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INSULA ROMANA: HABITAÇÃO COLETIVA NA ROMA IMPERIAL 
INSULA ROMANA: COLLECTIVE HOUSING IN IMPERIAL ROME 
INSULA ROMANA: VIVIENDA COLECTIVA EN LA ROMA IMPERIAL 
EIXO TEMÁTICO: HISTÓRIA E TEORIA DA ARQUITETURA, DA CIDADE E DO URBANISMO 
DA COSTA, Éllen Cristina 
Arquiteta e Urbanista; Mestranda do PROPAR-UFRGS 
 ellencdacosta@ufrgs.br 
 
 
 
 
mailto:ellencdacosta@ufrgs.br
 
 
 
ÍNSULA ROMANA: HABITAÇÃO COLETIVA NA ROMA IMPERIAL 
INSULA ROMANA: COLLECTIVE HOUSING IN IMPERIAL ROME 
INSULA ROMANA: VIVIENDA COLECTIVA EN LA ROMA IMPERIAL 
EIXO TEMÁTICO: HISTÓRIA E TEORIA DA ARQUITETURA, DA CIDADE E DO URBANISMO 
RESUMO: 
Este trabalho consiste em um breve estudo sobre a habitação coletiva romana a partir do século IV a.C. Com ele, 
pretende-se entender quem eram as pessoas que utilizavam as insulae e como era a sua qualidade de vida. Com o 
redesenho de alguns exemplares encontrados na bibliografia, serão analisados a configuração espacial, a divisão dos 
ambientes em públicos e privados, os sistemas de circulação, a ventilação e iluminação natural, bem como a 
multifuncionalidade e as infraestruturas hidrossanitárias nestes prédios, a fim de estabelecer um padrão da tipologia e 
compreender as semelhanças entre a habitação coletiva antiga e moderna. 
PALAVRAS-CHAVE: habitação; romanos; uso; tipologia; arquitetura. 
ABSTRACT: 
This work is a brief study on roman collective housing from the four century B.C. Its intention is the understanding of who 
used the insulae and how was their quality of life. With the redesign of some examples found in the bibliography, it will 
be analysed these buildings’ spatial configuration, division of public and private rooms, circulation systems, ventilation 
and natural lighting, as well as its multifunctionality and hydro sanitary infrastructures, establishing a pattern of 
typology and understanding the similarities between old and modern collective housing. 
KEYWORDS: housing; Romans; use; typology; architecture. 
RESUMEN: 
Este trabajo consiste en un breve estudio sobre la vivienda colectiva romana a partir del siglo IV a. C. Con él, se pretende 
entender quiénes eran las personas que utilizaban las insulae y cómo era su calidad de vida. Con el rediseño de algunos 
ejemplares encontrados en la bibliografía, se analizarán la configuración espacial, la división de los ambientes en 
públicos y privados, los sistemas de circulación, la ventilación e iluminación natural, así como la multifuncionalidad y las 
infraestructuras hidrosanitarias en estos edificios, a fin de establecer un patrón de la tipología y comprender las 
semejanzas entre la vivienda colectiva antigua y moderna. 
PALABRAS-CLAVE: vivienda; romanos; uso; tipología; arquitectura. 
 
 
INTRODUÇÃO 
No início da civilização, a cultura romana se desenvolvia lentamente enquanto o povo grego vivia seu 
apogeu.1 Os romanos estudaram, aprimoraram e buscaram ultrapassar a arte helenística, chegando a uma 
arquitetura basicamente utilitária.2 As funções de projetista e construtor foram acumuladas, os edifícios iam 
ganhando forma no canteiro de obras, a partir de várias participações individuais.3 Um tipo de construção 
que se tornou popular no século IV a.C. foi a insula, uma edificação ou um bloco de edifícios com, em média, 
seis pavimentos, que servia de habitação coletiva no período da Roma Imperial (Figura 1). Insula é um verbete 
latino que significa “ilha” e faz referência ao modo como essas construções se destacavam na paisagem 
urbana, já que eram edificações de grande altura e chegavam a configurar quarteirões inteiros.4 Carcopino 
comenta sobre a semelhança entre a altura destas edificações e as habitações coletivas do século XX: 
“A altura era sua característica dominante, e essa altura, que uma vez surpreendeu o mundo 
antigo, ainda nos surpreende por sua semelhança impressionante com os nossos edifícios 
mais ousados e modernos.5 ” (CARCOPINO, 1943, p. 25) 
 
