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Evolução do potencial reprodutivo das rainhas em função da idade e tempo de vida das rainhas em Crematogaster pygmaea. 2. O número de rainhas e ninhos (aqui o ninho é definido como a estrutura física em que vive uma colônia, ou seja, a população formada pela rainha, as operárias e prole) em colônias maduras são traços chaves de estrutura colonial nas formigas. A monoginia (uma rainha por colônia) e a monodomia (toda a colônia é alojada numa única estrutura física - ninho) são considerados como os estados ancestrais da estrutura colonial nas formigas. 3. Embora a monoginia e a monodomia permaneçam os traços dominantes na maioria das formigas, a poliginia (mais de uma rainha reprodutiva por colônia) e a polidomia (a colônia ocupa dois ou mais ninhos separados, porém socialmente conectados) são traços derivados que parecem ter evoluídos de maneira independente e repetida em quase todos as subfamílias. A existência da polidomia, e da poliginia, em muitas espécies gera uma série de questionamentos importantes na área da biologia evolutiva e da ecologia, em particular no que diz respeito às consequências genéticas e às causas ecológicas da estrutura social polidômica e, sobretudo, poligínica. A poliginia é também frequentemente associada a uma série de modificações evolutivas na morfologia e outros traços de história de vida das rainhas em relação às rainhas de espécies monogínicas aparentadas. Essas modificações incluem muitas vezes uma fecundidade reduzida e um tempo de vida reduzido das rainhas poligínicas em relação às monogínicas aparentadas. 4. A Crematogaster pygmaea, representa um excelente modelo para investigar alguns aspectos dessas problemáticas associadas à poliginia, já que essa espécie combina uma estrutura social altamente poligínica e polidômica com a existência de rainhas nas quais certos traços da morfologia e da história de vida, são mais tipicamente encontrados em espécies monogínicas, como, por exemplo, um alto dimorfismo rainha/operária, a habilidade das jovens rainhas de fundar colônias de maneira independente ou, ainda, a alta atratividade das rainhas em relação às operárias. 5. Nesse projeto, queríamos investigar o conhecimento de aspectos chaves da biologia reprodutiva das rainhas de C. pygmaea: (1) fecundidade das rainhas e evolução dessa fecundidade em função da idade das rainhas, em modo monogínico ou poligínico; (2) contribuição reprodutiva de cada rainha em condição poligínica (investigação da possível existência de uma monogina funcional em C. pygmaea); (3) o tempo de vida médio das rainhas. 6. Os objetivos específicos do subprojeto eram (1) avaliar o tempo de vida médio das rainhas em sistema monogínico, em modo dependente ou independente, (2) quantificar a evolução da taxa de fertilidade das rainhas em função da idade, desde sua fecundação, em grupos experimentais monogínicos, em modo dependente ou independente. 7. No início da estação chuvosa de 2021 (fevereiro/março), foram escavados vários ninhos de C. pygmaea em diversas colônias localizadas em várias áreas do município de Fortaleza ou de municípios vizinhos. 8. No Laboratório, os ninhos foram triados, com a população de cada ninho com suas rainhas, gines (rainhas virgens com asas), operárias, machos e prole, foram colocadas em uma bandeja de plástico (30 x 20 x 7 cm), cujas paredes internas continha uma camada de Talcohol (suspensão de talco neutro e álcool) para evitar a fuga. Na bandeja, vários tubos de ensaio de vidro (10 cm de comprimento; 1 cm de diâmetro) com reserva de água e tampão de algodão na parte posterior fechada, e com papel celofane vermelho ao redor dos tubos, que serviam de espaço físico (ninho) para a instalação da colônia triada. Dois outros tubos de vidro, um preenchido com água açucarada e tampão de algodão na boca, outro com apenas água que serviam com fonte de carboidratos e de água respectivamente. Uma larva de tenébrio cortada era colocada na bandeja sendo a fonte de proteínas. As colônias eram mantidas na sala de criação com temperatura constante de ± 30ºC e fotoperíodo 12/12. 