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Apostila Atendimento Emergencia Produtos Perigosos.pdf 2 PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA Secretaria de Gestão e Ensino em Segurança Pública Diretoria de Ensino e Pesquisa COORDENAÇÃO GERAL DE ENSINO Coordenação de Ensino a Distância Reformulador Marcos Roberto Schumacher Revisão Pedagógica Marcio Raphael Nascimento Maia SETOR DE CRIAÇÃO E DESENVOLVIMENTO Programação e Edição Ozandia Castilho Martins Fagner Fernandes Douetts Renato Antunes dos Santos Designer Ozandia Castilho Martins Fagner Fernandes Douetts Renato Antunes dos Santos Designer Instrucional Anne Caroline Bogarin Manzolli 3 Sumário APRESENTAÇÃO DO CURSO ............................................................................. 8 OBJETIVOS DO CURSO....................................................................................... 8 ESTRUTURA DO CURSO ..................................................................................... 9 Módulo 1 – Conhecimento da emergência e análise preliminar de riscos .... 11 Apresentação do Módulo .................................................................................. 11 Objetivos do Módulo ......................................................................................... 11 Estrutura do Módulo ......................................................................................... 12 Aula 1 – Emergência: acidente ou incidente com produtos perigosos .............. 13 1.1 Diferença entre acidente e incidente com produtos perigosos ............. 13 1.2 Definições do termo “produtos perigosos” ............................................... 15 1.3 Pontos a serem observados durante o atendimento às emergências ..... 15 1.4 Procedimentos se você for o primeiro a chegar no local ......................... 16 Aula 2 – Os agentes perigosos e os procedimentos de emergência básicos em vítimas contaminadas ....................................................................................... 19 2.1 Classificação dos agentes perigosos ...................................................... 19 2.2 Propriedades físico-químicas importantes .............................................. 23 2.3 Conceitos físico-químicos importantes: ................................................... 24 2.4 Toxicologia .............................................................................................. 27 2.5 Conceitos toxicológicos: .......................................................................... 28 2.6 Propriedades das substâncias e compostos ........................................... 30 2.7 As características dos produtos perigosos no ambiente ......................... 31 2.8 Formas de exposição .............................................................................. 33 2.9 Sinais gerais de intoxicados .................................................................... 35 2.10 Procedimentos de emergência básicos em vítimas contaminadas ....... 36 Finalizando... .................................................................................................... 38 4 Módulo 2 – Plano de ação em emergência: comunicação e notificação ....... 39 Apresentação do Módulo .................................................................................. 39 Objetivos do Módulo ......................................................................................... 40 Estrutura do Módulo ......................................................................................... 40 Aula 1 – Ação de controle inicial ....................................................................... 41 1.1 Ação inicial do operador de segurança pública ....................................... 41 1.2 Dados para o início da intervenção do primeiro a chegar ao local sinistrado ...................................................................................................................... 42 1.3 Primeiro respondedor .......................................................................... 43 Aula 2 – Acionamento e notificação .................................................................. 48 2.1 O contexto regional e os acidentes de trânsito ....................................... 48 2.2 Órgãos envolvidos nas ações .............................................................. 50 2.3 Legislação e normas de consulta ......................................................... 51 Finalizando... .................................................................................................... 56 Módulo 3 – Sistema de Comando de Incidentes (SCI) .................................... 57 Apresentação do Módulo .................................................................................. 57 Objetivos do Módulo ......................................................................................... 57 Estrutura do Módulo ......................................................................................... 57 Aula 1 - SISTEMA DE COMANDO DE INCIDENTES (SCI) ............................. 59 Aula 2 - Princípios do SCI ................................................................................. 63 Aula 3 - Estrutura e funções do SCI ................................................................. 66 3.1 Comandante do Incidente (CI) ................................................................ 69 3.2 Staff de Comando ................................................................................... 69 3.3 Staff Geral ............................................................................................... 70 Aula 4 - Instalações .......................................................................................... 72 Aula 5 - Gerenciamento de Recursos ............................................................... 77 5 5.1 Recursos ................................................................................................. 77 5.2 Categoria dos Recursos .......................................................................... 77 5.3 Estado dos Recursos .............................................................................. 78 Aula 6 - A primeira resposta e o período inicial ................................................ 80 6.1 Chegada ao local do incidente ................................................................ 80 6.2 Assumir e estabelecer o PC .................................................................... 80 6.3 Avaliar a situação .................................................................................... 81 6.4 Estabelecer um perímetro de segurança ................................................ 81 6.5 Estabelecer os objetivos ......................................................................... 83 6.6 Determinar as estratégias ....................................................................... 83 6.7 Determinar as necessidades de recursos e possíveis instalações. ........ 83 6.8 Preparar as informações para transferir o comando ............................... 83 Aula 7 - Instrumentos de Consulta e Registro .................................................. 85 7.1 Tarjeta de Campo.................................................................................... 85 7.2 SCI 201 ................................................................................................... 85 7.3 SCI 211 e SCI 219 .................................................................................. 87 Finalizando... .................................................................................................... 88 Módulo 4 – Identificação e classificação de produtos perigosos .................. 89 Apresentação do Módulo .................................................................................. 89 Objetivos do Módulo ......................................................................................... 89 Estrutura do Módulo ......................................................................................... 89 Aula 1 – Classificação de riscos da ONU ......................................................... 90 Apresentação ................................................................................................ 90 1.1 Classificação dos produtos perigosos segundo a ONU .......................... 90 1.2 Classificação americana ......................................................................... 92 Aula 2 – Classificação nacional de riscos ......................................................... 97 6 Apresentação ................................................................................................ 97 2.1 Classes de risco ...................................................................................... 97 2.2 Painel de Segurança ............................................................................. 110 2.3 RÓTULOS DE RISCO ........................................................................... 112 Finalizando... .................................................................................................. 113 Módulo 5 – Fontes de consulta e informação ................................................ 114 Apresentação .................................................................................................. 