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Minha Protegida

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Copyright 2021 © KIM B. MITCHELL
T ítulo Original: Minha Protegida
Primeira Edição 2021
São Paulo - Brasil
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser
reproduzida, distribuída ou transmitida por qualquer meio ou formato, sendo
cópia, gravação ou qualquer método eletrônico sem a autorização prévia da
autora. Exceto em casos de pequenos trechos incluídos em avaliações críticas.
Nome da Autora: Kim B. Mitchell
Assessora Literária: Talita Laquimia
Esse é um trabalho de ficção. Nomes, lugares, incidentes e acontecimentos
são produtos da criatividade da autora. Qualquer semelhança com a realidade
é mera coincidência.
AVISO
Esta obra é um Romance Dark . São apresentados assuntos polêmicos,
gatilhos emocionais envolvendo agressão física, verbal, tortura e tentativa de
violência sexual. Respeite seus limites.
Há presença de linguagem imprópria, conteúdo sexual e assuntos
diversos que fazem da obra não recomendada para menores de 18 anos.
A história não tem por objetivo incentivar, romantizar e tornar
toleráveis organizações criminosas e qualquer tipo de infração.
Cada parte desse universo foi pensada em prol de futuras histórias de
minha autoria que sejam adaptadas a esse mesmo cenário. Acontecimentos
dentro do livro não refletem a realidade e não possuem base em
verossimilhança, tudo é ficcional.
O livro trata de assunto obscuro e grotesco, não leia se não se sente à
vontade.
Atenciosamente, Kimberly.
“
Sabe qual é o grande trunfo de uma mulher 
que já passou pelo inferno?
A gente sabe onde fica a saída .
— Jaqueline Naujorks
SINOPSE
A sorte não estava sendo amiga de Amanda nos últimos meses. Depois de
perder a avó, estar desempregada e desabrigada, era normal deixar de
acreditar na vida. Com os últimos trocados que tinha no bolso, ela embarcou
em um ônibus com o destino errado e se viu perdida em uma rodoviária sem
ter para onde ir.
Entretanto, às vezes o acaso provoca coisas interessantes. Depois de ser
consolada e acolhida por uma senhora com o mesmo nome de sua avó,
Amanda vai parar na cobertura multimilionária de um homem desconhecido.
A sua bem-feitora promete uma vaga como empregada naquele lugar assim
que o dono do espaço chegar de uma viagem ao exterior.
O problema é que Jordan Stein, proprietário da cobertura, de uma rede de
boates e um esquema de tráfico de drogas ligado à máfia, não só está no
Brasil como está indo para onde Amanda se encontra. Cansado e sem um
pingo de paciência para as lamúrias de uma moça qualquer.
O primeiro encontro dos dois só pode ser definido como acidental, mas todo
o resto foi pura vontade. Será difícil manter uma relação estritamente
profissional quando se tem a própria tentação como um chefe extremamente
arrogante.
UM
AMANDA DIAS
 — Pobrezinha!
Eu acho que no mundo inteiro não existe adjetivo que eu odeie mais
do que esse. Exclusivamente em diminutivo.
Encarando o chão por onde passavam toda a vastidão de viajantes, eu
apertei ainda mais meus joelhos e chorei mais alto enquanto a pessoa que
falou comigo se aproximava. Todo o pavor que eu sentia parecia atingir um
nível cada vez mais alto me impedindo de ser minimamente racional.
Estava em uma rodoviária, o último lugar que consegui chegar depois
de ter perdido o fio da meada. Parecia triste que todas aquelas pessoas
soubessem exatamente para onde ir enquanto eu era um poço de incertezas
que pegou o ônibus errado e agora não tinha nem o porquê de pegar o certo.
Tudo o que tinha estava em uma mochila que eu segurava firmemente
com medo de levarem.
Depois do adjetivo pejorativo, uma mão se apoiou em meu ombro e
então eu encarei quem havia dito aquela palavra para mim.
Um olhar bondoso me encarou de volta e eu percebi, mesmo entre a
imagem turva que as lágrimas causavam, que era uma senhorinha que me
sorria como se eu fosse o ser humano mais infeliz da face da Terra.
Não que eu não fosse, analisando esporadicamente a minha vida, eu
tinha plena noção que alguém lá no céu não era muito misericordioso na hora
de olhar para meu destino.
Meu pai ter me abandonado na infância é até normal perto da
imensidão de casos repetidos com esse mesmo fim. O problema é que minha
mãe fez a mesma coisa e no fim só restou minha vó.
Minha avó que mal sobrevivia como costureira fez o que pôde pra
pagar aluguel, comida e roupas por todo o período desde a minha infância até
os meus dezoito anos. E eu fiz o que pude pra passar na faculdade, conseguir
um trabalho e tentar uma mudança de vida.
Mas não adiantou de nada. Tudo o que me restou foram portas
fechadas na minha cara, uma cova simples para vovó e nossa casa sendo
tomada pela falta de pagamento ao proprietário.
Ela faleceu com a cabeça deitada no meu colo na fila de um hospital
público depois de sofrer um ataque cardíaco. E eu nunca quis tanto uma
pessoa ao meu lado nesse instante quanto a queria.
Então não, não foi possível, para mim, recusar a nova patente de
"pobrezinha". Moradora de rua, vinte anos recém completos sem nenhuma
vela soprada ou bolo confeitado, desempregada, sozinha e com frio.
Porque não parece pouco ser tudo isso, ainda tem que fazer malditos
14° C em pleno Rio de Janeiro justo na minha primeira noite como
desabrigada.
Então quando tem uma mão em seu ombro e alguém olhando pra você
da forma que essa senhora tá me olhando, é fácil se lembrar exatamente de
tudo o que aconteceu.
— O que aconteceu, meu docinho? Por que está sozinha na rua à essa
hora? — Pisquei percebendo o quão vulnerável eu parecia.
— Eu perdi tudo...
Como uma criança, abri o berreiro sendo abraçada pela mulher que
forçou minha cabeça contra o seu ombro como uma mãe faria com a filha que
acabou de ralar o joelho. O problema era que ela não era minha mãe e eu
tinha ralado minha cara.
— Você não me parece uma mocinha de rua, me conta o que
aconteceu. Vamos, meu patrão diz que eu sou uma boa ouvinte. — A
observei sob os cílios admirando sua generosidade. Não era qualquer uma
que se mostrava disposta a ouvir as lamúrias de uma pessoa que nem
conhecia.
Me sentei direito e funguei, era hora de falar em voz alta minha
história de vida.
Em minutos eu havia colocado em seus ouvidos tudo o que tinha
acontecido no terrível espaço de seis meses que determinaram todos os
desalentos que eu sofria naquele momento. Relatei o despejo, a morte da
minha avó, a falta de emprego e falei até sobre o aniversário sem
comemoração. Ela passou os dedos pelos meus cabelos como minha vó fazia
e sorriu.
— Uma criaturinha tão nova que já passou por todas essas
provações... O mundo é mesmo um lugar injusto. Ouça o que eu vou lhe
dizer: — Segurou minha mão entre as suas. — meu patrão está sempre
viajando e quando está aqui no Brasil ele fica mais em São Paulo do que no
Rio. Meu marido deve chegar para me buscar a qualquer momento, fui visitar
minha irmã em Minas e acabei de voltar de viagem.
Ela olhou em volta vendo os homens estranhos que andavam de um
lado para o outro naquele lugar e se ajeitou mais para perto de mim como se a
proximidade pudesse me proteger.
— Essa rodoviária não é segura para você, vou te pagar um lanche e,
quando meu marido chegar, vou explicar para ele sua situação. Vamos deixá-
la dormir no quarto de hóspedes na casa do meu chefe. Eu tenho minha casa
logo abaixo do andar dele, qualquer coisa apareço lá em instantes e você
ficará segura. Quando meu patrão chegar ao Brasil, eu falo sobre você.
Pensando por alguns instantes, ela ficou em um regrado silêncio até
que o interrompeu abruptamente.
— Sabe cozinhar? — Acenei com a cabeça afirmativamente. — E
limpar?
— Minha vó dizia que eu sei encontrar poeira nos lugares mais
difíceis. Acho que sou boa nisso.
— Ótimo, vou dizer a ele que você poderá me ajudar porque já estou
ficando velha e o serviço é pesado para mim. Enquanto isso você vai procurar
um serviço melhor para um rostinho bonito como o seu. Pode ser? —
concordei e não resisti a abraçá-la outra vez. — Mas não esqueça, estou me
arriscandomais do que é seguro para ajudar você. Confiança se conquista,
mas também se perde, então não me faça ter arrependimentos. Me promete
que não fará nenhuma besteira?
— Eu prometo sim, senhora. Muito obrigada por tudo.
***
Sentada nas cadeiras que a lanchonete destinava aos clientes, eu fiquei
observando Rita. Ela se apresentou assim para mim e aquilo me surpreendeu.
Como alguém podia ter o exato mesmo nome da minha vó e ainda cuidar de
mim quase como ela fazia?
Ela sorriu quando me pegou a observando e tinha facilidade para fazer
isso. Ria de tudo, no mínimo era bem feliz.
— Você é mesmo uma gracinha! — O fato dela me tratar como
criança não me incomodava, parecia extremamente amoroso como se eu
fosse sua parente. — Escute, no meu coração eu sinto que devo alertar sobre
isso: meu patrão é um sujeito muito... Como vou dizer sem desrespeitar? —
Ela procurou a palavra e eu peguei o copo de suco prestando atenção no que
ela dizia. — Olha, ele é um safadinho. Aquele menino é terrível demais, por
isso você precisa ter cuidado. Ele tem um catálogo de moças e tá sempre
procurando mais uma para colocar lá.
Eu quase me engasguei ao entender o que ela realmente estava me
dizendo.
— Pode deixar, dona Rita. Eu vou ficar bem longe dele! — respondi
efusivamente.
Ela riu de novo.
— Também não precisa ficar com medo do homem. Ele é bonzinho
quando você não é uma das namoradas dele.
Não foi uma notícia muito tranquilizante, mas sorri de volta para ela.
Dei uma mordida no lanche respirando aliviada por alguém estar cuidando de
mim. Não que eu fosse do tipo submisso que fica embaixo das asas dos
outros, mas ultimamente eu não tenho tido o mínimo de noção na hora de
suprir minhas necessidades.
Se eu fosse um bebê, teria morrido de inanição graças a mãe relapsa
que no caso era eu mesma.
— A senhora tem certeza que ele não vai se incomodar de eu estar
dormindo na casa dele? Eu sou uma estranha, talvez isso possa gerar
problemas para o seu emprego. Não quero dificultar as coisas, ainda mais
depois de ter me ajudado tanto.
— Ele nem vai saber que você esteve lá.
