pilosos maiores e mais profundos que acomodam os fios de cabelo. O cabelo saudável é sedoso, não oleoso, resistente (não quebradiço) e brilhante. Uma pele saudável deve estar livre de doença, infecção ou lesão. Ela deve ser levemente úmida, macia e flexível. O ideal é que tenha a superfície lisa, ligeiramente ácida e de textura agradável, além de respostas imunológicas rápidas e na medida certa. O cabelo e a pele da face são indicadores visíveis de como se encontra o estado da saúde da pessoa. Para um profissional da área da dermatologia ou da estética, é importante que se conheça a composição química da pele, a estrutura, as funções e os biótipos cutâneos para melhor entender a fisiologia da pele e sua importância diante das variações existentes de indivíduo para indivíduo, e saber como lidar e tratar a pele em cada caso. 2.1.1 Composição química da pele A pele é constituída basicamente de água, sais minerais, protídeos, lipídios e glicídios: • Água: está presente em 50 a 70% do total da pele. • Sais minerais: encontram-se na pele, entre eles podem ser citados: Na, K, Mg, Ca, Fe, Cu, Zn, Mn etc. 22 Unidade I • Protídeos: compostos por carbono (C), hidrogênio (H), oxigênio (O) e nitrogênio (N). Estão presentes em aproximadamente 27,5% do total da pele. São eles: — Aminoácidos: substâncias orgânicas que apresentam em sua constituição dois grupos funcionais diferentes: uma carboxila (-COOH) e um amino (-NH2), o grupo amino está sempre ligado ao carbono de número 2 da cadeia (α-aminoácido). Exemplo: tirosina, cistina, prolina, hidroxiprolina, desmosina. — Proteínas: formadas por aminoácidos, são sólidas, incolores, insolúveis em solventes orgânicos, alguns solúveis em água, ou em soluções de sais, ácidos e bases. Exemplo: colágeno, elastina, queratoialina, queratina, glicoproteínas, ácido hialurônico, melanina, ácidos nucleicos (DNA e RNA) e ureia. — Enzimas: proteínas com função catalisadora de reações biológicas, funções enzimáticas. Exemplo: colagenase, elastase, hialuronidase. — Hormônios: muitos deles são de natureza proteica. Exemplo: MSH (hormônio estimulante da melanina). • Lipídios: também chamados de lipídeos ou ainda lípidos, são substâncias orgânicas compostas de carbono, oxigênio e hidrogênio, insolúveis em água e solúveis em solventes orgânicos como álcool, éter e acetona. Exemplo: fosfolipídio (componente da membrana plasmática celular), colesterol (um álcool monoinsaturado gorduroso, é um esteroide natural), esqualeno (um dos metabólitos da biossíntese do colesterol), ácidos graxos (ácidos monocarboxílicos com o grupo carboxila “-COOH”, ligado a uma longa cadeia alquílica), triglicerídeos (gorduras armazenadas como forma de reserva energética) e prostaglandinas (responsável pela multiplicação celular, reações alérgicas e inflamação). • Glicídios: moléculas orgânicas constituídas por carbono, hidrogênio e oxigênio. São os açúcares ou carboidratos. Exemplo: glicose, glicogênio (sintetizado a partir da glicose, protídeos e lipídios). 2.1.2 Estrutura e camadas da pele A pele é formada pela epiderme, a camada mais externa e fina da pele (0,04 a 1,5 mm de espessura), constituída por tecido epitelial estratificado, pela derme (localizada abaixo da epiderme e formada de tecido conjuntivo) e ainda por uma terceira camada, a chamada hipoderme ou tela subcutânea (composta por tecido conjuntivo adiposo), que até pouco tempo era considerada como parte da pele, mas que, hoje, é entendida como uma camada à parte pela maioria dos autores. 