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CADERNO-DE-RESUMOS-2019-11-22-3ed

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Luiz Souza (UFMG) 
Willi Gonçalves (UFMG) 
Karla Balzuweit (UFMG) 
Rita Lages (UFMG) 
Thiago Puglieri (UFPel) 
Márcia Rizutto (USP) 
Antônio Gilberto Costa (UFMG) 
Willi Gonçalves (UFMG) 
lacicor.eba.ufmg.br/antecipa 
ANTECIPA 2018 - Encontro da Associação Nacional de Pesquisa em Tecnologia e 
Ciência do Patrimônio – Caderno de resumos expandidos. 3. ed. / Organizadores: Willi 
de Barros Gonçalves; Rita Lages Rodrigues; Thiago Sevilhano Puglieri; Márcia de 
Almeida Rizzuto; Antônio Gilberto Costa – Belo Horizonte / MG: Lacicor/Cecor/EBA/ 
UFMG, 2018. 
135 p. 
ISBN: 
1.Ciência do Patrimônio. 2. Ciência da Conservação.
CDD: 
Informações sobre o evento 
Estabilização das bacias da Catedral Basílica de 
Salvador 
Betina Abreu, Janainna Araújo, Letícia Estrela 
A análise de técnicas e materiais para o tratamento de 
negativos de vidro 
Bárbara Andrade de Oliveira Alves, Marina Furtado 
Gonçalves 
Fotogrametria na documentação da paisagem – Um 
estudo urbano de Bocaina/SP (1.891-1.929) 
Bruna Cristina Bevilaqua 
Caracterização de fotografias em suporte de papel Juliana Bittencourt, Wanda Engel, Marcia A. 
Rizzutto 
Laboratório de Espectroscopia Molecular (IQUSP): 
Vinte Anos de Investigação de Bens Culturais 
Dalva L.A. de Faria 
Avaliação do gerenciamento ambiental de Coleções no 
Centro de Arte Popular CEMIG de Belo Horizonte-MG 
Bárbara C. Ferreira, Willi de Barros Gonçalves 
Ferramenta Simplificada de Diagnóstico de 
Conservação para Certificação de Reservas Técnicas 
Willi de Barros Gonçalves, Bárbara C. Ferreira, 
Naiara Gonçalves, Thais H.A. Costa
Nem tudo o que reluz é ouro: latão aplicado ao papel Marina Furtado Gonçalves, Luiz Antônio Cruz 
Souza, Márcia Almada, Isolda M. Castro Mendes 
A UFBA na salvaguarda do patrimônio cultural 
brasileiro 
Renata L. Gribel 
Fotogrametria aplicada a um mausoléu projetado por 
Lina Bo Bardi 
Brunna Heine 
Comportamento mecânico de argamassas de cal com 
adição de cinzas volantes para uso no restauro 
Ana Cristian Magalhães, Rosana Muñoz 
Pinturas murais de João Fahrion Carolina Moraes Marchese, Thiago Sevilhano 
Puglieri, Paula Viviane Ramos 
Do museu para o laboratório: os cadernos de 
encomenda de Udo Knoff como fonte de conhecimento 
científico sobre o patrimônio azulejar contemporânea 
brasileiro 
Eliana U. C. Mello 
Formas de Conservação e Restauração do Patrimônio 
Funerário em Cantaria de Lioz do Cemitério do Campo 
Santo, Salvador – BA 
Cibele de Mattos Mendes 
Memória do bacharelado em Conservação e 
Restauração de Bens Culturais Móveis da UFPel: 
análise dos projetos desenvolvidos de 2008 a 2018 
Bárbara Moraes, Clara Ribeiro do Vale Teixeira, 
Raquel França Garcia Augustin, Ana Carolina 
Fernandes da Silva 
Pesquisa e Extensão integrados no Laboratório de 
Ciência do Patrimônio (LACIPA) da UFPel 
Thiago Sevilhano Puglieri 
Projeto Hans Broos: Pesquisa Aplicada ao Patrimônio 
Cultural 
Sara C. Santos, Bernardo B. Bielschowsky, Ana 
Paula P. Correa 
A Gestão do Sistema Alternativo de Climatização da 
Reserva Técnica Curt Nimuendajú do Museu Paraense 
Emílio Goeldi (MPEG) 
Christiane Sofhia Godinho Santos, Luiz Antônio da 
Cruz Souza, Willi de Barros Gonçalves 
Ortofoto como instrumento para diagnóstico e 
mapeamento de danos de painéis azulejares: o caso 
da Igreja de Nossa Senhora da Vitória em Salvador 
(BA) 
Larissa Corrêa Acatauassú Nunes Santos, Mário 
Mendonça de Oliveira 
Limpeza em cantaria de lioz, realizada na fachada da 
Basílica Santuário da Conceição da Praia, em 
Salvador/BA 
Angélica Schianta, Janainna Araújo, Letícia Estrela 
The Conservation and Restoration Methods of 
Industrial Heritage:The Case Study of the Steam Road 
Roller of EBA/UFMG 
Ronaldo André Rodrigues da Silva, João Cura 
D’Ars de Figueiredo Júnior, Valquíria de Oliveira 
Silva 
Ladrilhos hidráulicos integrados ao patrimônio 
arquitetônico de Salvador- Bahia-Brasil 
Maria das Graças Rodrigues da Silva 
Estação Ferroviária Sapucaí: Um lugar em diálogo Lourenço Kallil Tomaz, Ana Paula Neto de Faria, 
Aline Montagna da Silveira 
El uso de la tecnología como herramienta de 
diagnóstico en el patrimonio dañado por desastre 
naturales 
Montserrat Ramírez Vernet 
Adequação de ferramenta para avaliação das 
condições de conservação de plumárias indígenas em 
reserva técnica 
Bianca C. R. Vicente, Luiz A. C. Souza, Willi B. 
Gonçalves 
Identificação de agentes pesticidas no acervo do 
MAE/USP por PXRF 
Ana Carolina Delgado Vieira, Carlos Roberto 
Appoloni, Fábio Lopes 
Hyperspectral Imaging based on a Birefringent 
Interferometer Applied to the Analysis of Artworks 
Barbara E. N. Faria, Gladystone R. da Fonseca, 
Antonio Perri, Daniela Comelli, Gianluca Valentini, 
Giulio Cerullo, Ana Maria de Paula, Cristian 
Manzoni 
A ANTECIPA – Associação Nacional de Pesquisa em Tecnologia e Ciência do Patrimônio foi 
fundada em 2015 com a finalidade de congregar os pesquisadores da área, apoiar e fomentar a 
pesquisa transdisciplinar, a produção científica e tecnológica, bem como a sistematização, 
difusão e intercâmbio de informações e conhecimentos do campo expandido da Ciência do 
Patrimônio, a cooperação técnica e a capacitação profissional, envolvendo de maneira 
abrangente os diversos aspectos da preservação e pesquisa do Patrimônio Cultural. 
 
A ANTECIPA concluiu o seu registro como pessoa jurídica em maio de 2018 e realiza em 
novembro do mesmo ano o seu 1o. Encontro Nacional. 
 
A Ciência do Patrimônio é um campo transdisciplinar de conhecimento que abrange todos os 
aspectos das atividades realizadas por pesquisadores, profissionais, empresas e cientistas no 
campo da preservação do Patrimônio Cultural, abrangendo não somente a investigação dos 
aspectos físicos e materiais que dão suporte à Conservação-Restauração de bens culturais, mas 
também a gestão, registro, documentação e interpretação do Patrimônio Cultural. 
 
Uma importante iniciativa internacional neste campo é a Plataforma Europeia Integrada de 
Infraestrutura de Pesquisa do Patrimônio Cultural - o consórcio IPERION-CH - financiado pelo 
programa Horizon 2020 da União Européia. Dentre outros objetivos, o IPERION visa a criação 
de redes para compartilhamento de infraestruturas de pesquisa voltadas para a Conservação-
Restauração do Patrimônio Cultural, como por exemplo a E-RIHS – European Research 
Infrastructure for Heritage Science. 
 
O 1o Encontro da ANTECIPA é realizado em conjunto com o Simpósio Internacional Heritage 
Science: the Role of Research Infrastructures, promovido pelo IPERION-CH. 
 
Mais informações no site da ANTECIPA: lacicor.eba.ufmg.br/antecipa 
 
 
Estabilização das bacias da Catedral Basílica de Salvador. 
Betina Abreu¹*, Janainna Araújo², Letícia Estrela³ 
1Universidade Federal da Bahia (BRA) 
2 Universidade Federal da Bahia (BRA) 
3 Universidade Federal da Bahia (BRA) 
*betinaabreu.ba@gmail.com 
leticiavelame@live.com 
 
Palavras-chave: Ciência da conservação, patrimônio, estabilização de estruturas, bacia, arenito. 
 
1. Introdução 
A Catedral Basílica de Salvador, datada de meados do século XVII, é um dos monumentos mais 
antigos da cidade. O edifício se trata de remanescente da antiga Igreja do Colégio dos Jesuítas de 
Salvador, sendo essa construção que conhecemos hoje, a sua quarta versão, apresentando uma 
feição mais elaborada e suntuosa que as anteriores. 
Tombado em 25 de maio de 1938, o monumento apresenta incomensurável importância artística, 
histórica e cultural e nos últimos anos passou por intervenção e restauração executada pelo Iphan. 
No dia 18 de janeiro de 2018, ocorreu a queda de uma das bacias da sacada, correspondente à 
fachada posterior da Catedral Basílica (Figura 01). A empresa de construção/restauração Marsou 
Engenharia, que nesta época realizava trabalho de restauração no edifício, requisitou consultoria ao 
Professor Arquiteto Mário Mendonça de Oliveira e solicitou para que ele realizasse parecer técnico 
com indicação dos procedimentosnecessários para estabilização das peças. 
Em visita à área, foi observado trabalho de “requalificação” na pavimentação e passeios em local 
vizinho ao edifício, onde estavam sendo utilizados equipamentos que podiam produzir vibrações 
indesejáveis à Catedral, sendo este um dos principais suspeitos de ter influenciado no colapso da 
bacia. 
Um conjunto de fatores foram essenciais para a culminação do acidente ocorrido. O envelhecimento 
dos materiais, a ação do intemperismo e ação antrópica, estando a última, presente nas vibrações 
características de uma grande cidade, principalmente se tratando de Salvador, onde são comuns 
ruidosas manifestações populares, em especial em época de carnaval. 
2. Metodologia 
Com a queda da bacia e solicitação do parecer técnico, foi feita visita ao local para observações e 
investigações preliminares de quais situações poderiam ter levado ao colapso da pedra. 
Para a realização do projeto de estabilização das bacias das janelas rasgadas da Catedral Basílica de 
Salvador, inicialmente fez-se necessário o cadastro da bacia que rompeu, desenvolvido pela equipe 
do Núcleo de Tecnologia da Preservação e da Restauração (NTPR) utilizando o método de 
triangulação com trena metálica, escala e registro fotográfico (Figura 02). Nessa mesma etapa do 
trabalho, foram coletadas amostras da pedra que compõe esta referida bacia - no caso, um arenito - 
para a execução de ensaios no laboratório do NTPR. 
Com o desenvolvimento dos ensaios de absorção total (para observar os valores referentes à 
absorção de água e porosidade do material), do ensaio de massa unitária (para obtenção da 
densidade do material) e de pesquisa bibliográfica sobre os valores de referência para o arenito 
(CAPARÓ, Erwic Flores. Os arenitos de cimentação calcífera de antigos edifícios de Salvador - 
Origens. Salvador: PPGAU, Dissertação de Mestrado, 1997.), observou-se que o arenito presente na 
Basílica, de cimentação carbonática, é atualmente pouco compacto e muito intemperizado, 
apresentando-se com uma porosidade muito maior que a esperada, de acordo com os valores de 
6
referência para o arenito. Assim, essa condição de alta porosidade aliada à baixa densidade do 
material, leva à redução da resistência mecânica da pedra e facilita a percolação de água através das 
precipitações pluviométricas, contribuindo para a dissolução da sua matriz. Além disso, o material 
também pode ter sua matriz cálcica alterada pelos ataques da poluição atmosférica, colaborando 
para o enfraquecimento da pedra. 
Sabendo que essas características provavelmente estariam presentes nas outras bacias, viu-se a 
necessidade de fazer levantamentos individualizados de todo o conjunto de bacias das janelas 
rasgadas da antiga biblioteca da Catedral Basílica, analisando cada caso em fichas com proposição 
do melhor sistema de estabilização para cada uma. 
3. Resultados e discussão 
A partir dos resultados dos ensaios laboratoriais, onde foi detectado a diminuição da resistência 
mecânica do material lítico, o Professor Mário Mendonça de Oliveira desenvolveu projeto de 
estabilização das bacias (Figura 03), onde os procedimentos foram descritos em cada uma das 12 
fichas, de acordo com as necessidades específicas das mesmas. 
No geral, algumas características podem ser apontadas em comum nas peças analisadas como, a má 
resistência das rochas à flexão, o posicionamento das pedras em balanço e sem presença integral de 
engastes, a existência de pesado gradil de ferro nas sacadas e o fator das bacia serem divididas em 
duas partes, provavelmente para facilitar seu deslocamento, entretanto gerando instabilidade das 
mísulas. Além da alta porosidade detectada no ensaio de absorção total, que agrava a fragilidade 
dessas peças, evidenciando a importância da estabilização das mesmas. 
As intervenções realizadas (Figura 04) foram: remoção das obturações de cimento; retirada de 
alguns “gatos” e agrafes colocados no passado; implantação de agrafes longas (mínimo duas por 
bacia) de aço inoxidável rebaixada através de um corte, preenchida com epóxi fluido e arrematada 
na parte final com arenito pulverizado e Primal; implementação, quando necessária, de argamassa 
de cimento de alta resistência; preenchimento das juntas das peças com resina epóxi fluida; 
desentupimento de drenos existentes; e aplicação de paralóide por impregnação; assim como a 
escarificação do revestimento externo e parede, logo abaixo da bacia, para preenchimento com 
argamassa de grauteamento em profundidade de 10 cm, ou até encontrar o paramento de pedra, 
terminando o preenchimento com argamassa de cal. 
4. Conclusões 
Para concluir, gostaríamos de enfatizar a detecção de instabilidade em todas as bacias de pedra, 
fruto da dissolução da matriz carbonática ocasionada pela água da chuva ao longo dos anos. Aliado 
a isso, a fragilidade do material pode ter sido agravada com as vibrações geradas pelas obras feitas 
no exterior da Catedral, portanto foi recomendado a instalação de indicação de isolamento/proibição 
no passeio e na parte correspondente à biblioteca do edifício, até ser sanado definitivamente o 
problema. Além de sugerido a adoção de medidas preventivas em relação ao período de festa do 
carnaval, onde as músicas ultrapassam os 70db legais, gerando indesejada vibração. 
Vale salientar igualmente, que a intervenção feita para estabilizar as bacias foi de extrema 
importância para manutenção do patrimônio e segurança dos transeuntes, considerando o elevado 
peso que a pedra apresenta, podendo causar graves acidentes em caso de queda. Assim como, 
destacamos como se mostra valioso o suporte laboratorial nesses tipos de intervenções e louvável o 
suporte teórico e conhecimento tecno-prático inegável do Professor Mário Mendonça, para chegar 
aos melhores resultados neste processo delicado que é cuidar do patrimônio. 
 
 
 
7
 
 
 
Figura 01: Imagem aproximada da bacia rompida. 
Fonte: Mário Mendonça. 
 
 
 
Figura 02: Bacia (G16-12) apresentava presença de “gatos” instalados em intervenção anterior. 
Fonte: Equipe NTPR 
 
 
 
 
8
 
 
 
 
Figura 03: Corte Transversal da Bacia G16-12 indicação de intervenção. 
Fonte: Equipe NTPR 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 04: Estabilização da bacia G16-12 executada. 
Fonte: Elias Machado 
 
 
 
 
 
9
Agradecimentos 
Agradecemos ao Professor Mário Mendonça e ao Arq. Mestre Elias Machado, por solicitar auxílio 
no cadastro e no detalhamento técnico deste trabalho, acreditando na nossa competência. Além de 
nos favorecer a oportunidade de acompanhar e visitar as obras da Catedral, que foi de extrema 
contribuição para nossa formação como estudantes de graduação em contato com a vida prática no 
restauro. 
 
Referências 
OLIVEIRA, Mário Mendonça. Tecnologia da conservação e da restauração – materiais e estruturas. 
Salvador: EDUFBA, 4ed. 2011. 
AYRES-BARROS, Luís. As rochas dos monumentos portugueses – Tipologias e patologias. 
Lisboa: IPPAR, 2001. 
IPAC-SIC. Inventário de proteção do acervo cultural. Salvador: Secretaria de Indústria e Comércio, 
v.1, 1975. p. 23. 
CAPARÓ, Erwic Flores. Os arenitos de cimentação calcífera de antigos edifícios de Salvador - 
Origens. Salvador: PPGAU, Dissertação de Mestrado, 1997. 
 
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A análise de técnicas e materiais para o tratamento de negativos de vidro 
Bárbara Andrade de Oliveira Alves1,*, Marina Furtado Gonçalves2. 
1Mestranda em Artes, Escola de Belas Artes, Universidade Federal de Minas Gerais (Brasil). 
2Doutoranda em História, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de 
Minas Gerais (Brasil). 
*barbara.consevacao@gmail.com 
 
Palavras-chave: Negativos de vidro; Técnicas e materiais; EDXRF; FTIR; Curt Lange. 
 
1. Introdução 
A fotografia, como artefato material, é constituídapelo elemento formador da imagem, por 
um suporte e a emulsão ou meio ligante. Dentre os materiais presentes no objeto fotográfico 
podemos citar a prata, pigmentos ou corantes como formadores da imagem; o papel, vidro ou 
plástico como suportes; e o colódio, albumina e gelatina como emulsão. 
Para se obter uma imagem é necessário que o suporte seja revestido por um material 
formador, sendo a prata o mais comum, utilizado desde o surgimento da fotografia devido às 
suas propriedades físico químicas. Os sais desse metal são compostos por cristais de prata 
regulares, apresentando estrutura cúbica, e cada cristal é formado pela ligação entre íons de 
prata (positivos) e íons brometo (negativos). O resultado desta interação são os haletos de 
prata que, quando colocados em um meio emulsificante que os permita ficar em suspensão e 
que possua transparência suficiente para entrada de luz, possibilitam a formação da imagem 
no momento da exposição (MOSCIARO, 2009). 
Em um primeiro momento, as provas fotográficas eram obtidas com o uso da câmera escura e 
a imagem era formada sobre um suporte celulósico coberto com sais de prata. Devido à baixa 
qualidade dos primeiros papéis fotográficos, bem como as dificuldades em se fixar os sais de 
prata sobre o suporte e a necessidade de se processar imediatamente a imagem, foram 
desenvolvidos e lançados, em 1848, os negativos de vidro em emulsão de albumina. Os 
negativos de vidro surgem como uma alternativa que tornaria o processo fotográfico mais 
viável, uma vez que o suporte em vidro atendia as características necessárias à produção 
fotográfica da época que, aliado à evolução dos meios ligantes, diminuiu o tempo de 
exposição e as dificuldades em transportar as chapas fotográficas de grande formato. Quando 
a gelatina surge como emulsão fotográfica o processo de produção das chapas se difunde, 
aumentando a oferta de negativos em gelatina e disseminando o seu uso. Esses negativos 
foram usados até o final do século XIX e início do século XX, até serem substituídos, devido 
a fragilidade do vidro, pelo rolo de papel fotográfico, lançado por George Eastman em 1885 
(REIMERINK, 2001). 
As imagens nos negativos de vidro são obtidas através do uso de uma câmera escura e uma 
chapa de vidro de tamanhos variados, sendo os mais comuns 9x12cm, 10x15cm, 13x18 cm e 
18x24 cm e espessura entre 2 mm e 5 mm, revestidas com sais de prata em emulsão que 
garante a fixação dos sais no suporte. A imagem formada apresenta tons e cores invertidas em 
relação ao objeto fotografado, o que caracteriza uma imagem negativa (PAVÃO, 1997). 
Para além da possibilidade de quebra do suporte dos negativos de vidro, são diversos os 
problemas de deterioração deste tipo de artefato. Pode ocorrer o amarelecimento da imagem 
causado pela oxidação dos íons de prata e pelo meio ligante, desprendimento da emulsão do 
suporte devido a variações climáticas ambientais, oxidação da prata causando um 
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espelhamento em suas bordas, assim como o aparecimento de abrasões e sujidades aderidas. 
Por se tratar de objetos de certa fragilidade, o acondicionamento adequado torna-se essencial, 
sendo que podemos encontrar negativos de vidro de valor histórico e artístico em arquivos, 
bibliotecas, museus e acervos particulares. A Biblioteca Central da Universidade Federal de 
Minas Gerais (BU/UFMG) é uma destas instituições e guarda a coleção de negativos de vidro 
de Curt Lange, composta por 70 negativos acondicionados em 11 caixas de papel. 
Curt Lange (1903-1997), nascido na Alemanha e naturalizado no Uruguai, foi um 
etnomusicólogo mundialmente reconhecido pelo seu trabalho. Com pesquisas desenvolvidas 
em diversos países, Lange chega pela primeira vez ao Brasil em 1934. No Brasil, entre os 
anos de 1944 e 1946, ministrou palestras sobre o “americanismo musical”, iniciando sua 
pesquisa sobre a música no estado de Minas Gerais e a música brasileira do século XX. Com 
formação também em arquitetura e interesse no campo cultural para além da música, Lange 
tinha um grande interesse em registrar cenas e aspectos da cultura brasileira. Devido à sua 
preocupação com os registros e sua guarda, Curt Lange formou um grande acervo sobre a 
cultura brasileira, em forma de registros fotográficos, cartas, manuscritos, trabalhos, 
partituras, dentre outros materiais, e doou, ainda em vida, a coleção para diversas instituições 
(MONTERO, 1998). 
Os negativos de vidro doados à BU/UFMG apresentam tipologias de deteriorações diversas, 
como desprendimento de emulsão, abrasões, sujidades aderidas e rompimento do suporte. 
Além disso, as embalagens de acondicionamento não são adequadas, bem como as condições 
de guarda. 
No intuito de conhecer a materialidade dos objetos que necessitam de intervenções de 
conservação e restauro e escolher o melhor tratamento para os negativos de vidro da Coleção 
sob a guarda BU/UFMG, apresenta-se as análises utilizadas para identificação dos materiais e 
técnicas dos objetos. 
2. Metodologia 
Como mencionado anteriormente, a Coleção Curt Lange é composta por aproximadamente 70 
negativos de vidro acondicionados em 11 caixas. Para o escopo deste trabalho, uma vez que 
não haveria tempo hábil para estudar todos os artefatos, optou-se por realizar uma seleção a 
partir de cálculo amostral aleatório, ou seja, aquele no qual todos os elementos têm a mesma 
probabilidade de serem selecionados (SANTOS, 2015). Assim, foram escolhidas quatro 
caixas da Coleção, totalizando 28 negativos de vidro. 
Para identificar os materiais e técnicas empregadas nos negativos de vidro selecionados, 
partiu-se do exame visual sob luz visível, auxiliado pelo uso de lupa de 10 vezes de aumento, 
para o conhecimento geral dos objetos. Os negativos foram identificados e procedeu-se com a 
documentação científica por imagem utilizando luz reversa, para registro do estado de 
conservação dos objetos naquele momento e identificação das imagens, e rasante, para 
observar as deteriorações. Após a constatação visual de que os negativos de vidro possuíam 
características físicas semelhantes, optou-se por escolher um dos 28 negativos para que se 
procedessem os exames laboratoriais de Espectroscopia no Infravermelho por Transformada 
de Fourier (FTIR) para a identificação da emulsão e Espectroscopia de Fluorescência de Raios 
X por dispersão de energia (EDXRF) para identificar o material formador da imagem. 
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O negativo foi levado ao Laboratório de Ciência da Conservação da Escola de Belas Artes da 
Universidade Federal de Minas Gerais (LACICOR/EBA/UFMG) e utilizou-se in situ o 
aparelho de EDXRF Espectrômetro Bruker modelo KeyMaster XRF TRACER III-V portátil 
com Anodo de Ródio, tensão de 15 kV e corrente de 55 µA, com acumulação de 60 segundos. 
Foram realizadas três medições em locais distintos e os dados obtidos foram posteriormente 
interpretados utilizando o software Artax. Com o auxílio de ponta de tungstênio, retirou-se 
uma microamostra para análise em um espectrômetro Bruker, modelo Alpha, módulo 
attenuated total reflection (ATR). O espectro foi coletado na faixa de 600 a 4000 cm-1, a uma 
resolução de 4 cm-1, com 24 scans. Os espectros foram visualizados pelo software OPUS e 
comparado com outros de referência. 
Os resultados dos exames organolépticos, documentação científica por imagem, EDXRF e 
FTIR foram analisados e são apresentados a seguir. 
3. Resultados e discussão 
Segundo Brandi (2004), restaura-se somente a matéria do bem cultural e, dessa maneira, o uso 
de técnicas adequadas e suporte científico para a tomada de decisões do conservador-
restaurador, faz-se necessário. Os artefatos são examinados a fim de obter respostas 
relacionadas à história da arte técnicae sobre a origem do objeto, ou seja, onde, quando e por 
quem a obra foi criada. Os exames científicos que procuram responder tais questões 
normalmente exigem a identificação dos materiais e técnicas empregados naquela obra, sendo 
que outros estudos visam responder a perguntas básicas sobre a conservação do objeto, seu 
estado físico e químico, causas de deterioração e vulnerabilidade às condições de 
acondicionamento ou exposição (WHITMORE, 2003). 
Para melhor identificação de materiais, técnicas construtivas, definição do próprio tratamento 
e seus riscos, procedem-se exames que podem ser classificados em três categorias, sendo elas: 
invasivos, microinvasivos e não invasivos (GONÇALVES, 2015). Ensaios não invasivos 
apresentam-se muito eficientes e, para a conservação e restauração de bens culturais, são os 
mais indicados, uma vez em que não há intervenções acentuadas sobre a obra (FIGUEIREDO 
JUNIOR, 2012). 
O equipamento de EDXRF utilizado permitiu que não fosse retirada amostra, configurando-se 
como exame não invasivo. O espectro resultante apontou para a presença de prata como 
elemento formador da imagem (Figura 1). 
 
Figura 1: Espectro de EDXRF indicando a presença da prata. 
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A técnica de EDXRF apresenta limitações para detectar elementos de número atômico baixo, 
como o hidrogênio, oxigênio, carbono, entre outros, portanto não costuma ser utilizada para 
análise de materiais orgânicos (GONÇALVES, 2015). Desta forma, para identificar a 
emulsão, utilizou-se a FTIR. O resultado obtido, após comparação com espectros de 
referência, apontou a gelatina como material constituinte da emulsão (Figura 2). 
 
Figura 2: Espectro de FTIR indicando a presença de gelatina. 
A partir do conhecimento dos materiais presentes nos negativos de vidro, estabeleceram-se os 
tratamentos a serem conduzidos. Com o objetivo de remover sujidades superficiais e aderidas 
procedeu-se com a higienização mecânica com trincha macia e pera de borracha, em seguida 
foi realizada a higienização mecânica com auxílio de swabs embebidos em solução de álcool 
isopropílico e água (3:1). Para a consolidação da emulsão no suporte foi utilizada gelatina 
fotográfica Type grade b, preparada com 80 ml de água destilada para 40g de gelatina. O 
sistema foi deixado em repouso por 30 minutos em temperatura ambiente e, em seguida, foi 
aquecido em banho maria com temperatura controlada a 40º C até atingir sua total dissolução. 
A gelatina foi aplicada ainda quente, com pincel macio e movimentos suaves, consolidando a 
emulsão em desprendimento e o suporte. Para peças que apresentavam grande 
desprendimento a gelatina foi aplicada sobre toda a superfície do negativo visando a 
estabilização do sistema. Já as peças que apresentavam espelhamento da prata passaram pelos 
mesmos processos de higienização e consolidação, quando necessário, porém não foi 
realizado nenhum tratamento para reverter a oxidação da prata.	
4. Conclusões 
O conhecimento das técnicas e materiais presentes em um bem cultural, juntamente com o 
levantamento histórico e dos dados de qualquer tipo de intervenção de conservação-
restauração é essencial para a definição das estratégias e tratamento de acervos. Para a coleção 
de negativos de vidro selecionada os exames visuais, documentação científica por imagem 
com luzes reversa e rasante, bem como as espectroscopias EDXRF e FTIR foram 
fundamentais para a caracterização dos objetos, observar as deteriorações sofridas e 
identificar os componentes presentes nos artefatos. Após a análise dos resultados obtidos, em 
que se priorizou os exames não invasivos e microinvasivos, optou-se pela utilização da 
gelatina fotográfica Type grade b, material este compatível com os encontrados nos negativos 
de vidro. 
Uma vez que o acondicionamento é primordial para a conservação dos negativos de vidro, 
confeccionaram-se caixas em formato retangular, de papel neutro com tampa separada, para 
cada negativo foi confeccionado um envelope em formato cruz, com papel Canson ® 140g, 
neutro e como interface entre o envelope e as peças foi adicionado papel Filifold 200g; os 
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negativos foram colocados em posição vertical, mesma posição que as caixas deveriam 
permanecer no arquivo. Os artefatos foram devolvidos para a BU/UFMG, juntamente com o 
relatório dos exames, diagnóstico do estado de conservação e intervenções realizadas, a fim 
de servirem de referência para novos procedimentos e pesquisas futuras. 
Embora existam grandes acervos fotográficos nas instituições, foi observado, no que diz 
respeito a negativos de vidro, que há pouca demanda de material de referência quanto a 
exames para identificar suas técnicas, materiais e atuar em sua conservação e restauração. Os 
dados contidos nessa pesquisa visam ajudar instituições e conservadores-restauradores a 
encontrarem informações sobre como identificar e tratar estes materiais assim como fontes de 
pesquisa que os possibilitem atuar junto a este tipo de acervo. 
Referências 
BRANDI Cesare. Teoria da Restauração. São Paulo: Editora Ateliê, 2004. 
FIGUEIREDO JUNIOR, J. C. D. D. Química aplicada à conservação e restauração 
de bens culturais: uma introdução. Belo Horizonte: [s.n.], 2012. 163,167 p. 
GONÇALVES, Marina Furtado; SOUZA, Luiz Antônio Cruz. Separados no 
nascimento: estudo de técnicas, materiais e estado de conservação de dois manuscritos 
iluminados do século XVIII. 2015. 169, [9] f. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal 
de Minas Gerais, Escola de Belas Artes. 
MONTERO, L. M. Francisco Curt Lange (1903-1997): tributo a un americanista de 
excepción. In: SciELO Chile-Scientific Eletronic Library Online, 1998. Disponivel em: 
<http://www.scielo.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0716-27901998018900002>. 
Acesso em: 28/10/2013. 
MOSCIARO, Clara. Cadernos técnicos n6. Diagnóstico de conservação em coleções 
fotográficas. Rio de Janeiro, Funarte, 2009. 
PAVÃO, L. Conservação de Colecções de Fotografia. Lisboa: Dinalivro, 1997. 24, 39, 44, 73, 
130, 132, 136, 137, 215,280 p. 
REIMERINK, R. K. História da fotografia. In: Sítio eletrônico da Kodak. Disponível em: 
<http://wwwbr.kodak.com/BR/pt/consumer/fotografia_digital_classica/para_uma_boa 
_foto/historia_fotografia/historia_da_fotografia01.shtml?primeiro=1>. Acesso em: 
15/08/2013. 
SANTOS, Glauber Eduardo de Oliveira. Cálculo amostral: calculadora on-line. Disponível 
em <http://www.calculoamostral.vai.la>. Acesso em 4 de agosto de 2015. 
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examination of art: modern techniques in conservation and analysis. Washington, DC: 
National Academy of Sciences, 2003. p. 27-39. 
 
 
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Fotogrametria na documentação da paisagem 
Um estudo urbano de Bocaina/SP (1.891-1.929) 
Bruna Cristina Bevilaqua 
Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo 
*e-mail brunabevilaquaarq@gmail.com 
 
Palavras-chave: Patrimônio arquitetônico; Paisagem urbana; Fotogrametria; Complexo do café; 
Bocaina (cidade). 
 
1. Introdução 
A expansão do cultivo do café no Estado de São Paulo e suas consequências econômicas levaram a 
um marco de sua ocupação. A porção Centro-oeste assistiu, principalmente entre o século XIX e 
início do século XX, às primeiras transformações radicais de seu território: crescimento populacional, 
cultivo homogêneo nas lavouras, surgimento de aglomerações urbanas, dentre outras mudanças. 
Historicamente, sabe-se que as transformações espaciais mais profundas já sofridas em diferentes 
contextos procedem,predominantemente, de razões econômicas. Tais motivos econômicos atuaram 
de maneira categórica, através do complexo do café1, no Estado de São Paulo, transfigurando seu 
perfil espacial e agindo explicitamente sobre diversas relações. Essa interferência justifica o empenho 
dispensado por pesquisadores para analisar esse período e suas resultantes. 
Apesar disto, os estudos acerca deste período no Estado estão longe de serem esgotadas, uma vez que 
mitos e imprecisões ainda o cercam. A importância deste empenho contínuo, em especial sobre o que 
envolve a produção do espaço na Era do Café, se estabelece na compreensão de que este é “resultado 
da geografização de um conjunto de variáveis, de sua interação localizada” (SANTOS, 2.014, pág. 
37), o que torna, apesar de coligados pelos motivos de fomento, cada caso único e importante. 
1.1 Os agentes de transformação da paisagem: conhecendo a área de estudo 
O estudo aborda o território de Bocaina a partir da emancipação sociopolítica do município (1.891). 
A cidade, localizada no interior do Estado de São Paulo (a, aproximadamente, 300 quilômetros da 
Capital), é um dos testemunhos edificados da soberania econômica exercida pelo complexo do café 
no Centro-oeste Paulista. Fundada já no regime político republicano, a cidade respondeu a interesses 
dos grandes cafeicultores da região e tem em seu desenvolvimento um exemplo de conformação 
urbana em direta consonância com a atividade econômica vigente no local. 
Foi apenas entre 1.885 e 1.890 que surgiu o interesse em edificar ali uma capela e um arraial, a fim 
de facilitar o movimento religioso e fomentar o desenvolvimento de um comércio local 
(FURLANETO, 2.003). Ghirardello (2.002, pág. 125) ressalta o número significativo de cidades que, 
fundadas durante o século XIX, tiveram origem em patrimônios religiosos, a partir da doação de terras 
rurais à Igreja Católica, de forma que a igreja tutelava o futuro povoado, sob a proteção de um santo. 
Em um cenário muito semelhante a esse que teve início a Vila de São João Batista da Bocaina. 
Bocaina compõe o projeto territorial do Estado de São Paulo, onde as ocupações se alinham não 
apenas à consolidação de espaços urbanos, mas principalmente à infraestrutura relacionada aos 
espaços agrários (ZÓLIO, 2.011, pág. 09). A questão não era desenhar o urbano, mas realizar o 
planejamento territorial do Estado. “A forma urbana seria uma consequência, estaria muito mais 
 
1 Cano (1.977) chama de complexo cafeeiro uma rede de componentes que possibilitaram o desenvolvimento desta cultura. 
Ainda segundo o autor, os aspectos ligados a este complexo eram: a atividade produtora do café (principal dentre todas), a 
agricultura produtora de alimentos e matérias-primas, atividade industrial (produção de equipamentos para beneficiamento do 
café, indústria de sacaria de juta e demais compartimentos da indústria manufatureira), implantação e desenvolvimento do 
sistema ferroviário paulista, expansão de sistemas bancários, atividade de comércio e importação, desenvolvimento de 
atividade geradora de infraestrutura e atividades inerentes à urbanização e à atividade do Estado. (CANO, 1.977, apud. 
COSTA, 2.003, pág. 55). 
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relacionada ao papel dessa cidade na articulação territorial” (COSTA 2003, pág. 51). O escoamento 
da produção cafeeira antes do estabelecimento das ferrovias era fator determinante para o 
estabelecimento das lavouras. A localização geográfica de Bocaina demonstra que nesse aspecto o 
local era privilegiado, por dispor de possibilidade de escoamento por via hídrica. O rio Jacaré-Pepira, 
que nasce na cidade de São Pedro, delimita o território de Bocaina – depois de passar por Bariri, ele 
deságua na bacia Tietê. 
 
Figura 1. Área urbana de Bocaina, porção proposta para levantamento e destaque para local de teste. Fonte: autora, 
2.018.2 
A cidade de Bocaina exemplifica como o complexo do café teve interferência irrefutável em aspectos 
políticos, sociais e culturais. Tais conexões são clarificadas por Santos (2.002, pág. 29) quando, 
primeiramente, classifica a técnica como “conjunto de meios instrumentais e sociais, com os quais o 
homem realiza sua vida, produz e, ao mesmo tempo, cria espaço”, sendo que, em um determinado 
lugar, não se tem técnicas isoladas e sim uma operação simultânea de várias técnicas socioculturais 
que geram a estrutura de um lugar (SANTOS, 2.002, pág. 58). 
A produção arquitetônica local, durante o período estudado, refere-se, principalmente, a um estilo 
eclético. Segundo Benincasa, (2003, pg. 277) essa associação de estilos, apesar de ter seu repertório 
formal muito criticado, foi produto de um período muito criativo e inovador, principalmente em 
função das inovações tecnológicas oriundas do desenvolvimento industrial na época. 
Os fatos históricos acerca de Bocaina revelam que a cidade vivenciou o apogeu e o declínio da 
monocultura cafeeira, responsável pelos principais contornos desta história. Portanto, estudá-la é, em 
suma, investigar parte da trajetória do café no Brasil. O recorte final do período investigado foi eleito 
devido ao grande impacto que a quebra da Bolsa de Nova Iorque teve sobre a produção da cultura 
cafeeira na cidade. Obras como o calçamento das ruas foram paralisadas por mais de 20 anos, de 
1.929 a 1.951, quando voltaram a edificar aquele espaço (FURLANETO, 2.003). 
 
 
2 O levantamento foi realizado com base no mapa da Prefeitura Municipal de Bocaina e atualizado através da 
associação ao mapa disponível na plataforma Google Maps, 2.018. 
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1.2 Estudo para documentação através da fotogrametria 
O presente estudo analisou, aplicando os conhecimentos adquiridos durante a disciplina Mídias 
Digitais na Documentação do Patrimônio Histórico Arquitetônico, do Programa de Pós-graduação do 
Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, ministrada pelos professores 
Márcio Minto Fabricio (IAU-USP), Arivaldo Leão Amorim (UFBA) e Natalie Johanna Groetelaars 
(UFBA), a viabilidade de levantamento para fins de documentação das fachadas que compõe a 
paisagem urbana de Bocaina, utilizando a fotogrametria3 e o software de processamento 
Photomodeler (modelo UAS). 
Os cálculos tiveram como base o tempo exigido para a realização das tomadas fotográficas, coleta de 
dados gerais sobre a edificação e processamento de dados iconográficos para reconstituição dos 
elementos arquitetônicos em análise. A importância do acervo arquitetônico de Bocaina e a ausência 
de uma política pública que garanta sua salvaguarda são as razões pelas quais se fez este estudo. O 
relatório apresenta as etapas transcorridas durante o levantamento, tanto em campo quanto no 
processamento dos dados, as dificuldades encontradas em cada etapa, os produtos obtidos e o tempo 
direcionado a realização destas atividades. 
2. Metodologia 
Devido as dificuldades que se estabelecem em razão da distância do sitio de estudo, os trabalhos de 
levantamento de dados em campo foram executados ao longo de um dia, o que foi providencial para 
que se pudesse lançar uma estatística a respeito do tempo que se levaria para, futuramente, realizar 
documentação de todo o acervo nos mesmos moldes. 
Tabela 1. Levantamento de dados em campo – ficha de acompanhamento 
 
 Fonte: autora 2.018. 
Preencheu-se os dados da tabela a cima (para organização e registro dos dados levantados), realizou-
se tomadas fotográficas e tomadas métricas, para compatibilização do modelo, com trena laser. O 
levantamento métrico concentrou-se em medições horizontais e verticaisde pontos referências das 
fachadas, tornando possível, no software, o processamento das dimensões nos eixos “x” e “y”. Para 
facilitar a compreensão, as dimensões foram locadas em croquis simplificados das fachadas 
levantadas e, quando necessário, acompanhadas de observações. 
 
3 “A Fotogrametria é um técnica que permite extrair das fotografias, as formas, as dimensões e as posições dos 
objetos. Para o levantamento preciso dos objetos, são necessários alguns cuidados como, por exemplo, os 
parâmetros da câmera, o posicionamento adequado da câmera e a determinação do pontos de controle” 
(GROETELAARS 2004, pg. 32). 
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As tomadas fotográficas foram realizadas principalmente pela manhã, uma via pública generosa e 
ausência de obstáculos físicos foram fatores que propiciaram os melhores registros, sendo que os 
mesmos foram tomados com intuito de constituírem a produção de ortofotos. A distância focal da 
lente é também fator crucial para a obtenção da fachada completa em uma única tomada ortogonal. 
O levantamento métrico foi realizado com trena a laser, e as fotografias realizadas com uma câmera 
fotográfica digital Canon (modelo EOS Rebel T6) e objetiva Canon 18mm. 
 
Figura 2. Tomadas fotográficas para reconstituição de fachada. Fonte: Autora, 2.018. 
 
3. Resultados 
Realizou-se, ao longo de um dia, tomadas fotográficas e métricas de 44 fachadas. O que significa que, 
desconsiderando possíveis e prováveis situações adversas, poderia obter-se o levantamento 
fotogramétrico e os dados necessários ao processamento dos 221 imóveis de interesse histórico do 
local (contabilizados pela prefeitura municipal) em cerca de uma semana. 
 
Figura 3. Reconstituição do perfil de via a partir de método fotogramétrico. Fonte: Autora, 2018. 
A documentação integral do acervo arquitetônico oriundo do período deverá ter potencial para 
suscitar a análise sobre os objetos arquitetônicos que ainda compõem a paisagem, sendo possível 
ainda auxiliar na implementação de políticas públicas voltadas para salvaguarda deste acervo. 
 
Figura 4. Vetorização de fachada a partir de levantamento fotogramétrico. Fonte: Autora, 2018. 
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A realização de modelos a partir do método fotogramétrico poderá estabelecer a separação entre a 
forma aparente: aquela percebida por um espectador a partir de certo ponto de vista e a forma real, 
que se caracteriza por meio de desenhos precisos e escalonados (GROETELAARS, 2.004, pág. 12), 
gerados a partir da fotogrametria terrestre ou de curta distância. 
 
4. Conclusões 
O relatório demonstrou que o levantamento através da fotogrametria e o processamento de dados no 
software Photomodeler é um alternativa viável na produção da documentação do patrimônio 
arquitetônico que compõe a paisagem urbana de Bocaina. Calcula-se, em média, que um pesquisador 
possa fazer todo o trabalho de campo e, ainda, processar todos os dados necessários para a geração 
dos modelos de fachada dos 221 casarões, provenientes do período áureo da produção cafeeira local, 
em cerca de 40 dias. Esta estimativa não conta com prováveis contratempos durante o trabalho, 
entretanto, mesmo superestimando os números, não se presume um método de levantamento mais 
acessível, que alie menor custos e tempo de trabalho. 
Associado ao tempo, a riqueza de detalhes arquitetônico que este tipo de levantamento proporciona 
é providencial quando se trata de edificações com densa quantidade de elementos nas fachadas, como 
é o caso de algumas edificações da cidade. O trabalho em campo, se planejado, ocorre de maneira 
branda. A cidade, que conta com cerca de 12.000 habitantes (segundo estimativas do IBGE), não 
detém uma frota significativa de veículos, o que torna o trabalho mais ágil e menos perigoso. É 
possível considerar este tipo de levantamento ideal para o contexto estudado, seus fatores respondem 
satisfatoriamente às necessidades do sítio e, ainda, seu produto final poderá integrar uma ação pública 
organizada para salvaguarda do conjunto arquitetônico local. 
 