 
Figura 1: Ilustração da cidade romana 
Fonte: https://goo.gl/s5ovxA 
 
 
1 BENEVOLO, 2009, p. 50. 
2 CHOISY, 1952, p. 277. 
3 BENEVOLO, 2009, p. 51. 
4 BECKER, 2016. 
5 Tradução feita pela autora a partir do trecho: “Height was its dominant characteristic and this height which once amazed the ancient 
world still astounds us by its striking resemblance to our own most daring and modern buildings. ” 
 
ORIGEM 
Roma foi fundada durante o século VIII a.C., na região do Lácio, na Península Itálica. Durante sua existência, 
passou por diversos regimes de governo, iniciando como uma monarquia, transitando para uma república 
oligárquica e, finalmente, para um vasto império que se caracterizou pela conquista e pela assimilação 
cultural. 
Conforme Carcopino, a Urbs6 teve cerca de um milhão e duzentos mil habitantes durante o auge do império, 
e um território de 2.000 hectares. Contudo, devemos considerar a grande quantidade de construções 
públicas, como santuários, docas, banhos, circos e teatros que ocupavam uma grande extensão do território 
romano.7 
Dessa forma, com o grande aumento da população urbana e a impossibilidade de expansão da área, houve 
a necessidade de diminuir a largura das ruas e de desenvolver uma construção massificada, que fosse 
constituída de células habitacionais, assim surge a insula.8 As insulae9 mais antigas foram datadas do século 
IV a.C., e suas ruínas podem ser vistas ainda hoje em Roma, Pompéia, Herculano e Óstia.10 No século II a.C., 
Roma já era uma cidade vertical, contando com vários exemplares dessa tipologia.11 
No início do séc. I a.C., a economia romana estava abalada, haviam muitas confiscações de terrenos e edifícios 
devido a inadimplência dos impostos e hipotecas, acarretando no aumento do valor do solo urbano.12 O 
declínio econômico e social estava ligado à diminuição da produção e consequente compulsão econômica. 
Esta resultou na dificuldade de aquisição de materiais e mão-de-obra, assim como na restrição formal dos 
edifícios e na má qualidade das construções.13 
PÚBLICO 
A estrutura social romana iniciou a partir dos patrícios e dos plebeus. Os patrícios - elite social, econômica e 
política de Roma - eram descendentes dos fundadores da cidade e possuíam grandes propriedades de terra 
e riqueza. Já os comerciantes, artesãos e funcionários compunham a plebe, eram trabalhadores de vida 
humilde. A partir desses dois grupos sociais surgiram os clientes, o proletariado, os escravos e os libertos. Os 
clientes eram protegidos dos patrícios em troca de pequenos serviços prestados, de forma semelhante ao 
proletariado, que respondia ao Estado romano e compunha o exército. Já os escravos poderiam ser tanto 
pessoas capturadas durante excursões militares quanto pessoas endividadas. Eram considerados como bens 
 
6 Urbs: com letra maiúscula, representa a cidade de Roma. 
7 CARCOPINO, 1943, p. 22. 
8 GYMPEL, 2000, p. 13. 
9 Insulae: plural de insula. 
10 FYE, 2011. 
11 BECKER, 2016. 
12 MARTIN, 2013, p. 99. 
13 BENEVOLO, 2009, p. 69. 
 