114 Objetivos do Módulo ....................................................................................... 115 Estrutura do Módulo ....................................................................................... 115 Aula 1 – Fontes de consulta e informação ...................................................... 116 1.1 ABIQUIM ............................................................................................... 116 1.2 FISPQ ................................................................................................... 117 1.3 Ficha de emergência ............................................................................. 118 1.4 Envelope de transporte: ........................................................................ 119 1.5 Informações do fabricante, fornecedor/distribuidor, expedidor, transportador, destinatário ou importador do produto perigoso: .................. 120 Aula 2 – Guia de emergência química da ABIQUIM ....................................... 121 2.1 Manual para o atendimento às emergências com produtos perigosos . 121 2.2 Sistema de informação .......................................................................... 122 2.3 Avaliação da situação ........................................................................... 123 2.4 Conteúdo do manual para atendimento à emergência ...................... 124 Aula 3 – Guia NIOSH para riscos químicos (NIOSH – Guide to Chemical Hazards) ........................................................................................................................ 133 Finalizando... .................................................................................................. 135 Módulo 6 – Seleção de níveis de proteção e divisão de áreas de trabalho . 136 Apresentação .................................................................................................. 136 Objetivos do Módulo ....................................................................................... 136 7 Estrutura do Módulo ....................................................................................... 136 Aula 1 – Seleção dos níveis de proteção ........................................................ 137 1.1 Critérios gerais para seleção de roupas de proteção química .............. 137 1.2 Equipamentos ....................................................................................... 137 1.3 Níveis de proteção ................................................................................ 139 Aula 2 – Divisão de áreas de trabalho ............................................................ 150 2.1 Áreas de trabalho .................................................................................. 150 Finalizando... .................................................................................................. 159 Módulo 7 – Encerramento da intervenção em emergência .......................... 160 Apresentação do Módulo ................................................................................ 160 Objetivos do Módulo ....................................................................................... 160 Estrutura do Módulo ....................................................................................... 160 Aula 1 – Acompanhamento das ações de contenção, descontaminação e limpeza da cena ........................................................................................................... 161 1.1 Supervisão da contenção feita pelo embarcador, fabricante ou transportador ............................................................................................... 161 1.2 Generalidades sobre a descontaminação em emergência ................... 162 1.3 Métodos de descontaminação .............................................................. 163 1.4 Níveis de descontaminação .................................................................. 172 Aula 2 – Relatório para encerramento do trabalho ......................................... 174 2.1. Dados básicos para a elaboração de relatório de trabalho .................. 174 Finalizando... .................................................................................................. 176 8 APRESENTAÇÃO DO CURSO Prezados cursistas, O Curso de Atendimento à Emergências com Produtos Perigosos tem como finalidade criar condições para que você saiba como agir quando estiver dentre os primeiros a chegar em locais de ocorrências envolvendo produtos perigosos em áreas públicas. O escopo do curso é facilitar e orientar as ações da assistência especializada, minimizar os danos ao meio ambiente e os efeitos decorrentes de vazamentos, explosões e incêndios nas comunidades e o devido gerenciamento do local sinistrado. OBJETIVOS DO CURSO Ao final do curso você será capaz de: • Identificar elementos no local do incidente que remetem à possibilidade de uma ocorrência envolvendo produtos perigosos; • Saber os primeiros passos a se tomar em uma ocorrência envolvendo produtos perigosos; • Reconhecer os perigos inerentes de produtos perigosos, bem como suas propriedades físico-químicas; • Aplicar os 8 passos se você for o primeiro a chegar à cena com capacidade operacional; • Conhecer as principais legislações e normas de consulta; • Aplicar as ferramentas e identificar as instalações do SCI; • Identificar as 9 classes de produtos perigosos; 9 • Interpretar as simbologias do painel de segurança e rótulo de risco; • Saber manusear o manual da Abiquim; • Selecionar o nível de proteção adequado ao risco envolvido; • Dividir as áreas de trabalho e realizar o isolamento da área contaminada. ESTRUTURA DO CURSO O curso é composto por 7 módulos: Módulo 1 – Conhecimento da emergência e análise preliminar de riscos Aula 1 – Emergência: acidente ou incidente com produtos perigosos. Aula 2 – Os agentes perigosos e os procedimentos básicos de emergência em vítimas contaminadas. Módulo 2 – Plano de ação em emergência: comunicação e notificação Aula 1 – Ação de controle inicial. Aula 2 – Acionamento e notificação. Módulo 3 – Sistema de Comando de Incidentes (SCI) Aula 1 – Sistema de Comando de Incidentes. Aula 2 – Princípios. Aula 3 – Estrutura e funções. Aula 4 – Instalações. 10 Aula 5 – Gerenciamento de recursos. Aula 6 – A primeira resposta e o período inicial. Aula 7 – Instrumentos de consulta e registro. Módulo 4 – Identificação e classificação de produtos perigosos Aula 1 – Classificação de riscos da ONU. Aula 2 – Classificação nacional de riscos. Módulo 5 – Fontes de consulta e informação Aula 1 – Fontes de consulta e informação. Aula 2 – Guia de emergência química da ABIQUIM. Aula 3 – Guia NIOSH para riscos químicos (NIOSH – Guide to Chemical Hazards). Módulo 6 – Seleção de níveis de proteção e divisão de áreas de trabalho Aula 1 – Seleção dos níveis de proteção. Aula 2 – Divisão de áreas de trabalho. Módulo 7 – Encerramento da intervenção em emergência Aula 1 – Acompanhamento das ações de contenção, descontaminação e limpeza da cena. Aula 2 – Relatório para encerramento do trabalho. 11 Módulo 1 – Conhecimento da emergência e análise preliminar de riscos Apresentação do Módulo Caro Aluno, As substâncias químicas, físico-nucleares e biológicas, quando fora de suas condições de segurança de manuseio, transporte e armazenamento, podem ser fontes geradoras de vazamentos, incêndios e explosões. A toxicologia dos produtos por meio de suas propriedades e formas de exposição pode ajudar você a identificar riscos e perigos instalados no meio ambiente sinistrado. A presença do profissional da área da segurança pública, capacitado para responder a esse tipo de ocorrência, pode ser o início da solução do problema, desde que você não se torne uma vítima de contaminação e exposição indevida diante dos produtos perigosos presentes no local sinistrado. Neste módulo, você estudará sobre os procedimentos que podem orientar o deslocamento e a chegada segura no ambiente sinistrado com emprego da terminologia técnica de análise preliminar de riscos. Bons Estudos! Objetivos do Módulo Ao final do estudo deste módulo, você será capaz de: • Conceituar acidentes e incidentes; 12 • Diferenciar carga perigosa e produtos perigosos; • Citar princípios fundamentais para a tomada de decisão; • Classificar agentes perigosos; • Enumerar as ações para a previsão de socorro às vítimas contaminadas por produtos perigosos; • Descrever as atitudes e ações durante o atendimento às emergências; • Defender o cumprimento de normas dos planos locais de emergência. Estrutura do Módulo O presente módulo está dividido em: Aula 1 – Emergência: acidente ou incidente com produtos perigosos. Aula 2 – Os agentes perigosos e os procedimentos básicos de emergência em vítimas contaminadas. 13 Aula 1 – Emergência: acidente ou incidente com produtos perigosos Nesta aula, você estudará as definições, a nomenclatura básica e as características existentes para entender a dinâmica das emergências. 1.1 Diferença entre acidente e incidente com produtos perigosos Figura 1: Reflita! Fonte: SCD/EaD/Segen. Vamos ver o conceito dos dois: Acidente O acidente é o evento repentino e não desejado em que a liberação de substâncias químicas, biológicas ou radiológicas perigosas em forma de incêndio, explosão, derramamento ou vazamento causando danos às pessoas, aos bens ou ao meio ambiente. 