Referências 
BENINCASA, Vladimir. Velhas Fazendas. Arquitetura e Cotidiano nos Campos de Araraquara. 
EduFSCAR; São Paulo, 2003. 
COSTA, Luiz Augusto Maia. O ideário urbano paulista na virada do século. O engenheiro Theodoro 
Sampaio e as questões territoriais e urbanas modernas (1886-1903). Editora Rima. São Carlos, 2003. 
FURLANETO, Walmir. Uma Cidade e um Pouco de sua História. Volume II. 2003. 
GHIRARDELLO, Nilson. À Beira da Linha: formações Urbanas da Noroeste Paulista. EDITORA 
UNESP. São Paulo, 2002. 
GROETELAARS, Natalie Johanna. Um Estudo da Fotogrametria Digital na Documentação de Formas 
Arquitetônicas e Urbanas. Dissertação (mestrado) apresentada ao PPG-AU da UFBA. Salvador, 2004. 
SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, razão e emoção. Edusp. São Paulo, 2002. 
SANTOS, Milton. Espaço e Método. Edusp, 5. ed.. São Paulo, 2014. 
ZOLIO, Julciléa Cristina. Lugares Esquecidos. A preservação do patrimônio no interior paulista: 
investigação sobre as cidades de Dourado e Nova Europa. Dissertação (mestrado) apresentada à 
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - USP. São Paulo, 2011. 
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Caracterização de fotografias em suporte de papel	
Juliana Bittencourt1*, Wanda Engel2, Marcia A. Rizzutto2 
1Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo (BRASIL) 
2Laboratório de Arqueometria e Ciências Aplicadas ao Patrimônio Cultural, Instituto de Física, 
Universidade de São Paulo, São Paulo (Brasil) 
*bittencourt.ju@gmail.com 
 
Palavras-chave: Ciência da conservação; Espectroscopia de fluorescência de raios X por 
dispersão de energia (EDXRF); Espectroscopia de Infravermelho com Transformada de 
Fourier por Refletância Total Atenuada (FTIR-ATR); Fotografia. 
 
1. Introdução	
A aplicação de análises espectroscópicas para a caracterização de materiais componentes de 
fotografias é recente em comparação às análises realizadas em outros objetos do patrimônio 
cultural, abordagens inicialmente conceituadas na primeira metade do século XX com a 
estruturação da área de Ciência da Conservação (FRONER, 2016, p.72). A disciplina da 
conservação de fotografias se conforma apenas na década de 1970, em paralelo ao 
reconhecimento do valor histórico e artístico das fotografias e sua valorização pelo mercado 
de arte (KENNEDY, 2010, p.89), com a formação de profissionais em programas 
especializados que estabeleceram as bases teóricas e práticas dessa especialização no campo 
da conservação de bens culturais. 
É notória a diversidade de materiais empregados na fabricação de fotografias: desde o seu 
surgimento no século XIX mais de 150 processos fotográficos foram inventados. A 
identificação dos seus materiais componentes é uma atividade primordial para o 
conhecimento destes objetos, integra as atividades de salvaguarda do ciclo curatorial e 
representa um desafio para a sua documentação, diagnóstico do estado de conservação e 
definição de parâmetros para armazenamento e exibição. Através da análise da estratigrafia e 
materiais componentes também é possível identificar a técnica de produção de uma fotografia 
e aspectos materiais que refletem as inúmeras variações e adaptações realizadas por 
fotógrafos e estúdios fotográficos. 
Este estudo teve como objetivo verificar a aplicabilidade das técnicas de Espectroscopia de 
Fluorescência de Raio X por Dispersão de Energia (EDXRF) e Espectroscopia de 
Infravermelho por Transformada de Fourier por Refletância Total Atenuada (FTIR-ATR)para 
a caracterização dos materiais componentes de fotografias em suporte de papel e assim 
fornecer subsídios para pesquisas realizadas no âmbito da cultura material, fundamentar a 
escolha de materiais e métodos para tratamentos de conservação e auxiliar no estabelecimento 
de medidas efetivas de conservação preventiva. 
A fotografia analisada se destaca por seu bom estado de conservação, com a preservação de 
detalhes nas áreas de menor e maior densidade. Não apresenta sinais de esmaecimento nem 
espelho de prata – resultado da oxidação da prata em cópias com este material formador da 
imagem. Apresenta selo no verso com referência ao estúdio londrino dos fotógrafos William e 
Daniel Downey e à casa impressora Marion, Imp. Paris. Trata-se de um retrato da rainha 
Vitória (1819-1901) do Reino Unido em formato carte de visite. Este formato, inventado e 
patenteado por André Adolphe-Eugène Disdéri (1819-1889) em 27 de novembro de 1854, se 
popularizou e estimulou a prática colecionista de retratos de personalidades da época, como a 
rainha Vitória. 
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Figura 1: Frente e verso da fotografia analisada. 
2. Metodologia	
As análises espectroscópicas são complementares às etapas preliminares de examinação e 
documentação com luz visível, microscopia e fluorescência visível induzida por radiação 
ultravioleta (TRAGNI, 2005, p.29). A Fluorescência de raios X por dispersão de energia é 
utilizada para identificação dos elementos químicos formadores da imagem e verificação da 
possível presença de elementos inorgânicos no suporte de papel ou em recobrimentos 
(NEIVA et al., 2013, p. 379). A análise com Espectroscopia de Infravermelho com 
Transformada de Fourier por Refletância Total Atenuada é realizada para confirmar e 
identificar a presença de aglutinantes orgânicos e recobrimentos1 (STULIK, 2013, p.2; 
MAINES, 2005, p.36). 
A fotografia foi inicialmente identificada através da inspeção visual e microscópica de acordo 
com as indicações existentes na literatura (REILLY, 1986, p.121; LAVÉDRINE, 2009, p. 20). 
Em seguida foram realizadas análises espectroscópicas para comprovação dos resultados e 
verificação da sua aplicabilidade para a identificação de fotografias e impressões 
fotomecânicas em suporte de papel. Os resultados obtidos foram corroborados com as 
referências existentes na literatura técnica e documentados para constituição de corpus 
referencial para análises posteriores. 
 
3. Resultados e discussão 
A inspeção microscópica permite identificar se as fibras do suporte primário de papel estão 
recobertas ou não por um aglutinante e verificar a presença de uma camada de barita (sulfato 
																																								 																					
1 Recobrimentos foram amplamente utilizados, eram aplicados na superfície das fotografias em suporte de papel 
para modificar o seu aspecto e para alcançar maior permanência. 
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de bário) ou de partículas de pigmento dispersas, principalmente nas áreas de menor 
densidade ou altas luzes. Na fotografia analisada, as fibras do papel são visíveis com aumento 
de 30x e a mesma não possui camada de barita. As bordas parecem perfiladas. 
Os resultados com EDXRF2 comprovam a ausência de bário (Ba) e estrôncio (Sr) associados 
à camada de barita. Elementos presentes como impurezas no papel como cálcio (Ca), cloro 
(Cl), enxofre (S) e potássio (K) bem como cobre (Cu) e zinco (Zn) são relativamente mais 
presentes no espectro referente às áreas de menor densidade uma vez que a interferência do 
aglutinante é menor, indicando que camada pode ser menos espessa nestas áreas. A pequena 
quantidade de prata (Ag) pode estar relacionada à interferência do tubo do equipamento, pois 
caso se tratasse do elemento formador da imagem o pico seria maior. 
O espectro EDXRF referente à área de maior densidade da fotografia analisada indica a 
presença de ferro (Fe) e pequena quantidade de mercúrio (Hg), o espectro da área de menor 
densidade confirma a presença dos mesmos elementos, ainda que em menor proporção. A 
presença de mercúrio (Hg) poderia indicar uma viragem caso se tratasse de uma fotografia de 
prata e gelatina ou referenciar uma impressão de Woodburytipo uma vez que o uso de 
pequenas quantidades de cloreto de mercúrio é indicado na literatura para aumentar a 
permanência deste tipo de impressão. Neste último caso, a presença de mercúrio (Hg) está 
baseada na identificação dos picos espectrais La 9,99 e 11,82 keV no espectro de XRF 
(STULIK, 2013, p.14). A presença de ferro (Fe) poderia indicar que além da eventual 
utilização de um pigmento de carvão foram utilizados corantes orgânicos e uma pequena 
quantidade de pigmento contendo ferro. 
O espectro FTIR-ATR3 apresenta os picos correspondentes a Amida I e Amida II. Estes dois 
picos espectrais são típicos de diferentes proteínas (albumina, gelatina, caseína, etc.) e uma 
inspeção detalhada da região espectral entre 1470 e 1250 cm-1 se faz necessária para 
diferenciar o aglutinante de albumina e de gelatina. De acordo com a literatura, o espectro de 
uma fotografia com aglutinante de gelatina tem três picos espectrais em aproximadamente 
1442, 1401 e 1329 cm-1, diferentemente do espectro do aglutinante de albumina que apresenta 
dois picos espectrais com intensidades parecidas em aproximadamente 1448 e 1385 cm-1. 
Ainda que possa existir uma ligeira mudança entre as posições e proporções desses picos, a 
“tendência” espectral se mantém ao analisar fotografias de albumina e gelatina com 
concentrações relativamente altas de aglutinantes e sem recobrimentos (STULIK, 2013. p.21). 
A análise com ATR-FTIR confirmou a presença de um aglutinante de gelatina o que reafirma 
a possibilidade de se tratar de uma impressão a carvão ou um Woodburytipo, hipótese 
endossada pela utilização já documentada destes processos de impressão pelo estúdio 
fotográfico W. & D. Downey. Ambos processos são reconhecidamente mais permanentes o 
que o estado de conservação deste carte de visite comprovaria. A análise da borda da imagem 
pode auxiliar na diferenciação destes processos já que os Woodburytipos teriam que ser 
perfilados para serem então aderidos a um suporte secundário e as impressões a carvão, como 
são transferidas, não apresentam esta característica. A borda do objeto analisado parece 
perfilada e é provável que se trate de um Woodburytipo. 
 
																																								 																					
2 Foram utilizado equipamento Amptek, 30 kV, 40 µA e contagem realizada por 100s. 
3 Equipamento Bruker modelo Alfa, cristal de ZnSe (seleneto de zinco), faixa de transmissão de 4000-600 cm-1. 
As medidas foram feitas com 32 varreduras. Foi utilizado o módulo ATR ( Refletância Total Atenuada). 
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Figura 4: Os espectros ATR-FTIR da fotografia analisada na área de menor densidade (azul) 
e na área de maior densidade (verde) indicam a presença do pico espectral correspondente à 
Amida I em 1624 cm-1 e à Amida II em 1537 cm-1 além dos três picos que remetem ao 
espectro da gelatina em 1449 cm-1, 1403 cm-1 e 1334 cm-1. 
 
Uma das preocupações que nortearam a utilização de certos materiais e técnicas para a 
produção de fotografias, ainda no século XIX, foi necessidade de produzir cópias mais 
permanentes uma vez que a percepção precoce de que as imagens estavam sujeitas ao 
esmaecimento fez com que uma série de fatores extrínsecos e intrínsecos aos objetos 
fotográficos fossem identificados como responsáveis pela sua impermanência. Na época, as 
pesquisas foram direcionadas à compreensão dos mecanismos e causas da deterioração de 
fotografiasproduzidas com base na fotossensibilidade dos halogênios de prata e na busca por 
processos mais permanentes (CARTIER-BRESSON, 2004, p.1). O processo de impressão a 
carvão foi apresentada em 1855 como a solução para a conservação das cópias fotográficas e 
a impressão Woodburytipo foi um dos primeiros processos fotomecânicos que viabilizou a 
reprodução com qualidade das tonalidades de uma fotografia. 
 
4. Conclusões 
As análises realizadas comprovam a potencialidade das análises espectroscópicas para 
identificação dos materiais componentes de fotografias, ampliando o conhecimento tanto da 
substância formadora da imagem quanto do aglutinante utilizados em sua fabricação. 
Considerando as características destas técnicas para a análise de fotografias, sua principal 
vantagem é oferecer um método objetivo de análise sem que seja necessário obter uma 
amostra ou gerar algum dano físico, uma vez que os instrumentos não pressionam a superfície 
dos objetos analisados. Entretanto, os resultados devem ser interpretados conjuntamente com 
outros aspectos técnicos e históricos. É necessário confirmar a presença de cromo (Cr) 
realizando medidas com maior tempo de contagem uma vez que a presença deste elemento é 
decisiva para a identificação de impressões a carvão ou Woodburytipos já que ambos 
processos apresentam uma pequena quantidade de cromo formado fotoquimicamente. A 
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concentração relativa deste elemento é o principal parâmetro para diferenciar ambos 
processos. 
A importância da pesquisa realizada reside no fornecimento de um marco interpretativo para a 
caracterização de fotografias, de acordo com a literatura técnica da área da conservação. Os 
resultados permitem compreender melhor o estado de conservação de fotografias e 
impressões fotomecâncias e fornecem subsídios para a identificação das técnicas e métodos 
utilizados por fotógrafos e estúdios fotográficos, além de informações relevantes sobre a 
circulação e conservação destes objetos. 
 
Agradecimentos 
Leandro Melo, Solange Ferraz de Lima e Verônica Spnela. 
J.B. agradece à CAPES pela bolsa de mestrado e M.A.R. agradece ao CNPq e FAPESP pelos 
auxílios financeiros recebidos para desenvolvimento de projetos nesta área de pesquisa. 
 
Referências 
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I Encontro da ANTECIPA (Associação Nacional de 
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Laboratório de Espectroscopia Molecular (IQUSP): Vinte Anos de Investigação 
de Bens Culturais 
Dalva L. A. de Faria 
Instituto de Química da Universidade de São Paulo 
dlafaria@iq.usp.br 
 
Palavras-chave: Ciência do patrimônio; Bens culturais; Pigmento; Espectroscopia; Microscopia 
Raman. 
 
1. Introdução	
Em seus diversos aspectos, o conhecimento da composição química de bens culturais ou de seus 
produtos de decaimento é de vital importância na Ciência do Patrimônio. Pela natureza dos objetos 
de estudo pode-se concluir que as ferramentas analíticas ideais sejam aquelas que não afetam de 
modo direto ou indireto a integridade química, física ou estética do bem cultural em investigação, 
nem no momento da análise, nem após sua realização. As técnicas espectroscópicas atendem esses 
quesitos por não haver contato material com o objeto e por seu potencial em fornecer informações 
detalhadas e específicas sobre as substâncias químicas presentes. 
Desde a década de 1970 havia o manifesto interesse no desenvolvimento de equipamentos Raman 
capazes de analisar partículas micrométricas e Hirschfeld em 1973 reporta pela primeira vez a 
adaptação de um espectrômetro Raman para essa finalidade (HIRSCHFELD, 1973), sendo seguido 
por outros pesquisadores (ROSASCO et al., 1975; DELHAYE; DHAMELINCOURT, 1975). O 
instrumento desenvolvido por Delhaye e Dhamelincourt permitia, além do registro de espectros de 
microamostras, também a obtenção de imagens Raman das substâncias presentes, ou seja, era capaz 
de fornecer a distribuição espacial dessas substâncias em uma amostra heterogênea. A melhoria no 
desempenho dos microscópios Raman foi fundamental para que seu uso na investigação de 
problemas ligados a bens culturais se disseminasse e microscópios dedicados, com alta eficiência na 
captação e detecção da radiação espalhada que começaram a ser comercializados no início da 
década de 1990 tiveram e tem o papel central nesse crescimento. No Laboratório de Espectroscopia 
Molecular (LEM) do Instituto de Química da USP seu uso nesse tipo de aplicação teve início em 
1996, com a aquisição de um microscópio Raman dedicado. Até onde se tem conhecimento, o LEM 
teve papel pioneiro na América do Sul nesse tipo de aplicação da microscopia Raman. 
Neste texto estão sumarizados alguns dos estudos envolvendo bens culturais que vem sendo 
realizados no Laboratório de Espectroscopia Molecular do IQUSP desde a metade da década de 
1990. 
 
2. Metodologia	
A maioria dos resultados apresentados neste resumo foi obtida de modo não invasivo ou 
virtualmente não invasivo e envolveu uma ampla gama de técnicas, apesar das principais 
contribuições serem originadas da microscopia Raman, a qual é capaz de fazer a caracterização 
química das substâncias presentes no objeto/amostra estudado(a) de modo não destrutivo. 
 
3. Resultados e discussão 
A identificação de pigmentos e corantes é o tema mais recorrente quando se trata de aplicações da 
microscopia Raman na Ciência do Patrimônio e, efetivamente, a primeira publicação na América do 
Sul nesse assunto foi um estudo de uma pintura a óleo de Cândido Portinari (“Retrato de Murilo 
Mendes”) publicada em 1998 (DE OLIVEIRA et al, 1998). A esse estudo seguiram-se vários 
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outros, podendo ser citados os que envolveram a identificação da paleta de Benedito Calixto (DE 
FARIA et al., 1999), a avaliação da autenticidade de um desenho atribuído a Tarsila do Amaral (DE 
FARIA e PUGLIERI, 2011) e a caracterização de uma cópia de guachede autoria de Maurice 
Utrillo feita pelo atelier de Daniel Jacomet (DE FARIA e PUGLIERI, 2016). A degradação de 
policromias com a consequente formação de eflorescências também foi investigada no caso de uma 
pintura contemporânea (esmalte sobre alumínio) de autoria de Emanuel Nassar (PUGLIERI et al., 
2016). Também podem ser citados a identificação de pigmentos egípcios antigos presentes em 
fragmentos de sarcófago (DAVID et al., 2001; EDWARDS et al., 2004) e de pigmentos em pinturas 
murais romano-britânicas da região de Northamptonshire, Reino Unido (EDWARDS et al., 2003). 
No caso de pinturas rupestres, foram publicados diversos artigos visando a identificação de 
pigmentos (DE FARIA e LOPES, 2011) com a perspectiva de ampliar o conhecimento sobre 
práticas e técnicas dominadas por diferentes culturas ou então compreender melhor os processos 
associados à deterioração dos pictogramas (DE FARIA e MENEZES, 2011). 
A identificação correta de colorantes depende do uso de espectros de referência confiáveis e da 
interpretação adequada dos resultados: estudo realizado recentemente mostrou que a literatura 
reportava erroneamente o espectro da tartrazina (corante sintetizado pela primeira vez no final do 
Século XIX) como sendo do pigmento amarelo da Índia que teria sido usado entre os Séculos XV e 
XIX (DE FARIA et al., 2017). Ainda, foi demonstrado que a intensidade da banca em ca. 660 cm-1 
no espectro da hematita não pode ser tomada como indicador de que tenha sido produzida por 
aquecimento intencional de goethita (DE FARIA e LOPES, 2007) e, como último exemplo, a 
espectroscopia Raman foi usada recentemente para demonstrar que a coloração turquesa de 
simulantes de azul maia (material híbrido formado por índigo e paligorsquita) não é devida à 
formação de dehidroíndigo (DHI), uma forma oxidada de índigo (BERNARDINO et al., 2018). 
Outro aspecto importante que vem sendo explorado refere-se às características e propriedades do 
pigmento em si, como é o caso do caput mortuum, um pigmento histórico de coloração púrpura 
constituído por Fe2O3. Mostrou-se que sua cor não está relacionada ao tamanho das partículas do 
pigmento, mas sim a defeitos estruturais que tem impacto em seu espectro de absorção no visível e 
infravermelho próximo (SANTOS, 2018). 
A questão da identificação de aglutinantes em pinturas rupestres foi abordada em simulações feitas 
em laboratório usando as espectroscopias Raman e FTIR e Cromatografia a Gás acoplada a 
Espectrometria de Massa (GC-MS), que mostraram que óxido de ferro (III) e de manganês (IV) 
aceleram a decomposição de linoleato de metila, empregado para simular o comportamento de 
aglutinantes (BERNARDINO et al., 2014). Diversos lipídios de potencial interesse como 
aglutinantes e seus produtos de degradação foram investigados por espectroscopia Raman, 
Ressonância Magnética Nuclear (NMR) e GC-MS (MAIER et al., 2005). 
Estudos sobre têxteis e seus colorantes geralmente tem de contornar a forte luminescência 
apresentada pelas amostras, razão pela qual é frequentemente necessário utilizar o efeito SERS 
(Surface Enhanced Raman Scattering) para a obtenção de espectros. Foi dessa forma que amostras 
de fibras coloridas (vermelhas e verdes) do período pré-Colombiano encontradas no Perú foram 
caracterizadas (BERNARDINO et al., 2015). 
A corrosão de objetos feitos em metal também é tema de interesse, em especial no contexto da 
conservação preventiva. Chumbo é um metal frequentemente encontrado em bens culturais e foram 
publicados estudos sobre sua corrosão por compostos orgânicos voláteis (VOCs) emitidos por 
fontes naturais ou antropogênicas (DE FARIA e PUGLIERI, 2010; DE FARIA et al., 2013; 
PUGLIERI et al., 2014). 
Biomateriais tem maior susceptibilidade à deterioração, o que aumenta a complexidade do estudo e 
geralmente implica em luminescência, dificultando o uso da espectroscopia Raman. Apesar disso, 
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foi possível estudar ossos encontrados em sepultamentos em sambaquis no sul do Brasil (DE 
FARIA et al., 2005; EDWARDS et al., 2001) e artefatos de resina usados por indígenas como 
adornos labiais perfurantes (tembetás) (DE FARIA et al., 2004; DE FARIA et al., 2005). 
Apesar de menos intensamente estudadas, contas são objetos que chamam a atenção pela sua 
importância em sociedades antigas. A espectroscopia Raman foi empregada no estudo de contas 
encontradas nos sítios arqueológicos de Sipán (Lambaieque, Perú) (DE FARIA et al., 2014). 
A preocupação com a conservação preventiva de bens culturais também pode ser encontrada na 
publicação que reporta o desenvolvimento de sensores capazes de identificar precocemente a ação 
de agentes químicos potencialmente agressivos através de microbalanças de quartzo 
(CAVICCHIOLI e DE FARIA, 2006). 
 
4. Conclusões 
Neste resumo foram apresentados alguns exemplos de trabalhos realizados no LEM, nos quais a 
microscopia Raman teve papel chave na caracterização da composição química local de objetos e 
ambientes, contribuindo especialmente nos campos da conservação preventiva, química forense, 
história da arte e química de bens culturais. 
 
Agradecimentos 
Às agências de fomento (CNPq, Capes e, especialmente, Fapesp), ao auxílio de alunos e pós-
doutorandos, bem como de colegas de outras Instituições de Pesquisa e Museus. 
 
Referências 
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Avaliação do gerenciamento ambiental de Coleções no Centro de Arte Popular 
CEMIG de Belo Horizonte- MG 
Bárbara C. Ferreira 1, Willi de Barros Gonçalves 2
1 Conservação-Restauração de Bens Culturais Móveis Universidade Federal de Minas Gerais | Brasil 
2Prof. Adjunto – Curso de Conservação-Restauração de Bens Culturais Móveis LACICOR – Laboratório de 
Ciência da Conservação CECOR – Centro de Conservação-Restauração de Bens Culturais UFMG - 
Universidade Federal de Minas Gerais | Brasil 
*barbara.bcf@hotmail.com
Palavras-chave: Sustentabilidade na preservação do Patrimônio Cultural; Conservação preventiva 
de bens culturais; Gerenciamento Ambiental de coleções; Sistemas de climatização para museus 
arquivos e bibliotecas; Eficiência energética de edifícios que abrigam coleções. 
1. Introdução
Este resumo apresenta a pesquisa desenvolvida no âmbito do Trabalho de Conclusão de Curso para 
a graduação no curso de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis (FERREIRA, 2017) 
que investigou o gerenciamento ambiental de coleções empregado no Centro de Arte Popular da 
Cemig. 
O Centro de Arte Popular da Cemig (CAP), inaugurado em 2012, é um dos espaços integrantes do 
Circuito Cultural Praça da Liberdade e está sob a gestão da Superintendência de Museus e Artes 
Visuais da Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais. As obras que constituem a coleção de 
Arte Popular foram elaboradas por artistas mineiros nos mais diversos suportes como madeira, 
cerâmica, tecidos e pedras e são originárias, em sua maioria, do Vale do Jequitinhonha, Cachoeira 
do Brumado, Divinópolis, Prados, Ouro Preto e Sabará. O espaço conta com salas para exposições 
de longa duração e outras de exposição temporária onde são realizadas exposições de artistas de 
outras regiões do Brasil. 
O edifício que abriga o CAP, localizado na Rua Gonçalves Dias nº 1608, foi projetado pelo 
arquiteto mineiro Luiz Signorelli em 1928 originalmente para uso residencial. O uso de edificações 
já existentes para abrigar espaços expositivos é comum no Brasil, mas muitas vezes estas não 
apresentam certas características relevantes para um funcionamento eficaz. Para a adequação do 
edifício às necessidades referentes ao microclima dos ambientes de um museu, podem ser utilizados 
recursos e estratégias arquitetônicas de climatização que podem incluir o uso de sistemas ativos de 
ar condicionado (como o que é empregado no CAP nas salas de exposição 01 e 02). Porém tal 
abordagem nem sempre apresenta bons resultados, uma vez que, equipamentos mecânicos muitas 
vezes são danificados ou desligados o que gera flutuações climáticas indesejáveis no ambiente,potencialmente comprometendo a conservação do acervo. 
Para um gerenciamento ambiental de coleções adequado, é necessário conhecer algumas 
características dos edifícios que as abrigam e seu entorno. O gerenciamento ambiental abrange 
operações de monitoramento e controle de algumas variáveis como temperatura, umidade relativa, 
ventilação, insolação, entre outras. Ele pode ser embasado em soluções arquitetônicas que 
dispensam o uso de sistemas mecânicos, ou com uso restrito, visando à eficiência energética por 
meio de métodos passivos de climatização. Segundo RIBEIRO (2010), entende-se por climatização 
passiva “elementos construtivos selecionados e localizados em função das características do clima, 
de forma a atenuar ou acentuar seus efeitos”. Além de contribuir para a redução no consumo de 
energia, este tipo de procedimento também favorece a conservação já que cria condições ambientais 
que não tendem a ter grandes oscilações. 
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O trabalho aqui relatado se propôs a diagnosticar e avaliar as estratégias de gerenciamento 
ambiental aplicadas no CAP, com vistas à preservação do acervo. A partir da coleta, processamento 
e análise dos dados do microclima das salas de exposição, realizar comparações entre as mesmas, 
com relação às métricas de preservação derivadas para cada sala e suas variações de acordo com a 
sazonalidade. 
2. Metodologia
Para a elaboração do trabalho foi realizado o monitoramento ambiental a partir da coleta, tratamento 
e correção de dados climáticos externos e internos. 
O dados externos foram obtidos a partir dos dados horários de temperatura, umidade relativa e 
precipitação do período de janeiro de 2014 a outubro de 2017 fornecidos pelo INMET(Instituto 
Nacional de Meteorologia) da estação de Cercadinho em Belo Horizonte, com base nos quais foram 
calculadas as estatísticas descritivas e elaborados climogramas.	
Os dados internos foram medidos por registradores (data loggers) que já estavam em 
funcionamento no CAP para realizar o monitoramento ambiental de temperatura e umidade relativa 
desde outubro de 2014. Os aparelhos da marca Perceptec, modelo DHT 1270 foram configurados 
para registrar as variáveis a cada 2 horas e posteriormente a configuração foi alterada para realizar 
este registro a cada 1 hora, a partir do dia 01 de julho de 2016. O período de medição interna, 
portanto foi de outubro de 2014 a outubro de 2017. Cada data logger foi posicionado em um local 
estratégico, de forma a não comprometer a expografia, chamando a atenção do visitante, ou a 
confiabilidade dos dados. Por este motivo, foram escolhidos locais acima do mobiliário de 
exposição, mais próximos do centro da sala e sem incidência direta de iluminação artificial ou fluxo 
do ar condicionado. O monitoramento foi realizado em 4 salas de exposição nomeadas pela 
instituição como salas 01, 02, 03 e 04.		
Com o intuito de aferir o seu funcionamento, foram instalados junto aos registradores do CAP, no 
período de 23 de agosto de 2017 a 22 de setembro de 2017, registradores da marca ONSET modelo 
HOBO U10-003, que foram aferidos para medição de UR em outubro de 2016, no Laboratório de 
Ciência da Conservação da UFMG (LACICOR), em microclima enclausurado, com utilização de 
soluções salinas saturadas para cada faixa de aferição. 
Para a análise das condições de conservação do acervo exposto nas quatro salas de exposição de 
longa duração, foram derivadas métricas de preservação referentes a mecanismos de deterioração 
químicos, físico-mecânicos e biológicos. As métricas de preservação obtidas neste trabalho com 
base nos dados registrados por meio do monitoramento ambiental incluem: 
a) Deterioração química: isopermas de Sebera (P2/P1) Michalski (LM), índice de preservação (IP).
Para esses índices foram obtidos os valores instantâneos, com base em cada par de valores de T/UR, 
e também os valores ponderados pelo efeito cumulativo do tempo, por meio de médias harmônicas 
das taxas de deterioração correspondentes a cada valor instantâneo na série. Ressaltando que o 
índice de preservação (IP), desenvolvido pelo IPI (Instituto de Permanência da Imagem) “indica 
uma estimativa de quanto tempo um material orgânico demoraria para sofrer a mesma deterioração 
de 2% ao ano, que um filme de acetato de celulose sofreria em 50 anos, se mantido a 20°C/45%” 
(Gonçalves, 2013, p.345).;		
b) Deterioração físico-mecânica: teor de umidade nas condições de equilíbrio (EMC), mudança
dimensional instantânea (ΔDC) e cumulativa total (DC); 
c) Deterioração biológica: Fator de risco de mofo (MRF) e tempo de umidade (TOW).
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Detalhes sobre a metodologia de obtenção das métricas podem ser consultados em (Gonçalves, 
2013). 
As métricas foram geradas a partir dos dados médios horários internos de cada uma das salas (já 
com a correção citada no item anterior) e pressão atmosférica média horária externa fornecida pelo 
INMET.		
3. Resultados e discussões
3.1 Métricas de preservação química 
A tabela abaixo (Tabela 1) faz uma comparação entre as métricas de preservação química 
ponderadas pelo efeito cumulativo do tempo (isopermas de Sebera, isopermas de Michalski e índice 
de preservação) nas salas estudadas, considerando o período típico de um ano, com base nas médias 
horárias de temperatura interna e umidade relativa interna para o período outubro de 2014 a outubro 
de 2017: 
Tabela 1: Tabela comparativa com os valores obtidos para cada uma das métricas de 
preservação nas salas analisadas. 
Sala / métrica Isoperma-T 
(adimensional) 
LM-T 
(adimensional) 
IETP IPI (anos) IETP Padfield 
(anos) 
01 0,56 0,72 33,2 32,8 
02 0,57 0,76 34,9 34,1 
03 0,24 0,41 21,6 20,4 
04 0,5 0,64 29,3 29,6 
Para todos os efeitos, a sala 02 se assemelha bastante com a sala 01, em termos de deterioração 
química, com a isoperma-T ao fim do período também atingindo 0,6 e o LM-T atingindo 0,7. O 
IETP também atinge, no final do período, a marca próxima a 35 anos. Por possuir medidas de 
temperatura interna superiores em comparação às salas 01 e 02, o acervo na sala 03 está mais 
susceptível a sofrer com a deterioração química. Ao final, a taxa de permanência ponderada pelo 
efeito acumulativo do tempo (isoperma-T) atinge valores próximos a 0,25. Ou seja: por essa métrica 
a velocidade da deterioração química na sala 03 é aproximadamente 2,5 vezes maior que na sala 01. 
Diferente das salas climatizadas, a sala 03 não se aproxima da permanência 1 em nenhum momento 
do ano, e como observado anteriormente, chega a níveis inferiores à permanência 0,33. Para o 
IETP, os valores permanecem na faixa dos 20 anos, o que demonstra que a deterioração está duas 
vezes mais rápida em comparação com a sala 01 e 02 (mesma conclusão obtida ao realizar a análise 
das isopermas). Em setembro, mês mais seco no ano, o índice fica em torno de 30 anos. 
A sala 04, que também não está climatizada, apresenta condições melhores que a sala 03 com 
Isoperma-T chegando a 0,5. Por essa métrica a velocidade da deterioração química na sala 04 é duas 
vezes menor que na sala 03. Interpretando a variação das isopermas de Michalski ao longo do ano 
pode-se observar que a sala 04 fica um período maior dentro da zona considerada de “risco 
mediando” do que a sala 03, denotando portanto um comportamento microclimático melhor com 
relação à deterioração química do que na sala 03. Para o IETP, os valores permanecem na faixa dos 
30 anos – valor mais alto do que o atingido na sala 03, denotando portanto, um comportamento 
microclimático melhor com relação à deterioração química do que na sala 03. 
3.2 Métricas de preservação físico-mecânicas 
Novamente, os resultados obtidos para a sala 02 se assemelham com os resultados da sala 01 
(Tabela 2). A mudançadimensional cumulativa (DC) atingida é menor na sala 02, comparada com a 
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sala 01. Já o DC total está 0,3% maior em comparação com a sala 01 e 02 o que, a princípio, não 
representaria uma diferença significativa no risco de danos físico-mecânicos. DC encontram-se na 
faixa “aceitável” segundo os parâmetros seguidos por cada índice. Comparada com a sala 03 a sala 
04 apresenta um comportamento microclimático ligeiramente melhor em termos de possíveis danos 
físico-mecânicos, atingindo uma DC cumulativa da ordem de 1% comparada com 1,1% na sala 03. 
Tabela 2: Valores obtidos de DC cumulativo para as salas analisadas. 
Sala DC (%) 
Sala 01 0,83 
Sala 02 0,65 
Sala 03 1,07 
Sala 04 1,01 
3.3 Fator de risco de mofo 
O risco de crescimento de microrganismos derivado para o período analisado foi praticamente nulo 
em todas as salas analisadas, uma vez que as médias de URi não ultrapassaram 70%, em nenhum 
momento, sendo esta a referência a partir das isopletas de Ayerst (Gonçalves, 2013, p. 371). O 
sistema de climatização está controlando satisfatoriamente o risco de mofo. 
4. Conclusões
Os resultados obtidos indicam que o sistema de climatização utilizado pelo CAP seria satisfatório 
para a conservação das obras em exposição e, que mesmo nas salas onde ele não está funcionando, 
o envelope do edifício e os acabamentos expositivos das salas são eficazes no controle de umidade,
em termos de redução da amplitude de variação e valores máximos internos, o que reduz riscos de 
danos físico-mecânicos e biológicos.	As salas 01 e 02 possuem características bastante semelhantes, 
obtendo índices próximos nas métricas de preservação.	Entre as salas 03 e 04, pelo contrário, não há 
tantas semelhanças. Em termos de predisposição à deterioração química, na sala 03 a taxa de 
deterioração seria duas vezes maior em comparação com a sala 04. Estas duas salas apresentam 
acúmulo de carga térmica, deixando a temperatura interna superior à externa em alguns momentos 
do ano. 
Dentro da proposta voltada para a eficiência energética, há pouco a ser dito com as informações 
disponíveis, sendo possíveis soluções para a utilização do sistema de climatização nas salas 01 e 02 
em épocas do ano ou horários específicos, pois como foi visto as salas 03 e 04 mantém bons índices 
de preservação, em alguns momentos, até sem o ar condicionado. Mesmo com poucas informações 
sobre o consumo de energia do CAP, o trabalho é relevante, uma vez que, poucas publicações 
apresentam estes dados, especialmente no Brasil. 
Agradecimentos 
Agradecemos ao Centro de Arte Popular CEMIG e à SUMAV pela possibilidade de desenvolver 
este trabalho em sua instituição e por toda a disposição em compartilhar as informações necessárias. 
Ao INMET pelos dados meteorológicos. Os autores agradecem ao CNPq - Conselho Nacional de 
Desenvolvimento Científico e Tecnológico pelo apoio a projeto de pesquisa que investigou 
metodologia utilizada neste trabalho.
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Referências 
CASSAR, M. Environmental management: guidelines for museums and galleries. 
Editora Routledge, 1995. 
CENTRO DE ARTE POPULAR - CEMIG. Secretaria de Cultura do Estado de Minas 
Gerais. Plano Museologico. Belo Horizonte: [s.n.], 2014. 19 p.v. unico. 
FERREIRA, B. C. Avaliação do Gerenciamento Ambiental de Coleções no Centro de 
Arte Popular CEMIG de Belo Horizonte- MG.2017. 117 f. TCC (Graduação)- Curso 
de Conservação-restauração de Bens Culturais Móveis. Universidade Federal de Minas 
Gerais, Belo Horizonte, 2017. 
GONÇALVES, W. B. Métricas de preservação como ferramentas diagnósticas para o 
gerenciamento ambiental de coleções in: Ciências do Patrimônio: Horizontes 
Transdisciplinares. Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais, Arquivo Público 
Mineiro, Belo Horizonte, 2015. 
GONÇALVES, W. B. Métricas de preservação e simulações computacionais como 
ferramentas diagnósticas para a conservação preventiva de coleções : estudo de caso 
no sítio patrimônio mundial de Congonhas. Tese de doutora- Universidade Federal de 
Minas Gerais, Belo Horizonte, 2013. 
HERRÁEZ, J. A. SALAMANCA, G. E. ARENAS, M. J. P. MUÑOZ, T.G. Manual de 
seguimiento y análisis de condiciones ambientales: Plan Nacional de Conservación 
Preventiva. Ministerio de Educación, Cultura y Deporte. Edição 2014. 
LAMBERTS, R.DUTRA, L. PEREIRA, F. O. R. Eficiência Energética na 
Arquitetura. PROCEL, ELETROBRÁS. Rio de Janeiro, 3ª edição. 
MENDES, M.SILVEIRA, L. BEVILAQUA, F. BAPTISTA, A. C. N. Conservação: 
Conceitos e Práticas. Editora UFRJ, Rio de Janeiro, 2001. 
PEARSON, C. Preservação de Acervos em Países Tropicais. Publicado em 
Conservation, The GCI Newsletter, volume 12- nº2, p. 17. 1997. 
RIBEIRO, M. B. A importância do edifício para o conforto e o controle ambiental nos 
museus. In: Actas do I Seminário de Investigação em Museologia dos Países de Língua 
Portuguesa e Espanhola, Volume 1, p. 402. 2010. 
RIBEIRO, M. B. Arquitetura na conservação preventiva em museus brasileiros. In: I 
Encontro Luso-Brasileiro de Conservação e Restauro, p.144. 2011 
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I Encontro da ANTECIPA (Associação Nacional de 
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Ferramenta Simplificada de Diagnóstico de Conservação para Certificação de 
Reservas Técnicas 
Willi de Barros Gonçalves1, Bárbara C. Ferreira2, Naiara Gonçalves2, Thais H.A. Costa3 
1Prof. Adjunto – Curso de Conservação-Restauração de Bens Culturais Móveis, LACICOR – Laboratório de 
Ciência da Conservação, CECOR – Centro de Conservação-Restauração de Bens Culturais, UFMG - 
Universidade Federal de Minas Gerais | Brasil 
2Conservadora-Restauradora, Bolsista de Apoio Tecnológico Fapemig 
3 Eng. Civil, Conservadora-Restauradora, Mestranda em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável 
Universidade Federal de Minas Gerais | Brasil 
*willidebarros@ufmg.br
Palavras-chave: Conservação-restauração de bens culturais; Conservação preventiva de coleções; 
Gerenciamento de riscos aplicado à preservação de bens culturais; Diagnóstico de condições de 
conservação de coleções. 
1. Introdução
O diagnóstico representa uma etapa inicial de planejamento estratégico, fundamental em qualquer 
ação de conservação preventiva. Ele abrange uma análise de como os aspectos 
organizacionais/institucionais, de infraestrutura, da materialidade da própria coleção e, de maneira 
transversal, de segurança, impactam nas condições de preservação. O diagnóstico envolve ainda 
considerações sobre como estes aspectos se relacionam e possibilita estabelecer diretrizes e 
prioridades para a gestão da conservação das coleções. Além disso, é uma importante ferramenta 
auxiliar para as tomadas de decisões com respeito à gestão das coleções, ajudando a priorizar 
investimentos e mudanças necessárias, em conformidade com o cronograma e ciclos de 
planejamento de cada instituição. 
No cenário internacional, vários países já praticam processos de acreditação por meio de auditorias 
qualitativas e quantitativas de seus museus. Tais processos abrangem uma ampla análise da 
instituição, sua missão, metas, política, equipe e acervo gerando uma classificação de qualidade e 
serviço internacionalmente reconhecida. 
Segundo o Decreto 8.124/2013 que prevê o diagnóstico institucional para a implementação do 
Plano Museológico e introduz a condição de Museu Associado, sem definir critérios para atribuição 
dessa condição. A Resolução Normativa IBRAM 01 de 14/12/2016 prevê etapas de avaliação 
institucional e documental e critérios de avaliação dos dados institucionais. Porém, não avança na 
definição de critérios para a acreditação das instituições pleiteantes, em termos de qualidade dos 
serviços prestados, inclusiveno tocante à conservação dos acervos. A metodologia simplificada de 
diagnóstico proposta neste trabalho pode contribuir no desenvolvimento de um “selo de qualidade” 
que venha a suprir essa lacuna. 
2. Metodologia
O desenvolvimento de uma ferramenta para o diagnóstico expedito de condições de conservação de 
coleções vem sendo objeto de pesquisa desde 2010, cabendo destacar os trabalhos de Souza (2015) 
e Gonçalves (2016). No presente projeto de pesquisa, iniciado em 2016, a metodologia adotada 
consiste nas seguintes etapas: (i) Estudo, discussão, comparação de ferramentas de diagnóstico 
nacionais e internacionais; (ii) Adaptação do roteiro com incorporação de questões específicas para 
coleções armazenadas em reservas técnicas; (iii) Visitas in loco, entrevistas e levantamento 
documental, arquitetônico, dimensional, fotográfico nos estudos de caso escolhidos; (iv) Aplicação 
da metodologia compilada aos estudos de caso; (v) Processamento, discussão e divulgação de 
36
mailto:*willidebarros@ufmg.br
resultados. Cabe ressaltar que a ferramenta de diagnóstico desenvolvida até então, necessita de ser 
permanentemente atualizada e adaptada, portanto, não sendo concebida em seu formato final. 
Para seu aperfeiçoamento, o roteiro foi aplicado em três dos museus sob gestão da Superintendência 
de Museus e Artes Visuais (SUMAV) da Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais. Para 
cada um dos casos, foi avaliada uma coleção, sendo elas respectivamente, a pinacoteca, coleção de 
armas e esculturas de madeira. 
O trabalho se iniciou por um estudo minucioso das seguintes ferramentas encontradas na literatura 
da área: ICCROM RE-ORG (s.d.), GCI (1999), HCC (1999), NPS (1999), PATKUS (2003) MLA 
(2004, 2011), De Tapol (2005, 2011), LOPES (2011), SPECTRUM (2014), HERITY (s.d), 
FRONER (2015). O projeto prevê ainda a elaboração de um caderno técnico de referência para 
aplicação da metodologia em outros museus mineiros. 
A metodologia utilizada é estruturada a partir dos seguintes eixos: infraestrutura, 
materialidade/vulnerabilidade da coleção e aspectos institucionais e de segurança. Tendo estes eixos 
como referência, as perguntas do roteiro de diagnóstico estão distribuídas em nove seções, a saber: 
(i) Instituição; (ii) Entorno; (iii) Edifício; (iv) Sala da Coleção; (v) Mobiliário; (vi) Suporte de 
Sustentação/Embalagem; (vii) Coleção; (viii) Segurança; (ix) Reserva Técnica (adicionado no 
presente projeto de pesquisa). Cada pergunta resulta em uma pontuação positiva (que favorece as 
condições de conservação) ou negativa (que prejudica as condições de conservação). Para efeito de 
ponderação, procurou-se classificar o peso em termo de influência nas condições de conservação, 
de cada resposta em três níveis: pequena (1 ou -1), média (2 ou -2) e grande (3 ou -3). É atribuído o 
valor 0 (zero) para respostas que não influenciam nem positiva nem negativamente nas condições 
de conservação da coleção. Para cada seção, é obtido um somatório da pontuação atribuída. Este 
somatório é expresso percentualmente em relação à pontuação máxima ou mínima possível em cada 
seção e já índica, se cada seção representa um ponto forte / oportunidade ou um ponto fraco / 
ameaça, problemas e riscos potenciais, vulnerabilidades ou aspectos que contribuem positivamente 
em termos das condições de conservação da coleção. 
Em seguida, o peso de cada seção a ser considerado para o cálculo da pontuação global, é 
determinado em função do número total de perguntas respondidas, uma vez que para algumas 
coleções, algumas perguntas não se aplicam. Por fim, a pontuação global que representa o resultado 
final do diagnóstico das condições de conservação da coleção analisada é obtida como uma média 
ponderada positiva ou negativa (Diagrama 01). 
Tabela 1: Interpretação/ Diagnóstico. Fonte: Souza (2015) 
PONTUAÇÃO 
GLOBAL 
INTERPRETAÇÃO/DIAGNÓSTICO 
De -100% a -61% MUITO RUIM- CONDIÇÕES DE CONSERVAÇÃO INADEQUADAS. RISCOS SIGNIFICATIVOS DE PERDA DE VALOR DA COLEÇÃO 
De -60% a -21% RUIM- MEDIDAS DE MELHORIA DAS CONDIÇÕES DE CONSERVAÇÃO SÃO IMPERATIVAS 
De -20% a 20% REGULAR- SÃO NECESSÁRIAS MEDIDAS PARA MELHORAR AS CONDIÇÕES DE CONSERVAÇÃO DA COLEÇÃO 
De 21% a 60% BOM- CONDIÇÕES DE CONSERVAÇÃORAZOAVELMENTE ADEQUADAS, PODENDO SERMELHORADAS 
De 61% a 100% MUITO BOM- CONDIÇÕES DE CONSERVAÇÃO APARENTEMENTE ADEQUADAS 
A pontuação global representa numericamente as condições de conservação da coleção estudada, 
por meio de uma média ponderada baseada nas diversas informações levantadas no diagnóstico, 
considerando as dimensões da materialidade da coleção, infraestrutura, segurança e aspectos 
institucionais. Essa expressão quantitativa permite a comparação das condições de conservação de 
duas ou mais coleções diferentes (Souza, 2015), também das modificações nessas condições ao 
longo do tempo para uma mesma coleção (Gonçalves, 2016). Os resultados obtidos no presente 
trabalho são fruto da continuidade do trabalho publicado no IV Congresso Luso-Brasileiro de 
Conservação e Restauro (Gonçalves et al, 2017). 
37
Diagrama 1: Diagrama resumo da estrutura da ferramenta para diagnóstico. 
Instituição
Formalização
de 
documentos; 
Distribuição de 
recursos; 
Profissionais
capacitados; 
Controle de 
pragas.
Entorno
Caracterização
climática; 
Qualidade do 
ar; 
Vegetação; 
Risco de 
inundação.
Edifício
Caracterização
do edifício; 
Infestação
biológica; 
Estrutura; 
Políticas de 
inspeção; 
Qualidade do 
ar; 
Microclima; 
Patologias
construtivas.
Sala da 
Coleção
Infestação
biológica; 
Uso apropriado
do espaço; 
Estrutura; 
Patologias; 
Sistemas de 
ventilação; 
Insolação;
Iluminação; 
Monitorament
o; 
Limpeza; 
Climatização.
Mobiliário
Infestacão
biológica; 
Emissão de 
poluentes; 
Adequação ao
acervo; 
segurança; 
Controle
microclimático; 
Danos por
iluminação; 
Radiação solar.
Suporte
Acondicioname
nto; 
Infestação
biológica; 
Qualidade.
Coleção
Controle de 
inventário; 
Infestação
biológica; 
Controle de 
localização; 
Estado de 
conservação; 
Gestão de 
risco; 
Seguro.
Segurança
Capacitação
dos 
funcionários; 
Plano de 
emergência; 
Empréstimos; 
Controle de 
acesso; 
Sistemas de 
segurança; 
Uso dos 
espaços.
Reserva
técnica
Aplicação do 
orçamento; 
Corpo 
profissional 
responsável; 
Uso dos 
espaços; 
Gestão de 
risco; 
Segurança; 
Ocupação; 
Iluminação;
Organização; 
Mobiliário.
SEÇÕES
PONTUAÇÃO NORMALIZADA POSITIVA OU NEGATIVA(%)
FATOR DE PONDERAÇÃO (0 a 1)
PONTUAÇÃO PONDERADA (%) 
PONTUAÇÃO GLOBAL (%)
Para cada seção são respondidas perguntas sobre os itens abaixo atribuindo-se pontos positivos e negativos.
É calculada dividindo-se a pontuação positiva ou negativa obtida em cada seção pelos perspectivos máximos ou mínimos de pontuações possíveis
Representa o peso de cada seção na pontuação global. É calculado dividindo o somatório dos pontos máximos e mínimos possíveis em cada
seção pelo total de pontos envolvidos no questionário. Em cada caso pode variar o número de questões a serem respondidas e
consequentemente, a pontuação
In
st
it
u
iç
ão
0 a 1 Ent
o
rn
o
0 a 1 Ed
if
íc
io
0 a 1 Sa
la
 d
a 
co
le
çã
o
0 a 1 Mobi
liá
ri
o
0 a 1 Sup
o
rt
e
0 a 1 Col
eç
ão
0 a 1 Segur
an
ça
0 a 1 Res
er
va
 
