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Bases-Conceituais-GT-487-28Ago2017

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Bases Conceituais Projeto GT-487 (Callisto M., Silva D.R.O., Macedo D.R., Castro D.P., Linares M. & França J.S.) 
Universidade Federal de Minas Gerais, Laboratório de Ecologia de Bentos, 2017 
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Bases Conceituais em Ecologia do Projeto GT-487 Aneel/Cemig 
 
 Este documento resume as bases conceituais em Ecologia que foram utilizadas no 
projeto P&D GT-487 ANEEL-CEMIG e inclui os slides do Curso de Capacitação oferecido na 
UFMG no período de 28/08 a 03/09 de 2017 em aulas teóricas, palestras e aulas práticas em 
campo no Parque Nacional da Serra do Cipó. 
 As seções a seguir foram elaboradas durante as teses de doutorado de Déborah 
Regina Oliveira Silva, Diego Parreira de Castro, Marden Linares, Juliana Silva França com 
também participação do Prof. Diego Rodrigues Macedo. 
 
 Belo Horizonte, 28 de agosto de 2017. 
 
Marcos Callisto 
coordenador científico Projeto P&D GT-487 
 
 
 
 
 
 
Bases Conceituais Projeto GT-487 (Callisto M., Silva D.R.O., Macedo D.R., Castro D.P., Linares M. & França J.S.) 
Universidade Federal de Minas Gerais, Laboratório de Ecologia de Bentos, 2017 
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Índice 
 
1- Introdução 
2- Ecologia da Paisagem e Escalas espaciais 
2.1- Rede de Amostragem Espacialmente Balanceada no Diagnóstico 
Ambiental de Bacias Hidrográficas 
3- Níveis hierárquicos em ecologia 
 
4- Organização hierárquica de ecossistemas fluviais 
5- Paisagem, pressões antrópicas e habitats físicos 
6- Distúrbios x estresse x perturbação 
7- Distúrbios humanos 
8- Diversidade de assembleias e biomonitoramento 
9- Escalas espaciais como filtros ambientais 
10- Comunidades Biológicas 
11- Indicadores Ecológicos 
12- Índice de Integridade Biótica como ferramenta de avaliação de condições 
ecológicas: histórico, aplicações e abordagens 
 
13- Traços biológicos e requisitos ecológicos 
14- Diversidade funcional e relações tróficas em comunidades bentônicas: 
Uma abordagem espacial multiescalar em riachos da savana neotropical 
 
15- Especialização da comunidade 
16- Fluxo de energia e relações tróficas 
17- Termodinâmica e ecologia 
18- Indicadores termodinâmicos 
19- Monitoramento participativo 
20- Bioma Cerrado 
21- Considerações finais 
22- Referências Bibliográficas 
 
 
	
 
Bases Conceituais Projeto GT-487 (Callisto M., Silva D.R.O., Macedo D.R., Castro D.P., Linares M. & França J.S.) 
Universidade Federal de Minas Gerais, Laboratório de Ecologia de Bentos, 2017 
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1) Introdução 
 
Embora ocupem um pequeno percentual da superfície total da Terra 
(aproximadamente 1%), os ecossistemas aquáticos continentais são responsáveis por abrigar 
uma elevada diversidade de espécies, muitas destas endêmicas e sensíveis a alterações no 
meio (Revenga et al., 2005; Strayer and Dudgeon, 2010). Além disso, ecossistemas aquáticos 
são essenciais para o estabelecimento de populações humanas, uma vez que fornecem água 
para uso doméstico, industrial e agropecuário, geração de energia, navegação e lazer 
(Malmqvist and Rundle, 2002; Revenga et al., 2005). 
O acelerado crescimento da população humana e a intensa demanda por água tem 
resultado em séria, e muitas vezes irreversível, degradação de ecossistemas aquáticos e sua 
biota (Abell et al., 2008; Naiman and Turner, 2000). Atividades antrópicas tem levado a perda 
de habitat, modificações nos fluxos naturais de rios, poluição das águas, exploração da fauna e 
introdução de espécies (Dudgeon et al., 2006). Como forma de mitigar esses impactos 
antrópicos, faz-se necessário o desenvolvimento de ferramentas de avaliação de condições 
ecológicas em ecossistemas aquáticos (Balderas et al., 2016). Dessa forma, forncendo 
subsídios para implementação de políticas de manejo cujo foco seja a conservação da 
integridade e dos serviços promovidos por esses ecossistemas (Revenga et al., 2005). 
O crescimento da população humana, o aumento do consumo e a sobre-exploração de 
recursos naturais têm causado a ampla alteração e destruição dos sistemas naturais, 
especialmente nos ecossistemas de água doce (Abell et al., 2008). Esses ecossistemas têm 
perdido uma grande proporção de suas espécies e habitats, e os biomas tropicais estão na 
vanguarda desses problemas ambientais (Laurance & Peres 2006). A perda de biodiversidade 
nos rios, incluindo a diversidade de organismos bentônicos, ocorre em um ritmo crescente e 
alarmante (Allan & Castillo, 2007). Isso ocorre porque os rios sofrem muitas influências diretas 
de atividades humanas, como o lançamento de esgoto, destruição e degradação de habitats, 
introdução de espécies exóticas e regulação do fluxo (Dudgeon et al., 2006). Essas mudanças 
geralmente levam à simplificação de habitats e reduzem a diversidade das comunidades 
aquáticas, prejudicando a integridade ecológica e a sustentabilidade dos processos ecológicos 
nesses ecossistemas (Cardinale et al., 2012). Os riachos tropicais estão entre os ecossistemas 
mais ameaçados do mundo (Dudgeon et al., 2006), mas o ritmo da deterioração excede o ritmo 
da pesquisa científica voltada para a compreensão das respostas dos ecossistemas (Ramírez 
et al., 2008). No Brasil, todos esses problemas têm afetado a qualidade dos corpos d'água, 
especialmente próximo aos centros urbanos e áreas de desenvolvimento industrial (Tejerina-
Garro et al., 2005, Hepp et al., 2010). 
A intensidade do uso e o tipo de cobertura da terra nas bacias hidrográficas de 
sistemas aquáticos fortemente influenciam o habitat físico e, consequentemente, as 
comunidades aquáticas e o fluxo de energia (Allan 2004, di Lascio et al., 2013). A agricultura e 
Bases Conceituais Projeto GT-487 (Callisto M., Silva D.R.O., Macedo D.R., Castro D.P., Linares M. & França J.S.) 
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a urbanização tendem a reduzir a cobertura vegetal nativa, incluindo a vegetação na zona 
ripária, afetando e degradando os ecossistemas aquáticos (Dudgeon et al., 2006). As 
mudanças resultantes no habitat físico incluem aumentos na taxa de sedimentação, mudanças 
no regime hidrológico e aumento da temperatura da água e das concentrações de nutrientes, o 
que, em combinação, afeta significativamente a biodiversidade aquática (Bryce et al., 2010, 
Hughes et al., 2010, Woodward et al. Al. 2012) e funcionamento do ecossistema (De Laender 
et al., 2016). Nos riachos neotropicais, em particular, há uma necessidade urgente em 
quantificar e entender como as comunidades aquáticas respondem às mudanças no uso da 
terra para orientar os esforços de conservação e o gerenciamento de recursos ecológicos. 
 
Bases Conceituais Projeto GT-487 (Callisto M., Silva D.R.O., Macedo D.R., Castro D.P., Linares M. & França J.S.) 
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2) Ecologia da Paisagem e Escalas Espaciais 
 