23 COSMETOLOGIA E FORMULAÇÕES COSMÉTICAS Epiderme Hipoderme Músculo reto abdominal e gordura peritoneal Derme Figura 4 – Foto do tecido epitelial, com as diferentes camadas da pele (objetiva 4x) Nas camadas que compõem a pele, estão presentes as diversas células e estruturas que participam para sua formação e função. Poros sudoríparos Papila dérmica Epiderme Derme Subcutâneo (hipoderme) Final do nervo sensorial Pelo Córnea Veia Artéria Camada de pigmentos Camada germinativa Corpúsculo de Pacini Glândula sudorípara Vasos sanguíneos e linfáticos Fibras nervosas Papila capilar Folículo capilar Glândula sebácea Músculo eretor do pelo Camada basal Camada espinhosa Figura 5 – Pele e suas estruturas 24 Unidade I Epiderme A epiderme é a camada mais superficial da pele, que repousa sobre uma lâmina basal ondulada e tem as seguintes características: é uma barreira contra os agentes externos, tem a capacidade de diminuir a perda de líquidos do meio interno, não é vascularizada, mas possui terminações nervosas e é composta de camadas ou estratos divididos de acordo com a presença e diferenciação de suas células. As camadas ou estratos da epiderme são: • Estrato córneo: é a camada visível da pele. É formada por células achatadas em forma de escamas que são desprendidas e substituídas continuamente por outras novas que chegam das camadas mais internas da epiderme. Apresenta uma média de 20 subcamadas de células mortas compostas de queratina, que, junto às gorduras, formam uma camada protetora, resistente à água. A esse processo em que as células mortas se desprendem regularmente dá-se o nome de descamação. A camada córnea apresenta ainda os poros das glândulas sudoríparas e as aberturas das glândulas sebáceas. • Estrato lúcido: é a camada que apoia o estrato córneo, constituída por pequenas células aplainadas e transparentes. • Estrato granuloso: é uma camada formada por células losangulares que produzem grânulos e querato-hialina, os grãos laminares dão o aspecto granuloso e por isso o nome de estrato granuloso. • Estrato espinhoso: o estrato espinhoso, junto com o estrato basal, forma a camada de Malpighi, suas células apresentam-se fusiformes e poliédricas unidas em tonofilamentos. Os queratinócitos produzem queratina (fibras de proteína). Nessa camada inicia-se o processo de descamação das células epiteliais. • Estrato basal ou camada germinativa: é a camada mais profunda da epiderme e, junto ao estrato espinhoso forma a “Camada de Malpighi”, suas células podem apresentar-se cilíndricas ou em diversos formatos. Nessa camada ocorrem a produção e o crescimento das células da epiderme, incluindo os queratinócitos, melanócitos, células de Langerhans e células de Merckel. Células epidérmicas Os queratinócitos são formados na camada mais profunda da epiderme (camada basal), a partir de células cilíndricas que sofrem contínua atividade mitótica. Estão presentes desde as camadas mais profundas até a periferia, são as células mais numerosas da epiderme, representando 80% do total das células epidérmicas, aparecem no estrato germinativo ou camada basal, estrato espinhoso, estrato granuloso, estrato lúcido e estrato córneo (e descamante). 25 COSMETOLOGIA E FORMULAÇÕES COSMÉTICAS Os queratinócitos na camada basal são células altas, cilíndricas e dispostas em uma única camada, são fixados entre si pelos desmossomos e sobre a membrana basal pelos hemidesmossomos. Sintetizam as tonofibrilas, que agrupadas formam os tonofilamentos. Os desmossomos unem-se aos tonofilamentos resultando numa tensão e coesão intracelular e intercelular firme. No estrato espinhoso, as células se achatam e apresentam a forma poliédrica. Já no estrato granuloso as células tomam a forma de losango e se achatam ainda mais, e a presença de grãos de querato-hialina e grãos laminares dão o aspecto granuloso a essa camada. A querato-hialina presente é precursora da proteína filagrina, que dá origem ao natural moisturizing factor (NMF) ou fator de hidratação natural. No estrato lúcido, os queratinócitos achatados contêm eleidina. E, no estrato córneo, os queratinócitos apresentam-se em lâminas, perdem o núcleo e organelas, tornando-se completamentequeratinizados. Figura 6 – Queratinócitos Já melanócitos são células dendríticas presentes na camada basal germinativa que possuem organelas específicas, os melanossomas, responsáveis pela produção de