té
cn
ic
a
0 a 1
Pontuação normalizada x fator de ponderação
Somatório das pontuações ponderadas de cada seção
38
3. Resultados e discussões
Após a aplicação do questionário nos estudos de casos escolhidos para o desenvolvimento do 
projeto, algumas modificações foram necessárias para adequar o roteiro a eles. Com o resultado em 
mãos, foi possível realizar o diagnóstico de cada instituição, destacando pontos de vulnerabilidade e 
pontos favoráveis para a conservação em cada uma das seções analisadas. Na tabela 2 é possível ver 
os resultados obtidos no diagnóstico para o Museu 1, Museu 2 e Museu 3. 
Tabela 2: Resumo da Tabela Síntese apresentando as pontuações obtidasem cada caso e em cada seção 
Museu 1 
Seções 
Pontuação Normalizada 
Positiva (%) 
Pontuação Normalizada 
Negativa (%) 
Interpretação 
Pontuação Global 
(%) 
Instituição 69,57 Muito Bom 
14,53(Regular) 
Entorno -60,00 Ruim 
Edifício 12,50 Regular 
Sala -24,24 Ruim 
Mobiliário 29,16 Bom 
Suporte/Embalagem 70,00 Muito Bom 
Coleção -24,24 Bom 
Segurança 25,00 Bom 
Reserva Técnica 20,51 Bom 
Museu 2 
Instituição 47,62 Regular 
2,94(Regular) 
Entorno -20,00 Regular 
Edifício -12,12 Regular 
Sala -33,33 Ruim 
Mobiliário 54,16 Bom 
Suporte/Embalagem 70,00 Muito Bom 
Coleção -14,81 Regular 
Segurança -22,85 Bom 
Museu 3 
Instituição 43,48 Bom 
35,07 (Bom) 
Entorno -10,00 Regular 
Edifício 0 Regular 
Sala 32,00 Bom 
Mobiliário 70,83 Muito Bom 
Suporte/Embalagem 100,00 Muito Bom 
Coleção 27,27 Bom 
Segurança 30,56 Bom 
Pela interpretação dos resultados obtidos com a aplicação do diagnóstico, é possível perceber que o 
entorno e o edifício são responsáveis pelos pontos de maior vulnerabilidade nas três instituições 
estudadas, demonstrando que é necessário aumentar o investimento nesses setores afim de evitar 
maiores danos nas coleções. Já o que diz respeito à segurança, suporte/embalagem, todos os três museus 
receberam boas notas, o que implica em condições de conservação aparentemente adequadas. 
4. Conclusões
Como aspectos positivos da ferramenta simplificada de diagnóstico apresentada neste trabalho 
merecem destaque: (i) trata-se de ferramenta disponibilizada gratuitamente, resultante de projeto de 
pesquisa financiado e executado em instituições públicas; (ii) com base na revisão e compilação de 
dezenas de referências técnicas relevantes para a área de Conservação-Restauração resulta em um 
roteiro em língua portuguesa adaptado à realidade das instituições e coleções brasileiras; (iii) busca 
valorizar o trabalho do profissional Conservador-Restaurador na preservação das coleções; (iv) 
propõe uma metodologia objetiva para a análise de condições de conservação de coleções, com um 
39
resultado global quantitativo, sintético e comparativo; (v) o desenvolvimento em perspectiva 
evolutiva ressalta a necessidade da constante atualização, adaptação e aperfeiçoamento. Para 
complementar este trabalho, o roteiro foi automatizado em uma planilha eletrônica e está em fase de 
desenvolvimento um “selo de qualidade” que ilustrará os resultados obtidos e que futuramente 
poderá servir como base para normativas ou embasar rotinas de acreditação. Ao final do projeto 
pretende-se elaborar um caderno técnico que sirva como referência da temática investigada. A partir 
da avaliação feita nos três museus, apresentada neste trabalho de forma resumida, será feito um 
relatório para cada instituição que poderá colaborar em futuras decisões de melhorias necessárias 
para a preservação das coleções. 
Agradecimentos 
Agradecemos à FAPEMIG e à UFMG pelos recursos disponibilizados para a realização deste 
projeto de pesquisa e sua apresentação neste evento e à SUMAV/SECULTMG pela permissão de 
acesso aos casos estudados e colaboração em todo o projeto. Os autores agradecem ao CNPq - 
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico pelo apoio a projeto de pesquisa 
que investigou metodologia utilizada neste trabalho.
Referências 
DE TAPOL. Herramientas para diagnostico. Disponível em:https://pt.scribd.com/document/50036935/De-Tapol-
Benoit-Herramientas-para-diagnostico-conservacion. Acesso em: 19 de setembro de 2017. 
FRONER, Yacy-Ara. Manual de Procedimentos: diagnóstico Sistemas de informação: protocolos de gestão em 
Conservação Preventiva de acervos de Arte Contemporânea. Belo Horizonte, Maio, 2015. 
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museum environmental management needs. EUA: GettyConservationInstitute, 1999. 
 GONÇALVES, W.B. Métricas de preservação e simulações computacionais como ferramentas diagnósticas para 
conservação preventiva de coleções. Belo Horizonte: [s.n.]. estudo de caso no sítio patrimônio mundial de Congonhas - 
Minas Gerais/Willi de Barros Gonçalves - 2013.Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de 
Belas Artes. 
 GONÇALVES, Naiara. Ferramenta Simplificada de Diagnóstico de Condições de Conservação: Revisão por meio do 
estudo do caso das Coleções Especiais e Obras Raras do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais. 2016. 125 f. 
TCC (Graduação) - Curso de Conservação-restauração de Bens Culturais Móveis, Universidade Federal de Minas 
Gerais, Belo Horizonte, 2016. 
HCC – Heritage Collections Council, A best practice model for Conservation and Preservation assessment plans, 1999. 
 HERITY. Disponível em: http://www.museuarqueologia.pt/ documentos/Herity.pdf Acesso em: 15 de setembro de 
2017.(s/d.) 
 ICCROM RE-ORG (International Centre for the Study of the Preservation and Restoration of Cultural Property). 
Disponível em: www.re-org.info/en/download/243/34/16. Acessado em : 15de setembro de 2017. 
 KEENE, Maninging Conservation in Museums, Collection condition, cap8. 2002 . KIOUSSI, Anastasia et al. 
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Disponível em : http://326gtd123dbk1xdkdm489u1q.wpengine.netdnacdn.com/wpcontent/uploads/2016/08/Benc 
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F: NPS Museum CollectionsManagementChecklists.<http://www.cr.nps.gov/museum/publications/handbook.html 
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 SOUZA, G. M. Ferramenta Para Diagnóstico Simplificado de Condições de Conservação de Conservação de 
Coleções: Estudo de Caso. 104 f. Monografia (Especialização em Conservação Restauração de Bens Culturais Móveis) 
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 SPECTRUM, O padrão para gestão de coleções de museus do Reino Unido/ CollectionsTrust. São Paulo : Secretaria 
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documentação de acervos : textos de referência ; v. 2). Tradução de: SPECTRUM 4.0: the UK MuseumCollections 
Management Standard”. 256 p. ISBN 9788582560389 disponível em:http://spectrum-pt.org/2014/09/spectrum-4-0-
versao-digital-em-portugues-ja-disponivel/. Acesso em: 11 de outubro de 2016. 
PATKUS, Beth. Assessing Preservation Needs: A self-survey guide. Northeast Document Conservation Center, 2003. 
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Nem tudo o que reluz é ouro: latão aplicado ao papel 
Marina Furtado Gonçalves1, Luiz Antônio Cruz Souza2, Márcia Almada3, Isolda M. Castro Mendes4*
1Programa de Pós-graduação em História, FAFICH, UFMG, Minas Gerais (BRA) 
2Departamento de Artes Plásticas, EBA, UFMG, Minas Gerais (BRA) 
3Departamento de Artes Plásticas, EBA, UFMG, Minas Gerais (BRA) 
4Departamento de Química, ICEx, UFMG, Minas Gerais (BRA) 
*marinaufmg@gmail.com
Palavras-chave: Latão; Manuscritos iluminados; EDXRF; PLM; Deterioração. 
1. Introdução
O uso de materiais metálicos pelo homem data desde a Antiguidade até os dias atuais, entretanto o 
desenvolvimento de técnicas de douramento na arte atingiu o seu auge na Idade Média, 
principalmente na pintura sobre madeira. O metal mais visado era o ouro, um material nobre e de 
valor elevado, porém era comum o emprego da prata, do estanho e ligas metálicas. 
O ouro, em obras sobre papel, podia seraplicado sob a forma de folhas ou macerado, também 
chamado de “ouro de concha”. A produção de folhas metálicas dá-se a partir de uma quantidade de 
metal que passava por quatro etapas: o refino, a laminação, o entrefolhamento e o batido. O 
profissional que reduzia o metal a folhas era chamado de “bate folhas”, uma alusão ao processo de 
produção. Já o “ouro de concha” é referido à concha, como recipiente para a maceração mecânica 
da folha metálica. De maneira geral, deve-se “pizar folhas de ouro, e amalgamar em huma concha 
com mordente” (SEGREDOS, 1794, p. 253), ou seja, a folha era colocada no recipiente e 
adicionava-se sal ou areia que funcionavam como um esmeril, além do mel com função deslizante, 
materiais esses que eram eliminados após lavagem com água. O pó resultante da maceração era 
comumente aglutinado com clara de ovo ou goma arábica, sendo que há também referências quanto 
ao uso da cola de esturjão ou de boi (ZAMORA, 2007). Não era incomum a adição de outros 
materiais para variar a coloração da mistura formada, como o ácido nítrico, ácido clorídrico e 
sulfato ferroso, garantindo nuances diferentes do amarelo dourado. 
Até o século XV o emprego excessivo de folhas finas de ouro, aliado à desmonetização que ocorria 
em alguns países, propiciou a utilização alternativa de outros metais semelhantes, como o ouro 
partido (mistura de ouro e prata ou cobre) e os douramentos com prata velada (prata com veladura 
amarela). Tais materiais não apresentavam a mesma estabilidade frente aos agentes atmosféricos de 
deterioração, uma vez que se oxidavam rapidamente (ZAMORA, 2007). 
O uso de folhas de ouro misturadas a folhas de prata ou cobre podem ter colorações e brilhos 
variados, e são chamadas de “parte ouro”. Já o ouro falso é, por excelência, o latão, um material 
feito a partir de uma liga de cobre e zinco, podendo conter também pequenas quantidades de 
alumínio, ferro, manganês, níquel, estanho e chumbo. Esta liga também é chamada “tombaque” 
que, além do cobre e do zinco, podem conter outros ingredientes como resinas, sal amoníaco, 
vitríolo verde, limalha de ferro, entre outros (SEGREDOS, 1794). 
O processo de produção de folhas de latão é similar ao do ouro, prata e “parte ouro”, apresentando 
as etapas de laminação, entrefolhamento e batido. O vapor de zinco é utilizado para dar ao latão o 
tom amarelado, assemelhando-se ao ouro (GOOD e GREGORY, 1813). As folhas de latão são 
também chamadas de oropel, folha de bronze, folha metálica ou folha holandesa. Tais folhas de cor 
amarela pálida aceitam polimento garantindo brilho intenso e possuem a aparência similar a das 
folhas finas de ouro, porém apresenta a vantagem do fácil manejo devido à sua maior densidade e 
peso, que permitem poder tocá-lo com os dedos previamente desengordurados com álcool 
(ZAMORA, 2007). 
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Da mesma forma que o ouro e a prata, o latão é possível de ser macerado e de se adicionar um 
aglutinante. O uso do latão em folhas ou em pó é observado tradicionalmente na decoração de 
ambientes interiores que não estão expostos à umidade, uma vez que pode oxidar e tornar-se escuro. 
É também pouco estável ao ar, álcalis e ácidos, sendo que as alterações podem ser minimizadas com 
a aplicação de uma resina ou verniz. Um exemplo de uso de “pó de bronze” é encontrado nas 
chinesices do altar de Santo Antônio da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, em Catas 
Altas do Mato Dentro, no estado de Minas Gerais, cujo início da sua construção data de 1738 
(SOUZA, 1996). 
Outros exemplos de aplicação de materiais metálicos podem ser vistos em esculturas em madeira, 
mármore, têxteis, peles, pergaminho e papel. O gosto pelo douramento sobre o papel se 
desenvolveu principalmente entre os séculos XI e XIII, mas pode ser também encontrado em 
documentos posteriores. Nos tratados de pintura, iluminação e caligrafia são exemplificados 
diversos tipos de mordentes utilizados na preparação do papel para receber os materiais metálicos, 
como o uso do leite de figueira misturado ao açafrão; uma mistura de goma arábica, sulfato ferroso, 
açúcar branco e açafrão; goma amoniacal fermentada em vinagre e urina e amassada com clara de 
ovo. Há também tratados que indicam o emprego de metal sobre papel da mesma forma encontrada 
nas esculturas douradas, aplicando-se camadas de gesso, cola, bolo armênio que, depois de secas, 
recebiam uma cobertura de clara de ovo. Os metais poderiam ser aplicados em folha ou em pó 
misturados a um aglutinante e, em seguida, estavam prontos para serem brunidos. 
Durante pesquisa de mestrado conduzida junto ao Programa de Pós-graduação em Artes da Escola 
de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (PPGA/EBA/UFMG) foi possível analisar, 
sob os aspectos das técnicas, materiais, histórico e estado de conservação, dois Livros de 
Compromisso de irmandades mineiras, de mesma origem, datados de 1725, porém com histórico de 
uso e condições de acondicionamento distintas. O primeiro livro, mais deteriorado, está sob a 
guarda do Arquivo Público Mineiro (APM), em Belo Horizonte, Brasil. Já o segundo, em melhor 
estado de conservação, encontra-se no Arquivo Nacional Torre do Tombo (ANTT), em Lisboa, 
Portugal. Os dois livros apresentavam materiais metálicos na decoração de vinhetas, capitulares, 
títulos de capítulos e volteios caligráficos. 
2. Metodologia	
Selecionaram-se dois Livros de Compromisso de irmandades mineiras de leigos do século XVIII 
que apresentavam o uso de materiais metálicos em sua decoração. Fez-se uma revisão teórica sobre 
os manuscritos e buscou-se o histórico desses objetos para identificar sua a trajetória desde que 
foram confeccionados, seus usos, até o acondicionamento atual. A partir da leitura dos paratextos, 
incluindo os despachos, foi possível recolher informações a respeito do trâmite legal em que os 
artefatos foram submetidos. 
Os livros passaram por uma análise técnica, no intuito de identificar através de exames 
organolépticos as características dos objetos quanto às técnicas e materiais, bem como avaliar o 
estado de conservação. Em seguida, procedeu-se com a documentação científica por imagem 
utilizando luz direta, reversa, rasante e ultravioleta. Os resultados foram estudados e definiu-se pela 
utilização da Espectroscopia de Fluorescência de Raios-X (EDXRF) para identificação da liga 
metálica e o corte estratigráfico observado sob a ótica da Microscopia de Luz Polarizada (PLM) 
para a compreensão das camadas. 
Utilizou-se in situ o aparelho de EDXRF Espectrômetro Bruker modelo KeyMaster XRF TRACER 
III-V portátil com Anodo de Ródio, tensão de 15 kV e corrente de 55 µA, com acumulação de 60 
segundos, sob vácuo. Em alguns locais, para se descartar a presença de elementos como o chumbo, 
utilizaram-se a tensão de 40 kV e corrente de 3 µA, com acumulação de 60 segundos, sob vácuo. 
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Foram realizadas vinte e três medições e uma quantificação da liga com o espectrômetro calibrado. 
Os dados foram tratados utilizando o software Artax. 
No Laboratório de Ciência da Conservação (LACICOR) da UFMG foram montados dois cortes 
estratigráficos a partir de micro amostras retiradas com o auxílio de um microscópio estereoscópico 
e bisturis e documentadas com fotografias digitais (frente e verso), sendo que se escolheu amostras 
com estado de deterioração distintos. Cada amostra foi colocada sobre um bloco de resina acrílica 
autopolimerizável e fixada. Após a polimerização completa, colocou-se o bloco em um molde de 
borracha siliconada, preenchendo-o com resina acrílica autopolimerizável até completar o volume 
do molde. O bloco de resina foi deixado em repouso por vinte e quatro horas. Uma vez 
polimerizado, o bloco de resina com a amostrafoi polido em politriz com lixa de 200 mesh e, em 
seguida, lixou-se à mão com lixas metalográficas de 200, 300, 400, 600, 2000 e 4000 mesh. O corte 
foi fixado com massa de modelar em uma lâmina, observado em microscópio de luz polarizada e 
documentado com fotografias digitais, com aumento de 10 e 20 vezes. 
Os resultados dos exames organolépticos, documentação científica por imagem, EDXRF e PLM 
foram analisados e são apresentados a seguir. 
3. Resultados e discussão 
A ornamentação dos livros selecionados apresenta diversos corantes e pigmentos aglutinados com 
goma arábica, além da aplicação de materiais metálicos (GONÇALVES, 2015). A partir da 
observação visual sob luz direta e microscopia ótica, observou-se que o calígrafo/pintor fazia 
primeiramente contornos em grafita para guiar a pintura, aplicando o material metálico sob forma 
fluida com o uso de um pincel, sendo encontradas cerdas de pincéis fixadas à “tinta” de aplicação 
metálica e, em seguida, aplicava camadas de tinta adjacentes (Figura 1). Nessas áreas, no livro do 
APM observa-se uma coloração verde e ocre, com pontos de brilho furtivos, e o aspecto da 
aplicação é pulverulento. Já no livro do ANTT, a coloração é de um amarelo escuro brilhante, 
porém não apresenta a unidade de uma folha metálica. 
 
 
 
 
 
 
Figura 1: Caracterização da aplicação de material metálico no título do capítulo 10 do livro do 
ANTT. Luz visível. 
Ao serem irradiadas com luz ultravioleta as áreas selecionadas não apresentaram fluorescência, 
sendo este um indício de que se tratava de um metal. Ao serem iluminadas com luz rasante, as áreas 
com aplicação do material metálico mostraram-se mais brilhantes, deixando aparente o brunimento, 
sobretudo no livro do ANTT. Já no livro do APM as possíveis marcas do brunimento não são tão 
perceptíveis, provavelmente pelo seu estado de deterioração mais avançado. Observou-se também 
Título de capítulo	
Contorno carmim 
transparente	
Esboço da letra	
Contorno preto 
opaco	
Material metálico	
	
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um relevo no verso da folha em que o metal foi aplicado, possivelmente devido ao aglutinante 
utilizado. 
Através da EDXRF foi possível comprovar a natureza dos metais, apontando para uma liga de cobre 
e zinco, o que caracteriza o latão (Figura 2). O cobre e o zinco estão presentes também em diversas 
áreas do papel, incluindo o papel limpo, evidenciando uma contaminação ou migração desses 
elementos para o suporte. A partir de quantificações obtidas com a EDXRF, o latão encontrado nos 
dois Livros de Compromisso é uma liga de 95% de cobre e 5% de zinco. 
 
Figura 2: Espectro de EDXRF referente ao ponto 21 do livro do ANTT. Observa-se a presença de 
cobre e zinco, referente à liga metálica. Os demais elementos indicados são referentes à carga do 
papel (Ca) e à tinta de escrita utilizada (Fe). 
O corte estratigráfico observado sob a ótica da PLM mostrou que não há qualquer tipo de base de 
preparação abaixo da camada de latão que foi aplicada diretamente sobre o papel. Há, no entanto, 
uma camada verde decorrente da deterioração da liga de cobre e zinco que se deposita sobre o papel 
(Figura 3). 
 
 
Amostra Am2851T: frente do fragmento de aspecto 
esverdeado e com pontos de brilho. Aumento de 60x. 
Amostra Am2851T: verso do fragmento apresentando 
o suporte de papel de trapo. Aumento de 60x. 
 
 
Corte estratigráfico em acrílico, aumento de 100 
vezes, luz refletida. 
 
 
Estratigrafia: 
1 - Suporte (papel de trapo) 
2 - Camada verde fina (produto da deterioração do 
latão) 
3 - Camada fina brilhante (latão) 
Figura 3: Documentação da amostra Am2851T do livro do APM e corte estratigráfico. 
 
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4. Conclusões 
Dentre a documentação histórica produzida no Brasil até o século XIX merecem destaque os 
manuscritos iluminados, sendo exemplos desses objetos os dois Livros de Compromisso 
selecionados. O estudo partiu de um procedimento lógico de pesquisa iniciado pela análise visual 
dos objetos, seguida pela compilação de toda informação histórica disponível, incluindo a história 
recente e informações de qualquer intervenção de conservação-restauração anterior. O próximo 
passo foi o diagnóstico de conservação do objeto, buscando identificar as técnicas e materiais 
utilizados pelo calígrafo/pintor, tentando relacionar as causas de deterioração. Todo esse 
procedimento exigiu o suporte de várias técnicas analíticas cujos resultados apontaram para 
materiais e técnicas característicos da época, porém chama atenção a aplicação do latão, sendo esta 
a primeira pesquisa que documenta este tipo de material metálico aplicado em manuscritos. 
Para a identificação de técnicas e materiais empregados nos manuscritos optou-se por ensaios não 
invasivos ou microinvasivos, dependendo da viabilidade e acesso aos equipamentos. A técnica de 
EDXRF mostrou-se útil para identificar a liga metálica e o corte estratigráfico permitiu a 
confirmação da técnica de aplicação do latão. Esses exames, associados às análises organolépticas e 
à documentação científica por imagem, possibilitou a caracterização do uso do latão nos 
manuscritos, mostrando serem técnicas complementares. 
As áreas que receberam o latão são as que mais se destacam no que diz respeito ao estado de 
conservação dos dois manuscritos iluminados. Em alguns locais, sobretudo no livro do APM, 
visivelmente mais deteriorado que o livro do ANTT, a camada brilhante do latão não existe mais, 
deixando uma cobertura verde, resultado do processo de corrosão do cobre. Além disso, nesses 
locais observa-se que o papel é quebradiço, resultado do processo de oxidação das cadeias de 
celulose e, por consequência, há a diminuição da resistência mecânica do papel, tornando-o frágil, o 
que pode levar a perdas do suporte. Desta maneira, faz-se necessário que novas pesquisas sejam 
desenvolvidas a respeito desta técnica visando à estabilidade do processo de deterioração e 
possíveis tratamentos. 
Agradecimentos 
Agradecemos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela 
bolsa de mestrado concedida; ao Arquivo Público Mineiro e ao Arquivo Nacional Torre do Tombo 
pelo empréstimo dos manuscritos; às equipes do LACICOR/UFMG e do Laboratório Científico da 
Universidade Nova de Lisboa pela parceria. 
Referências 
GONÇALVES, Marina Furtado. Separados no nascimento: estudo de técnicas, materiais e estado 
de conservação de dois manuscritos iluminados do século XVIII. 2015. 169, [9] f. Dissertação 
(mestrado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Belas Artes. 
GOOD, John M.; GREGORY, Olinthus G. Pantologia. A new (cabinet) cyclopædia, comprehending 
a complete series of essays, treatises, and systems, alphabetically arranged, with a general 
dictionary of arts, sciences, and words: the whole presenting a distinct survey of human genius, 
learning, and industry. London: T. Davison, 1813. 
SEGREDOS necessários para os ofícios, Artes e manufacturas e para muitos objectos sobre a 
economia doméstica. Lisboa: Officina de Simão Thaddeo Ferreira, 1794. 
SOUZA, Luiz Antônio Cruz.	Evolução da tecnologia de policromia nas esculturas em Minas 
Gerais no século XVIII:	o interior inacabado da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, em 
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Catas Altas do Mato Dentro, um monumento exemplar.	1996. 115 p, enc. Tese [doutorado] – 
Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Química. 
ZAMORA, Eva López. Estudio de los materiales y procedimientos del dorado através de lãs 
fuentes literarias antiguas: aplicación em las decoraciones de pinturas castellanassobre tabla. 2007, 
556p. Tese [doutorado] – Universidade Complutense de Madrid, Facultad de Bellas Artes, 
Departamento de Pintura.	
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A UFBA na salvaguarda do patrimônio cultural brasileiro 
Uma trajetória pioneira na pesquisa científica e na formação acadêmico-profissional para a 
restauração de monumentos arquitetônicos 
Renata L. Gribel 
Universidade Federal da Bahia (Brasil) 
renatalgribel@gmail.com 
 
Palavras-chave: Pesquisa científica; Ensino; UFBA; Restauração; Monumentos. 
 
1. Introdução 
Concebida como uma das artes clássicas, a Arquitetura só existe quando materializada, por meio da 
técnica, no mundo das coisas palpáveis. Para garantir sua solidez e permanência, defendidas por 
Vitrúvio como firmitas, são imprescindíveis estudos científicos e interdisciplinares acerca da 
durabilidade dos materiais de construção e da estabilidade das estruturas. 
O conhecimento científico torna-se ainda mais importante no campo da conservação e da 
restauração de edificações históricas, pois é determinante para o sucesso das intervenções que 
visam à estabilidade e longevidade dos monumentos, garantindo a segurança de seus usuários e sua 
transmissão às gerações futuras. Ciente disto, o francês Viollet-le-Duc, um dos nomes pioneiros da 
restauração, buscou, ainda no século XIX, o apoio das ciências físico-químicas para suas obras de 
restauro (OLIVEIRA, 2014, p. 6), a fim de alcançar o perfeito estado de integridade defendido por 
sua teoria da restauração. No caso do Brasil, porém, o ensino e a prática das intervenções no 
patrimônio arquitetônico assumem caráter científico quando da institucionalização do restauro 
como campo de pesquisa científica e tecnológica dentro das universidades brasileiras, no que a 
Universidade Federal da Bahia (UFBA) teve papel pioneiro e determinante. 
Considerando a importância da ciência da conservação e do restauro para a preservação da matéria 
que dá suporte aos monumentos de valor cultural, esta pesquisa propõe traçar a trajetória da UFBA 
nesta seara a fim de: 1) registrar a história deste processo evolutivo, na qualidade de memória do 
conhecimento; 2) ressaltar a validade e importância da ciência e da tecnologia, somadas às teorias 
da restauração, para a salvaguarda do patrimônio cultural brasileiro e 3) comprovar que a UFBA é o 
polo brasileiro de pesquisa e capacitação técnica para conservação e restauração de bens imóveis. 
 
2. Metodologia 
Considerando a abordagem de história cultural das ciências, defendida por Chartier (2012) e 
Shapin (2012), como referencial teórico para a construção deste relato histórico, a metodologia da 
pesquisa consiste na coleta de dados em fontes primárias, como relatórios dos cursos de pós-
graduação vinculados à Faculdade de Arquitetura da UFBA e acervo documental do Núcleo de 
Tecnologia da Preservação e da Restauração (NTPR), que inclui correspondências, contratos, 
projetos, relatórios técnicos, etc. 
 
3. Resultados e discussão 
O pioneirismo da UFBA no ensino e na pesquisa 
A partir de 1937, com a criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) 
e do tombamento pelo Decreto-lei no25/1937, se iniciam várias obras de recuperação de 
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monumentos arquitetônicos, geralmente pautadas apenas no conhecimento construtivo tradicional e 
popular. 
Para suprir as demandas do Programa de Cidades Históricas (PCH), lançado em 1973 pelo governo 
federal, um convênio celebrado entre o Ministério da Educação e Cultura (MEC) e a Fundação 
Nacional Pró-Memória (FNPM) lança finalmente o Curso de Especialização em Conservação e 
Restauração de Monumentos e Sítios Históricos (CECRE), o primeiro no Brasil voltado para a 
formação de arquitetos-restauradores. As três primeiras edições foram realizadas, respectivamente, 
em São Paulo (1974-75), Recife (1976-77) e Belo Horizonte (1978-79). 
Em sua quarta edição, realizada em 1981-82 em Salvador, o curso, que era itinerante, fixa-se na 
UFBA e, como consequência, em 1983 é fundado também o primeiro centro brasileiro de pesquisas 
científicas na área, o NTPR, que instituiu-se como um “centro de pesquisas, ensino e treinamento, 
com a finalidade de dar apoio científico para a preservação dos bens culturais”, tal como define seu 
documento de fundação, assinado pelo então reitor da UFBA, Macedo Costa, e pelo então 
presidente da FNPM, Aloísio Magalhães. 
O ano de 1983 foi determinante para a consolidação de uma estrutura completa de ensino e pesquisa 
no campo da restauração na UFBA, pois, além do NTPR, foi criado também o Programa de Pós-
Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU), no qual passaram a ser desenvolvidas pesquisas 
de mestrado voltadas, dentre outros temas, para a preservação e restauração de arquitetura. A 
primeira dissertação defendida neste PPGAU foi, inclusive, resultado de uma pesquisa científica 
acerca de materiais e técnicas, orientada pelo professor Mário Mendonça de Oliveira: “Novas 
Técnicas de Restauração de Adobe”, apresentada em 1986 por Maria José Gomes Feitosa. 
Mais tarde, em 2000, essa estrutura de ensino e pesquisa amplia-se com a criação do curso de 
doutorado – o segundo doutorado em Arquitetura e Urbanismo implantado no Brasil – e passa a 
organizar-se em duas áreas de concentração, sendo uma delas a de Conservação e Restauro, com 
suas três linhas de pesquisa específicas: 1) Restauração, Conservação e Gestão dos Bens 
Patrimoniais; 2) Ciência e Tecnologia da Conservação e do Restauro e 3) Linguagem, Informação e 
Representação do Espaço. 
O estabelecimento de uma área de concentração específica no PPGAU da UFBA ensejou a 
organização de alguns outros laboratórios e grupos de pesquisa que, assim como o NTPR, dão 
suporte ao desenvolvimento de pesquisas, dissertações e teses que tratam da preservação de 
monumentos arquitetônicos. Destaca-se, entre eles, o Laboratório de Computação Gráfica Aplicada 
à Arquitetura e ao Desenho (LCAD), que aplica as tecnologias digitais existentes, dentre outras 
finalidades, à documentação do patrimônio construído, etapa essencial do projeto de restauro. 
Aprofundando-se, cada vez mais, nas questões teóricas e práticas dos projetos de reabilitação 
urbana e restauração arquitetônica, em 2009 o CECRE é aprovado pela Coordenação de 
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) como mestrado profissional, tornando-se 
MP-CECRE. Todavia, desde 1990 o curso era já reconhecido pela Organização das Nações Unidas 
para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) como “um dos mais importantes programas 
mundiais para a capacitação de técnicos da área de preservação de bens culturais, ápice de uma 
trajetória de crescimento e de reconhecimento do curso no âmbito nacional e internacional”. 
A partir da década de 1970, as principais universidades das capitais que receberam as primeiras 
edições do CECRE também passam a criar cursos permanentes voltados à preservação do 
patrimônio cultural. No entanto, como examinaremos a seguir, esse aparato de ensino e pesquisa 
foi, quando vinculado aos departamentos/faculdades de arquitetura, mais direcionado à discussão 
teórica e formação do pensamento crítico que envolve o patrimônio inserido em escala urbana do 
que aos problemas de ordem técnica do projeto de restauro do edifício histórico. Este é o caso das 
linhas de pesquisa dos cursos de pós-graduação em arquitetura e urbanismo oferecidos pela USP, 
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pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e pela Universidade Federal de Minas Gerais 
(UFMG). 
Nessas três universidades, os estudos de viés científico concentram-se,prioritariamente, na 
conservação de bens móveis e integrados, muitas vezes considerando, mas não obrigatoriamente, 
sua interface com a arquitetura.: na USP com o Centro de Preservação Cultural (CPC) e o Núcleo 
de Apoio à Pesquisa de Física Aplicada ao Estudo do Patrimônio Artístico e Histórico (NAP-
FAEPAH) e na UFPE com a linha de pesquisa e grupo de estudo em ciência da conservação 
vinculados ao Departamento de Arqueologia e com o Centro de Estudos Avançados da 
Conservação Integrada (CECI), parceiro da universidade pernambucana. Já a UFMG desenvolveu a 
partir de 1980, em paralelo à UFBA, uma estrutura completa de ensino e pesquisa científica para a 
conservação e restauração de bens móveis e integrados, inclusive com curso de graduação 
específico1 no Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais (CECOR), que conta com o 
Laboratório de Ciência da Conservação (LACICOR), vinculados à Escola de Belas Artes da 
UFMG. 
Tal como as primeiras sedes do CECRE, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) também 
tem uma linha de pós-graduação em arquitetura voltada para a preservação do patrimônio cultural, 
porém em âmbito teórico-crítico; e, assim como a UFMG, também oferta um curso de graduação 
específico em conservação e restauração inserido na Escola de Belas Artes, dedicado aos bens 
móveis. No entanto, desde 2013 o Programa de Pós-Graduação em Arquitetura (PROARQ) da 
UFRJ conta também com o curso de mestrado profissional em Projeto e Patrimônio, oferecendo a 
linha de pesquisa Projeto de Revitalização e Restauração, que adentra os estudos de novas técnicas 
de conservação e restauro de edificações, aproximando-se do tipo de estudo que vem sendo feito no 
MP-CECRE da UFBA. 
Recentemente, a rede de pesquisa que se dedica à ciência da conservação e da restauração, seja de 
bens móveis ou imóveis, vem se ampliando com o surgimento do Grupo de Conservação e Restauro 
da Arquitetura e Sítios Históricos (GCOR-Arquitetura), sediado no Departamento de Arquitetura e 
Construção da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual 
de Campinas (UNICAMP), e do Laboratório de Conservação, Restauração e Reabilitação 
(LACORE), vinculado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará 
(UFPA), ambos fundados em 2006. Junto ao NTPR, esses dois laboratórios e outros dois da Escola 
de Arquitetura da UFMG – Laboratório de Conforto Ambiental (LABCON) e Laboratório de 
Pesquisa Tecnológica em Construção (LPT) – são os únicos que tratam especificamente de 
arquitetura a integrarem a rede de pesquisa europeia Integrated Platform for the European Research 
Infrastructure on Cultural Heritage (IPERION-CH) no Brasil. 
Considerando que, até os anos 2000, as principais universidades brasileiras, mesmo as que também 
receberam edições do CECRE, não se dedicaram à implantação de cursos, linhas e grupos de 
pesquisa especificamente voltados para a ciência da conservação e restauração de arquitetura, cabe-
nos, pois, reconhecer que a UFBA deteve a primazia no estabelecimento de uma estrutura completa 
de ensino e pesquisa voltada para a preservação do patrimônio arquitetônico brasileiro e dedicada – 
não só, mas principalmente – à seara técnico-científica dos problemas de conservação e do restauro. 
Cabe destacar, também, que alguns dos mais recentes grupos e linhas de pesquisa foram inspirados 
pela estrutura e experiência gestadas na UFBA, como é o caso da linha de pesquisa em Patrimônio, 
Restauro e Tecnologia do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da FAU-UFPA 
e do LACORE, cujas primeiras pesquisas foram originadas no NTPR. 
 
1 Em 2009, o curso de graduação em Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis foi criado também na 
Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e, recentemente, na Universidade Federal do Pará (UFPA), onde a previsão de 
ingresso da primeira turma é 2019. 
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A UFBA como polo de formação, pesquisa e difusão do conhecimento 
Por ter sido o primeiro curso de conservação e restauração no Brasil voltado para a capacitação de 
arquitetos, o CECRE, desde suas primeiras edições, atraiu profissionais de vários estados 
brasileiros. Em sua primeira edição na UFBA (1981-82), a turma do CECRE contava já com alunos 
oriundos de dez estados brasileiros, além da Bahia. Gradativamente, as turmas posteriores foram 
sendo preenchidas por arquitetos de quase todos os estados brasileiros e também por profissionais 
estrangeiros. Durante os mais de 30 anos de atividade do curso, seja como especialização ou, mais 
recentemente, mestrado profissional, foram já contabilizados alunos provenientes de 22 países das 
Américas, África e Europa. 
Como tendência mais recente, tem-se visto a atração de alunos de outros estados brasileiros e 
estrangeiros também nos cursos de mestrado acadêmico e doutorado do PPGAU-UFBA. No 
doutorado, que continua sendo o único focado em ciência e tecnologia da conservação e restauração 
de bens imóveis, existem pesquisas concluídas e em andamento de alunos provenientes dos estados 
do Pará, Paraíba e Minas Gerais. Além disso, o mestrado abriga pesquisas de arquitetos advindos de 
Portugal, Espanha, Itália, Alemanha e Bielorrússia. 
O retorno de alunos egressos do CECRE e do PPGAU aos seus locais de origem, tanto para atuar na 
prática profissional, como nos órgãos de preservação, nas universidades e até mesmo na criação de 
novos cursos e centros de pesquisa inspirados pela estrutura da UFBA, foi responsável pela 
disseminação de um conhecimento que foi produzido na UFBA, como já frisado, de forma pioneira. 
Desde sua instalação na UFBA, o CECRE já realizou doze edições/turmas na condição de 
especialização lato sensu e três, a partir de seu reconhecimento como mestrado profissional (MP-
CECRE). Até hoje, foram desenvolvidos mais de 200 trabalhos de conclusão de curso, dos quais 
40% serviram como base para estudos e ações concretas voltadas para a preservação de 
monumentos e sítios e 45% foram, de fato, executados – no todo ou em parte. Além disso, 70% dos 
alunos egressos passaram a atuar, após a conclusão do curso, como difusores do conhecimento 
adquirido: 49% em instituições públicas vinculadas à proteção do patrimônio cultural no Brasil e 
em outros países e 21% em Universidades públicas e privadas de vários estados. Contabilizando as 
três edições/turmas concluídas do MP-CECRE, sabe-se que 67% dos egressos têm atuado em 
instituições públicas vinculadas à proteção do patrimônio cultural. Já no PPGAU-UFBA, a área de 
concentração em Conservação e Restauro já pós-graduou mais de 130 alunos desde 1986 e sua linha 
de pesquisa específica em Ciência e Tecnologia da Conservação e do Restauro contribuiu, até 2016, 
com 47 trabalhos de conclusão de curso, sendo 41 dissertações de mestrado e 6 teses de doutorado. 
Além de toda as monografias resultantes dos cursos, as inúmeras pesquisas desenvolvidas no NTPR 
desde sua fundação, em 1981, têm resultado em considerável produção bibliográfica e técnica. 
Ainda em 1995, após mais de uma década de atividade do NTPR, seu fundador e coordenador, o 
professor Mário Mendonça de Oliveira, lança uma publicação que pode ser considerada a primeira 
no Brasil a tratar, com bastante abrangência, de inúmeros problemas de conservação e restauro de 
arquitetura: Tecnologia da conservação e da restauração - materiais e estruturas. Atualmente, mais 
de dez pesquisas estão em andamento no NTPR, que tratam da caracterização dos materiais de 
construção, de sistemas construtivos tradicionais, da estabilidade de estruturas, das patologias e 
degradação de materiais e estruturas e das tecnologias de conservação e de restauração. Quanto à 
produção técnica, o NTPR desenvolveu mais de 30 projetos de restauro para monumentos da Bahia, 
além dos projetos da Catedral de Maceió,do Teatro Municipal de São Paulo e dos fortes do 
Presépio e de São Pedro Nolasco, em Belém. As consultorias prestadas pelo laboratório se 
estendem a obras no Brasil e no exterior e todos os seus serviços técnicos são oferecidos à 
comunidade dos conservadores e restauradores. 
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Finalmente, vale ainda ressaltar as descobertas e o desenvolvimento de novos materiais e 
tecnologias de restauro que vêm sendo viabilizados através das pesquisas do NTPR, em que se 
destacam: os aditivos orgânicos para argamassas de cal e barro, os emplastros de bentonita para 
limpeza e dessalinização de superfícies pétreas, a estabilização de solos com cal, a carbonatação 
acelerada de argamassas de cal, a requeima para limpeza de azulejos e o sistema de salvaguarda 
para painéis azulejados dentre outros. Em parceria com empresas da construção civil, o laboratório 
viabilizou também a fabricação nacional de uma argamassa de saneamento cuja porosidade 
minimiza os efeitos da cristalização de sais solúveis, produto que antes precisava ser importado da 
Alemanha. 
 
4. Conclusões 
No transcurso desses mais de 30 anos, o pioneirismo e o aparato científico da UFBA no campo da 
restauração arquitetônica possibilitaram: no ensino, a atração de pesquisadores e profissionais de 
todas as partes do país e inclusive do exterior, que vieram aqui buscar formação específica; na 
pesquisa, o desenvolvimento de tecnologias para a restauração de monumentos históricos, bem 
como de equipamentos e materiais de restauro junto a fabricantes do mercado da construção civil. 
Além de pioneira e ainda única no Brasil, a estrutura de ensino e pesquisa da UFBA, composta pelo 
CECRE, NTPR e PPGAU, tornou-se o maior centro de referência em ciência da conservação e da 
restauração de arquitetura no Brasil e talvez até na América Latina, tanto pela quantidade e 
qualidade de sua produção científica, ensino e aplicação das tecnologias, como pela atuação, por 
meio de projetos, consultorias e apoio técnico em diversos estados brasileiros e também no exterior. 
Esse reconhecimento tornou-se notório a partir de 2009, quando o ICOMOS Brasil conferiu ao 
professor Mário Mendonça de Oliveira, fundador do NTPR, o título de pioneiro da ciência da 
conservação no Brasil. Mais recentemente, quando da fundação da ANTECIPA, em 2015, o 
professor da UFBA foi novamente reconhecido “por suas destacadas contribuições acadêmicas, 
científicas, técnicas e profissionais para a preservação do patrimônio cultural” e nomeado como seu 
primeiro associado benemérito. 
Considerando que a Universidade é, e deve ser, no Brasil, o maior produtor e propagador do 
conhecimento nesse campo de atuação, a UFBA é, portanto, um polo brasileiro de ensino, pesquisa 
e difusão no campo da restauração arquitetônica e tal estrutura teve e continua tendo papel 
fundamental na salvaguarda do nosso patrimônio cultural. 
 