 A Ecologia da Paisagem essencialmente combina a abordagem espacial da geografia 
com a abordagem funcional da ecologia (Forman and Godron 1986). Assim, a Ecologia da 
Paisagem enfatiza as interações entre padrões espaciais e processos ecológicos que são 
influenciados pela heterogeneidade espacial em múltiplas escalas (Turner et al. 2001). O termo 
Ecologia da Paisagem nasceu em 1939 proposto pelo biogeógrafo Carl Troll, decorrente da 
forte influência dos estudos geográficos e fitográficos na Europa no século 20, e impulsionado 
pelas possibilidades oferecidas pelas fotografias aéreas. Porém, apenas a partir da década de 
1980 é que há o fortalecimento dos estudos sobre a Ecologia da Paisagem, devido à 
necessidade de estudos ambientais em ampla escala, no desenvolvimento de conceitos 
ecológicos focados nas escalas espaciais e temporais e ao crescente desenvolvimento das 
geotecnologias (Turner et al. 2001). 
 Atualmente, vários estudos utilizam a abordagem da Ecologia da Paisagem para 
avaliar padrões espaciais da paisagem e disponibilidade de recursos às assembleias biológicas 
(O’Neill etal. 1988), padrões espaciais em múltiplas escalas hierárquicas e diversidade 
biológica (Cushman e McGarigal, 2002; Junqueira et al., 2016; Macedo et al., 2014; Marzin et 
al., 2013), contexto espacial na distribuição da biodiversidade (Melo et al. 2009; Ashcroft et al. 
2012; Ferreira et al. 2017), fragmentação e padrões de vegetação e diversidade biológica 
(Metzger, 2000; McGarigal & Cushman, 2002; Zimbres et al., 2012) e no planejamento 
ambiental (Herrmann et al. 2011). Em outras palavras, a Ecologia da Paisagem oferece 
conceitos, teorias e métodos que revelam a importância dos padrões espaciais na dinâmica e 
interações biológicas e dos ecossistemas (Turner et al. 2001). 
 Os ecossistemas aquáticos continentais são os ambientes mais ameaçados do planeta 
(Dudgeon et al. 2006), com taxas de extinção de espécies superiores aos ambientes terrestres 
(Sala 2000). Sofrem diretamente com o impacto de atividades antrópicas com maior 
intensidade aos ambientes terrestres, pois toda influência das atividades antrópicas afeta os 
fluxos de matéria e de energia, impactando diretamente os corpos d’água (Karr 1998). Neste 
sentido, as interações entre os ecossistemas terrestres e aquáticos são dos campos mais 
estudados na Ecologia da Paisagem (Turner et al. 2001). 
 Desde a década de 1960 os geomorfólogos vêm trabalhando com a qualidade dos 
ambientes fluviais em termos estritamente físicos e hidrológicos (Strahler, 1957; Leopold et al., 
1964; Schumm, 1977). Porém, nas últimas duas décadas, estudos sobre a qualidade dos 
ambientes fluviais vêm atribuindo maior importância à inter-relação de fatores ambientais como 
clima, geologia, hidrologia, geomorfologia, uso do solo, qualidade da água e diversidade de 
habitats físicos, integrados à investigação da estrutura e composição de assembleias 
biológicas residentes (Maddock, 1999; Allan, 2004). Mais além, é necessário o entendimento 
de como padrões espaciais e hierárquicos destes elementos em várias escalas de análises 
Bases Conceituais Projeto GT-487 (Callisto M., Silva D.R.O., Macedo D.R., Castro D.P., Linares M. & França J.S.) 
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dentro de uma bacia hidrográfica afetam diretamente a estrutura das comunidades biológicas 
(Hynes, 1975; Vannote et al., 1980; Tonn, 1990). Contudo, como estas interações sofrem 
influências em múltiplas escalas espaciais (Frissell et al. 1986), como por exemplo, bioma, 
ecorregião, bacia hidrográfica, zona ripária, trecho e micro-habitat, deve-se considerar que os 
efeitos de covariância podem dificultar o entendimento das interações entre estas escalas e as 
assembleias aquáticas (Allan 2004). 
 Partindo da escala regional, deve-se entender como os fatores geodinâmicos (clima, 
geologia e relevo) influenciam os processos geomórficos, pois estes atuarão em pequenas 
escalas na estruturação dos habitats físicos para as assembleias aquáticas residentes (Frissell 
et al., 1986; Tonn, 1990; Allan, 2004). Adicionalmente, estes fatores geodinâmicos influenciam 
o uso e ocupação do solo e os múltiplos usos da água (Whittier et al. 2006; Steel et al. 2010; 
Macedo et al. 2014). Além dos fatores geodinâmicos, o uso do solo em uma bacia hidrográfica 
relaciona-se com a estrutura das zonas ripárias e influencia a estruturação do substrato e, 
nesse caso, afeta diretamente a disponibilidade de habitats físicos para as assembleias 
aquáticas (Wang et al. 1997; Allan 2004; Macedo et al. 2014). Portanto, a organização 
hierárquica de vários fatores ambientais e escalas espaciais influenciam as características das 
assembleias aquáticas (Teoria da Hierarquia; O’Neill et al., 1989; Figura 1). 
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Figura 1. Organização hierárquica e interações interescalares dos elementos da paisagem. A 
seta indica a influência de cada fator ambiental sobre o nível hierárquico inferior. 
 
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2.1) Rede de Amostragem Espacialmente Balanceada no Diagnóstico 
Ambiental de Bacias Hidrográficas 
 
 Avaliações ambientais em bacias hidrográficas devem considerar amostragens a fim de 
avaliar padrões de distribuição de espécies e relações com parâmetros físicos e químicos, 
considerando limitações como tempo de amostragem e processamento, recursos humanos e 
financeiros. Os objetos destes estudos são tipicamente identificados por sua localização 
geográfica, ao contrário de pesquisas clássicas de amostragem nas quais a variável “espaço” 
não é contemplada (Stevens and Olsen 2004; Theobald et al. 2007). Neste contexto, a 
amostragem espacialmente balanceada, construída através de probabilidades, é capaz de 
selecionar amostras que de fato reflitam o padrão espacial da área de estudo (Theobald et al. 
2007). 
 Durante muitos anos os levantamentos ambientais utilizaram amostras tendenciosas, 
sem critério espacial, procurando amostrar ambientes pré-definidos, ou de melhor acesso, 
excluindo outras importantes áreas (Larsen et al. 2008). Em regiões tropicais, o problema do 
viés espacial na rede de amostragem é ainda mais grave do que em regiões temperadas, pois 
a biodiversidade tropical, apesar de ser maior, ainda é menos conhecida (Dudgeon et al. 2006). 
Atualmente, a abordagem de amostragem espacial é utilizada tanto em escala nacional quanto 
regional nos EUA (Olsen and Peck 2008), porém, no Brasil é uma abordagem ainda recente 
(Ligeiro et al. 2013; Macedo et al. 2014, 2016; Firmiano et al. 2017; Carvalho et al. 2017; 
Castro et al. 2017; Silva et al. 2017), predominando redes de amostragem tendenciosas ou 
com áreas mais densamente amostradas que outras (p.ex. Bozzetti & Schulz, 2004; Pinto et 
al., 2006, 2009; Moreno et al., 2009). 
 
 
Bases Conceituais Projeto GT-487 (Callisto M., Silva D.R.O., Macedo D.R., Castro D.P., Linares M. & França J.S.) 
Universidade Federal de Minas Gerais, Laboratório de Ecologia de Bentos, 2017 
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3) Níveis Hierárquicos em Ecologia 
	
 
Em ecologia, a organização estrutural e dinâmica dos elementos bióticos e suas 
interações com o ambiente podem ser entendidas através de níveis hierárquicos (Odum and 
Barrett, 2005). Em cada nível hierárquico são descritos sistemas ecológicos que vão de 
organismos — menor escala e unidade fundamental em ecologia — até biosfera, a maior 
escala e que compreende todos os organismos vivos interagindo com o ambiente físico 
(Ricklefs, 2008). Organismos da mesma espécie vivendo em conjunto define o nível hierárquico 
de população. Subsequentemente, comunidade refere-se às várias populações interagindo 
entre si, ecossistema representa a conexão de diversas comunidades com o ambiente e a 
biosfera compreende todos os ecossistemas e processos globais (Ricklefs, 2008) (Figura 2). 
Diferentes autores consideram, entre os níveis de ecossistema e biosfera, os níveis de 
paisagem e bioma. Para Odum & Barret (2005), paisagem refere-se à área heterogênea 
composta de um agregado de ecossistemas em interação e que se repetem de maneira similar 
em toda a sua extensão; e bioma, no nível acima, como um grande sistema regional 
caracterizado por clima, solo e/ou vegetações específicas. 
 Embora possam existir divergências nas formas de classificação, o arranjo hierárquico 
é uma forma conveniente e prática de subdividir e estudar, de maneira holística, interações 
complexas na natureza (Ahl and Allen, 1996). 
 
Figura 2. Hierarquia dos níveis de organização ecológica (Figura adaptada de Ricklefs, 2008).	
	 	
Bases Conceituais Projeto GT-487 (Callisto M., Silva D.R.O., Macedo D.R., Castro D.P., Linares M. & França J.S.) 
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4) Organização Hierárquica de Ecossistemas Fluviais 
 
As principais ameaças aos ecossistemas aquáticos são decorrentes de atividades 
humanas em múltiplas escalas (Allan, 2004a; Allan et al., 1997; Roth et al., 1996). Conforme 
proposto por Frissell et al. (1986), os sistemas fluviais podem ser compreendidos através de 
uma organização hierárquica dividida em diversas escalas espaciais de observação: bacia 
hidrográfica (maior escala), segmento, trecho, habitat (corredeiras e remansos), e micro-habitat 
(menor escala) (Figura 3). As bacias hidrográficas, maior unidade de estudo, são formadas por 
segmentos e trechos de riachos. Estes, por sua vez, referem-se às extensões longitudinais 
definidas por características das zonas ripárias e dos vales dos riachos. Os habitats são 
unidades hidrogeomórficas caracterizadas por fluxos de água lentos (remansos) e rápidos 
(corredeiras). Os micro-habitat são caracterizados pelos substratos presentes no leito de rios 
(p. ex. detritos foliares, siltes, areias, seixos, cascalhos e musgos) (Allan et al., 1997). Nesta 
tese o termo unidade hidrológica foi utilizado no intuito de caracterizar uma área de drenagem 
pré-estabelecida entre os níveis de bacia hidrográfica e segmentos de rio (Ferreira et al., 2017; 
Seaber et al., 1987). 
 
Figura 3. Esquema dos níveis hierárquicos de ecossistemas fluviais (Frissell et al. 1986). 
 
 
Bases Conceituais Projeto GT-487 (Callisto M., Silva D.R.O., Macedo D.R., Castro D.P., Linares M. & França J.S.) 
Universidade Federal de Minas Gerais, Laboratório de Ecologia de Bentos, 2017 
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O sistema hierárquico fluvial está arranjado de maneira aninhada, ou seja, níveis 
superiores controlam as características expressas nos níveis inferiores, o inverso não sendo 
verdadeiro (Frissell et al., 1986). Assim, fatores geofísicos, diferentes usos dos solos e 
impactos de ocupação humana em escalas de bacia hidrográfica afetam a estrutura da 
vegetação ripária, o regime de vazão, a carga de nutrientes e sedimentos nos leitos dos rios e 
a qualidade e disponibilidade de habitat (Allan, 2004a; Macedo et al., 2014a). Por sua vez, 
alterações na qualidade e disponibilidade de habitat físicos são fatores que influenciam 
diretamente a estrutura e composição de comunidades aquáticas (Maddock, 1999). A 
organização hierárquica permite avaliar e determinar a importância dos vários fatores 
ambientais e antrópicos agindo nas diversas escalas espaciais influenciando as comunidades 
aquáticas. 
	 	