melanina. Figura 7 – Melanócito e melanina 26 Unidade I As células de Langerhans são células dendríticas (apresentam prolongamentos citoplásmicos chamados dendritos), situadas na camada de Malpighi. Elas se deslocam entre a derme e a epiderme. Contêm organelas especiais como os grânulos de Birbeck (endocitose) e os lisossomos (digestão). As células de Langerhans estão presentes também nos folículos pilosos, glândulas sebáceas, glândulas sudorais apócrinas, mucosa bucal, mucosa gengival, entre outros locais. Já as células de Merckel possuem microfilamentos e estão situadas na camada basal germinativa. O citoplasma é granuloso e seu núcleo apresenta inclusões específicas. Os desmossomos unem as células de Merckel aos queratinócitos vizinhos. Uma fibra nervosa não mielinizada (um neurônio sensorial) entra em contato com as células de Merckel (através do apoio num disco táctil) formando o disco de Merckel (inervação da pele). Estão presentes em peles jovens, em nariz, lábios e regiões genitais. 2.1.2.1 Derme A derme é uma camada espessa de tecido conjuntivo, vascularizada, na qual se apoia a epiderme. É responsável por dar resistência mecânica à pele e promover a nutrição da pele e seus anexos. Sua espessura é cerca de 25 vezes maior que a da epiderme. A derme se conecta na parte mais externa com a epiderme e mais profundamente com a hipoderme e fáscia muscular. É dividida em duas camadas, a derme superficial ou papilar (formada por tecido conjuntivo frouxo) e a derme profunda ou reticular (formada por tecido conjuntivo denso). A camada papilar é a mais externa e nela são encontradas as papilas dérmicas (pequenas elevações presentes na base dos folículos pilosos) que contêm arteríolas, vênulas, capilares linfáticos, e os corpúsculos táteis com terminações nervosas, fibras elásticas e fibras de reticulina. Observação No contato entre a derme e a epiderme aparece a junção dermoepidérmica que apresenta as seguintes características: é sinuosa e suporta mecanicamente a epiderme; os queratinócitos da camada basal germinativa repousam sobre ela; é intermediária entre os tecidos epitelial e conjuntivo; tem função de barreira ou filtro seletivo. Nela estão presentes: tonofilamentos, hemidesmossomas, membrana, lâmina lúcida, lâmina basal, fibras elásticas, fibras de ancoragem e fibras de colágeno e, na parte superior, aparecem os melanócitos. A camada reticular é a mais interna e responsável pelo fornecimento de oxigênio e nutrientes às outras camadas da pele. Nessa camada, também vascularizada e bem inervada, estão presentes diversas 27 COSMETOLOGIA E FORMULAÇÕES COSMÉTICAS estruturas, incluindo vasos sanguíneos, vasos linfáticos, nervos, terminações nervosas, células de macrófagos, linfócitos e fibroblastos, fibras de colágeno ou colágenas, fibras de elastina ou elásticas, glândulas sebáceas, glândulas sudoríparas, folículos pilosos e músculos eretores dos pelos. Células, fibras e estruturas da derme As células, fibras e estruturas da derme consistem em: • Macrófago: célula do tecido conjuntivo rica em lisossomas com função de fagocitose de elementos estranhos ao corpo, responsável pela defesa do organismo. Figura 8 – Macrófago • Linfócito: célula de defesa do corpo. Figura 9 – Linfócito 28 Unidade I • Fibroblasto: é uma célula do tecido conjuntivo responsável pela síntese de colágeno e elastina, glicosaminoglicanas e glicoproteínas multiadesivas. Durante o processo de recuperação de lesões, os fibroblastos migram para as áreas afetadas auxiliando na produção de matriz celular e cicatrização da lesão. Figura 10 – Fibroblasto • Fibras elásticas: as fibras elásticas são delgadas, sem estriações longitudinais e se ramificam formando uma rede. São formadas pela proteína elastina (produzida pelos fibroblastos). As fibras são resistentes e suas microfibrilas são constituídas por uma glicoproteína especializada que dá resistência e elasticidade. Figura 11 – Fibras elásticas 29 COSMETOLOGIA