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Valor Econômico 08.08.22

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Jornal Valor --- Página 15 da edição "08/08/2022 1a CAD A" ---- Impressa por CCassiano às 07/08/2022@20:08:29
Sábado, domingo e segunda-feira, 6, 7 e 8 de agosto de 2022 | Ano23 | Número 5558 | R$5,00www.valor.com.br
Nãohá risco de crise de
governabilidade na
Colômbia comPetro, diz
ErnestoSamperA11
STJafastamulta de
100%por sonegação
fiscal em importaçãoE1
Comvoto deKamala
Harris, Senadodos
EUAaprovapacote
climático de
BidenA11
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Jornal Valor --- Página 16 da edição "08/08/2022 1a CAD A" ---- Impressa por CCassiano às 07/08/2022@16:05:02
2 | Valor | Sábado, domingo e segunda-feira, 6, 7 e 8 de agosto de 2022
*LEITE DE MAGNÉSIA DE PHILLIPS: hidróxido de magnésio 8%. Indicação: laxante suave e antiácido. MEDICAMENTO DE NOTIFICAÇÃO SIMPLIFICADA RDC ANVISA N° 199/2006. AFE 1.03764-8. SE PERSISTIREM OS SINTOMAS, O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO. NÃO USE ESTE MEDICAMENTO EM CASO DE DOENÇAS DOS RINS. BR-LMP-BAT-RG-062022-01 | JUN/2022
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Marcelo Serrado & Édio Nunes
12/08 - 20h
Fogo e Paixão
21/08 - 16h
Suricato
20/08 - 20h
Roberta Sá
13/08 - 20h
Fernando Rosa
13/08 - 16h
Kynnie
19/08 - 20h
Fica Comigo
14/08 - 16h
Lica Tito
20/08 - 16h
Malía
11/08 - 20h
Elba Ramalho
20/08 - 14h
Catha
Jornal Valor --- Página 1 da edição "08/08/2022 1a CAD A" ---- Impressa por CCassiano às 07/08/2022@21:34:12
Sábado, domingo e segunda-feira, 6, 7 e 8 de agosto de 2022 | Ano23 | Número 5558 | R$5,00www.valor.com.br
Cursosuperiornãogarantecolocação
MarsíleaGombata
DeSãoPaulo
O número de pessoas com formação
universitária que trabalham em vagas
que não demandam instrução de nível
superior aumentou em quase 480 mil,
para 4,9 milhões de trabalhadores,
nos dois últimos trimestres. Antes da
pandemia, no início de 2020, os cha-
mados “overeducated” (sobre-educa-
dos, em uma tradução livre) ultrapas-
savam 4,3 milhões de pessoas, segun-
do a consultoria IDados, com base na
Pesquisa Nacional por Amostra de Do-
micílio Contínua, do IBGE.
Segundo Ana Tereza Santos, da IDa-
dos, há um excesso de mão de obra
com qualificação universitária no país,
umavezqueomercadodetrabalhonão
está criando vagas suficientes para ab-
sorver o estoque com esse perfil. Santos
tambémdetalhaqueoaumentodosso-
bre-educados vem sendo puxado por
trabalhadores mais jovens, que têm o
diploma, mas não conseguem atuar na
área de sua formação.PáginaA4
Crise obriga indústria global
aenfrentarciclo inflacionário
AdrianaMattos
DeSãoPaulo
As maiores empresas globais de con-
sumo elevaram em até dois dígitos (20%)
os preços de seus produtos, na América
Latina e no mundo, nos últimos meses,
com consequente queda em volume na
maioria dos casos, para compensar a alta
emcustosdacadeiadeprodução.
O Brasil foi afetado pelas políticas de
reajustes e é citado por executivos de
quatro das oito companhias que publi-
caram resultados: Unilever, P&G, Kim-
berly-Clark,Nestlé,Danone,Coca-Cola,
Whirlpool e Electrolux. No mundo,
cincodelas subirampreçosevenderam
quantidades menores de abril a junho
— apenas Coca-Cola, Nestlé e Danone
reajustaram sem perder volume.
Nos últimos dias, os CEOs precisaram
apresentar, emteleconferênciasderesul-
tados do 2o trimestre, suas estratégias de
reação ao cenário global de inflação, em
parte, incitadospelosanalistas,quecolo-
caram dúvidas sobre as políticas de pre-
ços. O desafio maior para essas empresas
é que seus mercados consumidores são
muito diferentes em termos de estrutura
decusto,hábitose tolerânciaa reajustes.
“Hoje, em alguns casos, é uma discus-
são dura tratar de preços, [porque tem
que] garantir que não fiquemos fora do
mercado”, disse o CEO da Danone, An-
toine de Saint-Affrique, a investidores.
Com expectativa de que as pressões em
Pix já empata
comboletono
e-commerce
MarianaRibeiro
DeSãoPaulo
A aceitação do Pix nas principais lojas
on-line do país marcou novo recorde e já
divide com o boleto a 2a posição entre as
formas de pagamento mais disponibili-
zadas no e-commerce. No mês passado,
78% das 59 maiores lojas virtuais — res-
ponsáveis por 85% do comércio eletrôni-
co no país — ofereciam a opção de paga-
mento instantâneo. Além disso, 24% das
plataformas que aceitam o Pix oferecem
descontos nessa forma de pagamento,
entre 3% e 10%. Para especialistas, o risco
de fraudeéumdosdesafiosdoPix.Ocar-
tão de crédito segue líder, mas os parce-
lamentos têmdiminuído.PáginaC1
Fabricantesdecelularespõemempráticasuasestratégiasparaaumentarasvendasnaesteiradoavançodo5Gnopaís—oquartomaiormercado
domundo. A Samsung, por exemplo, aposta no leasing e na entrega do aparelho usado como parte de pagamento, diz Antonio Quintas Página B7
A
N
A
PA
U
LA
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IV
A
/V
A
LO
R
Nãohá risco de crise de
governabilidade na
Colômbia comPetro, diz
ErnestoSamperA11
STJafastamulta de
100%por sonegação
fiscal em importaçãoE1
custoscontinuem,os repassesdevemsees-
tender de forma disseminada pelos países,
inclusive no mercado latino, onde o Brasil
chega a ter metade das vendas de certas
marcas. Alan Jope, CEO da Unilever, por
exemplo,disseainvestidoresqueacompa-
nhia repassou na América Latina, até ago-
ra, 70% das altas de custos sentidas após a
pandemiadecovideaguerranaUcrânia.
Paraalgumascompanhias,osaumentos
ocorremapartirde“cálculo”deperdaacei-
táveldevolume.Segundooutras,aapostaé
no “valor” da marca, como a P&G, que su-
biu preços no mundo em 8% no 2o trimes-
tre e perdeu 1% em volume. Richard Pelz,
da Bain & Company, disse, em apresenta-
ção,serdifícildecidirquandoequantorea-
justar.Oriscoéperdermercado.PáginaB1
Sinal aberto
Comvoto deKamala
Harris, Senadodos
EUAaprovapacote
climático de
BidenA11
Ibovespa 5/ago/22 0,55% R$ 26,2 bi
Selic (meta) 5/ago/22 13,75% ao ano
Selic (taxa efetiva) 5/ago/22 13,58% ao ano
Dólar comercial (BC) 5/ago/22 5,2159/5,2165
Dólar comercial (mercado) 5/ago/22 5,1663/5,1669
Dólar turismo (mercado) 5/ago/22 5,1949/5,3749
Euro comercial (BC) 5/ago/22 5,3030/5,3057
Euro comercial (mercado) 5/ago/22 5,2587/5,2593
Euro turismo (mercado) 5/ago/22 5,3051/5,4851
Ideias
Indicadores
EdvaldoSantana
Ainda se escuta que o Brasil é um país mis-
cigenado, onde todos são iguais. São as fra-
ses pintadas no muro da hipocrisia.A12
Sergio Lamucci
O foco no curto prazo nubla a discussão
sobre como fazer a economia brasileira
crescer de modo sustentável.A2
Destaques
O Federal Reserve (Fed, o banco central
dos Estados Unidos) deverá desacelerar
o ritmo de altas de juros já em sua pró-
xima reunião, provavelmente elevando
a taxa referencial em 0,5 ponto percen-
tual em setembro, afirma Marzo Ber-
nardi, chefe global de serviços a clien-
tes da Western Asset. De acordo com o
executivo, ainda existe a possibilidade
de um “soft landing” (pouso suave) da
economia americana, sem que o país
entre em recessão. C2 e C3
ALreduzemissões soberanas
Governos latino-americanosvenderam
apenasUS$21,6bilhõesemdívidasdeno-
minadasemdólar, euroe ienenesteano
até4deagosto,umdeclíniode61%emre-
laçãoaomesmoperíodode2021.Aoferta
denovos títulosexternos sofreuumtom-
boemtodoomundo, comoresultadodos
aumentosde jurospelosprincipaisban-
coscentrais, que tornaramoacessoaos
mercadosdecapitaismaisoneroso.C2SyngentacompraAgroJangada
ASyngenta, companhia suíçadesementes
edefensivos controladapelaestatal chine-
saChemChina, comprouaredededistri-
buiçãode insumosagrícolasAgro Janga-
da,deMatoGrossodoSul.Comonegócio,
queaindadependedeaprovaçãopeloCa-
de, a cadeiadamultinacionalnopaíspas-
saacontar com60 lojas,dasbandeiras
Agro Jangada,AtuaAgro (ParanáeRio
GrandedoSul) eDipagro (MatoGrosso).
Ovalorda transaçãonão foidivulgado.B8
Brookfieldpreparavendadeativos
A Brookfield sinalizou que uma possí-
vel oferta pública inicial de ações (IPO,
na sigla em inglês) da BRK Ambiental
poderá abrir caminho para a futura
venda de sua participação na empresa
de saneamento, da qual detém 70%.
Outro ativo do qual a gestora pretende
se desfazer no Brasil é a concessionária
de rodovias Arteris, na qual é sócia da
espanhola Abertis. B4
Westernaindacrêem‘soft landing’
Petroleirasmultiplicam lucros
AsprincipaispetroleirasnaAméricadoNor-
te, América Latina e Europa multiplicaram
os lucros, impulsionadaspelospreçosdepe-
tróleo e gás. ExxonMobil, Chevron, Conoco-
Phillips, Shell, TotalEnergies, BP, Eni, Equi-
nor, Petrobras, Pemex e Ecopetrol somaram
receitas de US$ 594,3 bilhões no 2o trimes-
tre,umaaltade77%emrelaçãoaigualperío-
do de 2021. O lucro conjunto de US$ 98 bi-
lhõesémaisdetrêsvezesmaior.B3
Eleiçãodevetrazerpoucarenovação
Comapolarizaçãoeoesgotamentodaon-
da“antissistema”quemarcouaseleições
de2018,analistaspolíticosdizemacreditar
quearenovaçãonaCâmaradosDeputados
enasAssembleiasLegislativasserábaixano
pleitodesteano.Alémdisso, ferramentas
dealiciamentodeparlamentarespeloPla-
nalto,comoo“orçamentosecreto”, tendem
areforçaressatendência.A8
Às 12h, no www.valor.globo.com
LIVE do
Segunda, 8/08, às 12h –Malu Gaspar,
repórter e colunista do jornal O Globo;
Fernando Torres, editor executivo do
Valor;Marcelo d'Agosto, economista e
colunista do Valor Investe
Terça, 9/08, às 12h –Mafoane Odara,
líder de recursos humanos (HRBP) da Meta
para a América Latina
“Háumapopulaçãosensível aconsumirvaloresdepermanência”, dizPierreRainero,daCartier
DIVULGAÇÃO
.
Prejuízo fiscal
poderáabater
dívidaativa
BeatrizOlivon
DeBrasília
A Procuradoria-Geral da Fazenda Na-
cional (PGFN) editou nova portaria que
altera as regras para negociação de débi-
tos inscritos em dívida ativa, por meio da
transação tributária. Agora, prejuízo fis-
cal e base negativa da CSLL poderão ser
usados para pagar o principal da dívida,
e não apenas multas e juros. Portaria de
1o de agosto previa apenas o abatimento
dos acréscimos. A PGFN ressalta, no en-
tanto, que o uso desses créditos se dará
emcasos “excepcionais”.PáginaE1
Alta joalheria
elevareceitade
grifesde luxo
PedroDiniz
Para oValor, deGenebra
Nosmesesmaisdifíceisdapandemiae
nacontramãodovarejoglobal,asvendas
das joalherias de luxo cresceram e foram
explicadas por viagens suspensas e pou-
pança forçada da população de maior
poder aquisitivo. Agora, mesmo com a
alta dos insumos, que fez saltar o preço
das joias, as vendascontinuamfirmes.
