Prévia do material em texto
PROFESSORES Dra. Vânia de Fátima Matias de Souza Dr. Amauri Aparecido Bássoli de Oliveira Me. Élen Carla da Costa Baraldi Quando identificar o ícone QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar Experience para ter acesso aos conteúdos online. O download do aplicativo está disponível nas plataformas: Acesse o seu livro também disponível na versão digital. Google Play App Store Educação Física na Educação Infantil e nos Anos Iniciais 2 NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jd. Aclimação Cep 87050-900 - Maringá - Paraná - Brasil www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho Diretoria de Cursos Híbridos Fabricio Ricardo Lazilha Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Diretoria de Design Educacional Paula R. dos Santos Ferreira Head de Graduação Marcia de Souza Head de Metodologias Ativas Thuinie M.Vilela Daros Head de Recursos Digitais e Multimídia Fernanda S. de Oliveira Mello Gerência de Planejamento Jislaine C. da Silva Gerência de Design Educacional Guilherme G. Leal Clauman Gerência de Tecnologia Educacional Marcio A. Wecker Gerência de Produção Digital e Recursos Educacionais Digitais Diogo R. Garcia Supervisora de Produção Digital Daniele Correia Supervisora de Design Educacional e Curadoria Indiara Beltrame Coordenador(a) de Conteúdo Mara Cecília Rafael Lopes, Projeto Gráfico José Jhonny Coelho, Editoração Lavígnia da Silva Santos Designer Educacional Ana Claudia Salvadego, Aguinaldo José Lorca Ventura Júnior Revisão Textual Ariane Andrade Fabreti Ilustração Wellington Vainer. Fotos Shutterstock. C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância. SOUZA, Vânia de Fátima Matias de; OLIVEIRA, Amauri Aparecido Bássoli de; BARALDI, Élen Carla da Costa. Educação Física na Educação Infantil e nos Anos Iniciais. Vânia de Fátima Matias de Souza, Amauri Aparecido Bássoli de Oliveira, Élen Carla da Costa Baraldi. Maringá - PR: Unicesumar, 2022. 140 p. ISBN 978-85-459-2157-8 “Graduação em Educação Física - EaD”. 1. Educação 2. Física 3. Infantil. 4. EaD. I. Título. CDD - 22ª Ed. 796 Impresso por: Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB-9-1679 Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos com princípios éticos e profissionalismo, não somente para oferecer uma educação de qualidade, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 500 polos de educação a dis- tância espalhados por todos os estados do Brasil e, também, no exterior, com dezenas de cursos de gradua- ção e pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educadores soluções inteligentes para as necessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compro- misso com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é pro- mover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! Wilson Matos da Silva Reitor da Unicesumar minha história meu currículo Profª Drª Vânia de Fátima Matias de Souza Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Maringá (UEM/2014). Mestre em Educação Física pela UEM (2009). Gradua- da em Pedagogia pela Faculdade Estadual de Educação, Ciências e Letras de Paranavaí (Fafipa/2000) e graduada em Educação Física pela Universidade Estadual de Londrina (UEL/2000). Professora Adjunta do Departamento de Educação Física da UEM. Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física Escolar (GEEFE/CNPq). Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Educação Física Escolar, atuando, principalmente, nos seguintes temas: infância, estágio supervisionado, formação profissional e políticas públicas. Link: http://lattes.cnpq.br/7642081335847897 minha história meu currículo Prof Dr. Amauri Aparecido Bássoli de Oliveira Pós-Doutor em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS/2015). Doutor em Educação Física pela Uni- versidade Estadual de Campinas (Unicamp/1999). Mestre em Ciência do Movimento Humano pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM/1988). Especialista em Educação Física Infantil pela Universi- dade Estadual de Maringá (UEM/1984). Graduado em Educação Física pela Universidade do Norte do Paraná (Unopar/1979). Atualmente, é Professor Associado nível C da UEM. Integrante do Programa de Pós-Graduação Associado UEM-UEL em Educação Física, com orienta- ções de mestrado e doutorado. Tem experiência na área de Educação Física, com ênfase em Métodos e Técnicas de Ensino e Metodologia da Pesquisa, atuando, principalmente, nos seguintes temas: formação profissional, currículo, atividade física e saúde, educação física esco- lar, atividade física e obesidade. Consultor ad hoc do Ministério da Educação/SESu/Inep para comissões de avaliação institucional e de autorização e reconhecimento de cursos em Educação Física. Atuou como Consultor do Ministério do Esporte na Secretaria Nacional de Esporte, Lazer e Inclusão Social (Snelis) como Coordenador Pedagó- gico Nacional dos Programas de Esporte Educacional. Link: http://lattes.cnpq.br/5845836567219056 provocações iniciais Educação Física na Educação Infantil e nos Anos Iniciais Seja bem-vindo(a)! Caro(a) aluno(a), este material é fruto de reflexões e análises que buscam contribuir para que as aulas de Educação Física escolar, abordadas na Educação Infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental possam avançar cada vez mais! Afinal, reconhece- mos que o caminho trilhado por esta disciplina, no universo escolar, tem sido uma trajetória marcada pela busca de uma ação pedagógica que valorize o desenvolvimento da criança, por meio do respeito às individualidades dela, da potencialização de ca- pacidades e da valorização de experiências, cultura e conhecimentos deste ser. Neste livro, trazemos uma proposta de inter- venção por meio da qual você poderá construir um planejamento para as aulas aplicadas no contexto de atuação da Educação Física escolar, a partir da valorização das potencialidades da criança. Aliás, é ela — a criança — o centro de nossas ações e in- terações, então, é por este motivo que trazemos argumentos e apontamentos os quais contribuirão na organização dos conteúdos. As discussões, aqui, apresentadas ocorrem a par- tir das relações estabelecidas entre as temáticas do movimento e da corporeidade; do movimento e dos jogos; do movimento e do esporte; do movimento em expressão e ritmo; por fim, do movimento e da saúde. O nosso intuito é que você tenha um rol de conhecimentos que te possibilitem estruturar um planejamento adequado à realidade das crianças no contexto escolar. Para tanto, o livro foi organizado e escrito com o intuito de levar você a entender aimportância do plane- jamento para as aulas de Educação Física escolar. Assim, organizamos as discussões trazendo tanto reflexões quanto análises acerca do conceito e construção da infância bem como traremos os apontamentos legais da Educação Física escolar, que te ajudarão a compreender como se dá o processo de legalização da disciplina. Outro ponto central às ações didático-pedagógicas apresentadas neste livro é a questão do planejamento, o qual está estruturado e organizado por um passo a passo voltado para a construção de um bom progra- ma escolar. Com o objetivo de te auxiliar nesta tarefa, você terá, na sequência, os mapas conceituais, que te ajudarão, aluno(a), a compor esse planejamento para os contextos da Educação Infantil e das séries iniciais. Traremos, ainda, apontamentos sobre a nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC) demons- trando como o conhecimento está organizado por meio de competências e como os conteúdos são entendidos na Educação Infantil (com os campos de experiências) e na Educação Fundamental (área de linguagens), a fim de que seja possível planejar as aulas de modo que a aprendizagem se torne signi- ficativa ao(à) aluno(a), levando-a para a vida. Esperamos que você aproveite a leitura, reflita e analise todos os caminhos e ações tratadas, para que as aulas de Educação Física possam romper com os discursos fragmentados de uma prática pouco estruturada. Ótimos estudos! Abraços. sumário UNIDADE I 8 O CONCEITO DE INFÂNCIA: NA SOCIEDADE E NA ESCOLA UNIDADE II 28 A EDUCAÇÃO INFANTIL E A LEGISLAÇÃO UNIDADE III 48 PLANEJANDO A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR UNIDADE IV 86 SISTEMATIZAÇÃO E AÇÕES PEDAGÓGICAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL UNIDADE V 108 PLANEJANDO AS AULAS PARA AS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Dr. Amauri Aparecido Bássoli de Oliveira Dra. Vânia de Fátima Matias de Souza Oportunidades de aprendizagem • Analisar a construção histórica da infância e as suas relações com o campo escolar. • Compreender o conceito de infância abordado na sociedade contemporânea, a partir das finalidades do atendimento às crianças da Educação Infantil e das séries iniciais nas instituições educativas. • Entender as implicações da formação do conceito de infância nas relações escolares. Plano de Estudo • O Conceito de Infância: Uma Construção Histórica • A Infância no Espaço Escolar: da Assistência ao Caráter Educativo das Instituições de Educação Infantil • A Escola e a Infância: A Institucionalização da Criança e da Infância O CONCEITO DE INFÂNCIA: NA SOCIEDADE E NA ESCOLA unidade I 10 Buscando respostas a estes questionamentos e a ou- tros que podem surgir ao longo da caminhada, vamos aos estudos! O CONCEITO DE INFÂNCIA: UMA CONSTRUÇÃO HISTÓRICA As ações educativas vão se constituindo ao longo da histó- ria, enquanto possibilidades de transformações sociais que partem das práticas individuais e se expandem às coletivas. Nesse sentido, estamos iniciando um momento para refle- tirmos sobre a compreensão da infância ao longo da histó- ria da sociedade bem como a sua estruturação no campo da Educação Infantil e das séries iniciais da Educação Básica, como uma possibilidade de repensarmos e reorganizarmos a nossa prática cotidiana escolar. Partimos deste pressuposto por entendermos que, para iniciarmos os estudos acerca da infância, é preci- so, em um primeiro momento, conhecer e reconhecer o papel que a criança tem ocupado na família e na socie- dade, ao longo dos séculos, para que possamos chegar à compreensão dos caminhos que a infância, na educação brasileira, tem ocupado. Revisitar alguns fatos marcantes da história e dos caminhos que a infância tem trilhado na sociedade nos possibilita revisitar a história social à qual estamos sub- metidos. Assim, temos condições tanto para refletirmos quanto para analisarmos os acontecimentos como pos- sibilidade de compreender as práticas que se estabele- cem. Para Coelho (2001, p. 31), “estudar a história é ain- da escolher a melhor forma ou o recurso mais adequado de apresentá-la”. Por esta razão, optamos por apresentar, como caminho histórico desta unidade, os apontamen- tos e as considerações acerca da infância, no seu enten- dimento a partir da realidade social para, então, tratar dos espaços educativos. Para tanto, é imprescindível situarmos a compreen- são da infância no contexto social e histórico, a fim de chegarmos à representação e ao papel da infância nas ins- tituições de ensino na sociedade contemporânea. Assim, precisamos refletir sobre as seguintes questões: quem é a criança a que nos referimos, no espaço escolar, na atuali- dade? Como podemos entender e tratar a infância, a par- tir dos paradigmas e das propostas educacionais? Caro(a) aluno(a), navegar pela história da infância implica estar disposto(a) a buscar, junto aos aconteci- mentos que se deram na sociedade contemporânea, as dimensões e compreensões que foram desencadeadas a partir das relações sociais, políticas e econômicas exis- tentes, e relacioná-las ao papel que a criança foi consti- tuindo e ocupando junto à família, ao Estado e ao campo educacional. Para os estudos relacionados à Educação Física in- fantil e das séries iniciais, consideraremos a criança e a infância como objetos centrais das discussões bem como dos encaminhamentos propostos. Afinal, para tra- tarmos das questões da corporalidade e do movimento das ações infantis, neste momento da escolarização, é necessário, primeiramente, entendermos de quem es- tamos falando, a fim de, na sequência compreendermos 11 EDUCAÇÃO FÍSICA A ideia de infância tem se constituído de formas dis- tintas, pois, em cada tempo e espaço social, a criança é vista, principalmente, a partir das relações e necessida- des sociais. Veja o que dizia Platão (2010, p. 302) acerca da criança da realidade ateniense de sua época: [...] entre todas as criaturas selvagens, a criança é a mais intratável; pelo próprio fato dessa fonte de razão que nela existe ainda ser indisciplinada, a criança é uma criatura traiçoeira, astuciosa e suma- mente insolente, diante do que tem que ser atada, por assim dizer, por múltiplas rédeas [...]. Esta afirmação retrata a visão, na Antiguidade, do que era ser criança: significava ser um sujeito que deveria ser disciplinado, com regras rígidas e poucas oportuni- dades para explorar o seu potencial, pois ele poderia ser prejudicial ao convívio social. Afinal, a infância era en- tendida como uma fase da vida construída, socialmente, portanto, a criança deveria ser educada de tal forma que não se tornasse um adulto indisciplinado em relação às regras de convívio social. A história da infância sempre esteve associada às ações e aos contextos sociais que envolvem todas as re- lações existentes entre a política, a influência da cultura, da economia e dos espaços a que estamos submetidos em cada tempo social. Para Ariès (2006), o sentimento de infância traduz a evolução histórica de suas várias concepções, desde o não reconhecimento até o reconhe- cimento de que as crianças são diferentes dos adultos, culminando com as novas invenções e sentimentos de infância na Modernidade. É importante destacar que o trato com a infância, no que se refere a pesquisa, valorização e/ou preocupação enquanto formação humana, pertencente às artes e ao convívio social, foi, durante um longo período da his- tória da sociedade, muito ignorada e, por vezes, estere- otipada. Este fato evidencia-se a partir da afirmativa de como trabalhar os conhecimentos, princípios, normas e valores escolares, respeitando tanto os limites quanto as fragilidades das crianças, destacando as suas potenciali- dades nas aulas de Educação Física. Com este objetivo, caro(a) aluno(a), iniciamos pelo entendimento básico acerca do que se trata a infância. Segundo as palavras de Steinberg e Kincheloe (2001, p. 11), “a infância nada mais é que um artefato social e his- tórico, e não uma simples entidadebiológica”. A partir desta definição, você deve estar se questionando por que o estudo deste período da vida faz-se necessário, neste momento. A resposta a este questionamento está no fato de que é preciso estudar e revisar o significado de in- fância, na história da sociedade, a partir de perspectivas pedagógicas e sociais, para que possamos realizar as de- vidas análises conjunturais e estruturais que envolvem a criança na sociedade contemporânea no contexto es- colar; então, será possível planejar, assim como orientar ações que levem a uma ação pedagógica. Esta ação deve possibilitar à criança desenvolver as suas potencialida- des motoras, sociais e comportamentais, considerando as diversas infâncias e realidades que se apresentam nes- tes espaços de intervenção pedagógica. O conceito de infância não é algo linear na histó- ria. Ela tem se alterado e, para chegarmos ao conceito de infância brasileira, deve-se, em um primeiro momento, entender a conjuntura social global a qual tem se consti- tuído em torno do assunto. Com esta compreensão, o nosso primeiro passo, nesta unidade, será compreender o conceito de infân- cia na sociedade contemporânea a partir dos estudos de Ariès (2006), Durkheim (1996), Guiraldelli (1996), Bujes (2001), Steinberg e Kincheloe (2001) e Heywood (2004): como tem se constituído tal conceito, como ele está sendo apresentado, considerado junto ao universo familiar, escolar e social, no decorrer da história da so- ciedade contemporânea. 12 Ariès (2006, p. 50), ao dizer, em seus estudos, que “até por volta do século XII, a arte medieval desconhecia a in- fância ou não tentava representá-la. É provável que não houvesse lugar para a infância nesse mundo”. Cabe lembrar que, até por volta do século XVIII, as imagens, gravuras e retratos das crianças foram escas- sos ou quase inexistentes e, quando retratadas, não eram caracterizadas como crianças, mas como adultos em miniatura, ou seja, desde a roupa, a vestimenta e a pos- tura até o comportamento, ali, representado eram de um adulto em tamanho reduzido. Heywood (2004, p. 23) vai além, e afirma que “a ‘descoberta’ da infância teria de esperar pelos séculos XV, XVI e XVII, quando então se reconheceria que as crianças precisavam de tratamento especial, ‘uma espécie de quarentena’, antes que pudes- sem integrar o mundo dos adultos”. Esta forma de olhar a criança começou a se modificar, lentamente, a partir do século XIX, com os estudos rea- lizados e publicados por Ariès (2006). De acordo com o autor, a preocupação com a infância ocorrerá a partir do instante em que o campo historiográfico passa a romper com as rígidas regras da investigação tradicional, institu- cional e política, para abordar temas e problemas vincu- lados à história social. Nesse sentido, o autor contrapõe as afirmativas de que a infância foi esquecida ou ignorada: segundo ele, o que aconteceu, na verdade, foi decorrente das dificuldades empíricas e científicas de estruturar e re- conhecer a infância a partir da perspectiva histórica. Essas relações ocorridas entre o pensar, agir, concei- tuar, valorizar, pesquisar e/ou preocupar-se com a forma- ção do ser humano na sua infância tem se transformado de acordo com cada tempo histórico. Por meio de cada realidade social e econômica, o olhar para a infância foi modificado, visando a atender às demandas que surgiram no decorrer de cada momento da sociedade. Em séculos distintos, este interesses e preocupação foram alterados. Até o século XIII e início do século XIX, por exemplo: [...] pode-se apresentar um argumento contunden- te para demonstrar que a suposta indiferença com relação à infância nos períodos medieval e moder- no resultou em uma postura insensível com rela- ção à criação de filhos. Os bebês abaixo de 2 anos, em particular, sofriam de descaso assustador, com os pais considerando pouco aconselhável investir muito tempo ou esforço em um ‘pobre animal sus- pirante’, que tinha tantas probabilidades de morrer com pouca idade (HEYWOOD, 2004, p. 87). Como consequência, o trato com a infância e o desen- volvimento da criança, naquele momento, refletia-se no contexto da educação da criança pequena, o que signifi- cava que dos adultos responsáveis por essa criança não era exigida nenhuma preparação. A criança não traz mais do que a sua natureza de indivíduo. A sociedade se encontra, a cada nova geração, como que em face de uma nova tabula rasa, sobre a qual é preciso construir quase tudo de novo. É preciso que, pelos meios mais rápidos, ela agregue ao ser egoísta e social, que acaba de nascer, uma natureza capaz de vida moral e social, eis aí a obra educação (DURKHEIM, 1996, p. 42). Em sua análise histórica, Ariès (2006) assume e enfatiza que a infância do século XIX e início do século XX pas- sou por fenômenos de clausura, pois as crianças eram se- paradas dos adultos por faixa etária e tinham assegurada uma educação voltada aos bons hábitos, o que garantiria uma infância inocente e civilizada. Desse modo, a vida social em um espaço público era substituída por um es- paço privado. Nesse sentido, a criança — tida como ir- racional — não teria meios psicológicos para o pensar e o agir socialmente, deixando de aproveitar tal momento para aprender atitudes, socialmente, valorizadas, como nos aponta De Mause (1991). Elias (1994), em seu texto A Sociedade dos Indiví- duos, traz à tona outras reflexões acerca da infância ao 13 EDUCAÇÃO FÍSICA enfatizar que, ao nascer, o indivíduo tem uma depen- dência natural do outro para se tornar social, o que res- salta os processos sociais presentes na infância. O autor afirma, ainda, o seguinte: os valores ou as crenças, as re- presentações, os sistemas simbólicos constituídos pelas crianças e o significado das suas experiências, ao longo de seu processo civilizador, têm se modificado ao lon- go da história da sociedade, em função das mudanças sociais, assim, passou-se a entender que à medida que a criança se relaciona com os indivíduos à sua volta, a subjetividade dela depara-se com novos mundos os quais transformam tanto o comportamento social dessa criança quanto as suas funções psicológicas. Elias (1994, p. 27) afirma, também, que “o indivíduo só se humaniza através do outro, a criança, isolada des- sas relações, evolui, na melhor das hipóteses, para a con- dição de um animal humano semi-selvagem”, afinal, [...] a criança não é apenas maleável ou adaptável em grau muito maior que os adultos. Ela precisa ser adaptada pelo outro, precisada da sociedade. [...] Na criança, não são apenas as ideias ou apenas o comportamento consciente que se veem cons- tantemente formados e transformados nas relações com o outro e por meio delas (ELIAS, 1994, p. 30). De acordo com os estudos realizados tanto por Ariès (2006) quanto por Elias (1994), as crianças, inicialmen- te, eram vistas, apenas, como seres biológicos, no entan- to elas passaram a ser vistas e compreendidas na sua totalidade, então, chegam à sociedade moderna como seres que necessitavam de muitos cuidados e, também, de rígida disciplina, a fim de serem transformadas em adultos, socialmente, aceitos. Logo, não era só a família a responsável pela criança, o Estado começa a ocupar um papel importante junto a esta categoria da sociedade. Segundo Levin (1997), a partir da Revolução Fran- cesa, em 1789, modificou-se a função do Estado e, com isso, a responsabilidade com a criança bem como o inte- resse por ela. Assim, “os governos começaram a se preo- cupar com o bem-estar e com a educação das crianças” (LEVIN, 1997, p. 254). As mudanças e transformações em relação ao con- ceito de infância se alteraram, em especial, a partir do século XVIII, isto porque, de acordo com Guiraldelli (1996, p. 15): [...] o século XVIII, em que um novo sentimento dos adultos em relação às crianças, já caracteriza a presença social da noção de infância, o que pro- porciona o advento de uma pedagogia que advoga uma disciplinaautônoma, e não mais heterônoma. Se Locke trabalha com o objetivo de estabelecer as condições da liberdade dos homens, Montaigne, antes dele, quer que os adultos façam da criança um homem – o que já significa considerar que ela não é um ‘adulto em miniatura’ – e Rousseau, de- pois dele, quer que os adultos deixem a criança ser criança, de modo que a infância aconteça, pois ela é o que há de melhor nos homens. Evidentemente que essa mudança na perspectiva de co- locar a infância como um período que compreendia o desenvolvimento global da criança “só foi possível por- que também se modificaram na sociedade as maneiras de se pensar o que é ser criança e a importância que foi dada ao momento específico da infância” (BUJES, 2001, p. 13). Chegamos à atualidade entendendo não ser possível classificar a infância como, simplesmente, uma fase do desenvolvimento humano ou que o crescimento natural da criança se dá, exclusivamente, por razões biológicas, pois essa visão seria muito reducionista. Tal entendimen- to constituiu-se durante as transformações da ciência produzida na sociedade moderna; esta, ao longo dos tem- pos, passou a caracterizar e a buscar a compreensão da criança e da infância a partir dos fenômenos psicológicos, 14 das influências sociais, culturais e históricas — realidade a qual é, sempre, modificada, culturalmente —. Na reali- dade brasileira, o conceito de infância tem sido o mesmo adotado no Ocidente. De acordo com Steinberg e Kin- cheloe (2001, p. 11), “na realidade, o que nos últimos anos do século XX foi rotulado como uma infância tradicio- nalmente ocidental tem apenas cerca de 150 anos”. Isso significa que, ainda, temos uma história da infância muito recente, com escassos estudos que se ocupam do desen- volvimento integral da criança para além do biológico. Essas mudanças podem ser justificadas de acordo com Sarmento (2005a), pelo fato de que, historicamen- te, associamos a infância à imagem da criança, ou, mais especificamente, a determinada etapa cronológica do desenvolvimento humano, fruto de perspectivas biolo- gistas e psicologizantes. Para Agamben (2005, p. 59), essa perspectiva modificou-se ao longo dos tempos, afinal, [...] a infância que aqui está em questão não pode ser simplesmente algo que precede cronologica- mente a linguagem e que, a uma certa altura, cessa de existir para versar-se na palavra, não é um pa- raíso que, em um determinado momento, aban- donamos para sempre a fim de falar, mas coexiste originalmente com a linguagem, constitui-se aliás ela mesma na expropriação que dela efetua, produ- zindo a cada vez o homem como sujeito. Observamos que a palavra “infância” foi se modificando ao longo dos tempos: passa de um ser infante — “não fa- lante” (ARIÈS, 2006) — para ser valorizada enquanto um ser em formação essencial e como parte da sociedade à qual pertence. Contribuíram para essa mudança de pen- samento os estudos de Comenius (1592-1670), Locke (1632-1704), Rousseau (1712-1778), dentre outros que possibilitaram tornar o século XX o que Becchi (1994) chama de “século das crianças”, no qual os estudos sobre a infância se colocaram como centro das teorias, pesquisas, preocupações pedagógicas, sanitárias e sociais, atentas ao desenvolvimento das chamadas crianças pequenas. Com estas compreensões, chegamos à atualidade entendendo a infância como um momento de desenvol- vimento do ser humano que deve ser considerado na sua integralidade: entendemos que a criança possui caracte- rísticas e necessidades próprias, influencia e, também, é influenciada pelo contexto onde encontra inserida, porque pertence a um meio social cuja imersão cultural a permite entender o mundo que a cerca, e o contexto escolar surgirá, neste compasso, como um importante meio dessa transformação. A INFÂNCIA NO ESPAÇO ESCOLAR: DA ASSISTÊNCIA AO CARÁTER EDUCATIVO DAS INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO INFANTIL Reconhecemos que a história da infância tem sido mar- cada por inúmeras transformações e, ao refletirmos acerca do desenvolvimento da criança e da infância no espaço escolar, temos que os compreender a partir das 15 EDUCAÇÃO FÍSICA diversas possibilidades e perspectivas históricas de cada contexto e espaço social. Segundo Kuhlmann Junior (1991, p. 5), “a compa- ração com o passado precisa superar a linearidade para não obscurecer o presente que se quer pôr em questão”. Tendo este entendimento, compreender o conceito de infância bem como o seu desenvolvimento às ações do cotidiano pedagógico escolar se torna essencial para que essas ações possam ser planejadas de acordo com o momento o qual cada criança está passando e, como consequência, elas poderão influenciar o processo de aprendizagem escolar. Os conceitos de criança e infância são diferenciados, porém se encontram, intimamente, ligados. É necessá- rio entender que, ao tratarmos da criança, estamos nos referindo a uma fase com desenvolvimento e ações de- sejadas para determinado momento cronológico. Quan- do nos referimos ao conceito de infância, referimo-nos a uma categoria ampla, na qual se considera a criança um ser social e cultural. Para esclarecer estas definições, fazemos uso das palavras de Sarmento (2005a, p. 4): a infância é independente das crianças; estas são os atores sociais concretos que em cada momento integram a categoria geracional; ora por efeito da variação etária desses atores, a ‘geração’ está conti- nuamente a ser ‘preenchida’ e ‘esvaziada’ dos seus elementos constitutivos concretos. A fim de entendermos melhor a definição do termo criança, recorreremos ao Estatuto da Criança e do Ado- lescente (BRASIL, 1996). Nele, temos estabelecido que se considera criança a pessoa até os 12 anos de idade incom- pletos. Kramer (2006) vai além e afirma que as crianças são sujeitos sociais e históricos os quais produzem cul- tura e são nela produzidas. A infância, segundo Castro (2007, p. 4, grifos da autora), “deriva da palavra infante e evoca um período da vida humana. É um período que poderíamos chamar de construção/apropriação de um sistema de comunicação, de signos e sinais destinados a fazerem-se ouvir”. Em síntese, tratamos, aqui, de infân- cia, pois consideramos, dentre outros, as transformações culturais, sociais, políticas, econômicas e pedagógicas que ocorrem na sociedade num dado tempo e espaço, transformações que se configurarão, mas também se de- senvolverão de acordo com o contexto familiar, social e cultural, tendo ou não um papel social significativo. Nesse contexto, consideraremos as ideias de Sar- mento (2005a), que entende a infância como uma cons- trução social, com diferenças diacrônicas, ou seja, his- toricamente construídas e transformadas no decorrer dos anos. Há, também, diferenças sincrônicas, as quais revelam que, em um mesmo tempo, as formas de com- preender a infância podem ser distintas, conforme a lo- calização geográfica, as religiões, a etnia, a classe social, o gênero, enfim, são muitas as variáveis que interferem na maneira de representar a infância, porque é nesse perí- odo que há a possibilidade de vivenciar diversas experi- ências em contextos diferenciados. Evidentemente que, como vimos, essas noção e pre- ocupação relacionadas à infância ocorrerão, efetiva e intensamente, ao longo do século XX, período o qual se constituiu como um século de inúmeras transformações na sociedade e, em especial, para a infância, para as res- ponsabilidades tanto de cuidar quanto de educar a crian- ça pequena. Vale lembrar que, neste mesmo século, o Es- tado passou a ter, efetivamente, o dever obrigatório com a Educação Infantil, a qual começou a ser vista como um momento essencial ao desenvolvimento da criança. 16 Muitas transformações aglutinaram-se com a pre- sença do Estado como um dos gerenciadores e respon- sáveis pela educação da criança, influenciando e refle- tindo, diretamente, em mudanças na construção e no ideal de famílias da sociedade contemporânea. Confor- me Perez(2012), essas transformações nas finalidades da família resultaram das mudanças que aconteceram no processo histórico, social, econômico e cultural — muitos aspectos contribuíram para a caracterização do grupo familiar tal qual o concebemos em nossos dias —como instituição que representa espaço de educação e transmissão de valores e normas bem como de expres- são da afetividade entre os seus componentes. Caro(a) aluno(a), tendo compreendido o trajeto his- tórico da infância, passaremos a buscar o entendimento de como essas mudanças no conceito e no ideal de famí- lia e de sociedade influenciaram o campo da educação no atendimento às crianças que necessitavam de cuida- dos, afinal, a educação também precisou se adequar para satisfazer a estas novas demandas sociais. 17 EDUCAÇÃO FÍSICA A escola começa a exercer um papel essencial na formação do sujeito e, para tanto, o devir pedagógico torna-se significativo às ações desencadeadas nesse con- texto. De acordo com Saviani (1997, p. 17), o trabalho educativo é entendido como “o ato de produzir, direta e in tencionalmente, em cada indivíduo singular, a humani- dade que é produzida histórica e coletivamente pelo con- junto dos homens”. Na prática cotidiana escolar, há de se considerar todos os conhecimentos e elementos produzi- dos ao longo da história — por meio da ciência e do em- pirismo — sobre quem é a criança, como é ser criança e o que significa a infância, visando um trabalho pedagógico qualificado, com condições de oportunizar o desenvolvi- mento nesses espaços educativos de educação formal. No compasso das discussões acerca do papel da escola, surge a discussão bem como a necessidade de uma modalidade de ensino que dê conta das chama- das crianças pequenas: surgem aí os primeiros indí- cios da Educação Infantil. Evidentemente, essa moda- lidade teve origens diversas, mas a unanimidade dos estudos relata que a sua origem sempre esteve atre- lada às necessidades econômicas e sociais, associada às diferentes necessidades dentro do contexto históri- co-social onde as famílias e as crianças encontram-se inseridas. Segundo Dornelles (2005, p. 28): [...] entender as condições históricas da emergên- cia do ‘sentimento de infância’ possibilita também a compreensão de que esse sentimento começa a se fazer necessário a partir do século XVI. Inventá- -lo foi uma estratégia de governo para preservar as crianças de diversas práticas, como a dos hospícios de menores abandonados, a criação dos filhos por amas-de-leite e a educação artificial das crianças ricas. Acima de tudo, de impedir a morte das crian- ças. O governo dos infantis enquanto população constitui-se num certo sentido como uma tomada de poder sobre as crianças, a fim de fazê-las viver. Para ampliar a compreensão desta afirmativa, vale nos voltarmos para Kramer (2001), que destaca a Se- gunda Guerra Mundial como impulso para o desenvol- vimento da Educação Infantil: [...] a segunda guerra mundial provocou um novo impulso ao atendimento pré-escolar, vol- tando-se principalmente para aquelas crianças cujas mães trabalhavam em indústrias bélicas ou naquelas em que substituíam o trabalho mas- culino. Por um lado, foi introduzido o conceito de assistência social para as crianças pequenas, sendo ressaltada a sua importância para a co- munidade na medida em que liberava a mulher para o trabalho (KRAMER, 2001, p. 27). Como consequência deste movimento necessário de ingresso da mulher no mundo do trabalho, a Educação Infantil passa a ter, como objeto de ação e discussão, os elementos culturais que precisavam ser assimilados pe- los sujeitos inseridos na sociedade. Isso significava que, para buscar o desenvolvimento da industrialização e do comércio, ou seja, para que a sociedade fosse transfor- mada, era preciso que a mulher também passasse a fazer parte deste cenário, daí a necessidade de se efetivar um local onde as crianças pequenas pudessem ficar sob de- terminados cuidados e iniciarem a sua formação. Assim, foram concebidas as primeiras creches: [...] a creche, ao longo da história, foi concebida como refúgio assistencial de crianças desprovidas de cuidados, ou seja, criança pobre, para uma fa- mília que não sabe cuidar, tem até seus dias atu- ais definido a infância com um caráter privativo, desconsiderando as políticas públicas de proteção e direitos a educação da infância. A creche como substituta da família, cabe, portanto, organizar ati- vidades que atendam aos cuidados tipicamente do- mésticos, deslocados do conhecimento e da cultura na qual está inserida (REGO, 2006, p. 8). 18 Após a criação do jardim de infância de Froebel, mui- tas versões foram criadas para atender à demanda, mas, com o passar do tempo, esse espaço educativo tornou-se parte da escola e foi integrado a ela. Na definição de Sa- cristán (2005, p. 125): a escola e as práticas que nela se desenvolvem não nasceram nem são somente cenários do desen- volvimento, nos quais os atores podem melhorar ou fracassar em suas atuações: a maneira de viver nelas é que faz o ator. A criança vai à escola, e esta prepara a criança. A escola é, portanto, um espaço para desenvolver, transfor- mar, modificar e ser modificado a partir de todas as mu- danças que são implícitas no percurso escolar, isso porque, segundo Bissoli (2005), na escola, a criança amplia os seus interesses além do mundo infantil e dos objetos, estende as possibilidades de relações sociais, estabelece interações mais diversificadas com os adultos, compreende, paulatina- mente, as atitudes e as várias formas de atividades humanas, tais como: trabalho, lazer, produção cultural e científica. O cuidar e o educar na Educação Infantil A função da escola e, em especial, da Educação Infan- til, tem sido um emaranhado de ações cujos significa- dos e funções oscilam entre o cuidar e o educar, entre o fazer pedagógico e o assistencialismo. Esta dicotomia cuidar/educar se refletirá, também, no campo das políti- cas públicas educacionais, inclusive nas políticas sociais. “A memória do brincar, hoje, encontra-se apa- gada pelo excesso de estímulos oferecidos incessantemente, em um ritmo veloz e instan- tâneo. A exaltação do objeto eleva minúsculos brinquedos à extrema potência, para dali a alguns dias serem substituídos por outros, novas versões tecnológicas, mais avançadas, melhores. Hoje, a dimensão do social confere ao sujeito um lugar onde o singular encontra- -se fragmentado na multiplicidade que o rege. [...] Os games e jogos virtuais não têm a mes- ma dimensão simbólica de uma brincadeira com carrinhos ou bonecas. São formas que as crianças encontram de falar do universo que as cerca, de apropriar-se dele ao navegar nas vias eletrônicas, mas a automatização que rege os jogos virtuais apresenta efeitos de apagamento do tecido social que se construi- ria em presença. [...] O brincar é tecido por histórias e a traves- sia pelos brinquedos feitos com arte, elabora- dos com as mãos das crianças e dos adultos que as cercam, representa uma via possível de construir suas bordas”. Fonte: Meira (2003, p. 75-85). 