Suspirei pedindo para que aquilo fosse verdade. De problema já
bastava os que eu já tinha.
— Rita? — Um senhor se aproximou da nossa mesas e eu fechei a
boca colocando o lanche na bandeja.
— Manoel, essa é a Amanda e nós dois precisamos conversar.
***
JORDAN STEIN
Passava das quatro da manhã. Era óbvio que esse horário
corresponderia ao silêncio que o condomínio representava. Olhei para a
portaria por precaução e o porteiro me cumprimentou sonolento.
Tudo em ordem, nenhuma preocupação. Meus seguranças se
espalharam por ali e Max veio junto comigo em direção ao elevador.
— Grande noite! Três novos clubes serão inaugurados dentro de dois
meses, Jordan. Como se sente? — Olhei para aquele que eu considerava meu
melhor amigo e voltei a encarar os botões antes de responder.
— Certo, como sempre. — Ele deu um sorriso que eu vi pelo reflexo
da parede espelhada. — Esqueci de avisar minha empregada que estava
vindo. — murmurei lembrando do meu engano.
— Conhecendo Rita, tudo deve estar preparado como se você fosse
receber um batalhão de hóspedes. — O humor extremamente alegre de Max
não condizia com o meu.
Estava taciturno como se algo me incomodasse. Era como se tivessem
tirado alguma coisa do lugar e eu percebesse isso no ar.
Restava saber o que.
A campainha do elevador alertou quando chegamos ao meu andar.
A porta da cobertura estava fechada como sempre e não demorou até
que eu chegasse à sala de estar.
Então percebi o que estava fora do lugar. Bem diante de mim estava a
peça destoante em forma de mulher. Uma camisola simples coberta por um
roupão do banheiro de hóspedes, olhos assustados, um copo de água e os
lábios separados em perplexidade.
A garota foi pega de surpresa e o susto me deixou enraivecido
imediatamente enquanto a via se encolher com a minha aproximação.
— Que porra é essa? Quem é você? — Sua boca se moveu como se
ela fosse falar alguma coisa no mesmo instante em que fechei minhas mãos
em seus braços apertando e a sacudindo fazendo ela soltar o copo que
segurava e espalhar cacos de vidro por todo lado. — Diga logo!
— Me des-desculpe. Por favor, me solte. Está me machucando. —
Seus olhares se encheram de lágrimas me deixando atordoado.
— Jordan, solta ela. Deixa a garota se explicar, ela está mais confusa
que você. — Max me aconselhou colocando uma mão em meu ombro me
fazendo soltar a mulher com rapidez. Dei as costas para a cena passando as
mãos pelos cabelos enquanto ouvia o diálogo atrás de mim. — Muito bem,
quem é você e o que aconteceu para aparecer aqui?
O barulho do couro do sofá anunciou que alguém havia se sentado.
— Me desculpe, de verdade. Eu senti sede e Rita disse que eu podia
pegar o que quisesse na cozinha. — Seus soluços me deixaram
desconfortável. — Desculpe.
— Vamos moça, não precisa chorar. Foi Rita quem deixou você
entrar? Me explica melhor essa história.
— Eu a conheci na rodoviária onde estava. Minha avó morreu
recentemente e ela era a única pessoa que eu tinha, não tenho casa, nem
trabalho e nem nada. A dona Rita disse que estava precisando de alguém pra
ajudar a cuidar da casa do chefe e falou que eu podia dormir aqui até que ele
chegasse porque eu não tenho pra onde ir. Me desculpe...
— Não precisa se desculpar, foi só um mal entendido. Coloque esses
pés em cima do sofá, querida, não queremos que você se corte.
— Ele é o chefe da Rita, certo?
— Sim, ele é. Jordan não morde e não costuma pegar ninguém pelo
braço desse jeito. Ele só se assustou. — Olhei por cima do ombro percebendo
o olhar temeroso da garota em mim. — Vou ligar para Rita e tirar esses cacos
de vidro daqui.
Ouvi Max se afastar para a cozinha e me virei por completo vendo a
moça se encolher mais uma vez. Me aproximei perplexo com a beleza
daquele rosto. Os olhos eram quase angelicais, os lábios vermelhos e ela se
parecia com um anjo usando a camisola branca e simples.
Era mais sexy que muitas das minhas amantes que passavam horas
planejando como me seduzir.
— Me desculpe. — repetiu e eu me sentei ao seu lado.
— Me desculpe você. Minha reação foi explosiva e eu quase a
machuquei. Sou Jordan, como você já sabe. Qual o seu nome? — Coloquei
uma mecha de cabelo atrás de sua orelha vendo a ponta de sua língua
umedecer os lábios em um movimento involuntário.
— Sou Amanda. Amanda Dias. — Guardei aquele nome para
investigar melhor depois, era importante analisar o perfil de quem se
aproximava desse jeito.
A atração que eu comecei a sentir por ela foi imediata. Era uma
mulher bonita, eu ainda era um homem. Que homem que se preze não
fantasia com uma garota com a aparência dela?
Com sua breve explicação sobre quem a deixou aqui no meu
apartamento, muitas coisas ainda estavam em aberto, mas deixar trapaceiros
confortáveis ajudava a tirar deles a informação que se precisava.
Eu esperaria Rita, mandaria Max puxar todas as informações possíveis
sobre a garota e a deixaria continuar no quarto de hóspedes se sua versão se
sustentasse.
De qualquer forma, nunca se sabe quando vai se precisar de uma
boceta por perto.
DOIS
AMANDA DIAS
Olhos muito azuis acompanhavam meus movimentos, mesmo que
esses fossem quase imperceptíveis.
O senhor Jordan se comportava como um predador e aquilo aliado ao
meu susto recente me deixava completamente desnorteada.
Ainda estava com medo dele. Independente do que acontecesse, eu
sabia que ele era o dono do apartamento e que não era certo estar na casa de
alguém sem seu conhecimento.
Mas eu estava desesperada demais para revisar a proposta de Rita, ele
tinha que entender.
— Senhor Jordan... — Um músculo em seu rosto se contraiu assim
que o chamei. Era engraçado como anjos sempre foram descritos como
homens de olhos azuis e aquele homem, com essa exata descrição, parecia
um demônio ou alguém prestes a me extinguir da face da terra.
— Sim, Amanda? — Meu nome tinha uma entonação diferente em
seus lábios. Algoque eu não sabia descrever.
De qualquer forma, nada nele parecia caber em uma descrição. Ele era
bonito, ok. Mas não era só isso. O senhor Jordan exalava poder, como se
todas as criaturas lhe devessem uma explicação.
— Eu... Eu realmente sinto muito pelo susto que dei no senhor e no
seu amigo. Espero que entenda, eu não tive a intenção de invadir a sua casa.
— Minhas mãos mexiam nervosamente em meu colo e eu desviei minha
atenção para elas me sentindo intimidada com sua expressão facial tão dura.
Max, o amigo dele, ergueu a cabeça para mim, assim que terminou de
recolher o vidro do copo que eu quebrei.
— Amanda, eu sei algumas coisas sobre necessidade e sei que você
não entrou aqui propositalmente como uma ladra ou com segundas intenções.
Se Jordan não protegê-la, eu o farei, fique tranquila. — Me surpreendi com
aquela pequena promessa e novamente tive vontade de chorar.
— Isso... Isso significa muito para mim, senhor Max. Muito obrigada.
— Pode me chamar só de Max. — Sua mão vazia pousou na minha
cabeça como se eu fosse uma criança amedrontada que precisasse de alento.
De perto, eu conseguia ver a estranha tonalidade acinzentada dos seus olhos.
Ele tinha um sorriso gentil e evidentemente era uma pessoa mais simpática
que seu amigo. — Rita já está chegando.
Não demorou muito tempo para a porta ser aberta e a senhora baixinha
entrar me procurando com os olhos. Seu sorriso compassivo apareceu quando
me encontrou.
— Pobrezinha, não consegue passar uma noite sem tomar um susto.
— Ignorando o patrão, ela caminhou rapidamente para perto de mim e se
sentou ao meu lado pegando minhas mãos. — Fique calma. Boa noite,
meninos.
Voltando da cozinha, Max abaixou-se e beijou a testa de Rita com
carinho.
Jordan se aproximou e pegou uma de suas mãos depositando um beijo
afetuoso do mesmo jeito que eu fazia com minha vó quando pedia sua
benção.
— Vejo que já conhecem Amanda. Ela não é um doce? — O olhar de
Jordan para mim dizia que ele não concordava com a opinião da minha
benfeitora.
— Rita, você não pode sair trazendo para casa qualquer um que
precise de abrigo. — Por fim, declarou. E o "qualquer um" explicou bem qual
era sua opinião sobre mim.
— Amanda não é qualquer uma! Olha essa menina, acha que ela sabe
sobreviver nas ruas, Jordan? Max, diga a ele que está errado.
— Eu já disse. E também disse que se a menina não ficar aqui, ficará
na minha casa. — seu tom de voz era defensivo e desafiador, eu sabia ter
encontrado alguém que podia me proteger.
A conversa acontecia definindo o rumo da minha vida e eu não tinha
voz ativa para decidir nada.
— Isso não será necessário. Eu só espero ser informado quando esse
tipo de coisa acontecer. — Jordan colocou as mãos no bolso ficando em pé,
de repente percebi que ele não era assim tão ruim. Só estava cansado. — Já
está confortável em seu quarto?
Me perguntou com uma preocupação genuína e eu fiquei sem
palavras. Balancei a cabeça para dizer que sim.
— Ótimo. Nós nos vemos amanhã e conversaremos.
***
JORDAN STEIN
Virando de um lado para o outro na cama, eu ainda pensava na intrusa
que dormia no quarto ao lado. Como era possível uma mulher realmente ser
inocente de qualquer coisa?
Exceto por Rita, eu realmente não conhecia outra que pudesse
defender ou dizer que realmente valia alguma coisa. Mulheres, quase sempre,
se aproximavam para tirar alguma coisa de mim.
Mas Amanda não pediu nada, o que era estranho, ela só se explicou e
foi defendida pelas duas pessoas que eu sempre confiei.
Isso sim era estranho.
Me estiquei na cama olhando para o teto. Percebi que a noite estava
mais fria que o normal e imaginei aquela garota na rua uma hora dessas.
O tanto de marmanjo que poderia tentar alguma coisa. Ou aquela pele
branca sem manchas adquirindo um tom arroxeado graças a temperatura.
Lembrei das roupas que ela usava e pensei se mesmo com um teto
sobre a cabeça ela estava confortável.
Mas que inferno, eu já tinha cedido o quarto de hóspedes! O que mais
tinha que fazer para conseguir dormir sem peso na consciência?
Me levantei puto da vida e fui até o meu closet procurando por
casacos e moletons que ficavam abandonados por ali.