Referências 
CHARTIER, Roger. FAULHABER, Priscila, LOPES, José Sérgio Leite (orgs.). Autoria e história 
cultural da ciência. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2012. 
OLIVEIRA, Mário Mendonça de. A formação do arquiteto restaurador profissional e a 
fundamentação técnica e científica. Anais do III Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e 
Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo. São Paulo: ANPARQ, 2014. 
SHAPIN, Steven. Nunca Pura. Estudos Históricos de Ciência como se Fora Produzida por 
Pessoas com Corpos, Situadas no Tempo, no Espaço, na Cultura e na Sociedade e Que Se 
Empenham por Credibilidade e Autoridade. Tradução Erick Ramalho. Belo Horizonte: Fino 
Traço Editora e EDUEPB, 2012. 
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Fotogrametria aplicada a um mausoléu projetado por Lina Bo Bardi 
Brunna Heine1* 
1 Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. 
*brunnaheine@gmail.com 
 
Palavras-chave: Arquitetura moderna; Arte tumular; Família Robell. 
 
1. Introdução 
No Cemitério São Paulo uma caixa suspensa em mármore se destaca dos mausoléus do 
entorno. Ela encontra-se sobre um jardim, rodeado por paredes revestidas em mármore 
Travertino. A caixa abriga em seu interior uma Madonna em baixo relevo, cravada em uma 
base de granito preto absoluto, e banhado por um rasgo de luz zenital. Sob estes elementos, 
estrutura-se a base em granito bruto, com placas dos homenageados daqueles que estão 
abrigados ali, logo abaixo. 
A descrição acima refere-se ao mausoléu da família Robell, encomendado à Lina Bo Bardi em 
1951, pelo húngaro Paulo Ranschburg Robell, fundador, diretor e presidente das Armações de 
Aço Probel S.A. Um industrial influente, amigo de Pietro Maria Bardi, que incorporou a arte 
de Di Cavalcanti em sua fábrica de colchões; teve Giancarlo Palanti como arquiteto dos seus 
salões de exposições, estandes e lojas de móveis. Sua fábrica também contava com o projeto 
de interiores da arquiteta italiana, com todos os detalhes e valores documentados em cartas 
trocadas entre os dois. 
O projeto do mausoléu da família Robell estava entre os desenhos “sem identificação” no 
acervo do Instituto Lina Bo e P.M.Bardi. Agora ele passa a fazer parte do conjunto de projetos 
construídos da arquiteta, sendo o único e primeiro exemplar de arquitetura funerária na cidade 
de São Paulo. O outro mausoléu, de autoria de Lina, é o da família Odebrecht, projetado em 
1958 e construído entre 1963 e 1964, localizado em Salvador, Bahia (BIERRENBACH, 
2005). 
O presente trabalho foi desenvolvido na disciplina de Tópicos Especiais: Tecnologias Digitais 
na Documentação do Patrimônio Arquitetônico, apresentada ao Programa de Pós-Graduação 
em Arquitetura e Urbanismo, do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São 
Paulo, em parceria com a Universidade Federal da Bahia. É o primeiro a abordar o projeto do 
mausoléu da família Robell, e tem como principal objetivo documentar o objeto recém 
descoberto, realizar o levantamento arquitetônico detalhado para As Built¹ e produção de 
mapeamento de danos, por meio de tecnologias digitais de fotogrametria² com 
monorrestituição, restituição a partir de várias fotos³ e Dense Stereo Matching - DSM 4. 
Dada a dimensão da importância da obra de Lina Bo Bardi, essa pesquisa torna-se essencial 
para iniciar a documentação do bem, com o intuito de prosseguir com análises das medidas de 
salvaguarda desse patrimônio inédito. 
___________________________ 
¹ “Documentação das alterações ocorridas no projeto durante a construção” (GROETELAARS, 2004, pg. 143). 
² “A Fotogrametria é uma técnica que permite extrair das fotografias, as formas, as dimensões e as posições dos 
objetos” (GROETELAARS, 2015, pg. 68). 
³ “Há dois tipos de restituição: as que trabalham com apenas uma fotografia (monorrestituição) e as que utilizam várias 
fotografias (restituição a partir de fotografias convergentes). ” (GROETELAARS, 2004, pg. 157). 
4 “Representa o estado da arte com relação às técnicas fotogramétricas automatizadas para obtenção de modelos 
geométricos de formas complexas. O funcionamento da técnica DSM baseia-se na correlação automática de conjuntos 
de pixeis homólogos em diferentes fotos para a geração da "nuvem de pontos" ou da malha triangular irregular 
(Triangular Irregular Network - TIN), dependendo da ferramenta utilizada. ” (GROETELAARS, 2015, pg. 72). 
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2. Metodologia 
Com o objetivo de utilizar o método de monorrestituição, restituição a partir de várias fotos e 
Dense Stereo Matching a tomada fotográfica foi realizada em um dia ensolarado, no intervalo 
das 12:00 ás 13:00 horas, com uma câmera NIKON D3100, objetiva 18-55 mm, fixada em 18 
mm. As árvores, fragmentosde vegetação e túmulos vizinhos eram interferências que 
poderiam comprometer a exatidão do processamento de dados. Também houve 
impossibilidade de fotografar algumas partes do objeto que estavam muito próximas aos 
outros mausoléus. 
Para obtenção de um levantamento preciso foi realizado um arquivo de calibração no 
programa Photomodeler, na malha Multi-sheet Calibration. Devido a uma avaria na lente da 
câmera, observou-se na verificação da calibração que o máximo RMS (Root Means Squared) 
ficou em 1,229 pixels e este deve ser menor que 0,5 pixel em um projeto preciso. E o residual 
máximo, que deve ser menor que 1,5 pixels, ficou em 4,067 pixels. 
3. Resultados e discussão 
Os primeiros ensaios para geração da nuvem de pontos e malha triangular irregular foram 
realizados através do Autodesk Recap Photo, no modo object. O tempo de processo da criação 
dos modelos foi extenso e apenas o terceiro resultado foi parcialmente satisfatório (Figura 1). 
Nele, foi possível documentar a fachada frontal do mausoléu no estado atual com precisão nas 
medidas e profundidades, texturas exatas e patologias bem definidas. No PhotoModeler os 
resultados com a nuvem de pontos densa foram limitados e insuficientes para gerar um 
produto apropriado para o objetivo final do trabalho (Figura 2). 
 
Figura 01. Terceiro modelo gerado no Recap e detalhes da definição da patologia obtida no 
programa. Fonte: Brunna Heine, 2018. 
 
Figura 02. Nuvem de pontos densa obtida no PhotoModeler. Fonte: Brunna Heine, 2018. 
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As ortofotos de todas as fachadas do mausoléu da família Robell foram obtidas por 
fotogrametria a partir de várias fotos e monorrestituição, utilizando o programa 
PhotoModeler. O método foi determinado de acordo com a especificidade de cada face ou 
objeto. A fachada frontal apresenta elementos em diferentes profundidades e o programa teve 
dificuldade em gerar a ortofoto de maneira precisa. Por isso as imagens foram feitas com 
monorrestituição, em três partes: 1. Paredes laterais e base em granito, 2. Cubo branco, 3. 
Madonna. A restituição da lateral esquerda é consequência do cruzamento de várias fotos, 
com utilização do Mask Mode. A ortofoto da fachada posterior foi produzida a partir de duas 
imagens, e a lateral direita através de monorrestituição, bem como todas as placas de 
homenagens. A vetorização foi elaborada por meio do AutoCAD. Para averiguar a precisão 
do desenho realizou-se a comparação entre os desenhos vetorizados, obtidos por meio da 
fotogrametria e desenhos produzidos através de levantamento direto. É possível notar 
diferenças na altura e largura do túmulo, bem como na localização das placas e gárgulas 
(Figura 3). As divergências de precisão não ultrapassam cinco centímetros. 
 
 
Figura 03. Ortofotos da fachada frontal e comparação entre fotogrametria e levantamento 
direto. Fonte: Brunna Heine, 2018. 
Com o propósito de representar graficamente os danos do bem, a partir das ortofotos geradas 
pelo PhotoModeler de cada face do mausoléu, foi utilizado o programa AutoCAD como 
ferramenta de vetorização e codificação das patologias, resultando no mapeamento de danos 
(Figura 4). 
Por existir uma pequena diferença de medidas entre os desenhos produzidos através de 
fotogrametria e dos produtos do levantamento direto, o modelo utilizado para o mapeamento 
de danos é resultado da combinação de ambos os métodos. 
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Figura 04. Mapeamento de danos. Fonte: Brunna Heine, 2018. 
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4. Conclusões 
A utilização de técnicas digitais para documentação se mostrou eficiente na aplicação direta 
no patrimônio arquitetônico e principalmente para o mapeamento de danos. Porém, os 
métodos tradicionais de levantamento não são dispensáveis e ainda, são necessários para 
indicar as possíveis falhas dos programas. 
No caso do presente estudo, um dos maiores problemas foi a avaria na lente da câmera, que 
levaram a fotos sem uma grande qualidade de definição, e a calibração da câmera, que ficou 
abaixo das especificações indicadas para uma precisão exata do modelo. Os obstáculos como 
as árvores e resquícios de vegetação, também se apresentaram como problemas incontestáveis 
na hora da geração dos modelos digitais. Ao analisar a tomada fotográfica foi possível 
verificar falhas no ângulo, no foco, no afastamento do objeto e ausência de atenção no 
enquadramento do túmulo. 
Este trabalho permitiu a documentação do bem no estado atual com tecnologias atuais e 
contribuirá para estudos futuros, relacionados a preservação da memória da arquitetura 
funerária de Lina Bo Bardi. 
 
Referências 
BIERRENBACH, Ana Carolina de Souza. Lina Bo Bardi e o Mausoléu da Família 
Odebrecht, entre o etéreo e o terreno. Minha cidade, Salvador, ano 05, n. 058.02, maio 2005. 
Disponível em: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/05.058/1977. Acesso 
em: 02 jul. 2018. 
 
GROETELAARS, Natalie Johanna. Criação de modelos BIM a partir de “nuvens de 
pontos”: estudo de métodos e técnicas para documentação arquitetônica. Tese 
(doutorado) - Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Arquitetura, 2015. 
 
GROETELAARS, Natalie Johanna. Um estudo da fotogrametria digital na documentação 
de formas arquitetônicas e urbanas. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal da 
Bahia, Faculdade de Arquitetura, 2004. 
 
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Comportamento mecânico de argamassas de cal com adição de cinzas 
volantes para uso no restauro 
Ana Cristian Magalhães1*, Rosana Muñoz2 
1Universidade Federal da Bahia, Salvador, Bahia (BRA) 
2Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Arquitetura, Salvador, Bahia (BRA) 
*anacristian01@gmail.com 
 
Palavras-chave: Alvenarias antigas; Argamassas; Cal aérea; Cinzas volantes; Restauro. 
 
1. Introdução	
O uso de adições em argamassas é conhecido desde a antiguidade. Alusões à utilização de pó 
cerâmico, especialmente, onde certa hidraulicidade era requerida, pode ser encontrada na 
bibliografia que permaneceu como referência básica sobre a arte de construir desde o período 
de Vitrúvio (1999) (século I a.C.) até o século XIX. O emprego deste material estava 
relacionado com propriedades de desempenho e de durabilidade. Outras adições, associadas à 
produção de concretos e argamassas de cimento, tais como metacaulim, cinzas volantes, sílica 
ativa, escória de ferro e cinzas da casca de arroz constituem também possíveis alternativas a 
utilizar em argamassa de cal. 
Levando em consideração as especificidades das edificações antigas e o uso de novos 
materiais que proporcionem composições com melhor desempenho, este trabalho objetiva 
analisar o comportamento mecânico de argamassas de revestimento a base de cal com adição 
de cinzas volantes para aplicação em alvenarias antigas. Para alcançar o objetivo proposto, foi 
desenvolvido um programa experimental na Universidade Federal da Bahia (UFBA), no qual 
formulações foram elaboradas e testadas em laboratório. A partir dos resultados obtidos de 
ensaios de resistência à tração na flexão e à compressão, módulo de elasticidade e aderência, 
aos 90 dias, foram realizadas análises comparativas com os requisitos estabelecidos 
internacionalmente para argamassas de revestimento aplicáveis em intervenções de restauro, 
dispostos na Tabela 1. 
Tabela 1: Requisitos mínimos de argamassas de revestimento para edifícios antigos. 
Argamassa 
Características mecânicas aos 90 dias (MPa) 
Resistênciaà tração 
(Rt) 
Resistência à 
compressão 
(Rc) 
Módulo de 
Elasticidade 
(E) 
Aderência ao 
suporte 
(Ra) 
Reboco 
interior e 
exterior 
0,2 – 0,7 0,4 – 2,5 2000 - 5000 
0,1 – 0,3 ou com 
ruptura coesiva pelo 
reboco 
Fonte: Adaptado de Veiga & Carvalho (2002, p. 50). 
Estudos em argamassas de cimento mostraram que a incorporação de cinzas volantes, além de 
reduzir a exigência de água para a confecção da mistura e melhorar a trabalhabilidade, 
influencia positivamente o comportamento mecânico (SIQUEIRA et al., 2012; SOUZA et al., 
2015). 
 
 
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As cinzas volantes são vistas como alternativa interessante para aplicação na formulação de 
argamassas e concretos. Trata-se de material formado de fases cristalinas e amorfas, 
constituídas, principalmente, por sílica (SiO2), alumina (Al2O3), o que o caracteriza como 
adição pozolânica. As fases amorfas reagem com o hidróxido cálcio, em presença de água, 
para produzir vários compostos de silicatos de cálcio (C-S-H) e aluminatos de cálcio 
hidratado.	 Essas novas fases formadas modificam a microestrutura da mistura e são as 
responsáveis pelo desenvolvimento da resistência mecânica e, portanto, pela melhora no 
desempenho do material no estado endurecido. 
Entre os compostos formados nas composições de cal com adições com características 
pozolânicas, comumente encontrados na literatura, incluem-se os silicatos de cálcio hidratado 
(CSH), os aluminatos de cálcio hidratado (C-A-H) e os silicoaluminatos de cálcio hidratado 
(GAMEIRO et al., 2014; GRILO et al., 2014; SANTOS SILVA et al., 2014). O estudo das 
características mineralógicas das argamassas permite identificar os produtos de reação 
resultantes da interação da sílica e da alumina das adições com o hidróxido de cálcio. 
Observou-se que, no país, não foram encontradas pesquisas científicas aprofundadas sobre 
argamassas a base de cal para conservação e restauro. Destaca-se estudo pontual publicado 
sobre avaliação de características de argamassas de cal e areia com adições de pó de tijolo 
moído, metacaulim e cinzas volantes (SILVOSO, 2016). 
Em seus estudos, as pesquisadoras portuguesas Faria (2004) e Velosa (2006) evidenciaram 
resultados satisfatórios, especialmente, no tange ao comportamento mecânico, para 
argamassas de cal produzidas com cinzas volantes. Dessa forma, o desenvolvimento de 
formulações de cal com adição de cinzas volantes para aplicação em edificações do 
patrimônio nacional constitui alternativa particularmente interessante, inclusive para a 
redução do impacto ambiental, fato que está associado à destinação final desse resíduo. 
Ressalta-se a importância desta pesquisa para a sistematização do conhecimento sobre 
argamassas de cal com adições destinadas a intervenções restaurativas, visando a preservação 
do patrimônio nacional, assim como para o resgate da memória da Ciência da Conservação e 
do Restauro. 
2. Metodologia	
Para o desenvolvimento desta pesquisa, foi realizado um programa experimental no Núcleo de 
Tecnologia da Preservação e da Restauração – NTPR, laboratório vinculado à Escola 
Politécnica da UFBA. As argamassas foram confeccionadas com cal aérea hidratada, cinzas 
volantes e areia de rio, com traço volumétrico 1:0,5:3 (cal:cinzas volantes:areia). A 
identificação das misturas, o percentual de adição de cinzas volantes, o traço em massa e em 
volume, a relação água/ligante e o índice de consistência são apresentados na Tabela 2. 
Tabela 2: Características das argamassas de estudo. 
Identificação 
da argamassa 
Percentual 
de adição 
(%) 
Traço 
(cal:cinzas 
volantes:agregado) 
Relação 
água/ligante 
Consistência 
(mm) 
Em volume Em massa 
50CV-1/3 50 1:0,5:3 1:0,51:8,75 1,8 200 
 
Completados os 90 dias de idade, os corpos de prova foram submetidos a ensaios de 
resistência à tração na flexão e	à compressão, módulo de elasticidade por meio de ultrassom e 
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aderência, conforme as normas NBR 13279 (ABNT, 2005), NBR 15630 (ABNT, 2009) e 
NBR 13528 (ABNT, 2010), respectivamente (Figura 1). 
Figura 1: Ensaio mecânicos: a) resistência à tração em corpo de prova e b) de resistência de 
aderência em parede da Igreja de Nossa Senhora de Monserrate. 
(a) (b) 
 
3. Resultados e discussão 
Os resultados médios dos ensaios mencionados na seção anterior, seguidos dos coeficientes 
de variação em percentual, entre parênteses, são apresentados na Tabela 3. 
Tabela 3: Resultados de comportamento mecânico aos 90 dias. 
Argamassa 
Comportamento mecânico aos 90 dias (MPa) 
Resistência à 
tração na 
flexão (Rt) 
Resistência à 
compressão 
(Rc) 
Módulo de 
Elasticidade 
(E) 
Aderência 
ao suporte 
(Ra) 
50CV - 1/3 0,7 (10,0) 1,0 (11,8) 5653 (2,9) 
0,20 (34,0) 
com ruptura 
coesiva 
 
Os resultados dos ensaios de resistência à tração e	à compressão, realizados aos 90 dias, estão 
dentro dos limites estabelecidos na Tabela 1. No que diz respeito ao módulo de elasticidade, 
aos 90 dias, o valor médio apresenta-se superior ao estabelecido por Veiga e Carvalho (2002). 
Segundo estes autores, a susceptibilidade à fissuração de argamassas de revestimento está 
ligada ao módulo de elasticidade. Valores acima dos especificados inferem aumento da 
rigidez, devido a maiores concentrações de tensões internas e à menor capacidade de 
deformação. 
O elevado valor do módulo de elasticidade poderá estar relacionado a diversos aspectos, entre 
os quais podem ser citados: procedimentos relativos ao ensaio de ultrassom, experiência do 
operador do equipamento, bem como o incorreto posicionamento dos transdutores no corpo 
de prova. 
Essas argamassas foram aplicadas na alvenaria da Igreja de Nossa Senhora de Monserrate, 
monumento do século XVII, localizado na região conhecida como Ponta de Humaitá, na 
Península de Itapagipe, em Salvador, Bahia. Neste caso, observou-se que nos primeiros seis 
meses após a aplicação, a argamassa mostrou ausência de fissuras por retração, sugerindo 
amplo potencial para acomodar tensões internas e, portanto, boa capacidade de deformação, 
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apesar de o valor do módulo de elasticidade ter sido 13% superior ao estabelecido na Tabela 
1. 
O valor médio resultante do ensaio de resistência de aderência à tração realizado na parede da 
Igreja	Nossa Senhora de Monserrate (Figura 1) encontra-se dentro da faixa estabelecida na 
por Veiga e Carvalho (2002) apresentada na Tabela 1. Observou-se que a tipologia de ruptura 
foi predominantemente coesiva. Em relação ao alto coeficiente de variação encontrado no 
referido ensaio (Tabela 3), a literatura recomenda considerar a resistência potencial de 
aderência, que corresponde à média dos maiores valores obtidos no ensaio (CARASEK, 
1996). Para este caso, o novo valor de aderência calculado foi 0,27 MPa, o que também está 
de acordo com o estabelecido na Tabela 1. 
 
4. Conclusões 
As argamassas com adições de cinzas volantes apresentaram resistência mecânica de acordo 
com os requisitos aceitáveis para utilização em alvenarias antigas. Adicionalmente, 
mostraram também melhora da trabalhabilidade no estado fresco, propiciada pela esfericidade 
dos grãos das cinzas volantes. 
A percentagem de cinzas volantes e as condições de exposição e de armazenagem são 
aspectos que poderão ter influência no desempenho observado, sendo importante a sua 
avaliação em longo prazo. Um aspecto que deverá ser aprofundado refere-se à característica 
de deformabilidade das argamassas com cinzas volantes em virtude do valor elevado do 
módulo de elasticidade encontrado.Será relevante, em uma próxima fase, analisar as características mineralógicas e 
microestruturais das composições elaboradas, além do comportamento à ação da água e 
resistência aos sais, de modo a aferir a viabilidade de sua utilização para fins de intervenções 
restaurativas em edifícios antigos. 
 
Referências 
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 13279: Argamassa 
para assentamento e revestimento de paredes e tetos – Determinação da resistência à tração na 
flexão e à compressão. Rio de Janeiro, 2005. 
______ . NBR 15630: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos – 
Determinação do módulo de elasticidade dinâmico através da propagação de onda ultra-
sônica. Rio de Janeiro, 2009. 
______ . NBR 13528: Revestimento de paredes e tetos de argamassas inorgânicas – 
Determinação da resistência de aderência à tração. Rio de Janeiro, 2010. 
CARASEK, H. Aderência de argamassa à base de cimento Portland a substratos porosos: 
avaliação dos fatores intervenientes e contribuição ao estudo do mecanismo de ligação. 1996. 
Tese (Doutorado em Engenharia) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 1996. 
FARIA, P. Argamassas de revestimento para alvenarias antigas: contribuição para o estudo da 
influência dos ligantes. 2004. 523f. Tese (Doutoramento em Engenharia)-Faculdade de 
Ciência e Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 2004. Disponível em:< 
https://run.unl.pt/bitstream/10362/1129/3/faria_2004.pdf>. Acesso em: 18 abr 2017. 
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Pesquisa em Tecnologia e Ciência do Patrimônio) 
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GAMEIRO, A. et al. Physical and chemical assessment of lime-metakaolin mortars: Influence 
of binder:aggregate ratio. Cement and Concrete Composites, n. 45, p. 264-271, 2014. 
GRILO, J. et al. Mechanical and mineralogical properties of natural hydraulic limemetakaolin 
mortars in different curing conditions. Construction and Building Materials, v. 51, p. 287-294, 
2014. 
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ambient temperature and humid curing condition. Applied Clay Science, v 88/89, p.49-55, 
Feb. 2014. 
SILVOSO, M. M.; HAINFELLNER, K. P.; CHAVES, C. B.; MARTINHO, R. O. 
Desenvolvimento e análise experimental de argamassas de cal com adições de pozolanas. In: 
ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO – ENTAC, 
16, 2016, São Paulo. Disponível em: < 
http://www.infohab.org.br/entac/2016/ENTAC2016_paper_693.pdf>. Acesso em: 19 mar. 
2016. 
SIQUEIRA, J. S.; SOUZA, C. A. G.; SOUZA, J. A. S. Reaproveitamento de cinzas de carvão 
mineral na formulação de argamassas. Cerâmica, v.58, n.346, p..275-279, 2012. 
SOUZA, J. A. S. Estudo da influência da adição de cinza volante e resíduo da construção civil 
nas propriedades da argamassa. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA 
QUÍMICA EM INICIAÇÃO CIENTÍFICA, 11, 2015, Campinas. Proceedings... Campinas: 
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), 2015. v.1, p. 2317-2322, Disponível em: < 
http://dx.doi.org/10.1016/chemeng-cobeqic2015-427-34046-261960 >. Acesso em: 23 set. 
2018. 
VEIGA, M. R.; CARVALHO, F. Argamassas de Reboco para paredes de edifícios antigos: 
requisitos e características a respeitar. Lisboa: LNEC, 2002. (Cadernos de Edifícios nº2), p. 
39 - 54, 2002. 
VELOSA, A. Argamassas de cal com pozolanas para revestimentos de paredes antigas. 2006. 
467f. Tese (Doutorado em Engenharia Civil)-Universidade de Aveiro, Portugal, 2006. 
Disponível em: <https://ria.ua.pt/bitstream/10773/2407/1/2007001119.pdf>. Acesso em: 22 
set. 2016. 
VITRÚVIO, M. P. Da arquitetura. Apresentação de Júlio Roberto Katinski. Tradução de 
Marco Aurélio Lagonegro. São Paulo: Ed. Hucitec, 1999. 
 
 
 
 
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Pinturas murais de João Fahrion 
Estudos preliminares de investigação material	
Carolina Moraes Marchese1,*, Thiago Sevilhano Puglieri1, Paula Viviane Ramos2 
1Departamento de Museologia, Conservação e Restauro, Universidade Federal de Pelotas (BRA) 
2Instituto de Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (BRA) 
*caroulinam@gmail.com 
 
Palavras-chave: Ciência da conservação; Microscopia Raman; História técnica da arte; Materiais e 
técnicas. 
 
1. Introdução 
João Fahrion (1898–1970), artista porto alegrense, destacou-se por seus trabalhos em desenho, 
gravura, ilustração (especialmente enquanto integrante da antiga Seção de Desenho da Editora 
Globo) e pintura a óleo (com uma preferência por retratos femininos) (RAMOS, 2016). A despeito 
desta trajetória focada em desenhos e pinturas de cavalete, o artista também produziu um pequeno, 
mas importante, conjunto de pinturas murais. 
Em fins dos anos 1950, por ocasião do estabelecimento de uma nova sede para a Reitoria da 
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Fahrion foi convidado a realizar um 
conjunto de quatro pinturas murais em um salão de eventos da nova construção –hoje conhecido 
como “Sala Fahrion”. Os murais (Figura 1), integrantes da arquitetura, são inscritos nos documentos 
de tombamento do Conjunto dos Prédios Históricos da UFRGS, junto ao Instituto do Patrimônio 
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) (BOHMGAHREN, 2013). 
 
 
Figura 1 – Conjunto de murais de João Fahrion. [sem título], 1957. João Fahrion (1898–1970), 
pintura sobre reboco, Sala Fahrion, 2º pavimento do prédio da Reitoria da UFRGS. 
 
Tais pinturas marcam, ainda, o momento de efetiva presença das Artes no contexto universitário, 
uma vez que o IBA passa a integrar a UFRGS, efetivamente, em 1962 (SIMON, 2006). Além disso, 
as pinturas podem ser discutidas em sua “modernidade possível”, para usar a expressão da 
historiadora da arte Annateresa Fabris (FABRIS, 2002). 
Não escolhendo seguir “esta ou aquela” vertente, não sendo partidário de nenhum estilo, Fahrion se 
alinha com aquilo que Tadeu Chiarelli identifica como capacidade de conciliação de posturas 
estéticas bastante distintas, atitude típica dos artistas brasileiros daquele período (CHIARELLI, 
2012). 
Tendo isso em vista, o presente texto trata de uma parte da pesquisa	de	doutoramento	previamente	
intitulada	 “Percurso	 material	 de	 pinturas	 murais	 de	 Aldo	 Locatelli	 e	 João	 Fahrion:	 um	 estudo	 da	
história	da	arte	 técnica	no	Rio	Grande	do	Sul”,	 que	busca	 compreender	e	 estabelecer	 relações	 entre	
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estes	dois	artistas,	contemporâneos	entre	si,	utilizando	abordagem	da	História	da	Arte	Técnica.	Trata-
se, aqui, de um relato acerca dos estudos preliminares de investigação material do conjunto de 
murais acima descrito, com vistas à compreensão do processo artístico do artista. Para tal, discute-
se a investigação por documentação científica e o processo de coleta e caracterização de amostras. 
 
2. Metodologia 
Compreender a manufatura de um objeto artístico exige uma metodologia de abordagem ampla e 
interdisciplinar, característica da História da Arte Técnica (AINSWORTH, 2005; ROSADO, 2011). 
O entendimento das obras de arte é realizado através da análise e interpretação dos modos de fazer 
que são relacionados à questões artísticas e históricas, tarefa que as metodologias disciplinares 
clássicas não podem abarcar. 
Considerando isso, de forma paralela à pesquisa histórica, as pinturas foram investigadas por 
inspeção visual e imageamento, com o auxílio de fontes de radiação visível e ultravioleta (BRITISH 
MUSEUM, 2013). As imagens foram captadas fotograficamente por lentes 35 mm e Macro 100 
mm, possibilitando, respectivamente, o registro de áreas grandes e de detalhes, como texturas e 
traçados subjacentes. 
A fotografia padrão no visível também acompanhou o processo de coleta de amostras, com lentes 
35 mm e Macro 100 mm.A coleta foi realizada somente em áreas originais da pintura, visto o 
interesse específico deste trabalho. 
As amostras foram documentadas com auxílio de microscópio óptico, seguindo-se com a 
organização de fichas contendo descrições formais e demais observações. Os cortes estratigráficos 
foram montados em resinas e analisados, até o momento, por microscopia óptica de luz branca e 
microscopia Raman. 
Espectroscopia de Absorção no Infravermelho com Transformada de Fourier acoplada a acessório 
de Refletância Total Atenuada (FTIR-ATR) foi usada em amostras não embutidas, para a 
identificação de aglutinantes. 
 
3. Resultados e discussão 
No conjunto das pinturas murais estudado é possível enumerar uma série de operações realizadas 
pelo artista no processo de pintura. 
Quando observadas as pinceladas, nota-se uma alternância de trabalho com o pincel, com pouca 
tinta e impregnado desta. Na primeira das situações, o instrumento parece ter sido utilizado de 
forma mais brusca, deixando delimitado o rastro de suas cerdas – rígidas, sem preocupação com a 
cobertura completa da camada de tinta subjacente. Em parte das obras, tem-se, inclusive, os esboços 
aparentes, feitos possivelmente com material carbonáceo. De maneira oposta, o trabalho com 
pinceladas impregnadas de tinta acaba por delimitar áreas mais uniformes, que cobrem a superfície 
por inteiro. Entretanto, na terminação de alguns traços, por exemplo, nota-se a existência de camada 
subjacente, como na área vermelha do bastão carregado pelo homem a cavalo. Nesse caso, nos 
intervalos deixados pelo rastro do pincel, nota-se a presença de cor mais rósea, que pode indicar 
uma mudança de percurso no processo de criação; essa observação pode ser vista também no corte 
estratigráfico de uma das amostras (Figura 2a). 
Em relação aos contornos das figuras, observa-se uma preferência pelo trabalho com o desenho e a 
linha. O traçado é, na maior parte da obra, realizado na cor negra, acompanhada por um segundo 
traçado colorido – azul, verde, vermelho. Essa opção e a construção do espaço através do elemento 
linha deixa mais evidente o fato de que quem construiu esse espaço é, antes de um pintor, um 
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desenhista. Essa origem de Fahrion também pode ser evidenciada com a pouca exploração de 
texturas nesse conjunto de pinturas. 
 
 
1800 1600 1400 1200 1000 800 600 400 200
1609
13431447
638
143
	
In
te
ns
id
ad
e 
/ u
ni
da
de
s 
ar
bi
trá
ria
s
Número de onda / cm-1 
a) Estratigrafia de amostra de cor vermelha 
 
b) Espectro Raman obtido da camada vermelha 
 
4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000
A
bs
or
bâ
nc
ia
Número de onda / cm-1 
c)Estratigrafia de amostra de cor branca d) Espectro FTIR-ATR obtido da camada branca 
Figura 2 – Imagens de microscopia óptica de luz branca obtidas de cortes estratigráficos de 
amostras de áreas vermelha (a) e branca (c). Espectros Raman (b) e FTIR-ATR (d) são mostrados 
como exmeplos. 
 
Junto das abordagens técnicas é fundamental também o entendimento dos materiais usados, e 
investigações químicas, portanto, encontram-se em curso. Pretende-se, com isso, melhor 
compreender não somente questões relacionadas à ideia de modernidade que permeia o trabalho de 
Fahrion e a sua construção material, mas também o trânsito existente entre os dois artistas 
considerados no projeto. 
Como resultados preliminares, pigmentos presentes em regiões de cor vermelha, branca, azul e 
preto, bem como base de preparação das pinturas, foram considerados. As Figuras 2a e 2c mostram 
cortes estratigráficos obtidos de amostras de regiões com coloração vermelha e branca, 
respectivamente. 
Da amostra de uma região vermelha, espectros Raman (Figura 2b) indicaram que a camada 
vermelha possui anatase (com banda característica em aproximadamente 143 cm-1) e que o 
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pigmento vermelho é provavelmente da classe dicetona-pirrole-pirrole (por comparação com 
espectros de pigmentos modernos encontrados no banco de dados do KIK/IRPA (2012)). Como 
aglutinante, ainda não é possível concluir se foi utilizado óleo ou ovo, uma vez que o espectro 
FTIR-ATR (Figura 2d) obtido não foi conclusivo. 
Como base de preparação, investigando-se a amostra da região de coloração vermelha, espectros 
Raman evidenciaram bandas características de litopônio e/ou sulfato de bário (BURGIO, 2011) – 
com principal banda em aproximadamente 987-989 cm-1 – além de possível presença de argila 
como carga. 
De uma amostra de área branca da pintura, espectros Raman indicaram, em sua camada exterior, a 
presença de anatase, litopônio e/ou sulfato de bário, calcita (com principal banda em 
aproximadamente 1087 cm-1) e quartzo (com principal banda em aproximadamente 466 cm-1) 
(BURGIO, 2011). Assim como na amostra de cor vermelha, não foi possível identificar o 
aglutinante utilizado com precisão – óleo ou ovo. Espectros Raman da camada mais interna da 
pintura revelou a presença de calcita e argila. 
Das amostras coletadas de regiões azul ou preta, espectros Raman indicaram a presença de material 
carbonáceo (principais bandas em aproximadamente 1580-1600 e 1350 cm-1), Azul da Prússia (com 
bandas características em 2147 e 2091 cm-1) (FARIA, 2011) e anatase – esta última, provavelmente, 
utilizada como carga. Interessante, neste caso, é o fato de que o pintor utilizou pigmento azul para a 
composição das áreas negras, indicando uma possível preferência na construção de sua paleta. 
 
4. Conclusões 
O estudo compreendido até o presente revelou algumas descobertas a serem melhor consideradas e 
discutidas no curso da pesquisa, como a construção de áreas negras com o auxílio de pigmentos 
coloridos. A partir disso, outras áreas devem ser consideradas para estudo. Os exames realizados até 
então também mostram uma necessidade de complementação de resultados, por técnicas como a 
Microscopia Eletrônica de Varredura acoplada à Espectroscopia de Raios X por Energia Dispersiva 
(SEM-EDS) e Cromatografia Gasosa acoplada à Espectrometria de Massas (GC-MS), de modo a 
evidenciar a natureza química de outros pigmentos e cargas, bem como de aglutinantes. 
 
Agradecimentos 
Os autores gostariam de agradecer Laboratório de Materiais Inorgânicos da Universidade Federal de 
Santa Maria (UFSM) pela colaboração, ao Programa de Pós-Graduação em Memória Social e 
Patrimônio Cultural da UFPel (PPGMP-UFPel) pelo apoio financeiro, e aos professores e 
funcionários do IA-UFRGS e do Departamento de Difusão Cultural da UFRGS pela colaboração e 
acesso aos murais. 
 
Referências 
AINSWORTH, M. W. From connoisseurship to Technical Art History- The Evolution of the 
Interdisciplinary Study of Art. In: The Getty Conservation Institute Newsletter, v.20,n. 1, 2005. 
BOHNMGAHREN, Cíntia Neves. A Modernidade nos murais de Aldo Locatelli e de João 
Fahrion na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e o Cinquentenário do Instituto de 
Belas Artes, 1958. 2013. Dissertação (Mestrado em Artes Visuais) – Curso de Pós-graduação em 
Artes Visuais, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 
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BRITISH MUSEUM. Multispectral Imaging in Reflectance and Photo-induced Luminescence 
modes: A User Manual. The British Museum, , 14 out. 2013. Acessado em 28 set. 2018. Online. 
Disponível em: https://www.britishmuseum.org/pdf/charisma-multispectral-imaging-manual-
2013.pdf 
BURGIO, Lucia; CLARK, Robin JH. Library of FT-Raman spectra of pigments, minerals, pigment 
media and varnishes, and supplement to existing library of Raman spectra of pigments with visible 
excitation. Spectrochimica Acta Part A: Molecularand Biomolecular Spectroscopy, v. 57, n. 7, p. 
1491-1521, 2001.’ 
CHIARELLI, Tadeu. Um modernism que veio depois. São Paulo: Alameda, 2012. 
FABRIS, Annateresa. Figuras do moderno (possível). In: SCHWARTZ, Jorge (Org.). Da 
antropofagia a Brasília: Brasil 1920–1950. São Paulo: Cosac e Naify; FAAP, 2002. pp. 
FARIA, Dalva Lúcia Araújo de; PUGLIERI, Thiago Sevilhano. An example of raman microscopy 
application in the authentication of artworks. Química Nova, v. 34, n. 8, p. 1323-1327, 2011. 
IRUG. IRUG: Infrared & Raman Users Group. 2018. Disponível em: <http://www.irug.org/>. 
Acesso em: 11 set. 2018. 
KIK/IRPA ROYAL INSTITUTE FOR CULTURAL HERITAGE. Modern and contemporary art 
in the laboratory: analytical study of 20th century paint. 2012. Disponível em: < 
https://modern.kikirpa.be/>. Acesso em: 11 set. 2018. 
RAMOS, Paula Viviane. A modernidade impressa: artistas ilustradores da Livraria do Globo – 
Porto Alegre. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2016. 
ROSADO, Alessandra. História da arte técnica: um olhar contemporâneo sobre a práxis das 
Ciências Humanas e Naturais no estudo de pinturas sobre tela e madeira. 2011. Tese 
(Doutorado em Artes) – Curso de Pós-graduação em Artes, Universidade Federal de Minas Gerais. 
SIMON, Círio. Origens do Instituto de Artes da UFRGS: etapas entre 1908–1962 e 
contribuições na constituição de expressões de autonomia no sistema de artes visuais no Rio 
Grande do Sul. Tese (Doutorado em História). Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, 
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Porto Alegre, 2002. 
	
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Do museu para o laboratório: os cadernos de encomenda de Udo Knoff como fonte de 
conhecimento científico sobre o patrimônio azulejar contemporânea brasileiro 
Eliana U. C. Mello 
1Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquietura da Universidade da 
Bahia (PPGAU-FAUFBA), Salvador (BRA) 
eliana.mello@ufba.br 
 
Palavras-chave: Azulejos de autor; Azulejaria contemporânea; Udo Knoff; Acervo documental; 
Ciência da conservação. 
 
1. Introdução 
Esta comunicação coloca em evidência os cadernos de encomenda de Udo Knoff pertencentes ao 
acervo do Museu Udo Knoff de Azulejaria e Cerâmica, destacando a sua importância como aporte 
referencial para o estudo sobre o revestimento azulejar de autor produzido na região Nordeste, entre 
as décadas de 1950 e 1980. A análise final das informações registradas nestes arquivos pretende 
consolidar um consistente campo de conhecimento que contribua para com a preservação do 
patrimônio azulejar contemporâneo brasileiro. 
A modernização da arquitetura nacional iniciada na primeira metade do século XX foi 
acompanhada pela renovação da arte e da técnica de fabricação de revestimentos cerâmicos, 
principalmente, desde que este material foi utilizado em edifícios que ganharam visibilidade 
internacional, tais como o prédio do Ministério de Educação e Saúde, no Rio de Janeiro e a Igreja 
de São Francisco de Assis, em Belo Horizonte (Figura 1). 
 
Figura 1: Na imagem da esquerda uma visão frontal do painel de azulejos do MES. No canto superior direito, recortes dos azulejos 
do mesmo edifício e, no canto inferior direito, a imagem frontal do painel de azulejos da igreja de São Francisco. Todos os trabalhos 
foram realizados na década de 1940 e assinados por Cândido Portinari e pelo Atelier Osirarte. Fotos: Arquivos pessoais da 
pesquisadora 
Neste período teve início um processo interessante e singular que envolveu a fabricação de azulejos 
de autor, ou seja, aqueles que eram elaborados em pequenas oficinas, sob a orientação de um 
artista/ceramista. Estes profissionais até então, essencialmente ligados à arte, percebem no 
crescimento da indústria de revestimentos, a parceria ideal para a inserção mercadológica de sua 
criação artística. Sob esta ótica, param de produzir artesanalmente a base cerâmica, comprando-a já 
cozida e, na maioria das vezes, vidrada, para sobre ela pintar, artisticamente, a composição pictórica 
(MELLO, 2015). O resultado desta mistura de arte e indústria originou um conjunto de 
revestimentos contemporâneos distinto dos seus antecessores de origem europeia, que chegaram ao 
Brasil nos séculos anteriores, tanto no contexto material quanto nas relações culturais que, 
historicamente, representam, consolidando valores que justificam sua preservação para as gerações 
futuras. 
67
Udo Knoff (1912-1994), alemão, pintor e ceramista, foi um exímio especialista nesta produção 
recente, que desenvolveu, entre as décadas de 1950 a 1980, em seu atelier localizado no bairro de 
Brotas, na cidade de Salvador. Ali ele executou inúmeros trabalhos em azulejos, como autor ou 
como mestre dos profissionais que, na altura, consolidavam-se no cenário artístico da região: 
Carybé (1911-1997), Jenner Augusto (1924 - 2003), Floriano Teixeira (1923 - 2000), Reinaldo 
Eckenberger (1938- 2017), Raimundo Oliveira (1930-1966), Lênio Braga (1931 - 1973) e Juraci 
Dórea (1944 -), entre outros (MORAIS, 1988; 1990). Mas para além dos painéis figurativos, o 
ceramista se destacou, também, na produção de azulejos elaborados para atender uma das premissas 
da modernidade: a integração entre arte e arquitetura. Neste perfil ele recebia encomendas de 
revestimentos personalizados, do tipo padrão, direcionados, externamente, para fachadas e halls de 
edifícios e, internamente, para revestimento de cozinhas, banheiros e varandas. É importante referir 
que nesta época a indústria cerâmica não possuía rigor estético na fabricação de revestimentos 
decorados, ao contrário dos azulejos de Udo, em base cerâmica industrial, que resultavam de 
pesquisas sobre cores e ornamentos e eram pintados, manualmente, um a um, com técnicas variadas 
(MELLO, 2017). 
Durante cerca de trinta anos o ceramista documentou a sua agenda de trabalho diário, fazendo um 
registro meticuloso de cada pedido, começando pelo desenho, reproduzido em cores e tamanho 
natural, ao lado do qual anotava os números dos pigmentos a serem utilizados, a técnica de pintura 
que seria empregada, a origem da base cerâmica e outros detalhamentos pontuais. 
Em noventa e três cadernos que hoje estão sob a guarda do Museu Udo Knoff de Azulejaria e 
Cerâmica, suas anotações narraram aspectos visuais de lugares que se tornaram pontos de 
referência: a casa de Jorge Amado, a sede baiana do Instituto de Arquitetos do Brasil, IAB-BA, 
projetado por Diógenes Rebouças, as paredes dos corredores do Congresso Nacional, em Brasília 
(Figura 2), entre outros. 
 
Figura 2: À esquerda, imagem parcial do registro da p. 43 do caderno de encomendas MUK.93.LE.014 com a atribuição da 
encomenda à Oscar Niemeyer, de 250m² de azulejos na cor 1205, pintados em técnica de stencil ida/volta, para a Câmara dos 
"Vereadores" e, ao lado direito a imagem do revestimento cerâmico da Câmara dos Deputados, em Brasília (composição artística de 
Athos Bulcão e execução cerâmica de Udo Knoff). Fotos: Imagem do caderno de encomendas de Udo Knoff: Arquivo pessoal. 
Imagem do revestimento da Câmara dos Deputados, em Brasília: Disponível em https://br.pinterest.com/pin/276056652138148469/. 
Mas para além do significativo registro desta memória histórica, estes arquivos constituem, 
seguramente, o maior conjunto referencial sobre a materialidade do patrimônio azulejar no país. 
Tendo em vista que o sistema de criação era basicamente o mesmo praticado pelas oficinas de autor 
68
que atuaram no Brasil durante o século XX, tais como o Atelier Cerâmico Osirarte, em São Paulo, o 
Atelier Azularte, no Rio de Janeiro e a Oficina Cerâmica de Domingos Rodrigues e em Recife e, 
ainda, considerando que naquele momento as matérias primas industrializadas, necessárias ao 
trabalho, eram fornecidas por uma rede comercial reduzida, as anotações de Udo Knoff, 
sistematicamente estudadas, irão consolidar um campo de conhecimento até então, obscuro, 
revelando aspectos importantes, que devem ser consideradosnas intervenções em prol da 
preservação deste acervo cultural. 
Por esta razão, em 2016 o conjunto se tornou uma das mais importantes balizas do projeto de 
doutorado na grande área de Ciência e tecnologia da conservação e do restauro, em 
desenvolvimento no Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade 
Federal da Bahia, que solicitou e obteve a autorização de pesquisa nos cadernos de encomendas de 
Udo Knoff (Figura 3), prevendo a investigação in loco, a realização de fotografias pertinentes e, 
também, a transcrição dos registros em planilhas pesquisáveis, para favorecer a para a análise de 
conteúdo a respeito de técnicas, fórmulas indicativas das cores e composição artística. 
 