E FORMULAÇÕES COSMÉTICAS • Fibras colágenas: as fibras colágenas são formadas pela proteína chamada de colágeno, sintetizado pelos fibroblastos, células do músculo liso e osteoblastos. Existem cinco tipos de colágeno e, entre eles, o tipo I é o principal constituinte da pele, tendões, ossos e paredes dos vasos. Figura 12 – Fibras colágenas • Fibras de reticulina: as fibras de reticulina são curtas, finas (0,5 a 2 µm), delicadas e inelásticas. As fibras são ramificadas e formam uma rede que liga o tecido conjuntivo aos tecidos vizinhos. São constituídas pela proteína chamada de reticulina, sintetizada por fibroblastos, condroblastos, osteoblastos e por células epiteliais. É formada principalmente pelo colágeno tipo III (ou, em algumas vezes, por colágeno tipo I) associado às glicoproteínas e às proteoglicanas. • Terminações nervosas: as terminações nervosas em corpúsculos são formações compactas, com uma espécie de cápsula que envolve os filetes nervosos. Encontram-se nas duas camadas da derme, enquanto as terminações nervosas livres se apresentam sem nenhum tipo de estrutura que as envolva. São receptores sensoriais (axônios) que se formam na derme e ramificam-se até à epiderme. • As glândulas sebáceas, glândulas sudoríparas, folículos pilosos e folículos pilossebáceos podem ser classificadas como: — As glândulas sudoríparas secretam o suor e são formadas por uma base enovelada ligada a um duto que termina na epiderme formando um poro por onde é excretado o suor. — As glândulas sebáceas secretam o sebo e são formadas por pequenos sacos com dutos que se conectam aos folículos pilosos por onde é excretado o sebo. — Os folículos pilosos são constituídos por células epidérmicas que se estendem pela derme e formam um tubo por onde poderá passar um pelo. — Os folículos pilossebáceos são formados pelos folículos pilosos, pelos ou cabelos, bainhas, glândulas sebáceas e músculos eretores. 30 Unidade I Glândula sudorípara Figura 13 – Folículo pilossebáceo e glândula sudorípara 2.1.2.2 Hipoderme ou tela subcutânea É um tecido localizado abaixo da camada dérmica, unindo a derme aos órgãos profundos. É formado por tecido conjuntivo adiposo e tecido conjuntivo frouxo. As células de gordura ou células adiposas são também chamadas de adipócitos e ficam agrupadas em lóbulos. É um tecido bem suprido de vasos sanguíneos e terminações nervosas e dá o contorno e a firmeza ao corpo. O tecido varia de espessura conforme sua localização no corpo e difere com a idade, gênero, condições de saúde, alimentação e qualidade de vida. Adipócito Figura 14 – Foto de adipócitos na hipoderme 31 COSMETOLOGIA E FORMULAÇÕES COSMÉTICAS 2.1.3 Principais funções da pele 2.1.3.1 Proteção A pele atua como barreira física e oferece certa proteção ao corpo contra as lesões e os ataques químicos e de microrganismos de diversas maneiras: • A queratinização da epiderme propicia à pele a proteção mecânica através da resistência à fricção e à penetração de substâncias indesejáveis. • A estrutura fibrosa e elástica da derme também auxilia na proteção mecânica e física da pele. • A composição do tecido adiposo favorece o amortecimento dos choques e protege músculos e órgãos. • Os melanócitos presentes produzem a melanina como um tipo de proteção contra as agressões dos raios solares. • O filme hidrolipídico com pH ácido (5,5) forma um manto ácido constituído de sebo, lipídios, suor e água, o qual se traduz numa barreira natural da pele. • O sistema imune realizado pelas células de Langerhans e pela resposta inflamatória da derme são mecanismos essenciais de defesa e proteção. • A cicatrização também é um meio de proteção. Na derme ocorre a mobilização e multiplicação dos fibroblastos, com posterior produção de fibras de reticulina, colágeno e mais aofinal da cicatrização formação de fibras elásticas, enquanto na epiderme acontece a proliferação epitelial, com numerosas mitoses e consequente queratinização. 