19 EDUCAÇÃO FÍSICA Segundo Campos (2013), no Brasil, a educação da in- fância surge como princípio de uma política assistencial associada ao processo civilizatório, o qual teve, por sua vez, como base, as necessidades individuais e não cole- tivas, evidenciando as responsabilidades individuais e não a questão do direito social. Esta ideia influenciou a Educação Infantil enquanto instituição que tinha, como função inicial, a ação civilizatória e assistencial, mas cujo papel assumido foi o de compensar carências. Outro paradigma relacionado à Educação Infan- til está vinculado ao termo utilizado. De acordo com Vieira (1999), as instituições dessa modalidade, durante a história, tiveram dupla trajetória: os jardins de infân- cia, mais tarde, chamados de pré-primário e pré-escolar, davam ênfase ao aspecto educacional, sendo destinados para as crianças ricas,com métodos e atividades peda- gógicas voltadas ao desenvolvimento social e cognitivo e a outras habilidades; por outro lado, nas instituições denominadas creches e escolas maternais, era enfatiza- da a guarda, a alimentação e os cuidados com saúde e a higiene, além da formação de hábitos de bom compor- tamento na sociedade, sendo destinadas para as crianças pobres e abandonadas. Essa relação entre o educar e o cuidar no ambiente da Educação Infantil gerará conflitos, também, na atu- ação junto às questões pedagógicas a serem desenvol- vidas nessas instituições. Conforme descreve Campos (2013), é muito importante reconhecer quais são os objetivos que se deseja alcançar com a criança, pois eles orientarão as ações. É preciso definir se os objetivos são cuidar e educar, aliando as questões pedagógicas com as questões ligadas a higiene, alimentação e cuidados em geral, ou se o objetivo é, apenas, um ou outro. Afinal, qual seria a função da Educação Infantil? Para amenizar essas dicotomias e compreender os ob- jetivos deste período educacional, devemos recorrer aos documentos norteadores para essa modalidade de ensino. Dentre eles, destacam-se os pressupostos es- tabelecidos no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL, 1998), no qual se tem a proposição de que deve haver a indissociabilidade das ações de cuidar e educar crianças de zero a seis anos de idade, sem hierarquizar os profissionais ou a instituição que atuam com as crianças pequenas. De acordo com o documento, educar significa: [...] propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das ca- pacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica de acei- tação, respeito e confiança, e o acesso a educação poderá auxiliar o desenvolvimento das capacida- des de apropriação e conhecimento das potencia- lidades corporais, afetivas, emocionais, estéticas, na perspectiva de contribuir para a formação de crianças felizes e saudáveis (BRASIL, 1998, p. 23). Por outro lado, o cuidar, no documento, está definido como: [...] parte integrante da educação, embora exigir conhecimentos, habilidades e instrumentos que extrapolam a dimensão pedagógica, ou seja, cuidar de uma criança em um contexto educativo deman- da integração de vários campos de conhecimentos e a cooperação de profissionais de diferentes áreas (BRASIL, 1998, p. 24). Ainda que haja tanto conflitos quanto distanciamentos entre as ações pedagógicas e as delimitações com os cui- dados básicos de subsistência da criança nesses espaços educacionais e o que seria o seu objetivo central, tanto os documentos orientadores quanto os estudiosos da área entendem que, na Educação Infantil, o educar está rela- cionado a preparar para o convívio junto à sociedade, para o mundo do trabalho, e o cuidar, ao bem-estar re- 20 lacionado às questões básicas de subsistência da criança, tais como alimentação e higiene. Ao longo da história da educação e da infância, a Educação Infantil passa a as- sumir, na sociedade, o pedagógico que auxilia no desen- volvimento integral da criança na atualidade, atrelado às necessidades de desenvolvimento econômico e político de determinado grupo social. A ESCOLA E A INFÂNCIA: A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA CRIANÇA E DA INFÂNCIA A história da Educação Infantil brasileira não diferiu das demais realidades sociais. De acordo com Kuhlmann Ju- nior (1991), a constituição dessa modalidade educacio- nal apresentou, como marco representativo, os anos 40 do século XX, quando ela começou a sofrer transforma- ções. O autor também destaca o fato de que o processo de legalização do ensino da Educação Infantil se consti- tuiu, efetivamente, a partir das definições da Constitui- ção Nacional de 1988 (BRASIL, 1988, on-line). Outro destaque legislativo para a Educação Infantil ocorreu nos anos 90, com as criação e implementação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), por meio da Lei nº 8.069 (BRASIL, 1990, on-line), a qual regula- mentou os artigos da Constituição Federal e esclareceu as ações que deveriam ser realizadas, efetivando a legalidade dos direitos da criança a partir de uma normativa legal. Além da Constituição de 1988 e do ECA em 1990, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação — Lei nº 9.394/96 — legalizou, de forma efetiva, as ações políticas enquan- to predisposições, orientações e normativas de uma le- gislação educacional na qual se reconhece, oficialmente, que as creches e pré-escolas para crianças de zero a seis anos são parte integrante do sistema educacional, sen- do consideradas a primeira etapa da Educação Básica (BRASIL, 1996, on-line). Mesmo com as definições legais, no entanto o ob- jetivo da Educação Infantil ainda causa polêmica na sociedade, haja vista que, de acordo com Craydi (2001, p. 24), é preciso estar claro que as “creches e pré-escolas têm uma função de complementação e não de substitui- ção da família, como muitas vezes foi entendido”. Nesse sentido, estes espaços educativos devem estar integra- dos às diversas realidades e necessidades das infâncias, considerando as realidades das famílias bem como o contexto cultural, econômico e social das comunidades, para que se possa oferecer o que a criança necessita ao seu desenvolvimento. 21 EDUCAÇÃO FÍSICA Vale ressaltar que a Educação Infantil a qual temos abordado se refere ao estabelecido pela lei, compreendendo o atendimento em creches e pré-escolas. Segundo Kramer (2001, p. 49), a diferença entre ambas está no fato de que [...] creche e pré-escola, em geral, distinguidas ora pela idade das crianças incluídas nos programas – a creche se definiria por incluir crianças de 0 a 3 anos e pré-escola de 4 a 6 –, ora pelo seu tipo de funcionamento e pela sua extensão em termos so- ciais – a creche se caracterizaria por uma atuação diária em [horário integral], e a pré-escola, por um funcionamento semelhante à escola, em [meio pe- ríodo]. Há ainda uma terceira classificação que diz respeito à vinculação administrativa: a creche se subordinaria, assim, a órgãos de caráter médico ou assistencial, e a pré-escola ao sistema educacional. A Educação Infantil é considerada a primeira etapa da educação básica que tem por objetivo o desenvolvimen- to integral da criança, em seus aspectos físico, psicológi- co, intelectual e social. Constitui-se em um espaço pri- vilegiado para interação e aprendizagens significativas, onde o lúdico é o foco principal (BRASIL, 1996). crianças nas suas singularidades. Devem ser espaços nos quais a ludicidade, a imaginação e as interações sociais sejam os eixos estruturantes considerados parte das cul- turas infantis (SARMENTO, 2005b). Esta relação entre infância e educação, aspectos conceituais e orientações normativas e pedagógicas acontecerão, no entendimento de Molina e Lara (2008, p. 3.982), pela compreensão de que [...] infância, do mesmo modo que a educação, não pode ser compreendida fora de um contexto socio- econômico e político. Por isso, quando se fala em infância, não é possível se referir à criança sem se considerar o tempo, o lugar e a estrutura social na qual ela está inserida. Logo, infância, educação, políticas públicas e ações peda- gógicas estão, sempre, entrelaçadas, afinal, para desenvol- ver as proposições e encaminhamentos nessa instituição de ensino, é preciso seguir as normativas da legislação. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Edu- cação Nacional, nos Art. 29, 30 e 31, específicos da Edu- cação Infantil (BRASIL, 1996, on-line), tem-se estabele- cido essa modalidade de ensino como a primeira etapa da Educação Básica. Consolidando essa lei, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL, 1998) também traz as orientações para as ações nesses espaços educativos, definindo a Educação Infantil como um espaço onde se deve considerar que [...] as crianças possuem uma naturezasingular, que as caracteriza como seres que sentem e pensam o mun- do de um jeito muito próprio. E isto através das in- terações que estabelecem desde cedo com as pessoas que lhe são próximas e com o meio que as circunda, as crianças revelam seu esforço para compreender o mundo em que vivem as relações contraditórias que presenciam, por meio das brincadeiras, explicitam as condições de vida a que estão submetidas e seus an- seios e desejos (BRASIL, 1998, p. 21). Se a Educação Infantil é uma necessidade so- cial, por que os organismos nacionais e interna- cionais tratam esses espaços educativos como espaços onde o educar sucumbe ao cuidar? Segundo Kramer (2006), deve-se entender que a Educa- ção Infantil e o Ensino Fundamental são indissociáveis e, para tanto, devem assumir a apropriação da cultura como suporte à educação das crianças, respeitando-se, em contrapartida, nas duas modalidades de ensino, as 22 Para além dos documentos orientadores que legis- lam e deliberam acerca da Educação Infantil brasileira, há os documentos provenientes das agências e organis- mos multilaterais, os quais trazem orientações acerca da compreensão do conceito de infância a partir das aná- lises descritas em seus documentos. Rosemberg (2001, p. 27-28) postula que “as políticas de educação infantil contemporâneas nos países subdesenvolvidos têm sido fortemente influenciadas por modelos ditos ‘não formais’ a baixo investimento público, propugnados por organis- mos multilaterais”. Na concepção dessa autora, as influ- ências sobre os projetos da Educação Infantil brasileira, na atualidade, provêm, em especial, do Banco Mundial. Outro destaque é a afirmativa de Campos (2013). Se- gundo a autora, nas últimas décadas, cresceram as discus- sões acerca das crianças e dos seus direitos, inclusive sendo este o tema de diferentes conferências e reuniões interna- cionais e regionais. Dentre os direitos aí referidos, o direito à educação, sobretudo à Educação Infantil, configurou-se como uma questão fundamental para os governos locais. De acordo com Dale (2004), as agências e organismos mul- tilaterais, tais como a Unesco e a Unicef, têm influenciado, de forma significativa, o desenvolvimento das ações políti- cas e governamentais voltadas à Educação Infantil. Dentre esses documentos que, na atualidade, têm transformado as relações, objetivos e metas a serem de- senvolvidas na Educação Infantil, destacam-se as orien- tações continuadas da Conferência de Jomtienbem, como: Propuesta de Proyecto Regional de Educación para América Latina y el Caribe (UNESCO, 2002); Sín- tesis Regional de Indicadores de la Primera Infancia; Informe de Seguimiento de la EPT en el Mundo: Bases Sólidas – Atención y Educación de la Primera Infan- cia; Situação Mundial da Infância 2007. Mulheres e Crianças: O Duplo Dividendo da Igualdade de Gênero (UNESCO, 2007); Pobreza infantil en América Latina y el Caribe (CEPAL, 2010); Metas Educativas 2021: la Educación que Queremos para la Generación de los Bicentenarios; e o relatório Educação para Todos 2000- 2015: Progresso e Desafios (UNESCO, 2015). Dale (2004) ainda destaca os documentos para a Educação Infantil propostos à América Latina com o formato de projetos, sendo eles a Agenda Iberoame- ricana para a Infância e a Adolescência, o Programa Ibero-Americano de Educação e o Projeto Regional de Educação para América Latina e Caribe, projetos de- senvolvidos e coordenados pela Organização dos Esta- dos Ibero-Americanos, pela Organização dos Estados Americanos e pela Unesco. Dentre esses documentos, a Educação Infantil é tra- tada, com destaque, no Plano Ibero-Americano de Edu- cação (OEI, 1998), no qual as discussões e determinações se configuraram a partir da proposição de que deveriam ser aplicadas e direcionadas ações denominadas, no do- cumento, como “políticas compensatórias e intersetoriais para populações vulneráveis” (OEI, 1998, p. 4), deixando claro os elementos que consolidam o objetivo e o desen- volvimento da Educação Infantil, uma vez que essa mo- dalidade de ensino deve ser uma forma de [...] fortalecer os programas destinados à primeira infância e dinamizar a produção de conhecimentos 23 EDUCAÇÃO FÍSICA sobre a infância na região, apoiando o esforço de pesquisa educacional baseada nas experiências in- tersetoriais com populações vulneráveis, e difundir as lições aprendidas (OEI, 1998, p. 5). Segundo Rosemberg (2001), a entrada de organiza- ções internacionais como a Unesco e a Unicef, no âm- bito da Educação Infantil na América Latina, trouxe implicações referentes aos incentivos e às políticas de indução à expansão desse nível de atendimento edu- cacional por meio das instituições não formais, mas o seu apoderamento suscitou uma mudança no modus operandi desses organismos, que começaram a se en- volver nos projetos educativos destinados à infância e à juventude em seus países-membros. As ações desencadeadas enquanto normativas serão detalhadas na unidade seguinte, mas é preciso que você entenda, caro(a) aluno(a), que a Educação Infantil, ao lon- go da sua constituição histórica, se oficializa enquanto um campo educacional passível de provocar mudanças, mas que também é visto, ainda, inúmeras vezes, como um es- paço, apenas, destinado aos cuidados básicos da criança. Ainda há de se repensar e refletir acerca do que se espera para a Educação Infantil, mas muitos passos já fo- ram dados. O planejar pode ser um gesto essencial para que os resultados nas áreas sociais possam ser refletidos a partir do reconhecimento e da valorização da infância. Caro(a) aluno(a), no decorrer desta unidade, trou- xemos as discussões acerca do conceito de infância, discutimos e refletimos sobre o fato de que a infância se constituiu, historicamente, enquanto artefato social e histórico que foi e tem sido moldado de acordo com cada tempo e espaço, vinculado a um fazer social neces- sário a cada momento vivido pela sociedade. Vimos que a infância, em suas múltiplas facetas, tem sido abordada, no espaço escolar, como uma ação neces- sária ao desenvolvimento do ser humano para a vida em sociedade, mas, na Educação Infantil, persevera a dico- tomia de como tratar a criança inserida em seu espaço escolar, vagando entre as ações de cunho assistencialista e as práticas de caráter, totalmente, educativos. A partir da análise estrutural e conjuntural do con- ceito de infância segundo o lócus social, percebemos a existência de uma linha tênue entre o ser criança e a necessidade de se estruturar e/ou normatizar as ações políticas e governamentais de tal modo que a finalidade do atendimento às crianças da Educação Infantil e das séries iniciais nas instituições educativas seja por meio de ações de corresponsabilidade, nas quais Estado e fa- mília comunguem dos mesmos anseios, a fim de tornar as relações escolares bem-sucedidas. Tendo essa compreensão, é possível que você tenha chegado ao final desta unidade com o entendimento de que a Educação Infantil é uma modalidade de ensi- no com características próprias, que as crianças envol- vidas nesse contexto devem ter suas particularidades respeitadas e que essa é uma modalidade integrada ao conjunto da estrutura educacional a qual compõe a Educação Básica no país. Assim, teremos um(a) edu- cador(a) reflexivo(a) com condições de compreender que as ações locais são, sempre, originárias ou influen- ciadas pelo global e, portanto, a Educação Infantil não se difere ou se distancia deste fato. 24 agora é com você 1. O conceito de infância tem se alterado durante o decorrer da história da so- ciedade. Releia o conteúdo a respeito dos principais acontecimentos que in- fluenciaram a construção do conceito de infância existente na atualidade. Em seguida, explique como esse conceito está modificando o trato pedagógico no campo da Educação Infantil. 2. A infância é vista de formas diferenciadas, em cada tempo histórico. Explique como a infância era vista na Antiguidade atéchegar aos dias atuais. 3. Os documentos provenientes das agências e organismos multilaterais in- fluenciam, de forma significativa, os objetivos de atendimento da Educação Infantil. Explique como esses documentos influenciam a ação na prática des- sa educação. 4. A Educação Infantil é uma fase de desenvolvimento essencial para a criança. Com isso em mente, quais as contribuições da Educação Física à Educação Infantil? 5. O conceito de infância altera-se, sempre, ao longo da história. É possível afir- mar que, na atualidade, a infância não é valorizada? 25 LEITURA COMPLEMENTAR Educação Infantil: Jogos e Brincadeiras em Pauta A educação infantil brasileira tem sido um tema recor- rente nos debates educacionais que tratam das políticas da educação, das questões pedagógicas, do seu papel na sociedade atual e do trato com a infância. Kramer (2006) corrobora essa afirmativa ao defender a ideia de que nos últimos vinte anos no Brasil têm-se destacado as discussões da educação infantil nos fóruns estadu- ais de educação, especificamente no tocante ao finan- ciamento e ao papel que a educação infantil ocupa no cenário da educação. [...] Para Ferrero e Teberosky (1999, p. 105), devemos con- siderar que [...] as crianças possuem conceitualizações sobre a natureza da escrita muito antes da intervenção de um ensino sistemático. Porém, além disso, essas conceitualizações não são arbitrárias, mas sim pos- suem uma lógica interna que as torna explicáveis e compreensíveis sob um ponto de vista psicoge- nético. Afinal, a educação infantil deve ser vista como um espa- ço de experiência, em que o uso da linguagem deveria partir de uma temporalidade, de um processo de cria- ção que possibilite ao pensamento se entrelaçar e nave- gar por outros universos e assim encontrar semelhan- ças, construir e desconstruir suas ações. [...] Para Abramovay e Kramer (1984), inicialmente, as atividades trabalhadas no campo escolar aparecem ba- sicamente como ações e desenvolvem a coordenação motora e sensorial das crianças; em seguida vêm as ati- vidades que aparecem como imitações, dramatizações, construção, modelagens, reconhecimento de figuras e símbolos, desenhos e linguagem, que trabalham o sim- bólico da criança e, assim, posteriormente são codifi- cadas e aparecem como o processo de leitura e escrita (alfabetização). Conhecendo e Conceituando Jogos e Brincadeiras A compreensão de infância, cultura, jogos e brincadeiras infantis pode ser tratada a partir de diversos olhares. A opção foi partir do pressuposto e entendimento de uma infância enquanto categoria social e da criança como ser produtor de cultura (PEREIRA, 2013), que, por meio da interação com os seus pares no contexto escolar, produz uma série de culturas, que se tornam conhecimentos e práticas infantis que serão transformados de modo a adquirir novos conhecimentos, construindo, configuran- do e reconfigurando seus saberes e seu universo. [...] Na visão de Vygotsky (1979), existem duas concepções importantes do jogo e do ato de brincar: a imaginação e as regras. O jogo e a brincadeira são atividades que ajudam a recriar a realidade da criança com objetos sim- bólicos. Brincando, a criança representa papéis do mun- do adulto que irá desempenhar mais tarde, desenvolve capacidades físicas, verbais e intelectuais, tornando-se capaz de se comunicar. O jogo e o brinquedo são fatores de comunicação mais amplos do que a linguagem, pois propiciam o diálogo entre pessoas de culturas diferen- tes. Atualmente, os jogos também podem se constituir de um brinquedo ou brincadeira que a criança executa por puro prazer e com vontade de exercer. De acordo com 26 LEITURA COMPLEMENTAR Brougère (1996), o brinquedo seria munido de significa- dos, carregando consigo uma representação de infância, e a brincadeira deveria desvendar essa representação, decodificando o brinquedo. [...] Os Jogos e Brincadeiras no Desenvolvimento nos Primeiros Anos [...] Vygotsky (1991) explica que existe uma grande relação entre o jogo e a aprendizagem, em que a criança executa papéis, assume as regras das brincadeiras e desempe- nha funções para as quais ainda não está apta e prepa- rada na realidade. Vygotsky defende que o ato de brin- car permite que a criança aprimore a sua imaginação, fazendo com que ela conviva e entenda melhor o grupo social no qual está inserida. [...] Segundo Kishimoto (1994), o jogo está vinculado à ima- ginação, aos símbolos e ao pensamento. A criança pré- -escolar aprende por modo espontâneo e intuitivo, e o brinquedo, se usado com propósito pedagógico, trans- forma-se em um instrumento muito importante e essen- cial para a aprendizagem e o desenvolvimento intelec- tual infantil. A autora ainda esclarece que o jogo, para vários professores da educação infantil, é visto como uma prática desnecessária, que não ajuda na educação por não apresentar características sérias. Entretanto, ao jogar os alunos mostram muita concentração e dedica- ção nas atividades lúdicas. Os Jogos e Brincadeiras no Processo de Alfabetização Quando brinca, a criança não está preocupada com a aquisição de conhecimentos ou com o desenvolvimento de qualquer habilidade – assim, a atividade pedagógica/ lúdica proposta com determinados jogos ou brincadei- ras devem ter por base a conduta dos educandos, suas espontaneidades e estímulos externos durante as brin- cadeiras. Segundo Kishimoto (2000, p. 26), “o jogo edu- cativo utilizado em sala de aula desvirtua o conceito de brincar ao dar prioridade para o produto”, ou seja, para a aprendizagem e as habilidades adquiridas. Os jogos e brincadeiras estimulam a curiosidade e o de- senvolvimento de habilidades físicas e cognitivas que auxiliam posteriormente o processo alfabetizador. Se- gundo o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Cer- ta (PNAIC) (Brasil, 2012), o processo de alfabetização é um processo cognitivo complexo – a criança precisa não só decorar o formato e nome dos códigos, mas re- construir em sua mente propriedades complexas des- se sistema, ou seja, ela precisa compreender sua lógica funcional. No primeiro ano do ensino fundamental, os alunos deverão iniciar, aprofundar e consolidar alguns conhecimentos convencionais e, como dito no PNAIC, a educação infantil se constitui de um espaço e tempo de vivências e experimentações que poderão ser transpor- tadas no momento da alfabetização da criança. Fonte: Bonora, Krüger e Souza (2016, p. 1-9) 27 material complementar Título: Crianças Invisíveis Ano: 2006 Sinopse: o documentário Crianças Invisíveis, lançado em 2006, mostra a reali- dade de um grupo de crianças, muitas delas em situação de vulnerabilidade, que vivem nos seguintes países: Brasil, Itália, Inglaterra, Sérvia, Burkina Faso, China e Estados Unidos. O filme retrata a infância construída por crianças que coletam sucata nas ruas de São Paulo ou que roubam para viver em Nápoles e no interior da Sérvia. Mostra a realidade vivida por essas crianças de forma explícita, denunciando problemas, erros e dificuldades que elas enfrentam no seu dia a dia. Comentário: este documentário permitirá trazer à tona as suas lembranças de infância, mas também te fará refletir sobre o que estamos fazendo pelas crianças da nossa realidade. Assista: https://www. youtube.com/watch?v=T51eWnlV9DU Dr. Amauri Aparecido Bássoli de Oliveira Dra. Vânia de Fátima Matias de Souza Oportunidades de aprendizagem • Apresentar os aspectos legais que norteiam a Educação Infantil no Brasil, em especial, no que se refere à Constituição Federal, à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e às Diretrizes Curriculares Nacionais. • Analisar o papel da Educação Física no contexto da Educação Infantil. • Refletir sobre a importância da atuação do professor de Educação Física no campo da Educação Infantil. Plano de Estudo • Educação, Educação Infantil e Educação Física • A EducaçãoInfantil na Legislação • Refletindo sobre a Educação Física na Educação Infantil A EDUCAÇÃO INFANTIL E A LEGISLAÇÃO unidade II 30 que comparar as informações trazidas neste texto com a sua prática docente. Vamos aos estudos! EDUCAÇÃO, EDUCAÇÃO INFANTIL E EDUCAÇÃO FÍSICA A infância tem se constituído, ao longo da história, en- quanto um conceito social de representação de uma fase de formação do ser humano, considerando esse ser um integrante do processo de transformação e de mudanças na sociedade, o qual é refletido no universo escolar. A partir desta compreensão, traremos tanto as discussões quanto as reflexões que tratam das perspec- tivas de atuação sobre a infância, a partir das orienta- ções políticas voltadas ao campo educacional, afinal, a educação escolar reflete o conceito e a valorização rela- cionados à criança e à infância. A Educação Infantil é um espaço escolar, um ní- vel de ensino no qual se considera a ação pedagógica, tendo, como ponto de partida, a socialização, o diálogo, o brincar, a brincadeira, o faz-de-conta e o imaginário infantil. Nesta modalidade de ensino, a criança, a partir das experiências educacionais, desenvolve-se tanto em seus aspectos cognitivos quanto sociais, afetivos e mo- tores, assim, nesse contexto, a Educação Física contribui, de maneira significativa, a esse desenvolvimento, haja vista que o cerne do trabalho pedagógico na Educação Infantil são o movimento, a linguagem corporal, a cultu- ra lúdica, os jogos e as brincadeiras, elementos que, por sua vez, também são os objetos de ação pedagógica do campo da Educação Física. A partir destas considerações, você verá, nesta uni- dade, que o trabalho docente e as orientações didático- -pedagógicas que normatizam e regulamentam a atua- ção na Educação Infantil seguem os pressupostos bem como as orientações da legislação educacional brasilei- ra. Afinal, a Educação Infantil é um nível de ensino cuja estruturação é marcada pelo entendimento de ser um espaço educacional, no qual é proporcionado à criança aprender, brincar e a se desenvolver. Apresentaremos a você as análises das orientações para o desenvolvimento das ações no campo da Educa- ção Infantil. A partir desta leitura, faça as reflexões e bus- Ao nos referirmos ao termo “educação”, estamos trazendo à tona as reflexões acerca do educar compreendido como uma ação que acontece ao longo da vida do ser humano, haja vista que estamos em constantes processos de mudan- ças, transformações individuais e coletivas que nos levam a desenvolvimentos no campo social, intelectivo, cognitivo ou motor. O educar é um processo constante, em movimen- to e, quando abordado no ambiente escolar, passa a ser visto como uma ação consciente de busca pelo aprender. A escola é um espaço de educação formal onde professores e alunos compartilham os anseios, as necessidades e as angústias com o mundo do saber e do conhecimento. O aprender é uma ação de reciprocidade que se dá a partir das relações sociais, das interações que, por ve- zes, provocam transformações, pois a educação escolar possibilita aos envolvidos refletir, transformar, cotidia- namente, os seus conceitos, ideias e concepções. 31 EDUCAÇÃO FÍSICA A educação está atrelada ao desenvolvimento e for- mação do ser humano. Isso porque, de acordo com Fer- reira (1993), a educação é um ato ou o efeito de educar e/ ou se educar, que se concretiza com o desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral do ser humano. Palma, Oliveira e Palma (2008) vão além e destacam que o objetivo da educação escolarizada deve ser o de pro- porcionar aos alunos momentos nos quais eles possam criar, construir e modificar conceitos. Para isso, os alu- nos devem interagir com o meio. Estas reinvenção, criação e construção nas quais a criança constrói bem como desconstrói os seus sabe- res, constantemente, para criar outros conceitos, outras normas e compreensões de mundo, precisa ser orienta- da, planejada e estruturada a partir de objetivos defini- dos. A fim de que a educação escolar tenha significado para a criança, é necessário promover situações, meios de intervenção que a levem a querer aprender, a buscar desenvolver-se. Afinal, como afirma Freire (1992, p. 28): [...] o ser humano, principalmente quando criança, precisa construir seus próprios meios de transpor- te para empreender essa viagem chamada vida. Se ele não consegue alcançar um objeto que o atrai, que ele deseja, só resta um recurso: construir um mecanismo que o leve ao seu objetivo. Um bebê de poucos meses, que ainda não sabe engatinhar, terá que realizar um enorme esforço, arrastando- -se, para pegar qualquer objeto que esteja distante. Em pouco tempo, assim que a maturação biológica gere força muscular e organização nervosa sufi- cientes, o arrastar-se permite à criança uma viagem muito limitada, enquanto o engatinhar já lhe per- mite ir mais longe e empreender novas conquistas. Esta busca por desafios e novas conquistas no espaço es- colar ocorre por meio de uma prática educativo-crítica que se sustenta em ações construídas, coletivamente, a partir de saberes e conhecimentos individuais os quais, por sua vez, organizam-se pelas experiências vivencia- das, coletivamente. Então, é possível dizer que a educa- ção escolar é um espaço no qual o ensinar não se restrin- ge à mera transferência de conhecimento, mas deve ser entendida como uma possibilidade de produzir a partir da curiosidade, inclusive da constante busca pelo apren- der (FREIRE, 1996). A educação escolar é, nesse sentido, um espaço de intervenção no qual a criança é apresentada a situações que a levem ao desenvolvimento integral de suas po- tencialidades, portanto, uma das formas de oportunizar esse desenvolvimento é por meio de ações que tratem do real e do imaginário, do concreto ao abstrato, do lúdico ao formal, do cognitivo-intelectual ao motor, ou seja, é preciso promover, no espaço da Educação Infantil, uma educação motora que conduza ao desenvolvimento in- tegral da criança. Como afirma Bracht (1999), a educação não deve ser tratada de forma fragmentada, haja vista que é um equívoco tratar o desenvolvimento intelectivo separado do corporal, afinal, é preciso romper com a ideia [...] culturalmente cristalizada, da superioridade da esfera mental ou intelectual – a razão como identi- ficadora da dimensão essencial e definidora do ser humano. O corpo deve servir. O sujeito é sempre razão, ele (o corpo) é sempre objeto; a emancipação é identificada com a racionalidade da qual o corpo estava, por definição, excluído (BRACHT, 1999, p. 70). Neste contexto de formação do indivíduo enquanto um ser social, crítico e reflexivo, há as ações desencadeadas na Educação Infantil que, portanto, carecem, em mui- tos momentos, de romper com a linearidade pedagógi- ca, trazendo, assim, um planejamento flexível, voltado a atender às necessidades da criança. Segundo Faria e Pa- 32 lhares (1999), o modelo de escolarização da Educação Infantil deve ser repensado. Os autores destacam que, neste mesmo nível de ensino, podemos encontrar carac- terísticas diferenciadas para creches e pré-escolas, [...] com intencionalidade educativa, que possibili- ta superar qualquer resquício: escolarizante (cen- trado na professora, alfabetizante, seriado, com matérias/disciplinas, etc.); assistencialista; e tam- bém adultocêntrico, higienista, maternal, discri- minatório, preconceituoso, reforçando o objetivo principal da educação das crianças de 0 a 6 anos que é o cuidado/educação (sem confundir com as- sistência/escola) (FARIA; PALHARES, 1999, p. 78). É importante lembrarmos que, quando nos referirmos aos estudos no campo da Educação Infantil, como nos lembra Didonet (2001), seja no formato de creche, seja no formato de pré-escola, estamos tratando de uma ins- tituição de ensino, portanto, torna-se necessário abordar tanto as suas qualidades quanto os seus defeitos, a sua necessidade social ou importânciaeducacional. Deve-se considerar que o objeto central da Educação Infantil é a criança, um ser humano em desenvolvimento, com características e necessidades próprias. Também, como nos alerta Sayão (1999, p. 234): [...] tomar a criança como ponto de partida signifi- ca pensar num currículo que contemple diferentes linguagens em suas múltiplas formas de expressão, as quais se manifestam por meio da oralidade, ges- tualidade, leitura, escrita, musicalidade. Estas for- mas de expressão, vividas e percebidas pelo brincar, representam a totalidade do ser criança e precisa- riam estar garantidas na organização curricular da sua educação e não enquadradas em áreas do co- nhecimento e alocadas em disciplinas. Nesse cenário, a criança na Educação Infantil deve ser vista de forma integral, contextualizada, entendendo que, nesta fase da vida, a primeira fonte de exploração do mundo pela criança é feita por meio do corpo, de movimento. Assim, a Educação Física vem como um campo de conhecimento que colabora com esta integra- ção dos saberes, dos conhecimentos sociais à formação cognitiva e afetiva da criança, tão importantes nessa fase de desenvolvimento. De acordo com Rodrigues (2003, p. 11): “[...] a educação física infantil tem por finalidade contribuir para a formação integral do educando, utili- zando-se das atividades físicas para o desenvolvimento de todas as suas possibilidades”. A criança da Educação Infantil tem, em seu desen- volvimento, a necessidade de realizar atividades que lhe oportunizem o fazer, o experimentar, o vivenciar, isso porque, nessa fase, caracterizada como a primeira infân- cia, a criança necessita de ações e tarefas que a levem a aperfeiçoar e a estimular os movimentos adquiridos. Por meio das atividades planejadas, as aulas de Educação Fí- sica promovem o aperfeiçoamento dos movimentos já adquiridos, além de oportunizarem a aprendizagem de novas habilidades motoras. Afinal, a criança, nessa fase, anseia pelo novo, pelo aprender, busca atividades que a deixem explorar o mundo, por meio de sua corporalida- de, de suas experimentações. Palma e Palma (2005 apud PALMA; OLIVEIRA; PALMA, 2008, p. 99) colaboram com esta discussão ao afirmarem que: [...] quanto mais ricas e numerosas forem as expe- riências motoras das crianças, maior será o número de esquemas por elas construídos, o que possibili- tará, pelas coordenações estabelecidas entre esses esquemas, a construção de inúmeras e diferentes habilidades motoras: as operações motoras. Portanto, essas atividades vivenciadas nas aulas de Edu- cação Física, no contexto da Educação Infantil, devem estar vinculadas bem como integradas às ações desen- volvidas no Projeto Pedagógico, de forma a integrar as 33 EDUCAÇÃO FÍSICA atividades, por meio de uma sequência lógica, partin- do do simples para o complexo, permitindo que os co- nhecimentos possam ser experimentados, explorados e modificados ao longo da trajetória escolar da criança. No entanto, para que isso ocorra, segundo Kuhlmann Junior (1999, p. 64), é importante ressaltar o seguinte: [...] a educação infantil não pode deixar de lado a preocupação com uma articulação com o ensino fundamental, especialmente para as crianças mais velhas que logo mais estarão na escola e se interes- sam por aprender a ler, escrever, contar. Nesse contexto, as aulas de Educação Física na Educação Infantil passam a considerar a criança a partir de suas particularidades, considerando o fato de que, por meio do trabalho corporal realizado nas aulas — cujo traba- lho dá-se a partir da gestualidade e da corporeidade — a criança integra-se, com mais facilidade, ao universo es- colar em que se encontra inserida. A EDUCAÇÃO INFANTIL NA LEGISLAÇÃO A Educação tem sido compreendida, ao longo da his- tória, como um direito adquirido pela sociedade, cujas responsabilidades e obrigações, quanto a regulamenta- ção, organização, normatização, orientação, princípios e diretrizes, ficam a cargo do Estado. Entretanto, ao abordarmos a Educação Infantil, esse direito tem sido questionado, haja vista que a sua materialização efetiva ou consolidação, enquanto parte integrante dos direitos educacionais da criança, tem sido construída, lentamen- te, na história da legislação educacional brasileira. Mesmo com a Educação Infantil tendo surgido e se constituído como um espaço necessário já na segunda metade do século XIX, foi, apenas, na Constituição Fede- ral de 1988 (BRASIL, 1988, on-line) que ela começou a ser definida como responsabilidade do Estado, pois, até en- tão, esta etapa da escolarização das crianças de zero a seis anos não estava regulamentada de modo mais objetivo. Os questionamentos acerca da função da Educação Infantil perpassam, basicamente, as discussões e com- preensões ligadas ao entendimento de que essa tem sido uma das etapas destinadas à primeira infância, sendo formada, essencialmente, pela creche e pelo jardim de infância, seguindo o modelo adotado em outros países e, tendo, inicialmente, um caráter assistencialista bem como raras orientações de caráter pedagógico. Para explicitar estes conflitos conceituais acerca da compreensão do objetivo da Educação Infantil, pode- mos trazer os apontamentos de Souza (2007). Segundo o autor, esta dificuldade no processo de institucionali- zação da Educação Infantil acontece em função de seu percurso histórico conturbado na educação brasileira. Souza (2007, p. 15-16) afirma que: [...] a educação institucionalizada de crianças peque- nas surgiu no Brasil no final do século XIX. O setor privado da educação pré-escolar, voltado para as elites - os jardins-de-infância de orientação fröebe- liana -, já tinha seus principais expoentes no Colégio 34 Menezes Vieira no Rio de Janeiro, desde 1875, e na Escola Americana anterior a isso. No setor público, o jardim de infância da Escola Normal Caetano de Campos, que atendia à elite paulistana, foi inaugu- rado apenas em 1896, mais de vinte anos depois das fundações da iniciativa privada. O jardim de infância da Escola Caetano de Campos, cujo trabalho peda- gógico se baseava em Fröebel, tinha como princípios educativos os conteúdos cognitivo e moral. Nas duas primeiras décadas do século XX, foram implantadas em várias regiões do Brasil, as primeiras instituições pré-escolares assistencialistas. Corroborando as discussões acerca da institucionali- zação da Educação Infantil, Kuhlmann Junior (1999) afirma que a dificuldade na estruturação da Educação Infantil, enquanto um campo educacional, deu-se em função de o seu objetivo inicial estar centrado nas ques- tões assistenciais e de custódia. Além disso, o autor diz que as instituições de Educação Infantil, em geral, pre- ocupavam-se com questões relacionadas aos cuidados com a criança, sendo que as ações do campo educativo se centravam nas atividades desenvolvidas, as quais ob- jetivavam que as crianças pudessem adquirir hábitos de obediência e bondade, a identificar as letras do alfabeto, pronunciar bem as palavras, além de assimilar noções de moral e religião. De acordo com Marafon (2012), essa mudança na perspectiva de trato com a infância aconte- ceu, mais especificamente, após o final do século XIX. O atendimento às crianças de 0 a 6 anos apareceu no Brasil no final do século XIX, pois antes deste período, o atendimento de crianças pequenas longe da mãe em instituições como creches praticamente não existia. Na zona rural, onde vivia a maior parte da população, as famílias de fazendeiros assumiam o cuidado das crianças abandonadas, geralmente fruto da exploração sexual da mulher negra e índia, pelo senhor branco. Na área urbana, bebês aban- donados, por vezes filhos de moças pertencentes a famílias de prestígio social, eram recolhidos na roda dos expostos (MARAFON, 2012, p. 4-5). Caro(a) aluno(a), é importante entendermos que o movimento de legitimação e institucionalização da Educação Infantil, ao longo dos tempos, sempre esteve associado ao entendimentode que a Educação Infantil refere-se a uma instituição de ensino cuja função es- sencial está ligada à sua função social, cuja dimensão dos conhecimentos está, sempre, atrelada ao desen- volvimento das linguagens, das interações, dos jogos e das brincadeiras. Kuhlmann Junior (1999, p. 61) co- labora com essa discussão, afirmando que até o século XIX o que se observava para a Educação Infantil era uma ação vista a partir de uma “[...] filantropia que re- presentava a organização racional da assistência, em substituição à caridade, prática dominada pela emo- ção, por sentimento de simpatia e piedade”. A Educação Infantil tem apresentado, ao longo de sua história, compassos e descompassos com os objeti- vos distintos — ora preocupados com o educar, ora com o cuidar — objetivos os quais são refletidos no processo de construção legal da área. Segundo Kramer (1991), o caminho da legalização da Educação Infantil foi partir de conquistas e da valorização da infância. Haja vista que, conforme este autor, os principais marcos legais surgi- ram em 1940, com a criação Departamento Nacional da Criança, cuja finalidade era a ordenação das atividades dirigidas a infância, maternidade e adolescência, admi- nistrados pelo Ministério da Saúde. Por volta de 1950, disseminou-se a tendência médico-higiênica do Depar- tamento Nacional da Criança, por meio do desenvolvi- mento de vários programas e campanhas visando ao [...] combate à desnutrição, vacinação e diversos estudos e pesquisas de cunho médico realizadas no Instituto Fernandes Figueira. Era também forne- cido auxílio técnico para a criação, ampliação ou reformas de obras de proteção materno-infantil do país, basicamente hospitais e maternidades (KRA- MER, 1991, p. 65). 