Figura 3: Imagem frontal do caderno de encomendas MUK.93.LE.035, p.27. Fonte: Aquivo pessoal da aluna. 2017 
Considerando o manuseio intenso do material que se encontra bastante fragilizado por ataques de 
insetos xilófagos, já inativos, e sofrendo as consequências da acidificação, constatada nas folhas 
amarelecidas e quebradiças, no intuito de contribuir para com a sua integridade física, com apoio 
técnico e científico do Núcleo de Tecnologia da Preservação e da Restauração, NTPR, foi realizada 
a documentação por imagem dos noventa e três volumes. 
2. Metodologia 
A digitalização por imagem dos cadernos de encomenda foi a primeira etapa de trabalho, tendo em 
vista que a partir dos arquivos digitalizados o acervo material poderia ser poupado dos manuseios 
excessivos. Os procedimentos contaram com a colaboração da equipe que integra o grupo de 
investigação do NTPR, que auxiliou nos processos de deslocamento e armazenamento dos bens e 
organização da sala, especialmente preparada para a realização das fotos. 
Ficou previamente estabelecido que a movimentação do acervo para o centro de pesquisa seria 
realizado aos poucos, em função do espaço reduzido para o seu acondicionamento seguro. Cerca de 
cinco cadernos embalados individualmente, com materiais macios e livres de acidez, atados, um a 
69
um, com corda de algodão, e depositados em caixas compatíveis em largura, altura e espessura, 
forradas com placas rígidas de espuma de PVC, eram conduzidos ao centro de pesquisas, guardados 
em ambiente com controle de luz e temperatura, sistematicamente documentados, reembalados e 
devolvidos ao museu, antes que outro grupo fosse retirado. 
Para a tomada fotográfica, cada caderno, que varia entre os tamanhos A2, A3 e A4, foi posicionado 
junto a placa de identificação, régua e cartão de cor ColorChecker Passport Photo. Assim, 
centralizados horizontalmente, em uma mesa forrada com papel sulfite branco, tamanho A0 e de 
modo perpendicular à câmera, Nikon D90, por sua vez, montada com a lente de 18-105 mm, presa 
em um tripé fixado a 1,15m, para favorecer a distância focal, todos foram documentados por 
imagens. Esta opção de enquadramento, onde o material a ser registrado é posto em sentido 
horizontal ao equipamento situado, medianamente, acima dele foi devida à já citada fragilidade de 
muitos cadernos que talvez não resistissem à tomada vertical. Portas e janelas foram vedadas para 
possibilitar o controle e a qualidade da iluminação no local, fornecida exclusivamente por refletores 
LED SMD, 6500k, com 100W de potência e fonte de 8000 lumens e lâmpadas LED A-150, de 
bulbo, com 40W de potência e fonte de 3600 lumens cada, colocados nas laterais da mesa com a 
face de luz voltada para rebatedores feitos com folhas retangulares de isopor, dispostas em um 
plano inclinado, aproximadamente a 45º,em relação à mesa (Figura 4). 
As lâmpadas eram ligadas quarenta minutos antes do início dos trabalhos para estabilizar a 
frequência. 
 
Figura 4: À esquerda posição da câmera em relação à mesa onde está o caderno para ser documentado. À direita, estação de imagem 
montada 
3. Resultados e discussão 
A documentação por imagem dos cadernos consumiu sete meses de trabalho, tempo que pode ser 
considerado relativamente extenso tendo em vista que a proposta não incidia diretamente no 
desenvolvimento da pesquisa. Mas a probabilidade real de comprometer a integridade deste acervo 
pela manipulação constante não poderia ser vencida de outra forma. Neste momento todo o esforço 
está sendo empregado na transcrição das anotações de Udo Knoff, que são armazenadas em uma 
planilha com campos de consulta pertinentes ao tema: cores e desenhos utilizados, indicação dos 
pigmenos, indústria fornecedora da base cerâmica e locais para a entrega do pedido. A identificação 
dos endereços tem se mostrado de grande valor pois permite a verificação in loco pra saber o estado 
de conservação dos azulejos e, principalmente, se eles permanecem. As imagens geradas durante o 
70
trabalho formalizam, agora, um arquivo com mais de 10 mil fotos em formato JPEG e RAW, 
viabilizando o início da elaboração de um banco de dados que, futuramente, poderá ser acessado 
por pesquisadores e demais interessados no tema. 
4. Conclusões 
Os estudos dedicados ao conhecimento armazenado nos cadernos de encomenda de Udo Knoff vão 
contribuir, sistematicamente, para com a construção de referenciais que orientem com mais 
segurança as condutas para conservação e restauro de azulejos industriais modernos. 
Como resultado, esperamos ao final da investigação, disponibilizar um aporte teórico adequado à 
natureza material do revestimeno azulejar, em consonância com os princípios destacados nas 
recomendações que integram as Cartas Patrimoniais (CURY, 2004) e balizam as práticas 
internacionais de preservação do patrimônio cultural. 
Agradecimentos 
Agradeço ao CNPq pela bolsa de pesquisa e à equipe do NTPR, pelo aporte técnico e científico para 
este trabalho. 
Referências 
BRUAND, Yves. A Arquitetura Contemporânea no Brasil. Ed. Perspectiva. São Paulo, 1981.398p. 
CARDOSO, Danielle Luce. Documentação fotográfica de bens culturais utilizando luz visível: um 
guia básico. 2016. Monografia (Bacharelado em Conservação-Restauração de Bens Culturais Móveis) – 
Escola de Belas Artes, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2016. 
CURY, Isabelle. (org) Cartas Patrimoniais. 3ªed. IPHAN. Rio de Janeiro, 2004.408p 
LEMOS, Carlos A. C. Azulejos decorados na modernidade arquitetônica brasileira. In: Revista do 
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro, 1984. p. 166 a 174 
MELLO, Eliana U. C. O panorama do patrimônio azulejar brasileiro visto através do seu 
inventário: do século XX ao século XXI. 2015, 2 v.,1077 fls. Dissertação (Mestrado em Artes) – 
Programa de Pós Graduação da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo 
Horizonte, 2015. 
MELLO, E. U. C. Museu Udo Knoff de azulejaria e cerâmica: entre o som e o silêncio das coleções. In: 
XIII ENECULT - Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura. Salvador, 2017 
MIMOSO, J.M.; ESTEVES, L. - Vocabulário ilustrado da degradação dos azulejos históricos. LNEC, 
Lisboa 2011 
MORAIS, Frederico. Azulejaria Contemporânea no Brasil. São Paulo: Editoração Publicações e 
Comunicações, 1988, vol.1, 144p. 
MORAIS, Frederico. Azulejaria Contemporânea no Brasil. São Paulo: Editoração Publicações e 
Comunicações, 1990, vol. 2, 144p 
OLIVEIRA, Mário Mendonça de. Materiais de revestimento aplicados na Patologia das 
alvenarias:causa/diagnóstico/previsibilidade. In: DIAS, Maria Cristina Vereza Lodi. (Org.). Patrimônio 
azulejar brasileiro: aspectos históricos e de conservação. Brasília: Ministério da Cultura, 2001.pp. 141-
167. 
SOUZA, L. A. C. . Salvaguarda Patrimonial no Contexto da Conservação Preventiva de Bens 
Culturais: a necessidade da abordagem interdisciplinar. In: Seminários de Capacitação Museológica, 
2004, Belo Horizonte. Anais Seminários de Capacitação Museológica. Belo Horizonte, MG: Instituto 
Cultural Flávio Gutierrez, 2004. p. 224-227 
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Pesquisa em Tecnologia e Ciência do Patrimônio) 
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Formas de Conservação e Restauração do Patrimônio Funerário em Cantaria de 
Lioz do Cemitério do Campo Santo, Salvador – Ba. 
Cibele de Mattos Mendes1, Universidade Federal da Bahia (UFBA) 
1Núcleo de Tecnologia Preservação e Restauração.* 
*cibelemm@gmail.com 
 
Palavras-chave: Patrimônio Funerário; Cantaria; Conservação; Restauração; Preservação. 
 
1. Introdução 
O Brasil sempre dispôs de rochas em abundância, porém, constata-se a importação de pedras, como 
o Lioz, vindo de Portugal nos lastros dos navios, sobretudo o de Lisboa. Segundo SILVA (2008, 
págs. 9; 11), a presença do Lioz pode ser constatada nas construções baianas, como elementos 
arquitetônicos e decorativos, nos revestimentos de pisos e paredes. Porém, não menciona os 
túmulos, capelas e mausoléus do séc. XIX, que os Cemitérios de Salvador; principalmente os do 
Cemitério do Campo Santo; talhados, esculpidos e importados de Lisboa, Portugal, preservando até 
os dias atuais o universo de estilos e técnicas dos sécs. XIX e XX. 
Esse patrimônio funerário - cerca de 42 túmulos -, foi produzido por uma Família de canteiros: 
Francisco Romano de Sales, Germano José de Sales e José Cesário de Salles, considerados como 
pertencentes a segunda maior dinastia de canteiros de Lisboa, Portugal, cujas oficinas de cantaria 
funcionaram para além das primeiras décadas do séc. XX, mantendo o predomínio do estilo 
Neoclássico. 
Para que esses monumentos continuem existindo e dizendo da mentalidade desse povo, num 
período de grandes transformações na Bahia, no Brasil e Europa;	necessitam de uma política de 
preservação. Motivo pelo qual, tem se tornado uma necessidade os estudos na área de Conservação 
e Restauro, por estar em curso pesquisas científicas em diversos lugares e campos das ciências, 
levando a novas informações sobre os materiais e os mecanismos de deterioração. Bem como, 
novos produtos vão sendo introduzidos e formulações têm sido mudadas. 
 
2. Metodologia 
Os procedimentos de restauração devem estar fundamentados em princípios básicos, como: 
manutenção do substrato original; intervenção mínima; compatibilidade de técnicas e materiais 
empregados; intervenções com a marca do seu tempo; materiais empregados reversíveis, evitar-se 
acréscimos e falsificações.	
Assim, foram realizadas ações exploratórias, de análise e intervenção em 02 túmulos:	o de n° 212, 
da Quadra 05, e, o de n° 198, da Quadra 09. Medição da temperatura ambiente e umidade relativa; 
determinação semi-quantitativa de Sais Solúveis: Nitrato, Sulfato e Cloreto. Aplicação da Pasta 
Aquosa: Bentonita + EDTA, fórmula de limpeza do monumento, elaborada pelo Prof. Mário 
Mendonça de Oliveira (2014). Após a aplicação da Pasta Aquosa, foi repetida a determinação dos 
sais solúveis, com a aplicação de resina acrílica para impermeabilização. 
 
3. Resultados e discussão 
As principais operações de tratamento inerentes à conservação da consolidação e proteção das 
cantarias foram: limpeza e reconstituição. Sendo que, nem sempre foi necessário executar todas as 
etapas, posto que, o estado de conservação da cantaria definiu os tratamentos necessários. 
72
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Todas as amostras e corpos de prova foram analisados no Núcleo de Tecnologia Preservação e 
Restauração da Escola Politécnica (Allard Amaral), para identificação da umidade, sais e 
porosidade. Enquanto que, no Instituto de Geologia (Amalvina Barbosa), foram realizadas análises 
das lâminas em microscópio e análise petrográfica. Para o túmulo	de	n° 212, Quadra 05: Calcário 
cristalino bioclástico, (UFBA). 
Os corpos de prova e amostras, analisados no NTPR, como: a utilização da estufa, da Bomba de 
Vácuo, do Picnômetro de Hubbard, bem como os cálculos, orientados e analisados sob a Supervisão 
do Prof. Allard, foram realizados para identificação da absorção de água. No tocante à melhor 
qualidade das rochas, quanto menores forem os valores de absorção de água e porosidade, tanto 
melhores serão as qualidades das rochas. Especificamente, a Massa Unitária foi baixa, confirmando 
a qualidade para o desempenho, assim como, propriedades fundamentais de natureza física, 
mecânica e técnica da cantaria de lioz. 
Foram observadas temperaturas e umidades relativas diferentes nos dois túmulos aqui apresentados, 
devido à localização de cada um deles. O túmulo de n° 212, da Quadra 05, localizado na lateral da 
Capela, está inserido num ambiente de muita umidade, devido à existência de inúmeras árvores no 
seu entorno. O recomendável para esse túmulo é a criação de uma vala de ventilação, em torno de 
sua fundação, permitindo a evaporação da umidade antes da chegada às paredes do túmulo. Esse 
procedimento diminui a quantidade de água absorvida pela parede, reduzindo os danos ocasionados 
pela umidade. 
O túmulo de n° 198, da Quadra 09, localizado em área aberta, sem existência de árvores, com 
bastante incidência de luz solar, com temperatura muito alta, 30° e umidade baixa. Esse túmulo por 
ser o mais antigo da necrópole, apresenta-se enegrecido pelo tempo e não apresenta coliformes 
fecais. 
 
4. Conclusões 
As ações realizadas tanto no Cemitério do Campo Santo, quanto àquelas realizadas no NTPR/ 
UFBa; tiveram como objetivo, identificar a matéria-prima, e, conhecendo as suas características e 
comportamento, remover as substâncias que efetivamente causassem o processo de deterioração do 
lioz, como: sais solúveis, incrustações insolúveis, infestação de vegetação, dejetos de animais -, 
respeitando-se a textura e a cor originais, buscando-se intervir no processo de deterioração dos 
túmulos. 
Os monumentos/ documentos identificados e analisados, permitem dizer de uma documentação 
vasta e prestes a desaparecer. Cuja representação histórica e artística está na conservação de uma 
Arquitetura Funerária de valor estético, ainda não devidamente reconhecido. Arquitetura que está 
praticamente extinta, devido ao desaparecimento quase que por completo de artistas dedicados a 
esse tipo de atividade. 
Para Fonseca (2003), quando se considera os túmulos, capelas e mausoléus como traços de 
memória, é preciso desenvolver ações de preservação e intervenções restaurativas, mas que não se 
fixem apenas na materialidade dos objetos, ou, ao apelo visual imediato, mas concentrem-se 
também nos conteúdos sociais, simbólicos e afetivos que estes monumentos carregam (FONSECA, 
2003, págs.56-76). 
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Segundo Pierre Nora (1978), será, portanto nos cemitérios extra-muros, que os costumes, tradições, 
atitudes e práticas serão reveladas em meio à imposição de um novo lugar de memória. Tanto os 
espaços quanto as representações serão escolhidos de acordo as posses do morto, dos familiares ou 
amigos	(NORA, 1978, p. 9). 
O lugar de memória é um marco de transição entre dois eixos. Em dimensões concretas, tais lugares 
vão remeter a museus, arquivos, cemitérios, tratados, entre outros signos de rememoração. Assim, 
no momento em que uma tradição de memória enquanto processo experimentado e vivenciado 
coletivamente começa a se esvair, é preciso criar marcos para ancorar essa nova memória (NORA, 
1978, p. 83). 
Segundo Le Goff (1984, p. 535), a memória coletiva pode ser estudada por meio de dois tipos de 
materiais: os documentos e os monumentos. Os monumentos estão relacionados com a vontade de 
perpetuar os testemunhos da sociedade e legados da memória coletiva de um povo. Os monumentos 
são os materiais produzidos por uma dada cultura, eles são também documentos. A própria origem 
da palavra monumento já representa o sentido de memória. 
Os túmulos, capelas e mausoléus, além da sua materialidade, constituem-se fontes de conhecimento, 
devendo ser evidenciados, pois contribuemna ação de preservação (em sentido amplo), como: 
seleção, conservação e promoção do patrimônio cultural. Essa afirmação advém do entendimento de 
que a arquitetura da	 cidade, não é autônoma, mas reflete acontecimentos históricos, sociais, 
econômicos artístico-culturais, respondendo às exigências de uma dada época. 
A noção de documento/ monumento, no tocante à teoria do restauro, está implícita na definição de 
Valor Histórico, desenvolvido por Alois Riegl (1999), que já define entre outras, uma valoração 
específica relacionada aos bens culturais, é o que melhor relaciona o estudo dos túmulos, capelas e 
mausoléus, como monumentos intencionais, erigidos para marcar ou vangloriar fatos ou pessoas. 
Na visão de Dominique Poulot (2008), o valor histórico é atribuído aos objetos na medida em que 
são entendidos como fonte de conhecimento para a compreensão da evolução histórica de 
determinado ramo da atividade humana. Assim, é possível identificar que o valor histórico é um 
pressuposto da noção de documento/ monumento. A fundação de museus e centros culturais 
regionais disseminam ações e iniciativas em favor dos diferentes patrimônios. Mudanças essas 
positivas para a preservação do patrimônio no Brasil. 
 
Referências 
CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio: Ed. UNESP. São Paulo, 2001. 
FONSECA, M. Para além da pedra e cal: por uma concepção ampla de patrimônio cultural. In: 
ABREU, R; CHAGAS, M. (orgs.) Memória e Patrimônio: ensaios contemporâneos: DP&A. Rio de 
Janeiro, 2003. 
LE GOFF, Jacques. História e Memória: Ed. Unicamp. São Paulo, 1984. 
MUÑOZ, Rosana. Levantamento Cadastral de um Mausoléu do Cemitério do Campo Santo. 
Trabalho realizado como requisito parcial para conclusão da disciplina Leitura e Documentação de 
Monumentos, ministrada pelo Prof. Dr. Mário Mendonça de Oliveira. Programa de Pós-Graduação 
em Arquitetura e Urbanismo. Doutorado em Conservação e Restauro: PPGAU/ UFBA, 2006, 
Salvador. 
NORA, P. Leslieux de lamémoire1: Seuil. Paris, 1978. 
OLIVEIRA, M. Mendonça de. Tecnologia da Conservação e da Restauração: Materiais e 
Estruturas. 8ª. Ed.: EDUFBA – PPGAU. Salvador, 2014. 
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POULOT, Dominique. O Ecossistema do patrimônio. CARVALHO, Claudia S.R.; GRANATO, 
Marcus; BEZERRA, Rafael Zamorano; BENCHETRIT, Sarah Fassa (orgs). Um olhar 
contemporâneo sobre a preservação do patrimônio cultural material: Museu Histórico Nacional. 
Rio de Janeiro, 2008. 
RIEGL, Alois. El culto moderno a los Monumentos: Caracteres y origen. Trad: Ana Perez Lopez, 
1987. 
SILVA, Zenaide Carvalho. O lioz português: de lastro de navio a arte na Bahia: Edições 
Afrontamento. Porto, 2007. 
VIOLLET-LE-DUC, Eugéne Emmanuel. Restauro. In: Dictionaire Raisonné de L’Architecture. 
Apres. Trad. e Notas Odete Dourado. In: Pretextos, 3ª Ed., n.1. UFBA. Salvador, 1996. 
WARLAND, E. G. Cantería de Edificación. Editorial Reverté: S. A. San Margín, Barcelon, 1953. 
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Memória do bacharelado em Conservação e Restauração de Bens Culturais 
Móveis da UFPel: análise dos projetos desenvolvidos de 2008 a 2018	
Bárbara Moraes1, Clara Ribeiro do Vale Teixeira2, Raquel França Garcia Augustin³, Ana Carolina 
Fernandes da Silva4.* 
1Bacharelado em Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis, UFPel, Pelotas (BRA)	
2PET Conservação e Restauro, UFPel, Pelotas (BRA) 
3Departamento de Museologia, Conservação e Restauro, UFPel, Pelotas (BRA)	
4PET Conservação e Restauro, UFPel, Pelotas (BRA)	
*ana.carol.cherry.ac@gmail.com 	
 
Palavras-chave: Conservação e Restauração; Formação profissional; Ensino; Pesquisa; 
Extensão.	
 
1. Introdução	
O curso de bacharelado em Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis da 
Universidade Federal de Pelotas (UFPel) completa uma década de fundação neste ano de 
2018. Ao ser concebido, o curso foi planejado visando integrar a linha de atuação em 
preservação do patrimônio presente na instituição, somando-se ao bacharelado em 
Museologia e ao programa de pós-graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural, 
conforme mencionado por Bachettini e Heiden (2011), inferindo assim a salvaguarda de bens 
culturais e garantindo a preservação de sua função simbólica, muito mais que apenas de sua 
matéria (MUÑOZ VIÑAS, 2003). 
Para tanto, a graduação oferece atividades complementares por meio de projetos de ensino, 
pesquisa e extensão. Esses projetos agregam compreensão ao graduando através de 
conhecimento prático e científico ao experienciar a metodologia dos teóricos vista em aula 
sob diferentes vertentes. Além disso, proporciona maior autonomia na busca de soluções para 
os desafios profissionais futuros, promovendo meios “de maior interação dos alunos com os 
conhecimentos, de assegurar a habilidade de gerir pessoas e dados, e de expor o participante a 
momentos de práticas profissionais, uma vez que colocam o estudante frente a situações-
problema e em posição de agente solucionador” (LIMA ET AL, 2017, p.1586). 
Particularmente, cada uma das instâncias agrega valor à academia. O ensino reforça os 
conteúdos disseminados nas aulas, reiterando técnicas, conhecimentos e metodologias. A 
pesquisa amplifica o olhar crítico do discente frente as informações recuperadas. A extensão 
estende à comunidade as habilidades decorrentes da formação do profissional, viabilizando, 
concomitantemente, uma troca entre a sociedade e a academia ao levantar solicitações de 
trabalho atuais, ao oferecer ao aluno vivências políticas, institucionais e culturais, e retornar 
ao corpo social o desenvolvimento das demandas elencadas, sendo fundamental para a missão 
universitária. Tais projetos, quando bem articulados, auxiliam muito no ensino, na 
aprendizagem, e formação profissional (DIAS, 2009). 
Sendo o curso inserido no contexto de Pelotas, uma cidade com muitos remanescentes 
históricos, faz-se necessária uma preocupação com o patrimônio com os quais os futuros 
bacharéis possuem contato no seu dia a dia. Tal preocupação vem de uma consciência do 
compromisso de gerar ações preservacionistas no estado evidenciada a partir de 1920 por 
meio de ações realizadas nos remanescentes da Igreja São Miguel Arcanjo, na cidade de Santo 
Ângelo - RS (HEIDEN, 2011). Com isso, o curso oferta atividades que integram e exploram 
temáticas vinculadas ao patrimônio local, regional e/ou nacional, assim como problemas de 
pesquisa mais amplos, vinculados à memória e/ou práxis profissional. Dito isso, a fim de 
contribuir para a compilação dos aspectos memoriais do curso, o presente trabalho tem como 
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objetivo averiguar as características dos projetos desenvolvidos ao longo desta década do 
bacharelado em Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis da UFPel. 
 
2. Metodologia	
Como metodologia de pesquisa utilizou-se da pesquisa documental, quantitativa e aplicada. 
Assim, visa examinar material que não recebeu tratamento analítico de forma a fazer um 
levantamento que busca descrever suas características. Posteriormente tenciona quantificá-lo 
em tabelas comparativas, classificando-o e estudando-o a fim de gerar conhecimentos para a 
solução de problemas específicos (GIL, 1994). 
	A partir disso os dados foram levantados por meio de portais institucionais da UFPel e dos 
Currículos Lattes dos docentes do curso .A pesquisa na plataforma Lattes se justifica por 
apresentar potencial utilização como fonte de dados sobre a memória de instituições, 
conforme apontam Silva et al (2009, p.22): 
O surgimento e evolução das novas tecnologias de informação possibilitaram o 
armazenamento e a disseminação da informaçãoem sistemas eletrônicos online, 
tornando-os acessíveis de qualquer parte, promovendo a interação de instituições e 
pessoas. As bases de dados eletrônicos tornam-se então espaços de memória, 
instrumentos da inteligência coletiva que servem para consolidar a identidade 
pessoal e institucional, potencializando o acesso a documentos. 
É neste contexto que se insere a Plataforma Lattes (PL), tanto como mecanismo que 
registra trajetórias cronológicas de produções científicas e técnicas (permitindo 
entender o que foi ou está sendo estudado), como também inscrever, em suporte 
acessível e recuperável, fragmentos da história de pessoas e instituições as quais 
estejam vinculadas, transformando-se em importante recurso orientado à 
preservação da história e da memória social. 
 
Com os dados levantados, preencheu-se uma tabela comparativa sobre os projetos 
desenvolvidos desde a origem do curso de Conservação e Restauração de Bens Culturais 
Móveis da UFPel, levando-se em consideração seu ano de implementação, título, temática, 
tempo de duração e natureza. 
 
3. Resultados e discussão 
Com base nos dados catalogados de 130 projetos buscou-se analisar a relação percentual entre 
as vertentes ensino, pesquisa e extensão dos projetos executados entre os anos de 2008 a 2018 
no curso supracitado. A análise retornou gráficos comparativos aonde se observa a incidência 
das vertentes, a quantidade de projetos segundo o período de duração e a quantidade de 
suportes abrangidos em âmbito técnico ou prático. 
A relação proporcional entre os projetos (gráfico 1) aponta que aproximadamente metade 
deles configura-se como extensão, um terço como pesquisa e menos de 20% como ensino. A 
partir desses dados numéricos, é possível inferir que a preferência por projetos de extensão 
pode decorrer da grande demanda presente na comunidade local e da imprescindibilidade do 
aluno ter contato e experienciar a realidade vivida pelas instituições e a forma como procedem 
a salvaguarda dos bens, aonde um dos teóricos mais utilizados dentro da academia, Bárbara 
Appelbaum (2007), difunde a necessidade em se avaliar as condições da instituição de guarda, 
a avaliação do estado ideal de conservação do bem, fazendo uma ponderação e estabelecendo 
metas realísticas de tratamento de acordo com as tais condições. 
 
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Gráfico 1 - Percentual de Projetos Executados entre 
2008-2018 de acordo com sua natureza 
Gráfico	2	-	Relação	entre	Projetos	de	Ensino,	
Pesquisa	e	Extensão	
 
Fonte: elaboração própria, 2018. Fonte: elaboração própria, 2018. 
 
No intuito de integrar o aluno à comunidade e ao patrimônio, os docentes são encorajados a 
criar projetos de ensino e pesquisa além dos já citados de extensão, vinculados a instituições 
municipais e/ou federais. Os projetos de ensino visam reforçar conteúdos ministrados em 
aulas e proporcionar um maior tempo de atividades práticas aos discentes do curso, as quais 
são fundamentais para o exercício da profissão e promoção de maior segurança e experiência 
ao estudante. A importância da caracterização físico-química do bem, da análise da evolução 
das técnicas de intervenção empregadas em diversos suportes, bem como o estudo das 
técnicas de manufatura, e o desenvolvimento de novos materiais são algumas das aplicações 
da pesquisa dentro do campo da conservação e restauração, e sua aplicação nos projetos é de 
grande importância para o desenvolvimento do aluno e de sua capacidade de percepção e 
resolução das questões que envolvem o patrimônio. 
Ao analisar a relação entre a quantidade de projetos executados e sua duração em anos de 
acordo com cada natureza (gráfico 2), a duração dos projetos foi quantificada com base em 
uma estimativa arredondada para um maior tempo, visto que as plataformas que abrigam as 
informações dos projetos possuem apenas ano de início e ano de término efetivo, deixando 
assim uma margem de erro quanto a real implementação e execução dos projetos ao não 
mencionar os meses de duração. Como é possível observar, os dados presentes no gráfico 2 
mostram uma disparidade de resultados nas diferentes vertentes aqui aplicadas, cabendo 
ressaltar que a maioria dos projetos de extensão duraram até 1 ano ou até 2 anos nesta década 
de existência do curso, enquanto os de pesquisa foram desenvolvidos em períodos de até 2 
anos, até 3 anos ou até 8 anos, e os de ensino concentram-se em períodos curtos, de até 1 ano, 
predominantemente. Os resultados referentes ao intuito por parte dos docentes, 
evidentemente, assistidos pelos discentes, a democratizar o conteúdo produzido na 
universidade junto à comunidade local, atendendo a diferentes demandas. 
Conforme apontado pelo plano pedagógico do curso, o bacharelado se organiza de forma 
integrada em três linhas de atuação (conservação, restauração e conservação preventiva), 
apresentando também três linhas de abrangência (conhecimentos humanísticos, científicos e 
técnico/práticos), as quais delinearam a análise dos projetos quanto à temática (gráfico 3), e 
contempla o tratamento de acervos em madeira, papel e pintura, como foco em termos de 
suportes, embora outros também sejam trabalhados em disciplinas optativas e nas atividades 
complementares (gráfico 4).no gráfico 3 se reafirma a linha humanística como a mais 
14%	
35%	
51%	
Ensino	 Pesquisa	 Extensão	
0	
5	
10	
15	
20	
25	
30	
até	
1	
até	
2	
até	
3	
até	
4	
até	
5	
até	
6	
até	
7	
até	
8	
até	
9	
Ensino	 Pesquisa	 Extensão	
78
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empreendida, que, a grosso modo, visa propiciar ao profissional, o conhecimento embasador 
para agir criticamente no desempenho das suas atividades técnico-científicas. 
	
Gráfico 3 - Percentual de Projetos Executados entre 
2008-2018 segundo sua abrangência	
Gráfico 4 - Quantificação do Suporte Trabalhado na 
categoria Técnico/Prático entre 2008-2018 
	 	
Fonte: elaboração própria, 2018.	 Fonte: elaboração própria, 2018. 
	
Diante das linhas de abrangência, destaca-se a linha técnico/prático que trabalha no 
tratamento direto dos mais diferentes suportes exigidos pelos projetos. O gráfico 4 distribui a 
incidência desses suportes, apontando um maior enfoque em pintura seguida por papel, 
madeira arqueologia e gesso. 
 
4. Conclusões 
Tendo em vista a escassez do Curso de Bacharelado em Conservação e Restauração de Bens 
Culturais Móveis no país, destaca-se o decênio do curso da UFPel e os projetos desenvolvidos 
no seu âmbito. Evidentemente, os projetos, já citados no decorrer deste texto, visam buscar a 
integração entre o ensino, a pesquisa e a extensão – esta última destaca-se devido à ampla 
demanda da cidade histórica de Pelotas, fundada há mais dois séculos. 
No âmbito dos projetos de extensão, os quais completam 51% de todos os projetos vinculados 
ao curso, esse tipo de projeto distingue-se por intensificar o contato do discente com a 
comunidade ao qual está inserido, nesse sentido, projetos como a “Restauração da escultura 
de Peri do frontão do Theatro Guarany” coordenado pela professora Dra. Daniele Baltz da 
Fonseca, proporcionam os alunos atuar na restauração de um importante bem integrado 
presente em um edifício marcante na construção da história e da memória do município de 
Pelotas. 
Já nos projetos de pesquisa, totalizando 35% dos projetos pode ser percebido o enfoque nos 
estudos dos bens e seus constituintes tais como: reconhecimento dos materiais e técnicas 
empregados na criação do bem patrimonial, identificação de sua relevância e aspectos 
imateriais, além das deteriorações, bem como suas causas, métodos mais adequados de 
intervenção e condições ideais de armazenamento. 
Para o profissional conservador-restaurador a necessidade em se manter integrado aos estudos 
desde osprocedimentos laboratoriais envolvendo a obra, sua história, características 
3%	
14%	
49%	
34%	
Científico	 Evento	
Humanístico	 Técnico/Prático	
0	
1	
2	
3	
4	
5	
6	
7	
8	
9	
10	
Pi
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I Encontro da ANTECIPA (Associação Nacional de 
Pesquisa em Tecnologia e Ciência do Patrimônio) 
27 e 28 de novembro de 2018, Belo Horizonte, Brasil	
 
 
intrínsecas, estado de conservação bem como a difusão do conhecimento gerado por estes 
procedimentos são de extrema importância em vista da interdisciplinaridade deste campo. O 
presente trabalho buscou analisar como essa interdisciplinaridade é abordada pelos docentes 
através dos projetos, a princípio realizando um levantamento para então avaliar o impacto 
gerado por ela no âmbito do curso. Com a possibilidade de no futuro propor novas 
abrangências nos estudos e suas aplicações. 
 
Referências 
APPELBAUM, B. Conservation treatment methodology. 1 ed. Elsevier: editora, 2007. 
BACHETTINI, A; HEIDEN, R. A implementação do curso de conservação e restauro de bens 
culturais -ICH/UFPEL dentro do contexto do REUNI (projeto de restruturação da 
universidade Brasileira). In: ENCONTRO LUSO-BRASILEIRO DE CONSERVAÇÃO E 
RESTAURO, 1, 2011, Porto, p.185-195. Anais... Porto: CITAR/UCP, 2012. Disponível em: 
<	https://bit.ly/2Oiy4ES>. Acesso em 20 de setembro de 2018. 
DIAS, A. M. I. Discutindo Caminhos Para a Indissociabilidade Entre Ensino, Pesquisa e 
Extensão. Revista Brasileira de Docência, Ensino e Pesquisa em Educação Física, vol. 1, 
n. 1, p.37-52, agosto/2009. 
GIL, A.C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 4 ed. São Paulo: Atlas, 1994. 207 p. 
HEIDEN, R. Conservação e restauro do patrimônio, constituição da atividade profissional e 
formação acadêmica no Rio Grande do Sul: notas para uma narrativa. In: SEMINÁRIO 
INTERNACIONAL EM MEMÓRIA E PATRIMÔNIO, 5, 2011, Pelotas. Anais… Pelotas: 
PPGMP/ ICH/ UFPEL, 2011. p.1029-1039. Disponível em: <https://bit.ly/2P2WhnQ>. 
Acesso em 20 de setembro de 2018. 
LIMA, A. F. De et al. A importância do ensino, pesquisa e extensão na formação profissional. 
In: JORNADA IBERO-AMERICANA DE PESQUISAS EM POLÍTICAS EDUCACIONAIS 
E EXPERIÊNCIAS INTERDISCIPLINARES NA EDUCAÇÃO, 2, 2017, Natal. Anais… 
Natal: Even 3, 2017. p.1586-1597. Disponível em: 
<http//www.even3.com.br/anais/iijorneduc>. Acesso em: 31 out. 2018. 
MUÑOZ VIÑAS, S. Teoría contemporânea de la restauración. Madrid: Sintesis, 2003. 
SILVA, F. M. et al. Reflexões sobre o uso da Plataforma Lattes como um instrumento de 
resgate da memória do TJPE. Documentação e Memória/TJPE, Recife, PE, v.1, n.2, 21-32, 
jan./dez.2009. Disponível em: <	https://bit.ly/2DigJuo>. Acesso em 30 out. 2018. 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS. Cobalto: sistema integrado de gestão. 
Pelotas, RS, 2018. Disponível em: <https://cobalto.ufpel.edu.br/>. Acesso em 30 out. 2018. 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS. Projeto político pedagógico do curso de 
bacharelado em Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis. Pelotas: 
UFPel/DMCOR, 2018. 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS. Pró Reitoria de Extensão e Cultura – 
Projetos por Unidade e por Ano. Pelotas, RS, 2018. Disponível em: 
<https://buddhi.ufpel.edu.br/diplan/projetos/relatorios.php>. Acessado em 30 out. 2018. 
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I Encontro da ANTECIPA (Associação Nacional de 
Pesquisa em Tecnologia e Ciência do Patrimônio) 
27 e 28 de novembro de 2018, Belo Horizonte, Brasil 
 
 
Pesquisa e Extensão integrados no Laboratório de Ciência do Patrimônio 
(LACIPA) da UFPel 
Thiago Sevilhano Puglieri1,* 
1Instituto de Ciências Humanas, Departamento de Museologia, Conservação e Restauro, Universidade 
Federal de Pelotas, Pelotas (BRA) 
*tspuglieri@gmail.com 
 
Palavras-chave: Ciência da Conservação; Ciência do Patrimônio; Educação para o Patrimônio; 
Ensino em Ciências; Microscopia Raman. 
 
1. Introdução	
O Laboratório de Ciência do Patrimônio (LACIPA) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), 
desde novembro de 2015, tem por intenção o desenvolvimento de projetos de pesquisa, ensino e 
extensão contextualizados na Ciência da Conservação e/ou na Ciência do Patrimônio, em níveis de 
graduação e pós-graduação (mestrado e doutorado). 
Durante um encontro do International Centre for the Study of the Preservation and Restoration of 
Cultrual Property (ICCROM) em 2013 – ICCROM Forum on Conservation Science, 
“O Fórum concluiu que ciência da conservação é um domínio da ciência 
interdisciplinar aplicada, da qual o propósito primário é apoiar a preservação, o 
entendimento, e o uso sustentável do patrimônio cultural, com o objetivo de promover 
um envolvimento mais amplo da sociedade com o patrimônio para gerações atuais e 
futuras. O escopo da ciência da conservação abrange tanto a preservação dos 
aspectos materiais do patrimônio quanto de seus valores intangíveis, para os quais as 
ciências naturais, sociais e formais têm uma contribuição a dar” (HERITAGE E 
GOLFOMITSOU, 2013, p.S2-3) – tradução minha. 
O termo Ciência do Patrimônio, por sua vez, tem um significado mais amplo e vem unificar campos 
das ciências aplicadas inter-relacionadas. Ela inclui a Ciência da Conservação, mas não se limita a 
tópicos de preservação (HERITAGE E GOLFOMITSOU, 2013, p.S2-5). 
Entende-se, particularmente, que programas dessas Ciências idealmente devem abarcar questões 
que vão além da materialidade e das pesquisas realizadas pelas ciências naturais puras e 
disciplinares, incluindo questões como significado, uso, transformação e apropriação social desse 
patrimônio. Esse entendimento mais amplo carrega a intrínseca interdisciplinaridade, a ser 
construída não apenas entre as ciências naturais ou entre as ciências culturais, mas especialmente 
entre as naturais e culturais, considerando conjuntamente aspectos como matéria, memória e 
esquecimento. Entende-se, além disso, que abordagens puramente científicas não são suficientes 
para resolver questões de tal magnitude, sendo necessário integrá-las a projetos de, por exemplo, 
extensão universitária. 
Com base nisso, desde 2015 o LACIPA vem desenvolvendo projetos de pesquisa integrados a um 
projeto de extensão/pesquisa, e neste trabalho busca-se trazer um compartilhamento de seus 
resultados.	
 
2. Metodologia	
Com o objetivo de apoiar a preservação, o entendimento e o uso do patrimônio cultural, 
considerando um mais amplo envolvimento social com esse patrimônio e com a sua preservação, os 
projetos de pesquisa e de extensão do LACIPA, de cunho inter/transdisciplinar, vêm sendo 
desenvolvidos de forma integrada por profissionais e estudantes das áreas da Química, Arqueologia, 
81
I Encontro da ANTECIPA (Associação Nacional de 
Pesquisa em Tecnologia e Ciência do Patrimônio) 
27 e 28 de novembro de 2018, Belo Horizonte, Brasil 
 
 
Geologia, Museologia, Educação, Artes e/ou Conservação-Restauração, vinculados a instituições 
nacionais ou internacionais. 
Nos projetos de pesquisa, reconhecendo-se as limitações intrínsecas de toda e qualquer técnica de 
caracterização e a singularidade dos objetos patrimoniais e das perguntas a eles atreladas, utilizam-
se de técnicas complementares, cujas metodologias são escolhidas de acordo com cada contexto. De 
maneira geral, os projetos integram análises de materiais para elucidarem-se questões relacionadas à 
história (tanto no contexto artístico quanto arqueológico, por exemplo) e/ou conservação-
restauração, também considerando-se processos de degradação. Exemplos de técnicas utilizadas 
são: microscopia Raman, espectroscopia de absorção no infravermelho com transformada de 
Fourier (FTIR), microscopia eletrônica de varredura acoplada a espectroscopia de raios X por 
energia dispersiva (SEM-EDS), espectroscopia de fluorescência de raios X (XRF), espectroscopia 
dedifração de raios X (XRD), fotografia com luz em ângulo rasante, luminescência no visível 
induzida por ultravioleta e fotografia com luz transmitida. 
Os resultados desses projetos são usados, posteriormente, num projeto de extensão/pesquisa com 
alunos do ensino médio da rede pública, intitulado de “Preservação do patrimônio cultural através 
da química do ensino médio e o ensino de química através do patrimônio”. As atividades são 
planejadas e desenvolvidas pela fusão de metodologias da Educação para o Patrimônio, Educação 
em Ciências e Alfabetização Científica (PUGLIERI et al, 2019). A cada ano, de modo resumido, se 
desenvolvem as seguintes atividades: 1) escolha de um tema a ser abordado na química do ensino 
médio, desde que relacionado a um dos projetos de pesquisa desenvolvidos no LACIPA; 
2) definição da dinâmica da atividade em equipe interdisciplinar; 3) desenvolvimento de atividades 
e materiais de ensino médio com foco em patrimônio, química e ciência; 4) aplicação da atividade 
com alunos do ensino médio; 5) avaliação do impacto da atividade no que diz respeito à educação 
em química, apropriação e preservação patrimonial e alfabetização científica, através da aplicação 
de questionários antes e depois da atividade. Dentre os objetivos específicos do projeto tem-se: 
1) promover educação em química e proporcionar ferramentas aos alunos do ensino médio para 
melhor fixação de conteúdos associados a essa disciplina; 2) promover a alfabetização científica da 
química aplicada a bens culturais, focando em alunos do ensino médio de escolas da rede pública; 
3) incentivar os alunos do ensino médio a reconhecerem e se apropriarem do patrimônio cultural, 
estimulando-os a promoverem a preservação patrimonial; 4) oferecer qualificação extracurricular 
para alunos dos cursos de Museologia, Química e Conservação e Restauração de Bens Culturais 
Móveis da UFPel para atuarem em educação para o patrimônio no ensino médio de química; 5) 
oferecer qualificação a professores de química do ensino médio de modo que os mesmos possam 
dar continuidade às atividades desenvolvidas neste projeto. 
 
3. Resultados e discussão 
Dos projetos de pesquisa até então desenvolvidos ou em desenvolvimento no LACIPA, tem-se a 
investigação de cerâmicas arqueológicas (de cerritos do Pampa gaúcho – PUGLIERI et al, 2018), 
pinturas murais (de João Fahrion e Aldo Locatelli), suportes metálicos históricos de iluminação 
pública (da cidade de Pelotas) e pinturas sobre madeira (de imagens Jesuítico-Guaranis do Museu 
das Missões). Além desses projetos, em 2017 o coordenador do Laboratório trabalhou como não-
membro da UFPel em projeto para a investigação material de objetos pertencentes ao acervo do 
Museu Carmen Miranda, cujos resultados deverão ser utilizados no projeto de extensão/pesquisa 
para o ano de 2019. 
Nos anos de 2016 e 2017 o tema de corrosão metálica foi escolhido para se trabalhar com os alunos 
do ensino médio, utilizando-se de resultados do projeto de pesquisa que envolvia suportes metálicos 
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I Encontro da ANTECIPA (Associação Nacional de 
Pesquisa em Tecnologia e Ciência do Patrimônio) 
27 e 28 de novembro de 2018, Belo Horizonte, Brasil 
 
 
de iluminação pública. No ano de 2018 o tema de materiais inorgânicos foi escolhido, trabalhando-
se com os resultados do projeto de imagens Jesuítico-Guaranis. 
No caso dos suportes metálicos estudados, muitos encontram-se na Praça Coronel Pedro Osório da 
cidade de Pelotas, ou no entorno da Praça, sendo que a atividade foi realizada nesse espaço museal. 
No caso das imagens Jesuítico-Guaranis, as mesmas não se encontram na cidade de Pelotas, sendo 
que a atividade, embora tenha sido realizada no Museu do Doce como espaço museal, contou com 
uma etapa de imersão cultural contextualizada, com o preparo de receitas de tintas históricas. Tanto 
em 2016 quanto em 2017 e 2018, as atividades contaram com etapas de discussões sobre história da 
arte, patrimônio e química, respeitando conceitos específicos de, por exemplo, contextualização no 
cotidiano (WARTHA, SILVA E BEJARANO, 2013) e alfabetização científica (SASSERON E 
CARVALHO, 2011, p.75-76). Considerou-se ainda, visitas a cursos de graduação da UFPel, 
contextualizando-se suas atividades na investigação patrimonial, como os cursos de Museologia, 
Química Forense, Engenharia de Materiais, Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis, 
e Arqueologia e Antropologia. De acordo com cada ocasião, visitas guiadas ao Museu do Doce e/ou 
aos casarões tombados presentes no entorno da Praça Coronel Pedro Osório também foram 
realizadas. A presença e participação de professores do ensino médio foi fundamental em todas as 
edições. 
Como exemplificação dos impactos dessas atividade, tanto para o aluno como indivíduo quanto 
para o patrimônio como objeto desse trabalho, destacam-se as respostas de duas questões do 
questionário de 2016: 1) O patrimônio cultural é importante para você? Por quê?; 2) Como você 
mesmo pode preservar um bem cultural? 
Após a atividade, as respostas mais destacadas para a primeira pergunta foram: 1) “Sim, pois é uma 
característica histórica, da minha cidade, meu país, meu estado.”; 2) “Sim, porque é simbólico, é 
uma identidade da nossa região.”; 3) “Sim, com ele conseguimos descobrir coisas novas sobre o 
passado, sobre a história de seus artistas, de como as pessoas viviam antigamente, além de 
embelezar um determinado lugar.”. Nota-se, claramente, que esses alunos se apropriaram não 
somente do patrimônio, mas também de termos específicos da área patrimonial e da pesquisa na 
área do patrimônio cultural. 
Da segunda pergunta, de destaque tem-se que os alunos apontaram a denúncia dos atos de 
depredação, a promoção da manutenção e o ato de não vandalizar. Além disso, depois da atividade 
apontaram a necessidade de conscientizar outras pessoas, de se conduzir procedimentos de 
restauração por profissionais especializados (conservador-restaurador), de se evitar a poluição 
(relacionando-a com a chuva ácida), de ter respeito pela cultura, de promover educação e de 
conduzir a vigilância. Nota-se, neste nível, que os alunos não só ampliaram seus conhecimentos, 
mas assumiram responsabilidades sociais, culturais e ambientais frente ao patrimônio. 
 
