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Fonoaudiologia no SUS A instituição do Sistema Único de Saúde (SUS) em 1988 representou o resgate da cidadania da população brasileira, ao assegurar a saúde como um direito de todos e um dever do Estado. Desde então, os fonoaudiólogos tem ampliado sua inserção no SUS, inserindo-se em todos os níveis de cuidados da saúde e nos diversos equipamentos de saúde. No entanto, a ampliação da participação nos serviços públicos de saúde tem sido insuficiente para atender à demanda por assistência fonoaudiológica. Em virtude disso, e utilizando dados secundários, de domínio público, dos principais Sistemas de Informações de Saúde do país, reflito abaixo sobre a distribuição de procedimentos e profissionais da Fonoaudiologia no SUS em 2014. Em 2014 foram registrados mais de 13 milhões de procedimentos pelos fonoaudiólogos na rede ambulatorial do Sistema Único de Saúde. Do total, a maior proporção foi realizada no Sudeste, região mais rica do país. As regiões Norte e Centro-Oeste representaram os menores percentuais. Em comparação ao ano de 2008, quando foi implantada a atual tabela de procedimentos do SUS, houve um crescimento de mais de 40,0%. Essa evolução foi gerada não somente pela expansão da atuação do fonoaudiólogo, com ações para promoção, proteção e recuperação da saúde da comunicação humana, como também em virtude da criação de políticas ou programas de saúde, como a Política Nacional de Atenção Auditiva, o Programa Saúde na Escola, a ampliação dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família e o Programa Viver sem limites que favoreceram uma maior inserção da assistência fonoaudiológica no Sistema Único de Saúde. A análise da evolução por regiões demonstra um quadro de desigualdade, apontando uma diferença ainda significante entre as regiões mais ricas e mais pobres do país. O Sudeste, região mais rica, ainda concentrava em 2014 quase 50,0% dos procedimentos registrados. Houve, inclusive, um aumento nos valores financeiros produzidos pelos fonoaudiólogos, relacionados aos procedimentos registrados. Este aumento não foi apenas quantitativo, representou um incremento real no valor dos procedimentos de fonoaudiologia. Os procedimentos registrados foram agrupados conforme tabela 1. Entre 2008 e 2014 percebeu-se o crescimento principalmente no registro de procedimentos de atenção básica. O aumento nos procedimentos de audiologia demonstra certo equilíbrio na oferta das consultas e exames no SUS. Por sua vez, o crescimento exponencial dos procedimentos referentes às órteses e próteses é reflexo principalmente, da Política Nacional de Saúde Auditiva, implantada em 2004. Tabela 1 – Distribuição percentual dos procedimentos registrados por Fonoaudiólogos no SUS, 2008 e 2014. Grupo de Procedimentos Proporção (%) 2008 2014 Atenção Básica 1,2 3,2 Vigilância em Saúde 0,0 0,1 Diagnóstico em Audiologia 19,4 22,9 Procedimentos de Avaliação 11,0 7,4 Terapia 65,7 63,2 Saúde Mental 0,4 0,5 Órteses e Próteses 2,3 2,8 Total 100,0 100,0 Fonte: SIA/MS Assim como houve crescimento do registro de procedimentos, percebe- se o aumento no número de profissionais cadastrados no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES). Considerando a média dos profissionais cadastrados havia em 2014 quase 12.000 fonoaudiólogos com vínculo com o SUS. Um aumento de mais de 60,0% quando comparado à média de profissionais registrados em 2008. Nesse período o país viveu aumento da oferta de vagas para o curso de Fonoaudiologia, bem de outros cursos de formação profissional, assim como, em 2008, viveu a abertura de um novo campo de atuação, após publicação da portaria GM/MS 154/2008, que garantiu a inserção no nível primário de atenção à saúde no Brasil. Mais uma vez, a região Sudeste concentrou mais da metade de todos os fonoaudiólogos do SUS. E as regiões Norte e Centro-Oeste concentraram os menores percentuais. Considerando os parâmetros1 propostos por Lessa e Miranda (2005)2 e a população estimada pelo Tribunal de Contas da União para 2014, havia a necessidade neste ano de um pouco mais de 21 mil profissionais, um déficit de nove mil, quando analisado o total de fonoaudiólogos cadastrados no CNES e com vínculos com o SUS. Isso sugere que o crescimento observado ainda não foi necessário para atender às necessidades da população. As regiões mais ricas são aquelas que dispõem do maior número de profissionais e procedimentos, o que demonstra que a distribuição e inserção dos fonoaudiólogos no SUS, ainda não garante a universalização da assistência fonoaudiológica. Os avanços observados foram muitos. É inegável que a Fonoaudiologia vem ampliando a sua participação no sistema de saúde. Entretanto, observam- se diferenças inter-regionais que sugerem uma má distribuição da assistência e de profissionais no país. O acesso precisa ser garantido, sobretudo diante do rápido envelhecimento populacional e da tripla carga de doença que caracteriza o perfil epidemiológico do país. Por isso, é fundamental estimular a discussão, a realização de estudos de parâmetros de necessidades e o fortalecimento da luta para efetivação do direito à assistência fonoaudiólogica. 1 Um fonoaudiólogo a cada 10.000 habitantes – Atenção Básica; Um fonoaudiólogo a cada 50.000 habitantes – Média Complexidade; Um fonoaudiólogo a cada 100.000 habitantes – Alta Complexidade. 2 Lessa FJD; Miranda GMD. Fonoaudiologia e Saúde Pública. In: Britto, A.T.B. de. (org.). Livro de Fonoaudiologia. São José dos Campos: Pulso Editorial, 2005, p. 375-386.
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