e não possuíam nenhum direito.14 Alguns patrícios, entretanto, ofereciam pequenos incentivos monetários 
para seus escravos, que poderiam utilizar o dinheiro para comprar a sua liberdade. Estes, como se pode 
deduzir, compunham o último grupo da sociedade romana. Estima-se que cerca de oitenta por centro da 
população da Roma Imperial, de forma mais ou menos antiga, tinha ligação com a escravidão.15 
Os patrícios moravam em edificações térreas chamadas domus (Figura 2). Estas habitações eram muito 
introspectivas, possuindo fachadas sem aberturas para a rua; suas portas e janelas eram abertas para os 
pátios internos. 
Todos os outros habitantes romanos moravam nas insulae que, ao contrário das domus, possuíam suas 
aberturas voltadas para a via. Quando havia um pátio interno, as insulae se abriam para ambos os lados, 
aumentando a ventilação e a luminosidade no interior dos apartamentos.16Figura 2: Corte perspectivado da domus romana 
Fonte: http://informa.comune.bologna.it/iperbole/media/5/domusfondo_1.jpg 
Para os romanos das classes baixas, as unidades de moradia não eram nada mais do que abrigos. As tradições 
familiares e as cerimônias religiosas intrínsecas ao conceito de lar se aplicavam apenas às casas dos 
patrícios.17 Alguns cidadãos, com melhores condições de vida, alugavam todo o térreo das insulae mais 
luxuosas, possuindo residências com uma configuração espacial semelhante às domus.18 
 
14 FERNANDES, 2016. 
15 CARCOPINO, 1943, p. 61. 
16 Ibidem, p. 24. 
17 MUMFORD, 1998, p. 243. 
18 CARCOPINO, 1943, p. 26. 
 
As pessoas mais pobres viviam nos últimos pavimentos dos prédios, onde alugavam quartos individuais, cujo 
valor do aluguel era mais barato.19 Dessa forma, uma insula abrigava pessoas de variados grupos sociais e 
diferentes situações financeiras. Essa miscigenação também acontecia no tecido urbano, uma vez que as 
habitações majestosas e humildes estavam lado a lado.20 
CONSTRUÇÃO 
Autores franceses do século XX interpretaram as palavras domus e insula de forma equivocada. Eles 
consideravam que o termo domus seria equivalente aos blocos residenciais e que as insulae seriam os 
apartamentos, o que causou bastante confusão entre os estudiosos. 
Contudo, Carcopino afirma que a forma etimológica de cada termo refuta esta ideia. Domus implica em uma 
propriedade hereditária, em que vivem apenas o proprietário e sua família. Já a insula, como dito 
anteriormente, significa ilha, um bloco isolado que possui vários apartamentos ou cenaculum21, que 
abrigavam pelo menos cinco moradores de uma ou mais famílias de inquilinos.22 
O Catálogo Geral, uma espécie de senso realizado no ano de 315 d.C., catalogou cerca de 44.850 insulae e 
1.781 domus na cidade de Roma. Uma proporção de 25\1.23 Cada insula poderia abrigar, em média, 2.000 
pessoas. 
Muitos proprietários das insulae não se ocupavam diretamente com a sua administração; eles arrendavam 
os pavimentos superiores a um promotor por um período médio de cinco anos, a um valor semelhante ao 
cobrado por uma domus no pavimento térreo. Este inquilino, por sua vez, era responsável pela manutenção 
do espaço, pela busca por arrendatários e pela harmonia entre eles, assim como pela coleta dos aluguéis 
trimestrais, cujos lucros lhe beneficiavam.24 
As construções das insulae eram iniciativas especulativas, já que os empreiteiros romanos lucravam com a 
construção de exemplares precários que mal se sustentavam em pé.25 A hierarquia dos pavimentos nas 
insulae difere da usada atualmente. Na Roma Imperial, os apartamentos mais caros eram os localizados nos 
níveis mais baixos.26 Nesses edifícios não havia água e esgoto canalizados (Figura 3) e era muito frequente a 
ocorrência de desmoronamentos e incêndios.27 Na maior parte das construções, o prédio se configurava ao 
redor de um pátio aberto, onde haviam poços com água para o uso dos moradores.28 
 
19 MARTIN, 2013, p. 188. 
20 CARCOPINO, 1943, p. 27. 
21 Cenaculum: palavra usada para se referir a uma unidade habitacional, derivada da palavra latina cena (jantar). 
22 CARCOPINO, 1943, p. 19. 
23 BECKER, 2016. 
24 CARCOPINO, 1943, p.43. 
25 MUMFORD, 1998, p. 242. 
26 BECKER, 2016. 
27 MARTIN, 2013, p. 119. 
28 BECKER, 2016. 
 