Bases Conceituais Projeto GT-487 (Callisto M., Silva D.R.O., Macedo D.R., Castro D.P., Linares M. & França J.S.) 
Universidade Federal de Minas Gerais, Laboratório de Ecologia de Bentos, 2017 
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5) Paisagem, Pressões Antrópicas e Habitats Físicos 
 
 As abordagens em escala regional e de bacia podem ajudar a desenvolver alternativas 
mais variadas e sustentáveis para a gestão ambiental, principalmente em relação à 
degradação devido às atividades antrópicas (Omernik et al. 2011). Dessa maneira, os estudos 
sobre as inter-relações entre paisagem e integridade biótica consideram fatores regionais como 
geologia, solo, clima e vegetação (Johnson et al. 2003; Kaufmann and Hughes 2006; Macedo 
et al. 2014; Martins et al. 2017). 
 Para avaliar a integridade biótica de ecossistemas aquáticos, alguns estudos 
relacionam o tipo de uso ou cobertura natural às características das assembleias, como por 
exemplo riqueza taxonômica (Wang et al. 2001), riqueza de grupos Ephemeroptera-Plecoptera-
Trichoptera (Lammert & Allan, 1999; Herringshaw et al., 2011; Ligeiro et al., 2013) ou 
diversidade de Shannon (Wang et al., 2001; Herringshaw et al., 2011). Outros estudos 
propõem relacionar o distúrbio antrópico a índices multimétricos construídos a partir de 
indicadores biológicos, pois estes integram as respostas de vários componentes das 
assembleias residentes (p.ex. riqueza, composição, grupos tróficos, dominância, etc.) em uma 
resposta simples, porém acurada (Karr 1998; Terra et al. 2013; Macedo et al. 2016; Carvalho et 
al. 2017; Silva et al. 2017). 
 Os habitats físicos, mesmo sendo estruturados a partir dos aspectos geodinâmicos e 
pressões antrópicas, são considerados como os principais fatores que influenciam a estrutura e 
composição de assembleias aquáticas (Hynes, 1975; Vannote et al., 1980; Frissell et al., 1986; 
Allan, 2004). Em um sentido mais amplo, os habitats físicos são todo tipo de atributo que 
influencia ou provê a sustentabilidade aos organismos dentro de um corpo d’água (Kaufmann 
et al. 1999). Estes autores também consideram um termo operacional utilizado por ecólogos de 
riachos e refere-se aos atributos estruturais, geralmente excluindo-se os parâmetros físicos e 
químicos da coluna d’água. Assim, os habitats físicos são determinados pelas interações das 
características estruturais do canal fluvial e do regime hidrológico, principalmente sobre as 
características do substrato ou da cobertura ripária (Maddock, 1999; Clifford et al., 2006). 
Entretanto, macrófitas aquáticas, algas filamentosas, troncos e raízes também são avaliados 
(Kaufmann et al. 1999). 
 O estudo dos habitats físicos tem vários propósitos: monitorar a integridade 
biogeofísica de riachos, em programas de restauração de cursos d’água e estudos de vazão 
ecológica (Thomson et al. 2001). Também podem ser utilizados em levantamentos 
geomorfológicos, principalmente os relacionados a estudos sobre a dinâmica de sedimentos 
(Kaufmann et al., 2008, 2009). 
 Devido aos habitats físicos estruturarem-se a partir de fatores ambientais através de 
múltiplas escalas, é difícil entender a importância de vários níveis sobre as assembleias 
aquáticas (Frissell et al., 1986; Allan, 2004). Todavia, novas possibilidades analíticas foram 
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criadas através da crescente disponibilidade de mapas digitais, variáveis de paisagem (p.ex. 
mapas geológicos e climáticos) e o aumento do processamento dos programas estatísticos. 
Desta maneira, várias combinações destas variáveis vêm sendo utilizadas para explicar 
padrões biológicos, como riqueza, abundancia e diversidade a partir de múltiplas escalas 
espaciais, biomas e ecorregiões (Sály et al. 2011; Macedo et al. 2014; Junqueira et al. 2016; 
Castro et al. 2017). 
 
 
 
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6) Distúrbios x Estresse x Perturbação 
 
Os ecossistemas estão em constante mudança em resposta às alterações no meio 
circundante, sejam elas de origem natural (p. ex. inundações, secas, fogo) ou antrópicas 
(Odum, 1969). Na literatura, essas alterações têm sido associadas aos termos distúrbio, 
perturbação e estresse como forma de entender os efeitos e mecanismos de respostas dos 
ecossistemas frente às alterações causadas no ambiente (Borics et al., 2013). 
Embora não haja um consenso na literatura, Pickett & White (1985) propuseram a 
definição de distúrbio como sendo qualquer evento que rompe a estrutura dos ecossistemas, 
comunidades ou populações, resultando em alterações na disponibilidade de recursos, nos 
substratos e no ambiente físico. O termo estresse, por sua vez, apresenta um número ainda 
maior de ambiguidades e inconsistências em estudos ecológicos e, muitas vezes, é 
erroneamente usado como sinônimo de distúrbio (Borics et al., 2013). Embora ambos os 
termos estejam associados à degradação de ecossistemas, a distinção entre distúrbio e 
estresse é bem entendida através dos seus efeitos sobre os sistemas ecológicos (Cain et al., 
2013). Enquanto distúrbio é geralmente causador de danos severos em ecossistemas,estresse 
está associado a fatores limitantes de crescimento e reprodução de indivíduos não envolvendo 
mortalidade (Cain et al., 2013). O termo perturbação, por fim, trata da resposta de um 
componente ou sistema ecológico mediante distúrbios ou outro processo ecológico (Rykiel, 
1985). Dessa forma, enquanto distúrbio e estresse são agentes causadores de danos aos 
sistemas ecológicos, perturbação trata de seus efeitos. 
Distúrbios de origem antrópica têm sido responsáveis por intensa e contínua 
transformação nos ecossistemas de maneira rápida e muitas vezes irreversível (Barnosky et 
al., 2012; Hong and Lee, 2006). As principais causas de perda de biodiversidade estão 
associadas a atividades antrópicas como a degradação do solo, fragmentação de habitat, 
poluição, introdução de espécies exóticas e mudanças climáticas (Hong and Lee, 2006; Sala et 
al., 2000). 
Como forma de interpretar mudanças nos ecossistemas frente a distúrbios antrópicos, 
Davies & Jackson (2006) propuseram um modelo conceitual que descreve claramente como a 
condição biológica de um ecossistema declina mediante um gradiente de distúrbio (Figura 4). 
Aspectos biológicos acompanham a transição de um ambiente em condições de referência (1) 
até a condição impactada, incluindo perda de espécies (2), mudanças na densidade de 
organismos (3), substituição de espécies sensíveis (4), dominância por espécies tolerantes (5), 
até por fim, um cenário com severas alterações na estrutura e função de comunidades (6). O 
entendimento dessa relação de distúrbio versus condição biológica permite identificar e 
proteger áreas em boas condições ecológicas e, da mesma forma, diagnosticar e recuperar 
áreas em estágios avançados de degradação. 
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Figura 4. Representação dos estágios de mudanças na condição biológica de um ecossistema 
frente a um gradiente de distúrbio ambiental devido a atividades antrópicas (adaptada de 
Davies & Jackson 2006). 
 
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7) Distúrbios Humanos 
 
Os distúrbios humanos são amplamente reconhecidos como principais ameaças à 
biodiversidade terrestre e aquática em todo o mundo (Vörösmarty et al., 2010, Carpenter et al., 
2011, Dirzo et al., 2014). Os ecossistemas de água doce são especialmente vulneráveis a 
distúrbios antropogênicos porque as populações humanas geralmente se instalam perto de rios 
ou nas áreas adjacentes. As atividades humanas podem alterar o equilíbrio de fatores naturais 
nos ecossistemas aquáticos, por exemplo, alterando a abundância relativa de diferentes tipos 
de substrato ou alterando o regime de temperatura anual médio. Tais impactos podem causar 
mudanças que estão além das condições normais esperadas para um determinado 
ecossistema lótico e afetam estrutura e função do ecossistema (Malmqvist & Rundle, 
2002). Além disso, múltiplos estressores associados às atividades humanas também causam 
declínios na biodiversidade de água doce (Dudgeon et al., 2006, Vörösmarty et al., 2010). 
As principais pressões humanas impulsionadores de mudanças nos ecossistemas de 
água doce incluem modificação do regime hidrológico, aumento na intensidade de uso do solo, 
despejo de produtos químicos, introdução de espécies exóticas e desmatamento. Todos 
impusinadores desempenham um papel, mas alguns deles têm efeitos substanciais nos 
sistemas de água doce (Carpenter et al., 2011). Em particular, a intensidade do uso da terra, a 
quantidade de conversão de terras naturais para o uso humano e a alteração de práticas de 
manejo em terras dominadas por humanos são os principais fatores de mudança do 
ecossistema (Foley et al., 2005). A intensidade do uso da terra afeta processos 
geomorfológicos, causando alterações hidromorfológicas do canal, sedimentação de fundo, 
homogeneização do substrato, diminuição da variabilidade de fluxo (Allan, 2004), redução da 
entrada de matéria da vegetação ripária (Boyero et al., 2016) e alteração da qualidade de água 
(Woodward et al . 2012, Taylor et al., 2014). Tais mudanças nos ecossistemas induzidas pelo 
ser humano são observadas em múltiplas escalas espaciais (global, regional, local), 
constituindo um sistema complexo e interligado (Rockström et al., 2009). 
 