Tiffany e Bvlgari, por exemplo, registra-
ram resultados recordes. As grifes impul-
sionaram o crescimento de 16% da área de
joias e relógios do grupo LVMH no 1o se-
mestre, em relação ao mesmo período de
2021. Foram €4,9 bilhões em vendas. Entre
abril e junho, as joalheriasdogrupoRiche-
mont (Van Cleef & Arpels, Buccellati e Car-
tier) responderam por €3,01 bilhões em
vendasecrescimentode12%.PáginaB6
Eletrobrasdeve
dardestaquea
fonterenovável
FábioCouto eJulianaSchincariol
DoRio
A Eletrobras tem potencial importan-
te para ser uma das maiores empresas de
energia renovável do mundo, diz Wilson
Ferreira Jr., recém-eleitopelonovoconse-
lho de administração para presidir a
companhia. Segundo o executivo, um de
seus desafios será demonstrar que a pri-
vatização da maior empresa de geração e
transmissão de energia do país foi corre-
ta para gerar valor ao acionista e a todos
ospúblicosdaempresa.PáginaB5
Estatalvirouativo
eleitoral,dizPetros
MariaCristinaFernandeseFranciscoGóes
DeSãoPaulo e doRio
O conselheiro da Petrobras Francisco
Petros afirma que a empresa se transfor-
mou em ativo eleitoral e que interven-
ções sucessivas na petroleira configuram
“poder abusivo” do acionista controla-
dor, a União, além de demonstrar que a
Lei das Estatais já não oferece a proteção
queacompanhiaprecisa.PáginaA14
Jornal Valor --- Página 2 da edição "08/08/2022 1a CAD A" ---- Impressa por CCassiano às 07/08/2022@22:51:56
A2 | Valor | Sábado, domingo e segunda-feira, 6, 7 e 8 de agosto de 2022
Brasil
70/30 Food Tech B8
Abertis B4
Agro Jangada B8
Ambev B5
Americanas B7
Andrade Gutierrez B4
Apple B2
Arko Advice A8
Arteris B4
Arthur J. Gallagher & Co
C1
ASA Investments C3
Assaí B1
Bain & Company B1
Banco do Brasil C1
Bank of America B5
Berkshire Hathaway C4
BlueLine C3
BNSF C4
Bom Futuro B8
BP B3, B5
Bradesco B5, C1
Brand Finance Brasil B1
BRF A14
BRK Ambiental B4
Brookfield B4
BTG Pactual B5, C1
Caixa B4
Camargo Corrêa B4
Chevron B3, B5
Cielo C1
Cipatex B4
Clealco B8
CNODC B5
Cnooc B5
Coca-Cola B1
ConocoPhillips B3
Danone B1
Dao Foods B8
Ecopetrol B3
Electrolux B1
Eletrobras A14, B5
Eni B3
Equinor B3
ExxonMobil B3
Ford B2
Galapagos Capital C3
Geico C4
GetNet C1
Gmattos C1
Goldman Sachs B5
Google B2
Gouvêa Ecosystem B1
GPA B1
Havaianas B1
Heineken B2
IBM B2
Inter C3
Invesco Capital
Management B7
Itaú BBA B3, B5
Itaú Unibanco B5
JBS A10
Julius Baer Family Office
C3
Localiza B1
Locaweb B7
Marisa B1
Morgan Stanley B4
Movida B1
Neelix Consulting Mining &
Metals B4
Nestlé B1
Novonor B4
Nubank B1
OAS B4
Occidental Petroleum C4
Odebrecht A10
P&G B1
PagSeguro C1
Pemex B3
Petrobras A14, B3, B5
Petronas B5
Pimco C6
Porto Seguro B7
Quaest A8
Renner B1
Samsung B7
Sanepar B5
Santander B5, C6
Santiago Cotton B8
Shell B3, B5
Síntese Soluções B7
Sixth Street B6
Socios B6
Spotify B6
Stone C1
StoneX B8
Syngenta B8
Systemiq no Brasil A6
Tesla B7
Toro C6
TotalEnergies B3, B5
Twitter B7
UBS BB B5
Unidas B1
Unilever B1
Universidade da Califórnia
B2
UTC B4
Vale B4, B5
WEG B5
Western Asset C2
Whirlpool B1
Índice de empresas citadas em textos nesta edição
Sergio Lamucci
Comfoconocurtoprazo,
Brasilvendeofuturo
Governomirareeleição,
semseimportarcom
custoseconsequências
O
governode Jair
Bolsonarooperaem
2022comofocoem
medidasdecurto
prazopara
melhorarapopularidadedo
presidente,não importandoo
efeito sobreacredibilidadedas
instituições fiscaisdopaís.
Iniciativas comhorizontede
poucosmeses terão impacto
duradouro.Háreduçõesde
impostosbaseadasno
pressupostodequeoaumento
correntede receitas será
permanente, afetandoa
situação fiscal futuradeEstados
emunicípios. Elevaçõesde
gastosprevistasparavigorar
apenasnosegundosemestre
devemseperenizar.Háainda
adiamentodedespesas—caso
dosprecatórios—quepoderão
gerarumaboladenevede
dívidasnospróximosanos.
Algumasdessasmedidasforam
tomadaspormeiodePropostasde
EmendaàConstituição(PEC),
banalizandouminstrumentoque
deveriaserusadodemodo
criterioso.Paracompletar,
iniciativasdeestímuloàdemanda
ocorremnumambienteemqueo
BancoCentral(BC)seesforçapara
derrubarumainflaçãoqueroda
nacasadosdoisdígitosháquase
umano.Comisso,osjurosterão
deficarmaisaltospormaistempo.
Umdosresultadosdessa
estratégiapopulistaéturvaro
cenárioàfrente.Emjulho,o
IndicadordeIncertezana
Economia(IIE)daFundação
GetulioVargas(IIE)subiupelo
terceiromêsseguido,atingindo
120,8pontos,umnível
historicamenteelevado—
númerosacimade110pontossão
consideradosaltos.
ParaoeconomistaLivio
Ribeiro, sóciodaBRCG
Consultoria,estáemconstrução
umquadrofuturorecheadode
dúvidas—nasreceitas,nas
despesasenasregras fiscais
gerais.Eleressaltaoaumentodo
customédiodoendividamento
dogoverno.Nos12mesesaté
junho,ocustomédiodadívida
públicafederal ficouem10,9%ao
ano,bemacimados7,18%de
junhode2021.
“Operfildasreceitasé
perigoso”,adverteRibeiro,
tambémpesquisadorassociado
doInstitutoBrasileirode
EconomiadaFundaçãoGetulio
Vargas(FGVIbre).Háumapiora
dasperspectivasparaospreçosde
commoditiesqueajudarama
engordaroscofrespúblicos,
comopetróleoeminériodeferro,
dadaaperdadefôlegoda
economiaglobal.
Ocardápiodemedidas
populistaspatrocinadaspelogovernoBolsonaroéextenso.Os
efeitosdealgumasdecisõesserão
sentidosmuitoalémdosegundo
semestre,podendoatingira
situaçãoestruturaldascontas
públicas.Umdosexemplos
emblemáticoséolimite imposto
aosEstadosparacobrançado
ICMSsobreitenscomoenergia
elétricaecombustíveis,para
derrubarainflaçãonocurto
prazo.Ribeirodizqueas
mudançasnoICMSabremum
buracopotencialnasreceitasde
Estadosemunicípiosdecercade
R$70bilhõesporano.
“Estáabertaumacrise
federativa”,resumeele, lembrando
quealeiaprovadapeloCongresso
sobreoassuntoéumainterferência
federalnumtributoestadual.Aalta
recentedaarrecadaçãosedeveu
especialmenteàinflaçãoelevadaeà
altadospreçosdecommodities,
combinaçãoquenãodeveserepetir
em2023.Numcenáriode
desaceleraçãoglobalmaisintensa,
comoaesperadadaquiparafrente,
asperspectivasparaascotaçõesde
produtosprimáriosnãosãodas
melhores,porexemplo.Nascontas
deRibeiro,umaquedade10%dos
preçosemreaisdepetróleoede
minériosreduziriaaarrecadação
anualdeUnião,Estadose
municípiosemR$42bilhões.
Comohaviamalertado
especialistasemcontaspúblicas,
o limite impostoaoICMSfoi
judicializadopelosEstados.São
Paulo,Maranhão,PiauíeAlagoas
conseguiramliminaresno
SupremoTribunalFederal (STF)
paracompensaremaperdade
receitacomareduçãodoICMS
sobreesses itens, suspendendoo
pagamentodasprestaçõesda
dívidacomaUnião.
Aprincipalapostadogoverno
parareelegerBolsonaroéa
chamadaPECKamikaze.Aum
custodeR$41,5bilhões,que
ficaráforadotestodegastos,a
propostaelevouovalordoAuxílio
BrasildeR$400paraR$600,
instituiuumauxílioaos
caminhoneiroseumaajudaaos
taxistasedobrouovalegás.De
cunhoobviamenteeleitoreiro,as
medidasvalematéofimdoano,
maspelomenosoAuxílioBrasil
deR$600deveserperenizado–
tantoBolsonaroquantoo
ex-presidenteLuiz InácioLulada
Silva jáafirmaramqueovalorserá
mantidoem2023.
Oprogramadevecustar
R$141,8bilhõesnoanoquevem,
considerandoamanutençãodo
valoremR$600eaincorporaçãode
quemtemdireitoaobenefícioe
estavanafila,dizRibeiro.Éum
montanteR$52,7bilhõesmaior
queosR$89,1bilhõesdoAuxílio
Brasiloriginal,comvalordeR$400.
Ribeiroressaltaaindaum
pontoquetemficadoem
segundoplano:osesqueletos
fiscaisqueserãodeixadosparaos
próximosanos.Éocasodos
precatóriosdaUnião,cujo
pagamentoanual foi limitadopor
umaPECaprovadanofimdoano
passado.Comisso,aquitaçãode
umaparcelasignificativadas
sentenças judiciaiséadiadapara
osanosseguintes.
O focodogovernoestáem
iniciativaspara tentarmelhorar
apopularidadedeBolsonaro,
sempreocupaçãocomocusto
oucomassuasconsequências.
“Comtantamudançaderegra,
perde-seacapacidadede
antecipar”, afirmaRibeiro. “Esse
éograndeproblema.Comose
planejardesse jeito?”Medidas
tomadasde improviso
aumentamaincertezae
dificultamacapacidadede
planejamentonaeconomia,o
queprejudicaemespecialo
investimento.Osestímulosde
curtoprazopoderão fazera
economiacresceralgoentre
1,5%e2%nesteano,maspara
2023adesaceleraçãodeve ser
forte—Ribeiroprojeta1,5%em
2022e0,1%noanoquevem.
“Estamosvendendoofuturo”,
dizele,preocupadocomofato
deos“anabolizantesdecurto
prazo”nublaremumdebate
importante: “Aocontráriodo
queogovernoprega,nãovemos
fatoresdedinamização
estruturaldaeconomia:estamos
presosemumaarmadilhade
baixocrescimento”,afirma
Ribeiro.Elenotaqueopaísnão
contamaiscomobônus
demográfico,umavezquea
populaçãoemidadede
trabalharpassouacresceraum
ritmoinferioraodapopulação
total. Issosignificaquese
encerrouafasemais favorávelda
estruturaetáriadopaísao
crescimento. “Alémdisso,a
acumulaçãodecapital fixoé
insuficiente,nãosomosbonsem
capitalhumano,aindaquese
tenhamelhoradoumpouco,e
temosbaixaprodutividade”,
enumeraRibeiro, emendando
umapergunta incômodaehoje
semresposta: “Oquefaráa
economiabrasileiracrescerde
formasustentável?”