 
 
Figura 3: Corte perspectivado da insula romana. Coleta de água em uma fonte pública 
Fonte: http://bppmalta.com/wp-content/uploads/2016/08/roman-apartments-apartments-better.jpg 
A instabilidade das insulae era causada, na maioria das vezes, pela redução dos custos da obra por parte dos 
construtores.29 Isso levou o imperador Augusto a limitar a altura das insulae em 70 pés romanos, o 
equivalente a 21 metros, com o propósito de reduzir a probabilidade dos colapsos. O imperador Nero 
reforçou o controle sobre esse limite após o incêndio do ano 64 d.C., que destruiu muitas insulae. Já o 
imperador Trajano, reduziu a margem para 60 pés, cerca de 18 metros de altura.30 
Durante o final da república e o início do império, as insulae eram construídas em tijolo, concreto e pedra. 
Os níveis superiores eram em madeira e barro, para que as edificações alcançassem maiores alturas. Nero 
proibiu o uso da madeira e das paredes compartilhadas, assim o fogo não se propagaria tão facilmente de 
uma insula à outra. O imperador também ampliou as caixas das ruas e incentivou a redução da ocupação do 
solo em função de pátios internos e pórticos no pavimento térreo, para que estes pudessem servir de abrigo 
contra os detritos de uma possível erosão ou incêndio.31 Vitruvius, em seu tratado "De Architectura Libri 
Decem", de I a.C., cita as insulae32 quando recomenda o uso de uma determinada madeira nas cimalhas do 
perímetro, pois se trata de uma madeira que não pode "fazer chama ou carvão", ou seja, que não propaga 
facilmente o fogo.33 A escassez de mobiliário no interior dessas edificações também reduziu a proporção 
destes incêndios.34 
 
29 MARTIN, 2013, p. 119. 
30 HARVEY, 2013. 
31 Ibidem. 
32 De Architectura Libri Decem, livro II, capítulo IX. 
33 VITRÚVIO, 1960, p. 63. 
34 CARCOPINO, 1943, p. 33. 
 
TIPOLOGIA 
Os apartamentos romanos só foram conhecidos quando a cidade de Óstia foi encontrada.35 A cidade localiza-
se a 20 milhas de Roma e era utilizada como porto por toda a região. Lá existem as insulae mais bem 
preservadas (Figura 4) de todo o império.36 Somente com as escavações feitas entre 1938 e 1942 que a 
habitação coletiva romana começou a ser compreendida. Vários pesquisadores vêm tentando classificar os 
exemplares encontrados em uma tentativa de agrupá-los. Ainda assim, grande parte das insulae encontradas 
possuem uma configuração espacial bastante semelhante.37 
 
 
Figura 4: Foto das ruínas do Caseggiato di Diana, em Óstia, na Região I, insula III. 
Fonte: http://ginerccss.blogspot.com.br/2015/01/ 
O apartamento romano era chamado de cenaculum e, via de regra, era compostos por três ambientes: o 
medianum, a exedra e o cubiculum.38 O medianum pode ser considerado como a sala principal, o ambiente 
central do apartamento, frequentemente com forma retangular, tinha como principal função fornecer acesso 
a todos os outros cômodos. Era extremamente importante, pois era utilizado como sala comum a todos os 
moradores do apartamento. Também era o ambiente com mais aberturas e, devido à falta de cozinha na 
maioria dos apartamentos, era no medianum que os moradores faziam as suas refeições com o auxílio de 
pequenas grelhas portáteis.39 
 