4. Conclusões 
Abarcar os entendimentos mais amplos das Ciências da Conservação e do Patrimônio é um desafio 
por diversas razões. Dentre elas, destaca-se a efetivação da interdisciplinaridade entre as ciências 
naturais e culturais em programas universitários, que envolve uma série de atributos que permitem 
uma interação efetiva e harmoniosa entre os envolvidos1. Outro desafio de destaque é o 
desenvolvimento de metodologias eficazes para se aplicar de modo direto os resultados científicos 
obtidos em laboratórios no contexto e envolvimento social. 
																																								 																					
1 Abordagens de soft skills, embora no contexto de Conservação Preventiva, podem ser obtidas, por exemplo, 
em The impact of soft skill development in preventive conservation practice and training (WICKENS E 
NORRIS, 2018). 
83
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Pesquisa em Tecnologia e Ciência do Patrimônio) 
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Os resultados aqui apresentados mostram, contudo, que esforços e tentativas de alcançar essa maior 
amplitude com o uso de metodologias similares às aqui apresentadas, por exemplo, podem gerar 
resultados promissores. Integrando-se projetos de pesquisa com abordagens de extensão 
universitária torna-se possível despertar, por exemplo, o interesse em disciplinas exatas naqueles 
alunos com maior afinidade com as ciências humanas, e vice e versa. Pode-se não apenas envolver a 
sociedade, mas, quando utilizando-se de rigor metodológico, ajudar a transforma-la, motivando 
futuros profissionais e cientistas da área do patrimônio e motivando a sociedade a se apropriar e a 
buscar a preservação patrimonial. 
 
AgradecimentosAos colaboradores e parceiros da UFPel, USP, UFMG, UFRGS, UFSM e TUM, ao Programa de 
Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural da UFPel, aos parceiros das escolas 
públicas envolvidas em nosso projeto de extensão/pesquisa e aos parceiros das demais instituições 
envolvidas tanto no projeto de extensão/pesquisa quanto nos de pesquisa. 
 
Referências 
HERITAGE, Alison; GOLFOMITSOU, Stavroula. Conservation science: Reflections and future 
perspectives. Studies in Conservation, v. 60, n. sup2, p. 2-6, 2015. 
PUGLIERI, Thiago S. et al. Ensino em ciências e educação para o patrimônio: uma fusão 
metodológica para o ensino de química, a preservação patrimonial e a alfabetização 
científica. Ciência & Educação, Submetido, 2019. 
PUGLIERI, Thiago S. et al. Multi-technique investigation of potshards of a cerrito (earthen mound) 
from southern Brazil. Spectrochimica Acta Part A: Molecular and Biomolecular Spectroscopy, 
v. 206, p. 48-56, 2019. 
SASSERON, Lúcia H.; CARVALHO, Anna M. P. Alfabetização científica: uma revisão 
bibliográfica. Investigações em Ensino de Ciências, v. 16, n. 1, p. 59-77, 2011. 
WARTHA, Edson J.; SILVA, Erivanildo L.; BEJARANO, Nelson R. R. Cotidiano e 
contextualização no ensino de Química. Química Nova na Escola, v. 35, n. 2, p. 84-91, 2013. 
WICKENS, Joelle D. J.; NORRIS, Debra H. The Imperative of Soft Skill Development in 
Preventive Conservation Practice and Training. Studies in Conservation, v. 63, n. sup1, p. 301-
306, 2018. 
	
84
Projeto Hans Broos: 
Pesquisa Aplicada ao Patrimônio Cultural. 
Sara C. Santos¹ , Bernardo B. Bielschowsky ² , Ana Paula P. Correa³ 
1 IFSC/DACC/Câmpus Florianópolis/scdsantos40@gmail.com 
2 IFSC/DACC/Câmpus Florianópolis/bernardo.brasil@ifsc.edu.br 
3 IFSC/DACC/Câmpus Florianópolis/ana.pupo@ifsc.edu.br 
 
Palavras-chave: Pesquisa Patrimonial; Ensino; Extensão. 
 
1. Introdução 
O projeto “Hans Broos: da formação técnica ao conjunto da obra”, que se encontra em 
andamento, tem como principal objetivo fomentar a conscientização do patrimônio histórico 
cultural, com ênfase nas obras do Engenheiro-Arquiteto Hans Broos, que estão inseridas no 
contexto do Movimento da Arquitetura Moderna em Santa Catarina. Trata-se de uma 
pesquisa de caráter transdisciplinar, feita por uma equipe multidisciplinar, dos cursos 
tecnológicos, que procura sistematizar informações para as instituições de preservação 
patrimonial e disseminar esse conhecimento para o público em geral. 
A motivação para a realização do projeto foram as recentes demolições de algumas 
das principais obras em Santa Catarina, demonstrando o recorrente descaso com a questão da 
valorização patrimonial. Como exemplo, podemos trazer à tona a demolição da Residência 
Zipser (projetada em 1959) na cidade de Florianópolis/SC que foi demolida em 2012 e 
também a demolição da Residência Gottardi (projetada em 1960) na cidade de Rio do Sul/SC 
demolida em 2018 (WITTMANN, 2018). Além dessas obras demolidas, podemos notar a 
falta de conscientização dos proprietários dos imóveis projetados por Hans Broos na hora das 
modificações, onde algumas das obras sofreram descaracterização e perderam a sua essência. 
Com os processos constantes de renovação urbana sinalizando para essas obras, corre-
se o risco de desaparecimento, ocasionando perda irreversível as cidades e as gerações 
futuras. Essa modernização urbana tende a ser cada vez mais intensa, substituindo obras de 
grande valor cultural e histórico e que se encontram inseridas em um contexto urbano da 
cidade por edifícios cada vez mais padronizados e fora de um contexto seguindo apenas a 
lógica padronizada do mercado (HARVEY, 1998). A globalização impõe a substituição 
dessas obras, sem se preocupar com a história do lugar, substituindo conjuntos urbanos 
adaptados aos sítios físicos e apropriados culturalmente, por um acumulo de não lugares 
(AUGÉ, 1994). Porém o indivíduo só toma consciência daquilo que é através dos lugares que 
vive, das paisagens que lembram a construção do passado e dos elementos que o animam 
para o futuro (CLAVAL, 1999). As cidades brasileiras conhecem rápidos processos 
substitutivos - decorrente da fraqueza da legislação urbanística, que permite uma acelerada 
dinâmica do capital imobiliário - que transforma o tempo numa variável determinante para a 
manutenção deste legado patrimonial (BIELSCHOWSKY, 2017). 
 O projeto busca inserir os alunos, professores e profissionais da área da construção civil, 
tanto do Instituto Federal de Santa Catarina como de outros lugares, nesta discussão, 
possibilitando a conscientização sobre a relevância dos patrimônios históricos para as cidades 
contemporâneas. A partir dessa problemática, o projeto será levado também para dentro da 
sala de aula para debater com os alunos a importância desses bens patrimoniais. Através de 
aulas expositivas e práticas, os alunos vão redesenhar alguns dos projetos de Hans Broos. 
85
Os alunos participantes do projeto receberam a tarefa de redesenhar alguns dos 
principais projetos do Hans Broos pelo estado de Santa Catarina. Essa atividade é muito 
importante para os alunos, que aprendem sobre a concepção arquitetônica, técnicas 
construtivas e detalhamento de projeto, entre outras questões técnicas, a partir do redesenho 
dessas edificações. Entre as obras escolhidas, que vamos apresentar nesse artigo, estão o 
Edifício da Celesc, atual Fórum do Desembargador, projetado em 1967, localizado na cidade 
de Florianópolis/SC e a Residência do Julio Zadrozny, projetada em 1955, localizado na 
cidade de Blumenau/SC. Essa atividade será utilizada também como forma de extensão, pois 
os arquivos pesquisados e os desenhos técnicos elaborados pelos alunos serão 
disponibilizados para as instituições responsáveis pelo patrimônio cultural catarinense e para 
os proprietários poderem fazer possíveis adequações. 
 
2. Metodologia 
A metodologia para a pesquisa iniciou com uma revisão bibliográfica dos principais 
conceitos associados às políticas públicas patrimoniais, passando pela evolução do debate 
conceitual e chegando à abordagem atual, que passa de um objeto isolado de uma edificação 
para conjuntos arquitetônicos. Nesse contexto, destaca-se a inserção e o reconhecimento da 
própria Arquitetura Moderna catarinense como um legado de valor patrimonial que está em 
plena fase de reconhecimento. 
A partir do material existente foi elaborada uma lista de obras mais significativas. 
Com esse material foi possível realizar os redesenhos de algumas edificações e propor 
atividades de ensinos. As informações obtidas serão levadas para a sala de aula, para que 
ocorram debates sobre a valorização do patrimônio em aulas teóricas e práticas. 
Após a realização das revisões bibliográficas e das pesquisas em campo, foi feito o 
levantamento de dados sobre as edificações, sistematização destes dados e em seguida será 
repassado para o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), através das 
fichas de inventários que estão sendo elaboradas. Serão feitas visitas in loco para a 
verificação do estado atual das edificações que possuem valor patrimonial. Esse trabalho de 
campo que está sendo registrado com fotos dos locais e das condições que se encontram as 
obras mapeadas, para um maior conhecimento das instituições, visto que será uma forma de 
extensão do conhecimento obtido nesta pesquisa. 
 
3. Resultados e discussão 
 Os primeiros resultados obtidos com as revisões e as visitas in loco, é que as 
edificações passaram por inúmeras alterações importantes, tanto nos espaços internos e 
externos, como nas áreas do seu entorno, o que nos leva a concluir que a problemática em 
relação às condições que se encontram esses imóveis é bastante significativa. 
Para ilustrar a presente situação, pode-se verificar o estado de conservação dessas 
obras projetadas por Broos, como a Residência Julio Zadrozny, que além das abundantesalterações no seu interior e exterior, está recebendo em seu terreno a construção de um novo 
edifício. Em prol de compreender os projetos e as propostas originais do arquiteto Hans 
Broos, a equipe obteve acesso ao acervo, às plantas originais e as fotos registradas dessas 
obras após a sua construção. A partir deste material, foi possível fazer uma análise mais 
ampla do que seria o partido arquitetônico original proposto por Broos. 
86
A partir do material obtido no acervo, principalmente as plantas e as fotos históricas, 
conseguimos redesenhar as edificações com o principal objetivo de mostrar o seu valor 
patrimonial. Os projetos realizados pelos alunos auxiliaram também para a comparação entre 
a proposta original do arquiteto e o estado atual em que se encontra. Com os desenhos 
prontos, será possível restabelecer o partido arquitetônico original, caso haja um interesse em 
fazer uma restauração do imóvel. 
Outra edificação projetada por Hans Broos e que teve o seu ambiente 
consideravelmente modificado foi o edifício originalmente projetado para receber a primeira 
sede da Celesc (Figura 1). Pode-se notar que foram feitas várias alterações na sua última 
reforma, principalmente no seu ambiente interno. Porém, também foram feitas alterações nas 
suas fachadas e no seu paisagismo. A perda mais significativa foi a retirada dos brises, que 
além de garantir o conforto térmico do ambiente, dava uma leveza à fachada da edificação. 
 
 Figura 1 - Edifício originalmente projetado para a Celesc 
 
Fonte - Sara C. dos Santos, 2018. 
 
Também foi realizada uma análise criteriosa das plantas originais, que foram 
encontradas bastante deterioradas e dificultaram a leitura das mesmas. Mesmo assim, foi feito 
um grande esforço no sentido de compreender as mesmas para o processo de redesenho de 
todo o projeto, incluindo plantas baixas, cortes e fachada. 
O redesenho desta obra emblemática para Santa Catarina (Figura 2) é de importância 
significativa para um possível trabalho de restauro e de referência ao partido arquitetônico 
original, caso as instituições julguem que o valor desse bem patrimonial deva ser ainda mais 
evidenciado através da recuperação da proposta original. 
 
Figura 2 - Redesenho das plantas do Edifício originalmente projetado para a Celesc
 
Fonte - Sara C. dos Santos, 2018. Figura sem escala. 
 
87
Para atingir o objetivo geral, que é fornecer instrumentos para a instrução do processo 
que visa o tombamento do “Conjunto da Obra do Arquiteto Hans Broos em Santa Catarina” 
(IPHAN), foi feito, além da reprodução das plantas em 2D, o projeto em software específico 
BIM, que proporcionam a espacialização dos projetos desses edifícios em 3D (Figura 3). 
Figura 3 - Redesenho em 3d do Edifício originalmente projetado para a Celesc 
 
Fonte - Sara C. dos Santos, 2018. 
 
Através deste mesmo processo de redesenho, foi possível adquirir diversos 
conhecimentos técnicos que vão contribuir na formação acadêmica dos envolvidos, não 
somente com relação às questões patrimoniais, mas também com relação à compreensão das 
técnicas construtivas utilizadas e do próprio pensamento do arquiteto. 
 
4. Conclusões 
As obras escolhidas para o debate e o redesenho, exemplificadas aqui neste artigo 
através da Residência Julio Zadrozny (Blumenau, 1955) e do edifício da Celesc 
(Florianópolis, 1967), são estruturas fundamentais tanto para a compreensão da importância 
histórica dessas obras para o legado arquitetônico de Hans Broos, como nos revelam também 
a importância de sua localização e de seus usos no contexto contemporâneo. 
O Sr. Julio Zadrozny foi um industrial muito importante em Blumenau, sua família 
era proprietária da empresa Artex, a sua residência fica localizada em um ponto estratégico, 
onde está sendo construído o Distrito de Inovações de Blumenau, exatamente no terreno do 
projeto de nossa pesquisa, o que acaba tornando a obra ainda mais importante. Ele também 
foi primeiro presidente da Celesc e convidou Hans Broos para projetar a primeira sede da 
empresa, o edifício em questão na nossa pesquisa. 
Da mesma maneira que a residência de Blumenau tem um marco significante 
histórico e atual, o edifício da Celesc tem uma estrutura importante no contexto industrial e 
político da Capital catarinense. Primeiramente, pelo edifício ter sido idealizado para receber a 
sede da Celesc, posteriormente por ter sediado o palácio do Governo a partir da década de 
1980, quando o governo do Estado deixa o Palácio Cruz e Souza e decide ocupar este prédio. 
Em 2005, o prédio que estava sob responsabilidade do Banco Central do Estado de Santa 
Catarina, foi vendido para o Tribunal de Justiça de Santa Catarina, onde atualmente é o 
Fórum do Desembargador. 
O objetivo desse projeto foi promover a conscientização patrimonial, através da 
utilização da pesquisa e extensão aplicada ao ensino, utilizando as obras do engenheiro-
arquiteto Hans Broos, para instrumentar o processo de tombamento no Instituto do 
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). A importância deste projeto está também 
na introdução da temática da valorização patrimonial no IFSC, através de um processo em 
andamento, demonstrando na prática as situações recorrentes com relação à temática, como 
por exemplo, qual o papel do egresso que vai trabalhar na construção civil. 
88
Neste sentido, vale enfatizar o diferencial na formação técnica do engenheiro-
arquiteto Hans Broos, onde ao mesmo tempo em que aprendeu os trabalhos técnicos e 
manuais (os mesmo ensinados nos nossos cursos técnicos e tecnológicos), tomou consciência 
do seu papel na sociedade para além da reprodução dos antigos conhecimentos, pois tratou de 
ser um representante de um período específico da história das cidades e conseguiu criar um 
olhar diferenciado para a relação entre o antigo e o novo. Com seu conhecimento técnico e 
sua conscientização cultural, conseguiu elevar a construção civil para um novo patamar, onde 
as inovações das novas técnicas construtivas e dos novos materiais disponíveis superaram a 
mediocridade da simples reprodução alienada. 
 
Agradecimentos 
Ao Instituto Federal de Santa Catarina pelo financiamento desta pesquisa através do Edital 
41/2017/PROPPI/PROEX/Campus Florianópolis. 
 
Referências 
AUGÉ, Marc. Não-lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade. Campinas, SP: 
Papirus, 1994. 
BIELSCHOWSKY, Bernardo B. Paisagens urbanas em áreas centrais. Políticas municipais, 
preservação patrimonial e espaços públicos em Blumenau/SC. Florianópolis, 2017. Tese 
(Doutorado em Geografia). Universidade Federal de Santa Catarina. 
CASTRIOTA, Leonardo. Patrimônio Cultural: Conceitos, Políticas e Instrumentos. São Paulo, 
SP: Annablume, 2009. 
CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo, SP: Estação Liberdade: Unesp, 2003. 
CLAVAL, Paul. A geografia cultural. Florianópolis, SC: Ed. da UFSC, 1999. 
DAUFENBACH, Karine. A modernidade em Hans Broos. São Paulo, 2011. Tese (Doutorado em 
Arquitetura e Urbanismo). Universidade de São Paulo. 
HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. São Paulo, SP: Vértice, 1990. 
HARVEY, David. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. 
São Paulo, SP: Loyola, 1998. 
JEUDY, Henri-Pierre. Espelho das cidades. Rio de Janeiro, RJ: Casa da Palavra, 2005. 
WITTMANN, Angelina. Arquitetura - Projetos de Hans Broos - Rio do Sul/SC. 2018. Disponível 
em: <https://angelinawittmann.blogspot.com.br/2018/02/arquitetura-projetos-de-hans-broos-
rio.html>. Acesso em 26/02/2018. 
 
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A gestão do sistema alternativo de climatização da Reserva 
Técnica Curt Nimuendajú do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG): 
Relevância para a conservação de coleções 
Christiane Sofhia Godinho Santos¹, Luiz Antônio da Cruz Souza2, Willide Barros Gonçalves3,* 
1Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, Belo Horizonte, Brasil (BRA) 
2Laboratório de Ciência da Conservação - LACICOR, Belo Horizonte, Brasil (BRA) 
3 Laboratório de Ciência da Conservação - LACICOR, Belo Horizonte, Brasil (BRA) 
*christianegsantos@gmail.com
Palavras-chave: Reserva Técnica Curt Nimuendajú; Gestão de acervos; Conservação; Coleções 
Etnográficas; Sistema de Climatização. 
1. Introdução
A Reserva Técnica de Etnografia (RT) do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) teve seu início 
associado aos princípios de criação da própria instituição, no ano de 1867 através do recolhimento 
de objetos do interior do estado (BENCHIMOL, 2009), passou então o acervo etnográfico do 
MPEG por diferentes ambientes e armazenamentos desde o acumulo das primeiras peças ao que 
hoje compõem a reserva técnica (ARNAUD, 1981; BENCHIMOL, 2009; BENCHIMOL, 
PINHEIRO, 2010; OLIVEIRA, FURTADO, 1995; VELTHEM et. al., 2004). 
A atual RT, chamada pelo nome do pesquisador que contribuiu as suas coleções, Curt Nimuendajú, 
contabiliza mais de 14.000 peças tombadas, catalogadas de mais de 150 povos indígenas da 
Amazônia brasileira e peruana num total de 110 coleções com exemplares de diferentes categorias 
artesanais como: cerâmicas, trançados, adornos plumários, armas e objetos ritualísticos, cordões e 
tecidos, etc. (BENCHIMOL, 2015; MPEG, s/d; OLIVEIRA, FURTADO, 1995; VICENTE, 2016). 
Após as mudanças de ambientes de armazenamento ao longo de séculos, atualmente o acervo do 
MPEG encontra-se armazenado no Campus de Pesquisa do Museu Goeldi, na região periférica da 
cidade de Belém do Pará, em uma área construída especificamente para abrigar tais peças. A atual 
Reserva Técnica foi construída em 1995, contudo, entre 2001 e 2003 após análises de especialistas 
o edifício foi submetido a mudanças estruturais que permitiram a inclusão de armários de metal
deslizantes (onde se encontra quase todo o acervo) e um sistema de climatização para controle 
ambiental (BENCHIMOL, 2009; MAEKAWA, 2007; MAEKAWA, TOLEDO, 2010; MAEKAWA 
et. al., 2015; VELTHEM et. al., 2004). 
O Museu Goeldi, como uma das maiores instituições de história natural do país, têm no seu acervo 
etnográfico uma importante fonte de estudo principalmente para as ciências humanas, sendo 
relevante então conhecer todos os fatores que podem vir a causar danos ao processo natural de 
degradação dos acervos.	Considerando as especificidades climáticas de tal região – altos índices de 
Umidade Relativa (UR) e Temperatura (T) boa parte do ano - e as questões de sustentabilidade e 
gerenciamento ambiental, o The Getty Conservation Institute (GCI)1 estabeleceu no Brasil e em 
outros países, após testes e projetos anteriores, o Alternative Climate Controls for Historic 
Buildings (2003-2010) que previa desenvolver sistemas alternativos de climatização que 
permitissem uma intervenção mínima nas edificação e proporcionassem uma diminuição de custos 
com sistemas mais robustos e tecnologicamente mais simples (MAEKAWA, VALENTIN, 2003). 
Considerando que a maior preocupação dos responsáveis pelo acervo e o GCI era a proliferação de 
micro-organismos, o sistema implantado no interior da RT previu manter baixos índices de UR 
1	O	Instituto	Getty	de	Conservação	é	uma	instituição	privada	que	trabalha	internacionalmente	promovendo	
práticas	de	conservação	através	de	pesquisa	científica,	educação,	treinamento,	projetos	de	campo	e	divulgação	
de	suas	pesquisas.	(http://www.getty.edu/conservation/about/overview.html)			
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através do uso de ventilação e desumidificação (MAEKAWA, 2007; MAEKAWA, TOLEDO, 
2010; MAEKAWA et. al., 2015). 
O sistema de climatização da RT consiste em dois ventiladores localizados na área externa do 
edifício que insuflam o ar filtrado (a partir de filtros de partículas com categorização G3, 
equivalente MERV 5) dentro do ambiente através de dois dutos centrais no teto (MAEKAWA et. 
al., 2015). Depois de espalhar através do ambiente o ar é puxado através de dois outros dutos 
posicionados nas paredes laterais que são conectados com os exaustores na área externa (Fig. 1), 
sendo que a umidade relativa também pode ser regulada com a ajuda de quatro desumidificadores 
(MAEKAWA, 2007; MAEKAWA, TOLEDO, 2010; MAEKAWA, et al., 2015). 
 
	
Figura	 1	 -	 Instalações	 do	 sistema	 de	 climatização	 da	 Reserva	 Técnica	 Curt	 Nimuendajú.	 A)	 Desumidificador	 e	
exaustor.	 B)	 Dutos	 de	 ventilação	 no	 teto;	 C)	 Painel	 elétrico	 exclusivo	 do	 sistema	 de	 climatização;	 D)	 e	 E)	
desumidificadores;	F)	Visor	do	sistema	que	mostra	os	dados	internos	e	externos	de	UR	medidos.	Fonte:	Christiane	
Santos.	
Porém, transcorridos mais de 10 anos da implantação do projeto de climatização pelo GCI, não 
houve um registro histórico contínuo do comportamento do sistema que possibilitasse a 
compreensão de todos os impactos microclimáticos ocorridos no acervo desde 2003 e da gestão 
coordenada pelos curadores do acervo do equipamento em si. 
As produções voltadas aos processos de gestão em museus, principalmente relacionados a geração 
de documentos, concentram-se nos acervos diretamente, a gestão das práticas administrativas 
ligadas ao acervo permitem que o museu “tenha domínio de seu acervo, de suas técnicas, das 
atividades institucionais, entre outros” (PADILHA, 2014, p. 23), de acordo com Ladkin (2004) 
 
“A gestão do acervo é o termo aplicado aos vários métodos legais, éticos, técnicos e 
práticos pelos quais as colecções do museu são formadas, organizadas, recolhidas, 
interpretadas e preservadas. A gestão do acervo foca-se na preservação das colecções, 
preocupando-se pelo seu bem-estar físico e segurança, a longo prazo. Preocupa-se com a 
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preservação e a utilização do acervo, e registo de dados, e em que medida o acervo apoia a 
missão e propósito do museu” (LADKIN, 2004, p. 17) 
 
Visto isso, foi relevante neste trabalho responder a uma questão fundamental, como funcionou a 
gestão do Sistema Alternativo de Climatização implatado pelo The Getty Conservation Institute na 
Reserva Técnica Curt Nimuendajú ao longo de 14 anos desde a sua construção? 
 
2. Metodologia	
A pesquisa realizada foi qualitativa, de caráter documental, bibliográfico e descritivo, para tal, 
foram realizados levantamentos de referencial bibliográfico que incluiu livros, artigos, periódicos, 
revistas, publicações em eventos, produção acadêmica, atas de reuniões, relatórios de 
monitoramento climático atuais e antigos, relatórios de gestão, documentos institucionais como 
editais, políticas de uso das coleções e de dados referente as mesmas, disponibilizados no site do 
MPEG e pela curadoria, planos de direção desde 2006, planos de logística, regimento da instituição, 
relatórios de gestão desde 2002, termos de compromisso de gestão, além de relatórios de avaliação 
anual. Tais documentos possibilitaram compreender o funcionamento da instituição e o percurso 
histórico da gestão da mesma. 
Para traçar o ciclo do funcionamento do Sistema Alternativo de Climatização, além da literatura, foi 
realizado o levantamento dos relatórios de registro de umidade relativa e temperatura no período da 
instalação e monitoramento do sistema pelo The Getty Conservation Institute (GCI). A 
fundamentação teórica sobre como foi elaborado o Sistema Alternaivo de climatização e suas 
propostas para a Reserva Técnica Curt Nimuendajú foi embasado em publicações principalmente de 
Maekawa e Toledo (2002); Maekawa e Valentin (2003); Maekawa e Beltran (2004); Maekawa 
(2007); Maekawa e Toledo (2010); Maekawa et. al. (2015), mas também foram considerados os 
relatórios de gestão de 2002/2003/2004 disponibilizados no site do MPEG, Velthem et. al. (2004)e 
Benchimol (2015). 
 
3. Resultados e discussão 
A partir da analise da documentação disponibilizada pela curadoria do MPEG, os artigos publicados 
principalmente pelo The Getty Conservation Institute, o diálogo com os atuais funcionários da RT e 
o processo de trabalho direto executado entre 2016 e 2018 dada a realização da pesquisa de 
mestrado “ Histórico e Avaliação Crítica do Sistema de Climatização da Reserva Técnica Curt 
Nimuendajú no Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG)”, observamos que houve uma inadequação 
no processo de gestão do Sistema Alternativo de Climatização, pelos seguintes fatores: 
(i) Não houve um acompanhamento continuo do funcionamento dos equipamentos, o que 
inviabilizou determinar mudanças do ambiente climático propostas inicialmente pelo 
GCI em 2003, sendo relevante a inclusão de um livro de ocorrências para observar o 
andamento do sistema; 
(ii) No corpo de funcionários da RT não há alguém com formação especifica em 
conservação que possa realizar a leitura crítica dos dados de UR e T que atualmente são 
coletados no ambiente de armazenamento e os que estão salvaguardados com a curadoria 
do acervo; 
(iii) Não foi estabelecido pelo GCI nem pelo MPEG um protocolo de gestão do sistema que 
permitisse o constante acesso as informações acerca do funcionamento dos 
equipamentos, ficando o conhecimento limitado aqueles que estavam presentes e 
acompanharam o processo de instalação e gestão de 2003 a 2008; 
(iv) A gestão de pessoal desconsiderou que dentro da instituição MPEG há rotatividade de 
profissionais, sendo assim, nem todos os funcionários que acompanharam a execução do 
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projeto ainda permanecem trabalhando na RT e nem todos que hoje trabalham nela 
acompanham diretamente a atuação do sistema; 
(v) Houve a quebra do dialogo entre o GCI e o MPEG após o fim da implantação do projeto 
e com a perda de Shin Maekawa (executor do projeto) e a consultora Franciza Toledo, 
gerou-se um desconhecimento sobre algumas particularidades do sistema; 
(vi) A curadoria da Reserva Técnica não tem salvaguardados os dados que foram gerados 
pelo Instituto Getty sobre o sistema de 2003 a 2008, o que acaba limitando os 
funcionários as informações divulgadas em publicações pelo GCI, ao dialogo com 
aqueles que estavam presentes durante a instalação e os documentos que são 
salvaguardados pela curadoria do período de 2003 a 2008, principalmente relatórios e 
anotações manuais. 
		 	
A falta de acesso a informação e mesmo a produção de documentação ligadas a gestão do sistema 
dificulta a compreensão das mudanças que afetam direta e indiretamente a conservação do acervo 
depositado no MPEG, sendo fundamental ao compreender o papel da instituição museal “repensar 
práticas, rever ações, debater, questionar, mobilizar” (FRANCISCO, MORIGI, 2013). Ligado a 
gestão do Sistema Alternativo de Climatização da RT do Museu Goeldi, a pesquisa conjectura a 
continuação de estudos deste microclima, com: 
(i) Estabelecimento da gestão da documentação da instituição assimilando o registro dos 
processos e protocolos de gestão relacionados tanto a materialidade do acervo como o 
funcionamento da RT, como aponta Froner (2008); 
(ii) Tratamento dos dados disponíveis nos gráficos de termohigrógrafo guardados pela 
curadoria dos anos 2006, 2007 e 2008; 
(iii) Manter monitoramento contínuo do funcionamento do sistema alternativo de 
climatização, com acompanhamento dos equipamentos e leitura crítica dos dados 
coletados com a inclusão na equipe de trabalho de um profissional com formação 
específica; 
 
4. Conclusões 
Observando todos os levantamentos realizados durante este trabalho a respeito do Sistema 
Alternativo de Climatização implantado na Reserva Técnica Curt Nimuendajú do Museu Paraense 
Emílio Goeldi em Belém do Pará pelo The Getty Conservation Institute desde 2003, podemos 
inferir que tecnicamente o sistema implantado realiza aquilo que seu proponente previu, porém, a 
gestão dos equipamentos e do pessoal tem apresentado falhas. A elaboração de mais registros dos 
processos técnicos efetivados na RT é fundamental, um protocolo de gestão do sistema no momento 
da instalação do mesmo que ensinasse como gerir o mesmo teria sido fundamental para reduzir o 
risco de problemas vinculados ao funcionamento do sistema, estabelecendo medidas preventivas em 
caso de falhas nos componentes. 
Observamos a importância do levantamento histórico e análise crítica do sistema de climatização da 
RT para a conservação de seu acervo, e para além dos objetos, a compreensão de todos os 
elementos construtivos e ambientais aos quais os mesmos estão expostos. Mais adiante, perceber 
que não basta registrar as características ambientais de um determinado local de salvaguarda, é 
necessário realizar a leitura crítica dos resultados coletados para determinar que influencia estes 
terão na permanência do acervo a longo prazo. 
É fundamental que haja o acompanhamento de um conservador-restaurador na instituição e o 
constante estudo e aprimoramento do pessoal considerando as práticas de Conservação Preventiva, 
que ainda é uma metodologia de ação recente e necessita ser constantemente revisada de forma a 
alcançar as especificidades de cada acervo e do ambiente que o rodeia. A partir da construção deste 
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histórico e da leitura crítica, é importante dar continuidade ao estudo do comportamento dos objetos 
para determinar a viabilidade deste sistema de climatização a longo prazo. 
Agradecimentos 
O presente trabalho foi realizado com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal 
de Nivel Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001. Os autores agradecem ao 
CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico pelo apoio a projeto de 
pesquisa que investigou metodologia utilizada neste trabalho.
Referências 
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148, 1981. 
BENCHIMOL, A. Informação e objeto etnográfico: percurso interdisciplinar no Museu Paraense 
Emílio Goeldi. 2009. [Mestrado]Niterói: Universidade Federal Fluminense e Instituto Brasileiro de 
Informação em Ciência e Tecnologia, 2009. 126 p. 
BENCHIMOL, A. A musealização da coleção etnográfica do Museu Paraense Emílio Goeldi. 
Museologia e Transdisciplinaridade, v. IV, n. 8, p. 50–70, 2015. 
BENCHIMOL, A.; PINHEIRO, L. V. R. Nimuendajú: do “coração verde” da Alemanha às matas 
verdes do Brasil. XI Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação - Inovação e inclusão 
social: questões contemporâneas da informação. Anais...Rio de Janeiro: 2010 
BRASIL. Museu Paraense Emílio Goeldi. Relatório 
FRANCISCO, J. C. B; MORIGI, V. J. Uma reflexão sobre gestão sustentável de museus e o ensino da 
Museologia no século XXI. In: XXV Congresso Brasileiro de Biblioteconomia, Documentação e 
Ciência da Informação, 2013, Florianópolis, SC. XXV CBBD. Florianópolis, SC: Federação brasileira 
de Associações de ibliotecários, Cientistas de Informação e Instituições, 2013. v. 1. p. 34-44. 
LADKIN, Nikola. Gestão do acervo. In: BOYLAN, Patrick J. (ed). Como Gerir um Museu: Manual 
Prático. Paris: Icom, 2004, pp. 17-32. Disponível em:< 
http://unesdoc.unesco.org/images/0018/001847/184713por.pdf>. Acesso em: 07 jun. 2016. 
MAEKAWA, S.; BELTRAN, V. Controls for Historic. The GCI Newsletter Conservation, v. 19, n. 1, 
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Historic Buildings in Hot and Humid Regions. 13th triennial meeting of ICOM-CC. Anais...2002 
MAEKAWA, S.; VALENTIN, N. Use of Controlled Ventilation and Heating for Preservation of 
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MAEKAWA, S. Estratégias Alternativas de Controle Climático para instituições cultirais em regiões 
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Ortofoto como instrumento para diagnóstico e mapeamento de danos de painéis 
azulejares: o caso da Igreja de Nossa Senhora da Vitória em Salvador (BA) 
Larissa Corrêa Acatauassú Nunes Santos1, Mário Mendonça de Oliveira2* 
1Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Arquitetura, Salvador (BA) 
2Núcleo de Tecnologia da Preservação e da Restauração, Escola Politécnica, UFBA/PPGAU, Salvador (BA) 
*lacatauassu@gmail.com 
 
Palavras-chave: Ortofotos; Fotogrametria Digital; Azulejos; Levantamento Cadastral; Diagnóstico. 
 
1. Introdução	
Este trabalho tem como finalidade demonstrar como a utilização de ortofotos digitais podem 
auxiliar na análise do estado de conservação e do mapeamento de danos dos painéis de azulejos da 
Igreja de Nossa Senhora da Vitória, situada em Salvador – BA, onde existem lápides da antiga 
igreja, como aquela da neta de Caramuru, tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e 
Artístico Nacional – IPHAN. Os painéis de azulejos policromos datam século XIX e estão 
assentados na Capela-Mor até a altura aproximada de 2,80 metros no presbitério e de 1,90 metros 
no Altar-Mor, enfatizado por um supedâneo trabalhado em calcário lioz e outras pedras 
ornamentais. Os azulejos foram atribuídos à Francisco de Paula e Oliveira e confeccionado na 
Fábrica do Rato, em Portugal. 
O diagnóstico elaborado, após o mapeamento de danos e análise dos resultados, baseou-se em 
estudos científicos, atendendo a Nota Técnica nº 03/2010, do IPHAN/BAHIA, que orienta quanto à 
elaboração de projetos de intervenções físicas sobre o patrimônio azulejar. Segundo essa norma, as 
intervenções restaurativas sobre o patrimônio azulejar devem ser precedidas de cinco etapas, entre 
elas do “mapeamento gráfico de danos, preferencialmente realizados através de levantamento 
fotogramétrico (ortofoto), com registro detalhado do estado de conservação das peças (perdas, 
fraturas, desprendimentos e outros)” (BAHIA, 2010). Tal nota foi inspirada nos estudos do NTPR. 
Essa Nota Técnica, redigida pelo IPHAN/BAHIA, fundamentou-se na eficiência da metodologia 
desenvolvida e empregada na elaboração de projetos de restauração de painéis de azulejos 
utilizando como base os recursos da fotogrametria digital, coordenados pelo professor Mário 
Mendonça de Oliveira. Essa metodologia foi pioneiramente utilizada na Matriz de Nossa Senhora 
do Rosário, na cidade de Cachoeira (BA), tombada IPHAN, e posteriormente aplicada na Igreja da 
Misericórdia, em Salvador (BA), inserida na área delimitada pelo “Centro Histórico de Salvador”. 
Sabe-se que na elaboração de um bom projeto de restauro, a fase de levantamento cadastral e 
documental, do bem de valor cultural, deve ser executada com rigor. Musso (2006) destaca que 
cada projeto nasce do conhecimento do seu objeto e daquilo que se pretende conservar, juntamente 
com o material e com os valores atribuídos a eles e deve, antes de tudo, saber reconhecer, 
inventariar e difundir os dados relacionados à sua consistência e às condições atuais. 
Podemos considerar o cadastro como a etapa primordial de reconhecimento do objeto de estudo, 
responsável por fornecer os subsídios necessários para a elaboração do diagnóstico e do projeto de 
restauração, bem como assegurar a memória do estado do objeto antes do restauro. De acordo com 
Le Goff (1996) “a memória, onde nasce a história, que por sua vez a alimenta, procura salvar o 
passado para servir o presente e o futuro”, sendo assim, a representação cadastral torna-se 
instrumento importante para a preservação da memória individual ou coletiva (OLIVEIRA, 2008). 
No caso dos acervos azulejares, que por princípio são considerados como obra de arte (BAHIA, 
2010), compostos por diversas peças dispostas ordenadamente para formarem elementos 
figurativos, o rigor na etapa de levantamento aumenta, considerando a necessidade de registrar e 
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referenciar cada azulejo isoladamente, mapeando sua localização exata e seu estado de conservação 
antes da intervenção. 
2. Metodologia	
O diagnóstico foi elaborado a partir do levantamento cadastral fotogramétrico realizado utilizando, 
simultaneamente, medições diretas de pontos de referência pré-estabelecidos e imagens digitais 
retificadas, a qual prevê a transformação de uma imagem em perspectiva em imagem 
ortogonalizada, correspondente a uma projeção ortogonal (MUSSO; GARELLO, 2006), que são 
geometricamente confiáveis. Estas ortofotos foram inseridas no arquivo CAD (Computer Aided 
Design), correspondente às vistas lateral direita (Figura 1) e esquerdas da capela mor (Figura 2) e 
do arco cruzeiro que resultaram na representação fidedigna do painel de azulejo em meio digital e 
em plantas impressas. 
 
Figura 1: Levantamento cadastral fotogramétrico do painel de azulejos da Igreja de Nossa Senhora 
da Vitória, localizado na lateral direita da capela-mor. 
 
Figura 2: Levantamento cadastral fotogramétrico do painel de azulejos da Igreja de Nossa Senhora 
da Vitória, localizado na lateral esquerda da Capela-Mor. 
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O mapeamento de danos foi elaborado utilizando, como base, o levantamento cadastral 
fotogramétrico. A identificação dos danos foi efetivada no local e registrada no levantamento 
impresso, que foi posteriormente desenhado no programa CAD, sobre a imagem retificada do painel 
em tons de cinza, para destacar, com cores distintas, os danos observados. 
A aderência dos azulejos ao substrato foi analisada, ao longo de toda a extensão do painel, 
utilizando-se martelo de fibra e, durante as visitas, amostras de argamassa foram coletadas para 
ensaios laboratoriais de modo a fundamentar cientificamente a intervençãoproposta. A retirada de 
amostra privilegiou as camadas mais profundas, evitando rebocos superficiais, que muitas vezes 
haviam sido substituídos por cimento. 
A existência de lacuna no painel, resultante da ausência de dois azulejos, possibilitou a retirada da 
amostra P1, coletada a 0,53 m do piso do supedâneo e correspondente à argamassa de assentamento 
do elemento cerâmico. Duas outras amostras foram coletadas nas paredes laterais da capela-mor 
que, diante da impossibilidade de retirá-las pela face onde estão assentados os azulejos, foram 
obtidas na sua face oposta, pelos ambientes da Sacristia (amostra S1) e Museu (amostra M1), a 1 m 
do piso. 
O ensaio simples de argamassa, realizado no Núcleo de Tecnologia da Preservação e da 
Restauração – NTPR, identificou o traço provável da argamassa de assentamento baseando-se na 
determinação da proporção dos componentes da argamassa de cal: o ligante transformado em 
carbonato, os finos (argila e/ou silte) e os grossos (areia). 
 
3. Resultados e discussão 
A análise do mapeamento de danos (Figura 3 e 4) indicou a ausência de grandes extensões de 
danos, sugerindo apenas a necessidade de intervenções pontuais. Os principais danos observados 
foram representados na ortofoto com hachuras e cores diferentes e no mapeamento foram 
identificados: restauros anteriores marcados pelo preenchimento inadequado de lacunas e perdas 
superficiais de fragmentos de vidrado (vermelho); lacuna de profundidade que atingem o vidrado e 
o biscoito (laranja); ausência de azulejos (Roxo); fraturas superficiais e profundas (verde claro); 
sujidades observadas em locais pontuais ao longo de toda a extensão do painel, em especial nas suas 
extremidades (amarelo); azulejos que não pertencem ao conjunto (magenta); oxidação de elementos 
metálicos incrustados na alvenaria (azul); azulejos em desprendimento (lilás); pintura mimética 
sobre argamassa na parede do arco cruzeiro que mantém a legibilidade do conjunto azulejar (ciano); 
furos (verde) e vestígios de tinta branca, tipo látex PVA (marrom). 
 
Figura 3: Levantamento cadastral fotogramétrico do painel de azulejos da Igreja de Nossa Senhora 
da Vitória, localizado na lateral direita da capela-mor, com indicações das alterações. 
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Figura 4: Levantamento cadastral fotogramétrico do painel de azulejos da Igreja de Nossa Senhora 
da Vitória, localizado na lateral esquerda da capela-mor, com indicações das alterações. 
Os ensaios realizados na argamassa de assentamento (amostra P1), responsável pela fixação das 
peças cerâmicas no muro, permitiu identificar o teor de umidade, o traço, a granulometria e os sais 
solúveis presentes na porosidade do material. No caso das amostras S1 e M1, como não 
correspondiam à face onde estavam assentados os azulejos, optou-se pela realização apenas do 
ensaio de sais solúveis. 
No estudo realizado, o teste qualitativo de sais solúveis (Tabela 1) indicou grande quantidade de 
nitratos e cloretos, em todas as amostras, diferenciando-se com relação à presença de sulfatos, que 
se mostrou pequena, na amostra P1, retirada do painel de azulejo, média na S2 (sacristia) e grande 
na M1 (Museu). 
Tabela 1 - Resultado dos testes qualitativos de sais solúveis. 
Amostras Nitrato Cloreto Sulfato 
P1 +++ +++ + 
S2 +++ +++ ++ 
M1 +++ +++ +++ 
Legenda: - = ausência; + = pequena quantidade; ++ = média quantidade; +++ = grande quantidade 
 
A presença destes sais solúveis na argamassa causa tensões de cristalização e eflorescência que 
pode degradar os azulejos. Neste caso, os sais identificados, possivelmente, são originários da 
utilização de material construtivo contaminado, principalmente a areia. O baixo percentual de 
umidade (1,13%) registrado na argamassa de assentamento do painel nos dá certa tranquilidade, 
porque indica que não está ocorrendo movimentação desses sais e consequentes eflorescências, que 
justificassem, naquele momento, a remoção dos azulejos. Entretanto, como foi identificada a pouca 
aderência de grande parte das peças azulejares no substrato da parede, a Superintendência do 
IPHAN optou pela remoção do painel para que o mesmo fosse fixado em placas de fibrocimento, 
segundo técnica desenvolvida pelo NTPR, para evitar que, na eventual infiltração de água, os 
azulejos pudessem ser danificados, devido a presença de sais solúveis identificados nas amostras. 
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A argamassa de assentamento dos azulejos é provavelmente composta de cal e areia, com reduzida 
quantidade de solo (possivelmente impureza da areia), dedutível em função do pequeno percentual 
de finos e pela coloração gray do material obtida pela tabela de Munsell (Tabela 2). 
Tabela 2 - Traço provável 
Amostra Ligante (%) Finos (%) Areia (%) 
P1 1,00 0,04 0,75 
 
4. Conclusões 
A elaboração do projeto de restauração de azulejos utilizando os recursos da fotogrametria digital 
como base, possibilita o registro fidedigno dos painéis tornando-se em importante documento do 
momento anterior à intervenção. Ortofotos em alta resolução, quando inseridas em programas CAD 
podem ser impressas em escala conhecidas e com dimensões suficientes que permitam serem 
impressas em grande formato, sem perda de qualidade, podem ser utilizadas como cadastro 
documental, além auxiliar no mapeamento de danos do painel, pois torna mais rápido a 
identificação do dano no conjunto do mesmo. É importante também considerar a facilidade em 
mapear os danos em plantas digitalizadas possibilitando ainda a quantificação destes para 
elaboração do orçamento. 
Esse mapeamento de danos, identificado e registrado com precisão, fornecem subsídios importantes 
para a elaboração do diagnóstico, fundamentado em dados científicos fornecidos pelos ensaios 
laboratoriais, que caracterizam o material das peças de azulejos e identificam o seu estado de 
conservação, bem como do seu suporte, que deverá fundamentar a proposta de restauração do 
acervo azulejar. 
 