Quando dei por mim, estava diante da porta do quarto de hóspedes
segurando dois casacos do Chicago Bulls que deveriam aquecê-la o
suficiente.
Max dormia no outro quarto longe o suficiente para não perceber que
eu estava agindo como um molenga filho da puta que fica preocupado com
qualquer mulher pequena e de rosto angelical que aparece pela frente.
Que droga, como eu poderia agir desse jeito? Não gostava de ser
piedoso com ninguém e sempre queria ver o pior das pessoas, não podia ser
empático só porque uma criatura com cara de pobre coitada apareceu na
minha frente.
Bati na porta e aguardei. Consegui ouvir do outro lado um farfalhar,
uma exclamação e algo que parecia ser uma colisão até que a maçaneta foi
virada e olhos castanhos apareceram pela fresta da porta.
— Oh, senhor Jordan. Boa noite. — Ela terminou de se revelar e
novamente o pijama de algodão foi a primeira coisa que chamou minha
atenção.
— Trouxe casacos para você. — Ofereci as roupas para ela. —
Amanhã você e Rita vão comprar algumas roupas e nós dois vamos
conversar.
— Sério? — Ergui as sobrancelhas.
— Sim, vamos conversar sério.
— Não... — E então ela riu e aquele barulho transpassou pelo meu
peito como uma faca. — Eu perguntei se era sério que vamos comprar
roupas. Há tanto tempo que eu não faço isso.
Foi nesse exato instante que eu vi o que Rita e Max viram. A
inocência de Amanda, o jeito leve de lidar com tudo.
E eu soube que assim como os outros dois, também era meu dever
daquele momento em diante protegê-la.
TRÊS
AMANDA DIAS
Na manhã seguinte, eu saí do quarto na ponta do pé com medo de
acordar qualquer um. Ouvia um cantarolar vindo da cozinha e escondi
minhas mãos no casaco enorme que o senhor Jordan me emprestou.
Usava uma calça jeans surrada que trouxe comigo na minha mala
improvisada e prendi os cabelos em um rabo de cavalo alto.
Parecia um menino, essa era a verdade, e ri de mim mesma quando
constatei aquilo diante do espelho.
Me aproximei pelo corredor conseguindo ver dali o que acontecia na
cozinha, que naquela hora da manhã não parecia tão assustadora quanto no
meio da madrugada depois de dois homens grandes perceberem que eu estava
em um lugar sem a autorização do seu proprietário.
Enfim... Respirei fundo e consegui enxergar Rita cantarolando
enquanto preparava o café.
— Está com vergonha? — Me sobressaltei e me virei dando de cara
com o senhor Jordan de braços cruzados e um meio-sorriso no rosto. Sua
barba tornava seu rosto perigoso, mesmo que estivesse de manhã, e os olhos
azuis pareciam me conhecer profundamente.
— Não... Um pouco, na verdade. Uma coisa é me ajudar em uma
situação extrema, mas e se vocês não gostarem de mim? — Ele apoiou uma
mão na minha cabeça e deu leves tapinhas.
— Fica tranquila. Se eu gostei de você quando estava com raiva, vou
gostar agora que estou tranquilo. — Ele gostou de mim? — Vamos logo.
Estou com fome.
Sem esperar por uma resposta, seu braço passou por cima dos meus
ombros e ele me puxou em direção a cozinha.
Ok, aquela proximidade era demais para mim. Eu sabia que ele era
meu novo chefe, se me contratasse, e que estava sempre muito ocupado.
Além do mais, eu era uma intrusa em sua casa e tinha que ter respeito por ele.
Mas eu também não estava morta ou era boba ao ponto de ignorar
aqueles músculos pressionados contra o meu corpo ou como seus olhos azuis
conseguiam olhar para qualquer coisa de um jeito sedutor.
Para manter uma relação estritamente profissional, o ideal era que ele
não encostasse em mim.
— Bom dia! — Rita saudou enquanto confeitava um bolo com glacê
cor de rosa e diversos confetes coloridos.
— Bom dia... — Observei o que ela fazia e fiquei quieta lembrando do
meu aniversário recente sem comemorações. — Que bolo bonito!
Elogiei enquanto me sentava em uma das banquetas diante dela.Rita
apenas sorriu para mim enquanto continuava seu trabalho. Sem saber o que
fazer, olhei para o senhor Jordan que cruzou os braços sobre a bancada,
evidenciando os músculos dos seus braços, e ficou ali olhando o que a
senhorinha fazia.
Devia ser comum, pelo visto, então fiquei quieta admirando sua
destreza. Com certeza, se eu tentasse fazer algo como aquilo, desmontaria em
dois tempos.
Não muito tempo depois, com todo o apartamento tomado por um
silêncio que só era interrompido pelo cantarolar alegre de Rita, a porta
principal se abriu e Max, com sua extrema altura e quase um exagero de
músculos por todo corpo, entrou parecendo uma figura realmente engraçada.
Segurava uma variedade imensa de balões de gás hélio em tons
diferentes de cor de rosa. Foi naquele exato instante que eu entendi o
significado de tudo.
O bolo era pra mim!
— Consegui as velas! — Como se tivesse com um troféu em mãos,
Max balançou uma sacola plástica e entregou para a Rita. Depois, com muita
prática e como se fizesse aquilo todos os dias, ele amarrou os balões em uma
das banquetas.
A minha benfeitora abriu o pacote de velas e com cuidado posicionou
cada uma no topo do bolo. Olhei para Jordan só para saber sua reação e
minha surpresa foi ver seu sorriso gentil.
Eles realmente estavam fazendo aquilo por mim. Eu, uma completa
estranha que caiu de paraquedas e deu um susto em todo mundo no meio da
noite. A menina sem perspectiva, casa, família e futuro.
Sem perceber, senti que lágrimas molhavam minhas bochechas.
— Feliz aniversário! — Max exclamou e aproveitou da minha
distração para colocar um chapéu de aniversariante na minha cabeça.
Minha surpresa maior foi quando o senhor Jordan sacou um isqueiro
do bolso e acendeu as velas para mim.
Os três começaram a cantar um parabéns tão animado que aqueceu o
meu coração me enchendo de satisfação e carinho.
— Hora de soprar as velas! — Rita sinalizou. — Faça um pedido!
Fechei os olhos e em seguida pedi o que meu coração já gritava por
muito tempo: que tudo finalmente desse certo na minha vida.
***
JORDAN STEIN
Ela era adorável e eu me surpreendi ao definir alguém desse jeito pela
primeira vez. Seus gestos eram delicados e seu jeito de ser era...
Despretensioso? Amanda realmente não esperava ou exigia nada de ninguém.
Ela apenas era. E só.
Aquilo realmente me tocou criando dentro de mim um dever de
proteção, zelo, até mesmo adoração. Era como se realmente tivesse um
sentido do que eu deveria fazer depois de tantos anos.
Veja bem, eu sempre fui de acumular coisas. Bens, dinheiro,
mulheres... Mas nada tinha um propósito. Nem mesmo a caridade que fazia
era algo que chamava minha atenção.
Mas de repente, diante daquela mulher pequena e atrevida, eu sentia
que queria fazer tudo por ela. E isso é anormal, porra! Eu conhecia a garota
tinha uma noite. Nem mesmo vinte e quatro horas inteiras haviam se passado
para que eu sentisse algo sério e sentimental.
Só que aquela criatura era tão genuína e cativante que até mesmo
meus funcionários mais leais estavam rendidos por ela.
Meu moletom ficava enorme em seu corpo, mas ela vestia com um
cuidado como se estivesse vestindo um Valentino . Adorou um bolo caseiro
que nem era a melhor obra de Rita. Chorou emocionada com velas de
padaria! Quanta simplicidade cabia em uma só pessoa?
Imagina só quando ganhasse roupas de marca ou comesse nos
restaurantes cinco estrelas que eu conhecia?
— Tenho um presente de aniversário para você. — falei antes de
pensar. E na verdade, se eu tivesse pensado, ainda assim teria dito aquela
exata mesma frase.
— Mais um? — ela perguntou limpando a boca suja de glacê cor de
rosa. Era só o que me faltava, agora eu também pensava coisas obscenas com
aquela garota.
Limpar o glacê com a língua a deixaria exasperada, eu sabia. Tarde
demais percebi que estava sorrindo com aquele pensamento. Umedeci meus
lábios com a língua e desviei os olhos para Max que olhava para Amanda
como quem vê uma obra de arte.
Aquilo despertou um sentimento possessivo e logo endureci as feições
para o meu próprio amigo.
— O que foi? — se fez de desentendido quando me olhou.
— Manda preparar um carro e cinco homens para me acompanhar.
Vou levar Amanda às compras. — A garota ofegou e eu gostei daquele
barulho. Puta merda, como eu gostei...
— Compras? Tipo assim, de roupas? — Sorri para ela já prevendo
toda a diversão dentro daquele dia.
— Roupas, sapatos, maquiagem... O que você quiser. — Dei de
ombros sabendo que aquilo não faria cócegas na minha conta bancária.
— Ih, esse negócio de maquiagem não é pra mim, senhor Jordan. —
Apesar do que eu gostava de fazer dentro de um quarto, aquele senhor antes
do meu nome me incomodava quando dito por Amanda.
— Pode me chamar só de Jordan. E tem mais, as vendedoras vão te
orientar bem sobre o que usar. Você já é mais linda do que qualquer outra
mulher que eu tenha conhecido, com a maquiagem certa ficará deslumbrante.
— Ouvi um pigarro e encarei Rita que lavava louça ali ao nosso lado.
Seu olhar de advertência já dizia o suficiente. Dei meu melhor sorriso
para minha empregada.
— Nada além da verdade, Rita.
QUATRO
JORDAN STEIN
Amanda parecia uma criança no parque de diversões. De braço dado
comigo, ela corava com cada palavra brincalhona dirigida a sua pessoa, fosse
por mim, por Max (que insistiu em vir) ou por qualquer um dos cinco guarda-
costas que só demoraram alguns minutos para se derreterem pela garota.
Num shopping center, aquele grupo de pessoas que eu pertencia
chamava atenção. Se fosse em qualquer outro dia, eu estaria realmente
incomodado com tantos olhos focados em mim, mas ali eu sabia que aquele
pequeno detalhe não iria interferir em tudo o que eu havia planejado.
Começando pela temida loja de maquiagem.
— Fica tranquila, docinho. Você vai perceber que maquiagem não é
um bicho de sete cabeças. — Max comentou e eu me incomodei porque já
estava preparando um discurso motivacional quando ele me interrompeu.
— Sério? E o quanto de experiência você tem nisso? — O comentário
afiado de Amanda me fez rir e dar leves tapas na sua mão que estava
encostada em meu braço aprovando o que ela dizia.