35 HERMANSEN, 1982, p. 17. 
36 BECKER, 2016. 
37 HERMANSEN, 1982, p. 18. 
38 HARVEY, 2013. 
39 HERMANSEN, 1982, p. 22. 
 
A exedra seria uma sala de estar, e o cubiculum era equivalente a um quarto.40 Os moradores não podiam 
acender um braseiro e preparar suas refeições no seu cubiculum, pois eles ficariam sufocados com a fumaça 
devido à falta de aberturas neste cômodo. A maioria das pessoas cozinhava de forma improvisada no 
medianum, onde a fumaça era liberada através das aberturas.41 
Muitos proprietários dos apartamentos sublocavam seus ambientes. Dessa forma, o cubiculum era a única 
área privativa dentro da habitação. O medianum e a exedra eram ambientes de uso coletivo, onde os 
locatários podiam interagir.42 É possível fazer uma relação entre alguns ambientes das insulae e das domus: 
a exedra corresponderia ao tablinum, e o medianum apresentaria características sociais semelhantes ao 
atrium.43 Via de regra os apartamentos eram apertados, ruidosos e sujos, fazendo com que as doenças se 
proliferassem rapidamente. 
As diferenças mais significativas entre as edificações dizem respeito à configuração espacial do térreo. Ao 
que tudo indica, as insulae se desenvolveram a partir de quatro tipos de construções urbanas44:• Casa com átrio sem comércio: os apartamentos ocupavam todo o piso térreo, as insulae não possuíam 
nenhuma loja. 
• Casa com átrio e com comércio: existiam lojas na fachada lindeira à rua e quartos nos fundos. Essas lojas, 
na sua maioria, serviam de câmaras de trabalho e moradia. 
• Ala de comércio independente: o pavimento térreo era dedicado exclusivamente aos estabelecimentos 
industriais, os apartamentos estavam localizados nos níveis acima. 
• Habitação com comércio e com ala de fabricação: é conhecido como habitação múltipla com pátios. É uma 
combinação dos três primeiros tipos de insulae, e a edificação circunda um pátio destinado a fornecer 
iluminação e ventilação a todos os cômodos. 
Nas insulae mais humildes, a configuração com o térreo ocupado por lojas e tabernas com apartamentos nos 
fundos era a mais comum. O comércio era acessado diretamente a partir da rua (Figura 5), por uma grande 
porta que compreendia toda a sua largura (Figura 6), com folhas de madeira dobráveis para que fossem 
recolhidas durante o dia e trancadas e parafusadas durante a noite.45 
Na esquina de cada taberna, geralmente, havia uma escada com cinco ou seis degraus de pedra ou tijolo; os 
demais degraus eram feitos de madeira. A escada levava a um sótão, que recebia iluminação através de 
 
40 FYE, 2011. 
41 HERMANSEN, 1982, p. 22. 
42 HARVEY, 2013. 
43 HERMANSEN, 1982, p. 22. 
44 FYE, 2011. 
45 CARCOPINO, 1943, p.26. 
 
perfurações acima da entrada. Este espaço era utilizado como moradia para alguns lojistas, funcionários e 
suas famílias.46 
 
 
Figura 5: Reconstrução gráfica de tabernas em Pompéia Figura 6: Foto das ruínas de uma taberna em Óstia 
Fonte: https://goo.gl/JgXhA3 Fonte: https://goo.gl/wAFMBr 
Geralmente o segundo pavimento era alcançado por meio de uma escada acessada a partir da rua, ou por 
um corredor central ou lateral. As lojas normalmente eram protegidas por pórticos ou varandas, muitas vezes 
em madeira. Ainda hoje são visíveis os apoios embutidos nas paredes. As portas das lojas eram grandes e 
centralizadas, diferentes das portas de acesso aos demais pavimentos das insulae, que eram menores e 
localizadas nas extremidades da fachada.47 As aberturas variavam em tamanho e quantidade e, apesar de 
geralmente serem numerosas, havia pouca iluminação e ventilação nestas edificações.48 Os moradores 
precisavam se proteger do clima com panos e peles penduradas nas aberturas. Persianas de uma ou duas 
folhas de madeiras também eram utilizadas para manter o frio, o calor e a chuva afastados do interior da 
habitação.49 
Esses edifícios construídos lado a lado e suas aberturas padronizadas e uniformes, conferiam uma unidade 
visual para o conjunto.50 A aparência externa dos andares superiores apresentava poucas variações. A insula 
era muito parecida com os blocos residenciais que vemos hoje em dia, tal semelhança foi comentada por 
Carcopino no seguinte fragmento de texto: 
 