14 Incidente O incidente é o evento repentino e não desejado que foi controlado antes de afetar elementos vulneráveis (dano ou exposição às pessoas, aos bens ou ao meio ambiente). Também denominado de “quase acidente”. O que é acidente ambiental? Conceitua-se acidente ambiental como o evento não previsível, capaz de direta ou indiretamente causar danos aos ecossistemas e à saúde humana, como vazamento ou lançamento de substâncias (gases, líquidos ou sólidos) para atmosfera, para o solo ou para os corpos d’água, além dos incêndios florestais ou em instalações industriais (IAT, 2020). Figura 2: Carga perigosa Fonte: SCD/EaD/Segen. 15 1.2 Definições do termo “produtos perigosos” Produtos perigosos podem ser definidos como: • Toda substância ou mistura de substâncias que, em razão de suas propriedades químicas, físicas ou toxicológicas, isoladas ou combinadas, constitui um perigo (OIT, 1993); • Uma substância (sólida, líquida ou gasosa) que, quando liberada, tem a capacidade de gerar ameaça às pessoas, ao meio ambiente e à propriedade (NFPA, 1997); • Qualquer material sólido, líquido ou gasoso que seja tóxico, radioativo, corrosivo, quimicamente reativo ou instável durante a estocagem prolongada em quantidade que represente uma ameaça à vida, à propriedade e ao meio ambiente (DOT, 1998); • Produtos que tenham potencial de causar dano ou apresentem risco à saúde, segurança e meio ambiente e tenham sido classificados como tais de acordo com critérios definidos pela regulamentação de transporte. (BRASIL, ABNT, 2015). 1.3 Pontos a serem observados durante o atendimento às emergências Diante de uma chamada para o atendimento da emergência com produtos perigosos, você, como profissional de segurança pública, deverá observar os seguintes pontos vitais para a intervenção em emergências com produtos perigosos: 16 I. Existência de pessoas desorientadas, inconscientes ou em óbito; II. Fuga de pessoas e animais; III. Mortandade de peixes, aves e animais domésticos e rurais; IV. Cobertura vegetal queimada, descolorida ou morta; V. Surgimento de testemunhas e vítimas que apresentem queimaduras, intoxicação ou irritação dos olhos, região das axilas e órgãos sexuais; VI. Presença de tambores, contêineres, tanques, caminhões-tanque, vagões- tanque, posto de combustível, indústria química ou farmacêutica, laboratórios radioativos, lixões, aterros sanitários, hospitais, rodovias, ferrovias, dutovias, depósitos, docas de porto ou hangares; VII. Tempo estimado decorrido do derrame (líquidos), escape (gases) ou tombamento (sólidos) de produtos perigosos; VIII. Volume estimado do vazamento do local armazenado, processo ou veículo de transporte; IX. Área em metros quadrados ou hectares com efetiva presença de agentes, substâncias, elementos ou compostos orgânicos ou inorgânicos; X. Notas fiscais, rótulos, embalagens, placas, documentos de transporte, licenças, manifestos de carga, fichas de emergência, planos de segurança, documentos do transportador, embarcador e fabricante. 1.4 Procedimentos se você for o primeiro a chegar no local Quais serão suas tarefas? Os cuidados no deslocamento e especial observação do cenário com suspeita da presença de produtos perigosos auxiliam você a dimensionar o chamado de reforço de especialistas ou notificação dos órgãos de governo e organismos não governamentais. As atividades a seguir devem ser seguidas caso 17 o operador de segurança pública não tenha capacidade operacional de assumir a ocorrência. Quais serão suas atividades? • Manter-se afastado do produto derramado, vazado ou espalhado no local; • Se possível, realizar o isolamento do local; • Estacionar veículos de inspeção de via, supervisão de serviço e operações devidamente sinalizados em posição de fuga ou retirada rápida; • Evitar inalar vapores, poeiras, gases e fumaças; • Manter distância segura mínima de 100 metros em todas as direções; • Identificar a direção do vento ou das correntes de ar para espaços confinados; • Usar binóculos para reconhecer a presença de vítimas, danos ambientais, telefones, números, cores, placas, entre outras informações; • Acionar equipes especializadas (Corpo de Bombeiros, Polícia Militar, SAMU, órgão ambiental, equipes de trânsito, Polícia Rodoviária Estadual, Polícia Rodoviária Federal) com capacidade de emprego de níveis de proteção individual, de acordo com a necessidade de cada caso. 18 Resultados esperados Figura 3: Resultados esperados Fonte: SCD/EaD/Segen. Importante! Em caso de anormalidade, faça a comunicação de risco à comunidade local utilizando-se da mídia local, regional ou especializada. 19 Aula 2 – Os agentes perigosos e os procedimentos de emergência básicos em vítimas contaminadas Nesta aula, você estudará os agentes que podem provocar algum tipo de dano aos seres vivos e suas características em acidentes e incidentes com produtos perigosos, bem como os procedimentos de emergência básicos em vítimas contaminadas. 2.1 Classificação dos agentes perigosos Os agentes podem se tornar perigosos e provocar algum tipo de dano à vida, ao meio ambiente e ao patrimônio. Os agentes perigosos são constituídos em: Agentes químicos Elementos ou compostos que têm o potencial de gerar queimaduras, intoxicação, envenenamentos, inconsciência ou morte do ser humano, seres vivos e flora. Os agentes químicos possuem características tais como: toxicidade, corrosividade, explosividade, reatividade, radioatividade, inflamabilidade, instabilidade, entre outros. Agentes biológicos São seres vivos que produzem enzimas ou toxinas que podem provocar lesões, enfermidades ou morte dos indivíduos a eles expostos. Os exemplos são: vírus HIV, ebola, vírus de Marburg, salmonela e arbovírus. Agentes radioativos São corpos que emitem radiações ionizantes que provocam lesões, enfermidades ou morte dos indivíduos a eles expostos. Os exemplos são: Urânio 235, Césio 137, tório, estrôncio e cobalto. 20 QBRNe Os agentes perigosos também são comumente chamados de QBRNe, o termo QBRNe, que em inglês significa: Chemical, Biological, Radiological and Nuclear (CBRN), sigla para Químicos, Biológicos, Radiológicos ou Nucleares, combinados ou não com Explosivos, e que vem ganhando destaque. Basicamente, refere-se aos tipos de agentes que podem trazer ameaças às pessoas, ao meio ambiente e/ou à propriedade em contextos e cenários diversos. O atendimento a eventos QBRNe não difere, em linhas gerais, aos princípios técnicos relacionados à contenção e ao controle daqueles rotineiros envolvendo Produtos Perigosos. Até porque, todos os agentes QBRNe guardam similaridades ou são os mesmos relativos à classificação ONU para Produtos Perigosos. Talvez, a maior diferença diga respeito à amplitude, propósitos e origem dos incidentes QBRN (CBPMPR, 2018). Dentre as motivações que resultam em ameaças QBRNe, destacam-se os atos terroristas. Atos terroristas, utilizando agentes QBRNe, têm como objetivo, dentre outros: • Produzir um elevado número de mortos e feridos; • Atacar locais de reunião de público e meios de transporte; • Desorganizar as equipes de resposta; • Provocar o caos nos centros médicos (hospitais) de referência; • Atingir diretamente as equipes de resposta (policiais, bombeiros, socorristas, etc.); • Disseminar (espalhar) agentes contaminantes para locais e áreas distantes da zona de impacto propriamente dita (Zona Quente), incluindo os 21 hospitais que recebem as vítimas oriundas do mesmo ataque; • Dificultar ao máximo a identificação dos agentes QBRNe envolvidos no ataque; • Dificultar processos de descontaminação devido ao elevado número de vítimas. Potencial de Hidrogênio (pH) Um índice muito utilizado no âmbito dos produtos perigosos é o potencial de hidrogênio (pH) – que mede a acidez e alcalinidade do material. O potencial de hidrogênio (pH), potencial de concentração do íon hidrogênio (H+), é um valor mensurável que pode indicar a acidez, neutralidade ou alcalinidade de um meio. Os valores de pH podem variar de 0 (máxima acidez) a 14 (máxima alcalinidade). Quanto mais forte for um ácido, maior será a concentração do íon hidrogênio. A 25º C uma solução considerada neutra tem um pH = 7. A água pura, considerada neutra, tem um pH igual a 7. Substâncias com pH superiores a 7 são consideradas alcalinas (bases); substâncias com pH abaixo de 7 são consideradas ácidas. Veja alguns exemplos na figura abaixo: 22 Figura 4: Escala pH Fonte: mundoeducacao.uol.com.br, 2020; SCD/EaD/Segen 23 2.2 Propriedades físico-químicas importantes Densidade relativa dos gases e vapores: Figura 5: Densidade dos gases e vapores Fonte: EaD/CBPMPR, 2018. Densidade relativa dos líquidos: Figura 6: Densidade dos líquidos Fonte: FISPQs. 24 Comportamento de gases/vapores e líquidos em função de sua densidade durante o atendimento: Figura 7: Comportamento de gases/vapores e líquidos Fonte: CBPMPR, 2018. 2.3 Conceitos físico-químicos importantes: Figura 8: Conceitos físico-químicos Fonte: SCD/EaD/Segen. 