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8) Diversidade de Assembleias Biológicas e Biomonitoramento 
 
 A riqueza é a medida mais comum de diversidade e identificar os padrões de riqueza e 
pressões em várias escalas espaciais é essencial para reduzir a perda de biodiversidade, pois 
pode-se utilizá-la como indicador de resistência e resiliência aos distúrbios, simplificação de 
hábitats e associá-la à integridade biótica (Hughes and Noss 1992; Vinson and Hawkins 1998). 
Apesar de fácil mensuração e por trazer uma resposta simples e de fácil compreensão, a 
riqueza é uma mensuração susceptível tanto ao método quanto ao esforço de amostragem, 
além de possuir um baixo controle sobres aspectos sazonais e temporais (Melo 2008). Assim, 
há outras alternativas para a mensuração da diversidade (Magurran 2004) como a 
padronização da riqueza pela quantidade de indivíduos (p.ex. Índice de Margalef) ou índices de 
diversidade que consideram a abundância relativa de cada espécie na amostra (p.ex. Índice de 
Shannon ou Simpson). Além destes, em estudos de conservação, pode-se incorporar índices 
baseados em atributos tróficos ou funcionais (Ricotta 2005). 
 As várias mensurações de diversidade podem ser utilizadas para aferir a integridade 
biótica através de índices multimétricos, principalmente com o objetivo de avaliar pressões 
antrópicas sobre a biota aquática (Karr 1981, 1999). Estas avaliações geralmente são aferidas 
através de programas de biomonitoramento, que levam em conta aspectos espaciais e 
temporais com o objetivo de utilizar as respostas biológicas para avaliar as mudanças no 
ambiente (Rosenberg and Resh 1993). A utilização do biomonitoramento é mais eficiente às 
medidas instantâneas de parâmetros físicos e químicos na coluna d’água. O monitoramento 
tradicional através destes parâmetros tem sido substituído por avaliações que englobam as 
características biológicas do sistema (Thompson et al. 2008). Atualmente indicadores 
biológicos são utilizados no monitoramento ambiental em escala continental nos Estados 
Unidos (Whittier et al. 2007) e na União Europeia (Hering et al. 2006), ilustrando o seu 
potencial para programas de monitoramento em um país de dimensões continentais como o 
Brasil. Para tal, deve-se ainda aprimorar o marco legal, pois enquanto na Europa e EUA o 
biomonitoramento é obrigatório (Ruaro and Gubiani 2013), no Brasil é apenas opcional na 
avaliação da qualidade dos corpos d’água (Brasil, 2005). 
 Várias assembleias biológicas podem ser utilizadas para o biomonitoramento, sendo 
que peixes e macroinvertebrados bentônicos são as mais utilizadas para ambientes aquáticos 
(Resh 2008). A vantagem em utilizar vários grupos são as suas características intrínsecas, o 
que pode resultar em respostas mais completas. Por exemplo, enquanto os 
macroinvertebrados bentônicos apresentam vantagem em serem amplamente distribuídos pelo 
mundo (permitindo comparações), possuírem mobilidade restrita (refletem com fidelidade as 
condições locais) e possuírem ampla diversidade taxonômica, seu uso apresenta dificuldades 
principalmente em relação à identificação, que é dispendiosa e raramente realizada em 
resolução taxonômica de espécies (Resh 2008). No geral, as assembleiasde peixes possuem 
a vantagem de serem facilmente identificáveis ao nível de espécie, amplamente conhecidas e, 
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devido ao ciclo de vida relativamente longo, são excelentes biomarcadores. Por outro lado, há 
a desvantagem de serem organismos bastante móveis e, neste caso, tenderem a migrar para 
áreas menos impactadas (Resh 2008). Desta maneira, as diferenças de sensibilidade, 
mobilidade e fisiologias entre assembleias de peixes e de macroinvertebrados bentônicos 
devem originar diferentes correlações com variáveis ambientais, especialmente às pressões 
antropogênicas e habitats físicos (Marzin et al. 2013; Macedo et al. 2014). 
 
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9) Escalas espaciais como filtros ambientais 
 
 
Os padrões ambientais dentro de uma bacia hidrográfica afetam diretamente a 
estrutura das comunidades biológicas de uma maneira hierarquicamente aninhada (Vannote et 
al., 1980, Frissell et al., 1986, Leps et al., 2015, Wojciechowski et al., 2017). Em uma ampla 
escala espacial, o clima, a geologia e a topografia influenciam os processos geomórficos que 
governam a entrada de energia e habitats locais em menores escalas (por exemplo, 
determinando a forma dos canais de rio e a conectividade de rede) para comunidades 
aquáticas (Frissell et al., 1986, Allan 2004, Goldstein et al., 2007). Os habitats físicos e 
características químicas locais são então determinados por processos em grande escala (Leal 
et al., 2016), o que dificulta ainda mais o desembaraço do papel de diferentes fatores 
ambientais que atuam sobre as comunidades aquáticas (Frissell et al., 1986, Allan 
2004). Portanto, considerar a escala espacial em estudos de ecologia de água doce é 
essencial para uma compreensão abrangente dos fatores que determinam a diversidade 
estrutural e funcional das comunidades de riachos (Heino et al., 2003, Sandin & Johnson 2004, 
Hoeinghaus et al., 2007, Macedo et al. 2014, Liu et al., 2016). 
As múltiplas escalas espaciais (por exemplo, região, bacia hidrográfica, unidade de 
canal e microhábitat) que estruturam comunidades biológicas estão relacionadas à ideia de 
filtros ambientais. Cada espécie possui um conjunto específico de traços que lhe permite 
resistir a filtros de habitat atuando em múltiplas escalas espaciais, determinando assim seu 
padrão de distribuição (Townsend e Hildrew 1994, Poff, 1997). Considerar a ação seletiva dos 
filtros de habitat em múltiplas escalas pode aumentar nossa compreensão e capacidade 
preditiva em ecologia. Consequentemente, identificar características de espécies que são 
sensíveis às características do habitat em diferentes níveis espaciais aumentará nossa 
capacidade de prever como as distribuições de espécies são reguladas em toda a paisagem. 
 
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10) Comunidades Biológicas 
 
Cada nível hierárquico apresenta características de processos e estruturas únicas, 
permitindo abordagens sob a perspectiva de sistemas ecológicos específicos no intuito de 
responder a questões ecológicas (Ricklefs, 2008). A abordagem de comunidades, por exemplo, 
busca entender padrões na estrutura e comportamento de grupos de indivíduos e suas 
interações (Begon et al., 2006). Embora o conceito de comunidade não seja um consenso na 
literatura (Tabela 1; Fauth et al. 1996; Stroud et al. 2015), de maneira geral, uma comunidade 
pode ser definida como grupo de populações de espécies que interagem e ocorrem juntas no 
espaço (Stroud et al., 2015), onde são considerados apenas os componentes bióticos e as 
relações entre eles (Eichhorn, 2016). 
Tabela 1. Definições de comunidade retiradas de glossários de livro texto em ecologia 
(adaptado de Stroud et al. 2015). 
Definição Fonte 
Espécies que ocorrem juntas no tempo e espaço. Begon et al. (1990) 
Uma associação de populações interagindo, geralmente definida pela 
natureza de sua interação ou local onde vivem. 
Ricklefs (1990) 
Um grupo de organismos que vivem juntos e em que as diferentes espécies e 
indivíduos interagem uns com os outros. 
Tudge (1991) 
Um grupo de plantas e animais que interagem habitando uma determinada 
área. 
Smith (1992) 
Um conjunto de plantas e animais que interagem em um local compartilhado. Freedman (1989) 
Grupo de populações de plantas e animais num determinado local; unidade 
ecológica utilizada em sentido amplo para incluir grupos de vários tamanhos 
e graus de integração. 
Krebs (1985) 
Coleção de espécies encontradas em um determinado lugar. Morin (2011) 
A componente biótica viva total de um ecossistema, incluindo plantas, 
animais e microorganismos. 
Calow (2009) 
Grupo de populações de plantas e animais em um determinado local; usado 
em sentido amplo para se referir a unidades ecológicas de vários tamanhos e 
graus de integração. 
Stiling (1996) 
Um grupo de espécies vivendo juntas e interagindo através de processos 
ecológicos como competição e predação. 
Levinton (2009) 
Uma associação de populações interagindo, geralmente definida pela Ricklefs & Miller 
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natureza de sua interação ou pelo local onde vive. (1999) 
Uma associação de espécies ou todos os organismos que interagem vivendo 
em uma determinada área. 
Molles (2010) 
Todas as espécies de organismos encontradas em uma área definida, ao 
longo do tempo ecológico. 
Dodds (2009) 
Um conjunto de populações que interagem, formando um grupo identificável 
dentro de um bioma. 
Arora and Kanta 
(2009) 
 