— Eu sei borrar maquiagem como ninguém! — Meu amigo se gabou
ajeitando o próprio blazer como quem se preparava para uma investida.
Foi ele dar alguns passos para dentro da loja e cinco vendedoras se
aglomeraram ao seu redor.
— Parecem com...
— Abutres. — Amanda finalizou minha fala e só foi olhar pra ela que
eu percebi a forma engraçada que encarava o que acontecia diante de si.
Certo, não trouxe ela ali para ver como Max era paparicado por um
monte de mulheres. Ela era a mimada do dia.
— Senhoritas? — Usei meu tom grave e os cinco rostos maquiados
viraram em minha direção, finalmente deixando meu amigo em um canto. —
Essa é minha amiga, a senhorita Amanda. Ela precisa de assessoria sobre
cosméticos em geral.
Abri minha carteira tirando o cartão mais nobre de dentro e
oferecendo para a garota que ainda segurava meu braço como se eu fosse um
pedaço de madeira no meio de um naufrágio.
— Esse aqui é o meu cartão, aqui está a senha. Ele não tem limites,
gaste como quiser. Ajudem-na com o que precisar. — Depois daquelas
palavras mágicas, as mulheres automaticamente esqueceram de Max e
puxaram minha acompanhante do meu lado tagarelando uma infinidade de
coisas que eu desconhecia e não tinha interesse em aprender.
— Obrigado por acabar com minha diversão. — Meu chefe de
segurança bufou e foi para perto dos outros guarda-costas que sem Amanda
por perto voltavam a ser invisíveis.
As vendedoras agora aplicavam algo no rosto feminino e ela ria com
vontade contagiando todas ao seu redor.
Me afastei abanando a cabeça sabendo que ela era um espírito livre.
— Agora vamos esperar, elas vão ajudá-la a gastar meu dinheiro. —
ordenei aos seguranças.
Três horas e meia depois todos nós desistimos de ficar em pé e
encontramos sofás onde nos esticamos e caímos no profundo tédio que era
esperar.
Umpar de pernas no corredor espaçoso diante de mim chamou minha
atenção. Meus homens correram naquela direção, mas eu não prestava
atenção no que acontecia.
Eu sabia que algo como aquilo seria o resultado, mas puta que pariu.
Os cabelos de Amanda esvoaçavam, um vestido preto justo abraçava
suas coxas e demarcava cada curva que mandava um sinal para o meu pau de
que aquilo ali era uma mulher deslumbrante. Os olhos maquiados pareciam
mais firmes e bonitos, o rosto guardava aqueles traços de inocência, mas
ainda era sensual.
Ela se equilibrava com perfeição nos saltos e se aproximava como
uma miragem diante dos meus olhos.
Seu sorriso vacilante me despertou para a realidade e eu procurei Max
com os olhos para ter certeza que não estava sonhando. Ele estava de pé, tão
boquiaberto quanto eu.
— As meninas chamaram outras meninas e eu comecei uma maratona
de compras sem fim porque não sei dizer não, me desculpa. — Um gesto
nervoso com as mãos e o jeito de morder os lábios dificultou meu auto-
controle. Eu não podia ficar duro em pleno shopping.
Olhei para os seguranças que agora seguravam bolsas e mais bolsas.
As cinco primeiras vendedoras estavam de braços cruzados como quem se
orgulha de uma obra de arte.
— Sem problemas. — Vaguei outra vez a minha atenção por suas
pernas e corpo. — Você está linda, Amanda. Para falar a verdade, está um
espetáculo.
***
AMANDA DIAS
Era incrível como eu conseguia me equilibrar naqueles saltos. Quando
colocaram aqueles sapatos nos meus pés, eu já estava me perguntando de
onde conseguiram tirar aqueles instrumentos de tortura, mas assim que me
levantei, tive certeza que aquilo ali tinha alguma mágica envolvida.
Eu não sentia absolutamente nada!
E os meus cabelos? É sério, a pena que eu senti do cabeleireiro
quando me colocaram diante dele foi tremenda. Eu nunca cuidei muito bem
da minha aparência. Tanto pelo pouco dinheiro quanto por não ser muito
interessada naquilo. Então eu sabia que o que esperava o pobre do homem era
um serviço pesado.
Entretanto, não era o que ele pensava.
— Uma tela em branco! Tenho uma tela em branco nas minhas mãos!
— O olhei pelo espelho e sua expressão de alegria quase me assustou. — O
que você quer que eu faça?
Dei de ombros.
— Que me deixe bonita.
Seus olhos se arregalaram.
— Mais do que já é? As outras mulheres sentirão ódio de mim se
souberem que eu melhorei o que já é perfeito. — Dei um sorriso sentindo
minhas bochechas corarem com o elogio. — Precisa ter sua personalidade,
seu cabelo é o resumo de quem você é. Já sei o que fazer. Confia em mim?
Prendi a respiração e demorei um minuto inteiro para responder.
— Confio. — Alê, o cabeleireiro, me virou na cadeira impedindo que
eu me encarasse no espelho.
Um hora depois eu admirava o novo corte e como aquele amontoado
de fios brilhava sobre minha cabeça em conjunto com meu rosto pintado com
delicadeza e facilidade pelas vendedoras de maquiagem.
A hora mais constrangedora foi a depilação, mas a moça tinha um
jeitinho tão discreto que eu fazia questão de fingir que aquilo não era comigo.
Uma quantidade de lingeries sensuais foi escolhida e eu até retruquei,
mas todos bateram os pés dizendo que aquilo era necessário. Não era, mas eu
não sabia dizer não, então só fiquei em silêncio vendo aquele tanto de renda.
Um vestido foi selecionado entre todos os outros que recomendaram
para mim e eu saí do salão me sentindo uma princesa ainda sem acreditar que
eu podia ter uma face, penteado e unhas como as das atrizes de cinema.
— Meu Deus! — exclamei ao me olhar no espelho. Os meus ajudantes
aplaudiram e eu quase chorei quando Alê me abraçou.
— Lindíssima sem deixar de ser você. Agora vá mostrar para o
homem que te trouxe aqui. As meninas estão comentando o quanto ele é
lindo.
Sorri agradecida e fui escoltada por todas as vendedoras até o grupo
de homens sérios e carrancudos que se espalharam pelos sofás reservados
para acompanhantes entediados de mulheres que comprar demais.
Olhando para o amontoado de bolsas que carregavam para mim, senti
medo de ser uma daquelas e o senhor... Jordan se aborrecer comigo.
Ao chegar mais perto, os seguranças prestativos e carismáticos
sorriram para mim antes de fechar a cara outra vez e recolher minhas
compras com os vendedores.
Eu realmente estava criando um carinho especial por aquelas pessoas.
Me aproximei de Jordan que agora me olhava estranho demais. Ele estava
bravo, eu sabia...
— As meninas chamaram outras meninas e eu comecei uma maratona
de compras sem fim porque não sei dizer não, me desculpa. — O maxilar
dele estava trancado e eu sabia que ele não me responderia. Fiz besteira...
Meu Deus, fiz uma grande besteira!
Sua boca se abriu e pela primeira vez me senti extremamente confusa
com aquele homem.
— Sem problemas. — Seus olhos vagaram por todo meu corpo e eu
finalmente entendi. — Você está linda, Amanda. Para falar a verdade, está
um espetáculo.
Não era raiva, era desejo.
CINCO
AMANDA DIAS
Nosso caminho para casa foi rápido e totalmente monitorado. As
compras encheram o porta malas do carro e Max conseguiu roubar uma delas
onde estavam separados os perfumes e cremes que me recomendaram.
— Isso é mesmo coisa de mocinha! Esfoliante labial. Quem porras vai
querer esfoliar os lábios? — Puxei o pequeno porte da mão dele.
— É pra deixar a boca macia! A vendedora me explicou tudinho! —
Guardei meu presente dentro da bolsa com um pouco de violência e depois
conferi se estava tudo certinho.
— Max, deixe Amanda em paz.
— É, Max, me deixe em paz! — repeti puxando outro pote que não
entendi como ele conseguiu pegar.
Ouvi uma risada rouca e pela primeira vez desde que entrei no carro
olhei para o senhor Jordan que me encarava.
Era constrangedor observar o rosto dele tão de perto. Ele não era só
bonito, era bonitÃO. Na verdade, eu desconfiava que todos os aumentativos
faziam jus a ele. Meu Deus, onde meus pensamentos estavam me levando?
Senti minhas bochechas queimarem de tanta vergonha, como se
alguém conseguisse ouvir o que minha cabeça fantasiosa estava falando.
Droga, eu estava decidida a ser obediente e não me deixar levar pela
lábia do senhor Jordan. Rita me fez prometer!
— Precisamos discutir suas novas funções, coisinha. — Coisinha?
Aquela era nova.
Max parecia um irmão mais velho que atormentava qualquer um que
cruzava o seu caminho.
— Eu não sou uma coisinha!
— Pequena desse jeito? Fui até generoso no apelido.
— Amanda, se você continuar caindo na provocação dele, ele vai
continuar a te atormentar. — Cruzei os braços me jogando contra o banco e
respirando fundo.
Olhei para o senhor Jordan flagrando um olhar parecido com o que ele
me deu no shopping, mas dessa vez ele não estava focado em meu rosto.
Decidi mudar seu foco só para não corar outra vez.
— Posso retrucar?
— O que? — Seus olhos voltaram a olhar para o meu rosto.
— Retrucar o que ele diz. Eu posso? — Seu sorriso se abriu.
— Pode fazer o que quiser, querida. Se é isso que você deseja...
Estamos chegando. Max, eu já avisei, deixe Amanda em paz.
O segurança riu e piscou um olho para mim. A porta do carro se abriu
e um dos outros guarda-costas me ajudou a sair.
— Obrigada, Daniel. — Ele sorriu e se afastou. Jordan e Max pararam
ao meu lado quase imediatamente e nós seguimos como um trio estranho até
o elevador.
De dia, o prédio era diferente, mas ainda assim tão imponente e
assustador quanto na noite anterior quando Rita entrou comigo me salvando
de uma chuva torrencial.
Hoje a temperatura estava mais gostosa, mas ainda assim eu usava um
dos casacos que as vendedoras disseram que iria combinar com o vestido.
Uma mão se apoiou no meio das minhas costas e uma olhadela para o
lado me fez saber que ela pertencia ao senhor Jordan.
Seria um trabalho muito difícil me manter afastada e eu precisava
fazer isso.
Francamente, quantas mulheres ele deveria conhecer? Todas elas com
mais experiência que eu, com toda certeza.
Não, eu não podia me deixar levar. Precisavade um emprego e tive
essa chance da forma mais estranha possível. Não podia abrir mão disso só
porque meu chefe era mais bonito que qualquer outro homem que eu
conhecia.