46 CARCOPINO, 1943, p.27. 
47 FYE, 2011. 
48 CARCOPINO, 1943, p. 29. 
49 Ibidem, p. 35. 
50 FYE, 2011. 
 
“[...]esses desenhos mostram analogias tão surpreendentes com os edifícios em que nós 
mesmos vivemos, que à primeira vista somos tentados a desconfiar deles. Um exame mais 
atento, no entanto, testemunha a precisão consciente dessas reconstruções.51 ” 
(CARCOPINO, 1943, p. 29) 
Quando o autor menciona “esses desenhos”, ele se refere às reconstruções gráficas (Figura 7) feitas a partir 
das descobertas das insulae de Óstia. Estas reconstruções em planos e elevações nos permitem ter uma visão 
mais humanizada do que hoje conhecemos como ruínas. 
 
 
Figura 7: Reconstrução gráfica do Caseggiato di Diana, por Italo Gismondi 
Fonte: https://goo.gl/BBFCbh 
 
ANÁLISE 
São poucas as insulae de Roma que ainda estão de pé. As mais conservadas localizam-se na Via Biberática, 
junto ao Mercado de Trajano. As edificações de Óstia encontram-se em diversos estados de solidez e a 
maioria possui somente parte do pavimento térreo ainda intacta. Dessa forma, as reconstruções gráficas 
existentes baseiam-se nas evidências encontradas na bibliografia de grandes escritores da época e no sítio 
atual. A partir das plantas baixas e das descrições disponíveis no livro “Ostia: Aspects of roman city life”, de 
Gustav Hermansen, foram feitos redesenhos e análises comparativas de 3 insulae da cidade de Óstia: 
 
51 Tradução feita pela autora a partir do trecho: “[...] these drawings show such startling analogies with the buildings in which we 
ourselves live that at first sight we are tempted to mistrust them. A more attentive examination, however, bears witness to the 
conscientious accuracy of these reconstructions. ” 
 
a) Case di via dei Vigili - Região II, insula III (Figura 8). Estes apartamentos são do período do Imperador 
Adriano, localizam-se a leste dos Banhos de Netuno. 
 
Figura 8: Planta baixa da Case di via dei Vigili, em Óstia 
Fonte: http://www.ostia-antica.org/regio2/3/3-3.gif 
b) Casa delle Pareti Gialle + Casa del Graffito – Região III, insula IX. Estas edificações do período do Imperador 
Adriano, fazem parte da Case a Giardino (Figura 9), um complexo com habitação, comércio e serviços. 
 
Figura 9: Planta baixa do complexo Case a Giardino, em Óstia 
Fonte: http://www.ostia-antica.org/regio3/9/9.gif 
c) Cassete Tipo - Região III, insula XII e XIII (Figura 10). São os blocos de apartamentos mais antigos de Óstia, 
do início do período do Imperador Trajano. 
 
Figura 10: Planta baixa Cassete Tipo, em Óstia 
Fonte: http://www.ostia-antica.org/regio3/12/12-1.gif 
 As análises consistem na verificação da posição dos apartamentos e da configuração espacial contida na 
bibliografia, na comparação entre a posição das circulações verticais, na investigação da iluminação e da 
ventilação dos edifícios. De forma similar, será exposta uma insula com térreo multifuncional, a Insula 1-5 da 
Região V, também localizada em Óstia. 
 