Outro termo comum em estudos ecológicos refere-se às assembleias biológicas. 
Devido ao fato de nem toda amostra biológica representar, necessariamente, toda a 
comunidade, o termo assembleia sugere um recorte metodológico para estudos, cujo foco 
esteja em determinados grupos (Eichhorn, 2016). Assim como ocorre com o conceito de 
comunidades, não há um consenso para a definição de assembleias (Fauth et al., 1996), 
embora seja largamente aceita como grupos taxonômica e filogeneticamente relacionados 
dentro de uma comunidade biológica (Stroud et al., 2015). 
Assim, estudos ecológicos muitas vezes têm seu foco voltado para determinados 
grupos taxonomicamente relacionados (p. ex. assembleias de peixes em riachos). 
Macroinvertebrados bentônicos, embora nem sempre compartilhem da mesma filogenia ou 
unidade taxonômica (p. ex. insetos, moluscos, anelídeos), são frequentemente referidos como 
assembleias. Esta é uma forma eficiente de distinguir este grupo de organismos através de um 
recorte funcional em termos do uso de um compartimento específico em ecossistemas 
aquáticos (o compartimento bentônico). 
Comunidades ou assembleias biológicas que respondem a impactos antrópicos e 
alterações no meio são consideradas indicadoras biológicas (ou bioindicadoras) (Rosenberg 
and Resh, 1993). Suas características biológicas e ecológicas, mensuradas qualitativa ou 
quantitativamente, refletem o estado de um sistema ecológico, possibilitando estabelecer 
relações de causalidade, antever mudanças futuras no ambiente e obter um diagnóstico de 
condições ecológicas (Dale and Beyeler, 2001). 
O uso de bioindicadores como ferramenta potencial de avaliação de integridade 
ecológica deve atender aos seguintes critérios (Dale and Beyeler, 2001): (1) fácil mensuração; 
(2) sensibilidade a estressores;(3) resposta previsível a estresses; (4) antecipação de 
mudanças iminentes no ambiente; (5) previsibilidade de mudanças que possam ser evitadas 
por ações de manejo; (6) integrado com as mudanças ao longo de gradientes ambientais; (7) 
resposta conhecida a distúrbios naturais e de origem antrópica; (8) baixa variabilidade de 
respostas a estressores. 
As características acima colocam a abordagem com indicadores biológicos em 
vantagem às abordagens tradicionais que utilizam apenas parâmetros abióticos para avaliação 
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de condições ecológicas (Karr, 1999). Indicadores biológicos refletem, através do seu tempo de 
vida ou tempo de residência, o componente temporal na avaliação ecológica de um local. Isso 
permite integrar condições ambientais passadas, presentes e futuras, diferente de medidas 
físicas e químicas que apenas caracterizam condições ecológicas no momento da amostragem 
(Holt, 2010). 
Historicamente, o uso de bioindicadores para avaliação de condições ecológicas deu-
se através de parâmetros baseados em espécies isoladamente (p. ex. presença de 
determinada espécie indicadora) ou através de métricas simplificadas de comunidades (p. ex. 
riqueza taxonômica, índices de diversidade) (Niemi and McDonald, 2004). No entanto, tais 
medidas não representam como um todo a comunidade biológica presente no ambiente 
avaliado (Niemi and McDonald, 2004). Assim, Karr (1981) desenvolveu uma ferramenta de 
avaliação de condições ecológicas baseada em um índice que integra medidas múltiplas de 
assembleias bioindicadoras, os chamados Índices de Integridade Biótica. 
 
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11) Indicadores Ecológicos 
 
Indicadores ecológicos são definidos como características mesuráveis de estrutura, 
composição ou função de sistemas ecológicos que podem ser utilizadas para avaliar a saúde 
ambiental ou para diagnosticar as causas de alterações ambientais (Jørgensen, 2007a). Estes 
indicadores sintetizam uma ampla gama de respostas dos ecossistemas em um valor numérico 
que pode ser relacionado a várias características físicas, químicas, morfológicas e biológicas 
(Jørgensen & Nielsen, 2007). Ao combinar vários atributos do ecossistema em um único valor, 
os indicadores também fornecem uma medida da qualidade ambiental de uma forma 
potencialmente acessível ao público leigo (Friberg, 2014). Desta forma, indicadores ecológicos 
podem subsidiar a proposição de medidas de manejo e fornecer subsídios para tomadores de 
decisões e gestores implementarem medidas que protejam os ecossistemas aquáticos e os 
bens e serviços que estes proporcionam às sociedades humanas (Karr, 1999). 
No Brasil indicadores biológicos são pouco utilizados por órgãos de gestão, pois a 
legislação ambiental que classifica a qualidade de água - Resolução CONAMA 357 de 2005 - 
determina apenas a utilização de parâmetros físicos, químicos e bacteriológicos como 
indicadores da qualidade da água para a avaliação da qualidade ambiental de ecossistemas 
aquáticos. Em geral, as avaliações de qualidade de água através destes parâmetros atendem 
aos usos para consumo doméstico, industrial e da agricultura, mas não fornecem respostas 
claras sobre a condição de qualidade ecológica (Silveira, 2004). Indicadores biológicos 
apresentam uma clara vantagem por medirem diretamente respostas ecologicamente 
relevantes a perturbações, serem capazes de integrar os efeitos sinergéticos de várias 
perturbações e as respostas dos ecossistemas ao longo do tempo (Friberg, 2014). 
Dentre as várias categorias de indicadores biológicos, os indicadores termodinâmicos 
destacam-se por serem baseados em conceitos da física necessários para descrever o estado 
de um ecossistema (Ludovisi & Jørgensen, 2009). Os indicadores termodinâmicos não estão 
sujeitos às limitações dos indicadores taxonômicos, por proverem uma linguagem universal 
para comparar diferentes organismos e ecossistemas. Em outras palavras, pode haver 
dificuldade para generalização e comparação entre diferentes ecossistemas ao se utilizar 
indicadores taxonômicos, pois a composição taxonômica varia geograficamente de acordo com 
a história evolutiva e os limites ambientais locais (Karr, 1999). 
 
 
 
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12) Índice de Integridade Biótica como Ferramenta de Avaliação de 
Condições Ecológicas: Histórico, Aplicações e Abordagens 
 
O termo integridade biótica surgiu em 1972 com a lei federal norte americana Clean 
Water Act, que estabelecia a restauração e manutenção da integridade química, física e 
biológica de recursos hídricos nos EUA. O termo foi então definido por Frey (1977) e adaptado 
por Karr (1981), como sendo a capacidade de manutenção e suporte de comunidades 
biológicas preservando sua composição, diversidade e estrutura funcional de forma comparável 
às características naturais da região. 
Visando o desenvolvimento de metodologias eficazes para quantificar e avaliar a 
integridade biótica de ecossistemas aquáticos Karr (1981) propôs o Índice de Integridade 
Biótica (do inglês Index of Biotic Integrity, IBI). Um IBI, ou índice multimétrico (MMI), propõe em 
um único índice a síntese de atributos ou métricas biológicas que reflita distúrbios antrópicos 
em ecossistemas aquáticos ao longo de um gradiente de condições ambientais (Karr et al., 
1986). 
Em sua versão inicial, um IBI foi desenvolvido utilizando 12 métricas que descrevem 
características de composição e riqueza de espécies, composição trófica, comportamento 
reprodutivo e condições específicas de assembleias de peixes (Karr, 1981). Nessa abordagem, 
as métricas recebem um escore de acordo com o que seria esperado em situações onde há 
ausência de distúrbio antrópico e a condição ecológica é descrita por meio de classes 
qualitativas que variam de excelente a muito pobre (Karr, 1981). 
O estabelecimento de condições de referência é um componente fundamental na 
avaliação da integridade biótica e desenvolvimento de MMIs (Elias et al., 2016; Feio et al., 
2014; Whittier et al., 2007). Os sítios de referência são descritos como locais minimamente 
alterados por atividades antrópicas e com características próximas à condição natural. No 
entanto, nem sempre é possível identificar os sítios minimamente alterados devido à 
intensificação da pressão antrópica sobre os ecossistemas (Stoddard et al., 2006; Whittier et 
al., 2007). Para contornar esse problema são selecionados dentro de um gradiente de distúrbio 
sítios que se encontram em condições menos alteradas (least disturbed), utilizados como sítios 
de referência (p. ex. Ligeiro et al., 2013; Martins et al., 2017). 
O trabalho pioneiro de Karr (1981) tornou-se referência como ferramenta de avaliação 
de integridade biótica (Ruaro and Gubiani, 2013), servindo como base para adaptações e 
desenvolvimento de novos índices com o intuito de aumentar seu potencial de avaliação 
ecológica, conservação e manejo de ecossistemas aquáticos (Klemm et al., 2003). Ao longo 
dos anos foram incorporados critérios estatísticos na seleção de métricas (Hering et al., 2006; 
Stoddard et al., 2008), definição de sítios de referência (Bailey et al., 2004; Herlihy et al., 2008; 
Ligeiro et al., 2013; Whittier et al., 2007), avaliação de métodos de escores (Blocksom, 2003), 
uso de desenho amostral probabilístico (Herlihy et al., 2000) e correção de métricas para 
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variação ambiental (Carvalho et al., 2017; Chen et al., 2014; Macedo et al., 2016; Pereira et al., 
2016). 
Além de ser desenvolvido e aplicado para assembleias de peixes (p. ex. Carvalho et al. 
2017, Casatti et al. 2009, Hughes et al. 1998, Pont et al. 2009, Terra et al. 2013) o IBI foi 
também adaptado para diatomáceas (p. ex. Delgado et al. 2010, Fore 2003), aves (p. ex. Bryce 
2006, Bryce et al. 2002), anfíbios (p. ex. Stapanian et al. 2015) e macroinvertebrados (p. ex. 
Kerans & Karr 1994, Lunde & Resh 2012, Macedo et al. 2016, Moya et al. 2011, Pereira et al. 
2016). Nesse último caso, a utilização de assembleias de macroinvertebrados bentônicos como 
ferramenta para o desenvolvimento de índices multimétricos justifica-se principalmente devido 
à sua capacidade de resposta a mudanças ambientais (Karr and Chu, 1998). Esses 
organismos exibem preferências quanto à utilização de recursos alimentares (Ferreira et al., 
2017; Graça, 2001; Tomanova et al., 2006), habitat físico (Kaufmann et al., 2014; Maddock, 
1999; Nerbonne and Vondracek, 2001; Silva et al., 2016) e qualidade de água (Cao et al., 
1996; Lenat, 2011) respondendo a distúrbios em ecossistemas aquáticos, através de 
alterações em sua estrutura e composição (McCabe and Gotelli, 2000). 
Apesar de países tropicais abrigarem elevada biodiversidade aquática, estes estão 
entre os que apresentam menor número de estudos para avaliar a condição ecológica de seus 
ecossistemas aquáticos (Ruaro and Gubiani, 2013). Parte disso justifica-se pela falta de apoio 
financeiro (Bozzetti and Schulz, 2004), baixo conhecimento ecológico e taxonômico das 
espécies indicadoras, dificuldade em encontrar áreas de referência (Casatti et al., 2009), além 
da falta de legislação específica para avaliações biológicas de qualidade de água (Buss et al., 
2016; Ruaro and Gubiani, 2013). No Brasil, a maioria dos estudos a respeito do 
desenvolvimento e aplicação de IBI utiliza como indicador biológico assembleias de peixes 
(Araújo et al., 2003; Bozzetti and Schulz, 2004; Carvalho et al., 2017; Casatti et al., 2009; Terra 
et al., 2013) e macroinvertebrados bentônicos (Baptista et al., 2013, 2007; Couceiro et al., 
2012; Macedo et al., 2016; Oliveira et al., 2011; Pereira et al., 2016), em sua maioria, nos 
biomas mata atlântica, cerrado e amazônia. No entanto, ainda observam-se importantes 
lacunas quanto à padronização de métodos, limitações quanto à aplicabilidade em larga escala 
e na definição de critérios para estabelecimento de áreas de referência. 
 