SergioLamucci é editor-executivo e
escreve quinzenalmente
E-mail: sergio.lamucci@valor.com.br
Superaçãodacriseexigeprimaziada
economiapolítica,dizPersioArida
CristianoRomero
DeBrasília
A superação da crise econô-
mica exigirá a primazia da cha-
mada economia política, diz
Persio Arida, um dos formulado-
res do Plano Real. Além da ne-
cessidade de corrigir o legado de
“distorções” criadas pelo atual
governo e o Congresso, a próxi-
ma gestão terá que propor uma
série de reformas institucionais
nas áreas tributária, orçamentá-
ria e administrativa, uma agen-
da que demandará grande capi-
tal político. A tarefa, observa o
economista, será hercúlea e terá
que ser tocada em meio a um ce-
nário internacional difícil.
Em coautoria com cinco eco-
nomistas, Persio lançou na sexta-
feira um conjunto de propostas
para o governo que o país terá a
partir de 2023, intitulado “Con-
tribuições para um Governo De-
mocrático e Progressista”. No do-
cumento, os autores vão além da
proposição de medidas e trazem
algo inédito: a combinação de
propostas para que o país avance
do ponto de vista institucional
com outras que assegurem, du-
ranteoperíododeajuste,oapoio
da sociedade às reformas. A ideia
é instituir “programas especiais
de gastos”, que na área social au-
mentariam a despesa de 0,4% do
PIB para 1% do PIB.
“O governo precisa de refor-
mas que são absolutamente ne-
cessárias para o Brasil retomar o
crescimento econômico”, disse
ele ao Valor. “É sempre possível
que tudo dê certo e não precise
de nada e o programa de gastos
especiais pode ser anunciado
mais para frente”, disse.
“Estamos dando primazia a ar-
gumentos de economia política
em relação aos argumentos estri-
tamente econômicos, o que é
uma novidade. Um governo com
ímpeto político sustentado ape-
nas pelo carisma do governante,
capaz de encaminhar com suces-
so as reformas sem violar o teto
de gastos, traria efeitos imedia-
tos positivos sobre a inflação e o
crescimento. E esses efeitos po-
dem gerar um círculo virtuoso,
dando mais credibilidade ao go-
verno e aumentando sua base de
sustentação. A pergunta é: tere-
mos esse governante? Podemos
nos fiar no atingimento do first
best?”, questiona ele. A seguir, os
principais trechos da entrevista:
Conjuntura internacional — Há o
desafio de um cenário interna-
cional mais difícil, que certa-
mente complica as coisas para o
Brasil. Os bancos centrais, com
exceção do Brasil, estão muito
aquém do que deveriam estar do
ponto de vista do combate à in-
flação. Talvez não queiram com-
bater a inflação tanto quanto di-
zem querer. Principalmente no
caso dos Estados Unidos.
Polarizaçãopolítica— É um cená-
rio em que, além desses desafios,
a polarização política não desa-
parece após as eleições, como a
situação nos Estados Unidos cla-
ramente deixa a perceber. Além
disso, uma coisa é corrigir o lega-
do de distorções que vêm do go-
verno Bolsonaro. A outra coisa é
como avançar.
Medidas para avançar — Basica-
mente, estamos falando de uma
reforma tributária, na linha da
adoção de um imposto sobre va-
lor adicionado com uma alíquo-
ta única, com mudanças para as-
segurar que a tributação seja
neutra; fazer uma abertura co-
mercial com determinação, se
necessário, de forma unilateral,
em algumas áreas críticas. A área
tecnológica é um bom exemplo.
É preciso mudar a política de
imigração e trabalho do Brasil,
queestámuito fechado.Épreciso
facilitar a concessão de vistos de
trabalho para estrangeiros. Ou-
tro ponto é fazer uma reforma do
Estado na direção de tornar o go-
verno mais eficiente. É preciso fa-
zer com os gastos sociais voltem
a ter foco. Outra medida é reto-
mar as privatizações. Nem as es-
tatais criadas pela [ex-presiden-
te] Dilma foram fechadas. A mo-
tivação correta é você reduzir o
tamanho do Estado na economia
e liberar o capital público que es-
tá nas estatais para as áreas que
precisam. O Brasil vai precisar
também de um novo ordena-
mento fiscal, que envolve não
apenas uma nova regra para gas-
tos. Tem um cipoal de legislação
de gasto orçamentário que preci-
sa ser simplificado. O Brasil pre-
cisa passar por um processo de
desconstitucionalização não pa-
ra mexer em princípios federati-
vos ou em direitos e garantias
fundamentais. Detalhamento de
política econômica não pode es-
tar na Constituição.
Tetodegastos— Do ponto de vis-
ta do controle inflacionário, é
claro que o ideal é manter o teto
degastosa ferroe fogoem2023e
talvez 2024 para asseguraruma
política fiscal contracionista. O
que me preocupa, no entanto, é
muito mais uma consideração de
economia política do que de eco-
nomia estritamente falando.
A questão é como assegurar
que um governo comprometido
a sério com reformas politica-
mente difíceis — adoção do IVA,
reequilíbrio de taxação para evi-
tar aumentar desigualdades, re-
forma administrativa, abertura
comercial, se necessário com re-
dução unilateral de tarifas, refor-
ma do Estado, reequilíbrio do
Orçamento entre o Executivo e o
Legislativo, etc. — pode se susten-
tar politicamente ao longo do
tempo? O ideal seria um gover-
nante comprometido com refor-
mas modernizantes e ao mesmo
tempo carismático o suficiente
para ampliar substantivamentea
‘lua de mel’ dos primeiros meses.
No plano do ideal, esse gover-
nante só anunciaria os progra-
mas especiais de gastos quando a
redução de despesas obrigató-
rias possibilitar abrigar os pro-
gramas especiais dentro do teto
de gastos. Os programas espe-
ciais, de que o Brasil tanto preci-
sa, seriam anunciados nesse mo-
mento.
Programas especiais— Como fa-
zer para assegurar a sustentabili-
dade política de um governante
comprometido com as refor-
mas? Se o ideal não se materiali-
zar, temos que pensar em uma
solução 'second best' [a melhor
alternativa possível]. E o 'second
best' são os programas especiais.
Dificilmente um novo governan-
te reduzirá o pacote 'emergen-
cial' do Bolsonaro, que corres-
ponde a 0,6% do PIB. Claro que os
programas sociais têm que ser
melhor focalizados, mas na prá-
tica nenhum governante, acho
eu, vai reduzir os gastos sociais.
Ou seja: os 0,6% do PIB vão se pe-
renizar. Nossos programas [pro-
postos no documento ‘Contri-
buições para um Governo Demo-
crático e Progressista’], no valor
de 1% do PIB, na verdade acres-
centam apenas 0,4% ao que pre-
valece hoje. No texto, deixamos
claro que esse 1% tem que corres-
ponder a cortes das despesas
obrigatórias e revisão dos gastos
(avaliação, metas, etc.) aprova-
dos e cuja materialização aconte-
cerá ao longo do tempo. E mais:
teriam uma nova governança,
com metas públicas e orçamento
transparente, responsabilidades
definidas. Seriam a marca políti-
ca do novo governo. Na essência:
entre o ideal preconizado pela
teoria e a realidade que nos afi-
gura mais plausível — a de uma
lua de mel relativamente curta,
de um governo que não prepa-
rou os detalhes das reformas du-
rante a eleição, uma polarização
que transcende o quadro eleito-
ral —, há que pensar nos termos
da economia política e não da
economia 'tout court' [sem mais
nada a acrescentar].
CLAUDIOBELLI/VALOR
Arida: ideal seriagovernantecomprometidocomreformasecarismáticoparaampliara 'luademel' dosprimeirosmeses
Jornal Valor --- Página 3 da edição "08/08/2022 1a CAD A" ---- Impressa por CCassiano às 07/08/2022@16:01:36
Sábado, domingo e segunda-feira, 6, 7 e 8 de agosto de 2022 | Valor | A3
Jornal Valor --- Página 4 da edição "08/08/2022 1a CAD A" ---- Impressa por CCassiano às 07/08/2022@22:49:59
A4 | Valor | Sábado, domingo e segunda-feira, 6, 7 e 8 de agosto de 2022
Brasil
MercadodetrabalhoCresce ocupação de vagas de menor
exigência por trabalhadores com formação universitária
Semespaço,profissional
recorreaempregode
qualificaçãomaisbaixa
MelBrito: “Quando terminei o curso, não tinha experiência e não encontrei emprego.Meio que fui empurrada”
CAROLCARQUEJEIRO/VALOR
MarsíleaGombata
DeSãoPaulo
Augusto Barros, de 40 anos, se
formou em editoração na Uni-
versidade Federal do Rio de Ja-
neiro (UFRJ), um dos centros de
ensino superior de maior prestí-
giodopaís.Masnosúltimosanos
perdeu ânimo com sua profissão
e viu o mercado editorial enco-
lher. Decidiu partir para outra es-
tratégia. “Com o tempo as vagas
foram escasseando e fui vendo
outras possibilidades de ter meu
sustento”, conta. Hoje trabalha
em um call center de uma distri-
buidora de energia, onde está há
duas semanas e recebe um salá-
rio-mínimo por mês. Sua trajetó-
ria não é exceção.
Barros faz parte do grupo de 4,9
milhões dos chamados “overedu-
cated”, pessoas com formação uni-
versitária que ocupam postos de
trabalho que exigem nível menor
de formação. Esse fenômeno se
acelerou no Brasil pós-pandemia,
marcado por uma retomada par-
cialdomercadode trabalho.
Nosdoisúltimostrimestres,a fa-
tiadaquelesquecompletaramafa-
culdade e trabalham em vagas que
não demandam nível superior au-
mentou em 478,9 mil, atingindo a
marca de 4,9 milhões de trabalha-
dores, segundo levantamento da
consultoria IDados com base nos
microdados da Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílio Contí-
nua (Pnad C). Antes da pandemia,
noprimeirotrimestrede2020,esse
grupopassavados4,3milhões.
Em termos percentuais, as pes-
soas com ensino superior que es-
tão em cargos que exigem ensino
médio oumenos vinham seman-
tendoem22%emrelaçãoaototal
da população ocupada. Mas ace-
lerou para 23% no quarto trimes-
tre de 2021 e para 24% no primei-
ro trimestre deste ano.
Segundo Ana Tereza Santos,
economista da IDados, há duas ra-
zõesprincipaisportrásdessecená-
rio. A primeira é que as pessoas
com ensino superior foram as últi-
masavoltarparaomercadodetra-
balho desde a pandemia, pois tive-
ram de esperar o aquecimento da
economia, e não encontram pos-
tos compatíveis com sua forma-
ção. A segunda é uma oferta de
pessoas com diploma universitá-
rio acima da demanda, uma vez
que o mercado não está criando
tantasvagasdeensinosuperior.
“A pandemia acelerou um fenô-
meno que ocorre há um tempo no
Brasil e que tem a ver com uma
conjuntura de crescimento econô-
micoabaixodoesperado”, afirma.
Ela argumenta que desde 2010
o Brasil passou a formar muitas
pessoas com ensino superior, a
maior parte da última década foi
de crise econômica, o que dificul-
tou a oferta de vagas suficientes
para essas pessoas. “A oferta de en-
sino superior foi pensada para um
Brasil mantendo nível de cresci-
mento positivo, o que não se man-
tevenosúltimosanos.Nopós-pan-
demia, inclusive, o que vimos foi a
recuperação de vagas de menor
instrução.”
Ana afirma que esse aumento
dos sobre-educados nos últimos
trimestres vem sendo puxado por
trabalhadores mais jovens, que
têm o diploma, mas não conse-
guem atuar na área que escolhe-
ram. Como Mel Brito, de 35 anos.
Formada em jornalismo pelo Cen-
tro Universitário das Faculdades
Metropolitanas Unidas (FMU) em
2018, ela trabalha hoje como ven-
dedora de uma loja de sapatos au-
torais na Vila Madalena, Zona Oes-
tedeSãoPaulo.
“Durante a graduação, traba-
lhava em loja de roupa de shop-
ping para pagar a minha faculda-
de, cuja mensalidade era de
R$ 1.200 na época. Meu plano era
trabalhar com isso até concluir a
faculdade”, conta Mel, que nasceu
em Esplanada, interior da Bahia,
mas se mudou para São Paulo com
a ideia de ser jornalista. “Quando
terminei o curso, não tinha muita
experiência e não encontrei em-
prego na minha área. Meio que fui
empurrada,não foiumaescolha.”
Na época da faculdade, ela tra-
balhou como vendedora de lojas
de roupa feminina em shopping
e recebia R$ 3 mil por mês. Hoje
ganha entre R$ 4,5 mil e R$ 7 mil.
Além de trabalhar como vende-
dora na Vila Madalena, Mel cursa
pedagogiaadistâncianaAnhembi
Morumbi, cuja mensalidade custa
poucomaisdeR$200. “Pensofutu-
ramente em trabalhar na alfabeti-
zação de jovens e adultos, e acredi-
to que terei mais chances de fazer
issocompedagogia”, afirma.
O aumento dos sobre-educa-
dos na economia é um mal sinal,
pois é um indicativo de ineficiên-
cia de mão de obra, afirma Ana.
“Investiu-se um valor alto na for-
mação que não se consegue recu-
perar porque as pessoas recebem
baixos salários. O que elas dão de
retorno para a economia é muito
menor [do que poderiam]”, diz.
“Isso gera uma produtividade
muito mais baixa do que deveria
ser, como se o potencial existente
não fosse aproveitado. Indica um
cenário de estagnação. No mo-
mento em que poderíamos ter
crescimento de qualidade com
mão de obra qualificada, não se
conseguimos aproveitar isso”, ar-
gumenta a economista.
Em alguns casos, estar fora da
área da formação parece ser uma
opçãomais fácil. Álvaro Pires Ca-
margo, de 45 anos, se formou em
Direito pela Universidade Paulista
(Unip), mas é vendedor no comér-
cio de luxo no Shopping Cidade
Jardim,emSãoPaulo.
Ele começou a trabalhar no va-
rejo para pagar a faculdade e aca-
bou ficando. Depois de 13 anos na
loja de roupa masculina Richards,
ÁlvaroCamargo: varejo virouganha-pãoparapagar a faculdadedeDireito,mas se tornouatividadepermanente
ANAPAULAPAIVA/VALOR
AnaTerezaSantos, da iDados: pandemiaacelerouprecarização causadapor crescimentoaquémdoesperado
LEOPINHEIRO/VALOR
Educados demais
Mais qualificados não conseguem vagas à altura
Pessoas em cargos compatíveis com
sua instrução - em %
Fonte: IDados, com base nos microdados da Pnad C
75,5
76,0
76,5
77,0
77,5
78,0
78,5
1T
2019
2T 3T 4T 1T
2020
2T 3T 4T 1T
2021
2T 3T 4T 1T
2022
78
77
76
Pessoas com ensino superior em cargos de
nível médio ou menos - em %
21,5
22,0
22,5
23,0
23,5
24,0
24,5
1T
2019
2T 3T 4T 1T
2020
2T 3T 4T 1T
2021
2T 3T 4T 1T
2022
22
23
24
passou por grifes como Noir Le Lis
Blanc, 284 Tranchesi, Crawford e
Armani. “Eu adoro trabalhar com
o público. O varejo é fascinante,
mas tem um limite de idade. [Por
isso],aindapretendoprestaroexa-
me da Ordem dos Advogados do
brasil (OAB) e ir para a área traba-
lhista”, contaCamargo,queemum
mês fracoganhaR$7mil.
Opção semelhante tomou Kari-
na Vagliante, de 31 anos. Formada
em engenharia ambiental no fim
de 2015 pela Faculdade Oswaldo
Cruz, passou por cozinha de res-
taurante e montou um bar com o
ex-namorado. Quando a relação
terminou, se desfez do negócio e
voltouparaacasadospais. “Come-
cei a mandar mensagem para al-
gumas marcas que gosto e ver se
curtia trabalharnisso.Foimeioum
desespero para tentar conseguir
um emprego, não ficar parada e
ocuparacabeça”, lembra.Hoje tra-
balha em uma marca de bolsa e
botas em Pinheiros, onde cuida da
loja físicaedoe-commerce.
“Meu salário médio é de R$ 6
mil.Seiquetenhocurrículoecapa-
cidade para ganhar mais, mas te-
nho uma vida agradável e confor-
tável”, diz. “Estou fazendo MBA de
gestão de e-commerce, e no futuro
pretendotrabalhar comisso.”
Segundo Janaína Feijó, econo-
mista do Instituto de Economia
Brasileiro da Fundação Getulio
Vargas (FGVIbre), “overeducation”
ocorre quando há um descompas-
so entre o nível educacional alcan-
çado pelo indivíduo e o nível de
educaçãoexigidoparaocargoque
ocupa e acontece tanto em países
em desenvolvimento quanto nos
desenvolvidos. No Brasil, diz, três
fatores podem ajudar a explicar o
aumento dos sobre-educados nos
últimos trimestres.
“Um é a economia atual, que
tende a gerar postos de trabalho
de baixo valor agregado, levando
muitos com curso superior a
prestar concurso para nível mé-
dio. Outro são mudanças no mer-
cado de trabalho. Indivíduos es-
colhem a faculdade sem ter ideia
das tendências e, quando se for-
mam, se deparam com falta de
vagas para sua profissão”, afirma.
“Um terceiro ponto é a qualidade
do ensino desses indivíduos. Em-
bora tenham feito universidade,
não conseguem se colocar em
postosquerequeremessegraude
instrução porque a qualidade do
ensino que tiveram não é boa.”
Esseciclo, segundoJanaína,gera
um efeito adverso na produtivida-
de da economia. “Como estão em
postos aquém de sua capacidade,
ficam mais desmotivados e resis-
tem mais em se qualificar”, diz.
“Acabamentendendoquenãovale
a pena mais se especializar, já que
conseguem postos que não remu-
neram tanto.” Ela afirma que esse
fenômeno é mais forte na área de
humanas. As ciências exatas, espe-
cialmente em setores relacionados
a tecnologia, costumam estar mais
voltadas para tendências futuras e
conseguem se adaptar melhor a
demandasatuais, argumenta.
ParaAna,daIDados,aúnicama-
neira de reverter esse cenário de
maispessoasquecursaramuniver-
sidade em cargos que não deman-
dam ensino superior é com cresci-
mentosustentadodaeconomia.
“Depende bastante da conjun-
tura. Sehouverumcenáriodecres-
cimento econômico no futuro, é
possível que o Brasil volte a gerar
mais vagas que exigem ensino su-
perior”, argumenta. “Somente
crescendo e voltando a investir em
setores que empregam mão de
obra qualificada é que se conse-
guirá mudar isso. A expansão do
setor de serviços nesse retorno da
pandemia não incentiva muito a
contratação de trabalhadores
mais instruídos. É preciso gerar
empregodequalidade.”
As perspectivas, contudo, não
parecem animadoras. O Indica-
dor Antecedente de Emprego
(IAEmp) da FGV caiu 0,8 ponto
em julho ante junho, para 81,1
pontos, a pior queda desde feve-
reiro (-1,4 ponto). Incertezas
quanto ao último trimestre deste
anoeoiníciodoanoquevemtêm
elevado a cautela do empresário
quanto a novas contratações.
O Banco Central, em seu Relató-
rio Focus, prevê crescimento de
1,9%nesteanoede0,40%em2023.
O FGV Ibre prevê alta de 1,7% no
PIB deste ano e contração de 0,3%
noanoquevem.
‘OBrasil estáexplicitandomaisoracismo’
LEOPINHEIRO/VALOR
NilmaeLuciano: escolaé ‘sempreumterrenofértil’ paramudançadeatitude
MarcosdeMoura eSouza
DeSãoPaulo
Ataques de cunho racista no
Brasil parecem estar crescendo e
ganhando mais visibilidade, em
parte por causa das mídias so-
ciais. E uma das reações a esse
comportamento passa pelo re-
forço de uma educação antirra-
cista de crianças e adolescentes
de escolas públicas e privadas.
É o que apontaram na Live do
Valor de sexta-feira a professora
da Faculdade de Educação da Uni-
versidade Federal de Minas Gerais
(UFMG)eautoradeobras sobre re-
laçõesetnorraciais,NilmaLinoGo-
mes; e Luciano Monteiro, diretor
global de comunicação e sustenta-
bilidade da Santillana, braço edu-
cacional do Grupo Prisa, líder nos
mercados de língua espanhola e
portuguesa nos meios de comuni-
cação, entretenimentoeeducação.
“O Brasil está explicitando
mais o racismo que é incrustrado
na nossa estrutura social. E penso
que esse momento de uma maior
explicitação do racismo tem a ver
com o crescimento do movimen-
to antirracista”, disse Nilma. “Ho-
je temosmaismídiasquerevelam
aquilo que antes ficavam muito
[em conversas] entre as pessoas.”
O movimento negro tem uma
longa história de atuação em prol
do antirracismo, mas foi após a
Constituição de 1988 que ganhou
força. Para Nilma, a adoção de
ações afirmativas e políticas de in-
clusão adotadas na última década
acabaram por provocar reações de
setores da sociedade que ainda
mantêm viva a discriminação ba-
seadanacordapele.
Além de ataques racistas que vi-
ralizam e chocam nas redes so-
ciais, o racismo estrutural ou insti-
tucional também precisa conti-
nuar sendocombatido,disseela.
“É preciso construir práticas de
superação desse racismo nas insti-
tuições sociais. Por isso precisamos
de políticas públicas antirracistas,
umadelas ações afirmativas”, defen-
deu Nilma. “A escola é uma institui-
çãosocial. Emuitasvezesnósnoses-
quecemos de articular essa dimen-
são do racismo estrutural, da pre-
sença dele nas instituições e a pró-
pria instituiçãoescolar.Muitasvezes
não admitimos que exista nas esco-
lasoracismoinstitucional.”
A Lei de Diretrizes e Bases con-
templa em seu artigo 2o que o en-
sino precisa se guiar pela igualda-
de, liberdade, pluralismo e consi-
deração com a diversidade étnico-
racial, entre outros valores. “A gen-
te tem trabalhado na formação de
uma coleção de literatura infantil
de autoras e autores negros com
curadoria de especialistas negros,
entendendo que dar visibilidade a
essa produção é uma das nossas
obrigações”,disseMonteiro.
“Olhando os conteúdos didáti-
cos, as obrigações são um pouco
maiores: a gente tem que retratar
os personagens históricos negros,
a gente tem que dar voz ao intelec-
tual negro, a gente tem que trazer
essepensamentoenãosóporobri-
gação legal.Agente temquetrazer
mais a história africana e a cultura
afro, aculturaquilombola, acultu-
ra indígena. E temos feito muitos
movimentos nessa direção”, disse
ele. “A escola é sempre um terreno
fértil para que a gente trabalhe es-
sas ideias.”
Jornal Valor --- Página 5 da edição "08/08/2022 1a CAD A" ---- Impressa por CCassiano às 07/08/2022@16:01:58
Sábado, domingoe segunda-feira, 6, 7 e 8 de agosto de 2022 | Valor | A5
UM SÓ PLANETA
FÓRUM DE JUSTIÇA CLIMÁTICA 2022
REALIZAÇÃOPARCEIROS APOIO
O Um Só Planeta, maior plataforma jornalística brasileira sobre mudanças
climáticas, vai realizar um ciclo de debate e aprendizados com nomes
nacionais e internacionais para compartilhar soluções que ajudem na
criação de um mundo mais justo e sustentável. Participe deste debate
sobre o nosso futuro e seja parte da mudança.