25 Vamos estudá-las: Miscibilidade Refere-se à propriedade de duas ou mais substâncias se misturarem entre si formando misturas homogêneas, com apenas uma fase, ou heterogêneas, com mais de uma fase. Quando as substâncias se misturam, são ditas miscíveis. Quando não se misturam, são ditas imiscíveis; Solubilidade Refere-se à capacidade de dissolução de uma substância dita soluto (ex.: sal) em outra, de característica homogênea, dita solvente (ex.: água), formando uma solução. Quando uma substância não consegue se dissolver em outra, dizemos que ela é insolúvel. Polaridade das moléculas A polaridade das moléculas de uma substância, que está relacionada à diferença de eletronegatividade e à geometria molecular, também influencia na questão solubilidade. Algumas substâncias possuem moléculas consideradas polares, que se dissolvem e se misturam na água, que é composta por moléculas polares. Outras possuem moléculas consideradas apolares, que não se dissolvem nem se misturam com a água. As moléculas orgânicas constituídas exclusivamente por átomos de Carbono (C) e Hidrogênio (H) formam os hidrocarbonetos. Como praticamente não há diferença de eletronegatividade na molécula e elas possuem um arranjo bastante simétrico, dizemos que os hidrocarbonetos são apolares. A regra básica é: Semelhante dissolve semelhante. Polar dissolve polar, apolar dissolve apolar. Isso é, se tenho as mãos sujas com graxa, que é uma substância composta por moléculas apolares, devo limpá-las com, por exemplo, querosene, que é outra substância com moléculas apolares; e 26 não apenas com água pura, que é composta por moléculas polares. Exemplos de substâncias polares e apolares: Substâncias Polares • Água; • Álcool; • Vinagre; • Ácido Clorídrico; • Acetona; • Amônia. Substâncias Apolares • Hidrocarbonetos derivados de petróleo em geral: Graxa; Diesel; Gasolina etc.; • Tetracloreto de Carbono; • Gás Carbônico. Decomposição química Ocorre quando uma substância composta, submetida a determinadas condições (ex.: aquecimento pelo fogo), se divide (se decompõe) em duas ou mais substâncias ou elementos químicos. Ou seja: AB → A + B O fertilizante mineral Nitrato de Amônio (NH4NO3), por exemplo, quando envolvido em um incêndio, mesmo sendo ele incombustível, pode se decompor liberando gás amônia (NH3) e gases nitrosos (NOx). NH4NO3 → NO x + NH3 27 SAIBA MAIS! Os fertilizantes minerais (NPKs), embora não combustíveis, podem, quando envolvidos em incêndios, se decompor emanando gases tóxicos, irritantes e/ou corrosivos. Equipamentos de proteção respiratória adequados devem ser previstos e utilizados pelas equipes de resposta. Polimerização A polimerização, de certa forma, é o inverso da decomposição. Assim, ela se constitui no processo em que determinadas moléculas, chamados de monômeros e que se encontram dissociadas em um determinado ambiente, são agrupadas em uma única macromolécula (grande tamanho e massa molecular) que passa a se chamar polímero. Para que tal processo ocorra, o meio em que as moléculas dissociadas se encontram sofre uma reação química com aplicação de catalizadores (aceleradores), emulsificantes, calor ou agitação mecânica. 2.4 Toxicologia A toxicologia é ciência multidisciplinar que estuda os efeitos adversos dos agentes sobre os organismos. O profissional que atua nessa área deve ter conhecimentos de diversas outras áreas, como química, farmacocinética, farmacodinâmica, clínica e legislação. Toxicologia Clínica A toxicologia clínica trata dos pacientes intoxicados, diagnosticando-os e instituindo uma terapêutica mais adequada; Toxicologia Experimental A toxicologia experimental utiliza animais para elucidar o mecanismo de ação, espectro de efeitos tóxicos e órgãos-alvos de cada agente tóxico; por fim, 28 Toxicologia Analítica A toxicologia analítica identifica e quantifica toxicantes em diversas matrizes, biológicas (sangue, urina, cabelo, saliva, vísceras, entre outras) ou ambientais (água, ar, solo). Os agentes podem oferecer riscos de periculosidade e insalubridade em razão das suas propriedades, que podem ser absorvidas pela respiração cutânea (pele), inaladas pelo aparelho respiratório, ingeridas pelo aparelho digestivo e causar uma série de lesões nos tecidos vivos. 2.5 Conceitos toxicológicos: Vamos estudar um pouco sobre os conceitos toxicológicos, confira: Tóxico Característica de um produto capaz de provocar efeitos nocivos a organismos vivos, quando ingeridos, inalados ou por contato com a pele (Ref. ABT NBR 14.064:2015); Intoxicação Manifestação clínica dos efeitos nocivos decorrentes da interação entre uma substância química e o organismo (Ref. ABT NBR 14.064:2015); Toxicidade Capacidade, inerente a uma substância química ou a um produto químico, de produzir um efeito deletério sobre um sistema biológico (Ref. ABT NBR 14.064:2015); 29 Toxicidade aguda É aquela em que os efeitos tóxicos em animais são produzidos por uma única ou por múltiplas exposições a uma substância, por qualquer via, por um curto período, inferior a um dia. Geralmente as manifestações ocorrem rapidamente (Ref. FIOCRUZ); Toxicidade subcrônica É aquela em que os efeitos tóxicos em animais produzidos por exposições diárias repetidas a uma substância, por qualquer via, aparecem em um período de aproximadamente 10% do tempo de vida de exposição do animal ou alguns meses (Ref. FIOCRUZ); Toxicidade crônica É aquela em que os efeitos tóxicos ocorrem após repetidas exposições, por um período longo de tempo, geralmente durante toda a vida do animal ou aproximadamente 80% do tempo de vida. 30 2.6 Propriedades das substâncias e compostos Figura 9: Propriedades das substâncias e compostos Fonte: SCD/EaD/Segen. 31 2.7 As características dos produtos perigosos no ambiente Os produtos perigosos no meio ambiente possuem duas características comuns: Extrapolação dos limites ESPACIAIS Os produtos extrapolam os limites espaciais porque sua ação não se restringe ao local onde ocorreu o acidente, uma vez que esses produtos, em função do seu estado físico, podem espalhar-se na forma de poeiras, névoas, partículas ou nuvens contaminantes, atingindo regiões territoriais maiores do que as originalmente atingidas. Extrapolação dos limites TEMPORAIS Os produtos extrapolam os limites temporais porque seus efeitos podem surgir horas, dias, meses ou anos após a exposição ao produto. Recomenda-se que os atendentes e as vítimas sejam orientados a fazer exames médicos e laboratoriais regularmente. O Programa Internacional de Segurança sobre Substâncias Químicas – PISSQ (1988) – lista outras características relacionadas com produtos químicos, a saber: Graus diferenciados de exposição Uma exposição química sem trauma mecânico associado pode produzir um número de efeitos previsíveis à saúde humana, animal e ao meio ambiente natural. Nem todas as vítimas apresentarão os mesmos tipos de efeitos, pois isso dependerá das vias de exposição, da duração do contato com a substância, da predisposição individual e da vulnerabilidade ambiental. 32 Área de contaminação Região territorial ou lacustre onde estão ou podem surgir os produtos perigosos na forma de incidente ou acidente. A zona ou área contaminada é aquela em que os contaminantes estão presentes e onde os profissionais da segurança pública e da saúde somente poderão entrar capacitados e utilizando-se de equipamentos de proteção individual (EPI) em nível completo de encapsulamento. Risco de contaminação Os indivíduos expostos aos agentes perigosos podem constituir risco para outras pessoas e para o pessoal especializado no resgate, os quais podem se contaminar com as substâncias impregnadas nas roupas e objetos das vítimas. Por isso, é necessário realizar a descontaminação das vítimas e materiais antes da remoção para o tratamento médico definitivo ou devolução de materiais para seus usuários. Desconhecimento das propriedades e efeitos dos agentes No caso de vários produtos perigosos envolvidos, é difícil conhecer as propriedades e efeitos à saúde. Assim, é importante estabelecer um sistema eficaz de informação das principais substâncias envolvidas e divulgar ao pessoal respondente e demais trabalhadores. Necessidade de oferecer suporte A realização de um inventário é necessária para a identificação dos riscos e de recursos disponíveis para tratamento das vítimas expostas que sofreram queimaduras corrosivas ou térmicas, intoxicações respiratórias com suporte ventilatório ou envenenamentos. Essas características certamente exigirão de você atenção, técnicas e cuidados especiais. A figura a seguir apresenta a diferença entre as condutas exigidas de um profissional da área de segurança pública em um acidente com a 33 presença de produtos perigosos e um acidente sem essa característica. Figura 10: Características do acidente com e sem produtos perigosos Fonte: do conteudista. 2.8 Formas de exposição A exposição é o contato do ser vivo com o produto perigoso. As formas de exposição podem ser por: Inalação (vias aéreas): A mais comum das formas de contaminação que pode atingir as equipes de resposta, ocorre quando um gás/vapor perigoso, em determinadas concentrações após ser inalado por certo período de tempo, segue para os pulmões e acaba entrando na corrente sanguínea, agindo no sistema nervoso e podendo levar à morte. Também pode ser uma via de entrada para partículas perigosas. Figura 11: Vias aéreas Fonte: SCD/EaD/Segen. 