Posição dos apartamentos 
Em se tratando do posicionamento dos apartamentos, os blocos a) e c) são semelhantes, pois em ambos os 
casos os apartamentos são espelhados a partir da menor face, o que não ocorre em b). Os apartamentos do 
Cassete Tipo não possuem nenhuma parede compartilhada, os dois blocos estão descolados e entre eles 
existe uma pequena via interna (Figura 11), por onde as escadas são acessadas. No segmento do bloco b), o 
apartamento Casa delle Pareti Gialle (A) está voltado para o jardim interno do conjunto Case a Giardino. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
a) Quantidade de unidades b) Quantidade de unidades c) Quantidade de unidades 
Fonte: autora 
 
 
Figura 11: Via entre os blocos do Cassete Tipo vista do norte 
Fonte: https://goo.gl/d4unMw 
 
Configuração espacial 
O arranjo interno dos apartamentos examinados é bastante homogêneo. Todos possuem 1-medianum, 2-
exedra e 3-cubiculum, e as funções de corredor, sala de estar e dormitório respectivamente, permanecem as 
mesmas. A exedra é o ambiente de maiores dimensões do apartamento romano, ela possui algumas 
aberturas, mas em menor quantidade do que o medianum. Também é o último espaço a ser alcançado 
durante o percurso dentro do apartamento. O cubiculum também apresenta medidas muito semelhantes 
nas três insulae. Quanto à configuração espacial, a exceção aparece no bloco b), onde existe um cômodo 
extra, o 5-vestibulum52. Os apartamentos de c) também contam com um diferencial: a latrina53, representada 
na análise pelo número 4. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
a) Divisão dos ambientes. b) Divisão dos ambientes. c) Divisão dos ambientes. 
Fonte: autora 
 
 
 
 
 
52 Vestibulum: hall. 
53 Latrina: sanitário. 
 
Circulações verticais 
Verifica-se que nos três casos as escadas estão posicionadasno meio dos apartamentos, sendo alcançadas 
diretamente a partir da rua. As dimensões dos sistemas de circulação também são muito semelhantes entre 
os blocos, não havendo outra área coletiva do pavimento em nenhuma das edificações. Em a) a escada possui 
lances intercalados com patamares, e dois acessos a partir da rua (Figura 12). Já em b) existem duas escadas, 
e cada uma servia a um apartamento. No Cassete Tipo, uma escada foi utilizada por dois apartamentos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
a) Circulação vertical. b) Circulação vertical. c) Circulação vertical. 
Fonte: autora 
 
 
Figura 12: Reconstrução da fachada do bloco Case dei Vigili 
Fonte: https://goo.gl/pyGJ1h 
 
Ventilação e iluminação 
A ventilação e a iluminação naturais foram consideradas a partir da quantidade e posição das aberturas. As 
ruínas dos apartamentos do Cassete Tipo encontram-se bastante degradadas, estando visíveis apenas alguns 
centímetros do pavimento térreo (Figura 13). Dessa forma, a bibliografia representou somente as aberturas 
que aparecem no local, a maioria eram portas e passagens. Como é possível notar no redesenho, a maior 
face dos apartamentos no bloco a) está voltada para sudoeste. Em b) e c) o medianum, o cômodo com maior 
quantidade de aberturas, localiza-se nas fachadas sudeste e leste respectivamente. Em nenhum dos casos 
estudados o cubiculum possui aberturas, e sua ventilação sempre acontecia através do vão de passagem para 
o medianum. 
 
 
Figura 13: Ruínas do Cassete Tipo 
Fonte: http://www.ostia-antica.org/regio3/12/12-1.htm 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
a) Circulação de ar na insula. b) Circulação de ar na insula. c) Circulação de ar na insula. 
Fonte: autora 
 
Multifuncionalidade 
A variedade de usos também estava presente na habitação coletiva romana, a Insula 1-5 na Região V é uma 
das várias insulae que possuíam habitação, comércio e serviço integrados. Eram cinco unidades postas lado 
a lado, com algumas paredes individuais e funções claramente definidas. 
 