DESAFIOS E
OPORTUNIDADES GLOBAIS
Mattia Romani
Sócio da Systemiq
no Reino Unido
Patricia Ellen
CEO e sócia da
Systemiq no Brasil
Giovanna Meneghel
CEO e cofundadora
da Nude
EMPREENDEDORISMO
JUSTO
Denise Abdul-Rahman
Especialista em justiça climática,
cogestora no Chisholm Legacy Project
TRANSFORMANDO
COMUNIDADES
Mary Robinson
Presidente de The Elders, ex-alta comissária
da ONU para Direitos Humanos, autora de
"Justiça Climática"
A CONSTRUÇÃO DO NOSSO
FUTURO SUSTENTÁVEL
AS CIDADES QUE QUEREMOS
Natalie Unterstell
Presidente do
Instituto Talanoa
Ana Carolina Câmara
Diretora de Projetos de
Adaptação à Crise
Climática na GIZ
RUMO À ECONOMIA VERDE
Sergio Besserman
Coordenador Estratégico
do Climate Reality
Project Brasil
Karen Oliveira
Diretora para Políticas
Públicas e Relações
Governamentais
da TNC Brasil
HOJE, 08/08
9h30
PARTICIPE! ACOMPANHE AO VIVO EM:
Inscreva-se em
lives.umsoplaneta.com.br
Jornal Valor --- Página 6 da edição "08/08/2022 1a CAD A" ---- Impressa por CCassiano às 07/08/2022@20:55:33
A6 | Valor | Sábado, domingo e segunda-feira, 6, 7 e 8 de agosto de 2022
Brasil
RelaçõesexterioresEmbaixadorRubensBarbosafazum
balançodosacordosadotadospelopaísedoqueaindafalta
‘Temosamaior crise
externaambiental
desdeosanos80’
RubensBarbosa: “Nãoadianta agente ficar fazendodeclarações ou críticas. Oque interessa éo resultado”
SILVIACOSTANTI /VALOR
FernandoExman
DeBrasília
Diante da necessidade de colher
subsídios para fundamentar uma
estratégia de recuperação da ima-
gem do Brasil no exterior, o grupo
de diplomacia ambiental da Uni-
versidade de São Paulo (USP) fez
um detalhado estudo sobre a im-
plementação,pelopaís,demaisde
60 normas e 15 acordos interna-
cionais relacionados ao meio am-
biente. Com a coordenação do Ins-
tituto de Relações Internacionais e
Comércio Exterior (Irice), presidi-
do pelo embaixador Rubens Bar-
bosa, e organização da professora
Wânia Duleba, a pesquisa aponta
que, em geral, o Brasil já internali-
zou parte considerável desses ins-
trumentos, a despeito dos proble-
masenfrentadosnosúltimosanos.
E sinalizaondeéprecisomelhorar.
Apesquisaconsumiudoisanos
e meio de trabalho e resultou no
livro “Diplomacia Ambiental”,
que será lançado hoje. O estudo
deverá seratualizadoao longodo
tempo com o apoio de um obser-
vatórioquemonitoraráavançose
eventuais retrocessos na área.
“Estávamos vendo a situação se
deteriorar de todos os lados, daí
nasceu a ideia de verificar os acor-
dos [na área ambiental] que foram
incluídos na negociação [de livre
comércio] Mercosul-União Euro-
peia. Justamente para explicar ao
mundo como estamos em termos
de cumprimento dos acordos in-
ternacionais”, disse Barbosa ao Va-
lor.Nasuaavaliação,opaísnãovai
melhorar sua imagem no exterior
dizendo que é alvo de protecionis-
mo ou perseguição. “Isso não re-
solveoproblema.”
Para o diplomata, a imagem
do Brasil enfrenta seu pior mo-
mento desde a década de 1980.
Barbosa já foi embaixador em
Londres e em Washington e diz
que o tema ambiental precisa ocu-
parocentrodaestratégiadapolíti-
ca externa, como já ocorre em ou-
tros países. A seguir os principais
pontosdaentrevistaaoValor:
Valor: Qual é a situação do país
em relação à internacionalização
de acordos internacionais e da área
ambiental?
Rubens Barbosa: O Brasil está
vivendo a maior crise externa
nessa área ambiental desde a dé-
cada de 1980. Os militares, entre
1985 e 1987, estavam com o mes-
mo problema que vivemos hoje
por causa do desmatamento na
Amazônia e por causa da mesma
visão de que é preciso integrar
para não entregar. Foi aí que apa-
receu a Transamazônica e tudo o
que foi feito para a ocupação do
território. Agora, estamos viven-
do o mesmo problema 30 anos
depois, até porque, como ocor-
reu nas décadas de 1980 e 1990,
interesses concretos estão sendo
afetados. O acordo União Euro-
peia não avançou, estamos tendo
dificuldades naOCDE [Organiza-
ção para Cooperação e Desenvol-
vimento Econômico], que não ti-
nha naquela época, e temos me-
didas restritivas, selos ambien-
tais, que estão excluindo carne e
outros produtos [em determina-
dos mercados]. Isso tudo encare-
ce os produtos do Brasil.
Valor:O que é possível fazer para
reverter esta situação?
Barbosa: Não adianta a gente
ficar fazendodeclaraçõesoucríti-
cas. O que interessa é o resultado.
Como estamos com uma questão
de percepção externa, não adian-
ta a gente inventar explicações
para justificar a ação externa, di-
zendo que é protecionismo ou
perseguição contra o Brasil. Isso
não resolve o problema.
Valor:Mas, depois dos anos 90 o
Brasil conseguiu se recuperar...
Barbosa: Foi gradualmente se
recuperando. O Brasil fez um es-
forço para recuperar a credibilida-
de e chegou até a reunião do Rio-
92, que colocou o Brasil no mapa
nessas negociações. O Brasil parti-
cipou de todas as negociações de
1992 até agora e tinha uma posi-
ção tão desenvolvida que alguns
conceitos foram criados pelo Bra-
sil, como o conceito de desenvolvi-
mento sustentável. O conceito de
MDL [Mecanismo de Desenvolvi-
mento Limpo] foi uma proposta
doBrasil edosEUA.
Valor:ComoaguerranaUcrânia
influencia esse debate?
Barbosa: Tem um elemento no-
vo, pois a ameaça de dificuldade
na obtenção de gás da Rússia por
Alemanha, Itália e França está
obrigando esses países a desres-
peitar aquilo que eles estão pre-
gando, a própria agenda ambien-
tal. Por uma questão de sobrevi-
vência econômica e política, a Ale-
manha está reabrindo usinas mo-
vidas a carvão e toda a programa-
ção nuclear, que tinha sido coloca-
da em segundo plano, está sendo
reaberta. Isso, na minha visão, po-
de atrasar um pouco todo esse es-
quema de redução de emissões de
gáscarbônicoepodedar, também,
argumentos ao Brasil e a outros
países. Mas, o fato de eles [euro-
peus] não estarem cumprindo
[seus compromissos] não implica
que a gente não deva cumprir. In-
teressa à gente cumprir. Estamos
vendoamudançadeclimaaquino
Brasil. Se continuar o desmata-
mento na Amazônia, segundo es-
pecialistas,daquia20ou30anoso
clima no Sul vai mudar muito. Vai
ficar mais seco e vai alterar todo o
agronegócio. Interessa à gente
manter a política de contenção de
emissões de gás e evitar ilícitos na
Amazônia, devastação da floresta,
queimadasegarimpo ilegal.
Valor: Isso tem ocorrido?
Barbosa: Muito do que está
nesses acordos é implementado
por ações estatais. Aí entra a polí-
tica ambiental como foco da crí-
tica externa contra o Brasil. Nos
últimos quatro anos, vimos uma
desorganização do setor am-
biental. O Conselho da Amazô-
nia, presidido pelo vice-presi-
dente [Hamilton Mourão], ficou
imobilizado. Tivemos uma série
de problemas relacionados ao
desmatamento, que continua
crescendo, assim como com a
questão do garimpo em terras
públicas e terras indígenas, o que
é ilegal também. Várias institui-
ções federais foram desorganiza-
das e, com essa ação menos visí-
vel do Estado, apareceram movi-
mentos de crimes transnacio-
nais, como tráfico de armas e
drogas. Isso coloca um risco adi-
cional às autoridades estaduais e
aos próprios moradores da re-
gião. A suspensão do Fundo
Amazônia também ocorreu logo
no início do governo Bolsonaro
devido à desmobilização de ór-
gãos de governança. Um novo
governo, se resolver restabelecer
a governança negociando com
Alemanha e Noruega, [pode con-
tar com] milhões de dólares no
combate ao desmatamento. Isso
pode ser feito no primeiro dia de
governo.
Valor: Foi aí que veio a ideia de
fazer o estudo e criar o observatório
sobre o meio ambiente?
Barbosa: Estávamos vendo a si-
tuação se deteriorar de todos os la-
dos, daí nasceu a ideia de verificarosacordos[naáreaambiental]que
foramincluídosnanegociação[do
acordo de livre comércio] Merco-
sul-União Europeia. Justamente
para explicar ao mundo como es-
tamos em termos de cumprimen-
to dos acordos internacionais, pa-
ra ajudar, inclusive, na aprovação
doacordoMercosul-UEeelepoder
ser ratificado. Nos perguntamos
na época o que podemos fazer pa-
ra recuperar a credibilidade, de-
fender interesses concretos brasi-
leiros e, sobretudo, sair dessa posi-
çãodefensivaqueestamoshámui-
totempo.Nãofoiumtrabalhoaca-
dêmico tirado do ar. Ele se insere
dentrodessavisãodediscutirapo-
sição do Brasil no âmbito das ne-
gociações dos acordos comerciais
e tentar encontrar as raízes das crí-
ticas internas e externas ao meio
ambientedaqui, alémde tentar re-
cuperar a credibilidade do Brasil.
Do ponto de vista externo, a recu-
peração da credibilidade só virá
com uma nova política ambiental,
uma nova política em relação à
Amazônia e uma narrativa objeti-
va,mostrandooque foi feito.
Valor:Mas, além de medidas fe-
derais, a internalização dos acordos
depende também do Congresso.
Barbosa:Estamospropondoaos
candidatos que o meio ambiente
esteja no centro, como prioridade,
da política externa, assim como
em outros países. Recentemente, o
secretário de Defesa dos EUA
[LloydAustin]veioaoBrasil e falou
queumadasprioridadesdedefesa
é mudança de clima e meio am-
biente. Na Europa, também. Aqui
omeioambienteaindanãoépreo-
cupação central do governo. Se is-
soocorrer, vai serumelementopa-
radarrapidezaorestabelecimento
da credibilidade do Brasil no exte-
rior. Em relação ao Congresso, não
há dúvida quanto à aprovação
[dos acordos internacionais assi-
nados pelo país], mas em alguns
casospoderia sermais rápido.
Valor: Em relação ao estudo, em
geral a fotografia é boa, a despeito
de alguns exemplos negativos do
Brasil. Quais desses exemplos o se-
nhor destacaria?
Barbosa:No Acordo de Paris, de
2005, está quase tudo verde ou
amarelo. Há poucos itens verme-
lhos e um exemplo é o compro-
misso de redução a zero até 2050,
que exige um roteiro para tomar
estaprovidência,oBrasilnãoapre-
sentou. Isso é uma coisa concreta.
Estamossemnenhumaestratégia.
Valor: Qual o papel da política
externa nesse esforço de recupera-
ção da credibilidade do Brasil?
Barbosa:Ao longo dos 200 anos
da nossa independência, a política
externa teve semprevárias funções
em prol da colocação do Brasil no
mundo,nãosóocomércioexterior
e da ciência e tecnologia. Uma de-
las foi recuperar a imagem do Bra-
sil no exterior, desde a indepen-
dência, passando pela questão dos
escravosedaGuerradoParaguai, e
também nas décadas de 1980 e
1990, quando a política externa
conseguiu obter a reunião no Rio,
aECO-92,queprojetouoBrasil tre-
mendamente no cenário interna-
cional. A política externa vai ser
um instrumento para recuperação
da credibilidade e da percepção
externa sobre o Brasil, através do
meioambiente.
Valor: O estudo mostra como al-
guns setores econômicos podem ser
afetados pela forma como o Brasil
implementa os acordos internacio-
nais sobre o meio ambiente...
Barbosa:Muita gente acha que,
além do agrobusiness de proteína,
a próxima etapa é o desenvolvi-
mento da piscicultura. Onde tem
mais vermelho é na área da pesca,
que, comonãotemgrandevisibili-
dade, vai passando. Houve mu-
dançasnegativasdecontrolenesta
área, por exemplo em relação aos
manguezais. Esta área deve mere-
cer atenção. A questão do mercú-
rio também, que tem uma resolu-
ção internacional que precisa ser
cumprida. Acho que a partir desse
estudoapareçamtrabalhosquefo-
calizem essas áreas em que esta-
mosnovermelhoe issovai chamar
a atenção da opinião pública. O se-
guimento da internacionalização
deve ser feito pela sociedade civil.
Isso não existe no Brasil. Ninguém
fazesse trabalho.
Valor:O que pode ser feito para o
Brasil deixar de ser considerado co-
mo “bad boy” do meio ambiente?
Barbosa: Não basta falar que os
produtos brasileiros não são pro-
venientes de área de desmatamen-
to. Isso é retórica interna. Lá fora
não interessa, você tem que de-
monstrar concretamente. Além
disso,háoutracoisaqueestou ten-
tando chamar atenção: a Amazô-
nia é integrada por nove países.
Não é só o Brasil. Quando se fala
“Amazônia”, todomundoachaque
oBrasilqueéculpado. TemaOrga-
nização do Tratado de Cooperação
da Amazônia [OTCA], cuja sede é
em Brasília. O Brasil é o centro da
crise, mas deveria ser o centro mo-
tordesse instrumentodaOTCA.