2.1.3.2 Sensação A sensação é considerada um tipo de proteção, pois a pele é estimulada através das terminações nervosas e responde aos diferentes estímulos, como calor, frio, tato, pressão e dor. Após um impulso nervoso ter sido enviado ao cérebro com a mensagem do estímulo, ocorre uma resposta com um comando de alerta, de afastamento ou de aceitação ao estímulo. Nas terminações nervosas livres encontram-se os diversos tipos de receptores como os termorreceptores (recepção do calor e frio), os quimiorreceptores (sensível à presença de certas substâncias), os fotorreceptores (sensível à luz), os mecanorreceptores (sensíveis aos estímulos tácteis) e os nociceptores (sensíveis aos estímulos de alta intensidade: dor, ardência, temperaturas extremas). Os receptores e outras numerosas fibras acabam no nível das células de Merkel na epiderme. Os discos de Merkel são ramificações de axônios com vários discos terminais que se associam a células epiteliais e são sensíveis ao toque (tato) e pressão. 32 Unidade I As terminações nervosas em corpúsculo são de quatro tipos: • Corpúsculo de Meissner: receptor sensível ao toque (tato), presente principalmente nas papilas dérmicas da polpa dos dedos, palmas da mão e plantas dos pés. • Corpúsculo de Vater-Pacini: sensível às pressões fortes e vibrações, encontra-se na derme profunda. • Corpúsculo de Krause: sensível ao frio e às vibrações, e encontra-se na derme superficial nos lábios, língua e dorso das mãos. • Corpúsculo de Ruffini: sensível ao calor, à pressão e ao alongamento, está presente na derme de peles espessas e com pelos. As terminações nervosas do folículo piloso são receptores formados por axônios que envolvem os folículos pilosos e são responsáveis pela recepção das sensações mecânicas aplicadas ao pelo. 2.1.3.3 Regulação da temperatura A pele protege o organismo contra as variações de temperatura através dos termorreceptores que enviam informações ao centro de regulação térmica do hipotálamo. A temperatura média corporal é de aproximadamente 37 °C, caso ocorram alterações na temperatura do ambiente, a pele e seus anexos realizam os ajustes de maneira que o corpo continue na temperatura adequada. Para impedir o superaquecimento, o corpo se vale de alguns recursos como a sudorese, que realiza a dissipação do calor através dos poros das glândulas sudoríparas, a vasodilatação, que aumenta o fluxo sanguíneo, e a perspiração, que realiza a perda de água transcutânea e, com isso, resfria o corpo, voltando-se à temperatura normal. Para evitar o esfriamento do corpo, o panículo adiposo, com suas camadas de gordura, faz o isolamento do calor corporal e realiza a vasoconstrição para redução do fluxo sanguíneo além da horripilação como um reflexo contra o frio. O músculo levantador do pelo sobe o folículo pilossebáceo e acontece o arrepio. 2.1.3.4 Secreção As glândulas sebáceas secretam o sebo constituído pelos óleos que mantêm a pele macia e protegida. O sebo auxilia na diminuição da velocidade de evaporação de água, tanto da transepidérmica, chamada perda de água transepidérmica (Pate), como da epidérmica, chamada perspiração insensível epidérmica (PIE). 2.1.3.5 Excreção As glândulas sudoríparas, através de seus poros, excretam o suor eliminando o excesso de sal e substâncias indesejáveis, promovendo a desintoxicação. 33 COSMETOLOGIA E FORMULAÇÕES COSMÉTICAS Observação Não confunda poros com os folículos pilosos ou óstios. Os poros não são visíveis a olho nu. São as saídas do canal das glândulas sudoríparas e eliminam o suor. Os folículos ou óstios são facilmente visíveis a olho nu. Os folículos pilossebáceos são os orifícios por onde sai o pelo e desemboca a glândula sebácea (que secreta o sebo), no entanto podem existir folículos sebáceos sem pelos e por isso a confusão. Em peles oleosas, eles apresentam-se dilatados. 