35 EDUCAÇÃO FÍSICA Ainda segundo o autor, nos anos 60, o Departamento Na- cional da Criança enfraqueceu-se e teve que transferir al- gumas de suas responsabilidades para outros setores, pre- dominando o caráter médico-assistencialista, cuja ênfase eram ações de redução da mortalidade materna infantil. E, em 1970, tem-se a promulgação da Lei 5.692/1971, a qual faz referência à Educação Infantil, apresentando de que modo ser conveniente à educação em escolas mater- nais, jardins de infância e instituições equivalentes. De acordo com Merisse et al. (1997, p. 49), “[...] essa legitimação mesmo com a Lei 5.692, de 1971, não se tinha garantias de educação para a criança que estava inserida na Educação Infantil”. Segundo estes autores, é nesse período que surge o movimento de luta por cre- ches, sob influência do feminismo, que “[...] apresentava suas reivindicações aos poderes públicos no contexto por direitos sociais e da cidadania, modificando e acrescen- do significados à creche enquanto instituição” (MERIS- SE et al., 1997, p. 49). A creche começa a aparecer como um equipamento especializado para atender e educar a criança pequena, mas que deveria ser compreendido não mais como um mal necessário, mas como alternativa que poderia ser organizada de forma a ser apropriada e sau- dável para a criança, desejável à mulher e à família. Esta instituição escolar aparecerá, então, como um serviço de direito à criança e à mulher, oferecendo a possibilidade de um atendimento complementar ao oferecido pela famí- lia, necessário e, também, desejável. Nesse sentido, a Educação Infantil configura-se a partir de orientações político-governamentais no país, oficialmente, a partir da CF de 1988, sendo afirmada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) de 1990 e pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na- cional (LDB), de 1996, documentos nos quais esta mo- dalidade de ensino é assumida como dever de Estado, sendo a educação um direito social. A Educação Infantil está assegurada na CF por meio do Art. 7º, inciso XXV, no qual se estabelece que deve ser assegurada “[..] a assistência gratuita a filhos e dependen- tes desde o nascimento até seis anos de idade em creches e pré-escolas” (BRASIL, 1988, on-line). Observe que, na CF, aparecem, ainda, os termos “creches e pré-escolas”, já que a mudança para o uso do termo Educação Infantil acontecerá, somente, na Emenda Constitucional no 14, a qual trouxe uma nova redação ao parágrafo 2º da CF: este passa a adotar o termo “Educação Infantil” ao atendi- mento de crianças de zero a seis anos (e que foi alterado, posteriormente), sendo compreendido como creche o atendimento a crianças de zero a três anos de idade, e pré- -escolas o atendimento de crianças de quatro a seis anos. Esta inserção na legislação brasileira efetiva o de- ver do Estado com o cumprimento, a organização e as normatizações para a Educação Infantil. Tal inserção, de acordo com Corrêa (2002), é considerada uma conquis- ta, haja vista que: Uma nova lógica se impõe, dado que qualquer fa- mília que deseje colocar sua criança numa creche poderá recorrer a promotoria pública para que está, baseada e fundamentada na Constituição Fe- deral, acione o Estado a fim de que este cumpra seu dever (CORRÊA, 2002, p. 19). As orientações para a Educação Infantil também se da- rão por meio do ECA, atualizado pela Lei 12.796/2013, que garante o direito ao atendimento da criança em cre- ches e pré-escolas. Entretanto a Lei 13.306/2016 altera o ECA e prevê que a Educação Infantil passa a compreen- der o ensino de zero a cinco anos. Com relação às responsabilidades administrativas da oferta da Educação Infantil, de acordo com a CF, no Art. 211 (BRASIL, 1988, on-line), e com a LDB, no Art. 11 (BRASIL, 1996, on-line), essa modalidade deve ser, 36 prioritariamente, responsabilidade dos municípios, en- quanto o Ensino Fundamental é competência compar- tilhada entre estados e municípios e o oferecimento do Ensino Médio é incumbência dos estados. A Educação Infantil na Lei de Diretrizes e Bases da Educação: Lei nº 9.394/1996 A inserção da Educação Infantil, enquanto parte cons- tituinte da Educação Básica, foi resultado de conquis- tas das mobilizações realizadas ao longo da história da Educação Infantil brasileira, haja vista que, ao pertencer à Educação Básica, passa-se a ter outras ações de desen- volvimento voltadas a este nível de ensino bem como investimentos, financiamentos, orientações pedagógicas e administrativas relacionadas aos objetivos de atendi- mento dessa modalidade de ensino. Assim, a LDB, no Art. 29, efetiva a Educação Infantil como a primeira eta- pa da Educação Básica: Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desen- volvimento integral da criança até os seis anos de idade, em seus aspectos físicos, psicológicos, inte- lectuais e sociais, completando a ação da família e da comunidade (BRASIL, 1996, on-line). Ainda de acordo com a LDB, dentre as atribuições e fun- ções da Educação Infantil, o Art. 29 destaca o fato de que a referida legislação preconiza que “cabe aos docentes à função de contribuir para que as crianças que frequen- tam esse nível de ensino construam e exerçam a sua ci- dadania” (BRASIL, 1996, on-line). Outra deliberação da LDB aponta, no Art. 29 que a faixa etária de atendimento das crianças nos espaços de creches e pré-escolas, deveriam ser realizadas, na Educação Infantil, com idade até os seis anos (BRASIL, 1996, on-line), isso porque estava vinculada ao Ensino Fundamental, cuja legislação determinava, nos Art. 5º e 6º, que este nível, enquanto um direito público subjetivo, considerava a matrícula a partir dos sete anos de idade. Entretanto este cenário se alterou com as modificações ocorridas nessa legislação, no ano de 2005, a partir da Lei 11.114 (BRASIL, 2005, on-line), que passa a con- siderar o ingresso nas séries iniciais do Ensino Funda- mental efetivado com a matrícula a partir dos seis anos de idade. Como consequência, a Educação Infantil foi modificada, também, sendo considerada, a partir dessa legislação, um nível de ensino direcionado a crianças de zero a cinco anos. O Ensino Fundamental, com ingresso e matrículaaos seis anos, de acordo com as normatizações estabele- cidas pela Lei Federal 11.274 (BRASIL, 2006, on-line), é prioridade dos municípios com a colaboração do Esta- do, enquanto o Ensino Médio é prioridade dos estados e a União deve prestar assistência técnica e financeira. De acordo com a alteração da lei, as ações pedagó- gicas consideram que os níveis de ensino apresentam as seguintes características: Educação Infantil: creche (0 a 3 anos) e pré-escola (4 a 5 anos); desenvolvimento integral da crian- ça, não existe reprovação (Art. 29 a 31). O Ensino Fundamental: (mínimo 9 anos) objetivo de desen- volver a capacidade de aprender, fortalecer os vín- culos da família, da solidariedade e tolerância. Ten- do pelo menos 4 horas de trabalho diário (BRASIL, 2005, on-line) (Art. 32-34). Com relação à atuação docente na Educação Infantil, de acordo com a LDB, Art. 62, define-se que, para ser docente na Educação Infantil, o indivíduo deverá se for- mar em “[...] nível superior, admitindo-se como forma- ção mínima, a oferecida em nível médio, na modalidade 37 EDUCAÇÃO FÍSICA normal” (BRASIL, 1996, on-line). Observe, caro(a) alu- no(a), a não existência de nenhuma orientação acerca de um trabalho docente que siga as especificidades de formação das áreas componentes do corpo de conheci- mentos pedagógicos abordados no âmbito da Educação Infantil, aceitando-se, para esse nível de ensino, a atua- ção chamada de unidocência. Esta sustentação de uma formação unidocente tam- bém está nas orientações dos Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil (BRASIL, 2006), nos quais ainda há a orientação de que os espaços da Edu- cação Infantil “[...] são construídos e organizados para atender às necessidades de saúde, segurança, descanso, interação, estudo, conforto, aconchego de profissionais e familiares e/ou responsáveis pelas crianças” BRASIL, 2006, p. 43), o que resulta, equivocadamente, na com- preensão da não necessidade de inserção de profissio- nais especializados e qualificados nas áreas distintas dos saberes e conhecimentos. A EDUCAÇÃO INFANTIL NAS DIRETRIZES As Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil também se constituíram como uma ação política que buscou efetivar os direitos dessa modalidade, os quais se consolidaram a partir da aprovação na Câmara de Educação Básica (CEB) e no Conselho Nacional de Educação (CNE) e da Resolução nº 1/1999, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, cujo objetivo centrou-se em nortear a organi- zação das propostas pedagógicas das instituições dessa modalidade. O Parecer nº 4/2000 é o dispositivo da lei responsável por dispor acerca das Diretrizes Operacio- nais para a Educação Infantil. Outra legislação significativa foi a Resolução nº 5, estabelecida pela CEB em dezembro de 2009, que esta- belece, como Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, no seu inciso primeiro do Art. 8º: § 1º [...] as propostas pedagógicas das instituições de Educação Infantil deverão prever condições para o trabalho coletivo e para a organização de materiais, espaços e tempos que assegurem: II a indivisibilidade das dimensões expressivo motora, afetiva, cognitiva, linguística, ética, estética e socio- cultural da criança (BRASIL, 2009, p. 2) Essa resolução vai ao encontro do estabelecido no Re- ferencial Curricular Nacional para a Educação Infan- til (BRASIL, 1998), no qual a disciplina de Educação Física não se encontra incluída nos eixos norteadores dessa modalidade de ensino. Entretanto a referida legislação estabelece, como objeto do conhecimen- to aplicado à Educação Infantil, o movimento como prioridade das atividades didático-pedagógicas a se- rem realizadas nesse nível de ensino. Caro(a) aluno(a), ainda se evidencia — nas legisla- ções que buscam normatizar e orientar as ações didáti- co-pedagógicas e administrativas direcionadas à Educa- ção Infantil — o assistencialismo e a preparação para o Ensino Fundamental. Porém uma preocupação ocorre em relação à qualidade do atendimento profissional: a falta de exigência na qualificação do profissional que atua nesse nível de ensino. De acordo com Campos (1999), essa preocupação com a qualificação profissional tem sido um processo his- tórico na educação. “Confirma-se por toda a parte a regra que estabelece que, quanto menor a criança a se educar, menor o salário e o prestígio profissional de seu educa- dor e menos exigente o padrão de sua formação prévia” (CAMPOS, 1999, p. 130). Esta falta de valorização se re- fletirá tanto na formação inicial quanto na formação con- tinuada dos professores que atuam nesse nível de ensino. 38 REFLETINDO SOBRE A EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL a primeira interação social da criança com a sociedade ocorre com o seu ingresso na escola, sendo nesse espaço que a criança começa a ampliar o seu entendimento de mundo, a perceber outras pessoas ao seu redor, pois é a escola que preparará o aluno a uma participação ativa e transformadora nas várias instâncias da sociedade. A Educação Infantil é um espaço no qual as des- cobertas da criança acontecem por meio da ampliação das experiências, situações e vivências corporais dessa criança com o universo que a cerca. Em geral, essas ex- perimentações com o corpo e com o movimento possi- bilitam o aluno a descobrir os seus limites, valorizando as suas potencialidades, expandindo as possibilidades para reconhecer, perceber, construir e desenvolver cada movimento, afinal, é o corpo da criança a fonte de sua comunicação social. Por meio da linguagem corporal e das experiências motoras, o aluno, na Educação Infantil, tem a oportunidade de desenvolver as suas capacidades tanto intelectuais quanto afetivas. Mesmo a Educação Infantil sendo relevante para o processo de desenvolvimento da criança, ainda exis- te uma lacuna nesta orientação, haja vista que, segundo o Art. 34 da LDB (BRASIL, 1996, on-line), a prática da Educação Física — em nível da Educação Básica — in- tegrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos. Conforme Melo (2006), ao compreender a Educa- ção Física como componente curricular, temos um novo pensar e um novo agir dos seus professores. O novo pensar é caracterizado pela necessidade de se conceber a Educação Física na escola nas mes- mas condições dos demais componentes curricu- lares, nos quais as organizações dos seus aspectos didáticas os consolidam na educação escolarizada (MELO, 2006, p. 188). A escola enquanto meio educacional, como aponta Canfield (2000), é responsável por oferecer à criança práticas motoras diversificadas, pois elas são essenciais e determinantes no processo de desenvolvimento. A esco- la é, nesse sentido, um espaço de intervenção e atuação que oportuniza a criança desenvolver-se, integralmente, logo, a Educação Infantil, por ser um nível constituinte da Educação Básica, é considerada, também, um espaço educativo no qual a intervenção e o planejamento são orientados rumo ao desenvolvimento da criança. Nessa perspectiva da Educação Infantil, a Educação Física constitui-se em uma área de conhecimento essen- cial para colaborar com esse processo, uma vez que as aulas de Educação Física ministradas por professores especializados na área, com planejamento sistematiza- do, possibilitam, por meio de conteúdos específicos e adequados a cada momento ou fase da criança, opor- tunizar a construção do conhecimento, de forma lúdica e recreativa. Afinal, como nos lembra Libâneo (1992), 39 EDUCAÇÃO FÍSICA Como vimos, caro(a) aluno(a), de acordo com a LDB (BRASIL, 2006, on-line), a Educação Infantil, sendo a primeira etapa da Educação Básica, tem, como finali- dade, o desenvolvimento integral da criança até os seis anos, em seus aspectos físicos, psicológicos, intelectuais e sociais, complementando a ação da família e da comu-nidade. Assim, a Educação Física inserida no contexto da Educação Infantil possui, como pressupostos para o trabalho, o movimento, o qual, segundo Neira (2003), é mais do que o deslocamento do corpo no espaço, mas apresentando como linguagem que permite a ação da criança sobre o meio físico e a sua atuação sobre o am- biente humano, mobilizando as pessoas com base em seu teor expressivo. O professor de Educação Física é o mediador deste processo, aquele que leva o movimento, a experimentação e a vivência motora, de forma orien- tada e planejada, para a criança. Nem sempre, entretanto, essa é a realidade do pro- fessor de Educação Física atuando no contexto da Edu- cação Infantil, pois, ainda para as turmas de Educação Infantil, não são exigidos professores licenciados, espe- cializados na área, uma vez que se permite a atuação, nesse nível, do professor regente de sala com a chamada formação unidocente. Como já destacamos, a fragilidade da formação uni- docente consiste no fato de que, muitas vezes, esse pro- fissional não está qualificado para atender às necessida- des e especificidades do currículo, dos conteúdos, afinal, segundo Zabala (1998, p. 14): o professor(a), como profissional do currículo, significa estar além do que poderia significar uma referência a ele na acepção mais habitual de pro- fissional de ensino. O professor(a) não só ensina a sua matéria ou atende à sua turma (o que reduz o seu trabalho a alguns conteúdos específicos, uma sala de aula e um grupo de alunos), mas desenvolve um currículo (ou seja, integra o seu trabalho em um projeto formativo global do qual ele mesmo faz parte); esta nova visão do professor(a) como pro- fissional do currículo exige um novo repertório de competências profissionais que vão além de uma simples atitude positiva em relação à mudança e ao trabalho coletivo. Tal realidade, porém, está sendo alterada, e estamos observando movimentos e ações que buscam promo- ver essa valorização. Como exemplo, citaremos a Lei 10.172/2001, na qual se tem as orientações rumo a uma política global de magistério, que implica a formação profissional inicial, as condições de trabalho, salário e carreira bem como a formação continuada. Caro(a) aluno(a), defendemos, aqui, a inserção do professor de Educação Física na Educação Infantil com qualificação especializada por entendermos que, a partir dessa formação específica na área, que tem o corpo e o movimento como um de seus objetos centrais, as contri- buições para a Educação Infantil são essenciais. Contudo a histórica da Educação Física, nesse nível de ensino, tem se dado, por vezes, de forma deturpada ou equivocada. Este fato acontece, segundo Sayão (1999, p. 226), porque: [...] num primeiro momento, muito mais no setor privado do que no público, com a proliferação de escolinhas infantis nas décadas de 1970 e 1980, as quais se utilizaram de elementos como o ballet, jazz, inglês, artes marciais e, mais recentemente, da informática como estratégia de marketing para atrair os pais que podiam pagar por isso. Sayão (2002, p. 59) destaca, ainda, que: [...] só se justifica a necessidade de um/a profes- sor/a dessa área na Educação Infantil se as propos- tas educativas que dizem respeito ao corpo e ao movimento estiverem plenamente integradas ao 40 projeto da instituição, de forma que o trabalho dos adultos envolvidos se complete e se amplie visando possibilitar cada vez mais experiências inovadoras que desafiem as crianças. Nesse sentido, ao defendermos a inserção do professor especializado nas aulas de Educação Física da Educação Infantil, é possível afirmar que essa ação ocorrerá a par- tir da organização e da construção de um planejamento com qualidade, o qual considere a criança, o movimen- to e a relação dela com o mundo. Afinal, como afirma Kunz (2002, p. 24): [...] a linguagem e o movimento humano podem ser considerados como diálogo com o mundo, são as poucas possibilidades que nos restam para uma me- lhor compreensão de quem somos e ter, a partir deles, uma melhor consciência do mundo em que vivemos. Por meio das aulas de Educação Física na Educação In- fantil, temos a possibilidade de oportunizarmos a am- pliação dessas vivências, expandindo, assim, os saberes e conhecimentos da criança acerca do mundo, a partir de corpo, da linguagem corporal e do movimento dela. É importante destacar que, de acordo com Libâneo (1992), cada aula é uma situação didática específica, na qual objetivos e conteúdos se combinam com pro- cedimentos metodológicos e formas didáticas, visando a, fundamentalmente, propiciar a assimilação ativa de conhecimentos e habilidades pelos alunos. A Educação Infantil vem ainda mais carregada dessa necessidade de, em cada aula, planejar, orientar, buscar caminhos dife- renciados, porque a criança, nessa fase, busca pelo novo, pelo explorar, pelo experimentar. Segundo Rolim (2004), crianças, nessa fase, são, ati- vamente, envolvidas em melhorar as suas habilidades por meio de uma variedade de maneiras, e a forma de efetivar essa ação é pelo brincar, uma vez que ele pode ser visto como o equivalente ao trabalho dos adultos, pois o brincar é o meio prioritário pelo qual as crian- ças aprendem sobre os seus corpos, além de facilitar o crescimento afetivo e cognitivo bem como fornece um importante instrumento ao desenvolvimento das habi- lidades motoras grossas e finas. Nesse sentido, as aulas de Educação Física Infantil, de acordo com Basei (2008, p. 1): [...] têm um papel fundamental na Educação Infantil, pela possibilidade de proporcionar às crianças uma diversidade de experiências atra- vés de situações nas quais elas possam criar, in- ventar, descobrir movimentos novos, reelaborar conceitos e idéias sobre o movimento e suas ações. Além disso, é um espaço para que, atra- vés de situações de experiências – com o corpo, com materiais e de interação social – as crianças descubram os próprios limites, enfrentem de- safios, conheçam e valorizem o próprio corpo, relacionem-se com outras pessoas, percebam a origem do movimento, expressem sentimentos, utilizando a linguagem corporal, localizem-se no espaço, entre outras situações voltadas ao de- senvolvimento de suas capacidades intelectuais e afetivas, numa atuação consciente e crítica. Entendendo que a criança tem as suas ca- racterísticas próprias e individuais, como o professor de Educação Física pode incluir atividades que atendam às necessidades da turma? 41 EDUCAÇÃO FÍSICA Ayoub (2001) vai além e afirma que a Educação Físi- ca na Educação Infantil costuma configurar-se como um espaço onde a criança brinca com a linguagem corporal, com o corpo e o movimento, alfabetizan- do-se nessa linguagem. Brincar com a linguagem corporal significa criar situações nas quais a criança entre em contato com diferentes manifestações da cultura corporal (entendida como as diferentes práticas corporais elaboradas pelos seres humanos ao longo da his- tória, cujos significados foram sendo tecidos nos diversos contextos socioculturais), sobretudo aquelas relacionadas aos jogos e as brincadeiras, às ginásticas e às danças, sempre tendo em vista a dimensão lúdica como elemento essencial para a ação educativa na infância. Ação que se constrói na relação criança/adulto e criança/criança e que não pode prescindir da orientação do(a) profes- sor(a) (AYOUB, 2001, p. 55). Caro(a) aluno(a), entendemos que o professor de Edu- cação Infantil é essencial em sua atuação especializada na Educação Física, porque ele é o profissional que tra- balha com o corpo, considera o movimento como ação educativa, engloba o brincar e a brincadeira como ele- mentos educativos. A Educação Física no contexto da Educação Infantil torna-se um momento cuja ludicida- de é o centro das atividades propostas. A Educação Física, nesse período, não deve se limi- tar, apenas, à brincadeira. Logo, o professor generalista, isto é, o docente que atua em sala de aula, não podeexer- cer a função sem ter a formação adequada na área. O professor de Educação Física deve planejar as aulas, organizar a sua ação didático-pedagógica e, as- sim, desenvolver um trabalho diferenciado com qua- lidade educativa, justificando a importância de sua atuação na Educação Infantil. Caro(a) aluno(a), nesta unidade, discutimos a relação entre a infância e a importância das aulas de Educação Fí- sica ministradas por professores da área para atuarem jun- to à Educação Infantil. A discussão aconteceu a partir da construção e do entendimento de que o tempo da infância é um tempo do lúdico, das brincadeiras, do faz-de-conta, do movimento, dos risos, dos choros, da exploração dos tempos e espaços e do fazer tudo de novo. Então, é por meio desse explorar que, segundo Sarmento (2004), é defi- nida a capacidade de reiteração das crianças. Para o autor, a reiteração caracteriza-se como o tem- po recursivo da infância, que se exprime em um plano sincrônico, ou seja, no qual há uma contínua recriação das mesmas situações e rotinas, mas também em um plano diacrônico, por meio do qual ocorre a transmis- são de brincadeiras, jogos, rituais e rotinas, de modo contínuo e incessante, começando tudo de novo. As aulas de Educação Física aplicadas na Educação Infantil se constituem em um espaço de interação constante, no qual o brincar é o elemento central ao desenvol- vimento das ações que levam ao apren- dizado. A criança, quando brinca de for- ma orientada, com objetivos definidos, é levada a realizar ações motoras, cogniti- vas e afetivas, em um contexto social que proporciona situações as quais a levem a desenvolver, de forma lúdica e prazerosa, as suas potencialidades. 42 Entendemos, ainda, que a atual concepção de Edu- cação Física para a Educação Infantil recebeu contribui- ções das discussões nas áreas de Psicologia, Historio- grafia, Sociologia e Antropologia. A infância brasileira, segundo documentos oficiais, por meio das políticas educacionais, perpassa o cuidar e o educar, mas busca, também, trazer orientações que levem à ampliação de oportunidades, com a criança apropriando-se de expe- riências tanto diversificadas quanto significativas para a própria humanização. Chegamos ao final desta unidade entendendo que os contextos histórico, político e social da sociedade e da educação escolar são elementos significativos para com- preendermos como deve acontecer a inserção da Edu- cação Física nos espaços da Educação Infantil. A partir deste momento, você é convidado(a) a refletir sobre as ações concretas das aulas de Educação Física voltadas à Educação Infantil, por exemplo, planejar as orientações para a organização do currículo e das aulas. Bons estudos! 43 agora é com você 1. A Educação Infantil é um espaço escolar, um nível de ensino considerado um espaço de intervenção pedagógica integrada, atualmente, à Educação Básica. Em posse deste conhecimento, descreva quais as principais legis- lações que contribuíram para a Educação Infantil se tornar um direito da infância. 2. Para as turmas de Educação Infantil, não são exigidos professores licencia- dos com formação específica em Educação Física, isso porque essa moda- lidade de ensino caracteriza-se pela intervenção profissional pautada na unidocência. Sabendo deste fato, justifique a importância de o professor de Educação Física com formação na área atuar nestes espaços. 3. Qual o papel do lúcido nas aulas de Educação Física Infantil? 4. Como explorar as potencialidades motoras da criança, nas aulas de Edu- cação Física? 5. Quais os elementos essenciais a serem considerados no desenvolvimento das aulas de Educação Física Infantil? 44 LEITURA COMPLEMENTAR Caro(a) aluno(a), buscando refletir sobre o papel da Edu- cação Infantil enquanto uma área de conhecimentos constituída a partir de uma disciplina essencial para co- laborar com o processo de ação pedagógica e desenvol- vimento da criança, trouxemos o resultado de uma pes- quisa realizada pelo Grupo de Pesquisa Educação Física Escolar CNPq/DEF/UEM da Universidade Estadual de Ma- ringá, com o intuito de discutir a presença da Educação Física nos documentos da Educação Infantil. Os resultados do estudo indicaram que a Educação Física está inserida enquanto conteúdos de ensino para a Edu- cação Infantil, entretanto não há nenhuma especificação do rompimento com a unidocência nesses espaços edu- cativos. Há de se pensar em ações e movimentos que levem à efetivação da obrigatoriedade do professor de Educação Física nesses espaços. Leia o texto, a seguir, e reflita sobre o assunto! Educação Física na Educação Infantil: Realidade ou Necessidade para essa Intervenção de Qualidade? Resumo Este trabalho tem como objetivo analisar o papel do pro- fissional de Educação Física na modalidade de Educação Infantil, por meio de documentos e legislações que regu- lamentam o ensino desta modalidade. Para isso, o estu- do recorreu a pesquisa bibliográfica, cuja coletado dos documentos orientadores da educação infantil se deu a partir da busca em acervos públicos disponibilizados por meio de sites oficiais de educação do governo federal e estadual, que tratam da especificidade da educação físi- ca infantil. Os dados foram tratados por meio da análise de conteúdo. Os resultados apresentaram como desta- que o fato de que a educação infantil possui conteúdos específicos da disciplina da área da educação física, en- tretanto os documentos legais não garantem a obrigato- riedade de professores com a qualificação da área para atuarem na área na referida modalidade. Evidenciou-se a disciplina educação física enquanto um componente curricular nesta modalidade de ensino, garantida por meio dos conteúdos a serem trabalhos no cotidiano do ensino. Entretanto, a menção a obrigatoriedade e a efe- tivação do professor de educação física nestes espaços ou modalidade de ensino não são garantidas nos docu- mentos oficiais de governo para a educação. Conclui-se que, ainda há que se fazerem estudos e investigações que acrescentem o investimento e a inserção efetiva do profissional nestes espaços de inversão, haja vista que o conteúdo é primordial, mas a garantia do professor se faz necessária de maneira clara para que o pedagógico possa ser realmente contemplado. Introdução A educação física tornou-se obrigatória nos currículos escolares, e efetivou-se como componente curricular, consolidando-se enquanto uma disciplina que possui o seu conteúdo estruturante denominado nas Diretrizes Curriculares (2007): esporte, jogos, brinquedos e brinca- deiras, ginástica, lutas, dança. E, ainda, possui os elemen- tos articuladores dos conteúdos estruturantes da educa- ção básica: o corpo, a ludicidade, a saúde, o mundo do trabalho, a desportivização, a tática e a técnica, o lazer, a diversidade étnico-racial, de gênero e de pessoas com 45 LEITURA COMPLEMENTAR necessidades educacionais especiais, a mídia. A educação física tida como um componente curricular passava a ter então sua legislação específica, sendo in- tegrada como atividade escolar regular e obrigatória no currículo de todos os cursos e níveis dos sistemas de ensino para crianças acima de 6 anos, de acordo com a promulgação da Lei 9.394/1996, artigo 7º e pelo Decreto 11.274/2006. Do ponto de vista legal, a Educação Infantil é a primeira etapa da Educação Básica e tem como finalidade o de- senvolvimento integral da criança de zero a cinco anos de idade em seus aspectos físico, afetivo, intelectual, linguístico e social, complementando a ação da família e da comunidade (Lei nº 9.394/1996, art. 29). As Diretri- zes Curriculares Nacionais (2013) propõem que para a educação das crianças da educação infantil é necessá- rios profissionais com a formação específica que atenda às necessidades básicas de todas as crianças, como as dimensões expressivo-motora, afetiva, cognitiva, linguís- tica, ética, estéticae sócio cultural. Todos esses aspectos se desenvolvem a partir das interações que as crianças estabelecem com o mundo. Ainda nas Diretrizes Curriculares Nacionais (2013) é enfa- tizado como fator de extrema importância para a criança o ato de brincar, já que este proporciona oportunida- des para o imitar, construir o novo, recriar. As crianças usam de sua fantasia para copiar o cotidiano do adulto, por isso é importante que os professores desenvolvam brincadeiras, contem histórias, conversem sobre diver- sos temas, promovendo sempre a capacidade infantil de conhecer o mundo e a si mesma. Por isso o planejamen- to político-pedagógico deve sempre tratar de atividades educativas incluindo a segurança, acolher as crianças, ali- mentar sua curiosidade, a ludicidade e a expressividade infantil. Tendo esse conhecimento, o estudo originou-se da in- quietude lançada pela problemática: se a educação in- fantil está entrelaçada com os conteúdos da educação física, como o professor qualificado na área específica da educação física está inserido nesse contexto? Para tanto, buscando responder essa inquietude a pesquisa realizada objetivou analisar o papel do profissional de educação física na modalidade de educação infantil, por meio de documentos e legislações que regulamentam o ensino desta modalidade. Este estudo tem como característica a ser descrito como um estudo bibliográfico que é definido por Cervo e Ber- vian (1983), tendo como subsídios documentos legislati- vos e orientadores tratados a partir da análise de conte- údos. Para que pudéssemos entender o quão importante é a atuação de um professor de educação física na área da educação infantil, primeiramente, temos que entender como que regem as leis do Estado, ou seja, analisar toda a sua estrutura e saber como é planejado e como o Es- tado vê a educação brasileira. Desse modo, por meio de suas políticas educacionais, públicas e sociais consegui- mos entender como que funciona toda essa base cons- truída para manter a sociedade. A partir da construção desse itinerário infância, foi ne- cessário que o governo pudesse qualificar profissionais para atender essas crianças com qualidade. A qualidade para a educação infantil começa na educação infantil, onde profissionais capacitados iniciam a alfabetização 46 LEITURA COMPLEMENTAR de crianças que serão preparadas futuramente para o mercado de trabalho. “É necessário então uma organi- zação eficaz capaz de fazer com que seus alunos obte- nham independentemente da sua origem sociocultural e econômica, níveis elevados de rendimento acadêmico” (ZABALZA, 1988, p. 36). É necessária a educação para que possam existir pro- gressos pessoais que talvez sem essa formalização não fosse possível alcançá-los, é assim que vemos a impor- tância para que haja a educação para todos os tipos de crianças, incluindo todas as classes sociais e econômicas. Sendo assim, o profissional da educação ajuda para po- tencializar, reforçar e multiplicar o desenvolvimento da criança (ZABALZA, 1998). Desse modo, o professor/educador precisa refletir acer- ca da importância e o papel das brincadeiras no seu trabalho e deve fazer de todas as atividades de cuidar e educar um brincar. A deliberação 003/99, do Conselho Estadual de Educação em seu art. 6º, ressalta que a edu- cação infantil deve cumprir suas duas funções: cuidar e educar, sendo estas indispensáveis e indissociáveis, para promover o bem-estar da criança, seu desenvolvimento físico, motor, intelectual, emocional, moral e social, esti- mulando a criança a interessar-se pelo processo do co- nhecimento do ser humano, da natureza e da sociedade. Isso deve ocorrer, num processo prazeroso, que valorize o lúdico, a cultura, as múltiplas formas de comunicação, diálogo e interação. Conclusões Os dados indicaram que o trato dos conteúdos da edu- cação física na educação infantil, estão presentes de forma recorrente. Entretanto, se faz necessário a in- serção e obrigatoriedade nos documentos legislativos e orientadores da educação infantil que destaquem para a necessidade de professores qualificados de educação física para atender a todas as crianças nos centros de educação infantil pois há que se destacar que esse profissional contribuiria de forma significa- tiva para o processo de desenvolvimento infantil em função de sua formação específica. Fonte: Carmo e Souza (2016, p. 1-4). 47 material complementar Tratado com seriedade, o direito de brincar é o tema deste documentário que aborda o conceito de “espírito lúdico” e convida para a reflexão do desenvolvimento do ho- mem adulto. Um documentário incrível, dirigido por Cacau Rhoden e produzido pela Maria Farinha Filmes e pelo Instituto Alana, fala, exatamente, sobre um dos melhores remédios para a vida toda: a brincadeira. “Quando você perde a capacidade de brincar, você perde uma conexão com a sua essência”. Em uma referência a adultos e crianças, a frase é do ator Domingos Montagner e faz parte da abertura de Tarja Branca – A Revolução que Faltava. Para acessar, use seu leitor de QR Code. O professor e pesquisador Jorge Alberto de Oliveira, do Laboratório de Pedagogia do Movimento Humano (Lapem), traz uma excelente contribuição acerca dos principais aspectos a serem considerados no desenvolvimento da criança e que são essenciais para pensarmos tanto no planejamento quanto no desenvolvimento de nossas aulas na Educação Infantil. Para acessar, use seu leitor de QR Code. Dr. Amauri Aparecido Bássoli de Oliveira Dra Vânia de Fátima Matias de Souza Oportunidades de aprendizagem • Compreender as etapas do planejamento para as aulas de Educação Física. • Apresentar indicadores da organização do planejamento das aulas de Educação Física. • Refletir sobre a relevância do planejamento para as aulas de Educação Física. Plano de Estudo • Planejar é Imprescindível • Como Pensar a Educação Física de Forma Sistematizada • Caminhos para o Processo de Estruturação dos Conteúdos da Educação Física PLANEJANDO A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR unidade III 50 para que você possa, autonomamente, em um futuro profissional próximo, ter a condição de organizar um plano educacional à Educação Física escolar. Vamos ao trabalho! PLANEJAR É IMPRESCINDÍVEL Ao longo da história, a Educação Física percorreu cami- nhos acidentados e, até o presente momento, esta discipli- na ainda busca construir caminhos mais suaves. Houve muita problematização em nossa tradicional Educação Física escolar, desde a sua forma de se colocar no contex- to educacional como atividade até o fato de se submeter, incondicionalmente, à prática do esporte-performance, entendendo-se como formadora de atletas e responsável pelo sucesso esportivo nacional. Grande engano! Inicialmente, houve a busca pelo desmantelamen- to desta concepção tão equivocada quanto limitada da área, colocando a Educação Física como integrante do processo educacional e com uma participação que supe- ra a visão reducionista da atividade. Nesta empreitada, podemos afirmar que a Educação Física escolar avan- çou, significativamente, em todos os sentidos, mas pre- cisamos avançar muito mais. A educação, de forma geral, assim como as demais áreas, possui propostas que se baseiam em pressupostos de concepções distintas de indivíduo e sociedade. Isso se reflete na forma propositiva de cada vertente, com indicativos, por vezes, similares, mas que trazem raízes e intencionalidades diferentes. Por isso, ao ler uma pro- posta, faz-se necessário saber as suas raízes, proponen- tes e intencionalidades. Dessa forma, um aspecto assume papel preponde- rante nesta tarefa de apresentar uma área de conheci- mento no processo educacional: o planejamento. Este é o elemento central que nos auxilia a valorizar e a colocar as nossas expectativas em curso no processo educativo. Assim, nesta unidade, você será capaz de visualizar como podemosorganizar a Educação Física escolar bem como os seus conteúdos, dando sequência lógica ao lon- go dos anos escolares, respeitando o desenvolvimento dos alunos e o grau de complexidade exigido para cada tema estabelecido. Essa organização visa a capacitá-lo(a) O ato de planejar se aplica a todas as atividades de nos- sas vidas. Se não houver cuidado e atenção a este ato, corremos o risco de desenvolvermos ações sem sen- tido e significado aos propósitos idealizados. É como pensarmos em ir ao mercado para fazermos compras e não termos clareza de quais mantimentos precisamos, quanto dinheiro temos e o quanto é necessário, como transportaremos as compras e se ir ao mercado seria a melhor opção, uma vez que, na feira do produtor, seria, talvez, mais barato. Se as etapas bem como os detalhes não estiverem bem organizadas, as compras poderão ser um verdadeiro desastre. Este é um simples exemplo de nosso cotidiano para demonstrar que planejar está in- cluído nas mais corriqueiras atividades. EDUCAÇÃO FÍSICA Ao pensarmos o ato educativo, temos a mesma situ- ação, mas com agravantes futuros muito mais comple- xos, os quais podem decorrer de: falta de planejamento, desinteresse dos alunos, desvalorização da área de co- nhecimento, entendimento de perda de tempo e muitos outros problemas que comprometem várias gerações. Dessa forma, pensar, antecipadamente e com rigor es- trutural, se coloca como estratégia básica para o sucesso educacional. Em específico, ao observar as aulas de Educação Fí- sica, se não for alguém da área, é possível ter a impressão de que elas não exigem planejamento, pois são crianças brincando ou jogando sem demonstrar preocupação com algum objetivo que não seja o de se divertir e/ou ganhar. É óbvio que isso é um sério erro de interpretação e, também, uma visão de leigos sobre a área. Mas se os leigos podem ter essa visão é porque nem sempre nos preocupamos em despertar neles visões para além das atividades. Este é um cuidado pedagógico que os pro- fessores de Educação Física precisam ter, ou seja, fazer com que os participantes das aulas consigam enxergar para além da diversão e da movimentação. É fundamen- tal que se demonstre aos participantes o sentido, o sig- nificado, a importância bem como a utilidade do que é trabalhado nas aulas de Educação Física. O professor de Educação Física deve ter claro que todas as ações desenvolvidas em suas aulas precisam ser muito bem organizadas e estruturadas, pois delas decor- rem o aprendizado e a futura autonomia dos alunos para que eles sejam capazes de usufruir desses conhecimen- tos em suas vidas. Nesse sentido, selecionar, adequadamente, os obje- tivos, os conteúdos, os procedimentos metodológicos e avaliativos, coloca-se como vital para o sucesso das au- las e, também, para a valorização dessa área enquanto integrante do processo educacional. Se não houver tal preocupação, estaremos mantendo uma atividade na es- cola ao invés do desenvolvimento de um componente curricular, como foi bem salientado na Unidade I. As Etapas do Planejamento e a Relevância Delas O planejamento é uma ação pedagógica que deve ocorrer de forma integrada a todos os acontecimentos escolares, além de deve en- volver, nas discussões, toda a comunidade escolar, pois, somente, dessa forma o conhe- cimento tem chances de chegar ao aluno de forma significativa, com objetivos possíveis de se concretizar. Acesse: https://novaescola. org.br/conteudo/295/planejamento-escolar. 