Valor:A OTCA poderia virar uma
plataforma para a região combater,
de formaconjunta, essa imagemne-
gativa que hoje o Brasil concentra
sozinho. Mas, por que o Brasil não
aproveita esse instrumento?
Barbosa: A gente não pode,
por questões ideológicas, ficar
ignorando isso. A gente não con-
voca o tratado porque tem a Ve-
nezuela lá. É um absurdo. Não é
interesse do Brasil afastar a OTCA
por causa da Venezuela. Chama a
Venezuela também. Qual é o pro-
blema? É uma questão ideológi-
ca que é contra o nosso interesse.
Justiça climática é tema central de encontro no Rio
PaulaMartini
DoRio
Apesar de representarem um
problema global, os efeitos das
mudanças climáticas atingem de
maneira desproporcional a parce-
la mais vulnerável da população. A
conclusão é da sócia e diretora da
SystemiqnoBrasil, PatriciaEllen.A
mitigaçãode impactosambientais
aliada a políticas de redução das
desigualdades sociais compreen-
de o conceito de justiça climática,
para Ellen, um desafio que precisa
serenfrentadoemescalamundial.
O conceito de justiça ambiental
será o tema central dos debates
que ocorrem nesta segunda-feira
no Fórum de Justiça Climática,
promovido pela Um Só Planeta, a
maior plataforma jornalística bra-
sileira sobre mudanças climáticas.
Nomes nacionais e internacionais
vão discutir soluções para um
mundomais justoe sustentável.
Mary Robinson, presidente de
The Elders e ex-alta comissária da
ONU para Direitos Humanos será
uma das participantes. Ela e Flávia
Bellaguarda, fundadora da Inicia-
tiva Latino-Americana de Advoga-
dos pelo Clima (Laclima) e gerente
do Centro Brasil no Clima vão tra-
tardealgumasdas ideiasemdeba-
te atualmente para um futuro sus-
tentável. O evento também terá a
participação, entre outros nomes,
de Natalie Unterstell, presidente
Conheça #UMSÓPLANETA – o
maior movimento editorial
brasileiro para promover
práticas sustentáveis e enfrentar
a mudança climática. Acesse
umsoplaneta.globo.com
REALIZAÇÃOPARCEIROS APOIO
do Instituto Talanoa, ex-negocia-
dorado BrasilnaONU,eAnaCaro-
lina Câmara, Agência de Coopera-
ção InternacionaldaAlemanha.
Patrícia Ellen e Mattia Romani
(também da Systemiq), vão discu-
tir a agenda da descarbonização e
da justiça climática. Ellen diz que,
mesmo na Europa, os países de-
senvolvidos vêm sofrendo efeitos
das variações climáticas e tempe-
raturas atípicas. No entanto, se-
gundo ela, países em desenvolvi-
mento como o Brasil acabam so-
frendo um impacto “despropor-
cional duplo”, à medida que mui-
tas vezes são mais prejudicados,
ainda que não sejam necessaria-
mente os principais responsáveis
pelos impactos ao clima. “Muitas
vezes países que não são os maio-
res emissores são aqueles com as
piores condições para lidar com
desafios de mitigação e adaptação
climática”,diz. Ellen.
O evento acontece nesta segun-
da, a partir das 9h, no Auditório de
“O Globo”, na Rua Marquês de
Pombal, 25, Cidade Nova, Rio de
Janeiro. Para participar presencial-
mente, interessadosprecisamcon-
firmar presença pelo email umso-
planeta@convida.digital ou pelo
telefoneouWhatsApp(21)97680-
8188. Será exigido comprovante
de vacinação na entrada do audi-
tório. O evento também será trans-
mitido pelas redes sociais de Um
SóPlanetaeÉpocaNegócios.
“Tivemosumasériedeproblemas
relacionadosao
desmatamentoe
aogarimpoem
terraspúblicase
indígenas”
Jornal Valor --- Página 7 da edição "08/08/2022 1a CAD A" ---- Impressa por CCassiano às 07/08/2022@16:02:26
Sábado, domingo e segunda-feira, 6, 7 e 8 de agosto de 2022 | Valor | A7
Brasil
Atualize suas contas
Variação dos indicadores no período
Em% EmR$
Mês TR (1) Poupança (2) Poupança (3) TBF (1)Selic (4) TJLP TLP FGTS (5) CUB/SP UPC Saláriomínimo
jan/21 0,0000 0,5000 0,1159 0,1468 0,15 0,3707 0,2084 0,2466 1,04 23,54 1.100,00
fev/21 0,0000 0,5000 0,1159 0,1348 0,13 0,3347 0,2076 0,2466 1,33 23,54 1.100,00
mar/21 0,0000 0,5000 0,1159 0,1835 0,20 0,3707 0,2060 0,2466 1,55 23,54 1.100,00
abr/21 0,0000 0,5000 0,1590 0,2404 0,21 0,3763 0,2312 0,2466 1,41 23,54 1.100,00
mai/21 0,0000 0,5000 0,1590 0,2737 0,27 0,3888 0,2620 0,2466 2,23 23,54 1.100,00
jun/21 0,0000 0,5000 0,2019 0,2891 0,31 0,3763 0,2839 0,2466 3,00 23,54 1.100,00
jul/21 0,0000 0,5000 0,2446 0,3798 0,36 0,4111 0,2952 0,2466 0,96 23,54 1.100,00
ago/21 0,0000 0,5000 0,2446 0,4248 0,43 0,4111 0,2992 0,2466 0,53 23,54 1.100,00
set/21 0,0000 0,5000 0,3012 0,4221 0,44 0,3978 0,3234 0,2466 0,70 23,54 1.100,00
out/21 0,0000 0,5000 0,3575 0,5046 0,49 0,4473 0,3483 0,2466 0,00 23,54 1.100,00
nov/21 0,0000 0,5000 0,4412 0,5927 0,59 0,4329 0,3771 0,2466 0,24 23,54 1.100,00
dez/21 0,0488 0,5490 0,4902 0,7191 0,77 0,4473 0,4026 0,2955 0,22 23,54 1.100,00
jan/22 0,0605 0,5608 0,5608 0,7609 0,73 0,5096 0,4146 0,3073 0,35 23,55 1.212,00
fev/22 0,0000 0,5000 0,5000 0,7272 0,76 0,4601 0,4249 0,2466 0,18 23,55 1.212,00
mar/22 0,0971 0,5976 0,5976 0,8678 0,93 0,5096 0,4265 0,3440 0,25 23,55 1.212,00
abr/22 0,0555 0,5558 0,5558 0,8159 0,83 0,5513 0,4416 0,3023 0,71 23,59 1.212,00
mai/22 0,1663 0,6671 0,6671 0,9776 1,03 0,5697 0,4424 0,4133 4,13 23,59 1.212,00
jun/22 0,1484 0,6491 0,6491 0,9496 1,02 0,5513 0,4472 0,3954 2,22 23,59 1.212,00
jul/22 0,1631 0,6639 0,6639 0,9844 1,03 0,5851 0,4456 0,4101 0,73 23,67 1.212,00
ago/22 0,2409 0,7421 0,7421 1,0929 1,17 0,5851 0,4630 0,4881 - 23,67 1.212,00
2022 0,94 5,04 5,04 7,41 7,75 4,40 3,56 2,94 8,81 0,55 10,18
Em 12meses * 0,98 7,21 6,72 9,83 10,23 6,22 5,07 4,01 10,66 0,55 10,18
2021 0,05 6,22 2,99 4,40 4,42 4,87 3,50 3,05 14,00 0,00 5,26
Fontes: Banco Central, CEF, Sinduscon eMinistério da Fazenda. Elaboração: Valor Data * Até o últimomês de referência
(1) Taxa do período iniciado no 1º dia domês. (2) Rendimento no 1º dia nomês seguinte para depósitos até 03/05/12 (3) Rendimento no 1º dia nomês seguinte para depósitos a partir de
04/05/12; Lei nº 12.703/2012 (4) Taxa efetiva; para agosto projetada. (5) Crédito no dia 10 domês seguinte (TR + Juros de 3%ao ano)
IR na fonte
Faixas de contribuição
Base de calculo Aliquota Parcela a deduzir
emR$ em% IR - emR$
Até 1.903,98 - -
De 1.903,99 até 2.826,65 7,5 142,80
De 2.826,66 até 3.751,05 15,0 354,80
De 3.751,06 até 4.664,68 22,5 636,13
Acima de 4.664,68 27,5 869,36
Fonte: Secretaria da Receita Federal
Elaboração: Valor Data
Obs. Desconto por dependente: R$ 189,59
Contrib. previdenciária*
Empregados e avulsos**
Salário de
contribuições emR$ Alíquotas em% (1)
Até 1.212,00 7,50
De 1.212,01 a 2.427,35 9,00
De 2.427,36 até 3.641,03 12,00
De 3.641,04 até 7.087,22 14,00
Empregador doméstico 8,00
Fonte:PrevidênciaSocial.Elaboração:ValorData*Competên-
cia jul/22. **Inclusive empregado doméstico. (1) Para fins de
recolhimento ao INSS
Principais receitas tributárias
Valores emR$ bilhões
Discriminação Janeiro-maio Var. maio Var.
2022 2021 % 2022 2021 %
Receita Federal
Imposto de renda total 293,4 235,7 24,47 54,4 46,6 16,74
Imposto de renda pessoa física 25,4 23,6 7,66 13,6 11,7 16,24
Imposto de renda pessoa jurídica 141,0 109,6 28,61 16,2 14,9 8,72
Imposto de renda retido na fonte 127,1 102,5 23,96 24,6 20,0 23,00
Imposto sobre produtos industrializados 27,6 29,6 -6,86 4,8 5,6 -14,29
Imposto sobre operações financeiras 23,4 16,5 42,06 4,8 3,9 23,08
Imposto de importação 24,0 26,2 -8,57 4,7 5,2 -9,62
Cide-combustíveis 1,0 0,7 55,26 0,2 0,2 0,00
Contribuição para Finsocial (Cofins) 130,0 111,1 16,98 25,3 21,5 17,67
CSLL 76,5 54,5 40,40 8,9 7,7 15,58
PIS/Pasep 36,4 31,5 15,49 7,0 5,9 18,64
Outras receitas 296,2 238,9 24,00 55,2 45,5 21,32
Total 908,5 744,7 22,00 165,3 142,1 16,33
abr/22 mar/22 abr/21
Valor Var.%* Valor Var.%* Valor Var.%*
ICMS - Brasil 59,8 4,60 57,2 8,38 50,1 2,78
jun/22 mai/22 jun/21
Valor Var.%* Valor Var.%* Valor Var.%*
INSS 41,1 -2,30 42,0 5,79 34,1 1,20
Fonte: Receita Federal, Previdência Social, Secretaria da Fazenda. Elaboração: Valor Data * sobre omês anterior
Produção e investimento
Variação no período
Indicadores 1º Tri/22 4º Tri/21 2022 (1) 2021 2020 2019
PIB (R$ bilhões) * 2.249 2.258 8.863 8.679 7.468 7.389
PIB (US$ bilhões) ** 444 404 1.677 1.609 1.448 1.873
Taxa de Variação Real (%) 1,0 0,7 4,7 4,6 -3,9 1,2
Agropecuária -0,9 6,0 -4,8 -0,2 3,8 0,4
Indústria 0,1 -1,2 3,3 4,5 -3,4 -0,7
Serviços 1,0 0,6 5,8 4,7 -4,3 1,5
Formação Bruta de Capital Fixo (%) -3,5 0,8 10,1 17,2 -0,5 4,0
Investimento (% do PIB) 18,7 19,0 18,9 19,2 16,6 15,5
Fontes: IBGE e Banco Central. Elaboração: Valor Data
* Valores correntes. ** Banco Central. (1) 1º trim de 2022, nos últimos 12meses
Mais informações: valor.globo.com/valor-data/, ibge.gov.br e fipe.org.br
Atividade econômica
Indicadores agregados
jul/22 jun/22 mai/22 abr/22 mar/22 fev/22 jan/22 dez/21 nov/21 out/21
Indústria*
Produção física industrial (IBGE -%)
Total - -0,4 0,3 0,2 0,6 0,7 -1,9 2,7 0,1 -0,5
Indústria de transformação - -0,3 0,9 0,0 0,8 0,4 -1,6 2,9 -0,2 -0,2
Indústrias extrativas - 1,9 -5,7 0,2 0,7 5,6 -5,4 1,1 3,9 -8,9
Bens de capital - 1,7 7,5 -8,0 8,7 2,1 -9,2 4,6 1,1 -2,3
Bens intermediários - 1,3 -1,5 1,0 0,7 2,2 -1,9 1,2 0,2 -1,2
Bens de consumo - 1,0 0,3 2,7 -3,1 0,3 -1,5 4,0 0,7 -1,3
Faturamento real (CNI - %) - 0,9 0,9 -0,2 1,0 -0,1 1,5 0,2 1,3 -1,4
Horas trabalhadas na produção (CNI -%) - 0,0 1,7 -2,3 -0,3 1,4 0,2 1,1 1,2 -0,9
Comércio
Receita nominal de vendas no varejo - Brasil (IBGE -%) *(2) - - 0,4 1,0 7,4 2,4 2,3 0,1 1,2 0,6
Volume de vendas no varejo - Brasil (IBGE -%) *(2) - - 0,1 0,8 1,4 1,4 2,3 -2,8 0,6 0,2
Consultas ao usecheque (ACSP -%) (1) ** 97,2 114,1 424,1 44,2 109,3 14,6 18,2 50,6 21,2 33,4
Consultas ao sistema de proteção ao crédito (ACSP -%) (1) ** -5,6 7,8 127,2 -29,0 45,0 -4,3 6,4 -13,3 -4,0 -3,1
Mercado de trabalho
Taxa de desocupação (Pnad/IBGE - em%) - 9,3 9,8 10,5 11,1 11,2 11,2 11,1 11,6 12,1
Indicador Coincidente de Desemprego - (FGV/IBRE) (3)* - - - - - - - - - -
Emprego industrial (CNI -%)* - 0,4 0,3 -0,1 -0,2 -0,1 0,3 0,3 0,3 0,0
Indicador Antecedente de Emprego - (FGV/IBRE) (3)* -0,8 1,0 1,4 4,5 -0,1 -1,4 -5,3 -1,2 -4,1 0,1
Balança comercial (US$milhões)
Exportações 29.955 32.675 29.722 29.018 29.435 23.517 19.798 24.357 20.473 22.602
Importações 24.511 23.861 24.707 20.748 21.808 18.872 19.816 20.421 21.612 20.539
Saldo 5.444 8.814 5.015 8.270 7.628 4.645 -18 3.936 -1.139 2.063
Fontes: IBGE,CNI,FGV,FIRJAN,ACSP,SECEX/MDIC.Elaboração:ValorData(1)NacapitalSP. (2)Novasériecomíndicebase2014=100. (3)Var. empts. *Metodologiacomajustesazonal.