Assim que as portas do elevador se abriram, eu entrei apressadamente
no apartamento procurando por Rita. A encontrei na cozinha lavando
algumas louças.
— Minha Nossa Senhora! Amanda, que coisa mais linda que você tá!
— Sem esperar por qualquer resposta da minha parte, ela emoldurou meu
rosto nas mãos e acariciou minhas bochechas com os polegares como quem
está admirando algo muito valioso. — É a moça mais bonita que eu já vi.
— Eu disse a mesma coisa. — Os passos do senhor Jordan
denunciaram que ele me deu tempo para ficar sozinha com minha benfeitora.
— E agora, vamos tratar de negócios. Além do mais, tenho um anúncio a
fazer.
Me sentei em uma das banquetas da cozinha e Rita me acompanhou.
— A partir de hoje, essa cobertura é minha residência oficial. Estarei
abrindo novas boates aqui no Rio e por isso vou fiscalizar tudo de perto. A
função de Amanda será a de anfitriã em toda reunião que eu precisar fazer
por aqui.
Ah, não! Justo eu como anfitriã de um monte de gente rica? Isso não
vai dar certo de jeito nenhum!
— Não adianta fazer essa carinha — Jordan falou diretamente para
mim me pegando desprevenida. — Rita te ensinará tudo o que precisa saber e
você será o rostinho bonito dos meus eventos a partir de hoje.
Ele se afastou indo para o corredor, mas parou abruptamente.
— Antes que eu esqueça, trace um plano para seu futuro, Amanda.
Você ganhou a confiança das duas pessoas que eu mais confio no mundo.
Vou cuidar de você.
SEIS
AMANDA DIAS
Muito mais tarde, naquele mesmo dia, eu descansava no quarto que,
por telefone, o senhor Jordan ordenou que fosse dado a mim definitivamente.
Max levou os balões cor-de-rosa para dentro do cômodo e aquele foi o
toque mais feminino que tinha naquele lugar.
Era estranho como todo o apartamento era composto por cores sóbrias,
escuras e tinha um ar tão parecido com o dono. Em cada sala havia um pouco
do senhor Jordan e aquilo me intimidava um pouco.
De qualquer forma, não fiquei explorando cada parte da casa, não
queria que me confundissem com uma ladra espreitando o que roubar. Já
bastava a experiência da noite anterior.
Me mexi na cama tentando não ceder ao costume de levantar no meio
da madrugada para tomar um copo de leite. Aquela não era minha casa
definitivamente, ali era onde eu trabalhava. E mesmo que meu chefe tenha
dado ordens sobre eu comer o que quisesse, eu sabia que certas coisas tinham
um limite.
Mas leite no meio da madrugada era minha última conexão com
minha avó, como um ritual para mantê-la viva no meu coração.
E um copo não faria falta, certo?
Afastei as cobertas e me sentei me equilibrando com cuidado sobre
meus pés. Passei as mãos pelos meus braços para afastar o frio que o ar
trouxe e lembrei de como foi difícil achar um pijama que me cobrisse direito.
O senhor Jordan chegou um tempo antes e parecia estar acompanhado,
também era por isso que eu estava passando aquela noite em claro. Não que
eu quisesse sentir aquilo, mas estava um pouquinho decepcionada.
Eu ouvi a risada feminina e o jeito que ele a mandou calar a boca,
depois alguns ruídos estranhos que logo foram abafados pela batida na porta
do quarto dele.
Aquilo não era da minha conta.
Passo a passo, me aproximei da cozinha parando algumas vezes
tentando notar algum barulho, mas a cobertura estava em um silêncio
absoluto.
Suspirei me tranquilizando e abri a porta da geladeira pegando o que
eu queria. Sentada em uma das banquetas da ilha, eu não conseguia ver a
porta do quarto do meu chefe, então deixei de prestar atenção naquilo e
continuei meu lanche da madrugada com tranquilidade.
Foi quando um ruído chamou minha atenção e eu percebi pela
primeira vez a mulher sentada na poltrona da sala.
Meu sangue gelou ao perceber o sorriso frio que ela jogava para cima
de mim.
Imediatamente, lembrei que Max foi embora e, se o senhor Jordan
estivesse dormindo, eu estava sozinha com aquela estranha e totalmente
desprotegida.
— Você deve ser o novo brinquedo. — Sua voz arrastada e preguiçosa
combinava com o tédio que ela demonstrava em suas feições.
A mulher se levantou e caminhou devagar em minha direção. Usava
só calcinha e sutiã e um dos robes dos banheiros, provavelmente o do quarto
do senhor Jordan.
Era morena de olhos escuros e absolutamente deslumbrante, mas
ainda assim me deixava temerosa.
— Eu sou...
— Amanda. Já sei. Recebi instruções de não assustar você porque é o
novo bichinho de estimação. — Aquilo me machucou e eu fiquei sem saber o
que responder. — Me pergunto até quando esse jogo vai durar. Afinal de
contas, Jordan não é de se contentar com a mesma mulher por muito tempo.
Exceto, é claro, comigo.
Ela suspirou e se sentou ao meu lado na cozinha.
— Leite, querida? Francamente. Isso vai te deixar mais gorda do que
já é. Se quiser, posso te passar o endereço do meu nutricionista para te
conseguir uma dieta.
Ok, eu não era exatamente magra, nem gorda, mas qual seria o mal de
ser qualquer uma das duas? Qual o problema com o meu corpo?
— Eu vou voltar para o meu quarto...
— Você vai ficar aqui e terminar o seu lanche, Amanda. — A voz do
senhor Jordan na entrada da cozinha funcionou como um bálsamo. O meu
alívio foi tanto que cheguei a suspirar. — Evelyn está de saída.
— Mas Jordan, estamos no meio da madrugada...
— Dê o seu jeito para ir embora. Se vista e vá. Minha única regra foi
não implicar com a menina e você a quebrou, agora se retira. — Mais alguns
passos para perto de mim e ele apoiou as mãos em meus ombros. — Não
torne a se meter com minha protegida.
***
JORDAN STEIN
Assim que a porta bateu sinalizando que Evelyn saiu, enlacei meus
braços ao redor de Amanda e beijei o topo da sua cabeça.
— Me desculpe por isso, querida. Ela não voltará mais aqui.
— Me chamou de bichinho... — Seu tom magoado me atingiu e eu me
arrependi por ter pensado com a cabeça errada na hora de trazer aquela
mulher para casa.
Mas o que eu podia fazer se passei o dia longe tentando recobrar o
controle das minhas vontades? Não podia foder tudo com Amanda, ela não
era mais uma. As coisas com ela receberiam outro significado independente
de como eu agisse.
— Não é nada do que ela falou. Você é perfeita do jeito que é. —
Virei sua banqueta e a coloquei de frente para mim erguendo levemente o seu
rosto me perdendo no medo que aqueles olhos castanhos expunham.
Amanda não sabia o efeito que tinha nos homens e um olhar daqueles
era capaz de fazer qualquer um colocar o mundo aos seus pés só para fazê-la
feliz.
— Evelyn é uma... — Pensei em xingar, mas sabia que isso a deixaria
mais assustada. — Ela não é nada importante. Você é. Nenhuma mulher
nunca morou debaixo do mesmo teto que eu. Eu a coloquei no meu quarto de
hóspedes, certo? É minha convidada especial. — Beijei sua testa afastando
seus cabelos do rosto. — O que estava fazendo?
— Bebendo leite. Minha avó tomava um copo de leite comigo de
madrugada com alguns biscoitos de chocolate. — Ela pensou algumas vezes
e abraçou o próprio corpo evidenciando os seios cheios dentro daquela
camisola rendada. Eles caberiam perfeitamente em minhas mãos e eu poderia
chupar os dois até ela atingir um orgasmo se esfregando contra mim. —
Talvez eu deva parar com esses lanches.
— Biscoitos de chocolate? — Ela voltou a me encarar e balançou a
cabeça afirmativamente. Fui até os armários e procurei até encontrar. Peguei
um copo de leite para mim também e me sentei ao seu lado estendendo os
biscoitos para ela.
— Obrigada, mas eu não...
— Coma. Não ouça o que aquela vagabunda disse. — Assim que a
palavra saiu, eu me arrependi. Olhei para Amanda temeroso e me surpreendi
quando a vi segurando o riso.
— Que errado! — Sua gargalhada foi um timbre perfeito de se ouvir e
aquilo me animou de uma forma que há muito tempo nada animava. Peguei
um dos biscoitos, molhei no leite ecomi, exatamente como ela fazia.
— Isso é bom pra caralho. — Comentei repetindo a dose. Novamente
Amanda riu.
— Tem gosto de infância. O que você comia quando era criança e que
te marcou de um jeito parecido? — Fechei os olhos ficando em silêncio me
negando a responder.
Se Amanda soubesse...
— Não gosto de falar sobre isso. — Voltei a encara-la para ver sua
reação com minha resposta tão seca.
Minha surpresa foi ver seus olhos brilharem gentilmente para mim
enquanto ela apoiava uma mão em meu braço.
— Tudo bem, todo mundo tem algumas coisas que prefere não dizer.
— E voltou a mergulhar o biscoito. — Sabe o que também me lembra
infância? Lasanha! Vou fazer uma amanhã para você.
Amanda não sabia, mas aqueles pequenos gestos de generosidade
eram mais do que muito que já tinham feito para mim. Passei os nós dos
dedos carinhosamente pelo seu rosto admirando a maciez daquela pele e
encantado com como um ser tão puro podia ser bom comigo.
— Obrigado.
SETE
JORDAN STEIN
Viver na mesma casa de Amanda seria uma provação, eu sabia. tive
uma consciência completa disso quando a encontrei na cozinha acuada no
meio da madrugada e isso só evidenciou quando no dia seguinte ela encheu
toda a bancada de ingredientes e começou a fazer uma lasanha com toda
seriedade possível.
O cenho franzido enquanto ela fazia camadas e mais camadas com
cuidado me fazia lembrar de uma chefe de renome. Na verdade, com aquela
expressão, ela estava fofa. Que porra era aquela? Desde quando eu achava
fofura em alguém?
Rolei os olhos apoiando o rosto na mão, me debruçando melhor sobre
a bancada, não ousando interrompê-la.
O que Amanda não sabia é que naquela posição, sua bunda ficava
empinada e marcava lindamente o short que usava. Era uma tentação até para
o mais correto dos homens.
Porém, correto eu nunca fui e era por isso que eu estava aqui pensando
em como seria empurrar tudo o que estava na bancada para um canto, deitar
ela de costas ali e meter até fazê-la gritar o meu nome.
— O que está olhando? — Rita perguntou me pegando de surpresa
com sua interrupção. Me ajeitei em meu lugar desviando rapidamente os
olhos do meu objeto de cobiça.