52 Os alunos do 5º ano chegam para a aula e perguntam: “professor, o que teremos na aula, hoje?”. O professor responde: “hoje, vamos brincar de bola queimada”. Um aluno problematiza: “mas de novo, professor?”. “Sim”, res- ponde o profissional. Outro aluno questiona: “mas por que a queimada?”. “Porque eu já planejei esta atividade”, o professor responde. Boa parte dos alunos foi para a brin- cadeira e os que não queriam, ficaram conversando e/ou fazendo outras atividades durante a aula. No fim, os alu- nos despedem-se do professor e vão para a sala de aula. Nesta experiência, podemos questionar: • Este exemplo de aula é muito comum nas escolas brasileiras? • O professor possuía um planejamento? • Os alunos participaram da elaboração do plane- jamento da disciplina? • As atividades estão de acordo com os interesses e as necessidades dos participantes? • O que os alunos levaram para suas vidas, de rele- vante, desse exemplo de aula? • Qual será a ideia que esses alunos carregarão consigo sobre aulas de Educação Física e sobre esse professor, ao longo de suas vidas? As respostas a estas questões não são favoráveis ao pro- fissional e à área da Educação Física. Mesmo que tenha ocorrido certa evolução na produção do conhecimento da área, ainda sofremos com práticas descontextualiza- das e frágeis, pedagogicamente. O exemplo citado carrega um processo histórico que denigre a imagem da área, além de fortalecer, no ima- ginário social, uma imagem muito desfavorável ao pro- fissional da Educação Física e da própria área. Essas crianças, com certeza, integrarão a sociedade em postos de trabalho, serão pais e mães e carregarão consigo uma imagem deplorável de suas experiências escolares com a Educação Física. Para mudar tanto este quadro quanto esta prática, o professor precisa ter clareza da importância de orga- nizar os conhecimentos a serem trabalhados na escola. O tempo que se tem com as crianças é curto, portanto, ele precisa ser valorizado, em cada segundo, com opor- tunidades de aprendizagem. Desse modo, não é reco- mendado ter tempo ocioso no processo educacional, e todas as ações devem ter o compromisso de contribuir com o processo formativo e informativo dos alunos. As atividades vivenciadas devem estar encaixadas em pro- pósitos que levem os alunos a patamares cognoscentes, sociais, afetivos e motores superiores. Aqui, utilizaremos o termo trabalhado pelo professor Manuel Sérgio (2005, p. 50): “Transcendência é o ato de ultrapassar os estágios anteriores e atingir novos estágios de desenvolvimento em cada um dos domínios trabalhados”. Em relação às etapas do planejamento, elas não fo- gem às etapas que estão apresentadas na Figura 1, in- dependentemente das diversas propostas educacionais que surgem. Essas etapas colocam-se como o alicerce de qualquer planejamento, um caminho a ser observado e atendido, a fim de haver coerência no que se pretende com a disciplina trabalhada. Assim, de acordo com Oli- veira et al. (2009), para se pensar em um planejamento, é necessário seguir um esquema coerente e coeso com a finalidade de obter o sucesso das suas aulas. Veja, a seguir, as indicações dos autores para a elabo- ração de um bom planejamento. Se consideramos o planejamento integrado às necessidade e realidade da criança e da comunidade escolar, é possível afirmar que ele deve ser flexível, não engessado? EDUCAÇÃO FÍSICA O Diagnóstico Quais são os elementos culturais da comunidade e como eles podem intervir em relação às atividades sociais? O diagnóstico se coloca como o ponto de partida de um planejamento, afinal, saber para quem e com quem se planeja é de fundamental importância para haver har- monia e sucesso. Nesse sentido, alguns pontos são im- portantes de serem considerados e observados nesse levantamento. Os veremos, a seguir. Como é a localidade em que se insere a escola? Lembre-se sempre que a escola não está em uma abóboda, então, não deve ser considerada fora da reali- dade do seu entorno. Assim, mapeie a população com a qual você interagirá: nível socioeconômico, sexo, idade, densidade demográfica. Levante a infraestrutura da lo- calidade bem como os pontos de convivência e esporte que são disponibilizados. Figura 1 - Etapas do planejamento / Fonte: Oliveira et al. (2009, p. 242). 54 Quais são os hábitos locais em relação às ativi- dades sociais? Não deixe de verificar como a comunidade se diver- te e faz uso do tempo livre. Tente mapearas brincadei- ras, os esportes praticados, as danças e festividades mais frequentes e características do local. Quais são os problemas sociais que a localidade enfrenta? As escolas estão cada vez mais vulneráveis. Nesse sentido, verifique se, na comunidade, há problemas rela- cionados a drogas, gangues e delinquência de forma ge- ral. Você precisa se preparar para futuros enfrentamen- tos e, se necessário, deverá saber como agir. No curso de formação, você não terá acesso a todo tipo de infor- mação necessária, portanto, precisa ter iniciativa para verificar como a sua comunidade vivencia os problemas sociais e tentar se preparar, adequadamente. Quem serão os alunos atendidos? Este ponto é vital. Ter o perfil do seu grupo de alunos é imprescindível para que não haja equívocos no plane- jamento. Portanto, tenha clareza sobre idades, sexo, re- lação idade/série, histórico na escola, características das turmas, assim como as atividades físico-esportivas que costumam praticar, também não deixe de verificar como é o processo histórico da Educação Física na escola. Este panorama geral facilita a organização de ações pedagó- gicas para futuras mudanças e com qual ritmo elas po- dem ser realizadas. Estas questões devem, de forma inicial, apresentar um quadro real da situação em que se encontra a escola e a localidade com a qual você estará se relacionando. Por isso, são imprescindíveis de serem levantadas, a fim de contribuir no processo de planejamento que aconte- cerá a partir destas informações gerais. Objetivos De acordo com Oliveira et al. (2009, p. 246-247): [...] após a elaboração do diagnóstico e de sua res- pectiva análise, inicia-se a fase de estruturação dos objetivos. Nesta fase, perspectiva-se um futuro e o projeta em etapas por meio dos objetivos que se definirão como alvos de suas atuações ao longo do período que compreende o planejamento. Os obje- tivos devem expressar as intenções, o que se busca com o desenvolvimento da disciplina. [...] Para que haja harmonia na estruturação e hierar- quização dos objetivos, é importante que se atente para o fato de que deve haver relação direta entre eles. Os objetivos específicos são parcelas menores que, unidas, devem favorecer ao atendimento ple- no do objetivo geral. Nesse cenário, os autores destacam o fato de que alguns cuidados são necessários para manter a relação entre os objetivos: • Especificar o conhecimento para assimilação e sua aplicação na vida cotidiana (o que meu aluno pode levar para sua vida); • Garantir a sequência lógica para compreensão conjunta (organizar os objetivos de maneira que avance para um estágio posterior, garantindo aquisição de informações necessárias para tare- fas futuras); • Garantir a clareza dos objetivos, fazendo com que os alunos percebam que os mesmos são seus (que o aluno se perceba como parceiro na con- cepção e desenvolvimento dos propósitos da dis- ciplina, assim como saiba aonde se pode chegar com o que está sendo perspectivado); EDUCAÇÃO FÍSICA • Oferecer graduação nas experiências, tornando o ensino motivante (que o desafio seja mantido para o grupo de alunos e sirva como fator esti- mulante à sua superação - transcendência); • Organizar objetivos para verificar resultados que permitam o controle avaliativo (os obje- tivos devem possibilitar meios de comparação entre início e fim das ações) (OLIVEIRA et al., 2009, p. 247). Para Oliveira et al. (2009), a Educação Física escolar se constitui a partir da perspectiva do esporte educa- cional, considerando os princípios pedagógicos par- ticipantes e emancipatórios. Seguindo estas premis- sas, as aulas serão desenvolvidas tendo um princípio educacional formativo constante, no decorrer do seu desenvolvimento. geral, ou seja, são os caminhos que se percorrerá para chegar ao final de um processo”. E, ainda: Esses objetivos podem ser temporais ou temáticos. Assim, ao determinar os objetivos gerais, devem-se escolher quais podem ser os melhores caminhos para atingi-los num período específico de tem- po, por exemplo, em um mês com dez/doze aulas (OLIVEIRA et al., 2009, p. 248). Considerando os objetivos gerais exemplificados, an- teriormente, estabelecemos objetivos específicos para um mês de aula, sendo três aulas por semana. Os pro- fessores deverão atentar-se à estruturação de objetivos específicos que consigam demonstrar, claramente, os caminhos a serem seguidos, a fim de alcançar o pleno objetivo geral traçado para a disciplina. É importante observar que os objetivos específicos exemplificados tratam, apenas, de uma parte do que se pre- tende com os objetivos gerais idealizados, anteriormente. A partir dos específicos, outros deverão ser organizados com vistas a atender, plenamente, aos gerais. Esse foi apenas um exemplo de uma pequena parcela a ser organizada. É imprescindível que os professores considerem a realidade de cada turma de alunos, por isso, a importân- cia do diagnóstico. Do contrário, o planejamento não surtirá o efeito desejado. A Seleção e Organização dos Conteúdos Após a estruturação dos objetivos para a disciplina, vem o momento de selecionar e organizar os conteúdos que serão trabalhados durante o ano. Dando sequên- cia às atividades desenvolvidas até aqui e com base no que o diagnóstico demonstrou, deve-se ter claro que os conteúdos precisam ter relação com os dados levanta- dos e a realidade do local onde a escola está inserida. É fundamental que se tenha clareza da intencionalidade demonstrada no objetivo construído e partilhá-lo com todos os alunos para que estejam cientes das intenções e propósitos gerais dos trabalhos a serem desenvolvidos. Os alunos precisam ser corresponsáveis pelo desenvol- vimento da disciplina! Conforme Oliveira et al. (2009, p. 248), quando nos referimos aos objetivos específicos, deve-se levar em consideração o fato de que eles “[...] devem ser organi- zados em função do que se designou enquanto objetivo Unidade de tempo é entendida como um pe- ríodo necessário para o desenvolvimento de determinadas atividades, podendo ser uma unidade mensal, bimestral, trimestral, qua- drimestral, ou, mesmo, semestral. 56 Dois aspectos precisam ter a atenção do professor, em especial: • É muito comum trabalhar conteúdos que são de domínio do docente e do grupo. • A vivência de novos conteúdos e conhecimentos exige estudo, dedicação e convencimento, o que, por vezes, provoca limitações de novas experi- ências. Estes dois aspectos devem ser, continuamente, cuida- dos, pois a escola é o ambiente no qual os alunos pre- cisam ter a chance de novos conhecimentos e vivências. Trata-se de um processo que exige o comprometimento de todos, além de ser um exercício que, como forma de treinamento, deve ser contínuo. É necessário aprender a dar chances ao novo, ao desconhecido e às novas expe- riências — sendo elas positivas ou negativas — de todas elas, há a possibilidade de extrair conhecimentos impor- tantes a nossas vidas. Este destaque foi dado, nesse momento, pois é co- mum que, nas aulas de Educação Física, por consequ- ência da falta de uma organização mais consistente e vinculada aos demais conhecimentos da formação, tra- balhe-se conteúdos esportivos vinculados, somente, às vivências dos professores. Por exemplo: um professor que é técnico de handebol trabalha, apenas, essa moda- lidade ao longo dos diversos anos escolares. Com isso, os alunos são obrigados a vivenciar, somente, o handebol, sem a chance de novas experiências. É fundamental entender que os conteúdos reúnem conhecimentos organizados, de forma pedagógica e di- dática, tendo em vista a aplicação prática na vida dos alunos (LIBÂNEO, 1994). Seguindo as palavras de Oliveira et al. (2009, p. 251): [...] deve-se considerar que os conteúdos são uma herança cultural diversificada e têm uma relação com a vida dos alunos. A Educação Física pode abarcar muitos conhecimentos e precisa ter clareza na seleção a ser feita paraos diversos anos escola- res. Por último, é necessário entender que a docência exige contínuo estudo e aperfeiçoamento. Um professor não deve se limitar à sua formação inicial. Ele deve estar atento para elaborar estratégias de ensino que contem com as novidades surgidas na área. A Natureza dos Conteúdos De acordo com Oliveira et al. (2009), os conteúdos sem- pre estão no cerne das discussões de programas de en- sino, devem ser considerados e elencados, considerando todas as possibilidades de utilização. Assim, os autores propõem um novo olhar sobre esses conteúdos. Desse modo, exemplificaremos utilizando as regras dos esportes e/ou jogos e brincadeiras (para qualquer um deles serve o exemplo). A natureza básica deste con- teúdo — regras dos esportes — é apresentar a orga- nização dos esportes. Ao ensinar como essas regras se relacionam com as nossas regras sociais de convivência ou como se aplicam ao nosso cotidiano, o conteúdo pro- posto é apresentado sob um novo olhar. Trata-se de en- sinar as regras dos esportes fazendo uso da transcendên- cia desse conteúdo básico, ou seja, um olhar ampliado e complexificado. EDUCAÇÃO FÍSICA Fatos e Conceitos Segundo Oliveira et al. (2009), os conceitos — os quais, em geral, são abstratos e estão ligados às compreensão e memorização dos fatos vivenciados — permitem a interpretação sobre os significados. Quanto mais compreensão dos conceitos houver, mais fatos são aprendidos. Dessa forma, segundo Oliveira et al. (2009, p. 254), “[...] há um grande desafio para o professor de Educação Física: como escolher e organizar conteúdos conceituais e utilizá-los em aulas de práticas esportivas”. Procedimentos Para Oliveira et al. (2009), os conteúdos de ordem proce- dimental estão ligados ao “fazer”, à ação propriamente dita. Aqui, cabe a ressalva de que a Educação Física é acu- sada, continuamente, de se embasar, somente, nos pro- cedimentos dos conhecimentos que são trabalhados. Dada a aproximação com os aspectos práticos da disci- plina, por vezes, as ações se reduzem a vivências sem a devida atenção aos demais aspectos conceituais e atitu- dinais. Aqui, todo cuidado é pouco! Se o professor não ficar atento e não cuidar, de forma adequada, das ações, elas correm o risco de serem reduzidas a atividades com fim em si mesmas. Atitudes Segundo Oliveira et al. (2009, p. 211): “As atitudes refe- rem-se à personalidade, às ações que os indivíduos têm numa relação. [...] é preciso considerar que as atitudes abrangem valores e normas de comportamento, de na- tureza relacional”. Sob essa perspectiva, de acordo com Oliveira et al. (2009, p. 211), “[...] é preciso considerar que todas as práticas esportivas têm uma dimensão conceitual, pro- cedimental e atitudinal, naturalmente em alguns casos predominam uma ou outra dimensão, mas todas estão presentes”. Critérios para a seleção dos conteúdos Além dos aspectos já salientados para a seleção e orga- nização dos conteúdos, há a necessidade de cuidar de al- guns critérios destacados por Piletti (1997). Aqui, se en- fatiza o fato de que os conteúdos da Educação Física são conteúdos de aplicação e utilização imediata dos alunos, ou seja, ao finalizar a aula, os alunos já podem usufruir desses conteúdos nos seus cotidianos. Contudo o pro- fessor precisa estar atento e, continuamente, demonstrar aos alunos como isso pode ser aplicado. A seguir, veremos indicações de critérios que devem ser cuidados nessa seleção de conteúdos. 58 Estratégias Metodológicas Agora, chegou o momento de se definir pelo caminho metodológico: como apresentar e desenvolver os con- teúdos selecionados? Qual a melhor forma e estratégia para isso? Como envolver os alunos? De que modo aproveitar os momentos, a fim de que sejam ricos, peda- gogicamente, e que todos possam enxergar e aproveitar, em seus cotidianos, os temas trabalhados? Nem sempre conseguiremos atender, por meio de nos- sas aulas, a todos estes questionamentos, mas é importante entendermos a importância das estratégias. A estratégia é o caminho, o rumo, o percurso utilizado para atingir os ob- jetivos determinados. A escolha dela está relacionada aos conteúdos que serão desenvolvidos e às características do grupo de alunos. Quanto mais próximo do aluno, maiores as chances de acertar a escolha metodológica. A Pedagogia e a própria Educação Física possuem muitas opções de caminhos, contudo, para facilitar um pouco este trabalho, utilizaremos os conceitos de me- todologia de ensino apresentados por Libâneo (1994): exposição do professor; trabalho independente; elabo- ração conjunta; trabalho em grupo; atividades especiais. Tais conceitos colocam-se de forma global bem como abarcam procedimentos essenciais ao que podemos de- nominar “bom trabalho metodológico”. De acordo com Oliveira et al. (2009, p. 212), no con- texto escolar, [...] todas essas situações entendidas, discutidas e re- fletidas a partir das práticas corporais, podem gerar apropriação de conhecimentos significativos para os alunos. Entretanto, é preciso entender que, para o desenvolvimento dos conteúdos, o professor pode (deve) optar por uma ou mais estratégias. Tudo vai depender do estágio de desenvolvimento e de que recursos o grupo constituído precisa para se apro- priar dos conhecimentos e vivências trabalhadas. Veja, a seguir, o exemplo: Figura 2 - Critérios de seleção dos conteúdos / Fonte: adaptada de Piletti (1997). EDUCAÇÃO FÍSICA Rugby – Adaptação das regras do jogo para a in- clusão O rugby tem um histórico de ações viris e que exi- gem muita força! O objetivo, nesta aula, será se organizar a atividade de forma que todos possam ter chances iguais de participação no rugby. Organização da ação 1. Apresentação do rugby e suas regras. 2. Apresentação de um vídeo do jogo com destaque às regras centrais do esporte. 3. Verificar junto ao grupo quais são as exi- gências motoras básicas para participar do jogo. 4. Discussão sobre as possibilidades de parti- cipação de todos. 5. Reorganização das regras de forma que todos possam ser contemplados e valoriza- dos no jogo. 6. Vivência das ações e reorganização das re- gras e ações tantas vezes quantas forem necessárias, para o atendimento aos pro- pósitos de valorização pessoal, participação e cooperação. Metodologias envolvidas Exposição verbal do professor com o objetivo de nivelar o entendimento de todos sobre o jogo, as suas regras e exigências físico-motoras. Demonstração por intermédio de vídeos e exposi- ções práticas. Trabalho conjunto no qual os alunos, cooperativa- mente, discutem as ações e formas de como adaptar o jogo à realidade do grupo e as suas possibilidades. Estratégias As estratégias utilizadas para colocar os conteúdos em prática serão: • Exposição do professor. • Trabalho independente. • Trabalho em grupo. • Elaboração conjunta. • Atividades especiais. Tais estratégias serão utilizadas de acordo com o momento de ensino no qual a modalidade esportiva estiver. Exemplo 1: quando o ensino de determinada prática corporal estiver no início, haverá a exposição do professor, para que os alunos entendam o conceito da atividade e, depois, praticá-la. Exemplo 2: quando determinada prática corporal já tiver sido, de certa forma, assimilada, passa-se à utilização do método de trabalho independente, momento no qual os alunos poderão praticar, auto- nomamente, e criar sobre as formas pré-concebidas do próprio esporte. Exemplo 3: quando for identificado que os alunos têm condição de trabalhar em grupo e solucionar problemas de forma não conflituosa, será utilizado o trabalho em grupo. Este é o momento fulcral da criação e adaptação, pois os alunos poderão alterar, substancialmente, o desenho geral do esporte e or- ganizá-lo de acordo com seus interesses, vontades e condições físico-motoras. Como é possível verificar, várias estratégias, em uma aula, podem ser utilizadas. Este cuidado o professor precisa tomar sempre que planejar as suasações, porque é a partir dessa organização que resulta o sucesso da aula. 60 Visando ao fechamento deste tópico, apresentamos algumas recomendações baseadas no trabalho de Pal- ma, Oliveira e Palma (2010). Estes autores indicam os cuidados e as ações que os professores precisam ter no desenvolvimento das aulas: Recursos Chegamos ao aspecto relacionado aos recursos disponi- bilizados para as aulas. No Brasil, ainda há muita carência de recursos, sejam eles físicos, sejam eles materiais e há, até mesmo, carência de pessoal. Nesse sentido, dobra-se o cuidado ao se planejar, pois há a necessidade de prever muito bem o que se tem disponível para o que se pre- tende oferecer aos alunos. Por outro lado, não podemos nos acomodar, correndo o risco de deixar de improvisar e enriquecer as nossas práticas, quando não houver ma- teriais e/ou espaço suficientes às ações. O professor pre- cisará partir tanto para os processos adaptativos quanto criativos, a fim de deixar a sua disciplina estimulante. Avaliação Conforme Oliveira et al. (2009, p. 263), a avaliação nas aulas de Educação Física deve ocorrer de forma contí- nua, sendo “[...] refletida e discutida, em conjunto (pois isoladamente não se consegue despir de valores), na es- cola, para assim resignificá-la”. Os autores descrevem que os objetivos a serem ava- liados devem ser: Proporcionar às crianças situações nas quais elas se- jam capazes de inventar, construir, reelaborar con- ceitos e ideias, numa atuação tão consciente quanto crítica, repleta de significado e significância, evitan- do, assim, a reprodução de ações provenientes das gerações anteriores, portanto, deve-se promover aprendizagens, significativamente, construídas. A valoração e consideração devem ser dadas aos mo- mentos bem como aos conhecimentos construídos e vividos, intensamente. Possibilitar situações as quais ofereçam vivências de movimentos corporais sob várias formas, para que os alunos reflitam sobre as suas ações, compreen- dem a sua utilização, identificando-as nas diversas tarefas do cotidiano. As atividades propostas nas diversas situações de uma aula devem possibilitar a compreensão das razões de se vivenciar as manifestações culturais — esporte, dança, jogo, ginástica e lutas — estudando, com mais profundidade, aquelas que fazem parte do contexto estudado. Ao organizar as situações das aulas, para as vivên- cias das formas culturais, deve ser possibilitado ao aluno identificar as ações motoras que acontecem quando ele as vivencia. As ações e atividades propostas devem, também, favorecer, em amplitude e profundidade, a amplia- ção dos conhecimentos que o aluno possui sobre o ato de movimentar, para que esse aluno contribua na construção do conceito de corpo e se perceba como um corpo em movimento e com possibilidades diferentes de ação. As ações docentes devem ser organizadas e plane- jadas de modo a possibilitar que o aluno construa esquemas de ação — habilidades motoras — o que contribui na tomada de consciência de sua corporei- dade e das ações próprias como operações. EDUCAÇÃO FÍSICA [...] reais, apontam as capacidades que se quer atin- gir e estão relacionados com a cultura do local, se- ria simples avaliar, porém quando o planejamento de ensino é uma ação burocrática e os conteúdos são desenvolvidos sem considerar os interesses e as necessidades do grupo, avaliar é algo praticamente impossível. (OLIVEIRA et al., 2009, p. 263). De acordo com Oliveira et al. (2009), pode-se con- siderar, para o acompanhamento e desenvolvimento das aulas, alguns instrumentos voltados à avaliação dos alunos: ficha de acompanhamento individual; de acompanhamento de turmas e de autoavaliação; en- trevistas e questionários com os alunos. Oliveira et al. (2009, p. 264) destacam, ainda, que “[...] os conteúdos devem ser tratados em sua dimensão conceitual, procedimental e atitudinal, logo a avaliação deve utilizar instrumentos que identifiquem a assimila- ção desses conteúdos”. Assim, a avaliação deve: • Verificar como o aluno utiliza os conceitos ora apresentados pelo professor e os relaciona com a sua vida; • Observar se o aluno demonstra satisfação na re- alização das manifestações corporais, dentro de suas limitações e capacidade de execução, não impondo um padrão a ser alcançado; • Identificar se o aluno demonstra assimilação conceitual e procedimental das práticas corpo- rais e se essas efetuaram transformações na forma de comportar-se frente às atividades e ao grupo a que pertence (OLIVEIRA et al., 2009, p. 264). Para Oliveira et al. (2009, p. 265), “[...] a avaliação não pode centrar-se nas respostas prontas e decoradas ou na execução perfeita de movimentos específicos de moda- lidades esportivas”. Lembre-se que a avaliação deve oportunizar que o aluno demonstre autonomia para solucionar os proble- mas, incorporando valores, conceitos, conhecimentos e saberes à sua prática cotidiana. Fundamentação Teórica Todo plano deve ter, como base, uma fundamentação te- órica. Não é possível existir um planejamento sem que o professor se atente aos pressupostos teóricos os quais fundamentam tal planejamento. A base central para isso, dentro da escola, será o Projeto Pedagógico. Portanto, o professor, ao elaborar o plano de sua disciplina, não deve negligenciar os pressupostos definidos pela equipe peda- gógica da escola bem como a matriz geral curricular. É evidente que, para a elaboração do Projeto Peda- gógico da escola, os professores e demais integrantes da estrutura escolar devem participar, efetivamente. Con- tudo nem sempre tal recomendação é acatada, ficando essa organização sob a responsabilidade de poucos, o que se coloca como um sério erro de gestão. Dessa forma, fica o alerta: envolva-se, participe, exi- ja, demonstre a importância da disciplina sob a sua res- ponsabilidade, verifique os pressupostos gerais da esco- la, atualize-se, ou seja, mantenha-se por dentro de todas as ações de sua escola, isso é fundamental para os alunos se sentirem seguros frente a tudo que vivenciam dentro dela e que deve servir às suas vidas. COMO PENSAR A EDUCAÇÃO FÍSICA DE FORMA SISTEMATIZADA Este, talvez seja, ainda, um dos maiores problemas que temos com a Educação Física escolar, pois, tradicional- mente, ela é trabalhada de forma distante dos demais componentes curriculares, o que se coloca como um erro pedagógico tremendo. Assim como os demais componentes curriculares, a Educação Física precisa ser organizada e estruturada de forma sistematizada, de modo a oferecer aos alunos uma sequência lógica e gradativa de conteúdos, respeitando o desenvolvimento desses alunos ao longo da vida escolar. 62 Nesse sentido, deve-se pensar em como os conheci- mentos e vivências podem ser estruturados em uma sequ- ência lógica com potencial de estimular a todos no decorrer das aulas. Essa condição exige que o professor: fique atento às fases de desenvolvimento (cognitivo, motor, físico e so- cial) dos alunos, se preocupe com o que as demais discipli- nas desenvolvem ao longo dos anos escolares e como esses conhecimentos servem de base para a seleção dos conhe- cimentos da Educação Física e das ações interdisciplinares. Por fim, como as teorias da aprendizagem indicam que os conhecimentos são tratados e potencializados de forma que os alunos aprendam com mais facilidade. Esta possibilidade de sistematização está apresenta- da, de maneira bastante rica, no livro de Palma, Oliveira e Palma (2010). Nesta obra, há uma proposta de orga- nização da Educação Física em núcleos temáticos que devem ser trabalhados ao longo de toda a vida escolar, com graus de complexidade adequados aos conheci- mentos e vivências para cada ano. Trata-se, apenas, de uma proposta, mas passível de contribuir com a futura estruturação que você fará em sua escola, servindo de base para os dados a serem levantados e elencados em seu planejamento. CAMINHOS PARA O PROCESSO DE ES- TRUTURAÇÃO DOS CONTEÚDOSDA EDUCAÇÃO FÍSICA O professor precisa se atentar a aspectos que potenciali- zam a estruturação de conteúdos e, também, como tais aspectos contribuem com o processo formativo e infor- mativo dos alunos, da mesma forma que se vinculam ao Projeto Pedagógico da escola e às demais áreas do co- nhecimento, ano a ano, trabalhadas. Figura 3 - Estruturação dos conteúdos / Fonte: os autores. EDUCAÇÃO FÍSICA Alguns pontos costumam servir de base para a estrutu- ração da sistematização dos conteúdos. Conhecimentos Produzidos na Área da Educação Física As práticas corporais compõem um leque enorme de possibilidades e ações que devem ser trabalhadas na Educação Física escolar. Tais práticas colocam-se como um acervo rico que deve ser refletido, vivencia- do e, se necessário, reformulado e adaptado no pro- cesso educacional. Entretanto é imperioso ter claro que a Educação Física escolar não se restringe e se responsabiliza, apenas, pelo trabalho com as práticas corporais, já que elas são, somente, parte do que se deve trabalhar na sequência escolar. Na organização das aulas, as práticas assumem, muitas vezes, papéis distintos de acordo com o objetivo traçado, que vão desde o acesso aos conhecimentos de sua própria estrutura até a organização do meio para o ensino de outros conteúdos. Por exemplo, inicialmen- te, são organizadas aulas de atletismo com as provas de pista para os alunos tanto entenderem quanto conhe- cerem como são organizadas e estruturadas essas pro- vas, assim como as técnicas motoras exigidas por esta modalidade. Este será um bloco de estudo para algumas aulas e, oportunamente, as provas de pista podem ser utilizadas nos trabalhos de conhecimentos vinculados a saúde e treinamento, tais como: capacidade aeróbica e anaeróbica, força explosiva etc. Nesse exemplo, as provas de pista, em dado momen- to, são o objeto de estudo das aulas, em outro, servem de meio (estratégia) ao acesso a outros objetos de estudo. É muito importante que o professor domine e entenda isso, pois, do contrário, o profissional fará, apenas, a re- petição de atividades, sem chance de aprofundamento, tampouco de enriquecimento pedagógico das vivências. A Educação Física tem evoluído, sistematicamen- te, e disponibilizado muitos conhecimentos que fa- vorecem o processo formativo. As práticas corporais envolvem manifestações esportivas e rítmicas, jogos, brincadeiras, expressão corporal, ginástica, lutas, dan- ça, sendo consubstanciadas para além de seu próprio entendimento em temas relacionados a saúde, biome- cânica, ergonomia, Sociologia, Antropologia, Filosofia e outras dimensões pedagógicas. A Educação Física é uma área, digamos assim, “abu- sada” em se tratando de possibilidades de intervenção e formação, pois ela consegue, por intermédio de suas vivências, trabalhar os seus conhecimentos bem como apoiar todas as demais áreas formativas do processo educacional. Para tanto, se exige do professor dedicação e um processo de planejamento muito detalhado e ar- ticulado com as demais áreas de conhecimento. Nesse cenário, ressalta-se que, para todos os componentes, isso é vital, porque, desse modo, haverá a chance de trabalhos mais produtivos e que poderão, muito facilmente, favo- recer o processo de aprendizagem dos alunos. As demais disciplinas de formação e os seus cader- nos são prova fiel desta afirmativa que acabamos de apresentar, ou seja, todos têm muitos conhecimentos da Educação Física a serem organizados e trabalhados com os alunos no processo educacional. Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendi- zagem Humana A Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem Humana trabalha conhecimentos os quais balizam o grau de profundidade e de exigência que podemos atri- buir à organização de nossas aulas. Portanto, estaremos atentos ao que autores como Erikson e Erikson (1998), Olds e Papalia (2000), Wallon (1953), Vayer (1982), Piaget (1986), dentre outros. Esses 64 autores fornecem informações que vão do estado psico- lógico de desenvolvimento até as etapas de desenvolvi- mento motor, apresentando indicativos de como o pro- fessor é capaz de dar complexidade à organização das ações no planejamento, inclusive em suas aulas. A base teórica é a consistência que o professor pre- cisa para consolidar e justificar o seu planejamento. Sem estrutura teórica, o plano fica vulnerável, correndo o ris- co de incorrer em equívocos que diminuem a importân- cia da disciplina. O professor que mantém a consistência teórica e tem, claramente, justificadas as ações selecionadas, terá tranquilidade nas defesas frente ao corpo docente e pe- dagógico de sua escola, assim como junto à comunida- de. Com isso, a disciplina ganha em relevância na pro- posta pedagógica da escola. Teorias do Desenvolvimento Motor Em relação às teorias do desenvolvimento motor, é im- portante ter clareza das etapas bem como das formas de estimulações motoras possíveis, sendo importante, tam- bém, que elas sejam interessantes aos alunos. Por algum tempo, a área da Educação Física criticou, sem muito fundamento, as teorias desenvolvimentistas. Contudo, nos dias atuais, isso está mais bem-resolvido, assim, o que importa é saber fazer uso dos conhecimentos abor- dados por essas teorias, a fim de qualificar as ações mo- toras, ao longo da vida escolar de nossos alunos. Um dos mais sérios equívocos que os professores co- metem e que acaba por desestimular os alunos é a pro- gramação de ações motoras em graus de complexidade diferentes das etapas de desenvolvimento desses alunos. De forma muito recorrente, há um descompasso entre aquilo que se tem condições de realizar, com chances de sucesso, e o que se programa para as aulas. Portanto, recorrer às teorias de desenvolvimento trabalhadas por Magill (1984), Boulch (1987), Tani et al. (1988), Gallahue e Ozmun (2005), entre outros, para fundamentar a orga- nização dos conhecimentos e vivências, é imprescindível ao planejamento da Educação Física escolar. Teorias Pedagógicas As teorias pedagógicas colocam-se como opções aos professores e projetos pedagógicos das escolas. A for- ma de entender e desenvolver o processo formativo é carregada de intencionalidades que trazem consigo o entendimento de indivíduo, mundo e sociedade. Esse entendimento é traduzido na forma de organi- zar a escola, de selecionar e trabalhar os conteúdos bem como na maneira de avaliar. Assim, reforça-se a importância da participação efetiva de todos na ela- boração do Projeto Pedagógico da escola, afinal, será com base neste documento norteador que a escola e os seus integrantes organizarão as ações pedagógicas e administrativas gerais. Tais tendências são, apenas, alguns exemplos os quais possibilitam observar que a escolha de uma tendência recairá na forma de trabalhar os diversos componentes curriculares da escola. Contudo é muito importante que todos entendam as propostas e as suas bases teóricas, afi- nal, é a partir delas que se estruturam os procedimentos e, também, as discussões gerais do processo formativo. EDUCAÇÃO FÍSICA Em específico à Educação Física, é possível recorrer aos trabalhos apresentados por Oliveira et al. (2009) e Darido (2008), os quais trazem uma síntese das propostas da área para a intervenção. Elas, por sua vez, se relacionam, direta ou indiretamente, às propostas antes apresentadas. Conhecimentos e Estrutura Sistematizada das Demais Áreas Atuantes na Escola As demais áreas de conhecimento trabalhadas na es- cola possuem uma estrutura sistematizada e podem servir de base para a organização a ser estruturada pela Educação Física. Como citado, anteriormente, a Educação Física é capaz de fazer a relação de seus conhecimentos com as demais áreas trabalhadas na escola. Assim, visando a aproveitar, um pouco, desta facilidade que existe na nos- sa área, é oportuno o professor verificar o que as demais áreas estão trabalhando em cada um dos anos escolares, então, buscar vínculosos quais possibilitem a boa visua- lização dos conhecimentos que podem ser enriquecidos no processo formativo. As áreas que costumam ter um vínculo mais forte são: Ciências, Geografia, História, Linguagem e Artes. Porém, como salientado, todas têm a capacidade de con- tribuir nesse processo. Apenas para exemplificar o que estamos defendendo: veja que o grande sistema, em Ci- ências, é trabalhado, normalmente, no 4º ou 5º ano do Ensino Fundamental. Este é um bom momento para o professor de Educação Física trabalhar as questões rela- cionadas a trocas gasosas, capacidade aeróbica e anaeró- bica, inclusive como estes aspectos são vitais tanto à saú- de quanto ao rendimento esportivo. Como trabalhar isso: uma boa forma é por inter- médio da expressão corporal, na qual o grupo poderá se dividir para a estruturação dos componentes do grande sistema — coração, pulmões, sistema, san- gue — os alunos fazem, então, uma representação de como o sangue circula no sistema e como realiza a troca gasosa. Aqui, vale a criatividade dos grupos para a representação. Uma vez que os alunos realizam esta experiência sinestésica — pois, é isso que acon- tece — eles representam, por meio dos seus corpos, toda a estrutura do grande sistema circulatório, não esquecendo, tão cedo, todas as fases. Destacamos que é muito importante todos trocarem de funções, a fim de realizar as vivências. No trabalho interdisciplinar, o professor de Ciências descreve, teoricamente, todo o sistema, enquanto o pro- fessor de Educação Física o representa, sinestesicamente, com os alunos. Depois, ambos os docentes poderão re- forçar, em suas aulas, os aspectos relacionados ao quan- to esse sistema é vital às condições gerais de saúde e de performance. No exemplo, houve a aplicação de trabalho teórico em vivências motoras expressivas e, também, a poten- cialização do tema como base para futuros trabalhos em ambos os componentes curriculares, afinal, tal trabalho não se esgota nessa fase: é, apenas, uma introdução ao que se fará, oportunamente. Da mesma forma que o exemplificado nas demais áreas, há a mesma possibilidade de aproximações de co- nhecimentos, o que, fatalmente, favorecerá a organiza- ção curricular geral da escola. 