** Variação em 12meses.
Inflação
Variação no período (em%)
Acumulado em Número índice
jul/22 jun/22 2022 2021 12meses jul/22 jun/22 dez/21 jul/21
IBGE
IPCA - 0,67 5,49 10,06 11,89 - 6.455,85 6.120,04 5.825,37
INPC - 0,62 5,61 10,16 11,92 - 6.685,86 6.330,59 6.034,73
IPCA-15 0,13 0,69 5,79 10,42 11,39 6.340,06 6.331,83 5.992,99 5.692,01
IPCA-E - 0,69 5,65 10,42 12,04 - 6.331,83 5.992,99 5.692,01
FGV
IGP-DI -0,38 0,62 7,44 17,74 9,13 1.169,43 1.173,83 1.088,49 1.071,62
Núcleo do IPC-DI 0,36 0,57 4,76 4,96 7,27 - - - -
IPA-DI -0,32 0,44 8,41 20,64 9,11 1.424,53 1.429,13 1.314,07 1.305,54
IPA-Agro 0,17 -0,62 7,20 18,80 11,08 2.087,94 2.084,42 1.947,79 1.879,74
IPA-Ind. -0,52 0,86 8,90 21,39 8,35 1.176,94 1.183,05 1.080,78 1.086,22
IPC-DI -1,19 0,67 3,20 9,34 8,00 701,10 709,57 679,39 649,19
INCC-DI 0,86 2,14 8,46 13,85 11,59 1.043,76 1.034,82 962,32 935,36
IGP-M 0,21 0,59 8,39 17,78 10,08 1.193,34 1.190,88 1.100,99 1.084,10
IPA-M 0,21 0,30 9,47 20,57 10,14 1.469,85 1.466,77 1.342,67 1.334,48
IPC-M -0,28 0,71 3,98 9,32 9,02 690,75 692,70 664,32 633,61
INCC-M 1,16 2,81 8,44 14,03 11,66 1.042,03 1.030,11 960,89 933,23
IGP-10 0,60 0,74 9,18 17,30 10,87 1.220,20 1.212,94 1.117,64 1.100,62
IPA-10 0,57 0,47 10,38 19,72 10,98 1.513,31 1.504,80 1.370,95 1.363,60
IPC-10 0,42 0,72 4,70 9,63 9,97 698,93696,00 667,53 635,56
INCC-10 1,26 3,29 8,16 14,20 11,71 1.025,40 1.012,61 948,04 917,93
FIPE
IPC - 0,28 5,35 9,73 11,69 - 642,63 610,00 581,27
DIEESE
ICV* - - - - 3,07 - - - -
Obs.: IPCA-E no 2º trimestre = 3,04%, IGP-M2ª prévia jul/22 =0,52%e IPC-FIPE = 3ª quadrissemana jul/22 =0,33%
Fontes: FGV, IBGE, FIPE e DIEESE. Elaboração: Valor Data *Índice em2020 até fevereiro
Imposto de Renda Pessoa Física
Pagamento das quotas - 2022
No prazo legal
Quota Vencimento Valor da quota Valor dos juros Valor total
(Campo 7 do DARF) (Campo 9 do DARF) (Campo 10 do DARF)
1ª ou única 31/05/2022 - Campo 7
2ª 30/06/2022 1,00%
3ª 29/07/2022 2,02% +
4ª 31/08/2022 Valor da declaração 3,05% Campo 8
5ª 30/09/2022 -
6ª 31/10/2022 - +
7ª 30/11/2022 - Campo 9
8ª 30/12/2022 -
Pagamento com atraso
Multa(campo08) -sobreovalordocampo7aplicar0,33%pordiadeatraso,apartirdoprimeirodiaapósovencimentoaté
o limite de20%;Juros (campo09) - aplicar os juros equivalentes à taxaSelic acumuladamensalmente, calculadosapartir
de junho/22 até o mês anterior ao do pagamento e de 1% nomês de pagamento; Total (campo 10) - informar a soma dos
valores dos campos 7, 8 e 9. Fonte: Receita Federal do Brasil. Elaboração: Valor Data.
Dívida e necessidades de financiamento
Valores emR$ bilhões - no setor público
Dívida líquida do setor público mai/22 abr/22 mai/21
Valor %do PIB Valor %do PIB Valor %do PIB
Dívida líquida total 5.338,3 58,78 5.227,6 58,32 4.730,7 59,23
(-) Ajuste patrimonial + privatização 5,9 0,07 5,6 0,06 16,6 0,21
(-) Ajuste metodológico s/ dívida* -685,1 -7,54 -729,4 -8,14 -922,8 -11,55
Dívida fiscal líquida 6.017,5 66,26 5.951,5 66,39 5.636,9 70,57
Divisão entre dívida interna e externa
Dívida interna líquida 6.038,7 66,50 5.972,2 66,62 5.697,9 71,34
Dívida externa líquida -700,5 -7,71 -744,6 -8,31 -967,3 -12,11
Divisão entre as esferas do governo
Governo Federal e Banco Central 4.486,9 49,41 4.367,7 48,72 3.761,4 47,09
Governos Estaduais 748,4 8,24 755,0 8,42 824,0 10,32
GovernosMunicipais 55,9 0,62 57,9 0,65 81,9 1,03
Empresas Estatais 47,1 0,52 47,0 0,52 63,3 0,79
Necessidades de financiamento do setor público mai/22 abr/22 mai/21
Fluxos acumulados em 12meses Valor %do PIB Valor %do PIB Valor %do PIB
Total nominal 380,6 4,19 352,0 3,93 724,3 9,07
Governo Federal** 502,9 5,54 469,2 5,23 823,4 10,31
Banco Central -42,3 -0,47 -36,5 -0,41 -65,3 -0,82
Governo regional -77,9 -0,86 -78,2 -0,87 -35,9 -0,45
Total primário -119,9 -1,32 -137,4 -1,53 428,6 5,37
Governo Federal -255,7 -2,82 -255,1 -2,85 280,9 3,52
Banco Central 0,6 0,01 0,5 0,01 0,3 0,00
Governo regional -128,7 -1,42 -126,6 -1,41 -71,4 -0,89
Fonte: Banco Central. Elaboração: Valor Data * Interna e externa.** Inclui INSS. Obs.: SemPetrobras e Eletrobras.
Resultado fiscal do governo central
Valores emR$ bilhões a preços de junho*
Discriminação Janeiro-junho Var. junho Var.
2022 2021 % 2022 2021 %
Receita total 1.191,6 1.024,6 16,30 224,3 152,6 47,00
Receita Adm. Pela RFB** 725,5 653,3 11,05 114,4 91,9 24,49
Arrecadaçao Líquida para o RGPS 251,9 233,2 7,99 41,1 38,1 7,68
Receitas Não Adm. Pela RFB 214,3 138,1 55,19 68,8 22,5 205,69
Transferências a Estados eMunicípios 232,2 191,4 21,34 33,7 28,7 17,29
Receita líquida total 959,4 833,2 15,14 190,6 123,8 53,90
Despesa Total 902,8 891,9 1,23 176,1 206,0 -14,51
Benefícios Precidenciários 423,6 412,6 2,67 83,4 99,8 -16,44
Pessoal e Encargos Sociais 157,5 179,3 -12,16 25,4 35,3 -28,20
Outras Despesas Obrigatórias 148,4 177,8 -16,56 25,7 45,9 -44,10
Despesas Poder Exec. Sujeitas à Prog. Financeira 173,4 122,2 41,93 41,7 24,9 67,10
Resul. Primário do Gov. Central (1) 56,5 -58,7 -196,29 14,4 -82,2 -117,56
Discriminação mai/22 abr/22 mai/21
Valor Var.% Valor Var.% Valor Var.%
Ajustes metodológicos -0,5 10,71 -0,4 4,68 -0,3 -19,26
Discrepância estatística -0,2 - 1,2 - 0,3 -
Result. Primário do Gov. Central (2) -40,3 - 30,0 - -23,5 -
Juros Noniminais -27,5 -62,81 -74,0 191,13 -20,8 -
Result. Nominal do Gov. Central -67,8 54,07 -44,0 31,76 -44,4 -
Fonte: Secretaria do Tesouro Nacional. Elaboração: Valor Data
* Deflator: IPCA ** Somando Incentivos fiscais (1) Acima da linha. (2) Abaixo da linha
Jornal Valor --- Página 8 da edição "08/08/2022 1a CAD A" ---- Impressa por cgbarbosa às 07/08/2022@21:40:12
A8 | Valor | Sábado, domingo e segunda-feira, 6, 7 e 8 de agosto de 2022
Política
Coligaçãonumerosa
garante a Lula amaior
fatia dohorário eleitoral
DeSãoPaulo
Sustentado por uma coligação
que reúne nove partidos e, depen-
dendo do desfecho de uma dispu-
ta judicial, poderá chegar a dez, o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva concluiu a fase de montagem
de coligações com vantagem em
relação ao presidente Jair Bolsona-
roeoutros rivais.
Conforme cálculo prévio feito
pelo Valor com base na legisla-
ção, o arco maior de aliança em
torno do petista lhe garantirá
cerca de 26% do tempo total de
propaganda no rádio e na TV, a
maior fatia na comparação com
o espaço a ser reservado para
seus adversários.
A definição do tempo exato de
cada concorrente, pendente da
confirmação dos pedidos de can-
didatura, será divulgada nos pró-
ximos dias pelo Tribunal Supe-
rior Eleitoral (TSE) . O documen-
to definidor, chamado “plano de
mídia”, sairá de uma audiência
do presidente da corte, Edson Fa-
chin, com representantes dos
partidos e das emissoras.