Referências 
BAHIA. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN. Nota Técnica Nº 
03/2010. Salvador, 2010. 
GROETELAARS, Natalie Johanna. Um estudo da fotogrametria digital na documentação de 
formas arquitetônicas e urbanas. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo), Faculdade 
de Arquitetura, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2004. 
LE GOFF, Jacques. História e memória. Trad. Bernardo Leitão [et al.]. 4. ed. Campinas: Ed. da 
UNICAMP, 1996. (Coleção Repertórios). 
MUSSO, Stefano F. Introduzione. In: MUSSO, Stefano F. Recupero e restauro degli edifici storici: 
Guida pratica al rilievo e alla diagnostica. II Edizione. Roma: EPC Libri, 2006, p. 23-68. 
MUSSO, Stefano F.; GARELLO, Gabriella. Concetti e nozioni di base: cosa occorre sapere. In: 
MUSSO, Stefano F. Recupero e restauro degli edifici storici: Guida pratica al rilievo e alla 
diagnostica. II Edizione. Roma: EPC Libri, 2006, p. 87-112. 
OLIVEIRA, Mário Mendonça de. A documentação como ferramenta de preservação da 
memória: cadastro, fotografia, fotogrametria e arqueologia. Brasília, DF: IPHAN / Programa 
Monumenta, 2008. (Cadernos Técnicos; 7). 
SANTOS, Larissa Corrêa Acatauassú Nunes; OLIVEIRA, Mário Mendonça de. Ortofotos dos 
Painéis de Azulejo da Matriz de Nossa Senhora do Rosário, em Cachoeira, e da Igreja da 
Misericórdia, em Salvador In: Seminário Nacional Documentação do Patrimônio Arquitetônico 
com o Uso de Tecnologias Digitais - ARQ.DOC, 2010, salvador. Anais.... Salvador: FAUFBA, 
2010.	
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Limpeza em cantaria de lioz, realizada na fachada da Basílica Santuário da 
Conceição da Praia, em Salvador/BA.Angélica Schianta1*, Janainna Araújo2, Letícia Estrela3, 
1Universidade Federal da Bahia, Salvador, Bahia (BRA) 
2Universidade Federal da Bahia, Salvador, Bahia (BRA) 
3Universidade Federal da Bahia, Salvador, Bahia (BRA) 
*aschianta@gmail.com 
 (autora apresentadora) 
 
Palavras-chave: Cantaria em Lioz; Ciência da Cnservação; Patrimônio; Limpeza; Manchas. 
 
1. Introdução 
Monumento que se entrelaça com a história da fundação da cidade de Salvador/BA, 
localizado na parte baixa da escarpa, na interseção da ligação entre a cidade alta e a cidade 
baixa, sendo, portanto uma das primeiras edificações levantada, em 1549, por Tomé de 
Souza, juntamente com a implantação planejada da pequena cidade murada. Já designada em 
1623, por Matriz da Nova Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Praia, quando em 
1736, as Irmandades do Santíssimo Sacramento e da Imaculada Conceição da Praia 
empreenderam a construção de uma nova edificação. Idealizada pelo Cel. Engº Manoel 
Cardoso de Saldanha, o projeto, é iniciado em Portugal, em cantaria de Lioz. As obras da 
nova igreja foram finalizadas em 1849, apesar de o seu início ter sido em 1765. 
 
 
 Figura 1 – Fachada principal da Basílica. 
 Fonte: Angélica Schianta, 2018. 
 
Sua arquitetura traz o estilo do Alentejo, região do centro-sul de Portugal. Caracterizando-se 
pelo seu partido em três corpos, entremeados por corredores longitudinais. A nave é oitavada, 
possui capelas laterais e tribunas sobrepostas. A fachada exibe o estilo neoclássico, (vide 
figura 1), cujas torres estão implantadas diagonalmente, sua monumentalidade é 
incontestável. A talha de seu interior é o Barroco de D. João VI, no Brasil, e destacamos a 
pintura ilusionista barroca, de influência italiana, que orna o teto da nave, sendo autoria e 
execução de José Joaquim da Rocha. 
Importante bem tombado individualmente pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico 
Nacional – IPHAN, registrado no livro de Belas Artes, Inscrição nº126, em 17/06/1938, já 
contava há mais de cinco décadas, sem qualquer intervenção, mesmo que superficial, de 
101
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limpeza em sua fachada em cantaria de Lioz (um tipo raro de calcário), pois se acumularam 
em sua superfície: biofilmes; manchas de ferrugem e de água; poluição atmosférica; aerossóis 
marítimo; e briófitas; 
Convidado pela Irmandade do Santíssimo Sacramento e Nossa Senhora da Conceição da 
Praia, e apoiada pelo Governo do Estado da Bahia, para promover essa intervenção, o Núcleo 
de Tecnologia da Preservação e da Restauração – NTPR, coordenado pelo Professor Mário 
Mendonça de Oliveira, compôs um projeto de limpeza para as fachadas e os elementos 
arquitetônicos, - todos em calcário de Lioz, inicialmente, para a remoção de sujidades, 
excrementos de insetos e aves, resíduos de argamassas e de respingos de pinturas, e posterior 
limpeza em profundidade. Visto que, trata-se de grande responsabilidade a limpeza do 
revestimento lítico desta importante basílica, título, aliás, concedido pela bula papal, que 
também reúne papel de destaque no aspecto imaterial de suas celebrações religiosas, sendo 
Nossa Senhora da Conceição da Praia, a padroeira do Estado da Bahia. 
 
2. Metodologia 
A proposta de intervenção preliminar é uma medida conservativa que visa minimizar os danos 
derivados da poluição, por ações climáticas, de sujidades e vegetação existentes na fachada da 
edificação. 
A primeira ação é a remoção da vegetação, se de pequeno porte, com ferramentas de 
jardinagem. Se de grande porte, - herbicida para exterminar o arbusto, pois assim evita-se a 
grave ruptura do Lioz ao se remover a raiz das briófitas; matéria orgânica, resíduos de obra e 
excrementos de pássaros deve-se remover cuidadosamente com uma espátula. Recomenda-se 
a aplicação de uma solução a 2% de Sulfato Cúprico diluído em água para prevenir novo 
ataque de microrganismos. 
Na sequência fez-se a limpeza com água e sabão neutro, esfregados com uma escova macia 
de nylon, sendo a intervenção minimamente invasiva, realizada pela empresa licitada através 
do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural – IPAC, pois assim, evitam-se perdas ou 
desgastes à superfície lítica. Água com pouca pressão, - nebulizada, aditivada com 5% de 
amoníaco, na sequência enxaguar abundantemente para eliminar vestígios da solução à base 
de amoníaco. 
Para a limpeza superficial está vetada terminantemente o uso de abrasivos ou ácidos, 
notadamente Ácido Muriático, em razão dos graves danos que esses produtos podem causar à 
pedra de Lioz. 
Contudo, tendo-se removido, mesmo que parcialmente algumas manchas decorrentes do 
biofilme. Obviamente que o resultado não atendeu às fiscalizações do IPAC, do IPHAN, e à 
Irmandade, tanto quanto à existência de manchas de ferrugem decorrentes da oxidação das 
grades e dos pinos em ferro, tão sumariamente afetados, em razão do clima costeiro de 
Salvador. 
A larga experiência do NTPR já superou que lavagens, simplesmente, não suprimem esses 
problemas convenientemente, fazendo-se necessário elaborar métodos pragmáticos e 
específicos para a remoção de manchas. Sendo importante citar que a limpeza de um 
monumento ou um bem móvel protegido, não é e nem será para deixá-lo novo, já que a 
antiguidade que se dá ao bem é a sua pátina, não sendo tolerada a sua remoção total. 
Obviamente, poderia-se propor a limpeza, em suas zonas necessitadas, por microjateamento 
monitorado (air blasting), sendo o seu abrasivo, a alumina micronizada ou a microesfera de 
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vidro. Contudo trata-se de processo oneroso, a sua substituição foi sugerida para emplastros 
de limpeza e absorção. A formulação Mora, do Istituto Centrale del Restauro, de Roma, 
Italia, inspirou o Núcleo de Tecnologia, o NTPR, adaptando a sua composição à nossa 
conjuntura nacional, trocando-se carboxmetilcelulose por bentonita, que tem grande potencial 
de absorção e de troca catiônica abrangente, potencializando a limpeza, do mesmo modo que 
os elementos químicos da fórmula original. Essa, portanto, foi a recomendação técnica 
passada pelo Professor Mário Mendonça para a remoção das maculas. 
Quanto à previsão do quantitativo necessário para a elaboração da pasta, elaborou-se o mapa 
de danos, (vide figura 2), que representa graficamente as áreas pigmentadas, para então 
calcular-se a área em m², com os respectivos totais manchados. 
														
																			 
 Figura 2 – Mapa de danos. 
 Fonte: NTPR, 2018. 
 
Os testes de aplicação do emplastro foram realizados sobre diversos tipos de manchas, (vide 
figuras 3 a 6). As tais camadas espessas sobre superfícies lavadas, livres de qualquer tipo de 
engorduramento, os espaços foram delimitados com fita crepe, aplicados com uma espátula, 
foram cobertos com plástico para que a sua evaporação fosse lenta e, consequentemente a 
absorção prolongada e potencializada dos sinais. O tempo de ação do produto sobre a cantaria 
para a remoção das manchas foi de no mínimo de 24 horas. 
 
 
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 Figuras 3, 4, 5 e 6 – Durante e após a aplicação do emplastro na cantaria de Lioz. 
 Fonte: Angélica Schianta, 2018. 
 
A composição da fórmula do emplastro é de: Bicarbonato de Sódio (NaHCO3); Àcido 
fosfórico (H3PO4) para neutralizar o pH da Bentonita; EDTA;Para toda a operação é 
imprescindível a orientação de um especialista conservador, cujo intuito é o de livra-se de 
equívocos e indesejáveis danos ao monumento ou à propriedade da limpeza que se busca. 
 
3. Resultados e discussão 
Os testes realizados demonstraram a eficiência do sistema de remoção de manchas com o uso 
de emplastros, (vide figuras 7 a 9). Em razão da obra licitada de limpeza da fachada não ter 
previsto o uso de emplastros, mas sim de limpeza através de enxagues ensaboados, 
atualmente a Irmandade está pleiteando uma nova licitação para retomar os trabalhos e 
finalizar a limpeza total das manchas. 
 
 
 Figuras 7, 8 e 9 – Antes, durante e após a aplicação do emplastro. 
 Fonte: Angélica Schianta, 2018. 
 
4. Conclusões 
Fez-se inclusive a proposição de um verniz quimicamente estabilizado de conservação, 
harmônico com o tipo de material e do sítio, que assim, almeja um caráter durável da cantaria 
isolando-a de agentes nocivos e alongando as qualidades do material lítico. 
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 Figura 10 – Fachada principal da Basílica após a lavagem. 
 Fonte: Angélica Schianta, 2018. 
Agradecimentos 
Ao Professor Mário Mendonça, Químico Allard Amaral, Juíza Marília Gabriela Dias e Alice 
Ivone Santos. 
 
Referências 
LIVROS CONSULTADOS: 
BAUER, I. A. Falcão. Materiais de Construção, volume 2. Coordenador L.A. Falcão Bauer: 
revisão Técnica João F. Dias – 5. Ed. Rio de Janeiro: LTC, 2011. 
 
LEAL, Fernando Machado. Restauração e Conservação de Monumentos brasileiros: 
subsídios para seu estudo. UFPE, Recife: 1977. 
OLIVEIRA, Mário Mendonça de. Tecnologia da Conservação e da Restauração – 
materiais e estruturas: um roteiro de estudos. 4ª ed. rev. e ampl. Salvador: 
EDUFBA/PPGAU, 2011. 
VERÇOSA, Enio José. Patologia das Edificações. Porto Alegre: Sagra, 1991. 
 
WEB SITES CONSULTADOS: 
<https://www.google.com.br/search?q=ALENTEJO&oq=ALENTEJO&aqs=chrome..69i57j6
9i60l2j0l3.3176j0j7&sourceid=chrome&ie=UTF-8> (acessado em 01/11/2018). 
<http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/401> (acessado em 01/11/2018). 
105
 
The Conservation and Restoration Methods of Industrial Heritage: 
The Case Study of the Steam Road Roller of EBA/UFMG 
 
Prof. Dr. Ronaldo André Rodrigues da Silva 
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Minas Gerais (BRASIL) 
ronaldoandre@gmai.com 
 
Prof. Dr. João Cura D’Ars de Figueiredo Júnior 
Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais (BRASIL) 
joaoc@eba.ufmg.br 
 
M.Sc. Valquíria de Oliveira Silva 
Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais (BRASIL) 
voliversilva@gmail.com 
 
Palavras-chave: Industrial heritage; Cultural heritage; Industrial archaeology; Conservation 
Science; Preventive Conservation. 
 
1. Introduction 
This proposal is a course of action for the preservation and conservation of industrial and 
cultural heritage. The object of intervention is a German Schwartzkopff road roller. The steam 
roller was built in the 1920s and was operational throughout the decades of 1940/1950 at the 
Pampulha Campus construction works of the Federal University of Minas Gerais (UFMG), 
Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil. The presentation of the industrial heritage as cultural 
asset seeks to represent the diversity and complexity of its origin. Its need for preservation arises 
linked and integrated to the conservation and restoration field, in which occurs an expanding of 
the perception and an enhancement of the understanding about the field of action, particularly 
about the industrial metallurgical heritage. The research aims to acknowledge industrial 
heritage not only as historical heritage asset, but also as cultural one; and introduce science and 
technology as identity and representativeness factors for individuals, groups and society. 
The road roller was an important road engineering equipment in the city of Belo Horizonte 
between 1950th. and 1960th. constitute an important instrument for the leveling and preparation 
of roads in the state capital on the road modernization process with the exchange of stone 
coating for asphaltic coating. A similar situation occurred in the University Campus Pampulha 
UFMG in the 50s and 60s when it constituted one of the equipment used for compacting the 
open roads for the installation of the administrative and academic units on site. The relationship 
between the study equipment and the Federal University of Minas Gerais back the 
implementation process of the Campus Pampulha, once installed in the area of Old Farm Dalva 
which was urbanized in the expansion of the capital Belo Horizonte process in the 1940th. 
The steam roller understood at the time, one of earthmoving equipment and opening of access 
routes to the Campus and interconnection routes between units. The use of the object of study 
equipment has developed over the years of Campus structure with contributions to the 
compression processes and leveling of streets and installation areas of the buildings that made 
up the university infrastructure. 
 
 
106
mailto:ronaldoandre@gmai.com
mailto:joaoc@eba.ufmg.br
2. Methodology 
A compositional technical specification of the structure of said road roller (almost entirely 
composed of iron alloy), a study of its characteristics and the identification of the main physical-
mechanical, chemical or biological agents which contribute to its degradation and deterioration 
were adopted as methodology. From such approach were defined the analyses, techniques and 
procedures to be carried out based upon micro-sample collection points. 
Technical analyses of preventive conservation (normal climatological variables), laboratory 
micro-chemical analyses (X-ray fluorescence spectroscopy and infrared vibrational 
spectroscopy) and microbiological analyses (mycology) were applied. The results confirmed 
the main deterioration and degradation factors in the object of intervention. 
The micro samples were collected from the identification of nine points of interest identified in 
the steam engine. (Figure 1a and 1b) 
 
 
Figure 1a – Points of micro samples (Left side) 
Source: Rodrigues da Silva, 2016, p. 46. 
 
Figure 1b – Points of micro samples (Right side) 
Source: Rodrigues da Silva, 2016, p. 46. 
107
 
3. Preliminary Results 
Preventive Conservation Analyses 
The normal climatological variables were considered from the models of the IPCE (Spanish 
Cultural Heritage Institute – Spain), IPCE (2011) and the CCI (Canadian Conservation Institute 
– Canada), according to the adoption Risk Model of Michalski (2011). 
The resume analyses are in the table below. (Table 1) 
Table 1 – Agents of Deterioration Diagnosis 
Source: Rodrigues da Silva, 2016, p. 77. 
Spanish 
Model 
Canadian 
Model 
Variables of Analyses - Deterioration ProcessAtmospheric 
Conditions 
 
Biological 
Conditions 
 
Luminosity 
Conditions 
 
Materials 
Conditions 
 
Sounds 
Conditions 
 
Physical 
Forces 
- Fatigue of the structure as a function of human action and environmental 
variables. 
- Fragility of the structure to the physical degradation (human action), 
chemical (corrosion processes), and biological (microorganism action). 
- Object characteristics (alloy parts subjected to external forces). 
- Sensitivity (climate and environmental variables). 
Thieve and 
Vandals 
- Culpable and intentional (human action, graffiti and vandalism). 
- Amateur and professional (lack of variability of the cultural heritage of 
the University). 
- Visitors and UFMG Community (ignorance of the historical value). 
- Various materials (disposal area of several materials). 
Fire - Purposeful (small fires around). 
- Smokers (deposit cigarette butts inside and around). 
Water - Rain (direct action for not having coverage). 
- Mechanical installations (corrosion of the structure). 
Pests - Insects, Animals (possibility of provisional nests). 
- Micro-organisms (lichens and fungi attack). 
- Environs (increased humidity due to the presence of vegetation). 
- Food (discharge area). 
Pollutants - Physical states (degradation of the metal structure). 
- Urban pollution by particulate natural (environmental condition). 
- Paints (graffiti). 
Light, 
Ultraviolet and 
Infrared 
- Visible Light Radiation, IR and UV (natural light) 
- Overhead lighting and insolation levels (lack of protection in place 
external environment). 
Incorrect 
Temperature 
- Levels; Fluctuation; Amplitude; Sunstroke (conditions imposed by the 
site) and other climate variables (microclimate). 
- Thermal property of materials (different levels of corrosion) 
Incorrect 
Relative 
Humidity 
- Levels; Fluctuation; Amplitude; 
- EMC - moisture content in equilibrium conditions 
- Ventilation and other climatic variables (microclimate). 
- Fungi (proliferation conditions) 
- Ascending humidity and infiltrations (local conditions and lack of 
protection area). 
Dissociation - Loss of information and / or associated value (loss of accessories and 
missing pieces to the equipment structure) 
- Mismanagement or inadequate protection practices, preservation, 
conservation and restoration 
- Inventory and deficient documentation. 
 
 
108
Microchemical Analyses 
A summary on the principal elements found from the analysis and techniques applied to the samples 
can be seen in Table 2 below and realized in the Conservation Science Laboratory (LACICOR) of 
the Conservation and Restoration of Cultural Goods Center (CECOR) School of Fine Arts of the 
Federal University of Minas Gerais (EBA / UFMG). The crystal structures of clays based on 
hydrated silicates of Na, K, Ca and other minerals compound the other elements were encountered 
in the microsamples, but not interfered in the corrosion process studded. Other structures have Fe 
and Mg in the composition and can replace Al and Si. (RODRIGUES DA SILVA, FIGUEIREDO 
JÚNIOR; SILVA, 2017). 
This characteristic associated to the external conditions (outdoor without protection) contribute to 
the degradation and deterioration processes. Regarding the metal in equity, encrustations whose 
composition these elements corroborate the deterioration of the metal heritage. 
Table 2 - Elements of the microsamples by X-Ray Fluorescence 
Source: Figueiredo Jr. – LACICOR Laboratory, 2015i. 
Samples Identification Elements 
1 Al, Si, Fe, Cu, Zn 
2 Blue Fe 
2 White Ca, Ba, Fe, Zn, Pb, Sr 
3 Concretion Ca, Fe, Cu, Zn 
3 Metal Fe 
4 Concretion Fe, Zn, Pb 
6 Red Fe, Zn, Pb 
7 Fe 
The material of the main structure of the machinery is formed by an aluminum alloy containing 
other alloying elements, such as Si (silicon), Fe (iron), Cu (copper) and Zn (zinc). 
Microbiological Analyses 
The identification analysis of fungal morphotypes as the species were determined from the 
verification of specific characteristics of each type. The macromorphological factors of isolated 
cultures led to the identified sample analysis. The types identification occurs for the appearance, 
color, center, border, verse and peculiarities. All analyzes were carried out at the Mycology 
Laboratory (LM) of the Institute of Biological Sciences, Federal University of Minas Gerais (ICB 
/ UFMG). The group of thirteen (13) identified species, it is noted that eight (08) are made up of 
fungi and yeasts with typology five (05) with type filamentous. Thus, from the analysis and 
monitoring of temporal changes obtained were recorded data. (Table 3). 
Table 3 – Micro-organisms – pH Variation/time 
Source: Silva & Stoianoff – Mycology Laboratory, 2016ii. 
Sample Type Day 1 Day 8 Day 14 Day 17 
5A Drechslera sp 1. 6,79 7,00 7,96 7,82 
5B Aureobasidium sp1. - 7,34 6,50 6,13 
5C Aureobasidium sp2. - 7,90 7,95 7,74 
5D Rhodotorula sp. - 7,90 7,97 8,36 
5E Drechslera sp 2. 3,51 3,31 3,34 3,33 
8A Micelia Sterila sp. 6,72 6,50 7,11 6,62 
8D Micelia Sterila sp. 4,89 4,94 5,28 5,70 
8H Verticillium sp. 6,75 7,00 6,18 4,54 
9A Levedura Branca - 5,25 6,80 6,80 
9C Cunninghamella sp. 4,4 4,38 4,25 4,05 
This characterization from the identification and properties of each fungal morphological type was 
analyzed their behavior as the pH change by the environment in which it is. To this end we carried 
out a culture test in which they observed the changes over a period of 21 (twenty-one) days. The 
results of a left pH value of the medium in which the values were between 5.6 to 5.8. 
109
For the results observed in a special way, the 5B samples, 5E, 8H and 9C that determined a bio-
corrosive action of fungi since they possess physic-chemical reaction with the medium in which 
they are which determine one interaction with the environment and trigger processes that lead to 
metal oxidation and its consequent deterioration. One of the processes that determine the link 
between acid (carbonic, nitric, acetic, and others) produced by microorganisms and metals is called 
acidolysis that can occur between microorganisms and equity in metal and stone. 
4. Conclusions 
The conservation analyses determined the development of the intervention process consists of pre-
established steps: advance fixing, cleaning and neutralization of cleaning, desalting, drying, 
corrosion inhibition and application of protective films. However, it should be considered that the 
steps were determined by the tests previously conducted which determined the main agents of 
corrosion and led to the choice of instruments and products to be used in the conservation process. 
The stages of the intervention process should be considered depending on the particular object and 
environmental conditions in which it is whose main variables are the advance fixing parts where 
conditions are unstable; cleaning processes, neutralization and drying; evaluation of fouling; 
inhibition of corrosion processes; and the application of protective films. 
A necessary observation regarding preventive conservation conditions refers to the need for a 
minimum environmental control, for example, propose a covering and a side protection to natural 
weathering due to exposure conditions. The location of the object in the external area, is subject to 
natural environmental conditions that determine significant changes in the object as the 
climatological normal, in addition to conditioning the preservation and conservation related to 
human, social, cultural and historical variables. 
Based on these results, it is sought to formulate a package of proposals for the preservation and 
conservation of the road roller. The aim is to emphasis the value of such industrial piece of 
machinery and make the existing historical relationship between the University and the city in 
question visible to the academic community and society. The preservation andconservation of said 
industrial vehicle lead to a broadening of the conception of heritage and justify its inclusion in the 
concept of cultural heritage. Such conservation reveals a concern and an understanding of industrial 
machinery from the perspective of the contribution to social memory and history, and to society’s 
cultural formation. 
References 
INSTITUTO DEL PATRIMONIO CULTURAL ESPAÑOL. Plan nacional de emergencias y gestión de riesgos 
en el patrimonio cultural. Madrid, IPCE, 2011. 
MICHALSKI, Stefan. Reference manual for the CCI-ICCROM-ICN. Risk management method, Ottawa, CCI, 
2011. 
RODRIGUES DA SILVA, Ronaldo André. A (In)Visibilidade do patrimônio industrial e cultural: Uma 
proposta de preservação e conservação. Trabalho de Conclusão de Curso. Curso de Conservação e Restauração de 
Bens Culturais Móveis, Escola de Belas Artes, Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais, 2016. 
RODRIGUES DA SILVA, Ronaldo André; FIGUEIREDO JÚNIOR, João Cura D'Ars de; SILVA, Valquíria de 
Oliveira Silva. Conservação e restauração, ciência e arte: Preservação do Patrimônio Industrial, o caso do rolo 
compactador a vapor (EBA/UFMG/BrasiL). IN: ÁLVAREZ ARECES, Miguel Ángel (ed.). Pensar y actuar sobre 
el patrimonio industrial en el territorio. Colección Los Ojos de la Memoria, n.º 19. Gijón: CICEES/INCUNA, p. 
613-624, 2017. 
i Laboratorial tests were performed in the LACICOR/UFMG under the supervision of Prof. PhD. João Cura D’Ars de 
Figueiredo Junior. (RODRIGUES DA SILVA, 2016, p. 64). 
ii Laboratorial tests were performed in the Mycology Laboratory/UFMG under the supervision of Prof. PhD. Maria Aparecida 
de Resende Stoianoff and analyses of Ms.C. Valquíria de Oliveira Silva. (RODRIGUES DA SILVA, 2016, p. 72-73). 
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Ladrilhos hidráulicos integrados ao patrimônio arquitetônico de Salvador-
Bahia-Brasil 
Maria das Graças Rodrigues da Silva1* 
1Universidade Federal da Bahia (BRASIL) 
*silva.mgr@hotmail.com 
 
Palavras-chave: Ladrilho hidráulico; Arquitetura; Caracterização. 
 
1. Introdução 
As edificações históricas que compõem o patrimônio arquitetônico tombado da cidade do Salvador 
foram produzidas por diversas técnicas construtivas tradicionais. Algumas, são amplamente 
conhecidas, mas outras, entretanto, carecem de investigações. 
Com o intuito de atender essa demanda, e resguardar o nosso patrimônio cultural, este trabalho 
pretende apresentar estudos sobre os ladrilhos hidráulicos que integram as edificações em área 
histórica soteropolitana, através de abordagem dos aspectos históricos e tecnológicos da matéria. 
Trata-se de pesquisa em desenvolvimento dentro do Núcleo de Tecnologia da Conservação e da 
restauração (NTPR), vinculado a Universidade Federal da Bahia. 
Os ladrilhos hidráulicos são peças artesanais que têm diversas características, dentre elas: 
resistência e beleza. Sua produção foi viabilizada graças a descoberta do cimento Portland como 
material de construção aglomerante, ainda no século XIX. 
Na Bahia, além de Salvador, outras cidades do Recôncavo como: Cachoeira e Santo Amaro, 
possuem esses elementos construtivos que revestem e ornamentam os espaços. Eles estão nas 
edificações de diversos períodos: desde exemplares da arquitetura Colonial, substituindo as velhas 
tijoleiras desgastadas, passando pela produção eclética e chegando até a moderna. 
Nesse contexto, encontram-se as referidas peças decoradas em diversos locais, como exemplo, é 
possível citar: Convento da Lapa e Instituto Geográfico Histórico da Bahia (IGHB), ambos no bairro de 
Nazaré, Sociedade Protetora dos Desvalidos (SPD) - Pelourinho e etc. 
 
2. Metodologia 
A limitação espacial da área de estudo corresponde a região de maior densidade histórica, 
localizada no Centro Antigo de Salvador. Nesta zona da cidade existe grande concentração desse 
material integrado às edificações de interesse cultural. 
Como delimitação temporal, a investigação compreende o período que corresponde a chegada dos 
ladrilhos hidráulicos, até o declínio de sua produção em Salvador, ou seja, parte dos séculos XIX e 
XX. Assim, espera-se registrar sua trajetória de utilização no espaço edificado de Salvador. 
Para tanto, estão sendo desenvolvidos procedimentos metodológicos agrupados em quatro etapas, 
são elas: revisão bibliográfica, pesquisa de campo, documentação e investigação laboratorial. 
A revisão bibliográfica compreende a pesquisa de publicações anteriores sobre a temática abordada, 
bem como consultas nas fontes primárias, através de arquivos da Associação Comercial da Bahia, 
Junta Comercial da Bahia e biblioteca Pública do Estado da Bahia. 
Através da pesquisa de campo, foram e serão realizadas visitas as edificações com possivel 
presença do referido material de revestimento. Em seguida, investiga-se a matéria-prima base do 
elemento construtivo. Para isso, são considerados como elementos determinantes para identificação 
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in loco: tamanho das peças, padrão da camada decorada e teste da presença de material 
carbonático. 
Para o processo de documentação, é fundamental apropriar-se dos instrumentos de medição direta 
como as réguas, a realização do registro fotográfico com câmera semiprofissional, retificação e 
vetorização das imagens através de processos fotogramétricos. 
A investigação laboratorial visa possibilitar o conhecimento sobre a espessura das camadas que 
compõem o ladrilho, principalmente a parte decorada e pigmentada que está exposta às ações do 
tempo e de uso. 
 
3. Resultados e discussão 
A análise empreendida até o momento por este trabalho possibilita afirmar que os pisos hidráulicos 
documentados possuem padrão decorativo, em sua maioria, do tipo geométrico. Esses, conforme 
Vong apud Vasconcelos (2014, p.157), são compostos por formas que podem ser construídas 
matematicamente. Como exemplo representativo da pesquisa, serão evidenciadas peças cimentícias 
que revestem e ornamentam o IGHB (Figura 1). 
 
Figura 1: Fachada principal do Instituto geográfico e histórico da Bahia. Fonte: 
http://www.ighb.org.br/single-post/2018/05/09/IGHB-comemora-124-anos-de 
funda%C3%A7%C3%A3o. Acesso em 31.11.2018 
 
Os motivos que conduziram à escolha desta edificação neste trabalho estão atrelados à sua 
relevância história, arquitetônica e pela variedade de padrões decorativos em seus ambientes 
(Figura 2). Observa-se que determinadas composições presentes na camada de decoração são 
resultantes de uma mesma fôrma e que existe somente modificação na distribuição e na alteração 
das cores. 
O edifício que abriga o nosso Instituto Geográfico e Histórico da Bahia é considerado como 
destacado representante da arquitetura eclética produzida em Salvador e possui no seu entorno 
imponentes edificações, de diversos períodos da história da Bahia. Erguido em 1923, com o intuito 
abrigar a sede da Casa da Bahia, esta construção deveria “ter os padrões de modernidade 
encontrados em São Paulo e Minas Gerais”, conforme documentação do arquivo da instituição. 
Tal registro, serve para corroborar quanto o material de revestimento em evidência era considerado 
sinônimo de requinte naquele momento. 
 
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Figura 2: Composições formais presentes nos diversos cômodos do IGHB. 
 
Os documentos pertencentes ao período da construção do prédio indicavam os materiais 
especificados para aquela obra, e dentre eles constavam os “ladrilhos nacionaes”. Tudo leva a crer 
que os termos em evidência estivessem relacionados a utilização dos revestimentos decorados 
produzidos em cimento. Possivelmenteesta seria uma maneira de diferenciar esses últimos das 
peças decoradas cerâmicas que eram importadas de países como a Inglaterra e a Bélgica. 
A edificação encontra-se, de modo geral, em bom estado de conservação. Assim, como os ladrilhos 
que revestem os pisos na parte interna. O material recebe proteção adequada que contribui para 
redução da porosidade e consequente minimização de abrasão. A camada de decoração apresenta 
boas condições (Figura 3) em parcela significativa do piso. 
 
 
Figura 3: Pisos em Ladrilhos hidráulicos do IGHB com bom estado de conservação. 
 
Entretanto, nos locais de maior trafego, existem evidências do processo de abrasão. Outras zonas 
possuem alterações na composição e danos diversos. É importante registrar que o objetivo deste 
trabalho não é apresentar um mapeamento de danos da edificação. Para isso seria necessário estudo 
especifico. Busca-se realizar uma pequena abordagem sobre o estudo em andamento. 
 
 
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No primeiro pavimento da edificação, existe uma área que está parcialmente exposta as intempéries 
e a poluição atmosférica. Tais fatores, ao longo dos anos, contribuem para degradação considerada 
como química, característica dos materiais carbonáticos. Percebe-se ainda, a interrupção da 
composição através da reintegração do elemento construtivo faltante com matéria de possível base 
cimentícia, e outra situação onde a peça foi inserida com orientação diferenciada (figura 4). 
Figura 4: Degradação por agente químico e interrupções de Pisos em Ladrilhos hidráulicos do 
IGHB. 
 
4. Conclusões 
O objeto maior deste trabalho consiste em registrar a utilização dos ladrilhos hidráulicos, 
revestimentos moldados em cimento, com o intuito de valorizar a técnica e conservar o patrimônio 
arquitetônico. 
 Desse modo, conhecer as características físicas e visuais destas peças é premissa básica para sua 
correta conservação. A escolha dos elementos construtivos que compõem os planos horizontais da 
edificação em questão contribuiu para perceber com maior clareza a porosidade, alta resistência ao 
desgaste e a possibilidade de compor padrões diferenciados com cores variadas e um mesmo molde 
de desenho. 
Neste sentido, ainda que a pesquisa esteja inconclusa, o exemplo abordado neste trabalho demonstra 
a necessidade de estudo e registro da temática. Acredita-se que não há como pensar em conservação 
arquitetônica sem que sejam consideradas as especificidades de seus materiais constituintes. 
 
Agradecimentos 
A autora agradece a FAPESB pela bolsa concedida, ao professor Mário Mendonça de Oliveira pela 
supervisão do grupo de pesquisa, a Janainna Araújo, pelo apoio na vetorização dos padrões e aos 
funcionários do IGHB pela atenção e informações dispensadas. 
 
Referências 
BEOVIDES, Alberto et al. Ladrilho hidráulico no Centro Histórico de Salvador. In: NAJJAR, 
R. Arqueologia no Pelourinho. Brasília, DF: IPHAN/ Programa Monumenta, 2010. 
CAMPOS, Claudia. Trajetória e significado do ladrilho hidráulico em Belo Horizonte, 2011. 
Dissertação (Mestrado em ambiente construído e patrimônio sustentável) - Programa de pós 
graduação em arquitetura, Belo Horizonte. 
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FONSECA, Daniele. Tintas e pigmentos no patrimônio Urbano Pelotense. Um estudo dos 
materiais de pintura das fachadas do século XIX. Dissertação (Mestrado em Conservação e 
Restauro) - Programa de Pós Graduação em arquitetura e Urbanismo, Salvador - Bahia. 
GESTER, Carolina. Ladrilhos hidráulicos em Belém: subsídios para sua conservação e 
restauração, 2013. Dissertação (Mestrado em Conservação e restauro) - Programa de Pós 
Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Salvador. 
MELLO, Eliana. O panorama do patrimônio azulejar brasileiro visto através do seu 
inventário: do século XX ao século XXI. 2015. Dissertação (Mestrado em Artes) - Programa de 
Pós Graduação da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 
2015. 
SANJAD, Thaís. Patologias e Conservação de azulejos: Um estudo tecnológico de conservação 
e restauração de azulejos, dos séculos XVI, XVII e XIX, encontrados nas cidades de Belém e 
Salvador. Dissertação (Mestrado em Conservação e Restauro). Programa de Pós Graduação em 
arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal da Bahia, 2002. 
TINOCO, Jorge. Apostila Revestimentos Cerâmicos I - Ladrilhos tradicionais. Centro de 
Estudos Avançados de Conservação Integrada. Gestão e Prática de obras de conservação e Restauro 
do Patrimônio Cultural. Olinda, 2016. 
VASCONCELOS, Camila. Memória gráfica brasileira: a percepção dos sistemas simbólicos e 
linguagens visuais dos ladrilhos hidráulicos em patrimônios religiosos tombados pelo IPHAN 
na cidade do Recife. Dissertação (Mestrado em Design). Programa de Pós Graduação em Desing, 
Universidade Federal de Pernambuco. 
 
 
 
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Estação Ferroviária Sapucaí: Um lugar em diálogo 
Intervenção arquitetônica em caso de arruinamento	
Lourenço Kallil Tomaz1,*, Ana Paula Neto de Faria2, Aline Montagna da Silveira3 
1Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS (BRA) 
2Departamento de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS (BRA) 
3Departamento de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS (BRA) 
*lourencoktomaz@gmail.com 
 
Palavras-chave: Preservação patrimonial; Patrimônio industrial; Arquitetura ferroviária; Ruína; 
Paisagem cultural. 
 
1. Introdução	
As ações de preservação do patrimônio têm sua gênese no reconhecimento de valores que uma obra 
carrega em si (CUNHA, 2012). Essa valoração era compreendida, baseada na teoria do restauro 
crítico e na teoria brandiana, em relação à relevância histórica e mensagem estética de determinada 
obra. Hoje, além desses aspectos, o valor da obra é estendido à importância da sua inserção nas 
dinâmicas urbanas e sociais e de suas dimensões intangíveis. Essa compreensão é decorrente da 
ampliação contemporânea do conceito de patrimônio cultural, entendido na discussão atual como 
conjunto integrado por bens materiais, imateriais e naturais que configura paisagens culturais 
complexas e dinâmicas e que requer respostas específicas e estratégias integradas de tutela e 
salvaguarda para a sua preservação (CASTRIOTA, 2013). Nessa perspectiva, as estratégias de 
preservação devem ser orientadas pela leitura do objeto, do lugar e das suas particularidades 
históricas, estéticas, culturais e sociais, de modo que a intervenção proposta seja uma resposta 
coerente com os valores que se deseja preservar. O estabelecimento de uma postura crítica diante do 
bem passível de intervenção deve ser também ação política, em vista de propor continuidade no 
tempo para a manutenção da vida no lugar. A preservação como política pública permite antes 
mesmo da sua contínua preservação evitar a sua degradação, ruína e desaparecimento, sendo essa a 
finalidade do tema da preservação patrimonial. 
No entanto, uma obra que já se encontra no estado de ruína, ou em arruinamento, configura um caso 
limite para a ação de restauração, uma vez que a sua composição estético-figurativa se apresenta 
fracionada e até mesmo ilegível, na qual a imagem da obra se encontra insuficiente para a sua 
reintegração (BRANDI, 2004). 
Quanto a sua relevância histórica, as ruínas são simultaneamente documentos para registro de 
tipologias arquitetônicas e técnicas construtivas do passado e documentos do próprio processo de 
destruição da arquitetura. No que se refere ao aspecto imagético e simbólico, as ruínas transmitem 
ideias relacionadas à fragilidade e finitude da açãohumana diante da passagem do tempo e da 
natureza (RODRIGUES, 2017). A degradação e o arruinamento de um bem são ocasionados por 
diversos fatores ou fontes como a ação antrópica ou de intempéries, mau uso ou abandono, ou 
simplesmente a sua passagem natural pelo tempo. É possível a atuação de mais de um ou mesmo de 
todos esses fatores na degradação da edificação, como no caso que será apresentado. Para o estudo 
realizado, entendeu-se como ruína a edificação em abandono e com avançado grau de degradação. 
Este trabalho relata o caso da Estação Ferroviária Sapucaí (objeto de estudo para projeto de 
intervenção arquitetônica realizado pelo autor como Trabalho Final de Graduação na Faculdade de 
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pelotas, sob orientação da professora Doutora 
Ana Paula Neto de Faria). A Estação é composta por duas edificações e apresenta duas situações 
quanto ao estado de conservação: uma das edificações apresenta suficiente integridade edilícia para 
a completude na leitura do objeto e a outra em avançado estado de arruinamento. Desse modo, fez-
se necessário a definição de uma postura de intervenção que fosse capaz de dialogar e estabelecer 
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relações entre as duas realidades encontradas na Estação, reconfigurando a ambiência e resgatando 
o seu caráter de espaço em comum. 
Este trabalho se limitará a apresentar e refletir sobre a postura adotada no caso em ruína, 
compreendida como parte integrante da paisagem cultural em questão. 
 
2. Metodologia	
O projeto de intervenção, que propõe a implantação de uma Cooperativa de Alimentos de 
Agricultura Familiar na Estação, se desenvolveu através das etapas de investigação histórica, 
estudos do objeto e do lugar em que está inserido, bem como o seu contexto socioeconômico e 
cultural, definição de postura intervencionista e de diretrizes de preservação e, por fim, da proposta 
arquitetônica. 
A Estação Sapucaí (Figura 1) se localiza na zona rural do município de Jacutinga, no sul do estado 
de Minas Gerais e em região limítrofe com o estado de São Paulo. A Estação é composta por dois 
terminais de tipologia linear, paralelamente dispostos em meio aos mares de morros mineiros. Foi 
construída entre 1926 e 1927 em decorrência da prosperidade cafeeira da região, e funcionava como 
ponto de entroncamento entre as companhias férreas mineira e paulista, fazendo o escoamento do 
café e demais produtos agrícolas para os portos do Rio de Janeiro e de Santos. Na década de 30 a 
região foi cenário da Revolução Constitucionalista, tendo a estação funcionado como enfermaria 
militar e posto de comando do Exército durante a revolução. Nos anos seguintes, com o declínio das 
exportações de café, as ferrovias foram se tornando obsoletas até o início da desativação dos ramais. 
A Estação encontra-se em abandono desde 1991. 
A inexistência de políticas públicas municipais de preservação patrimonial e a falta de 
reconhecimento do monumento por órgãos de preservação contribuíram para a sua mutilação, uma 
vez que não está sob tutela para a sua conservação. 
 
 
Figura 1: Panorama da Estação Sapucaí. Fonte: do autor, 2016. 
 
 
Figura 2: Fachada principal do Terminal de Cargas da Estação em ruína. Fonte: do autor, 2016. 
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O estudo do objeto arquitetônico, constituído de investigação bibliográfica acerca das tipologias 
ferroviárias, levantamento métrico, levantamento fotográfico e elaboração do material, permitiu a 
observação crítica das suas características e o diagnóstico do seu estado de conservação. Esses 
estudos permitiram identificar tanto a ação de intempéries quanto o próprio desgaste de materiais e 
elementos decorrentes do abandono e mau uso. Entre as manifestações patológicas identificadas, 
encontram-se lacunas, descolamento de camadas, fissuração, esfoliação, pulverização, 
eflorescências, incrustação, presença de pátina biológica e de vegetação, decorrentes da incúria e 
abandono, bem como da exposição às intempéries e rompimento do envelope da edificação, e 
vestígios de ações antrópicas de mau uso e remoções. 
 
3. Resultados e discussão 
A forma de compreensão do objeto no seu meio e a identificação de valores e significados 
intrínsecos à edificação em situação de ruína orientou a postura de intervenção, a qual admitiu o 
estado da obra resultante da sua submissão ao tempo e ao contexto rural. O aspecto pictórico e 
incompleto do bem foram características definidoras para a postura de intervenção e se tornaram 
premissas a serem preservadas como registro de uma etapa da vida da obra. 
Com relação às propostas espaciais e formais, utilizou-se o aspecto resultante do arruinamento 
como partido para soluções projetuais que reforçam a identidade e a memória do lugar para a sua 
preservação. 
A fragmentação da ruína relativiza as relações espaciais e de percepção entre espaços internos e 
externos. Essa característica foi incorporada no projeto utilizando o espaço central da ruína como 
pátio externo para as atividades que se desenvolvem nos ambientes ao seu redor na nova proposta 
arquitetônica (Figura 3). 
A ocupação pela natureza do ambiente construído em ruína, devido ao abandono e ao contexto de 
fácil proliferação e reprodução de espécies animais e vegetais, foi também uma característica 
preservada na intervenção. Essa relação entre ambiente natural e ambiente construído foi traduzida 
na intervenção pelos modos de conexão entre a nova arquitetura e a arquitetura preexistente, através 
de intersecções de planos e volumes que se permeiam e encaixam além do resgate cromático e 
material de elementos naturais da região e a sua aplicação em superfícies da arquitetura. 
 