66 COMO PENSAR A EDUCAÇÃO FÍSICA SOB O OLHAR DA BNCC Não podemos excluir da nossa discussão sobre o plane- jamento da educação física na escola, a nova compreen- são baseada nas habilidades, direitos e competências que norteiam o trabalho pedagógico: estamos nos referindo à Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Este documento é o mais recente norte da Educação Básica no país e foi construído por longos anos. Atual- mente, ele está na base dos currículos de estados e muni- cípios e interfere na forma de constituir os conteúdos e os componentes curriculares, as antigas disciplinas. Vamos aprender, um pouco mais, acerca deste as- sunto, pensando como organizar o nosso planejamento de Educação Física diante destes novos desafios? A construção da BNCC Hoje, no Brasil, temos um documento normativo que orienta toda a educação básica desde a Educação Infan- til até o Ensino Médio. Conheceremos, um pouco mais sobre ele e como ocorreu a sua construção. Em 2015, deu-se início ao processo de discussão a respeito da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Esse documento foi debatido ao longo de vários gover- nos e gestores, ganhando, por meio de consultas e audi- ências públicas, milhares de contribuições. Houve cerca de 12 milhões de contribuições na primeira versão, me- tade delas originárias de 45 mil escolas. A segunda versão viajou pelos estados brasileiros, por meio de seminários estaduais, no ano de 2016. Tais semi- nários foram organizados pelo Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação) e pelo Undime (União Nacio- nal dos Dirigentes Municipais de Educação), com a parti- cipação de mais ou menos 9 mil pessoas, incluindo educa- dores e alunos, a fim de discutir, em detalhes, o documento. Já no ano de 2017, o Conselho Nacional de Educa- ção (CNE) recebeu a terceira versão que, por sua vez, quis dar voz, novamente, à opinião do Brasil, em uma nova rodada de seminários regionais. No final desse mesmo ano, a BNCC foi homologada pelo órgão com- petente (MEC) e passou a ter validade para todo o país. EDUCAÇÃO FÍSICA A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica, de modo a que tenham assegurados seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento, em conformidade com o que preceitua o Plano Nacio- nal de Educação (PNE) (BRASIL, 2018, p. 7). As principais mudanças relativas à implementação da BNCC dizem respeito às políticas educacionais, tais como: elaboração dos currículos locais, formação inicial e continuada dos professores, material didático, avalia- ção e apoio pedagógico aos alunos. A BNCC passa a ser referência para a elaboração dos currículos de todas as escolas do país. Em sua cons- trução, o documento estabelece, como pilares, dez com- petências gerais, as quais serão o principal orientador do trabalho a ser realizado em todos os componentes curri- culares da Educação Básica. Mobilização de conhecimentos (conceitos e proce- dimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioe- mocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da ci- dadania e do mundo do trabalho (BRASIL, 2018, p. 9) A Educação Física na Educação Infantil e os campos de experiência na BNCC Na Educação Infantil, a aprendizagem acontece sobre os eixos estruturantes da brincadeira, assim como das interações (entre as crianças, com os demais participan- tes do processo educativo etc.), com vistas a garantir os direitos de aprendizagem conforme propõe a BNCC (BRASIL, 2018): conviver, brincar, participar, explorar, expressar-se e conhecer-se. A seguir, estão detalhados como ocorrem os direitos de aprendizagem e desenvolvimento. Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento na Educação Infantil • Conviver com outras crianças e adultos, em pe- quenos e grandes grupos, utilizando diferentes linguagens, ampliando o conhecimento de si e do outro, o respeito em relação às cultura e dife- renças entre as pessoas. • Brincar, cotidianamente, de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes par- ceiros (crianças e adultos), tanto para ampliando quanto para diversificar o seu acesso a produções culturais, os seus conhecimentos, imaginação e criatividade, experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e rela- cionais. • Participar, ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do planejamento da gestão da escola e das atividades propostas pelo educador quanto da realização das atividades da vida coti- diana, tais como: a escolha das brincadeiras, dos materiais e dos ambientes, por meio do desen- volvimento de diferentes linguagens e da elabo- ração de conhecimentos, decidindo, mas tam- bém, se posicionando. • Explorar movimentos, gestos, sons, formas, tex- turas, cores, palavras, emoções, transformações, relacionamentos, histórias, objetos, elementos da natureza, na escola e fora dela, ampliando os seus saberes sobre a cultura, em suas diversas modali- dades: as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia. • Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sen- sível, as suas necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões e ques- tionamentos, por meio de diferentes linguagens. • Conhecer-se e construir a sua identidade pesso- al, social e cultural, constituindo uma imagem positiva de si e de seus grupos de pertencimento, nas diversas experiências de cuidados, intera- ções, brincadeiras e linguagens vivenciadas na instituição escolar e em seu contexto familiar e comunitário. 68 Na BNCC, a organização curricularda Educação In- fantil (BRASIL, 2018) foi disposta por meio de campos de experiências (cinco no total). Neles são definidos os objeti- vos de aprendizagem e desenvolvimento da criança. Tam- bém é possível enxergar os objetivos que atendem às áreas específicas, como Educação Física, Artes e Línguas. Tendo em vista os eixos estruturantes das práticas pedagógicas e as competências gerais da Educa- ção Básica propostas pela BNCC, seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento asseguram, na Educação Infantil, as condições para que as crian- ças aprendam em situações nas quais possam de- sempenhar um papel ativo em ambientes que as convidem a vivenciar desafios e a sentirem-se pro- vocadas a resolvê-los, nas quais possam construir significados sobre si, os outros e o mundo social e natural (BRASIL, 2018, p. 39). Por meio dos campos de experiência, acontece uma co- lheita das experiências reais do cotidiano da criança — o que ela tem aprendido com a vida — e incorpora-se aos conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural. Considerando esses saberes e conhecimentos, os cam- pos de experiências nos quais se organiza a BNCC são: O eu, o outro e o nós – É na interação com os pares e com adultos que as crianças vão constituindo um modo próprio de agir, sentir e pensar e vão desco- brindo que existem outros modos de vida, pessoas diferentes, com outros pontos de vista. Conforme vivem suas primeiras experiências sociais (na famí- lia, na instituição escolar, na coletividade), constro- em percepções e questionamentos sobre si e sobre os outros, diferenciando-se e, simultaneamente, identificando-se como seres individuais e sociais. Ao mesmo tempo que participam de relações so- ciais e de cuidados pessoais, as crianças constroem sua autonomia e senso de autocuidado, de reciproci- dade e de interdependência com o meio. Por sua vez, na Educação Infantil, é preciso criar oportunidades para que as crianças entrem em contato com outros grupos sociais e culturais, outros modos de vida, di- ferentes atitudes, técnicas e rituais de cuidados pes- soais e do grupo, costumes, celebrações e narrativas. Nessas experiências, elas podem ampliar o modo de perceber a si mesmas e ao outro, valorizar sua iden- tidade, respeitar os outros e reconhecer as diferen- ças que nos constituem como seres humanos. Corpo, gestos e movimentos – Com o corpo (por meio dos sentidos, gestos, movimentos impulsivos ou intencionais, coordenados ou espontâneos), as crianças, desde cedo, exploram o mundo, o espaço e os objetos do seu entorno, estabelecem relações, expressam-se, brincam e produzem conhecimen- tos sobre si, sobre o outro, sobre o universo social e cultural, tornando-se, progressivamente, cons- cientes dessa corporeidade. Por meio das diferen- tes linguagens, como a música, a dança, o teatro, as brincadeiras de faz de conta, elas se comunicam e se expressam no entrelaçamento entre corpo, emoção e linguagem. As crianças conhecem e re- conhecem as sensações e funções de seu corpo e, com seus gestos e movimentos, identificam suas potencialidades e seus limites, desenvolvendo, ao mesmo tempo, a consciência sobre o que é seguro e o que pode ser um risco à sua integridade física. Na Educação Infantil, o corpo das crianças ganha centralidade, pois ele é o partícipe privilegiado das práticas pedagógicas de cuidado físico, orienta- das para a emancipação e a liberdade, e não para a submissão. Assim, a instituição escolar precisa promover oportunidades ricas para que as crianças possam, sempre animadas pelo espírito lúdico e na interação com seus pares, explorar e vivenciar um amplo repertório de movimentos, gestos, olhares, sons e mímicas com o corpo, para descobrir va- riados modos de ocupação e uso do espaço com o corpo (tais como sentar com apoio, rastejar, engati- nhar, escorregar, caminhar apoiando-se em berços, mesas e cordas, saltar, escalar, equilibrar-se, correr, dar cambalhotas, alongar-se etc.). EDUCAÇÃO FÍSICA Traços, sons, cores e formas – Conviver com dife- rentes manifestações artísticas, culturais e científi- cas, locais e universais, no cotidiano da instituição escolar, possibilita às crianças, por meio de experi- ências diversificadas, vivenciar diversas formas de expressão e linguagens, como as artes visuais (pin- tura, modelagem, colagem, fotografia etc.), a música, o teatro, a dança e o audiovisual, entre outras. Com base nessas experiências, elas se expressam por vá- rias linguagens, criando suas próprias produções artísticas ou culturais, exercitando a autoria (cole- tiva e individual) com sons, traços, gestos, danças, mímicas, encenações, canções, desenhos, modela- gens, manipulação de diversos materiais e de re- cursos tecnológicos. Essas experiências contribuem para que, desde muito pequenas, as crianças desen- volvam senso estético e crítico, o conhecimento de si mesmas, dos outros e da realidade que as cerca. Portanto, a Educação Infantil precisa promover a participação das crianças em tempos e espaços para a produção, manifestação e apreciação artística, de modo a favorecer o desenvolvimento da sensibi- lidade, da criatividade e da expressão pessoal das crianças, permitindo que se apropriem e reconfigu- rem, permanentemente, a cultura e potencializem suas singularidades, ao ampliar repertórios e inter- pretar suas experiências e vivências artísticas. Escuta, fala, pensamento e imaginação – Desde o nascimento, as crianças participam de situações comunicativas cotidianas com as pessoas com as quais interagem. As primeiras formas de interação do bebê são os movimentos do seu corpo, o olhar, a postura corporal, o sorriso, o choro e outros re- cursos vocais, que ganham sentido com a inter- pretação do outro. Progressivamente, as crianças vão ampliando e enriquecendo seu vocabulário e demais recursos de expressão e de compreensão, apropriando-se da língua materna – que se torna, pouco a pouco, seu veículo privilegiado de intera- ção. Na Educação Infantil, é importante promover experiências nas quais as crianças possam falar e ouvir, potencializando sua participação na cultura oral, pois é na escuta de histórias, na participação em conversas, nas descrições, nas narrativas elabo- radas individualmente ou em grupo e nas implica- ções com as múltiplas linguagens que a criança se constitui ativamente como sujeito singular e per- tencente a um grupo social. Desde cedo, a criança manifesta curiosidade com relação à cultura escrita: ao ouvir e acompanhar a leitura de textos, ao observar os muitos textos que circulam no contexto familiar, comunitário e escolar, ela vai construindo sua concepção de língua escrita, reconhecendo diferentes usos sociais da escrita, dos gêneros, suportes e portadores. Na Educação Infan- til, a imersão na cultura escrita deve partir do que as crianças conhecem e das curiosidades que deixam transparecer. As experiências com a literatura infan- til, propostas pelo educador, mediador entre os textos e as crianças, contribuem para o desenvolvimento do gosto pela leitura, do estímulo à imaginação e da ampliação do conhecimento de mundo. Além dis- so, o contato com histórias, contos, fábulas, poemas, cordéis etc. propicia a familiaridade com livros, com diferentes gêneros literários, a diferenciação entre ilustrações e escrita, a aprendizagem da direção da escrita e as formas corretas de manipulação de livros. Nesse convívio com textos escritos, as crianças vão construindo hipóteses sobre a escrita que se revelam, inicialmente, em rabiscos e garatujas e, à medida que vão conhecendo letras, em escritas espontâneas, não convencionais, mas já indicativas da compreensão da escrita como sistema de representação da língua. Espaços, tempos, quantidades, relações e transforma- ções – As crianças vivem inseridas em espaços e tem- pos de diferentes dimensões, em um mundo consti- tuído de fenômenos naturais e socioculturais. Desde muito pequenas, elas procuram se situar em diversos espaços (rua, bairro,cidade etc.) e tempos (dia e noi- te; hoje, ontem e amanhã etc.). Demonstram também curiosidade sobre o mundo físico (seu próprio corpo, os fenômenos atmosféricos, os animais, as plantas, as transformações da natureza, os diferentes tipos de materiais e as possibilidades de sua manipulação etc.) e o mundo sociocultural (as relações de parentesco e 70 sociais entre as pessoas que conhece; como vivem e em que trabalham essas pessoas; quais suas tradições e seus costumes; a diversidade entre elas etc.). Além dis- so, nessas experiências e em muitas outras, as crianças também se deparam, frequentemente, com conheci- mentos matemáticos (contagem, ordenação, relações entre quantidades, dimensões, medidas, comparação de pesos e de comprimentos, avaliação de distâncias, reconhecimento de formas geométricas, conhecimen- to e reconhecimento de numerais cardinais e ordinais etc.) que igualmente aguçam a curiosidade. Portanto, a Educação Infantil precisa promover experiências nas quais as crianças possam fazer observações, mani- pular objetos, investigar e explorar seu entorno, levan- tar hipóteses e consultar fontes de informação para buscar respostas às suas curiosidades e indagações. Assim, a instituição escolar está criando oportunida- des para que as crianças ampliem seus conhecimentos do mundo físico e sociocultural e possam utilizá-los em seu cotidiano (BRASIL, 2018, p. 42-43). Veja o quadro, a seguir, com a síntese dos campos de aprendizagem. EDUCAÇÃO FÍSICA Síntese das aprendizagens O eu, o outro e o nós Respeitar e expressar sentimentos e emoções. Atuar em grupo e demonstrar interesse em construir novas relações, respei- tando a diversidade e solidarizando-se com os outros. Conhecer e respeitar regras de convívio social, manifestando respeito pelo outro. Corpo, gestos e movimentos Reconhecer a importância de ações e situações do cotidiano que contribuem para o cuidado de sua saúde e a manutenção de ambientes saudáveis. Apresentar autonomia nas práticas de higiene, alimentação, nas vestimentas e nos cuidados com o seu bem-estar, valorizando o próprio corpo. Utilizar o corpo, intencionalmente, com criatividade, controle e adequação, como instrumento de interação com o outro e com o meio. Coordenar as suas habilidades manuais. Traços, sons, cores e formas Discriminar os diferentes tipos de sons e ritmos e interagir com a música, per- cebendo-a como forma de expressão individual e coletiva Expressar-se por meio das artes visuais, utilizando diferentes materiais. Relacionar-se com o outro empregando gestos, palavras, brincadeiras, jogos, imitações, observações e expressão corporal. Escuta, fala, pensamento e imaginação Expressar ideias, desejos e sentimentos em distintas situações de interação, por diferentes meios. Argumentar e relatar fatos, oralmente, em sequência temporal e casual, orga- nizando e adequando a sua fala ao contexto em que é produzida. Ouvir, compreender, contar, recontar e criar narrativas. Conhecer diferentes gêneros e portadores textuais, demonstrando compreen- são da função social da escrita e reconhecendo a leitura como fonte de prazer e informação. Espaços, tempos, quantida- des, relações e transforma- ções Identificar, nomear, adequadamente, e comparar as propriedades dos objetos, estabelecendo relações entre eles. Interagir com o meio ambiente e com fenômenos naturais ou artificiais, de- monstrando curiosidade e cuidado com relação a eles. Utilizar vocabulário relativo às noções de grandeza (maior, menor, igual etc.) espaço (dentro e fora) e medidas (comprido, curto, grosso, fino) como meio de comunicação de suas experiências. Utilizar unidades de medida (dia e noite, dias, semanas, meses e ano) e noções de tempo (presente, passado e futuro: antes, agora e depois), para responder às necessidades e questões do cotidiano. Identificar e registrar quantidades por meio de diferentes formas de repre- sentação (contagens, desenhos, símbolos, escrita de números, organização de gráficos básicos etc.). Quadro 1 - Síntese de aprendizagens / Fonte: os autores. 72 Fica evidente que o conteúdo da Educação Física está contido no campo de corpo, gestos e movimentos, po- rém é possível, também, perceber que há espaços para o trabalho desta disciplina em outros campos devido à extensão e aos desdobramentos dos conteúdos, por isso, faz-se necessário que o professor de Educação Física não trabalhe de forma isolada, mas esteja próximo dos de- mais professores, buscando os eixos que se aproximam dos conteúdos da área, fazendo a busca interdisciplinar, a fim de trabalhar os conteúdos. Este processo conjunto faz a diferença na aprendizagem, pois a torna significa- tiva aos alunos. A Educação Física no Ensino Fundamental como Área de Linguagens e as Suas Competências Na BNCC (BRASIL, 2018), há uma compreensão do co- nhecimento por áreas de saberes, pois, é por meio das atividades humanas que as práticas sociais se realizam, expressas por diferentes linguagens: verbal (oral ou vi- sualmotora, como Libras, e a escrita), corporal, visual, sonora e, contemporaneamente, digital. A interação das pessoas consigo mesmas e com os outros é feita por es- sas linguagens e, nesse processo, ocorre a construção do sujeito social. Estão envolvidos conhecimentos, atitudes e valores culturais, morais e éticos. Na BNCC, a área de Linguagens é composta pelos seguintes componentes curriculares: Língua Por- tuguesa, Arte, Educação Física e, no Ensino Funda- mental – Anos Finais, Língua Inglesa. A finalidade é possibilitar aos estudantes participar de práticas de linguagem diversificadas, que lhes permitam ampliar suas capacidades expressivas em mani- festações artísticas, corporais e linguísticas, como também seus conhecimentos sobre essas lingua- gens, em continuidade às experiências vividas na Educação Infantil. As linguagens, antes articuladas, passam a ter status próprios de objetos de conhe- cimento escolar. O importante, assim, é que os es- tudantes se apropriem das especificidades de cada linguagem, sem perder a visão do todo no qual elas estão inseridas. Mais do que isso, é relevante que compreendam que as linguagens são dinâmicas, e que todos participam desse processo de constante transformação (BRASIL, 2018, p. 65). BNCC LINGUAGEM Língua portuguesa Língua estrangeira Artes Educação física MATEMÁTICA CIÊNCIAS DA NATUREZA CIÊNCIAS HUMANAS Figura 4 - Áreas da BNCC / Fonte: os autores. EDUCAÇÃO FÍSICA A Educação Física é compreendida como uma das lin- guagens, ela tem uma linguagem específica, que é o mo- vimento corporal, porém esse movimento tem as suas particularidades e deve, também, ser entendido sob o olhar que nenhuma outra linguagem possui, o olhar so- bre o movimento construído, culturalmente. É fundamental frisar que a Educação Física ofere- ce uma série de possibilidades para enriquecer a experiência das crianças, jovens e adultos na Edu- cação Básica, permitindo o acesso a um vasto uni- verso cultural. Esse universo compreende saberes corporais, experiências estéticas, emotivas, lúdicas e agonistas, que se inscrevem, mas não se restrin- gem, à racionalidade típica dos saberes científicos que, comumente, orienta as práticas pedagógicas na escola. Experimentar e analisar as diferentes formas de expressão que não se alicerçam apenas nessa ra- cionalidade é uma das potencialidades desse com- ponente na Educação Básica. Para além da vivência, a experiência efetiva das práticas corporais oportu- niza aos alunos participar, de forma autônoma, em contextos de lazer e saúde (BRASIL, 2018, p. 215). O intuito da BNCC (BRASIL, 2018) é organizar os co- nhecimentos na dimensão de tornar os alunos capazes de fazer a transposição didática do saber para o seu dia a dia, buscando respeitar a ética, os direitos humanos, a justiça social e a sustentabilidade ambiental. O docu- mento aponta, também, como aspectos importantes do conhecimento: a dimensão social, física, emocional ecultural. O que, permite, assim, uma educação integral, não, somente, intelectual. Buscando este caminho, a BNCC (BRASIL, 2018) é focada nas competências que se deseja desenvolver nos alunos para que estes possam acessar na vida aquilo que aprendem na escola. Esse processo é longo e exige uma continuidade do processo de ensino-aprendizagem no mesmo foco, porque algumas competências podem de- morar anos para serem desenvolvidas, afinal, exigem um amadurecimento integral do aluno que está vivenciando esse processo bem como a construção de habilidades as quais, por sua vez, podem ocorrer em longo prazo. A finalidade é possibilitar aos estudantes participar de práticas de linguagem diversificadas, que lhes permitam ampliar suas capacidades expressivas em manifestações artísticas, corporais e linguísti- cas, como também seus conhecimentos sobre es- sas linguagens, em continuidade às experiências vividas na Educação Infantil. As linguagens, antes articuladas, passam a ter status próprios de objetos de conhecimento escolar. O importante, assim, é que os estudantes se apropriem das especificidades de cada linguagem, sem perder a visão do todo no qual elas estão inseridas. Mais do que isso, é rele- vante que compreendam que as linguagens são dinâmicas, e que todos participam desse processo de constante transformação (BRASIL, 2018, p. 65). Assim, as habilidades são a base das competências. Estas, por sua vez, são classificadas em simples e complexas e assim devem ser consideradas, no trabalho pedagógi- co, para alcançar a eficácia do processo educacional. A competência é, portanto, entendida como a capacidade de mobilizar soluções, conhecimentos ou experiências, visando a resolver questões da vida legítima. É importante considerar, também, o aprofunda- mento da reflexão crítica sobre os conhecimentos dos componentes da área, dada a maior capacidade de abstração dos estudantes. Essa dimensão analí- tica é proposta não como fim, mas como meio para a compreensão dos modos de se expressar e de participar no mundo, constituindo práticas mais sistematizadas de formulação de questionamentos, seleção, organização, análise e apresentação de des- cobertas e conclusões. Considerando esses pressu- postos, e em articulação com as competências ge- rais da Educação Básica, a área de Linguagens deve garantir aos alunos o desenvolvimento de compe- tências específicas (BRASIL, 2018, p. 65). 74 Apresentamos no infográfico, a seguir, todas as competências gerais que se deseja alcançar na escola, por meio desta educação integral, contemplando o desenvolvimento de cada uma delas e as suas principais características: As habilidades previstas na BNCC aparecem ao longo de todas as competências descritas e podem ser divididas em três grupos, das mais simples para as mais complexas: Identificação A categoria de habilidades mais simples previstas pela BNCC se relacionam ao reconhecimento a à reprodução de fatos, textos, imagens ou tabelas observadas. Verbos associados a esse grupo: Observar, reconhecer, indicar, representar, apontar, identificar e localizar. Verbos associados a esse grupo: Avaliar, analisar, julgar, criticar, explicar causas e efeitos, argumentar, justificar, apresentar conclusões e fazer prognósticos. Compreensão São ações mais complexas porque envolvem o raciocínio para resolver problemas, compreender cenários complexos, formular preposições e diagnósticos, além de apresentar conclusões. Transformação Ao observar e compreender os fatos, o estudante passa a fazer operações mentais que envolvem a transformação dos dados interpretados. Verbos associados a esse grupo: Ordenar, medir, calcular por estimativa, compor e decompor, classificar, seriar e conservar. Figura 5 - Habilidades previstas / Fonte: Movimento pela Base (2020, on-line). EDUCAÇÃO FÍSICA Dentro da Educação Física, especificamente, temos uma visão mais pessoal para atender aos conteúdos próprios da área, buscando implementar as competências gerais focadas no campo específico da disciplina: são as competências específicas à área de linguagem na Educação Física. 1. Conhecimento 3. Repertório cultural 4. Comunicação 5. Cultura digital 7. Argumentação 9. Empatia e cooperação 8. autoconhecimento e autocuidado 10. Responsabilidade e cidadania 6. Trabalho e projeto de vida 2. Pensamento científico-crítico e pensativo O que: Valorizar e utilizar os conhecimentos sobre o mundo físico, social, cultural e digital Para: Entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar com a sociedade O que: Exercitar a curiosidade intelectual e utilizar as ciências com criticidade e criatividade Para: Investigar causas, elaborar e testar hipóteses formular e resolver problemas e criar soluções O que: Valorizar diversas manifestações artísticas e culturais Para: Fruir a participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural O que: Utilizar diferentes linguagens Para: Expressar-se e partilhar informações experiências, ideias, sentimentos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo O que: Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de forma crítica, significativa e ética Para: Comunicar-se, acessar e produzir informações e conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria O que: Valorizar-se apropriar-se de conhecimentos e experiências Para: Entender o mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas à cidadania e ao seu projeto de vida com liberdade, autonomia, criticidade e responsabilidade O que: Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis Para: Formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns, com base em direitos humanos, consciência socioambiental, consumo responsável e ética O que: Conhecer-se, compreender-se na diversidade humana e apreciar-se Para: Cuidar de sua saúde física e emocional, reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas O que: agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação Para: Tomar decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários O que: Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação Para: Fazer-se respeitar e promover o respeito ao outro e aos direitos humanos com acolhimento e valorização da diversidade, sem preconceitos de qualquer natureza COMPETÊNCIAS GERAIS BNCC Figura 6 - Competências gerais da BNCC / Fonte: os autores. 76 Competências específicas de Educação Física para o Ensino Fundamental 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Corpo e movimento: compreender a origem de cultura corporal de movimento e seus vínculos com a organização da vida coletiva e individual. Vida e saúde: refletir criticamente sobre as relações entre a realização das práticas corporais, e os processos de saúde/doença, inclusive no contexto das atividades laborais. Combate ao bullying: identificar as formas de produção dos preconceitos, compreender seus efeitos e combater posicionamentos discriminatórios em relação às práticas corporais e aos seus participantes. Identidade e cultura: reconhecer as práticas corporais como elementos constitutivos da identidade cultural dos povos e grupos. Inclusão: reconhecer o acesso às práticas corporais como direito do cidadão, propondo e produzindo alternativas para a sua realização no contexto comunitário. Práticas corporais e cultura: planejar e empregar estratégias para resolver desafios e aumentar as possibilidades de aprendizagem das práticas corporais, além de se envolver no processo de ampliação do acervo cultural nesse campo. Formação cidadã: identificar a multiplicidade de padrões de desempenho, saúde, beleza e estética corporal, analisando criticamente, os modelos disseminados na mídia e discutir posturas consumistas e preconceituosas. Educaçãoem valores: interpretar e recriar os valores, os sentidos e os significados atribuídos às diferentes práticas corporais, bem como aos sujeitos que delas participam. Autonomia: usufruir das práticas corporais da forma autônoma para potencializar o envolvimento em contextos de lazer, ampliar as redes de sociabilidade e a promoção da saúde. Experimentação e valorização: experimentar, desfrutar, apreciar e criar diferentes brincadeiras, jogos, danças, ginásticas, esportes, lutas e práticas corporais de aventura, valorizando o trabalho coletivo e o protagonismo. A concepção do ensino por competência não consiste em ter uma aula ou um componente curricular específico para abordar isso, mas diz respeito à forma como deve estar organizada a aprendizagem — não fechada em si mesma, mas sim, uma aprendizagem dialogal, integral, que conserva o todo, mesmo apreendendo cada parte — é um desafio que impacta todos os processos da escola e todos os sujeitos integrantes do saber escolar. Figura 7 - Competências específicas de Educação Física / Fonte: os autores. EDUCAÇÃO FÍSICA Dentro das propostas da BNCC (BRASIL, 2018) para a Educação Física como área de linguagens, os conteúdos são estabelecidos por anos e agrupados de acordo com o desenvolvimento integral do aluno. OBJETIVOS DIMENSÕES DO CONHECIMENTO DA EDUCAÇÃO FÍSICA CONCEITUAIS Saber sobre PROCEDIMENTAIS Saber fazer ATITUDINAIS Saber ser e conviver Reflexão sobre a ação Análise Compreensão Experimentação Uso e apropriação Fruição Construção de valores Protagonismo Comuitário Podemos afirmar que a Educação Física na escola — sob o entendimento da BNCC (BRASIL, 2018) — compre- ende o conhecimento, integralmente, nas dimensões conceituais, procedimentais e atitudinais, buscando superar a prática que fragmenta o saber e permanece limitada no saber fazer. É preciso ir além e aprender o como fazer, o porquê fazer e o para que fazer; buscar, na direção da corrente da aprendizagem significativa, dar um significado ao conteúdo. Figura 8 - Objetivos conceituais, procedimentais e atitudinais / Fonte: os autores. 78 No quadro, a seguir, temos uma divisão feita por anos. OBJETOS DE CONHECIMENTO UNIDADES TEMÁTICAS Brincadeiras e jogos Esportes Ginásticas Danças Lutas Práticas corporais de aventura 1º e 2º anos 3º ao 5º ano 6º e 7º anos 8º e 9º anos Brincadeiras e jogos da cultura popular presentes no contexto comunitário e regional • Esportes de marca • Esportes de precisão Ginástica geral Danças do contexto comunitário e regional Ginástica geral Ginástica de condicionamento físico Práticas corporais de aventura urbanas Práticas corporais de aventura na natureza Danças urbanas Danças de salão Lutas do Brasil Lutas do mundo • Ginástica de condicionamento físico • Ginástica de conscientização corporal • Esportes de campo e taco • Esportes de rede/parede • Esportes de invasão • Lutas do contexto comunitário e regional • Lutas de matriz indígena e africana • Danças do Brasil e do mundo • Danças de matriz indígena e africana • Esportes de marca • Esportes de precisão • Esportes de invasão • Esportes técnico- combinatórios • Esportes de rede/parede • Esportes de campo e taco • Esportes de invasão • Esportes de combate • Brincadeiras e jogos populares do Brasil e do mundo • Brincadeiras e jogos de matriz indígena e africana Jogos eletrônicos Ao longo desta unidade, apresentamos reflexões e apontamentos acerca dos principais elementos que devem compor um bom planejamento para a ação no campo da Educação Física escolar. Você deve entender que a ação do planejar deve ser orientadora da prática docente, uma vez que, por meio do planejamento es- truturado e organizado, será possível ter, em suas aulas, uma prática pedagógica adequada. O planejamento te levará a alcançar os objetivos pro- postos para o ano, semestre, bimestre ou aula, isso porque é o planejamento que te conduzirá no caminho trilhado. Para tanto, ao elaborar o seu planejamento, não se esque- ça de responder aos seguintes questionamentos: como? Com que? O quê? Para quê? Para quem? Respondendo a essas questões, no seu planejamento, você conseguirá visualizar e materializar se o tempo e a organização pro- postos estão coerentes com o que deseja trabalhar. Além desse fato, o planejamento das aulas de Educa- ção Física escolar ajudará você nas tomadas de decisão, nas ações necessárias ao longo do processo, para que seja Quadro 2 - Divisão de linguagens de conteúdo / Fonte: os autores. EDUCAÇÃO FÍSICA possível atingir os objetivos propostos, os quais devem estar, sempre, em consonância com o Projeto Pedagógi- co da escola bem como atrelados às demais ações esco- lares. Assim, entendemos que não seja possível propor uma prática pedagógica com qualidade sem a existência de um bom planejamento estabelecido. A qualidade nas aulas de Educação Física é uma ação necessária à prática docente desta disciplina, uma vez que, tendo a Lei 9.394/1996 instituído a Educação Física no ambiente escolar como um componente curri- cular, passamos a ter, também, a obrigatoriedade de uma ação pedagógica com cunho formativo e informativo nas aulas, por meio dos conteúdos estabelecidos como prioritários, a serem desenvolvidos em cada momento de desenvolvimento da criança no contexto educacional. Atualmente, é, ainda, imprescindível que os pro- fissionais da área se apropriem da nova Base Nacional Comum Curricular, para que o planejamento esteja coerente com a busca das competências de aprendiza- gem, como está posto na própria BNCC. Tal apropria- ção atende aos direitos de aprendizagem e aos campos de experiências para a Educação Infantil e as áreas de conhecimento, inclusive às competências específicas deste nível de ensino, buscando, então, fazer do processo educacional algo significativo e coerente com a vida. 80 agora é com você 1. Sabemos que a escolha dos conteúdos é uma ação essencial para que o planejamento escolar esteja adequado às necessidades e realidade da criança. Tendo este conhecimento para a escolha da seleção dos conteú- dos, é preciso considerar: a. Apenas o contido no projeto pedagógico e organizado nas disciplinas da série. b. A validade, flexibilidade, significado, possibilidade de elaboração pessoal, utilidade, interesse, adequação às necessidades culturais e sociais c. Os interesses pessoais e os métodos de ensino, os quais devem ser os mais diversificados possíveis. d. As regras dos esportes, jogos e brincadeiras trabalhadas no desenvolvi- mento das aulas. e. Os esportes que devem ser desenvolvidos nas aulas e as suas exigências motoras e físicas. 2. A avaliação é um processo contínuo que deve indicar elementos para di- recionar a ação docente e o desenvolvimento do aluno bem como propor uma reflexão acerca dos caminhos a serem adotados. Nesse sentido, é correto afirmar que a avaliação: a. É aquela que consegue identificar se o aluno, realmente, compreendeu a importância do conteúdo. b. Deve ser aplicada em um único momento, durante a disciplina no semes- tre. c. Não precisa ser aplicada nas aulas de Educação Física. d. A avaliação em Educação Física exerce um papel secundário na organiza- ção das aulas. e. É um instrumento que, na Educação Física, serve para mensurar a perfor- mance motora e física dos alunos. 81 agora é com você 3. Após a elaboração do diagnóstico e da sua respectiva análise, inicia-se a fase de estruturação dos objetivos. Com relação à elaboração do objetivo, assinale V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas. ) ( Nessa fase, perspectiva-se um futuro, então, ele é projetado em etapas, por meio dos objetivos que se definirão como alvos de suas atuações, ao longo do período que compreende o planejamento. ) ( Os objetivos devem expressar as intenções, o que se busca com o desen- volvimento da disciplina. ) ( Os objetivos devem ser organizados de forma que contemplemtodas as turmas, sem variação exagerada, pois tais objetivos não devem ampliar a complexidade já existente nos conteúdos. A sequência correta para a resposta da questão é: a. V, V, F. b. V, F, V. c. F, V, F. d. F, F, V. e. V, V, V. 4. Para a escolha dos conteúdos tratados no universo da Educação Física es- colar, quais critérios devem ser considerados para a seleção dos conteú- dos? 5. O diagnóstico é um ponto essencial a ser considerado no início do plane- jamento, uma vez que ele aponta as necessidades e a realidade escolar. Sabendo deste fato, descreva os principais pontos a serem observados no diagnóstico para que se possa iniciar o planejamento. 