— Amanda está fazendo lasanha para mim. — respondi
mecanicamente. Rita olhou para a garota que levantou a cabeça assim que
ouviu seu nome.
— Menina, o que você está fazendo aí? — bufei. Eu já tinha
respondido aquilo. — Lasanha de massa fresca? Você fez essa massa?
— Fiz. Tá errada?
— Não. Mas fazer uma massa certinha desse jeito é complicado.
Como você conseguiu? Você sabe cozinhar?
— Sei. Não tudo, mas sei. E lasanha é receita antiga lá em casa. —
Aquilo ativou um alerta na minha cabeça.
— Já pensou em estudar gastronomia? — Amanda me encarou como
se eu fosse um alien.
— Caso o senhor não tenha entendido, eu sou pobre. — Eu tive que rir
com sua espontaneidade. Me aproximei mantendo uma distância segura e
respeitosa entre nós dois.
— Eu vou cuidar disso, Amanda. O que você quer estudar? — Ela se
encolheu e pensou por alguns instantes.
— Gastronomia é uma boa... — Apertei seu nariz admirado com como
ela conseguia me cativar como nenhuma mulher foi capaz.
Amanda tinha aquele ar de fragilidade misturado com a sensualidade
que ela não sabia ter e deixaria qualquer homem louco de tesão só de colocar
os olhos em cima dela.
Pensando nisso, tive certeza que Rita fez a coisa certa em trazê-la para
a cobertura. De repente uma angústia tomou conta de mim. Medo sobre o que
ainda podia acontecer a Amanda. O mundo era perigoso, o meu era ainda
mais e ela não estava pronta para ser um alvo no meio daquilo tudo.
Sem pensar no que fazia, a puxei para meus braços e acariciei seus
cabelos me abaixando alguns centímetros para aspirar seu perfume.
— Eu vou cuidar de você, querida. Vou dar a você tudo o que merece.
***
Eu sempre tive medo de estar sendo precipitado. Na verdade, esse
sempre foi meu único medo. Tinha coragem o suficiente para enfrentar uma
infinidade de coisas, mas fazer algo sem ter certeza não era do meu feitio.
Entretanto, com Amanda eu não conseguia parar e pensar antes de
fazer nada. Ela já ocupava minha casa com todo o seu jeito e eu passei uma
semana inteira sem transar com ninguém porque não conseguia deixar de
imaginar como seria fazer tudo o que eu queria fazer com aquela garota
atrevida.
Minha bolas estavam roxas, eu sabia disso. Meu mau-humor já gerava
reclamações até de Max, que por sua vez virou um visitante constante da
minha casa se aproveitando da boa vontade de Amanda em cozinhar uma
variedade de pratos que já me faziam gastar mais tempo na academia.
Claro que os exercícios dobrados não eram só pelas comidas, mas
também pela frustração sexual.
Eu queria comer Amanda como nunca quis mulher nenhuma, mas não
podia fazer isso porque foder com ela era foder com tudo.
E o que piorava a porra toda é que ela percebia o que estava
acontecendo, se afastava e isso me fazia correr atrás de sua atenção como se
fosse a porra de um cachorrinho.
Eu comprei presentes desnecessários, colocava aos pés dela tudo o que
achava que podia agradá-la e, para acabar de foder com todo meu
autocontrole, ficava feliz em receber um mísero abraço, sorriso ou beijo na
bochecha.
Que homem que honra as bolas fica feliz com beijo da bochecha?!
Precisava analisar minhas prioridades, aquilo não estava funcionando
bem. Eu não dormiria com qualquer outra mulher porque não conseguiria e
não dormiria com Amanda porque tinha que ter uma noção do que isso
acarretaria.
Mas ficar mal-humorado também não dava. Precisava analisar de
perto todo o perigo que ceder a tentação acarretaria.
Liguei o chuveiro pronto para tomar mais um banho de água fria e
acalmar a excitação que sentia. Na falta de foder quem eu queria, usava a
água para conter aquela onda que quase me fazia perder a racionalidade.
Mas daquela vez eu sabia que não iria funcionar. Encostei o antebraço
na parede e apoiei minha cabeça ali suspirando quando finalmente peguei
meu pau e comecei a massagea-lo como eu sabia que funcionaria.
Imediatamente, a imagem de Amanda com a bunda empinada fazendo
lasanha invadiu minha cabeça. Segurei meu membro com mais firmeza e
continuei os movimentos de vai e vem imaginando a buceta rosada que ela
deveria ter, na mesma cor daquela boca que ficaria linda em volta da cabeça
do meu pau.
Adicionei mais força e rapidez na hora imaginando como seria encher
aquela bunda de porra ouvindo ela gemer o meu nome.
Queria Amanda e decididamente eu a teria nem que pra isso eu tivesse
que adaptar a minha rotina para mantê-la. Eu não podia só foder aquela
mulher. Max e Rita não permitiriam aquilo. Eu não me permitiria.
Senti meu membro enrijecer mais conforme eu acariciava a ponta
dele.
Amanda seria minha, na minha cama e de um jeito que nenhuma
mulher foi. Depois disso eu daria uma vida de rainha para ela, mimaria
aquela garota todos os dias e colocaria o mundo aos seus pés como ela me
colocou.
A recompensa seria fodê-la de todas as formas, com toda sua entrega e
vontade.
E o primeiro jeito seria no meu quarto, aberta sobre o meu colchão
com meu pau enfiado até a base e ela gritando o meu nome rebolando nele.
E se eu decido uma coisa, eu faço.
Com aquele pensamento cheguei ao clímax vendo minha porra indo
pelo ralo. Sorri satisfeito ao imaginar ela no corpo de Amanda.
E isso iria acontecer em breve.
***
AMANDA DIAS
— Quero que vá a um jantar comigo.
Eu realmente não esperava por aquilo.
Estava na cozinha preparando mais uma das infinitas receitas que eu
aprendia pela internet e tentava reproduzir. Aquele era meu exercício favorito
desde que o senhor Jordan sugeriu que eu fizesse gastronomia e eu usava o
notebook que ele insistiu em me dar para pesquisas.
Max me ajudou a me acostumar com aquele aparelho, mas na verdade
eu ainda tinha medo de estragar e me contentava em abrir aquele tal de
Google e procurar o que eu precisava.
O novo prato que eu aprendi seria o jantar do dia. Era tão legal
precisar dosingredientes, fazer uma listinha e enviar para o Max. Tinha dia
que ele trazia para mim, ou o Tomaz (outro segurança) buscava rapidinho.
Também tinha dia que o próprio senhor Jordan comprava as coisas.
Rita não reclamava por eu cozinhar, na verdade ela se divertia bastante
me auxiliando em algumas coisas. De resto, o tempo dela ficava melhor
distribuído para suas outras funções.
Eu não entendia como uma senhorinha como ela era capaz de cuidar
de uma cobertura tão grande e por isso ajudava ao máximo que podia.
Com o passar dos dias, percebi as investidas do senhor Jordan. Rita
também percebeu e me alertou novamente. Ele era um homem mais velho e
minha vó sempre falava para tomar cuidado porque a gente nunca conhece a
vivência dos outros.
E eu vi como ele expulsou Evelyn do apartamento naquele dia. Ok, ela
foi rude e agiu erroneamente, mas pau que bate em Chico, bate em Francisco.
O certo era me afastar, por mais que ele dificultasse essa parte.
— Jantar? — Eu sabia que agora ele tentaria algo mais direto, por isso
suspirei e apoiei minhas mãos no balcão. — Mas eu estou fazendo um prato
novo... — murmurei olhando para tudo o que tinha preparado.
— Dá pra guardar pra amanhã?
— Sim, mas não vai ficar fresquinho... Já sei! Posso fazer para o Max
e os seguranças, aí eles comem aqui e a gente sai.
Ouvi a risada dele. Jordan permanecia atrás de mim, alheio às minhas
expressões faciais.
Então ele circulou a ilha andando devagar como um leão analisando
sua presa.
— E quem faz a nossa segurança, Amanda? — pensei por instantes
naquilo realmente não entendendo do que Jordan se protegia com tanto
afinco.
— É realmente necessário ter tantas pessoas protegendo a gente?
— Sim, querida. Você terá que se acostumar. — Ora, essa... Me
acostumar por quê?
Ah, meu Deus! Não posso criar esperança, mas Jordan estava falando
de me manter ao lado dele?
Não podia ser verdade. Ele só queria fazer aquilo comigo e precisava
me enganar para isso.
Mas também, ele cuidava bem de mim. Me encheu de presentes
desnecessários, comprou mais e mais roupas a partir das medidas que
conseguiu depois do meu primeiro dia de compras, pedia ao Max para me
levar ao cabeleireiro (e o pobre coitado ficava lá, entediado e me esperando).
Jordan cuidava de mim como prometia fazer e confiava em mim porque me
mantinha debaixo do seu teto.
A própria Rita falou que esperava que ele me colocasse em um dos
apartamentos adjacentes, foi aí que eu descobri que todo o prédio é dele. E se
até ela se surpreendeu com o cuidado que ele tinha comigo, é porque existia
algum diferencial mesmo.
Talvez aquilo tudo fosse meu medo de virgem. É sério, quando se tem
uma virgindade intacta aos vinte, parece que tudo o que acontecer na sua vida
sexual terá um peso maior.
Respirei fundo olhando para ele.
— Então vou guardar tudo para amanhã. Onde nós vamos?
— É uma surpresa. Vista algo bem bonito que combine com a mulher
linda que você é.
Sem mais, ele se afastou.
OITO
JORDAN STEIN
— A gente não pode ir a outro lugar?
Olhei para Amanda ainda encantado demais para conseguir assimilar
rapidamente qualquer informação que ela me dava.
Estava deslumbrante. Sabia que aquele vestido vermelho era um
atentado contra a minha sanidade, mas fui eu quem a presenteou com ele.
Amanda dava outro sentido para colher o que eu plantei.
— Esse é um dos melhores restaurantes da cidade, querida.
— Mas... Jordan... — Foi uma dificuldade fazê-la me chamar daquele
jeito e toda vez que ela me chamava me deixava de certa forma contente. —
Eu acho que não sei comer aí dentro.
Suas bochechas coraram diante de mim e eu me perguntei quando foi
a última vez que vi uma mulher ter aquela reação.
— Ninguém se atreveria a rir de você na minha frente. Não se
quisesse sair daqui com todos os ossos do corpo intactos.
Ela sorriu quando apoiei uma mão em seu rosto e segurou meu pulso.
— Por favor, não podemos ir mesmo para um lugar mais simples?
Qualquer outra acompanhante minha ficaria mais do que satisfeita em
frequentar o restaurante em que você precisava passar por uma lista para ter
acesso.