34 Ingestão (boca): Usualmente relacionada a acidentes por ingestão acidental ou voluntária envolvendo crianças e pessoas com problemas psicológicos/psiquiátricos. O contaminante, após engolido, segue pelo aparelho digestivo, eventualmente danificando estruturas, sendo absorvido pelo organismo, entrando na corrente sanquínea e agindo no sistema nervoso. Absorção cutânea (pele): Também chamada de intradérmica, ocorre quando determinado contaminante, em um bom nível de contato com a pele, acaba, por permeação ou penetração, atingindo as camadas mais profundas do tecido chegando à corrente sanguínea. Injeção (intravenosa, subcutânea): Entrada direta de contaminante no organismo por meio de injeção, como a intravenosa, a subcutânea, a intramuscular etc. Muitas vezes, o contaminante é colocado diretamente na corrente sanguínea. Figura 12: Boca Fonte: SCD/EaD/Segen. Figura 13: Pele Fonte: SCD/EaD/Segen. Figura 14: Injeção Fonte: SCD/EaD/Segen. 35 Conjuntiva (mucosas): Pode ocorrer, por exemplo, na transmissão de micro- organismos patológicos que entram no organismo após contato com as mucosas ocular nasal ou oral. Bastante relevante em ambientes e procedimentos que exigem biossegurança. 2.9 Sinais gerais de intoxicados A interpretação da condição física e mental da vítima exige que o socorrista use os sentidos da visão, do olfato, da audição e do tato. Você deve atentar para a sua própria segurança, ou seja, há a necessidade de se avaliar a segurança da cena e os riscos de outras contaminações oriundas da vítima. Você deve buscar quais foram as causas dos ferimentos, determinando o que aconteceu com a vítima. Se a vítima queixa-se de cefaleia, náuseas, vômito, sonolência, alteração de comportamento, convulsões, cor cinza ou azul da pele, dificuldades respiratórias ou fase de inconsciência, pode existir um indício de intoxicação ou contaminação por produtos químicos, biológicos ou radiológicos. Figura 15: Mucosas Fonte: SCD/EaD/Segen. 36 2.10 Procedimentos de emergência básicos em vítimas contaminadas • Acionar atendimento qualificado (USA – Unidade de Suporte Avançado Terrestre); • Retirar a vítima do local contaminado utilizando os equipamentos específicos, conforme os riscos existentes no acidente; • Iniciar a descontaminação da vítima: ✓ Remover roupas e sapatos contaminados, tomando cuidado com possível aderência na pele; ✓ Enxaguar a região contaminada com muita água, caso seja líquido, lavando em seguida com água e detergente neutro; ✓ Não jogar água no produto perigoso caso esteja no estado sólido (pó) e reduzir a contaminação utilizando pano seco; ✓ Em caso de contaminação do globo ocular, manter as pálpebras da vítima abertas e enxaguar com muita água; • Monitorar sinais vitais da vítima quando puder; ✓ Administração de antídoto conforme identificação do contaminante; ✓ Iniciar Avaliação Primária da vítima: A de airway (ou vias aéreas) Verificar de vias aéreas e controle da coluna cervical, se necessário; B de breathing (ou respiração) Verificar se há ventilação e oxigenação da vítima; 37 C de circulation (ou circulação) Verificar pulso, controlar hemorragia externa e iniciar Reanimação Cardiorrespiratória caso necessário; D de disability (ou incapacidade) Verificar o nível de consciência da vítima; E de exposure (ou exposição) Manter a vítima aquecida tomando cuidado com a compatibilidade química entre o contaminante e o material utilizado para proteção da vítima. • Permanecer em lugar ventilado; • Não provocar vômito ou administrar qualquer tipo de paliativo; • Jamais tentar realizar a descontaminação na vítima com qualquer tipo substâncias incompatíveis, com exceção da água; • Transportar a vítima para um hospital de referência, informando as características do material perigoso; • Atentar para os riscos de contaminação secundária e cruzada utilizando os Equipamentos de Proteção Individual adequados. 38 Finalizando... Neste módulo, você estudou: • As ações procedimentais que podem orientar o deslocamento e a chegada segura no meio ambiente sinistrado com emprego da terminologia técnica de análise preliminar de riscos; • Os procedimentos a serem tomados se você for o primeiro a chegar no local; • Os procedimentos de emergência básico em vítimas contaminadas; • Estudou ainda, sobre os agentes perigosos diversos e suas características; • O conceito de toxicologia; e • Formas de exposição. 39 Módulo 2 – Plano de ação em emergência: comunicação e notificação Apresentação do Módulo É importante que você entenda que sua instituição pode ser um dos órgãos de resposta e apoio à movimentação e operação envolvendo produtos perigosos na região territorial. Na maior parte das regiões brasileiras, esses produtos, com potencial de causar desastres, são pouco monitorados ao longo de seu processo, estoque, transporte e destinação final. Todavia, esses produtos são essenciais para o bem-estar do ser humano e não deve ser sua intenção, como profissional de segurança pública, gerar pânico em relação aos produtos envolvidos no sinistro, pois esses produtos são essenciais para o país. As rotinas de logística com produtos perigosos têm a implantação de programas de controle de frota, estoque e processos, porém a negligência, a imprudência e a imperícia podem gerar um acidente de dimensões ampliadas com consequências catastróficas. Prevenir essa situação não desejada deve ser o escopo dos planos de ação em emergência formulados pelo fabricante, embarcador, transportador e equipes de socorro e atendimento às ocorrências com produtos perigosos. Neste módulo, você estudará sobre as principais organizações governamentais e não governamentais que você deve acionar e notificar na ocorrência de acidentes envolvendo produtos perigosos, segundo plano de ação em emergência em vigor para a região sinistrada. 40 Objetivos do Módulo Ao final do estudo deste módulo, você será capaz de: Analisar a legislação ambiental; Reconhecer a importância de trabalhar em equipe com divisão de tarefas e manter-se atualizado. Estrutura do Módulo Este módulo está dividido em: Aula 1 – Ação de controle inicial Aula 2 – Acionamento e notificação 41 Aula 1 – Ação de controle inicial Nesta aula, você estudará as ações executadas pelos primeiros recursos operacionais envolvidos na operação de resposta com capacidade de agir para minimizar os efeitos dos produtos envolvidos. 1.1 Ação inicial do operador de segurança pública Entre as competências a serem desenvolvidas por você como profissional de segurança pública está a capacidade de responder à situação de crise e emergência. Isso envolve lidar com diversos fatores, tendências e atos inseguros e de incerteza. Devido ao enfrentamento de ocorrências complexas, você deve estar preparado e capacitado para: Tomar as primeiras providências com o propósito de salvar vidas, defender o meio ambiente e proteger o patrimônio dos efeitos de vazamentos com produtos perigosos; Reconhecer os riscos existentes no cenário sinistrado; Mobilizar o socorro para intervenção do nível operacional e técnico; Controlar a área contaminada até a chegada das instituições convocadas para intervir no sinistro. 42 1.2 Dados para o início da intervenção do primeiro a chegar ao local sinistrado Ao registrar a chamada, é importante anotar dados, porque você ajudará a equipe a chegar ao local e orientar as pessoas para adoção dos primeiros cuidados na cena. Os dados abaixo serão conteúdos para a confecção de relatórios de trabalho, a saber: I. Endereço do lugar, hora e condições climáticas do local do acidente; II. Número de vítimas e suas condições de saúde; III. Ocorrência de incêndios, vazamentos ou explosões; IV. Liberação de produtos contaminantes para o meio ambiente; V. Sinais, marcas, cores, nomes, números, rótulos e documentos que permitam identificar o produto; VI. Sensação de odor ou ruído de escape gasoso; VII. Testemunhas que possam descrever o cenário ou que conheçam o local; VIII. Condições do terreno ou acesso aquático; IX. Lugar para definir ponto de encontro dos profissionais que vão se dirigir ao local para intervenção. Importante! Regras-chave de segurança É necessário você conhecer os procedimentos a serem utilizados pelos órgãos participantes empenhados na ocorrência. Seguem algumas regras que vão auxiliar na instalação dos serviços de resposta no local: ❖ Não se transforme em uma vítima; 43 ❖ Não se precipite; ❖ Não decida sem conhecer a área de trabalho; ❖ Não toque, deguste ou respire vapores e nuvens da área sinistrada. 1.3 Primeiro respondedor Se você for o primeiro respondedor a chegar ao local do acidente, com capacidade operativa, você deverá seguir algumas orientações que estão na Tarjeta de Campo (SCI). Tarjeta de Campo (SCI) A tarjeta de campo é uma espécie de cartão que contém uma lista de procedimentos a serem realizados e que pode ficar na viatura. Trata-se de um guia que segue orientações do Sistema de Comando de Incidentes (SCI), e que consiste nas ações que deverão ser realizadas pelo primeiro respondedor que chega com capacidade operacional na cena e assume o comando, visando organizar de forma rápida e eficiente a resposta ao incidente, e serve como um facilitador nos casos de transferência do comando. 44 Nota: Sistema de Comando de Incidentes (SCI) é uma ferramenta de gerenciamento, utilizada em incidentes, composta por um conjunto pré- estabelecido de procedimentos a serem adotados, com o objetivo de destinar os recursos disponíveis para as atividades que são prioritárias em uma ocorrência. Os 8 passos a seguir se você é o primeiro a chegar à cena com capacidade operacional são: Figura 16: 8 Passos do primeiro respondedor Fonte: SCD/EaD/Segen. 