82 LEITURA COMPLEMENTAR O texto elaborado pelo professor Amauri A. B. Oliveira traz uma análise acerca das propostas metodológicas emer- gentes na área da Educação Física. Caracteriza-se como sendo um estudo do tipo descritivo. Como estratégia me- todológica, o professor utilizou a bibliografia específica re- lacionada ao assunto e a aplicação de um questionário aos idealizadores das propostas apresentadas. Esse questio- nário aborda os pontos: referencial teórico, objeto de estu- do, conteúdos básicos, enfoque metodológico, relação pro- fessor-aluno e avaliação. Entenderam-se como propostas metodológicas emergentes da área: metodologia aberta, metodologia crítico-superadora, metodologia construtivis- ta e crítico-emancipadora. Vamos à leitura! METODOLOGIA DO ENSINO ABERTO Idealizadores: Reiner Hildebrandt e Ralf Laging, da Alema- nha (1986), e Cardoso et al. (1991) – Organizador do Grupo de Trabalho Pedagógico, UFPe e UFSM, do Brasil. Referencial teórico: Teoria Sociológica do Interacionismo Simbólico (Mead/Blumer); Teoria Libertadora (Paulo Freire). Interacionismo Simbólico (Blumer, 1981) a) o atributo simbólico é justificado pela premissa de que os homens agem baseados nos significados em relação a coisas e a pessoas; b) estes significados são adquiridos em interações sociais; c) estes significados podem ser modi- ficados por meio de processos interpretativos. Berger e Luckman (1985, p. 98), comentando sobre os significados/ símbolos, admitem que: “Os significados institucionais de- vem ser impressos poderosa inesquecivelmente na consci- ência do indivíduo. Como os seres humanos são frequen- temente preguiçosos e esquecidos, deve também haver procedimentos mediante os quais estes significados pos- sam ser reimpressos e rememorizados, se necessário, por meios coercitivos geralmente desagradáveis. Além disto, como os seres humanos são freqüentemente estúpidos, os significados institucionais tendem a ser simplificados no processo de transmissão, de modo que uma determinada coleção de ‘fórmulas’ institucionais possa ser facilmente aprendida e guardada na memória pelas gerações suces- sivas. O caráter de ‘fórmula’ dos significados institucionais assegura sua possibilidade de memorização”. Tendência educacional: progressista crítica. Objeto de estudo: o mundo do movimento e suas impli- cações sociais. Objetivos gerais: trabalhar o mundo do movimento em sua amplitude e complexidade, com a intenção de propor- cionar, aos participantes, autonomia para as capacidades de ação. Seriação escolar: pode ser trabalhada dentro da atual estrutura curricular escolar. Preocupa-se mais em como trabalhar, acessar e tornar significativos os conteúdos aos participantes. Conteúdos básicos: o mundo do movimento e suas rela- ções com os outros e as coisas; os conteúdos são constru- ídos por meio de temas geradores. 83 LEITURA COMPLEMENTAR METODOLOGIA CRÍTICO-SUPERADORA É assim chamada porque tem a concepção histórico-críti- ca como ponto de partida. Assim como ela, a metodolo- gia crítico-superadora entende ser o conhecimento um elemento de mediação entre o aluno e o seu apreender (no sentido de construir, de demonstrar, de compreender e de explicar para poder intervir) a realidade social com- plexa onde esse aluno vive. Diferentemente da concepção histórico-crítica, porém, a visão crítico-superadora privile- gia uma dinâmica curricular que valoriza, na constituição do processo pedagógico, a intenção dos diversos elemen- tos (trato do conhecimento, tempo, espaço pedagógico...) e segmentos sociais (professores, funcionários, alunos e seus pais, comunidade e órgãos administrativos...). METODOLOGIA CONSTRUTIVISTA Apesar de o trabalho não ser considerado, totalmente, construtivista (pelo próprio autor que não gosta de classi- ficação), assim ele denominou-se como tal por apresentar, dentro da área da Educação Física, a ligação mais próxima a esta metodologia educacional. Objeto de estudo: motricidade humana, entendida como o conjunto de habilidades que permitem ao homem pro- duzir conhecimento e expressar-se. Objetivos gerais: ensinar as pessoas a se saberem corpo. Ou seja, terem consciência de que são corpo. Mais espe- cificamente, seria ensinar as habilidades que permitem as expressões no mundo. METODOLOGIA CRÍTICO-EMANCIPADORA Idealizador: Elenor Kunz (1994). Referencial teórico: teoria sociológica da razão comuni- cativa (Habermas). Tendência educacional: progressista crítica. Objeto de estudo: movimento humano – o esporte e as suas transformações sociais. Objetivos gerais: conhecer e aplicar o movimento, cons- cientemente, libertando-se de estruturas coercitivas; re- funcionalizar o movimento. Conteúdos básicos: o movimento humano por meio do esporte, da dança e das atividades lúdicas. Fonte: adaptado de Oliveira (1997). 84 material complementar Título: Educação Física e a Organização Curricular: Educação Infantil e Ensino Fundamental Autores: Ângela P. T. V. Palma, Amauri A. B. de Oliveira e José Augusto V. Palma Editora: Eduef Sinopse: esta obra é resultado de estudos sobre a temática do ensino da Educa- ção Física na escola, em suas dimensões históricas, filosóficas, políticas, institucio- nais e pedagógicas, abordadas em suas possibilidades educacionais. Trata-se de um trabalho consistente e que, com certeza, provocará ampla discussão acerca desse assunto, além de contribuir para fechar uma das lacunas presentes no ensino da Educação Física na Educação Básica: a organização curricular. Na série de documentários sobre a Educação Física apresentada pelo programa “Salto para o Futuro” da TV Escola, você encontrará os principais teóricos da Educação Física refletindo acerca do nosso campo de atuação. Para acessar, use seu leitor de QR Code. UNIDADEIV Dr. Amauri Aparecido Bássoli de Oliveira Dra Vânia de Fátima Matias de Souza Oportunidades de aprendizagem • Compreender as etapas do desenvolvimento da criança da Educação Infantil. • Compreender as características da criança na Educação Infantil. • Apresentar propostas didáticas para ações pedagógicas no contexto dos diferentes níveis da Educação Infantil, por meio do mapa conceitual dos conteúdos. • Apresentar indicadores para o planejamento das aulas da Educação Infantil. Plano de Estudo • A Educação Física na Educação Infantil: Quem é a Criança • Características da Criança da Educação Infantil • Mapa Conceitual dos Conteúdos da Educação Infantil • Planejando as Aulas para a Educação Infantil SISTEMATIZAÇÃO E AÇÕES PEDAGÓGICAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL unidade IV 88 A EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: QUEM É A CRIANÇA Discutir a Educação Física na Educação Infantil implica refletir acerca das especificidades e dos desafios que são inerentes ao processo educativo, no qual a criança, inse- rida no mundo da imaginação, do faz-de-conta, constrói os seus saberes a partir da experimentação e da explo- ração dos objetos ao seu redor por meio de seu corpo, na sua relação com o outro e com o mundo que a cerca, permitindo que esse corpo se torne um sujeito único com relações e interações próprias e individuais. O corpo, para a criança da Educação Infantil, é o seu primeiro espaço de construção dos saberes. Por meio dele, é possível interagir,criar e recriar a construção do mundo, a partir do olhar lúdico que é ofertado pelas au- las, nas quais o movimento, o movimentar-se e o viven- ciar colaboram, de forma significativa. Desse modo, há a possibilidade de avançar dos movimentos simples aos complexos, nos quais as atividades de alta intensidade e curta duração são substituídas por ações que requerem baixa intensidade e maior duração. Isso porque a criança passa a explorar todas as vivências em graus diferentes das possibilidades de sua realização. É preciso nos atentar para o fato de que “[...] escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. Ensinar o voo, isso elas não podem fazer, porque o voo já nas- ce dentro dos pássaros. O voo não pode ser ensinado” (ALVES, 2004, p. 54). Na Educação Infantil, temos que ajudar na construção do voo, fazendo com que a criança se sinta livre e à vontade para criar e recriar, sempre com a perspectiva de que o errar é possível e a mesma tarefa pode ser realizada de diversas formas. Tudo dependerá da forma de se olhar, afinal, o movimento não é único, ele é capaz de ser, infinitamente, reinventado. Nesta unidade, pensaremos, juntos, em ações didá- tico-pedagógicas que ajudem a dar espaço aos voos das crianças nas aulas de Educação Física infantil. Ao dialogarmos acerca do processo de intervenção e ação pedagógica nas aulas de Educação Física na Edu- cação Infantil, torna-se relevante trazermos à pauta dis- cussões que englobam os elementos constitutivos do planejamento e que subsidiam a organização das aulas e atividades as quais compõem o cenário das aulas des- ta disciplina. Sabemos que, nesses espaços de atuação docente, é essencial considerar o contexto da criança, o seu cotidiano escolar bem como as suas características e necessidades, para que as ações definidas no Projeto Pedagógico, a valorização da cultura infantil e todas as demais experiências que compõem o universo da Edu- cação Física neste nível de ensino possam colaborar para a obtenção de significado no processo de ensino e aprendizagem, colaborando, desse modo, com a cons- trução do ser social infantil. Esta construção da identidade da criança influen- ciada pelo ambiente da Educação Infantil constitui-se a 89 EDUCAÇÃO FÍSICA partir de suas interações e vivências múltiplas que são ofertadas a este aluno. Por este motivo, o currículo da Educação Física para a Educação Infantil deve centrar- -se no desenvolvimento de ações cujo foco seja o lúdico — presente nos jogos, brinquedos e brincadeiras ofereci- dos nas aulas de Educação Física — enquanto elementos essenciais da ação didática-pedagógica. Tais ações preci- sam, também, se constituir, nestes espaços de interven- ção, como elementos essenciais. Lembrando que, segun- do Palma, Oliveira e Palma (2010, p. 27), “[...] o currículo não é, apenas, mais uma área voltada para a aplicação e desenvolvimento de métodos e técnicas de ensino. Ele é guiado por questões sociais, políticas e epistemológicas e considerado um artefato social e cultural”. Logo, o cur- rículo estruturado para a Educação Infantil deve con- siderar todos os elementos os quais colaboram com as ações desenvolvidas pelo aluno, no período da infância. Dessa forma, o currículo torna-se um instrumento de auxílio à efetivação da ação docente, na qual a prática didático-pedagógica constitui-se a partir das opções e estratégias adequadas voltadas a contemplar as necessi- dades da criança. No entanto há de se destacar que, de acordo com Palma, Oliveira e Palma (2010, p. 51), “[...] os professores, de maneira geral, têm muita dificuldade em sistematizar os conteúdos. Quando ensinar e para ensinar em cada uma das séries”. Isso porque as diretri- zes da Educação Infantil personificam os saberes e co- nhecimentos que devem ser contemplados, entretanto elas flexibilizam os conteúdos a serem tratados nos con- textos do processo formativo da criança. Nesse sentido, quando trabalhamos com o planejamento curricular para a Educação Infantil, os questionamentos são: • Quais os saberes e conhecimentos necessários a serem abordados na Educação Física infantil? • Como organizar esses saberes e conhecimentos nas aulas de Educação Física da Educação Infantil? Ao iniciarmos o processo de planejamento e organiza- ção das aulas, o primeiro passo é conhecer as especifici- dades da criança a qual atenderemos e que está matricu- lada na Educação Infantil. Conforme a Lei 9.394 (BRASIL, 1996, on-line), a criança da Educação Infantil é aquela que se encontra entre os quatro e cinco anos de idade e está constituindo o seu desenvolvimento motor, social, cognitivo e afeti- vo. Ou seja, este é um momento no qual a criança está passando por vivências e experiências que contribuirão para a compreensão de mundo e, a partir desta intera- ção, o indivíduo é capaz de avançar fases ou etapas de seu desenvolvimento. O lúdico, o brincar, o brinquedo e a brincadeira — tão expressivos à criança — ocorrerão pela ação motora, na qual o corpo e o movimento são a primeira forma de interagir com o mundo, ampliando, assim, o repertório motor, influenciando, significativa- mente, o desenvolvimento integral dessa criança. Tendo este conhecimento, as atividades planejadas e orientadas para as aulas de Educação Física na Educação No livro Compreendendo o Desenvolvimen- to Motor, Gallahue e Ozmun (2005) afirmam que o estímulo às competências motoras fundamentais amadurecidas é básico para o desenvolvimento e a educação motores das crianças. Uma ampla variedade de ex- periências motoras fornece muita riqueza de informações e, por meio dela, essas crianças podem basear a percepção de si próprias e do mundo que as rodeia. Fonte: adaptado de Gallahue e Ozmun (2005). 90 Infantil devem levar a criança a pensar e a agir, por meio de movimentos e experimentações que a façam interagir com as linguagens corporais, nas experimentações pro- piciadas por atividades de interação corpo-movimento, corpo-brinquedo-brincadeira e corpo-objeto-espaço. Já que, de acordo com Sayão (2002, p. 61): [...] o trabalho pedagógico na Educação Infantil deve se sustentar em planejar situações que levem as crianças a brincar, a interagir e a manifestar-se através de diferentes linguagens, o que significa permitir e reconhecer que a oralidade, a escrita, o desenho, a dramatização, a música, o toque, a dan- ça, a brincadeira, o jogo, os ritmos, as inúmeras formas de movimentos corporais, são todos eles expressões das crianças, que não podem ficar limi- tadas a um segundo plano. um ser social, o qual deve ser englobada em sua essência, nas suas particularidades individuais. À criança deve ser oportunizada uma gama de experimentações destinada a ampliar os conhecimentos culturais bem como o re- pertório motor. Segundo Nista-Piccolo e Moreira (2012, p. 17), as escolas as quais se propõem a trabalhar com a Educação Infantil devem saber que “[...] antes de pro- por atividades, é importante que os professores identifi- quem os diferentes perfis de capacidade das crianças; o ambiente vivido no dia a dia da criança deve propiciar um diálogo com as múltiplas linguagens”. A Criança da Educação Infantil: de Quem Estamos Falando? Entendemos que a infância vai se consolidando por meio do movimento e das interações com o mundo que a cerca. Na Educação Infantil, à criança deve ser oportu- nizada a experimentação, a vivência motora cujo ponto de partida seja o lúdico e as interações do seu corpo com o espaço, com os objetos e os seus pares. De acordo com a legislação da Educação Infantil, con- sidera-se a primeira infância — que abrange a faixa etá- ria de zero a cinco anos — a fase do desenvolvimento da criança. Este momento é primordial, uma vez que é nessa fase que a criança arquitetará uma base a qual a favorecerá por toda a existência. Em posse deste conhecimento, é válido ressaltar o seguinte: cabe ao professor que planejará a Educação Física na Educação Infantil iniciar as suas ações didáti-co-pedagógicas considerando o fato de que a criança é Se o jogo, o brincar e a brincadeira devem ser o foco central das ações didático-peda- gógicos no ambiente da Educação Infantil, por que a Educação Física não é, ainda, uma obrigatoriedade legal em todos os estabele- cimentos de ensino dessa modalidade? 91 EDUCAÇÃO FÍSICA É importante entendermos que cada criança apre- senta características próprias e particulares, mas con- sideraremos para as discussões, aqui, apresentadas, as semelhanças nessas características, sendo diferenciadas a partir da forma de agir, pensar, sentir e vivenciar os episódios do cotidiano. Haja vista que, de acordo com Nista-Piccolo e Moreira (2012, p. 22), “[...] o corpo é o primeiro objeto que a criança percebe por meio de suas satisfações, de suas dores, das sensações visuais e audi- tivas”. Por este motivo, nas aulas de Educação Física no contexto da Educação Infantil, temos a possibilidade de ampliação das linguagens corporais, uma vez que, por meio dos movimentos, pelas relações interpessoais, ex- periências com o outro, com o meio e os objetos, a crian- ça é possibilitada a ampliar tanto o seu repertório motor quanto o de convívio social. Por isso, é tão importante para o professor de Educação Física conhecer os estágios de desenvolvimento das crianças, considerando tanto os domínios quanto as habilidades e competências. A fim de discutirmos os estágios de desenvolvi- mento infantil, traremos a classificação de Gallahue e Ozmun (2005), na qual os autores propõem considerar, para o desenvolvimento da criança, a infância dos dois aos dez anos de idade, sendo que tal período será, ainda, dividido em três fases: o período de aprendizagem (dos 24 aos 36 meses); a infância precoce (dos três aos cinco anos); por fim, a infância intermediário-avançada, dos seis aos dez anos de idade. Como estamos falando das aulas de Educação Física na Educação Infantil, nos atentaremos às características das crianças que se encontram na faixa dos quatro a cin- co anos, uma vez que, em geral, é nessa fase que há mais especificidade nas aulas de Educação Física. De acordo com Gallahue e Ozmun (2005), uma criança por volta dos quatro e cinco anos de idade já compreende melhor o mundo à sua volta, tornando-se, gradualmente, menos egocêntrica e com mais enten- dimento do fato de que as suas ações podem afetar as pessoas ao seu redor. Segundo Harrow (1983), essa fase é o período sensível para desenvolver, corretamente, as formas motoras básicas na criança. Dessa maneira, as atividades pré-escolares devem fundamentar-se nessas formas desenvolvidas pela Educação Física, favorecen- do, assim, o amadurecimento infantil. Linguagem corporal e oral Distingue fantasia do real • Tem opiniões próprias • Expressa-se com clareza • Gosta de brincadeiras de faz de conta • Permanece mais tempo em uma brincadeira Fase dos porquês Lúdica Egocêntrica Dificuldade com jogos: ganhar e perder Começa a ter noção de tempo e espaço Preferência por atividades de alta intensidade e baixa complexidade Dificuldades com aceitação de regras Coordenação motora ainda requer estímulos Sensório motor intenso Atividades de faz de conta Facilidade na aprendizagem de novos movimentos Comunicativa A criança de 4 e 5 anos Fase de transição Período pré-operatório Figura 1 - Quem é a criança da Educação Infantil: principais características da criança de quatro a cinco anos de idade / Fonte: os autores. 92 Consideramos que a construção da infância é um processo que ocorre pela ação conjunta dos contextos cotidianos da sociedade, pois, de acordo com Kishimoto (2000, p. 19): [...] a imagem de infância é reconstituída pelo adul- to por meio de um duplo processo: de um lado, ela está associada a todo um contexto de valores e as- pirações da sociedade, e, de outro, depende de per- cepções própria do adulto, que incorporam memó- rias de seu tempo de criança. Logo, a existência da influência e da apropriação da cultura infantil bem como das brincadeiras e dos jogos oportunizados estão muito ligados a este repertório. Por esta razão, é necessário conhecer as especificidades e características de cada fase de desenvolvimento infan- til, em especial, o perfil motor da criança da Educação Infantil, afinal, a nossa ação didático-pedagógica se dará, em especial, neste campo. CARACTERÍSTICAS DA CRIANÇA DA EDUCAÇÃO INFANTIL De acordo com Caetano, Silveira e Gobbi (2005), o desen- volvimento motor é um processo de alterações no nível de funcionamento de um indivíduo, onde é adquirida, ao longo do tempo, a expansão da capacidade de controlar movimentos, por meio da interação entre as exigências da tarefa, da biologia do indivíduo e o ambiente. Segundo Haywood e Getchell (2004), é preciso con- siderar que o desenvolvimento motor é um processo contínuo e sequencial, ligado à idade cronológica, na qual o indivíduo progride de um movimento simples, sem habilidade, até atingir o ponto das habilidades mo- toras mais complexas e organizadas e, assim, chegar ao ajuste dessas habilidades que acompanharão esse indiví- duo até o envelhecimento. Gallahue e Ozmun (2005) vão além e destacam que o desenvolvimento humano ocorre em um indivíduo desde a sua concepção até a morte. Explicam, ainda, que a palavra “desenvolvimento” em si implica mudanças comportamentais e/ou estruturais dos seres vivos du- rante a vida, já o processo de desenvolvimento motor revela-se por alterações no comportamento motor. Para os autores, é necessário considerar que bebês, crianças, adolescentes e adultos estão envolvidos no processo de aprender a se mover com controle e competência, em reação aos desafios enfrentados, diariamente. Por esta razão, os indivíduos devem ser, continuamente, estimu- lados a movimentar-se. Nessa fase de desenvolvimento da criança, o apren- dizado acontecerá de forma contínua, pois, pela explo- ração do ambiente, a criança conhece as suas habilida- des corporais. Por isso, segundo Mattos e Neira (2003), a realização de atividades motoras oportunizadas, nes- te momento, devem ser, sempre, aquelas que visam ao desenvolvimento das habilidades motoras básicas, tais como: andar, correr, saltar, correr, arremessar, receber, empurrar, puxar, subir, descer, enfim, habilidades para explorar o mundo. 93 EDUCAÇÃO FÍSICA Conforme Neto et al. (2004), as experiências mo- toras estão presentes no dia a dia das crianças e repre- sentam toda e qualquer atividade corporal realizada em casa, na escola e nas brincadeiras. As experiências motoras antes vivenciadas pelas crianças bem como as suas atividades diárias eram suficientes à aquisição das habilidades motoras e, também, à formação de uma base para o aprendizado de habilidades mais comple- xas, devido à disposição de grandes áreas livres para brincar, como praças, ruas e quintal. Entretanto, atu- almente, a criança necessita, nas suas experiências vi- venciadas nas aulas de Educação Infantil, destas ações oportunizadas pelo lúdico. A fim de planejar, organizar e elaborar atividades adequadas a cada momento da criança, deve-se compre- ender o que cada categoria de movimentos representa. Segundo Gallahue e Ozmun (2005), as habilidades motoras fundamentais são divididas em três categorias: • Habilidades locomotoras: movimentos que indicam uma mudança na localização do corpo em relação a um ponto fixo na superfície. Ex.: ca- minhar, correr, saltar, saltitar etc. • Habilidades manipulativas: movimentos de manipulação motora. Ex.: tarefas de arremesso, recepção, chutes (manipulativas grossas) e costu- rar, cortar (manipulativas finas). • Habilidades estabilizadoras ou de equilíbrio: a criança, na tentativa de manter a postura ver- tical, é envolvida em constantes esforços contra a força da gravidade. Ex.: girar braços e tronco, flexionar o tronco, entre outros. Outro aspecto relevante das habilidades motoras fun- damentais, de acordo com Gallahuee Ozmun (2005), é que, durante o seu desenvolvimento, o indivíduo passa por três estágios distintos. São eles: • Estágio inicial: representa a primeira metade orientada da criança, na tentativa de executar um padrão de movimento fundamental. As in- tegrações dos movimentos espaciais e temporais são mínimas. A criança atinge este nível por volta de dois a três anos de idade. • Estágio elementar: envolve maior controle e melhor coordenação dos movimentos funda- mentais. Evidencia-se por volta dos quatro a cinco anos de idade, dependendo do processo de maturação. • Estágio maduro: é caracterizado como, meca- nicamente, eficiente coordenado e de execução controlada. Tipicamente, as crianças têm poten- cial de desenvolvimento para estar no estágio maduro perto de seis a sete anos. Outro aspecto a ser considerado acerca do desenvolvi- mento da criança da Educação Infantil está relacionado às características cognitivas dela, as quais, nessa fase, se- gundo Piaget (1993), encontram-se no período pré-ope- ratório, dos dois a sete anos, quando há o destaque para a fase dos quatro aos seis anos, por ser um período de emergência da linguagem, e o eixo do desenvolvimento cognitivo da criança, neste momento, acontecerá pela linguagem e pela reorganização da ação cognitiva, por- que esse autor coloca o desenvolvimento da linguagem como dependente do desenvolvimento da inteligência. Em relação ao desenvolvimento afetivo e social da criança na Educação Infantil, há de se considerar, segun- do Wallon (1953), que esta é a fase de formação da per- sonalidade do indivíduo. Segundo o autor, a partir dos três anos ocorre o estágio do personalismo, momento da constituição do eu, no qual a criança, em seu confronto com o outro, passa por uma verdadeira crise de persona- lidade, caracterizada pelas mudanças nas suas relações com o seu entorno, assim como pelo aparecimento de novas aptidões. Outro destaque de Wallon (1953) para essa idade consiste na seguinte definição: por volta dos quatro anos de idade, a criança desenvolve maneiras de ser admira- da e chamar a atenção para si na necessidade de agra- 94 dar, com o objetivo de obter a aprovação dos demais. A criança passa a se considerar em função da admiração que acredita ser capaz de despertar nas pessoas. Acerca da coordenação motora ampla da criança, Araújo (1992, p. 35) destaca que, nesta fase da Educação Infantil, [...] a criança pode andar, correr, saltar, rolar, pular, arrastar-se, nadar, lançar-pegar, sentar. Permite a re- alização de múltiplos movimentos ao mesmo tempo, com cada membro realizando uma atividade dife- rente, sem perder a conservação de unidade do gesto. Em relação à noção de corpo e espaço, na Educação Infantil, segundo De Meur e Staes (1991, p. 122), “[...] a criança não distingue ainda o tempo subjetivo e o tem- po objetivo. Para ela, é importante que vivencie situações com vários tempos de execução para que comece a per- ceber o tempo longo, curto, e situações rápidas e lentas”. Segundo Le Boulch (1983, p. 190), “[...] a estruturação es- pacial é fundamental para a criança se situar no meio em que vive, estabelecendo relações entre os objetos, fazendo observações, comparações, combinações e vendo seme- lhanças e diferenças entre eles”. Sobre a imagem corporal, considerada o conhecimento do corpo, consciente e inte- lectualmente, junto com a função de seus membros e de seus órgãos, Fonseca (1983, p. 262) destaca: [...] o desenho do corpo não exprime unicamente a gnosia corporal. Nele se projetam às experiências emocionais, as sensações erógenas, as pressões só- cio-culturais, isto é, o desenho do corpo é reflexo do que a criança viveu, nas relações com o meio ambiente, não só no que sentiu como também no que simbolicamente integrou. Através do conheci- mento das sensações que provém do corpo e das experiências táteis, cria-se um esquema corporal, que regula a postura e o equilíbrio. Esse esquema é a base essencial para a criação da imagem corporal. De acordo com Mattos (1999, p. 37), a estruturação es- pacial da criança nada mais é do que “[...] a tomada de consciência de seu corpo em um ambiente, isto é, do lu- gar e da orientação que pode ter em relação às pessoas e as coisas”. Logo, a estruturação espacial possibilita que a criança consiga organizar-se diante do universo que a cerca, organizar os objetos entre si e movimentá-los. Segundo Oliveira (1997, p. 82), “[...] em primeiro lugar, a criança percebe a posição de seu próprio corpo no espa- ço, depois, a posição dos objetos em relação a si mesma e, por fim, aprende a perceber as relações das posições dos objetos entre si”. Caro(a) aluno(a), o Quadro 1 apresenta a síntese das principais características da criança da Educação Infan- til, de modo a te ajudar a visualizar quem é o aluno que você deve considerar em seus planejamentos. 95 EDUCAÇÃO FÍSICA Características da criança da Educação Infantil Motor Intelectual Emocional e social Brincadeira e estimulação • Andar • Correr • Saltar • Subir e descer escadas • Pedalar • Egocentrismo ainda presente. • Aos poucos passa a con- siderar o ponto de visto do outro. • Associa ideias a eventos próximos. • Continua pensando uma ideia por vez. • Confunde imaginação com realidade. • Julga as experiências pe- los resultados aparentes. • Utiliza habilidades aprendidas para enfrentar novas situa- ções. • Avalia a sua atuação como satisfatória, resultando em uma percepção positiva de si (autoestima). • Precisa estar segura do apoio dos pais, ser orientada e aprovada em suas decisões e ações. • O que, quando, como e por que são perguntas constantes. • Fala o tempo todo. • Brincadeiras em grupo. • Amigo imagi- nário. • Faz-de-conta. Quadro 1 - Características da criança da Educação Infantil / Fonte: adaptado de Costa (2008). Em síntese, o desenvolvimento da criança que está na Educação Infantil, segundo Gallahue e Ozmun (2005), encon- tra-se na fase dos movimentos fundamentais, na qual pegar, engatinhar, andar, correr, saltar, girar e rolar são essenciais na Educação Infantil. Além disso, as tarefas motoras de estabilização, locomoção e manipulação podem ser explo- radas, pois as crianças, ao final da Educação Infantil, já conseguem entender regras e compreendê-las, começam a apresentar mais atenção e concentração e, também, a se organizar em grupos. Além destes fatos, é necessário considerar que os movimentos da criança nas aulas de Educação Física na Educa- ção Infantil, por vezes, se apresentarão, inicialmente, de forma global, desarmônica e, quase sempre, simétricas. No en- tanto, por meio das atividades planejadas e estruturadas de modo lúdico, a criança descobre os próprios movimentos bem como produz ações que, aos poucos, produzem movimentos caracterizados pelas destreza e eficiência. 96 MAPA CONCEITUAL DOS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL Vieira (2007, p. 5), “[...] a Educação Física na Educação Infantil pode configurar-se como um espaço em que a criança brinque com a linguagem corporal, com o corpo, com o movimento, alfabetizando-se nessa linguagem”. Nas aulas de Educação Física, as atividades estrutura- das e planejadas devem criar situações em que a criança entre em contato com várias manifestações da cultura corporal, tendo em vista, sempre, a dimensão lúdica como um dos elementos principais à ação educativa na infância, afinal, para a criança, o ato do brincar se relaciona com a sua forma de se expressar perante o mundo. É a lingua- gem corporal a sua primeira forma de se comunicar. Nesse sentido, Mattos e Neira (2003, p. 183) colabo- ram ao afirmar que: [...] a pré-escola e a 1° série têm grande relevância na proposição das atividades que visam ao desen- volvimento das habilidades básicas à alfabetização, percepção, lateralidade, orientação espaço-temporal, coordenação visual e motora e esquema corporal, parece-nos bastante clara a noção de que o trabalho na educação física deva caminharna mesma direção. Portanto, trabalhar a Educação Física na Educação Infantil é buscar novas estratégias, métodos e atividades que opor- tunizem “[...] possibilidades de ampliação do repertório de movimentos, gestos, capacidade expressiva e capacidade de planejar seu próprio movimento, assim como reconheci- mento da cultura corporal” (VIEIRA, 2007, p. 7). A prática corporal abordada na Educação Infantil deve ser uma ação que permita à criança criar, recriar, construir e reconstruir os seus movimentos, as suas capacidades bem como as suas potencialidades, sendo considerados, para tanto, o aprendizado sistematizado das normas de convivência, dos hábitos culturais e de outros objetos sociais de conhecimento que contribu- am, expressivamente, para o processo de socialização e desenvolvimento da criança. Quando pensamos na organização dos conteúdos das aulas de Educação Física na Educação Infantil, instinti- vamente, nos reportamos ao trabalho com o movimen- to, certo? Esta forma de pensar é correta, haja vista que, de acordo com Garanhani (2002), o corpo em movi- mento constitui a matriz básica da aprendizagem infan- til. Entretanto, mesmo adotando esta delimitação para a abrangência das ações no campo das aulas da Educação Física na Educação Infantil, outros questionamentos po- dem surgir. Por exemplo: • Quais são os conteúdos na Educação Infantil? • Como devem ser organizados? • Qual a contribuição da Educação Física para o desenvolvimento infantil? A fim de responder a estas reflexões, iniciaremos pela compreensão de que a Educação Infantil é um espaço no qual o brincar, o lúdico, o movimento, o jogo da imi- tação e do faz-de-conta são elementos essenciais a todas as ações desenvolvidas neste ambiente. De acordo com 97 EDUCAÇÃO FÍSICA Na Figura 2, respondemos ao nosso primeiro questiona- mento apresentado no início desta discussão: quais são os conteúdos na Educação Infantil? Em geral, os conteúdos abordados nas aulas de Educação Física na Educação In- fantil devem estar relacionados com as questões do corpo e do movimento, para que, por meio deles, a criança possa conhecer o seu corpo, explorar as possibilidades de movi- mentos, buscar as diversas formas de gestualidades possí- veis de serem produzidas, por meio das atividades lúdicas. Segundo Piaget (1993), o começo do conhecimen- to é a ação do sujeito sobre o objeto, o que significa, de acordo com o autor, que o conhecimento humano se constrói na interação homem-meio, sujeito-objeto. Portanto, cabe ao professor, nas aulas de Educação Fí- sica, organizar estes momentos nos quais haja, sempre, equilibração e reequilibração dos conhecimentos, de tal forma que levem as crianças a assimilar e a acomodar os novos conhecimentos apresentados, construindo novas perspectivas, reconstruindo conceitos e conhecimentos tanto do mundo quanto da realidade. Assim, as aulas de Educação Física precisam trazer para o seu contexto a valorização dos conhecimentos da própria criança, pois, conforme afirma Wallon (1953), a cultura e a linguagem fornecem ao pensamento os ele- mentos por meio dos quais a criança possa se modificar. A socialização, nesse momento, faz-se necessária porque, por meio de atividades lúdicas, a criança interage, tendo, então, a possibilidade de reconfigurar os próprios con- ceitos. Não existe linearidade no desenvolvimento — este é, sempre, descontínuo — por isso, sofre crises, rupturas, conflitos, retrocessos, enfim, um movimento que tende a levar a criança a conquistar outros conhecimentos. Eixo 1: Movimento e os jogos Eixo 2: Movimento em expressão e ritmo Eixo 3: Corporeidade e autonomia Eixo 4: Movimento e a corporeidade Conteúdo da Educação Infantil Som e movimento Atividades expressivas Brincadeiras rítmicas • Esquema corporal • Lateralidade • Coordenação • Equilíbrio Expressão corporal Corpo e movimento rítmico Corpo e os sentidos Cantigas de roda Jogos de imitação Brinquedos e brincadeiras cantadas Atividades manipulativas Jogos motores Jogos e brincadeiras da cultura infantil Brincadeiras em grupos Corpo e objeto Noções lógico matemáticas Brincadeiras populares • Pesado/leve • Perto/longe • Igual/diferente • Duro/mole Atividades de escolhas e decisão Figura 2 - Continuidade da educação: explicando os eixos do desenvolvimento / Fonte: os autores. 98 Entendemos que a criança tem as suas características próprias e, enquanto um ser social, ela sofre influências do meio no qual está inserida. Na Figura 3, apresentamos um mapa conceitual, traçando diferentes conteúdos para cada momento da criança na Educação Infantil. Expressão corporal Lateralidade Coordenação motora (grossa e fina) Conhecimento de si e do mundo Interagir com o outro Linguagem corporal Regras: criar e recriar Expressão lúdica Eixo: movimento e os jogos • Jogos de mímica • Brincadeiras de roda • Jogos motores Postura corporal Coordenação Óculo – manual e pedal Equilíbrio (Dinâmico e estático) Corpo e ritmo • Brinquedos cantados • Cantigas de roda• Percepção de espaço • Direção • Lateralidade: noção de direita e esquerda • Direcionalidade: Dentro/fora, Frente/atrás Eixo: Movimento em expressão e ritmo Figura 3 - Eixo: o movimento e os jogos / Fonte: os autores. Figura 4 - Eixo: o movimento em expressão e ritmo / Fonte: os autores. 99 EDUCAÇÃO FÍSICA As Figuras 3, 4, 5 e 6 representam os elementos que compõem os eixos motores essenciais para o desenvol- vimento do planejamento das aulas da Educação Física no contexto da Educação Infantil. Mas deve-se conside- rar que, em todos os eixos, cabe ao professor possibilitar o desenvolvimento de ações relacionadas à elaboração de conteúdos conceituais, atitudinais e procedimentais (ZABALA, 1998). Vale ressaltar o que afirma Bron- fenbrenner (1996, p. 47): Qualquer relação didática envolve questões de reci- procidade, equilíbrio, poder e relação afetiva. No caso de uma criança pequena, a participação numa inte- ração didática oferece a oportunidade de aprender a conceber e a lidar com relações de poder diferen- ciadas. As relações afetivas tendem a se tornar mais diferenciadas e pronunciadas no curso da atividade conjunta. Na medida em que estas são positivas e recí- procas no início se tornam cada vez mais positiva, há muita chance de que aumentem o ritmo e a probabili- dade de ocorrência dos processos desenvolvimentais. PLANEJANDO AS AULAS PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL Segundo Hoffmann (2001), a organização e planejamento das atividades diárias proporcionam ao professor a reflexão de suas ações e metodologias, quando ele analisa os resulta- dos de seu projeto. De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL, 1998, p. 196) cabe “[...] ao professor planejar uma sequência de ativida- des que possibilite uma aprendizagem significativa para as crianças, nas quais elas possam reconhecer os limites de seus conhecimentos, ampliá-los e/ou reformulá-los”. O planejamento pedagógico na Educação Infantil precisa ser discutido e articulado aos sujeitos que estão inseridos nestes ambientes coletivos de educação, assim, é imprescindível trazer à sala de aula, por meio dos pla- nejamentos, as manifestações que as crianças expressam no seu dia a dia, a partir de seus balbucios, choros, falas, gestos, desejos, hipóteses e conhecimentos prévios. Estes são de suma relevância para um trabalho que respeite as culturas infantis (AHMAD, 2011). Corpo e espaço Corpo e sentidos Conhecimento do corpo Expressividade Gestualidade Corpo, meio e cultura • Rolar em diferentes direções • Saltar • Saltitar • Correr/andar • Equilibrar Eixo: Movimento e corporeidade Percepção corporal Imagem corporal Percepção: Espaço – Temporal Corpo e objeto Movimentos • Engatinhar • Sentar • Levantar • Andar • Rolar • Arrastar • Quadrupejar Relação: • Corpo • Corpo-objeto • Corpo-espaço • Corpo-outro • Corpo-tempo Eixo:Corporeidade e autonomia Figura 5 - Eixo: o movimento e a corporeidade / Fonte: os autores. Figura 6 - Eixo: corporeidade e autonomia – Conteúdos aborda- dos / Fonte: os autores. 