2.1.3.6 Absorção A absorção de água, oxigênio, medicamentos, produtos cosméticos, entre outras substâncias, ocorre através das glândulas sebáceas, paredes do folículo piloso, vias intercelulares e vias transcelulares. Glândula sebácea como via de penetração A) Parede do folículo como via de penetração B) Via intercelular Via transcelular C) Figura 15 – Principais vias de absorção A absorção pela pele depende do tamanho das moléculas das substâncias a serem absorvidas, por isso hoje, com as novas tecnologias, conseguimos cosméticos que apresentam moléculas com dimensões compatíveis para a absorção através da pele, o que os tornam mais eficientes em relação a outros com moléculas maiores. 34 Unidade I 2.1.3.7 Respiração A pele apresenta uma fraca atividade respiratória, mas indispensável para o tecido cutâneo. 2.1.3.8 Reserva Os lipídios ficam armazenados nos lóbulos de adipócitos, principalmente na tela subcutânea. 2.1.3.9 Produção de vitamina D3 Quando o indivíduo é exposto aos raios UV, parte do colesterol (7-desidrocolesterol) da pele transforma-se em vitamina D3 (colecalciferol), uma vitamina essencial para a saúde. Saiba mais Conheça a importância e os benefícios da exposição ao sol para a produção de vitamina D e as consequências da carência dessa vitamina com a leitura de: BASF S.A. A vitamina D. [s.d.]. Disponível em: http://insumos.com.br/ aditivos_e_ingredientes/materias/174.pdf. Acesso em: 28 abr. 2020. 2.1.4 Anexos da pele Os anexos da pele são representados pelos folículos pilossebáceos (como já citado, são formados por folículo piloso, pelo, bainhas, músculo eretor e glândulas sebáceas), glândulas sudoríparas, glândulas mamárias e unhas. O folículo piloso é constituído por células da camada de Malpighi que se invaginam até a camada subcutânea, formando uma cavidade onde ficará o pelo, o qual, no entanto, pode não estar presente em alguns folículos. O pelo é um filamento constituído da proteína queratina resistente e flexível. Está distribuído em quase todas as partes do corpo, com exceção das palmas das mãos, plantas dos pés, face lateral dos dedos, pálpebras, lábios, pênis e clitóris. Na maioria das vezes, não são visíveis a olho nu. Eles aparecem em maior quantidade na cabeça, virilha, axila, braços e pernas, onde se tornam claramente visíveis e diferenciados, dependendo das características genéticas e hormonais de cada um. As glândulas sebáceas estão geralmente anexadas a um pelo, mas podem também aparecer isoladas. Elas são as responsáveis pela secreção do sebo que lubrifica o pelo e a pele, fazendo parte do filme hidrolipídico da superfície da pele. 35 COSMETOLOGIA E FORMULAÇÕES COSMÉTICAS As glândulas sudoríparas são glândulas anexas divididas em dois tipos: as écrinas e as apócrinas. As glândulas sudoríparas écrinas são encontradas em todo o corpo, predominando na testa, peito, palmas das mãos e plantas dos pés. Elas regulam a temperatura do corpo e eliminam os detritos e substâncias tóxicas através do suor. As substâncias ácidas do suor écrino são de grande importância na hidratação, pois são os principais constituintes do fator de hidratação natural (NMF). As glândulas sudoríparas apócrinas são encontradas nas axilas, no conduto auditivo, nas pálpebras, nas aréolas dos seios, na região perianal e nas regiões genitais. Elas estão sempre anexadas a um pelo, suas secreções são eliminadas através das glândulas sebáceas. O suor apócrino é viscoso com aparência leitosa, a interação entre as secreções das glândulas sebáceas e das glândulas apócrinas produz odores específicos para cada indivíduo. A unha é uma placa córnea dura e translúcida, constituída de queratina, situada sobre a face dorsal das extremidades dos dedos, servindo como proteção. Lúnula Borda livre A) Lâmina ungueal Hiponíquio Leito ungueal B) Eponíquio Matriz Figura 16 – Unha vista por cima e lateralmente A unha é composta de matriz, leito ungueal, lâmina ungueal, cutícula,eponíquio, hiponíquio, ligamentos especializados e pregas ungueais. A matriz sai da camada basal germinativa e produz a