 
Demarcação das 5 unidades que compõem o bloco 
Fonte: autora 
Conforme Hermansen, as paredes externas dessa construção possuíam 60cm e as internas, 45cm54. Cada 
taberna tinha um acesso único, diferenciado dos demais pelo seu tamanho. Nesta insula, as tabernas da Via 
delle Ermette possuíam dimensões semelhantes, eram interligadas e havia uma passagem entre as tabernas 
e o apartamento C, mas em algum momento ela foi lacrada. Pelos alinhamentos e paredes compartilhadas é 
possível que, em algum momento distinto da construção de B e de A, as unidades C, D e E tenham sido 
construídas juntas. As escadas de acesso ao segundo pavimento eram de madeira e possuíam acesso pela 
Via delle Ermette, nas extremidades das tabernas. 
 
 
Diagrama de usos e acessos 
Fonte: autora 
 
54 HERMANSEN, 1982, p. 27. 
 
CONCLUSÃO 
Devido à alta densidade de Roma, é provável que as insulae que existiram lá fossem um pouco diferentes das 
insulae de Óstia, mais compactas e com um maior número de unidades. Como as edificações foram 
implantadas conforme as áreas disponíveis para a construção, não é possível identificar um planejamento de 
acordo com a posição solar. O medianum e as suas aberturas eram importantes centros de vida social, assim, 
é presumível que este ambiente frequentemente tenha sido colocado na fachada principal da insula. Apesar 
das muitas aberturas, as intempéries e a rigidez do clima impediram que os cômodos fossem bem iluminados 
e ventilados, o que justifica a alta taxa de doenças propagadas na edificação. 
Faz sentido pensar que as dimensões dos cômodos foram pensadas de acordo com a divisão entre público e 
privado; o tempo de permanência em cada um deles também deve ter sido um fator importante. O 
cubiculum, único ambiente privado dentro do apartamento, foi utilizado apenas como dormitório. Era o 
menor cômodo do apartamento e não possuía aberturas para o exterior. A vida em grupo foi priorizada ao 
se construir um medianum e uma exedra com maiores dimensões, afinal, eram nestes cômodos que uma ou 
mais famílias interagiam entre si. 
Como forma de economizar nos custos da construção, os fluxos entre os pavimentos foram concentrados em 
escadas centrais. As escadas eram muito importantes pois a maioria das insulae não possuíam água encanada 
e os moradores precisavam descer ao térreo para buscá-la em fontes públicas. 
A verticalização em função da redução do uso do solo não é o único fator com o qual podemos relacionar a 
insula da Roma Imperial e as habitações coletivas modernas. A repetição do arranjo interno de um 
determinado pavimento, um pavimento tipo, também ocorre em ambas as edificações. O andar térreo, com 
uma organização funcional diferente dos demais pavimentos, reunia as mais diversas atividades, o comércio 
estava entre as mais comuns. Os aspectos relativos às fachadas também devem ser levados em conta. A 
sobreposição das aberturas, além de um fator estrutural, compõe uma unidade visual. A homogenia entre a 
aparência externa das insulae, seja pelos seus elementos ou pela sua materialidade, reforça a ideia de 
conjunto. 
As questões econômicas da tipologia permanecem muito parecidas com a atualidade. A construção de 
unidades de baixo custo para locação e a diferença comercial entre os pavimentos continua existindo. 
Entretanto, nos edifícios residenciais modernos, os apartamentos mais caros costumam estar em pavimentos 
mais altos, contrariamente ao que acontecia nas edificações romanas. 
Dessa maneira, é possível entender que a maioria das diferenças entre as insulae e as habitações coletivas 
atuais acontecem devido a fatores socioeconômicos e culturais. A necessidade de abrigo e a falta do conceito 
de lar, fez com que várias famílias, de diferentes grupos da sociedade, morassem juntas em um mesmo 
apartamento. O arranjo interno deste possui elementos que conhecemos e utilizamos até hoje, como os 
dormitórios (cubiculum), a sala de estar (exedra) e a sala de jantar (medianum). Com o passar do tempo, 
serão incorporadas instalações hidrossanitárias aos apartamentos das insulae, o uso de latrinas e cozinhas 
acaba acentuando ainda mais as afinidades entre as tipologias. Assim sendo, acredita-se ser possível afirmar 
que a habitação coletiva da Roma Imperial é precursora dos edifícios de apartamentos modernos. 
 
 
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