Figura 3: Átrio criado como elemento articulador da nova proposta espacial para o lugar. Fonte: do 
autor, 2017.	
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A noção da passagem do tempo foi preservada na proposta, através de um percurso entre as 
edificações, no qual o indivíduo experimenta o lugar e percebe a acentuada diferenciação de 
intervenção entre os dois terminais (Figura 4). 
Na primeira edificação, a utilização integral da teoria brandiana e da postura crítico-conservativa 
com remoção de adições e reintegração de lacunas, quando necessários, a fim de restabeler a 
unidade potencial da obra (KÜHL, 2007). Na segunda edificação, a admissão da obra enquanto 
ruína e a sua consolidação sem intenção de recomposição da sua imagem e forma originais. 
 
 
Figura 4: Passagem entre os terminais da Estação. Fonte: do autor, 2017.	
No que se refere aos aspectos técnico-construtivos, utilizou-se da compreensão critico-conservativa 
para a eleição de estratégias de controle de degradação de superfícies e elementos expostos. 
 
4. Conclusões 
O estudo de caso de intervenção arquitetônica em um edifício com a complexidade encontrada na 
Estação Sapucaí permitiu a discussão e a elaboração de propostas projetuais para duas situações 
distintas em uma mesma obra. Apesar de possuírem materialidades com diferentes estados de 
degradação, as soluções projetuais partiram de um entendimento único da obra e do juízo crítico 
necessário para o estabelecimento de diretrizes de intervenção, pautadas na reflexão acerca dos 
preceitos da teoria de restauro de Cesare Brandi. A viabilidade de utilização desses preceitos de 
preservação para situações distintas em uma mesma obra mostrou-se válida, e com resultados 
passíveis de contemplar a salvaguarda do objeto estudado. 
A proposta evidenciou a importância da definição do que se deseja preservar e de qual mensagem se 
deseja transmitir com a preservação do bem.Nesse sentido, destaca-se a importância da 
contextualização da obra, tanto do ponto de vista puramente formal e compositivo como do ponto 
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de vista de preservação integrada de valores culturais, naturais e imateriais, na perspectiva do que se 
entende hoje como Paisagem Cultural. 
 
Referências 
BRANDI, Cesare. Teoria da restauração. Cotia: Ateliê, 2004. 
CASTRIOTA, Leonardo. Paisagem cultural: novas perspectivas para o patrimônio. 
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CUNHA, Claudia dos Reis. Teoria e método no campo da restauração. Pós. Revista Do Programa 
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RIBEIRO, Rafael Winter. Paisagem Cultural e Patrimônio. Brasília: Instituto do Patrimônio 
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I Encontro da ANTECIPA (Associação Nacional de 
Pesquisa em Tecnologia e Ciência do Patrimônio) 
27 e 28 de novembro de 2018, Belo Horizonte, Brasil 
El uso de la tecnología como herramienta de diagnóstico en el patrimonio 
dañado por desastres naturales 
Montserrat Ramírez Vernet 
Benemérita Universidad Autónoma de Puebla 
Maestría en Arquitectura con Especialidad en Conservación del Patrimonio Edificado 
m_vernet@outlook.com 
Palabras Clave: Desastres Naturales; Tecnología; Diagnostico; Vulnerabilidad 
1. Introducción
 En la actualidad el patrimonio edificado se encuentra 
vulnerable1 por una serie de elementos de origen político, 
cultural y de educación. Estos factores se ven amplificados con 
la presencia de desastres naturales, como sucede al sur de 
México, zona enmarcada por el cinturón de fuego2, cuyo 
movimiento tectónico es constante y representativo, por lo 
tanto, es necesario actualizar el protocolo de actuación en caso 
de siniestros, para lograr disminuir el riesgo de colapso y 
pérdidas humanas. 
A través de un modelo estandarizado se puede lograr, siempre 
y cuando las variables humanas se mantengas calificadas. 
Del mismo modo que ocurre con el léxico y los términos 
aplicados a la conservación y estudio del patrimonio, debemos 
apropiarnos de los desarrollos tecnológicos pensados 
originalmente para otros campos, pero que son de ayuda en el 
cuidado del Patrimonio. 
2. Metodología
El 19 de septiembre de 2017 a las 13:14:40 horas ocurrió un 
sismo de magnitud 7.1 entre el limite estatal de Puebla y 
Morelos a 12 km al sureste de Axochiapan, Morelos y 120 km 
de la Ciudad de México. (NACIONAL, 2017, pág. 1). 
A consecuencia resultaron dañados miles de monumentos en las ciudades de Oaxaca, 
Chiapas, Ciudad de México, Morelos y Puebla. La intervención inmediata de resguardo se 
obstaculizo por la falta del protocolo actualizado que permitiera disminuir los daños, sobre 
todo en caso de replica sísmica, sin embargo, la participación de la sociedad civil y 
especialistas permitió que se realizaran diagnósticos inmediatos para determinar si el 
inmueble era riesgoso para la sociedad civil. 
1 Se debe entender el concepto de vulnerabilidad “como la falta de capacidad de anticipar y resistir el impacto de 
uno o más fenómenos peligrosos” (APARICIO, 2011, pág. 37) 
2 “El Cinturón de Fuego del Pacífico, cuyo nombre se debe al alto grado de sismicidad que resulta de la 
movilidad de cuatro placas tectónicas: Norteamericana, Cocos, Rivera y del Pacífico.” (CENAPRED, 2007, pág. 
3) 
Ilustración 1. Capturada el 18 de 
agosto de 2018 donde se registran los 
daños del sismo del 17 de septiembre 
de 2017 en la comunidad de Tepexco 
dentro del decanato de Izúcar. 
Fuente: Del Autor. 
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A más de un año del sismo se analizan las opciones y herramientas para mejorar la actuación 
inmediata, como principal herramienta se plantea la revisión, actualización y estandarización 
del protocolo de actuación en caso de siniestros para el patrimonio. 
Se parte del trabajo interdisciplinario (previo al siniestro) entre las instituciones de gobierno 
encargadas de la gestión, resguardo, difusión y educación del patrimonio; de modo que a 
través de programas y actividades la sociedad se acerque a los monumentos, es decir, 
“conocer para querer”. 
En un segundo paso, ya acontecido el siniestro, se plantea la creación de cuadrillas de 
arquitectos, ingenieros civiles y miembros de protección civil para diagnosticar de forma 
inmediata a los monumentos e implementar las medidas de intervención que se puedan llevar 
acabo, por ejemplo, apuntalamiento preventivo. Aquí es donde entra el uso de la tecnología, 
en primer lugar, al fallar las telecomunicaciones será necesario valerse de GPS, para que a 
través de señal satelital se identifique la localización del objeto con coordenadas UTM3. 
Inmediatamente después, en el caso de edificios estructuralmente estables se podrá tener 
acceso a pie para verificar el inmueble, sin embargo, de resultar riesgoso para la brigada, se 
pondrá en práctica el uso de Drones que sobrevuelen el inmueble para determinar el nivel de 
riesgo y daño, estos vuelos se pueden llevar a cabo en el interior del edificio, para esto el 
operador debe estar calificado. 
Una vez estabilizado y dictaminado de forma inmediata el inmueble, se deberá continuar con 
el Diagnostico Técnico Integral, donde se implementarán análisis basados en el calculo del 
momento finito para determinar la seguridad estructural y posibles puntos de falla ha 
intervenir, y de ser necesario se realizarán estudios de mecánica de suelos. Por su puesto, 
durante todo este proceso, estará presenta el uso de la fotografía como herramienta de 
registro. 
Para determinar la suma de factores que podrían estar dañando al monumento se utiliza un 
multímetro digital (Mastech MS6300) que mide aspectos como la temperatura, el ruido, la 
iluminación y el viento al que esta expuesto el bien patrimonial, ya sea mueble o inmueble. 
Paralelo a este trabajo se recaba toda la información en lenguaje arquitectónico, es decir, en 
forma de planos, cortes, fachadas y detalles constructivos, para tal fin se crean fichas 
enfocadas a organizar la información y planos de materiales basados en la propuesta de la 
Mtra. Dolores Álvarez Gasca (1990). Solo de esta forma se podrá proponer un proyecto de 
intervención ético, que permita la conservación del patrimonio. 
Por supuesto la propia intervención estará plagada del uso de la tecnología, una vez realizada 
esta se continua con el proceso de documentación, volviendo al uso de la fotografía, se captan 
imágenes a través de un método estructurado, con el uso del tripie, para después unirlas en el 
ordenador, de forma que sea posible crear una imagen de 360° que permita ser consultada en 
un momento inmediato por la población y en caso de presentarse otro siniestro, como 
herramienta de consulta para proponer el proyecto de restauración. 
																																								 																					
3	Universal	Transversalde	Mercator	
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Ilustración 2. Vista 360° de la biblioteca del Templo del Carmen en Puebla, después de la Intervención post sismo. Fuente: 
Del Autor. 
La información analizada será integrada a una aplicación digital que en siniestros futuros 
permita tener acceso a la información de manera inmediata a través de un mapa digital. 
Para realizar la consulta en la interfaz del mapa, se traza una circunferencia de estudio, este de 
manera simultánea arroga datos de vital importancia como el número de habitantes, la 
clasificación de edificios vitales como: hospitales, escuelas, albergues, etc. y evidentemente la 
lista de bienes patrimoniales inscritas en el área. 
Dentro de esta información estará incluido el inventario de los bienes a proteger, esto sirve 
para determinar que tipo de especialistas son necesarios en la intervención. También se 
propone que dentro de los datos desplegados se pueda encontrar de forma breve el origen 
histórico del inmueble, el año de ejecución, el estilo arquitectónico, las intervenciones, entre 
otras cosas. 
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Ilustración 3. Captura de pantalla de la Interfaz del Atlas de Riesgo digital implementado por CENAPRED después del 
sismo de 2017 Fuente: CENAPRED 
El objetivo es agilizar el análisis de variables de un edificio a otro para poder distribuir los 
recursos de forma eficaz y equitativa, para así garantizar la permanencia de los bienes 
patrimoniales que nos representan y que forman la base de nuestras tradiciones y 
conocimientos. 
A medida que el banco de información crezca, se mejorara el protocolo y la forma de 
intervenir el patrimonio. Todo esto se reinventa y evoluciona paralelo a que los siniestros 
ocurren y depende directamente de la capacitación y preparación del capital humano. 
3. Resultados
Como resultado se obtiene en el siguiente orden: 
Dictamen Inmediato, que sirve para realizar la propuesta de apuntalamiento del monumento y 
limitar el uso y acceso. En este documento se incluye el registro fotográfico de los daños. 
Dictamen Técnico Integral, compuesto por el análisis y calculo estructural del inmueble, así 
como el estudio histórico, estudio de materiales y acabados, estudio de patologías propias del 
siniestro y patologías generales. 
Proyecto de Intervención, donde se indique el proceso de conservación o restauración del 
inmueble dependiendo de los daños encontrados. 
Plataforma Digital de información, consulta y difusión del objeto. 
4. Conclusiones
En conclusión, una vez implementado el protocolo, con la ayuda de la tecnología, se habrá 
generado el dictamen inmediato que ponga a resguardo el inmueble, para después realizar el 
Dictamen Técnico Integral que garantice la viabilidad del proyecto de intervención, con el 
único fin de proteger a los monumentos y la sociedad que hace uso de estos. 
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Afortunadamente existen desarrollos tecnológicos diseñados para otros campos que pueden 
ser utilizados en la conservación. Entre las ventajas, está la disminución del riesgo para los 
especialistas al momento del primer acercamiento.		
Referencias 
APARICIO, A. T. (2011). Protección civil, población, vulnerabilidad y riesto en Santiago Miltepec, 
Toluca. Investigaciones Geograficas, 35-47. 
CENAPRED. (2007). Sismos. Centro Nacional de Prevención de Desastres . Mexico: Secretaria de 
Gobernación. 
GASCA, D. A. (1990). El registro de Materiales. En La documentación de Arquitectura Historica 
(págs. 69-82). Puebla, Mexico : Dirk Bühler. 
NACIONAL, S. S. (2017). Sismo del dis 19 de Septiembre de 2017, Puebla-Morelos (M 7.1). Mexico 
: Geofisica UNAM. 
	
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Adequação de ferramenta para avaliação das condições de conservação de 
plumárias indígenas em reserva técnica: 
Estudo aplicado à reserva técnica Curt Nimuendajú do Museu Paraense Emílio Goeldi. 
Bianca C. R. Vicente1, Luiz A. C. Souza2, Willi B. Gonçalves3,*
1Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém, Pará (BR) 
2Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Belas Artes, Belo Horizonte (BR) 
3Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Belas Artes, Belo Horizonte (BR) 
*biancacristinarv@gmail.com
Palavras-chave: Adornos Plumários; Modelo de avaliação; Conservação de acervos. 
1. Introdução
A necessidade aprimorar as possibilidades para a conservação de acervos etnográficos é cada vez 
mais urgente nos museus que os abrigam. Neste tipo de acervo é muito comum a presença de objetos 
de composição híbrida, contendo principalmente materiais orgânicos como madeira, tecido, diversos 
tipos de fibras vegetais. Em objetos indígenas, é usual encontrar penas de aves, presentes em adornos 
plumários, material considerado como extremamente frágil, porém, igualmente pouco estudado no 
que diz respeito a sua preservação dentro dos museus. 
Recentemente, um dos estudos mais aprofundados acerca deste assunto foi o de um grupo 
interdisciplinar de pesquisadores norte-americanos que analisou a fotosensibilidade em relação a 
formação de cor nas penas (RIEDLER et al, 2014; PEARLSTEIN et al, 2015). Porém, além desse 
aspecto, diferentes trabalhos foram realizados voltados para a conservação das plumárias. Pearlstein 
(2017), por exemplo, desenvolveu um modelo de avaliação intitulado feather identification and 
condition, sendo esse a base para o desenvolvimento do atual trabalho que buscava alternativas para 
a conservação das plumárias presentes no acervo etnográfico da Reserva Técnica Curt Nimuendajú 
(RT), que abriga as coleções etnográficas do Museu Paraense Emílio Goeldi. 
2. Metodologia
Partindo dos estudos bibliográficos e da prática dentro da reserva técnica, optou-se por utilizar a 
ferramenta desenvolvida por Pearlstein (2017) como base, adequando-a para atender as demandas do 
ambiente e acervo de etnografia do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), situado em Belém. O 
Museu Goeldi, criado em 1866, é uma instituição de fundamental importância para os estudos de 
História Natural, Arqueologia e Etnografia na Amazônia. 
Foi desenvolvido um modelo intencionalmente simplificado com campos de preenchimento 
reduzidos, para ser facilmente preenchido e analisado, de maneira viável para a Reserva Técnica Curt 
Nimuendajú do MPEG. O modelo de avaliação aqui apresentado envolve análises quantitativas e 
qualitativas para conhecer as condições atuais de conservação das peças analisando o objeto e as 
condições de infraestrutura na qual ele se encontra. 
3. Resultados e discussão
O modelo intitulado “Modelo de avaliação das condições de conservação de adornos plumários na 
Reserva Técnica Curt Nimuendajú” (MACCAP) foi subdividido em cinco seções: (I) identificação, 
(II) técnicas, (III) materiais, (IV) mapeamento de danos e (V) condições de infraestrutura. 
Na identificação estão presentes os critérios de: número de registro; item (termo utilizado para 
designar a denominação atribuída a peça); etnia; procedência; coletor/doador; ano; pássaros e tipos 
de penas utilizados. Estas informações não se enquadram nos critérios de avaliação geral do acervo 
126
que é feito após a coleta total dos dados, mas são importantes para documentar as características 
específicas de cada peça que está sendo estudada, pois, mesmo fazendo parte de um todo cada objeto 
produzido artesanalmente é único. 
As técnicas são divididas em emplumação (tab. 1) e de transformação, apresentadas em opções a 
serem assinaladas. Todas as alternativas são baseadas nos textos de referência para classificação dos 
objetos de procedência indígena, mais especificamente o Dicionário de ArtesanatoIndígena 
(RIBEIRO, 1988) e o Tesauro de cultura material dos índios no Brasil (MOTTA, 2006). Na ficha de 
aplicação não estão expressas todas as técnicas, apenas as observadas como mais frequentes durante 
o desenvolvimento deste trabalho, sendo assim, há espaço para inclusão de outras técnicas não
mencionadas, mas que podem ser encontradas nas peças. 
Tabela 1: Listagem das técnicas de emplumação 
Amarração 
( ) Em fieira 
( ) Roseta 
( ) Embricada 
( ) Borlas 
( ) Trama 
( ) Encadeamento de penas 
( ) ____________________ 
Colagem 
( ) Mosaico 
( ) Placa 
( ) Arminhada 
( ) ___________ 
A seção destinada a materiais busca conhecer quais outros tipos de matéria-prima além das penas 
compõem a peça. A quase totalidade dos adornos plumários é composta por mais de um tipo de 
material, sendo importante conhecer quais estes elementos para saber reconhecer a possibilidade de 
danos recorrentes em determinadas combinações ou riscos associados a elas. Como alternativas base 
apresentadas no MACCAP estão: fibras vegetais; metais; tecido; papel; sementes; cabelo humano; 
pelos de outros animais; madeira; ossos e alternativa de acrescentar outros. As descrições de materiais 
foram colocadas de forma simplificada para serem mais facilmente reconhecidas por não 
especialistas. Caso o preenchimento seja feito por alguém que sabe reconhecer os diferentes tipos de 
fibras, de tecido e dos outros materiais, pode acrescentar estas informações no espaço destinado a 
observações. 
Logo em seguida é pedido o mapeamento dos danos, que deve preferencialmente ser feito de acordo 
com a tipologia da peça. Peças maiores de grande a médio porte ou com grande número de penas 
podem ser mapeadas por áreas (A), enquanto que peças menores e com menor quantidade de penas 
podem ter cada uma de suas penas numeradas e analisadas individualmente (P). Os dois tipos de 
mapeamento podem estar em uma mesma peça (fig.1). 
127
Figura 1: Exemplo de mapeamento por numeração de pena e por área. Fonte: Bianca Vicente. 
Coleção Etnográfica Reserva Técnica Curt Nimuendaju. MCTI/Museu Paraense Emílio Goeldi. 
2017. 
Para o mapeamento foram listados alguns possíveis danos que são assinalados na ficha e localizados 
de acordo com a área selecionada de acordo com os exemplos acima. Os termos utilizados para 
designar os danos não buscam ser uma listagem completa, tendendo a ser complementada em 
diferentes situações. Uma das dificuldades encontradas foi de utilizar termos já estabelecidos na 
literatura, porém, por ser ainda uma área em expansão não há uma terminologia oficial para os danos 
em plumária. Os termos aqui apresentados foram traduzidos livremente e adaptados do Feather 
identification and condition de Pearlstein (2017) e alguns acrescentados de acordo outros danos 
encontrados nas peças analisadas e que se considerou pertinente de serem incluídos. No modelo há 
espaços em branco para que podem ser preenchidos por outros danos além dos listados. A lista é 
apresentada conforme a tabela 2: 
Tabela 2: Lista de danos 
Lista de danos Áreas afetadas 
01 Raque quebrada 
02 Raque encurvada 
03 Raque com perdas 
04 Barbas afastadas 
05 Barbas encurvadas 
06 Perda de barbas 
07 Perda de bárbulas 
08 Teias, casulos e excreções de insetos 
09 Orifícios de saída (insetos) 
10 Desvanecimento de cor 
11 Penas soltas 
12 Ausência de penas 
13 Sujidades 
128
A última seção é correspondente as condições de infraestrutura de conservação das peças, dividindo-
se em localização, acondicionamento e iluminação. Com relação a localização, deve ser assinalada a 
opção do tipo de mobiliário em que se encontra a peça. Também é questionado acerca da facilidade 
de localizar a peça, haja visto ter sido observada a mudança de localização de algumas peças em 
relação ao que consta em seu registro. 
Sobre o acondicionamento são feitos três questionamentos. Primeiramente sobre o espaço em que se 
encontra a peça, podendo ela estar sozinha em uma gaveta ou prateleira como também pode estar com 
outras peças com ou sem contato entre elas, sendo assim listadas algumas opções para serem 
assinaladas. O segundo questionamento é sobre a suporte/embalagem em que a peça está, pois há 
algumas formas diferentes de acondicionar dentro da RT, podendo estar em moldes de polietileno, 
sem moldes sobre TNT ou mesmo diretamente sobre a gaveta. Estas e outras possibilidades 
observadas foram listadas neste item. O último questionamento é referente as condições que se 
apresentam os suportes e superfícies, condições de limpeza e mesmo vestígios de peças danificadas. 
Por último é feito o questionamento sobre a iluminação. Por, na ocasião da pesquisa, ainda não haver 
um luxímetro e um medidor de UV que nos permitiriam afirmar em que parâmetros se encontra a 
radiação luminosa do local, foi pensada uma questão mais ampla que não nos permite inferir sobre 
os danos que a iluminação local possa ter causado, mas que nos permitem refletir sobre o 
posicionamento atual das peças em relação a luz visível. A questão parte da consideração de que a 
iluminação na Reserva Técnica Curt Nimuendajú é feita por lâmpadas fluorescentes sem filtro UV e 
que as peças não recebem incidência de iluminação natural, logo, indica-se marcar apenas se a peça 
recebe ou não alguma incidência luminosa em seu local de guarda quando as luzes estão acesas. 
Considerando que o “Feather identification and condition” (PEARLSTEIN, 2017), foi o único 
modelo de avaliação encontrado como referência específica para materiais plumários, este foi a base 
para se desenvolver o MACCAP. O modelo apresentado por Pearlstein é de aplicação e avaliação por 
peças individuais, sendo este um dos fatores repensados para o MACCAP, que mantem a aplicação 
individual, porém a leitura dos dados é feita através da compilação dos resultados obtidos por etnia. 
Além disso, o modelo Pearlstein é voltado para a conservação, mas preza em vários aspectos pela 
documentação que não é o enfoque deste trabalho, portanto, foram excluídos alguns critérios por 
serem considerados como não fundamentais para uma avaliação das condições de conservação ou, 
caso necessário, foram direcionados para a área de identificação da peça, como, por exemplo, a 
tipologia de pena e pássaros. 
Algumas adaptações referentes aos termos de classificação de plumária também foram necessárias, 
considerando que o modelo de Pearlstein não define o que é intitulado como featherwork, 
entendendo-se então que sejam os artefatos que tenham a pena como matéria prima. Entretanto, o 
referencial utilizado no modelo aqui proposto é Ribeiro (1986; 1988), portanto, ele aplica-se apenas 
ao que é classificado como adornos plumários, caracterizados pela funcionalidade e matéria prima. 
Da mesma maneira, as técnicas também diferem das apresentadas por Pearlstein (2017), pois para o 
desenvolvimento do MACCAP também foi utilizada uma literatura que se refere especificamente 
sobre a produção de plumária brasileira (SCHOEPF, 1985 e RIBEIRO, 1986, 1988). 
Com relação aos itens excluídos, destacam-se as informações referentes a autoria que não foram 
incluídas, pois não há esses registros no museu para a quase totalidade de peças, bem como serem 
informações relacionadas ao já comentado viés documental. Optou-se também por não incluir a 
análise de perda de cor por falta de materiais adequados e pelo curto período de tempo para realizar 
uma análise adequada em todas as peças selecionadas. Quando oportuno e possível de identificação, 
o desvanecimento de cor das penas é destacado no mapeamento de danos. Por outro lado, houve a
inclusão de uma nova seção, a de condições de infraestrutura, haja vista ser um modelo de avaliação 
desenvolvido especificamente para a Reserva Técnica Curt Nimuendajú. Portanto, os itens como 
localização, mobiliário, acondicionamento e iluminação foram pensados considerando o cenário 
local. 
129
Uma característica do MACCAP,comum a outras ferramentas de diagnóstico de condições de 
conservação de coleções, é que ele avalia apenas o que as peças apresentam atualmente, sem fazer 
conjecturas sobre o que causou os danos, pois não é possível fazer esta ligação pela falta de 
documentação, em especial fotográfica, do estado de conservação anterior da maioria das peças. 
O MACCAP busca assim suprir a ausência de uma ferramenta de acompanhamento do estado de 
conservação das peças, específica para avaliação de coleções com objetos contendo plumária. Além 
disso, os resultados serão analisados com fins de encontrar os principais danos que já fragilizaram as 
peças para registro a ser utilizado na tomada de decisões acerca de ações futuras com os objetos como 
empréstimos, exposições e mudanças de local, bem como identificar situações de riscos que possam 
ser sanadas eventualmente por planos de curto, médio e longo prazo a serem desenvolvidos pela 
curadoria. 
4. Conclusões
Tratando-se de plumária, os estudos desenvolvidos por Pearlstein e o grupo de pesquisadores em que 
ela se insere é de extrema importância. Entretanto, não podemos aplicar as pesquisas estrangeiras sem 
considerar as necessidades e realidades dos museus e dos acervos brasileiros. Sendo assim, o modelo 
de avaliação adaptado aqui apresentado é uma alternativa ao Museu Paraense Emílio Goeldi e sua 
coleção de plumária, bem como pode ser readequado a diferentes outras instituições que possuam 
acervos semelhantes. 
Agradecimentos 
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível 
Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001. Os autores agradecem ao CNPq - 
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico pelo apoio a projeto de pesquisa 
que investigou metodologia utilizada neste trabalho.
Referências 
PEARLSTEIN, Ellen (Ed.). The Conservation of Featherwork from Central and South America. 
Londres: Archetype Publications. 2017. 
PEARLSTEIN, Ellen; HUGHS, Melissa; MAZUREK, Joy; MCGRAW, Kevin; PESME, Christel; 
RIEDLER, Renée; GLEESON, Molly. Ultraviolet-induced visible fluorescence and chemical 
analysis as tools for examining featherwork. Journal of the American Institute for Conservation, 
vol. 54, n. 3, 2015. p. 149-167. 
RIBEIRO, Berta G. Bases para uma classificação dos adornos plumários dos índios do Brasil. In: 
RIBEIRO, Darcy (ed.). Suma Etnológica Brasileira. Vol. 3. Petrópolis: Vozes/FINEP, 1986. 
RIBEIRO, Berta G. Dicionário do artesanato indígena. Ilustrações: Hamilton Botelho Malhano. 
Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1988. 
RIEDLER, Renée; PESME, Christel; DRUZIK, James; GLEESON, Molly; PEARLSTEIN, Ellen. A 
review of color-producing mechanisms in feathers and their influence on preventive 
conservation strategies. Journal of the American Institute for Conservation. Vol. 53, n 1. 2014. p. 
44-65. 
SHOEPF, Daniel. La plumasserie indigène: inventaire matériel et technique. In: MUSÉE 
D’ETHNOGRAPHIE. L’Art de la plume Brésil. Genève: Musée d’ethnographie/Muséum National 
d’Histoire Naturelle de Paris, 1985. 
MOTTA, Dilza Fonseca da. Tesauro de cultura material dos índios no Brasil. Rio de Janeiro: 
Museu do Índio, 2006. 
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Identificação de agentes pesticidas no acervo do MAE/USP por PXRF 
Ana Carolina Delgado Vieira¹, Carlos Roberto Appoloni² e Fábio Lopes3 
¹ Mestre em História Social – Universidade de São Paulo (USP) e Conservadora do Museu de Arqueologia e 
Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE-USP) – ana.carolina.vieira@usp.br 
² Doutor em Física Nuclear – Universidade de São Paulo (USP). Docente do Departamento de Física e 
Coordenador do Laboratório de Física Nuclear Aplicada – Universidade Estadual de Londrina (UEL) – 
appoloni@uel.br 
3 Doutor em Física Nuclear – Universidade Estadual de Londrina (UEL). Físico junto ao Laboratório de 
Física Nuclear Aplicada – Universidade Estadual de Londrina (UEL) – fabiolopes@uel.br 
 
Palavras-chave: Pesticidas; Fluorescência de Raios X Portátil; Acervo Etnográfico; Coleção Norte-
Americana. 
 
1. Introdução 
Um objeto musealizado é capaz de revelar mais do que marcas de seu passado. Este objeto, antes de 
ingressar em museu, possui uma trajetória própria de usos e significados. Entretanto, ainda após a 
sua entrada no museu, este objeto continua construindo sua trajetória. Para salvaguardá-lo, todos os 
esforços são concretizados para a garantia de sua longevidade. Estas ações também fazem parte da 
contínua trajetória viva do objeto, mesmo que em um contexto diferente da sua origem. 
Tratamentos químicos preservativos são exemplos de ações de salvaguarda de grande parte de 
acervos museológicos espalhados pelo mundo. Fórmulas caseiras, produtos de alta toxicidade e 
múltiplas receitas garantiam a preservação dos objetos e foram aplicadas em longa escala ao longo 
de mais de três séculos de história. 
Tais tratamentos, muitas vezes aplicados por coletores antes mesmo do ingresso do objeto no 
museu, foram pouco documentados. Mesmo depois da entrada destes objetos nos museus, 
tratamentos químicos rotineiros foram executados sem um rigor sistemático do registro destas 
ações. 
Como resultado, temos coleções que passaram por processos químicos diversos e poucos registros 
oficiais que nos relatem estas histórias. Ainda que não existam evidências documentais do tipo, 
quantidade e frequência do pesticida aplicado, alguns objetos revelam parte deste passado: cores 
esmaecidas, resíduos de substâncias suspeitas, rigidez excessiva, etiquetas pouco esclarecedoras, 
manchas indeléveis e objetos históricos aparentemente imunes à ação do tempo. 
 
	
Figura 1 a 4: Manchas e enrijecimento do couro, etiqueta com aviso de “veneno” em acervo, esmaecimento de cores e 
objetos muito preservados 
 
Identificar a presença de pesticidas ainda remanescentes nestes objetos torna-se importante tanto 
quanto para compreender processos químicos de degradação que provocam alterações irreversíveis, 
assim como também para se definir protocolos de acesso, guarda e manuseio para que 
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institucionalmente, sejam oferecidas melhores condições de segurança aos profissionais de museus 
e pesquisadores. 
Esta apresentação traz resultados iniciais da pesquisa de detecção de pesticidas realizadas na 
Coleção Norte-Americana do acervo do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE/USP), através de 
Fluorescência de Raios X Portátil. 
A Coleção Norte-Americana do MAE/USP foi adquirida através de uma permuta com o American 
Museum of Natural History (AMNH) na década de 1950. Formada por objetos etnográficos 
coletados entre 1800 e 1920, de matérias-primas e coletores diversificados, escolhemos 24 objetos 
desta coleção para realizar análises de fluorescência de raios-X para identificação de pesticidas. 
Dentre eles, apresentaremos os resultados para 19 objetos. 
A escolha desta coleção para esta análise justifica-se pela tentativa de se comparar resultados com 
outras pesquisas em coleções etnográficas realizadas por museus e universidades norte-americanas.		
 
2. Metodologia	
A metodologia das análises realizadas seguiu as seguintes etapas: 
a) Cada objeto foi examinado, descrito, fotografado e medido. Evidências de ataques 
biológicos nos objetos foram registradas em fichas individuais; 
b) Foram escolhidas áreas para a realização das medições pela PXRF e estas áreas foram 
registradas através de marcas realizadas nas fotografias; 
c) Foram realizadas as medidas de PXRF no MAE usando um sistema com detector do tipo 
SSD, tubo de raios X com anodo de Ag e o software PMCA para a aquisição de dados; 
d) Após as medições, os espectros deraios X das amostras foram analisados e interpretados 
quali-quantitativamente com o software AXIL. 
 
3. Resultados e discussão 
O American Museum of Natural History (AMNH) não possui registros sobre os tratamentos 
químicos realizados em seu acervo anteriores à década de 1950. Entretanto, os resultados das 
análises de PXRF mostram a presença de Cl, Br e metais pesados como As, Hg, Pb nestes 19 
objetos. Compostos de matérias-primas diversificadas, a presença destes elementos em superfícies 
policromadas ou em objetos com contas de vidro deve ser interpretada, já que alguns destes 
elementos podem fazer parte da manufatura destes itens decorativos. Mesmo com esta possibilidade 
de fonte endógena, as análises apontam que a maior parte dos metais pesados encontrados é 
originária de tratamentos químicos ainda realizados no AMNH ou ainda pelos coletores destes 
artefatos, antes da entrada destes objetos no museu. 
 
4. Conclusões 
O método de Fluorescência de Raios X mostrou-se bastante adequado para a detecção de elementos 
químicos indicativos de pesticidas nestes objetos. Esta técnica é não-invasiva, multielementar, não 
requer amostragem e pode identificar os elementos com muita rapidez. 
Os resultados iniciais desta pesquisa apontam alguns caminhos para discussões. A interpretação dos 
dados é fundamental para se distinguir as substâncias endógenas e exógenas dos objetos. É 
importante lembrar que elementos tais como Pb, As e Hg podem ser inerentes de matérias-primas e 
132
I Encontro da ANTECIPA (Associação Nacional de 
Pesquisa em Tecnologia e Ciência do Patrimônio) 
27 e 28 de novembro de 2018, Belo Horizonte, Brasil 
 
 
pigmentos diversos, portanto, a pesquisa sobre o processo de manufatura destes objetos e de seus 
grupos culturais é fundamental para uma melhor interpretação dos resultados. 
Na continuidade deste trabalho, os espectros foram analisados quantitativamente para uma 
comparação quali-quantitativa entre as peças, assim como para determinar a quantidade relativa dos 
prováveis agentes pesticidas presentes nas peças. Também serão programadas medidas 
de Espectroscopia Raman Portátil para a análise da composição molecular dos materiais. 
Como futuros estudos, pretende-se estabelecer protocolos para quantificar os elementos 
identificados nos objetos. Uma análise quantitativa é essencial para a interpretação dos dados, pois 
ela nos revela se uma substância encontrada é inerente à composição de um determinado material 
ou se é resultado de adições de produtos químicos preservativos. A interpretação quantitativa dos 
dados também permitirá uma escala de identificação dos níveis de pesticidas para os profissionais 
de museus, assim como a elaboração de protocolos de acesso, regras de manuseio e empréstimos de 
objetos. 
Ainda como estudos futuros, discutiremos estratégias para mitigação das substâncias químicas 
encontradas nestes objetos. Ainda que em uma fase inicial, acreditamos que a identificação da 
presença destes pesticidas é uma importante etapa para a garantia de níveis de segurança de trabalho 
mais adequados, assim como também é um importante resgate da história não revelada destes 
objetos. 
 
Agradecimentos 
Ao CNPq e ao projeto INCT/FNA. 
 
Referências 
CLAVIR, M., Preserving what is Valued : Museums, Conservation, and First Nations, 
University of British Columbia Press, Vancouver, 2001. 
CONSERVE O Gram, Hazardous Materials Health and Safety Update, Conserve O Gram 
2/1, National Park Service, 1993. 
 
CONSERVE O Gram, Hazardous Material in Your Collection, Conserve O Gram 2/10, 
National Park Service, 1998. 
 
CONSERVE O Gram, Arsenic Health and Safety Update, Conserve O Gram 2/3, National 
Park Service, 2000. 
ODEGAARD, N. & SADONGEI, A., Old Poisons, New Problems: A Museum Resource for 
Managing Contaminated Cultural Materials, Alta Mira Press, Walnut Creek, 2005. 
OGDEN, Sherelyn (ed.). Caring for American Indian objects: a practical and cultural guide. St. 
Paul: Minnesota Historical Society Press, 2004. 
133
Hyperspectral Imaging based on a Birefringent Interferometer Applied to 
the Analysis of Artworks 
Barbara E. N. Faria1*, Gladystone R. da Fonseca1, Antonio Perri2,3, Daniela Comelli2, Gianluca 
Valentini2, Giulio Cerullo2,3, Ana Maria de Paula1, Cristian Manzoni
2
 
1 Departamento de Física, Universidade Federal de Minas Gerais, 31270-901 Belo Horizonte-MG, 
Brazil 
2 IFN-CNR, Dipartimento di Fisica, Politecnico di Milano, Piazza Leonardo da Vinci 32, I-20133 
Milano, Italy 
3 NIREOS S.R.L., Via G. Durando 39, 20158 Milano (Italy) www.nireos.com 
* Author e-mail address: barbarae@ufmg.br
Key-words: Hyperspectral imaging; Birefringence; Fourier transform spectrometer; Spectral 
imaging; Artworks. 
1. Introduction
Spectral imaging systems have been widely employed in the study of cultural 
heritages mainly because they are non-destructive powerful tools (KUBIK, 2007). It gives 
access to a rich dataset, a three dimensional data-cube (x,y,λ) where x and y are spatial 
dimensions and λ is the wavelength. The potential of this noninvasive technology provides the 
possibility for identification and characterization of pigments, inks, substrates of paintings, 
drawings, manuscripts and for conservation/restoration purposes (DANIEL, 2016). Recent 
advances in the development in hyperspectral imaging and similar techniques allowed high 
spectral and spatial resolution, low cost and more compact devices (POLAK, 2017; LIANG, 
2012). 
In this contribution, we propose a new hyperspectral system, capable of acquiring a 
complete full continuous spectrum of the light from each point of a scene with unprecedented 
stability The hyperspectral system is based on the Fourier-transform approach and employs a 
novel ultrastable common-mode interferometer. We propose two different configurations: a 
camera for macroscopic imaging and a microscope device. The first one enables the remote 
examination of large areas, whereas the second allows the acquisition of spectral images at 
microscopic levels. Both can be applied to cultural heritage.. 
2. Methodology
Our hyperspectral imaging system is based on a Fourier transform (FT) spectrometer. 
Differently from the frequency-domain spectrometers, that use dispersive elements, the 
Fourier transform spectrometers are based on an interferometer. Our system is equipped with 
TWINS (Translating-Wedge-based Identical pulses eNcoding System), a novel birefringent 
interferometer (BRIDA, 2012; ORIANA, 2016), which demonstrated exceptional stability and 
reliability. We present two setup configurations that allow macroscopic and microscopic 
imaging. A camera for macroscopic imaging (PERRI, 2018), illustrated in Figure 1(a), and a 
microscope device, shown in Figure 1(b). The TWINS is composed of two birefringent blocks 
134
http://www.nireos.com/
B 
A 
(b) 
A and B, and two polarizers P1 and P2. P1 polarizes the input light at 45° with respect to the 
optical axes of the birefringent materials; block B introduces a fixed phase delay between the 
two orthogonal projections that propagate along the fast and slow axes of the material. Block 
A has optical axis normal to the one of block B (see green arrows and circle in Fig. 1(a)), thus 
introducing a phase delay with opposite sign. The overall phase delay ranges from positive to 
negative values according to the relative thickness of the two blocks. To enable fine tuning of 
the phase delay, block A is shaped in the form of two wedges with the same apex angle, one 
of which is mounted on a motorized translation stage. Interference between the two replicas is 
guaranteed by P2, which is set at 45° and projects the two fields to the same polarization. The 
camera lens collects the light and creates an image on a 12-bits silicon monochrome CMOS 
camera. The microscope is composed of an infinite-corrected objective, located before the 
birefringent interferometer, a tube lens and a monochrome CCD camera with a lens.Figure 1: (a) Schematic setup of the hyperspectral camera; P1 and P2: wire grid polarizers at angle of +/- 45° 
with respect to the optical axes of A and B; A (wedges) and B (plate): α-BBO birefringent blocks; (b) Schematic 
setup of the hyperspectral imaging microscope; the polarizers and the birefringent blocks are the same as panel 
(a); Obj: 40X objective with NA = 0.6; Tube lens: Nikon zoom lens with adjustable focal length; Camera: 
monochrome CCD with 12 bits and sensitivity in the 290-1000 nm range with a Nikon camera lens. 
 
3. Results and Discussion 
To verify the microscope capability, we imaged a smartphone screen; the results are 
illustrated in Fig. 2(a,b). We acquired 500 images, scanning the position of the wedges from -
0.4 to 1.6 mm around the zero phase-delay (ZPD). After the FT of the interferogram for each 
image pixel, we obtained the spectra from the red (R), green (G) and blue (B) emitters. Panel 
(b) compares the spectra measured by the hyperspectral microscope with the averaged one 
detected by a traditional grating-based spectrometer; the very good agreement between the 
two techniques reveals the hyperspectral capability of the FT microscope. From the spectra of 
the three emitters, we calibrated the frequency of the spectral imaging system; by processing 
the spectral information of each image point, we generated the image of panel (a). Calibration 
was also checked using numerous spectral peaks from the light of a mercury and a Ne-Ar 
lamp. 
 
135
1 
2 
3 
4 
5 
6 
Whit
e 
(a) (b) 
(a
) 
(b
) 
450 
μm 
Figure 2: (a) Hyperspectral microscope image of a smartphone digital display; the colored image (587x587 
pixels) is generated from the measured spectra of the R, G, B emitters. (b) Spectra of the R, G, B emitters, 
measured by the hyperspectral microscope (solid line) and a commercial dispersive spectrometer (dashed line). 
 
Hyperspectral imaging is also a common tool for preliminary analysis of large painted 
surfaces of properties such as luminescence and reflectance. To provide an experimental proof 
of the capability of the ultraspectral camera we performed a measurement in a model painting. 
 
Figure 3: Hyperspectral imaging of the model painting. (a) RGB image synthesized from the hyperspectral data. 
(b) Reflectance spectrum of each point indicated in the painting. 
 
Figure 3(a) shows the hyperspectral measurement of a model panel painting (90 mm x 
130 mm in size) by Aviva Burnstock, with traditional pigments from a local supplier, bound 
in an egg-based binding medium. It was made on a wooden panel with a gypsum (CaSO4) 
ground layer and a second preparation layer containing lead white (2PbCO3-Pb(OH)2) 
(MOSCA, 2016). Visible light diffusely reflected from the model painting was collected using 
the hyperspectral camera, described in the Figure 1(a). It was illuminated by a xenon lamp 
and 400 images were acquired by scanning the position of the wedges to ±1mm around the 
ZPD; the exposure was 190 ms per frame. Our results are in a great agreement with the 
literature. 
136
 
4. Conclusion 
In conclusion, we demonstrate hyperspectral imaging devices based on a birefringent 
FT spectrometer; the devices respectively enable spectral imaging at macroscopic and 
microscopic level, and are powerful tools for artwork analysis. We present images with, broad 
spectral coverage and high spectral resolution. 
 
Acknowledgements 
We acknowledge financial support from the Brazilian funding agencies: Fapemig, 
CNPq, and Capes. 
 
References 
(KUBIK, 2007) Kubik, M., “Hyperspectral imaging: a new technique for the non-invasive 
study of artworks”, In Physical techniques in the study of art, archaeology and cultural 
heritage,Vol. 2, pp. 199-259 Elsevier (2007) 
(DANIEL, 2016) Daniel, F., Mounier, A., Pérez-Arantegui, J., Pardos, C., Prieto-Taboada, N., 
de Vallejuelo, S. F. O., and Castro, K., “Hyperspectral imaging applied to the analysis of 
Goya paintings in the Museum of Zaragoza (Spain)”, Microchemical Journal, 126, 113-120 
(2016). 
(POLAK, 2017) Polak, A., Kelman, T., Murray, P., Marshall, S., Stothard, D. J., Eastaugh, N., 
and Eastaugh, F., “Hyperspectral imaging combined with data classification techniques as an 
aid for artwork authentication”, Journal of Cultural Heritage, 26, 1-11 (2017) 
(LIANG, 2012) Liang, H., “Advances in multispectral and hyperspectral imaging for 
archaeology and art conservation”, Applied Physics A, 106(2), 309-323 (2012) 
(BRIDA, 2012) D. Brida, C. Manzoni, and G. Cerullo, “Phase-locked pulses for two-
dimensional spectroscopy by a birefringent delay line,” Opt. Lett. 37, 3027-3029 (2012) 
(ORIANA, 2016) A. Oriana, J. Réhault, F. Preda, D. Polli, and G. Cerullo, “Scanning Fourier 
transform spectrometer in the visible range based on birefringent wedges”. Journal of the 
Optical Society of America A 33, 1415 (2016) 
(PERRI, 2018) Perri, A., de Faria, B. E. N., Ferreira, D. C. T., Polli, D., Comelli, D., 
Valentini, G., and Manzoni, C. “A Hyperspectral Camera for Remote Sensing based on a 
Birefringent Ultrastable Common-Path Interferometer”, In Hyperspectral Imaging and 
Sounding of the Environment (pp. HM3C-4), Optical Society of America, (2018, November) 
(MOSCA, 2016) Mosca, S., Alberti, R., Frizzi, T., Nevin, A., Valentini, G., and Comelli, D., 
“A whole spectroscopic mapping approach for studying the spatial distribution of pigments in 
paintings”. Applied Physics A, 122(9), 815 (2016) 
 
137
2ª
Vitória Falcão Sattler 
João Paulo Freitas Daldegan 
Willi de Barros Gonçalves 
Willi de Barros Gonçalves 
Thiago Sevilhano Puglieri 
Gabrielle Moraes Lopes da Silva 
Cleidson Justino de Medeiros

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