lâmina ou mesa ungueal, constituída por queratina endurecida e fica assentada sobre o leito ungueal. O leito ungueal é a porção de pele viva que sustenta a lâmina ungueal. O leito ungueal é suprido por vasos sanguíneos e possui cor rosada. A lâmina ungueal é formada pela raiz (base de implantação da lâmina ungueal e que se assenta sobre a matriz) e pelo corpo ou limbo (parte visível da unha). O limbo da unha por sua vez é formado pela lúnula (parte visível da matriz, na base da unha, de cor esbranquiçada e em forma de meia-lua), pela zona rósea (parte central da unha que repousa sobre o leito ungueal) e pela borda livre (porção livre da unha). A cutícula é um tecido morto, ligado à lâmina ungueal, responsável por vedar o espaço entre a placa ungueal e a pele viva. 36 Unidade I O eponíquio é formado pela epiderme dorsal do dedo, é um tecido vivo que se situa na base da lâmina ungueal que cobre a matriz. O hiponíquio é a camada da pele que fica entre a ponta do dedo e a borda livre da lâmina ungueal. Os ligamentos especializados prendem o leito ungueal e a matriz ao osso do dedo. As pregas ungueais são as dobras da pele que circundam a lâmina ungueal. 2.1.5 Biótipos cutâneos Antes de aplicar um cosmético na pele, é importante conhecer o biotipo cutâneo da pessoa para que se utilize o melhor tratamento com os cosméticos adequados e se obtenha o resultado esperado. Existem quatro tipos básicos de biótipos cutâneos, classificados como pele normal, lipídica, alípica e mista, e ainda há quem acrescente nessa classificação a pele acneica. A pele normal ou eudérmica é caracterizada por apresentar secreção sebácea e sudorípara equilibradas, tônus e elasticidade uniformes, superfície lisa e aveludada e óstios não perceptíveis. A pele lipídica ou oleosa apresenta-se espessa, brilhante, com óstios dilatados e visíveis e secreção sebácea e sudorípara abundante. A pele alípica ou seca possui espessura fina e aspecto descamativo, pouca secreção sebácea por deficiência de gordura, opaca, sem brilho e desidratada devido à deficiência de água no manto hidrolipídico. A pele mista tem um aspecto geral semelhante ao da pele eudérmica, com níveis de hidratação aparentemente normais e uniformes. Na zona “T” da face, a secreção sebáceo-sudorípara é presente, com aspecto gorduroso e brilhante, alternado com zonas secas ou normais, nas regiões restantes do rosto. Observação Segundo a ABIHPEC, o consumidor de produtos pessoais em geral e principalmente o consumidor de cosméticos se transformou muito nos últimos anos e hoje exige produtos e serviços feitos sob medida para suas necessidades. Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos revelou que 40% das mulheres americanas que usam maquiagem, entre 25 e 34 anos, disseram estar frustradas por não encontrarem produtos que combinam com seu tom de pele. Imaginem aqui no Brasil com nossa enorme diversidade de biótipos cutâneos e raciais, como é difícil atender esse público. Por isso é importante conhecer muito bem e levar em consideração os diversos biótipos para melhor atender seus clientes. 37 COSMETOLOGIA E FORMULAÇÕES COSMÉTICAS Saiba mais Saiba mais e atualize-se sobre o mercado de cosméticos: FCDL. Brasil se mantém como o quarto maior mercado mundial de cosméticos. [s.d.]. Disponível em: https://www.fcdl-sc.org.br/fcdl- noticias/brasil-se-mantem-como-o-quarto-maior-mercado-mundial-de- cosmeticos/. Acesso em: 7 mai. 2020. 2.2 Permeabilidade cutânea É a capacidade que a pele tem de deixar passar certas substâncias em função de sua natureza química ou de determinados fatores. É a característica que a pele tem em aceitar ou não a permeação de substâncias. Lembrete A absorção pela pele depende do tamanho das moléculas das substâncias a serem absorvidas, por isso hoje, com as novas tecnologias, conseguimos cosméticos que apresentam moléculas com dimensões compatíveis para a absorção através da pele, o que os tornam mais eficientes em relação a outros com moléculas maiores. 