45 Segue assim, alguns itens que devem ser levados em consideração ao realizar cada passo da Tarjeta de Campo. Estabelecendo o Posto de Comando: Ao estabelecer o Posto de Comando, deve-se assegurar que este tenha: • Segurança e visibilidade; • Facilidades de acesso e circulação; • Disponibilidade de comunicações; • Lugar distante da cena, do ruído e da confusão; • Capacidade de expansão física. Avaliação da Situação Aspectos a considerar ao avaliar a situação: • Qual é a natureza do incidente? • O que ocorreu? • Quais ameaças estão presentes? • Qual o tamanho da área afetada? • Como poderia evoluir? • Como seria possível isolar a área? • Quais seriam os lugares mais adequados para PC (Posto de Comando), E (Área de Espera) e ACV (Área de Concentração de Vítimas)? • Quais são as rotas de acesso e de saída mais seguras para permitir o fluxo de pessoal e do equipamento? • Quais são as capacidades presentes e futuras, em termos de recursos e organização? 46 Estabelecimento do Perímetro de Segurança Ao estabelecer um perímetro de segurança devem ser considerados os seguintes aspectos: • Tipo de Incidente; • Tamanho da área afetada; • Topografia; • Localização do incidente em relação à via de acesso e áreas disponíveis ao redor; • Áreas sujeitas a desmoronamentos, explosões potenciais, queda de escombros, cabos elétricos; • Condições atmosféricas; • Possível entrada e saída de veículos; • Coordenar a função de isolamento perimetral com o organismo de segurança correspondente; • Solicitar ao organismo de segurança correspondente a retirada de todas as pessoas que se encontrem na zona de impacto, exceto o pessoal de resposta autorizado. Procedimentos para Transferência de Comando Ao transferir o comando devem ser considerados os seguintes aspectos: • Estado do incidente; • Situação atual de segurança; • Objetivos e prioridades; • Organização atual; • Designação de recursos; • Recursos solicitados e a caminho; • Instalações estabelecidas; 47 • Plano de comunicações; • Provável evolução. Nota: O Posto de Comando (PC) é o local definido e sinalizado onde são desenvolvidas as atividades de administração e comando da operação. Deve ser facilmente localizável e mobilizável em caso de aumento ou surgimento de outros riscos. Importante! São importantes a aproximação e posicionamento dos profissionais e da equipe de trabalho a favor do vento em áreas mais elevadas, com águas escoando abaixo da cena, e o emprego de binóculos com vento pelas costas a uma distância não menor do que 100 metros do derramamento, vazamento, escape ou tombamento de produto. 48 Aula 2 – Acionamento e notificação Nesta aula, você estudará as técnicas de acionamento e notificação de fabricantes, transportadores, embarcadores e usuários de produtos perigosos, a fim de identificar os recursos locais para o atendimento da emergência. 2.1 O contexto regional e os acidentes de trânsito As unidades federativas do Brasil pouco conhecem dos potenciais causadores de desastres em seus territórios. A fabricação, a manipulação, o transporte e o armazenamento de produtos biológicos, físico-nucleares e químicos pouco são monitorados pelos órgãos responsáveis, contando apenas com a sorte para que os incidentes rotineiros não se transformem em acidentes ampliados. Os “Produtos Químicos” constituem um elemento importante na estrutura econômica de qualquer país industrializado, pois se trata de uma atividade necessária à viabilidade de produção de diversos setores, pois não há atividade ou setor produtivo que não utilize, em seus processos ou produtos finais, algum insumo de origem química. Portanto, o conhecimento sobre tais produtos é de fundamental importância a todos os que estão envolvidos com a segurança de vidas, meio ambiente e bens, pois eles estão dentro das residências através de produtos de limpeza, inseticidas e gases de cozinha. Nos estabelecimentos comerciais, estão presentes nas lojas de tintas e solventes, fertilizantes e pesticidas, casa de fogos de artifícios, farmácias e supermercados, revendas de gás de cozinha e postos de combustíveis. Encontram- se também nas pequenas e grandes indústrias dos mais variados setores sob as formas de matéria prima e produto acabado, nos laboratórios de produtos químicos e indústrias farmacêuticas. 49 Estima-se que existam cerca de 20 milhões de formulações químicas no mundo, sendo que, destas, aproximadamente 1 milhão representam substâncias ou produtos perigosos, dos quais somente 800 possuem estudos sobre seus efeitos na saúde ocupacional do homem, segundo dados da ONU de 1998. Este número expressivo de produtos químicos vem potencializar o risco de ocorrência de acidentes que causem danos à saúde, ao meio ambiente e ao patrimônio, podendo até atingir dimensões catastróficas. Um acidente envolvendo Produtos Perigosos (PP) não pode ser encarado como um acidente comum, como por exemplo, um simples acidente de trânsito, pois enquanto este atinge um número restrito de pessoas, aquele pode atingir uma quantidade maior que, com o transcorrer do tempo na emergência, poderá aumentar ainda mais sua proporção, podendo atingir comunidades inteiras. Deve-se levar em consideração ainda que, além das conseqüências naturais do acidente envolvendo produtos perigosos, tais como incêndio, explosão ou vazamento, associa-se o efeito da combinação ou reação do produto com o ar, água e resíduos sólidos, que podem resultar em danos para a saúde humana (mortos e feridos) e para o meio ambiente (contaminação do ar, solo e água). O transporte rodoviário, por via pública, de produtos que sejam perigosos, por representarem risco para a saúde de pessoas, para a segurança pública ou para o meio ambiente, é submetido às regras e aos procedimentos estabelecidos pelo regulamento para o Transporte Rodoviário de Produtos Perigosos, Resolução nº 5848/2019/DG/ANTT/MI e alterações, complementado pelas Instruções Complementares aprovadas pela Resolução ANTT nº 420/04 e suas alterações, sem prejuízo do disposto nas normas específicas de cada produto. Tem-se assim que, por apresentarem risco à saúde, meio ambiente e 50 patrimônio, o transporte rodoviário de produtos perigosos precisa ser feito por pessoas capacitadas e treinadas, no mínimo, com o curso MOPP (Movimentação Operacional de Produtos Perigosos), exigência essa para conduzir veículos que transportem esse tipo de material. 2.2 Órgãos envolvidos nas ações A lista de instituições e órgãos apresentados na figura a seguir faz parte de uma estrutura ideal para o controle do processo e movimentação de produtos perigosos, baseada na experiência regional. Você deve ficar atento se os órgãos oferecem subsídios para a execução do plano. Importante! Telefones de acionamento: Polícia Militar.................................................190; Polícia Rodoviária Federal............................191; Pronto-Socorro..............................................192; Bombeiros.....................................................193; Polícia Federal..............................................194; Companhia de água......................................195; Defesa Civil...................................................199. 51 Veja as funções a serem exercidas na resposta aos acidentes ambientais: 2.3 Legislação e normas de consulta A partir dos diversos acidentes de grande porte ocorridos no período pós- guerra, a ONU, em 1957, criou uma comissão que elaborou uma relação de 2.130 produtos químicos considerados como perigosos e definiu um número de identificação para cada um deles, sendo adotado pela comunidade internacional. O Brasil, como um dos signatários daquele organismo internacional, trouxe para o seu arcabouço legislativo as recomendações e classificações editadas pelo organismo, porém, isso não ocorreu de forma imediata. Apenas em 1983, a exemplo do que ocorreu com a ONU, após a ocorrência de dois acidentes Figura 17: Respostas aos acidentes ambientais Fonte: Hauser & Clousing, 1988 (adaptado). 52 marcantes, o do Pó da China no Rio de Janeiro e do incêndio na composição ferroviária, em Pojuca, Bahia, o Ministério dos Transportes editou o Decreto nº 88.821/83, disciplinando o transporte de produtos perigosos, individualizando a responsabilidade de cada envolvido e definindo suas atribuições. Em 1988 a legislação foi substituída pelo Decreto n° 96.044, que estabeleceu o Regulamento para o Transporte Rodoviário de produtos perigosos, sendo regulamentado pela Portaria n° 291, de 31/05/88, também daquele Ministério. Em 05/06/2001 foi publicada a Lei Federal Nº 10.233/01, passando à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) a atribuição de estabelecer padrões e normas técnicas complementares relativas às operações de transporte terrestre de produtos perigosos. Consequentemente, em 12/02/2004 o órgão publicou a Resolução Nº 420/04, estabelecendo a nova relação dos produtos perigosos e os seus números de identificação ONU, quantidades isentas, classes de risco, grupos de embalagens e provisões especiais, substituindo ainda algumas Portarias do Ministério do Transporte. Ao lado desses dispositivos legais dos Poderes Legislativo e Executivo nacional, são encontradas as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), registradas no Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO), que são aplicadas para a fiscalização do transporte dos produtos químicos. Ainda no âmbito federal, em 1996, foi publicado o Decreto n°1.797, que colocou em execução o “Acordo de Alcance Parcial para Facilitação do Transporte de produtos perigosos entre os Países Integrantes do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL)”, firmados pelo Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Segue abaixo a relação das legislações, nas suas várias esferas territoriais, que regulamentam o transporte rodoviário de produtos perigosos são: Mercosul • Decreto Nº 1.797, de 25/01/96 – Dispõe sobre a execução do Acordo de Alcance Parcial para facilitação do Transporte de produtos perigosos, entre o Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. 