Amanda não. Amanda queria simplicidade e aquilo me impulsionava
para a certeza de que ela caberia perfeitamente em minha vida. Era só
protegê-la e lapidar sua rotina além de alimentar sua auto-confiança.
— Eu gosto de pizza. — murmurou baixinho para mim.
— Ótimo. Então é pizza que você vai ter. — seus olhos focaram nos
meus brilhando com encantamento como se eu tivesse acabado de prometer a
coleção nova e completa da Tiffany para ela. — Vem comigo.
Uma segunda ordem para os seguranças e a minha reserva no
restaurante já estava cancelada. Amanda e eu nos acomodamos no carro e
logo seguimos para uma pizzaria próxima.
Tomaz, o guarda-costas que já estava encantado com minha
convidada, nos olhava pelo retrovisor do carro enquanto dirigia e segurava o
riso.
Certo, todos me alertaram que ela ficaria desconcertada em um
restaurante daqueles, mas eu queria oferecer o melhor só para ela ter o gosto
da vida que eu prometia.
Amanda teria as melhores coisas deste mundo. Esse era o meu
objetivo.
— Aí, sim! Uma pizzaria! — Eu ri quando ela se inclinou em direção
a janela do carro sem ter noção nenhuma do corpo estonteante que ficava
perfeito naquela posição. — Posso pedir do sabor que quiser?
— Você pode pedir tudo o que quiser, Amanda. Tudo. — Ela virou o
rosto me oferecendo um sorriso agradecido.
— Obrigada.
Dentro da pizzaria, ela ainda se incomodava um pouco porque não era
um ambiente qualquer. Ao perceber isso, tratei de deixá-la à vontade.
— Qual o seu sabor favorito?
— Marguerita. E o seu? — Amanda sempre fazia uma pergunta e
mordia os lábios. Eu acreditava que aquilo era um ato de nervosismo depois
que eu me neguei a contar sobre a minha infância.
Mesmo assim, toda noite ela conversava comigo acompanhada de
biscoitos de chocolate e um copo de leite.
Amanda tinha lealdade, mesmo quando não conseguia o que queria.
— Quatro queijos. A comida italiana em geral é a minha favorita.
Detesto refrigerante e não sou muito fã de doces. — Quando terminei de
falar, ela me encarava como as mulheres faziam quando eu as presenteava
com um vestido caro.
O pior, Amanda nunca me olhou daquele jeito mesmo quando eu
cheguei com cinco caixas de Louboutin para ela.
— Preciso fazer uma coisa. — declarei ao ver a distância que ela
estava de mim.
— O quê?
Sem pensar duas vezes, me levantei e puxei sua cadeira com facilidade
a aproximando até quase colar na minha.
Voltei para o meu lugar finalmente satisfeito.
— Pronto. — Um garçom se aproximou e fiz nossos pedidos,
insistindo que Amanda tomasse uma taça do meu vinho favorito.
Ela aceitou e corou quando fez isso. Passei a imaginar que outras
partes do seu corpo se avermelhavam quando ela fazia algo indiscreto.
Eu descobriria em breve e beijaria cada uma delas com desejo.
Ficamos novamente sozinhos e agradeci mentalmente por ter
conseguido uma mesa mais reservada.
Não era uma pizzaria qualquer, era legitimamente italiana e
tradicional. Por isso me atrevi apenas um pouco.
Olhei para todos os lados averiguando se a barra estava limpa e
quando confirmei que tudo estava em seu devido lugar, segurei o rosto de
Amanda entre minhas mãos e a beijei.
Deslizei minha língua sobre a sua boca a convencendo a abri-la pra
mim e depois encontrei a dele em uma brincadeira envolvente que me atingia
mais do que esperava.
Meu pau ficou duro pressionando a calça e procurando espaço. Doía,
mas eu tinha que ir devagar. Amanda não se entregaria na primeira noite e eu
sabia que a conquista era a melhor parte daquele jogo.
Puxei seus cabelos erguendo sua cabeça e abandonando sua boca para
beijar todo o seu rosto com adoração.
Ela seria minha, completamente minha. E, assim como todas as
minhas coisas, ninguém ousaria tocá-la.
***
AMANDA DIAS
Meu Deus! Ele me beijou!
Meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Não posso fazer isso. Quer dizer, eu posso, mas não devo. Não com
ele, não depoisde jurar para Rita que não me envolveria com meu chefe.
Homens como Jordan só pensam em uma coisa que eu não entendo
direito o que é, mas é o que eles pensam. Não posso me entregar e perder as
chances que estou tendo. Não.
Mesmo que seja bom, incrível e meu primeiro beijo, eu não posso
simplesmente dar essas liberdades.
Coloquei minhas mãos em seu peito e empurrei o vendo piscar
aturdido.
— Eu... Eu... Meu Deus, eu...
— Amanda, me escute, por favor. Não tenho más intenções com você.
Sei que nos conhecemos há pouco mais de uma semana, mas você precisa
entender que eu nunca a magoaria.
— Mas... Não.
— Me escute!
— Não. Vai fazer comigo o que faz com todas as outras. Quando eu
piscar, teremos mais uma mulher fora da sua vida. Eu não sou interessante
desse jeito, Jordan, não sei como agradar homem nenhum. Nunca fiz essas
coisas. Vai se cansar de mim rápido demais.
Ele pegou minhas mãos e as levou até os lábios.
— Amanda, meu anjo valioso, ainda não entendeu, não é? Nunca seria
mais uma mulher, minha querida.
Ele beijou os meus dedos um a um com gentileza. O toque de seus
lábios afagavam a minha pele com carinho e me provocava arrepios.
— É boa demais para ser só mais uma. Estou propondo você uma
chance porque não consigo ficar perto de ti e me segurar. Novamente, eu sei
que tem pouco tempo que nós nos conhecemos, mas quero cuidar de cada
detalhe da sua vida.
Jordan soltou uma das minhas mãos e acariciou meu rosto.
— Estou disposto a esperar o tempo que você decidir, só quero a
oportunidade de poder me atrever um pouco. Eu nunca faria isso por qualquer
outra, mas algo aconteceu para você ir parar na minha cobertura e eu sou
grato por isso. Me deixa cuidar de você?
Puxei minhas mãos de volta para o meu colo um pouco retraída com
tudo aquilo.
— Sou sua funcionária, isso não é certo. — murmurei e seus olhos
brilharam enquanto ele pegava uma mecha do meu cabelo e colocava atrás da
minha orelha.
— Não estou pedindo como seu chefe, Amanda. Peço como homem,
como Jordan Stein. Me deixa te transformar no que eu imaginei.
— Você mal me conhece.
— Te conheço bem, meu anjo. Ninguém fica na minha casa sem que
eu saiba informações importantes. Sei qual o seu nome, sua idade, que veio
do interior, que seus pais a abandonaram, a data de seu aniversário... O que
for necessário para testificar sua integridade eu sei.
Aquilo me surpreendeu porque todas as noites ele mostrava paciência
quando eu o contava um pouquinho sobre a minha história.
— Quero que me conheça, que me deixe apresentar o meu mundo.
Você fez por mim em uma semana o que mulheres nunca se dignaram a
tentar. Quero retribuir, enchê-la do que merece e te dar tudo o que já faltou.
— Jordan, você já faz muito por mim... Me deu um teto, uma chance...
Não precisa se sentir obrigado a... — Novamente ele colocou as mãos em
meu rosto e me beijou. Agora com uma urgência e atrevimento que fez todo
meu corpo vibrar.
Se separou em um instante e sorriu para mim.
— Não é obrigação que eu sinto, Amanda. É desejo puro e bruto. Diz
que sim e eu coloco aos seus pés tudo o que você merece. — Respirei fundo
sabendo o peso daquela proposta.
— Prometa que vai devagar, não sei nada sobre isso... Eu aceito.
NOVE
JORDAN STEIN
A afirmativa de Amanda fez uma crescente onda de satisfação cobrir
todo o meu corpo. Aquilo era novidade para mim. A satisfação, o carinho e
acima de tudo o senso de proteção.
Ela era tão delicada, apenas uma taça de vinho a tirou de seu estado de
sobriedade. Com cuidado, a levei para o carro rindo com as frases desconexas
que falava. Max e Tomaz aguardavam como a torcida muda dos resultados
daquela noite.
Minha equipe era a minha família, todos sabiam exatamente o que
aconteceria naquela noite e respeitavam minha decisão.
Não eram capazes de abrir com facilidade uma vaga para um novo
membro, mas Amanda cativava todos eles com facilidade. Max já amava a
garota como uma irmã, inclusive se sentia no direito de me cobrar certas
coisas que eu nunca o vi ousar anteriormente.
Era como se aquela mulher tivesse a capacidade de despertar um
instinto protetor em qualquer homem.
— Encachaçou a menina?! — Max perguntou dando dois passos para
frente e tentando tirar Amanda dos meus braços.
— Não! E se afaste, porra! Ela só tomou uma taça de vinho e não está
acostumada com bebida.
— Quer ajuda para colocá-la dentro do carro, Jordan? — Tomaz
ofereceu também tentando pegar Amanda.
— Abra a porta para mim e parem de tentar tocar na minha mulher. —
Amanda riu baixinho.
— Não sou de ninguém. — murmurou com a cabeça encostada em
meu ombro e os olhos fechados.
Max riu alto.
— Essa gata tem garras, Jordan!
— E só tem autorização para arranhar uma pessoa, Max. Saí da minha
frente. — Ainda rindo, ele se afastou deixando Tomaz abrir a porta do carro.
Ajeitei Amanda em seu lugar passando o cinto por seu corpo. Sua mão
agarrou minha camisa me impedindo de me afastar.
— Estou com dor de cabeça...
— Meu pobre anjo, vou cuidar de você. — beijei sua testa.
Me sentei ao seu lado aguardando Max e Tomaz tomarem seus lugares
e nos levar para o prédio.
Amanda encostou a cabeça em meu ombro e dormiu me fazendo
admirar seus traços de perto. O nariz atrevido, a boca bem desenhada tão
macia e os olhos que mesmo fechados eu lembrava exatamente da cor de mel
puro.
Ela resmungou alguma coisa e se encaixou melhor em meus braços.
Cheirei o topo de sua cabeça admirado com como tudo nela me encantava.
Queria beijar aquela boca outra vez, mas também queria acariciá-la
em minha cama até que me implorasse para foder com ela. Amanda era toda
cortejos e palavras bonitas, eu nunca estive tão disposto a ser um perfeito
cavalheiro.
O carro fez uma curva suave e em poucos minutos entrou no
estacionamento do prédio. Tirei Amanda de seu lugar, a segurando com
cuidado em meu colo e caminhando até o elevador que Max pediu.