2.2.1 Fatores envolvidos Diversas variáveis devem ser consideradas em relação a uma maior ou menor permeabilidade e entre elas podem ser citadas: • Espessura e integridade da epiderme: quanto maior a espessura da pele, menor será a permeabilidade. • Hidratação do estrato córneo: quanto maior e mais adequada a hidratação, maior será a permeabilidade. • Idade: com o avanço da idade ocorre um espessamento do estrato córneo, com isso diminui a hidratação e, consequentemente, diminui a permeabilidade. • Fluxo sanguíneo: quanto maior o fluxo sanguíneo, maior será a permeabilidade. • Região do corpo: em regiões do corpo onde existe um grande número de folículos pilossebáceos, a permeabilidade é maior. 38 Unidade I No caso dos cosméticos, deve-se levar em conta o tipo de veículo utilizado e a dissolução dos princípios ativos nesse veículo, a difusão para a superfície da pele e a penetração através das camadas da pele. Por isso é importante que sejam levadas em consideração algumas características, como alta capacidade de difusão do princípio ativo (p. a.), alta lipossolubilidade, baixo peso molecular e tamanho da partícula reduzida, além disso, é interessante que a concentração do p. a. seja suficientemente alta para permitir uma melhor permeabilidade, promover o contato com a pele num tempo de exposição maior, utilizar um pH adequado e, quando possível, altas temperaturas, pois propiciam uma maior permeabilidade. 2.2.2 Recursos para facilitar a permeabilidade cutânea A permeação pode ser facilitada valendo-se de alguns recursos ou promotores de permeação. Esses recursos podem ser químicos, físicos e sistemas de liberação controlada. 2.2.2.1 Recursos químicos Como recursos químicos, podem ser citadas as substâncias que promovam mudanças nas propriedades físico-químicas, na composição ou na organização do estrato córneo, como substâncias que provoquem alterações de pH, aumentem a hidratação, aumentem a fluidez da camada lipídica da pele ou que de alguma maneira facilitem a difusão dos princípios ativos pela pele. O uso de emolientes, hidratantes e peelings químicos são recursos muito utilizados na estética. 2.2.2.2 Recursos físicos Os recursos físicos auxiliam na permeação utilizando técnicas específicas para liberação dos princípios ativos e alterando as características do tecido. A administração de substâncias através da pele, com o uso de corrente elétrica de fraca intensidade ou corrente galvânica (iontoforese), facilita a difusão dos princípios ativos que podem ser carregados eletricamente ou não. A introdução dos ativos ionizáveis, diante do campo elétrico da corrente galvânica, é conseguida de acordo com a polaridade positiva ou negativa dos eletrodos. A fonoforese favorece a permeação de preparações e ativos específicos com o auxílio da ação de ondas ultrassônicas. Na técnica de microdermoabrasão são utilizadas diminutas partículas abrasivas que causam uma erosão no estrato córneo e liberam as células mortas superficiais da epiderme, facilitando a permeação das substâncias desejadas. A técnica de microagulhamento se baseia no uso de microagulhas que penetram a pele e estimulam a produção de colágeno, ao mesmo tempo elas formam temporariamente diminutas aberturas que aumentam a permeabilidade cutânea e permitem a entrada de substâncias que podem conter os princípios ativos. 39 COSMETOLOGIA E FORMULAÇÕES COSMÉTICAS Os sistemas de liberação controlada, como o próprio nome diz, possuem a vantagem de liberar gradualmente os princípios ativos em locais determinados. Eles são introduzidos no organismo através da nanotecnologia, que se utiliza de diferentes tipos de carreadores, como as microemulsões microcapsuladas, os lipossomas, as ciclodextrinas, nanocápsulas contendo nanopartículas poliméricas ou lipídicas sólidas e colaesferas. Resumo Nesta unidade foram apresentados a história
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