53 • Decreto Nº 2.866, de 08/02/98 – Aprova o regime de infrações e sanções aplicáveis ao transporte terrestre de produtos perigosos. • Portaria MT Nº 22/01, de 19/01/01 – Aprova as instruções para a Fiscalização do Transporte Rodoviário de Produtos Perigosos no MERCOSUL. Federal • Decreto-Lei Nº 2.063, de 06 de outubro de 1983 – Dispõe sobre multas a serem aplicadas por infrações à regulamentação para a execução do serviço de transporte rodoviário de cargas ou produtos perigosos e dá outras providências. • Decreto Nº 96.044, de 18/05/1988 – Aprovou o Regulamento para o Transporte Rodoviário de produtos perigosos (RTPP) e dá outras providências. • Resolução Nº 91, de 04/05/98 – Dispõe sobre os Cursos de Treinamento Específico e Complementar para Condutores de Veículos Rodoviários Transportadores de Produtos Perigosos. • Lei Nº 9.611, de 19/02/1998 – Dispõe sobre o Transporte Multimodal de Cargas e dá outras providências. • Lei Nº 9.605, de fevereiro de 1998 – Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de conduta e atividades lesivas ao meio ambiente e dá outras providências. • Decreto Nº 4.097, de 23 de janeiro de 2002 – Alterou a redação dos art. 7 e 19 dos Regulamentos para os Transportes Rodoviário e Ferroviário de Produtos Perigosos, aprovados pelos Decretos 96.044/88 e 98.973/90. • Portaria MT Nº 349, de 04 de junho de 2002 – Aprovou as Instruções para a Fiscalização do Transporte Rodoviário de Produtos Perigosos no Âmbito Nacional. • Resolução ANTT N º 420/2004 – Aprovou as instruções complementares ao RTPP. 54 Legislações Especiais • Resolução CNEN NE - 5.0113/88 – estabelece padrões de segurança que proporciona nível aceitável de controle dos riscos de radiação, criticalidade e térmico para pessoas, propriedades e meio ambiente associados ao transporte de material radioativo que se baseiam nos Regulations for the Safe Transport of Radioactive Material (TS-R-1 (ST-1 Revisado)), da IAEA , Viena (2000). • Decreto nº 10.030, de 30 de setembro de 2019 – Aprova o Regulamento de produtos controlados. • Regulamentos Técnicos do INMETRO – normas expedidas pelo órgão que especifica procedimentos e critérios para o Certificado de Capacitação de Tanques conforme a sua destinação de utilização, para-choques traseiros etc. Normas Técnicas da ABNT A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) é o órgão responsável pela normalização técnica no país, fornecendo a base necessária ao desenvolvimento tecnológico brasileiro. As Normas Brasileiras (NBR) são o conjunto de especificações que normalizam procedimentos, terminologia etc. e tem como objetivo padronizar as exigências para o transporte de produtos perigosos, tais como identificação do produto, equipamentos de proteção individual para avaliação e fuga (EPI), conjunto de equipamentos para situações de emergência, envelope para o transporte, ficha de emergência, símbolos de risco e manuseio, entre outros. As normas não são obrigatórias, exceto quando há uma previsão legal. No que tange a produtos perigosos, o Decreto Nº 96.044 e a Resolução N º 420/2004 adotam várias Normas Brasileiras, tornando-as dessa forma obrigatórias. Dentre elas, pode-se citar: • NBR - 7.500/2004 – Símbolos de Risco e Manuseio para o Transporte e Armazenamento de Materiais. • NBR - 7.501/2003 – Transporte Terrestre de Produtos Perigosos – Terminologia. 55 • NBR - 7.503/2003 – Ficha de Emergência para o Transporte de Produtos Perigosos. • NBR - 7.504/2004 – Envelope para Transporte de Produtos Perigosos – Características e Dimensões. • NBR - 8.285/2000 – Preenchimento da Ficha de Emergência para o Transporte de Produtos Perigosos. • NBR - 9.734/2003 – Conjunto de Equipamentos de Proteção Individual para Avaliação de Emergência e Fuga no Transporte Rodoviário de Produtos Perigosos. • NBR - 9.735/2003 – Conjunto de Equipamentos para Emergência no Transporte Rodoviário de Produtos Perigosos. • NBR - 10.271/2003 – Conjunto de Equipamentos para Emergência no Transporte Rodoviário de Ácido Fluorídrico. • NBR - 12.710/2000 – Proteção contra Incêndio por Extintores, no Transporte Rodoviário de Produtos Perigosos. • NBR - 12.982/2004 – Desgaseificação de Tanque Rodoviário para Transporte de Produto Perigoso – Classe de Risco 3 – Líquidos Inflamáveis. • NBR - 13.095/1998 – Instalação e Fixação de Extintores de Incêndio para Carga no Transporte Rodoviário de Produtos Perigosos. • NBR - 14.064/2003 – Atendimento a Emergência no Transporte Terrestre de Produtos Perigosos. • NBR - 14.095/2003 – Área de Estacionamento para Veículos Rodoviários de Transporte de Produtos Perigosos. 56 Finalizando... Neste módulo, você estudou que: As unidades federativas do Brasil pouco estão adequadas para monitorar os potenciais causadores de desastres envolvendo produtos perigosos; São vários os órgãos governamentais e não governamentais que podem ser acionados e notificados quanto à ocorrência de acidentes. 57 Módulo 3 – Sistema de Comando de Incidentes (SCI) Apresentação do Módulo Neste módulo, você estudará sobre o Sistema de Comando de Incidentes (SCI), ferramenta padronizada de atendimento à diversos tipos de situações. Tal ferramenta é amplamente utilizada em todo o território nacional e também no âmbito internacional. Objetivos do Módulo Ao final do estudo deste módulo, você será capaz de: • Conceituar o Sistema de Comando de Incidentes (SCI); • Conhecer o histórico do SCI; • Aplicar os princípios do SCI; • Conhecer a estrutura e funções do SCI; • Identificar as instalações do SCI; e • Preencher os formulários mais usados no SCI. Estrutura do Módulo Este módulo está dividido em: Aula 1 – Sistema de Comando de Incidentes Aula 2 – Princípios 58 Aula 3 – Estrutura e funções Aula 4 – Instalações Aula 5 – Gerenciamento de recursos Aula 6 – A primeira resposta e o período inicial Aula 7 – Instrumentos de consulta e registro 59 Aula 1 - SISTEMA DE COMANDO DE INCIDENTES (SCI) 1.1 Conceito É uma ferramenta de gerenciamento de incidentes padronizada, para todos os tipos de sinistros e eventos, que permite a seu usuário adotar uma estrutura organizacional integrada para suprir as complexidades e demandas de incidentes únicos ou múltiplos, independente das barreiras jurisdicionais. 1.2 Histórico O conceito de Sistema de Comando de Incidentes foi desenvolvido há mais de meio século, após um incêndio florestal que devastou a Califórnia, onde no ano de 1970, durante treze dias, dezesseis vidas foram perdidas, mais de setecentas edificações, de todas as naturezas, foram destruídas e mais de meio milhão de acres de vegetação foram queimados. O custo total estimado com as perdas durante os incêndios foram US$ 18 milhões por dia. E, embora todas as agências e instituições que responderam aos incêndios tenham dado o melhor de si, a falta de comunicações integradas e coordenação entre elas levaram à perda de efetividade das ações desenvolvidas. O Departamento de Proteção Florestal e de Incêndios da Califórnia, Secretaria de Serviços de Emergência, os Corpos de Bombeiros dos Condados de Los Angeles, Santa Bárbara e Ventura e o Corpo de Bombeiros da cidade de Los Angeles se juntaram ao Serviço Florestal dos EUA para desenvolver o sistema. Este sistema, inicialmente, ficou conhecido como FIRESCOPE (FIghting RESources of California Organized for Potential Emergencies). Em 1973, a primeira equipe técnica do FIRESCOPE foi estabelecida para conduzir as pesquisas e o desenvolvimento do projeto. Os dois principais componentes que resultaram deste trabalho foram o Incident Command System (Sistema de Comando de Incidentes) e o Multi-Agency Coordination System (Sistema de Coordenação de Múltiplas Agências). 60 Após analisar os resultados desastrosos da atuação integrada e improvisada de diversos órgãos e jurisdições naquele episódio, o FIRESCOPE concluiu que o problema maior não estava na quantidade nem na qualidade dos recursos envolvidos, o problema estava na dificuldade em coordenar as ações de diferentes órgãos e jurisdições de maneira articulada e eficiente. O FIRESCOPE identificou inúmeros problemas comuns às respostas a sinistros envolvendo múltiplos órgãos e jurisdições, tais como: Figura 18: Problemas identificados Fonte: SCD/EaD/Segen. Os esforços para resolver essas dificuldades resultaram no desenvolvimento do modelo original do SCI para gerenciamento de incidentes. Entretanto, o que foi originalmente desenvolvido para combate a incêndios florestais, evoluiu para um sistema aplicável a qualquer tipo de emergência. A correta utilização do Sistema de Comando de Incidentes vai permitir com que sejam atingidos três objetivos principais durante o atendimento de um incidente: 61 Figura 19: Objetivos a serem alcançados no atendimento Fonte: SCD/EaD/Segen. Sendo utilizado de maneira correta e respeitando-se os princípios adotados para a ferramenta, o SCI deve atingir as finalidades e os benefícios para os quais o sistema foi desenvolvido, e que seriam: • Atender as necessidades dos incidentes, independente do seu tipo ou magnitude; • Permitir que o pessoal empregado no evento, proveniente de uma variada gama de agências, organizações e instituições, possam ser integrados rapidamente e com eficiência a uma estrutura de gerenciamento padronizada; • Prover suporte administrativo e logístico ao pessoal da área operacional; • Ser efetivo, do ponto de vista do custo e do emprego dos recursos, evitando- se a sobreposição de esforços. 