O grupo de apoio a Lula, bati-
zado de Coligação Brasil da Espe-
rança, reúne os federados PT, PC-
doB e PV, os também federados
Psol e Rede e ainda outras quatro
legendas avulsas: PSB, que indi-
cou o candidato a vice, o ex-go-
vernador paulista Geraldo Alck-
min, Solidariedade, Avante e
Agir (antigo PTC).
O apoio pendente de confir-
mação ao petista é o do partido
Pros, cujo comando do diretório
nacional é objeto de disputa a
ser julgada pelo Supremo Tribu-
nal Federal (STF).
Se conseguir entrar na campa-
nha deste ano apoiado por dez
partidos políticos, Lula irá igua-
lar, em número de legendas, o
maior arco de apoio já construí-
do por candidatos petistas em
eleições presidenciais desde sua
primeira disputa, em 1989.
Em 2010, a então candidata
petista Dilma Rousseff disputou
e venceu numa coligação forma-
da por dez legendas. Os partidos
que a sustentavam naquela épo-
ca, porém, eram maiores que os
que hoje apoiam Lula.
Numa coligação de nove le-
gendas (caso o apoio do Pros não
se confirme) e em disputa com
dez rivais, a coligação encabeça-
da por Lula terá direito a 3 minu-
tos e 15 segundos em cada um
dos dois blocos fixos de 12 minu-
tos e 30 segundos da propagan-
da presidencial nas rádios e na
televisão que irá ao ar nas terças,
quintas e nos sábados.
Ficará também com o equiva-
lente a 26% dos comerciais de 30
segundos ou 1 minuto ao longo
da programação, anúncios co-
nhecidos como inserções.
Com o PL, seu próprio partido,
PP e Republicanos, Jair Bolsonaro
formou a segunda maior coliga-
ção da eleição presidencial — o
tamanho é determinado em fun-
ção da soma do número de depu-
tados federais eleitos por cada
partido na última eleição.
Esse arranjo garantirá ao pre-
sidente 21,1% do tempo total de
propaganda no horário eleitoral.
Em cada bloco fixo, isso equivale
a 2 minutos e 38 segundos.
A propaganda eleitoral gratui-
ta no rádio e na TV relativa ao pri-
meiro turno será veiculada de 26
de agosto a 29 de setembro.
Na TV, os blocos fixos de 12 mi-
nutos e 30 segundos para presi-
dente serão apresentados às ter-
ças, quintas e aos sábados, às 13h
e às20h30. Norádio, a veiculação
começa às 7h e às 12h.
Nos dois meios, comerciais de
30 segundos ou de 1 minuto en-
tram o dia todo ao longo da pro-
gramação de cada emissora.
Nesses três dias da semana em
que o horário eleitoral exibirá
propaganda para presidente ha-
verá também um segundo bloco
de 12 minutos e 30 segundos pa-
ra exibição das campanhas de
candidatos a deputado federal.
As segundas, quartas e sextas
serão reservadas para veiculação
das campanhas para senador,
governador, deputado estadual
e, no caso do Distrito Federal, de-
putado distrital.
As senadoras Simone Tebet
(coligação MDB, PSDB, Cidada-
niae Podemos) e Soraya Throni-
cke (União Brasil), também can-
didatas a presidente, terão expo-
sições quase idênticas no horário
eleitoral: 17,4% e 17,2% do tempo
total, respectivamente. Nos blo-
cos fixos, Tebet terá 2 minutos e
10 segundos; Thronicke terá 2 se-
gundo a menos.
Candidatosemcoligação,oex-
ministro Ciro Gomes (PDT) irá
dispor de 6,8% do tempo dos blo-
cos fixos e dos comerciais. No seu
caso, serão 51 segundos nos ho-
rários de propaganda contínua.
Os demais candidatos a presi-
dente são o ex-deputado federal
Roberto Jefferson (PTB), com um
naco de 3,3% dos blocos e dos co-
merciais; o cientista político Luiz
Felipe d’Avila (Novo), com 2,9%; e
o também ex-deputado José Ma-
ria Eymael (DC), 1,5%.
Disputam ainda a Presidência
os candidatos Leonardo Péricles
(UP), Sofia Manzano (PCB) e Vera
Lúcia (PSTU). Cada um terá o
equivalente a 1,3% nos blocos fi-
xos e 1,3% dos comerciais curtos.
Em caso de segundo turno nas
disputas para presidente e gover-
nador, a transmissão da propa-
ganda eleitoral em rádio e TV
ocorrerá entre os dias 7 a 28 de
outubro, com tempo idêntico
para cada postulante. (RM)
EleiçõesMudança na lei eleitoral e orçamento secreto diminuem renovação
Crescimentodaesquerdanão
devemudarperfildaCâmara
RicardoMendonça
DeSãoPaulo
PL, PP e PT serão, não necessa-
riamente nessa ordem, os parti-
dos que mais devem crescer nas
eleições proporcionais deste
ano: as disputas para deputado
federal e deputado estadual. No
sentido oposto, agremiações mé-
dias sem vínculo forte com o go-
verno e partidos pequenos sem
identidade ideológica bem de-
marcada tendem a perder.
Diferentemente do que ocor-
reu em 2018, o clima antissiste-
ma hoje é baixo, o que tende a
comprimir a taxa de renovação.
Em alta estará a tendência à ree-
leição. A esquerda cresce, mas
não o suficiente para mudar o
perfil majoritário de centro-di-
reita da Câmara. E o número de
partidos com representação no
Congresso deve cair.
As previsões são de analistas e
consultores ouvidos pelo Valor
nosúltimosdias. Eles sãopratica-
mente unânimes nesse conjunto
de prognósticos.
Entre as características da elei-
ção de 2022 que tendem a favore-
cerPL,PPePTnadisputaporcadei-
ras na Câmara e nas Assembleias
Legislativas está a polarização en-
tre o presidente Jair Bolsonaro e o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silvanaeleiçãopresidencial.
A expectativa é que, mesmo
que não vença, Lula tenha em
2022 mais votos do que Fernan-
do Haddad (PT) em 2018, o que
deve impulsionar a sigla na dis-
puta proporcional. Concorrendo
com estrutura partidária mais
sólida na comparação com a elei-
ção passada, Bolsonaro também
tende a fazer com que PL e PP se
mantenham com grandes ban-
cadas. Hoje já são as duas maio-
res representações da Câmara.
“BolsonaronoPLdeve repetiro
que ocorreu com o PSL em 2018.
A presença deleajudará o partido
a formar talvez a maior bancada.
O mesmo ocorre com o PP, que
deve ter desempenho muito ex-
pressivo”, diz o cientista político
Cristiano Noronha, da consulto-
ria Arko Advice. Hoje o PL conta
com 77 deputados e o PP com 58.
OsnomesdoPT,pelamesmalógi-
ca, ganham impulso com Lula.
A polarização também deve
fazer com que caia as taxas de
abstenção e de votos nulos ou em
branco, dizem os analistas. O cli-
ma acirrado motiva o eleitorado
a comparecer e a tomar posição.
Diretor da Quaest, empresa es-
pecializada em pesquisa, Felipe
Nuneschamaaatençãoparaa in-
fluência das emendas parlamen-
tares na taxa de sucesso eleitoral.
“Emenda parlamentar, mostra
a literatura, sempre foi instru-
mento importante para criação
de redutos e manutenção de
mandatos. No período recente, o
montante de recursos dessas
emendas aumentou muito, in-
clusive com o chamado orça-
mento secreto. Deputados que
definiam do destino de R$ 2 mi-
lhões e depois eram apoiados
por prefeitos passaram a direcio-
narR$30milhões, R$40milhões.
Isso é um fator que favorece mui-
to os que tiveram mais acesso às
emendas, os governistas”, diz.
O chamado orçamento secreto
soma R$ 21 bilhões este ano, ra-
teados entre Senado e Câmara.
Outro aspecto novo a ser leva-
do em conta são as mudanças na
legislação. Neste ano passa a vi-
gorar a exigência de votação mí-
nima para um partido poder par-
ticipar da distribuição de vagas
pelo chamado sistema de sobras
— cadeiras remanescentes após a
distribuição conforme o quo-
ciente eleitoral. Em 2018, quase
metade das vagas da Câmara foi
ocupada pelo sistema de sobras.
Neste ano, partidos que não al-
cançarem 20% do quociente elei-
toral serão excluídos dessa se-
gunda fase de distribuição.
Para o consultor Antônio Au-
gustodeQueiroz,quecolaborapa-
ra o Departamento Intersindical
de Assessoria Parlamentar (Diap),
essanovametodologia seráoprin-
cipal elemento a favorecer parti-
dos grandes e prejudicar os meno-
res. “Os pequenos que formaram
federação ainda conseguem se
protegerdisso,osdemaiscorremo
riscodeextinção”, afirma.
A possibilidade de criação de fe-
deração — uma espécie de aliança
permanente, válida também para
o pós-eleição — é outra novidade
deste ano. Os pequenos PCdoB e
PV formaram federação com o PT.
AssimcomofezoCidadaniacomo
PSDBe, entre si, Psol eRede.
Os analistas ouvidos pelo Valor
listaram ainda os perfis de siglas
que, conforme suas projeções, de-
verão perder bancada. São as que
não têm vínculo com presidenciá-
vel competitivo, não tiveram pre-
ferência ou liderança nos esque-
mas de emendas ou não são sufi-
cientementegrandesparaestarem
blindadas dos critérios mais rigo-
rososdedistribuiçãodevagas.
Nesse conjunto estão partidos
como PSDB, PDT, PTB, Podemos,
Solidariedade e Avante, entre ou-
tros. A questão do PSDB é vista
como especialmente complicada
pelo fato de o partido ter desisti-
do de candidatura presidencial
pela primeira vez na sua história
— o que era uma de suas marcas
fortes — e por ser muito depen-
dente da votação em São Paulo.
Outro ponto de concordância
entre os analistas consultados é
em relação ao desempenho do
União Brasil, resultante da fusão
PSL-DEM. Trata-se de uma legenda
desprovida dos elementos impul-
sionadores que favorecem PL, PP e
PT, mas detentora da maior fatia
do fundo eleitoral. Quase R$ 800
milhões para gastar em campa-
nhas. “É a maior incógnita desta
eleição”,diz FelipeNunes.
Queiroz: para consultor,metodologia de sobradequociente eleitoral deve ser decisiva na composiçãodaCâmara
REPRODUÇÃO/YOUTUBE
HaddadeTarcísio trocam
acusaçõesem1ºdebate
CristianeAgostine
DeSãoPaulo
O início do primeiro debate pa-
ra governador de São Paulo, trans-
mitido ontem à noite pela TV Ban-
deirantes, foi marcado pela troca
de acusações entre os candidatos
Tarcísio de Freitas (Republicanos)
eFernandoHaddad(PT).
Apoiado pelo presidente Jair
Bolsonaro, Tarcísio provocou o
candidato do PT ao pedir para a
plateia e para os espectadores pro-
curarem no Google quem foi o
“pior prefeito de São Paulo”, em re-
ferência à gestão de Haddad na ca-
pitalpaulista, entre2013e2016.
Na sua vez de falar, Haddad re-
trucouepediuparaaspessoaspes-
quisarem quem é genocida, em re-
ferência ao governo Bolsonaro e
suaatuaçãonapandemia.
“Vocês sãoresponsáveispelacri-
se sanitária que estamos vivendo.
Lamento você vir com essa agressi-
vidade”, afirmou o petista. “Você
está chegando agora a São Paulo e
te dei boas-vindas. Se adeque ao
nossopadrãodecivilidade."
Na sequência, Haddad provo-
cou também o governador Rodri-
go Garcia (PSDB) e disse que o tu-
cano rompeu com o ex-governa-
dor Mário Covas para apoiar os ex-
prefeitosPauloMalufeCelsoPitta.
Haddad lembrou que o ex-go-
vernador João Doria (PSDB) dei-
xou o governo para Garcia e disse
que o “vice foi mal escolhido”.
Garcia rebateu dizendo que
“quem foi lamber as botas de Ma-
luf” foi Haddad e o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, em refe-
rência à campanha municipal de
2016,quandooentãoprefeitoda
capital foi pedir apoio de Maluf.
O debate começou às 21h e
prosseguiu após o fechamento
desta edição.
Garcia tende a se tornar o prin-
cipal alvo de críticas de Haddad e
Tarcísio ao longo da campanha.
O PSDB governa o Estado

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