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13) Traços biológicos e requisitos ecológicos 
 
Um traço ou atributo é definido como qualquer característica morfológica, fisiológica ou 
fenológica mensurável a nível individual (Violle et al., 2007). Essas características são 
propriedades mensuráveis de um organismo e são divididas em características biológicas (p. 
ex., ciclo de vida, tamanho corporal máximo, mobilidade, reprodução) e ecológicas 
(relacionadas às preferências de habitat, como temperatura e tolerâncias de poluição 
orgânica), refletindo as adaptações de organismos às condições ambientais (Menezes et al., 
2010). Os traços funcionais podem ser definidos como atributos que influenciam o fitness do 
organismo (através de seus efeitos sobre crescimento, reprodução e sobrevivência) e o 
funcionamento dos ecossistemas (Violle et al., 2007) e podem ser utilizados para avaliar a 
diversidade funcional da comunidade (Petchey & Gaston 2006). Os traços de espécies têm 
sido utilizadas como uma abordagem alternativa ou complementar às abordagens taxonômicas 
mais tradicionais utilizadas para elucidar alterações em comunidades nos ecossistemas de 
água doce e fornecem inúmeras aplicações práticas na avaliação de riachos (Statzner & Bêche 
2010, Culp et al., 2011, Mondy et al. 2012). Além disso, os traços funcionais são um proxy 
promissor para avaliar a função da comunidade ou do ecossistema em resposta a vários tipos 
de perturbação (Tilman et al., 1997, Verberk et al., 2013, Enquist et al., 2015, Gagic et al., 
2015), como mudanças no uso da terra (Vandewalle et al., 2010, Dolédec et al., 
2011). Contudo, nossa compreensão sobre a forma como a diversidade funcional de 
comunidades de macroinvertebrados influencia padrões e processos em ecossistemas de água 
doce precisa ser ampliada (Schmera et al., 2017). 
Do ponto de vista da gestão de ecossistemas, espera-se que as avaliações baseadas 
em atributos biológicos e ecológicos ofereçam várias vantagens e aplicações práticas em 
relação às avaliações baseadas em taxonomia (Culp et al., 2011). A ligação das respostas de 
atributos ao distúrbio oferece as seguintes vantagens: (i) a composição dos atributos das 
assembleias é mais espacialmente estável que a composição taxonômica, permitindo 
comparações entre diferentes regiões biogeográficas, superando as variações na composição 
taxonômica específica do local (Statzner et al. 2001, 2004); (ii) os traços cobrem uma ampla 
gama de respostas a múltiplos estressores (Dolédec et al., 1999; Mondy et al., 2016); e (iii) os 
traços permitem uma compreensão mais mecanicista que pode dar acesso às causas da 
mudança (Culp et al., 2011, Verberk et al. 2013). Muitos estudos, especialmente na Europa 
(por exemplo, Usseglio-Polatera & Beisel 2002, Statzner et al., 2005, Dolédec et al., 2006, 
2011, Archaimbault et al., 2010) demonstraram que a abordagem baseada em múltiplos 
atributos pode detectar melhor o impacto de atividades humanas nos ecossistemas aquáticos 
em comparação aos métodos tradicionais (por exemplo, índices de diversidade ou análise 
química). 
Os processos que conduzem as relações entre as assembleias biológicas e seu meio 
ambiente foram descritos usando teorias ecológicas. O "Habitat Templet" (Southwood, 1977) e 
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sua adaptação para rios, o "River Habitat Templet" (RHT; Townsend e Hildrew, 1994) enfatizam 
que combinações específicas de traços determinam a capacidade de indivíduos coexistirem em 
uma comunidade local sob condições ambientais específicas. Derivado dessas teorias, a 
hipótese de filtragem de habitat (Poff 1997) postula que os conjuntos menos adequados de 
traços biológicos são eliminados em um determinado ambiente e que apenas os táxons 
possuindo traços que passam pelo filtro do habitat estarão presentes na comunidade. Existe, 
portanto, uma maior correspondência entre as condições ambientais e a composição dos 
traços do que entre as condições ambientais e a composição das espécies devido a uma 
filtragem de traços. Neste contexto, distúrbios humanos representam filtros ambientais 
adicionais que podem alterar a composição de características esperadas das assembleias em 
condições naturais (Floury et al., 2017). 
O uso de uma abordagem de traços funcionais permite avaliações da extensão da 
ocupação de nicho, a regularidade dos traços das espécies dentro da assembleia, o nível de 
especialização funcional e redundância e a contribuição da característica individual para a 
estrutura da comunidade (Villéger et al., 2008, Mouillot et al., 2013). Identificar como as 
pressões humanas modificam a composição dos atributos funcionais das assembleias pode 
melhorar nossa capacidade de prever padrões e processos em ecossistemas de água doce e 
auxiliar no desenvolvimento de ferramentas que complementam avaliações tradicionais para 
ações de gestão e iniciativas de conservação (Jonsson et al., 2016; Pallottini et al. 2016). 
 
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29	
14) Diversidade funcional e relações tróficas em comunidades 
bentônicas: uma abordagem espacial multiescalar em riachos da savana 
neotropical 
 
Os macroinvertebrados aquáticos são amplamente utilizados como bioindicadores de 
qualidade de água (Rosenberg & Resh 1993, Bonada et al., 2006) e seu uso na avaliação da 
integridade biótica de riachos tropicais tem aumentado nos últimos anos (Ferreira et al., 2011, 
Oliveira et al. 2011, Ligeiro et al. 2013, Dedieu et al., 2016). Entre os macroinvertebrados, 
Ephemeroptera, Plecoptera e Trichoptera (EPT) compreendem assembleias aquáticas 
altamente diversas em riachos de cabeceira (Bispo et al., 2006) e têm papel importante na 
ciclagem de nutrientes e transferência de energia (Ferreira et al., 2014). Além disso, a riqueza 
de EPT, por exemplo, é uma métrica comum para avaliar as condições biológicas dos 
ecossistemas aquáticos (Stoddard et al., 2008). As abordagens tradicionais para avaliar o 
distúrbio antropogênico geralmente focam na estrutura taxonômica das comunidades 
biológicas (por exemplo, riqueza de espécies, abundância / densidade e diversidade, embora 
alguns tenham usado traços, como grupos tróficos) e índices multimétricos têm sido 
recentemente propostos para avaliar condições ambientais (Moya et al., 2011, Couceiro et al., 
2012, Macedo et al., 2016). No entanto, o uso de índices baseados na composição e na 
abundância de organismos está limitado à região em que esses índices foram desenvolvidos 
porque há uma variação ecológica considerável devido à distribuição biogeográfica das 
espécies, que se altera em grandes escalas espaciais (Heino 2001, Bonada et al., 
2007). Assim, os padrões observados podem resultar de variações estocásticas naturais, que 
são independentes das mudanças associadas à perturbação humana (Dolédec et al., 
2011). Desta forma, o uso de abordagens que levem em consideração as diferenças 
evolutivas, biológicas, ecológicas ou funcionais entre espécies permite a melhoria dos índices 
desenvolvidos para avaliar as condições ambientais de riachos (Petchey & Gaston 2002, McGill 
et al., 2006, Villéger et al., 2008). 
Para aumentar a conservação e gestão de ecossistemas de água doce tropicais, é 
essencial desenvolver ferramentas biológicas que incorporem informações ecológicas, como 
traços biológicos (Usseglio-Polatera et al. 2000b, Delong & Thorp 2006, Tomanova et al., 
2008). Além disso, é fundamental compreender em que escala espacial e sob quais tipos de 
impacto humano as diferenças nas assembleias aquáticas ocorrem. 
 
 
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15) Especialização da comunidade 
 
Especialização ecológica refere-se à área no espaço de nicho ecológico utilizado por 
uma espécie devido aos seus traços específicos (Futuyma & Moreno, 1988). Nos sistemas de 
água doce, tem se discutido que a substituição de especialistas por espécies geralistas ocorra 
como uma resposta das comunidades biológicas a atividades humanas, como a degradação do 
habitat e a intensidade do uso do solo (Olden et al., 2004, Petsch 2016). A homogeneização 
funcional ao nível de comunidade pode alterar o funcionamento e a produtividade do 
ecossistema e pode resultar na deterioração dos serviços ecossistêmicos (Clavel et al., 
2011). A nível de comunidade, a especialização pode ser estimada como a especialização 
média das espécies presentes nessa comunidade e pode ser utilizada para desenvolver 
indicadores de interesse para a conservação (Devictor et al., 2010). 
As mudanças funcionais ecologicamente significativas que podem ocorrer em 
comunidades homogeneizadas são amplamente independentes das identidades 
taxonômicas. Assim, é necessário um exame ecológico mais sutil de homogeneização (Olden 
et al., 2004). Nos ecossistemas de água doce, a substituição de espécies especialistas por 
generalistas tem ocorrido como uma resposta das assembleias à degradação do habitat e à 
alteração da cobertura do solo (Petsch, 2016, Siqueira et al., 2015). Esta substituição pode 
levar a uma homogeneização funcional (ou seja, aumentando a similaridade de características 
das espécies) (Mondy e Usseglio-Polatera 2014), o que pode, por sua vez, aumentar a 
vulnerabilidade das espécies às mudanças ambientais e diminuir a resiliência e / ou resistência 
a distúrbios (Olden et Al., 2004). Portanto, entender as consequências da homogeneização da 
comunidade por atividades humanas e identificar os principais fatores que causam essas 
mudanças são fundamentais para a ciência básica e conservação. 
 
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31	
16) Fluxo de energia e relações tróficas 
 
Nos ecossistemas de água doce, os invertebrados aquáticos são a principal ligação 
entre os produtores primários (p. ex., perifíton e macrófitas aquáticas) e níveis tróficos 
superiores (por exemplo, vertebrados). Ao quebrar a matéria orgânica, esses invertebrados 
contribuem para a decomposição de matéria orgânica e disponibilidade de nutrientes para 
outros organismos (Wallace & Webster 1996, Covich et al., 1999, Jardine et al., 2005). Os 
macroinvertebrados aquáticos podem ser classificados de acordo com seus hábitos 
alimentares em grupos de alimentação funcional (FFG) com base em características 
morfológicas e comportamentais (Cummins 1973, Merritt et al., 2008). Cada um desses grupos 
depende de recursos alimentares específicos, que por sua vez são influenciados por diferentes 
características do habitat. Esses grupos incluem (i) raspadores que se alimentam de matéria 
orgânica ligada a substratos orgânicos e inorgânicos (por exemplo, perifíton, algas e sua 
microbiota associada); (ii) fragmentadores que se alimentam diretamente de matéria orgânica 
particulada grossa (CPOM); (iii) coletores-catadores que se alimentam principalmente de 
matéria orgânica particulada fina depositada (FPOM); (iv) filtradores que filtram matéria 
orgânica fina suspensa; e (v) predadores que se alimentam de animais inteiros ou suas partes 
(Wallace & Webster 1996, Merritt et al., 2008). 
Identificar e quantificar as relações tróficas entre os macroinvertebrados aquáticos é 
essencial para uma melhor compreensão das relações funcionais entre os organismos e o 
meio ambiente (Cardinale 2011, Thompson et al., 2012, Rooney & McCann 2012). Portanto, é 
necessário analisar as relações tróficas entre os macroinvertebrados e o fluxo de energia nos 
ecossistemas aquáticos para entender as estruturas e dinâmicas da comunidade e o 
funcionamento do ecossistema (Polis et al., 1997, Perkins et al., 2014). 
Para melhorar as avaliações ambientais e a gestão dos ecossistemas aquáticos, é 
essencial compreender como a intensidade do uso da terra influencia o fluxo de energia e as 
relações tróficas em ambientes aquáticos (Delong & Thorp 2006). As mudanças na cobertura 
da vegetação afetam a entrada de nutrientes, a qualidade dos recursos alimentares e o fluxo 
de energia, o que pode levar à simplificação das redes alimentares e à perda de biodiversidade 
(Lorion & Kennedy 2009, Ferreira et al., 2012). A substituição da vegetação nativa por 
monoculturas (por exemplo, pastagem, cana-de-açúcar) afeta funções do ecossistema e as 
fontes de energia que subsidiam ambientes aquáticos (Leberfinger et al., 2011) modificando a 
estrutura e a dinâmica das comunidades aquáticas que dependem do material alóctone 
fornecido pelos vegetação ripária e cobertura de dossel (Ormerod et al., 1993, Dudgeon 1994, 
Ferreira etal., 2012). 
As avaliações de fluxo de energia, estrutura trófica e relações tróficas entre organismos 
podem ser obtidas usando isótopos estáveis (Post 2002, Layman et al., 2007, Boecklen et al., 
2011, Perkins et al., 2014). A informação produzida por sinais isotópicos nos permite (i) 
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conhecer a origem da matéria orgânica (Post 2002), (ii) examinar a partição de recursos 
(Young et al., 2010), (iii) mapear os fluxos de carbono e nitrogênio no ecossistema (Peterson & 
Fry, 1987), (iv) caracterizar propriedades de nicho (Newsome et al., 2007) e (v) comparar 
processos ecológicos de zonas ripárias em diferentes regiões (Carvalho et al., 2017). O uso 
das razões isotópicas de carbono (δ13C) e nitrogênio (δ15N) como indicadores de distúrbios 
antropogênicos foi proposto pela primeira vez por Peterson e Fry (1987). O uso deste método 
na ecologia trófica se intensificou nos últimos anos (Medeiros & Arthington 2011, Blanchette et 
al., 2014, Rigolet et al., 2015, Bentivoglio et al., 2016, Greaver et al., 2016, Jackson et al., 
2016), principalmente para descrever relações entre fontes de matéria orgânica, cadeias 
alimentares e fontes de poluição (Davis et al., 2012, Turner & Edwards 2012, Morrissey et al., 
2013), contribuindo para a compreensão dos processos ecológicos em riachos (di Lascio et al. 
2013). 
No espaço δ (uma região bidimensional onde cada eixo é definido pelos valores 
isotópicos, isto é, δ13C e δ15N), os valores isotópicos definem uma área chamada nicho 
isotópico (Bearhop et al., 2004). Como os valores δ13C e δ15N de uma espécie são o 
resultado de todas as relações tróficas, a posição no espaço δ é uma representação do nicho 
trófico da espécie (Layman et al., 2007). O nicho trófico é uma parte do nicho ecológico que 
usa um subconjunto de dimensões relacionadas aos recursos tróficos. O nicho isotópico é 
definido como o intervalo de valores isotópicos e fornece informações sobre o particionamento 
de recursos. Em uma analogia com os nichos n-dimensionais de Hutchinson (1957), o nicho 
isotópico é um subconjunto do espaço multidimensional (Newsome et al., 2007). Embora o 
nicho isotópico seja fortemente correlacionado com o nicho trófico, é importante ressaltar que 
estes são dois conceitos diferentes que não devem ser misturados. No entanto, a informação 
contida nas relações isotópicas pode ser considerada um descritor dos eixos-chave no 
hipervolume de Hutchinson, fornecendo assim informações ecologicamente relevantes sobre 
as assembleias biológicas que representam (Bearhop et al., 2004, Jackson et al., 2011). Uma 
sobreposição nos nichos isotópicos de dois consumidores indica o uso dos mesmos recursos 
primários, enquanto que a segregação de nicho isotópico demonstra que os consumidores 
utilisam recursos diferentes. As atividades humanas podem alterar o nicho trófico de 
macroinvertebrados e seu grau de sobreposição (Bearwood et al., 2004, Layman et al., 2007), 
potencialmente levando a comunidades com espécies mais generalistas. 
 
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17) Termodinâmica e Ecologia 
 
 
Termodinâmica é a ciência que estuda os processos de troca e conversão de energia e 
sua relação com trabalho (Stremke et al., 2011). As leis da termodinâmica regem estes 
processos, sendo invioláveis por quaisquer meios naturais ou tecnológicos (Pulselli et al., 
2011). A primeira lei da termodinâmica, também chamada de Lei da Conservação de Energia, 
afirma que a energia pode ser transformada de uma forma em outra, mas não pode ser criada 
ou destruída (Svirezhev, 2000). A segunda lei, também conhecida como Lei da Entropia, afirma 
que nenhum processo de transformação energética ocorrerá espontaneamente a menos que 
haja degradação da energia de uma forma mais concentrada em outra mais dispersa 
(Svirezhev, 2000). A terceira lei, conhecida como Teorema de Nernst, afirma que quando a 
temperatura de um sistema se aproxima do zero absoluto seu grau de desordem aproxima-se 
ao seu valor mínimo (Svirezhev, 2000). 
Processos de transformação de energia não possuem 100% de eficiência e parte da 
energia é perdida em uma forma incapaz de realizar trabalho útil, geralmente como energia 
térmica na forma de calor. Como resultado, a quantidade total de energia permanece a mesma 
(obedecendo à primeira lei), mas a sua qualidade é diminuída (conforme a segunda lei). Esta 
forma de energia incapaz de realizar trabalho útil é chamada de entropia, termo que também 
denota o grau de desordem de um sistema (Svirezhev, 2000). Com o tempo, em um sistema 
fechado, a tendência é que a entropia aumente até atingir um ponto máximo onde não haja 
mais gradientes energéticos e cessem os fluxos de energia. Este estado é chamado de 
equilíbrio termodinâmico (Jørgensen, 2007b). 
Para que um sistema possa continuar indefinidamente com processos de 
transformação de energia é preciso que se mantenha distante do equilíbrio termodinâmico 
(Jørgensen, 2007c). Para tanto, o sistema necessita absorver um fluxo contínuo de energia de 
alta qualidade (ou baixa entropia) e expelir continuamente energia de baixa qualidade (ou alta 
entropia). Assim, para se manter distante do equilíbrio termodinâmico um sistema precisa ser 
termodinamicamente aberto, capaz de realizar trocas de energia com o ambiente externo. 
Nos sistemas ecológicos o distanciamento do equilíbrio termodinâmico é alcançado 
através da produção primária e da respiração, respectivamente (Jørgensen, 2007b). Na 
produção primária o ecossistema absorve energia de alta qualidade, geralmente na forma de 
energia radiante proveniente do Sol, e transforma parte dela em energia potencial química que 
é armazenada na biomassa dos seres autotróficos (Jørgensen, 2009). Na respiração esta 
energia armazenada é utilizada para alimentar diversos processos metabólicos e então 
eliminada do ambiente sob a forma de energia térmica (Svirezhev, 2000). 
A aplicação dos conceitos de termodinâmica na ecologia teve início nos primórdios da 
ecologia moderna, com a síntese de Lindemann (1942) que descreveu a estrutura do 
ecossistema como uma pirâmide trófica. Influenciado pelos trabalhos de Elton, que em 1927 
desenvolveu o conceito de nicho e publicou os primeiros estudos sobre teias tróficas e fluxo de 
energia, e Hutchinson, que em 1940 publicou trabalhos sobre transferência de energia, 
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processos tróficos e sucessão, Lindemann conseguiu descrever importantes padrões para 
comunidades com base em relações nutricionais e tróficas regidas pela segunda lei da 
termodinâmica (Rezende et al., 2008). No entanto, a difusão da ecologia termodinâmica foi 
impulsionada após a publicação em 1953 do livro “Fundamentos de Ecologia” pelos irmãos 
Howard e Eugene Odum, onde é descrito um modelo termodinâmico para a sucessão e o 
desenvolvimento de ecossistemas. Durante as décadas seguintes a essa publicação seminal 
surgiram várias abordagens ecossistêmicas com ênfase na relação entre a termodinâmica e a 
teoria da informação (p.ex. Fisher & Likens, 1973; Golley, 1961; Odum, 1956). 
 
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18) Indicadores Termodinâmicos 
 
A partir deste desenvolvimento e popularização do uso de conceitos da termodinâmica 
na ecologia foram desenvolvidos indicadorestermodinâmicos que buscam avaliar a condição 
de um sistema ecológico de forma holística, baseada nas propriedades e na estrutura do 
sistema como um todo (Jørgensen, 2007c). Dentre os vários indicadores termodinâmicos 
destacam-se os baseados em exergia, como a eco-exergia e eco-exergia específica 
(Jørgensen & Mejer, 1977). 
Exergia é definida como a quantidade máxima de trabalho em um sistema que pode 
ser obtida em um processo que o leve ao equilíbrio termodinâmico com um estado de 
referência, ou seja, representa a distância do sistema em seu presente estado em relação ao 
equilíbrio termodinâmico (Silow & Mokry, 2010). No entanto, uma vez que um estado de 
referência externo seria apenas outro ecossistema, a eco-exergia utiliza como estado de 
referência o próprio ecossistema em um estado teórico de degradação máxima, sendo formado 
apenas por seus elementos químicos básicos. Outra importante diferença é que o cálculo para 
a exergia mecânica leva em conta primariamente diferenças de temperatura e pressão entre o 
sistema e o estado de referência (Susani et al., 2006). Como o estado de referência utilizado 
na eco-exergia é o próprio ecossistema em um diferente estado de desenvolvimento, 
diferenças de pressão e temperatura são pouco relevantes (Susani et al., 2006). 
Eco-exergia é definida por Jørgensen et al. (2005) como a medida da distância entre o 
estado presente do ecossistema e como este seria caso estivesse em equilíbrio termodinâmico 
com o ambiente abiótico (Figura 8). Em outras palavras, é a medida da quantidade de trabalho 
necessária para criar um determinado sistema biológico a partir de seus compostos químicos 
primários (Susani et al., 2006). Tomada por si só, a eco-exergia de um ecossistema é a 
diferença entre o conteúdo de entropia de um sistema e o de sua referência (Svirezhev, 2000) 
e representa a medida estrutural da biomassa e a informação nela embutida (Jørgensen et al., 
1995). Eco-exergia específica é definida como a eco-exergia total dividida pela biomassa total, 
medindo a capacidade do ecossistema de utilizar fluxos externos de energia, refletindo o grau 
de complexidade ou desenvolvimento do sistema (Silow & Mokry, 2010). O distanciamento do 
sistema em relação ao equilíbrio termodinâmico ocorre de três formas: (1) aumento na 
estrutura física do sistema na forma de biomassa; (2) aumento do número de ligações entre os 
componentes do sistema aumentando o fluxo interno de energia; (3) aumento da informação 
embutida no sistema, aumentando sua complexidade (Jørgensen, 2006). 
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Figura 8. Representação gráfica do conceito da eco-exergia, representando a medida da 
diferença de energia entre um sistema ecológico e um sistema de referência com a mesma 
composição química, mas em equilíbrio termodinâmico (adaptado de Jørgensen, 2007b). 
 
 
Buscando explicar a complexidade de sistemas ecológicos através do arcabouço 
teórico da eco-exergia, Jørgensen (2007b) desenvolveu a Teoria Integrada dos Ecossistemas 
baseada em dez princípios observacionais: 
1- Todos os ecossistemas são sistemas abertos localizados em um ambiente no 
qual recebem inputs de matéria e energia e no qual descarregam um output de 
matéria e energia. 
2- Ecossistemas possuem vários níveis de organização e operam 
hierarquicamente. 
3- Termodinamicamente, a vida baseada em carbono é viável entre 250 e 350 
Kelvin. 
4- Massa, incluindo biomassa, e energia são conservadas. 
5- A vida baseada em carbono na Terra possui uma bioquímica básica 
característica, que todos os organismos compartilham. 
6- Nenhum sistema ecológico existe em isolamento, mas sim conectado a outros. 
7- Todos os processos ecossistêmicos são irreversíveis. 
8- Processos biológicos utilizam energia capturada (input) para se colocarem 
distantes do equilíbrio termodinâmico e se manterem em um estado de baixa 
entropia em relação ao ambiente. 
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9- Após a absorção inicial de energia, o crescimento e desenvolvimento de um 
ecossistema é possível por: (i) aumento em sua estrutura física (biomassa); (ii) 
aumento nas ligações entre suas partes constituintes (maior ciclagem); (iii) 
aumento na informação embutida no sistema (informação genética). 
10- Um ecossistema recebendo energia tentará maximizar sua capacidade de 
armazenamento de energia útil se mais de uma possibilidade lhe for 
apresentada, de modo que em longo prazo aquela que mova o sistema mais 
distante do equilíbrio termodinâmico será a selecionada. 
 
Eco-exergia e eco-exergia específica podem ser usadas como indicadores ambientais 
e devem ser utilizadas complementarmente (Marques et al., 2003). Valores mais altos destes 
parâmetros são indicativos de maior diversidade, maior redundância funcional e maior 
resiliência de sistemas mais complexos (Salas et al., 2005). Isto pode ser interpretado como 
uma consequência do principio 10 da Teoria Integrada dos Ecossistemas (Jørgensen, 2007c), 
onde o ecossistema tende a maximizar a sua capacidade de armazenamento de eco-exergia, 
tendendo a se estabilizar na condição que deixe o sistema mais distante do equilíbrio 
termodinâmico. Desta forma, é esperado que um ecossistema perturbado apresente menor 
eco-exergia e eco-exergia específica quando comparado a um ambiente pouco perturbado, 
uma vez que distúrbios aumentariam a entropia do ecossistema (Jørgensen, 2007a). Neste 
contexto teório, a utilização da eco-exergia como indicador ecológico propõe uma relação 
inversa da eco-exergia de um sistema ecológico em um gradiente de distúrbios ambientais. 
Apesar de sua publicação inicial ter acontecido no final dos anos 70 (Jørgensen & 
Mejer, 1977), as primeiras utilizações práticas da eco-exergia como indicador ambiental foram 
publicadas no final dos anos 90. Marques et al. (1997) testaram as respostas de eco-exergia e 
eco-exergia específica em um gradiente de eutrofização no estuário do rio Mondego, Portugal, 
comparando-as com as respostas de indicadores de biodiversidade. Xu (1997) utilizou eco-
exergia e eco-exergia específica como indicadores no lago Chaolu, China, determinando suas 
relações com diversos parâmetros ambientais, como eutrofização e biodiversidade. Estes 
trabalhos pioneiros detectaram uma forte correlação da eco-exergia com biodiversidade, bem 
como forte correlação negativa com eutrofização, demonstrando que eco-exergia é um bom 
indicador da qualidade ambiental de ecossistemas aquáticos. 
Na China os estudos com eco-exergia continuaram focados no desenvolvimento de 
indicadores ecológicos em ambientes lênticos. Inicialmente foi desenvolvido um modelo para 
os sintomas estruturais e funcionais ao nível de ecossistema para a contaminação por 
acidificação, cobre, petróleo e pesticidas (Xu et al., 1999). Posteriormente este modelo foi 
expandido para o desenvolvimento de um índice de integridade ecológica (Xu et al., 2001, 
2005) e criação de um modelo preditivo para a restauração de lagos (Kong et al., 2013). 
Através destes estudos foi possível comprovar a robustez da eco-exergia como indicador 
ecológico, demonstrando que este indicador responde bem aos vários tipos de impactos aos 
quais os ecossistemas aquáticos estão sujeitos. 
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Em Portugal os estudos subsequentes no estuário do rio Mondego testaram o 
desempenho de eco-exergia e eco-exergia específica em conjunto com outros indicadores em 
experimentos de colonização (Patrício

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