62 SAIBA MAIS! O SCI vem sendo introduzido no Brasil a partir dos cursos de formação desde meados dos anos 2000, porém só se tornou realmente conhecido a partir do ano 2005. No Brasil recebeu várias denominações: • SICOE - Sistema de Comando em Operações e Emergência (São Paulo); • SCO – Sistema de Comando em Operações (Santa Catarina); • SCI - Sistema de Comando de Incidente (Brasília e demais estados). 63 Aula 2 - Princípios do SCI O SCI é uma ferramenta de gerenciamento. Sendo assim, ele possui uma série de princípios que, colocados em prática, torna-o uma ferramenta adequada para coordenar a atuação integrada de múltiplos órgãos em situações diversas. Por isso, é importante destacar que o SCI é muito mais do que apenas um organograma demonstrando as funções de cada um. O SCI se baseia em nove princípios, que devem ser seguidos para o efetivo funcionamento da ferramenta e que você vai conhecer a partir de agora. 1 - Terminologia Comum Para que as comunicações se processem de uma forma clara e concisa é necessário que todas as instituições se comuniquem através de uma terminologia comum, ou seja, os elementos organizacionais, os títulos das posições, os recursos e as instalações devem empregar nomenclaturas que sejam do entendimento de todos envolvidos no incidente. 2 - Alcance de Controle (princípio básico) Um líder de grupo só consegue comandar, com eficiência, um grupo composto de 3 a 7 elementos, sendo 5 um número ideal. Acima de 7 pessoas o controle das atividades fica prejudicado. Logo, cada supervisor deve estar responsável por, no máximo, 7 elementos supervisionados. 3 - Organização Modular A organização modular está baseada no tipo, magnitude e complexidade do incidente. Cresce de baixo para cima em função dos recursos na cena e do alcance de controle. É estabelecida de cima para baixo de acordo com as necessidades. 64 4 - Comunicações Integradas Na estrutura do SCI, as comunicações são estabelecidas em um único plano, no qual é utilizada a mesma terminologia, os canais e as frequências são comuns ou interconectados, e as redes de comunicações são estabelecidas dependendo do tamanho e complexidade do incidente. 5 - Plano de Ação do Incidente (PAI) É um planejamento específico para atender a um incidente. Pode ser mental ou escrito, sendo de fundamental importância para incidentes com durações superiores a 4 horas. O plano apresenta a seguinte estrutura: Objetivos; organização; estratégias; e recursos. O PAI deve ser atualizado para cada período operacional. 6 - Cadeia de Comando O canal de comando se refere à linha hierárquica de autoridade na qual se organiza as posições a serem ocupadas durante a organização do gerenciamento de um incidente. Dentro da cadeia de comando cada indivíduo tem uma pessoa a quem se reportar na cena do incidente e apenas a esta pessoa o fará. 7 - Comando Unificado É uma estrutura de gerenciamento que agrega todos os “Comandantes de Incidente” de todas as agências e organizações envolvidas em um único incidente, visando a coordenação efetiva da resposta, ao mesmo tempo em que cada um daqueles comandantes cumpre com suas responsabilidades funcionais ou jurisdicionais. 65 8 - Instalações padronizadas Existem algumas instalações, operacionais e de apoio, que são utilizadas dentro da ferramenta. Essas instalações devem possuir localização precisa, denominação comum e devem estar bem-sinalizadas e em locais seguros. As instalações encontradas no SCI são: Posto de Comando do Incidente; Base; Área de Espera; Área de Concentração de Vítimas; Heliponto; Helibase; e Acampamentos. Tais instalações serão estudadas mais adiante. 9 - Gerenciamento Integral dos Recursos Este princípio inclui processos para categorização, solicitação, despacho, controle e otimização do emprego dos recursos. É importante ficar claro que cada recurso utilizado no incidente, independente da instituição a que pertença passa a fazer parte do sistema, ficando sob a responsabilidade do comandante do incidente. 66 Aula 3 - Estrutura e funções do SCI O Sistema do Comando de Incidentes foi projetado para identificar as funções e atividades principais e primárias a serem ativadas para efetivamente responder a um incidente. A análise de relatórios de atendimento a incidentes e a revisão das estruturas das organizações militares foram levadas em consideração para o desenvolvimento do SCI. Essa análise identificou as necessidades primárias. Durante o atendimento a um incidente o Comandante do Incidente (CI) inicialmente desempenha todas as funções, à medida que o incidente cresça em magnitude ou complexidade e necessidade de pessoal, o CI poderá ativar seções e designar responsáveis para dirigi-las. O Sistema de Comando de Incidentes está baseado em oito funções, sendo uma delas o Comando do Incidente e as demais estão divididas em dois Staffs: Figura 20: Staffs Fonte: SCD/EaD/Segen. 67 Todas essas funções devem ser cumpridas qualquer que seja o incidente. No caso de incidentes que demandem uma carga de trabalho maior ou recursos especializados em alguma ou em todas as funções já citadas, serão estabelecidas cada uma das seções que sejam necessárias: Planejamento, Operações, Logística e Administração/Finanças. Nomenclatura das funções: Figura 21: Nomenclatura das funções Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen. 68 Exemplo de estrutura do SCI Figura 22: Exemplo de estrutura do SCI Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen. Figura 23: SCI – Incêndio Florestal Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen. 69 3.1 Comandante do Incidente (CI) A única função prevista no Sistema de Comando de Incidentes que estará ativa em qualquer resposta, independentemente do tipo, tamanho, complexidade ou duração do evento, é o Comandante do Incidente. Embora nem sempre seja do conhecimento dos profissionais da área de emergências, o primeiro a chegar na cena de um incidente, com capacidade de resposta ao evento, está agindo como Comandante do Incidente, mesmo que não utilize a terminologia convencionada. Inicialmente, o comando do incidente será assumido pela pessoa de maior idoneidade, competência ou nível hierárquico que chegue primeiro à cena. À medida que cheguem outros, será transferido a quem possua a competência requerida para o controle geral do incidente. Ao transferir o comando, o CI que sai deve entregar um relatório completo ao que o substitui e também notificar ao pessoal sob sua direção acerca dessa mudança. À medida que o incidente cresce e aumenta a utilização de recursos, o CI pode delegar autoridade a outros para o desempenho de certas atividades. Quando a expansão é necessária, em termos de segurança, informação pública e ligação, o CI estabelecerá as posições do Staff de Comando. 3.2 Staff de Comando O Staff de Comando é composto por três funções de assessoria ao Comandante do Incidente. Estas funções, dependendo da complexidade e tamanho do evento, podem ser desempenhadas pelo próprio CI ou este poderá delegá-las a outros. O título dado a estas funções é de Oficial. 70 Oficial de Segurança Tem a função de vigilância e avaliação de situações perigosas e inseguras, assim como o desenvolvimento de medidas para a segurança do pessoal. Oficial de Informação Pública Será o responsável pelo contato com os meios de comunicação ou outras organizações que busquem informação direta sobre o incidente. Ainda que todos os órgãos que estejam respondendo ao incidente possam designar membros de seu pessoal como oficiais de Informação Pública, durante o evento haverá somente um “Porta-Voz”. Os demais atuarão como auxiliares. Toda a informação deverá ser aprovada pelo CI. Oficial de Ligação É o responsável pela integração das instituições que estejam trabalhando no incidente ou que possam ser convocadas. Isto inclui organismos de primeira resposta, saúde, obras públicas ou outras organizações. 3.3 Staff Geral O Staff Geral divide-se em quatro seções que têm a responsabilidade de uma área funcional específica no incidente (Planejamento, Operações, Logística, Administração/Finanças). As Seções são funções subordinadas diretamente ao CI, estão sob a responsabilidade de um Chefe e contém unidades específicas. 71 Seção de Planejamento As funções dessa Seção incluem recolher, avaliar, difundir e usar a informação acerca do desenvolvimento do incidente e manter um controle dos recursos. Sob sua direção estão os Líderes das Unidades de Recursos,
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