100 Schmitt (2006) vai além e afirma que o objetivo principal do planejamento é possibilitar um trabalho mais significativo e transformador na sala de aula, na escola e na sociedade. O plano escrito é o produto do processo de reflexão e decisão. Assim, não deve ser feito por uma exigência burocrática, mas, ao contrário, “deve corresponder a um projeto-compromisso do professor, tendo, pois, suas marcas” (SCHMITT, 2006, p. 2). O planejamento pedagógico na Educação Infantil precisa ser discutido e articulado com os interesses cul- turais das crianças, pois, assim “é possível trazer para as aulas de Educação Física manifestações que as crianças expressam no seu dia a dia, suas hipóteses e conhecimen- tos prévios, que são de suma relevância para um trabalho que respeite as culturas infantis” (AHMAD, 2011, p. 4). O planejamento educativo deve ser assumido no cotidiano como um processo de reflexão, pois, mais do que ser um papel preenchido, é atitude e envol- ve todas as ações e situações do educador no coti- diano do seu trabalho pedagógico. Planejar é essa atitude de traçar, projetar, programar, elaborar um roteiro para empreender uma viagem de conhe- cimento, de interação, de experiências múltiplas e significativas para com o grupo de crianças. Plane- jamento pedagógico é atitude crítica do educador diante de seu trabalho docente. Por isso não é uma fôrma! Ao contrário, é flexível e, como tal, permite ao educador repensar, revisando, buscando novos significados para sua prática pedagógica. O pla- nejamento marca a intencionalidade do processo educativo, mas não pode ficar só na intenção, ou melhor, só na imaginação, na concepção (OSTET- TO, 2004, p. 41). Nas palavras de Paim (2003, on-line), a Educação Fí- sica adquire um papel importantíssimo à medida que ela possa estruturar o meio ambiente adequado para a criança, oferecendo experiências, resultando em um auxiliar considerável e promotor do desenvolvimento humano, em especial ao desenvolvimento motor, além de garantir a aprendizagem de habilidades específicas. A construção de movimentos varia de indivíduo para in- divíduo, a organização construída pelo sujeito depende tanto dos recursos biológicos e psicológicos de cada pes- soa quanto das condições do meio ambiente onde ela se encontra. Por isso, o ser humano não precisa, somente, do que está presente nele, parte do que ele precisa para viver está, também, no mundo lá fora, no meio ambiente e ao seu redor. Conforme Hernández (1998), o planejamento ne- cessita envolver as questões culturais, de forma que as ações docentes levem a criança a construir alternativas de conhecimentos, a fazendo romper com a linearidade estabelecida, ou seja, é preciso que as aulas deem possi- bilidade de a criança refazer e de renomear o mundo e de ensinar os alunos a interpretar os significados mutáveis com que os indivíduos das diferentes culturas e tempos históricos dotam a realidade de sentido. Ao mesmo tempo em que lhes abre as portas para compre- ender suas concepções e as de quem os rodeiam. (HERNÁNDEZ, 1998, p. 28). É importante pensar que a criança, sendo um ser social e, também, em adaptação, a ela deve ser opor- tunizada a construção de conhecimentos. Afinal, conforme indica Freire (2003), para que a criança se adapte ao mundo, para agir sobre o mundo, transfor- mando-o e resolvendo problemas, é necessário que ela construa o seu próprio movimento corporal espe- cífico. Isso só poderá ocorrer por meio de esquemas de ação, pois é com eles que o ser humano expressa- rá, em todas as ocasiões de sua vida, os seus movi- mentos. Lembrando que a primeira fase da infância é crucial, porque é a partir dela que se desenvolvem as movimentações corporais básicas. 101 EDUCAÇÃO FÍSICA Tendo esta compreensão, você, enquanto professor, deverá planejar as suas atividades considerando as ca- racterísticas das crianças, os conhecimentos culturais delas bem como as potencialidades, afinal, a aula deve ser desafiadora e levar a criança a buscar novos saberes e conhecimentos, de tal forma que o repertório motor e a linguagem corporal do aluno sejam ampliados. Nesta unidade, ressaltamos que o movimento é a es- sência da infância e, nesse sentido, a ação do professor de Educação Física, atuando didática e pedagogicamente neste espaço de intervenção, torna-se essencial. O nos- so intuito, aqui, foi promover uma discussão acerca do movimento, objetivando dar a você uma sustentação te- órica a respeito de quem é a criança da Educação Infantil e, assim, te ajudar a compreender a complexidade que envolve o desenvolvimento dessa criança, as suas fases e etapas da aprendizagem. Evidenciamos que o desenvolvimento é um proces- so contínuo e constante, portanto, as atividades escolares devem ser, sempre, planejadas e organizadas de acordo com uma sistematização prévia, na qual se engloba a idade cronológica da criança, os limites dela bem como as potencialidades e possibilidades para o processo de aprendizagem. Além, é claro, de considerar que, em ge- ral, as aulas de Educação Física para a Educação Infantil ocorrem de maneira global, sustentando-se na ludicida- de, colaborando, efetivamente, na ação motora para o desenvolvimento afetivo, social e cognitivo da criança. Além de pensar na rotina do aluno, na sua cultura e no seu meio social, cabe ao professor ir além, organizan- do atividades as quais estimulem a criança a explorar os próprios movimentos corporais, a aprender a vivenciar experiências que, por meio de brincadeiras, a auxiliem no desenvolvimento de suas habilidades motoras, a fim de aprimorar, pouco a pouco, as suas habilidades e, as- sim, alavancar os processos de desenvolvimento motor. Toda ação didático-pedagógica do professor de Edu- cação Física necessita ser marcada por constantes refle- xões acerca de sua ação docente, entretanto, quando nos referimos ao trabalho com a Educação Infantil, há de se atentar ao fato de que a criança é um ser social, em cons- tante transformação e que, portanto, deve ser pensada, sempre, de forma global, acenando para as potencialida- des dela, colaborando na superação de suas fragilidades. 102 LEITURA COMPLEMENTAR As discussões acerca da valorização da cultura da criança no ambiente da Educação Infantil têm sido uma preocu- pação latente no campo da pesquisa da Educação Física. Em posse deste conhecimento, trazemos para você o ar- tigo “Cultura e Escola & Movimento e Linguagem na Edu- cação de Crianças Pequenas”, resultante da pesquisa da professora Marynelma Camargo Garanhani, do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná – PPGE/UFPR, e da professora da Rede Munici- pal de Ensino de Curitiba, Lorena Fátima Nadolny. Vamos à leitura! Resumo: Este texto discute o papel da cultura na educa- ção escolar da pequena infância por meio da pesquisa de autores que compreendem a criança como sujeito histó- rico e social, capaz de expressar idéias, sentimentos e de produzir cultura. [...] Além disso, apresenta proposições sobre o movimento do corpo infantil como uma das lingua- gens que a criança se utiliza para apropriação e construção de conhecimentos da e sobre a cultura que está inserida. Concluiu-se, neste estudo, que a concepção de infância determina as instituições que proporcionam a educação escolar para as crianças pequenas e, consequentemente, o trabalho pedagógico desenvolvido nestes contextos. Ao entendermos que a instituição de Educação Infantil é o meio em que a criança pequena extrai, experimenta, ajusta e constrói movimentos corporais provenientes da inser- ção e interação num grupo diferente do seu meio familiar, concluímos que esta escola é um meio privilegiado para o desenvolvimento da autonomia corporal e vivências de diversosmodelos de movimentos corporais provenientes da cultura em que se encontra. Neste cenário, as ações sis- tematizadas e intencionais poderão proporcionar à criança pequena o conhecimento e domínio de sua movimentação corporal como uma linguagem que mobiliza e aprimora a sua expressão e comunicação. [...] A movimentação do corpo: uma linguagem da criança... Desde que nascem as crianças se movimentam e, progres- sivamente, se apropriam de possibilidades corporais para a interação com o mundo. Por meio do movimento, apren- dem sobre si mesmas, se relacionam com o outro e com os objetos, desenvolvem suas capacidades e aprendem habilidades. Portanto, o movimento é um recurso utilizado pela criança para o seu conhecimento e do meio em que se insere, para expressar seu pensamento e também experi- mentar relações com pessoas e objetos. O movimento corporal se apresenta na Educação Infantil como uma linguagem, pois toda a movimentação da crian- ça tem um significado e uma intenção. Palomo (2001) nos explica que linguagem é um sistema complexo de significa- ção e comunicação e pode ser de dois tipos: a verbal, cujos sinais são as palavras e a não-verbal, que emprega outros sinais que não as palavras, como as imagens, os sons, os gestos. Com base neste conceito entendemos o movimen- to como uma linguagem não-verbal que permite à criança agir no meio em que está inserida, através da expressão de 103 LEITURA COMPLEMENTAR suas intenções e construção de relações de comunicação. Portanto, o movimento é uma importante dimensão do desenvolvimento e da cultura humana (BRASIL, 1998) e o corpo em movimento constitui a matriz básica da aprendi- zagem infantil (GARANHANI, 2002). A justificativa para esta afirmação é que a criança necessita agir para compreender e expressar significados presentes no contexto histórico- -cultural em que se encontra, ou seja, ao transformar em símbolo aquilo que pode experimentar corporalmente, a criança constrói o seu pensamento primeiramente sob a forma de ação. Por isto, a criança necessita agir, se movi- mentar para conhecer e compreender os significados pre- sentes no seu meio. (GARANHANI, 2004). Neste cenário, a criança utiliza a movimentação do seu corpo como linguagem para compreender, expressar e comunicar suas idéias, entendimentos, desejos, etc e, este fato, nos faz (re)pensar uma concepção de Educação Infan- til que valorize a movimentação da criança, não somente como uma necessidade físico-motora do desenvolvimento infantil, mas também como uma capacidade expressiva e intencional. Assim, é necessário estar atento ao fazer pedagógico da Educação Infantil que contemple o conhecimento e de- senvolvimento de diferentes linguagens, dentre elas o movimento corporal. Mas esta condição está diretamente atrelada à formação de professores responsáveis pela es- colarização da pequena infância. Fonte: adaptado de Garanhani e Nadolny (2009). 104 agora é com você 1. De acordo com a legislação da Educação Infantil, considera-se que a primeira infância é a fase do desenvolvimento da criança que abrange a idade entre: a. Zero a cinco anos. b. Dois a quatro anos. c. Quatro a cinco anos. d. Um a seis anos. e. Um a sete anos. 2. Conceitualmente, o desenvolvimento motor pode ser compreendido como: a. Um processo de alterações no nível de funcionamento de um indivíduo, considerando a interação entre as exigências da tarefa, da biologia do in- divíduo e o ambiente. b. Um processo restrito que ocorre, apenas, nos três primeiros anos de vida da criança. c. Um processo que acontece a partir dos seis anos de idade da criança. d. Um processo que ocorre ao longo do tempo e independe das caracterís- ticas do meio. e. Um processo que independe dos estímulos e das motivações externas. 105 agora é com você 3. De acordo com Gallahue e Ozmun (2005), as habilidades motoras fundamen- tais são divididas em três categorias. Observe as afirmativas, a seguir, e assi- nale V para as verdadeiras e F para as falsas. ) ( Habilidades locomotoras: movimentos que indicam uma mudança na loca- lização do corpo em relação a um ponto fixo na superfície. Ex.: caminhar, correr, saltar, saltitar etc. ) ( Habilidade locomotoras: movimentos que ocorrem, apenas, na primeira infância. ) ( Habilidades manipulativas: movimentos de manipulação motora. Ex.: ta- refas de arremesso, recepção, chutes (manipulativas grossas), costurar, cortar (manipulativas finas). ) ( Habilidades manipulativas: são representadas por movimentos de correr, saltar, rolar e saltitar. ) ( Habilidades estabilizadoras ou de equilíbrio: a criança é envolvida em constantes esforços contra a força da gravidade, na tentativa de manter a postura vertical. Ex.: girar braços e tronco, flexionar o tronco, entre outros. A sequência correta para a questão é: a. F, V, F, V, F. b. V, F, F, V, V. c. V, F, V, F, V. d. V, V, F, F, V. e. V, V, V, V, F. 4. Ao elaborar um plano de aula voltado à Educação Física infantil, quais os ele- mentos corporais essenciais a serem considerados para o desenvolvimento da aula? 5. Qual o papel do professor de Educação Física para as aulas de Educação Fí- sica infantil? 106 agora é com você Título: Corpo em Movimento na Educação Infantil Autores: Vilma Leni Nista-Piccolo e Wagner Wey Moreira Ano: 2012 Sinopse: este livro pretende contribuir para a compreensão de aspectos que envolvem o desenvolvimento da criança, a corporeidade associada à criativida- de, a importância da motricidade, do jogo e do aspecto lúdico nas atividades, entre outros. A obra oferece um repertório de prática aliado a uma base teórica e ambos poderão proporcionar aos professores melhores práticas educativas na Educação Infantil. Título: O Começo da Vida Ano: 2016 Sinopse: um dos avanços mais significativos da Neurociência a descoberta de que os bebês são muito mais do que uma carga genética. O desenvolvimento de todos os seres humanos encontra-se na combinação da genética com a qua- lidade das relações que desenvolvemos e do ambiente onde estamos inseridos. Comentário: O Começo da Vida convida todos, como parte da sociedade, a refletir: estamos cuidando bem dos primeiros anos de vida, os quais definem tanto o presente quanto o futuro da humanidade? UNIDADE V Dr. Amauri Aparecido Bássoli de Oliveira Dra Vânia de Fátima Matias de Souza Oportunidades de aprendizagem • Analisar as perspectivas de ação pedagógica para a Educação Física nas séries iniciais do Ensino Fundamental, apontando a relação e a atuação didático- pedagógica nas intervenções. • Apresentar uma proposta pedagógica para a Educação Física no contexto dos 1º, 2º e 3º anos das séries iniciais. • Apresentar uma proposta pedagógica para a Educação Física no contexto dos 4º e 5º anos das séries iniciais. Plano de Estudo • A Educação Física nas Séries Iniciais a Partir das Abordagens Educacionais: Quem é a Criança • Elementos para a Construção de uma Proposta Pedagógica: Mapa Conceitual dos Conteúdos dos 1º, 2º e 3º Anos das Séries Iniciais • Elementos para a Construção de uma Proposta Pedagógica: Mapa Conceitual dos Conteúdos dos 4º e 5º Anos das Séries Iniciais PLANEJANDO AS AULAS PARA AS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL unidade V 110 Com este enfoque, preparamos esta unidade para ajudar você a pensar tanto na estrutura quanto na orga- nização das aulas de Educação Física das séries iniciais. Boa leitura! A EDUCAÇÃO FÍSICA NAS SÉRIES INICIAIS A PARTIR DAS ABORDAGENS EDUCACIONAIS: QUEM É A CRIANÇA O Ensino Fundamental, no Brasil, tem passado por inú- meras transformações ao longo de sua história, dentre elas, destacamos a organização do ensino. Entenda que, de acordo com a legislação educacional brasileira, a Lei 4.024/1961 estabeleceu quatro anos de escolaridade obrigatória; já a Lei 5.692/1971 determinou a exten- são da obrigatoriedade para oito anos; enquanto a Lei 9.394/1996 sinalizouum ensino obrigatório de nove anos de duração, a iniciar-se aos seis anos de idade, o que, por sua vez, tornou-se meta da educação nacional, por meio da Lei 10.172/2001, a qual aprovou o Plano Nacional de Educação (PNE). Em 2006, a Lei 11.274 concretizou esse plano, tornando obrigatória a matrícu- la das crianças de seis anos de idade no Ensino Funda- mental de nove anos de duração. Com estas mudanças na educação e com o processo de ampliação do Ensino Fundamental, muitos questio- namentos têm surgido. Na Educação Física, eles ocor- rem, principalmente, acerca do currículo a ser trabalha- do: quais os conteúdos? Como os organizar? Precisamos entender que os conteúdos e as práticas pedagógicas trabalhadas nas séries iniciais do Ensino Fundamental precisam seguir uma estrutura de planeja- mento a qual contemple para essa etapa de ensino obje- tivos, saberes e conhecimentos estabelecidos. Estes, por sua vez, devem corresponder às necessidades e expecta- tivas da criança em cada fase ou momento do desenvol- vimento dela. Compreendemos que a Educação Física — enquanto componente curricular das séries iniciais do Ensino Fun- damental — se constitui em um espaço cuja relação entre os processos de ensino e aprendizagem parte dos princí- pios de uma educação de qualidade, centrada nos saberes necessários ao desenvolvimento integral da criança. Por isso, consideramos que toda ação pedagógica do profes- sor deve ser tratada a partir da estrutura e da organização de um planejamento adequado às necessidades infantis. De acordo com a Lei 11.274 (BRASIL, 2006, on-line), as séries iniciais da Educação Básica compreendem a ensi- no realizado do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental. Em posse desta compreensão, nesta unidade, apresentare- mos elementos e apontamentos iniciais que te auxiliarão na construção do planejamento das aulas de Educação Física, tendo, como pressupostos teóricos, o entendimen- to em relação à criança no contexto da sua infância, com as suas características e singularidades próprias. Entendemos que a infância, enquanto categoria so- cial, engloba a criança em seus múltiplos contextos bem como em suas relações históricas e sociais. Por este mo- tivo, para se discutir os conteúdos escolares, é necessário conhecer a criança da qual estamos falando. 111 EDUCAÇÃO FÍSICA Precisamos partir do pressuposto de que, para obter- mos educação de qualidade, é importante haver um bom planejamento, no qual conste as necessidades tanto da criança quanto da escola e da sociedade, a fim de que os conteúdos abordados no currículo estejam adequados. Assim, ao organizarmos a estrutura das aulas de Educa- ção Física para as séries iniciais, precisamos nos questio- nar: quais as condições à implementação do currículo da Educação Física? Qual é o papel das aulas de Educação Física para as crianças das séries inicias do Ensino Fun- damental? Qual o significado dos conteúdos e atividades selecionadas? Como trabalhar com as crianças de ma- neira que sejam considerados o contexto cultural delas, o desenvolvimento e o acesso aos conhecimentos? Para iniciarmos a organização e planejamento das aulas da Educação Física, há de se considerar que a criança traz consigo os seus próprios conhecimen- tos de mundo e de si mesma, resultantes de sua histó- ria e, também, do meio cultural do qual ela faz parte. Por isso, deve-se pensar na história das crianças, no momento de construir a estrutura organizacional das aulas de Educação Física escolar, afinal, como afirma Benjamin (1984, p. 14), as crianças “fazem história a partir da história”. Por meio das relações sociais, dos jogos e brincadei- ras, as crianças são capazes de criar e recriar situações bem como compreender regras, pois a cultura infantil consiste em um processo no qual o criar, o recriar, o pro- duzir conhecimentos, o transformar e transformar-se acontecem a partir das interações cotidianas da criança com o mundo adulto e com o universo infantil, inclusive nas relações de pertencimento, considerando as relações com o tempo e o espaço. Logo, as aulas de Educação Físi- ca se constituem em um ambiente importante, para que essas interações ocorram, de forma significativa, no de- senvolvimento da criança. Tendo a compreensão de que as aulas de Educação Física escolar contribuem, de modo fundamental, para o desenvolvimento integral das crianças, entendemos que conhecer as caraterísticas destes seres em formação, assim como os interesses e as necessidades de cada momento da infância permite que as aulas de Educação Física sejam estruturadas atendendo às necessidades dos alunos. Ao concebermos o fato de que a criança tem a sua própria história, é fruto e produtora de um contexto so- cial, as aulas passam a apresentar mais significado aos alunos. Por meio desta perspectiva, quando conside- ramos o contexto, as condições concretas nas quais as crianças estão inseridas e onde acontecem as suas práti- cas e interações, a ação educativa começa a ser mais inte- ressante para o aluno, afinal, como vimos, anteriormen- te, o planejamento consiste em um trabalho orientado às dimensões conceituais, procedimentais e atitudinais. Entendemos que a ação docente voltada às organização e estruturação do planejamento das aulas de Educação Física deve levar em conta as características individuais da criança, as suas relações e interações sociais, porque tanto a apropriação quanto a influência do meio e das tarefas oportunizadas para a criança serão elementos importantes na formação dela. Se entendemos que a Educação Física contri- bui para o desenvolvimento integral das crian- ças e consta na Lei 9.394/1996 como compo- nente obrigatório na Educação Básica, quais os motivos que ainda levam à ausência, em muitas escolas, deste componente curricular? 112 Considerando a relevância das interações sociais para o desenvolvimento infantil, Vygotsky (1996, p. 98) aponta que “[...] as interações sociais ocupam a centralidade do processo de desenvolvimento do sujeito e são percebidas como constitutivas da sua identidade do sujeito”, o que sig- nifica dizer que a criança experimentará, no fluxo do seu desenvolvimento, as influências e contribuições decorren- tes das relações sociais que ela possui com o seu meio, rela- ções estas mediadas pelas interações com outros indivídu- os, a partir de um processo cíclico e histórico. Podemos conceituar, também, como elementos que colaboram, significativamente, para o desenvolvi- mento da criança, as influências exercidas pela cultura, pelas relações sociais, pelo meio, afinal, a criança, no seu cotidiano escolar, passa a ter relações sociais mais intensas e, consequentemente, por meio dos valores, conceitos, regras e interações com o outro, ela começa a conhecer e a construir a sua concepção de mundo, a qual, por sua vez, pode ser, constantemente, reelabo- rada e internalizada. Nesse contexto, a aula de Educa- ção Física torna-se um espaço oportuno ao desenvol- vimento da criança porque, por meio dos jogos e das brincadeiras, ela interage com o grupo, aprende regras, realiza, a partir de suas relações, a própria construção identitária. Dessa forma, as aulas de Educação Física possibilitam o desenvolvimento da criança seja esti- mulado, motivado a alavancar, em especial, pelo fato de a ampliação e variabilidade das ações motoras pro- porcionar o desenvolvimento de todas as habilidades. Afinal, como Gallahue e Ozmun (2001) enfatizam, o desenvolvimento não é uma ação única, mas é, também, resultante das interações dos domínios motor, cognitivo e socioafetivo, os quais acontecem, sempre, de forma in- terligada. Isso porque os três domínios influenciam-se, Compreendendo que o processo de desenvolvimento da criança não é algo estático e que depende de elementos derivados do universo que a cerca, é importante ressaltar o seguinte fato: é por meio da aquisição e do desenvolvimen- to dos padrões de movimento da criança que o professor consegue planejar asaulas de Educação Física bem como integrar a proposta pedagógica da escola ao momento no qual a criança se encontra e às necessidades dela. Vale destacar que a criança das séries iniciais vai en- contrar-se no que Gallahue e Ozmun (2001) denominam “padrão fundamental de movimentos”, considerado um momento no qual o aluno deve receber uma ampla ofer- ta de vivência corporais. Isso porque, segundo os autores, a maioria das crianças possui um potencial de desenvolvi- mento que as conduz ao estágio maduro dessas habilidades, portanto, a ampliação de ações motoras ofertadas possibi- litará que a criança vivencie um processo de refinamento, mas também de combinação de movimentos, os quais serão responsáveis pela aquisição das habilidades especializadas, amplamente, utilizadas nas ações motoras especializadas. mutuamente, sendo considerado um processo perma- nente que abrange todas as etapas da vida do indivíduo. Entendendo que a criança tem características próprias, mas que o ambiente e as tarefas oportunizadas influenciam o desenvolvimen- to dela, como deve ocorrer o processo de en- sino e aprendizagem nas aulas de Educação Física para as séries iniciais? 113 EDUCAÇÃO FÍSICA 1. Aspectos musculares Levam em conta a utilização dos grupamentos musculares, sendo classificados em coordenação motora grossa (grandes grupamentos musculares) e coordenação motora fina (peque- nos grupamentos musculares). 2. Aspectos temporais do movimento Levam em conta o tempo no qual o movimento acontece, po- dendo ser classificados em: a. Movimento discreto (o início e o fim são bem definidos). b. Movimento em série (simples e repetido diversas vezes, em sucessão rápida). c. Movimento contínuo (repetido de forma cíclica, por um período de tempo). 3. Aspectos ambientais do movimento Levam em conta o contexto onde o movimento acontece, divi- dindo-se em: a. Tarefa motora aberta (acontece em um ambiente onde as condições estão, constantemente, mudando). b. Tarefa motora fechada (ambiente estável ou previsível). 4. Função intencional do movimento Apesar de todas as tarefas envolverem, sempre, elementos de equilíbrio, pode-se dividir os movimentos com base na intenção: a. Tarefa de estabilidade (ganhar ou manter a orientação corporal estável ou realizar movimentos axiais, como flexão, alongamento, torção e giro). b. Tarefas locomotoras (têm por objetivo transportar o corpo de um lugar a outro). c. Tarefas de manipulação de objetos (dar ou receber a força de um objeto). 5. Níveis de desenvolvimento do movimento Levam em conta as fases da aquisição e de aprimoramento do movimento, tais como: a. Fase reflexiva (tem característica involuntária, como os movi- mentos reflexos primitivos e posturais da infância precoce). b. Fase rudimentar (movimentos da primeira infância). c. Fase fundamental (movimentos da segunda infância). d. Fase especializada (movimentos complexos utilizados por crianças com idade mais avançada, adolescentes e adultos). Quadro 1 - Elementos da construção dos movimentos motores / Fonte: adaptado de Gallahue e Ozmun (2001). 114 É importante considerar que cada criança apresenta o seu próprio tempo para se desenvolver. No entanto, nas aulas de Educação Física, há alguns fatores que Gallahue e Ozmun (2001) consideram que precisam ser observa- dos, ou seja, fatores como: idade, gênero, nível de habi- lidade e o contexto no qual as crianças estão inseridas, porque é nesta amplitude de ações que o aluno tem a possibilidade de expandir, gradativamente, o seu reper- tório motor, experimentando um avanço significativo em seu comportamento motor. Características gerais da criança Teoria de Gallahue e Ozmun (2001) Características gerais da criança Teoria de Eckert (1993) A criança na idade dos seis a sete anos: fase dos movimentos fundamentais – Maduro. Principais características: surgimento de múltiplas formas (correr, saltar, arremessar, receber, quicar, chutar) e suas combinações, as quais variam conforme as atividades e o desempenho da criança. A criança na idade dos sete a dez anos: fase dos movimentos especializados. Transição: início da ten- tativa de combinação dos movimentos fundamentais; aumento de práticas mais complexas (esportes, danças e jogos). Tarefas dos seis aos dez anos: fase de grandes mudanças. Do convívio familiar para o convívio em um grupo de pares; preferência pelo domínio dos jogos; compreensão do mundo dos conceitos adultos, o qual requer a aquisição gradual das habilidades e da arte da lógica, do simbolismo e da comunicação. Aspectos gerais Aspectos gerais Aumento rápido e qualitativo do rendimento. Aumento de disponibilidade variável das formas de movimento. Aumento da capacidade de aplicação em diferentes tarefas e situações. Período no qual a criança muda do ambiente pro- tegido do lar para o clima de envolvimento social da escola. Necessidades de ampliação de atividades de socialização, por meio de trabalhos, como: jogos e brincadeiras em grupo. Quadro 2 - Características da criança das séries iniciais do Ensino Fundamental / Fonte: adaptado de Gallahue e Ozmun (2001) e Eckert (1993). Entenda que o desenvolvimento da criança é contínuo, tampouco se traduz, de forma exclusiva, em determinantes biológicos ou genéticos. Deve-se considerar o meio como fator preponderante ao desenvolvimento das habilidades da criança, então, dentro deste contexto, observa-se que as crianças das séries iniciais do Ensino Fundamental, as quais têm, em geral, entre seis e 11 anos de idade, encontram-se em uma fase cujas força e habilidades esportivas passam a ser aprendidas bem como melhoradas (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). 115 EDUCAÇÃO FÍSICA A coordenação motora desses alunos é a base para a ex- pansão da capacidade de aprendizagem sensório-motora, logo, quanto mais elevado for o nível de desenvolvimento, mais rápido e mais seguramente poderão ser aprendidos movimentos novos ou difíceis, também com economia de esforço, o que propicia melhores orientação e precisão (PE- REIRA, 2002). Por esta razão, as aulas de Educação Física devem oportunizar uma gama de experiências motoras cujas práticas corporais possam corroborar, significativa- mente, o desenvolvimento de todo esse processo. ELEMENTOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA: MAPA CONCEITUAL DOS CONTEÚDOS DOS 1º, 2º E 3º ANOS DAS SÉRIES INICIAIS aprendizagem nas séries iniciais, com destaque para os 1º, 2º e 3º anos, afinal, é neste momento que a criança é inse- rida no universo escolar normatizado e, então, a sua lin- guagem corporal começa a ser a interlocução do seu pro- cesso de aquisição desses novos saberes e conhecimentos. Estes, por sua vez, são inseridos no cotidiano escolar. De acordo com Freire (2003, p. 20), para o proces- so de aprendizagem da criança, deve-se pensar que “[...] entre os sinais gráficos de uma língua escrita e o mun- do concreto, existe um mediador, que é a ação corpo- ral”. Por este motivo, as aulas de Educação Física devem abordar, nos 1º, 2º e 3º anos das séries inicias do Ensino Fundamental, vivências e ações motoras com foco na lu- dicidade, na interação com o meio, mas que sejam ativi- dades que possibilitem alavancar a criança no processo de aquisição de novas habilidades. Nesta fase escolar, a criança ainda é muito lúdica e, por isso, ela busca por atividades que evoquem o brincar, que são próprias da cultura infantil. Esse pode ser um elemento inicial a ser considerado no planejar das aulas de Educação Física escolar, uma vez que, segundo Vygotsky (1996), pela brincadeira, a criança vincula-se com o mundo que a cerca, podendo interferir e ser interferida, diretamente, durante a atividade. Por esta razão, os jogos motores são elementos essenciais: eles contribuem para a sociabilização e o desen- volvimento da aprendizagem nessa fase. Nesse contexto, o professor, ao planejar suas aulas de Educação Física, necessita levar em conta os conhe- cimentos e saberes trazidos pelascrianças, afinal, como afirmam Betti e Liz (2003, p. 135): “[...] o ponto de vista dos alunos, os significados e valores que eles vinculam às várias atividades do ensino devem ser considerados pelo professor, pois a alteridade é um dos princípios pedagó- gicos que deve orientar a Educação Física”. Segundo Pain (1992, p. 22), “é com o corpo que se apren- de”. Logo, entendemos que as aulas de Educação Física no ambiente escolar são o alicerce central do processo de 116 Para o desenvolvimento das aulas dos 1º, 2º e 3º anos das séries inicias, é de muita importância considerar os valores educativos em cada atividade proposta. Estando ou não centrada no ato do brincar ou da dimensão lúdi- ca, a atividade deve primar por valores pedagógicos sus- tentados por uma prática formativa, na qual seja opor- tunizada à criança o aprendizado de novos padrões, gestos ou movimentos motores e, ao mesmo tempo, seja possibilitada, por meio das atividades, a modificar as representações por ela aprendidas, o que significa dizer que as aulas de Educação Física para esses anos escolares deve centrar-se na qualidade e diversidade de atividades propostas, tendo, como pressuposto, a valorização da criança, de forma participativa, na aula. A seguir, apresentamos um quadro com os ob- jetivos a serem considerados no desenvolvimento e na estruturação das aulas de Educação Física Escolar para as séries iniciais. Eixos Objetivos 1a ao 5a ano das séries iniciais do Ensino Fundamental O movimento e a corporeidade Organizar situações de vivências corporais e estudos que possibilitem a compreensão em ser um corpo em movimento e em constantes interações com objetos e pessoas. O movimento e os jogos Favorecer o estudo e a vivência de manifestações lúdicas e esportivas como integrantes da cultura motora, contribuindo com o processo de construção da motricidade O movimento em expressão e ritmo Promover a compreensão do movimento rítmico como forma de ex- pressão corporal e de representação social, valorizando-o em diversas manifestações culturais. O movimento e a saúde Possibilitar o entendimento e o envolvimento da interação entre a ação motora e a saúde, destacando os benefícios que esses conheci- mentos trazem à melhora da qualidade de vida. Quadro 3 - Objetivos da Educação Física nas séries iniciais / Fonte: Palma, Oliveira e Palma (2010, p. 74). Daolio (1996) discute a relevância dos aspectos culturais da construção do campo da Educação Física escolar, apontando as relações históricas que influenciam, sobremaneira, a forma de se conceber as aulas na realidade escolar. Segundo o autor, entendemos que a Educação Física Escolar é uma prática cultural, com tradição respaldada em certos valores. Ela ocorre, historicamente, em certo cenário, com certo enredo e para certo público que, por sua vez, demanda certa expectativa. É justamente isso que faz a Educação Física escolar ser o que é. Sendo uma prática tradicional, ela possui certas características, muitas vezes, inconscientes para os seus atores. Em outras palavras, existe deter- minado estilo de lecionar aulas de Educação Física, estilo que, na maioria das vezes, é valorizado pelos alunos, comunidade e direção da escola. Fonte: adaptado de Daolio (1996). 117 EDUCAÇÃO FÍSICA Eixo: O movimento em Ritmo e Expressão Brincadeiras cantadas: representação original e representação criativa Eixo: O movimento e os jogos Brincadeiras populares: tradicionais na família Participar de jogos simbólicos Eixo: Movimento e a Corporeidade Movimentos em construção e estruturação • Andar em diferentes formas • Correr em diferentes velocidades e direções • Rolar: decúbito ventral, dorsal para frete e para trás • Saltar com os dois pés lateralmente com um pé em altura Lançar e Agarrar Com uma mão, para frente, no solo, com as duas mãos, com um pé 1º ANO A organização apresentada nos mapas conceituais permite a compreensão de uma organização prévia dos conteúdos que devem ser trabalhados com a criança nos 1º, 2º e 3º anos das séries iniciais do Ensino Fundamental. Figura 1 - Mapa conceitual: conteúdos para o 1º ano / Fonte: os autores. Eixo: O movimento em Ritmo e Expressão Danças populares, origem, música e movimento Eixo: O movimento e os jogos Brincadeiras cooperativas em pequenos e médios grupos Jogos com regras simples Eixo: Movimento e a Corporeidade • Girar sobre os dois pés (no mesmo lugar), para direita, para esquerda • Sustentar em pé (frontal, dorsal, lateral), sentado, de joelhos • Estender partes do corpo e o corpo todo • Empurrar com as duas mãos (para cima, para baixo, lateralmente), com uma mão • Rebater com uma mão, com as duas mãos, com o pé, com a perna Movimentos 2º ANO Figura 2 - Mapa conceitual: conteúdos para o 2º ano / Fonte: os autores. Ginástica: rolamentos para frente, para trás, vela simples, estrela (executar no solo, ultrapassar um objeto) O movimento nas manifestações lúdicas e esportivas Eixo: O movimento e os jogos Brincadeiras em grandes grupos Jogos com regras Eixo: Movimento e a Corporeidade • Conduzir com as mãos para frente, para trás, para direita/esquerda • Chutar com a ponta dos pés, com a lateral interna/externa com o calcanhar, com o peito do pé, com o objeto parado/movimento Movimentos 3º ANO Figura 3 - Mapa conceitual: conteúdos para o 3º ano / Fonte: os autores. 118 ELEMENTOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA: MAPA CON- CEITUAL DOS CONTEÚDOS DOS 4º E 5º ANOS DAS SÉRIES INICIAIS A Educação Física escolar tem se constituído en- quanto um componente curricular que possibilita a articulação dos saberes e conhecimentos tanto teó- ricos quanto práticos, além da articulação da expe- rimentação interdisciplinar, em especial, nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Vale lembrar que a construção dos objetivos e fi- nalidades da Educação Física escolar, para as crian- ças com 9 e 10 anos de idade — que se encontram nos 4º e 5º anos — deve ter a perspectiva da formação integral dos alunos, contemplando as necessidades biológicas e culturais dos mesmos. Por este motivo, é importante romper com a dicotomia corpo e men- te, muito presente nas aulas de Educação Física deste nível de ensino, uma vez que a aula necessita ser um momento de construção, a partir do movimento, da autonomia e da criticidade da criança. Segundo Melo e Urbanetz (2008), a aprendiza- gem que ocorre no ambiente escolar dá-se de forma organizada e envolve tanto as condições específicas para a transmissão e assimilação de conhecimentos e habilidades quanto a organização intencional, plane- jada e sistemática das finalidades, além das condições das aulas no ambiente escolar. 119 EDUCAÇÃO FÍSICA Desse modo, na organização e estruturação das aulas para os 4º e 5º anos das séries iniciais, é essencial pensar, sempre, nos objetivos da Educação Física es- colar, a proposta pedagógica da escola e a forma como deve ocorrer o processo de sistematização dos saberes abordados nas aulas, pois, ao se estabelecer essas rela- ções com as demais ações desencadeadas no ambiente escolar, torna-se possível integrar a Educação Física com os demais saberes e conhecimentos das demais áreas. Em posse desta perspectiva, trazemos, na sequência, uma proposta de organização e sistematização dos con- teúdos que devem ser abordados como elementos bási- cos das aulas de Educação Física Escolar nos 4º e 5º anos das séries iniciais do Ensino Fundamental. • Ginástica: Rolamentos para frente com as pernas estendidas/com as pernas estendidas e afastadas • Rolamento para trás com as pernas unidas e estendidas • Estrela • Ponte • Parada de mãos O movimento nas manifestações lúdicas e esportivas Eixo: O movimento e os jogos Jogos cooperativos Eixo: Movimento e a Corporeidade • Conduzir com os pés para frente, para trás, para a direita/esquerda • Combinações: andar e chutar; correr esaltar; correr e chutar; correr e arremessar; correr e receber; correr e transportar; lançar e receber; saltar e arremessar Movimentos 4º ANO Ao observar os mapas conceituais destinados aos 4° e 5° anos das séries iniciais, lembre-se que, para além das dimensões procedimentais tratadas nas aulas, é impor- tante ter, como foco, o desenvolvimento dos aspectos conceituais e atitudinais durante as aulas, porque, se- • Iniciação às lutas • Ginástica (elementos básicos) • Dança (brasileiras e populares) • Práticas corporais (skate, escalada) Eixo: movimento nas manifestações lúdicas e esportivas Eixo: Corpo e Atividade Física Eixo: O movimento e os jogos Jogos Cooperativos e Recreativos • Aspectos relacionados a atividade física e saúde • Efeitos dos exercícios anaeróbicos e aeróbicos sobre o corpo 5º ANO gundo Zabala (1998), educar significa trabalhar em prol da formação do indivíduo, de forma integral. Portanto, as finalidades e os objetivos devem ser explícitos, para que possam ser desenvolvidos de acordo com as neces- sidades de todos os envolvidos no processo. Figura 4 - Mapa conceitual dos conteúdos dos 4° ano das séries iniciais / Fonte: os autores. Figura 5 - Mapa conceitual dos conteúdos dos 5° ano das séries iniciais / Fonte: os autores. 