Aquilo sim era um grupo esquisito. Dois homens de guarda e eu com
uma mulher no colo que enlaçou meu pescoço reclamando de como a dor em
sua cabeça estava insuportável.
Na cobertura, meus guardas não pensaram duas vezes antes de ir atrás
de medicamentos, água e todo o conforto necessário para minha protegida.
Fui até meu quarto a colocando sobre a cama e tirando seus sapatos.
O vestido não me parecia tão confortável, mas aquela foi a primeira
vez em que pensei duas vezes antes de tirar a roupa de uma mulher.
Esperei que Max oferecesse um comprimido para ela e saísse do
quarto para finalmente soltar o laço que segurava toda a peça de roupa.
Deslizei o vestido por seu corpo tendo um pouco de dificuldade uma vez ou
outra graças a sua posição na cama.
Por fim, a deixei com a calcinha e sutiã rendados quase
enlouquecendo com aquela visão.
Amanda era linda em todos os detalhes. Seios perfeitos e redondos,
bunda firme, cintura marcada... Como aquela mulher permaneceu intacta por
tanto tempo?
Suspirei me controlando e cobrindo seu corpo com um cobertor me
livrando da tentação.
Me preparei para dormir e me deitei ao seu lado atraindo seu corpo
para o meu me contentando em apenas sentir seu cheiro.
Era preciso ter o autocontrole de um monge…
***
AMANDA DIAS
Acordei sentindo um peso em minha cintura e abri meus olhos
devagar.
Diferentes tons de azul e cinza preenchiam um espaço que não era o
meu quarto. Uma grande poltrona ficava do outro lado da cama e o criado
mudo de madeira escura tinha um relógio digital que sinalizava já passar das
nove da manhã.
Um pequeno sopro de ar quente encontrou minha nuca e então
finalmente eu identifiquei o que me segurava.
Um braço. Mas não qualquer braço. Jordan me segurava contra o seu
corpo.
Tentei me afastar devagar deslizando para a beirada do colchão, mas
quando estava prestes a fugir, seu braço funcionou como um gancho me
puxando de volta para perto enquanto ele afundava o nariz em meu pescoço.
— Bom dia... — murmurou com voz enrouquecida tão próximo do
meu ouvido que todo meu corpo se arrepiou.
Me virei em suadireção deixando nossos rostos paralelos e me
surpreendendo com como ele era bonito pela manhã.
— Você está linda... — Senti minhas bochechas enrubescer e escondi
meu rosto em seu peito finalmente lembrando dos acontecimentos daquela
noite. — Não fique envergonhada, beber um pouco mais acontece com todo
mundo.
— Oh, mas fazer papel de idiota é minha especialidade... — murmurei
e então sua mão ergueu o meu rosto.
— Não se deprecie. É a mulher mais bonita que conheço, delicada e
gentil. — Seu corpo ficou sobre o meu e ele beijou meu nariz. — Deixe que
eu te dê bom dia direito...
Sua boca veio sobre a minha mais uma vez. Jordan puxou minhas
pernas para enlaçar seu quadril e usou a língua para pedir passagem quando
quis aprofundar o beijo.
E eu deixei porque aceitei quando ele me pediu para se atrever e
cuidar de mim.
Pensei se minha avó aprovaria aquele tipo de comportamento, então
como um estalo lembrei dela me pedindo para ser feliz enquanto falecia no
meu colo na fila daquele hospital.
— Ei, o que aconteceu? — Tarde demais, percebi que estava
chorando. — Amanda, eu não quero machucar você.
Jordan me encarava preocupado e varria meu rosto com os olhos
procurando entender aquela explosão emocional que, para ele, não tinha
sentido.
— Eu estava... Estava pensando. Minha avó teria gostado de você e
acho que aprovaria se eu dissesse que estou... estou... Não sei bem o que nós
estamos, mas ela aprovaria isso.
Ele sorriu para mim.
— Pode falar namorando. Sei que não pedi oficialmente, mas não
precisa se prender ao anel no dedo. Em breve eu te dou uma aliança de
compromisso e tudo mais, mas não quero que se sinta desconfortável sem
saber o que significa para mim. Você é meu anjo, Amanda.
— Acho que não mereço tantos elogios, sabe? Mas sou grata.
— Merece. E merece muito mais do que eu faço questão de te
oferecer. Vou transformar você na mulher mais querida que conheço. Todas
as outras vão querer ser você quando verem como é adorada.
DEZ
AMANDA DIAS
— Deixe eu ver se entendi. Vocês se conhecem há uma semana e de
repente você está interessado em uma mulher como nunca esteve antes? —
Sentados diante de Rita na cozinha, nós dois pareciamos até duas crianças
arteiras que não sabiam explicar o que estavam fazendo.
Foi um pouco constrangedor quando ela nos encontrou tomando café
juntos usando apenas robes e roupas íntimas. Foi ainda mais estranho quando
ela cruzou o braço e nós dois passamos a agir como se Rita fosse um pequeno
general baixinho, gorducho e com atitude maternal.
— Você acha que eu nasci ontem, Jordan Stein?! — Jordan suspirou
com a explosão dela.
— Eu sei que pelo meu histórico é difícil de confiar, mas tenho as
melhores intenções com Amanda e posso provar. Eu pedi antes, além do
mais, Max já assumiu a posição de "único familiar" dela e eles nem tem o
mesmo sangue. Sabe como Max fica protetor quando quer o bem de alguém.
Não seria diferente com ela. Ele simplesmente estará a protegendo de tudo,
isso inclui a mim também.
Me surpreendi com aquelas palavras. Eu sabia que Max era bacana
comigo, mas que tinha assumido o papel de minha família tocou
profundamente o meu coração.
— Uma semana, Jordan! Em uma semana você decidiu que Amanda é
aquela que nenhuma outra foi?
— Em uma semana ela me mostrou isso, Rita. Você me conhece
melhor do que ninguém. E se não confia em mim, fique sabendo que eu vou
apresentá-la a tudo o que conheço. Começando pela boate e a sala principal
além de todos os meus homens. É suficiente para você?
Rita se calou e eu não entendi uma palavra do que ele tinha dito. Que
diabos era a sala principal?
— Confia mesmo nela.
— Amanda é o ser mais confiável desse mundo. Fiz pesquisas sobre
ela, sei reconhecer a personalidade dos outros e tem mais uma coisa que
talvez você não saiba: eu sei quem são os pais dela e sei que se a
abandonaram é porque ela é boa demais para eles.
Prendi minha respiração e segurei a faca que usava para passar geléia
na torrada com muita força.
— Sabe quem são meus pais? Eles... Eles estão vivos? — Jordan
puxou minha cabeça em sua direção e beijou minha testa.
— Você não acreditaria na história sobre aqueles dois filhos da puta,
Amanda. — O olhei confusa demais com tudo aquilo. — E eu vou protegê-la.
Vou protegê-la deles, de tudo e até de mim se for necessário. Sei que para
qualquer um parece errado eu confiar tanto assim em uma pessoa que acabei
de conhecer, mas só eu sei o quanto você é boa.
— Certo, certo... Volte a prestar atenção em mim, seu ludibriador!
Essa menina é minha protegida antes de ser a sua. Eu a encontrei, trouxe para
cá e agora cuido dela. Você vai respeitá-la e dar tudo o que ela precisar para
se defender caso precise. Não vou aceitar que faça com ela o que faz com
qualquer outra mulher que já trouxe aqui. Inclusive, vamos começar por isso:
vai arrumar outra casa para a menina. Ela não pode ficar debaixo do mesmo
teto que você. É assim que namoros respeitadores acontecem. E eu quero um
anel de compromisso no dedo dela antes desse mês acabar!
Eu não sabia exatamente como funcionava o relacionamento de Rita e
Jordan, mas entendia que ela era como uma espécie de mãe dele e aquilo me
fez rir.
A porta do apartamento se abriu dando passagem para Max que estava
emburrado.
— Ah, muito bem! Os dois estão aí! — Ele se colocou ao lado de Rita
e naquele instante eu percebi que não tinha entendido uma só palavra desde
que começaram a decidir sobre a minha vida.
— Espera aí! Por que vocês nunca me pedem opinião sobre nada? —
Os três ficaram em silêncio me encarando. — Sei que sou a mais necessitada
aqui e se não fosse a boa vontade de vocês estaria na rua. Mas ainda sou uma
pessoa e tenho o direito de tomar decisões. Eu disse que aceitava o que
Jordan tinha para mim, certo? E aceitei por livre e espontânea vontade. Mas...
Olhei para ele.
— Quero o que as pessoas normais têm. Encontros, diálogos, passeios
e, o mais importante, a oportunidade de conhecer você. Não sei quem são
seus pais, quando e onde nasceu, o que faz da vida... Qualquer
relacionamento que se preze começa devagar. Não pode decidir em uma
semana o que vai fazer comigo. Não sabe se minha personalidade é tão
angelical como deduziu. E, tem mais, eu estava disposta a trabalhar antes de
conhecer todos vocês, só me faltava oportunidade. Mas agora, eu vou fazer
isso. Sou sua anfitriã, certo? Foi pra isso que me aceitou aqui?
— Sim, mas não precisa...
— Mas eu quero. Vai precisar de uma, disse que teria muitos eventos.
Vou trabalhar nisso. Aceito a proposta de morar em outro lugar, seria melhor
porque debaixo do mesmo teto me sinto um pouco influenciada a aceitar
todas as suas decisões. Sou livre também, quero ter o direito de exercer essa
liberdade. E, Rita, obrigada pela oportunidade e por me proteger, fez por mim
o que ninguém fez nos últimos meses, você tem uma alma muito boa e
acredito que Deus sempre a recompense por isso. Max, apesar dessa cara de
bravo, admiro seu coração tão bom e me sinto muito feliz por me considerar
parte da sua família.
— Não a considero parte da minha família, Amanda. Você é da minha
família.
ONZE
AMANDA DIAS
Por mais que eu cobrasse, pedisse e implorasse, Max não contou nada
do que sabia. Menos ainda Jordan. Era como lidar com duas pedras firmes em
suas convicções de não falar nada para mim.
Os dias seguintes seguiram comigo tentando ter qualquer informação
sobre meus pais e os dois fingindo que não era um assunto deles.
Jordan decidiu que eu ficaria em um dos apartamentos daquele mesmo
prédio, três andares abaixo da cobertura. Era um lugar fofo, até feminino. Eu
desconfiava que por isso ele me enrolou por uma semana até definir onde eu
ficaria: estava organizando tudo.
Minhas malas foram levadas com cuidado e Rita me ajudou a
organizar tudo no closet que tinha no meu quarto. Quando todos foram
embora, me senti sozinha pela primeira vez.
Eu tinha um teto, comida, conforto, mas já estava acostumada com
Rita limpando alguma

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