9. As coletas permitiram obter um número inicial de 83 gines. Todas foram pesadas com balança analítica digital, antes de ser colocadas individualmente na placa de Petri de plástico com tampa, junto com 5 machos. O acasalamento das gines foi fácil de obter, após 5h, a maioria tinha copulado com machos e tinha realizado a dealação (perda das asas). Dez das 83 gines não se acasalaram e não perderam as asas, e três delas foram encontradas mortas, no dia seguinte. As 70 gines dealadas que sobraram foram usadas para formar as unidades monogínicas em modo dependente, ou seja, colônias formadas cada uma por uma rainha recém- fecundada e 150 operárias provindas da mesma colônia de origem que a rainha. 10. Em 13 das 70 unidades monogínicas, a rainha morreu antes que a primeira série mensal de medições fosse iniciada. Sobraram 57 unidades monogínicas disponíveis para a realização, mensalmente, durante 14 meses, de abril de 2021 a maio de 2022. 11. Um mês após a formação das fundações monogínicas e dependente, cada rainha foi submetida a uma série de medições, que foram repetidas a cada mês. Cada série mensal de medições de cada rainha era iniciada pela pesagem da rainha, antes de ser colocada, junto com 10 operárias, com reserva de água e água açucarada, tampão de algodão no fundo do tubo, e com papel celofane vermelho ao redor. O tubo era fechado por um pequeno tampão de algodão para evitar a fuga. As operárias eram colocadas dentro do tubo com a rainha, ficando em isolamento. (1) após os 24h de isolamento, o número de ovos postos pela rainha no tubo era contado. As operárias e a rainha, em seguida eram devolvidas a sua fundação de origem; (2) Após 24h, havia nova medição do peso da rainha seguida por um novo isolamento; (3) Após 24h, havia nova medição do peso da rainha seguida por um novo isolamento; (4) Após 24h, havia nova medição do peso da rainha, seguida por novo e último isolamento em um novo tubo durante 24h. 12. Um mês após a fecundação, o peso médio das rainhas sofreu uma redução de mais de 15%. A perda de peso continuou de maneira regular, porém, de maneira inesperada nos meses seguintes. Nessa espécie, as rainhas geralmente apresentam um alto dimorfismo com as operárias, e acumulam, reservas energéticas (lipídios, aminoácidos, carboidratos) no tórax e no abdômen. 13. A fertilidade das rainhas é relativamente elevada nos três primeiros meses da vida reprodutiva. Esse potencial reprodutivo limitado aos primeiros meses é associado a um tempo de vida relativamente limitado das rainhas já que seis meses após sua fecundação, mais de 50% das rainhas estavam mortas. 14. Elevada fertilidade no início da vida reprodutiva e baixa longevidade das rainhas são dois traços tipicamente encontrados nas espécies poligínicas obrigatórias, e que as diferenciam das espécies monigínicas, as quais possuem geralmente uma alta longevidade e um potencial reprodutivo ótimo se manifestando mais tarde na vida. 15. Os dados obtidos reforçam que a C. pygmaea como uma espécie altamente poligínica, conserva uma série de traços geralmente ligados à monoginia. A considerável acumulação de reservas energéticas nas gines, o alto dimorfismo entre rainhas e operárias e a perda de peso nas jovens rainhas fecundadas. 16. Por outro lado, o potencial reprodutivo limitado ao início da vida reprodutiva das rainhas e a longevidade limitada das rainhas são traços tipicamente associadas com a poliginia e a estratégias derivadas de fundação das colônias, como a fundação dependente, por brotamento colonial. 17. Os dados obtidos sugerem fortemente a existência, nessa espécie, de uma dupla estratégia de dispersão das fêmeas sexuadas, no início da estação chuvosa. A C. pygmaea instala suas colônias em locais distribuídos em manchas e relativamente instáveis. A dispersão de longa distância por voo e a fundação independentepermitia novas manchas de habitat favorável e/ou escapar de manchas com condições se degradando; a fecundação intranidal seguida por eventos de brotamento e o consequente aumento da polidomia permitiria uma boa exploração das fontes de alimento e quando as necessidades nutricionais das colônias são as mais elevadas.
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