120 Evidentemente que esse processo de ensino e apren- dizagem nas aulas de Educação Física escolar estão, sempre, centradas nas questões motoras, afinal, como diz Canfield (2000), não é possível negar a importância de trabalhar o aspecto motor no decorrer da infância do ser humano, logo, as salas de Educação Física, enquanto um espaço de intervenção que possibilita e oportuniza, de maneira efetiva, a vivência motora, por meio de jo- gos, atividades lúdicas e esportivas bem como conheci- mentos sobre saúde, possibilitam que a criança do 4º e 5º anos das séries iniciais do Ensino Fundamental colabo- rem como fatores essenciais para o processo de desen- volvimento da criança. a Educação Física escolar aborda, por meio da apropria- ção do movimento e das relações culturais, as condições para que a criança vivencie formas diversificadas para os movimentos, possibilitando que os mesmos tenham sig- nificados próprios na relação da criança com o dia a dia. Como vimos, as aulas de Educação Física escolar para os primeiros anos das séries iniciais do Ensino Fun- damental ocorrem graças às constituição e articulação entre o movimento, a cultura e os interesses da criança, afinal, ela é o ponto central das aulas. O professor é, nes- se contexto, o agente de transformação responsável por oportunizar a inter-relação entre os saberes interpelados pelo movimento e o cotidiano da vida da criança. Com esta compreensão, os mapas conceituais apre- sentados nesta unidade trouxeram a possibilidade de estruturar as aulas centradas em movimentos que en- globam os contextos dos alunos, trazendo eixos de aprendizagem que apresentam uma prática pedagógi- ca a qual valoriza as relações bem como interações da criança com o universo em torno dela. Entendemos que a criança matriculada nas séries iniciais do Ensino Fundamental tem mais facilidade com o processo de aprendizagem e com a compreensão, por meio do movimento, do universo que a cerca, pois, nas aulas de Educação Física, a criança tem o potencial de explorar, pela interação com o meio, o próprio cor- po no espaço. Afinal, os atos motores auxiliam o aluno a exteriorizar o seu desenvolvimento, o qual é decorrente das suas dimensões cognitiva, corporal, afetiva, ética, es- tética, interpessoal e biológica. Como alerta Vygotsky (1996), o desenvolvimento da criança ocorre no meio escolar, mas também das inte- rações de vários fatores, tais como: a hereditariedade, o crescimento orgânico, a maturação neurofisiológica e o meio social. Assim, as aulas de Educação Física escolar intensificam a relação entre o ser e o desenvolver infantil. Outro fator a ser considerado é o fato de que a escola da atualidade deve atender a demandas próprias. Etchepare (2000) afirma a necessidade de compreender que a es- cola atual tem, como objetivo principal, desenvolver no aluno as características necessárias à ação efetiva e, tam- bém, à participação ativa na sociedade. Nesse contexto, O processo de ensino caracteriza-se pela combinação de atividades do professor e dos alunos. Estes, pelo estudo das matérias, sob a direção do professor, vão atingindo, pro- gressivamente, o desenvolvimento de suas capacidades mentais. A direção eficaz desse processo depende do trabalho sistematiza- do do professor que, tanto no planejamento quanto no desenvolvimento das aulas conju- ga objetivos, conteúdos, métodos e formas organizativas do ensino. Fonte: adaptado de Libâneo (1994). 121 EDUCAÇÃO FÍSICA Encerramos esta unidade com a perspectiva de que você tenha compreendido que as aulas de Educação Físi- ca escolar devem seguir uma sequência lógica e sistema- tizada de tal forma que os movimentos se completem e colaborem para o desenvolvimento das potencialidades da criança. 122 agora é com você 1. A Educação Física escolar deve seguir a organização e a estruturação sistemá- tica, além de ser sustentada em objetivos claros e coerentes. Sabendo deste fato, cite os principais objetivos da Educação Física escolar. 2. Quais principais dimensões do conhecimento devem estar presentes na or- ganização do planejamento das aulas de Educação Física das séries iniciais? 3. Sabendo que a criança deve ser considerada, de forma integral, nas aulas de Educação Física escolar, quais os elementos que precisam ser levados em conta no processo de elaboração das atividades cujo foco deve estar na aprendizagem significativa da criança? 4. Qual a importância da cultura para a construção das aulas de Educação Física no Ensino Fundamental? 5. Qual o papel do planejamento para o sucesso das aulas de Educação Física no Ensino Fundamental? 123 meu espaço 124 meu espaço 125 meu espaço 126 LEITURA COMPLEMENTAR As discussões e reflexões acerca das ações no campo da construção da Educação Física escolar têm acontecido, ao longo da história, a partir de diferentes vertentes pedagó- gicas. Sabendo deste fato, apresentamos a você uma re- flexão levantada pelos professores Marcos Garcia Neira e Mario Luiz Ferrari Nunes. Vale a pena a leitura do texto. CONTRIBUIÇÕES DOS ESTUDOS CULTURAIS PARA O CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO FÍSICA Neste começo de século, a democratização dos contextos educacionais remete, por um lado, ao questionamento dos currículos em vigor em grande parcela das escolas, dado seu tratamento privilegiado aos elementos provenientes da cultura dominante e, por outro, à necessária inserção e problematização daqueles conhecimentos advindos das culturas subordinadas (HALL, 2003). As investigações sobre o currículo inspirados nos Estudos Culturais (EC) retificam seu papel decisivo na constituição de identidades. O acesso a certos conhecimentos e não outros, fazendo uso de certas atividades e não outras, ter- mina por posicionar o aluno de uma determinada forma diante das “coisas” do mundo, influenciando fortemente as representações construídas. Nessa vertente, o currículo é concebido como campo de lutas para validação de modos de ser, o currículo forja identidades (SILVA, 2007). Resultado de lutas travadas em meio a relações de poder tecidas no âmbito de contextos culturais e sociais o debate curricular subsidiado pelo campo teórico dos EC, pode-se dizer, tem recebido pouca atenção da comunidade acadê- mica da Educação Física. Ou seja, os alertas emitidos por Sil- va (2000 e 2007) vêm sensibilizando gradativamente a área. Considerando que toda decisão curricular é uma decisão política e que o currículo pode ser visto como um território de disputa em que diversos grupos atuam para validar co- nhecimentos (SILVA, 2007), é lícito afirmar que, ao promover o contato com determinados textos culturais, o currículo,além de viabilizar o acesso e uma gradativa compreensão dos conteúdos veiculados, influencia nas formas de inter- pretar o mundo, interagir e comunicar ideias e sentimentos. A partir dos EC, o currículo da Educação Física também pode ser imaginado sob o modelo da textualidade. Enquanto tex- to, envolve práticas, estruturas institucionais e as complexas formas de atividade que estas requerem, condições legais e políticas de existência, determinados fluxos de poder e conhecimento, bem como uma organização semântica es- pecífica de múltiplos aspectos. Simultaneamente, esse tex- to só existe dentro de uma rede de relações intertextuais (a rede textual da cultura corporal, da cultura escolar, da prática pedagógica). Trata-se de uma entidade ontologica- mente mista e para a qual não pode haver nenhuma forma “correta” ou privilegiada de leitura. Tal perspectiva questiona e ajuda a compreender o privilégio que determinados gru- pos possuem para fazer valer suas concepções de mundo, sociedade e práticas corporais, por exemplo. É justamente esse aspecto, mais do que qualquer outra coisa, que desen- cadeou o interesse por investigar as principais produções dos EC e garimpar suas contribuições mais relevantes, a fim de esboçar encaminhamentos para a construção e o desen- volvimento de currículos da Educação Física. 127 LEITURA COMPLEMENTAR Em tempos de repetidas críticas aos diversos modelos curriculares em voga e diante da tentativa de transformar a realidade social brasileira tão desigual, os EC fornecem subsídios para afirmar o caráter político do currículo da Educação Física, ao incitar uma investigação mais rigorosa que busque desvelar como se dão os processos de identi- ficação/diferenciação travados no seu interior. Para os EC, revelar os mecanismos pelos quais se constroem determi- nadas representações é o primeiro passo para reescrever os processos discursivos e alcançar a formação de outras identidades (NELSON; TREICHLER; GROSSBERG, 1995). Compreender melhor seus fundamentos é, como diz Co- razza (2006), o primeiro passo para artistar currículos da Educação Física comprometidos com uma construção identitária mais democrática. Fonte: Neira e Nunes (2011, p. 672-673). 128 material complementar Título: Esporte como Conhecimento e Prática nos Anos Iniciais do Ensino Fun- damental Autores: Vilma L. Nista-Piccolo e Wagner Wey Moreira Editora: Cortez Ano: 2012 Sinopse: neste livro, os autores propõem reflexões acerca da Educação Física es- colar praticada nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Amparados em amplas pesquisas e acompanhamentos de práticas em escolas, estes autores levantam questões para pensar, criticamente, o modo como as noções de esporte e corporeidade são encaradas, hoje, por professores de todas as áreas, reflexões as quais contribuem às novas visão e estruturação da disciplina, ressaltando o valor dos saberes como componente imprescindível na formação integral dos alunos. Com considerações abrangentes sobre tais noções, o livro é, ainda, enriquecido com um repertório de atividades que servem como sugestões diversificadas para aulas pautadas na construção de novos conhecimentos. A Educação Física, quando integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório da Educação Básica. A série apresentada pela TV Escola enfo- ca esta disciplina por meio das atividades físicas realizadas nos centros escolares, mas sob outro ângulo: atletas, professores e especialistas mostram como a prática esportiva pode contribuir para a formação da cidadania. Cada programa contém uma sugestão de jogos ou de atividades físicas e explicações de como produzir os materiais necessários a essas atividades. Para acessar, use seu leitor de QR Code. 129 referências UNIDADE 1 AGAMBEN, G. Infância e História: destruição da experiência e origem da história. Belo Horizonte: UFMG, 2005. ARIÈS, P. História Social da Criança e da Família. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. BECCHI, E. Retórica de Infância. Tradução de Ana Gomes. Perspectiva, Florianópolis, a. 12, n. 22, p. 63-95, ago./dez. 1994. BISSOLI, M. de F. Educação e desenvolvimento da personalidade da criança: contribuições da teoria histó- rico-cultural. 2005. 281 f. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2005. BONORA, J.; KRÜGER, V. F.; SOUZA, V. de F. M. Educação Infantil: jogos e brincadeiras em pauta. In: SE- MANA DE PEDAGOGIA – ENCONTRO DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO. 12., 2016, Maringá. Anais [...]. Maringá: UEM, 2016. Disponível em: http://docplayer.com.br/42561612-Educacao-infantil-jogos-e-brinca- deiras-em-pauta.html. Acesso em: 25 maio 2022. BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Organização dos textos, notas e índices por Juarez de Olivei- ra. 6. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 1996. BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. 1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 24 maio 2022. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm. Acesso em: 24 maio 2022. BRASIL. Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil. v. 1. Brasília: MEC; SEF, 1998. BUJES, M. I. E. Escola Infantil: pra que te quero. In: CRAIDY, C. M.; KAERCHER, G. E. (org.). Educação Infantil: pra que te quero? Porto Alegre: Artmed, 2001. CAMPOS, R. As indicações dos organismos internacionais para as políticas nacionais de educação infantil: do direito à focalização. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 39, n. 1, p. 195-209, jan./mar. 2013. CASTRO, M. G. Noção de criança e infância: diálogos, reflexões, interlocuções. In: COLE – CONGRESSO DE LEITURA DO BRASIL, 16., 2007, Campinas. Anais [...]. Campinas: COLE, 2007. CEPAL. Pobreza Infantil en América Latina y el Caribe. Santiago: Cepal; Unicef, 2010. COELHO, B. Contar Histórias: uma arte sem idade. São Paulo: Ática, 2001. CRAIDY, C. M. Educação infantil e as novas definições da legislação. In: CRAIDY, C. M.; KAERCHER, G. E. (org.). Educação Infantil: pra que te quero? Porto Alegre: Artmed, 2001. p. 23-26. http://docplayer.com.br/42561612-Educacao-infantil-jogos-e-brincadeiras-em-pauta.html http://docplayer.com.br/42561612-Educacao-infantil-jogos-e-brincadeiras-em-pauta.html http://docplayer.com.br/42561612-Educacao-infantil-jogos-e-brincadeiras-em-pauta.html http://docplayer.com.br/42561612-Educacao-infantil-jogos-e-brincadeiras-em-pauta.html http://docplayer.com.br/42561612-Educacao-infantil-jogos-e-brincadeiras-em-pauta.html http://docplayer.com.br/42561612-Educacao-infantil-jogos-e-brincadeiras-em-pauta.html http://docplayer.com.br/42561612-Educacao-infantil-jogos-e-brincadeiras-em-pauta.html http://docplayer.com.br/42561612-Educacao-infantil-jogos-e-brincadeiras-em-pauta.html http://docplayer.com.br/42561612-Educacao-infantil-jogos-e-brincadeiras-em-pauta.html http://docplayer.com.br/42561612-Educacao-infantil-jogos-e-brincadeiras-em-pauta.html http://docplayer.com.br/42561612-Educacao-infantil-jogos-e-brincadeiras-em-pauta.html http://docplayer.com.br/42561612-Educacao-infantil-jogos-e-brincadeiras-em-pauta.html http://docplayer.com.br/42561612-Educacao-infantil-jogos-e-brincadeiras-em-pauta.html http://docplayer.com.br/42561612-Educacao-infantil-jogos-e-brincadeiras-em-pauta.html http://docplayer.com.br/42561612-Educacao-infantil-jogos-e-brincadeiras-em-pauta.html http://docplayer.com.br/42561612-Educacao-infantil-jogos-e-brincadeiras-em-pauta.html http://docplayer.com.br/42561612-Educacao-infantil-jogos-e-brincadeiras-em-pauta.html http://docplayer.com.br/42561612-Educacao-infantil-jogos-e-brincadeiras-em-pauta.html http://docplayer.com.br/42561612-Educacao-infantil-jogos-e-brincadeiras-em-pauta.html http://docplayer.com.br/42561612-Educacao-infantil-jogos-e-brincadeiras-em-pauta.htmlhttp://docplayer.com.br/42561612-Educacao-infantil-jogos-e-brincadeiras-em-pauta.html http://docplayer.com.br/42561612-Educacao-infantil-jogos-e-brincadeiras-em-pauta.html http://docplayer.com.br/42561612-Educacao-infantil-jogos-e-brincadeiras-em-pauta.html http://docplayer.com.br/42561612-Educacao-infantil-jogos-e-brincadeiras-em-pauta.html 130 referências DALE, R. Demonstrando a existência de uma “cultura educacional mundial comum” ou localizando uma “agenda globalmente estruturada para educação”. Educação & Sociedade, Campinas, v. 25, n. 87, p. 423-460, maio/ago. 2004. DE MAUSE, L. Historia de la Infancia. Madrid: Alianza Universidad, 1991. DORNELLES, L. V. Infâncias que nos Escapam: da criança na rua à criança cyber. Petrópolis: Vozes, 2005. DURKHEIM, É. Educação e Sociologia. São Paulo: Melhoramentos, 1996. ELIAS, N. A Sociedade dos Indivíduos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994. GUIRALDELLI, P. Infância, Escola e Modernidade. São Paulo: Cortez, 1996. KRAMER, S. A Política Pré-Escolar no Brasil: arte do disfarce. São Paulo: Cortez, 2001. KRAMER, S. As crianças de 0 a 6 anos nas políticas educacionais no Brasil: educação infantil e/é fundamen- tal. Educação & Sociedade, Campinas, v. 27, n. 96, p. 797-818, out. 2006. KUHLMANN JUNIOR, M. Instituições pré-escolares assistencialistas no Brasil (1899-1922). Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 79, p. 17-26, 1991. HEYWOOD, C. Uma História da Infância: da Idade Média à época contemporânea no Ocidente. Porto Ale- gre: Artmed, 2004. LEVIN, E. A Infância em Cena: constituição do sujeito e desenvolvimento psicomotor. Petrópolis: Vozes, 1997. MEIRA, A. M. Benjamin, os brinquedos e a infância contemporânea. Psicologia & Sociedade, v. 15, n. 2, p. 74-87, jul./dez. 2003. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/psoc/v15n2/a06v15n2.pdf. Acesso em: 24 maio 2022. MOLINA, A. A.; LARA, A. M. B. Infância e Políticas Educacionais no Brasil na Década de 1990. Curitiba: Educere, 2008. OEI. Plano Ibero-Americano de Educação. Brasília: OEI, 1998. PEREZ, M. C. A. Infância e Escolarização: discutindo a relação família, escola e as especificidades da infância na escola. Práxis Educacional, Vitória da Conquista, v. 8, n. 12, p. 11-25, jan./jun. 2012. PLATÃO. As Leis, ou da Legislação e Epinomis. 2. ed. Tradução de Edson Bini. Bauru: Edipro, 2010. REGO, M. C. F. D. Entrelaçando Vivências e Saberes na Educação Infantil. Natal: UFRN-NEI, 2006. ROSEMBERG, F. Avaliação de programas, indicadores e projetos em educação infantil. Revista Brasileira de Educação, São Paulo, n. 16, p. 19-29, jan./abr. 2001. 131 referências SACRISTÁN, J. G. O Aluno como Invenção. Tradução de Daisy Vaz de Moraes. Porto Alegre: Artmed, 2005. SARMENTO, M. J. Gerações e alteridade: interrogações a partir da sociologia da infância. Educação & Socie- dade, Campinas, v. 26, n. 91, p. 361-378, maio/ago. 2005a. SARMENTO, M. J. Crianças: educação, culturas e cidadania activa refletindo em torno de uma proposta de trabalho. Perspectiva, Florianópolis, v. 23, n. 1, p. 17-39, jan./jul. 2005b. SAVIANI, D. Pedagogia Histórico-Crítica: primeiras aproximações. 6. ed. Campinas: Autores Associados, 1997. (Coleção Polêmicas do Nosso Tempo). STEINBERG, S. R.; KINCHELOE, J. L. Cultura Infantil: a construção corporativa da infância. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. UNESCO. Educação para Todos 2000-2015: Progresso e Desafios. Paris: Unesco, 2015. UNESCO. Propuesta de Proyecto Regional de Educación para América Latina y el Caribe. Habana: Unesco, 2002. UNICEF. Situação Mundial da Infância 2007. Mulheres e Crianças: O Duplo Dividendo da Igualdade de Gênero. Brasília: Unicef, 2007. VIEIRA, L. M. F. A formação do profissional de educação infantil no Brasil no contexto da legislação, das políticas e da realidade do atendimento. Revista Pro-Posições, Campinas, v. 10, n. 1, p. 28-39, mar. 1999. UNIDADE 2 AYOUB, E. Reflexões sobre a educação física na educação infantil. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, supl. 4, p. 53-60, 2001. BASEI, A. P. A Educação Física na Educação Infantil: a importância do movimentar-se e suas contribuições no desenvolvimento da criança. Revista Ibero-Americana de Educação, v. 47, n. 3, p. 1-12, out. 2008. BRACHT, V. A constituição das teorias pedagógicas da Educação Física. Caderno CEDES – Corpo e Educa- ção, Campinas, n. 48, p. 69-88, 1999. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Acesso em: 25 maio 2022. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm. Acesso em: 25 maio 2022. BRASIL. Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de Educação e dá outras provi- dências. 2001. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10172.htm. Acesso em: 25 maio 2022. 132 referências BRASIL. Lei 11.114, de 16 de maio de 2005. Altera os arts. 6o, 30, 32 e 87 da Lei no 9.394, de 20 de dezem- bro de 1996, com o objetivo de tornar obrigatório o início do ensino fundamental aos seis anos de idade. 2005. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11114.htm. Acesso em: 26 maio 2022. BRASIL. Lei nº 11.274, de 6 de fevereiro de 2006. Altera a redação dos arts. 29, 30, 32 e 87 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, dispondo sobre a duração de 9 (nove) anos para o ensino fundamental, com matrícula obrigatória a partir dos 6 (seis) anos de idade. 2006. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11274.htm. Acesso em: 26 maio 2022. BRASIL. Parâmetros Nacionais de Qualidade Para a Educação Infantil. v. 2. Brasília: MEC; SEB, 2006. BRASIL. Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil. v. 1. Brasília: MEC; SEF, 1998. BRASIL. Resolução nº 5, de 17 dezembro de 2009. Fixa as diretrizes curriculares nacionais para a Educa- ção Infantil. Brasília: MEC; CNE; CEB, 2009. Disponível em: http://www.seduc.ro.gov.br/portal/legislacao/ RESCNE005_2009.pdf. Acesso em: 26 maio de 2022. CAMPOS, M. M. A formação de professores para crianças de 0 a 10 anos: modelos em debate. Educação & Sociedade, Campinas, v. 20, n. 68, p. 126-142, 1999. CANFIELD, M. de S. A Educação Física nas séries iniciais: paralelo entre 15 anos. Kinesis, Santa Maria, n. 23, p. 87-102, 2000. CARMO, G. G. do; SOUZA, V. de F. M. de. Educação Física na Educação Infantil: Realidade ou Necessidade para essa Intervenção de Qualidade? In: ENCONTRO ANUAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – EAIC. 25., 2016, Maringá. Anais [...]. Maringá: UEM, 2016. Disponível em: http://www.eaic.uem.br/eaic2016/anais/ar- tigos/883.pdf. Acesso em: 26 maio 2022. CORRÊA, B. C. A educação infantil. In: OLIVEIRA, R. P.; ADRIÃO, T. (org.). Organização do Ensino no Brasil: níveis e modalidades na Constituição Federal e na LDB. São Paulo: Xamã, 2002. p. 17-28. DIDONET, V. Creche: a que veio, para onde vai. Em Aberto, Brasília, v. 18, n. 73, p. 11-28, jul. 2001. FARIA, A. L. G.; PALHARES, M. S. Educação Infantil Pós-LDB: rumos e desafios. Campinas: Autores Asso- ciados; Unicamp, 1999. FERREIRA, N. T. Cidadania: Uma questão para a educação. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993. FREIRE, J. B. Educação de Corpo Inteiro: teoria e prática da Educação Física. 2. ed. São Paulo: Scipione, 1992. FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. KRAMER, S. A Política Pré-Escolar no Brasil: arte do disfarce. São Paulo: Cortez, 2001. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11114.htm 133 referências KUHLMANN JUNIOR, M. Educação Infantil e currículo. In: FARIA, A. L. G.; PALHARES, M. S. Educação Infantil Pós-LDB: rumos e desafios. Campinas: Autores Associados; Unicamp, 1999.p. 51-65. KUNZ, E. Didática da Educação Física II. Ijuí: Unijuí, 2002. LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 1992. MARAFON, D. Educação Infantil no Brasil: um percurso histórico entre as ideias e as políticas públicas para a infância. 2012. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Educação) – Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2012. MELO, J. P. Perspectivas da Educação Física escolar: reflexão sobre a Educação Física como componente cur- ricular. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, São Paulo, v. 20, sup. 5, p. 188-190, set. 2006. MERISSE, A. et al. Lugares da Infância: reflexões sobre a história da criança na fábrica, creche e orfanato. São Paulo: Arte e Ciência, 1997. NEIRA, M. G. Educação Física: desenvolvendo competências. São Paulo: Phorte, 2003. PALMA, A. P. T. V.; OLIVEIRA, A. A. B. de; PALMA, J. A. V. Educação Física e Organização Curricular: Educação Infantil e Ensino Fundamental. Londrina: Eduel, 2008. RODRIGUES, M. Manual Teórico e Prático de Educação Física Infantil. 8. ed. São Paulo: Ícone, 2003. ROLIM, L. R. O professor de Educação Física na Educação Infantil: uma revisão bibliográfica. 2004. 104 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Centro Universitário Nove de Julho, São Paulo, 2004. SARMENTO, M. J. As culturas da infância nas encruzilhadas da 2ª modernidade. In: SARMENTO, M. J.; CERISARA, A. B. Crianças e Miúdos: perspectivas sociopedagógicas da infância e educação. Porto: Edições ASA, 2004. SAYÃO, D. T. Infância, prática de ensino de Educação Física e Educação Infantil. In: VAZ, A. F.; SAYÃO, D. T.; PINTO, F. M. (org.). Educação do Corpo e Formação de Professores: reflexões sobre a prática de ensino de Educação Física. Florianópolis: UFSC, 2002. SAYÃO, D. T. Educação Física na Educação Infantil: riscos, conflitos e controvérsias. Motrivivência, Floria- nópolis, v. 11, n. 13, p. 221-238, 1999. SOUZA, M. C. B. R. de. A Concepção de Criança para o Enfoque Histórico-Cultural. 2007. 154 f. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Filosofia e Ciências, Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2007. ZABALA, A. A Prática Educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998. 134 referências UNIDADE 3 BOULCH, J. L. Rumo a uma Ciência do Movimento Humano. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2018. DARIDO, S. C. EF na Escola: questões e reflexões. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. ERIKSON, E. H.; ERIKSON, J. O Ciclo da Vida Completo. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. GALLAHUE, D. L; OZMUN, C. Compreendendo o Desenvolvimento Motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. 2. ed. São Paulo: Phorte, 2005. LIBÂNEO, J. C. Didática. 19. reimp. São Paulo: Cortez, 1994. MAGILL, R. A. Aprendizagem Motora: conceitos e aplicações. São Paulo: Edgar Blücher, 1984. MOVIMENTO PELA BASE. Competências Gerais da BNCC. 15 set. 2020. Disponível em: https://observa- torio.movimentopelabase.org.br/competencias-gerais-da-bncc/. Acesso em: 30 maio 2022. OLDS, S. W.; PAPALIA, D. E. Desenvolvimento Humano. Porto Alegre: Artmed, 2000. OLIVEIRA, A. A. B. de. et al. Planejamento do Programa Segundo Tempo: a intenção é compartilhar conhe- cimentos, saberes e mudar o jogo. In: OLIVEIRA, A. A. B. de; PERIM, G. L. (org.). Fundamentos Pedagógi- cos do Programa Segundo Tempo: da reflexão à prática. Maringá: Eduem, 2009. OLIVEIRA, A. A. B. de. Metodologias emergentes no ensino da Educação Física. Revista da Educação Físi- ca, Maringá, v. 8, n. 1, p. 21-27, 1997. Disponível em: https://ojs.uem.br/ojs/index.php/RevEducFis/article/ view/3868/2694. Acesso em: 30 maio 2022. PALMA, A. P. T. V.; OLIVEIRA, A. A. B. de; PALMA, J. A. V. Educação Física e Organização Curricular: Educação Infantil e Ensino Fundamental. Londrina: Eduel, 2008. PIAGET, J. A Linguagem e o Pensamento da Criança. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1986. PILETTI, C. Didática Geral. 8. ed. São Paulo: Ática, 1997. SERGIO, M. Para um Novo Paradigma do Saber e... do Ser. Coimbra: Ariadne, 2005. TANI, G. et al. Educação Física Escolar: fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista. São Paulo: EPU, 1988. VAYER, P. A Criança Diante do Mundo. 3. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1982. WALLON, H. Psicologia e Educação da Criança. Lisboa: Editorial Veja, 1953. 135 referências UNIDADE 4 AHMAD, L. A. S. Planejamento na Educação Infantil: uma construção mediada pela coordenação pedagó- gica no núcleo de Educação Infantil Ipê Amarelo. Curitiba: PUC, 2011. ALVES, R. A Arte do Voo ou a Busca da Alegria de Aprender. Porto: Edições Asa, 2004. ARAÚJO, V. C. de. O Jogo no Contexto da Educação Psicomotora. São Paulo: Cortez, 1992. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm. Acesso em: 30 maio 2022. BRASIL. Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil. v. 1. Brasília: MEC; SEF, 1998. BRONFENBRENNER, U. A Ecologia do Desenvolvimento Humano: experimentos naturais e planejados. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. CAETANO, M. J. D.; SILVEIRA, C. R. A.; GOBBI, L. T. B. Desenvolvimento motor de pré-escolares no inter- valo de 13 meses. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano, Rio Claro, v. 7, n. 2, p. 5-13, 2005. COSTA. F. N. do A. O cuidar e o educar na Educação Infantil. In: ANGOTTI, M. (org.). Educação Infantil: para que, para quem e por quê? Campinas: Alínea, 2008. DE MEUR, A.; STAES, L. Psicomotricidade: educação e reeducação. São Paulo: Manole, 1991. FONSECA, V. Psicomotricidade. São Paulo: Martins Fontes, 1983. FREIRE, J. B. Educação de Corpo Inteiro. 4. ed. São Paulo: Scipione, 2003. GALLAHUE, D. L; OZMUN, C. Compreendendo o Desenvolvimento Motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. 2. ed. São Paulo: Phorte, 2005. GARANHANI, M. C. A Educação Física na escolarização da pequena infância. Pensar a Prática, Goiânia, n. 5, p. 106-122, jul./jun. 2001-2002. GARANHANI, M. C.; NADOLNY, L. F. Cultura e Escola & Movimento e Linguagem na Educação de Crian- ças Pequenas. In: CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO – EDUCERE, 11., 2009; ENCONTRO SUL- -BRASILEIRO DE PSICOPEDAGOGIA, 3., 2009, Curitiba. Anais […]. Curitiba: PUC, 2009. Disponível em: https://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2009/3264_1510.pdf. Acesso em: 31 maio 2022. HARROW, A. J. Taxinomia do Domínio Psicomotor. Rio de Janeiro: Globo, 1983. HAYWOOD, K. M.; GETCHELL, N. Desenvolvimento Motor ao Longo da Vida. Porto Alegre: Artmed, 2004. HERNÁNDEZ, F. Transgressão e Mudança na Educação: os projetos de trabalho. Porto Alegre: Artmed, 1998. 136 referências HOFFMANN, J. Avaliar para Promover: as setas do caminho. Porto Alegre: Mediação, 2001. KISHIMOTO, T. M. (org.). Jogo, Brinquedo, Brincadeira e a Educação. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2000. LE BOULCH, J. A Educação pelo Movimento: a psicocinética na idade escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1983. MATTOS, M. G. de. Educação Física Infantil: construindo o movimento na escola. São Paulo: Phorte, 1999. MATTOS, M. G. de; NEIRA, M. G. Educação Física Infantil: construindo o movimento na escola. 4. ed. São Paulo: Phorte, 2003. NETO, A. S. et al. Relação entre fatores ambientais e habilidades motoras básicas em crianças de 6 e 7 anos. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, São Paulo, v. 3, n. 3, p. 135-140, 2004. NISTA-PICCOLO, V. L.; MOREIRA, W. W. Corpo em Movimento na Educação Infantil. São Paulo: Cortez, 2012. OLIVEIRA, G. de C. Psicomotricidade: educação e reeducação num enfoque psicopedagógico. 3. ed. Petró- polis: Vozes, 1997. OSTETTO, L. E. “Mas as crianças gostam!” Ou sobre gostos e repertórios musicais. In: OSTETTO, L. E.; LEI- TE, M. I. (org.). Arte, Infância e Formação de Professores: autoria e transgressão. Campinas: Papirus, 2004. p. 41-60. PAIM, M. C. C. Desenvolvimento motor de crianças pré-escolares entre5 e 6 anos. EFdeportes, Buenos Ai- res, a. 8, n. 58, mar. 2003. Disponível em: https://www.efdeportes.com/efd58/5anos.htm. Acesso em: 31 maio 2022. PALMA, A. P. T. V.; OLIVEIRA, A. A. B. de; PALMA, J. A. V. Educação Física e Organização Curricular: Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. 2. ed. Londrina: Eduel, 2010. PIAGET, J. A Linguagem e o Pensamento da Criança. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1993. SAYÃO, D. T. Infância, prática de ensino de Educação Física e Educação Infantil. In: VAZ, A. F.; SAYÃO, D. T.; PINTO, F. M. (org.). Educação do Corpo e Formação de Professores: reflexões sobre a prática de ensino de Educação Física. Florianópolis: UFSC, 2002. SCHMITT, A. Registro de Planejamento na Educação. EdFURB, Blumenau, v. 1, n. 2, 2006. VIEIRA, M. S. Por uma educação física com sabor: possibilidades e desafios no ensino infantil. In: CON- GRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 15., 2007; CONGRESSO INTERNACIONAL DE CI- ÊNCIAS DO ESPORTE, 2., 2007, Recife. Anais […]. Recife: CBCE, 2007. WALLON, H. Psicologia e Educação da Criança. Lisboa: Editorial Veja, 1953. ZABALA, A. A Prática Educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998. 137 referências UNIDADE 5 BENJAMIN, W. Reflexões: a criança, o brinquedo, a educação. São Paulo: Summus, 1984. BETTI, M.; LIZ, M. T. F. Educação Física Escolar: a perspectiva de alunas do ensino fundamental. Motriz, Rio Claro, v. 9, n. 3, p. 135-142, set./dez. 2003. BRASIL. Lei nº 11.274, de 6 de fevereiro de 2006. Altera a redação dos arts. 29, 30, 32 e 87 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, dispondo sobre a duração de 9 (nove) anos para o ensino fundamental, com matrícula obrigatória a partir dos 6 (seis) anos de idade. 2006. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11274.htm. Acesso em: 31 maio 2022. CANFIELD, M. de S. A Educação Física nas séries iniciais: paralelo entre 15 anos. Kinesis, Santa Maria, n. 23, p. 87-102, 2000. DAOLIO, J. Educação Física escolar: em busca da pluralidade. Rev. Paul. Educ. Fís., São Paulo, supl. 2, p. 40- 42, 1996. ECKERT, H. M. Desenvolvimento Motor. 3. ed. Barueri: Manole, 1993. ETCHEPARE, L. S. A avaliação escolar da Educação Física na rede municipal, estadual, particular e federal de ensino de Santa Maria. 2000. Dissertação (Mestrado em Ciência do Movimento Humano) – Centro de Educação Física e Desportos, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2000. FREIRE, J. B. Educação de Corpo Inteiro. 4. ed. São Paulo: Scipione, 2003. GALLAHUE, D. L; OZMUN, C. Compreendendo o Desenvolvimento Motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. 1. ed. São Paulo: Phorte, 2001. LIBÂNEO, J. C. Didática. 19. reimp. São Paulo: Cortez, 1994. MELO, A. de; URBANETZ, S. T. Fundamentos de Didática. 20. ed. Curitiba: Ibpex, 2008. NEIRA, M. G.; NUNES, M. L. F. Contribuições dos Estudos Culturais para o currículo da Educação Física. Rev. Bras. Ciênc. Esporte, Florianópolis, v. 33, n. 3, p. 671-685, jul./set. 2011. Disponível em: http://www. scielo.br/pdf/rbce/v33n3/a10v33n3. Acesso em: 1 jun. 2022. 138 referências PAIN, S. Diagnóstico e Tratamento dos Problemas de Aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992. PALMA, A. P. T. V.; OLIVEIRA, A. A. B. de; PALMA, J. A. V. Educação Física e Organização Curricular: Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. 2. ed. Londrina: Eduel, 2010. PAPALIA, D. E.; OLDS, S. W.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento Humano. 8. ed. Tradução de Daniel Bue- no. Porto Alegre: Artmed, 2006. PEREIRA, C. O. Estudo dos parâmetros em crianças de 02 e 06 anos de idade na cidade de Cruz Alta. 2002. Dissertação (Mestrado em Ciências do Movimento Humano) – Centro de Ciências da Saúde e do Esporte, Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, 2002. VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1996. ZABALA, A. A Prática Educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998. 139 gabarito UNIDADE 1 1. Caro(a) aluno(a), a história da infância foi marcada por acontecimentos provenientes dos contextos so- ciais, econômicos e políticos de cada época. Os que mais marcaram o campo da Educação Física se rela- cionaram ao ingresso da mulher no mundo do trabalho, após a Revolução Industrial. O que se percebe, ao longo da história, é a dicotomia com relação ao objetivo da Educação Infantil: o educar e o cuidar, aspectos relevantes que sempre foram considerados essenciais nesta modalidade de ensino. 2. A história da infância foi marcada por inúmeros acontecimentos. A criança pequena era vista, na Anti- guidade, como um ser que pouco ou nada influenciava a casa e a vida, assim como na Idade Média ela era vista, apenas, sob a responsabilidade da família, tida como um adulto em miniatura, que poderia ser descartada/rejeitada quando afligida por alguma anomalia. Esta ideia muda, somente, com o advento da sociedade moderna, quando a criança passa a ser vista pelo prisma da ciência e a ocupar um lugar central nas discussões do Estado, na constituição da família e dos cuidados com o seu desenvolvimento. 3. Caro(a) aluno(a), a questão da influência das agências e organismos multilaterais na Educação Infantil está em destaque no tópico “A Escola e a Infância: A Institucionalização da Criança e da Infância”. Como vimos, a influência reside no fato de que esses organismos internacionais, por meio de seus documentos, repassam aos países-membros as indicações de ações políticas que devem regular e regulamentar as ações relacionadas à criança, em especial, na Educação Infantil. Esses documentos tornam-se os parâme- tros globais acerca das definições das finalidades e dos objetivos que devem ser seguidos. 4. A Educação Física pode contribuir para o desenvolvimento da criança nas atividades que exploram, por meio da linguagem corporal e do movimento, as potencialidades deste ser. 5. Na atualidade, o conceito de infância está atrelado ao próprio conceito que se tem de sociedade e de ser humano. UNIDADE 2 1. Caro(a) aluno(a), os principais documentos orientadores da Educação Infantil são a Constituição Federal de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) de 1990 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educa- ção Nacional (Lei 9.394/1996), nos quais a Educação Infantil é assumida como dever do Estado, sendo a educação um direito social. 2. Caro(a) aluno(a), é importante lembrar que a presença do professor de Educação Física na Educação Infantil se justifica pelas ações didático-pedagógicas que possibilitam a intervenção centrada em ativida- des as quais permitem que a criança, por meio de seu conhecimento corporal, da sua imagem corporal e do seu movimento, possam ser integradas ao projeto da instituição, ampliando e possibilitando, cada vez mais, experiências inovadoras, levando a criança ao desenvolvimento das habilidades básicas para o processo educativo. 3. Possibilitar a interação da criança com o universo que a cerca, a partir da diversidade cultural da realida- de dessa criança. 4. Por meio das ações lúdicas, do faz-de-conta e de atividades adequadas à faixa etária atendida. 5. É preciso considerar a individualidade da criança, as características culturais e as necessidades que a criança apresenta. 140 gabarito UNIDADE 3 1. B. 2. A. 3. A. 4. O diagnóstico, a reflexão sobre o universo em que se está inserido. Isso permitirá identificar quais são as reais necessidades dos grupos com os quais o professor interagirá durante o ano. Olhar para a reali- dade, estabelecer julgamento sobre essa realidade e prever caminhos que possibilitem atender às suas necessidades básicas contribui e evita erros desnecessários. 5. Deve-se considerar: validade, flexibilidade, significado, possibilidade de elaboração pessoal, viabilidade, utilidade, interesse e adequação às necessidades. UNIDADE 4 1. A. 2. A. 3. C. 4. Corpo, movimento, expressão corporal e ritmo, entre outros. 5. O papeldo professor de Educação Física é essencial, uma vez que contribui tanto para o desenvolvimen- to motor quanto para o desenvolvimento afetivo, cognitivo e social da criança. UNIDADE 5 1. Organizar situações de vivências corporais e estudos que possibilitem a compreensão em ser um corpo em movimento e em constantes interações com objetos e pessoas. Favorecer o estudo e a vivência de manifestações lúdicas e esportivas como integrantes da cultura motora, contribuindo com o processo de construção da motricidade. Promover a compreensão do movimento rítmico como forma de expressão corporal e de representação social, valorizando-o em diversas manifestações culturais. Por fim, possibili- tar o entendimento e o envolvimento da interação entre a ação motora e a saúde, destacando os bene- fícios que esses conhecimentos podem trazer para a melhora da qualidade de vida. 2. Deve-se considerar as dimensões conceituais, procedimentais e atitudinais para a opção e o desenvolvi- mento das aulas de Educação Física escolar. 3. Deve-se considerar os fatores hereditários, culturais, biológicos e ambientais. 4. Valorizar a cultura é de suma importância, uma vez que se passa a valorizar os conhecimentos da própria criança na construção das aulas. 5. O planejamento é essencial para garantir que os objetivos sejam alcançados com êxito e que as aulas tenham muita qualidade no seu ensino. UNIDADE I O CONCEITO DE INFÂNCIA: NA SOCIEDADE E NA ESCOLA UNIDADE II A EDUCAÇÃO INFANTIL E A LEGISLAÇÃO UNIDADE II PLANEJANDO A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR UNIDADE II SISTEMATIZAÇÃO E AÇÕES PEDAGÓGICAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL UNIDADE II PLANEJANDO AS AULAS PARA AS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL 3znysh7 _GoBack h.5kyhfiz2s2yy h.843l2xf4xfco h.7zdb2hp9yknx h.gjdgxs _GoBack Button 33: Button 8: Button 7: